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1 CONCEITOS DE FÍSICA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 2 INTRODUÇÃO A palavra Física tem origem no vocábulo grego, e significa natureza. Por esta razão, até o início do século dezenove, se entendia que a Física era a ciência que estudava os fenômenos da natureza, sendo, então, denominada "filosofia natural". Contudo, durante o século dezenove, e até recentemente, ela ficou restrita ao estudo de um grupo limitado de fenômenos, designados pelo nome de fenômenos físicos, definidos vagamente, como sendo processos nos quais a natureza das substâncias, que deles participam, não sofre nenhuma alteração. Esta definição, um tanto quanto deformada, tem sido pouco a pouco posta de lado, retornando assim ao conceito original, mais amplo e fundamental. Hoje em dia, pode-se dizer que: A física é a ciência que estuda os componentes da matéria, seus movimentos, e suas interações mútuas, para através destas interações, explicar as propriedades da matéria no estado natural. O objetivo básico da física é entender o mundo que nos cerca. A fim de atingir seus objetivos, a física, bem como todas as outras ciências naturais, puras ou aplicadas, depende da observação e da experimentação. A observação consiste num exame cuidadoso e crítico de um fenômeno, durante o qual se registram e se analisam os diferentes fatores, e as circunstâncias que parecem influenciá-lo. Já a experimentação consiste na observação de um fenômeno, em condições previamente estabelecidas e cuidadosamente controladas. Podendo variar as condições à sua vontade, o cientista descobre mais facilmente, como elas afetam o processo. A observação, o raciocínio e a experimentação constituem etapas do Método Científico (MC). O MC sendo o procedimento adotado, pelos físicos, para estudar e estabelecer as leis da natureza. Mais precisamente, este método pode ser resumido em 4 etapas distintas a saber: 1. Observa-se, identifica-se, e toma-se ciência do fenômeno; 2. Realiza-se um conjunto de experiências com objetivo de identificar os fatores que, de algum modo, interferem no fenômeno. Com a vantagem de poder-se repetir a experiência, tantas vezes quantas forem necessárias; 3 3. Nesta etapa faz-se as hipóteses. Este é o momento em que o pesquisador, com base na observação e na experimentação, formula as leis que regem o fenômeno em estudo; 4. Por último, as hipóteses formuladas são testadas com novos experimentos, e sob diferentes pontos de vista. Deste modo, observação e experimentação: são o ponto de partida, e ao mesmo tempo, o teste crucial na formulação das leis naturais. O bom acordo com a experiência é o "juiz supremo" da validade de qualquer teoria. Portanto, ensinar ciências sem laboratório, é no mínimo um procedimento inadequado, pedagogicamente incorreto, e pouco produtivo. O completo abandono do laboratório, infelizmente, foi o procedimento adotado no ensino médio e fundamental brasileiro, nos últimos tempos. Isso tem reflexos negativos no profissional recém-formado, e consequentemente, é claro que, na sociedade como um todo. A ciência desempenha um papel muito importante no mundo contemporâneo, o desenvolvimento científico tem-se acelerado cada vez mais. O mesmo se sucede, com sua importância para a sociedade, a ponto de hoje em dia, se medir o progresso de uma nação, pelo grau de desenvolvimento científico e tecnológico do país. Talvez este seja um dos fatores, se não o principal, que explica a forte dependência, que os países do terceiro mundo têm em relação aos países ricos, em nossa sociedade capitalista, e cada vez mais globalizada. OBJETIVOS Os dois principais objetivos desta obra são: Resgatar o ambiente de laboratório como um importante, se não o principal, instrumento de ensino de física, a nível médio e fundamental, ainda que 4 muitas vezes