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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E-book 1 Marcelo Carvalho Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 COMPORTAMENTO E TIPOS DE CONSUMIDOR ���������������������������������������������4 Conceituando o Comportamento do Consumidor 4 TIPOS DE CONSUMIDOR ������������������������� 9 Comportamento do consumidor digital �������������� 10 IMPLICAÇÕES PARA O MARKETING ���16 Segmentação de mercado ����������������������������������� 17 Mercado-alvo ��������������������������������������������������������� 27 POSICIONAMENTO DA MARCA �����������37 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������41 SÍNTESE �������������������������������������������������������42 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, estudaremos o comportamento do consumidor ao trabalhamos com o conceito de com- portamento do consumidor, bem como os principais tipos de consumidor, comportamentos do consumi- dor digital e as implicações dos comportamentos de consumo para o Marketing� Embora existam estudos sobre o comportamento do consumidor desde o final do século 19 – pode- mos citar, por exemplo, o economista e sociólogo Thorstein B� Veblen, quem tratou dos exageros de consumo, cunhando o termo consumo ostensivo em 1899 –, somente após o surgimento do con- ceito de Marketing, na década de 1950, que houve mais interesse pelos estudos do comportamento do consumidor� Com origem na Psicologia, os primeiros estudos se desenvolveram com foco em conceitos de comunica- ção, persuasão e atitude� Posteriormente, o compor- tamento do consumidor passou a ser um campo de estudos multidisciplinar, agregando as contribuições de áreas diversas, como Economia, Antropologia e Sociologia� Iniciemos com o comportamento e os tipos de consumidor� 3 COMPORTAMENTO E TIPOS DE CONSUMIDOR Conceituando o Comportamento do Consumidor Neste tópico, conheceremos os termos e conceitos sobre o comportamento do consumidor, bem como a evolução histórica dos estudos sobre o tema� Você pode estar pensando: Como compreender o com- portamento do consumidor se as pessoas são tão diferentes? Se você pensou isso, acertou� Compreender como as pessoas são, pensam e deci- dem não é uma tarefa simples, pois cada um de nós possui diferentes interesses, necessidades e desejos� Fatores culturais, sociais e pessoais também influen- ciam o comportamento do consumidor� Embora as diferenças individuais sejam muitas, existem também pontos de convergência� Assim, o principal desafio dos estudos sobre o com- portamento do consumidor é compreender os aspec- tos que influenciam os hábitos de consumo, ofere- cendo entendimento aos profissionais de Marketing para que desenvolvam estratégias de comunicação eficientes e eficazes, divulgando produtos, serviços e marcas para o público-alvo� 4 Comportamento do consumidor é o estudo dos pro- cessos de compra, que abrangem consumo, ava- liação e descarte de um bem ou serviço (MOWEN, 1988). Esse conjunto de ações (mentais e físicas) realizadas por um indivíduo tem como finalidade satisfazer um desejo ou uma necessidade latente (ENGEL; KOLLAT; MINIARD, 1990). Os estudos iniciais sobre o comportamento do con- sumidor foram desenvolvidos na área da Psicologia, mais especificamente em Psicologia Social. Os pri- meiros aspectos abordados foram a comunicação, atitude e persuasão� Com a evolução desses estudos, novos componentes foram incorporados, como, me- mória e tomada de decisão. A partir da década de 1950, pesquisadores de Marketing buscaram apro- fundar o entendimento sobre o comportamento do consumidor, propondo novas teorias que ajudas- sem a prever motivações, decisões e sentimos do consumidor� Na década de 1960, com a proposta do modelo dos 4 Ps (produto, preço, promoção e praça), os principais estudos foram baseados nos efeitos da propaganda sobre os consumidores. Em 1975, Martin Fishbein e Icek Ajzen publicaram Belief, attitude, intention and behavior: an introduction to theory and research, trazendo novos contornos para os estudos do com- portamento do consumidor, o que estimulou novas pesquisas sobre o processamento de informações� O fluxo de pesquisas seguiu trazendo novos entendi- mentos sobre o tema� De um modo geral, podemos observar que os estudos atuais se concentram em duas abordagens: 5 ● A primeira trata dos aspectos internos do consu- midor, abrangendo fatores como percepções, moti- vações, emoções e memória� ● A segunda observa fatores externos, como os so- ciais (grupos de referência e família), pessoais (idade, ciclo de vida e valores culturais). Kotler e Keller (2012) propõem um modelo de com- portamento do consumidor (Figura 1) que facilita a compreensão dos múltiplos pontos que exercem influência no comportamento do consumidor. Estímulos de marketing Psicologia do consumidor Características do consumidoor Outros estímulos Produtos Preço Distribuição Comunicação Motivação Percepção Aprendizagem Memória Processo de decisão de compra Reconhecimento do problema Busca de informações Avaliação de alternativas Decisões de compra Comportamento pós-compra Culturais Sociais Pessoais Econômico Tecnológico Político Cultural Decisões de compra Escolha de produto Escolha da marca Escolha do revendedor Montante de compra Momento da compra Forma de pagamento Figura 1: Modelo de comportamento do consumidor. Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 172). 6 E quem tem interesse nos estudos sobre o compor- tamento do consumidor? Você provavelmente deve ter pensado: as empresas� Essa resposta não está errada, mas tampouco contempla o cenário todo� Compreender o comportamento do consumidor é de extrema importância para que as empresas, por meio dos profissionais de Marketing, estabeleçam estratégias para comunicar seus produtos e obter sucesso nos negócios� Desenvolver, comunicar e entregar produtos e serviços sem conhecer seus consumidores seria um “tiro no escuro”. O ideal é que as empresas se conectem com seus consumi- dores, o que é praticamente impossível quando não se conhece o consumidor� No entanto, o interesse sobre o tema não é restrito a esses profissionais, uma vez que legisladores, re- guladores e agências governamentais também utili- zam tal conhecimento para desenvolverem regras e políticas que normatizem as práticas de marketing. Um exemplo dessas regulamentações diz respeito à proibição das propagandas de cigarro� Propagandas enganosas também podem ser coibidas, na medida em que os órgãos governamentais compreendem melhor como os consumidores são influenciados por elas. Os advogados também se especializam no tema, qualificando-se assim para atuar em casos em que a ética é negligenciada. 