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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Em 1° de maio de 1941, é oficialmente instalada a Justiça do Trabalho no Brasil. Desde a Constituição de 1934 a JT estava instituída, bem como já havia sido organizada por meio do Decreto nº 1.237/1939, todavia é apenas em 1941 que Vargas decide instalá-la oficialmente, em meio às comemorações do Dia do Trabalhador, em 1° de maio, no Estádio Vasco da Gama/RJ. A Constituição Federal de 1946 integrou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário, mantendo a estrutura que tinha como órgão administrativo, inclusive com a representação classista. Sua estrutura permaneceu assim nas Constituições posteriores, de 1967 (alterada pela Emenda de 1969) e de 1988. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Bezerra Leite as divide em FORMAIS e MATERIAIS. 1. Fontes Materiais. São fontes potenciais de direito processual do trabalho. Emergem, via de regra, do próprio direito material. Há o descumprimento de um direito material reconhecido pela ordem jurídica, ou dúvidas a respeito da existência de fatos e interpretações, de modo que o processo se torna o meio de realizar aquele direito material. Logo, processo = instrumento. 2. Fontes Formais. São as que estão positivadas dentro do ordenamento jurídico. Dividem- se em diretas, indiretas e de explicitação. a. Fontes Formais Diretas – lei em sentido genérico e costume. Bezerra ainda diz que as Súmulas Vinculantes passam a ser fonte formal direta. Entende que costumes só podem ser utilizados quando houver previsão no ordenamento para isso (ex.: protesto nos autos – art. 795 da CLT – advém de um costume, mas foi positivado). b. Fontes Formais Indiretas – doutrina e jurisprudência. Quando fala de jurisprudência, diz que o art. 8 §2º da CLT (sumulas e outros enunciados não poderão restringir direitos previstos nem criar obrigações não previstas em lei) tenta transformar os tribunais em “meros aplicadores da lei”. c. Fontes Formais de Explicitação – fontes integrativas – analogia, princípios gerais de direito e equidade. Bezerra entende que os princípios constitucionais devem ser o ponto de partida para a colmatação de lacunas. d. ATENTAR QUE ACT E CCT NÃO SÃO FONTES FORMAIS. PRINCÍPIOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Conceito e importância. Princípios dão coerência interna ao sistema jurídico. Os princípios representam fins políticos, filosóficos, éticos e sociológicos da sociedade, sendo as normas instrumentais na busca desses fins. Princípio é fator determinante da completude do ordenamento jurídico. 1. Princípios Constitucionais Fundamentais Princípios Constitucionais – fontes normativas primárias. Caráter de norma. Para Bezerra, princípios do CPC são aplicáveis ao Processo do Trabalho devido à força normativa da CF. • Para Celso A. Bandeira de Melo, princípios são o mandamento nuclear do sistema, alicerce deles, e orientam o espírito, compreensão e inteligência da norma jurídica. • Para Ataliba: princípio > norma – pois é diretriz, rumo apontado a ser seguido, além de ser norma. • Para Dworking -> Norma (lato) = princípios + regras (stricto). Princípio não revoga princípio, eles coexistem (diferentemente das regras). • Para Alexy -> enfatiza o aspecto deontológico dos princípios (regras de condutas – dever ser). Mandamentos de otimização. Alexy se alinha à ideia de Dworking de que norma = princípios + regras. 2. Tríplice Função dos Princípios Constitucionais Fundamentais São três funções: informativa, interpretativa e normativa. • Função informativa: “informa” o legislador. Princípio atuando como subsídio do legislador na hora de criar uma regra. Propósitos prospectivos. • Função interpretativa: direcionada ao aplicador do direito. Princípio utilizado na hora da interpretação de norma componente do ordenamento jurídico. Compreensão de significados e sentidos. • Função normativa: princípio utilizado como fundamento de decisão. Pode se dar de forma direta ou indireta. o Forma direta de aplicação de princípios com função normativa: derrogação de uma norma por um princípio (princípio da norma mais favorável aos trabalhadores), por exemplo. o Forma indireta de aplicação de princípios com função normativa: integração do sistema nas hipóteses de lacuna. • Princípios são fontes formais primárias de direito, ocupam o mais alto posto na escala normativa, e são normas fundamentais. • Em caso de choque princípio x regra, preferência para o primeiro. 