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MARC 7 - TOSSE OBJETIVOS: • Estudar o diagnóstico diferencial da tosse no adulto; • Derrame pleural (diagnósticos diferenciais e classificação) • Abordagem ao paciente privado de liberdade; Tosse A tosse é um reflexo defensivo das vias aéreas. É uma manifestação muito comum em diversas doenças respiratórias e, muitas vezes, o sintoma único de algumas afecções não pulmonares, como as rinossinusopatias e a doença do refluxo gastroesofágico. Pode ser definida como um ato motor ventilatório trifásico caracterizado por um esforço inspiratório inicial (fase inspiratória) seguido de um esforço expiratório, inicialmente contra uma glote fe-chada (fase compressiva) e, então, pela abertura da glote e rápido fluxo expiratório (fase expulsiva). Existem dois mecanismos de depuração para proteção das vias aéreas com relação à entrada de partículas procedentes do meio externo. O primeiro é o clearance mucociliar, através do qual os movimentos ciliares impulsionam, no sentido cranial, uma fina camada de muco com partículas a serem depuradas. A tosse, ocorrendo por meio de ato reflexo, é o segundo mecanismo envolvido nesse sistema de proteção das vias aéreas inferiores, podendo ser voluntária ou involuntária. Os principais benefícios da tosse são: eliminação das secreções das vias aéreas pelo aumento da pressão positiva pleural, o que determina compressão das vias aéreas de pequeno calibre, e através da produção de alta velocidade do fluxo nas vias aéreas; proteção contra aspiração de alimentos, secreções e corpos estranhos; é o mais efetivo mecanismo quando existe lesão ou disfunção ciliar, como acontece na mucoviscidose, asma e discinesia ciliar; proteção contra arritmias potencialmente fatais, ao originar aumento de pressão intratorácica. O ato de tossir está sob controle voluntário e involuntário, e consiste das fases inspiratória, compressiva e expiratória, seguindo-se a fase de relaxamento. Quanto maior a fase inspiratória, maior será a eficácia da tosse. Assim, uma inspiração profunda permite um maior volume torácico e dilatação dos brônquios, o que torna mais eficiente a segunda fase. Na fase compressiva existe fechamento da glote e ativação do diafragma e dos músculos da parede torácica e abdominal, que ao aumentar a pressão intratorácica até 300 mmHg, comprimem as vias aéreas e os pulmões. Na fase expiratória há uma abertura súbita da glote com saída do ar em alta velocidade ocasionando o som característico da tosse. Na fase de relaxamento há relaxamento da musculatura e retorno das pressões aos níveis basais. Quanto maior a fase inspiratória, maior será a eficácia da tosse. O reflexo da tosse envolve cinco grupos de componentes: receptores de tosse, nervos aferentes, centro da tosse, nervos eferentes e músculos efetores. O mecanismo da tosse requer um complexo arco reflexo iniciado pelo estímulo irritativo em receptores distribuídos pelas vias aéreas e em localização extratorácica. O início deste reflexo dá-se pelo estímulo irritativo que sensibiliza os receptores difusamente localizados na árvore respiratória, e posteriormente ele é enviado à medula. Os receptores da tosse podem ser encontrados em grande número nas vias aéreas altas, da laringe até a carina, e nos brônquios, e podem ser estimulados por mecanismos químicos (gases), mecânicos (secreções, corpos estranhos), térmicos (ar frio, mudanças bruscas de temperatura) e inflamatórios (asma, fibrose cística). Os receptores de tosse não estão presentes nos alvéolos e no parênquima pulmonar. Devido os receptores de tosse não estarem presentes nos alvéolos e no parênquima pulmonar o indivíduo pode apresentar uma pneumonia alveolar com consolidação extensa, sem apresentar tosse. Os impulsos da tosse são transmitidos pelo nervo vago até um centro da tosse no cérebro que fica difusamente localizado na medula. Em relação ao tempo de instalação, a tosse é definida como