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Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública 
em Perspectiva Comparada
O SURGIMENTO DAS 
“DROGAS” E AS PREMISSAS 
PARA SEUS CONTROLES
MÓDULO
1MÓDULO
1
O SURGIMENTO DAS “DROGAS” 
E AS PREMISSAS PARA
 SEU CONTROLE
M I N I S T É R I O D A
J U S T I Ç A E
S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A
MÓDULO 1
O SURGIMENTO DAS “DROGAS” 
E AS PREMISSAS PARA 
SEU CONTROLE 
Fernanda Novaes Cruz 
 
Frederico Policarpo de Mendonça Filho 
 
Marcos Alexandre Veríssimo da Silva 
 
Roberto Kant de Lima 
 
GOVERNO FEDERAL 
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
Luís Inácio Lula da Silva 
MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA 
Ricardo Lewandowski 
SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO 
DE ATIVOS 
Marta Rodriguez de Assis Machado 
DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES 
Mauricio Fiore 
COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA 
Natália Neris da Silva Santos 
COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO 
BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS 
Geórgia Belisário Mota 
CONTEUDISTAS 
Fernanda Novaes Cruz 
Frederico Policarpo de Mendonça Filho 
Marcos Alexandre Veríssimo da Silva 
Mauricio Fiore 
Roberto Kant de Lima 
REVISÃO DE CONTEÚDO 
Jessica Santos Figueiredo 
Grazielle Teles de Araújo 
APOIO 
Brenda Juliana Silva 
Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade 
Luana Rodrigues Meneses de Sá 
Maria Aparecida Alves Dias
EXPEDIENTE
Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade: 
perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas 
e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do 
Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons 
Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. 
BY NC ND
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro
FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf
SUPERVISÃO TÉCNICA EAD
Giovana Schuelter 
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL
Francielli Schuelter 
SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala 
SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Elson Rodrigues Natario Junior 
DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro 
Larissa Usanovich de Menezes
Sofia Santos Stahelin
DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Sonia Trois
Eduardo Celestino
Giovana Aparecida dos Santos
Luana Pillmann de Barros
Vanessa de Oliveira Vieira
REVISÃO TEXTUAL
Cleusa Iracema Pereira Raimundo 
PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro 
Luan Rodrigo Silva Costa 
Luiz Eduardo Pizzinato
 
AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra 
Andrei Krepsky de Melo
Julia Britos
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Robner Domenici Esprocati
SUPERVISÃO TUTORIA 
João Batista de Oliveira Júnior 
Thaynara Gilli Tonolli
TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Alexandre Gava Menezes
André Fabiano Dyck
Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública 
em Perspectiva Comparada
O SURGIMENTO DAS 
“DROGAS” E AS PREMISSAS 
PARA SEUS CONTROLES
MÓDULO
1MÓDULO
1
O SURGIMENTO DAS “DROGAS” 
E AS PREMISSAS PARA
 SEU CONTROLE
GUIA DE AMBIENTAÇÃO 
COMO LER O E-BOOK
MÓDULOS
Este curso está dividido 
em módulos. O módulo 
correspondente e o conteúdo 
principal estão localizados na 
capa do e-book, logo abaixo do 
nome do curso.
GUIA DE AMBIENTAÇÃO 
COMO LER O E-BOOK
PÁGINAS INTERNAS
As páginas internas do e-book 
estão estruturadas em 
duas colunas.
A coluna mais estreita 
e externa (à esquerda) 
é utilizada para enquadrar 
ícones criados com a finalidade 
de destacar os recursos e 
elementos instrucionais, 
como o “VÍDEO”. 
VÍDEO
Os vídeos contemplam 
conteúdos complementares para 
enriquecimento do aprendizado 
e seus links estão representados 
pelo recurso QR Code.
GUIA DE AMBIENTAÇÃO 
COMO LER O E-BOOK
ÍCONES
Ajudam a localizar, focalizar 
e ressaltar respectivos textos 
informativos. Cada ícone apresenta 
uma função:
SAIBA MAIS 
Ao clicar no link, você é direcionado 
para documentos disponibilizados na 
internet, como leis e normas técnicas. 
É preciso estar conectado à internet 
para acessar o conteúdo.
PARA PENSAR 
Frase ou parágrafo que incentiva 
o cursista à reflexão, trazendo 
perguntas retóricas, reflexões ou 
questões que são respondidas logo 
depois do recurso.
PODCAST 
Este recurso apresenta de maneira 
transcrita o trecho do conteúdo que 
foi narrado e apresentado em formato 
áudio na versão on-line do curso.
CITAÇÃO 
Transcrições exatas de partes dos 
conteúdos dos autores utilizados nos 
materiais didáticos.
OUTRA PERSP CTIVA 
Trecho de conteúdo que traz outras 
perspectivas em relação às questões 
enraizadas no senso comum.
SÍNTESE DO MÓDULO
Trecho de conteúdo que contempla 
uma síntese dos pontos mais 
importantes vistos no módulo.
DESTAQUE
Trechos de conteúdos importantes 
para contribuir no aprendizado 
do cursista.
VERBETE
Recurso utilizado para 
explicar termos que 
podem ser desconhecidos 
ao cursista. 
SIGLAS
CDESC - Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento 
Social Comunitário
EUA - Estados Unidos da América
LSD - Dietilamida do Ácido Lisérgico
MDMA - Metilenodioximetanfetamina/Ecstasy
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos
SIMCI - Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos
SNC - Sistema Nervoso Central
UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 12
UNIDADE 1 | AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL 14
UNIDADE 2 | POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS 
DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS? 17
2.1 O senso comum e o método científico 17
2.2 Os “sensos comuns” em torno das drogas 21
UNIDADE 3 | CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, 
LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA 
DESSAS PALAVRAS? 24
UNIDADE 4 | O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA 28
4.1 Primeiras regulações e proibições das drogas 33
REFERÊNCIAS 40
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
10
Frederico Policarpo de Mendonça Filho
CONTEUDISTAS DO MÓDULO 
Marcos Alexandre Veríssimo da Silva
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade 
Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela 
mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-
sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012). 
É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança 
Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do 
Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade 
Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de 
Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-
nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de 
Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo 
de drogas e sistema de justiça criminal. 
Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura) 
pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia 
pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça 
Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense 
e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da 
Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto 
de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos 
(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação 
Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-
teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus 
usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos 
de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais 
mais ou menos definidos. 
Fernanda Novaes Cruz
Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São 
Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-
2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos 
(IESP-UERJ).Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada 
em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-
dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-
cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais 
(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no 
Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa 
de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de 
Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas, 
especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando 
principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho 
policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-
tituições policiais e judiciais.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
11
Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social 
pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-
vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-
mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em 
Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal 
Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa 
de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA), 
professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia 
e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-
dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira 
de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do 
Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com 
ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Política, 
Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.
Roberto Kant de Lima
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
12
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista! 
Bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo do curso COMPASSO - Curso 
sobre Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais. 
O termo “drogas” não tem uma definição clara e objetiva. O seu sig-
nificado depende do contexto social em que é utilizado, bem como da 
área de conhecimento que o mobiliza. Neste módulo, apresentaremos 
uma abordagem para o tema das drogas a partir da perspectiva das 
ciências sociais. Introduziremos alguns dos modelos de regulamen-
tação que têm sido adotados para lidar com o tema; e começaremos 
a discutir os processos sócio-históricos que contribuíram para a 
proibição do uso, da produção e da comercialização de uma série de 
substâncias em diversos países do mundo. 
Para aprofundar sua compreensão sobre a temática do curso, conforme 
apresentado no vídeo de ambientação e funcionamento do curso, 
utilize o “Glossário de termos sobre drogas”, que foi desenvolvido e 
publicado por meio de uma cooperação internacional entre o Centro 
de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário 
(CDESC) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos 
(SIMCI – Colômbia) com o objetivo de padronizar termos e promover 
um melhor entendimento de conceitos relacionados às drogas.
O CDESC é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas 
sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) do Ministério da Justiça 
e Segurança Pública do Brasil, o Programa das Nações Unidas para 
o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobr 
Drogas e Crime (UNODC).
Esse glossário está disponível em formato PDF no Ambiente Virtual 
de Aprendizagem, no menu lateral de todos os módulos do curso, 
denominado GLOSSÁRIO GERAL.
OBJETIVOS DO MÓDULO
 z Permitir aos cursistas a compreensão crítica do conceito de 
“drogas” na contemporaneidade e suas implicações. 
 z Abordar a diferenciação entre formulações obtidas 
a partir do senso comum e aquelas construídas a partir 
de método científico. 
 z Explicar a diferenciação entre a enunciação de problemas 
sociais e a formulação de perspectivas analíticas. 
 z Apresentar os aspectos históricos mais relevantes sobre o 
tema das drogas e das políticas sobre drogas. 
MÓDULO 1
Aponte a 
câmera do seu 
dispositivo móvel 
(smartphone ou 
tablet) para o QR 
Code ao lado e 
assista ao vídeo 
de apresentação 
do módulo!
VÍDEO
https://youtu.be/AaI6OeZVH2I
MÓDULO 1
UNIDADE 1
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
14
UNIDADE 1 
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL 
Antes de tudo, vamos começar este curso com uma pergunta simples: 
você sabe o que são drogas? Apesar de ser simples, a resposta a essa 
pergunta é complexa, porque a definição de drogas depende de uma 
série de fatores. Por exemplo, podemos, em uma primeira abor-
dagem, pensar as drogas do ponto de vista farmacológico e, portanto, 
defini-las como substâncias que podem afetar o funcionamento de 
um organismo. As drogas especificamente psicoativas podem ser 
classificadas em grupos a partir dos efeitos que elas podem gerar 
no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), conforme 
apresentado a seguir.
Diminuem a velocidade das mensagens que viajam 
entre o cérebro e o corpo. Eles podem reduzir 
a excitação e a estimulação, fazendo com que a pessoa 
se sinta relaxada ou sonolenta.
Depressoras/sedativas
Aceleram as mensagens que viajam entre o cérebro e o 
corpo. Elas podem fazer com que a pessoa se sinta mais 
desperta, alerta, confiante ou enérgica.
Estimulantes
Afetam todos os sentidos, alterando o pensamento, 
a percepção do tempo e as emoções de uma pessoa. 
Também podem fazer com que a pessoa tenha 
alucinações, veja ou ouça coisas que não existem 
ou que estejam distorcidas.
Psicodélicas
Há controvérsias a respeito de uma quarta classificação, a dos pertur-
badores, que se refere notadamente aos canabinoides e que, embora 
próximas dos psicodélicos, têm efeitos associados às outras três 
classificações. Resumidamente, elas podem fazer com que a pessoa 
se sinta feliz, relaxada, ansiosa ou paranoica. 
Também podemos responder à referida pergunta traçando relação 
com a natureza da substância: e desse ponto de vista as drogas são 
classificadas como sintéticas, como a anfetamina e os ansiolíticos, 
ou como de origem “natural”, como a maconha e a cocaína. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
15
Por outro lado, a pergunta daqueles que querem saber o que são 
drogas poderia ter como base o ponto de vista do estatuto jurídico, 
que classifica as substâncias entre lícitas e ilícitas.
Lícitas
Álcool
Tabaco
Cafeína
Solventes
Ilícitas
Cocaína
Maconha
LSD
MDMA (Ecstasy)
Heroína
Fonte: Adaptado de Alarcon 
(2012, p. 105).
Não é preciso ficar confuso com essas listas, ou ficar preocupado em 
tentar decorá-las para ter a resposta na ponta da língua. 
Para pensar
O mais importante para responder à pergunta disparadora 
do nosso debate é entender que a resposta será sempre 
contextual. Ou seja, é preciso entender que a própria palavra 
“droga” é utilizada de formas variadas, para classificar uma 
série de substâncias. 
Além disso, essas classificações são dinâmicas, o que corresponde 
a dizer que podem ser reformuladas. Por exemplo, atualmente, a 
planta Cannabis Sativa L., mais conhecida no Brasil como maconha, 
está deixando de ser uma droga ilícita e, aos poucos, sendo consi-
derada – e não sem muita controvérsia – como uma droga lícita. 
