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PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI INFLAMAÇÃO E REPARO CAP 2 VISÃO GERAL DA INFLAMAÇÃO E REPARAÇÃO TECIDUAL - A inflamação é uma resposta protetora essencial para a sobrevivência dos organismos, encarregada de eliminar invasores estranhos e tecidos lesados, além de iniciar o processo de reparo. → Envolve células do hospedeiro, vasos sanguíneos, proteínas e mediadores químicos, com o objetivo de destruir, diluir ou neutralizar agentes nocivos. - A inflamação pode ser aguda (início rápido e curta duração) ou crônica (duração prolongada). - Enquanto a inflamação é vital para controlar infecções e promover a cicatrização, também pode causar danos aos tecidos normais se for excessiva, prolongada ou inapropriada, como em doenças autoimunes e alérgicas. → As células do hospedeiro, como macrófagos e leucócitos, são ativadas para eliminar os agentes lesivos, mas também podem lesar os tecidos normais durante esse processo. - Os sinais clássicos da inflamação, causados pelas alterações vasculares e recrutamento de leucócitos, são calor, rubor, tumor, dor, perda de função. - A inflamação é geralmente controlada e autolimitada, mas se o agente nocivo persistir, pode levar à inflamação crônica com sérias consequências patológicas. INFLAMAÇÃO AGUDA - A inflamação aguda é uma resposta rápida que mobiliza leucócitos e proteínas plasmáticas para o local da lesão, onde os leucócitos removem invasores e tecidos necróticos. Possui dois componentes principais: → Alterações vasculares: incluem vasodilatação para aumentar o fluxo sanguíneo e aumento da permeabilidade vascular para permitir a saída de proteínas plasmáticas. As 1 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI células endoteliais ativadas facilitam a adesão e migração dos leucócitos através das paredes dos vasos. → Eventos celulares: envolvem a emigração dos leucócitos da microcirculação e seu acúmulo no local da lesão, tornando-os capazes de eliminar o agente agressor. Os neutrófilos são os principais leucócitos na inflamação aguda. ESTÍMULOS PARA A INFLAMAÇÃO AGUDA - As reações inflamatórias agudas podem ser iniciadas por diversos estímulos, incluindo: → Infecções: causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas, são causas comuns e clinicamente importantes da inflamação. → Trauma: cortes, penetrações e lesões térmicas (como queimaduras ou frio extremo), irradiação e toxicidade de substâncias químicas ambientais que danificam células do hospedeiro. → Necrose tecidual: causada por isquemia (como no infarto do miocárdio), lesão química ou física. → Corpos estranhos: como farpas, poeira, suturas e depósitos de cristais. → Reações imunológicas: ou hipersensibilidade, contra substâncias ambientais ou os próprios tecidos, tendendo a ser persistentes e frequentemente crônicas, referidas como doenças inflamatórias imunomediadas. - Embora cada estímulo possa induzir reações distintas, todas as inflamações compartilham características básicas. RECONHECIMENTO DE MICRÓBIOS, CÉLULAS NECRÓTICAS E SUBSTANCIAS ESTRANHAS - As células do hospedeiro reconhecem agentes prejudiciais, como micróbios e células mortas, por meio de "receptores-padrão de reconhecimento". - Fagócitos, células dendríticas e outras células, como epiteliais, expressam esses receptores que detectam padrões moleculares comuns a muitos microrganismos e células mortas. As duas principais famílias de receptores são: → Receptores do tipo Toll (TLRs): detectam produtos bacterianos e outros patógenos. Localizados nas membranas plasmáticas e endossomos, os TLRs ativam fatores de transcrição que estimulam a produção de mediadores inflamatórios, citocinas antivirais e proteínas que promovem respostas imunológicas. → Inflamossomo: um complexo citoplasmático que reconhece produtos das células mortas, cristais e alguns produtos microbianos. A ativação do inflamossomo ativa a enzima caspase 1, que cliva a citocina inflamatória interleucina 1b (IL-1b) em sua forma ativa. IL-1 é crucial 2 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI para o recrutamento de leucócitos na inflamação aguda. Cristais de urato (causando gota), cristais de colesterol e ácidos graxos livres também ativam o inflamossomo, indicando seu papel em doenças como aterosclerose e diabetes tipo 2. Bloqueadores de IL-1 são possíveis tratamentos para essas condições. ALTERAÇÕES VASCULARES - Alterações no fluxo e calibre vasculares: → Vasodilatação: após uma vasoconstrição transitória, as arteríolas se dilatam, aumentando o fluxo sanguíneo e causando vermelhidão e calor. → Permeabilidade vascular aumentada: permite que líquidos ricos em proteínas extravasem para os tecidos, resultando em estase, onde os leucócitos se acumulam ao longo das paredes endoteliais (marginação). - Mecanismos de aumento da permeabilidade vascular: → Contração das células endoteliais: formando lacunas intercelulares nas vênulas pós-capilares, mediada por histamina e outros. → Lesão endotelial direta: causada por trauma severo, infecções e acúmulo de leucócitos. → Aumento da transcitose: mediado por vesículas intracelulares, especialmente após a exposição a VEGF. → Extravasamento de novos vasos sanguíneos: durante a angiogênese, os novos vasos são inicialmente mais permeáveis. - Respostas dos vasos linfáticos: → Aumento do fluxo linfático para drenar fluido, leucócitos e restos celulares. → Linfangite e linfadenite reativa podem ocorrer quando os linfáticos transportam agentes lesivos, resultando em linfonodos aumentados e dolorosos. - Esses mecanismos permitem uma resposta rápida e eficiente do sistema imunológico à lesão ou infecção. EVENTOS CELULARES: RECRUTAMENTO E ATIVAÇÃO DOS LEUCÓCITOS - A resposta inflamatória tem como função principal transportar leucócitos ao local da lesão e ativá-los. - Os leucócitos ingerem agentes ofensivos, destroem micróbios e eliminam tecidos necróticos e substâncias estranhas. No entanto, esses leucócitos podem também causar lesão tecidual e prolongar a inflamação, pois os produtos que destroem micróbios podem danificar tecidos normais. → Portanto, os mecanismos de defesa do hospedeiro garantem que os leucócitos sejam recrutados e ativados apenas quando necessário. → A ativação sistêmica de leucócitos pode ser grave, como no choque séptico. Recrutamento dos leucócitos 3 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - O recrutamento de leucócitos da circulação para os tecidos extravasculares na inflamação envolve quatro etapas principais: marginação e rolamento, aderência ao endotélio, transmigração através da parede do vaso e migração para os tecidos em resposta a estímulos quimiotáticos. → Marginação e Rolamento: leucócitos se acumulam na periferia dos vasos e rolam na superfície endotelial, aderindo transitoriamente devido às selectinas, que são moléculas de adesão reguladas por citocinas. → Aderência: os leucócitos aderem firmemente ao endotélio por meio das integrinas, cuja afinidade é aumentada por quimiocinas. Citocinas como TNF e IL-1 induzem a expressão de ligantes de integrinas no endotélio. → Transmigração: os leucócitos migram através da parede do vaso (diapedese), mediada por moléculas de adesão como PECAM-1, e degradam a membrana basal com colagenases. → Quimiotaxia: leucócitos se movem em direção ao local da lesão guiados por gradientes químicos de substâncias como produtos bacterianos, citocinas, componentes do complemento e leucotrienos. - Os neutrófilos predominam nas primeiras 6-24 horas da inflamação, sendo substituídos por monócitos em 24-48 horas. O tipo de leucócito recrutado pode variar com o tipo de infecção ou estímulo inflamatório. 1 Ativação dos leucócitos - Uma vez recrutados para os locais de infecção ou necrose tecidual, os leucócitos são ativados por estímulos como microrganismos, produtos de células necróticas e vários mediadores. - A ativação leucocitária, que envolve receptores de superfície, resulta em funções ampliadas: fagocitose de partículas, destruição intracelular de micróbios e células mortas, liberaçãode substâncias microbicidas extracelulares e produção de mediadores inflamatórios. 1 Figura 2-6: Tipos de infiltrado leucocitário nas reações inflamatórias no miocárdio após infarto isquêmico. A) Infiltrado inicial mostra predominância de neutrófilos e vasos sanguíneos congestionados. B) Infiltrado tardio apresenta células mononucleares. 4 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Fagocitose: → Reconhecimento e fixação da partícula ao leucócito; → Engolfamento e formação de vacúolo fagocítico; → Destruição e degradação do material ingerido. → O reconhecimento envolve opsoninas como IgG, C3 do complemento e lectinas. A destruição de microrganismos ocorre via espécies reativas do oxigênio (ERO) e nitrogênio, além de enzimas lisossômicas. - Destruição e degradação: envolve produção de ERO, ativadas por NADPH-oxidase, formando superóxido e peróxido de hidrogênio, que são convertidos em HOCl• pela mieloperoxidase, um potente agente antimicrobiano. As hidrolases lisossômicas, como a elastase, também degradam os microrganismos. - Secreção de substâncias microbicidas: inclui a regurgitação durante o engolfamento, fagocitose frustrada e lesão do fagolisossoma, resultando em liberação de enzimas lisossômicas e peptídeos antimicrobianos no meio extracelular. - Armadilhas extracelulares dos neutrófilos (NETs): neutrófilos produzem redes fibrilares que contêm cromatina nuclear e proteínas granulares, concentrando substâncias antimicrobianas e prendendo micróbios. NETs podem contribuir para doenças autoimunes, como o lúpus, por fornecer antígenos nucleares. LESÃO TECIDUAL INDUZIDA POR LEUCÓCITOS - Os leucócitos secretam substâncias prejudiciais, como enzimas e ERO, causando lesão a células e tecidos normais em diversas circunstâncias: → Durante a defesa contra microrganismos infecciosos, podendo danificar tecidos circundantes. Em infecções difíceis de erradicar, como tuberculose e certas doenças virais, a resposta do hospedeiro pode contribuir mais para a patologia do que o próprio microrganismo. 5 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Ao tentar remover tecidos lesados e mortos, como após um infarto do miocárdio. A inflamação prolongada pode agravar as consequências do infarto, especialmente sob reperfusão. → Quando a resposta inflamatória é dirigida contra os próprios tecidos do hospedeiro, como em doenças autoimunes ou reações exageradas a substâncias não tóxicas, como na asma alérgica. - Os mecanismos lesivos dos leucócitos ativados são os mesmos utilizados na defesa antimicrobiana e não distinguem entre agente ofensivo e hospedeiro. → Sem controle, os linfócitos podem se tornar principais agressores, causando lesão tecidual que fundamenta muitas doenças humanas agudas e crônicas. → Leucócitos ativados, especialmente macrófagos, secretam citocinas que estimulam inflamação adicional e têm efeitos sistêmicos significativos. DEFEITO DAS FUNÇÃOES LEUCOCITÁRIAS - Os leucócitos são essenciais na defesa do hospedeiro, e defeitos em sua função aumentam a suscetibilidade a infecções graves e recorrentes. - As causas comuns de inflamações defeituosas incluem a supressão da medula óssea (por tumores, quimioterapia, radiação) e doenças metabólicas como diabetes. Distúrbios genéticos, embora raros, ilustram a importância das vias moleculares na resposta inflamatória. - Defeitos na adesão dos leucócitos: → DAL-1: síntese defeituosa da subunidade CD18 das integrinas LFA-1 e Mac-1, prejudicando a adesão, migração e fagocitose dos leucócitos. → DAL-2: defeito no metabolismo da fucose, causando ausência do oligossacarídeo sialil-Lewis X e comprometendo a ligação às selectinas no endotélio. - Defeitos na atividade microbicida: → Doença granulomatosa crônica: deficiência na oxidase dos fagócitos, impedindo a geração de ERO e levando à formação de granulomas para tentar controlar infecções. - Defeitos na formação do fagolisossoma: → Síndrome de Chédiak-Higashi: tráfego desordenado de organelas intracelulares, prejudicando a fusão de lisossomas com fagossomas e causando imunodeficiência grave. → Mutações nas vias de sinalização do receptor tipo Toll: observadas em pacientes com defesas defeituosas do hospedeiro, aumentando a suscetibilidade a infecções. - Mutações de ganho de função no inflammasoma: → Síndromes de febre periódica associada à criopirina (CAPSs): causam febre persistente e inflamação, tratáveis com antagonistas da IL-1. - Esses distúrbios ilustram a complexidade e importância das respostas inflamatórias na defesa do hospedeiro. 6 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI RESULTADO DAS INFLAMAÇÕES AGUDAS - A inflamação aguda pode ter três resultados principais, dependendo da natureza e intensidade da lesão, do local afetado e da capacidade de resposta do hospedeiro. - Resolução: regeneração e reparo: → Ocorre quando a lesão é limitada ou breve, com pouca ou nenhuma destruição tecidual e o tecido pode se regenerar. → Inclui a neutralização e degradação dos mediadores químicos, normalização da permeabilidade vascular, cessação da emigração de leucócitos e morte dos neutrófilos por apoptose. → A drenagem linfática e a ação dos macrófagos removem o líquido de edema, células inflamatórias e detritos. → Os leucócitos secretam citocinas para iniciar o reparo, promovendo a proliferação de fibroblastos e a restauração da integridade estrutural. - Inflamação crônica: → Pode seguir a inflamação aguda se o agente nocivo não é removido. → Pode estar presente desde o início da lesão em certos casos (infecções virais, respostas imunes a antígenos próprios). → Dependendo da extensão e continuidade da lesão e da capacidade de regeneração dos tecidos, pode resultar na restauração da estrutura e função normal ou em cicatrização. - Cicatrização: → Ocorre após destruição tecidual substancial ou em tecidos incapazes de regeneração, sendo substituídos por tecido conjuntivo. → Em órgãos com depósitos extensos de tecido conjuntivo, o resultado é a fibrose, que pode comprometer significativamente a função. - Estes processos são fundamentais para entender os diferentes desfechos da inflamação aguda. 7 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI PADRÕESMORFOLÓGICOS DA INFLAMAÇÃO AGUDA - As reações vasculares e celulares da inflamação aguda se refletem em sua morfologia. → A gravidade da resposta, a causa específica e o tecido afetado podem alterar essa morfologia básica, resultando em aparências distintas. → Reconhecer esses padrões morfológicos é importante porque eles estão sempre associados a diferentes estímulos iniciais e situações clínicas. MORFOLOGIA - Inflamação serosa: → Caracterizada pelo extravasamento de um fluido aquoso pobre em proteínas, originado do soro sanguíneo ou secreções de células mesoteliais. → Exemplos: bolha cutânea de queimadura ou infecção viral. → O líquido em uma cavidade serosa é chamado de efusão. - Inflamação fibrinosa: → Resulta de lesões mais graves com maior permeabilidade vascular, permitindo a passagem de fibrinogênio. → Histologicamente, a fibrina aparece como uma rede eosinofílica ou um coágulo amorfo. → Ocorre em cavidades corporais comomeninges, pericárdio e pleura. → Pode ser resolvida por fibrinólise ou resultar em cicatrização se não for removida, como no caso do pericárdio, que pode levar à restrição da função do miocárdio. - Inflamação supurativa (purulenta) e formação de abscesso: → Caracterizada por exsudato purulento (pus), composto por neutrófilos, células necróticas e líquido de edema. → Causada por microrganismos piogênicos, como estafilococos. → Os abscessos têm uma região central de células necróticas, cercada por neutrófilos e vasos dilatados. → Com o tempo, podem ser substituídos por tecido conjuntivo, resultando em cicatriz. 