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Leitura e Produção de Texto E-book 2 Mariana Batista Neste E-book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 O CONCEITO DE LEITURA �����������������������4 Tipologias textuais, subtipos, gêneros e espécies ����������������������������������������������������������������� 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 35 SÍNTESE �������������������������������������������������������36 2 E-book 1 Leitura e Tipologias Textuais E-book 2 INTRODUÇÃO Olá, estudante! No módulo anterior você conheceu um pouco sobre a história da leitura e da escrita� Para darmos continuidade aos nossos estudos em Leitura e Produção de Texto, neste módulo, dividido em dois tópicos, apresentaremos, primeiramente, uma conceituação de leitura, a partir da definição dos dicionários e dos seguintes autores: Geraldi (1984/2001, 1997), Lajolo e Zilberman (1982) e Silva (2011)� Ainda neste tópico falaremos das fases de leitura: pré-leitura, leitura seletiva, leitura crítica ou reflexiva e leitura interpretativa, segundo os estudos de Andrade (1999)� No segundo tópico trataremos de quatro categorias textuais: tipo, subtipo, gênero e espécie� E estudare- mos os quatro tipos textuais mais conhecidos e im- portantes, tanto para a leitura quanto para a produção textual: narrativa, descritiva, dissertativa (expositiva e argumentativa) e injuntiva, com base em Travaglia (2007a, 2007b, 2009, 2018), Savioli e Fiorin (2011) e Köche, Marinello e Boff (2009)� Espero que você tenha um excelente aprendizado! Bons estudos! 3 O CONCEITO DE LEITURA Iniciaremos este tópico perguntando a você, estudan- te: “Como você definiria leitura?” e “O que o ato de ler significa para você?” Ao procurar nos dicionários Sacconi (2010) e no Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa, encontramos que leitura é: 1. Ação ou efeito de ler ou decifrar um texto, caracteres, etc.: a leitura dos originais de uma obra; a leitura dos hieróglifos. 2. O que se lê: leitura educativa. 3. Fato de saber ler: aprender a leitura. 4. Ação de ler em voz alta, diante de um auditório: fazer a leitura de um texto num congresso. 5. Arte, hábito ou prática de quem lê: faça da leitura um prazer! 6. Análise ou interpretação de um texto, de uma partitura, etc.: fazer uma nova leitura de Kant. 7. Modo próprio como alguém vê uma coisa; maneira pessoal de considerar um fato; interpretação: a leitura que ele faz do jogo é diferente da minha. (SACCONI, 2010, p.1255) 1. ato de decifrar signos gráficos que tradu- zem a linguagem oral; arte de ler. 2. ação de tomar conhecimento do conteúdo de um texto escrito, para se distrair ou se informar. 3. ma- neira de compreender, de interpretar um texto, 4 uma mensagem, um acontecimento. 4. ato de decifrar qualquer notação; o resultado desse ato. (HOUAISS, dicionário eletrônico) A partir do exposto, compreendemos que o ato de ler é mais do que decifrar códigos e decodificá-los, e sim é atribuir significado para o que é lido. Além dis- so, a leitura tem uma forte ligação com a linguagem escrita; segundo Lajolo e Zilberman (1982), trata-se de um processo de interlocutor entre autor e leitor, este processo é mediado pelo texto� Ler não é decifrar, como num jogo de adivi- nhações, o sentido de um texto. É a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, con- seguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1982, p. 59) Neste sentido, podemos afirmar que o leitor é quem dá vida ao texto, o leitor é um ser ativo que dá senti- do ao texto, ou seja, um texto só se torna completo quando ele é lido. “Ler não é, pois decodificar, tradu- zir, repetir sentidos dados como prontos, é construir uma sequência de sentidos a partir dos índices que o sentido do autor quis dar a seu texto.” (SILVA, 2011, p� 23)� 5 Figura 1: A leitura como produtora de sentidos Fonte: Blog da Livraria Loyola Diante dessas considerações, compreendemos que ler é atribuir significado ao texto. Um mesmo texto pode provocar diferentes visões da realidade em cada leitor ou em cada leitura; tais visões dependerão do modo que cada sujeito pensa e olha o mundo e, principalmente, de suas experiências com a ação de ler, quanto mais lemos, mais nosso repertório é ampliado e mais conseguimos interagir com o texto� O produto do trabalho de produção se oferece ao leitor, e nele se realiza a cada leitura, num processo dialógico cuja trama toma as pontas dos fios do bordado tecido para tecer sempre o mesmo e outro bordado, pois as mãos que agora tecem trazem e traçam outra história. Não são mãos amarradas – se o fossem, a leitura seria reconhecimento de sentidos e não produção de sentidos; não são mãos livres 6 que produzem o seu bordado apenas com os fios que trazem nas veias de sua história – se o fossem, a leitura seria um outro bordado que se sobrepõe ao bordado que se lê, ocultando- -o, apagando-o, substituindo-o. São mãos car- regadas de fios, que retomam e tomam os fios que no que se disse pelas estratégias de dizer se oferece para a tecedura do mesmo e outro bordado. (GERALDI, 1997, p. 166). Trata-se, portanto, de um processo dinâmico e dialó- gico� E cada texto demandará de seu leitor um grau de dificuldade diferente; uma boa leitura depende basicamente dos fatores linguísticos (coerência, coe- são, denotação, conotação, uso de figuras de lingua- gem etc�) e dos fatores contextuais (o que se quer dizer em determinada situação)� Quando entramos no mundo acadêmico, por exemplo, as leituras que faremos nos exigirão maior criticidade, complexida- de e análise, e refletirão diretamente sobre a nossa produção textual; a prática do ato de ler textos dessa esfera implica no domínio de conteúdos temáticos, da linguagem e dos recursos estilísticos utilizados� Outro aspecto importante para se tornar um bom leitor é o de entender qual o propósito do texto a ser lido. Você lê por que e para quê? Ainda nos tempos atuais, a leitura de textos literários é o que possui maior valoração social, no entanto, segundo Geraldi (1984/2001), o ato de ler possui várias finalidades: as pessoas leem para buscar in- 7 formações, para estudar, por fruição ou por pretexto, isto é, o texto serve como instrumento para outras ações� Além dessas finalidades, podemos acrescentar que o ato de ler também serve para que as pessoas se localizem espacialmente e possam se locomover de um local para o outro, para satisfazer alguma curiosi- dade, para seguir instruções etc� A leitura em nossa cultura está presente em praticamente todos os âm- bitos da sociedade, pois vivemos em