Em alguns países, a mudança na classificação legal da planta Can-
nabis para lícita já é uma realidade, inclusive com a permissão do 
seu livre consumo por adultos, como no Uruguai e no Canadá, para 
citar apenas dois casos.
MÓDULO 1
UNIDADE 2
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS 
NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS?
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
17
UNIDADE 2 
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADASAS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS 
CIÊNCIAS SOCIAIS? 
Conforme vimos na Unidade 1, existem muitas abordagens possíveis 
para estudarmos o tema das drogas. Poderíamos estudar a compo-
sição ou as suas peculiaridades químicas, os diferentes efeitos que 
o consumo de uma determinada substância gera nos indivíduos, 
ou ainda os elementos que contribuíram para que uma determinada 
droga seja considerada lícita ou ilícita. 
Todas essas abordagens podem nos oferecer conhecimentos impor-
tantes sobre o assunto. E, apesar das diferenças, todas elas possuem 
algo em comum: um método científico. O método científico é o que 
nos ajuda a analisar cientificamente uma hipótese, fazer um expe-
rimento, comprovar e/ou rejeitar uma hipótese, e talvez o elemento 
mais central: possibilita ser analisado, criticado e ou validado por 
outros pesquisadores da área. 
Neste curso, vamos explorar o tema das drogas a partir do paradigma 
das ciências sociais. Com essa abordagem, esperamos que você, cur-
sista, seja capaz de analisar os fatores históricos, sociais e culturais 
que contribuíram para a formação das percepções e opiniões das 
pessoas sobre o tema das drogas. 
2.1 O senso comum e o método científico
O sociólogo Anthony Giddens (2012) nos ensina que a maior parte 
das pessoas interpreta o mundo a partir do que é familiar a elas. 
Essas interpretações, que promovem uma espécie de sabedoria de 
navegação social, são identificadas na literatura sociológica pela 
expressão senso comum. 
O chamado senso comum é tudo aquilo que um 
determinado sujeito, inserido em uma dada realidade 
social, compartilha de sua cultura, de seus hábitos e de 
suas práticas sociais. Forma também o conteúdo das 
conversas e, por extensão, informa as redes interpretativas 
através das quais amplos consensos sociais vão sendo 
formados, reformados e eventualmente contestados. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
18
O senso comum é marcado por:
Aplicabilidade Acessibilidade Praticidade
Se aplica às 
rotinas e desafios 
da vida social.
Seus vocabulários 
e lógicas são 
acessíveis a 
praticamente
toda a população.
Resolvem ou 
administram 
problemas 
práticos
da vida 
cotidiana.
Sendo assim, o senso comum tende a operar na lógica da simplificação 
e da naturalização. Essa forma de ler o mundo, apesar de ser simples 
e acessível a todos, por vezes pode estar impregnada de preconceitos, 
especialmente quando diz respeito ao desconhecido. 
Podemos encontrar autores e professores que afirmam, para exem-
plificar, que o senso comum é como o ato de dirigir um veículo au-
tomotor nas ruas e estradas de nossas cidades. Ou seja, o condutor 
de veículo atento ao que faz, que dirige como se imagina que se deve 
dirigir, fará uma série de movimentos, com os membros superiores, 
os inferiores e o pescoço, automaticamente, enquanto conduz o veí-
culo. Imagine se o motorista se vê diante de um caminhão aparen-
temente desgovernado, deslocando-se rápida e perigosamente em 
sua direção. A sequência de movimentos muito bem coordenados que 
terá que fazer para escapar dessa situação de extremo perigo soará 
como automática, inconsciente. De fato, se tivesse que reproduzir 
uma equação matemática para calcular a velocidade e a angulação 
da rota de colisão do caminhão em direção a seu carro, certamente 
não sobreviveria para contar a história. 
Esse hipotético viajante das ruas aqui retratado, que utiliza sua des-
treza adquirida na prática da condução de veículos, está em uma 
posição análoga à dos sujeitos, pessoas, indivíduos que utilizam o 
senso comum para navegar socialmente, para ganhar a vida, namorar, 
cumprir obrigações sociais, profissionais e de parentesco, interpretar 
os fatos que lhes são apresentados ao longo da vida etc. 
A ciência, em contrapartida, utiliza métodos sistemáticos de inves-
tigação empírica, análise de dados, pensamento teórico e a avaliação 
lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento 
sobre um determinado assunto (Giddens, 2012).
Para ser aceita como válida, uma pesquisa científica precisa seguir 
uma série de etapas, tal como demonstra o esquema a seguir.
Aponte a 
câmera do seu 
dispositivo móvel 
(smartphone ou 
tablet) para o QR 
Code ao lado e 
assista ao vídeo 
de animação 
sobre os aspectos 
do senso comum!
VÍDEO
https://youtu.be/T0qwOoDYNxY
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
19
Definição do problema: o pesquisador 
seleciona o problema que ele deseja investigar.1
Execução da pesquisa: etapa de coleta 
dos dados.5
Etapas da pesquisa científica
Seus resultados são registrados e discutidos 
na comunidade acadêmica mais ampla – 
levando talvez ao início de novas pesquisas.
Interpretação dos resultados: análise 
dos dados coletados anteriormente; 
o pesquisador analisa se a hipótese 
da pesquisa se confirma ou não.
6
Apresentação dos resultados 
da pesquisa: o pesquisador apresenta 
os seus resultados, analisando-os em 
relação aos estudos anteriores realizados 
sobre o tema. A apresentação pode se dar 
por meio de artigos científicos, em reuniões 
ou congressos científicos, bancas 
de avaliação, entre outros.
7
Revisão de literatura: o pesquisador deve 
familiarizar-se com as pesquisas realizadas 
anteriormente no tema a ser investigado 
ou em temas correlatos.
2
Formulação da hipótese: usualmente, 
nesta etapa, o pesquisador formula uma 
pergunta de pesquisa que pode ou não ser 
confirmada pela pesquisa.
3
Delineamento da pesquisa: o pesquisador 
escolhe as técnicas e métodos que serão 
utilizados e que poderão contribuir 
para responder à(s) sua(s) pergunta(s) 
de pesquisa.
4
Fonte: Adaptado de Giddens (2012).
As ciências sociais se dedicam a compreender, de forma mais ampla do 
que as explicações do senso comum, por que agimos e como agimos. 