propondo experiências hipotéticas a fim de conduzir o aluno a criar mentalmente algumas práticas no seu cotidiano; Restabelecer o método científico, como o procedimento mais eficiente, para o ensino de ciências; Buscar alternativas que visem atender a demanda da sociedade, no que diz respeito à quantidade e à qualidade dos egressos do sistema de ensino. PLANO DA OBRA Com foco nos objetivos acima, o trabalho aqui apresentado, faz uma abordagem de todo o conteúdo programático de um curso de Física para o domínio das demais áreas da ciência, e contém os fundamentos de calor, mecânica, eletricidade, magnetismo, ondas e energia nuclear. Em todos os assuntos, foram selecionados alguns experimentos possíveis de serem reproduzidos pelos alunos, seja na sala de aula, seja em sua casa, no próprio local de estudo, a fim de torná-lo confiante na sua jornada. Esses experimentos propostos visam abordar, de forma clara e simples, os princípios básicos da Física. Aproveite a oportunidade, esse é o momento certo para você iniciar seus estudos sobre física. Estaremos prontos para te ajudar a superar as dificuldades que por ventura surjam, não desistam, sigam em frente. 5 CAPÍTULO 1 Objetivos: No final desse capítulo o aluno deverá ser capaz de: Identificar uma grandeza física e representá-la corretamente usando o Sistema Internacional de Unidades - SI; Identificar em uma medida os algarismos significativos; Ser capaz de representar uma medida em notação científica. 1. CONCEITOS BÁSICOS PARA O ESTUDO DE CIÊNCIAS Alguns conceitos básicos advindos da ciência, especialmente da física, encontram aplicações em muitos, muitos lugares. Agrupamos estes "pontos de partida" em três grupos: espaço, tempo e matéria. De certa maneira, espaço é o termo que usamos para qualquer coisa além da Terra. Entretanto, "espaço" é também a forma que nos referimos para localização e a distância entre objetos. Nós vivemos em um mundo em que percebemos três dimensões espaciais, então os sistemas de coordenadas que descrevem localizações e distâncias são importantes ferramentas para descrever o espaço. As muitas unidades que nós usamos para medir distância são uma importante parte de nossa noção de espaço. O tempo é a segunda chave fundamental que nos ajuda a conseguir uma descrição específica dos eventos. Muitas de nossas medidas de tempo, tal como dias, meses, e anos, são baseadas em fenômenos astronômicos. Armados com o conceito de espaço e tempo, nós podemos especificar o "onde" e o "quando" em nossas observações do mundo em torno de nós. Nós empregamos muitas unidades diferentes em nossas medidas de espaço e tempo, e uma compreensão da história destas unidades e as situações mais apropriadas no qual aplicamos certas unidades é útil em nosso estudo dos fenômenos físicos. Nosso terceiro conceito fundamental é matéria, a "matéria prima" sem o qual o Universo seria um lugar solitário. Nós especificamos a quantidade de 6 matéria em um objeto em termos da massa do objeto. Existem quatro formas básicas que a matéria pode tomar: sólido, líquido, gás e plasma. Numerosos conceitos fundamentais como peso, pressão, e densidade, têm vínculo estreito com a noção de massa e matéria. Matéria pode ser classificada e agrupada, como é feito com os elementos químicos na tabela periódica. Matéria e energia são ideias intimamente entrelaçadas, como expressado na famosa equação de Einstein relacionando ambas: E = mc2 (energia é igual a massa vezes o quadrado da velocidade da luz). 