8 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Úlcera: → Defeito local na superfície de um órgão ou tecido causado por necrose celular e desprendimento do tecido inflamatório necrótico. → Comum na mucosa da boca, estômago, intestinos, trato geniturinário, e em inflamações subcutâneas dosmembros inferiores em idosos com distúrbios circulatórios. → Exemplo: úlcera péptica do estômago ou duodeno, onde coexistem inflamações aguda e crônica. A fase aguda tem infiltração polimorfonuclear intensa e dilatação vascular, enquanto a fase crônica envolve cicatrização e acúmulo de linfócitos, macrófagos e plasmócitos. MEDIADORES QUÍMICOS E REGULADORES DA INFLAMAÇÃO - Os mediadores químicos da inflamação aguda, essenciais para os eventos vasculares e celulares, são fundamentais para a ação de drogas anti-inflamatórias como aspirina e paracetamol. → Esses mediadores podem ser produzidos localmente pelas células no local da inflamação ou circular no plasma como precursores inativos, ativados no local da inflamação. → Mediadores celulares, como a histamina e prostaglandinas, são rapidamente secretados ou sintetizados em resposta a estímulos, enquanto mediadores plasmáticos, como proteínas do complemento e cininas, sofrem clivagem proteolítica para se ativarem. - A maioria dos mediadores age ligando-se a receptores específicos nas células-alvo, podendo ter ações variadas dependendo do tipo celular afetado. → Outros, como proteases lisossômicas e ERO, possuem atividades tóxicas e/ou enzimáticas diretas. As ações dos mediadores são reguladas e de curta duração, sendo rapidamente decompostos, inativados ou removidos após sua liberação. 9 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI MEDIADORES DERIVADOS DE CÉLULAS - Aminas vasoativas: as duas aminas vasoativas, histamina e serotonina, são armazenadas nos mastócitos e outras células e são liberadas nas reações inflamatórias agudas. → Histamina: produzida por mastócitos, basófilos e plaquetas sanguíneas, é liberada em resposta a lesões físicas, reações imunes (ligação de IgE aos receptores Fc dos mastócitos), fragmentos do complemento (C3a e C5a), proteínas de liberação da histamina dos leucócitos, neuropeptídeos (ex.: substância P) e certas citocinas (ex.: IL-1 e IL-8). Causa dilatação das arteríolas e aumento da permeabilidade vascular, sendo inativada rapidamente pela histaminase. → Serotonina (5-hidroxitriptamina): encontrada primariamente nos grânulos das plaquetas e liberada durante a agregação plaquetária, induz vasoconstrição durante a coagulação. É produzida principalmente em neurônios e células enterocromafins, atuando como neurotransmissor e regulando a motilidade intestinal. - Metabólitos do Ácido Araquidônico (AA): Os metabólitos do ácido araquidônico (AA), também chamados eicosanoides, influenciam processos biológicos como inflamação e hemostasia. Esses metabólitos incluem prostaglandinas, leucotrienos e lipoxinas. → Prostaglandinas e tromboxanos: • Produtos da via da cicloxigenase incluem PGE2, PGD2, PGF2α, PGI2 (prostaciclina) e TXA2. • TXA2, produzido nas plaquetas, é um agente de agregação plaquetária e vasoconstritor. • PGI2, produzido nas células endoteliais, é um vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária. • PGE2, PGD2, e PGF2α causam vasodilatação e edema. • PGE2 também aumenta a sensibilidade à dor e causa febre. 10 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Leucotrienos: • Produzidos pela 5-lipoxigenase, principal enzima nos neutrófilos. • LTB4 é um potente agente quimiotático para neutrófilos. • LTC4, LTD4 e LTE4, produzidos principalmente nos mastócitos, causam vasoconstrição, broncoespasmo e aumento da permeabilidade vascular. → Lipoxinas: • Formadas quando leucócitos mudam seus produtos de leucotrienos para mediadores anti-inflamatórios, inibindo quimiotaxia e aderência de neutrófilos. • As plaquetas, em interação com neutrófilos, podem formar lipoxinas A4 e B4 através de uma via biossintética transcelular. → Drogas Anti-inflamatórias: • AINEs (como aspirina e ibuprofeno): inibem a cicloxigenase, reduzindo a síntese de PGs, tratando dor e febre. • Inibidores da COX-2: visam reduzir inflamação prejudicial sem afetar as funções homeostáticas das prostaglandinas, mas podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares. • Glicocorticoides: inibem a fosfolipase A2, diminuindo a liberação de AA dos lipídios de membrana, atuando como potentes anti-inflamatórios. - Citocinas: as citocinas são polipeptídeos produzidos por muitos tipos celulares e funcionam como mediadores da inflamação e das respostas imunes. Elas incluem interleucinas, TNF, IL-1, IL-6, quimiocinas e outras. As citocinas principais na inflamação aguda são TNF, IL-1, IL-6 e quimiocinas, enquanto IFN-γ e IL-12 são mais importantes na inflamação crônica. → TNF e IL-1: • Produzidos por macrófagos, mastócitos, células endoteliais e outros. • Estimulam a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais, recrutando leucócitos. • TNF aumenta a trombogenicidade do endotélio. • IL-1 ativa fibroblastos, aumentando proliferação e produção de matriz extracelular. • Induzem reações sistêmicas como febre, letargia, produção de proteínas de fase aguda, caquexia e liberação de neutrófilos. → Quimiocinas: • Pequenas proteínas (8-10 kDa) que funcionam como quimioatraentes para leucócitos. • Recrutam leucócitos na inflamação e organizam células nos tecidos linfoides. • Ativam leucócitos, aumentando a afinidade das integrinas. • Classificadas em quatro grupos principais, com CXC e CC sendo os mais importantes. CXC (ex.: IL-8): Atuam principalmente nos neutrófilos, produzidas em resposta a produtos microbianos e citocinas como IL-1 e TNF. CC: Incluem MCP-1, MIP-1α, RANTES e eotaxina, quimiotáticas para monócitos, células T CD4+ de memória e eosinófilos. 11 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Espécies Reativas do Oxigênio (ERO): → Produzidas por neutrófilos e macrófagos através da via NADPH-oxidase. → Destruição de micróbios e células necróticas quando produzidas dentro dos lisossomos.Em níveis baixos, amplificam a cascata de mediadores inflamatórios. → Em níveis altos, causam lesão tecidual por lesão endotelial, inativação de antiproteases e lesão direta a outros tipos celulares. → Proteção contra toxicidade por antioxidantes como catalase e superóxido-dismutase - Óxido nítrico (NO): → Radical livre produzido por muitos tipos celulares, regulando neurotransmissão e fluxo sanguíneo.Síntese a partir da L-arginina pela enzima óxido nítrico sintase (NOS). → Três isoformas de NOS: • nNOS (neuronal): não significativa na inflamação. • iNOS (induzível): presente em macrófagos e células endoteliais, induzida por citocinas e mediadores inflamatórios. • eNOS (endotelial): produzida constitutivamente no endotélio. → Funções: agente microbicida, relaxamento do músculo liso vascular, antagonismo da ativação plaquetária e redução do recrutamento de leucócitos. - Enzimas lisossômicas dos leucócitos: → Neutrófilos e monócitos contêm enzimas que destroem substâncias fagocitadas e podem causar lesão tecidual. → Proteases ácidas são ativas em pH baixo, enquanto proteases neutras (elastase, colagenase, catepsina) atuam na matriz extracelular (MEC). → Potencial lesivo controlado por antiproteases como a1-antitripsina e a2-macroglobulina. - Neuropeptídios: → Pequenas proteínas que iniciam respostas inflamatórias, como a substância P. → Funções: transmissão de sinais dolorosos, regulação do tônus do vaso e modulação da permeabilidade vascular. → Presentes no pulmão e trato gastrointestinal. MEDIADORES DERIVADOS DE PROTEÍNAS PLASMÁTICAS - Sistema complemento: → O sistema complemento é uma parte crucial da imunidade e inflamação, consistindo de proteínas plasmáticas que, quando ativadas, opsonizam partículas como micróbios para facilitar sua fagocitose e destruição, aumentam a permeabilidade vascular e promovem a quimiotaxia dos leucócitos. 12 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → As proteínas do complemento, numeradas de C1 a C9, são ativadas por proteólise, iniciando uma cascata enzimática, com a ativação do componente C3 sendo central. • C3 é clivado por três vias: clássica (iniciada por complexos antígeno-anticorpo), alternativa (ativada por polissacarídeos bacterianos) e das lectinas (ativadapor resíduos de manose nos micróbios). → Todas as vias formam a C3-convertase, que cliva C3 em C3a e C3b, com C3b se ligando à célula ou micróbio para formar C5-convertase, clivando C5 em C5a e C5b e iniciando a montagem do complexo de ataque à membrana (MAC) de C6 a C9. • O C3a e C5a aumentam a permeabilidade vascular e causam vasodilatação, enquanto C5a ativa a via da lipoxigenase, liberando mediadores inflamatórios. • C5a, C3a e C4a ativam leucócitos e promovem quimiotaxia. • C3b e iC3b, fixados a superfícies bacterianas, atuam como opsoninas. • O MAC destrói bactérias, especialmente Neisseria, rompendo o equilíbrio osmótico. → A ativação do complemento é regulada por proteínas inibitórias para proteger células do hospedeiro. → A deficiência de inibidores pode levar a condições como angioedema hereditário (deficiência de inibidor de C1), hemoglobinúria noturna paroxística (deficiência de DAF) e síndrome urêmica hemolítica (deficiência de fator H). → Ativação excessiva do complemento pode causar lesões teciduais em distúrbios imunológicos. - Sistema de coagulação e das cininas: → O fator de Hageman (fator XII) é uma proteína do fígado que, quando ativada, inicia quatro sistemas envolvidos na inflamação: cininas, coagulação, fibrinolítico e complemento. • O sistema de cininas produz bradicinina, que aumenta a permeabilidade vascular, dilata arteríolas, contrai músculos brônquicos e causa dor. • A calicreína, um intermediário, também ativa o fator de Hageman, ligando os sistemas de coagulação e cininas. → No sistema de coagulação, o fator XIIa ativa a trombina, que cliva o fibrinogênio formando fibrina e coágulos. • A trombina também liga-se a receptores em células endoteliais e leucócitos, aumentando a aderência e a permeabilidade vascular. • Além disso, a trombina cliva C5, ativando o complemento. 13 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → O sistema fibrinolítico, ativado simultaneamente pela coagulação, cliva a fibrina e solubiliza coágulos. • A plasmina, derivada do plasminogênio, cliva a fibrina e também C3, produzindo C3a e amplificando a inflamação. A plasmina pode ainda reativar o fator de Hageman. → Esses sistemas interagem complexamente, amplificando e regulando a inflamação. A identificação dos principais mediadores da inflamação aguda e suas interações ainda precisa ser esclarecida, o que pode ter importantes implicações terapêuticas para doenças inflamatórias. MECANISMOS ANTI-INFLAMATÓRIOS - As reações inflamatórias cessam devido à curta duração dos mediadores e à ação de enzimas degradativas. →Vários mecanismos neutralizam esses mediadores e limitam a resposta inflamatória. → Macrófagos ativados e outras células secretam IL-10, que reduz as respostas dos macrófagos, promovendo feedback negativo. - Em uma doença hereditária com mutação nos receptores de IL-10, os pacientes desenvolvem colite grave na infância. → Outras citocinas anti-inflamatórias incluem TGF-β, que também promove fibrose no reparo tecidual. Proteínas intracelulares como tirosina fosfatases inibem sinais de receptores que reconhecem micróbios e citocinas. INFLAMAÇÃO CRÔNICA - A inflamação crônica é uma inflamação prolongada (semanas a anos) caracterizada por inflamação ativa, destruição tecidual e reparação por fibrose simultaneamente. 2 → Difere da inflamação aguda, que apresenta alterações vasculares, edema e infiltrado neutrofílico. - A inflamação crônica envolve: → Infiltração de células mononucleares (macrófagos, linfócitos, plasmócitos); → Destruição tecidual causada por células inflamatórias; → Reparo com angiogênese e fibrose. - A inflamação aguda pode evoluir para crônica quando a resposta aguda não se resolve ou devido à persistência do agente lesivo. → A inflamação crônica ocorre em infecções persistentes, doenças inflamatórias imunomediadas, exposição prolongada a agentes 2 Figura 2-20: A) Inflamação crônica no pulmão mostra coleções de células inflamatórias crônicas (asterisco), destruição do parênquima com substituição dos alvéolos normais por espaços revestidos por epitélio cubóide (cabeças de seta) e fibrose (setas). B) Na inflamação aguda do pulmão (broncopneumonia aguda), os espaços alveolares estão preenchidos por neutrófilos e os vasos sanguíneos estão congestionados. 14 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI tóxicos, e em várias doenças não convencionalmente inflamatórias, como Alzheimer, aterosclerose, diabetes tipo 2 e certos cânceres. - Infecções persistentes incluem micobactérias, Treponema pallidum, certos vírus e fungos, que causam hipersensibilidade tardia. → Doenças autoimunes, como artrite reumatoide e doença inflamatória intestinal, resultam de reações imunes autoperpetuadoras contra autoantígenos. → Exposição a agentes tóxicos, como sílica e cristais de colesterol, leva a condições como silicose e aterosclerose. → Inflamação crônica leve também contribui para doenças neurodegenerativas e metabólicas. CÉLULAS EMEDIADORES DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA -Macrófagos: → A inflamação crônica envolve a interação complexa de células e mediadores, destacando-se os macrófagos como células dominantes. → Originários de monócitos sanguíneos, os macrófagos estão presentes em muitos tecidos e têm várias funções, como a eliminação de micróbios e células senescentes, e a participação na resposta imune. → Funções dos Macrófagos: • Origem e migração: monócitos originam-se na medula óssea, circulam no sangue e migram para os tecidos, transformando-se em macrófagos. • Ativação clássica: induzida por produtos microbianos, citocina IFN-γ e substâncias estranhas. Resulta em destruição de organismos e secreção de citocinas inflamatórias. • Ativação alternativa: induzida por citocinas IL-4 e IL-13. Foca no reparo tecidual, promovendo angiogênese e ativação de fibroblastos. → Papéis críticos dos macrófagos: • Fagocitose: ingestão e eliminação de micróbios e tecidos mortos. • Reparo tecidual: iniciam a reparação e cicatrização. • Secreção de mediadores: produzem citocinas e eicosanoides, fundamentais para a inflamação. • Apresentação de antígenos: exibem antígenos aos linfócitos T, facilitando a resposta imune adaptativa. → Após a resolução do estímulo inicial, os macrófagos podem morrer ou ser removidos pelo sistema linfático. • Na inflamação crônica, o acúmulo de macrófagos persiste devido ao recrutamento contínuo e proliferação local. • O IFN-γ pode também induzir a formação de células gigantes multinucleadas. - Linfócitos: → Os linfócitos são cruciais em respostas imunológicas e inflamações crônicas, mobilizados tanto por infecções quanto por inflamações não imunológicas (como necrose isquêmica ou trauma). 