Por meio de métodos científicos, as pesquisas nessa área do conhe-
cimento buscam demonstrar como muitas coisas que interpretamos 
como naturais são profundamente influenciadas por fatos históricos 
e processos sociais. 
Diferentemente daquilo que acontece com físicos, químicos e boa 
parte dos biólogos, cujas pesquisas se dão em laboratórios guardados 
em condições controladas de temperatura e pressão, os cientistas 
sociais têm a vida social, na qual circulam como seres viventes, como 
seu “laboratório”. Enquanto sujeito que não apenas estuda, mas vive 
imerso nesse meio social, as inquietações que dão origem a seus 
projetos de pesquisa, não raro, surgem em articulação com seus 
desejos ou sistemas corporativos de crenças. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
20
Embora esse fenômeno afete todos os campos de produção do conhe-
cimento, os pesquisadores das ciências sociais estão especialmente 
intricados com os problemas sociais que estudam, e isso pode ser um 
grande complicador para seu trabalho. Como observou o sociólogo 
francês Remi Lenoir (1998), é para isso que devemos cuidadosamente 
atentar no momento de construir nossas análises sociológicas a partir 
do terreno minado dos problemas sociais. 
O papel do pesquisador é compreender os “problemas sociais”, é, 
portanto, fornecer subsídios confiáveis na forma de conhecimento 
para avançarmos no entendimento dos processos sociais. O primeiro 
passo para se compreender um “problema social” é considerá-lo 
como resultado de um trabalho social permanente, da atividade 
coletiva de várias pessoas, com interesses e motivações diversos. 
Isto é, transformar o “problema social” em um objeto sociológico.
O que é construído como ‘problemas sociais’ varia segundo as 
épocas e as regiões e pode desaparecer como tal, precisamente 
no momento em que subsistem os fenômenos designados por 
eles. É o caso, por exemplo, da pobreza que, nos Estados Unidos, 
foi um grave ‘problema social’ durante os anos 30, desapareceu 
na década de 1940-1950 e voltou a aparecer nos anos 80; 
ou ainda o caso do racismo que só se transformou emum 
‘problema social’ nos anos 60.
Lenoir, 1998, p. 64 
Considerando que o “problema social” não é algo dado, mas cons-
truído socialmente, o passo seguinte para compreendê-lo é analisar 
o contexto em que surge. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
21
PODCAST TRANSCRITO
Para que alguma prática ou condição social se torne um 
“problema social”, é preciso que um grupo de pessoas consiga 
chamar a atenção de todo mundo, que seja capaz de mobilizar a 
opinião pública em seu favor, fazendo com que a sua definição 
seja aceita. Se esse primeiro esforço for bem-sucedido, 
o “problema social” começa a ser “resolvido”, isto é, serão 
criados meios e ferramentas para, dependendo do “tipo de 
problema”, avaliar a sua “dimensão”, por meio de estatísticas 
de empresas e institutos, para “combatê-lo” com novos 
departamentos policiais; para “estudá-lo”, com novas 
especialidades de formação, e assim por diante. Quanto mais 
bem-sucedido for o trabalho de definição, mais investimentos e 
atenção o “problema social” vai receber. 
A análise sociológica de todos esses elementos, dos grupos envolvidos, 
passando pelos meios de veiculação mobilizados, até a institucionali-
zação das ações para “resolver” o “problema social”, é o que produz 
evidências científicas. Ao contrário do senso comum, as evidências 
científicas são testadas e discutidas.
2.2 Os “sensos comuns” em torno 
das drogas
A formulação “as ‘drogas’ matam e fazem mal” é uma afirmação 
amplamente compartilhada por porções da população brasileira e 
mundial atualmente. A cientista política canadense Line Beauchesne, 
com vasta experiência de pesquisa nesse campo, demonstra que certo 
terror criado sobre as “drogas”, muito longe de poupar os indivíduos 
e as coletividades dos males que tais substâncias eventualmente 
podem trazer, acaba se tornando parte do problema.
As drogas podem corresponder a necessidades de descontração, 
bem-estar e servir de suporte de maneira adequada a certas 
atividades e certos estilos de vida. Todavia, se o consumo 
de drogas pode fornecer benefícios tanto físicos quanto 
psicológicos, estes podem se transformar em malefícios para a 
saúde do consumidor e, mesmo, para sua organização de vida, 
se o consumo não puder mais ser controlado adequadamente 
segundo as necessidades e capacidades do consumidor, 
ou os valores e limites de seu meio social. Os benefícios podem 
também se transformar em malefícios caso os indivíduos 
tenham associado um medo muito forte a estes produtos e a 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
22
uma forte convicção de seu teor nocivo. No Quebec, 
por exemplo, como em outros lugares, no passado, quando 
médicos e pacientes curados convenceram uma parte da 
população de que a masturbação podia causar cegueira, loucura 
e, mesmo, provocar a morte, diversas pessoas, após a prática da 
masturbação, ficaram cegas, loucas, e mesmo morreram. 
A crença no efeito de uma ação ou efeito placebo de um produto 
não pode ser negligenciada no que diz respeito ao discurso-
pânico sobre a questão das drogas. O estresse da desobediência, 
a culpa e a crença, na realidade dos efeitos anunciados, podem 
ser suficientes para levar pessoas a confirmar em seus corpos e 
comportamentos os malefícios dos produtos.
Beauchesne, 2014, p. 28 
Portanto, mais do que negar as ideias do senso comum, neste curso 
exploraremos as origens delas e demonstraremos que muitas das 
que parecem inatas ou imutáveis estão sujeitas às mutações sociais. 
Além disso, apresentaremos como as evidências vindas do mundo 
científico têm contribuído para desmistificarmos algumas das visões 
vigentes nos sensos comuns sobre o tema das drogas. 
Aponte a 
câmera do seu 
dispositivo móvel 
(smartphone ou 
tablet) para o QR 
Code ao lado e 
assista ao vídeo 
que trata sobre 
a distinção entre 
senso comum 
e perspectiva 
analítica. 
VÍDEO
https://youtu.be/MXHXARFvdLk
MÓDULO 1
UNIDADE 3
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR: 
O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS?
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
24
UNIDADE 3 
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, 
LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA 
UMA DESSAS PALAVRAS? 