uma cultura gra- focêntrica em que a palavra escrita tem uma grande importância para o estabelecimento e manutenção de nossas relações interpessoais� Figura 2: As funções da leitura Fonte: Correio Popular, 2014. Segundo Andrade (1999), podemos classificar as diversas funções da leitura em quatro tipos: leitura técnica; leitura de estudo; leitura de informação; e leitura recreativa� A leitura técnica está relaciona- da com a habilidade de ler e interpretar gráficos e tabelas� Já a leitura de estudo tem como objetivo coletar informações para a aquisição e ampliação de conhecimentos� A leitura de informação está vinculada à cultura geral e à leitura recreativa ou 8 de fruição; busca trazer distração, entretenimento, lazer e satisfação� Pelo fato de nossa disciplina estar voltada para a leitura e produção de textos acadêmicos, nosso in- teresse se reincidirá para as leituras de estudo e de informação� É preciso que você, comoestudante, se habitue desde cedo com esse formato de texto, pois será o mais recorrente durante sua vida acadêmica e incidirá sobre sua produção textual daqui para frente, desde a escrita de um fichamento até a entrega final de seu Trabalho de Conclusão de Curso� Assim, nos aprofundaremos em mais um ponto para que o nosso ato de ler seja proficiente: as fases da leitura. Segundo Andrade (1999), existem quatro fases de leitura� São elas: pré-leitura; leitura seletiva; crítica ou reflexiva e interpretativa� Na fase de pré-leitura, também conhecida por leitura flutuante, o leitor toma um primeiro contato com o texto; nela, ele verifica- rá se há ou não informações úteis de acordo com os seus objetivos, mas sem aprofundamentos� Na fase seletiva, por sua vez, há uma seleção das in- formações consideradas mais importantes e mais interessantes para os propósitos do trabalho a ser desenvolvido� Na terceira fase, a crítica ou reflexiva é feita a análise e avaliação das informações esco- lhidas por meio de uma atitude reflexiva das ideias contidas no texto. Por fim, a fase interpretativa tem o objetivo de se aprofundar plenamente nas ideias prin- cipais do autor, compreendendo o que ele realmente quis dizer, correlacionando com outras afirmações, 9 conhecimentos, conceitos etc� e estando apto para escrever uma síntese do que foi lido� Além das fases da leitura, estudos linguísticos apon- tam que existem alguns níveis de leitura: elemen- tar, inspecional, analítico e sintópico (ADLER e VAN DOREN, 2010)� Para conhecê-los atente-se ao pod- cast – Níveis de Leitura� Podcast 1 Antes de irmos para o tópico seguinte, vale ressal- tar que a leitura é essencial para a nossa vida em sociedade, por meio dela interagimos uns com os outros, nos comunicamos, nos informamos, nos dis- traímos, conhecemos outros mundos e adquirimos e construímos conhecimentos� A leitura, conforme vimos no início deste tópico, vai além da decodifi- cação, ela é produtora de sentidos e está vinculada com a visão de mundo de cada pessoa� Nas palavras do escritor argentino Alberto Manguel (1997, p� 20): “Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos� Lemos para compreender, ou para começar a compreender� Não podemos deixar de ler� Ler, quase como respirar, é nossa função essencial”. Para conhecer melhor Alberto Manguel e saber mais sobre leitura, atente- -se ao podcast – Alberto Manguel e as Finalidades da Leitura� Podcast 2 10 Tipologias textuais, subtipos, gêneros e espécies Iniciamos este tópico com ênfase na importância do ato de ler e, para a realização de uma boa leitura, temos que seguir alguns passos, tais como: identi- ficação do tema, a localização espaço-temporal do texto, seus objetivos e ideias centrais� Para tanto, é preciso compreender que cada texto, segundo as suas intenções, tem um formato e é isso que vere- mos neste momento� A partir dos estudos de Travaglia (2007a, 2018) compreendemos que tudo o que falamos/ouvimos ou escrevemos/lemos é dito por meio de textos e, cada texto se adequará às diferentes situações de interação comunicativa, a partir de algumas cate- gorias que podem ser de naturezas distintas, estas denominadas de tipelementos� O referido autor nos diz que, até o momento, foram identificados quatro: tipos, subtipos, gêneros e espécies. Os tipos são caracterizados pela maneira como o texto se apresenta, instaurando diferentes modos de interação e de interlocução, ou seja, trata-se de um modo de se comunicar; abrange um conjunto de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas e tempo verbal� Os tipos textuais mais importantes para o estudo em Língua Portuguesa são os que Travaglia (2018) identificou como tipologia 1: descritivo, narrativo, dissertativo e injuntivo. Estes configuram as habilida- 11 des linguísticas e discursivas básicas que todos nós precisamos dominar para construir nossos textos� Há, ainda, outras tipologias: o texto argumentativo stricto sensu e argumentativo não-stricto sensu (tipo- logia 2); o preditivo e não preditivo (tipologia 3); o do mundo comentado e o do mundo narrado (tipologia 4); o lírico, épico/narrativo e dramático (tipologia 5); o humorístico e não humorístico (tipologia 6); o literário e não literário (tipologia 7); e o factual e ficcional (tipologia 8). Os subtipos podem ser definidos como uma varie- dade de um tipo; trata-se de um tipo dependente� Segundo Travaglia (2018), foram identificados sub- tipos de dois tipos: o injuntivo e o dissertativo� Na tipologia textual injuntiva teremos as seguintes varie- dades: ordem (determina um fazer), pedido/súplica (solicita a realização de uma ação), conselho (diz qual/como é o melhor fazer), prescrição (ensina ou determina uma forma de fazer) e optação (deseja a realização de uma situação)� Já os subtipos do dissertativo são: o expositivo (não trabalha com con- traposições, nem com problematizações) e o expli- cativo (o saber é problematizado, exigindo-lhe uma solução ou explicação seguida de uma conclusão e avaliação do que fora exposto)� Por sua vez, os gêneros textuais apresentam ca- racterísticas sociocomunicativas relacionadas ao conteúdo, propriedades funcionais, estilo e compo- sição característica; trata-se de um elemento que se diferencia segundo o seu propósito e que tem uma determinada função social� 12 O gênero é um instrumento linguístico de ação social estabelecido no curso da história por grupos sociais geralmente denominados de “comunidades discursivas”, em áreas de ação social diversas, como as comunidades reli- giosas diversas, a jornalística, a da indústria e do comércio, a do entretenimento, a militar, a