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LEITURA E ESCRITA MUSICAL AULA 2 Prof.a Simone Mota Silva 2 CONVERSA INICIAL Prezado aluno, nesta aula vamos dar início ao processo de alfabetização musical, ou seja, vamos conhecer os símbolos básicos constituintes da partitura. Inicialmente, entenderemos como se apresenta o ambiente onde a música é escrita, o pentagrama, e como as alturas musicais são representadas nele. Aprenderemos também quais são as claves, sua função e origem. Aprenderemos ainda a representação das durações das notas musicais, e como estabelecer a noção de tom e semitom, além de entender como é possível promover alterações de altura e duração na partitura. TEMA 1 – A PAUTA E AS NOTAS MUSICAIS O atual sistema de notação musical universal utiliza um conjunto de cinco linhas horizontais chamado pentagrama ou pauta. Figura 1 – Pentagrama Tanto as cinco linhas quanto os quatro espaços contidos entre elas são utilizados na escrita musical. Geralmente, com o objetivo de facilitar a comunicação, as linhas e espaços são enumeradas de baixo para cima. As linhas e espaços do pentagrama padrão permitem a representação de nove alturas sonoras, mas a música permite evoluções ainda maiores. Para atender essa demanda, foram criadas as linhas suplementares. Figura 2 – Linhas Suplementares 3 As linhas suplementares são utilizadas pontualmente para a escrita de notas, cuja altura ultrapassa o limite do pentagrama padrão. Quando surge essa necessidade, coloca-se a linha apenas no espaço de inclusão da nota. Os espaços gerados por essas linhas também são utilizados. Não existe limite para a inclusão de novas linhas, desde que a clareza da partitura seja mantida. A inclusão das notas no pentagrama exige precisão. As cabeças das notas, que têm forma elíptica e não redonda, devem sempre ser incluídas dentro do espaço, tangenciando a linha acima e a linha abaixo, sem vazar para o espaço seguinte, ou bem centralizada na linha, conforme a imagem a seguir: Figura 3 – Posicionamento das notas na pauta Apesar de ser um sistema padrão, há casos em que o pentagrama não se adequa. De modo geral, os instrumentos de percussão utilizam apenas uma linha para reproduzir os símbolos referentes ao que deve ser executado. Existem diferentes formas e sistemas de notação musical para instrumentos de percussão; no entanto, toda partitura de percussão completa deve apresentar a convenção que relaciona os instrumentos ou os signos utilizados e como tocá-los. Figura 4 – Convenções da partitura de pandeiro Fonte: Moura, 2017. Moura (2018) descreve cada signo com instruções sobre como percutir cada região do instrumento: 1 – Grave Polegar; 2 – Grave Polegar Abafado; 3 – 4 Grave Ponta de Dedo; 4 – Platinela Punho; 5 – Platinela Ponta de Dedo; 6 – Slap / Tapa; 7 – Rulo / Drag com Ponta de Dedo. TEMA 2 – CLAVES As primeiras impressões desenvolvidas ampliaram o acesso as partituras. Porém, em virtude de serem impressos documentos apenas em preto e branco, as linhas coloridas que representavam as alturas musicais caíram em desuso. Para substituí-las, o pentagrama ganhou a quinta linha; houve também a inclusão das claves, signos responsáveis para referenciar a altura na partitura. A clave funciona como um carimbo que estabelece uma convenção, indicando a localização da primeira nota musical e, consequentemente, a posição de todas as outras notas da sequência. D´Arezzo já utilizava as letras C e F para indicar a posição das notas. Na sequência, surgiu a clave de sol. A simbologia das claves evoluiu e, atualmente, são três, representadas como a figura. Figura 5 – Evolução das claves A última coluna da imagem corresponde às claves como são utilizadas atualmente; elas representam, respectivamente, as notas sol, dó e fá. Apesar de principais, as três claves não suprem as necessidades musicais, já que alguns instrumentos apresentam uma extensão de notas mais longa, ou seja, apresentam maior distância entre a nota mais grave e a mais aguda possível. Para atender essas situações, há a inclusão de um número oito acima ou abaixo da clave referência, para indicar, conforme a localização do numeral, se a partitura deve soar uma oitava acima ou uma oitava abaixo. 