7 SAIBA MAIS Em 2013, a Del Valle, propriedade da Coca-Cola, foi multada em R$ 1,158 milhões, por indicar o produto “Laranja caseira” como um suco de laranja, não um néctar (suco acrescido de outras substâncias). Eis, por exemplo, uma propaganda enganosa. Saiba mais sobre o caso, acessando https://epocanegocios. globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fa- bricante-da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-mi- lhao.html� O comportamento do consumidor também é tema de interesse no mundo acadêmico� Pesquisadores têm desenvolvido e testado teorias que servirão de base para os demais atores envolvidos� O próprio consumidor, ao tomar conhecimento sobre o tema, pode tomar decisões melhores� REFLITA Houve mudanças no hábito de consumo nos últimos anos? Caso responda sim, você conse- gue identificar alguns aspectos que possam ter influenciado essas mudanças? Em caso de uma resposta negativa, você consegue dar exem- plos de hábitos de consumo que permanecem inalterados? 8 https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fabricante-da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-milhao.html https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fabricante-da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-milhao.html https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fabricante-da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-milhao.htmlhttps://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fabricante-da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-milhao.html TIPOS DE CONSUMIDOR Para Kotler e Armstrong (2007), consumidor é todo e qualquer comprador potencial de um determinado produto ou serviço� Essa aquisição tem como objeti- vo satisfazer uma necessidade ou um desejo. De um modo geral, podemos classificar os consumidores em dois grandes grupos: os organizacionais e os pessoais� Os consumidores organizacionais são todas as for- mas de organização existentes, públicas ou privadas, com objetivo de lucro ou não, que adquirem produtos (BANOV, 2017). Neste e-book, não trataremos dos consumidores organizacionais. Destacamos apenas que os componentes econômicos são os principais aspectos de influência para tais consumidores. Os consumidores pessoais são indivíduos que ad- quirem produtos ou serviços para satisfazerem suas necessidades ou desejos� Ou seja, são pessoas como nós, que visam a satisfazer as necessidades, desde as formas mais básicas como comer e vestir-se, até as formas mais complexas como recreação e instru- ção. Consumidores pessoais são chamados também de consumidores finais, pois não utilizam o produto ou serviço adquirido como insumo ou componente de uma atividade empresarial ou profissional. No entanto, é importante observar que nem sempre o consumidor pessoal será o usuário do produto ou serviço adquirido. Muitas vezes, a compra atende 9 ao desejo ou à necessidade de presentear um ter- ceiro� Portanto, mesmo que não seja para si, vale a indicação de consumidor pessoal� Vamos enten- der um pouco mais sobre necessidades, desejos e demandas� Comportamento do consumidor digital Na atualidade, 4,02 bilhões de pessoas estão co- nectadas à internet, ou seja, aproximadamente 53% da população mundial (WE ARE SOCIAL, 2018), dos quais 3,72 bilhões possuem internet móvel. O cená- rio digital mudou radicalmente nosso cotidiano� Em termos comerciais, as novas tecnologias que servem de suporte à internet criaram o ambiente ideal para que o consumidor participe ativamente na sua rela- ção com as empresas� Quanto tempo você passa conectado à internet? Antes da internet, éramos apenas ouvintes. Ligávamos a televisão ou o rádio e éramos “bombar- deados” por informações e propagandas� A internet ofereceu um novo cenário: quem decide o que ver é o internauta, seja informações, propagandas, relaciona- mento ou entretenimento� E mais, a internet acabou com a exclusividade na produção de conteúdo, pois interagimos com pessoas e empresas, informando, opinando, elogiando ou criticando� 10 Você pode estar pensando: E o que é diferente no comportamento do consumidor digital? Embora seja- mos as mesmas pessoas, no ambiente de internet as pessoas podem apresentar novos comportamentos, visto que aspectos restritivos (esforço de locomo- ção, limite de tempo, distância e dinheiro) assumem novos contornos� Em outras palavras, os fatores que influenciam o comportamento do consumidor são os mesmos, mas o ambiente de compra não� Na inter- net, elementos como o compartilhamento das expe- riências de consumo entre internautas, facilidade em comparar ofertas e disponibilidade para consumir a qualquer momento podem favorecer determinados comportamentos� Visando a ter um panorama do comportamento do consumidor digital, é preciso refletir. Por exemplo, será que o consumidor utiliza a internet para fazer as mesmas coisas que fazia em outras mídias, como TV, rádio e cinema? Com que interesses as pessoas se conectam à internet? O que nos leva a acessar a web? Torres (2018) responde a esses questionamentos in- dicando que nós temos basicamente três interesses quando acessamos a internet: relacionamento, infor- mação e diversão� Esses desejos, ou necessidades, nos ajudam a compreender os comportamentos que podem ser observados no ambiente online� É fácil identificar como resolvemos nosso interesse por relacionamentos na internet. As mídias sociais crescem continuamente e, em 2018, apresentou 3,19 11 bilhões de usuários ativos (WE ARE SOCIAL, 2018). Ou seja, aproximadamente 42% da população mun- dial se comunica pelas redes sociais, compartilhando conteúdo com pessoas que possuem interesses em comum� Entre as várias comunidades, o Facebook é a mídia social mais acessada no mundo, com 2,3 bilhões de usuários ativos (STATISTA, 2019). SAIBA MAIS Saiba mais sobre mídias sociais, assistindo a Social media and the end of gender, da pesqui- sadora e professora norte-americana Johanna Blakley, que está disponível em: https://www�ted� com/talks/johanna_blakley_social_media_and_ the_end_of_gender. Acesso em: 15 set. 2019. O segundo ponto de interesse que as pessoas bus- cam na internet é a informação. Elas conectam-se