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Victor Velloso – FASAI 23.2 1 ➜ Agente etiológico tuberculose ⇀ A tuberculose pode ser causada por qualquer uma das bactérias do complexo Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis (acomete animais e é mais comum em lugares onde se tem muita cultura de tomar leite de vaca e derivados naturais), M. africanum (clinicamente indistinguível daquela ocasionada por M. tuberculosismais, mas comum em alguns países da Africa), M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae. Bacilo de Calmette e Guérin (tempo de duplicação de 18 a 24 horas) 10 a 30 min São sensíveis a luz e circulação de ar As micobactérias são conhecidas como Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR) por apresentarem parede celular constituída de ácidos micólicos (ácido graxo) e grande quantidade de lipídios (60 a 70%), o que torna difícil a penetração dos corantes e de outros produtos químicos em solução aquosa devido ao caráter hidrofóbico. A principal característica fenotípica que define o gênero Mycobacterium é a propriedade de “álcool- acidorresistência”, a capacidade de resistir à descoloração com uma mistura de ácido-álcool após a coloração com corantes, tais como carbol- fucsina. Inibição da apoptose Fluorocromo auramina Em alguns locais, o M. bovis pode ter especial relevância como agente etiológico da TB em A ocorrência é mais comum em pessoas que residem em áreas rurais e em profissionais do campo (veterinários, ordenhadores, funcionários de matadouros, entre outros). ➜ Epidemiologia ⇀ Historicamente a tuberculose tinha diminuído muito sua incidência nos países desenvolvidos por volta de 1950. Em função do surgimento do vírus HIV, causador da AIDS, a tuberculose voltou a ter sua incidência e prevalência aumentadas. ⇀ Tem forte relação com pobreza, condições de vida (saneamento básico, alimentação etc.) e doenças debilitantes (neoplasias malignas, AIDS, alcoolismo, desnutrição, alcoolismo, imunossupressão etc.) A tuberculose floresce em qualquer local onde haja pobreza, aglomeração e doença debilitante crônica. (prisão, abrigos para moradores de rua, instituições de cuidados prolongados) e pessoas com AIDS). DOENÇA NEGLIGENCIADA – PERPERTUA POBREZA ⇀ Embora o desfecho dos casos na população total e PPL se apresentem de forma semelhante, se observa que a proporção de sucesso na PPL (78,6%) ainda é superior à da população total (70,4%). Na população em situação de rua notase o inverso do observado nas demais populações. Os avanços evidenciados antes da pandemia estagnaram ou se reverteram e ainda estamos Victor Velloso – FASAI 23.2 2 na retomada de algumas ações ⇀ Em 2022, 4.840 pessoas foram acometidas pela tuberculose na Bahia e 403 delas morreram vitimadas pela doença, representando, respectivamente, uma taxa de incidência de 31 e taxa de mortalidade de 2,7 por 100.000 hab. ⇀ A maior carga da tuberculose incide sobre a população jovem, nas faixas etária mais produtivas e o risco aumenta com a idade, ou seja, de 20 a 34 anos (32,2/100.000 hab.), 35-64 anos (39,3/100 mil hab.) e 50 a 64 anos (46,1/100 mil hab.) Brasil 32/100.000 Tuberculose perinatal: Tem baixa incidência no Brasil e no mundo, mas pode ocorrer. Normalmente se manifesta rapidamente, após 24 dias de vida em função do sistema imune imaturo do RN. A progressão rápida da doença permite uma maior sensibilidade nos exames de cultura e pesquisa BAAR na amostra gástrica ou com lavagem broncoalveolar, devido a dificuldade de se conseguir amostras de escarro nessa população. Um fator restritivo ao diagnóstico definitivo de TB congênita é a realização de biópsia hepática, pois se trata de um procedimento invasivo. Em exames de imagem, as alterações pulmonares mais frequentes são: infiltrado reticulonodular bilateral (padrão compatível com TB miliar) e múltiplos nódulos bilaterais. Fisiopatologia ⇀ A infecção por micobacteria tuberculosis não deve ser confundida com o desenvolvimento da doença tuberculose. Muitos indivíduos adquirem a doença sem manifestar nada, ficando em um período latente da doença. Durante a infecção primária pode-se observar pequenas cicatrizes no parênquima denominados focos de Ghon. A persistência de microrganismos em áreas que são relativamente bem oxigenadas pode explicar os locais mais frequentes de reativação, como os ápices dos pulmões (maior tensão de oxigênio e menor fluxo sanguíneo), o córtex renal e os corpos vertebrais. As gotículas exaladas (gotículas de Pflüger) rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos, podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos, onde podem se multiplicar e provocar a chamada primo-infecção. Um único bacilo em um pequeno núcleo goticular é mais perigoso do que vários