Uma vez que propomos estudar o tema das drogas a partir da pers-
pectiva da sociedade, precisamos compreender o estado atual do 
tema em uma determinada sociedade, assim como os processos que 
nos guiaram até o momento que estamos hoje. 
Émile Durkheim, considerado um dos pais fundadores da sociologia, 
contribuiu significativamente para que as questões que antes eram 
atribuídas a um comportamento individual passassem a ser concebidas 
como forças e relações sociais (Giddens, 2011). Durkheim analisou 
temas como o crime, o desvio e o direito. Para ele, o direito é um in-
dicador da evolução das sociedades (Lallement, 2008). A partir dele 
podemos identificar os valores e crenças vigentes em uma determi-
nada sociedade. Ele afirma que no mundo social o direito teria duas 
funções: atingir aqueles que cometem as transgressões e restituir a 
sociedade, um determinado indivíduo ou um grupo de pessoas do 
direito que foi lesado. Em uma sociedade em movimento, as normas 
e leis que a regem também estão em movimento. Em razão disso, 
determinadas condutas, que em dado momento são consideradas 
criminosas, podem deixar de ser, ou pode ocorrer o processo inverso, 
uma conduta que não era considerada criminosa em um determinado 
momento histórico tornar-se criminosa. 
Outra contribuição importante para o tema é a do sociólogo estadu-
nidense Howard Becker (2005). Ele é um dos principais autores do 
que chamamos de “sociologia do desvio”. A partir de uma pesquisa 
de campo com musicistas de jazz e usuários de maconha na cidade 
de Chicago (EUA), ele defende que o desvio é uma criação social, 
ou seja, a sociedade define o que é o comportamento normal e, con-
sequentemente, o comportamento anormal (desviante). Em geral, 
as regras que definem um desvio seriam criadas por pessoas em 
posição de maior poder em uma sociedade e se direcionariam às que 
estão em posição de menor poder. 
Émile Durkheim.
Fonte: Wikipédia.
Howard Becker.
Fonte: © [Sophie Bassouls/Sygma] 
|The New York Times.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
25
Portanto, para Becker, o quanto um determinado ato será 
tratado ou não como desvio depende de quem o comete 
e de quem se sente prejudicado por ele, assim como as 
regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas 
do que a outras. 
Portanto, se Durkheim nos ensina que compreender as regras formais 
– definidas pelo direito – nos ajuda a compreender os valores de 
uma determinada sociedade, Becker nos ensina como a construção 
dessas regras usualmente reproduz estruturas de poder vigentes 
na sociedade. Além das contribuições de Durkheim e de Becker, 
uma série de autores, no Brasil e no mundo, tem se dedicado a 
compreender diversos aspectos sobre o tema das drogas a partir 
das ciências sociais. Alguns deles serão apresentados ao longo deste 
curso. Mas, em resumo, uma abordagem para o tema das drogas a 
partir das ciências sociais busca demonstrar que:
[...] não há uma substância e nem um indivíduo como elementos 
universais e objetivos, mas há contextos sociais e culturais 
diferentes, de substâncias diferentes e realizados por indivíduos 
diferentes e, sem a devida atenção a essa diversidade, não é 
possível uma compreensão razoável do fenômeno.
Fiore, 2020, p. 26-27 
Se consideramos que a forma de gestão do tema das drogas é social, 
precisamos conhecer algumas das formas como as sociedades vêm 
lidando com essa questão, seja no sentido de proibir, controlar ou até 
mesmo de não opinar sobre o seu uso. No esquema a seguir, apresen-
tamos algumas dessas possibilidades. No Módulo 5, discutiremos um 
pouco mais o que alguns desses termos significam nos atuais debates 
a respeitoda política sobre drogas.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
26
Tornar uma conduta/prática um crime previsto pelo Código Penal.
Criminalizar
O consumo da substância continua sendo crime de acordo com o 
Código Penal, mas é retirada a pena de prisão para o usuário.
Despenalizar o uso
Retira a conduta/prática do Código Penal, portanto, deixa de ser 
crime. No entanto, podem ser estabelecidas ou medidas 
administrativas, tais como multa, para determinadas condutas 
consideradas inadequadas.
Descriminalizar
Estabelecer uma ou mais normas ou leis para a produção, venda 
ou consumo de substâncias psicoativas.
Regulamentar
Torna lícita todas as atividades ligadas a produção, comércio 
e consumo das drogas.
Legalizar
Aponte a câmera 
do seu dispositivo 
móvel (smartphone 
ou tablet) para o 
QRCode ao lado 
e assista ao vídeo 
sobre as diferentes 
categorias de 
controle das drogas.
VÍDEO
https://youtu.be/e2uTHrXC2HU
MÓDULO 1
UNIDADE 4
O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA
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Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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UNIDADE 4 
O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA 
Conhecer os processos históricos em que se desenvolveram as nossas 
concepções nos ajuda a desnaturalizar ideias que pareciam naturais e 
compreender como foram construídas as visões que possuímos hoje 
sobre um determinado assunto. Isso se aplica ao tema das drogas. 
O historiador Henrique Carneiro (2005), um dos principais especia-
listas sobre o tema no Brasil, nos indica uma possível etimologia da 
palavra drogas. 
Verbete
Etimologia: 
1. Parte da gramática que trata da 
origem e formação das palavras.
2. Origem de uma palavra.
A palavra ‘droga’ provavelmente deriva do termo holandês 
droog, que significava produtos secos e servia para designar, 
dos séculos XVI ao XVIII, um conjunto de substâncias naturais 
utilizadas, sobretudo, na alimentação e na medicina. Mas o 
termo também foi usado na tinturaria ou como uma substância 
que poderia ser consumida por mero prazer.
Carneiro, 2005, p. 11 
Sendo assim, a análise da provável origem da palavra “droga” já nos 
mostra que o termo foi usado com diferentes significados ao longo dos 
séculos: na alimentação, na medicina, na tinturaria ou para definir 
as práticas sociais mais diversas.
Fonte: © [master1305] / Freepik.
