Prévia do material em texto
SEMINÁRIO VII – IPTU, ITR e IPVA Amanda Piton Almeida QUESTÕES 1. Construa as regras-matrizes de incidência do IPTU, ITR e IPVA. Nos termos dos art. 32 a 34/CTN, a RMIT do IPTU constrói-se da seguinte forma: No antecedente: critério material: a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física; critério espacial: localizado na zona urbana do Município; e critério temporal: no dia 1º de janeiro de cada ano. No consequente: critério pessoal: sujeito ativo – Municípios; sujeito passivo – o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título; e critério quantitativo: base de cálculo – valor venal do imóvel; alíquota – aquela prevista em lei, podendo variar conforme a localização ou a destinação dada ao imóvel. Nos termos dos art. 29/31 e da Lei n. 9.393/96, a RMIT do ITR constrói-se da seguinte forma: No antecedente: critério material: a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município; critério espacial: localizado fora da zona urbana (zona rural); e critério temporal: no dia 1º de janeiro de cada ano. No consequente: critério pessoal: sujeito ativo – União; sujeito passivo – o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título; e critério quantitativo: base de cálculo – valor fundiário; alíquota – aquela prevista em lei, podendo variar conforme a destinação dada ao imóvel. Nos termos do art. 155, III e §6º/CF, a RMIT do IPVA constrói-se da seguinte forma: No antecedente: critério material: propriedade de veículos automotores; critério espacial: o Estado em que o veículo possui registro junto à repartição competente do DETRAN; e critério temporal: na data da aquisição do veículo, para veículos novos, ou no dia 1º de janeiro de cada ano, para veículos usados No consequente: critério pessoal: sujeito ativo – Estados e Distrito Federal; sujeito passivo – proprietário do veículo (constante do licenciamento); e critério quantitativo: base de cálculo – valor do veículo previsto na tabela oficial disponibilizada anualmente pelo Estado tributante; alíquota – aquela prevista em lei, podendo variar conforme a destinação dada ao bem. 2. Diferençar os conceitos de propriedade, domínio útil e posse do art. 1º da Lei n. 9.393/96, correlacionando-os com o de propriedade do art. 153, VI, da CF. Há competência da União para instituir como critério material do ITR o domínio útil e a posse (vide anexos I, II e III)? Dispôs o art. 153/CF que compete à União instituir impostos sobre a propriedade territorial rural. E, ao passo que o CTN foi recepcionado, em sua grande maioria, pela Constituição, pode-se considerar que o ITR seguirá o disposto no art. 29 da legislação tributária, segundo o qual, "o imposto, de competência da União, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do Município". Destrinchando os conceitos previstos pela lei civil temos que a propriedade é um direito real cujo detentor tem a faculdade de usar, gozar e dispor do bem/coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha (art. 1.228); o domínio útil é a ingerência direta sobre a coisa (ou seja, o usar, gozar, dispor e reaver o bem; e a posse, por fim, é o direito do seu detentor de exercer, plenamente ou não, algum dos poderes inerentes a propriedade (art. 1.196). E mais, incide sobre imóveis localizados fora da zona urbana do município. Nos termos do art. 79, "são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente" e, segundo o § 1º do art. 32 do CNT, entende-se como zona urbana aquela definida em lei municipal que observar ao menos 2 dos seguintes critérios: meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; abastecimento de água; sistema de esgotos sanitários; rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. O §2º do artigo dispõe, ainda, que a lei municipal poderá considerar como urbana as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana. Assim, para a legislação civil, a propriedade rural será, por exclusão, aquela localizada fora da zona urbana. Por outro lado, a Lei 9.393/96 também considera que o ITR incidirá sobre a propriedade, domínio útil e posse de imóvel localizado fora da zona urbana do município. Contudo, considera como imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município. Com relação à inclusão, no critério material do ITR, o domínio útil e a posse, importante mencionar que o constituinte originário, quando da edição do art. 153, ao determinar que compete à União instituir imposto sobre a propriedade territorial rural, determinou ser do ente a competência para instituir a RMIT do tributo, inclusive o seu critério material. E mais, dispôs de pronto que a única vedação seria à