policial, a acadêmico-científica, a jurídica/ forense, a da educação escolar, a artístico- -literária etc. (TRAVAGLIA, 2018, p. 1353) Segundo Travaglia (2007a), os gêneros textuais são inumeráveis, entre eles podemos citar: romance, con- to, novela, fábula, parábola, apólogo, mito, lenda, no- tícia, ata, biografia, piada, conto de fadas, epopeia, poesia lírica, tese, dissertação, artigo acadêmico- -científico, editorial de jornal, monografia, conferência, carta, receita culinária, bula de remédio, cardápio, inquérito policial, entre outros� As espécies textuais se caracterizam pelos aspectos formais da estrutura/superestrutura e da superfície linguística ou por aspectos de conteúdo; trata-se das variações de um determinado gênero� São exemplos de espécie: textos em prosa ou em verso; romances históricos, regionalistas, psicológicos, fantásticos, de ficção científica, policiais, autobiográficos etc.; carta, ofício, telegrama, bilhete, memorando corres- pondendo ao gênero epistolar� Segundo Travaglia (2018), os tipelementos apresen- tam relações entre si e elas são importantes para a 13 composição e funcionamento dos textos, sem este entendimento, corremos o risco de criar incoerências e repetições desnecessárias� Essas relações são de vinculação e de composição� As relações de vinculação podem ser conforme os esquemas abaixo (TRAVAGLIA, 2018, pp.1356-1357): Tipo Espécies Espécies Espécies Gêneros(s) Gêneros(s) Esquema 1 Figura 3: Relações de vinculação (Esquema 1) Fonte: Travaglia, 2018. 14 Lírico Pelo conteúdo: Ditirambo Elegia Epitalâmio Poemas bucólicos Etc. Acróstico Balada Soneto Haicai Etc Pela forma: Tipo Espécie Esquema 2 Figura 4: Relações de vinculação (Esquema 2) Fonte: Travaglia, 2018. Correspon- dência Pela forma Carta Telegrama Ofício Memorando Bilhete Cartões Carta comercial Etc. Pela forma e conteúdo Gênero Espécie Esquema 3 Figura 5: Relações de vinculação (Esquema3) Fonte: Travaglia, 2018. 15 As relações de composição se dão por três modos: cruzamento ou fusão; conjugação; intercâmbio� a) Cruzamento ou fusão: vários tipos de tipologias diferentes estão presentes em um mesmo texto; um texto não pode ser lírico e dramático ao mesmo tem- po, mas pode ter características de muitos tipos de características diferentes� Segundo Travaglia (2007b, p� 1300), “temos para o gênero ’poema’ o cruzamento dos tipos ’narrativo, preditivo, lírico e literário’ e das espécies ‘soneto e em verso’ caracterizadas pela forma e da espécie ‘não-história’ caracterizada pelo conteúdo”. Exemplo: Soneto de Separação Inglaterra, 1938 De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto� De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama� De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente� Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente� (MORAES, Vinícius de. 1938/1992, p.138). 16 b) Conjugação: vários tipos de uma tipologia cons- tituem um texto, com relações hierárquicas ou lado a lado, no primeiro caso há um tipo dominante obri- gatoriamente� Por exemplo, no romance o tipo do- minante é o narrativo, no entanto, podem aparecer trechos descritivos, dissertativos ou injuntivos� Ou não há nenhum tipo dominante, os tipos aparecem somente conjugados e nenhum está subordinado ao outro, por exemplo, “na ‘bula’ a descrição aparece sempre na composição do remédio, já a injunção aparece na posologia, a dissertação na explicação de como o remédio age no organismo e a narração em relatos de casos clínicos”. (TRAVAGLIA, 2007b, p� 1302) c) Intercâmbio: acontece quando em uma dada situação usa-se outro tipo, gênero ou espécie não esperados, criando um efeito de sentido particular� Exemplo: Se em uma sala quente alguém que quer que se ligue o ar condicionado ou que se abram as janelas, portanto incitar a realização de uma situação, o que é feito apropriadamente por meio de textos injuntivos, faz uma descrição dizendo “Está quente aqui, não?” tem-se um intercâmbio de tipos, pois esperava-se que essa pessoa produzisse uma ordem ou pe- dido (injuntivos): “Abra as janelas!” ou “Por favor, abra as janelas, pois está quente” ou ainda “Ligue o ar condicionado”. Certamente o não uso da ordem tem o efeito de marcar 17 o produtor do texto como alguém mais gentil que faz um pedido ou ainda mais sutilmente insinua o que quer que seja feito, contando com a competência do seu interlocutor, dentro da situação específica. (TRAVAGLIA, 2018, p. 1363) Agora que você já conhece a definição dos tipelemen- tos tipo, subtipo, gênero e espécie, suas diferenças e relações, observe as características principais dos tipos textuais da tipologia 1: narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo� Saiba Mais Para conhecer as características das outras ti- pologias textuais leia: TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Tipologia textual e o ensino da língua� Domí- nios da Linguagem, vol� 12, n� 03, jul-set, 2018, pp� 1336-1400� Disponível em: http://www.seer. ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/ view/41612/23986� Acesso em: 19 fev� 2019� Tipo Narrativo Segundo Travaglia (2007a), o tipo narrativo tem como objetivo contar/narrar os acontecimentos ou fatos organizados em episódios e se caracteriza pela uni- dade temática, pela sucessão temporal/causal de eventos, pela predominância de verbos de ação e pelo uso constante de advérbios temporais, causais 18 e locativos� De maneira geral, a narrativa possui cinco elementos estruturantes, são eles: a) Enredo: conjunto dos acontecimentos/fatos a serem narrados� Em geral, é dividido em introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho. O conflito serve como elemento estruturador do enredo� b) Personagens: são responsáveis por executar as ações na história; são classificadas em protagonista, antagonista e coadjuvante� c) Tempo: é interno ao texto, podendo ser psicoló- gico e/ou cronológico podendo ser posterior, simul- tâneo ou anterior ao tempo referencial� d) Espaço: onde acontecem as ações da narrativa� e) Narrador: é o elemento estruturador da história� O narrador pode ser em primeira pessoa – personagem ou testemunha – ou em terceira pessoa – observador ou onisciente� Dentro do tipo narrativo temos os seguintes gêneros textuais: conto maravilhoso; conto de fadas; fábula; lenda; romance de aventura; sketch ou história engra- çada; biografia romanceada; novela fantástica; conto; crônica literária; adivinha; piada etc� Observemos o exemplo abaixo: A Infinita Fiandeira A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas� Havia, contu- do, um senão: ela fazia, mas