aguda quando tem até 3 semanas de história. Normalmente é causada por infecções virais das vias aéreas superiores e, salvo nas situações de pacientes com comorbidades significativas, costuma ter curso autolimitado. Sugere-se investigar sua etiologia com exames complementares na ocorrência de outros sintomas associados, como hemoptise, dor torácica, dispneia e perda ponderal. A tosse subaguda, definida como aquela iniciada entre 3 a 8 semanas, e pode ter etiologias variadas. Crônica: tosse instalada há mais de 8 semanas, período a partir do qual é definida como crônica, sendo necessária a investigação causal. Como exames complementares pode ser solicitado: • Radiografia simples de tórax. • Espirometria. • Teste de broncoprovocação, inespecífica nas situações em que a tosse crônica não tem causa aparente e a espirometria simples é normal. • Baciloscopia e cultura para micobactérias nos casos de suspeita clínica, radiológica ou epidemiológica de tuberculose ou outras micobacterioses. • Broncoscopia para os casos de suspeita de aspiração de corpo estranho, hemoptise, imagem de atelectasia à radiografia de tórax e tosse produtiva não esclarecida pelos métodos anteriores. • Tomografia de tórax nos casos em que há achado radiológico ou broncoscópico suspeito. Alguns dados na história do paciente podem direcionar a investigação, como: • Tabagismo: fumantes, mesmo sem critérios definidores de doença pulmonar obstrutiva crônica, têm mais tosse. A relação da intensidade da tosse com a carga e o status tabágico é dose-dependente. • Instalação: o início repentino da tosse deve aumentar a suspeição de aspiração de corpo estranho. • Relação com infecção: a tosse seca ou pouco produtiva que se segue a um episódio de infecção das vias aéreas superiores é frequentemente explicada pelo aumento transitório na sensibilidade do reflexo da tosse e pela diminuição da depuração mucociliar que marcam a evolução final de uma infecção viral (tosse pós-infecciosa), mas pode ser a manifestação de um quadro – até então subclínico – de hiperresponsividade brônquica, apenas deflagrada pelo estímulo antigênico da infecção. • Expectoração abundante: tosse francamente produtiva está mais frequentemente relacionada a causas primariamente pulmonares. • Variação circadiana: asmáticos tendem a apresentar mais sintomas à noite e no início da manhã; pacientes com insuficiência cardíaca frequentemente têm piora da tosse e da dispneia quando se deitam e portadores de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) podem piorar ao decúbito. Relação com a alimentação: tosse imediatamente após a deglutição pode sugerir disfagia; crises de tosse pós- prandiais (a distensão gástrica diminui a continência do esfíncter esofágico inferior) sugerem doença do refluxo gastroesofágico. Outra situação relacionada à exacerbação da tosse em portadores de DRGE, também explicada pela diminuição da competência do esfíncter esofágico inferior (nesse caso pela redução de sua compressão pelos pilares diafragmáticos), é a fonação. Até 90% dos pacientes com tosse secundária à DRGE relatam desencadeamento de crises ao falar ao telefone, rir ou cantar. • Relação com medicamentos: a tosse como evento adverso do uso de (IECA) já é conhecida desde meados da década de 1960, ocorrendo em aproximadamente 15 a 20% dos pacientes e iniciando-se comumente dias a semanas após o início do tratamento. Outras drogas como BRA, os betabloqueadores, a interferona e alguns antirretrovirais. • Asma: contato com alérgenos inalatórios ou irritantes desencadeando crises de tosse pode sugerir asma, mesmo sem manifestação típica de sibilância e dispneia (variante tussígena da asma). Tosse aguda As maiores causas da tosse aguda são as infecções virais das vias aéreas superiores,em especial o resfriado comum, e das vias aéreas inferiores, como nas traqueobronquites agudas. Outras causas comuns são as sinusites agudas, exposição a alérgenos e