diariamente a fim de pesquisar os mais variados itens, desde informações básicas, como a previsão do tempo ou significado de uma palavra, até ques- tões mais complexas, como sintomas de possíveis distúrbios ou conceitos filosóficos complexos. O terceiro ponto de interesse é a diversão. As pesso- as buscam diversão na internet o tempo todo� Dessa forma, é bastante comum assistir a filmes, vídeos de stand-up comedy ou de receitas, por exemplo, visitar websites dedicados a jogos dos mais diversos tipos, ou simplesmente ouvir música enquanto praticam outras atividades etc� 12 https://www.ted.com/talks/johanna_blakley_social_media_and_the_end_of_gender https://www.ted.com/talks/johanna_blakley_social_media_and_the_end_of_gender https://www.ted.com/talks/johanna_blakley_social_media_and_the_end_of_gender Mas como esses interesses afetam o comporta- mento do consumidor em ambiente digital? Para responder a essa pergunta, preciso que você me aju- de respondendo a esta outra pergunta: Você confia nas informações contidas em uma propaganda? Se você respondeu não, você está no grupo formado pela maior parte dos consumidores� As pessoas, em sua maioria, não confiam nas informações que obtêm dos anunciantes� Hoje nós buscamos informações sobre produtos e serviços na internet antes de reali- zarmos uma compra. A experiência compartilhada pelos demais consumidores, principalmente nas re- des sociais, serve de referência, pois são opiniões mais honestas e reais sobre as marcas� A seguir abordaremos dois dos principais fatores que podem influenciar o comportamento do consumidor digital: a expertise do consumidor e a percepção de risco� ● Expertise do consumidor: A experiência de uso na internet é um fator determinante para o comporta- mento de consumo� Quanto maior o uso e a experi- ência do usuário, maior será seu comportamento de compra nas lojas virtuais� ● Percepção de risco: Trata-se de outro fator bastante influente sobre o comportamento do consumidor digi- tal� Esse risco está associado a quatro componentes: I) financeiro, no qual o consumidor pode não se sentir confiante o suficiente para fornecer dados de seu cartão de crédito ou dados bancários, bem como pode ter a impressão de que corre risco de efetuar a compra e não receber o produto; 13 II) tempo e conveniência, já que a internet proporcio- na uma facilidade em localizar os produtos desejados e reduz o tempo gasto para efetuar a compra, além de não ser necessário locomover-se até a loja física para comprar; III) privacidade, em que o consumidor pode conside- rar que seus dados pessoais podem ser utilizados para fins terceiros; e IV) aspectos do produto, como prazo de entrega, política de devolução do produto por defeito ou o cancelamento da compra� De um modo geral, no contexto online, três compo- nentes são os mais utilizados em função das particu- laridades do consumo digital: reputação, relevância e engajamento� A reputação pode ser compreendida como a imagem que o “mercado” tem de uma determinada empresa� Essa reputação é construída com base nos erros e acertos cometidos� Uma empresa com boa reputação possui mais acertos que erros, e, diante de um erro, não teme emse desculpar� A boa reputação pode refletir em relacionamentos mais duradouros com clientes, além de minimizar as percepções de risco por parte dos consumidores� A relevância diz respeito ao tema da propaganda. Consumidores não gostam de ser interrompidos quando são abordados com assuntos nos quais não têm qualquer interesse. Tanto isso é verdade, que o governo disponibilizou um serviço por meio do qual 14 os consumidores podem cadastrar seu número de telefone e assim deixar de receber contatos indese- jados� No entanto, quanto mais relevante, divertido e cheio de emoção for o conteúdo, maior a probabi- lidade de envolver o consumidor� Uma característica significativa do ambiente online é a interação entre pessoas e empresas� Com essa in- teração, os consumidores relatam suas experiências em relação à marca e, à medida que as interações vão se tornando recorrentes, cria-se o envolvimento entre as partes� A interatividade e o envolvimento, quando somados, proporcionam o engajamento, o qual se relaciona ao desenvolvimento de uma co- nexão emocional, tornando a marca relevante para os consumidores� Sob a ótica do Marketing, o en- gajamento estende-se por meio de interações bidi- recionais entre a marca e o consumidor, criando um intenso vínculo entre marca e consumidor, resultando na intenção dos consumidores em manter o relacio- namento, gerando repetição de compra e fidelidade à marca. O contexto virtual traz complexidade às relações entre consumidores e empresas. Cabe aos profis- sionais de Marketing compreender profundamente necessidades, desejos e demandas dos consumi- dores, para então desenvolver e ofertar produtos e serviços que satisfaçam esses interesses� A seguir, conheceremos as implicações do comportamento do consumidor para o Marketing, ao abordarmos os conceitos e os aspectos sobre a segmentação de mercado, mercado-alvo e posicionamento da marca no mercado� 15 IMPLICAÇÕES PARA O MARKETING Você já deve ter ouvido a expressão “não é possível agradar a todos”. Essa máxima popular vale também para as empresas� As pessoas têm gostos diferentes e, por consequência, também valorizam aspectos de um produto diferentemente� A empresa norte-ameri- cana Energizer oferece um bom exemplo da situação. Por meio de uma pesquisa sobre carregadores de bateria, os gestores da empresa descobriram que homens e mulheres tinham diferentes expectativas sobre o produto� As mulheres desejavam um carre- gador de fácil uso e compreensão; já os homens não declararam desejo por facilidade de uso� Com base nessa pesquisa, a empresa lançou dois produtos, um voltado para as mulheres (Easy Charger) e o outro direcionado aos homens (Dock & Go). Então, de que maneira as empresas podem ser mais assertivas ao oferecer seus produtos? Kotler e Keller (2012) destacam três pontos funda- mentais: os profissionais de marketing devem: 1. Traçar o perfil dos grupos distintos de compra- dores, em função de necessidades e desejos (seg- mentação de mercado). 2. Selecionar um ou mais segmentos de merca- do em que a empresa possa atuar de forma eficaz (mercado-alvo). 