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SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM CARDIOLOGIA E HEMODINÂMICA UNIDADE I ENFERMAGEM PADRÃO Elaboração Victor Hugo de Paula Flauzino Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................4 UNIDADE I ENFERMAGEM PADRÃO .............................................................................................................7 CAPÍTULO 1 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A SAE .................................................................................. 7 CAPÍTULO 2 A IMPORTÂNCIA DA SAE ................................................................................................... 13 CAPÍTULO 3 LEIS E APLICABILIDADE DA SAE ......................................................................................... 21 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................24 4 INTRODUÇÃO Seja bem-vindo à disciplina de Sistematização da assistência de enfermagem em cardiologia e hemodinâmica. Nesta disciplina, abordaremos algumas patologias comuns na área da cardiologia e os planos de cuidados para cada uma delas, possibilitando dessa forma, uma melhor e maior compreensão de cada cuidado e diversas maneiras de adaptá-los às necessidades dos pacientes. Desenvolveremos conhecimentos que possibilitem a compreensão dos principais diagnósticos de enfermagem e os correlacionaremos com a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem em Cardiologia, focando nos cuidados que o Enfermeiro deverá prestar ao paciente, em diversas situações. O enfermeiro tem papel essencial na prestação de cuidados a pacientes portadores de afecções cardiovasculares, principalmente por desenvolver atividades de cuidados críticos. Assim, esse profissional precisa estar capacitado para os cuidados assistenciais e suas complicações. Esse tipo de paciente, na maioria das vezes, permanece em repouso, intubado, sedado, traqueostomizado, sob ventilação mecânica invasiva, em monitorização das funções cardíacas por 24 horas, com controle rigoroso de drenos e cateteres, para a estabilização do quadro clínico ou mesmo sua melhora. A permanência prolongada em UTI é mais frequente em pacientes idosos, com comprometimentos neurológicos e sequelas motoras. Sabe-se que, no Brasil, as taxas de mortalidade e incapacidade prematura são significativamente altas, e as doenças cardiovasculares aparecem em 28,06% do total de óbitos precoces (população economicamente ativa). Esse panorama enfatiza a importância do tratamento adequado de pacientes portadores de afecções cardiovasculares, em destaque para as mais acometidas: hipertensão, infarto agudo do miocárdio, angina, doenças nas válvulas cardíacas, doenças cardíacas congênitas, endocardite, miocardite e arritmias cardíacas. Dessa forma, para atender adequadamente a esse paciente, a assistência de enfermagem deve ser pautada na organização e no planejamento de cuidados, de forma individualizada, promovendo sua recuperação e desospitalização. Portanto, considerando a relevância da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) na nossa prática, observamos a necessidade de capacitar e qualificar profissionais, de modo a oferecer um cuidado integral, humanizado e de qualidade aos clientes. Este caderno, portanto, tem o objetivo de proporcionar o compromisso de orientar os profissionais da área de enfermagem, para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia. Aqui não abordaremos as doenças em si, mas sim o plano de 5 INTRODUÇÃO cuidados necessário para um atendimento integral em Enfermagem. Alguns diagnósticos se repetem entre as diversas doenças cardiológicas, no entanto, a maneira como utilizamos cada um deles nas diversas patologias se diferencia e veremos isso ao longo de nossos estudos. Iniciaremos os estudos relembrando alguns conceitos importantes sobre a SAE e o Processo de Enfermagem. A partir do estudo aprofundado desses planos, temos a certeza de que o aluno será capaz de utilizar essa ferramenta para outras doenças e complicações. Objetivos » Apresentar a enfermagem padrão. » Refletir sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). » Demonstrar a importância da SAE. » Discutir as leis e a aplicabilidade da SAE. » Apresentar o método científico da SAE. » Revisar as teorias da Enfermagem. » Interpretar o processo de Enfermagem. » Mostrar os registros de enfermagem. » Descrever o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem. » Apresentar o cálculo de dimensionamento de enfermagem. » Esquematizar a aplicação da ética na tomada de decisão gerencial. » Identificar os instrumentos da SAE. » Apontar o que são os protocolos e manuais assistenciais. » Debater o processo de gestão da qualidade da enfermagem. » Citar sobre a gestão de risco. 