irritantes, e exacerbações de doenças crônicas como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e rinossinusites. Doenças potencialmente graves também podem se manifestar na tosse aguda, como pneumonias, edema pulmonar por insuficiência ventricular esquerda, embolia pulmonar e exacerbações graves de asma e DPOC podem manifestar-se com tosse aguda e, ao contrário das causas anteriores, necessitam de intervenção precoce devido ao risco de complicações. Tosse Sub-aguda Segundo a diretriz norte-americana, uma das causas mais comuns de tosse subaguda é a tosse pós-infecciosa, ou seja, aquela que acomete pacientes que tiveram infecção respiratória recente e não foram identificadas outras causas. Uma vez afastada a etiologia pós-infecciosa, o manejo será o mesmo da tosse crônica. Tosse pós-infecciosa O diagnóstico é realizado por exclusão, e devem ser considerados três aspectos fundamentais: tosse com duração superior a três e inferior a oito semanas, avaliação clínica detalhada sem identificação de uma causa e história de infecção das vias aéreas nas últimas três semanas. A fisiopatogenia é multifatorial, com extensa inflamação e lesão epitelial das vias aéreas, com ou sem hiperresponsividade transitória. Outros fatores que podem contribuir são o gotejamento pós-nasal, acúmulo de secreções nas vias aéreas inferiores e agravamento de refluxo gastroesofágico devido a alterações no gradiente pressórico toracoabdominal durante a tosse. A etiologia relaciona-se, em geral, a infecções virais, ocasionalmente após infecções por B. pertussis, M. pneumoniae e C. pneumoniae. A tosse em geral é autolimitada e resolve-se em poucas semanas. Não há tratamento específico. Deve-se considerar o uso de brometo de ipratrópio e corticosteroides por via inalatória. Em casos mais intensos, com grande repercussão na qualidade de vida, deve-se testar o efeito de prednisona ou prednisolona a 30 a 40 mg por dia, por cinco a sete dias. O uso de antibióticos deve ser reservado para casos em que haja alta probabilidade de infecção bacteriana, como nos surtos de traqueobronquite por mycoplasma Tosse Crônica Tem duração superior a 8 semanas. A asma é uma das principais causas de tosse crônica em adultos não tabagistas (24% a 29%). Usualmente a tosse é acompanhada de dispneia e chiado no peito em pacientes com asma, entretanto, em alguns indivíduos, a tosse pode ser o único sintoma da doença. Essa condição é conhecida como tosse variante de asma (TVA). Esses indivíduos apresentam receptores da tosse mais sensíveis a diferentes substâncias inaladas quando comparados a asmáticos a pessoas normais. As alterações inflamatórias encontradas em pacientes com TVA são: infiltração eosinofílica e espessamento subepitelial da mucosa brônquica, provocando remodelamento das vias aéreas. Os pacientes com TVA frequentemente apresentam exame físico e função pulmonar normais. O diagnóstico de TVA pode ser feito através de um teste de broncoprovocação com metacolina positivo, mas o diagnóstico definitivo somente ocorrerá após resolução da tosse com um tratamento específico para asma. A bronquite eosinofílica sem asma mais comumente se manifesta como tosse seca ou produtiva que se enquadra na definição de tosse crônica, sem evidência clínica ou radiológica de ser causada por outras doenças pulmonares. Nesses pacientes, a espirometria é normal ou mostra limitação leve, sem resposta broncodilatadora e a responsividade das vias aéreas ao teste de broncoprovocação com metacolina ou histamina é normal. O diagnóstico é confirmado pela presença de eosinofilia no escarro espontâneo ou induzido. Responde bem ao tratamento com corticosteróides inalados, com a eosinofilia desaparecendo do escarro em duas semanas. É uma condição autolimitada e que apenas uma minoria evolui para asma. Pacientes com bronquite eosinofílica ocupacional em geral apresentam regressão do quadro quando afastados da exposição. Na DRGE a tosse tem como