não lhes dava utilidade� O bicho 19 repaginava o mundo� Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs� E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com bele- zas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados� Tudo sem fim nem finalidade. Todo bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador� Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções� Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau senso� Para que tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfine- tava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava mais e mais teia� Sem nunca fazer morada em nenhuma� Recusava a utilitária vocação da sua espécie� - Não faço teias por instinto� - Então, faz por quê? - Faço por arte� Benzia-se a mãe, rezava o pai� Mas nem com preces� A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em can- tos e recantos deixava a sua marca, o engenho de sua seda� Os pais, após concertação, a mandaram chamar� A mãe: - Minha filha, quando é que assentas as patas na parede? E o pai: - Já eu me vejo em palpos de mim… Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse: - Estamos recebendo queixas do aranhal� 20 - O que é que dizem mãe? - Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas� Até que se decidiram: a jovem aranha tinha que ser recon- duzida aos seus mandos genéticos� Aquele devaneio seria causado por falta de namorado� A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito� E organizaram um amoroso encontro� - Vai ver que custa menos que engolir mosca - disse a mãe� E aconteceu� Contudo, ao invés de devorar o singelo namo- rador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram- -se os apêndices e dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fabricava a brisa? A aranhiça levou o namorado a visitar a sua colecção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova de seu amor. A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para re- clamar da fabricação daquele espécime. Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer� Pediram que ela transitasse para humana� E assim sucedeu: um golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, transfigurada, se apre- sentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia? - Faço arte� - Arte? E os humanos se entreolharam intrigados� Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um, mais velho, se lembrou� Que houvera um tempo, em tempos de que já se perderamemória, em que alguns se ocupavam de tais impro- 21 dutivos afazeres� Felizmente, isso tinha acabado, e os pou- cos que teimavam em criar esses poucos rentáveis produtos - chamados de obras de arte - tinham sido geneticamente transmutados em bichos� Aranhas, ao que parece� (COUTO, Mia. O fio das missangas, 2009). Figura 6: Teia de Aranha Fonte: Blog Letras in.verso e re.verso. Podemos observar que o narrador do Conto acima é em terceira pessoa e ele conta a história de uma aranha que produzia teias de todos os tamanhos e formas, mas que nunca eram acabadas e eram con- cebidas como obras de arte. O conflito da história se dá exatamente pelo fato de outras aranhas estra- nharem que as teias de nossa personagem principal não correspondiam a sua finalidade primordial: de habitação e de proteção� Assim, após várias tentati- vas frustradas, pai e mãe de nossa aranhinha resol- vem consultar o deus dos bichos e, não vendo outra 22 solução, a transforma em humana e, ao chegar ao mundo dos humanos, ela também não é bem aceita, pois ao responder o que fazia disse que Arte� E arte é algo que há muito tempo deixou de ter importân- cia, as pessoas que as fazia foram transformadas em aranha� A construção deste conto é cheia de metáforas e do uso do sentido conotativo, abrindo possibilidade para mais de uma interpretação; po- demos afirmar que o fazer das teias está vinculado ao trabalho do escritor, em especial o de literatura, que, apesar de estar em um alto grau de erudição, a literatura é considerada por muitas pessoas como um fazer improdutivo e para poucos� Tipo Descritivo Segundo Savioli e Fiorin (2011), o tipo descritivo tem como objetivo principal expor as características de seres concretos (pessoas, animais, objetos, situa- ções, lugares etc�); trata-se, portanto, de um retrato falado� O que é descrito é visto como algo simultâ- neo, não apresentando relação de anterioridade e posteridade entre os enunciados; compreendemos que a principal característica do texto descrito é a inexistência de progressão temporal e, devido a este fato, os tempos verbais mais utilizados são o presen- te (indica concomitância em relação ao momento da fala) e o pretérito imperfeito (expressa concomi- tância em relação a um marco temporal passado do enunciado)� 23 Pelo fato de a descrição apresentar um es- tado, que sofrerá mudanças, é muito comum que os textos comecem com uma descrição e, depois, convertam-se numa narração. A des- crição serve para apresentar personagens, lugares, estados, que, no curso da ação, so- frerão transformações. Por isso, o texto des- critivo não relata mudanças de situação; nele, ações e qualidades são vistas como um es- tado único. (SAVIOLI; FIORIN, 2011, p. 343) Em outras palavras, podemos afirmar que o texto des- critivo é estático, é um retrato composto por palavras e depende muito mais dos conhecimentos linguísti- cos e do conhecimento de mundo de quem descreve do que do objeto em si� Os sinais indicativos dessa ti- pologia textual são: tempos verbais, termos técnicos, adjetivos e formas adjetivadas do verbo, metáfora, sinédoque, metonímia e nomes próprios (MARQUESI, 2004)� Outra característica importante na descrição é que ela pode ser objetiva ou subjetiva; na descrição objetiva o autor busca passar com exatidão os deta- lhes, buscando maior proximidade com a realidade e na descrição subjetiva o autor descreve o objeto a partir de uma visão pessoal, de seus sentimentos e impressões que o objeto lhe causa� Parece não haver muitos gêneros que compõem essa tipologia, no entanto, podemos destacar os classifi- cados e textos de qualificação. Observe o exemplo: 24 O Jantar do Bispo A casa era grande, branca e antiga� Em sua frente havia um pátio quadrado� À direita um laranjal onde noite e dia corria uma fonte� À esquerda era o jardim de buxo, húmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo� A meio da fachada descia uma escada de granito coberta de musgo� Em frente dessa escada, do outro lado do pátio, ficava o grande portão que dava para a estrada. A parte de trás de casa era virada ao poente e das suas janelas debruçadas sobre pomares e campos via-se o rio que atravessa a várzea verde e viam-se ao longe os montes azu- lados cujos cimos, em certas tardes, ficavam roxos. (Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares, 1962/2014) Figura 7: Capa do livro Contos Exemplares Fonte: Site Livraria da Travessa. 