6 7 UNIDADE IENFERMAGEM PADRÃO CAPÍTULO 1 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A SAE Desde a graduação em enfermagem, provavelmente, não há matéria mais discutida ou odiada do que a SAE. Em todo tipo de disciplina, seja UTI, saúde metal, saúde da família, obstetrícia, ela está lá, fazendo com que os estudantes de enfermagem fiquem acordados por noites preparando planos de cuidados específicos dos pacientes dos mais diversos estudos de caso (BARROS et al., 2022). No entanto, apesar de complexa no início, por meio da SAE, o enfermeiro pode fornecer um plano de cuidado que orientará os precauções individualizadas do cliente. Uma prescrição de cuidados sempre será desenvolvida a partir de uma lista única de diagnósticos, de cada paciente, e deverá ser organizada pelas necessidades específicas do indivíduo (BOTELHO; PRUCOLI, 2022). Além disso, com a SAE devidamente implantada, será permitida a adequada continuidade dos cuidados, pois todos os instrumentos da SAE são um meio de comunicação e organização das ações de uma equipe de enfermagem em constante mudança. À medida que as necessidades do paciente são atendidas, o plano de cuidados é atualizado e transmitido à equipe de enfermagem, principalmente na troca de turnos/plantões (SANTOS et al., 2021). A SAE sempre é documentada e, se algum cuidado de enfermagem não for registrado precisamente, não há provas de que o cuidado foi prestado. Os convênios muitas vezes deixam de pagar aquilo que não está documentado. Já imaginou o impacto financeiro que a equipe de enfermagem pode ter em um hospital sem uma SAE devidamente implantada? A SAE tem por objetivo organizar e coordenar o processo de cuidar, o seu conceito é definido como um método dinâmico e sistematizado com ações que são necessárias 8 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO para desenvolver, desempenhar e validar o trabalho de toda a equipe de enfermagem, por meio das ações complementares, intervenções específicas (cuidar dual) e interdependentes de forma multiprofissional, que são desenvolvidas em contextos peculiares (MOURA et al., 2021). O propósito de se trabalhar com estudos de caso e criar planos de cuidados a partir deles é ajudar o estudante a extrair informações de diferentes disciplinas e aprender a correlacioná-las, pensando de maneira crítica e utilizando o processo de Enfermagem para resolver problemas. À medida que um estudante de enfermagem ou enfermeiro escreve mais planos, as habilidades para pensar e processar informações se tornam mais efetivamente enraizadas em sua prática (SANTOS et al., 2021). A SAE pode ser considerado um método de trabalho composto por etapas que auxiliam a enfermeira(o) na coordenação e na organização das atividades de enfermagem. Essa atividade é privativa do enfermeiro, que emprega o conhecimento científico para identificar situações de doença ou saúde e elaborar as principais ações de assistênciais de enfermagem que auxiliam na recuperação, reabilitação, promoção e prevenção da saúde dafamília, indivíduo e comunidade (NANDA, 2018). Os passos propostos podem mudar conforme o referencial teórico utilizado, por exemplo, o modelo proposto por Wanda Horta utiliza a SAE com as seguintes etapas: histórico, diagnóstico, plano de cuidados ou prescrição de enfermagem, evolução e prognóstico de enfermagem (MOURA et al., 2021). A documentação que é desenvolvida por essa metodologia auxilia os membros da equipe de saúde tomar ações, ciência das decisões e dos resultados obtidos com a prática da enfermagem. Essa documentação utiliza os registros ou as anotações de enfermagem e serve como meio de comunicação para a equipe multiprofissional e também serve de informação para pesquisa, avaliação, fonte de dados para auditoria e instrumento ético/legal (SANTOS et al., 2021). Toda a assistência registrada pelo enfermeiro é de grande valia, pois é a partir dai que veremos se a SAE esta sendo bem empregada dentro dos cuidados ao paciente crítico e, ainda, podemos ter a avaliação do estado geral do paciente frente ao prontuário. Os registros devem conter o máximo de anotação possível do paciente, pois isso facilita a comunicação entre a equipe multiprofissional, visando sempre à recuperação e o bem- estar do paciente (BOTELHO; PRUCOLI, 2022). 9 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I Figura 1. Reflexão sobre SAE. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hands-general-practitioner-filling-paper- medical-2036344208. Apesar de não existir um formato exato para a SAE, que poderá variar nos locais onde exista a atuação da equipe de enfermagem, o Conselho Regional de Enfermagem, por meio da Resolução n. 358/2009, organiza o Processo de Enfermagem em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes (BARROS et al., 2022): » coleta de dados de enfermagem (ou histórico de enfermagem); » diagnóstico de enfermagem; » planejamento de enfermagem; » implementação; » avaliação de enfermagem. Conforme definido pela Organização de Diagnóstico de Enfermagem da América do Norte – Internacional (NANDA-I), os diagnósticos de enfermagem são julgamentos clínicos sobre experiências individuais ou potenciais de indivíduos, familiares ou comunidades, ou respostas a problemas de saúde ou processos de vida. O diagnóstico de enfermagem é usado para definir o plano de cuidados certo para o cliente e impulsionar as intervenções e os resultados dos pacientes. Observe no quadro a seguir os tipos de diagnóstico: 10 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO Quadro 1. Tipos de diagnóstico de enfermagem e seus respectivos elementos. Tipos de diagnóstico Real De risco Promoção da saúde Síndrome Título Estilo de vida sedentário. Risco de perfusão tissular periférica ineficaz. Disposição para resiliência melhorada. Síndrome da interpretação ambiental prejudicada. Definição Refere-se a um hábito de vida que se caracteriza por um baixo nível de atividade física. Risco de uma redução na circulação sanguínea periférica, que pode comprometer a saúde. Padrão de respostas positivas a uma situação ou crise adversa que é suficiente para otimizar o potencial humano e pode ser reforçado. Consistente falta de orientação quanto a pessoa, lugar, tempo ou circunstâncias por mais de 3 a 6 meses, necessitando de ambiente protetor. Características definidoras Escolhe uma rotina diária sem exercícios físicos; demonstra falta de condicionamento físico etc. Não tem. Acesso a recursos; assume responsabilidades pelos atos etc. Desorientação consistente; estados crônicos de confusão etc. Fatores relacionados Conhecimento deficiente sobre os benefícios que a atividade física traz a saúde; falta de interesse etc. Não tem. Não tem. Demência, depressão etc. Fatores de risco Não tem. Conhecimento deficiente de fatores agravantes; conhecimento deficiente do processo da doença, etc. Não tem. Não tem. Fonte: Nanda, 2018. Os diagnósticos de enfermagem também fornecem uma nomenclatura padrão, permitindo uma comunicação clara entre os membros da equipe de cuidados e a coleta de dados para a melhoria contínua no atendimento ao paciente (NANDA, 2018). Os diagnósticos de enfermagem diferem dos diagnósticos médicos. Um diagnóstico médico, que se refere a um processo de doença, é feito por um médico e será uma condição que apenas um médico pode tratar. Em contraste, um diagnóstico de enfermagem descreve a resposta física, sociocultural, psicológica e espiritual de um cliente a uma doença ou potencial problema de saúde. Enquanto a doença estiver presente, o diagnóstico médico nunca muda, mas o diagnóstico de enfermagem evolui à medida que as respostas do cliente mudam (BOTELHO; PRUCOLI, 2022). 11 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I O objetivo estabelecido em um plano de cuidados de enfermagem – em termos de respostas observáveis dos clientes – é o que o enfermeiro espera alcançar ao implementar as ações de enfermagem. É um resultado ou mudança desejada na condição do cliente (SANTOS et al., 2021). Os termos objetivo e resultado são frequentemente usados de forma intercambiável, mas, em algumas literaturas de enfermagem, um objetivo é considerado uma descrição mais geral do que se espera, enquanto o resultado é mais específico. Por exemplo, um objetivo pode ser que o estado nutricional de um paciente melhore no geral, enquanto o resultado seria que o paciente ganhe 7 quilos até uma determinada data. A prescrição de enfermagem é o instrumento que conterá instruções para as atividades específicas que deverão ser realizadas, a fim de ajudar o paciente a atingir os resultados esperados. Quanto mais detalhada for a prescrição (ordem), maiores serão as chances de o paciente se recuperar mais rapidamente, além de prevenir erros pela equipe de enfermagem (SANTOS et al., 2021). Finalmente, na avaliação, os profissionais de saúde determinarão o progresso em direção à recuperação da saúde do cliente e à efetividade do plano de cuidados de enfermagem. A avaliação é extremamente importante porque determina se as intervenções de enfermagem devem ser encerradas, continuadas ou alteradas. O quadro a seguir mostra um exemplo de ligações NANDA, NIC e NOC, utilizadas no plano de cuidados: Quadro 2. Tipos de diagnóstico de enfermagem e seus respectivos elementos. Domínio Diagnóstico Resultado Intervenção Domínio 2 – nutrição Risco de glicemia instável. Nível de glicemia. Controle de glicemia. Risco de desequilíbrio do volume de líquidos. Gravidade da perda sanguínea. Controle da nutrição. Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais. Estado nutricional: ingestão de alimentos e líquidos. Controle da nutrição. Volume de líquidos excessivo. Gravidade do excesso de líquidos. Monitoração dos sinais vitais. Domínio 3 – eliminação e troca Incontinência urinária de esforço. Continência urinária. Controle de eliminação urinária. Incontinência urinária de urgência. Continência urinária. Controle de eliminação urinaria. Risco de constipação. Eliminação intestinal. Controle de eliminação intestinal. Eliminação urinária prejudicada. Continência urinária. Eliminação urinária. Controle de eliminação urinária Indução ao esvaziamento vesical. 