características: predomínio no período diurno, seca, e está associada a manifestações típicas do RGE (pirose e regurgitação) em até 75% das vezes. o. Nesses casos, é prescrito um inibidor da bomba protônica (IBP) em dose plena diária por quatro semanas, como conduta inicial. A resposta satisfatória, com remissão dos sintomas, sugere o diagnóstico de DRGE. Bronquite crônica: A causa mais comum é o tabagismo, embora a exposição a substâncias irritantes no trabalho também possa causar esta condição. A bronquite crônica é um tipo de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Nessa patologia os brônquios e bronquíolos ficam irritadas e inflamadas. Isso provoca inflamação e estreitamento dessas vias aéreas. O sintoma mais comum da bronquite crônica é uma tosse que traz muco. Ocorrendo frequentemente durante um período de três meses. Pessoas com bronquite crônica também podem sentir falta de ar durante o exercício, chiado ao respirar, cansaço, dores de cabeça e desconforto no peito. A parte mais importante do tratamento, se for aplicável, é parar de fumar ou tomar medidas para evitar respirar outros produtos químicos irritantes. Outros tratamentos incluem medicações inaladas para reduzir a inflamação e abrir as vias aéreas. DPOC: Principal sintoma é a tosse e produção de escarro na maior parte dos dias, por no mínimo três meses em pelo menos dois anos consecutivos, exposição a irritantes da via aérea pelo tabagismo (cigarros, charutos, cachimbo), tabagismo passivo, exposição a agentes nocivos no trabalho (fumaça, vapores) ou em domicílio (fogão a lenha, por exemplo) levam ao diagnóstico de bronquite crônica, na ausência de outras doenças respiratórias ou cardíacas capazes de causar tosse crônica. Nessa situação a espirometria serve para definir o diagnóstico de DPOC e estadiar a doença. Outros exames, como a radiografia de tórax, servem para afastar comorbidades. O afastamento do tabaco ou dos agentes irritantes causadores de DPOC é o melhor tratamento da tosse de pacientes com a doença. Em pacientes já diagnosticados e em acompanhamento por DPOC, o surgimento de tosse crônica ou mudança na característica da tosse usual obriga a buscar o diagnóstico causal. Deve-se lembrar de situações associadas à doença de base e que o mesmo agente etiológico de DPOC o é também do câncer de pulmão, de laringe e de esôfago. Quadros infecciosos virais ou bacterianos também são frequentes. A tosse provocada pela exacerbação de DPOC deve ser avaliada pela presença (aumento do volume) e pela qualidade (purulência) do escarro, bem como pelo grau de piora da dispneia. Tuberculose: A tosse e a expectoração são sintomas cardinais da tuberculose e por onde se deve começar a investigação para que os casos pulmonares sejam diagnosticados e tratados precocemente. Outros sintomas surgem com o tempo: anorexia, febre, emagrecimento, hemoptise, astenia e sudorese noturna. O grupo prioritário em termos de rastreamento da tuberculose pulmonar são os sintomáticos respiratórios, definidos como pessoas portadoras de tosse e expectoração por períodos de três semanas ou mais. Na tuberculose do adulto (tuberculose de reinfecção) as manifestações respiratórias são predominantes. A tosse é a manifestação principal e inicial da doença e geralmente é seca, passando a produtiva com escarros mucoides ou purulentos e, por vezes, com raias de sangue ou mesmo hemoptise. A tosse não tem horário preferencial e o tempo do sintoma depende do tempo de adoecimento. Os sintomas sistêmicos, além de febre (classicamente vespertina),surgem com a evolução da doença. Nos doentes com expectoração espontânea devemos solicitar a baciloscopia direta (pesquisa de bacilo álcool-ácido resistente) em três amostras de escarro, em jejum, em dias seguidos. Havendo disponibilidade de cultura para micobactérias, esta deve ser também solicitada. A baciloscopia positiva em duas ou mais amostras ou a cultura positiva atestam como caso