incidência sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando o proprietário que as explorar não possuir outro imóvel (§4º, II). Em casos similares, inclusive, com relação ao IPTU, o Poder Judiciário entendeu que a extensão do entendimento não é inconstitucional. Ao passo que o art. 156, I determinou ser de competência dos municípios a instituição de imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, o C. STJ pacificou o entendimento de que se consideram contribuintes do IPTU o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. Assim, de forma análoga, poderá a União instituir ITR sobre o domínio útil e posse das propriedades rurais, conforme disposto no CTN. 3. A quem compete definir as zonas urbana e rural? Qual o veículo legislativo adequado para tanto? Os imóveis industriais, comerciais e prestadores de serviços situados fora dos núcleos urbanos municipais estão sujeitos à incidência do IPTU? (vide anexo IV). E os de exploração vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, quando situados dentro dos núcleos urbanos municipais? (vide anexos V, VI e VII). Conforme se verifica do disposto nos art. 153 e 156 da Constituição Federal, compete à União instituir imposto sobre propriedade rural e aos Municípios sobre a propriedade predial e territorial urbana. Nesse sentido, o CTN, recepcionado pela CF, ao dispor que o fato gerador do ITR será a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do Município, determinou que cabe ao ente municipal definir as zonas rurais e urbanas. Assim, serão zonas urbanas as áreas definidas como tal pelos Municípios, via lei ordinária municipal, e que atenderem aos requisitos previstos nos incisos do artigo supramencionado. E, por exclusão, serão zonas rurais aquelas localizadas fora das zonas urbanas. Importante mencionar, contudo, que com a crescente e constante expansão urbana dos municípios e das suas regiões metropolitanas, a adoção única do critério topográfico passa a ser insuficiente à definição das zonas rurais e urbanas. Isso porque, antes, aqueles que estavam à mercê da incidência do ITR passam a integrar áreas urbanas e ficam sujeitos ao IPTU, cuja carga tributária é consideravelmente maior, e vice-versa. Nesse sentido, em se tratando de conflitos de competência tributária, o art. 146, I da CF determina que a questão deve ser resolvida mediante lei complementar. Ao recepcionar o CTN enquanto lei complementar, o legislador ampliou o critério topográfico e dispôs que, mesmo se não localizado geograficamente em zona urbana, os imóveis que observarem os requisitos previstos nos incisos do art. 32 serão considerados urbanos parafins de incidência do IPTU. Nesse sentido, dispôs o legislador tributário que: Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. §1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público: I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; II - abastecimento de água; III - sistema de esgotos sanitários; IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. Dessa forma, os imóveis industriais, comerciais e prestadores de serviços situados fora dos núcleos urbanos municipais, se localizados em regiões que atendam aos quesitos do art. 32, §1º e nos termos do §2º do artigo, quando houver previsão legal, sofrerão incidência do IPTU. Por sua vez, o Decreto Lei 55/66, assim, dispôs que não incidirá IPTU sobre imóveis que, comprovadamente, sejam utilizados em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, incidindo assim, sobre ele, o ITR e demais tributos com ele cobrados, adotando também o critério da destinação do bem. Tal entendimento foi corroborado pelo STJ no julgamento do REsp 1.112.646/SP, de modo que, mesmo que o imóvel seja localizado em zona urbana, se comprovadamente for destinado à atividade de exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial será isento do IPTU. 4. A modificação da planta genérica, que determina a base de cálculo do IPTU, deve ser veiculada por lei, ou pode ser por meio de decreto? Há necessidade de publicação no diário oficial? (vide anexo VIII). A Planta Genérica de Valores (PGV) é o instrumento legal no qual estão estabelecidos os valores unitários de metro quadrado de terreno e de construção do município, que possibilita obter o valor venal dos imóveis. Por conta disso, a PGV, ao interferir diretamente na base de cálculo do imposto, não pode ser alterada por decreto, podendo, somente, ser modificada por lei formal, nos termos dos art. 97 §1º e 150, I da Constituição Federal, e devendo ser respeitadas todas as normas e princípios atinentes à criação da lei. Inclusive, tanto o STF quanto o STJ já se manifestaram e têm jurisprudência pacífica no sentido de que é inconstitucional a majoração da base de cálculo do IPTU sem a edição de lei em sentido formal, sendo possível somente a atualização monetária em percentual de acordo com os índices oficiais por ato do Poder Executivo (Súmula 160/STJ). Assim sendo, excepcionalmente, poderá o Poder Executivo editar decreto para atualização monetária do IPTU, desde que não exceda os índices oficiais e observe o princípio de simetria das formas. 