Se observarmos a grafia da palavra utilizada em diversos idiomas 
contemporâneos, veremos que a vinculação etimológica, tese de 
Carneiro, é consistente. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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“Droga” → português, espanhol, italiano 
“Drug” → inglês 
“Drogue” → francês 
“Drosch” → alemão 
Esses exemplos são para citar algumas línguas faladas ao redor do 
mundo e de alguma forma vinculadas ao que se convencionou chamar 
de cultura ocidental. Temos, inequivocamente, na etimologia dessa 
palavra, um radical compartilhado. 
Aprofundando mais o assunto, o antropólogo Eduardo Viana Vargas nos 
fornece mais algumas informações importantes sobre o contexto do 
surgimento da palavra “droga” e seus usos. Ele diz que essa etimologia:
[...] também nos permite situar a emergência do vocábulo 
[droga] diretamente no contexto dos contatos entre os povos 
europeus e seus outros (encarnados, na época, sobretudo pelos 
árabes e demais povos do Oriente), tais como esses contatos se 
deram nos últimos séculos da Idade Média.
Vargas, 2008, p. 42 
Portanto, além de diferentes significados, a palavra “droga” parece 
ter surgido para dar conta de sentidos que apareceram com força no 
contexto do contato dos povos europeus com outros povos, como os 
árabes e os africanos, e posteriormente os ameríndios, após o fim da 
Idade Média. Ou seja, a palavra “droga” começou a ser usada para 
designar substâncias exóticas, estranhas ao mundo europeu da época, 
coincidindo com o período de inovações nas ciências náuticas, que 
permitiram, por sua vez, uma exploração do mundo em níveis antes 
praticamente impensáveis. 
É importante ressaltar que esse é o período da “expansão europeia”, 
inicialmente para o Oriente, e adiante para a África e América, com as 
“grandes navegações”, que impulsionaram a criação de rotas comerciais 
e, consequentemente, o contato entre os povos. Em suma, ensejaram 
a experiência da diferença cultural em níveis até então inéditos.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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SAIBA MAIS
O comércio europeu na época da “expansão” se baseava em 
diversos produtos, entre eles, especiarias, açúcar, temperos 
como cravo, canela, pimenta, gengibre e noz-moscada. 
Também, tecidos, corantes e alimentos típicos de cada região. 
Para saber mais sobre esse período, acesse o link, disponível 
em: https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/
grandes-navegacoes.
Através desse contato, uma série de substâncias amplamente classifi-
cadas como drogas se tornaram conhecidas e muito apreciadas pelos 
europeus. E que drogas eram essas tão valiosas? Muito provavelmente 
você tem na despensa de sua casa, mas nunca pensou nessas substân-
cias dessa forma: essas “drogas” são as especiarias, tão comuns na 
culinária brasileira. Além delas, outras substâncias que hoje consi-
deramos alimentos também já foram mais comumente classificadas 
como “drogas”. Veja em seguida alguns exemplos.
https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes
https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes
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Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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Na mesma direção, as substâncias que atraíram o interesse europeu 
por seus efeitos psicofarmacológicos, ou, dito de outra maneira, 
por sua capacidade de alterar os estados de consciência, como o tabaco, 
a maconha e a coca, também foram nomeadas de “drogas”.
O ponto a ser destacado aqui é que há inúmeras substâncias diferentes 
entre si, além das citadas. Ainda poderíamos incluir o pau-brasil, 
a quina, a copaíba. Como já mencionado, não adianta tentar separar 
essas substâncias em listas ou decorar seus nomes. 
A solução, como também já destacamos, é entender que o 
uso da palavra “droga” se modificou ao longo da história. 
Portanto, não há uma qualidade intrínseca em qualquer 
substância que a conduza a ser classificada, ou não, como 
droga. O foco não deve ser na substância, qualquer que seja 
ela, mas na escolha que é feita, em determinado momento, 
sobre o que é ou não droga.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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Em seguida, uma vez que se entende como uma substância é defi-
nida, deve-se focar em como sua produção, circulação, mercados 
e consumo são regulados pela sociedade, por meio de instituições, 
leis e costumes. Assim, há um ponto em comum entre todas essas 
substâncias que, ao longo da história, foram classificadas dessa forma:
[...] todas essas substâncias vieram de longe, de fora da Europa: 
o açúcar e o café da Arábia, o chá da China, o chocolate e o tabaco 
da América, e mesmo as bebidas destiladas, que aparentemente 
foram inicialmente elaboradas na Europa, só o foram em virtude 
da introdução, naquele continente, do alambique, aparelho que, 
ao que tudo indica, é de origem árabe.
Vargas, 2008, p. 48 
Esse é um ponto muito importante que a análise etimológica e histórica 
nos indica e que merece ser destacado. A palavra “droga” surgiu no 
contexto de complexos encontros culturais e começou a ser usada para 
classificar substâncias exóticas, desconhecidas do mundo europeu. 
Por serem desconhecidas, as “drogas” foram consideradas muito 
valiosas e desejadas, de tal forma que despertaram muito interesse 
e grande aceitação, por suas potencialidades mercadológicas, espa-
lhando-se assim pelo mundo todo. É interessante observar que essa 
dupla característica das “drogas”, de algo exótico e desconhecido, 
mas que desperta desejo e aceitação, continua ainda presentena 
maneira como os Estados modernos lidam com essas substâncias.
Por um lado, classificamos como 
“drogas” as substâncias que não 
deveriam fazer parte do mundo 
atual, que devem ser criminalizadas 
e proibidas, taxadas como venenos.
Por outro lado, também são 
denominadas como “drogas” 
substâncias que nos salvam a vida, 
amplamente desejadas e aceitas, 
que se tornam medicamentos e são 
produzidas em escala industrial.
Foto: © [itakdalee] / iStock.
Foto: © [Pixabay] / Pexels.
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
33
Entre as concepções de veneno e remédio, abre-se ainda um arco de 
outros usos possíveis, hedonísticos, ritualísticos etc.
Um dos termos mais utilizados como sinônimo de drogas é o de 
fármaco – daí a farmácia e a farmacopeia –, e sua origem é a língua 
grega. Pharmakon era um termo polissêmico (de muitos sentidos) 
e poderia ser remédio, veneno ou até inócuo, a depender da dose, 
do contexto e do objetivo de quem usa ou ministra para uso a outra 
pessoa (Serson, 2007).