1.1 Grandezas Fundamentais e Unidades As peças constitutivas da física são as grandezas físicas pelas quais as leis físicas são expressas. Estas grandezas podem ser divididas em fundamentais e derivadas. As grandezas fundamentais são definidas independentemente de outras grandezas físicas. No caso particular do estudo da mecânica são três as grandezas fundamentais, a saber, comprimento, massae tempo. De modo geral, corrente elétrica, temperatura termodinâmica, quantidade de massa e intensidade luminosa também são grandezas fundamentais, abrangendo as demais áreas da física. A definição de uma grandeza física, contudo, sempre vem acompanhada de uma unidade. Para efetuar algumas medidas o físico ou qualquer outro profissional deve dispor de um sistema de unidades em que possa expressar seus dados. Na maioria dos países usa-se, por exemplo, o sistema métrico cuja principal vantagem das unidades métricas de medição é ser baseada num sistema decimal, o que torna a conversão a unidades muito diferentes, numa simples questão de mudança da vírgula decimal. Qualquer unidade está relacionada a uma unidade maior ou menor por alguma potência de dez. O metro, por exemplo, está dividido em 100 unidades menores chamada centímetros. Cada centímetro é dividido em 7 10 milímetros. Assim, é fácil mudar de metros para centímetros ou milímetros, e vice-versa, pela simples mudança do ponto decimal. Por exemplo, para mudar uma medida de 2,567 metros em centímetros, multiplicamos por 100 pela mudança de duas casas do ponto decimal para a direita, dando 256,7 centímetros. Para mudar esta leitura em milímetros, observamos que um centímetro é igual a 10 milímetros e multiplicando por 10, dando 2567 milímetros. Este sistema foi originalmente designado para lidar principalmente com a medida de movimento e a força que controla este movimento. Por isto é necessário somente três unidades fundamentais, o metro que é a unidade de comprimento, o quilograma que é a unidade de massa, e o segundo que é a unidade de tempo. Estas unidades deram ao sistema o nome descritivo do metro- quilograma-segundo ou sistema MKS, contudo, esse sistema foi substituído por outro mais amplo, que veremos adiante. As demais são grandezas derivadas por serem baseadas nas grandezas fundamentais. Como exemplos de grandezas derivadas podem-se citar: a velocidade com que um corpo se desloca, a aceleração de um carro para aumentar sua velocidade, a força empregada para levantar uma caixa, o volume ocupado por um líquido num recipiente, a pressão que a atmosfera exerce sobre nós, o trabalho realizado para arrastar uma mesa, e assim por diante. 1.2 A Importância das Medições em Nossa Vida Você já observou quantas vezes nós fazemos medições no nosso dia a dia? Quando compramos alimento como carne, manteiga, tomate, estamos medindo peso. Quando compramos roupas ou corda para o varal de nossa casa ou determinamos a distância que nos deslocamos de carro, de casa para o trabalho, estamos medindo comprimento. Quando registramos a duração de uma aula, ou quantas horas trabalhamos durante o dia, a nossa idade, estamos medindo o tempo. Quando o médico avalia as condições de um paciente e faz uso de um termômetro para saber se ele está com febre ou quantos graus marca o 8 termômetro ao meio dia no deserto do Saara, estamos medindo a temperatura, e assim por diante. Em diferentes situações, as medições fazem parte do nosso dia a dia. 1.3 Medida Padrão Medimos uma dimensão ou uma propriedade de um objeto pela comparação com alguma coisa que aceitamos como unidade padrão. Por exemplo, quando medimos o comprimento de uma quadra de futebol em metros, estamos comparando o comprimento da quadra com o de uma fita métrica. Usamos aqui o comprimento da fita métrica como padrão de unidade. Se encontramos que o comprimento da quadra de ponta a ponta é igual a distância medida de 20 fitas métricas, descrevemos o comprimento da quadra como 20 metros, significando que esta é 20 vezes tão longa quanto o metro padrão. Analogamente, quando medimos o tempo que um corredor dos 100 metros rasos leva para completar a corrida, ele parte no mesmo instante em que o cronometro é acionado e sabemos que ele levou 10 vezes o tempo do