5. Considerando o consequente tributário, especialmente o critério quantitativo no que tange às alíquotas do IPTU, discorra sobre a possibilidade ou não de se aplicar alíquotas diferenciadas para imóveis sem uso, imóveis fechados, com condição de habitabilidade ou pela localização dos mesmos. Desenvolva sua justificativa e explique se esta providência interfere na estrutura da norma tributária em sentido estrito ou se apenas surge em momento pré-legislativo, na construção da norma. O legislador constitucional, ao editar a EC 29/00, e acrescentar o §1º, I e II ao art. 156 da constituição, previu expressamente a possibilidade de progressividade das alíquotas do IPTU e a aplicação de alíquotas diferenciadas a depender da localização e destinação do imóvel. Essa possibilidade tem o condão de incentivar o contribuinte a efetivamente cumprir com a função social da propriedade, dando-lhe a devida destinação e utilização. Importante mencionar, contudo, que a EC 29/00 é alvo de divergência. O STF se manifestou pela constitucionalidade da progressividade do IPTU, enquanto alguns doutrinadores consideram que ela não deveria ser aplicada a impostos de caráter real, apenas pessoal, sob pena de se estar violando o princípio da isonomia e capacidade contributiva. Para entender melhor as implicações dos dispositivos, é prudente se fazer uma breve análise da RMIT. O professor Paulo de Barros Carvalho (2019) nos explica que o tipo tributário é definido por dois fatores: hipótese de incidência e base de cálculo. Tal binômio nos permite diferenciar e operar cada espécie tributária. A hipótese (antecedente da norma) trata exclusivamente do fato jurídico tributário, cujos componentes são: ação, local e tempo (critérios material, espacial e temporal, respectivamente). Tendo ocorrido o fato jurídico tributário, há o consequente normativo, daí o porquê do seu nome. No consequente temos os critérios pessoal e quantitativo, que contém as alíquotas e a base de cálculo. Dessa forma, ao passo que as alíquotas compõem o mínimo irredutível do deôntico, a possibilidade de alíquotas distintas para imóveis localizados e com destinação distintas, interfere diretamente na estrutura da norma tributária. 6. Quanto ao ITR pergunta-se: a) O art. 11 da Lei n. 9.393/96 fixou as alíquotas do ITR em percentuais que variam de 0,03% a 20%, conforme a área total do imóvel e o grau de utilização. No seu entender, referida progressividade atende ao disposto no art. 153, § 4º, da Constituição Federal? A alíquota de 20%, neste caso é confiscatória? Em caso negativo quando ter-se-ia caracterizado o efeito confiscatório? Justificar. O legislador constituinte determinou que: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) VI - propriedade territorial rural; (...) §4º O imposto previsto no inciso VI do caput: I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel; III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. Nesse sentido, os percentuais previstos pelo art. 11 da Lei n. 9.393/96 estão de acordo com o definido pela lei maior, uma vez que buscam o efetivo cumprimento da função social da propriedade rural, tal como pretendeu o legislador. A respeito da alíquota de 20% ser confiscatória ou não, a análise deve levar em conta a recorrência da cobrança. Ao passo que o ITR é um imposto continuado, a recorrência das alíquotas de 20% representa desembolso elevado e comprometedor da receita do contribuinte, ainda que visando o estímulo do cumprimento da função social da propriedade, de modo que deve considerado confiscatório. A função social da propriedade não pode ter o condão de aniquilar a capacidade contributiva dos proprietários, de modo que deveria ser ponderada e levada em conta no cálculo da alíquota. b) A que tipo de lançamento está sujeito o ITR? A exclusão da base de cálculo do ITR da área de reserva legal depende de sua averbação na matrícula? Pressupõe o protocolo de Ato Declaratório Ambiental (ADA) do IBAMA, ou do Cadastro Ambiental Rural (CAR - Lei nº 12.651/12)? (vide anexos IX, X e XI). O ITR está sujeito ao lançamento por homologação. O art. 10 da Lei 9.393/96 determina que "a apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior". O STJ, no julgamento do AgReg no REsp 1.315.220/MG, defendeuque as áreas de preservação ambiental permanente (PAP) e de reserva legal dispensam a apresentação de ato declaratório do IBAMA ou da averbação desta condição na matrícula do imóvel para isenção do ITR, ao passo que representam mera formalidade. A despeito da necessidade de protocolo do ADA ou do CAR, tal previsão não consta da Lei 9.393/96, mas da IN SRF 67/97. Contudo, não compete à Instrução Normativa impor tal obrigatoriedade, devendo esta estar prevista em lei em sentido estrito. Nesse sentido é o entendimento do STF, externado no julgamento do REsp n. 665.123/PR. Segundo consta do voto da Min. Relatora: "não vislumbro no art. 10 da Lei 9.393/96 ou mesmo na Lei n. 4.771/65 fundamento de validade para a retromencionada IN/SRF 67/97, porque quando os mencionados diplomas falam em declaração por parte do poder público de áreas de preservação permanente ou de interesse ecológico estão se referindo à existência de especial afetação, decorrente de ato administrativo editado pelo órgão competente para tanto, que irá declarar que determinada área não se presta para o desenvolvimento ou exploração de atividade econômica". c) Caso o contribuinte não declare o imposto, de que forma deve o Fisco fazer o lançamento? A partir de quais elementos? Nessa hipótese estará autorizado, ipso facto, o lançamento com a exclusão total das áreas ambientais e, em consequência, pelas alíquotas mais gravosas? Dispõe o art. 14 da Lei 9.393/96 que, na ausência da entrega do DIAC ou do DIAT, o fisco deverá proceder ao lançamento de ofício do imposto, de acordo com o instituído pela Portaria n. 447/2002 da RFB, levando em conta o preço da terra (nos termos do art. 12, §1º, II da Lei nº 8.629/93) e os dados totais da área (tributável e grau de utilização), apurados pela fiscalização. Nas hipóteses de lançamento de ofício, não há autorização para o fisco proceder à exclusão das áreas ambientais, tampouco para aplicação direta das alíquotas mais gravosas. Assim, se realizado, estar-se-ia diante de afronta à legalidade. d) No desenvolvimento das suas atividades fiscalizatórias pode o Fisco exigir do contribuinte, depois de declarado e pago o tributo por ele, a apresentação de laudos de avaliação para comprovar os valores das terras? E a apresentação de laudos de profissionais da área ambiental para comprovação da reserva legal, de cada área de preservação permanente e das áreas impróprias à atividade produtiva, seguindo as normas previstas na ABNT, como vem acontecendo hoje em dia com diversos produtores? As normas da ABNT podem ser utilizadas para fins tributários? Afinal, o ITR é mesmo um lançamento “por homologação”? Quais os limites dos esclarecimentos a serem prestados nesses casos? O Decreto n. 4.382/02 dispôs que a DITR está sujeita à revisão e isso permite ao fisco exigir do contribuinte os comprovantes necessários à verificação da autenticidade das informações prestadas, bem como dos valores das terras. O processo de fiscalização, assim, poderá acontecer antes ou após a declaração e pagamento do tributo. Com relação a apresentação de laudos técnicos, estes somente poderiam ser cobrados para comprovar os critérios dispostos no art. 12 da Lei 8.629/93 (localização do imóvel, aptidão agrícola e dimensão do imóvel). Ao passo que o laudo deve ser elaborado por profissional habilitado junto ao CREA, de acordo com as normas ABNT e NBR n. 14.653-3, e pretende a avaliação dos imóveis rurais e comprovação dos valores envolvidos, estes poderão ser utilizados pelo fisco para fins tributários. Especialmente por se tratar de laudo realizado por órgão técnico imparcial, que avalia o valor real da terra nua e pode determinar critérios para uma tributação correta, efetiva e econômica, especialmente para determinação do valor da terra nua. Diante disso, pode-se considerar que o ITR é um tributo por homologação, contudo, em caso de fiscalização que resulte na identificação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, omissão ou subavaliação do imóvel, poderá proceder o fisco ao lançamento de ofício, com o arbitramento da base de cálculo correta do imposto, nos termos do art. 14 da Lei 9.393/96. Com relação aos limites dos esclarecimentos, deve haver equilíbrio entre as solicitações de informações para fins de fiscalização e exercício do poder de tributar pela administração pública e a imposição de obstáculos e burocracias que impactem nos direitos e garantias individuais dos contribuintes. e) Hoje em dia vem ganhando força a adoção de formas alternativas de geração de energia. Diante desse