5 Figura 6 – Claves alteradas Entre os instrumentos, o violão é um dos que utiliza o recurso; no entanto, as partituras não costumam vir com o símbolo oito assinalado, e os instrumentistas já subtendem que a leitura deve ser feita com uma oitava abaixo. O mesmo acontece com as partituras de coral para a voz tenor, que não apresentam o símbolo, mas são cantadas oitavadas. Outra situação possível em uma partitura é a troca de claves sempre que se for necessário, conforme o exemplo a seguir: Figura 7 – Mudança de clave A clave incluída na partitura não determina a tonalidade; há outro símbolo com essa função, que será estudado na sequência. Uma vez referenciada a altura, as próximas notas são determinadas ocupando as linhas e espaços anteriores e posteriores. Conforme a Figura 8, as notas circuladas referenciam as alturas de cada uma das claves. Figura 8 – Claves e notas musicais 6 TEMA 3 – DURAÇÕES A representação da duração do som evoluiu ao longo da história. No sistema atual, os signos representativos dessa propriedade são chamados de nota, e as notas musicais são compostas por três partes, conforme exemplo a seguir. Figura 9 – Elementos da nota musical A cabeça, em formato de elipse, pode ser cheia e inclinada como no exemplo, ou vazada e reta na horizontal. Existem autores que nomeiam a cabeça vazada como branca e a cabeça preenchida como preta. A haste é a linha vertical, com comprimento aproximado de três espaços. Ela parte de uma das extremidades da nota, seguindo o seguinte critério: se a nota estiver alocada até a terceira linha da pauta, a haste fica à direita da cabeça da nota e para cima; se a nota aparecer depois da terceira linha, a haste ficará abaixo da cabeça da nota, no lado esquerdo. Figura 10 – Disposição da haste Quando a nota utilizar linhas e espaços complementares, a haste deve subir ou descer até a terceira linha do pentagrama original. Isso serve para garantir que a nota mantenha a conexão com a pauta. Figura 11 – Comprimento da haste de notas em linhas e espaços suplementares 7 O comprimento da haste depende ainda do número de colchetes que a nota apresenta. Figura 12 – Comprimento da haste em função da quantidade de colchetes O colchete indica a divisão da duração da figura original. O colchete representa a divisão por múltiplos de dois, ou seja, um colchete divide a nota por dois, dois colchetes dividem por quatro, três colchetes dividem a nota por oito e assim por diante. Ele sempre é inserido à direita da haste; nos países de língua inglesa, o nome desse elemento é “flag”, que em português significa “bandeira”. Por esse motivo, alguns músicos não usam o termo colchete, e sim bandeira ou bandeirola. Em certas situações, a partitura apresenta seguidas notas com colchetes, de modo que é possível unir os colchetes em uma linha horizontal com maior espessura entre as hastes, conforme o exemplo. Figura 13 – Ligação entre notas com colchetes Essa ligação de notas com colchete acontece, na maioria das vezes, dentro da mesma unidade de tempo. Na figura anterior, na primeira unidade de tempo temos a ligação de duas notas de apenas um colchete; nesses casos, utiliza-se apenas uma linha vertical. Já na segunda unidade de tempo, a ligação é de duas notas com dois colchetes, e a segunda linha liga apenas a segunda e a terceira notas. Já no terceiro tempo, a nota com apenas um colchete é alocada 8 no meio; por esse motivo, as notas das extremidades carregam apenas um segmento do segundo traço. Já no quarto tempo,todas as notas são ligadas por duas linhas horizontais, isso porque todas elas apresentam dois colchetes. Depois de conhecer os elementos constitutivos da simbologia das notas, é preciso entender como suas combinações determinam os tempos exatos para a escrita musical. Observe a figura a seguir. Figura 14 – Figuras de duração Em música, é preciso estabelecer sempre uma unidade de tempo. No exemplo da figura anterior, usamos a semínima para isso. O quadro apresenta cinco figuras, iniciando pela semibreve. Apesar de serem as notas mais utilizadas, existem outras: a breve, que representa o dobro da semibreve, e portanto equivale a 8 tempos; abaixo das semicolcheias, há as fusas, ou seja, metade do tempo de uma semicolcheia (1/8 de tempo), escrita com 3 colchetes; e as semifusas (1/16 de tempo), escritas com 4 colchetes. Os símbolos da terceira coluna da tabela representam o tempo das pausas, muito utilizadas na música. As pausas também recebem o nome de semibreve, mínima, semínima, ou seja, o mesmo nome das notas. TEMA 4 – TOM E SEMITOM Sobre as alturas sonoras, a Teoria da Música busca quantificar ou classificar a distância entres os sons. Se na Física essa diferença é calculada com base na diferença em hertz, na música essas diferenças recebem nomes. Os nomes das notas musicais, segundo Goldemberg (2000), são atribuídos a Guido D´Arezzo, inspirado no Hino a São João Batista: “Ut queant laxis / 9 Resonare fibris, / Mira gestorum, /Famuli tuorum, / Solve polluti,/ Labii reatum. - Sancte loannes”. Do primeiro ao sexto verso, todas as notas seguiam a sequência de alturas utilizadas na época, o sistema de seis notas conhecido como hexacorde guidoniano (Sadie, 1994). Se houvesse dois fonemas terminando com consoante, era difícil solfejar a primeira nota, que foi substituída pelo dó. A sétima nota foi acrescida utilizando as iniciais de Sancte Ioannes, que originou a nome da nota: si. Apesar de amplamente conhecidos, os nomes