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Triagem Clínica e Hematológica de Doadores de Sangue Karine da Silva Ramalho Notas Pessoais de Aprendizado em Salas de Aulas CURSO TÉCNICO EM HEMOTERAPIA DO SENAC TIRADENTES Índice de Resumos Introdução ao Tema ................................................................................................................. 3 Triagem Hematológica .............................................................................................................. 5 Aferição dos Sinais Vitais ..................................................................................................... 5 Teste Micro Hematócrito ..................................................................................................... 9 Para Saber um Pouco Mais ..................................................................................................... 12 Introdução ao Tema Segundo a legislação brasileira, a doação de sangue deve ser uma ação voluntária, altruísta e não remunerada. Assim, a Hemorrede desenvolve diversas campanhas para captar doadores de sangue, sendo esse o primeiro passo do ciclo do sangue dentro da hemoterapia. Após a captação dos doadores, ocorrem os procedimentos de triagem clínica e hematológica, que são as etapas dois e três dentro do ciclo de sangue. É o momento no qual o doador é avaliado para determinação de realização segura da coleta de sangue. Pois, para ser autorizada a coleta do sangue do doador, deve-se considerar os riscos envolvendo a doação e a posterior transfusão do sangue coletado. Sendo que a coleta não deve causar prejuízos à saúde do doador, e o sangue coletado não deve causar prejuízos ao paciente receptor. Todo o procedimento é sempre realizado por profissional da saúde especializado em trabalhar com coleta, manipulação e armazenamento de sangue humano, capacitado e treinado sob supervisão do médico hematologista, em centros específicos para tal finalidade. A triagem hematológica do candidato é, geralmente, o primeiro procedimento após ser cadastradas informações de identificação pessoal do candidato no sistema de banco de dados do banco de sangue. O procedimento consiste em aferir os sinais vitais, verificar peso e altura, e as condições do sangue por exame hematócrito do candidato. A triagem clínica é realizada por enfermeiros (alguns casos são médicos) em ambiente que garanta a privacidade do candidato à doação. O procedimento consiste na realização de uma entrevista com o candidato para verificação se o indivíduo é realmente saudável, e não seja o possível portador de algumas doenças que o incapacite permanente ou temporariamente do processo de doação, ou ainda, para atestar a utilização do sangue daquele doador sem oferecimento de possíveis riscos à saúde do receptor futuro. Durante ambos os procedimentos, o candidato deverá fornecer informações detalhadas sobre si mesmo, enquanto o profissional de saúde é encarregado o total respeito e humanização do atendimento prestado. Sendo obrigatório que o profissional apresente informações detalhadas sobre o procedimento a ser realizado além de ser responsável por resolver as possíveis dúvidas que o doador possa ter, permitindo que o candidato se autoexclua em qualquer etapa do processo independente do motivo. Essa etapa do ciclo de sangue é de extrema importância para a segurança do processo transfusional, tanto aos aspectos objetivos da triagem como o valor hematimétrico e se o doador faz uso de medicações que podem comprometer a qualidade dos hemocomponentes, como aos aspectos subjetivos de entrevista como o comportamento sexual de alto risco que aumenta a possibilidade de transmissão de doenças por transfusão sanguínea devido o período de janela imunológica. A tabela 1, abaixo, apresenta alguns dos valores considerados durante a triagem hematológica como sendo critérios eliminatórios imediatos à doação de sangue. Critério Candidato Observações Peso mínimo 50 kg Poderá ser avaliado IMC de acordo a altura para casos específicos. Hematócrito mínimo 38% Masculino e 39% Feminino Hemoglobina mínima 13,0 g/dl Masculino e 12,5 g/dl Feminino Pressão arterial 120/80 mmHg Frequência cardíaca Entre 50 e 100 bpm Frequência respiratória Entre 12 e 20 mrm < 40 anos Temperatura 36,1ºC e 37ºC Sendo: → IMC = índice de massa corporal → bpm = batimentos por minuto → mrm = movimentos respiratórios por minuto Triagem Hematológica Todo o procedimento operacional aqui descrito é sempre realizado por profissional qualificado e habilitado para o exercício específico dessa função, são sempre técnicos e enfermeiros em hemoterapia. I. AFERIÇÃO DOS SINAIS VITAIS É o procedimento que tem por objetivo conferir se os sinais vitais, altura e peso do paciente conferem com o solicitado para que possa ser doador de sangue naquele dia. Qualquer diferença apresentada, que impossibilite a doação, o candidato será informado em detalhes sobre o motivo e sobre qual o próximo passo recomendado. → Exemplo: se algum paciente