3. Princípios Gerais do Direito Processual: princípios informativos e princípios fundamentais a. Princípios informativos Não possuem basicamente nenhum valor ideológico neles inseridos, são “meras regras informativas do processo” – AXIOMAS (considerados como óbvios). Servem como base para a elaboração da teoria geral do processo. Se subdividem em Princípio Lógico, Jurídico, Político e Econômico. i. Lógico – logicidade a que está jungido o processo (primeiro vem a petição inicial, depois a contestação e assim por diante). ii. Jurídico – garante igualdade de tratamento no processo e na decisão, com regras claras e pré-estabelecidas. iii. Político – máxima garantia social com o mínimo de interferência na liberdade individual. Princípio político que determina que o juiz deve sentenciar mesmo em caso de lacunas. iv. Econômico – lides não tão dispendiosas e custosas + garantia do acesso do hipossuficiente à justiça. b. Princípios Fundamentais (princípios gerais do processo) São princípios sobre os quais o sistema jurídico pode fazer opção, considerando aspectos políticos e ideológicos. Pode haver princípios em sentido contrário. São eles: i. Princípio da igualdade ou isonomia: consagrado no art. 5 da CLT (todos são iguais perante a lei) – igualdade meramente formal para a CF. Princípio da isonomia = paridade de armas – CPC. Tratamento isonômico das partes no processo. A paridade de armas deve ser entendida no sentido amplo no processo do trabalho (igualdade formal e substancial), dada a desigualdade normalmente existente. 1. Exceção ao princípio da paridade de armas (isonomia processual): prerrogativas à Fazenda Pública e outras instituições. 2. Outras formas de mitigação da igualdade formal: dispensa de custas e caução para hipossuficientes, duplo grau de jurisdição quando as pessoas de direito público são vencidas, inversão do ônus da prova, etc. ii. Princípio do Contraditório: advém do art. 5, LV da CF (aos litigantes são assegurados... o contraditório e ampla defesa). Princípio de mão dupla. Bilateralidade. Participação das partes dos atos do processo. “Parte” é aquela que participa do contraditório. Possibilidade de vistas e manifestação das partes. iii. Princípio da Ampla Defesa: advém do art. 5, LV da CF (aos litigantes são assegurados... o contraditório e ampla defesa). Também tem mão dupla (autor defende seu direito material, réu se defende da pretensão). Essa defesa é ampla, não se pode impedir ou inibir. iv. Princípio da imparcialidade do juiz: juiz deve ser imparcial, sem tendências. Imparcialidade é diferente de neutralidade. Inamovib. Irredutib. e Vitaliciedade – garantias da CF para efetivar a imparcialidade do juiz. v. Princípio da Fundamentação das Decisões: garantia contra o arbítrio dos juízes. Previsto na CF (art. 93, IX). Decisões devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade. vi. Princípio do devido processo legal: é a base sobre a qual todos os outros princípios processuais se sustentam. A partir do due process of law, os outros princípios processuais tomam forma. Previsto no art. 5, LIV da CF (ninguém será privado de seus bens ou liberdade sem o devido processo legal). Não se restringe ao terreno processual. vii. Princípio do Juiz Natural: advém do art. 5, LIII da CF (ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente). Consagra que o juiz é aquele investido de função jurisdicionale impede a criação de tribunais de exceção. viii. Princípio do Promotor Natural: interpretação sistêmica da CF (autonomia e inamovibilidade do MP). É uma garantia à sociedade de que nenhuma autoridade ou poder poderá escolher o Promotor ou Procurador específico que atuará em determinada lide. Além disso, o pronunciamento do MP se dará livremente, sem interferência. O STF não vinha reconhecendo tal princípio. Posições mais atuais reconhecem. ix. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição: direito ao exame de mérito em dois graus de jurisdição (reexame pelo segundo grau, normalmente colegiado). A CF não o contempla de forma explícita. Não é absoluto e possui exceções. Há previsões de entidades que não se submetem ao reexame necessário. x. Princípio do acesso individual e coletivo à Justiça ou inafastabilidade do controle jurisdicional ou ubiquidade ou indeclinabilidade de jurisdição: consagrado no art. 5º XXXV (a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). Esse princípio diz que ninguém pode impedir o direito fundamental de qualquer pessoa acessar o judiciário. Tanto para lesão quanto para ameaça a direito. xi. Princípio da razoabilidade da duração do processo – advém do art. 5º LXXVIII “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Busca-se a efetividade do processo. Juiz pode utilizar todos os meios disponíveis para tanto. 1. Juiz de primeiro grau e tribunais de segundo grau não podem tirar férias coletivas. 2. Juízes não tem direito a promoção se retiverem os autos por prazo superior ao legal de maneira injustificada. xii. Princípio do ativismo judicial – ideia de maior atuação do judiciário, a partir do advento do neoconstitucionalismo. Juiz não apenas bouche de la loi, mas agora tendo papel atuante na busca da concretização dos direitos fundamentais. 1. Juiz ativo – cumpre suas diligências e deveres funcionais dentro do prazo legal. 2. Juiz ativista – compreende a realidade de mundo a seu redor, e dá às suas decisões um sentido construtivo e modernizante, orientando-se para a consagração dos valores essenciais em vigor. PRINCÍPIOS COMUNS AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1. Princípio Dispositivo / da Demanda – livre iniciativa – fundamento no art. 2º do CPC (o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo exceções previstas em lei) - é faculdade da parte ajuizar ação ou não. O judiciário está “à disposição” da parte. Não há jurisdição sem autor. No direito civil, praticamente absoluto o princípio dispositivo. Não é absoluto quando trata de direitos de natureza indisponível. a. No direito processual do trabalho há algumas exceções a esse princípio – reclamação trabalhista instaurada de ofício pela Superintendência Regional do Trabalho e execução ex officio. 2. Princípio Inquisitivo / do Impulso Oficial – previsto expressamente no art. 2º do CPC (o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo exceções previstas em lei) - processo se dá mediante impulso, após ter iniciado como iniciativa da parte. a. No processo do trabalho, art. 765 da CLT (os Juízos e Tribunais terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas) caracteriza tal princípio. As exceções anteriores do princípio dispositivo caracterizam o princípio inquisitivo (instauração do processo após requerimento da SRT e execução ex officio). 3. Princípio da Instrumentalidade das formas / Princípio da Finalidade – processo = instrumento = meio para alcançar o direito material. Para tal princípio, o processo é uma forma de chegar ao direito material. Se a lei prescrever uma conduta de determinada forma, sem cominar nulidade, e o juiz considerar válido ato realizado de outro modo, opera-se o princípio da instrumentalidade. Nulidade não será pronunciada quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato. 4. Princípio da transcendência (prejuízo) – Não haverá nulidade sem prejuízo manifesto às partes. 5. Princípio da utilidade – a declaração deve ser útil ao processo “"o juiz ou tribunal que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende”. 6. Princípio da causalidade - art. 798 "a nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele for dependente. Assim o juiz declarará quais atos foram atingidos. CPC, art. 249” Causa e efeito. 7. Princípio da impugnação especificada – por esse princípio, a impugnação do réu deve ser específica. O que não for especificamente impugnado é considerado verdadeiro – presunção de veracidade – isso é absoluto? Não, em alguns casos (se não for admitida a confissão para a figura do réu – defensor público, advogado dativo, curador especial – se a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei entender como substancia do ato, e se estiver em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. A DEFESA NÃO PODE SER GENÉRICA, ainda que o ônus de prova seja do autor. a. Na Justiça do trabalho, há divergência doutrinária: uma corrente entende que não pode incidir tal princípio, dado o jus postulandi; a outra entende que tal princípio admite aplicação subsidiária ao processo do trabalho (prevalecente). 