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SP1 03 de abril de 2024 Caracterizar as leucemias, relacionando sua prevalência com a faixa etária dos pacientes acometidos. Caracterizar as alterações dos exames laboratoriais relacionadas às leucoses. Descrever fisiopatologicamente os mecanismos pelos quais as leucoses podem interferir na coagulação sanguínea. Identificar as situações onde é indicada reposição com concentrado de plaquetas, a durabilidade funcional destas e o cálculo da quantidade a ser infundida. Explicar a indicação do mielograma e os dados evidenciados por este exame relacionados à coagulação. Valorizar a atuação multiprofissional no cuidado integral de pacientes como Mateus, bem como de seus pais. Leucemias Agudas ➔ 1 a cada 10 mil pessoas desenvolve uma leucemia aguda. ➔ As leucemias agudas são neoplasias malignas extremamente agressivas e com alta letalidade. ➔ 9ª no ranking de neoplasias em homens e 10º em mulheres. ➔ A LMA é a mais comum no mundo (↑ orientais), mas considerando apenas o ocidente a mais comum é a LLC. ➔ Em < 15 anos as leucemias costumam ser agudas e a mais comum é a linfoblástica aguda (câncer infantil mais comum, em geral). �i������o��g�a �a �����m�a ��u�a A doença começa quando alguma célula progenitora se torna incapaz de se diferenciar. A célula não consegue progredir a partir do blasto e se proliferam descontroladamente, ocupando a medula e impedindo o crescimento das células normais. A célula tronco totipotente se diferencia em dois tipos de progenitores multipotentes (CFU). Um deles é comprometido com a linhagem linfóide (linfócitos) e o outro com a mielóide (granulócitos, monócitos, hemácias e plaquetas). Esses progenitores se transformam em vários tipos de células que vão se tornar os componentes sanguíneos maduros. Qualquer uma dessas células pode originar uma neoplasia. Os blastos leucêmicos infiltram a medula ocupando mais de 20% (OMS) ou 30% (FAB) do total de células nucleadas, podendo chegar a 80 a 100%. Logo, a primeira consequência é a supressão da hematopoiese normal, culminando em pancitopenia (anemia, leucopenia e plaquetopenia), o marco da doença. Esses blastos anormais secretam fatores inibitórios e indutores de fibrose, tornando a disfunção medular ainda mais grave. Os blastos são jogados na corrente sanguínea, podendo gerar leucocitose, porém como essas células são imaturas, elas não exercem função fisiológica. Elas podem infiltrar linfonodos, baço, fígado, gengiva, órbita, SNC, meninges, testículos, pele, etc. O paciente vai a óbito devido a essa infiltração maciça que leva a falência orgânica, ou pela pancitopenia grave e suas consequências (anemia, infecção, hemorragia). �����m�a ����ó�de ��u�a Tem origem em Pré-T ou Pré-B (80% das vezes). Quando ocorre diferenciação na linhagem T, pode cursar com proliferação no timo levando a uma entidade análoga - o linfoma não Hodgkin de alto grau de malignidade. �����m�a ����ó�de ��u�a Tem origem na CFU mielóide, na CFU G/M ou na CFU-E/mega, no mieloblasto/promielócito, monoblasto, eritroblasto ou megacarioblasto, entre outros intermediários. A depender da célula que irá originar a leucemia, vai designar um dos 8 subtipos morfológicos. ����gem e �������������gem LMA LLA Blastos maiores e com grânulos azurófilos no citoplasma (linhagem granulocítica). A presença de bastonetes de Auer (agregados de grânulos em forma de agulha) é patognomônica de LMA, mas está presente só nos tipos M1, M2, M3 e M4. Citoquímica: a)M1, M2, M3 e M4: coloração positiva para mieloperoxidase ou Sudan Black B. b)M4 e M5: coloração positiva para esterases não específicas. Imunofenotipagem por citometria de fluxo (padrão ouro): pesquisa de marcadores citoplasmáticos através da administração de anticorpos específicos ligados a substâncias fluorescentes. Cada tipo de leucemia tem um tipo de CD (cluster designation). CD13, CD14 e CD33 são de origem mielóide. CD34 confere pior prognóstico, TdT é detectado nos linfoblastos. A presença de fator de von Willebrand e glicoproteína IIb/IIIa indica LMA-7. Blastos menores e sem grânulos. No tipo L1 o linfoblasto possui núcleo arredondado e citoplasma escasso. No tipo L2 o linfoblasto é maior, tem nucléolos, mais citoplasma e núcleos irregulares. No tipo L3 (Burkitt) os linfoblastos tem tamanho intermediário, citoplasma proeminente, basofílico e cheio de vacúolos. Citoquímica: a)Tipo B: coloração positiva para PAS. b)Tipo T: coloração positiva para fosfatase alcalina. Imuno-histoquímica: marcadores CD10, CD19 e CD20 caracterizam a origem linfóide. �������é��ca Provavelmente a origem das leucemias tem relação com oncogenes responsáveis pela reprodução celular desordenada ou bloqueio da apoptose. Normalmente eles ficam em regiões inativas do gene, sendo denominados de proto oncogenes. Por outro lado os supressores de tumor podem também estar inativados, facilitando a expressão destes oncogenes. Nesse sentido, podem ocorrer deleções, inversões, translocações, ganhos cromossomais e perdas completas. Essas anomalias podem ser identificadas nos exames citogenéticos ou através da técnica FISH (mais sensível e específica). FISH: duplicação de uma sonda fluorescente de DNA complementar ao DNA genômico com a alteração buscada. Quando essas técnicas não são suficientes para identificar as alterações, pode ser usada a amplificação de RNAm (RT-PCR). Essa técnica identifica, por exemplo, a fusão de parte do cromossomo 15 com o cromossomo 17. Alterações citogenéticas da LMA: em mais de 50% dos casos existem alterações no clone. As mais importantes são as translocações e as inversões. As mais comuns de acordo com o prognóstico são: Alterações citogenéticas na LLA: são encontradas alterações em mais de 85% dos casos. A hiperploidia é uma alteração típica da forma infantil dessa leucemia, tendo bom prognóstico. O cromossomo filadélfia t(9;22) e as translocações t(4;11), t(8;14) e t(1;19) tem prognóstico reservado e são mais comuns em adultos. A translocação t(12;21) é a única com bom prognóstico e á a mais comum em crianças e rara em adultos. ����res de ���co As leucemias agudas podem ser primárias (sem hematopatias iniciais ou uso de quimioterápicos) ou secundárias devido a: 1. Doenças hematológicas pré leucêmicas: síndromes mielodisplásicas (causa de LMA em idosos), síndromes mieloproliferativas (LCM, P. vera, hemoglobinuria paroxística noturna). 