de tuberculose pulmonar positiva. A prova tuberculínica faz parte da abordagem diagnóstica e está indicada como método de triagem ou para o diagnóstico de tuberculose. O estudo radiológico convencional é um método auxiliar e sempre indicado para os sintomáticos e contactantes. O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, devendo ser realizado, preferencialmente, em regime de Tratamento Diretamente Observado (TDO). São utilizados quatro fármacos para o tratamento dos casos de tuberculose que utilizam o esquema básico: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. O TDO é indicado como principal ação de apoio e monitoramento do tratamento das pessoas com tuberculose e pressupõe uma atuação comprometida e humanizada dos profissionais de saúde. Além da construção do vínculo entre o profissional de saúde e a pessoa com tuberculose, o TDO inclui a ingestão dos medicamentos pelo paciente realizada sob a observação de um profissional de saúde. Pneumonia: Classificada como adquirida na comunidade ou hospitalar. Pessoas com pneumonia costumam apresentar quadro de tosse com ou sem expectoração, dispneia, febre e dor torácica, porém, outros sintomas menos comuns podem aparecer, como dor pleurítica, mialgias, anorexia e fadiga. Ao exame físico, pode ser visto taquicardia, taquipneia, hipotensão, crepitações, redução dos murmúrios vesiculares, aumento do frêmito toracovocal, sinais de consolidação. Em relação aos idosos,deve-se ter um olhar especial, visto que podem não manifestar febre, tosse ou dispneia, e geralmente apresentam- se confusos, com mudanças na capacidade funcional e ainda agravamento de uma doença de base preexistente. Os principais padrões de alterações vistas na radiografia de tórax são: consolidação lobar, focos de consolidação, opacidades intersticiais e cavitação. Vale ressaltar que a radiografia é importante também para avaliar gravidade e identificar possíveis condições coexistentes, acompanhar evolução e resposta ao tratamento. Podem ser solicitados outros exames como hemograma, podendo haver leucocitose ou leucopenia; gasometria arterial e hemocultura. A avaliação da gravidade do quadro do paciente é importante para determinar se há ou não necessidade de internamento. Alguns fatores observados são: doenças associadas, condição social, adesão terapêutica, idade avançada, comorbidades (insuficiência cardíaca, neoplasia, doença coronariana, alcoolismo), anormalidades ao exame físico e/ou radiológico. Atualmente, o critério para internação mais utilizado para aqueles pacientes com PAC é o CURB-65: C – nível de consciência (avaliar se há confusão mental) U – ureia > 50 mg/dL R – frequência respiratória ≥ 30 ipm B – “blood pressure” PAS < 90 mmHg e/ou PAD ≤ 60 mmHg 65 – idade > 65 anos Uma vez definido que o paciente deve ser internado no hospital, utilizar os critérios da ATS pera definir internação na enfermaria ou UTI Critérios da ATS: UTI se 1 critério maior ou 3 critérios menores: • Critérios maiores: instabilidade hemodinâmica com necessidade de vasopressores (choque séptico), necessidade de ventilação mecânica, ventilação não invasiva, FiO2 > 40% para manter saturação de oxigênio > 90%. • Critérios menores: FR ≥ 30 ipm, PaO2/FiO2 ≤ 250, infiltrado multilobar, confusão ou desorientação, uremia, leucopenia, trombocitopenia, hipotermia, hipotensão necessitando reposição volêmica grave. Tratamento ambulatorial: Empírico, busca cobrir os patógenos mais comuns – S. pneumoniae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, H. influenzae – os antimicrobianos recomendados são a Azitromicina e a Claritromicina (macrolídeos). • Pacientes com comorbidades – azitromicina ou claritromicina + β- lactâmico OU fluoroquinolona (levofloxacino, moxifloxacino, gemifloxacino). Duração do tratamento – até que o paciente se torne afebril por 72h; de 7 a 14 dias para os germes atípicos. Internação em enfermaria: 1ª dose via parenteral nas primeiras 