16 3. Destacar e divulgar os principais benefícios que o produto ou serviço oferecido pode gerar aos con- sumidores (posicionamento da marca no mercado). Estabelecer uma conexão com os consumidores pode, portanto, render bons frutos às empresas. Podcast 1 Segmentação de mercado Segmentação de mercado significa “fatiá-lo” em partes bem definidas, em que cada fatia represen- te um grupo de consumidores que compartilham necessidades e desejos semelhantes� Essa divisão permite identificar o(s) segmento(s) de mercado que a empresa poderá atender eficazmente. Definido o segmento de atuação, a empresa pode estabele- cer a estratégia adequada que guiará suas ações e, com isso, desenvolver ou adaptar a comunicação de seus produtos e/ou serviços, conectando-se aos consumidores� Em termos gerais, dois conjuntos de variáveis são usados na segmentação de mercado: as físicas e as comportamentais. O conjunto de variáveis físi- cas engloba as características descritivas, como a segmentação geográfica, demográfica e psicográfi- ca� O grupo das variáveis comportamentais envolve aspectos como a percepção, personalidade, atitudes e motivação� 17 https://famonline.instructure.com/files/407218/download?download_frd=1 Segmentação geográfica: é a divisão do mercado em unidades geográficas (país, regiões, estados ou cidades). Considerando que uma empresa pode atu- ar em diversos locais, esta segmentação ajuda na criação de programas de marketing específicos para consumidores de uma determinada área� Por exemplo, a Coca-Cola desenvolve ações exclu- sivas para o Festival Folclórico de Parintins (Figura 2), no estado do Amazonas. A festa é marcada pela disputa entre duas agremiações, Boi Garantido (re- presentado pela cor vermelha) e Boi Caprichoso (representado pela cor azul). Os seguidores do Boi Caprichoso não consumiam a Coca-Cola por causa da cor da embalagem do produto� Pior ainda, consu- miam a concorrente, Pepsi, por causa da cor azul. A solução quebrou os paradigmas da empresa, quando a Coca-Cola criou uma lata de cor azul, regionalizan- do pela primeira vez suas operações. Figura 2: Embalagem Coca-Cola para o Festival Folclórico de Parintins. Fonte: Exame. 18 https://exame.abril.com.br/marketing/coca-cola-edicoes-especiais-parintins-574557 Segmentação demográfica: é o mercado dividido por variáveis (gênero, renda, idade, escolaridade, religião etc.). Esses aspectos podem evidenciar grupos com base nas necessidades específicas de cada grupo. Você consegue identificar ações de Marketing pro- postas a partir de segmentação demográfica? Vamos tratar de alguns exemplos� Se pensou em idade e estágio no ciclo de vida, você pode ter observado que necessidades e desejos mudam durante a vida de uma pessoa� Assim, te- mos um caso ilustrativo com a empresa de fraldas Pampers, que segmenta seu mercado em pré-natal, recém-nascidos (0 a 5 meses), menores de 1 ano (6 a 12 meses), maiores de 1 ano (13 a 24 meses) e idade pré-escolar (acima de 24 meses). A fase de vida também poderia ter sido uma segmentação considerada� Pessoas vivenciando a mesma fase de vida podem ter as mesmas necessidades, o que é facilmente observado nas empresas que atuam com casamentos ou festas infantis� Você também poderia ter pensado em segmentação por renda, que é bastante utilizada por diversas cate- gorias de produtos, como moda e automóveis. O nível de renda pode orientar as empresas, possibilitando que sua atuação seja exclusivamente focada em um segmento ou em “frentes” diferentes� Por exemplo, quando pensamos em veículos, temos de um lado a Ferrari, atuando apenas no mercado de luxo; de outro, a Toyota, que possui modelos básicos, como o Etios, visando a atingir um público e o modelo SW4, custando mais de três vezes o valor do anterior. 19 O sexo também é uma segmentação bastante utili- zada, pois homens e mulheres costumam apresentar atitudes e comportamentos distintos� Vale ressaltar que toda análise de segmentação de mercado deve ser detalhada, e que muitas vezes dados geográfi- cos, demográficos, psicográficos e comportamen- tais são combinados para a obtenção de um melhor panorama� Nesse sentido, uma campanha foi um “fiasco” por avaliar superficialmente a segmentação demográfica orientada pelo sexo� Em 2017, a marca de cervejas PROIBIDA lançou um produto voltado às mulheres. A cerveja tinha um rótulo cor-de-rosa, e o anúncio dizia “Uma versão delicada e perfumada, feita es- pecialmente para você, mulher”� O posicionamento foi considerado machista, indicando que a marca via as consumidoras como diferentes dos homens� FIQUE ATENTO O tipo de segmentação utilizado deve traduzir necessidades e desejos de seus componentes� É bastante comum, portanto, a combinação de mais de um tipo de segmentação� Segmentação psicográfica: neste tipo de segmen- tação, os consumidores sãoagrupados de acordo com os traços psicológicos e de personalidade, ati- tudes, estilo de vida e status� A ideia por trás dessa segmentação é agrupar os consumidores com base em “o que pretendem” e “como pensam”� 20 Um dos sistemas de classificação mais utilizados na segmentação psicográfica pelos norte-americanos é o VALS (acrônimo em inglês que significa valores e estilos), da empresa Strategic Business Insight, cujos sistemas de classificação são personalizados por cultura� Nos Estados Unidos, esse sistema analisa um ques- tionário composto de 35 perguntas de caráter ati- tudinal e 4 perguntas de caráter demográfico. Com base nas respostas obtidas, o sistema classifica os respondentes em oito grupos, associando-os em fun- ção dos diferentes níveis de recursos que restringem ou intensificam a expressão da principal motivação do indivíduo. Os quatro grupos com recursos escassos são: 1. Batalhadores: gostam de diversão e acompanham a moda, mas têm limitações de recursos, preferindo produtos com estilo, que normalmente são a imita- ção das grandes marcas� 2. Crentes: são indivíduos tradicionais e conservado- res, que preferem os produtos nacionais e costumam ser fiéis a tais marcas. 3. Sobreviventes: são indivíduos mais velhos, aves- sos às mudanças e fiéis às marcas que já consomem. 4. Fazedores: são indivíduos práticos, com prefe- rência por produtos básicos e funcionais� 21 Os quatro grupos com recursos abundantes são: 1. Experimentadores: são jovens e impulsivos, que consomem a maior parte de suas rendas com moda e lazer. 2. Realizadores: são indivíduos bem-sucedidos com foco na família e na carreira, que preferem produtos de prestígio. 