25 O texto acima é a primeira parte de um conto, confor- me podemos observar� Ele faz a descrição da parte externa de uma casa: da frente, dos lados e de trás� O tempo é o do passado, o narrador descreve como a casa era quando os fatos que serão narrados após a descrição da casa aconteceram� Por ser bem deta- lhada, podemos reproduzir em nossas mentes uma impressão equivalente ao objeto que está sendo retratado, pois a descrição neste conto tem como função situar o leitor no espaço da história� Saiba Mais Leia o conto “O Jantar do Bispo”, de Sophia de Mello Andresen, em: http://textosintegrais.blogs- pot.com/2011/04/o-jantar-do-bispo-de-sophia- -de-mello.html� Acesso: 19 fev� 2019� Tipo Dissertativo Expositivo e Argumentativo Segundo Travaglia (2009), no texto dissertativo temos o enunciador com a finalidade de buscar o refletir, o avaliar, o explicar, o conceituar e o expor ideias para um interlocutor que, como ser pensante, raciocina sobre o que lhe é apresentado� Outra característica importante do texto dissertativo é a simultaneidade das situações, o tempo da enunciação pode ser an- terior, simultâneo ou posterior ao momento daquilo que se apresenta no texto� 26 A tipologia textual dissertativa tem dois subtipos: o expositivo e o explicativo, no entanto, usaremos o ter- mo argumentativo, pois é o de uso mais comum entre os professores de Língua Portuguesa� Entendemos que o primeiro tem como objetivos informar e escla- recer o leitor sobre determinado assunto, pois possui um saber teórico já consolidado que serve como base para a reflexão. No expositivo temos, portanto: a análise e/ou síntese de representações con- ceituais, com ordenação lógica a que acres- centamos avaliações ou não de algo, reflexões organizadas sobre um ponto do conhecimen- to, por meio de categorias composicionais da generalização e especificação que podem aparecer em um esquema dedutivo (genera- lização – especificação), indutivo (especifi- cação – generalização) ou dedutivo-indutivo (generalização – especificação – generaliza- ção). Portanto é a apresentação de um sa- ber/conhecer de forma consensual e lógica. (TRAVAGLIA, 2009, p. 2636). O texto dissertativo expositivo, geralmente, apresenta a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução apresentamos o tema que será abordado e o objetivo do texto; no desen- volvimento há uma explicação tanto dos aspectos principais quanto dos secundários relativos ao tema; e na conclusão o tema é reafirmado, é feita uma síntese dos conteúdos abordados e pode haver ou 27 não uma tomada de posição do autor em relação ao assunto tratado. Veja este exemplo: A Lua’, de Tarsila do Amaral, chega ao MoMA e con- sagra brasileira no panteão modernista Um cacto solitário, cuja figura sugere a de um ser huma- no, ergue-se ante uma noite de lua minguante, em uma tela de 110 por 110 centímetros� A Lua, quadro de 1928, con- siderado um marco da pintura antropofágica de Tarsila do Amaral, foi comprada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), por aproximadamente 20 milhões de dólares (cerca de 74 milhões de reais)� A obra, que representa o rompimento definitivo da artista com a tradição da pintura, converteu-se na mais cara já vendida de um artista brasileiro —superando Vaso de flores, deGuignard, arrematado em um leilão em 2015 por 5,7 milhões de reais— e alçou sua autora ao pedestal definitivo dos pintores modernos internacionais. A compra acontece um ano depois de que o MoMA rea- lizou a primeira grande retrospectiva da brasileira em Nova York, reunindo 130 obras de Tarsila� Na ocasião, a tela não estava disponível para empréstimo, devido a questões fa- miliares� Ann Temkin, curadora-chefe de pintura e escultura do MoMA, conta que os curadores da retrospectiva ficaram “deslumbrados” com A Lua e que tiveram “muita sorte em encontrá-la” agora. “Sempre fomos conscientes de que seria difícil encontrar uma boa pintura do período antropofágico ainda disponível”, afirmou Temkin na manhã desta quarta-fei- ra, durante o anúncio da aquisição, referindo-se às telas do fim da década de 1920 que estão em coleções de museus brasileiros ou acervos privados� Depois da famosa Abaporu (1928), a principal tela desse período é Urutu (O Ovo), que 28 pertence à coleção Gilberto Chateaubriand, exposta no MAM do Rio� (OLIVEIRA, Joanna. A Lua’, de Tarsila do Amaral, chega ao MoMA e consagra brasileira no panteão modernista. Jornal El País, Seção Cultura, 27 de fevereiro de 2019� Dispo- nível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/27/cultu- ra/1551291870_688892.html� Acesso em: 01 mar� 2019�) Figura 8: A Lua, de Tarsila do Amaral Fonte: Jornal El País Por sua vez, o argumentativo não somente expõe ideias e fatos sobre um tema, e sim apresenta uma análise e discussão; há uma problematização em relação a um ponto de um saber� O texto dissertativo argumentativo tem como marca principal “convencer ou persuadir através do arranjo dos diversos recursos oferecidos pela língua” (CITELLI, 1994, p. 07), em outras palavras, a partir de uma série de encadea- mentos semânticos e de uma sequência lógica, o autor mostrará ao seu interlocutor que está com a razão� Observe o exemplo abaixo: 29 Quem vai olhar por elas? Embora constitua um crime grave, a violência contra a mulher persiste no Brasil� As notícias de agressões a mulhe- res são constantes, tanto no que se refere à violência física, como psicológica e sexual� Na última década, o índice de assassinatos de mulheres brasileiras aumentou� Como rever- ter esse quadro? A violência contra a mulher tem raízes profundas, ligadas a relações de classe, etnia, gênero e poder� A sociedade oci- dental configurou-se de forma que aos homens coubessem as atividades consideradas nobres, enquanto as mulheres ficariam restritas ao âmbito doméstico. Ainda que se tenha avançado bastante, com a emancipação progressiva do gê- nero feminino, não foram superados os paradigmas de um modelo patriarcal, no qual é naturalizado o direito dos ho- mens de controlar as mulheres, podendo chegar, até mesmo, à violência� A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, no Brasil, foi um marco significativo no combate à prática infame da vio- lência doméstica� Até então, o crime era tido como algo