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Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública em Perspectiva Comparada O SURGIMENTO DAS “DROGAS” E AS PREMISSAS PARA SEUS CONTROLES MÓDULO 1MÓDULO 1 O SURGIMENTO DAS “DROGAS” E AS PREMISSAS PARA SEU CONTROLE M I N I S T É R I O D A J U S T I Ç A E S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A MÓDULO 1 O SURGIMENTO DAS “DROGAS” E AS PREMISSAS PARA SEU CONTROLE Fernanda Novaes Cruz Frederico Policarpo de Mendonça Filho Marcos Alexandre Veríssimo da Silva Roberto Kant de Lima GOVERNO FEDERAL PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luís Inácio Lula da Silva MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Ricardo Lewandowski SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO DE ATIVOS Marta Rodriguez de Assis Machado DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES Mauricio Fiore COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA Natália Neris da Silva Santos COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS Geórgia Belisário Mota CONTEUDISTAS Fernanda Novaes Cruz Frederico Policarpo de Mendonça Filho Marcos Alexandre Veríssimo da Silva Mauricio Fiore Roberto Kant de Lima REVISÃO DE CONTEÚDO Jessica Santos Figueiredo Grazielle Teles de Araújo APOIO Brenda Juliana Silva Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade Luana Rodrigues Meneses de Sá Maria Aparecida Alves Dias EXPEDIENTE Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. BY NC ND UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA COORDENAÇÃO GERAL Luciano Patrício Souza de Castro FINANCEIRO Fernando Machado Wolf SUPERVISÃO TÉCNICA EAD Giovana Schuelter SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL Francielli Schuelter SUPERVISÃO DE MOODLE Andreia Mara Fiala SECRETARIA ADMINISTRATIVA Elson Rodrigues Natario Junior DESIGN INSTRUCIONAL Supervisão: Milene Silva de Castro Larissa Usanovich de Menezes Sofia Santos Stahelin DESIGN GRÁFICO Supervisão: Sonia Trois Eduardo Celestino Giovana Aparecida dos Santos Luana Pillmann de Barros Vanessa de Oliveira Vieira REVISÃO TEXTUAL Cleusa Iracema Pereira Raimundo PROGRAMAÇÃO Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Luan Rodrigo Silva Costa Luiz Eduardo Pizzinato AUDIOVISUAL Supervisão: Rafael Poletto Dutra Andrei Krepsky de Melo Julia Britos Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Robner Domenici Esprocati SUPERVISÃO TUTORIA João Batista de Oliveira Júnior Thaynara Gilli Tonolli TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Alexandre Gava Menezes André Fabiano Dyck Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública em Perspectiva Comparada O SURGIMENTO DAS “DROGAS” E AS PREMISSAS PARA SEUS CONTROLES MÓDULO 1MÓDULO 1 O SURGIMENTO DAS “DROGAS” E AS PREMISSAS PARA SEU CONTROLE GUIA DE AMBIENTAÇÃO COMO LER O E-BOOK MÓDULOS Este curso está dividido em módulos. O módulo correspondente e o conteúdo principal estão localizados na capa do e-book, logo abaixo do nome do curso. GUIA DE AMBIENTAÇÃO COMO LER O E-BOOK PÁGINAS INTERNAS As páginas internas do e-book estão estruturadas em duas colunas. A coluna mais estreita e externa (à esquerda) é utilizada para enquadrar ícones criados com a finalidade de destacar os recursos e elementos instrucionais, como o “VÍDEO”. VÍDEO Os vídeos contemplam conteúdos complementares para enriquecimento do aprendizado e seus links estão representados pelo recurso QR Code. GUIA DE AMBIENTAÇÃO COMO LER O E-BOOK ÍCONES Ajudam a localizar, focalizar e ressaltar respectivos textos informativos. Cada ícone apresenta uma função: SAIBA MAIS Ao clicar no link, você é direcionado para documentos disponibilizados na internet, como leis e normas técnicas. É preciso estar conectado à internet para acessar o conteúdo. PARA PENSAR Frase ou parágrafo que incentiva o cursista à reflexão, trazendo perguntas retóricas, reflexões ou questões que são respondidas logo depois do recurso. PODCAST Este recurso apresenta de maneira transcrita o trecho do conteúdo que foi narrado e apresentado em formato áudio na versão on-line do curso. CITAÇÃO Transcrições exatas de partes dos conteúdos dos autores utilizados nos materiais didáticos. OUTRA PERSP CTIVA Trecho de conteúdo que traz outras perspectivas em relação às questões enraizadas no senso comum. SÍNTESE DO MÓDULO Trecho de conteúdo que contempla uma síntese dos pontos mais importantes vistos no módulo. DESTAQUE Trechos de conteúdos importantes para contribuir no aprendizado do cursista. VERBETE Recurso utilizado para explicar termos que podem ser desconhecidos ao cursista. SIGLAS CDESC - Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário EUA - Estados Unidos da América LSD - Dietilamida do Ácido Lisérgico MDMA - Metilenodioximetanfetamina/Ecstasy PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos SIMCI - Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos SNC - Sistema Nervoso Central UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 12 UNIDADE 1 | AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL 14 UNIDADE 2 | POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS? 17 2.1 O senso comum e o método científico 17 2.2 Os “sensos comuns” em torno das drogas 21 UNIDADE 3 | CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS? 24 UNIDADE 4 | O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA 28 4.1 Primeiras regulações e proibições das drogas 33 REFERÊNCIAS 40 Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 10 Frederico Policarpo de Mendonça Filho CONTEUDISTAS DO MÓDULO Marcos Alexandre Veríssimo da Silva Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer- sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012). É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi- nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo de drogas e sistema de justiça criminal. Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura) pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in- teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais mais ou menos definidos. Fernanda Novaes Cruz Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019- 2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ).Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa- dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui- cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais (DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas, especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins- tituições policiais e judiciais. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 11 Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har- vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir- mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi- dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Política, Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades. Roberto Kant de Lima Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 12 APRESENTAÇÃO Olá, cursista! Bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo do curso COMPASSO - Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais. O termo “drogas” não tem uma definição clara e objetiva. O seu sig- nificado depende do contexto social em que é utilizado, bem como da área de conhecimento que o mobiliza. Neste módulo, apresentaremos uma abordagem para o tema das drogas a partir da perspectiva das ciências sociais. Introduziremos alguns dos modelos de regulamen- tação que têm sido adotados para lidar com o tema; e começaremos a discutir os processos sócio-históricos que contribuíram para a proibição do uso, da produção e da comercialização de uma série de substâncias em diversos países do mundo. Para aprofundar sua compreensão sobre a temática do curso, conforme apresentado no vídeo de ambientação e funcionamento do curso, utilize o “Glossário de termos sobre drogas”, que foi desenvolvido e publicado por meio de uma cooperação internacional entre o Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (CDESC) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos (SIMCI – Colômbia) com o objetivo de padronizar termos e promover um melhor entendimento de conceitos relacionados às drogas. O CDESC é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobr Drogas e Crime (UNODC). Esse glossário está disponível em formato PDF no Ambiente Virtual de Aprendizagem, no menu lateral de todos os módulos do curso, denominado GLOSSÁRIO GERAL. OBJETIVOS DO MÓDULO z Permitir aos cursistas a compreensão crítica do conceito de “drogas” na contemporaneidade e suas implicações. z Abordar a diferenciação entre formulações obtidas a partir do senso comum e aquelas construídas a partir de método científico. z Explicar a diferenciação entre a enunciação de problemas sociais e a formulação de perspectivas analíticas. z Apresentar os aspectos históricos mais relevantes sobre o tema das drogas e das políticas sobre drogas. MÓDULO 1 Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o QR Code ao lado e assista ao vídeo de apresentação do módulo! VÍDEO https://youtu.be/AaI6OeZVH2I MÓDULO 1 UNIDADE 1 AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 14 UNIDADE 1 AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL Antes de tudo, vamos começar este curso com uma pergunta simples: você sabe o que são drogas? Apesar de ser simples, a resposta a essa pergunta é complexa, porque a definição de drogas depende de uma série de fatores. Por exemplo, podemos, em uma primeira abor- dagem, pensar as drogas do ponto de vista farmacológico e, portanto, defini-las como substâncias que podem afetar o funcionamento de um organismo. As drogas especificamente psicoativas podem ser classificadas em grupos a partir dos efeitos que elas podem gerar no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), conforme apresentado a seguir. Diminuem a velocidade das mensagens que viajam entre o cérebro e o corpo. Eles podem reduzir a excitação e a estimulação, fazendo com que a pessoa se sinta relaxada ou sonolenta. Depressoras/sedativas Aceleram as mensagens que viajam entre o cérebro e o corpo. Elas podem fazer com que a pessoa se sinta mais desperta, alerta, confiante ou enérgica. Estimulantes Afetam todos os sentidos, alterando o pensamento, a percepção do tempo e as emoções de uma pessoa. Também podem fazer com que a pessoa tenha alucinações, veja ou ouça coisas que não existem ou que estejam distorcidas. Psicodélicas Há controvérsias a respeito de uma quarta classificação, a dos pertur- badores, que se refere notadamente aos canabinoides e que, embora próximas dos psicodélicos, têm efeitos associados às outras três classificações. Resumidamente, elas podem fazer com que a pessoa se sinta feliz, relaxada, ansiosa ou paranoica. Também podemos responder à referida pergunta traçando relação com a natureza da substância: e desse ponto de vista as drogas são classificadas como sintéticas, como a anfetamina e os ansiolíticos, ou como de origem “natural”, como a maconha e a cocaína. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 15 Por outro lado, a pergunta daqueles que querem saber o que são drogas poderia ter como base o ponto de vista do estatuto jurídico, que classifica as substâncias entre lícitas e ilícitas. Lícitas Álcool Tabaco Cafeína Solventes Ilícitas Cocaína Maconha LSD MDMA (Ecstasy) Heroína Fonte: Adaptado de Alarcon (2012, p. 105). Não é preciso ficar confuso com essas listas, ou ficar preocupado em tentar decorá-las para ter a resposta na ponta da língua. Para pensar O mais importante para responder à pergunta disparadora do nosso debate é entender que a resposta será sempre contextual. Ou seja, é preciso entender que a própria palavra “droga” é utilizada de formas variadas, para classificar uma série de substâncias. Além disso, essas classificações são dinâmicas, o que corresponde a dizer que podem ser reformuladas. Por exemplo, atualmente, a planta Cannabis Sativa L., mais conhecida no Brasil como maconha, está deixando de ser uma droga ilícita e, aos poucos, sendo consi- derada – e não sem muita controvérsia – como uma droga lícita. Em alguns países, a mudança na classificação legal da planta Can- nabis para lícita já é uma realidade, inclusive com a permissão do seu livre consumo por adultos, como no Uruguai e no Canadá, para citar apenas dois casos. MÓDULO 1 UNIDADE 2 POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS? Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 17 UNIDADE 2 POR QUE E COMO SÃO ESTUDADASAS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS? Conforme vimos na Unidade 1, existem muitas abordagens possíveis para estudarmos o tema das drogas. Poderíamos estudar a compo- sição ou as suas peculiaridades químicas, os diferentes efeitos que o consumo de uma determinada substância gera nos indivíduos, ou ainda os elementos que contribuíram para que uma determinada droga seja considerada lícita ou ilícita. Todas essas abordagens podem nos oferecer conhecimentos impor- tantes sobre o assunto. E, apesar das diferenças, todas elas possuem algo em comum: um método científico. O método científico é o que nos ajuda a analisar cientificamente uma hipótese, fazer um expe- rimento, comprovar e/ou rejeitar uma hipótese, e talvez o elemento mais central: possibilita ser analisado, criticado e ou validado por outros pesquisadores da área. Neste curso, vamos explorar o tema das drogas a partir do paradigma das ciências sociais. Com essa abordagem, esperamos que você, cur- sista, seja capaz de analisar os fatores históricos, sociais e culturais que contribuíram para a formação das percepções e opiniões das pessoas sobre o tema das drogas. 2.1 O senso comum e o método científico O sociólogo Anthony Giddens (2012) nos ensina que a maior parte das pessoas interpreta o mundo a partir do que é familiar a elas. Essas interpretações, que promovem uma espécie de sabedoria de navegação social, são identificadas na literatura sociológica pela expressão senso comum. O chamado senso comum é tudo aquilo que um determinado sujeito, inserido em uma dada realidade social, compartilha de sua cultura, de seus hábitos e de suas práticas sociais. Forma também o conteúdo das conversas e, por extensão, informa as redes interpretativas através das quais amplos consensos sociais vão sendo formados, reformados e eventualmente contestados. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 18 O senso comum é marcado por: Aplicabilidade Acessibilidade Praticidade Se aplica às rotinas e desafios da vida social. Seus vocabulários e lógicas são acessíveis a praticamente toda a população. Resolvem ou administram problemas práticos da vida cotidiana. Sendo assim, o senso comum tende a operar na lógica da simplificação e da naturalização. Essa forma de ler o mundo, apesar de ser simples e acessível a todos, por vezes pode estar impregnada de preconceitos, especialmente quando diz respeito ao desconhecido. Podemos encontrar autores e professores que afirmam, para exem- plificar, que o senso comum é como o ato de dirigir um veículo au- tomotor nas ruas e estradas de nossas cidades. Ou seja, o condutor de veículo atento ao que faz, que dirige como se imagina que se deve dirigir, fará uma série de movimentos, com os membros superiores, os inferiores e o pescoço, automaticamente, enquanto conduz o veí- culo. Imagine se o motorista se vê diante de um caminhão aparen- temente desgovernado, deslocando-se rápida e perigosamente em sua direção. A sequência de movimentos muito bem coordenados que terá que fazer para escapar dessa situação de extremo perigo soará como automática, inconsciente. De fato, se tivesse que reproduzir uma equação matemática para calcular a velocidade e a angulação da rota de colisão do caminhão em direção a seu carro, certamente não sobreviveria para contar a história. Esse hipotético viajante das ruas aqui retratado, que utiliza sua des- treza adquirida na prática da condução de veículos, está em uma posição análoga à dos sujeitos, pessoas, indivíduos que utilizam o senso comum para navegar socialmente, para ganhar a vida, namorar, cumprir obrigações sociais, profissionais e de parentesco, interpretar os fatos que lhes são apresentados ao longo da vida etc. A ciência, em contrapartida, utiliza métodos sistemáticos de inves- tigação empírica, análise de dados, pensamento teórico e a avaliação lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento sobre um determinado assunto (Giddens, 2012). Para ser aceita como válida, uma pesquisa científica precisa seguir uma série de etapas, tal como demonstra o esquema a seguir. Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o QR Code ao lado e assista ao vídeo de animação sobre os aspectos do senso comum! VÍDEO https://youtu.be/T0qwOoDYNxY Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 19 Definição do problema: o pesquisador seleciona o problema que ele deseja investigar.1 Execução da pesquisa: etapa de coleta dos dados.5 Etapas da pesquisa científica Seus resultados são registrados e discutidos na comunidade acadêmica mais ampla – levando talvez ao início de novas pesquisas. Interpretação dos resultados: análise dos dados coletados anteriormente; o pesquisador analisa se a hipótese da pesquisa se confirma ou não. 6 Apresentação dos resultados da pesquisa: o pesquisador apresenta os seus resultados, analisando-os em relação aos estudos anteriores realizados sobre o tema. A apresentação pode se dar por meio de artigos científicos, em reuniões ou congressos científicos, bancas de avaliação, entre outros. 7 Revisão de literatura: o pesquisador deve familiarizar-se com as pesquisas realizadas anteriormente no tema a ser investigado ou em temas correlatos. 2 Formulação da hipótese: usualmente, nesta etapa, o pesquisador formula uma pergunta de pesquisa que pode ou não ser confirmada pela pesquisa. 3 Delineamento da pesquisa: o pesquisador escolhe as técnicas e métodos que serão utilizados e que poderão contribuir para responder à(s) sua(s) pergunta(s) de pesquisa. 