8. Princípio da Estabilidade da Lide – Segundo tal princípio, o autor somente poderá alterar fatos alegados na inicial até a citação do réu ou, após a citação, até a defesa, e desde que com a anuência da parte contrária. a. Na JT, a alteração pode se dar até o recebimento da defesa. 9. Princípio da Eventualidade – todas as alegações de defesa, ainda que sejam contraditórias no plano lógico (“caso assim não entenda, pelo princípio da eventualidade, requer a reclamada...”) devem ser feitas junto com a contestação, pois após ela ocorrerá a preclusão. 10. Princípio da Preclusão – as nulidades não serão declaradas senão por provocação das partes, as quais deverão argui-las no primeiro momento em que tiverem de, sobre elas, falar. Do contrário, ocorre a preclusão. Andar para frente, sem retorno a etapas e momentos processuais já ultrapassados. a. Preclusão Consumativa – perda do “ato”. Uma vez praticado determinado ato, a parte não poderá praticar o mesmo ato de forma distinta. Se impugnou o cálculo só com relação ao FGTS, não poderá, em sede de EE, embargar a correção monetária. b. Preclusão Temporal – a parte não pratica um ato processual no prazo legalmente previsto (perda do prazo para a interposição de um recurso). c. Preclusão Lógica – é a perda da prática de um ato, por estar em contradição com atos anteriores, ofendendo a lógica comportamental das partes. Por exemplo: publicada sentença mandamental, a parte a cumpre em dois dias. Perderá o direito de recorrer, por preclusão lógica. d. Preclusão Ordinatória – perda da possibilidade de praticar um ato, se esse ato for precedido do exercício irregular da mesma possibilidade. A validade depende da prática de ato anterior. Ex: Embargos à Execução – dependem de prévia garantia do juízo. Ocorre preclusão ordinatória se o juízo não for garantido. e. Preclusão Máxima – é o mesmo que coisa julgada. Art. 836 da CLT (é vedado aos órgãos da Justiça do Trabalho conhecer de questões já decididas, excetuados casos...). f. Preclusão pro judicato – veda ao juiz conhecer de questões já decididas. i. Embargos de Declaração e Ação Rescisória não observam tal preclusão, ou seja, o juiz pode conhecer de questões já decididas nestes dois casos. 11. Princípio da Economia Processual – obter o máximo de prestação jurisdicional com o mínimo de atos processuais. 12. Princípio da perpetuatio jurisdictionis – perpetuação da competência = competência fixadano momento da propositura da ação, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito posteriores, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta 13. Princípio do Ônus da Prova - art. 373 do CPC + Art. 818 da CLT – o ônus da prova incumbe à parte que alegar. Autor deve provar fatos constitutivos. Réu deve provar fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor. a. Tal princípio, no entanto, não é absoluto, admitindo a alteração do ônus da prova em alguns casos. (Distribuição Dinâmica da Carga Probatória). 14. Princípio da Oralidade – predomínio da linguagem falada sobre a escrita, em determinados casos – discussão oral da causa, na presença do magistrado. Questão já falou que se pode considerar o processo do trabalho como um “processo oral”. 15. Princípio da imediatidade ou da imediação – juiz deve estar em contato imediatamente direto com as partes e provas, para obter os elementos necessários ao esclarecimento dos fatos. 16. Princípio da identidade física do juiz – o juiz que concluir a audiência julgará a lide, salvo se convocado, licenciado, afastado, promovido, aposentado. a. CPC de 2015 NÃO MAIS TROUXE ESSA PREVISÃO. É o ideal, mas não tem problema se não for. 17. Princípio da Concentração – concentração dos atos em uma única audiência, salvo se não for possível. 18. Princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias – no CPC, são agraváveis algumas decisões interlocutórias em alguns casos. Na seara laboral, o princípio em questão tem aplicabilidade mais enfática – impugnação contra decisões interlocutórias somente será admitida em recursos interpostos contra decisão final. 