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e assista ao vídeo 
sobre a diversidade 
na caracterização, 
mercados e consumo 
de “drogas” 
em diferentes 
sociedades!
VÍDEO
4.1 Primeiras regulações e proibições 
das drogas
É difícil assegurar qual foi a primeira regulação estatual ou mesmo 
a primeira proibição de alguma droga no mundo. Isso porque nem 
sempre temos os registros históricos acessíveis das normas e regras 
que regeram determinadas sociedades. No entanto, a partir da histo-
riografia, somos capazes de encontrar alguns momentos históricos 
que são considerados marcos no mundo Ocidental. Nesta unidade, 
falaremos sobre o caso do álcool e da maconha. 
Atualmente o consumo de álcool é amplamente disseminado; portanto, 
ele é considerado uma droga lícita em diversos países. Entretanto, 
ao longo da história, o consumo e a venda de álcool foram objetos 
de uma série de disputas que culminaram em diferentes iniciativas 
de proibição e/ou controle. 
https://youtu.be/HsX-LGM78mU
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1730
Em poucas décadas, seu consumo 
proliferou e, por volta de 1730, 
o consumo massivo, especialmente 
entre as pessoas mais pobres, 
se tornou um problema social.
Naquele contexto, o álcool aparecia 
para os mais pobres como uma saída 
para lidar com as condições de 
miserabilidade enfrentadas pelo país.
Sérgio Shecaira (2014) analisa a 
gênese da proibição do álcool e 
demonstra como, por volta de 
1690, sua produção e consumo 
foram amplamente incentivados 
na Inglaterra.
1690
Em resposta a esse uso, os setores 
mais privilegiados da sociedade 
passaram a defender políticas que 
restringissem o acesso das classes 
mais pobres ao álcool.
Em 1736, foi aprovada uma forte 
taxação à bebida, o que acabou por 
restringir a possibilidade de 
consumo pelos setores mais pobres.
Em paralelo a isso, desenvolveu-se 
uma série de práticas para alterar a 
percepção social acerca do álcool, 
e o seu consumo, que antes era 
incentivado, passa a ser considerado 
algo a ser combatido.
1736
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
35
Um processo semelhante também foi experienciado nos Estados 
Unidos anos depois. Durante o final do século XIX, o chamado “mo-
vimento de temperança”, sustentado por setores tradicionais e com 
tendências religiosas, intensificou o incentivo pela proibição do uso 
de bebidas alcóolicas no país. Diversas políticas de controle do ál-
cool foram implementadas nos Estados Unidos ao longo de décadas, 
chegando ao auge com a promulgação de sua proibição através da Lei 
Seca, que vigorou entre 1919 e 1933 (Shecaira, 2014).
Mesmo com a revogação da Lei Seca, o espírito de proibição 
que pairava sobre as drogas permaneceu, e novos hábitos 
de consumo foram sendo impostos estatalmente. Nos anos 
seguintes, outras proibições mais severas e abrangentes 
estariam por vir. O próximo passo seria a proibição da maconha.
Shecaira, 2014, p. 337-338 
Quando chegamos a um riacho, encontramos por lá pelo menos 
umas dez pessoas, rapazes e moças de uma fazenda vizinha que 
já eram conhecidos do Belchior e nos receberam muito bem. 
Eles tinham liamba, e me ofereceram. Eu já tinha sentido o 
cheiro na senzala e percebido que as pessoas ficavam muito 
felizes de fumar, e foi essa sensação que eu tive, de alegria. 
Primeiro achei que não tinha acontecido nada, mas logo comecei 
a sentir uma moleza pelo corpo, os movimentos ficando cada vez 
mais preguiçosos, assim como também tive a impressão de que a 
água do riacho corria mais devagar.
Gonçalves, 2021, p. 120 
Já o tema da proibição da maconha nos remete quase que imedia-
tamente à história da proibição que ocorreu nos Estados Unidos a 
partir do século XIX, tema que exploraremos no próximo módulo do 
curso. Mas você sabia que a primeira proibição da maconha do mundo 
ocorreu aqui no Brasil? No romance “Um defeito de cor”, Ana Maria 
Gonçalves narra a história de uma menina escravizada, desde a vinda 
da África até a rotina da escravidão no Brasil. A história narrada mis-
tura elementos ficcionais com relatos de uma série de documentos 
encontrados pela autora durante uma viagem para a Bahia. Em uma 
passagem do livro, há o registro acerca do uso da “liamba de Angola”, 
outro nome utilizado para maconha:
Embora não possamos aferir com certeza que essa passagem advém 
dos materiais de pesquisa coletada pela autora, registros trazidos por 
outros historiadores também demonstram como o uso de maconha 
era disseminado entre os escravizados no Brasil. O historiador Edison 
Carneiro (1958), ao estudar o Quilombo dos Palmares, afirma também 
que a “liamba” era utilizada pelos escravizados em momentos de 
tristeza e/ou de saudade da África. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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Anos antes do final do período da escravidão – que ocorreu no país 
apenas em 1888 – foi editada no Brasil a primeira norma legal que 
proibiu o uso e a venda de maconha, na época chamada de “pito do 
pango” ou “diamba”.
Reportagem do jornal “O Globo”, década de 30.
Fonte: smokebuddies.
O código de postura municipal do Rio de Janeiro de 1830 previa multa 
para os vendedores e três dias de cadeia para os consumidores, 
destacando, entre estes, os escravizados. 
É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a 
conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão 
multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais 
pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia.
Mott, 1986, p. 131 
A lei é considerada uma forma de controle social da população negra, 
assim como outras leis que foram promulgadas antes e depois da 
abolição da escravidão no país que proibiam ou controlavam uma 
série de condutas e práticas realizadas majoritariamente por essa 
parcela da população. 
Além de precursor na proibição da planta, o Brasil, por meio da atuação 
de José Rodrigues Dória, também contribuiu para a proibição da 
planta internacionalmente. Em dezembro de 1915, durante o II Con-
gresso Científico Pan-Americano, o médico e professor das faculdades 
de Direito e Medicina da Bahia apresentou um trabalho intitulado 
“Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício”. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
37
Suas bases teóricas eram o evolucionismo social do 
século XIX e as teorias racistas da degenerescência, 
as quais tinham à época o status de legitimidade 
científica, que posteriormente deixariam de ter. 