segundo padrão para cruzar a linha de chegada. Acontece o mesmo quando em um supermercado pegamos um pacote de arroz registrado em 5 quilogramas, temos o entendimento que esse pacote contém 5 vezes a massa padrão em quilogramas. As pessoas costumam confundir entre massa e peso, mas eles não são a mesma coisa (veremos adiante a distinção entre ambos). Assim antes de nós podermos fazer qualquer medição, devemos concordar sobre os padrões como o metro, o segundo e o quilograma com o qual podemos compará-los. 1.3.1 Atividades Experimentais a) Use uma régua (simples de 30 cm) e observe quais marcas são centímetros e quais são milímetros? 9 b) Com a mesma régua, meça o comprimento de seu palmo. O meu é de 22 cm ou 0,22 m. Compare com o de uma pessoa do sexo oposto. c) Use ainda a régua para medir o comprimento do seu pé e depois, sua altura. d) Use um cronômetro ou relógio de pulso para medir o tempo de 100 batidas de seu coração e anote. Agora suba e desça rápido o equivalente de um andar para o outro pelas escadas de um prédio. Volte a fazer a medida do tempo de 100 batidas do seu coração e anote. Compare os dois resultados. e) Amasse uma folha de papel no formato de uma bola e deixe cair em queda livre, isto é, simplesmente largue o papel da altura de 1 m. Meça o tempo da queda com o seu cronometro ou relógio de pulso. f) Use algum produto rotulado com massa de 1 kg. Pode ser açúcar, sal, etc. Coloque o saco do açúcar em um prato e segure em uma das mãos. Com outro prato idêntico segure na outra mão e coloque o equivalente de batatas ou laranjas no prato, até atingir a medida equivalente da massa do pacote de açúcar. Use uma balança e veja se você acertou no peso das batatas ou laranjas. Afinal de contas você acabou de medir o peso ou massa das batatas e/ou laranjas? Você mediu a massa (kg), embora popularmente se diga que você mediu o peso. DEFINIÇÕES: MASSA, FORÇA, PESO A Dinâmica é a parte da Mecânica que estuda as causas que produzem ou modificam os movimentos dos corpos e têm como grandezas básicas: a massa, a força e a aceleração. À quantidade de matéria de um corpo, dá-se o nome de massa desse corpo. A unidade que mede massa é o quilograma kg . A grandeza que causa a interação entre os corpos é chamada de força. A unidade que mede a força é o newton N . 10 Aceleração é o efeito produzido em um ponto material (corpo) quando a ele é aplicada uma força. A unidade de aceleração é o metro por segundo a cada segundo, (metro por segundo ao quadrado) abreviada para 2/m s . A relação entre essas três grandezas é simples e é definida como: 1 N é a força que, aplicada a um corpo com 1 kg de massa, provoca uma aceleração de 2/m s . O QUE É PESO? Peso é uma força. É a força resultante da (ou produzida pela) atração gravitacional exercida pela Terra sobre a massa um corpo. A unidade de peso é o quilograma-força, abreviada para kgf . A relação entre peso e massa também é simples: por definição, 1 kgf é a força que, aplicada a um corpo com 1 kg de massa, provoca uma aceleração de aproximadamente 29,8 /m s (que vem a ser a aceleração devida à gravidade, medida ao nível do mar). Resulta, então, que um corpo com a massa de 1 kg pesa 1 kgf ; um corpo com a massa de 2 kg pesa 2 kgf ; e assim por diante, desprezando-se, pequenas variações decorrentes da altitude, achatamento dos polos, alterações gravimétricas, etc. No dia a dia os conceitos de massa e peso se confundem e são utilizados indiferentemente. É comum dizermos, por exemplo, “meu peso é 70 quilos”, quando o certo seria dizer “meu peso é 75 quilogramas força”. Mas mudar esse hábito é, certamente, uma batalha perdida. Trata-se, entretanto, de grandezas totalmente diferentes. Massa é matéria, é uma grandeza escalar; peso é uma força, é uma grandeza vetorial. Desta maneira, quando subimos em uma balança e ela indica 70 kg, por