15 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI • Eles desempenham papéis importantes em doenças autoimunes e inflamatórias crônicas. A ativação dos linfócitos B e T é central na resposta imune adaptativa. → Funções dos Linfócitos: • Migração e ação nos tecidos: os linfócitos B se transformam em plasmócitos que secretam anticorpos. Os linfócitos T CD4+ secretam citocinas que promovem e modulam a inflamação. • Subgrupos de linfócitos T CD4+: 01. TH1: Produzem IFN-γ, ativando macrófagos via clássica. 02. TH2: Secretam IL-4, IL-5 e IL-13, recrutando eosinófilos e ativando macrófagos via alternativa. 03. TH17: Produzem IL-17 e outras citocinas, recrutando neutrófilos e monócitos. → Interações linfócitos-aacrófagos: • Bidirecionalidade: macrófagos apresentam antígenos às células T e produzem citocinas que estimulam a resposta das células T. Em resposta, os linfócitos T ativados produzem citocinas que recrutam e ativam mais macrófagos. • Ciclo de inflamação: essa interação cria um ciclo contínuo de reações celulares que sustenta a inflamação crônica. • Organogênese linfoide: em inflamações crônicas severas, o acúmulo de linfócitos e outras células pode formar estruturas semelhantes a órgãos linfoides, como visto na artrite reumatoide e tireoidite autoimune. - Outras células na inflamação crônica: → Eosinófilos:• Localização: presentes em infecções parasitárias e reações imunes mediadas por IgE (alergias). • Recrutamento: guiado por moléculas de adesão e quimiocinas como eotaxina. • Função: seus grânulos contêm proteína básica principal, tóxica para parasitas e causadora de necrose epitelial. →Mastócitos: • Distribuição: amplamente presentes nos tecidos conjuntivos, atuando em respostas inflamatórias agudas e crônicas. • Ativação: em indivíduos atópicos, são "armados" com IgE específico para certos antígenos ambientais, liberando histamina e metabólitos do ácido araquidônico ao encontrá-los, o que causa alterações vasculares da inflamação aguda. • Papel: centrais nas reações alérgicas (choque anafilático) e produzem citocinas como TNF e quimiocinas, contribuindo em algumas infecções. → Neutrófilos: • Inflamação Crônica: apesar de serem característicos da inflamação aguda, podem persistir na inflamação crônica devido à presença contínua de bactérias, células necróticas ou mediadores produzidos pelos macrófagos. • Lesões "aguda em crônica": exemplos incluem osteomielite, onde a inflamação crônica é acompanhada por infiltração neutrofílica. 16 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA - A inflamação granulomatosa é uma forma específica de inflamação crônica, distinguida pela presença de granulomas, que são agregados de macrófagos ativados e linfócitos esparsos. 3 - Granulomas são indicativos de certas condições patológicas, algumas graves, tornando seu reconhecimento crucial. - Causas de Formação de Granulomas: → Respostas Persistentes de Células T: • Microrganismos: infecções como tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), sífilis (T. pallidum), e certas infecções fúngicas. • Mecanismo: citocinas derivadas das células T causam ativação crônica dos macrófagos. • Exclusão de tuberculose: a tuberculose é o protótipo de doenças granulomatosas e deve sempre ser descartada ao identificar granulomas. - Doenças inflamatórias imunomediadas: • Exemplo: doença de Crohn, uma inflamação intestinal crônica nos Estados Unidos. → Doenças de etiologia desconhecida: • Exemplo: sarcoidose. • Corpos estranhos: granulomas podem se formar em resposta a materiais inertes como suturas ou farpas, conhecidos como granulomas de corpos estranhos. - Função dos granulomas → Mecanismo de defesa: granulomas "encapsulam" o agente agressor, sendo um mecanismo útil de defesa. → Desafios: nem sempre eliminam o agente causal, que pode ser resistente à destruição. Em doenças como tuberculose, a inflamação granulomatosa e a fibrose subsequente podem levar à disfunção do órgão afetado. MORFOLOGIA - Na coloração habitual com H&E, os granulomas mostrammacrófagos ativados com citoplasma granular róseo e limites celulares pouco distintos, conhecidos 3 Figura 2-23: típico granuloma, resultante de infecção comMycobacterium tuberculosis, mostrando área central de necrose caseosa, macrófagos epitelioides ativados, células gigantes e acúmulo periférico de linfócitos. 17 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI como células epitelioides devido à sua semelhança com o epitélio. → Esses macrófagos geralmente são cercados por linfócitos, com granulomas mais antigos apresentando uma orla de fibroblastos e tecido conjuntivo. → Células gigantes multinucleadas também podem estar presentes, derivadas da fusão de vários macrófagos ativados. - Em granulomas associados a certos microrganismos, como o bacilo da tuberculose, a hipóxia e a lesão por radicais livres podem levar à formação de uma zona central de necrose, conhecida como necrose caseosa, visualizada macroscopicamente como uma área granular caseosa. → Microscopicamente, essa área necrótica mostra restos granulares eosinofílicos, com perda de detalhes celulares. - Granulomas em doença de Crohn, sarcoidose e reações a corpos estranhos geralmente não apresentam centros necróticos e são denominados "não caseosos". - A cura dos granulomas é frequentemente acompanhada de fibrose, que pode ser extensa. EFEITOS SISTÊMICOS DA INFLAMAÇÃO - Qualquer pessoa que tenha sofrido um episódio severo de doença viral experimentou a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (reação da fase aguda). - Citocinas como TNF, IL-1 e IL-6 são mediadores-chave dessa reação, sendo liberadas em resposta à infecção. A resposta da fase aguda envolve várias alterações: → Febre: elevada temperatura corporal causada por pirogênios que estimulam a síntese de prostaglandina no hipotálamo. A aspirina e outros AINEs reduzem a febre ao inibir a cicloxigenase. → Proteínas da fase aguda: aumentam no plasma durante a inflamação. Exemplos incluem CRP, fibrinogênio e SAA, sintetizadas pelo fígado sob estímulo de IL-6, que ajudam na eliminação de micróbios e são indicadores de inflamação e risco cardiovascular. → Leucocitose: aumento dos leucócitos no sangue, frequentemente induzida por infecções bacterianas, podendo atingir níveis muito altos (reações leucemoides). Infecções virais e parasitárias causam diferentes elevações específicas de tipos de leucócitos. → Outras manifestações: aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, redução da sudorese, tremores, anorexia, sonolência e mal-estar. - Em infecções bacterianas graves (sepse), altos níveis de citocinas como TNF causam coagulação intravascular disseminada, acidose e choque séptico. → Após a inflamação, o corpo inicia o reparo dos tecidos, crucial para a recuperação ou prevenção de fibrose. VISÃO GERAL DO REPARO TECIDUAL - A habilidade de reparar lesões tóxicas e inflamação é crucial para a sobrevivência. - A inflamação não só elimina perigos, mas também inicia o reparo, que restaura a função e estrutura do tecido lesionado. → O reparo ocorre por dois processos: regeneração e formação de cicatriz. - Regeneração: alguns tecidos substituem células lesadas, retornando ao estado normal por proliferação de células residuais 18 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI e células-tronco. É comum em epitélios de rápida divisão, como pele, intestinos e fígado. - Formação de cicatriz: quando a regeneração não é possível ou as estruturas de suporte são gravemente lesadas, o tecido conjuntivo é depositado, formando cicatriz. A cicatriz fornece estabilidade estrutural, mesmo sem a funcionalidade original das células perdidas. → Fibrose é a extensa deposição de colágeno em órgãos como pulmões, fígado, rins e coração após inflamação crônica ou infarto. - Regeneração e formação de cicatriz frequentemente ocorrem juntos no reparo de lesões. Ambos os processos envolvem proliferação celular e interações entre células e matriz extracelular (MEC). → O papel dos fatores de crescimento, células-tronco e propriedades da MEC são fundamentais para a regeneração e cicatrização, com exemplos práticos na cura de feridas cutâneas e fibrose em órgãos. REGENERAÇÃO CELULAR E TECIDUAL - A regeneração de células e tecidos lesados envolve a proliferação celular, orientada por fatores de crescimento e dependente da integridade da matriz extracelular (MEC). CONTROLE DA PROLIFERAÇÃO CELULAR - Durante o reparo do tecido, vários tipos celulares proliferam: células restantes do tecido lesado (para restaurar a estrutura), células endoteliais (para formar novos vasos sanguíneos) e fibroblastos (para formar tecido fibroso e cicatriz). → A proliferação é guiada por fatores de crescimento polipeptídicos, essenciais para o processo de reparo. - O tamanho das populações celulares é equilibrado pela proliferação celular, apoptose e diferenciação de células-tronco. - A proliferação envolve replicação do DNA e mitose, reguladas pelo ciclo celular. → Fatores de crescimento estimulam a transição das células da fase G0 para G1, seguido das fases de síntese de DNA (S), G2 e mitose (M). → A progressão é controlada por ciclinas e cinases ciclina-dependentes. CAPACIDADE PROLIFERATIVA DOS TECIDOS - A habilidade dos tecidos de se autorreparar depende de sua capacidade proliferativa intrínseca, dividindo-os em três grupos: → Tecidos lábeis: dividem-secontinuamente, com células perdidas sendo substituídas por células-tronco e proliferação de células maduras. → Exemplos incluem hematopoiéticas na medula óssea e epitélios de superfície (pele, cavidade oral, trato gastrointestinal). Regeneram-se rapidamente após a lesão. - Tecidos estáveis: são quiescentes com baixa atividade replicativa em condições normais, mas podem proliferar em resposta a lesão. → Incluem parênquima de órgãos como fígado, rim e pâncreas, além de células endoteliais, fibroblastos e musculares lisas. Têm capacidade limitada de regeneração, exceto o fígado. - Tecidos permanentes: considerados terminalmente diferenciados e não proliferativos na vida pós-natal, incluindo neurônios e células musculares cardíacas. 19 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Lesões nesses tecidos são irreversíveis, resultando em cicatriz, embora haja alguma regeneração limitada por células-tronco em áreas específicas do cérebro e coração. - A maioria dos tecidos maduros contém uma combinação de células em divisão contínua, quiescentes que podem retornar ao ciclo celular, e células que perderam a habilidade replicativa. - Nos tecidos permanentes, o reparo é predominantemente por formação de cicatriz. CÉLULA TRONCO - A habilidade dos tecidos em se autorreparar depende de sua capacidade proliferativa, envolvendo células-tronco que equilibram replicação, autorrenovação e diferenciação. → Nos epitélios da pele e trato gastrointestinal, as células-tronco na camada basal se diferenciam e migram, substituindo células maduras que morrem e se desprendem. - Tipos de células-tronco: → Células-tronco embrionárias (ES): extremamente indiferenciadas, presentes no blastocisto, com alta capacidade de autorrenovação e potencial para formar células dos três folhetos germinativos. → Células-tronco adultas: menos indiferenciadas, encontradas em tecidos adultos, com capacidade de autorrenovação e diferenciação limitada às células do tecido onde estão. - Funções das células-tronco: → As ES originam todas as células do corpo. → As células-tronco adultas mantêm a homeostasia tecidual e regeneram tecidos com alta renovação, como pele e medula óssea, e alguns de baixa renovação, como coração e vasos. - As células-tronco residem em microambientes especializados (nichos), como a zona subventricular do cérebro, bulbo do folículo piloso na pele e limbo da córnea. - Células-tronco hematopoiéticas: → Encontradas na medula óssea, podem ser isoladas e usadas clinicamente para tratar leucemia e linfomas. → A medula óssea também contém células-tronco mesenquimais, que podem originar células mesenquimais (condroblastos, osteoblastos, mioblastos). - Medicina regenerativa: → Visa repovoar órgãos danificados com células derivadas de ES ou células-tronco adultas. → As células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) são reprogramadas a partir de células diferenciadas, como fibroblastos, adquirindo propriedades das células ES, e podem ser usadas para substituir células lesadas de pacientes sem risco de rejeição imunológica. - As células iPS representam um grande potencial terapêutico, embora seu uso clínico ainda precise ser comprovado. FATORES DE CRESCIMENTO - Os fatores de crescimento são proteínas que estimulam a sobrevivência, proliferação, migração e diferenciação celular, através da ligação a receptores específicos que influenciam a expressão gênica. → Eles promovem a entrada das células no ciclo celular, impedem a apoptose e aumentam a síntese de proteínas, preparando para a mitose. 