2. Uso de quimioterápicos: agentes alquilantes e inibidores da topoisomerase II. Tem pior prognóstico pois o clone é mais resistente ao tratamento. E são normalmente do tipo LMA. Outros fatores de risco: ➔ Radiação ionizante. ➔ Exposição a benzeno e derivados do petróleo, pesticidas e herbicidas (LMA) ➔ Inibidores da topoisomerase II (LMA): a leucemia ocorre de 1 a 2 anos após a exposição. ➔ Distúrbios hereditários (LMA): anemia de Fanconi, síndrome de Bloom, ataxia-telangiectasia, síndrome de Kostmann ou neutropenia congênita. ➔ Anomalias citogenéticas congênitas: Down (LMA até 3 anos e depois LLA), Patau e Klinefelter. Leucemia Mieloide Aguda A mais comum no mundo devido a maior incidência em populações orientais. Porém no ocidente a mais comum é a LLC. A incidência começa a partir dos 15 anos e aumenta com a idade. Tem ligeira preferência pelo sexo masculino. Manifestações clínicas: a evolução pode ser aguda (dias) ou subaguda (semanas). A tríade de sintomas é a astenia, hemorragia e febre, todos relativos a insuficiência hematopoiética medular. A astenia ou fadiga são os sintomas iniciais (devido a anemia moderada/grave de instalação rápida), podendo ocorrer cefaléia, dispnéia e tontura postura. Sangramento reflete a plaquetopenia grave (petéquias, equimoses, sangramento gengival, epistaxe, metrorragia, hemorragia digestiva) e distúrbios de coagulação (LMA promielocítica, podendo cursar com sangramentos orgânicos graves, hemorragia intracraniana e pulmonar). Em alguns casos a diátese hemorrágica é desproporcional à plaquetopenia,pois as plaquetas circulantes podem estar disfuncionais. A febre pode ser decorrente da neutropenia, que favorece infecções, ou da neoplasia devido a proliferação clonal (sempre tratar como se fosse uma infecção). Outros sintomas são pela infiltração leucêmica de órgãos e tecidos. Hepatoesplenomegalia diferencia da anemia aplásica (mais comum na LMC). A linfadenopatia e a dor óssea (pela expansão medular e invasão do periósteo) podem ocorrer mas são mais comuns na LLA. A hiperplasia gengival é mais comum nos tipos M4 e M5 (monocíticos), a infiltração cutânea causa placas eritematosas (leukemia cutis). O sarcoma granulocítico (cloroma) é uma tumoração extramedular de blastos que se apresenta como tumor de órbita ou em outros locais (pulmões, ossos, SNC, ovário, útero). Quando a leucometria atinge hiperleucocitose (> 50 ou 100 mil/mm3) a síndrome da leucostase pode se instalar, os leucócitos aumentam a viscosidade do sangue e podem se aderir ao endotélio do pulmão e cérebro, por exemplo, reduzindo e lentificando o fluxo sanguíneo. O paciente apresenta sintomas neurológicos (cefaleia, borramento visual, parestesias, torpor, como, convulsão), pulmonares (dispneia, taquipneia, insuficiência respiratória com hipoxemia) e genitourinários (priapismo, insuficiência renal aguda). Essa condição é imediatamente tratada com leucoaférese + quimioterapia. Na leucemia promielocítica (M3) as células neoplásicas secretam fatores pró-coagulantes (fator tecidual), desencadeando a via extrínseca da coagulação e induzindo a síndrome de coagulação intravascular disseminada. Esses pacientes tem sangramento desproporcional ao grau da plaquetopenia. Diagnóstico diferencial: A tríade é a mesma da anemia aplásica, sendo a principal diagnóstico diferencial, principalmente se não houver leucocitose no hemograma. Outro diagnóstico diferencial importante são as doenças infecciosas graves, como meningococcemia. Achados laboratoriais: ➔ Hemograma: anemia + plaquetopenia (bicitopenia). A anemia é um achado universal (Hb entre 5-9 g/dl), normocítica, normocrômica e sem reticulocitose. A plaquetopenia varia, cerca de 25% possui plaquetas < 20.000/mm3. A leucocitose é comum, mas alguns casos podem iniciar com leucopenia. 50% apresenta leucócitos entre 5.000-50.000/mm3 , 25% acima de 50.000/mm3 e 25% abaixo de 5.000/mm3 (leucopênicos). A média é 15 mil. Quando fica acima de 100 mil tem mais risco de leucostase. No esfregaço de 95% dos pacientes com a leucemia, podem ser encontrados blastos (geralmente >70% de blastos sobre outros leucócitos). Quando eles estão ausentes é uma leucemia aleucêmica. > 5% de blastos indica leucemia aguda. ➔ Hiperuricemia: acontece em 50% dos pacientes devida a produção de ácido úrico pela hiperproliferação celular. A síndrome da lise tumoral é uma complicação da quimioterapia que deve ser prevenida. ➔ Lisozima: fica aumentada no sangue (presente nos grânulos dos monócitos e monoblastos) é característica dos tipos M4 e M5 e pode causar lesão tubular renal, levando a IRA. ➔ pseudo hipercalemia e pseudo hipoglicemia podem ocorrer quando o sangue demora a ser processado, pois os blastos liberam potássio e consomem glicose. Diagnóstico: É confirmado pelo mielograma. > 20% de blastos entre as células nucleadas do aspirado. O aspirado deve ser analisado do ponto de vista morfológico, citoquímico, imunofenotípico, citogenético (cariótipo, FISH) e molecular (RT-PCR). O mielograma indica se a leucemia é aguda e o subtipo dela. A biópsia de medula óssea também é realizada para análise das alterações de displasia e do grau da mielofibrose associada. OBS.: pode ter <20% de blastos se associada com sarcoma mielóide ou se for identificado t(8;21), inv(16) e t(15;17). Avaliação completa: deve ser feito anamnese e exame físico minucioso, incluindo testículos e sinais meníngeos. Deve ser solicitado hemograma completo, análise do sangue periférico, coagulograma, dosagem de fibrinogênio, provas de função renal e hepática, tipagem sanguínea ABO e Rh e HLA do paciente e irmãos. Deve ser feito RX ou TC do tórax em busca de adenomegalias, punção lombar para administrar quimioterapia intratecal e coleta de líquor; Para confirmação diagnóstica deve ser feita tipagem e avaliação de fatores prognósticos citogenéticos e moleculares através de mielograma com imunofenotipagem, citogenética, biologia molecular e histopatológico/imuno-histoquímica. Tratamento de suporte: ➔ neutropenia febril: Febre aferida (≥37,8 °C) ou referida + neutrófilos <500/mm3 ou menor que 1.000/mm3 com previsão de queda para menos de 500/mm3 nas próximas 48 horas ➔ plaquetopenia: é comum nesses pacientes e pode piorar com a quimioterapia. O risco maior ocorre quando há < 10.000/mm3. A transfusão de plaquetas é feita se: 1. sangramento mucoso ou orgânico com plaquetometria <50.000 2. < 10 000; 3. < 20.000 + febre ou infecção. A dose é de 1 unidade para cada 10 kg de peso. Em adultos a média é de 6 unidades de concentrado de plaquetas ou 1 unidade extraída por aférese. 1h após a transfusão o sangue deve ser colhido. Em um adulto com , espera-se um incremento de 30.0002𝑚2 células/mm3. Se o incremento for < 10.000 total ou 2.000 células por unidade transfundida, considera-se plaquetopenia refratária. A causa mais comum é a aloimunização por anticorpos anti-HLA da superfície plaquetária. Esse problema ocorre em 50 a 30% dos pacientes após muitas infusões, principalmente. A conduta é transfundir plaquetas HLA compatíveis. E para prevenir, deve-se infundir hemocomponentes leucodepletados e irradiados (também evita a reação enxerto-versus-hospedeiro). ➔ Anemia: são feitas transfusões de concentrados de hemácias em pacientes sintomáticos, a Hb deve se manter > 8g/dL. ➔ CIVD: específico da promielocítica. O ATRA controla em 3 dias. Durante o sangramento a transfusão de plaquetas deve ser prescrita para manter > 50.000. A transfusão de crioprecipitado (rico em fibrinogênio) também deve ser utilizado para manter o fibrinogênio sérico > 100 mg/dL. Pode ser usada heparina em infusão contínua (5-10 U/Kg/h) ➔ Prevenção da síndrome de lise tumoral: pelo aumento do metabolismo do DNA, pode ocorrer hiperuricemia em 50% dos casos. Durante a quimioterapia com a lise dos blastos isso se agrava. A consequência é uma nefropatia aguda por obstrução intratubular pelos cristais de ácido úrico. Por isso, todos os pacientes recebem hidratação venosa e drogas hipouricemiantes antes do início da quimioterapia. Isso pode incluir haloperidol (inibidor da xantina oxidase, que diminui a síntese de ácido úrico, ou rasburicase, transforma o ácido úrico em alantoína que é inócua). A quimioterapia só pode ser feita se a uricemia estiver < 8 mg/dl e a creatinina < 1,6 mg/dl. Em casos graves deve ser feita diálise. ➔ Leucostase: pode ocorrer hiperleucocitose devido a presença de blastos (> 100 ou 50 mil). Ocorrem plugs de blastos obstruindo a microvasculatura. O paciente vai apresentar taquidispneia, hipoxemia, distúrbios neurológicos e predisposição à hemorragia. Como a viscosidade está alta, a transfusão de hemácias pode aumentar ainda mais e deve ser evitada. Deve ser feita transfusão de plaquetas se houver hemorragia, mesmo com a plaquetometria alta (pois fragmentos de blastos são contados como plaquetas). O tratamento é a própria quimioterapia da LMA ou com hidroxiureia em altas doses (3 mg/m2/dia via oral). A leucoaférese é usada só se a quimioterapia não puder ser iniciada (hiperuricemia grave e insuficiência renal). Tratamento da LMA: feita com quimioterapia de alto poder mielotóxico. O transplante alogênico de células hematopoiéticas é a única chance de cura. A terapia é feita em 2 fases: 1º Fase:Indução da remissão: o objetivo é exterminar o clone neoplásico. A remissão ocorre quando não há blastos no sangue periférico e a medula óssea tem < 5% de blastos, ausência de células com bastonetes de Auer. Além disso, deve ocorrer recuperação hematopoiética (>1.000/mm3 neutrófilos e > 100.000/mm3 plaquetas – a contagem de hemácias não é critério). A avaliação é feita 1 semana após o fim da quimioterapia através de mielograma e hematoscopia. O tratamento é feito com ara C + daunorrubicina em IC por 7 dias + infusão IV 1 vez ao dia de daunorrubicina por 3 dias (esquema 7 + 3). Outros esquemas podem adicionar o etopísio ou utilizam altas doses de ara-C, porém ambos são mais tóxicos. A remissão completa ocorre em 60 a 80% dos casos,⅔ no primeiro ciclo e⅓ com dois ciclos (pior prognóstico). 2º Fase: Terapia pós-remissão: prolonga a remissão completa, previne recaídas e maximiza a chance de cura. Existem 3 possibilidades: quimioterapia, transplante alogênico e transplante autólogo de células hematopoiéticas. - quimioterapia de consolidação: para cariótipos de bom prognóstico como t(8;21) no subtipo M2 e inv(16) ou t(16;16) no subtipo M4, e nos pacientes sem condições de receber o transplante. É utilizado altas doses de ara-C por 4 ciclos (ou 2 ciclos seguidos de transplante autólogo). - transplante: o transplante alogênico é o mais eficaz em termos de cura, porém é tóxico em 20% dos casos. É usado principalmente em pacientes com prognóstico desfavorável, principalmente em < 55-60 anos com doador HLA compatível. Pacientes mais velhos e sem compatibilidade, deve ser feito transplante autólogo. 1. Recidiva: a recidiva ocorre normalmente na medula com aumento percentual de blastos. A recidiva após a quimioterapia ainda pode ser curável com transplante alogênico (em pacientes com < 60 anos com doador compatível). Nos pacientes que não se encaixam, o transplante autólogo ou técnicas novas com anti-CD33 podem ser utilizadas. 2. Terapia da leucemia promielocítica aguda: é feita com ATRA que induz a maturação dos promielócitos neoplásicos através da reativação de um receptor nuclear. A coagulação melhora após 3 dias em média. A chance de recidiva é grande se usada isoladamente, por isso se associa daunorrubicina. A remissão completa ocorre em 80 a 95% dos casos. Após a terapia são feitos ciclos de quimioterapia de consolidação por 1 ano com ATRA, mercaptopurina e metotrexato. A chance de sobrevida em 5 anos é de 65 a 80%. O ATRA pode causar a síndrome da diferenciação da leucemia promielocítica em 25% dos casos nas 3 primeiras semanas. Ocorre febre, edema periférico, taquidispnéia, hipoxemia, infiltrado pulmonar, polisserosite, disfunção renal e hepática e metade dos pacientes apresenta hiperleucocitose. Isso ocorre porque as células recém sintetizadas se ligam ao endotélio de maneira semelhante à leucostase. Nesses casos é feita substituição provisória do ATRA por dexametasona. Nos 20% dos casos que ocorre recidiva é indicado terapia precoce de resgate (trióxido de arsênio + transplante). E por isso é feito um rastreio regular através de aspirados de medula e RT-PCR. Prognóstico: O fenótipo MDR-1 significa que existe uma bomba que joga a droga quimioterápica para fora, resistindo ao tratamento. Os idosos tem o pior prognóstico pela maior incidência de MLA mielodisplásica, marcados CD24, mais incidência de MDR-1, menor tolerância aos tratamentos e a mortalidade proibitiva do transplante alogênico. Leucemia Linfóide Aguda É a mais comum na infância (90% dos casos). Ocorre um pico de incidência entre 2 e 10 anos, sendo a média aos 4 anos. Mais comum na raça branca e com leve preferência para meninos. Responde bem à quimioterapia com chance de retorno em 90% dos casos. Quando ocorre em adultos o prognóstico é pior. Manifestações clínicas: semelhante a LMA. É mais frequente dor óssea (80%), adenomegalia cervical ou generalizada (75%), acometimento do SNC e dos testículos e febre neoplásica (70%). Podem ocorrer massas mediastinais no subtipo T do timo e a hiperplasia gengival não acontece. Diagnóstico: o critério é a presença de linfoblastos na medula em proporção ≥ 25% do total de células. O subtipo L1 é o mais comum (80%), tem o melhor prognóstico e resposta terapêutica. O subtipo L2 é mais comum em adultos (70%). O tipo L3 é o menos comum e representa a forma de Burkitt. O linfoma de células T é o menos comum, o clone é igual ao do linfoma linfoblástico e apresenta massa mediastinal. Terapia de suporte: O suporte é igual ao do LMA, porém ocorre menos mielotoxicidade do esquema indutor de remissão da LLA infantil com critérios prognósticos favoráveis e há a necessidade de profilaxia com sulfametoxazol-trimetoprim contra a pneumocistose, devido ao uso de altas doses de corticoide. Terapia específica: a quimioterapia é dividida em 4 fases: 1. indução da remissão: na infantil é feita com corticóides + vincristina (neurotóxica - neuropatía periférica sensitiva) + L-asparaginase por 4 semanas. No adulto ou criança com prognóstico ruim adiciona-se daunorrubicina e ciclofosfamida pela baixa imunidade causada pelos corticoides. 95% das crianças e 75% dos adultos tem remissão. 2. Profilaxia do SNC: tem tendência de recidiva no SNC com meningite leucêmica, pois os quimioterápicos não ultrapassam a barreira, por isso é adicionado metotrexato intratecal, radioterapia craniana e outros. 3. Consolidação da remissão: sem isso todos os casos recidivam, é feito com esquemas de drogas diferentes como metotrexato com ácido folínico de resgate, pode ser usado ciclofosfamida, ara-C, entre outros - dura de 2 a 8 meses). 