exemplo, devemos interpretar tal informação como sendo a nossa massa. Entretanto, se a balançafor digital (idem para as antigas balanças de banheiro que funcionavam com molas) de fato ela está medindo força em seus sensores de carga e rigorosamente deveríamos denominar tais aparelhos como dinamômetros, cujo significado é “medidores de força”. Assim, mesmo que o instrumento meça força (o peso neste caso), sempre é possível apresentar esta mensuração com unidade de massa, pois esta pode ser calculada a partir do peso. Balanças digitais fazem a conversão do peso para massa dividindo o peso pela aceleração da gravidade (esta operação é realizada internamente através de circuitos 11 eletrônicos) enquanto que, as balanças mecânicas o fazem, ajustando adequadamente a escala de leitura para valores de massa. 1.4 O Sistema Internacional de Unidades – SI No Brasil, assim como na imensa maioria dos países, usamos o Sistema Internacional de Unidades em geral identificada pela sigla SI. O SI possibilita que haja unidades de base únicas, que podem ser reproduzidas e realizadas em qualquer lugar do mundo. No quadro abaixo, estão representadas as sete grandezas e as unidades de base do SI. GRANDEZA NOME SÍMBOLO Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Corrente elétrica Ampère A Temperatura termodinâmica Kelvin K Quantidade de matéria mol mol Intensidade luminosa candela cd 1.5 Nomes e Símbolos das Unidades As regras básicas para representação de nomes e símbolos das unidades podem ser enumeradas como segue 1. Os símbolos são sempre expressos em letras minúsculas, exceto quando a unidade corresponde a um nome próprio, neste caso o símbolo terá letra maiúscula, porém sua representação por extenso terá letra minúscula; 12 Exemplos: metro (m), segundo (s), kelvin (K), newton (N), exceto o grau Celsius (C). 2. Alguns símbolos serão expressos por caracteres romanos, com exceção das letras gregas (mícron) e (ohm); 3. Os símbolos das unidades não têm plurais e não são seguidos por pontos; Exemplos: 50 metros (50 m), 30 segundos (30 s) 4. No plural das unidades, acrescenta-se apenas o "s" ao final da mesma; Exemplos: 10 pascals, 20 newtons, 50 kelvins, etc. 5. Na divisão de uma unidade por outra se utiliza a barra inclinada, o traço horizontal, ou potência negativa; Exemplo: km/h ou kmh-1 (quilômetros por hora), m/s2 ou ms-2 (metros por segundo ao quadrado) 6. O quilograma, seus múltiplos e submúltiplos, pertencem ao gênero masculino; Exemplos: quatrocentos gramas de queijo, trezentos gramas de presunto 7. Na representação de tempo não se usam dois pontos, nem um ponto após a abreviatura de horas, minutos ou segundos; Exemplos: 3 h 15 min, 16 h 42 min 23 s, etc. 1.5.1 Medidas de Comprimento A forma direta de se medir um comprimento é por meio da extremidade reta de uma régua ou de uma fita métrica. A régua é colocada ao longo do objeto para ser medido, e o número de intervalos de unidades da régua igual ao comprimento do objeto é então conhecido. 13 Podemos usar uma régua para fazer medidas diretas de comprimento somente se as dimensões do objeto para ser medido não são nem muito menor do que o menor intervalo de unidade na régua nem muito maior do que a própria régua. Assim, não podemos medir a espessura de um pedaço de papel ou a distância da Terra a Lua diretamente com uma régua. Para tais medidas devemos usar instrumentos ou métodos que combinam o uso de uma régua com o conhecimento de geometria, de leis físicas e fatos, e qualquer outra informação pertinente. Por exemplo, para medir a espessura de um pedaço de papel, usamos um micrômetro. Este instrumento é de fato, a combinação de um parafuso e de uma pequena régua. Ele utiliza a geometria do parafuso para habilitá-lo a medir a fina espessura de um papel. Uma medida tal como a distância da Terra a Lua ou a um planeta exige uma considerável