apresentar estar com o peso um pouco abaixo do padrão requerido para doação, nesse caso é explicado o motivo da não aprovação momentânea para doação de sangue. Caso algum dos sinais vitais não estejam de acordo, mas sejam capazes de normalizar com alguns minutos em repouso, o procedimento será realizado após normalização. → Exemplo: a alteração dos batimentos cardíacos e respiração por causa de uma corrida rápida para chegar à algum lugar dentro do tempo combinado, obviamente se os sinais vitais forem verificados em tais circunstâncias apresentarão alterações indesejadas para realização da doação, mas é algo que pode ser normalizado após alguns minutos em repouso. É necessário desinfetar todos os equipamentos utilizando álcool líquido 70% antes de permitir que o candidato entre em contato. E todos os dados obtidos são anexados ao cadastro do candidato no banco de dados da instituição. 1. Temperatura, Altura e Peso As medidas de altura e peso são verificadas nas balanças antropométricas, que já possuem a haste móvel para medição da altura acoplada na balança apoiada no chão. Sendo solicitado que o candidato esteja descalço ao subir na balança, o procedimento de medida demora em média 3 minutos. Já a temperatura é aferida axilar utilizando termômetro de mercúrio com coluna de vidro graduada ou termômetros sensoriais eletrônicos. Sendo solicitado que a axila esteja seca, o bulbo do aparelho é encostado na pele da axila e levemente comprimido pelo braço mantendo o dispositivo imóvel no local entre 3 e 5 minutos para registro da temperatura corporal, no caso dos dispositivos eletrônicos um som de apito é emitido quando a temperatura máxima é registrada. Imagem: utilização da balança antropométrica. Fonte: Ministério da Saúde, 2003. Imagem: medição de temperatura axilar. Fonte: ilustração wikihow, acesso 2024. 2. Pulsação e Frequência Respiratória De modo geral, para aferir a pulsação do candidato é necessário que ele esteja sentado em posição confortável e recostado, então o profissional da saúde utiliza dedo médio e anelar juntos para pressionar levemente o pulso do candidato a fim de comprimir artéria radial na parte central logo abaixo da palma da mão do candidato. Os movimentos arteriais são contados durante 60 segundos, observando a regularidade e intensidade. Já a frequência respiratória é medida a partir da realização do procedimento descrito, pressionando a artéria carótida (no pescoço) ao invés da radial. Atualmente, o dispositivo eletrônico Oxímetro permite obter essas medidas de maneira menos invasiva, pois é necessário apenas que o candidato esteja sentado em posição confortável e recostado, posicionar o equipamento no dedo indicador do candidato e esperar 60 segundos para obtero resultado. Imagem editada pelo autor: oxímetro de pulso portátil da Yonker em uso. Fonte: www.oximetro.com.br acesso em 2024. 3. Pressão Arterial Ainda com o candidato sentado confortavelmente e recostado, deve-se localizar a artéria braquial (braço próximo ao osso úmero pouco acima do cotovelo) por palpação e prender o manguito firmemente cerca de 2 a 3 cm acima da fossa ante cubital, centralizando a bolsa de borracha do equipamento sobre a artéria braquial. Mantendo o braço do candidato esticado com o esfigmomanômetro firmemente preso, deve-se palpar o pulso radial e posicionar o diafragma do estetoscópio sobre a artéria. Após isso, o manguito deve ser inflado até que o som desapareça (indicando equilíbrio externo e interno da pressão), assim a deflação deve ser realizada com velocidade constante de 2 a 4 mmHg/segundos. A pressão sistólica máxima é medida no aparecimento do primeiro som de Korotkoff ouvido durante deflação, e a pressão diastólica mínima é medida no momento que o som desaparece novamente. Imagem: procedimento de aferição da pressão arterial utilizando o esfigmomanômetro e o estetoscópio. Fonte: guiadafarmacia.com.br acesso em 2024. Imagem editada pelo autor: identificação das partes do estetoscópio e do esfigmomanômetro, ambos da RAPPAPORT. Fonte: www.farmadigital.com.br acesso em 2024. Observando os resultados com permissão ou impossibilidade de doação, podem surgir dúvidas no candidato, logo é necessário explicar sobre o que de fato alteram os valores de sinais vitais, pois não necessariamente indica uma complicação grave na saúde do candidato. Existem alguns fatores capazes de causar alterações nos sinais vitais do doador, sem que seja uma patologia específica como: • Exercícios físicos: é preciso esperar ao menos 30 minutos depois de se exercitar para medir os sinais vitais. A atividade física pode aumentar momentaneamente a temperatura, frequência cardíaca e respiratória. Além disso, atletas tendem a apresentar alguns sinais vitais diferentes em comparação a pessoas não atletas saudáveis do mesmo sexo e faixa etária; • Pessoas em estresse tendem a apresentar sinais de temperatura, frequência cardíaca e respiratória elevados além do comum esperado para o sexo e/ou idade do candidato; • Banhos e o ambiente