4. Manutenção: feita com mercaptopurina + metotrexato por 2 a 3 anos. Cumprindo as 4 fases a chance de cura chega a 90% em crianças e 30 a 40% em adultos. Se houver recidiva precoce, a melhor chance de cura é o transplante alogênico. Recidivas: as recidivas no SNC são suspeitadas por cefaleia, náuseas, vômitos e sinais de hipertensão intracraniana, além de paralisia de nervos cranianos. O diagnóstico é feito com exame do líquor. Se a recidiva for no testículo, pode ser feita radioterapia. Geralmente vem acompanhadas de recidiva medular. Complicações da quimioterapia: pode ocorrer declínio neurocognitivo e tumores intracranianos (radioterapia craniana e profilaxia intratecal). Pacientes que receberam quimioterapia de consolidação podem ter LMA. A cardiotoxicidade ocorre com altas doses de antraciclina. Fatores prognósticos desfavoráveis: Transplante de Células Hematopoiéticas Pode ser feito a partir da medula, sangue periférico e cordão umbilical. São infundidas além das células hematopoiéticas, células progenitoras e linfócitos T citotóxicos (doença enxerto versus hospedeiro e enxerto versus neoplasia). Transplante alogênico: o melhor tipo para cura. O doador é outro ser humano, idealmente um parente de 1º grau com HLA 100% compatível. Quando isso não for possível pode ser um HLA 50% compatível ou não aparentado totalmente compatível (Feito a partir do registro nacional de doadores de medula óssea, o Brasil possui o 3º maior banco). Além disso, com o transplante alogênico, ocorre a possível destruição das células neoplásicas remanescentes pelo efeito enxerto vs neoplasia. ➔Medula: células são retiradas da crista ilíaca do doador sob anestesia. São retirados de 10 a 15 ml/kg do fluido medular. O doador não precisa ter o mesmo tipo sanguíneo e o risco da doação é mínimo. Se houver compatibilidade ABO, o fluido é apenas passado por um filtro para remoção das espículas ósseas e glóbulos de gordura. Se houver incompatibilidade as hemácias e o plasma são removidos. ➔Sangue periférico: utiliza-se estimuladores colônicos para aumentar as células tronco circulantes (menos células tronco disponíveis e mais presença de linfócitos do doador, aumentando risco de toxicidade, por isso só é feita em caso de doadores aparentados ➔Cordão umbilical: tem quantidade ainda menor de células tronco. Essas últimas opções aumentam o tempo de recuperação, deixando o paciente mais tempo desprotegido contra infecções e hemorragias. Podem ser utilizados dois cordões umbilicais para evitar isso. Antes do paciente receber qualquer amostra ele passa por um regimede condicionamento com quimiorradioterapia mieloablativa e imunossupressora (para curar a neoplasia e evitar a rejeição do enxerto). Transplante singênico: a partir de gêmeos univitelinos. Transplante autólogo: o doador é o próprio paciente. A extração é realizada e as células tronco são criopreservadas para serem infundidas após a quimioterapia/radioterapia mieloablativa. Não tem risco de efeito enxerto vs neoplasia, porém tem maior chance de recidiva pela contaminação com células neoplásicas. A coleta é feita após a quimioterapia de indução de remissão associada a injeção de fatores estimuladores de colônia. Após a quimioterapia mieloablativa (destruição de todas ou quase todas as células hematopoiéticas) as células são reimplantadas. Compatibilidade HLA: HLA se trata de um grupo de proteínas das membranas reconhecidas pelos linfócitos T. As células T apresentam essas proteínas diferentes como antígenos e iniciam uma resposta imunológica. É por isso que o HLA precisa ser compatível. O HLA é produzido por um conjunto de três alelos (três genes provenientes da mãe e três do pai). A chance de um irmão ser totalmente compatível é de 25%, de ser parcialmente é de 50% e se ser incompatível é 25%. As rejeições podem acontecer mesmo em compatibilidade completa pois podem ocorrer pequenas mutações ou devido a presença de anticorpos anti-HLA do receptor (devido a gestações anteriores, transfusões de sangue ou transplantes prévios), por isso deve ser feito o “crossmatch” antes. A recuperação ocorre após 3 semanas, com contagem neutrofílica > 500/mm3 e de plaquetas > 20.000/mm3. Reações adversas pós tratamento: decorrem do uso da terapia mieloablativa. Podem ocorrer náuseas, vômitos, diarreia, enterite e estomatite - mucosite (causa dor e exige analgésico opióides), alopécia e convulsões. Fenitoína é administrada para evitar essa última e a palifermina ajuda a evitar a mucosite. Menos comumente ocorre cistite hemorrágica, pneumonite intersticial idiopática, hemorragia pulmonar, pericardite e miocardite. Uma das consequências mais temidas é a síndrome da oclusão sinusoidal devido a lesão tóxica aos sinusóides e vênulas hepáticas que evolui com oclusão trombótica aguda - ocorre hepatomegalia dolorosa, icterícia, ascite e retenção de fluidos. Após a terapia mieloablativa ocorre neutropenia e plaquetopenia, predispondo a infecções. A contagem neutrofílica está quase sempre abaixo de 50-100/mm3 , recuperando-se em média após três semanas do transplante para níveis superiores a 500/mm3. Durante esse período, o paciente fica suscetível a infecções, que frequentemente culminam em sepse e morte se não forem tratadas precocemente. As infecções mais comuns são Aspergillus sp, Citomegalovírus (CMV), Vírus Herpes-Simples tipo 1 (HSV-1) e o fungo Pneumocystis jirovecii. OBS.: Após o transplante o paciente precisa ser revacinado contra tétano, difteria, haemophilus influenzae tipo B, pólio e pneumococo, após 12 meses. As vacinas contra varicela, sarampo, caxumba, rubéola e coqueluche acelular são administradas após 24 meses. As manifestações da doença enxerto versus hospedeiro incluem febre, rash cutâneo, anorexia, náuseas e vômitos, diarréia, icterícia com elevação de enzimas hepáticas. A doença deve ser diferenciada da sepse através de uma biópsia de um órgão acometido (revela infiltração linfocítica e lesão endotelial). O tratamento com corticóide é feito a partir do grau II, quando há acometimento hepático e gastrointestinal. Essa reação acontece mais em idades avançadas e não compatibilidade total HLA. É aguda se acontece antes de 3 meses e crônica se acontece depois. Na crônica ocorre rash malar, poliartrite, síndrome de Sjögren, colestase intra-hepática e bronquiolite obliterativa. Fora isso, muitos pacientes tem como reação a disfunção gonadal, hipotireoidismo, fibrose pulmonar, DPOC e linfomas não Hodgkin pelo Epstein-Barr. Leucemias Crônicas Esse tipo de leucemia ocorre devido ao acúmulo de leucócitos neoplásicos mais maturados na medula e no sangue. Tem um curso insidioso e podem reduzir muito a sobrevida. Na LMC gira em torno de 2 a 5 anos e na LLC de 1 a 10 anos. A LLC é a mais comum no mundo ocidental (30% das leucemias). Leucemia Mielóide Crônica É uma das síndromes mieloproliferativas crônicas, junto com policitemia vera, mielofibrose idiopática e trombocitemia essencial. Tem origem em um clone de célula tronco que segue a maturação (granulócitos, hemácias e plaquetas). Esse tipo de leucemia ocorre em média aos 55 anos, com predomínio masculino. Patogênese: a célula adquire uma anomalia conhecida como cromossomo filadélfia (t(9;22) (q34; q11)). Essa translocação forma um gene híbrido BCR/ABL, responsável pela produção da tirosina quinase P210 que aumenta a divisão celular e bloqueia a apoptose. Esse mesmo gene também pode ocorrer em outras regiões, mas com peso molecular diferente e representando um diferente prognóstico. O cromossomo filadélfia é encontrado em 95% dos casos com análise do cariótipo. O restante dos genes BCR/ABL são encontrados com FISH ou PCR. O reconhecimento pode ser através de mielograma ou sangue periférico. O clone é capaz de se diferenciar e ocorre geralmente para a série granulocítica, levando ao acúmulo de neutrófilos, bastões, metamielócitos, mielócitos e raros mieloblastos (<5%). Pode haver elevação de monócitos e plaquetas, porém eles tendem a reduzir pela ocupação da medula. Manifestações: muitos pacientes são descobertos assintomáticos através da