19. Princípio da Boa-fé Processual / probidade / lealdade – previsto expressamente no art. 5ª do CPC (aquele que participar do processo o deverá fazer de acordo com a boa-fé). Conduta ética e respeito mútuo dos litigantes. Multa por Litigância de má-fé. Abarca boa-fé objetiva e subjetiva. a. Dano processual – é o que fundamenta a aplicação das penas por litigância de má-fé. Podem ser aplicadas às partes (reclamante, reclamado ou interveniente) e às testemunhas. 20. Princípio da Cooperação ou Colaboração – todos os sujeitos do processo devem entre si colaborar. O juiz deve esclarecer dúvidas às partes, perguntar quando tiver dúvidas, e as partes igualmente. O processo é um ato colaborativo – todos querem a decisão final. a. Ao magistrado, três deveres: 1) dever de esclarecimento; 2) dever de consultar; 3) dever de prevenir. 21. Princípio da Vedação da Decisão Surpresa – expressamente extraído do art. 10 do CPC (o juiz não pode decidir com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício). a. Exceções? Sim -> art. 9 do CPC §único (tutela de urgência e tutela de evidência). 22. Princípio da Primazia da Decisão de Mérito – somente em situações excepcionais, quando não for possível a correção dos vícios ou irregularidades, o juiz poderá extinguir o processo sem resolução do mérito. 23. Princípio da observância da Ordem Cronológica da Conclusão de Processos – preferencialmente, o julgamento deverá observar preferencialmente a lista de antiguidade. a. Exceções? Previstas no art. 12 §2º do CPC: sentenças em audiência, homologação de acordo, improcedência liminar, processos em bloco, recursos repetitivos, embargos de declaração, agravo interno, preferências legais, processos criminais, causa com urgência. PRINCÍPIOS PECULIARES AO PROCESSO DO TRABALHO Divergência doutrinária sobre a existência ou não de princípios peculiares. Bezerra se filia à corrente de existência. a) Princípio da Proteção Processual – compensar a desigualdade socioeconômica com uma desigualdade jurídica. Reestabelecer e manter verdadeira a igualdade processual. Exemplos da sua aplicação: AJG, gratuidade do processo, inversão do ônus da prova, tratamento desigual quanto à ausência à audiência inicial (arquivamento para o autor e revelia e confissão para o réu). Reforma deu uma mitigada nessa proteção (honorários periciais e advocatícios + depósito recursal). b) Princípio da Finalidade Social do Processo – complementar ao princípio anterior, o princípio em questão propicia ao juiz uma atuação ativa, auxiliando a parte hipossuficiente na condução do processo, até o momento da prolação da sentença. Busca-se a finalidade social do processo. c) Princípio da Efetividade Social – conjunto de concepções, políticas, conceitos, ideias e mecanismos que devem inspirar a concretização ou materialização da prestação jurisdicional, evitando-se lesão possível ou reestabelecendo-se rapidamente direito violado. d) Princípio da Busca da Verdade Real – o juiz tem ampla liberdade na condução do processo, podendo determinar provas necessárias à instrução do feito. Objetivo – apurar a verdade real. Deve ser compatibilizado com o princípio da isonomia, ampla defesa e contraditório. e) Princípio da Indisponibilidade – processo tem a função precípua de efetivar a realização dos direitos sociais intransponíveis. Por isso, tem-se a ideia de que a indisponibilidade das normas de processo do trabalho assume importância enfática. f) Princípio da Conciliação – busca da solução conciliatória dos conflitos. Dois momentos de obrigatoriedade na proposta1 de conciliação: 1) abertura da audiência; 2) após o término da instrução e da apresentação das razões finais. Termo de conciliação vale como decisão irrecorrível (equipara-se à Coisa Julgada). g) Princípio da Normatização Coletiva – Na JT, como sabemos, existe a figura do Dissídio Coletivo e das Sentenças Normativas. As sentenças normativas estabelecem regramento (função atípica do judiciário) com eficácia ultra partes, refletindo nos contratos individuais de trabalho dos trabalhadores componentes de determinada categoria. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO TRABALHISTA a) Princípio da Simplicidade das Formas – processo do trabalho sem formalismos extremos – formas simples (recursos por simples petição). b) Princípio da Celeridade – juízes velarão pelo andamento rápido das causas, dada a natureza alimentícia dos créditos trabalhistas. c) Princípio da despersonificação do empregador (desconsideração da personalidade jurídica) – a figura do empregador poderá ser despersonificada por meio do IDPJ. d) Princípio da Extrapetição – em alguns casos, poderá o juiz julgar de forma extra petita (pedido de reintegração e o juiz defere salários correspondentes – SUM 396, II – ou juros e correção monetária). 