das notas variam em alguns lugares do mundo – na França, por exemplo, o dó recebe o nome de ut. A diferença de frequência entre as alturas das notas tem relação matemática, mas elas não são constantes. Entre dó e ré, a diferença de frequência é maior que entre mi e fá, por exemplo. No teclado do piano, é possível entender que as notas mi e fá estão mais próximas; portanto, há menor diferença de frequência. Figura 15 – Teclas do Piano Crédito: Moibalkon/Shutterstock. Composto por teclas brancas e pretas, o teclado do piano é disposto em grupos de duas e de três teclas pretas próximas. A tecla branca que se localiza ao lado esquerdo do grupo de duas teclas é a primeira nota: dó. A partir dela, a sequência de teclas brancas do lado direito gera a sequência de notas conhecidas: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. É possível observar que, entre as notas mi e fá, e si e dó, não existe a tecla preta, por isso pode-se afirmar que essa é a menor distância entre as notas 10 do teclado e, consequentemente, da música. A essa distância mínima dá-se o nome de semitom. A distância das teclas brancas para suas vizinhas pretas, tanto à esquerda quanto à direita, também se chama semitom. Entre as teclas brancas que apresentam entre si uma tecla preta, considera-se que há, então, dois semitons, como entre dó e ré por exemplo. Nesses casos, a soma de dois semitons é o tom. TEMA 5 – ALTERAÇÕES DE ALTURA E DURAÇÃO Observe a Figura 15. Se o músico tocar a tecla preta que está entre as notas dó e ré, o nome dessa nota depende da origem do toque: ou seja, se o instrumentista parte da nota dó em direção à tecla preta adjacente à direita, então ele tocou um dó sustenido; se, no entanto, a origem do toque vem da nota ré em direção à tecla preta à sua esquerda, o nome é ré bemol. A definição é: o sustenido é uma alteração da altura em um semitom acima, já o bemol é a alteração em um semitom abaixo da altura da nota natural. É usual dizer ainda que o sustenido é a nota um semitom mais agudo, ao passo que o bemol é um semitom mais grave. Figura 16 – Símbolos do sustenido e do bemol Na pauta, esses sinais aparecem imediatamente ao lado esquerdo das notas a serem executadas. Essas alterações na altura são chamadas acidentes; além do sustenido e do bemol, existem outras possibilidades de acidentes, com variações. Figura 17 – Outros acidentes 11 Tanto o dobrado sustenido quanto o dobrado bemol acontecem quando há alteração de um tom inteiro na altura original da nota. Quando uma nota é alterada em um compasso, caso ela se repita dentro do mesmo compasso, ela sempre soará alterada. A situação volta ao normal no compasso seguinte. No entanto, se o compositor deseja que, dentro do mesmo compasso, a nota volte a soar em seu tom original, então aplica o bequadro, sinal que indica a anulação da alteração. Os acidentes de prevenção, representados na terceira linha da Figura 17, servem para alertar sobre a existência do acidente, e sempre são escritos entre parênteses. Há na música, ainda, as alterações de duração, que são principalmente as ligaduras, espécie de arco que liga duas notas e soma o tempo delas – por exemplo, duas semínimas ligadas somam o tempo de uma mínima e o ponto de aumento, que aumenta o tempo de uma nota em metade de sua duração original. Por exemplo, uma semínima adicionada do ponto teria a duração de uma semínima mais uma colcheia ligadas. Existe ainda a quiáltera, espécie de colchete sobre as notas envolvidas, que pode aumentar ou diminuir o tempo das notas. Usualmente, são colocadas mais notas do que o programado no espaço – por exemplo, incluir três notas no espaço de duas para diminuir o tempo da nota, ou duas notas no espaço de três para ampliar a sua duração. NA PRÁTICA Todo o conteúdo desta aula é essencial para a leitura e a escrita musical. Para memorizar nomes e desenhos, escreva várias vezes as claves de sol, fá e dó, e as principais formas de tempo das notas, desde a semibreve até a semicolcheia. FINALIZANDO Conhecemos nesta aula a origem do pentagrama, como as claves surgiram, e sua função no pentagrama. Conhecemos os nomes dados às notas segundo seu tempo de duração, e outros elementos constitutivos das alturas, como o nome das notas e a função do bemol e do sustenido. Entendemos ainda que a duração das notas pode ser aumentada e diminuída com a utilização de efeitos como ligadura, ponto de aumento e quiáltera. 12 REFERÊNCIAS GOLDEMBERG, R. Métodos de leitura cantada: dó fixo versus dó móvel. Revista da Abem, Porto Alegre, v. 8, n. 5, p. 7-12, 2000. MOURA, D. Estudos e transcrições. 2017. Disponível em: <https://mouradanilo.wixsite.com/meusite/estudos-e-transcricoes>. Acesso em: 20 nov. 2019. SADIE, S. (Ed.). Dicionário Grove de música: edição concisa. Tradução de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.