bacilos em grandes partículas aéreas, que quando inaladas depositam-se nas vias aéreas mais do que nos alvéolos e que então são rapidamente removidas pelo transporte mucociliar ou eliminadas. Laringite tuberculosa Em indivíduos imunoincompetentes a tuberculose não é contida nesses focos e começa a se espalhar, ocasionando a tuberculose primária progressiva (comum em crianças, idosos, deficiências no sistema imune) Victor Velloso – FASAI 23.2 3 O BK possui três componentes na parede, cada um com função particular na reação inflamatória: (1) lipídeos, responsáveis pela ativação de monócitos e macrófagos e sua posterior transformação em células epitelioides e células gigantes multinucleadas; (2) proteínas (tuberculoproteínas), que conferem sensibilização ao bacilo e contribuem para a formação de células epitelioides e células gigantes; (3) carboidratos, responsáveis pela reação neutrofílica. Macrófagos alveolares e polimorfonucleares neutrófilos atraídos pela fração de carboidrato da bactéria são a primeira linha de defesa do hospedeiro contra os bacilos inalados. Apesar de fagocitarem os bacilos, os macrófagos não os destroem, pois componentes do BK bloqueiam a fusão de fagossomos com lisossomos. Os linfócitos Thelper (CD4) liberam interferon-y que ativa e recruta mais macrófagos, estimula a produção da enzima óxido nítrico sintase redutível, que produz radicais livres de oxigênio e estimula a autofagia. Nos alvéolos, os macrófagos se tornam células epitelioides (células de Langerhans) e céulas gigantes multinucleadas, além de secretar espécies reativas de oxigenio. Ocorre a destruição dos bacilos no centro e necrose caseosa. O núcleo da lesão tem caráter ácido em função de se anaeróbio, as células de defesa estarem jogando ácido para conter a infecção e estar avascular. As células adjacentes sofrem apoptose, uma vez que a apoptose evita a disseminação da doença. Quanto mais apoptose, menos necrose. A manifestação da doença nos imunocomprometidos, como os pacientes de AIDS pode ser um pouco diferente, uma vez que a doença pode avançar mais rápido e acometer órgãos e regiões que normalmente não acomete, como as bases pulmonares. Em indivíduos com contagem de leucócitos TCD4+ maior que 200/ul a doença se desenvolve da mesma maneira, quando os níveis ficam menores que 100/ul ela se desenvolve mais gravemente. Tuberculose miliar: Tem início mais insidioso com o quadro clínico da tuberculose mais alguns sintomas a depender dos locais atingidos. Febre, tosse, linfadenopatia, hepatomegalia. Victor Velloso – FASAI 23.2 4 milhete Pericardite tuberculosa o paciente apresenta febre, sudorese noturna, dor torácica, dispneia e pode apresentar sintomas de insuficiência cardíaca e tamponamento. Nesses casos a janela pericárdica pode ser diagnóstica e terapêutica. e peritonite tuberculosa O comprometimentoda laringe torna o paciente altamente infeccioso. É importante que a infecção por M. tuberculosis seja diferenciada da doença ativa. Pode ser sintomática (doença ativa) ou não (infecção latente) ⇀ Manifestações clínicas A necrose caseosa e a formação de cavidades, resultam da reação imune de hipersensibilidade, em vez da capacidade destrutiva do bacilo da tuberculose. ⇀ O indivíduo apresenta tosse recorrente normalmente produtiva, sudorese noturna, anorexia, perda de peso, febre no final da tarde. Macicez a percussão Queijo cottage Complicações: Derrame pleural e empiema tuberculoso são comuns à medida que a doença avança. Diagnóstico Teste cutâneo tuberculínico: A tuberculina é um derivado proteico purificado (PPD) obtido a partir de culturas de Mycobacterium tuberculosis que é injetado (5 um) em 0,1ml por via intradérmica. O teste não é específico, uma vez que possui reatividade cruzada com outras mycobacterias e bactérias. ⇀ Valor preditivo negativo baixo. O teste cutâneo tuberculínico pode se tornar negativo com o passar do tempo, e ter um reforço (booster) pela aplicação repetida de PPD. ⇀ Reações falso-positivas podem resultar da infecção por micobactérias atípicas ou vacinação prévia com BCG (Bacilo Calmette-Guerin). ⇀ O diagnóstico definitivo da tuberculose pulmonar em atividade baseia-se no isolamento dos bacilos em culturas, ou na identificação do Victor Velloso – FASAI 23.2 5 microrganismo a partir das técnicas de amplificação de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou RNA.20 Exames bacteriológicos (i. e., coloração álcool-acidorresistente e culturas) com amostras de escarro iniciais, aspirados gástricos ou lavados brônquicos obtidos por broncoscopia de fibra óptica podem ser realizados. PROCEDIMENTO TÉCNICO a- Preparar o esfregaço conforme procedimento estipulado pelo laboratório; b- Colocar as lâminas em suporte apropriado, separadamente uma da