20 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Muitos fatores de crescimento são produzidos por macrófagos e linfócitos recrutados ou ativados no local da lesão, bem como por células do parênquima ou estroma em resposta a lesões. - Mecanismos de sinalização: os fatores de crescimento se ligam a receptores específicos na superfície celular ou intracelular, desencadeando sinais bioquímicos que levam à ativação ou repressão da expressão gênica. A sinalização pode ser autócrina, parácrina ou endócrina. - Tipos de Receptores: → Receptores com atividade intrínseca de tirosina-cinase: ligação do ligante induz dimerização e fosforilação das subunidades do receptor, ativando proteínas intracelulares como RAS, PI3 e PLCg, levando à proliferação celular. → Receptores acoplados à proteína G: contêm sete segmentos transmembrana e se associam a proteínas G que, ao ligar GTP, ativam vias de sinalização como cAMP e IP3, que libera cálcio do retículo endoplasmático. → Receptores sem atividade enzimática intrínseca: moléculas transmembrana que, ao ligar o ligante, associam-se a JAKs, que ativam STATs, levando à transcrição de genes-alvo. - Esses mecanismos são essenciais para a regulação da resposta celular durante o processo de reparo tecidual. PAPEL DAMATRIZ EXTRACELULAR NO REPARO TECIDUAL - O reparo tecidual depende não apenas dos fatores de crescimento, mas também das interações entre as células e a matriz extracelular (MEC). - A MEC é uma rede complexa de proteínas que circunda as células e constitui uma parte significativa dos tecidos. → Ela sequestre água, proporcionando turgor aos tecidos moles, e minerais, que dão rigidez ao osso. → A MEC regula a proliferação, movimento e diferenciação das células, fornecendo um substrato para adesão e migração celulares e funcionando como reservatório para fatores de crescimento. → A MEC está em constante remodelamento, acompanhando a morfogênese, cura de feridas, fibrose crônica, invasão e metástase de tumores. - A MEC ocorre em duas formas básicas: → Matriz intersticial: presente nos espaços entre as células do tecido conjuntivo e estruturas de suporte vasculares e músculo liso. Sintetizada por células mesenquimais (como 21 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI fibroblastos), forma um gel amorfo tridimensional. Seus principais constituintes são colágenos fibrilares e não fibrilares, fibronectina, elastina, proteoglicanos, hialuronatos e outros elementos. → Membrana basal: organiza-se altamente ao redor das células epiteliais, endoteliais e musculares lisas, formando uma rede semelhante a uma tela de arame. Localiza-se abaixo dos epitélios, sendo sintetizada pelo epitélio e células mesenquimais subjacentes. Seus principais constituintes são colágeno tipo IV e laminina. Componentes da matriz extracelular - A MEC possui três componentes básicos: → Proteínas fibrosas estruturais: colágenos e elastinas, que conferem resistência à tensão e flexibilidade. → Géis hidratados: proteoglicanos e hialuronan, responsáveis pela elasticidade e lubrificação. → Glicoproteínas de adesão: conectam os elementos da matriz entre si e às células. - Colágeno: → Os colágenos consistem em três cadeias polipeptídicas trançadas em hélice tripla. → Tipos I, II, III e V formam fibrilas, essenciais para o tecido conjuntivo e cicatrização. → A resistência à tensão provém das ligações covalentes cruzadas, catalisadas pela enzima lisil-oxidase, dependente da vitamina C. • Deficiências nessa vitamina resultam em deformidades esqueléticas e problemas de cicatrização. → Defeitos genéticos no colágeno causam doenças como osteogênese imperfeita e síndrome de Ehlers-Danlos. → Colágenos não fibrilares, como o tipo IV, formam a membrana basal. - Elastina: → As fibras elásticas, formadas por elastina e fibrilina, permitem que os tecidos se expandam e contraiam após estresse físico, vital em vasos sanguíneos, útero, pele e ligamentos. → Defeitos na fibrilina causam anormalidades esqueléticas e paredes aórticas enfraquecidas, como na síndrome de Marfan. - Proteoglicanos e Hialuronan: → Proteoglicanos formam géis compressíveis que proporcionam elasticidade e lubrificação, essenciais na cartilagem das articulações. → Consistem em glicosaminoglicanos ligados a uma proteína central. O hialuronan, um grande mucopolissacarídeo, liga-se à água, formando uma matriz gelatinosa. → Além de fornecer compressibilidade, os proteoglicanos atuam como reservatórios para fatores de crescimentoe participam na proliferação, migração e adesão celulares. - Glicoproteínas de Adesão e Receptores de Adesão: 22 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI –. Essas moléculas facilitam a adesão célula-célula, a ligação das células com a MEC e a interação entre os componentes da MEC. • Fibronectina: um heterodímero sintetizado por várias células, possui domínios que se ligam a diversos componentes da MEC e às integrinas celulares, formando agregados em locais de cura de feridas. • Laminina: um heterodímero que conecta células aos componentes da MEC, como o colágeno tipo IV e heparan sulfato, modulando a adesão, proliferação, diferenciação e motilidade celular. • Integrinas: receptores transmembrana que ligam células a componentes da MEC, iniciando cascatas de sinalização que influenciam a locomoção, proliferação e diferenciação das células. Presentes na maioria das células, exceto eritrócitos, ligam-se a filamentos de actina, influenciando a forma e motilidade celular. Função da matriz extracelular - Suporte mecânico: → Proporciona ancoragem para células; → Facilita a migração celular; →Mantém a polaridade celular. - Controle da proliferação celular: → Liga-se e exibe fatores de crescimento; → Sinaliza através de receptores de integrinas; → Influencia a diferenciação celular, principalmente via integrinas. - Arcabouço para renovação tecidual: → Necessário para a manutenção da estrutura normal dos tecidos; → A integridade da membrana basal ou do estroma é crucial para a regeneração organizada dos tecidos; → A ruptura dessas matrizes impede a regeneração adequada, resultando em cicatrização. - Estabelecimento de microambientes teciduais: → A membrana basal atua como limite entre o epitélio e o tecido conjuntivo; → Participa no aparelho de filtração renal. PAPEL DA REGENERAÇÃO NO REPARO TECIDUAL - A capacidade de regeneração dos tecidos varia conforme o tipo de tecido e a gravidade da lesão: 23 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Tecidos lábis: → Exemplo: epitélio do trato gastrointestinal e da pele. → As células lesadas são rapidamente substituídas pela proliferação das células residuais e diferenciação das células-tronco, facilitada pela membrana basal intacta. → Fatores de crescimento específicos não estão totalmente definidos. → A perda de células sanguíneas é corrigida pela proliferação de progenitores hematopoiéticos, guiada por CSFs em resposta à redução de células sanguíneas. - Parênquima de órgãos com células estáveis: → Exemplo: pâncreas, adrenal, tireoide e pulmões. → Possuem alguma capacidade regenerativa, embora limitada, exceto no fígado. → A remoção cirúrgica de um rim induz hipertrofia e hiperplasia no rim contralateral, embora os mecanismos não sejam bem compreendidos. - Fígado: → Notável capacidade regenerativa após remoção cirúrgica de tecido. → Cerca de 40-60% do fígado pode ser removido em transplante de doador vivo ou hepatectomia parcial, desencadeando uma resposta proliferativa dos hepatócitos restantes e replicação de células hepáticas não parenquimatosas. → A regeneração é iniciada por citocinas (e.g., TNF, IL-6) e dependente de fatores de crescimento como HGF e TGF-α. - Condições para regeneração completa → A regeneração ou hiperplasia compensatória significativa só ocorre se a estrutura do tecido conjuntivo residual estiver intacta. → Se o tecido for extensamente danificado por infecção ou inflamação, a regeneração será incompleta e ocorrerá cicatrização. → Por exemplo, destruição extensiva do fígado com colapso da trama de reticulina resulta em cicatrização, mesmo com a capacidade regenerativa das células hepáticas. FORMAÇÃO DA CICATRIZ - Se a lesão é grave, crônica, ou afeta células do parênquima e do tecido conjuntivo, ou ainda se atinge células que não se dividem, o reparo não pode ocorrer apenas por regeneração. Nessas situações, o reparo se dá por: → Substituição das células não regeneradas por tecido conjuntivo, resultando na formação de uma cicatriz; → Combinação de regeneração de algumas células com formação de cicatriz. ETAPAS DA FORMAÇÃO DE CICATRIZ - O reparo por deposição de tecido conjuntivo segue a resposta inflamatória e ocorre em etapas sequenciais: 4 → Formação de novos vasos (angiogênese). 4Figura 2-28: regeneração do fígado A imagem de tomografia computadorizada ilustra a regeneração do fígado após um transplante de doador vivo: A) Fígado do doador antes da operação, com o lobo direito contornado que será removido para o transplante. B) Uma semana após a retirada do lobo direito, mostrando aumento do lobo esquerdo contornado, sem novo crescimento do lobo direito. 24 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Migração e proliferação de fibroblastos, seguida da deposição de tecido conjuntivo, criando o tecido de granulação, que é granular e róseo devido à abundância de vasos e leucócitos dispersos. →Maturação e reorganização do tecido fibroso (remodelamento), resultando em uma cicatriz fibrosa estável. - Etapas do Processo: → Início do reparo: dentro de 24 horas após a lesão, há migração de fibroblastos e proliferação de fibroblastos e células endoteliais. → Formação do tecido de granulação: em 3-5 dias, o tecido de granulação se forma, caracterizado por fibroblastos proliferantes, novos capilares delicados (angiogênese) em uma matriz extracelular frouxa e presença de células inflamatórias, especialmente macrófagos. → Deposição de colágeno e formação da cicatriz: o tecido de granulação acumula fibroblastos que depositam colágeno, resultando na formação de uma cicatriz. → Remodelamento: com o tempo, as cicatrizes passam por remodelação para se tornarem estáveis e funcionais. ANGIOGÊNESE - A angiogênese é o desenvolvimento de novos vasos a partir de vasos preexistentes, fundamental para a cura de lesões, desenvolvimento de circulações colaterais em áreas isquêmicas e crescimento de tumores. → Pesquisas visam aumentar a angiogênese (para melhorar fluxo sanguíneo em corações danificados) ou inibi-la (para impedir crescimento de tumores e vasos patológicos como na retinopatia diabética). - Etapas da angiogênese: → Vasodilatação induzida pelo NO e aumento da permeabilidade pelo VEGF. → Separação dos pericitos da superfície abluminal. →Migração de células endoteliais em direção à lesão. → Proliferação de células endoteliais atrás da frente de células migratórias. → Remodelação em tubos capilares. → Recrutamento de células periendoteliais (pericitos para capilares pequenos e células musculares lisas para vasos maiores). → Supressão da proliferação e migração endotelial e deposição de membrana basal. - A angiogênese depende de fatores de crescimento, interações célula-célula, interações com proteínas da matriz extracelular (MEC) e enzimas teciduais. - Fatores de crescimento envolvidos na angiogênese: → VEGF (Fator de Crescimento Endotelial Vascular): • VEGF-A: principal indutor de angiogênese após lesão e em tumores. • VEGF-B e PIGF: envolvidos no desenvolvimento vascular embrionário. 25 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI • VEGF-C e D: estimulam a linfangiogênese e angiogênese. • Receptores VEGFR-1, 2 e 3: VEGFR-2 é crucial para a angiogênese, expresso em células endoteliais. • Indutores: hipóxia, PDGF, TGF-α e TGF-β. • Funções: estimula migração e proliferação de células endoteliais, vasodilatação, formação do lúmen vascular. • Aplicações clínicas: tratamento de tumores, degeneração macular úmida, retinopatia da prematuridade, edema macular diabético. → FGF (Fator de Crescimento Fibroblástico): • FGF-1 (ácido) e FGF-2 (básico): estimulam proliferação de células endoteliais. • Funções: promovem migração de macrófagos, fibroblastos e células epiteliais para áreas lesionadas, ajudando na cicatrização de feridas. → Angiopoietinas (Ang1 e Ang2): • Funções: estabilização dos vasos recém-formados, recrutamento de pericitos e células musculares lisas, deposição de tecido conjuntivo. • Receptor Tie2: interage com Ang1. • PDGF e TGF-β: PDGF recruta células musculareslisas; TGF-β aumenta a produção de proteínas da MEC e reprime a proliferação e migração endotelial. - Outros aspectos da angiogênese: • Vasculogênese: formação de vasos sanguíneos a partir de angioblastos, derivados de hemangioblastos (precursores hematopoiéticos). • Progenitores Endoteliais: no adulto, derivam de células-tronco da medula óssea. • MEC e MMPs: as proteínas da MEC e as metaloproteinases de matriz (MMPs) facilitam o remodelamento e a extensão dos tubos vasculares. • Permeabilidade dos vasos recém-formados: causada por junções endoteliais incompletas e aumento da permeabilidade pelo VEGF, contribuindo para edema no tecido de granulação e em patologias oculares. 5 ATIVAÇÃO DE FIBROBLASTO E DEPOSIÇÃO DE TECIDO CONJUNTIVO - A deposição de tecido conjuntivo na cicatriz ocorre em duas etapas: → Migração e proliferação de fibroblastos: fibroblastos são recrutados para o local da lesão por fatores de crescimento como PDGF, FGF-2 e TGF-β, majoritariamente produzidos por células inflamatórias, especialmente macrófagos. → Deposição de proteínas da MEC: os fibroblastos produzem proteínas da matriz extracelular (MEC). - Com a progressão da cura, diminui o número de fibroblastos e novos vasos em proliferação, mas aumenta a deposição de MEC, particularmente colágeno, que é crucial para a resistência da ferida. - A síntese de colágeno pelos fibroblastos começa entre 3 a 5 dias após a lesão e continua por várias semanas. 5Figura 2-30: A:Tecido de granulação com muitos vasos sanguíneos, edema, MEC frouxa e algumas células inflamatórias. Pouco colágeno maduro visível (corado em azul pelo tricrômico). B:Cicatriz madura com colágeno denso e poucos canais vasculares dispersos (corado pelo tricrômico). 26 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → O tecido de granulação se transforma gradualmente em uma cicatriz composta de fibroblastos inativos, colágeno denso, fragmentos de fibras elásticas e outros componentes da MEC. Com a maturação, a cicatriz se torna menos vascularizada e mais pálida. - Fatores de crescimento na deposição de MEC e formação de cicatriz → TGF-β: • Estimula a produção de colágeno, fibronectina e proteoglicanos. • Inibe a degradação do colágeno, aumentando a atividade dos inibidores de proteinases teciduais (TIMPs). • Atua como citocina anti-inflamatória, limitando as respostas inflamatórias ao inibir a proliferação de linfócitos e a atividade de leucócitos. • Envolvido na formação de cicatrizes e no desenvolvimento de fibrose em pulmão, fígado e rins após inflamação crônica. → PDGF: • Promove a migração e proliferação de fibroblastos e células musculares lisas. • Contribui para a migração de macrófagos. • Produzido por plaquetas ativadas, células endoteliais, macrófagos ativados, células musculares lisas e células tumorais. → Citocinas: • IL-1 e IL-13: 01. Estimulam a síntese de colágeno nos fibroblastos. 02. Aumentam a proliferação e migração dos fibroblastos. RESUMO DAS FUNÇÕES - TGF-β e PDGF: cruciais para a produção e regulação de colágeno e outros componentes da MEC. - Citocinas (IL-1 e IL-13): ajudam na síntese de colágeno e proliferação de fibroblastos. REMODELAMENTO DE TECIDO CONJUNTIVO - Após a síntese e deposição, o tecido conjuntivo da cicatriz é modificado e remodelado. - O equilíbrio entre a síntese e a degradação das proteínas da matriz extracelular (MEC) define o resultado do reparo. - A degradação dos colágenos e outros componentes da MEC é realizada por metaloproteinases (MMPs), que dependem de zinco. → As MMPs diferem de outras enzimas degradantes da MEC, como elastase de neutrófilos, catepsina G e plasmina, que são serina-proteases. - Tipos de MMPs: → Colagenases intersticiais (MMP-1, 2, 3): clivam colágenos fibrilares. → Gelatinases (MMP-2, 9): degradam colágeno amorfo e fibronectina. → Estromelisinas (MMP-3, 10, 11): degradam diversos componentes da MEC, como proteoglicanos, laminina, fibronectina e colágenos amorfos. - As MMPs são produzidas por fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais, e sua síntese é regulada por fatores de crescimento e citocinas. - Elas são produzidas como precursores inativos (zimogênios) que são ativados por proteases, como a plasmina, no local da lesão. -nA atividade das MMPs é controlada pelos inibidores de metaloproteinases (TIMPs), que inibem rapidamente as MMPs ativadas. Durante a cicatrização, as MMPs remodelam a MEC e são reguladas pelos TIMPs. 