de vivência interferem na temperatura corporal do indivíduo; • Além disso, alguns medicamentos são capazes de aumentar a pulsação ou diminuir, como epinefrina e cronotrópicos digitálicos respectivamente. II. TESTE MICRO HEMATÓCRITO Esse teste é um dos exames de sangue mais importantes, por isso feito inicialmente no candidato à doação de sangue, pois tem como finalidade principal verificar o volume ocupado pelas hemácias (glóbulos vermelhos) com uma pequena amostragem do sangue, apresenta resultados que podem indicar diversos tipos de anormalidades. No entanto, apenas o hematócrito não permite realizar um diagnóstico completo e preciso para a maioria das anormalidades sanguíneas sinalizadas. O procedimento operacional consiste em: 1. Preparo da bandeja com materiais estéreis necessários: lanceta, micro tubo (capilar), massa propícia para tampar o micro tubo, álcool 70% líquido e algodão; 2. Primeiro, é necessário que o candidato esteja com as mãos limpas. E será escolhido um dos dedos para realizar o colhimento das gotas de sangue; 3. Então, no dedo escolhido, faz a assepsia com álcool, espera secar em contato com ar ambiente. E com a lanceta, realizar um furo na polpa do dedo do candidato; 4. Ao sair a primeira gota deve ser limpa com algodão, para que possíveis contaminantes da pele não interfiram no resultado; 5. Então as próximas gotas são colhidas no capilar até que ¾ do tubo esteja preenchido; 6. Uma das extremidades do capilar deve ser tampada com a massa apropriada, e o dedo do paciente limpo com algodão e álcool; 7. Então o capilar com sangue é colocado em centrífuga para micro tubos pela velocidade e tempo indicados para a análise, geralmente são 3000 rpm durante 3 minutos; 8. Ao finalizar a centrifugação o capilar apresentará o plasma, sangue e leucócitos e plaquetas bem-organizados; 9. Por fim, o tubo centrifugado será comparado seguindo a régua de verificação do hematócrito. Imagem resumo da metodologia do micro hematócrito: 1 - a obtenção das gotas de sangue com o capilar; 2 – o capilar com sangue e extremidade tampada com massa antes de ser centrifugado; 3 – dois capilares após centrifugação; 4 – a comparação com o material centrifugado na tabela de referência. Fonte: autor, 2024 (reprodução Instagram, não permitido compartilhar sem consentimento do autor). Imagem: representa um micro tubo (capilar) com sangue antes e depois de ser colocado na centrífuga. Fonte: kasvi.com.br/hematocrito- exame-nossa-saude acesso em abril de 2024. Nos resultados do micro hematócrito quando apresentam baixa diversos podem ser os fatores que ocasiona: anemias carenciais de Ferro, vitamina B12 ou ácido fólico; algum tipo de sangramento; desnutrição; leucemias ou ainda, excesso de hidratação. Já nos casos de valores altos no hematócrito podem ser casos de desidratação, baixos níveis de oxigenação no sangue, doenças pulmonares ou cardíacas congênitas, por exemplo. Além disso, o resultado do micro hematócrito alto também pode indicar Policitemia que pode acontecer como resultado de problemas na medula óssea ou compensação de problemas pulmonares. Independente do motivo especulado pelo técnico durando avaliação do micro hematócrito do candidato, qualquer anormalidade indica necessidade de repetição do teste para conformação do resultado e quaisquer aumentos persistentes do hematócrito deve ter sua causa determinada por um médico. Para Saber um Pouco Mais BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem - Cadernos do Aluno: instrumentalizando a ação profissional. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. 2ª ed. rev., 1ª reimpr. - Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. ISBN 85-334-0538-3. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad2.pdf. FARMA DIGITAL. Kit Esfigmomanômetro e Estetoscópio. Loja Online. Disponível em www.farmadigital.com.br/kit-esfigmomanometro-estetoscopio, acesso em abril de 2024. LEE, L. FNP-BC, MS. Medida de temperatura axilar. Online no WikiHow disponível em português em pt.wikihow.com/Medir-uma-Temperatura. Informação verificada a partir do Health Children Org em How to Take Your Child's Temperature da American Academy of Pediatrics, 2020. Disponível em: healthychildren.org/English/health- issues/conditions/fever/Pages/How-to-Take-a-Childs-Temperature.aspx. HEMOCENTRO Rio Preto, Postagem institucional sobre permissões para ser doador de sangue. Disponível em: www.hemocentroriopreto.com.br/quem-nao-pode- doar#:~:text=Quem%20tem%20idade%20inferior%20a,arterial%20no%20 momento%20da%20doa%C3%A7%C3%A3o, acesso em abril de 2024. MINAS GERAIS. Governo de. Hemominas: doação e atendimento ambulatorial. Publicação institucional do Governo de Minas Gerais disponível em: www.hemominas.mg.gov.br/doacao-e-atendimento- ambulatorial/doacao-de-sangue/condicoes-e- restricoes#:~:text=Ser%C3%A3o%20avaliados%20pelo%20m%C3%A9dico.,li mites%2C%20apenas%20a%20crit%C3%A9rio%20m%C3%A9dico.&text=Pod em%20doar%20sangue%20pessoas%20entre%2016%20e%2069%20anos. Acesso em Abril de 2024.