engenhosidade. Um método para fazer isso, chamado radar, envia um sinal da Terra para a Lua onde o sinal é refletido de volta para a Terra. O tempo levado pelo sinal para fazer a viagem de ida e volta da Lua é medido. A distância total viajada pelo sinal é então obtida pela multiplicação da velocidade conhecida do sinal de rádio, que é de 300.000 quilômetros por segundo, pelo tempo de viagem. Metade desta viagem de ida e volta, é a distância da Terra à Lua. Observe que ao fazer esta medida, assumimos também que o sinal de rádio viajou para a Lua e retornou em linha reta e, que sua velocidade permaneceu constante ao longo de toda a viagem. Nosso conhecimento sobre ondas de rádio torna estas suposições razoáveis. Assim vemos que a medida da distância é uma ciência que requer tanto a imaginação em inventar métodos de medição e instrumentos, assim como habilidade em usá-los. 1.5.2 Unidade de Comprimento O metro (m) que é a unidade padrão de comprimento no sistema métrico SI já foi definido. Este é dividido em 100 centímetros (cm) e 1000 milímetros (mm). Para grandes distâncias geralmente usamos 1000 metros, ou um quilômetro (km), como unidade de medida. Uma ideia da forma destas unidades pode ser obtida da 14 escala mostrada na figura abaixo. Ela é um décimo de um metro e é dividido em centímetros e milímetros. A técnica para medida de comprimento habilita-nos a medir área e volume, ambas são derivadas das medidas de comprimento. Figura 1. Régua graduada em centímetros com subdivisões em milímetros. 1.5.3 Área A unidade de área é um quadrado tendo uma unidade padrão de comprimento como um lado. No sistema métrico SI este é um quadrado de 1 metro de lado. Ele é chamado um metro quadrado e é escrito 1 m2. Para medir áreas menores, podemos usar um quadrado de 1 centímetro de lado. Este é chamado um centímetro quadrado e é escrito 1 cm2. Um metro quadrado contém 10.000 centímetros quadrados. O número de metros quadrados ou centímetros quadrados que se encaixa em qualquer superfície é uma medida da área dessa superfície. Para medir as áreas das superfícies de alguns objetos, frequentemente fazemos uso da geometria. Por exemplo, a geometria nos diz que a área de um retângulo é igual a sua base vezes sua altura. Então, podemos medir a área de um retângulo pela medida do comprimento de sua base e sua altura, multiplicando junto estas quantidades. A área de um retângulo tendo uma base de 3 centímetros e uma altura de 2 centímetros é 3 cm 2 cm = 6 cm2 como mostra a figura abaixo. Para medir a área de um círculo, observamos da geometria que a área de um círculo é igual a πr2, onde π (letra grega pi) é igual a 3, 14 e r é o raio do círculo. Assim a área de um círculo cujo raio é 10,0 metros é π (10, 0 m)2 = 314 m2. 15 Figura 2. A área de uma superfície de 1 cm quadrado é uma pequena unidade de área igual a 1/10.000 de um metro quadrado. 1.5.4 Volume O volume de um corpo significa o espaço que ele ocupa. A unidade de volume é o espaço ocupado por um cubo tendo a unidade padrão de comprimento para sua aresta. No sistema métrico SI este é o espaço ocupado por um cubo de um metro de aresta, chamado um metro cúbico. Em símbolos isto é escrito 1 m3. Para medir volumes menores, usamos como unidade um cubo de um centímetro de aresta. Este é chamado um centímetro cúbico e é escrito 1 cm3. Existem um milhão de centímetros cúbicos em um metro cúbico. Outra unidade comum de volume é o litro que é definido exatamente como 1000 centímetros cúbicos. O litro é abreviado por l. Figura 3. Blocos com volume unitário de um centímetro cúbico. 