esplenomegalia ou leucocitose neutrofílica acentuada, com desvio para a esquerda até mielócito ou mieloblasto. Marco: Leucocitose neutrofílica acentuada com desvio para a esquerda + esplenomegalia de grande monta (60 a 80% dos caos). Os sintomas são decorrentes do estado hipercatabólico, da esplenomegalia, da anemia ou da disfunção plaquetária, como febre, perda ponderal, astenia, sudorese noturna, desconforto no hipocôndrio esquerdo, saciedade precoce, palpitação, dispneia e equimoses. As infecções não são frequentes pois o neutrófilo neoplásico fica maduro, tendo função, em partes, preservada. Ao exame físico a esplenomegalia pode avançar mais de 5 cm dos arcos costais e algumas vezes o baço chega a ser palpado na crista ilíaca. Pode ser indolor ou não. Existem relatos de rotura esplênica podendo levar rapidamente ao óbito por choque hemorrágico. Outros achados são incomuns, como dor óssea e hepatomegalia em 50% dos casos. O quadro laboratorial indica leucocitose neutrofílica, podendo atingir 1 000 000/mm3 de leucócitos, mas o mais comum são valores > 100 mil ou quase sempre > 50 000. O diferencial revela intenso desvio para a esquerda, com muitos granulócitos jovens (bastões, metamielócitos, mielócitos e mieloblastos). A contagem de eosinófilos e basófilos é alta. A anemia normocítica e normocrômica está presente em 50% dos casos. Em relação às plaquetas a regra é trombocitose (>400 000/mm3). Os pacientes podem apresentar sangramento pois essas plaquetas são disfuncionais e ao mesmo tempo tem risco de trombose pela leucostase e trombocitose acentuadas. A regra é anemia + hiperleucocitose + trombocitose. Apesar da contagem de leucócitos ser maior na LMC do que na LMA, a chance de leucostase é menor, pois os blastos causam mais viscosidade. Na LMC a leucostase só começa a ocorrer com contagens > 200.000 enquanto na LMA ocorre com contagens acima de 50 a 100 mil. Outros achados incluem hiperuricemia, aumento dos níveis de B12 (mais proteínas de transporte transcobalamina I e III), aumento do LDH e lisozima. Diagnóstico: a suspeita inicia a partir da leucocitose acima de 25-50.000/mm3 num paciente com esplenomegalia. Deve ser feito um diagnóstico diferencial com reação leucemóide, outras síndromes mieloproliferativos e leucemia mielomonocítica crônica. A confirmação é feita com a detecção do RNAm da mutação BCR/ABL, o que geralmente é feito com RT-PCR no sangue periférico. O aspirado demedula não dá o diagnóstico mas é importante para fazer a estratificação prognóstica e também o acompanhamento da resposta terapêutica. Na histologia a medula apresenta hiperplasia mielóide com relação mielóide/linfóide entre 15:1 e 20:1, sendo que o normal é 3:1. Pode ocorrer mielofibrose, o cromossomo filadélfia pode ser encontrado na avaliação citogenética do aspirado e tem o mesmo significado da detecção do gene BCR/ABL. Essa mutação também pode ser identificada com a técnica fish ou com o RT-PCR. Deve ser feita a quantificação dos genes mutados para acompanhar a terapia. Prognóstico: após 3-5 anos sem tratamento, os pacientes evoluem para uma crise blástica (leucemia aguda fatal com sobrevida de 3 meses). Muito pacientes evoluem diretamente para essa crise, mas ⅔ passam primeiro por uma fase acelerada da LMC, com alta contagem de neutrófilos e basófilos, esplenomegalia refratária à terapia e perda progressiva da capacidade de diferenciação do clone neoplásico, surgindo mais blastos na medula e no sangue periférico. Esses pacientes tem sobrevida de 18 meses. O Sokal é um modelo prognóstico que divide os pacientes em categorias de risco a partir da idade, tamanho do baço, contagem plaquetária, de basófilos, eosinófilos e de blastos. Esse índice é útil para prever a probabilidade de resposta nos pacientes tratados com tirosina quinase. Tratamento da fase crônica: o mesilato de imatinibe (gleevec) é a primeira linha, ficando o transplante alogênico em segundo plano. O Gleevec é um inibidor da tirosina quinase, ele atua apenas nas células neoplásicas e evita seu acúmulo no organismo. Os efeitos adversos são leves a moderados (anasarca, náuseas, diarreia, hemorragias, cãibras e rash cutâneo). A resposta citogenética completa ocorre após 12 a 18 meses de tratamento, registrando assim o aumento da sobrevida. Pacientes que atingem isso tem prognóstico semelhante às demais pessoas com a mesma idade. Deve ser monitorado ao longo do tratamento: 1. Normalização do hemograma e da esplenomegalia 2. Redução do número de transcritos BCR/ABL conforme PCR do sangue periférico Tratamento na fase aguda: é feita associação de inibidores da tirosina quinase e quimioterapia mielossupressora. Esses indivíduos tem menos resposta e quando as tem, elas são menos duradouras. Um pré-requisito para realização de transplante é idade <55/60 anos, deve ser feito com doador aparentado compatível. Leucemia Linfocítica Crônica 30% das leucemias, acomete mais >60 anos homens. No ocidente é a leucemia mais comum. É muito rara em pessoas com menos de 30-40 anos e não acomete crianças. É colocada junto com o linfomas para formar as síndromes linfoproliferativas. Fisiopatologia: É uma neoplasia com curso indolente, cujo clone é o linfócito B maduro bloqueado em uma fase da maturação que impede que ele se torne plasmócito. Esse linfócito tem muito IgM no citoplasma, mas pouco na membrana. Ao contrário das outras leucemias, a LLC é cumulativa e não proliferativa. Os linfócitos B neoplásicos CD5+ são células com turnover lento, com meia vida superior aos linfócitos normais, provavelmente pelo bloqueio de maturação. A doença evolui conforme esses linfócitos se acumulam na medula e extravasam para o sangue periférico, atingindo linfonodos, baço e fígado. O paciente vai ficando debilitado e propenso a morrer por infecções bacterianas, pois esses linfócitos não desenvolvem imunidade. Esses pacientes tem mais chance de outras neoplasias, principalmente CA de pulmão e gastrointestinal. Manifestações clínicas e laboratoriais: muitos pacientes são diagnosticados na fase assintomática ao encontrar uma linfocitose de mais de 5000/mm3 (>3000 já é linfocitose). Depois dessa linfocitose a adenomegalia cervical é o achado mais presente em ⅔ dos casos. Os linfonodos primeiramente são < 2 cm, móveis e elásticos, sugerindo benignidade. Depois disso eles evoluem para um aumento de tamanho e confluência, podendo formar grandes massas. Essa adenomegalia pode se generalizar atingindo linfonodos viscerais. O marco é: linfocitose acentuada + adenomegalia No exame físico em 40% dos casos pode haver esplenomegalia e em 10% pode haver hepatomegalia. Ascite e derrame pleural só aparecem na doença muito avançada. Os sintomas da LLC em fases mais avançadas podem ser febre, sudorese noturna, astenia, fadiga, perda ponderal e queda do estado geral. Geralmente nessa fase já há ocorrência de infecções e anemia. A anemia quando presente (20%) é normocítica hipoproliferativa (reticulócitos↓). A plaquetopenia está presente em 10%. Ambas as alterações são sinal de mau prognóstico, pois indicam maior ocupação medular. OBS.: Existe uma anemia hemolítica autoimune por anticorpo quente (IgG) pode ocorrer em 10% dos casos. Ela é abrupta, associada a icterícia por bilirrubina indireta e reticulocitose. Essa anemia responde a terapia com glicocorticóides e não está associada