1 A obrigatoriedade é na TENTATIVA de conciliação, NÃO na CONCILIAÇÃO EM SI. NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO A natureza jurídica do DPT é de direito público, competindo privativamente à UNIÃO legislar sobre. AUTONOMIA Dois critérios para se confirmar a autonomia de um ramo do direito: 1) Leva em conta a) a extensão da matéria; b) a existência de princípios comuns; c) a observância de método próprio. 2) Baseia-se nos elementos componentes da relação jurídica: sujeitos, objeto e vínculo obrigacional que os interliga. Quanto ao Direito Processual do Trabalho, surgiram duas correntes, para dizer se tal matéria possui ou não autonomia: monistas e dualistas. a) Monistas – entendem que Direito Processual Civil e Direito Processual do Trabalho são um só – princípios comuns, não havendo especificidade em relação a um ou a outro. b) Dualistas – autonomia em relação ao Direito Processual Civil, pois possui princípios peculiares, vasta matéria legislativa, finalidade social específica, institutos próprios, autonomia didática, jurisdicional, processual, doutrinária. i. Autonomia não significa isolamento – os atos no DPT devem observar a unidade metodológica comum aos demais ramos do direito processual.CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Para Bezerra Leite: DPT é o ramo da ciência jurídica, constituído por sistema de valores, princípios, regras e instituições próprios, cujo objeto é promover a concretização dos direitos sociais fundamentais individuais, coletivos e difusos dos trabalhadores e a pacificação justa dos conflitos decorrentes direta ou indiretamente das relações de emprego e de trabalho, bem como regular o funcionamento e a competência dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho. HERMENÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Hermenêutica jurídica – orientar o jurista na interpretação. Compreensão do direito. 1. INTERPRETAÇÃO – tarefa de determinar o sentido da lei. Desempenhada primordialmente pelo juiz. Métodos, os quais devem ser aplicados em conjunto: a. Gramatical – interpretação literal do sentido contido na lei. É a interpretação conforme o dicionário. b. Lógico – busca-se o alcance e o sentido da norma por meio de raciocínios lógicos. Todo homem é mortal. Pedro é homem. Logo Pedro é mortal. c. Histórico – busca-se o sentido com base na perspectiva histórica da formação de determinada norma. Observa o contexto histórico para entender-se o sentido. d. Sistemático – normas não existem isoladamente. Interpreta-se uma determinada norma de acordo com o contexto do ordenamento jurídico. Insere-se a norma no ordenamento, a qual é interpretada de acordo com este. Coerência do sistema e. Teleológico – busca-se a finalidade da norma, os fins sociais que a norma jurídica pretende realizar. f. Conforme a Constituição – ocorre quando a norma apresenta vários significados, uns conforme a constituição e outros contrários a ela. A interpretação privilegiará esses últimos significados. i. Obs.: se o texto não permitir nenhuma interpretação conforme a constituição, não terá cabimento a aplicação desse tipo de interpretação, cabendo ao judiciário, nessa hipótese, declarar a inconstitucionalidade do texto que se está interpretando. 2. INTEGRAÇÃO – Integrar = completar. Suprimento de lacunas. Obrigatoriedade do juiz de decidir o feito. Técnicas ao intérprete para solucionar o caso concreto no caso de lacunas. a. Analogia b. Princípios Gerais de Direito – deixaram de ser meras fontes subsidiárias com a CF 1988 – passaram a ser normas de introdução ao ordenamento. c. Equidade – ocorre quando a lei expressamente autoriza o juiz a proferir uma decisão que ele reputar justa, sem que a lei exponha exatamente o que deve ser decidido (ex.: arbitramento de salário). i. Ocorre que, com o NCPC, não há mais previsão para aplicação de analogia e princípios gerais do direito como técnica integrativa. (art. 140 – o juiz não se exime de decidir sob alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Par. Un. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei). Ainda sobre integração: O CPC E AS LACUNAS ONTOLÓGICAS E AXIOLÓGICAS – NECESSIDADE DE HETEROINTEGRAÇÃO DO SISTEMA PROCESSUAL Para Bezerra Leite, a heterointegração ocorre quando os dois sistemas, processo civil e processo do trabalho, se comunicam de tal forma que se podem aplicar regras do CPC à justiça do trabalho não só no sentido normativo de lacuna, mas também quando há um envelhecimento forte na norma trabalhista, e a norma civil resolve a questão de forma mais eficiente. (Lacunas Ontológicas – ser - e Axiológicas – valores). Busca-se a heterointegração, com diálogo das fontes normativas infraconstitucionais, para concretizar o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais de direito processual. Pode-se dizer, pois, que o processo do trabalho não possui autonomia absoluta. A regra do art. 769 da CLT apresenta duas espécies de lacunas, quando comparada com o novo processo sincrético: ontológica e axiológica. • Lacuna ontológica – há norma, mas essa norma sofre de um envelhecimento, de modo que os fatos sociais, políticos e econômicos que a inspiraram não são mais os mesmos do passado. • Lacuna Axiológica – a norma que existe é completamente injusta, de modo que, se aplicada, a solução do caso será injusta. 3. APLICAÇÃO – adaptar o fato concreto ao preceito normativo. Aplicação pressupõe interpretação. Ao aplicar uma norma geral a um caso concreto, o magistrado cria, via Sentença, uma norma individual, transformando o direito objetivo em direito subjetivo. 1. Interpreta. 2. Integra. 3. Corrige. 4. Aplica. a. Ao aplicar uma norma, o juiz deve observar os novos valores, princípios, regras e objetivos que norteiam o Estado Democrático de Direito brasileiro. 4. EFICÁCIA A eficácia da norma pode ter mais de um sentido: 1. Eficácia social – “os cidadãos cumprem a norma espontaneamente?” se não, tenho mecanismos suficientes para propiciar o cumprimento? 2. Eficácia jurídica – eficácia jurídica – a norma possui aptidão para promover efeitos jurídicos? 4.1. Eficácia da Norma Processual Trabalhista no Tempo Guiada por dois princípios: irretroatividade das normas processuais e efeito imediato das normas processuais. Adota-se a Teoria de Isolamento dos Atos Processuais. A lei nova regula apenas os atos processuais que se praticarão em sua vigência. Os atos já praticados são regulados pela lei velha. 4.1.1. Eficácia Temporal da EC 45/2004. Reforma do Poder Judiciário. Processo que já tramitava na Justiça Comum era automaticamente remetido à JT? Quatro correntes. 1. Processo como um todo indivisível, por isso deveria continuar na Justiça Comum. 2. Processo dividido por fases processuais autônomas, motivo por que a lei nova só incidiria nas novas fases. 3. Processos devem ser imediatamente remetidos, independentemente da fase ou dos atos praticados 4. Processos divididos por atos processuais isolados (isolamento dos atos processuais), de modo que a lei nova não atingiria os atos jurídicos perfeitos, mas aplicável aos atos ainda não praticados. (BEZERRA ENTENDE QUE ESSA É A CORRENTE QUE DEVE PREVALECER, QUANTO À EC 45). No entanto – Súmula Vinculante 22 do STF – Os processos tramitantes na justiça Comum na época da EC 45 somente serão remetidos ao JT se NÃO HOUVER SENTENÇA DE MÉRITO. Se já houver sentença de mérito, permanecem na Justiça Comum. 4.1.2. Eficácia Temporal do CPC e da Lei 13.467/17 CPC esmiuçou as regras de eficácia temporal – “a norma processual não retroagirá e será aplicável de imediato aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a égide da lei revogada”. TEMPUS REGIT ACTUM – a norma é aplicável de acordo com os atos processuais. Aplicabilidade Imediata das normas processuais, com respeito aos atos jurídicos perfeitos. Norma Processual Trabalhista – aplicação imediata às relações processuais iniciadas não cobertas pela coisa julgada. Quanto à Reforma Trabalhista, TST – In 41/2018: A aplicação das normas de direito processual introduzidas pela reforma é imediata, RESSALVADAS as situações jurídicas pretéritas, iniciadas ou consolidadas sob a égide da Lei Revogada. 4.2. Eficácia da Norma Processual Trabalhista no Espaço. Princípio da territorialidade – processo rege-se, em todo o território nacional, pelas normas trabalhistas.