16 1.6 Notação Científica Para simplificar o trabalho com números tão grande quanto a distância a uma galáxia ou tão pequeno quanto o diâmetro de um próton ou o tamanho de uma célula, naturalmente escrevemos estes valores numa forma abreviada como potência de dez. Este método conveniente de escrever números muito pequenos e muitograndes é chamado exponencial ou notação científica. Na representação da notação científica, o valor numérico é escrito em função de uma potência de base dez multiplicada por um valor N que deve ser maior ou igual a um e menor que dez (1 N < 10), como mostra a expressão a seguir x = N . 10expoente A tabela 1 abaixo mostra uma sequência de potências de dez com expoentes tanto positivo quanto negativo. Tabela 1 Potência de Dez Multiplique por 1 000 000 = 101010101010 =106 1 00 000 = 1010101010 =105 10 000 = 10101010 =104 1 000 = 101010 =103 100 = 1010 =102 10 = 10 =101 0,1= 1/10 =10-1 0,01= 1/100 = 1/102 =10-2 0,001= 1/1000 = 1/103 =10-3 0,0001= 1/10 000 = 1/104 =10-4 0,00001= 1/100 000 =1/105 =10-5 0, 000 001= 1/1 000 000 = 1/106 =10-6 17 A tabela acima pode ser continuada para 107; 108; 109, etc., na direção de números maiores, e para 10-7; 10-8; 10-9, etc., na direção de números menores. Retomando o exemplo podemos observar que 6000000 = 6 × 1000000 = 6 × 106 6700000 = 6,7 × 1000000 = 6,7 × 106 Em ambos os exemplos acima, a representação dos valores na forma de notação científica seguiu-se a regra determinada anteriormente. Uma outra maneira possível de escrever 6700000 é 67 × 100000 = 67 × 105, o que não está em acordo com a regra para notação científica. Entretanto, é costume nesta notação ter somente um inteiro à esquerda da vírgula decimal no número em frente da potência de dez como já citado. O número 6,7 × 106 é lido: "Seis vírgula sete vezes dez elevado a sexta potência". Números menores do que um podem ser escritos como segue: 0,0003 = 3 × 0,0001 = 3 × 10− 4 0,00035 = 3,5 × 0,0001 = 3,5 × 10− 4 Estes números são lidos: "Três vezes dez elevado a menos quatro", e "Três vírgula cinco vezes dez elevado a menos quatro" respectivamente. 1.7 Múltiplos e Submúltiplos no SI Sempre que efetuamos uma medida, estas serão expressas em múltiplos ou submúltiplos de unidades. Assim, quando nos referimos a grandes distâncias estaremos usando um múltiplo do metro, enquanto que para distâncias muito pequenas é comum usarmos um submúltiplo. O metro é uma unidade muito pequena em alguns casos e muito grande, em outros, para certas medidas de laboratório. Usam-se então unidades derivadas que guardam entre si, em todos os casos, relações decimais. Entre elas são 18 importantes: o quilômetro (simbolizado por km e vale mil metros ou 103 m); o centímetro, um centésimo do metro (simbolizado por cm ou 10−2 m); o milímetro, um milésimo do metro (simbolizado por mm ou 10−3m); o mícron, um milionésimo do metro (simbolizado por ou 10-6 m); e o angstrom (simbolizado por Å ou 10−10 m). Esta unidade é muito utilizada para medir distâncias interatômicas. Uma grandeza sempre será expressa em unidades. Ao fazer uma medida de comprimento, queremos saber quantos metros tem o objeto. Ao fazer uma medida de massa de um objeto, queremos saber quantos quilogramas possui. Portanto, quantificar uma medida significa dizer que múltiplos, ou submúltiplos da unidade, tem a propriedade em questão. A tabela 2 a seguir apresenta os mais comuns múltiplos e submúltiplos. Estes são expressos na forma de potência de 10. Tabela 2 Prefixo Símbolo Potência Multiplique por quilo K 103 1.000 mega M 106 1.000.000 giga G 109 1.000.000.000 tera T 1012 1.000.000.000.000 mili m 10- 3 0,001 micro μ 10- 6 0,000001 nano n 10- 9 0,000000001 pico p 10- 12 0,000000000001 femto f 10- 15 0,000000000000001 19 1.8 Medidas e Aproximações É importante notar que qualquer medida é uma aproximação. Ela representa o melhor que pode ser obtido para uma determinada medida com o instrumento usado. Suponha que nós medimos a espessura de uma placa de vidro, inicialmente por meio de uma fita métrica e depois por meio de um micrômetro. A menor unidade na fita métrica é um milímetro. Usando