a mau prognóstico. OBS 2: pode ocorrer plaquetopenia auto imune (PTI) em 5 % dos casos, também é tratável com corticoide e sem influência prognóstica. A linfocitose é > 5000, mas geralmente está entre 25 e 150 mil. Esses linfócitos são morfologicamente idênticos aos normais. São pequenos, com núcleo arredondado, cromatina condensada e citoplasma escasso. Uma alteração é a presença de linfócitos amassados (smudge cells ou manchas de Gumprecht). Outro achado é a hipogamaglobulinemia (25% dos casos inicialmente e na medida que a doença avança afeta quase todos), devido ao bloqueio da maturação dos linfócitos B. As consequências são infecções de repetição por bactérias encapsuladas (S. pneumoniae, H. influenzae). Além disso, pode haver disfunção dos linfócitos T, acarretando numa deficiência da imunidade celular nas fases mais avançadas da doença. Diagnóstico diferencial: A mononucleose infecciosa e a coqueluche também causam a linfocitose acentuada, febre, cefaléia, tosse, faringite e mialgia, porém acomete mais jovens. A adenomegalia generalizada pode se confundir com o HIV. Outros diagnósticos são colagenoses e sarcoidose. Pode haver também confusão com a leucemia de células pilosas, linfomas não hodgkin indolentes e leucemia pró linfocítica crônica. Diagnóstico: 1. Linfocitose persistente > 10.000/mm3 + mielograma com > 30% de linfócitos (normal: até 10%) 2. Linfocitose persistente > 5.000/mm3 + mielograma com > 30% de linfócitos + imunofenotipagem com marcadores de linfócito B maduro em conjunto com o marcador CD5. Normalmente, além dos marcadores de linfócito B, são encontrados o CD5 que seria dos linfócitos T e esse é o grande marco, juntamente com a negatividade do FMC7. A citometria de fluxo é muito importante para o diagnóstico e prognóstico, pois a presença de CD38 e ZAP70 indicam menor sobrevida. Ao contrário da LMC, não existe uma única anomalia cromossomal que indique a doença, mas a presença de algumas mutações indicam pior prognóstico (del 11q, del 17p). Fatores de risco: não está relacionada com radiação, benzeno ou alquilantes. Em 10% dos casos a história familiar de síndrome linfoproliferativa é positiva, indicando um componente genético. Estadiamento: Os elementos usados são linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, anemia e plaquetopenia. O estadiamento mais utilizado é o estadiamento de Rai, porém também existe o estadiamento de Binet. A sobrevida da LLC é de em média 4-5 anos, dependendo do estágio. Outro parâmetro utilizado é o padrão de infiltração linfocítica da medula. Podemos dividir em (1) padrão difuso (35% dos casos), associado à doença avançada e mau prognóstico; (2) padrão não difuso (40%), que pode ser nodular ou intersticial, associado a um melhor prognóstico; e (3) padrão misto. Prognóstico: A maioria morre devido às infecções bacterianas que se transformam em sepse. Uma condição fatal é a síndrome de richter (5% dos casos). Se trata da transformação em linfoma não Hodgkin agressivo, geralmente o linfoma B difuso de grandes células. O pacienteevolui com grandes massas linfonodais de crescimento rápido, febre, emagrecimento e acometimento extranodal. A sobrevida é de poucos meses. Além disso, tem se valorizado alguns marcadores: Tratamento: ➔Estágio inicial (RAI 0-1): whatch and wait. A sobrevida é longa e como se tratam de idosos, as mortes são relacionadas a outras comorbidades e os efeitos da quimioterapia não compensam. Tem indicação de tratamento se existe fadiga progressiva, linfadenopatia sintomática, anemia, trombocitopenia. ➔Pacientes com < 70 anos de idade sem comorbidades são tratados com fludarabina + rituximab (FR). Se mau prognóstico pode ser adicionado ciclofosfamida, porém aumenta a toxicidade, acarretando em maior incidência de infecções, exigindo quimioprofilaxia contra Pneumocystis jirovecii, infecções por Herpesvírus e infecções fúngicas. O tratamento dura em média 6 meses com 6 ciclos. A resposta parcial é de 90 a 95% e a resposta completa ocorre em 40 a 70% dos casos. ➔> 70 anos ou com comorbidades são tratados com clorambucil + obinutuzumab. Esse esquema é mais bem tolerado. A resposta parcial é de 78% e a completa ocorre em 21%. Terapia de resgate: é usado ibrutinibe se houver recidiva após tratamento inicial, se houver refratariedade e na presença de fatores de prognóstico altamente adversos, como a del 17p. O fármaco inibe a tirosina quinase de bruton específica dos linfócitos B. Ele produz respostas em até 75% dos pacientes. Um dos efeitos colaterais é o agravamento da linfocitose durante no início devido à mobilização dos linfócitos neoplásicos. Pode ser indicada esplenectomia em caso de citopenias significativas associadas a uma grande esplenomegalia. A radioterapia pode ser usada para reduzir grandes massas linfonodais. A reposição de imunoglobulina humana endovenosa (300- 400 mg/kg a cada 3-4 semanas) está indicada para infecções graves de repetição na vigência de hipogamaglobulinemia, embora seja um tratamento caro... Leucemia De Células Pilosas (Tricoleucemia): Tem prognóstico favorável e por isso o diagnóstico é crucial. Acomete mais homens com média de 50 anos. O clone é derivado do linfócito B que infiltra a medula e produz fatores ativadores de fibrose (mielofibrose). A célula possui um citoplasma com projeções em forma de pelo, daí o seu nome. O quadro lembra o das doenças mieloproliferativas, sendo comum esplenomegalia e rara a adenomegalia. O hemograma revela pancitopenia, incluindo monocitopenia (<100/m3). A causa disso é a ocupação medular, secreção de fatores inibidores da hematopoiese, mielofibrose e hiperesplenismo. Em geral se observa leucopenia (<4000/mm3) com linfocitose relativa (<30%), constituída de células B pilosas, embora possa ocorrer linfocitose absoluta >10.000/mm3. Os marcos são: pancitopenia + esplenomegalia de grande mota + linfocitose relativa + monocitopenia + aspirado seco. Além das infecções bacterianas fatais pela neutropenia, pode ocorrer predisposição para tuberculose, micobacterioses atípicas e doenças fúngicas, por conta da monocitopenia. A apresentação clínica é variável e relacionada às infecções de repetição, cansaço, sangramentos, dor abdominal e saciedade precoce. Embora as células pilosas sejam encontradas no sangue periférico, é necessário um aspirado de medula que quase sempre é seco devido à fibrose. Na medula existem as células neoplásicas cercadas por reticulinas. Os linfócitos são maiores e possuem citoplasma proeminente, com projeções. A citoquímica sugere o diagnóstico ao mostrar forte reação com a fosfatase ácida, resistente ao efeito inibitório do tartarato (TRAP). Esse padrão não costuma estar presente em outras desordens linfoproliferativas. A imunofenotipagem também contribui para o diagnóstico: as células neoplásicas mostram os marcadores monoclonais de células-B (CD19, CD20, CD22), além do CD103, CD11C e CD25. Algumas vezes o marcador “anexina A1” também pode ser identificado. O diagnóstico diferencial é feito com mielofibrose, anemia aplástica, síndromes mielodisplásicas, linfoma da zona marginal esplênico com linfócitos vilosos, entre outros. Tratamento: cladribina por 7 dias. 95% tem resposta parcial e 80% entra em remissão completa. A eficácia é duradoura quase sempre. Quando ocorrem recidivas a cura ainda é possível. Outras