3. Satisfeitos: são pessoas maduras, reflexivas e responsáveis, que preferem a funcionalidade e a durabilidade� 4. Inovadores: são sofisticados e bem-sucedidos, que têm autoestima alta e que optam pelo mercado de luxo� Segmentação comportamental: os consumidores são agrupados com base em sua percepção, atitude e reação a um determinado produto� Podemos ob- servar diversos componentes nesta segmentação� Vamos conhecê-los� Você sempre realiza suas compras de forma autô- noma? Ou outras pessoas interferem na decisão? Esse é um ponto importante a ser observado na seg- mentação: papéis de decisão� Se observarmos aten- tamente a página da fabricante de tintas Coral (Figura 3), notaremos que o site traz um design endereçado ao público feminino� Você pode imaginar o motivo? Pesquisas indicaram que 60% das decisões sobre a marca de tinta a ser usada na pintura da casa eram tomadas pelas mulheres� 22 Figura 3: Tintas Coral. Fonte: Coral. Os indivíduos podem cumprir cinco tipos de papéis de decisão: ● O iniciador é a primeira pessoa a gerar a demanda. ● O influenciador é a pessoa que indica um produto ou uma marca e, dessa maneira, interfere na decisão de compra� ● O tomador de decisão é a pessoa que avalia as alternativas e toma a decisão� ● O comprador é a pessoa que efetivamente paga pelo produto� ● O usuário é aquele que consome o produto. É importante observar que um mesmo indivíduo pode assumir vários desses papéis. Vale destacar também que, tal qual no exemplo do fabricante de tintas, é de suma importância compreender todos os atores envolvidos na jornada da compra de um produto� Se os profissionais de marketing não estiverem atentos a isso, podem subvalorizar alguns papéis e, com isso, comprometer a comunicação com o consumidor� 23 ttps://www.coral.com.br/p As necessidades e os benefícios também represen- tam um componente da segmentação comporta- mental� Essa abordagem baseia-se nos principais benefícios que o consumidor deseja ao adquirir um produto� Se a empresa consegue determinar isso, ela pode ajustar seu produto para atender esse desejo, uma vez que status e conforto são apenas alguns exemplos de benefícios. As variáveis de segmentação são associadas a di- versos aspectos de uso e usuário� Por exemplo, os consumidores podem ser agrupados pela ocasião em que identificam uma necessidade e geram uma demanda� A estadia em um hotel pode ter sido ori- ginada por ocasião de férias ou negócios. O status do usuário também é um ponto importante a ser considerado na segmentação por uso e usuário� As empresas classificam os consumidores em não usuá- rios, ex-usuários, usuários potenciais, novos usuários e usuários frequentes� O índice de utilização é outra variável considerada para este tipo de segmentação� Os mercados são segmentados em light users (consumidores com baixa utilização), medium users (consumidores com utilização moderada do produto ou serviço e que representam a maior fatia de usuários) e os heavy users (caracterizados pela alta utilização do produto ou serviço). O estágio de disposição diz respeito aos diferentes níveis de conhecimento e interesse demonstrados pelos consumidores em relação ao produto ou ser- 24 viço� Alguns consumidores podem desconhecer o produto, enquanto outros desejam esse produto e demandam comprá-lo� Compreender em que está- gio o consumidor se encontra é importante para o planejamento das empresas� Visando a estabelecer o percentual de consumidores em cada estágio, bem como o grau de conversão des- tes consumidores entre os estágios de disposição, os profissionais utilizam, como ferramenta, o funil de marketing� O funil de marketing ilustra a jornada de compra do consumidor, descrevendo as etapas que o consumidor deve percorrer até o momento da compra� Semelhante à imagem de um funil tradicional, é mais largo no início e vai afunilando. A parte mais larga (inicial) é chamada de “topo do funil” e concentra as pessoas que descobrem uma necessidade, mas que ainda não reconhecem efetivamente o problema� O meio do funil concentra as pessoas que já reco- nhecem o problema e avaliam como solucioná-lo� Na parte mais estreita, temos o chamado “fundo do funil”, parte em que os consumidores estão buscando uma solução para o problema identificado e, portanto, prontos para a compra� Outra variável importante a ser considerada na seg- mentação por uso e usuário é o status de fidelidade. Os consumidores têm diferentes níveis de fidelidade e podem ser alocados em quatro grupos: ● Muito fiéis, estágio em que os consumidores são caracterizados por comprar sempre a mesma marca. 25 ● Fiéis divididos, estágio em que os consumidores são fiéis a algumas marcas. ● Fiéis inconstantes, estágio em que, embora fiéis a algumas marcas, os consumidores variam rotineira- mente entre uma marca e outra� ● Infiéis, estágio em que os consumidores não se mantêm fiéis a nenhuma marca. Ao avaliar os consumidores sob esta ótica, a em- presa aprende não apenas sobre o comportamento do consumidor, como também sobre seu produto. Pontos fortes podem ser identificados com base nos consumidores muito fiéis, tais quais os fiéis incons- tantes podem ajudar a empresa a identificar seus reais concorrentes� SAIBA MAIS Saiba mais sobre a segmentação de mercado, lendo o artigo Aspectos Metodológicos da Seg- mentação de Mercado: base de segmentação e métodos de classificação, de Ana Oliveira- -Brochado e Francisco Vitorino Martins, que se encontra disponível em https://rbgn.fecap.br/ RBGN/article/view/174/365� Vale sempre relembrar que, para estabelecer segmen- tos de mercado confiáveis, é fundamental conhecer profundamente os consumidores� Após analisar os segmentos de mercado estabelecidos, a empresa deve decidir em quais mercados-alvo atuará� Esta 26 https://rbgn.fecap.br/RBGN/article/view/174/365 https://rbgn.fecap.br/RBGN/article/view/174/365 análise deve considerar a aderência da empresa ao mercado-alvo, levando em conta aspectos de eficiên- cia e eficácia, de modo a aumentar a probabilidade de sucesso na empreitada� A seguir, retomaremos mais detalhadamente os critérios utilizados pelos profissionais de marketing que visam a garantir a efetividade da segmentação estabelecida e a defi- nição do mercado-alvo�Mercado-alvo Podemos compreender o mercado-alvo como a parte do mercado que a empresa decidiu atuar� À primeira vista, você pode crer que essa decisão é simples, pois resume-se apenas à escolha da fatia de mercado no qual a empresa atuará� Ao analisar mais profunda- mente, você poderá concluir que a decisão é muito mais complexa� Algumas