de “menor potencial ofensivo” e julgado junto com brigas co- muns, como disputas entre vizinhos� Essa lei alterou o Códi- go Penal, permitindo que os agressores passem a ser presos e aumentando as penas. Entretanto, ela não é suficiente, em si mesma, para desconstruir uma realidade cristalizada� Para alcançar avanços significativos, ao menos duas ações de- vem ser empreendidas� Em primeiro lugar, há que trazer o tema para o processo educativo, tanto na escola como na família� Crianças que vivenciam relações de igualdade de direitos entre os gêneros ficam menos suscetíveis aos preconceitos baseados em re- lações obsoletas de poder� Há que educar as jovens para não 30 ver as agressões como normais e orientá-las sobre como se proteger� Os jovens, por sua vez, precisam ser formados para ver as mulheres como semelhantes, e não como inferiores� Ao mesmo tempo, faz-se necessário zelar pela aplicação severa das leis de proteção da mulher, garantindo segurança às vítimas que procuram as delegacias especializadas� As redes sociais e a mídia podem ser boas aliadas nessa cau- sa, com campanhas de conscientização e denúncia, para que o Brasil supere o quanto antes esse cenário aviltante e desonroso� (RAMAL, Andrea� Enem: colunista faz ‘redação modelo’ sobre violência contra mulheres - Quem vai olhar por elas? Site G1, 25/10/2015, Disponível em: http://g1.globo.com/edu- cacao/enem/2015/noticia/2015/10/enem-colunista-faz-re- dacao-modelo-sobre-violencia-contra-mulheres.html� Acesso em: 27 fev� 2019)� Da mesma forma que o texto expositivo, podemos observar que o texto argumentativo tem a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, além da exposição do tema, são apre- sentadas a problematização e a tese que o autor irá defender. No exemplo da redação acima identifica- mos que o tema é sobre a violência contra mulher e a problematização gira em torno do fato que nos últimos anos essa violência aumentou, a tese a ser defendida é como se pode reverter esse quadro� No desenvolvimento, o autor expõe seus argumen- tos defendendo o seu ponto de vista tendo como referências pesquisas e estudos, dados estatísticos, fatores sociais, econômicos e culturais, citações de 31 autores renomados, entre outros� Conforme podemos observar, no segundo e no terceiro parágrafo a autora traz alguns fatores históricos sobre o tema e a Lei Maria da Penha como argumentos e fundamentação para a defesa de seu ponto de vista� Por fim, na conclusão, há a retomada do tema e da problematização iniciais, a reafirmação da tese e uma proposta de intervenção� No caso de nosso exemplo a autora defende que esta temática deve ser levada para as escolas e que leis mais severas devem ser aplicadas para o combate da violência contra a mulher� Tipologia Textual Injuntiva Segundo Köche, Marinello e Boff (2009), a tipologia textual injuntiva tem como característica principal guiar as pessoas para a realização de uma atividade específica e/ou determinar normas que direcionem práticas sociais; é encontrada em gêneros textuais do nosso cotidiano, como em manuais e instruções de uso e montagem de objetos, em livros de receitas culinárias, em leis e decretos, em regimentos, em bulas de remédios, em regras de jogos etc� A injunção tem como objetivos, portanto, incitar a re- alização de uma situação� “Aconselhar o interlocutor a fazer algo, ordenar-lhe que cumpra determinadas tarefas, apelar para que aja numa determinada dire- ção, instruí-lo, ensiná-lo a desenvolver uma atividade, entre outras.” (ROSA, 2003, p. 25). 32 Há o emprego de períodos curtos e simples, pois eles auxiliam na clareza das informações; outra ca- racterística de textos de tipologia injuntiva é o uso de verbos no imperativo (acrescente), no futuro do presente (colocará) e no infinitivo (acrescentar) e, em geral, é utilizado o pronome de tratamento você� Observe o exemplo: Receita de Pão de Queijo Ingredientes: 500 g de polvilho azedo 1 copo (americano) de água 1 copo (americano) de leite 1/2 xícara de óleo 2 ovos 100 g de queijo parmesão ralado Sal a gosto Modo de Preparo: Em uma panela, ferva a água e acrescente o leite, o óleo e o sal� Adicione o polvilho, misture bem e comece a sovar a mas- sa com o fogo desligado� Quando a massa estiver morna, acrescente o queijo par- mesão, os ovos e misture bem� Unte as mãos e enrole bolinhas de 2 cm de diâmetro. Disponha as bolinhas em uma assadeira untada com óleo, deixando um espaço entre elas� Asse em forno médio (180º C), preaquecido, por cerca de 40 minutos� (Disponível em: https://www.tudogostoso.com.br/receita/ 1443-pao-de-queijo.html� Acesso em: 19 fev� 2019)� 33 Podemos observar que esse tipo de texto apresenta uma estrutura linear ordenada temporalmente,há uma sucessão lógica e cronológica das fases e/ou etapas que o interlocutor deverá seguir para execu- tar a tarefa de forma bem sucedida� Diante dessas considerações, podemos concluir que a tipologia textual injuntiva instrui e ensina alguém a fazer algo ou como deve agir em determinadas situações� 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo percorremos um importante caminho: começamos por apresentar a você, estudante, o con- ceito de leitura, compreendendo que o ato de ler vai além da decifração de códigos, ele é um produtor de sentidos que dá vida ao texto. Vimos também que, para nossa produção textual dentro da universidade, nossos estudos como leitores devem passar por algumas fases de leitura, são elas: pré-leitura; leitura seletiva; crítica ou reflexiva e interpretativa. Sendo que a última fase é a mais completa de todas� Em um segundo momento, estudamos categorias de textos e vimos suas diferenças e relações que estabelecem entre si: tipos, subtipos, gêneros e espécies� E nos aprofundamos nos tipos narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo� No tipo narrativo tem-se como objetivo contar acontecimentos e di- zer os fatos; já no tipo descritivo o enunciador quer caracterizar e dizer como é determinada pessoa ou objeto; por sua vez, o tipo dissertativo tem como propósito expor ideias, conceitos avaliando, anali- sando e refletindo sobre eles; por fim, o tipo injuntivo diz o que e como deve fazer, incitando a realização de uma situação�Diante desse breve resumo do que foi estudado aqui, espero que seus conhecimentos sejam ampliados� No próximo módulo iniciaremos nosso contato com a prática de produção textual acadêmica, portanto, veremos alguns gêneros tex- tuais do tipo dissertativo� Até Breve! 