4 Fonte: Adaptado de Giddens (2012). As ciências sociais se dedicam a compreender, de forma mais ampla do que as explicações do senso comum, por que agimos e como agimos. Por meio de métodos científicos, as pesquisas nessa área do conhe- cimento buscam demonstrar como muitas coisas que interpretamos como naturais são profundamente influenciadas por fatos históricos e processos sociais. Diferentemente daquilo que acontece com físicos, químicos e boa parte dos biólogos, cujas pesquisas se dão em laboratórios guardados em condições controladas de temperatura e pressão, os cientistas sociais têm a vida social, na qual circulam como seres viventes, como seu “laboratório”. Enquanto sujeito que não apenas estuda, mas vive imerso nesse meio social, as inquietações que dão origem a seus projetos de pesquisa, não raro, surgem em articulação com seus desejos ou sistemas corporativos de crenças. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 20 Embora esse fenômeno afete todos os campos de produção do conhe- cimento, os pesquisadores das ciências sociais estão especialmente intricados com os problemas sociais que estudam, e isso pode ser um grande complicador para seu trabalho. Como observou o sociólogo francês Remi Lenoir (1998), é para isso que devemos cuidadosamente atentar no momento de construir nossas análises sociológicas a partir do terreno minado dos problemas sociais. O papel do pesquisador é compreender os “problemas sociais”, é, portanto, fornecer subsídios confiáveis na forma de conhecimento para avançarmos no entendimento dos processos sociais. O primeiro passo para se compreender um “problema social” é considerá-lo como resultado de um trabalho social permanente, da atividade coletiva de várias pessoas, com interesses e motivações diversos. Isto é, transformar o “problema social” em um objeto sociológico. O que é construído como ‘problemas sociais’ varia segundo as épocas e as regiões e pode desaparecer como tal, precisamente no momento em que subsistem os fenômenos designados por eles. É o caso, por exemplo, da pobreza que, nos Estados Unidos, foi um grave ‘problema social’ durante os anos 30, desapareceu na década de 1940-1950 e voltou a aparecer nos anos 80; ou ainda o caso do racismo que só se transformou emum ‘problema social’ nos anos 60. Lenoir, 1998, p. 64 Considerando que o “problema social” não é algo dado, mas cons- truído socialmente, o passo seguinte para compreendê-lo é analisar o contexto em que surge. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 21 PODCAST TRANSCRITO Para que alguma prática ou condição social se torne um “problema social”, é preciso que um grupo de pessoas consiga chamar a atenção de todo mundo, que seja capaz de mobilizar a opinião pública em seu favor, fazendo com que a sua definição seja aceita. Se esse primeiro esforço for bem-sucedido, o “problema social” começa a ser “resolvido”, isto é, serão criados meios e ferramentas para, dependendo do “tipo de problema”, avaliar a sua “dimensão”, por meio de estatísticas de empresas e institutos, para “combatê-lo” com novos departamentos policiais; para “estudá-lo”, com novas especialidades de formação, e assim por diante. Quanto mais bem-sucedido for o trabalho de definição, mais investimentos e atenção o “problema social” vai receber. A análise sociológica de todos esses elementos, dos grupos envolvidos, passando pelos meios de veiculação mobilizados, até a institucionali- zação das ações para “resolver” o “problema social”, é o que produz evidências científicas. Ao contrário do senso comum, as evidências científicas são testadas e discutidas. 2.2 Os “sensos comuns” em torno das drogas A formulação “as ‘drogas’ matam e fazem mal” é uma afirmação amplamente compartilhada por porções da população brasileira e mundial atualmente. A cientista política canadense Line Beauchesne, com vasta experiência de pesquisa nesse campo, demonstra que certo terror criado sobre as “drogas”, muito longe de poupar os indivíduos e as coletividades dos males que tais substâncias eventualmente podem trazer, acaba se tornando parte do problema. As drogas podem corresponder a necessidades de descontração, bem-estar e servir de suporte de maneira adequada a certas atividades e certos estilos de vida. Todavia, se o consumo de drogas pode fornecer benefícios tanto físicos quanto psicológicos, estes podem se transformar em malefícios para a saúde do consumidor e, mesmo, para sua organização de vida, se o consumo não puder mais ser controlado adequadamente segundo as necessidades e capacidades do consumidor, ou os valores e limites de seu meio social. Os benefícios podem também se transformar em malefícios caso os indivíduos tenham associado um medo muito forte a estes produtos e a Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 22 uma forte convicção de seu teor nocivo. No Quebec, por exemplo, como em outros lugares, no passado, quando médicos e pacientes curados convenceram uma parte da população de que a masturbação podia causar cegueira, loucura e, mesmo, provocar a morte, diversas pessoas, após a prática da masturbação, ficaram cegas, loucas, e mesmo morreram. A crença no efeito de uma ação ou efeito placebo de um produto não pode ser negligenciada no que diz respeito ao discurso- pânico sobre a questão das drogas. O estresse da desobediência, a culpa e a crença, na realidade dos efeitos anunciados, podem ser suficientes para levar pessoas a confirmar em seus corpos e comportamentos os malefícios dos produtos. Beauchesne, 2014, p. 28 Portanto, mais do que negar as ideias do senso comum, neste curso exploraremos as origens delas e demonstraremos que muitas das que parecem inatas ou imutáveis estão sujeitas às mutações sociais. Além disso, apresentaremos como as evidências vindas do mundo científico têm contribuído para desmistificarmos algumas das visões vigentes nos sensos comuns sobre o tema das drogas. Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o QR Code ao lado e assista ao vídeo que trata sobre a distinção entre senso comum e perspectiva analítica. VÍDEO https://youtu.be/MXHXARFvdLk MÓDULO 1 UNIDADE 3 CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS? Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 24 UNIDADE 3 CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS? Uma vez que propomos estudar o tema das drogas a partir da pers- pectiva da sociedade, precisamos compreender o estado atual do tema em uma determinada sociedade, assim como os processos que nos guiaram até o momento que estamos hoje. Émile Durkheim, considerado um dos pais fundadores da sociologia, contribuiu significativamente para que as questões que antes eram atribuídas a um comportamento individual passassem a ser concebidas como forças e relações sociais (Giddens, 2011). Durkheim analisou temas como o crime, o desvio e o direito. Para ele, o direito é um in- dicador da evolução das sociedades (Lallement, 2008). A partir dele podemos identificar os valores e crenças vigentes em uma determi- nada sociedade. Ele afirma que no mundo social o direito teria duas funções: atingir aqueles que cometem as transgressões e restituir a sociedade, um determinado indivíduo ou um grupo de pessoas do direito que foi lesado. Em uma sociedade em movimento, as normas e leis que a regem também estão em movimento. Em razão disso, determinadas condutas, que em dado momento são consideradas criminosas, podem deixar de ser, ou pode ocorrer o processo inverso, uma conduta que não era considerada criminosa em um determinado momento histórico tornar-se criminosa. Outra contribuição importante para o tema é a do sociólogo estadu- nidense Howard Becker (2005). Ele é um dos principais autores do que chamamos de “sociologia do desvio”. A partir de uma pesquisa de campo com musicistas de jazz e usuários de maconha na cidade de Chicago (EUA), ele defende que o desvio é uma criação social, ou seja, a sociedade define o que é o comportamento normal e, con- sequentemente, o comportamento anormal (desviante). Em geral, as regras que definem um desvio seriam criadas por pessoas em posição de maior poder em uma sociedade e se direcionariam às que estão em posição de menor poder. Émile Durkheim. Fonte: Wikipédia. Howard Becker. Fonte: © [Sophie Bassouls/Sygma] |The New York Times. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 25 Portanto, para Becker, o quanto um determinado ato será tratado ou não como desvio depende de quem o comete e de quem se sente prejudicado por ele, assim como as regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas do que a outras. Portanto, se Durkheim nos ensina que compreender as regras formais – definidas pelo direito – nos ajuda a compreender os valores de uma determinada sociedade, Becker nos ensina como a construção dessas regras usualmente reproduz estruturas de poder vigentes na sociedade. Além das contribuições de Durkheim e de Becker, uma série de autores, no Brasil e no mundo, tem se dedicado a compreender diversos aspectos sobre o tema das drogas a partir das ciências sociais. Alguns deles serão apresentados ao longo deste curso. Mas, em resumo, uma abordagem para o tema das drogas a partir das ciências sociais busca demonstrar que: [...] não há uma substância e nem um indivíduo como elementos universais e objetivos, mas há contextos sociais e culturais diferentes, de substâncias diferentes e realizados por indivíduos diferentes e, sem a devida atenção a essa diversidade, não é possível uma compreensão razoável do fenômeno. Fiore, 2020, p. 26-27 Se consideramos que a forma de gestão do tema das drogas é social, precisamos conhecer algumas das formas como as sociedades vêm lidando com essa questão, seja no sentido de proibir, controlar ou até mesmo de não opinar sobre o seu uso. No esquema a seguir, apresen- tamos algumas dessas possibilidades. No Módulo 5, discutiremos um pouco mais o que alguns desses termos significam nos atuais debates a respeitoda política sobre drogas. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 26 Tornar uma conduta/prática um crime previsto pelo Código Penal. Criminalizar O consumo da substância continua sendo crime de acordo com o Código Penal, mas é retirada a pena de prisão para o usuário. Despenalizar o uso Retira a conduta/prática do Código Penal, portanto, deixa de ser crime. No entanto, podem ser estabelecidas ou medidas administrativas, tais como multa, para determinadas condutas consideradas inadequadas. Descriminalizar Estabelecer uma ou mais normas ou leis para a produção, venda ou consumo de substâncias psicoativas. Regulamentar Torna lícita todas as atividades ligadas a produção, comércio e consumo das drogas. Legalizar Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o QRCode ao lado e assista ao vídeo sobre as diferentes categorias de controle das drogas. VÍDEO https://youtu.be/e2uTHrXC2HU MÓDULO 1 UNIDADE 4 O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 28 UNIDADE 4 O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA Conhecer os processos históricos em que se desenvolveram as nossas concepções nos ajuda a desnaturalizar ideias que pareciam naturais e compreender como foram construídas as visões que possuímos hoje sobre um determinado assunto. Isso se aplica ao tema das drogas. O historiador Henrique Carneiro (2005), um dos principais especia- listas sobre o tema no Brasil, nos indica uma possível etimologia da palavra drogas. Verbete Etimologia: 1. Parte da gramática que trata da origem e formação das palavras. 2. Origem de uma palavra. A palavra ‘droga’ provavelmente deriva do termo holandês droog, que significava produtos secos e servia para designar, dos séculos XVI ao XVIII, um conjunto de substâncias naturais utilizadas, sobretudo, na alimentação e na medicina. Mas o termo também foi usado na tinturaria ou como uma substância que poderia ser consumida por mero prazer. Carneiro, 2005, p. 11 Sendo assim, a análise da provável origem da palavra “droga” já nos mostra que o termo foi usado com diferentes significados ao longo dos séculos: na alimentação, na medicina, na tinturaria ou para definir as práticas sociais mais diversas. Fonte: © [master1305] / Freepik. Se observarmos a grafia da palavra utilizada em diversos idiomas contemporâneos, veremos que a vinculação etimológica, tese de Carneiro, é consistente. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 29 “Droga” → português, espanhol, italiano “Drug” → inglês “Drogue” → francês “Drosch” → alemão Esses exemplos são para citar algumas línguas faladas ao redor do mundo e de alguma forma vinculadas ao que se convencionou chamar de cultura ocidental. Temos, inequivocamente, na etimologia dessa palavra, um radical compartilhado. Aprofundando mais o assunto, o antropólogo Eduardo Viana Vargas nos fornece mais algumas informações importantes sobre o contexto do surgimento da palavra “droga” e seus usos. Ele diz que essa etimologia: [...] também nos permite situar a emergência do vocábulo [droga] diretamente no contexto dos contatos entre os povos europeus e seus outros (encarnados, na época, sobretudo pelos árabes e demais povos do Oriente), tais como esses contatos se deram nos últimos séculos da Idade Média. Vargas, 2008, p. 42 Portanto, além de diferentes significados, a palavra “droga” parece ter surgido para dar conta de sentidos que apareceram com força no contexto do contato dos povos europeus com outros povos, como os árabes e os africanos, e posteriormente os ameríndios, após o fim da Idade Média. Ou seja, a palavra “droga” começou a ser usada para designar substâncias exóticas, estranhas ao mundo europeu da época, coincidindo com o período de inovações nas ciências náuticas, que permitiram, por sua vez, uma exploração do mundo em níveis antes praticamente impensáveis. É importante ressaltar que esse é o período da “expansão europeia”, inicialmente para o Oriente, e adiante para a África e América, com as “grandes navegações”, que impulsionaram a criação de rotas comerciais e, consequentemente, o contato entre os povos. Em suma, ensejaram a experiência da diferença cultural em níveis até então inéditos. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 30 SAIBA MAIS O comércio europeu na época da “expansão” se baseava em diversos produtos, entre eles, especiarias, açúcar, temperos como cravo, canela, pimenta, gengibre e noz-moscada. Também, tecidos, corantes e alimentos típicos de cada região. Para saber mais sobre esse período, acesse o link, disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/ grandes-navegacoes. Através desse contato, uma série de substâncias amplamente classifi- cadas como drogas se tornaram conhecidas e muito apreciadas pelos europeus. E que drogas eram essas tão valiosas? Muito provavelmente você tem na despensa de sua casa, mas nunca pensou nessas substân- cias dessa forma: essas “drogas” são as especiarias, tão comuns na culinária brasileira. Além delas, outras substâncias que hoje consi- deramos alimentos também já foram mais comumente classificadas como “drogas”. Veja em seguida alguns exemplos. https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 31 Na mesma direção, as substâncias que atraíram o interesse europeu por seus efeitos psicofarmacológicos, ou, dito de outra maneira, por sua capacidade de alterar os estados de consciência, como o tabaco, a maconha e a coca, também foram nomeadas de “drogas”. O ponto a ser destacado aqui é que há inúmeras substâncias diferentes entre si, além das citadas. Ainda poderíamos incluir o pau-brasil, a quina, a copaíba. Como já mencionado, não adianta tentar separar essas substâncias em listas ou decorar seus nomes. A solução, como também já destacamos, é entender que o uso da palavra “droga” se modificou ao longo da história. Portanto, não há uma qualidade intrínseca em qualquer substância que a conduza a ser classificada, ou não, como droga. O foco não deve ser na substância, qualquer que seja ela, mas na escolha que é feita, em determinado momento, sobre o que é ou não droga. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 32 Em seguida, uma vez que se entende como uma substância é defi- nida, deve-se focar em como sua produção, circulação, mercados e consumo são regulados pela sociedade, por meio de instituições, leis e costumes. Assim, há um ponto em comum entre todas essas substâncias que, ao longo da história, foram classificadas dessa forma: [...] todas essas substâncias vieram de longe, de fora da Europa: o açúcar e o café da Arábia, o chá da China, o chocolate e o tabaco da América, e mesmo as bebidas destiladas, que aparentemente foram inicialmente elaboradas na Europa, só o foram em virtude da introdução, naquele continente, do alambique, aparelho que, ao que tudo indica, é de origem árabe. Vargas, 2008, p. 48 Esse é um ponto muito importante que a análise etimológica e histórica nos indica e que merece ser destacado. A palavra “droga” surgiu no contexto de complexos encontros culturais e começou a ser usada para classificar substâncias exóticas, desconhecidas do mundo europeu. Por serem desconhecidas, as “drogas” foram consideradas muito valiosas e desejadas, de tal forma que despertaram muito interesse e grande aceitação, por suas potencialidades mercadológicas, espa- lhando-se assim pelo mundo todo. É interessante observar que essa dupla característica das “drogas”, de algo exótico e desconhecido, mas que desperta desejo e aceitação, continua ainda presentena maneira como os Estados modernos lidam com essas substâncias. Por um lado, classificamos como “drogas” as substâncias que não deveriam fazer parte do mundo atual, que devem ser criminalizadas e proibidas, taxadas como venenos. Por outro lado, também são denominadas como “drogas” substâncias que nos salvam a vida, amplamente desejadas e aceitas, que se tornam medicamentos e são produzidas em escala industrial. Foto: © [itakdalee] / iStock. Foto: © [Pixabay] / Pexels. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 33 Entre as concepções de veneno e remédio, abre-se ainda um arco de outros usos possíveis, hedonísticos, ritualísticos etc. Um dos termos mais utilizados como sinônimo de drogas é o de fármaco – daí a farmácia e a farmacopeia –, e sua origem é a língua grega. Pharmakon era um termo polissêmico (de muitos sentidos) e poderia ser remédio, veneno ou até inócuo, a depender da dose, do contexto e do objetivo de quem usa ou ministra para uso a outra pessoa (Serson, 2007). Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o QR Code ao lado e assista ao vídeo sobre a diversidade na caracterização, mercados e consumo de “drogas” em diferentes sociedades! VÍDEO 4.1 Primeiras regulações e proibições das drogas É difícil assegurar qual foi a primeira regulação estatual ou mesmo a primeira proibição de alguma droga no mundo. Isso porque nem sempre temos os registros históricos acessíveis das normas e regras que regeram determinadas sociedades. No entanto, a partir da histo- riografia, somos capazes de encontrar alguns momentos históricos que são considerados marcos no mundo Ocidental. Nesta unidade, falaremos sobre o caso do álcool e da maconha. Atualmente o consumo de álcool é amplamente disseminado; portanto, ele é considerado uma droga lícita em diversos países. Entretanto, ao longo da história, o consumo e a venda de álcool foram objetos de uma série de disputas que culminaram em diferentes iniciativas de proibição e/ou controle. https://youtu.be/HsX-LGM78mU Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 34 1730 Em poucas décadas, seu consumo proliferou e, por volta de 1730, o consumo massivo, especialmente entre as pessoas mais pobres, se tornou um problema social. Naquele contexto, o álcool aparecia para os mais pobres como uma saída para lidar com as condições de miserabilidade enfrentadas pelo país. Sérgio Shecaira (2014) analisa a gênese da proibição do álcool e demonstra como, por volta de 1690, sua produção e consumo foram amplamente incentivados na Inglaterra. 1690 Em resposta a esse uso, os setores mais privilegiados da sociedade passaram a defender políticas que restringissem o acesso das classes mais pobres ao álcool. Em 1736, foi aprovada uma forte taxação à bebida, o que acabou por restringir a possibilidade de consumo pelos setores mais pobres. Em paralelo a isso, desenvolveu-se uma série de práticas para alterar a percepção social acerca do álcool, e o seu consumo, que antes era incentivado, passa a ser considerado algo a ser combatido. 1736 Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 35 Um processo semelhante também foi experienciado nos Estados Unidos anos depois. Durante o final do século XIX, o chamado “mo- vimento de temperança”, sustentado por setores tradicionais e com tendências religiosas, intensificou o incentivo pela proibição do uso de bebidas alcóolicas no país. Diversas políticas de controle do ál- cool foram implementadas nos Estados Unidos ao longo de décadas, chegando ao auge com a promulgação de sua proibição através da Lei Seca, que vigorou entre 1919 e 1933 (Shecaira, 2014). Mesmo com a revogação da Lei Seca, o espírito de proibição que pairava sobre as drogas permaneceu, e novos hábitos de consumo foram sendo impostos estatalmente. Nos anos seguintes, outras proibições mais severas e abrangentes estariam por vir. O próximo passo seria a proibição da maconha. Shecaira, 2014, p. 337-338 Quando chegamos a um riacho, encontramos por lá pelo menos umas dez pessoas, rapazes e moças de uma fazenda vizinha que já eram conhecidos do Belchior e nos receberam muito bem. Eles tinham liamba, e me ofereceram. Eu já tinha sentido o cheiro na senzala e percebido que as pessoas ficavam muito felizes de fumar, e foi essa sensação que eu tive, de alegria. Primeiro achei que não tinha acontecido nada, mas logo comecei a sentir uma moleza pelo corpo, os movimentos ficando cada vez mais preguiçosos, assim como também tive a impressão de que a água do riacho corria mais devagar. Gonçalves, 2021, p. 120 Já o tema da proibição da maconha nos remete quase que imedia- tamente à história da proibição que ocorreu nos Estados Unidos a partir do século XIX, tema que exploraremos no próximo módulo do curso. Mas você sabia que a primeira proibição da maconha do mundo ocorreu aqui no Brasil? No romance “Um defeito de cor”, Ana Maria Gonçalves narra a história de uma menina escravizada, desde a vinda da África até a rotina da escravidão no Brasil. A história narrada mis- tura elementos ficcionais com relatos de uma série de documentos encontrados pela autora durante uma viagem para a Bahia. Em uma passagem do livro, há o registro acerca do uso da “liamba de Angola”, outro nome utilizado para maconha: Embora não possamos aferir com certeza que essa passagem advém dos materiais de pesquisa coletada pela autora, registros trazidos por outros historiadores também demonstram como o uso de maconha era disseminado entre os escravizados no Brasil. O historiador Edison Carneiro (1958), ao estudar o Quilombo dos Palmares, afirma também que a “liamba” era utilizada pelos escravizados em momentos de tristeza e/ou de saudade da África. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 36 Anos antes do final do período da escravidão – que ocorreu no país apenas em 1888 – foi editada no Brasil a primeira norma legal que proibiu o uso e a venda de maconha, na época chamada de “pito do pango” ou “diamba”. Reportagem do jornal “O Globo”, década de 30. Fonte: smokebuddies. O código de postura municipal do Rio de Janeiro de 1830 previa multa para os vendedores e três dias de cadeia para os consumidores, destacando, entre estes, os escravizados. É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia. Mott, 1986, p. 131 A lei é considerada uma forma de controle social da população negra, assim como outras leis que foram promulgadas antes e depois da abolição da escravidão no país que proibiam ou controlavam uma série de condutas e práticas realizadas majoritariamente por essa parcela da população. Além de precursor na proibição da planta, o Brasil, por meio da atuação de José Rodrigues Dória, também contribuiu para a proibição da planta internacionalmente. Em dezembro de 1915, durante o II Con- gresso Científico Pan-Americano, o médico e professor das faculdades de Direito e Medicina da Bahia apresentou um trabalho intitulado “Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício”. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 37 Suas bases teóricas eram o evolucionismo social do século XIX e as teorias racistas da degenerescência, as quais tinham à época o status de legitimidade científica, que posteriormente deixariam de ter. Rodrigues Dória se esforçou para incluir a maconha entre as “drogas” que deveriam ser proibidas de existir no mundo, e esse esforço teve resultado positivo. SAIBA MAIS Para saber mais sobre o evolucionismo social dessa época, assista ao vídeo “A entrada das teorias raciais no Brasil”, com Lilia Schwarcz,disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=93f7nkbD7tY. É notável que grande parte dos dados utilizados por Dória foram ob- tidos em segunda mão, por via de médicos colaboradores, que traba- lhavam em sanatórios, quartéis e prisões. Sendo assim, a associação (melhor dizendo, as relações de causalidade), que o autor alega, entre o hábito de fumar maconha com a criminalidade e as doenças men- tais, toma como base dados claramente enviesados, uma vez que são produzidos em interação com populações já compostas, em grande parte, por pessoas em tratamento de doenças mentais, sob regime de internato, ou cumprindo penas por crimes anteriormente cometidos. Por volta da década de 1930, seu trabalho era tido como uma refe- rência de estudo sobre a maconha, em um tempo em que a planta havia caído na ilicitude, interditando assim a existência de novas pesquisas. Contudo, com o passar do tempo, tais “verdades” sobre a maconha e os adeptos de seu uso passaram a ser contestadas quando postas à prova. Um exemplo disso é que alguns dos aspectos que Dória apontava como fazendo parte dos “males do vício”, como os efeitos Suas descrições da planta, dos plantios às margens do Rio São Fran- cisco, no Nordeste brasileiro, e de espaços de sociabilidade são de- talhadas. A sua tese era a de que a planta era perigosa e representava um castigo à civilização branca que colonizou o Brasil por meio da escravidão de povos de origem africana. Ele denunciava o que afirmava ser o efeito “degenerante” do consumo da maconha na população brasileira e que sua cultura teria entrado no Brasil pelas mãos dos “povos oriundos da África”. O efeito de alguém se tornar adepto dessa substância seria, com o tempo, segundo suas conclusões, converter-se em um pervertido, um imbecil, em suma, um degenerado. https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5 https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5 Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 38 Para pensar Dória mobiliza um sistema de crenças aceito à época como conhecimento científico, que seria posteriormente ultrapassado e destituído da condição acadêmico-científica, mas que vez por outra volta na condição de mais nova mitologia do senso comum. O estudo de Dória nos alerta como tanto para o pesquisador, ou para o professor, ou para o estudioso, o importante é estar atento para que nossos desejos não embotem nosso senso crítico em relação ao que nos é dado como dados da pretensa realidade. afrodisíacos e antidepressivos da maconha, fartamente descritos no trabalho, seriam considerados, no contexto da medicina atual, promotores de bem-estar. O exemplo da proibição do álcool no contexto inglês e estadunidense e o da proibição da maconha no Brasil reforçam questões que a so- ciologia vem apontando desde sua gênese sobre o tema do desvio e das regras. Entre elas: A criação e a imposição de regras é um processo construído socialmente. Assim como a sociedade é dinâmica, as regras e leis que a regem também são e, portanto, alterações nos contextos sociais e culturais podem implicar também alterações nas normas e valores vigentes. Usualmente, a definição dos atos desviantes reproduz as estruturas de poder vigentes em uma sociedade; portanto, a compreensão dos atos desviantes nos ensina também sobre os poderes e valores vigentes em uma sociedade. Curso COMPASSO Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle 39 Esses pontos, embora não sejam os únicos, são fundamentais para entendermos como o tema das drogas vem sendo tratado pela so- ciedade atualmente. [...] mais do que se apropriar da experiência do consumo de drogas, o que as sociedades contemporâneas parecem ter feito foi criar literalmente o próprio fenômeno das drogas: mais remotamente, com a loucura das especiarias e, mais recentemente, com o duplo processo da invasão farmacêutica e da criminalização das drogas assim tornadas ilícitas. Vargas, 2010, p. 55 Veja a seguir os pontos mais importantes demonstrados neste módulo. SÍNTESE DO MÓDULO Neste módulo, procuramos introduzir o tema do curso por meio da problematização de sua categoria central, que é a de “droga” (intencionalmente deixada entre aspas). Em seguida, a partir de uma leitura do tema sob a perspectiva das ciências sociais, buscamos problematizar os sensos comuns vigentes sobre o tema e ultrapassar formas naturalizadas de interpretar a realidade. Por isso, nos atentamos para as distinções entre a perspectiva científica e a do senso comum na busca pelo conhecimento. Demonstramos ainda como uma série de questões culturais, econômicas e sociais são fundamentais para entendermos como as sociedades têm lidado com o tema das drogas, sobretudo a partir do caso do álcool e da maconha. Nos próximos módulos, continuaremos a explorar esse tema no mundo contemporâneo. Você finalizou o Módulo 1! No próximo módulo abordaremos a construção daquilo que cha- mamos de paradigma médico-jurídico e seus consequentes efeitos nas políticas de segurança pública. 40 REFERÊNCIAS ACSELRAD, G. Drogas, a educação para a autonomia como garantia de direitos. Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63, p. 96-104, out./ dez. 2013. Edição especial. ALARCON, S. Drogas psicoativas: classificação e bulário das principais drogas de abuso. In: ALARCON, S.; JORGE, M. A. S. (org.). Álcool e outras drogas: diálogos sobre um mal-estar contemporâneo. Rio de Janeiro: EPSJV/RJ, 2012. v. 1. p. 103-130. ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM- -PBPD-Catalize-SSRC, 2017. Disponível em: https://pbpd.org.br/publi- cacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/. Acesso em: 13 dez. 2023. BEAUCHESNE, L. Legalizar as drogas: para melhor prevenir os abusos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2015. BECKER, H.S: Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Editora Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2008. 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