27 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI FATORES QUE INFLUENCIAM O REPARO TECIDUAL - Infecção: prolonga a inflamação e aumenta a lesão local, sendo a principal causa de atraso na cicatrização. - Nutrição: deficiências de proteína e vitamina C inibem a síntese de colágeno e retardam a cicatrização. - Glicocorticóides: possuem efeitos anti-inflamatórios que podem inibir a produção de TGF-β e diminuir a fibrose, resultando em cicatrização deficiente. Porém, podem ser úteis para reduzir a opacidade da córnea em infecções. - Fatores mecânicos: pressão ou torção local podem causar a separação da ferida. - Perfusão deficiente: aterosclerose, diabetes ou obstrução venosa dificultam a cura. - Corpos estranhos: impedem a cura. - Tipo e extensão da lesão: influenciam a capacidade de reparo, com lesões em tecidos de células permanentes resultando em cicatrizes. - Localização da lesão: a inflamação em espaços teciduais pode levar à formação de exsudato, que pode ser resolvido por digestão ou organização com formação de cicatriz fibrosa. - Aberrações no crescimento celular e produção de MEC: podem resultar em queloides 6 ou excesso de tecido de granulação ("carne esponjosa"), que podem necessitar de intervenção cirúrgica para permitir a reepitelização. EXEMPLOS CLÍNICOS SELECIONADOS DE REPARO TECIDUAL E FIBROSE CURA DE FERIDAS CUTÂNEAS - A cura de uma ferida cutânea é um processo que envolve a regeneração do epitélio e a formação de cicatriz de tecido conjuntivo. - Dependendo da natureza e do tamanho da ferida, a cura de feridas cutâneas pode ocorrer por primeira ou segunda intenção. - Cura por primeira intenção: → Exemplo: reparo de uma incisão cirúrgica limpa e não infectada, aproximada por suturas, também chamada de cura por união primária. → Processo: • Primeiras 24-48 horas: 01. 24 horas: neutrófilos aparecem na borda da incisão e migram para o coágulo de fibrina. Células basais da epiderme aumentam a atividade mitótica. 02. 24-48 horas: células epiteliais de ambas as margens migram e proliferam ao longo das margens da derme, formando uma camada epitelial contínua sob a crosta. • Terceiro dia: 01. Macrófagos substituem os neutrófilos. 02. Tecido de granulação invade o espaço da incisão. 03. Fibras colágenas aparecem nas margens da incisão. 6 Figura 2-32 Queloide. A)Deposição excessiva de colágeno na pele formando uma cicatriz elevada conhecida como queloide. B)Deposição de tecido conjuntivo espesso na derme. 28 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI • Quinto dia: 01. Neovascularização atinge o ápice. 02. Tecido de granulação preenche o espaço da incisão. 03. Fibrilas colágenas começam a formar pontes. 04. Epiderme recupera espessura normal com queratinização superficial. • Segunda semana: 01. Continuação da proliferação de fibroblastos e acúmulo de colágeno. 02. Diminuição do infiltrado leucocitário, edema e vascularização. 03. Início do processo de "empalidecimento" da cicatriz. • Fim do primeiro mês: 01. Cicatriz consiste em tecido conjuntivo celular, coberta por epiderme normal. 02. Anexos dérmicos destruídos na linha da incisão são perdidos permanentemente. 03. A força tênsil da ferida aumenta com o tempo. • Resultado: pequena cicatriz com contração mínima da ferida. - Cura por segunda intenção: → Características: • Processo complexo: envolve regeneração e cicatrização em casos de grandes feridas, abscessos, ulcerações, e necrose isquêmica (infarto). • Reação inflamatória Intensa: mais tecido de granulação, maior acumulação de MEC, e formaçãode uma grande cicatriz. A contração da ferida é mediada por miofibroblastos. → Diferenças em relação à união primária: • Coágulo maior: forma-se uma crosta rica em fibrina e fibronectina na superfície da ferida. 29 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI • Inflamação intensa: maior volume de tecido necrótico, exsudato e fibrina necessitando remoção, aumentando a inflamação. • Mais tecido de granulação: necessário para preencher o espaço e fornecer suporte à reepitelização, resultando em maior massa de tecido cicatricial. • Contração da ferida: grandes defeitos cutâneos podem reduzir de 5-10% do tamanho original em seis semanas, devido à ação dos miofibroblastos, que possuem características de células musculares lisas. • Resultado: formação de uma grande cicatriz com significativa contração da ferida, maior reação inflamatória, e maior necessidade de tecido de granulação. - Resistência da ferida: 7 → Após suturas: feridas suturadas têm cerca de 70% da resistência da pele normal. → Após remoção das suturas (1 semana): a resistência cai para aproximadamente 10% da pele intacta. → Primeiras 4 Semanas: a resistência aumenta rapidamente. → Primeiros 2 meses: a força tênsil melhora devido à síntese de colágeno superando sua degradação. → Modificações estruturais: incluem ligação cruzada e aumento do tamanho das fibras de colágeno. → 3 meses: a resistência da ferida atinge cerca de 70-80% do normal e não aumenta significativamente após isso. FIBROSE EMÓRGÃO PARENQUIMATOSO - A deposição de colágeno é essencial na cura de feridas, mas em excesso, é chamada de fibrose, geralmente associada a doenças crônicas. - Os mecanismos básicos são similares aos da cicatrização, porém, na fibrose, o estímulo nocivo persistente leva à deposição excessiva de colágeno e outros componentes da MEC. → Isso ocorre em doenças como fibrose pulmonar, contribuindo para disfunção e falha do órgão. 7 Figura 2-34: Cura de úlceras cutâneas: A) Úlcera por pressão comum em diabéticos. B) Grande lacuna entre bordas da lesão. C) Camada fina de reepitelização epidérmica e abundante tecido de granulação na derme. D) Continuação da reepitelização e contração da ferida. 30 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI DOENÇAS DO SISTEMA IMUNE CAP 4 (PÁG. 99-110 ৷ 220-225) IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA - A imunidade inata é mediada por células e proteínas que estão sempre presentes e prontas para lutar contra os microrganismos. → Os principais componentes da imunidade inata são barreiras epiteliais da pele, trato intestinal e trato respiratório, que impedem a entrada de microrganismos, leucócitos fagócitos (neutrófilos e macrófagos), NK e várias proteínas plasmáticas circulantes (as proteínas que fazem parte do sistema complemento são as mais importante). - A imunidade adaptativa é a proteção contra essas infecções que requerem mecanismos mais especializados e poderosos. Normalmente é silenciosa e responde à presença de microrganismos infecciosos, tornando-se ativa, expandindo e gerando mecanismos potentes para neutralizar e eliminar os microrganismos. → Seus componentes são os linfócitos e seus produtos. → Imunidade humoral: mediada por proteínas solúveis chamadas anticorpos que são produzidas por linfócitos B (células B). → Imunidade mediada por célula: mediada por linfócitos T (células T). → Os anticorpos provêem proteção contra microrganismos extracelulares no sangue, secreções mucosas e tecidos, Os linfócitos T são importantes na defesa contra microrganismos intracelulares. - Quando o sistema imunológico é inadequadamente disparado ao não devidamente controlado, os mesmos mecanismos que estão envolvidos na defesa do hospedeiro causam lesões nos tecido e doenças. → A reação das células da imunidade inata e adaptativa pode ser manifestada como inflamação (pode ser a base de várias doenças humanas). CÉLULAS E TECIDOS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO - As células do sistema imunológico consiste em linfócitos, que reconhecem antígenos e montam resposta imunológica adaptativa, células especializadas apresentadoras de antígeno (APCs), que capturam e exibem antígenos microbianos e outros para os linfócitos, e várias células efetoras, cuja função é a eliminação de microrganismos e outros antígenos. LINFÓCITOS 31 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Presentes na circulação e em vários órgãos linfóides. - Os linfócitos T são maturados no timo, enquanto os linfócitos B são maturados na medula óssea. - A enorme diversidade de reconhecimento do antígeno é gerada pelo rearranjo somático de genes dos receptores de antígenos durante a maturação de linfócitos e as variações que são introduzidas durante a união de segmentos de genes diferentes, para formar os receptores de antígenos. → Esses receptores de antígenos são rearranjados e expressos em linfócitos, mas não em qualquer outra célula - Pelo fato de cada linfócito ter um único rearranjo do DNA a análise molecular dos rearranjos em populações de células pode distinguir uma proliferação policlonal (não neoplásica) de linfócitos de proliferações de expansão monoclonais (neoplásicas). Linfócito T - São as células efetoras da imunidade intracelular e as ‘’células auxiliares’’ para as respostas de anticorpos contra antígenos protéicos. - Não detectam antígenos livres ou circulantes. Em vez disso, a grande maioria das células T reconhece apenas fragmentos peptídicos de antígenos ligados a proteínas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). → A função normal das moléculas de MHC é exibir peptídeos para o reconhecimento por linfócito T. - As células T funcionam interagindo com outras células, seja para matar as células infectadas, seja para ativar fagócitos e linfócitos B que tenham ingerido proteínas antigênicas. - Restrição MHC: em cada pessoa, as células T reconhecem apenas peptídeos apresentados pelas moléculas de MHC dessa pessoa, que, é claro, são apenas as moléculas de MHC que as células T normalmente encontram. - Antígenos peptídicos apresentados por moléculas próprias de MHC são reconhecidos pelo receptor de células T (TCR), que é um heterodímero composto de uma cadeia de proteínas com ligações dissulfeto α e β. → Os TCRs são ligados não covalentemente a um grupamento de cinco cadeias polipeptídicas invariáveis, as proteínas y, δ e ε do complexo molecular CD3 de duas cadeias ไ. As proteínas CD3 e as cadeias ไ não se ligam a antígenos; em vez disso, elas estão ligadas ao TCR e fornecem sinais bioquímicos intracelulares após o reconhecimento de antígenos TCR. - Em adição a essas proteínas de sinalização, as células T expressam férias outras moléculas invariáveis que exercem diversas funções. CD4 e CD8 são expressas em subconjuntos de células T distintas e servem como co receptores para a ativação das células T. 32 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Durante o reconhecimento de antígenos, as moléculas CD4 nas células T se ligam a porções invariantes das moléculas de MHC classe II em APCs selecionadas; de modo análogo, CD8 liga-se a moléculas de MHC classe I. → As células T que expressam CD4 e CD8 executam funções diferentes, mas sobrepostas. As células T CD4 + são células T ‘’auxiliares’’ porque secretam citocinas que auxiliam as células B a produzir anticorpos e também ajudam os macrófagos a destruir os microrganismos fagocitados. Também desempenham um papel mais importante, diretamente matando as células infectadas por vírus ou tumorais, e, portanto, são chamados de linfócitos citotóxicos (CTLs). - Outras proteínas invariantes importantes nas células T incluem CD28, que funciona como o receptor para as moléculas que são induzidas nas APCs por microrganismos, e várias moléculas de adesão que reforçam a ligação entra as células T e as APCs, e controlam a migração das células T para diferentes tecidos. → Células T yδ, que não expressam CD4 e CD8, reconhecem moléculas não proteicas, mas os seus papéis funcionais não são bem compreendido. → Células T NK que reconhecem glicolipídios microbianos e podemdesempenhar um papel na defesa contra alguma infecção. Seus receptores são muito menos diversificados do que os receptores das células T ‘’convencionais’’, sugerindo que o molde reconhece estruturas microbianas conservadas. → Linfócitos T reguladores funcionam para suprimir as respostas imunológicas. Moléculas do complexo principal de histocompatibilidade: o sistema de exposição de peptídeos da imunidade adaptativa - O MHC humano, conhecido como complexo antígeno leucocitário humano (HLA) consiste em um aglomerado de genes do cromossomo 6. - O sistema HLA é altamente polimórfico, isto é, existem várias formas alternativas de gene em cada loci. Tal diversidade proporciona um sistema em que uma vasta gama de peptídeos pode ser exibida pelas moléculas de MHC para reconhecimento por células T. - Os produtos de genes do MHC encontram-se em duas categorias principais: → Moléculas MHC de classe I são codificadas por 3 loci intimamente ligados, designados HLA-A, HLA-B e HLA-C. Cada uma dessas 3 moléculas é um heterodímero, consistindo em uma cadeia α não covalente polimórfica de 44 kDa associada a polipeptídeo β²-microgobulina invariante de 12 kDa. As moléculas de MHC de classe I se ligam e exibem peptídeos derivados de proteínas sintetizadas no citoplasma da célula. Pelo fato de a molécula MHC de classe I estar presente em todas as células nucleadas, todos os vírus que infectam as células podem ser detectados e eliminadas por CD8+ CTLs. 33 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Moléculas MHC classe II são codificadas por genes da região HLA-D, que contém pelo menos 3 sub-regiões: DP, DQ e DR. São heterodímeros de subunidade α e β polimórficas ligadas não-covalentemente. As moléculas de MHC classe II se ligam a peptídeos derivados de proteínas sintetizadas dora das células e ingeridos nas células. Essa propriedade permite às células T CD4+ reconhecerem a presença de agentes patogênicos extracelulares e orquestrar uma resposta protetora. → Moléculas de classe III incluem componentes do complemento (C2, C3 e Bf), a citocina fator de necrose tumoral (TNF) e a linfotoxina. - Cada pessoa herda um alelo HLA de cada progenitor; tipicamente, então, duas moléculas diferentes são expressas para cada loci de HLA. → A expressão de muitas moléculas diferentes de MHC permite a cada célula apresentar grande variedade de antígenos peptídeos. - A combinação de alelos de HLA para cada pessoa é chamada de haplótipo de HLA. → Cada pessoa possui alelos de HLA que diferem em certa medida para cada outra pessoa, enxertos de qualquer doador virtualmente vão evocar respostas imunológicas no receptor e serão rejeitados (exceto, claro, para gêmeos idênticos). - Acredita-se que o polimorfismo de genes do MHC surgiu para permitir a exibição e a respostas a qualquer peptídeo microbiano concebível encontrado no ambiente. - A capacidade de qualquer dado alelo do MHC de ligação dos peptídeos antigênicos gerados a partir de determinado patógeno vai determinar se as células T específicas de uma pessoa podem realmente ‘’ver’’ e responder a esse patógeno. Linfócito B - Derivados da medula óssea são as células que produzem anticorpos e são, portanto, as células efetoras da imunidade humoral. - As células B reconhecem o antígeno por meio de anticorpos ligados à membrana da classe de imunoglobulina M (IgM), expressa na sua superfície em conjunto com moléculas sinalizadoras para formar o complexo de células B (BCR). - As células B podem reconhecer e responder a muito mais estruturas químicas, além disso, as células B (e os anticorpos) reconhecem formas nativas desses antígenos. - A diversidade de anticorpo é gerada durante o rearranjo somático de imunoglobulinas. As células B expressam várias moléculas invariantes que são responsáveis pela transdução do sinal e ativação das células. - Após a estimulação, as células B diferenciam-se em plasmócito, que segrega grande quantidade de anticorpos, os mediadores da imunidade humoral. - Existem cinco classes, ou isotipos, de imunoglobulinas: → IgA: isotipo importante em secreções mucosas; → IgE: está presente na circulação em concentrações muito baixas e também é encontrada colada às superfícies dos mastócitos do tecido; → IgD: é expressa nas superfícies de células B, mas não é secretada. 