35 Síntese • Leitura recreativa ou de fruição: busca trazer distração, entretenimento, lazer e satisfação. • Leitura de estudo: tem como objetivo coletar informações para a aquisição e ampliação de conhecimentos. • Leitura de informação: vinculada à cultura geral. • Interpretativa: aprofundamento e compreensão do que o autor do texto quer dizer. • Crítica ou reflexiva: análise e avaliação das informações selecionadas; • Leitura seletiva: seleção das partes mais relevantes e interessantes do texto; Leitura Em Leitura apresentamos a definição desse conceito a partir do Dicionário Sacconi e do Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa: o ato de ler vai além da decifração de códigos e sua decodificação, trata-se de atribuir significado para o que é lido. É um processo dinâmico e dialógico que depende de fatores linguísticos (coerência, coesão, denotação, conotação, uso de figuras de linguagem etc.) e dos fatores contextuais (o que se quer dizer em determinada situação). Além desses aspectos, podemos classificar as diversas funções da leitura em quatro tipos: • Tipo Injuntivo: tem como característica principal guiar as pessoas para a realização de uma atividade específica ou determinar normas que direcionem práticas sociais. É encontrado em gêneros textuais do nosso cotidiano como em manuais e instruções de uso e montagem de objetos, em livros de receitas culinárias, em leis e decretos. • Tipo Dissertativo Argumentativo: não somente expõe ideias e fatos sobre um tema, mas também apresenta uma análise e discussão; há uma problematização em relação a um ponto de um saber. Também apresenta a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. • Tipo Dissertativo Expositivo: tem como objetivos informar e esclarecer o leitor sobre determinado assunto, pois possui um saber teórico já consolidado que serve como base para a reflexão. Geralmente, apresenta a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. • Espécie: variações de um determinado gênero. Exemplos: romances históricos, regionalistas, psicológicos, fantásticos, de ficção científica, policiais, autobiográficos etc. Por fim, vimos as características dos tipos textuais narrativo, descritivo, dissertativo expositivo e argumentativo, e injuntivo. Tipo Narrativo: tem como objetivo contar/narrar os acontecimentos ou fatos organizados em episódios. De maneira geral, a narrativa possui cinco elementos estruturantes, são eles: enredo, personagens, tempo, espaço e narrador. • Gênero: elemento que se diferencia segundo o seu propósito e que tem uma determinada função social. Exemplos: romance, conto, novela, fábula, parábola, apólogo, mito, lenda, notícia, ata, biografia, piada, conto de fadas, epopeia, poesia lírica, tese, dissertação, artigo acadêmico-científico etc. • Tipo Descritivo: tem como objetivo principal expor as características de seres concretos (pessoas, animais, objetos, situações, lugares etc.); trata-se, portanto, de um retrato falado. • Subtipo: variedade de um tipo; pode ser classificado em injuntivo ou dissertativo. Tipologias textuais No tópico tipologias textuais, com base em Travaglia (2007a, 2007b, 2009, 2018), iniciamos nossos estudos apresentando a definição e diferença entre tipos textuais, subtipos, gêneros e espécies. • Tipo: Trata-se de um modo de se comunicar; abrange um conjunto de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas e tempo verbal. Os tipos textuais mais importantes para o estudo em Língua Portuguesa são os que Travaglia (2018) identificou como tipologia 1: descritivo, narrativo, dissertativo e injuntivo. Outro ponto importante abordado neste tópico está relacionado às fases da leitura, que são: • Leitura técnica: relacionada com a habilidade de ler e interpretar gráficos e tabelas. • Pré-leitura: quando o leitor toma contato com o texto e verifica se há informações importantes para o seu objetivo; Este módulo está dividido em dois grandes tópicos: • Leitura; • Tipologias Textuais. Referências Bibliográficas & Consultadas ADLER, Mortimer; VAN DOREN, Charles. Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente� São Paulo: É realizações, 2010� ANDRADE, Maria Margarida de� Introdução à me- todologia do trabalho científico. 4� ed� São Paulo: Atlas, 1999� ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner� O jantar do Bispo. In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner� Contos Exemplares� Lisboa: Assírio & Alvim, 2014� Obra original publicada em 1962� CITELLI, A� O� Linguagem e persuasão. 11� ed� São Paulo: Ática, 1994� COUTO, Mia. A infinita fiandeira In: COUTO, Mia. O fio das missangas, São Paulo: Companhia das Letras, 2009� GERALDI, João Wanderley� Portos de passagem. 4� ed� São Paulo: Martins Fontes, 1997� GERALDI, João Wanderley (Org�)� O texto na sala de aula. 3� ed� São Paulo: Ática, 2001� Obra original pu- blicada em 1984� KÖCHE, Vanilda Salton; MARINELLO, Adiane; BOFF, Odete Maria Benetti� Os gêneros textuais e a tipolo- gia injuntiva. Caderno Seminal Digital, Ano 15, n� 11, v� 11, jan�/jun� 2009� Disponível em: https://www.e- -publicacoes.uerj.br/index.php/cadernoseminal/arti- cle/view/9821/7699. Acesso em: 18 fev� 2019� LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina� A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1982� MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997� MARQUESI, Sueli Cristina. A Organização do texto descritivo. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004� MORAES, Vinícius de. Soneto de Separação. In: MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992� Poema escrito em 1938� OLIVEIRA, Joanna. ‘A Lua’, de Tarsila do Amaral, chega ao MoMA e consagra brasileira no pan- teão modernista. Jornal El País, Seção Cultura, 27/02/2019� Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2019/02/27/cultura/1551291870_688892.html. Acesso em: 01 mar� 2019� RAMAL, Andrea� Enem: colunista faz ‘redaçãomode- lo’ sobre violência contra mulheres - Quem vai olhar por elas? Site G1, 25/10/2015, Disponível em: http:// g1.globo.com/educacao/enem/2015/noticia/2015/10/ enem-colunista-faz-redacao-modelo-sobre-violencia- -contra-mulheres.html. Acesso em: 27 fev� 2019� ROSA, A� L� T� No comando, a sequência injuntiva! In: DIONÍSIO, Â� P� e BEZERRA, N� S� Tecendo textos, construindo experiências. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003� SACCONI, L� A� Grande dicionário Sacconi: da língua portuguesa: comentado, crítico e enciclopédico� São Paulo: Nova Geração, 2010, p� 1255� SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação� 1� ed� São Paulo: Ática, 2011� SILVA, José Aroldo da. Discutindo sobre leitura. Letras Escreve – Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Curso de Letras-UNIFAP, Vol. 1 – n. 1 – jan�/jun� 2011, p� 22-35� Disponível em: https:// periodicos.unifap.br/index.php/letras/article/view/326/ n1jose.pdf. Acesso: 15 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de cate- gorias de texto: tipos, gêneros e espécies� Revista Alfa, São Paulo, 51 (1): 39-79, 2007� Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/downlo- ad/1426/1127. Acesso em: 17 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Das relações possíveis en- tre tipos na composição de gêneros. In: 4º Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (IV SIGET), 2007, Tubarão ‐ SC. Anais [do] 4º Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (4º SIGET). Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina ‐ UNISUL, 2007b. v. 1. pp. 1297‐1306. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/travaglia/sis- tema/uploads/arquivos/artigo_das_relacoes_pos- siveis_entre_tipos_na_composicao.pdf� Acesso: 18 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Sobre a possível existência de subtipos� Anais do VI Congresso Internacional da ABRALIN. Organizador: Dermeval da Hora� João Pessoa, 2009. pp. 2632‐ 2641. Disponível em: http:// www.ileel.ufu.br/travaglia/sistema/uploads/arquivos/ artigo_sobre_possivel_existencia_subtipos_texto.pdf Acesso em: 22 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Tipologia textual e o ensino da língua. Domínios da Lingu@gem, vol� 12, n� 03, jul�/set�, 2018, pp� 1336-1400� Disponível em: http:// www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/ article/view/41612/23986� Acesso em: 19 fev� 2019� ADLER, Mortimer; VAN DOREN, Charles. Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente� São Paulo: É realizações, 2010� ALMEIDA, Rita de Cássia Santos� Práticas de Leitura e Produção de Texto� 1ª reimpressão� Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2016. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 15 jul� 2019� ANDRADE, Maria Margarida de� Introdução à me- todologia do trabalho científico� 4� ed� São Paulo: Atlas, 1999� ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner� O jantar do Bispo� In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner� Contos Exemplares� Lisboa: Assírio & Alvim, 2014� Obra original publicada em 1962� CITELLI, A� O� Linguagem e persuasão� 11� ed� São Paulo: Ática, 1994� COUTO, Mia. A infinita fiandeira In: COUTO, Mia. O fio das missangas, São Paulo: Companhia das Letras, 2009� FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação� 17� ed� São Paulo: Editora Ática, 2010. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 15 jul� 2019� GERALDI, João Wanderley (Org�)� O texto na sala de aula� 3� ed� São Paulo: Ática, 2001� Obra original pu- blicada em 1984� GERALDI, João Wanderley� Portos de passagem� 4� ed� São Paulo: Martins Fontes, 1997� KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Escrever: estratégias de produção textual� 2� ed� São Paulo: Editora Contexto, 2010. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 15 jul� 2019� KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odette Maria Benetti; MARINELLO, Adiane Fogali� Leitura e Produção Textual: Gêneros textuais do argumentar e expor� 6� ed. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2017. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 15 jul. 2019. KÖCHE, Vanilda Salton; MARINELLO, Adiane; BOFF, Odete Maria Benetti� Os gêneros textuais e a tipolo- gia injuntiva� Caderno Seminal Digital, Ano 15, n� 11, v� 11, jan�/jun� 2009� Disponível em: https://www.e- -publicacoes.uerj.br/index.php/cadernoseminal/arti- cle/view/9821/7699� Acesso em: 18 fev� 2019� LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina� A formação da leitura no Brasil� São Paulo: Ática, 1982� MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura� São Paulo: Companhia das Letras, 1997� MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão� São Paulo: Parábola Editorial, 2008� MARQUESI, Sueli Cristina. A Organização do texto descritivo� Rio de Janeiro: Lucerna, 2004� MEDEIROS, João Bosco� Redação científica: a práti- ca de fichamentos, resumos, resenhas� 11ª ed� São Paulo: Atlas, 2012� MORAES, Vinícius de. Soneto de Separação. In: MORAES, Vinícius de. Antologia Poética� São Paulo: Companhia das Letras, 1992� Poema escrito em 1938� OLIVEIRA, Joanna. ‘A Lua’, de Tarsila do Amaral, chega ao MoMA e consagra brasileira no pan- teão modernista� Jornal El País, Seção Cultura, 27/02/2019� Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2019/02/27/cultura/1551291870_688892.html� Acesso em: 01 mar� 2019� PIGNATARI, Nínive� Como escrever textos disser- tativos. São Paulo: Ática, 2010. [Biblioteca Virtual]. Acesso em: 15 jul� 2019� RAMAL, Andrea� Enem: colunista faz ‘redação mo- delo’ sobre violência contra mulheres - Quem vai olhar por elas? Site G1, 25/10/2015, Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/noti- cia/2015/10/enem-colunista-faz-redacao-modelo- -sobre-violencia-contra-mulheres.html� Acesso em: 27 fev� 2019� ROSA, A� L� T� No comando, a sequência injuntiva! In: DIONÍSIO, Â� P� e BEZERRA, N� S� Tecendo textos, cons- truindo experiências� Rio de Janeiro: Lucerna, 2003� SACCONI, L� A� Grande dicionário Sacconi: da língua portuguesa: comentado, crítico e enciclopédico� São Paulo: Nova Geração, 2010, p� 1255� SANTAELLA, Lucia� Redação e Leitura: Guia para o ensino. São Paulo: Cengage Learning, 2014. [ Minha Biblioteca]. Acesso em: 15 jul. 2019. SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação� 1� ed� São Paulo: Ática, 2011� SILVA, José Aroldo da. Discutindo sobre leitura. Letras Escreve – Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Curso de Letras-UNIFAP, Vol. 1 – n. 1 – jan�/jun� 2011, p� 22-35� Disponível em: https://pe- riodicos.unifap.br/index.php/letras/article/view/326/ n1jose.pdf� Acesso: 15 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. 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Disponível em: http:// www.ileel.ufu.br/travaglia/sistema/uploads/arquivos/ artigo_sobre_possivel_existencia_subtipos_texto.pdf Acesso em: 22 fev� 2019� TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Tipologia textual e o ensino da língua� Domínios da Lingu@gem, vol� 12, n� 03, jul�/set�, 2018, pp� 1336-1400� Disponível em: http:// www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/41612/23986� Acesso em: 19 fev� 2019� _GoBack Introdução O conceito de leitura Tipologias textuais, subtipos, gêneros e espécies Considerações finais Síntese