quadro, indaga-se: como apurar o ITR no caso de instalação de parques eólicos ou de parques solares em imóveis rurais? Essas áreas serão consideradas improdutivas para fins de ITR? Caso não sejam consideradas improdutivas, como enquadrá-las no art. 10 da Lei nº 9.393/96? A apuração do ITR no caso de instalação de parques eólicos ou solares deverá observar a destinação dada à energia gerada. Se utilizada para manutenção das atividades da propriedade rural, deverá ser enquadrada no art. 10, I, a da Lei 9.393/96. Caso esteja relacionada ao arrendamento da terra para exploração de terceiros ou obtenção de receitas originárias da exploração do comércio de energia, não há que se falar em cumprimento da função social da propriedade, e devem as áreas ser consideradas improdutivas para fins de ITR, estando sujeitos à progressividade da alíquota. 7. Com relação ao IPVA pergunta-se: a) Que é “veículo automotor”? Embarcações e aeronaves enquadram-se no conceito de “veículo automotor”, sujeitando-se à incidência do IPVA? O Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro (Lei no 9.503/97) conceitua Veículo Automotor como sendo "todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”. Por sua vez, o art. 106, do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei no 7.565/86) diz que são aeronaves “todos os aparelhos manobráveis em voo, que possam sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, aptos a transportar pessoas ou coisas”. E são embarcações, para o Tribunal Marítimo (Lei no 2.180/54) “todas as construções utilizadas como meio de transporte por água, e destinadas à indústria da navegação, quaisquer que sejam as suas características e lugar de tráfego”. Tendo isso em vista, o plenário do STF entendeu que as aeronaves e embarcações não se enquadram no conceito de veículos automotores, uma vez que este conceito não é suficiente para abrangê-los e, portanto, eles não sofrem incidência do IPVA. b) A Constituição Federal definiu o critério espacial da regra matriz de incidência tributária do IPVA? Caso a pessoa (física ou jurídica) tenha domicílios em diferentes Estados, nos termos dos arts. 71 e §1º do art. 75, do Código Civil Brasileiro, qual será o Estado competente para cobrança do IPVA? E se o veículo for registrado em um Estado, mas utilizado em outros? (vide anexos XII e XIII) O legislador constituinte não definiu o critério espacial do IPVA. Contudo, para o Professor Paulo de Barros Carvalho tal fato não é prejudicial à instituição do tributo, isso porque "ainda que aparentemente pensemos ter o político se esquecido de mencioná-lo, haverá sempre um plexo de indicações, mesmo tácitas e latentes, para assinalar o lugar preciso em que aconteceu aquela ação, tomada como núcleo do suposto normativo" (2019). Nesse sentido, surgiram diversos casos de motoristas residentes de um estado sendo cobrados pelo IPVA de veículo de sua propriedade que se encontrava licenciado em estado diverso, e a controvérsia de qual seria o Estado competentepara a cobrança do imposto. A questão é mais complexa se considerarmos que não fora editada lei complementar regulando a matéria. Analisando os dispositivos constitucionais que tratam do IPVA, podemos observar dois pontos principais: (i) o art. 158/CF, que trata do produto da arrecadação do IPVA, dispôs que parte do valor arrecadado ficará no local de licenciamento dos veículos, não no domicílio e nem na sede do proprietário; e (ii) o §6º do art. 155/CF diz que cabe ao Senado Federal estabelecer alíquotas mínimas de IPVA, de cumprimento obrigatório às unidades federativas, para evitar a guerra fiscal. Isso quer dizer que, ao passo que o produto da arrecadação será destinado ao Estado onde o veículo estiver licenciado, muitos doutrinadores entendem que não há razão à incidência do imposto no local de domicílio/sede do contribuinte. Se pretendesse que o tributo incidisse no local do domicílio ou sede do proprietário, o legislador teria elencado o local de residência como destinatário final da arrecadação, contudo, não foi isso que fez (GRILI; ISAAC, 2016). Válido mencionar que o STF reconheceu a repercussão geral sobre o tema e irá apreciar definitivamente a questão no julgamento da ARE 784.682/PR. Nos autos do processo, a Procuradoria Geral da República se manifestou no sentido externado acima, pela incidência do imposto no local onde o veículo for licenciado, independentemente do domicílio do contribuinte. c) É possível a exigência do imposto em relação ao domínio útil ou posse do veículo? Identificar, justificando sua resposta, quem pode integrar a relação jurídica tributária do IPVA, na qualidade de sujeito passivo, caso