34 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI Células natural killer (NK) - São linfócitos que surgem a partir do progenitor linfóide comum que dá origem a linfócitos T e B. No entanto, são células da imunidade inata e não expressam receptores altamente variáveis e clonalmente distribuídos para os antígenos. Por isso, elas não têm especificidade tão diversas como as células T e B. - As células NK têm dois tipos de receptores: → Inibitórios: reconhecem moléculas de MHC de classe I próprias, que são expressas em todas as células saudáveis. → Ativadores: reconhecem moléculas que são expressas ou reguladas em células estressadas, células infectadas ou células com danos no DNA. - Normalmente os efeitos dos receptores inibitórios dominam sobre os receptores de ativação, impedindo assim a ativação das células NK. → As infecções e o estresse estão associados a uma expressão reduzida de moléculas de MHC de classe I, liberando assim as células NK da inibição. Ao mesmo tempo, existe um aumento no acoplamento dos receptores de ativação. O resultado final é que as células NK são ativas, e as células infectadas ou estressadas são mortas e eliminadas. CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENOS - São especializadas em capturar antígenos microbianos e exibi-los para os linfócitos. Células dendríticas - Expressam níveis elevados de MHC de classe II e moléculas coestimulatórias de células T e de função para capturar e apresentar antígenos às células T. - As DCs residem no epitélio e abaixo dele, onde estão estrategicamente localizadas para capturar microrganismos que os penetram. → Também estão presentes nas zonas das células T nos tecidos linfóides, onde apresentam antígenos às células T circulantes nesses tecidos e no interstício de muitos órgãos não linfóides, onde eles são preparados para capturar os antígenos de microorganismos invasores. - DC plasmocitoides: são as fontes principais de citocinas interferon antivirais do tipo I, produzida em resposta a muitos vírus. - Células foliculares dendríticas (FDCs): carregam receptores para as caudas Fc das moléculas de IgG e de proteínas do complemento e, consequentemente, formam uma eficiente armadilha para antígenos ligados a anticorpos e complemento. → Essas células apresentam os antígenos aos linfócitos B ativados em folículos linfóides e promovem uma resposta secundária de anticorpos, mas não estão envolvidas na captura de antígenos para a exibição a células T. Outras células apresentadoras de antígenos: - Macrofagos: ingerem microrganismos e antígenos particulados, e exibem os peptídeos para o reconhecimento pelos linfócitos T. → Essas células T ativam os macrófagos para matar microrganismos. As células B apresentam peptídeos às células T auxiliares e recebem sinais que estimulam as respostas de anticorpos a antígenos protéicos. CÉLULAS EFETORAS - As células NK são da linha de frente das células efetoras em que elas podem reagir rapidamente contra as células ‘’estressadas’’. 35 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Os plasmócitos secretores de anticorpos são as células efetoras da imunidade humoral. Os linfócitos, as células T CD4+ auxiliares e as CTLs CD8+ são células efetoras da imunidade mediada por células. → Os macrófagos, se ligam aos microrganismos que são revestidos com anticorpos ou complemento e, em seguida, agem fagocitando e destruindo esses microrganismos, atuando assim como células efetoras da imunidade humoral. Também respondem a sinais de células T auxiliares, servindo assim como células efetoras de imunidade celular. - Os linfócitos T secretam citocinas que recrutam e ativam outros leucócitos, como neutrófilos e eosinófilos, e, em conjunto, esses tipos de células funcionam na defesacontra vários agentes patogênicos. TECIDOS LINFÓIDES - Órgãos generativos (primários): linfócitos expressam receptores de antígeno e são maturados. → São o timo e a medula óssea. - Órgãos linfóides periféricos (secundários): desenvolvem respostas imunes adaptativas. → São os linfonodos, o baço e os tecidos linfóides das mucosas e cutâneo. - Os linfócitos T e B são anatomicamente organizados de uma maneira que facilita a resposta imunitária adaptativa. VISÃO GERAL DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA NORMAL RESPOSTA INICIAL DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INATO AOS MICRORGANISMOS - Os microrganismos infecciosos utilizam o epitélio da pele, dos tratos gastrointestinal e respiratório como rotas de entrada para tentar colonizar o hospedeiro. - Os epitélios funcionam como barreiras físicas e funcionais contra as infecções e eliminam microrganismos através da produção de peptídeos antibióticos e da ação de linfócitos intraepiteliais. → Se atravessarem esse epitélio eles encontram fagócitos (recrutados do sangue para os tecidos) e macrófagos, que vivem nos tecidos debaixo do epitélio. - Em resposta ao reconhecimento dos microrganismos, fagócitos, DCs e muitos outros tipos celulares que secretam citocinas promovem a inflamação e morte do microrganismo e aumentam a resposta imunológica protetora. - O principal receptor é o tipo Toll (TRLs), o qual reconhece componentes bacterianos e virais. - As células NK destroem células infectadas por vírus e produzem a citocina IFN-y ativadora de macrófagos. - O microrganismo entra no sangue, muitas proteínas plasmáticas (incluindo o sistema complemento), reconhecem o microrganismo e são ativadas, seus produtos destroem os microrganismos e cobram (opsonização) para a fagocitose. - A imunidade inata estimula a imunidade adaptativa. 36 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI CAPTURA E APRESENTAÇÃO DOS ANTÍGENOSMICROBIANOS 1. Captura de antígenos: as células presentadoras de antígenos detectam e capturam os antígenos microbianos por meio de receptores de superfície, como os receptores de reconhecimento de padrões (PRRs). Esses receptores reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) presentes nas superfícies dos microrganismos, permitindo que as células identifiquem e se dirijam especificamente para os invasores. 2. Processamento dos antígenos: após a captura, os antígenos são internalizados pelas células apresentadoras de antígenos e processados em fragmentos menores dentro de compartimentos intracelulares, como os lisossomos. Durante esse processo, os antígenos são degradados em peptídeos que podem ser apresentados na superfície celular. 3. Apresentação dos antígenos aos linfócitos T: os peptídeos derivados dos antígenos são então apresentados nas moléculas do Complexo de Histocompatibilidade Principal (MHC) as células apresentadoras de antígenos. Os peptídeos ligados ao MHC são exibidos na superfície celular e podem ser reconhecidos pelos receptores de células T específicos (TCRs) presentes nos linfócitos T. 4. Ativação dos linfócitos T: quando os linfócitos T reconhecem os peptídeos antigênicos apresentados no MHC das células presentadoras de antígenos, eles se tornam ativados e iniciam uma resposta imunológica específica contra o microrganismo invasor. Isso pode incluir a proliferação e diferenciação dos linfócitos T em subpopulações efetoras, como as células T auxiliares (CD4+) e as células T citotóxicas (CD8+), que desempenham papéis importantes na eliminação do patógeno. - Essa segregação de diferentes antígenos é essencial para as funções especializadas das células T CD4+ e CD8+. - Antes de ser reconhecido pela célula B e T, o microrganismo desencadeia uma resposta imunológica inata. Essas respostas ativam as APCs a expressarem moléculas coestimuladoras a secretar citocinas que estimulam a proliferação e a diferenciação de linfócitos T. - A resposta inata também resulta na ativação do complemento, gerando produtos de clivagem que aumentam a proliferação e a diferenciação dos linfócitos B. - A necessidade do sinal 2 desencadeado pelo patógeno garante que a resposta imunológica seja induzida pelos microrganismos e não por substâncias inócuas. 37 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA: ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS T E ELIMINAÇÃO DOSMICROORGANISMOS ASSOCIADOS ÀS CÉLULAS - Os linfócitos T virgens são ativados pelo antígenos e coestimuladores nos órgãos linfóides periféricos, proliferam e se diferenciam em células efetoras, das quais a maioria migra para qualquer local em que o antígeno esteja presente. - Quando ativados, os linfócitos T secretam citocinas que atuam como fatores de crescimento e de diferenciação para os linfócitos e outras células são mediadoras da comunicação entre leucócitos. Citocinas: moléculas mensageiras do sistema imunológico - São polipeptídeos que atuam como mediadores da inflamação e resposta imunológica. - Elas são sintetizadas e secretadas em resposta a estímulos externos que podem ser produtos microbianos, reconhecimento de antígeno e outras citocinas. - Sua secreção é tipicamente transitória e controlada por mecanismos de transcrição e pós-transcricionais. → Autócrina: na célula que produz a citocina; → Parácrina: nas células adjacentes; → Endócrina: distante do local de produção. - As citocinas podem ser agrupadas em diversas classe com base em suas atividades e funções biológicas: → Citocinas envolvidas na imunidade inata e inflamação: as principais citocinas nesse grupo são TNF e a interleucina 1 (IL-1). IL-12 e IFN-y. IL-6, IL-23 e diversas outras citocinas participam da resposta imunológica inata inicial. → Citocinas que regulam as respostas dos linfócitos e funções efetoras da imunidade adquirida: as principais fontes dessas citocinas são os linfócitos T auxiliares CD4+, estimulados por antígenos e coestimuladores. Essas citocinas são as participantes-chave das fases de indução e efetoras das respostas da imunidade celular. → Citocinas que estimulam a hematopoiese: aumentam a produção de leucócitos que são consumidos durante as reações imunológicas e inflamatórias. Funções efetoras dos linfócitos T - Uma das primeiras respostas das células T auxiliares CD4+ é a secreção da citocina IL-2 e a expressão de receptores de alta afinidade para a IL-2. → A IL-2 é um fator de crescimento que atua nessa classe de linfócito T, estimulando sua proliferação e levando a um aumento no número de linfócitos específicos para o antígeno. - Os subtipos mais bem definidos das células auxiliares CD4+ são os tipos TH1, TH2 e TH17: 38 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → TH1: produzem citocina IFN-y, que ativa os macrófagos e estimula as células B a produzirem anticorpos que ativam o complemento e cobrem os microrganismos para que sejam fagocitados. → TH2: produzem IL-4, que estimula as células B para que se diferenciam em plasmócitos secretores de IgE; IL-5, que ativa eosinófilos; e IL-13, que ativa as células epiteliais das mucosas a secretar muco e expelir os microrganismos, ativando os macrófagos a secretar fatores de crescimento importantes para o reparo tecidual. → TH17: produzem a citocina IL-17, que recrutam neutrófilos e dessa forma promovem a inflamação; as células efetoras migram para os locais de infecção acompanhados de lesão tecidual. - Os principais mediadores das funções das células T auxiliares incluem o ligante CD40 (CD40L), que se liga ao seu receptor, o CD40, nas células B e macrófagos. → As células T CD4 + efetoras diferenciadas do tipo TH1 reconhecem peptídeos microbianos nos macrófagos que ingeriram patógenos. → As células T expressam CD40L, que se liga ao CD40 nos macrófagos, e secretam a citocina IFN-y, um potente ativador de macrófagos. Essa combinação resulta na indução de substâncias microbianas potentes nos macrófagos, ocasionando a destruição do patógeno ingerido. - Células T auxiliares foliculares: células T CD4 + que permanecem nos órgãos linfóides nos quais elas são ativadas e então migram para os folículos,onde estimulam a resposta por anticorpos. - Os linfócitos CD8 + ativados se diferenciam em CTL, que destroem células portadoras de microrganismos em seu citoplasma. → Ao destruir as células infectadas, as CLTs eliminam os reservatórios de infecção. IMUNIDADE HUMORAL: ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS B E ELIMINAÇÃO DOS MICRORGANISMOS EXTRACELULARES - Após serem ativados, os linfócitos B proliferam e depois se diferenciam em plasmócitos que secretam diferentes classes de anticorpos com funções distintas: → Células T independente: possuem múltiplos determinantes antigênicos idênticos (epítopos) que são capazes de se ligar a diversos receptores de antígenos em cada célula B e iniciar o processo de ativação das células B. → Células T dependentes: não são capazes de se ligar a muitos receptores de antígenos, e a resposta completa das células B a proteína antigênica necessita de ajuda a partir das células T CD4 +. Podem também atuar como APCs (os linfócitos T auxiliares expressam CD40L e secretam citocinas, que trabalham em conjunto para ativas as células B. - Cada plasmócito secreta anticorpos que possuem o mesmo local de ligação de antígenos que os anticorpos da superfície (receptores de células B) que primeiro reconhecem o antígeno. - A produção de anticorpos diferentes funcionalmente, todos com a mesma especificidade, é chamada de troca de classe de cadeia pesada (isotipo); isso oferece plasticidade à resposta dos anticorpos com alta afinidade pelo antígeno. Esse processo melhora a resposta da imunidade humoral. - A resposta humoral combate microrganismos de diversas maneiras: → Neutralização de patógeno: os anticorpos se ligam aos microrganismos e evitam que eles infeccionem as células; 39 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → IgG opsonizam os microrganismos: marcando-os para a fagocitose, já que as células fagocitárias (neutrófilo e macrofago) expressam receptores para a extremidade Fc das moléculas de IgG; → IgG e IgM ativam o sistema complemento através da via clássica, e os seus produtos promovem a fagocitose e a destruição dos microrganismos; → IgA é secretado na mucosa e neutraliza os anticorpos na luz dos tratos respiratório e gastrointestinal; → Imunidade passiva: IgG é ativamente transportada através da placenta, protegendo o recém nascido até que o seu sistema imunológico amadureça; → A IgE cobre parasitas helmínticos e atua junto com os mastócitos e eosinófilos para destruí-los. DECLÍNIO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA EMEMÓRIA IMUNOLÓGICA - A maior parte dos linfócitos efetores induzidos pelos patógenos infecciosos morre por apoptose depois que o microrganismo é eliminado e o sistema imunológico retorna ao estado de repouso (homeostasia). - Células de memória: sobrevivem por muitos anos após a infecção e respondem mais rápido e efetivamente contra o antígeno do que células virgens. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE: MECANISMOS DE LESÕES IMUNOMEDIADAS - As reações imunológicas prejudiciais estão agrupadas como hipersensibilidade, e as doenças resultantes são chamadas de doenças de hipersensibilidade. CAUSA DAS REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE - Autoimunidade: ocorre quando o sistema imunológico ataca os próprios tecidos e células do corpo devido a uma falha na autotolerância, levando ao desenvolvimento de doenças autoimunes. - Reações contra microrganismos: podem resultar em doenças quando a resposta imunológica é excessiva, como na glomerulonefrite pós-estreptocócica, ou quando os tecidos do hospedeiro são danificados durante a erradicação da infecção, como na tuberculose. 40 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Reações contra antígenos ambientais: algumas pessoas têm uma resposta imunológica exagerada a substâncias inofensivas do ambiente, como pólen, pelos de animais ou ácaros de poeira, resultando em alergias. Essa predisposição genética pode levar a respostas imunes anormais a antígenos não infecciosos. - A lesão tecidual é causada pelos mesmos mecanismos que normalmente eliminam patógenos infecciosos. - A resposta é desencadeada e mantida impropriamente. → Como os estímulos para essas respostas imunológicas anormais são difíceis ou impossíveis de ser eliminados e o sistema imunológico tem muitas vias intrínsecas de feedback positivo, ou seja, uma vez que a resposta imunológica patológica se inicia é difícil controlá-la ou finalizá-la. → Essas doenças de hipersensibilidade tendem a ser crônicas. TIPOS DE REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE - São tradicionalmente subdivididas em quatro tipos baseados no principal mecanismo imunológico para danos. - Três são variações da lesão mediada por anticorpos, enquanto a quarta é mediada por células T: → Hipersensibilidade imediata (tipo I): é a alergia clássica, desencadeada pela ativação dos linfócitos T auxiliares do subtipo TH2, levando à produção de anticorpos IgE. Quando o IgE se liga aos mastócitos e basófilos, a exposição ao alérgeno desencadeia a liberação de mediadores que causam sintomas alérgicos, como inflamação, urticária e broncoconstrição. → Desordens de hipersensibilidade mediada por anticorpos (tipo II): neste tipo, os anticorpos se ligam a antígenos presentes nas células ou tecidos, levando à sua destruição pela fagocitose ou ativando o complemento, o que causa inflamação. → Desordens de hipersensibilidade mediada por complexos imunes (tipo III): resultam da formação de complexos antígeno-anticorpo que circulam no sangue e podem se depositar nos tecidos, desencadeando uma resposta inflamatória que pode causar danos aos tecidos. → Desordens de hipersensibilidade celular (tipo IV): essa forma de hipersensibilidade envolve principalmente respostas imunológicas mediadas por linfócitos T, como os subtipos TH1 e TH17, que produzem citocinas inflamatórias e ativam macrófagos e neutrófilos, levando a danos teciduais. As células T citotóxicas CD8+ também podem estar envolvidas na destruição direta de células do hospedeiro. 41 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI DOENÇAS AUTOIMUNES - Causa: reação imunológica aos antígenos próprios (autoimunidade). - Em muitas doenças, múltiplos auto anticorpos de alta afinidade vêm sendo identificados e, em alguns casos, causam anormalidades patológicas. - As doenças autoimunes variam desde aquelas em que as respostas imunológicas são direcionadas contra determinado órgão ou tipo celular, resultando em dano tecidual localizado, a doenças que envolvem diversos sistemas, caracterizadas por lesões em diversos órgãos e associadas a múltiplos autoanticorpos ou reações mediadas por células T contra diversos antígenos do hospedeiro. - São frequentemente referidas como desordens do “colágeno vascular” ou do “tecido conjuntivo”, mesmo quando as reações imunológicas não são especificamente direcionadas contra constituintes do tecido conjuntivo ou vasos sanguíneos. TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA - Refere-se à ausência de uma resposta do sistema imunológico a um determinado antígeno. - Autotolerância é um aspecto específico da tolerância imunológica, onde o sistema imunológico não reage contra os antígenos do próprio organismo. → No contexto da autotolerância, bilhões de receptores de antígenos são aleatoriamente gerados nos linfócitos T e B em desenvolvimento, o que pode resultar na produção de receptores que reconhecem antígenos próprios. → Devido à possibilidade de produção de receptores autorreativos, existem mecanismos para evitar respostas autoimunes. - Tolerância Central: → É o principal mecanismo de tolerância, ocorrendo no timo para as células T e na medula óssea para as células B; → Durante o desenvolvimento, as células T e B que reconhecem antígenos próprios são eliminadas por apoptose, um processo conhecido como deleção clonal. → No timo, os antígenos próprios são apresentados às células T em desenvolvimento por células apresentadoras de antígenos (APCs) associadas ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC) do próprio indivíduo. → Um avanço recente é a identificação do regulador autoimune (AIRE), um fator de transcriçãoque promove a expressão de antígenos próprios aparentemente periféricos no timo, ajudando na tolerância central. - Tolerância Periférica: → Refere-se a mecanismos que silenciam ou suprimem as respostas autoimunes no ambiente periférico do organismo, fora dos órgãos linfóides centrais. → A energia é um mecanismo pelo qual as células T ou B tornam-se inativas funcionalmente após o encontro com antígenos próprios em condições específicas, como a falta de sinais coestimulatórios. → As células T reguladoras (Tregs) suprimem as respostas autoimunes, produzindo citocinas imunossupressoras e bloqueando moléculas coestimulatórias nas APCs. 42 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → O reconhecimento de antígenos próprios pode induzir a apoptose das células autorreativas, evitando assim a ativação do sistema imunológico contra tecidos do próprio organismo. MECANISMO DA AUTOIMUNIDADE - Certas mutações podem comprometer uma ou outra via de autotolerância, causando autoimunidade patológica. - Acredita-se que a ruptura da autotolerância e o desenvolvimento de autoimunidade resultam de uma combinação de genes suscetíveis herdados, que influenciam a tolerância dos linfócitos e fatores ambientais, como infecção ou danos teciduais, que alteram a apresentação de antígenos próprios. Fatores genéticos na autoimunidade - Hereditariedade: as doenças autoimunes têm uma tendência a ocorrer em famílias, com uma maior incidência da mesma doença em gêmeos monozigóticos (idênticos) em comparação com gêmeos dizigóticos (fraternos). - Ligação ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC): muitas doenças autoimunes estão associadas aos alelos do MHC, principalmente os alelos da classe II (HLA-DR, HLA-DQ). A presença de certos alelos do MHC aumenta o risco de desenvolvimento de doenças autoimunes em comparação com indivíduos sem esses alelos. - Risco relativo: o risco relativo varia dependendo da doença autoimune e do alelo do MHC associado. Por exemplo, o alelo HLA-DR4 está associado a um risco 43 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI aumentado de artrite reumatóide, enquanto o alelo HLA-B27 está fortemente associado à espondilite anquilosante. - Polimorfismos genéticos: análises genéticas de ligação de todo o genoma e estudos em familiares identificaram vários polimorfismos genéticos associados a doenças autoimunes. Alguns desses polimorfismos podem influenciar mecanismos gerais de autotolerância e regulação imunológica, enquanto outros podem afetar a sensibilidade de órgãos-alvo ou a apresentação de antígenos próprios específicos. Papel das infecções e lesão tecidual - A relação entre infecções e autoimunidade é complexa e envolve diversos mecanismos: → Mimetismo molecular: microrganismos como vírus podem apresentar antígenos que se assemelham aos do próprio hospedeiro, desencadeando uma resposta autoimune direcionada aos tecidos do corpo. Um exemplo é a doença cardíaca reumática, onde a resposta imune contra estreptococos apresenta reação cruzada com antígenos cardíacos. → Estímulo da resposta imune: às infecções podem estimular moléculas coestimuladoras nas células apresentadoras de antígenos (APCs), quebrando a energia das células T e levando à sua ativação subsequente. - Embora haja possíveis mecanismos pelos quais os agentes infecciosos podem contribuir para a autoimunidade, atualmente não há evidências claras de que um microrganismo específico seja a causa das doenças autoimunes. Além disso, algumas infecções podem paradoxalmente proteger os indivíduos de certas doenças autoimunes, como o diabetes tipo 1 e a esclerose múltipla, embora os mecanismos subjacentes a esse efeito não sejam conhecidos. - Além das infecções, outros fatores ambientais, como a exposição à radiação ultravioleta e o tabagismo, podem alterar a apresentação de antígenos teciduais, desencadeando respostas autoimunes. Lesões teciduais locais também podem levar à exposição de antígenos próprios e desencadear respostas autoimunes. - Além disso, há um viés de gênero na autoimunidade, com muitas doenças autoimunes sendo mais comuns em mulheres. Os mecanismos subjacentes a essa diferença não são totalmente compreendidos e podem envolver hormônios e outros fatores. 44 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Uma resposta autoimune pode perpetuar ainda mais os ataques autoimunes, pois a lesão tecidual causada por uma resposta autoimune ou por outras causas pode expor epitopos antigênicos previamente ocultos, levando à ativação de células T autorreativas em forma imunogênica. Esse fenômeno, conhecido como "espalhamento de epitopo", pode contribuir para a cronicidade das doenças autoimunes. 45 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI ATEROSCLEROSE CAP 9 (PÁG 335-344) - A aterosclerose é caracterizada por lesões na camada interna das artérias, chamadas ateromas, compostas por acúmulo de lipídios, principalmente colesterol. → Essas placas podem obstruir as artérias, levar à formação de aneurismas e causar trombose, aumentando significativamente o risco de morbidade e mortalidade. EPIDEMIOLOGIA DA ATEROSCLEROSE - Fatores de risco constitucionais: → Antecedentes familiares: constituem o principal fator de risco independente para a aterosclerose, com distúrbios mendelianos como a hipercolesterolemia familiar associados diretamente à doença. → Idade: a incidência de infarto do miocárdio aumenta significativamente após os 40 anos, com a taxa de mortalidade para a doença isquêmica do coração aumentando progressivamente a cada década. → Gênero: as mulheres pré-menopausa têm uma relativa proteção contra a aterosclerose e suas consequências, mas após a menopausa, o risco se iguala ao dos homens e aumenta com a idade. A reposição hormonal do estrógeno pós-menopausa não demonstrou benefícios na prevenção de doenças cardiovasculares e pode até aumentar o risco. - Fatores de risco modificáveis: →Hiperlipidemia: elevação do colesterol, especialmente lipoproteína de baixa densidade (LDL), está diretamente ligada ao desenvolvimento da aterosclerose, enquanto níveis elevados de lipoproteína de alta densidade (HDL) estão associados a menor risco. • Estratégias dietéticas, como redução do consumo de colesterol e gorduras saturadas, podem diminuir o colesterol sérico, enquanto ácidos graxos ômega-3 são benéficos e gorduras insaturadas trans podem ser prejudiciais. Exercício, consumo moderado de álcool e medicamentos como estatinas também influenciam os níveis de colesterol. →Hipertensão: aumenta em cerca de 60% o risco de doença isquêmica do coração e é uma causa importante de hipertrofia ventricular esquerda, contribuindo para a isquemia cardíaca. → Tabagismo: aumenta significativamente o risco de aterosclerose, sendo um fator de risco estabelecido em homens e provavelmente também emmulheres. 46 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI • O hábito prolongado de fumar aumenta a taxa de mortalidade relacionada à doença cardíaca isquêmica, enquanto a cessação reduz o risco. → Diabetes mellitus: associado ao aumento dos níveis de colesterol circulante e significativamente aumenta o risco de aterosclerose. • Pacientes diabéticos têm o dobro de chances de sofrer infarto do miocárdio em comparação com não diabéticos, além de um risco elevado de acidente vascular cerebral e gangrena nos membros inferiores. - Fatores de risco adicionais: 8 → Cerca de 20% dos eventos vasculares ocorrem sem fatores de risco identificáveis, inclusive em mulheres previamente saudáveis, onde a maioria dos eventos cardiovasculares ocorre mesmo com níveis de LDL abaixo de 160 mg/dl. → Inflamação: as células inflamatórias estão presentes em todas as etapas da formação da placa de ateroma, sendo a proteína C reativa (PCR) um marcador importante na estratificação do risco global. →Hiper-homocisteinemia: elevados níveis séricos de homocisteína foram correlacionados com diversas doenças vasculares. → Síndrome metabólica: associada à obesidade central, resistência à insulina, hipertensão, dislipidemia, hipercoagulabilidadee estado inflamatório. → Lipoproteína (a): correlacionada com o risco de doenças coronarianas e cerebrovasculares independentemente dos níveis de colesterol total ou LDL. → Pró-coagulantes elevados: são potentes preditores de risco para eventos cardiovasculares, principalmente a ativação excessiva da trombina. PATOGENIA - A patogenia da aterosclerose envolve uma resposta inflamatória crônica da parede arterial à lesão endotelial, integrando fatores de risco como hiperlipidemia, hipertensão, tabagismo e diabetes. - Os eventos patogênicos incluem: → Lesão endotelial: disjunção endotelial promove aumento da permeabilidade, adesão leucocitária e trombose. → Acúmulo de lipoproteínas: LDL oxidada e cristais de colesterol na parede vascular contribuem para a formação das placas ateroscleróticas. → Adesão plaquetária e de monócitos ao endotélio, seguida de migração para a íntima e diferenciação emmacrófagos e células espumosas. → Recrutamento de células musculares lisas e produção de matriz extracelular (MEC). → Fatores hemodinâmicos, como fluxo turbulento, contribuem para a formação das lesões. → A hiperlipidemia, especialmente a hipercolesterolemia, desempenha um papel 8 A Figura 9-9 mostra o valor prognóstico da Proteína C Reativa (PCR) na doença arterial coronariana. O eixo y representa o risco relativo de um evento cardiovascular, como um infarto do miocárdio. No eixo x, o risco em 10 anos de um evento cardiovascular é derivado dos fatores de risco tradicionais no estudo de Framingham. Os níveis de PCR são estratificados nos pacientes em cada grupo de risco. 