Rodrigues Dória se esforçou para incluir a maconha entre as “drogas” 
que deveriam ser proibidas de existir no mundo, e esse esforço teve 
resultado positivo. 
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o evolucionismo social dessa época, 
assista ao vídeo “A entrada das teorias raciais no Brasil”, 
com Lilia Schwarcz,disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=93f7nkbD7tY. 
É notável que grande parte dos dados utilizados por Dória foram ob-
tidos em segunda mão, por via de médicos colaboradores, que traba-
lhavam em sanatórios, quartéis e prisões. Sendo assim, a associação 
(melhor dizendo, as relações de causalidade), que o autor alega, entre 
o hábito de fumar maconha com a criminalidade e as doenças men-
tais, toma como base dados claramente enviesados, uma vez que são 
produzidos em interação com populações já compostas, em grande 
parte, por pessoas em tratamento de doenças mentais, sob regime de 
internato, ou cumprindo penas por crimes anteriormente cometidos. 
Por volta da década de 1930, seu trabalho era tido como uma refe-
rência de estudo sobre a maconha, em um tempo em que a planta 
havia caído na ilicitude, interditando assim a existência de novas 
pesquisas. Contudo, com o passar do tempo, tais “verdades” sobre a 
maconha e os adeptos de seu uso passaram a ser contestadas quando 
postas à prova. Um exemplo disso é que alguns dos aspectos que Dória 
apontava como fazendo parte dos “males do vício”, como os efeitos 
Suas descrições da planta, dos plantios às margens do Rio São Fran-
cisco, no Nordeste brasileiro, e de espaços de sociabilidade são de-
talhadas. A sua tese era a de que a planta era perigosa e representava 
um castigo à civilização branca que colonizou o Brasil por meio da 
escravidão de povos de origem africana. Ele denunciava o que afirmava 
ser o efeito “degenerante” do consumo da maconha na população 
brasileira e que sua cultura teria entrado no Brasil pelas mãos dos 
“povos oriundos da África”. O efeito de alguém se tornar adepto dessa 
substância seria, com o tempo, segundo suas conclusões, converter-se 
em um pervertido, um imbecil, em suma, um degenerado.
https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5
https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
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Para pensar
Dória mobiliza um sistema de crenças aceito à época 
como conhecimento científico, que seria posteriormente 
ultrapassado e destituído da condição acadêmico-científica, 
mas que vez por outra volta na condição de mais nova 
mitologia do senso comum. O estudo de Dória nos alerta 
como tanto para o pesquisador, ou para o professor, ou para 
o estudioso, o importante é estar atento para que nossos 
desejos não embotem nosso senso crítico em relação ao que 
nos é dado como dados da pretensa realidade.
afrodisíacos e antidepressivos da maconha, fartamente descritos 
no trabalho, seriam considerados, no contexto da medicina atual, 
promotores de bem-estar.
O exemplo da proibição do álcool no contexto inglês e estadunidense 
e o da proibição da maconha no Brasil reforçam questões que a so-
ciologia vem apontando desde sua gênese sobre o tema do desvio e 
das regras. Entre elas: 
A criação e a imposição 
de regras é um processo 
construído socialmente. 
Assim como a sociedade é 
dinâmica, as regras e leis 
que a regem também são 
e, portanto, alterações nos 
contextos sociais e culturais 
podem implicar também 
alterações nas normas e 
valores vigentes. 
Usualmente, a definição dos 
atos desviantes reproduz as 
estruturas de poder vigentes 
em uma sociedade; portanto, 
a compreensão dos atos 
desviantes nos ensina também 
sobre os poderes e valores 
vigentes em uma sociedade. 
Curso COMPASSO 
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 
39
Esses pontos, embora não sejam os únicos, são fundamentais para 
entendermos como o tema das drogas vem sendo tratado pela so-
ciedade atualmente.
[...] mais do que se apropriar da experiência do consumo de 
drogas, o que as sociedades contemporâneas parecem ter 
feito foi criar literalmente o próprio fenômeno das drogas: 
mais remotamente, com a loucura das especiarias e, mais 
recentemente, com o duplo processo da invasão farmacêutica e 
da criminalização das drogas assim tornadas ilícitas.
Vargas, 2010, p. 55 
Veja a seguir os pontos mais importantes demonstrados neste módulo.
SÍNTESE DO MÓDULO
Neste módulo, procuramos introduzir o tema do curso 
por meio da problematização de sua categoria central, 
que é a de “droga” (intencionalmente deixada entre 
aspas). Em seguida, a partir de uma leitura do tema 
sob a perspectiva das ciências sociais, buscamos 
problematizar os sensos comuns vigentes sobre o 
tema e ultrapassar formas naturalizadas de interpretar 
a realidade. Por isso, nos atentamos para as distinções 
entre a perspectiva científica e a do senso comum 
na busca pelo conhecimento. Demonstramos ainda 
como uma série de questões culturais, econômicas 
e sociais são fundamentais para entendermos como 
as sociedades têm lidado com o tema das drogas, 
sobretudo a partir do caso do álcool e da maconha. 
Nos próximos módulos, continuaremos a explorar esse 
tema no mundo contemporâneo.
Você finalizou o Módulo 1! 
No próximo módulo abordaremos a construção daquilo que cha-
mamos de paradigma médico-jurídico e seus consequentes efeitos 
nas políticas de segurança pública.
40
REFERÊNCIAS
ACSELRAD, G. Drogas, a educação para a autonomia como garantia de 
direitos. Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63, p. 96-104, out./
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M I N I S T É R I O D A
J U S T I Ç A E
S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A
REALIZAÇÃO
	aPRESENTAÇÃO
	unidade 1
As “drogas” no mundo Ocidental 
	unidade 2
Por que e como são estudadas as drogas na perspectiva das ciências sociais? 
	2.1 O senso comum e o método científico
	2.2 Os “sensos comuns” em torno 
das drogas
	unidade 3
Criminalizar, descriminalizar, legalizar: o que significa cada uma dessas palavras? 
	unidade 4
O tema das drogas na história 
	4.1 Primeiras regulações e proibições 
das drogas
	Referências

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