questões podem clarear o grau de complexidade da decisão� Por exemplo, meus produtos ou serviços serão capazes de satisfazer as necessidades e os desejos dos consumidores? Conseguirei ser eficaz neste mercado-alvo? Como será meu desempenho frente aos concorrentes que encontrarei nesse mercado-alvo? Complexas as de- cisões, não acha? Podcast 2 27 https://famonline.instructure.com/files/407219/download?download_frd=1 Antes de tratarmos da seleção de mercado-alvo, va- mos entender como verificar se a segmentação de mercado estabelecida foi efetiva� Para isso, pode- mos observar alguns critérios propostos por Kotler e Keller (2012). Os segmentos de mercado devem ser mensuráveis, ou seja, é necessário medir o poder de compra de um segmento de mercado� Devem ser substanciais, apresentando grupos homogêneos de consumidores e sendo suficientemente grandes para a atuação da empresa� É necessário ainda que o segmento esta- belecido seja acessível, visto que de nada adiantaria identificar um segmento que a empresa não possa atender� O comportamento dos consumidores de um segmento de mercado também deve ser um diferen- cial� Por exemplo, se jovens e idosos se comportam da mesma maneira sobre determinado assunto, não é necessário estabelecer segmentos distintos para ambos grupos. Por fim, os segmentos de mercado devem ser acionáveis. Isso significa que o segmento de mercado deve possibilitar o desenvolvimento de ações de marketing que visem a atrair e reter clientes� Contemplados esses critérios, podemos afirmar que o segmento de mercado identificado apresenta as condições necessárias para que a empresa atue� O passo seguinte é a escolha do segmento de mercado a ser trabalhado, ou seja, a seleção do mercado-alvo� Para a definição do mercado-alvo, a empresa deve avaliar suas capacidades e seus recursos, a fim de poder atuar de maneira eficaz no mercado-alvo es- 28 colhido, além da atratividade de longo prazo que se oferece� Michael Porter, pesquisador da Universidade de Harvard, estabeleceu cinco forças competitivas para a análise dos mercados� Sob essa ótica, o de- sempenho de uma empresa nos mercados sofre as seguintes ameaças: ● rivalidade entre os concorrentes: se em um merca- do há fortes concorrentes atuando, provavelmente não será um mercado atraente para a empresa� Com vistas a conquistar seu espaço, a empresa teria de competir acirradamente com os demais players, o que normalmente resulta em guerra de preços, menores margens e maior investimento em propaganda� Um exemplo é o mercado de telefonia celular, no qual gigantes, como Apple e Samsung, já disputam fatias deste mercado� Agora, pense em quanto esforço seria preciso para lançar uma nova marca nesse mercado� ● novos entrantes: pensando em evitar novos concor- rentes, o segmento mais atraente será aquele com barreiras de entrada, ou seja, aquele mercado que limita a entrada de novos concorrentes� A produção em escala é um exemplo de barreira de entrada. Caso um novo competidor resolve entrar, ele sabe que deverá investir pesado nesse mercado, tentando se equiparar à grande produção ou, caso entre pro- duzindo em pequena escala, terá desvantagens em relação aos custos� Assim, nenhuma das alternativas mostra-se interessante� ● produtos substitutos: um mercado é considerado atraente quando não possui reais ou potenciais subs- 29 titutos aos produtos ofertados� Produtos substitutos comprometem a lucratividade� O maior poder de bar- ganha dos compradores também gera uma ameaça à atratividade de um mercado. Mercados nos quais o comprador tem grande poder de negociação ou facilidade em trocar de fornecedor tendem a limitar preços e margens de lucro� Esse grande poder de negociação pode ser fruto de maior concentração ou organização. Por exemplo, imagine que sua empresa atue no mercado de bens de consumo e você tenha de negociar com gigantes do varejo, como Walmart ou Carrefour. Difícil manter grandes margens de lu- cro, concorda? Produtos com baixa diferenciação também podem conferir maior capacidade de ne- gociação aos compradores� ● poder de barganha dos fornecedores: a dependên- cia por um fornecedor pode comprometer a lucrativi- dade da empresa� Portanto, se o mercado escolhido possui como característica poucos fornecedores e alto custos para a troca de fornecedor, fique atento. SAIBA MAIS Aprofunde seu conhecimento a respeito do po- sicionamento estratégico, lendo o livro PORTER, Michael E� Competição: estratégias competitivas essenciais, de Michael E. Porter (1999). 30 As forças de Porter (1999) descritas acima podem fornecer um panorama detalhado do mercado-alvo escolhido� A empresa deve considerar os prós e os contras que descobriu com a análise e, então, deter- minar se o esforço e investimento necessários para que ela opere em tal mercado é coerente com seus objetivos e recursos� Pode ser, ainda, que o merca- do observado não apresente compatibilidade com os valores importantes para a empresa� Pode ser também que a empresa não tenha as capacidades necessárias para ser eficaz naquele mercado. Novamente, poderíamos deduzir que as grandes em- presas têm capacidade de atuar em qualquer mer- cado que escolher. Muitas vezes, o fato de a marca ser conhecida ou de a empresa ter grandes recursos financeiros não garante o êxito de operações em novos mercados� Um caso famoso envolve a marca Colgate� A empresa é reconhecida mundialmente como fa- bricante de produtos para higiene bucal. O fiasco ocorreu na década de 1980, quando a empresa re- solveu atuar no mercado de alimentos� Pasmem, ela lançou a “Lasanha de Carne Colgate” (Figura 4). Você consegue pensar na lasanha de carne sem associá-la ao slogan “máxima proteção contra as cáries”? Os consumidores, na época, também não conseguiram, e a empresa abandonou o produto e o mercado de alimentos. A embalagem é exibida no “Museu dos fracassos”, na Suécia. 