outra; c- Cobrir todo o esfregaço com a solução de fucsina fenicada de Ziehl-Neelsen, aquecer a lâmina durante 5 minutos, cuidando para que o líquido não entre em ebulição ou ainda que seque; ácidos micolicos d- Retirar a lâmina do suporte e lavar rapidamente em água corrente sob baixa pressão; e- Descorar os esfregaços usando a solução descorante, gotejandoa sobre a lâmina inclinada até que não remova mais corante; f- Lavar a lâmina em água corrente sob baixa pressão; g- Cobrir todo o esfregaço com azul de metileno Loeffler por 1 minuto; h- Lavar em água corrente e deixar secar na posição vertical ao ar; i- Levar ao microscópio e analisar usando a objetiva de imersão. (coloração de Ziehl-Neelsen) IGRA ensaios de liberação de interferona gama: E coletado o sangue do paciente, os glóbulos brancos são separados do restante do sangue e então é inoculada um derivado proteico purificado da mycobacteria, mas que não está presente no Bacilo de Calmette e Guérin. Então se é medida a produção de interferon gama a partir dessa exposição utilizando ELISA. Reação de cadeia em polimerase Xpert – 5 regiões de resistência a rifampicina. Teste portátil que se realiza sozinho. B Nas vértebras, o segmento mais freqüentemente envolvido pelo M. tuberculosis é a coluna torácica. Com a desintegração da vértebra, ocorre o rompimento da cortical óssea e o cáseo penetra nos tecidos moles vizinhos, dando origem a um abscesso paravertebral; este, em vez de exteriorizar-se localmente, na maioria das vezes progride entre os tecidos moles Victor Velloso – FASAI 23.2 6 paravertebrais, fistulizando à distância (abscesso ossifluente). O conjunto dessas alterações caracteriza a espondilite tuberculosa, também designada “Mal de Pott” Atrite reumatoide ⇀ Tratamento ⇀ O tratamento é feito com quimioterapia de longa duração (inicialmente 6 meses, podendo se prolongar pra 9 meses a depender da resposta terapêutica). O tratamento é dividido em fase intensiva e fase de manutenção. A fase intensiva busca eliminar os microorganismos de metabolismo rápido e normalmente negativa as baciloscopias. A terapia padrão de ciclo curto Victor Velloso – FASAI 23.2 7 para a TB pulmonar exige uma fase intensiva de 2 meses com quatro fármacos (isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida), seguida de uma fase de continuação de 4 meses com isoniazida e rifampicina A bactéria tem alta taxa de mutação e alta probabilidade de desenvolver resistência aos medicamentos. Antibiogramas são realizados para orientar o tratamento das formas da doença resistentes aos antibióticos. ⇀ A isoniazida é o medicamento mais utilizado. E necessário que o patógeno utilize a catalase/peroxidase (Katg) para metabolizar o medicamento e liberar radicais livres de oxigênio, o que causará destruição do material genético. ⇀ A rifampicina inibe a síntese de RNA no bacilo ao inibir a enzima RNA polimerase, que realiza a transcrição do DNA em RNAm. Sem a produção desses RNAm a célula diminui seu metabolismo, sua síntese protéica e diminui seus fatores de virulência. ⇀ Supõe-se que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva, seja convertida em ácido pirazinoico pela pirazinamidase. As altas concentrações desse ácido pirazinoico no interior da célula irá diminuir o pH e inativar (desnaturar) algumas enzimas essenciais a sobrevivência da bactéria. ⇀ O etambutol interfere na biossíntese de arabinogalactano, principal polissacarídeo da parede celular da micobactéria. ⇀ Aminoglicosídeos (estreptomicina, amicacina, Canamicina) inibem a síntese proteica celular ao se ligar a unidade 30s do ribossomo 70s. tratamento com imunossupressores da classe dos corticosteroides predispõe à tuberculose,164 pode mascarar os sintomas e reduz as manifestações radiológicas da tuberculose pulmonar,165 além de prevenir a mortalidade em alguns pacientes com meningite tuberculosa. A TB congênita pode ser transmitida via hematogênica transplacentária, pela aspiração ou ingestão de líquido amniótico contaminado ou pelo contato direto com cérvice ou endométrio infectado durante o parto. (1) lesões que ocorrem na primeira semana de vida; (2) granulomas caseosos ou complexo primário no fígado; (3) infecção tuberculosa em placenta ou em genital materna; (4) investigação dos contatos 3 Residência Pediátrica; 2023: Ahead of Print. do RN para excluir transmissão pós-natal, inclusive profissionais da saúde do hospital. A transmissão pós-natal pode acontecer através do contato intradomiciliar do RN com pessoas que têm TB pulmonar bacilífera ou pela ingestão de leite materno no caso da TB mamária. A TB perinatal deve ser suspeitada naquele RN com manifestações clínicas inespecíficas e pobre resposta à antibioticoterapia convencional direcionada para sepse neonatal.