47 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI crucial, promovendo disfunção endotelial e formação de LDL oxidada e cristais de colesterol. → Inflamação: Citocinas inflamatórias promovem adesão leucocitária, migração de células inflamatórias para a íntima e proliferação de células musculares lisas. → Infecções, como herpesvírus e Chlamydia pneumoniae, podem estar associadas à aterosclerose, mas a causalidade não é clara. → Proliferação de células musculares lisas e síntese de MEC convertem lesões iniciais em ateromas maduros, contribuindo para o crescimento das placas ateroscleróticas. - Esses eventos formam a base da progressão da aterosclerose, desde as lesões iniciais até a formação de placas instáveis, aumentando o risco de eventos cardiovasculares. MORFOLOGIA - As estrias gordurosas são múltiplas máculas amareladas compostas por macrófagos espumosos repletos de lipídios, presentes na aorta de crianças a partir de um ano de idade. → Embora sua relação com as placas ateroscleróticas seja incerta, as estrias gordurosas podem evoluir para placas, especialmente as coronárias, formando-se durante a adolescência e predispondo a placas nos mesmos locais anatômicos mais tarde. - As placas ateroscleróticas são elevações branco-amareladas na parede arterial, variando de 0,3-1,5 cm de diâmetro, formando-se em pontos de turbulência do fluxo sanguíneo. → Elas podem ocorrer em diferentes vasos, sendo mais comuns na aorta 48 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI abdominal infrarrenal e nas artérias coronárias. As placas ateroscleróticas consistem em células musculares lisas, macrófagos, células T, matriz extracelular (colágeno, fibras elásticas, proteoglicanos) e lipídios intra e extracelulares. → A composição e configuração variam entre as lesões, mas comumente apresentam uma cápsula fibrosa superficial, um centro necrótico contendo lipídios e células musculares lisas, e neovascularização na periferia. As placas continuam a mudar e aumentar de volume progressivamente, podendo sofrer calcificação. CONSEQUENCIA CLINICA DA DOENÇA ATEROSCLERÓTICA - Grandes artérias elásticas e médias/grandes artérias musculares são frequentemente afetadas pela aterosclerose. - A aterosclerose pode resultar em isquemia em várias partes do corpo, incluindo coração, cérebro, rins e membros inferiores. - Principais consequências clínicas incluem infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, aneurismas da aorta e doença vascular periférica. - Os resultados fisiopatológicos dependem do tamanho dos vasos afetados, tamanho e estabilidade das placas, e grau de oclusão na parede dos vasos. - A oclusão de pequenos vasos pode comprometer a perfusão dos tecidos. - A ruptura da placa aterosclerótica pode levar a trombose vascular aguda ou embolização distal. - A destruição da parede vascular pode resultar em formação de aneurismas, com possível ruptura secundária e/ou trombose. - Estenose aterosclerótica: → Inicialmente envolve a remodelação da camada média arterial para manter o diâmetro luminal, mas a expansão do ateroma pode prejudicar o fluxo sanguíneo. →A estenose crítica, onde a oclusão limita significativamente o fluxo, leva à isquemia cardíaca durante o esforço físico. → A hipoperfusão crônica causada pela aterosclerose pode afetar diversos órgãos, incluindo coração, cérebro e membros inferiores. 49 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI - Alteração aguda da placa: → Como a ruptura, pode desencadear trombose e infarto tecidual. → Placas com alto risco de ruptura são chamadas de "placas vulneráveis" e podem conter alto número de células espumosas e inflamatórias. → Fatores intrínsecos e extrínsecos, como pressão arterial elevada, podem enfraquecer a integridade da placa. → A inflamação da placa contribui para a instabilidade, enquanto as estatinas podem ajudar a estabilizar a placa reduzindo a inflamação. → Estímulos adrenérgicos, como emoções fortes, podem aumentar o estresse mecânico sobre a placa. → Nem todas as rupturas de placas evoluem para tromboses oclusivas, mas a cicatrização das rupturas subclínicas é um importante mecanismo de progressão da aterosclerose. MORFOLOGIA - As placas ateroscleróticas podem sofrer várias alterações clínicas importantes: → Ruptura, ulceração ou erosão da superfície luminal expõe substâncias altamente trombogênicas, resultando na formação de trombos que podem obstruir parcial ou completamente o vaso, causando isquemia tecidual, como no coração. → Hemorragia no interior da placa, causada pela ruptura da cápsula fibrosa ou da parede dos vasos em áreas de neovascularização, pode levar à rápida expansão ou ruptura da placa. → Ateroembolismo ocorre quando a ruptura da placa libera resíduos ateroscleróticos na corrente sanguínea, formando microêmbolos compostos por conteúdos da placa. → Formação de aneurisma pode ocorrer devido à pressão induzida pela aterosclerose ou à atrofia isquêmica da camada média, resultando em dilatação aneurismática e possível ruptura. 50 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI TUBERCULOSE CAP 12 (PÁG 493-498) - A tuberculose é uma doença granulomatosa crônica contagiosa, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. - Comumente, acomete os pulmões, mas pode afetar qualquer órgão ou tecido. - Tipicamente, os centros dos granulomas tuberculosos são caracterizados por necrose de caseificação EPIDEMIOLOGIA - A tuberculose continua sendo a principal causa de morte em todo o mundo, afetando principalmente pessoas economicamente desfavorecidas e em condições precárias de saúde. → Estima-se que 1,7 bilhão de pessoas estejam infectadas globalmente, com 8-10 milhões de novos casos e três milhões de óbitos anuais. - A incidência de tuberculose no mundo ocidental apresentou um declínio até 1984, quando houve um aumento de casos devido à disseminação do HIV. - Nos Estados Unidos, a tuberculose ainda afeta principalmente idosos, pobres urbanos, pacientes com AIDS e membros de comunidades minoritárias. - Certas condições de saúde, como diabetes, linfoma, doença pulmonar crônica e imunossupressão, aumentam o risco de tuberculose. - A infecção ocorre principalmente através da transmissão de pessoa para pessoa por gotículas no ar e pode permanecer latente por décadas, sendo assintomática na maioria dos casos. - O teste de tuberculina é usado para detectar a infecção, mas não diferencia entre infecção e doença ativa. - Apenas uma pequena fração das pessoas infectadas desenvolve tuberculose ativa. ETIOLOGIA- As micobactérias, bacilos finos e resistentes a álcool-ácido, são responsáveis pela tuberculose, com destaque para o M. tuberculosis hominis. - A transmissão ocorre principalmente por inalação de aerossóis contaminados gerados pela tosse ou espirro de pessoas infectadas. - A tuberculose orofaríngea e intestinal, causada por Mycobacterium bovis, é rara em países desenvolvidos, mas ainda ocorre em regiões onde há consumo de leite não pasteurizado de animais tuberculosos. - Outras micobactérias, como Mycobacterium avium, são menos virulentas, mas podem causar doença em pacientes imunocomprometidos, especialmente em pessoas com AIDS. PATOGENIA - A patogenia da tuberculose em pessoas imunocompetentes envolve o desenvolvimento de imunidade mediada por células, resultando em hipersensibilidade tecidual aos antígenos tuberculares. - Isso leva à formação de granulomas caseosos e cavitações como parte da resposta imune do hospedeiro. - Após a inalação do inóculo infeccioso, uma cepa virulenta de micobactéria inibe as respostas microbicidas normais dos macrófagos, permitindo a proliferação 51 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI bacilar não controlada. - Após aproximadamente três semanas, ocorre o desenvolvimento de imunidade mediada por células, com linfócitos T CD4+ TH1 secretando IFN-g, que ativa os macrófagos. - Os macrófagos ativados liberam mediadores, como TNF e óxido nítrico, que têm efeitos antibacterianos. - Defeitos em qualquer etapa dessa resposta resultam em granulomas mal formados e progressão da doença. - Em resumo, a imunidade à tuberculose é mediada por células TH1 que estimulam a atividade bactericida dos macrófagos, mas também estão associadas à hipersensibilidade e à destruição tecidual. - A perda da hipersensibilidade pode indicar enfraquecimento da resistência ao microrganismo. TIPOS DE TUBERCULOSE - Tuberculose primária: é uma forma de doença que ocorre em pacientes não expostos e não sensibilizados ao bacilo da tuberculose. → Cerca de 5% dos pacientes novamente infectados desenvolvem doença significativa. → As principais consequências incluem indução de hipersensibilidade e aumento da resistência. → Os focos de cicatrização podem abrigar bacilos viáveis por anos, contribuindo para a reativação posterior. → Em casos raros, pode ocorrer tuberculose primária progressiva, especialmente em pacientes imunocomprometidos, como os HIV-positivos com baixa contagem de linfócitos T CD4+. 52 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → A imunossupressão impede a formação de uma reação imunológica eficaz, resultando em tuberculose não reativa, sem os granulomas caseosos característicos. MORFOLOGIA - Nos países onde a tuberculose bovina e o leite infectado desapareceram, a tuberculose primária geralmente começa nos pulmões. → Os bacilos implantam-se nos espaços aéreos distais, próximos à pleura, formando o foco de Ghon, caracterizado por consolidação inflamatória. → O foco de Ghon frequentemente sofre necrose caseosa, seguido por disseminação para linfonodos regionais, formando o complexo de Ghon. → A disseminação linfática e hematógena ocorre durante as primeiras semanas. → A imunidade mediada por células controla a infecção em aproximadamente 95% dos casos, levando à fibrose progressiva e calcificação do complexo de Ranke. → No exame histológico, os locais de envolvimento ativo apresentam uma reação inflamatória granulomatosa, formando granulomas caseosos e não caseosos, compostos por histiócitos epitelioides e células gigantes multinucleadas. - Tuberculose secundária: 9 →Ocorre em hospedeiros previamente sensibilizados, geralmente devido à reativação de lesões primárias dormentes muitas décadas após a infecção inicial. → Pode surgir após reinfecção exógena ou queda na resistência do hospedeiro, resultando em poucos casos (menos de 5%) de pacientes com doença primária desenvolvendo tuberculose secundária subsequente. → A tuberculose pulmonar secundária geralmente se localiza no ápice de um ou ambos os lobos superiores, possivelmente devido à alta pressão parcial de oxigênio nessa região. → A resposta tecidual rápida e marcada à infecção tende a não se restringir ao foco, e a ocorrência de cavitação é rápida, levando à disseminação aerógena. → A tuberculose secundária é uma importante consideração em pacientes HIV-positivos com doença pulmonar, com manifestações relacionadas ao grau de imunossupressão. 9 A Figura 12-37 mostra o espectro morfológico da tuberculose: A e B) Tubérculo característico com caseificação granular central, cercado por células epitelioides e gigantes multinucleadas, indicando resposta imune mediada por células. Microrganismos álcool-ácido resistentes podem ser observados, embora em raridade. C) Granulomas tuberculínicos podem não apresentar caseificação central, mesmo em pacientes imunocomprometidos. Portanto, colorações especiais para microrganismos álcool-ácido resistentes são recomendadas quando há presença de granulomas. D) Em pacientes imunossuprimidos, é possível observar mantos de macrófagos epitelioides preenchidos por bactérias álcool-ácido resistentes. 53 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → Pacientes com imunossupressão menos severa apresentam tuberculose secundária "usual", enquanto aqueles com imunossupressão mais avançada comportam-se clinicamente como pacientes com tuberculose primária progressiva. → A frequência do envolvimento está relacionada à extensão da imunossupressão, variando de 10-15% em pacientes com imunossupressão mediana a mais de 50% naqueles com deficiência imune severa. MORFOLOGIA - Amorfologia da tuberculose abrange diversos padrões: → Na fase inicial, um pequeno foco de consolidação, geralmente abaixo da pleura apical, é firmemente circunscrito, com caseificação central variável e fibrose periférica. Com o tempo, o foco inicial pode se encapsular em fibrose, resultando em cicatrizes fibrocalcificadas. → Histologicamente, lesões ativas exibem tubérculos coalescentes com caseificação central, embora seja difícil detectar bacilos em estágios fibrocalcificados. → Tuberculose pulmonar secundária, apical e localizada, pode curar espontaneamente, resultando em fibrose, ou progredir para cavitação e disseminação. → A disseminação pode ocorrer através de expansão direta, disseminação através das vias aéreas, canais linfáticos ou sistema vascular, resultando em doença pulmonar miliar ou extrapulmonar. → Tuberculose extrapulmonar pode afetar diversos órgãos, como rins, fígado, baço, meninges, entre outros, commanifestações variadas. → A tuberculose intestinal, antes comum devido à ingestão de leite contaminado, hoje é mais frequente como complicação da tuberculose secundária avançada, envolvendo os intestinos delgado e grosso. -As características clínicas da tuberculose secundária são variadas: → Pode ser assintomática inicialmente, mas os sintomas podem se desenvolver gradualmente. → Manifestações sistêmicas incluem mal-estar, anorexia, perda de peso e febre de baixo grau. → Aumento da quantidade de escarro, que pode tornar-se purulento com cavitação pulmonar. →Hemoptise está presente em cerca da metade dos casos de tuberculose pulmonar. → Manifestações extrapulmonares dependem do órgão afetado, como infertilidade na salpingite tuberculosa ou dor de cabeça na meningite tuberculosa. 54 PATOLOGIA-N2 SARAH DONADONI → O diagnóstico é baseado em histórico, achados radiográficos e físicos, além da detecção de bacilos tuberculosos. → Métodos diagnósticos incluem colorações ácido-resistentes, cultura convencional para micobactérias e amplificação por PCR. → O prognóstico é geralmente favorável quando a infecção está localizada nos pulmões, mas é pior em pessoas idosas, debilitadas, imunossuprimidas ou com tuberculose multirresistente, podendo levar ao desenvolvimento de amiloidose em casos persistentes. 55