31 Figura 4: Lasanha de carne Colgate. Fonte: Uol� Os profissionais de Marketing consideram quatro possíveis níveis de segmentação de mercado, divisão que auxilia na escolha do mercado-alvo� A primeira segmentação, de maior amplitude, é cha- mada de cobertura total de mercado, pois a ideia é a empresa oferecer todos os produtos de que necessi- tam os consumidores de um determinado mercado� Esta abordagem restringe-se às gigantes de cada setor� Por exemplo, a Volkswagen para o mercado automobilístico ou a Nestlé para o mercado alimen- tício. Nesta segmentação, as empresas escolhem entre duas formas de atuação: o marketing de massa e o marketing diferenciado� No marketing de massa, a estratégia utilizada é criar uma comunicação que expresse uma imagem eleva- da da marca (ou produto), e a divulgação é feita por meio de veiculação em canais com grande alcance de audiência. A linha de raciocínio utilizada neste tipo de marketing é a de que, nestes mercados, os 32 https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/04/23/lasanha-da-colgate-e-perfume-da-harley-davidson-estao-no-museu-do-fracasso.htm?foto=1 consumidores não apresentam grandes diferenças de preferência� Se o produto for congruente com o raciocínio de base, o marketing de massa pode ser uma boa estratégia. Por exemplo, segundo o jornal americano The New York Times (2019), as empresas que resolveram anunciar seus produtos no Super Bowl 2019 investiram, em média, US$ 5,2 milhões por uma veiculação de 30 segundos. A estimativa foi de que 100 milhões de pessoas assistiram à trans- missão� Empresas como a fabricante de salgadinhos Doritos, a cervejaria Stella Artois e o Burger King fo- ram alguns dos anunciantes� Nomarketing diferenciado, a empresa oferece pro- dutos adequados a todos os segmentos daquele mercado, visto que a ideia é atender as diversas necessidades observadas no mercado como um todo� A empresa pode oferecer diferentes produtos usando a mesma marca, atendendo assim a dife- rentes níveis de exigência ou pode atuar com dife- rentes marcas, sendo cada uma direcionada a um segmento� Por exemplo, no mercado automotivo, a Fiat atua das duas formas� Em uma frente, a empre- sa oferece uma gama de modelos com a mesma marca� Assim, ela atende a um segmento com seus modelos mais básicos e baratos, como o Mobi, mas também a outro segmento, mais exigente, com seu modelo Toro; já em outra frente a Fiat busca aten- der outros segmentos ofertando produtos com suas outras marcas (Chrysler, Jeep, Dodge, Alfa Romeo, Lancia e Maserati). 33 Comparando as duas formas de marketing utilizadas na cobertura total do mercado, podemos concluir que o marketing de massa cria um maior mercado potencial, já que se divulga a um número maior de consumidores� No entanto, o marketing diferenciado gera mais vendas totais� A especialização seletiva é a próxima segmentação que vamos conhecer� Uma empresa pode selecio- nar diferentes segmentos de mercado, que podem apresentar pouca sinergia entre si, mas que apresen- tem potencial de resultados� A empresa pode então atender a vários segmentos selecionados de duas formas: especialização por produto ou especializa- ção por mercado� No caso da especialização por produto, a empresa comercializa o mesmo produto em diferentes seg- mentos de mercado� Por exemplo, uma confecção pode oferecer um modelo de camiseta como unifor- me para escolas, empresas ou Governo� O principal risco da especialização por produto é a facilidade de substituição do produto� Na especialização por mercado, a empresa busca atender às diferentes necessidades de um determina- do grupo de clientes� Mantendo o exemplo da confec- ção, neste formato, a confecção teria diferentes pro- dutos para, por exemplo, escolas: camisetas, calças, bermudas e blusas para os alunos, aventais para os professores, uniforme para os demais funcionários� A concentração em um único segmento é o próximo tipo utilizado pelos profissionais de marketing que 34 veremos� Neste modelo, a empresa concentra seus produtos em um segmento específico. Por exemplo, os modelos da fabricante italiana de automóveis Lamborghini são caracterizados por seu luxo e sua esportividade� Todos os modelos são projetados para um mesmo segmento� Dessa forma, a empresa pode tornar-se uma profunda conhecedora do segmento, tornando-se muitas vezes sinônimo do segmento de mercado em que atua� Nesta segmentação, os líderes de mercado podem obter grande lucrativi- dade, porque este modelo está fortemente ligado aos nichos de mercado� Vale lembrar que os nichos de mercado são segmentos de mercado pequenos, mas com volume suficiente para gerar lucros para as empresas que atuarem neles� A quarta segmentação de que trataremos é conhe- cida como marketing one-to-one ou personalizado. É a segmentação de menor amplitude, pois a em- presa atua em pequenos nichos de mercado, dando um caráter de personalização ao produto. Muitos profissionais consideram a tendência crescente na customerização, a qual combina a customização em massa (operacional) com o marketing personalizado, oferecendo liberdade para o consumidor atender, individualmente, a necessidades� Permite ainda uma maior interação entre empresa e consumidor, e pode ser uma boa alternativa, visto que os consumidores cada vez mais assumem uma postura proativa nas relações comerciais, como a Soupop (https://soupop. com.br/site/foto-arte). Nesta empresa, o consumidor pode personalizar quadros e camisetas. Você faz o 35 https://soupop.com.br/site/foto-arte https://soupop.com.br/site/foto-arte upload de uma imagem e escolhe o produto em que será impresso� Com a análise das cinco forças de Porter e dos qua- tro níveis de segmentação, a escolha do mercado- -alvo será mais consciente e assertiva� Agora que conhecemos o comportamento do consumidor-alvo e aprendemos sobre a segmentação de mercado e mercado-alvo, temos um palpite sobre o próximo tópico a se estudar? Acertou se a resposta foi posi- cionamento da marca no mercado� 36 POSICIONAMENTO DA MARCA Neste tópico, estudaremos a terceira parte do tripé (segmentação, mercado-alvo e posicionamento) no qual os profissionais de marketing se baseiam para montar suas estratégias. Posicionamento significa ocupar um lugar diferencia- do na mente do consumidor, para isso, as empresas buscam destacar suas virtudes, “ajudando” o consu- midor a reconhecer nela características inigualáveis. O grande segredo para um posicionamento bem-su- cedido é “ alcançar o equilíbrio entre o que a marca é e o que ela poderia ser” (KOTLER; KELLER, 2012, p. 294). Essa indicação nos mostra a importância de se levar em consideração que a marca não só pode, como deve evoluir� REFLITA Provavelmente, todo trabalho feito para conhecer o consumidor, segmentar o mercado e escolher o mercado-alvo será perdido se a empresa não se posicionar corretamente� Posicionamento er- rado significa “comer o pão que o concorrente amassou”� Em um posicionamento de mercado, é necessário definir e comunicar as diferenças e