4 horas após admissão hospitalar. Antimicrobianos mais usados – Levofloxacino, Moxifloxacino, Gatifloxacino (fluroquinolonas) OU Azitromicina ou Claritromicina (macrolídeos) associados a β-lactâmicos com inibidores de β- lactamase ou Cefalosporina de 2ª ou 3º geração (Cefuroxima, Cefotaxima, Ceftriaxone). – Internação em UTI: o tratamento será semelhante ao de pacientes internados na enfermaria, caso o paciente não apresente risco para infecção por pseudomonas. Entretanto, não se deve utilizar fluoroquinolonas em monoterapia. Preferir a combinação de β-lactâmicos + Macrolídeos OU β- lactâmicos + Fluoroquinolonas. Derrame Pleural É caracterizado pelo acúmulo anormal de líquido no espaço pleural. O derrame pleural pode ser classificado em transudato e exsudato, segundo os critérios de Light. Transudatos se caracterizam por derrames em que não há agressão pleu-ral, enquanto nos exsudatos há um processo inflamatório pleural, com aumento da permeabilidade capilar e libera-ção de mediadores inflamatórios. Deve-se ressaltar que, em nosso meio, as causas mais comuns de derrame pleural exsudativo são o câncer e a tuberculose. Quadro clinico: Os sintomas decorrentes das doenças pleurais dependem de múltiplos fatores, como o volume e a velocidade de formação do derrame, a reserva cardiopulmonar do paciente, a presença ou não de processo inflamatório pleural, a extensão do acometimento pleural e da doença de base e, ainda, a distensibilidade da caixa torácica. A tríade característica do derrame pleural é tosse seca, dor torácica e dispneia. A tosse é seca, esporádica e pouco intensa, causada pelo estímulo inflamatório na pleura parietal. A presença de derrames volumosos gera deformação da arquitetura brônquica, fazendo que, por colapso, manifeste-se a tosse, que inicialmente é seca Esta alteração pode levar ao acúmulo de secreções e posteriormente ao desenvolvimento de infecções bacterianas associadas, podendo ocasionar tosse produtiva. A dor torácica, denominada “dor pleurítica”, é, em geral, ventilatório-dependente, bem localizada, em pontada e de moderada intensidade. (Para que haja alteração na semiologia são necessários aproximadamente 300 mL de líquido na cavidade pleural). Na inspeção, observa-se a frequência respiratória, em geral aumentada nos derrames volumosos. O padrão respiratório, pelo quadro álgico, pode apresentar incursões respiratórias curtas ou, ainda, o uso de musculatura acessória, m geral, a expansibilidade está diminuída, podendo ocorrer abaulamento dos espaços intercostais no lado do derrame, principalmente em derrames volumosos e nas regiões mais inferiores do tórax. Abaulamento localizado pode ser característico de tumor pleural ou empiema. Sinais clássicos como o sinal de Lemos Torres, que é o abaulamento expiratório localizado nos últimos espaços intercostais, principalmente à expiração forçada, nos pequenos e médios derrames. E o sinal de Litten é a ausência da visualização da depressão intercostal inspiratória no hemitórax acometido podem estar presentes. À palpação, observa-se diminuição na mobilidade respiratória e na elasticidade da caixa torácica. O frêmito toracovocal pode estar diminuído, por redução da transmissão do som e, portanto, pela menor percepção da vibração. Na percussão do tórax com derrame pleural observa-se um som maciço. Em geral, a ausculta pulmonar apresenta redução ou ausênciado murmúrio vesicular, podendo ocorrer paralelamente sopro pleurítico (colapso pulmonar) e/ou atrito pleural (decorrente da inflamação pleural). Imagem Entre os exames de imagem, o mais utilizado ainda é a radiografia de tórax, que é obtida em três incidências principais: posteroanterior (PA), perfil e decúbito lateral, com raios horizontais. A mais sensível para o diagnóstico de derrame pleural é decúbito lateral. A radiografia em PA é a menos sensível, pois são necessários cerca de 200 mL de líquido na cavidade pleural para a visualização do