leucemias crônicas Leucemia Pró Linfocítica Crônica: tipo raro com intensa linfocitose (> 100.000/mm3 ), esplenomegalia de grande monta e citopenias. Os pró linfócitos são maiores e possuem um único nucléolo proeminente. A doença costuma ter uma sobrevida de três anos e uma resposta precária à terapia. Linfomas B que leucemizam com certa frequência são o linfoma folicular, o linfoma esplênico com células vilosas e o linfoma de células do manto. Leucemias crônicas de células-T: são bem mais raras que as de células-B. A mais comum é a síndrome de Sezary (leucemização da micose fungoide, um linfoma T cutâneo indolente), seguida pela leucemia de grandes linfócitos granulares, caracterizada por pancitopenia (com + neutropenia), hepatoesplenomegalia, e associação importante com a artrite reumatoide e outras desordens hematológicas. O curso é indolente e o tratamento é com metotrexate, ciclosporina ou ciclofosfamida. A leucemia de células T associada ao HTLV-1 tem um curso mais agudo ou subagudo e um prognóstico muito reservado. RODRIGUES, Adriana D.; SANTOS, Aniúsca Vieira dos; ROTTA, Liane N.; et al. Hematologia básica. Porto Alegre, RS: Grupo A, 2019. HOFFBRAND, AV.; MOSS, P. AH. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. Porto Alegre, RS: Grupo A, 2018. Concentrado de Plaquetas Quantidade: os concentrados unitários possuem 5,5x1010 plaquetas em 50-60 mL de plasma. Já as unidades em aférese contêm 3x plaquetas em 200-300 mL de plasma1011 (corresponde de 6 a 8 unidades de CP unitários). Indicações: plaquetopenia por falência medular (profilática - doenças hematológicas, quimioterapia e radioterapia) e mais raramente por destruição periférica ou alterações congênitas. Plaquetopenia por falência medular|profilática: a) se contagens < 10.000/µL na ausência de fatores de risco; b) se < 20.000/µL na presença de eventos hemorrágicos como febre (>38°C), hemorragias menores (petéquias, equimoses, gengivorragias), doença transplante versus hospedeiro, esplenomegalia, medicações que encurtam a sobrevida das plaquetas (antimicrobianos), hiperleucocitose (> 30.000/mm³), presença de outras alterações da hemostasia (leucemia promielocítica aguda) ou queda rápida da contagem de plaquetas. Observações: 1. Crianças toleram plaquetas mais baixas, definindo-se como critério contagens inferiores a 5.000/µL em pacientes estáveis. 2. Pacientes adultos portadores de tumores sólidos teriam maior risco de sangramento quando submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia associados à necrose tumoral, sendo indicado transfusão de CP se contagens inferiores a 20.000/µL. 3. Em situações em que a plaquetopenia por falência medular tem um caráter crônico (anemia aplástica grave, síndrome mielodisplásica, etc.), os pacientes devem ser observados sem transfusão. Esta, está indicada somente se contagens <5.000/µL ou 10.000/µL, se manifestações hemorrágicas. Transfusão pré-procedimentos cirúrgicos: Pode ser usada após utilização, sem resultados, de agentes antifibrinolíticos e DDAVP ou em casos de procedimentos cardíacos cirúrgicos, com circulação extracorpórea por mais de 90-120 min. Neste último a função pode estar comprometida pela ativação plaquetária com sangramento difuso intra-operatório. Nesse caso a reposição é feita se os níveis forem < 50.000/µL. Plaquetopenias por diluição ou destruição periférica: A reposição é feita em alguns casos. a)Transfusão maciça: espera-se uma contagem de plaquetas <50.000/µL se aproximadamente duas volemias sanguíneas forem trocadas do paciente. Nesta situação, recomenda-se a transfusão de CPs se a contagem for inferior a 50.000/µL e se inferior a 100.000/µL na presença de alteraçõesgraves da hemostasia, trauma múltiplo ou de sistema nervoso central; b)Coagulopatia intravascular disseminada: a reposição de plaquetas e fatores de coagulação é desencorajada, porém, em presença de sangramentos deve-se iniciar a reposição objetivando contagens superiores a 20.000/µL; c)Plaquetopenias imunes: a mais frequente forma de plaquetopenia imune é a púrpura trombocitopênica imune, associada à presença de auto-anticorpos antiplaquetas. Nesta situação, a transfusão de CPs é restrita a situações de sangramentos graves. A terapêutica de reposição deve ser agressiva e sempre associada ao tratamento específico com corticóides e imunoglobulina. d)Dengue hemorrágica: a trombocitopenia é causada pela presença de anticorpos que, dirigidos contra proteínas virais, apresentam reação cruzada contra antígenos plaquetários. Na prática, não há indicação para a transfusão profilática de plaquetas. Contra-indicações: púrpura trombocitopênica trombótica e plaquetopenia induzida por heparina. Compatibilidade ABO e RhD: As plaquetas possuem antígenos na sua superfície e níveis de expressão variáveis individualmente. Existem evidências de que a transfusão com ABO incompatível reduz 20% o incremento da contagem pós transfusional e é mais relevante se o paciente tiver anticorpos elevados. Deve-se preferir transfusão compatível também porque os indivíduos podem desenvolver aloimunidade pela contaminação com hemácias e em um tratamento crônico, isso pode atrapalhar os resultados. Dose e modo de administração: 1 unidade de CP para cada 7 a 10 kg, porém pode-se considerar também a contagem de plaquetas desejada dependendo da presença ou ausência de sangramento como segue: a) Transfusões terapêuticas (contagem desejada >40.000): ➔ > 55 kg: dose mínima de 6x (8-10U de CP unitários ou1011 1U CP obtidos por aférese). ➔ 15-55 kg: dose mínima de 3x (4-6U de CP unitários ou1011 0,5-1U CP obtidos por aférese). ➔ < 15 kg: dose de 5-10mL/kg. b) Transfusões profiláticas (contagem desejada >25.000): ➔ > 55 kg: dose mínima de 4x (6-8U de CP unitários ou1011 1U CP obtidos por aférese). ➔ < 55 kg: dose 1U de CP unitários para cada 10kg de peso. A dose de plaquetas pode ser calculada de maneira mais precisa, identificando-se o incremento plaquetário desejado (IP) e levando-se em conta a volemia sanguínea (VS) e o sequestro esplênico estimado (aproximadamente 33%), utilizando-se para isso a fórmula abaixo: O tempo de infusão do CP deve ser de aproximadamente 30 min, não excedendo a velocidade de 20-30mL/kg/hora. A avaliação da resposta deve ser feita 1 hora após a transfusão, porém a resposta clínica também deve ser considerada. Dois indicadores podem ser calculados e são úteis no acompanhamento da eficácia transfusional principalmente em transfusões profiláticas: Transfusão de CP eficaz R(%) > 30% em 1h e a 20% em 20-24h após a transfusão ou de ICC superiores a 7,5 em 1h e a 4,5-5,0 em 20-24h. Esta avaliação é útil na prática clínica para o diagnóstico de refratariedade plaquetária. Cálculo da superfície corporal: - <10 kg: (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑥 4) + 9 100 - > 10 kg: (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑥 4) + 7 (𝑝𝑒𝑠𝑜 + 90) Cálculo da volemia em mL: peso x 70. Obs.: em obesos deve ser calculado considerando o peso ideal e em crianças deve ser calculado usando 8 a 9% do peso. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Guia para o uso de hemocomponentes. Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010. Mielograma Avalia a composição citológica do parênquima medular por meio da análise microscópica de material aspirado de medula óssea. É fundamental para o diagnóstico e acompanhamento de doenças, hematológicas ou não, que afetam a hematopoese. Coleta: é feita por punção aspirativa da medula óssea, realizada, na maioria das vezes, sob anestesia local e, quando necessário, sob sedação. São coletadas de 1 a 2 ml. Locais: esterno (1ª ou 2ª esternebras, preferencialmente em adultos) e cristas ilíacas anterior ou posterior. Em crianças com menos de 1 ano e meio de idade, podese obter por punção tibial na crista posterior. Deve-se evitar locais com lesões de pele, infecções, fibrose ou cicatrizes. No caso de tumores sólidos, coletar no local mais próximo do tumor e no caso de mieloma múltiplo evitar a coleta esternal. Indicações: feito para avaliar a produção dos elementos precursores (de uma ou das três séries), seja em casos suspeitos de doença onco-hematológica ou em condições que afetem de alguma forma a hematopoese normal. Investigação diagnóstica de pancitopenias ou citopenias (anemia, leucopenia, plaquetopenia) inexplicadas. Febre de origem indeterminada. Agranulocitose. Leucocitose. Policitemia. Plaquetoses. Esplenomegalias a esclarecer (como no hiperesplenismo). Suspeita de infiltração tumoral metastática na medula óssea. Suspeita diagnóstica de neoplasias hematológicas (leucemias, linfomas, mielodisplasias, mielofibrose, mieloma). Estadiamento ou controle de tratamento de doenças oncohematológicas. - Avaliação de pacientes pré e póstransplante de célulastronco hematopoiéticas. - Diagnóstico de algumas doenças parasitárias (leishmaniose visceral) ou fúngicas (histoplasmose). - Diagnóstico de doenças de depósito, mucopolissacaridoses, entre outras condições. - Acompanhar a evolução da doença e controle do tratamento, segundo criteriosa indicação clínica. Exame: permite a realização de mielocultura, imunofenotipagem, reações citoquímicas e testes de citogenética convencional (cariótipo) ou molecular (hibridização in situ com fluorescência [FISH] e pesquisa de mutações por biologia molecular), que podem auxiliar na conclusão diagnóstica. Vantagens e limitações: o exame é rápido, de baixo custo, que traz informações rápidas e objetivas sobre as principais patologias que podem afetar a medula óssea. As principais desvantagens são o não fornecimento de informações sobre arquitetura histológica das células, prejudicando avaliação mais precisa de celularidade global, grau de fibrose, distribuição e localização das diferentes linhagens celulares no ambiente medular (informações fornecidas pelo histopatológico de medula). A biópsia medular não substitui o mielograma; ao contrário, ambos devem ser avaliados de maneira complementar. O aspirado medular permite que a morfologia celular seja muito bem observada e tem indicação absoluta nos casos de: citopenias isoladas ou associadas; pancitopenias; leucemias agudas; avaliação de depósitos de ferro medular (doenças crônicas, anemia sideroblástica); diagnóstico de infiltração tumoral metastática (tumores sólidos, neuroblastoma); estadiamento de linfomas; avaliação de tratamento quimioterápico; diagnóstico de doenças de depósito (histiócitos anômalos); síndrome hemofagocítica; diagnóstico de infecções (malária, calazar, histoplasmose, tuberculose); avaliação da linhagem megacariocítica (púrpuras); além da avaliação medular global no caso de doenças não hematológicas. A biópsia preserva a localização anatômica e a distribuição celular no microambiente medular, permitindo avaliação de disposição celular, quantidade de parênquima medular e de fibrose (avaliação de celularidade global). Indicada em condições em que não se obtém material de aspirado (dry tap) por razões técnicas ou próprias da medula, avaliação de bicitopenia ou pancitopenia (quando a hipocelularidade do aspirado dificulta sua avaliação), leucoeritroblastose periférica (sugerindo infiltração tumoral metastática, ou mielofibrose), estadiamento de tumores, avaliação de algumas doenças oncohematológicas (como mieloma múltiplo), elucidação de quadros de citopenias e aplasia/hipoplasia medulares. Informações fornecidas: 1. Celularidade global: hiper, hipo ou normocelular. Avaliada pela quantidade de parênquima medular presente no esfregaço. É mais bem avaliada com biópsia. 2. Grau de contaminação com sangue periférico: quanto mais elementos maduros do sangue estiverempresentes, maior o grau de diluição do aspirado. 3. Relação granulocítica/eritroblástica (RG/E): indica a proporção entre os precursores granulocíticos e os precursores eritroblásticos da medula óssea. Normalmente, essa relação situase entre 2 e 4/1 (em média, observam-se 3 granulócitos para cada eritroblasto medular). 4. Escalonamento maturativo da série granulocítica: contagem da porcentagem relativa de cada precursor granulocítico (mieloblasto, promielócito, mielócito, metamielócito, bastonete, segmentado), identificados morfologicamente por suas características próprias. A maturação granulocítica normal apresenta pico de maturação em metamielócitos. A observação da morfologia celular (alterações de tamanho celular, sincronia de maturação, granularidade, displasias ou atipias) pode sugerir algumas doenças. 5. Observase a presença de eosinofilia ou basofilia, recorrentes em algumas afecções. 6. Escalonamento maturativo da série eritroblástica: contagem da porcentagem relativa de cada precursor eritroblástico (proeritroblasto, eritroblasto basófilo, eritroblasto policromático e eritroblasto ortocromático), identificados morfologicamente por suas características. A maturação eritroblástica normal apresenta pico maturativo em eritroblastos policromáticos. A observação da morfologia celular (tamanho dos eritroblastos, assincronismo de maturação, inclusões citoplasmáticas, polimorfismo nuclear, mitoses, lobulações, bizarrias) pode indicar algumas doenças. 7. Série linfomonoplasmocitária: observa-se a contagem percentual de linfócitos, monócitos e plasmócitos, bem como sua morfologia (tamanho celular, cromatina nuclear, inclusões citoplasmáticas, bizarrias). 8. Elementos intersticiais (adipócitos, macrófagos, mastócitos, osteoblastos e osteoclastos): observação semi quantitativa da quantidade dos elementos citados, bem como de sua morfologia. 9. Série megacariocítica: observação da quantidade e da morfologia dos megacariócitos, bem como da produção de plaquetas. Observa-se o número e tamanho dos megacariócitos, características nucleares (hiper ou hipolobulações), presença de precursores (megacarioblastos) ou micromegacariócitos. 10. Elementos anômalos: aqui são referidos os elementos estranhos ao parênquima medular, como células blásticas, células tumorais, parasitas, fungos e cristais. 11. Após a descrição dos achados citomorfológicos (que constituem o laudo), o exame costuma trazer uma conclusão diagnóstica, sempre que possível, além da descrição de observações ou sugestões de realização de outros testes que o analista julgar relevantes para a elucidação diagnóstica. ANDRIOLO, Adagmar. Seção II: Hematologia. Capítulo 16 - Mielograma. in: ______ Manual da residência de medicina laboratorial. Barueri, SP: Editora Manole, 2019. p. 240-248. Conferência Sintomas B Anatomopatológico e imuno-histoquímico são feitos na ponta seca ou suspeita de LMC. LLC é a mais comum no ocidente. É diagnosticado por sangue periférico pois o linfoblasto é grande.