semelhanças entre a marca e seus concorrentes; é necessário 37 também observar se todos os concorrentes foram identificados. Feito isso, o passo seguinte é identifi- car os pontos de diferença e os pontos de paridade� Basicamente, trata-se dos aspectos que serão ob- servados pelos consumidores e que darão validade à oferta pela empresa. Assim, os pontos de diferença são os atributos, con- siderados pelo consumidor como pouco encontrados nos concorrentes� É o que diferencia seu produto/ serviço ou marca dos demais� Você consegue se lembrar de alguma marca assim? Muitos são os exemplos, como Apple, Nike, Louis Vuitton� Por sua vez, os pontos de paridade são atributos não exclusivos da marca, produto/serviço� Existem duas formas: a paridade de categoria e a paridade de concorrência: ● Paridade de categoria serve como uma referência do mínimo necessário que o consumidor deseja para uma determinada categoria� Por exemplo, o consu- midor espera que toda padaria ofereça pão� Repare que a qualidade do pão não está sendo questionada, sendo apenas uma referência do que é minimamente necessário� ● Paridade de concorrência significa se asseme- lhar ao concorrente, com o objetivo de anular tanto aquele atributo que sua empresa considera não ser seu ponto forte, quanto anular os aspectos que seu concorrente pode estar tentando associar como um ponto de diferença� A ideia por trás da paridade de concorrência não é necessariamente convencer o 38 consumidor de que seu produto é equivalente ao do concorrente; para isso, basta o consumidor ter a percepção de que sua empresa tem um bom domínio naquele aspecto� Um exemplo clássico para um posicionamento de mercado em que os pontos de diferença e paridade foram bem elaborados envolve as gigantes do seg- mento do mercado financeiro destinado aos cartões de crédito: American Express e Visa. Vamos analisar primeiro os pontos de diferença� A American Express se posicionou no mercado com o objetivo de associar sua marca a uma percepção de prestígio, notoriedade. A Visa posicionou-se de outra maneira, reforçando a percepção de que seu produto é o mais aceito no mundo. Dessa forma, seu objetivo foi reafirmar seu compromisso com a conveniência. Agora que os pontos de diferença já foram especi- ficados, vamos observar como as empresas tratam dos pontos de paridade. Lembre-se que aqui a ideia é anular o ponto de diferença da empresa concorrente, diminuindo assim alguma vantagem estabelecida� A American Express passou a dar mais atenção ao número de estabelecimentos que aceitam seu cartão, tentando com isso minimizar o ponto forte da Visa.Por sua vez, a Visa oferece cartões Gold e Platinum, com o objetivo de mostrar que seus produtos tam- bém conferem boa reputação. Por fim, passados todos os estágios descritos, a empresa se posiciona no mercado-alvo escolhido e 39 passa a manter um padrão de comunicação, tanto com os consumidores quanto com seu público in- terno. Essa comunicação deve ser contínua, pois o êxito do posicionamento de uma marca no mercado requer que os consumidores reconheçam sua pro- posta de valor� Em última instância, se o consumidor não reconhecer aquilo que a empresa oferece, nada tem sentido� 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste e-book, tivemos uma visão panorâmica sobre os conceitos e aspectos associados ao comporta- mento do consumidor e suas principais implicações para o Marketing� Pudemos observar os conceitos sobre o comportamento do consumidor e a evolução desse conceito nas últimas décadas. Passada esta conceituação inicial, pudemos compreender como o Marketing utiliza as informações visando a oferecer seus produtos e serviços� Conhecemos também as particularidades do com- portamento do consumidor digital, compreendendo que, embora sejamos os mesmos consumidores do ambiente físico, o ambiente virtual propicia-nos alguns comportamentos distintos, visto que alguns aspectos que funcionam como restritivos no mundo real (esforço de locomoção, limite de tempo, distân- cia, dinheiro etc.) têm menor influência no virtual. Nesse contexto, estudamos os conceitos e as práti- cas observados na segmentação de mercado, tam- bém que, após segmentar o mercado, a empresa está apta a escolher o mercado-alvo em que atuará e, então, definirá sua estratégia de posicionamento no mercado-alvo� 41 SÍNTESE Traçar o perfil dos grupos distintos de compradores em função de suas necessidades e desejos (segmentação de mercado). Conceituando o comportamento do consumidor: O comportamento do consumidor é o estudo dos processos de compra, abrangendo o consumo, a avaliação e o descarte de um bem ou serviço: Comportamento do consumidor digital: Embora sejamos as mesmas pessoas, na internet as pessoas podem apresentar novos comportamentos, visto que aspectos restritivos (esforço de locomoção, limite de tempo, distância, dinheiro etc.) assumem novos contornos. A interatividade proporcionada pela internet faz com que usuários consultem outros usuários em busca de depoimentos reais sobre produtos e serviços. Aspectos como expertise em relação à internet e à percepção de risco assumem significativa importância. Reputação, relevância e engajamento com a marca são os principais antídotos. Implicações para o Marketing: Os profissionais de marketing devem: • Estudos iniciais desenvolvidos na Psicologia Social. • Com o desenvolvimento do Marketing, nos anos 1950, aumenta-se o interesse no tema. Comportamento do Consumidor 1 Selecionar o(s) segmento(s) de mercado em que a empresa possa atuar de forma eficaz (mercado-alvo).2 Destacar e divulgar os principais benefícios que o produto ou serviço oferecido pode gerar aos consumidores (posicionamento da marca no mercado).3 Referências Bibliográficas & Consultadas BANOV, M� R. Comportamento do consumidor: vencendo desafios� São Paulo: Cengage Learning, 2017 [Minha Biblioteca]� CAMARGO, P� C� J� Neuromarketing: a nova pes- quisa de comportamento do consumidor� São Paulo: Editora Atlas, 2013 [Minha Biblioteca]. ENGEL, J� F�; KOLLAT, D� T�; MINIARD, P� W� Consumer behavior� 6. ed. New York: Dryden Press, 1990. ÉPOCA NEGÓCIOS. Fabricante da Coca-Cola é mul- tada em R$ 1,158 milhão por Laranja Caseira. jul. 2013. Disponível em: https://epocanegocios.globo. com/Informacao/Acao/noticia/2013/07/fabricante- -da-coca-cola-e-multada-em-r-1158-milhao.html Acesso em: 09 set. 2019. FISHBEIN, M.; AJZEN, I. 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