derrame. Isto ocorre pelo fato de o seio costofrênico posterior ser mais profundo, portanto detectado mais precocemente na radiografia em perfil. Também pode-se realizar a TC de tórax, RM e PETSCAN (útil principalmente em estadiamento de CA e planejamento cirúrgico). Laboratório O líquido pleural é, em geral, obtido por meio da toracocentese, procedimento simples, seguro e de baixo custo. A análise do líquido pleural se. inicia pelo aspecto da amostra, que permite estimar uma provável etiologia. O líquido pode estar límpido, hemorrágico ou turvo, com colorações variando de amarelo claro, xantocrômico, esbranquiçado, achocolatado ou branco leitoso. Os parâmetros a serem avaliados no líquido pleural são: pH, bioquímica (destacando- se a dosagem de proteínas/albumina, desidrogenase lática e glicose), citologia diferencial e oncótica e microbiologia. O diagnóstico laboratorial inicial visa a definir se o derrame é um transudato ou um exsudato. Tratamento O tratamento do derrame pleural é baseado na abordagem local e no tratamento da doença de base. A analgesia é uma terapêutica importante nestes pacientes, pois a dor interfere na alimentação, na circulação, na respiração, etc. Podem ser usados anti-inflamatórios hormonais e não hormonais, psicotrópicos e opioides) e/ou medidas não medicamentosas A correção dos distúrbios nutricionais deve ser planejada por uma equipe multidisciplinar. Procedimentos invasivos: Vários procedimentos invasivos podem ser realizados no controle do derrame pleural, como: toracocentese terapêutica, uso de cateteres e drenos, pleurodese, etc. A indicação terapêutica mais frequente para a realização da toracocentese é o alívio de dispneia, tosse e dor torácica. Entretanto, também se destina a permitir uma melhor visualização das estruturas pulmonares e do controle evolutivo do processo pleural (parapneumônico) ou, ainda, pode ser considerada medida de suporte até que o tratamento específico da doença de base esteja surtindo o efeito adequado. A técnica utilizada é semelhante à da toracocentese diagnóstica, devendo-se ter a precaução de retirar somente 1.500 mL por vez. As complicações são inerentes ao procedimento, podendo ocorrer infecção, hemotórax, hematoma de parede, pneumotórax (complicações da punção), ou, ainda, edema pulmonar de reexpansão volemia e distúrbios hidroeletrolíticos. Como alternativa terapêutica às punções pleurais de repetição, os cateteres podem ser utilizados nos derrames pleurais com indicação. Pessoas Privadas de Liberdade Em 2003 foi criado o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) e mais recentemente a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), a qual tem como um dos principais objetivos o acesso ao cuidado integral em saúde. Neste sentido, Coelho et al14 afirmam que a população carcerária desponta como de alto risco a distintas infecções, como a AIDS, as hepatites B e C, a tuberculose e as ISTs. Fernandes et al15 acrescentam que qualquer ambiente de centralização populacional é favorável para o agravamento de condições prévias de saúde, assim como ao aparecimento de novos agravos. A tuberculose pulmonar é abordada na maioria dos estudos sobre saúde prisional, sugerindo que esta doença representa um dos grandes problemas entre as pessoas privadas de liberdade. Essa vulnerabilidade à tuberculose é mostrada no estudo de Santos e Sá10, que revela que a PPL apresenta 27 vezes mais chances de contágio que a população livre. O diagnóstico, contudo, não é suficiente, nem garante a assistência à saúde do detendo como é preconizado. Este dado foi nitidamente observado no estudo de Oliveira et al49, em que 25,9% dos indivíduos analisados apresentavam alguma doença diagnosticada, mas apenas 18,1% faziam acompanhamento de saúde. Há, portanto, irregularidade nas ações previstas no PNAISP, que, de forma clara, visa desenvolver estratégias de promoção da saúde e de prevenção de agravos à população encarcerada.