a fita métrica, nós encontramos que a espessura do vidro é consideravelmente mais do que três milímetros, mas menor do que quatro milímetros. Nós, portanto, estimamos sua espessura em 3, 7 mm. Voltando ao micrômetro, nós encontramos que este pode medir um comprimento com a aproximação de um centésimo de milímetro. Com isto nós encontramos que a espessura do vidro é 3, 65 mm. Observe que temos duas medidas da mesma quantidade, isto é, do mesmo pedaço de vidro. Ambas são aproximações do valor verdadeiro da espessura do vidro, mas a segunda é uma aproximação melhor do que a primeira. Nós descrevemos a precisão de nossas medidas em cada caso anotando quantos dígitos foram obtidos pela medição real. Cada um desses dígitos é chamado de algarismos significativos. O número e algarismos significativos numa medida indica o quanto precisa é a medida. A medida da fita métrica de 3, 7 mm dá dois algarismos significativos (os algarismos 3 e 7). Podemos estar certos que o 3 nesta medida é correto. O algarismo 7, entretanto, é duvidoso porque não podemos ler décimos de milímetros diretamente em uma fita métrica. Nós temos que estimá-los. A medida mais precisa de 3, 65 mm obtida com o micrômetro tem três algarismos significativos (os algarismos 3, 6 e 5). Nós podemos estar certos de que 3 e 6 destas medidas são corretos. O algarismo 5, entretanto, é duvidoso. Este poderia ser um pouco menos ou um pouco mais do que 5, que é simplesmente a mais exata aproximação que pode ser feita com este instrumento. Note que, em geral, o último algarismo significativo de uma medida é sempre duvidoso. Enquanto o exemplo acima diz respeito a medida de comprimento, todas as medidas de quantidades físicas dão somente valores aproximados das quantidades medidas. 20 A exatidão da aproximação é determinada pelo número de algarismos significativos na medida. Quanto maior o número de algarismos significativos, mais precisa é a medida. 1.8.1 Algarismos Significativos O número de algarismos significativos numa medida é encontrado através da contagem do algarismo duvidoso e de todos os algarismos à esquerda dele até o último algarismo diferente de zero. Por exemplo, suponha que um certo comprimento é medido como 0,0003102 metro. O algarismoduvidoso é o final 2. Contando para a esquerda a partir de 2, incluímos o 0, o 1, e o 3 que é o último algarismo diferente de zero à esquerda de 2. Isto produz quatro algarismos significativos. Na determinação do número de algarismos significativos, os zeros na extremidade direita de um número de medidas são contados somente se eles foram obtidos pela medição real. Se você mede o comprimento de uma folha de papel e encontra o valor de 23,30 centímetros de comprimento, o 0 é significativo porque você consegue obtê-lo por medida real. Assim, 23,30 centímetros têm 4 algarismos significativos. Neste livro, quando os zeros aparecem no final do lado direito de um número medido, supõe-se que eles foram obtidos através de medição e que são significativos. 1.8.2 Incertezas e Erros de uma Medida Toda vez que realizamos uma medida, estamos sujeitos a cometer algum tipo de erro, que pode ser tanto um erro desprezível quanto um erro significativo. O objetivo de uma medição é determinar o valor específico da grandeza a ser medida, ou mensurando. Uma medição começa, portanto, com uma especificação apropriada do mensurando, do método da medição e do procedimento de medição. O resultado de uma medição é somente uma 21 aproximação ou estimativa do valor do mensurando, e assim, só é completa quando acompanhada pela declaração da incerteza dessa estimativa. A palavra incerteza significa dúvida, e assim, no sentido mais amplo, "incerteza de medição" significa dúvida acerca da validade do resultado de uma medição. Em geral, uma medição tem imperfeições que dão origem a um erro no resultado da medição.