o veículo seja objeto das operações de: i) locação; ii) arrendamento mercantil (leasing); iii) alienação fiduciária (XIV, XV e XVI). Analisando a RMIT do IPVA temos que o sujeito passivo (contribuinte) do imposto será o proprietário de veículo automotor. Assim, a princípio, não há que se falar na incidência do imposto sobre meros possuidores ou detentores do seu domínio. Contudo, em não havendo norma geral (lei complementar) que estabeleça os critérios específicos da incidência do IPVA, cabe à cada estado-membro exercer sua competência legislativa para definição dos critérios de incidência do tributo. Assim, poderá o estado definir se incidirá o imposto sobre a posse e/ou domínio útil do veículo. Se não o fizer, contudo, o possuidor ou detentor do domínio útil poderão ser definidos como responsáveis solidários pelo pagamento do imposto. Além deles, poderão ser considerados responsáveis solidários o adquirente de veículo cujo proprietário anterior não tenha realizado o pagamento do tributo; o proprietário de veículo o que o alienar e não comunicar a transferência da propriedade ao órgão encarregado do registro e licenciamento da sua matrícula; ou quaisquer outros responsáveis. Nos termos dos entendimentos já externados pelo STJ, a responsabilidade subsidiária está relacionada com a posse direta do veículo. Dessa forma, nas três hipóteses, haverá possibilidade de responsabilização subsidiária ao pagamento do IPVA. d) Qual o critério temporal do imposto no caso de (i) veículo novo; e (ii) veículo usado? Pode um Estado cobrar o imposto já pago em outra unidade federada no caso de transferência do veículo usado durante o exercício? Sendo o veículo objeto de roubo, furto ou perda total durante o exercício, pode o contribuinte pedir a restituição proporcional do valor já pago a título de IPVA? A RMIT determina que o critério temporal do IPVA é a data da aquisição do veículo, para veículos novos e o dia 1º de janeiro de cada ano, para veículos usados. Por se tratar de um tributo anual, um Estado não poderá cobrar de um contribuinte o imposto já pago a outro Estado no mesmo exercício - trata-se de hipótese de bitributação, não admitida pelo nosso ordenamento. Com relação à ocorrência de furto, roubo ou perda total do veículo, o entendimento majoritário é de que há possibilidade de restituição dos valores pagos, proporcionalmente aos valores já pagos (se quitado, sob o valor total; se parcelado, descontado dos valores ainda devidos). Na maioria dos Estados, verifica-se a possibilidade de ressarcimento a partir do exercício seguinte ao fato. Vale dizer, a restituição poderá ser total ou parcial - será parcial nos casos de recuperação do veículo (com a restituição proporcional aos meses em que ficou desprovido do bem). E mais, a restituição somente poderá acontecer para o contribuinte que constar como proprietário do automóvel no Cadastro de Contribuintes do IPVA. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 5.172: Código Tributário Nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm>. Distrito Federal. 1966. BRASIL. Lei n. 10.406: Código Civil. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Distrito Federal. 2002. BRASIL. Lei n. 13.105: Código de Processo Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Distrito Federal. 2015. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 30ª ed. São Paulo: Saraiva. 2019. CAVALCANTI, João Victor Oliveira. Da não incidência do IPVA sobre aeronaves e embarcações. Migalhas. 2021. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/348462/da-nao-incidencia-do-ipva-sobre- aeronaves-e-embarcacoes>. Acesso em 28.06.23. ELIAS, Felipp Nunes. A possibilidade de incidência do ITR em imóveis localizados na área urbana. Jus. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17557/a-possibilidade-de-incidencia-do-itr-em-imoveis- localizados-na-area-urbana>. Acesso em 26.06.23. FERRAGUT, Maria Rita. Imposto sobre a propriedade predial e territorial rural. Enciclopédia jurídica da PUC, Tomo de Direito Tributário, 1ª ed. 2019. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/292/edicao-1/imposto-sobre-a- propriedade-predial-e-territorial- rural#:~:text=J%C3%A1%20dom%C3%ADnio%20%C3%BAtil%20%C3%A9%20a,do s%20poderes%20inerentes%20%C3%A0%20propriedade%E2%80%9D.>. Acesso em 23.06.23. GRILI, Evandro A. S. e ISAAC, David Borges. IPVA - Onde incide? No Estado onde o veículo estiver licenciado ou no domicílio do proprietário? Migalhas. 2016. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/245151/ipva---onde-incide--no- estado-onde-o-veiculo-estiver-licenciado-ou-no-domicilio-do-proprietario>. Acesso em 29.06.23.