12 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO Domínio Diagnóstico Resultado Intervenção Domínio 4 – atividade/ repouso Risco de sangramento. Gravidade da perda sanguínea. Controle da hipovolemia. Perfusão tissular ineficaz. Sinais vitais. Monitorar sinais vitais. Domínio 5 – percepção/ cognição Percepção sensorial perturbada Comportamento compensação de audição Comportamento compensação de audição. Domínio 9 – Enfrentamento/ tolerância ao estresse Medo. Nível do medo. Aumento da segurança. Ansiedade. Autocontrole da ansiedade e enfrentamento Redução da ansiedade Tristeza crônica. Autocontrole da depressão. Controle de humor. Domínio 11 – Segurança/ Proteção Risco de queda. Equilíbrio. Ocorrência de queda. Mobilidade. Controle de risco. Supervisãoe segurança prevenção de quedas. Termorregulação ineficaz. Termorregulação. Monitorar sinais vitais. Integridade da pele prejudicada. Integridade tissular pele e mucosa. Cuidados com lesão e supervisão da pele. Dominio12 – Conforto Dor aguda. Nível da dor. Controle da dor. Dor crônica. Nível da dor Controle da dor. Náusea. Estado nutricional: ingestão de alimentos e líquidos. Controle da nutrição. Domínio Comportamento de busca de saúde. Conhecimento: promoção da saúde. Educação para a saúde. Fonte: NANDA, 2018. 13 CAPÍTULO 2 A IMPORTÂNCIA DA SAE Prezados alunos, quando falamos sobre a Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE), uma das primeiras lembranças que temos trata-se da incansável procura por Diagnósticos de Enfermagem na Nursing Diagnoses: Definitions & Classifications, a tão conhecida NANDA. Desde a graduação, somos ensinados a procurar o diagnóstico de enfermagem e reproduzi-lo para o papel, desconsiderando muitas vezes suas características definidoras ou fatores relacionados. Nessas situações, acabamos por não refletir sobre a real importância do Diagnóstico de Enfermagem e nem mesmo o motivo de sua definição, tornando a SAE, um processo repetitivo e sem sentido para parte dos enfermeiros (BOTELHO; PRUCOLI, 2022). Alguns relatos como: “hoje temos uma grande quantidade de SAE para fazermos”, “vamos nos dividir para terminarmos rápido”, são comuns de serem ouvidos nas instituições hospitalares, atribuindo um valor burocrático a SAE, que passa a ser realizada, visando evitar punições e não como ferramenta de apoio assistencial. A burocratização da SAE advém, muitas vezes, do desconhecimento em relação aos seus objetivos e a dificuldade encontrada pelos Enfermeiros em sua realização. Para você, gerente de Enfermagem, qual a importância da SAE? Por que, entre as tantas atribuições que o Enfermeiro possui, a SAE é tida como uma prioridade? Qual o sentido de sua realização? A SAE possibilita mudanças no cuidado ou tende a torná-lo engessado, servindo apenas para cumprir determinações institucionais? Por que você realiza a SAE ou solicita que sua equipe a realize? Reflita a respeito dessas questões e descreva, para você mesmo, o sentido da SAE em sua vivência como Enfermeiro. Ao longo desta unidade, retomaremos tais questões apresentando informações adicionais. 2.1. O raciocínio e a competência clínica do enfermeiro para a Sistematização da Assistência de Enfermagem Nos dias atuais, os constantes avanços tecnológicos e a busca pela qualidade dos serviços de saúde obriga o mercado de trabalho e as instituições a investirem em profissionais com níveis educacionais cada vez mais elevados, contribuindo para uma assistência generalista e integral (MOURA et al., 2021). Mediante tal situação, o processo de trabalho em enfermagem passa, então, a ser construído baseando-se em quatro pilares, que são: ensino, pesquisa, gestão e assistência, que se referem às atividades e competências as quais o Enfermeiro, em 14 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO meio a suas atribuições e como profissional de saúde, deverá desenvolver no âmbito do seu trabalho diário (SANTOS et al., 2021). O pilar ensino trata dos aprimoramentos aos quais o Enfermeiro necessita investir, pensando em sua atuação e valorização profissional, assegurando a qualidade no desenvolvimento de suas ações. Além disso, como líder de equipe, o Enfermeiro deve garantir a constante atualização de seu grupo de trabalho, incentivando a participação em programas de capacitação, e fornecendo ferramentas que subsidiem sua realização. A pesquisa, ligada ao ensino, refere-se a novas descobertas que podem ser realizadas pelo Enfermeiro, bem como a possibilidade de modificar a prática diária com inovações que permeiam o cuidado a ser desenvolvido primando-se pela qualidade assistencial (BOTELHO; PRUCOLI, 2022). A pesquisa implica em inovar e atualizar-se enquanto profissional, favorecendo e solidificando sua atuação como Enfermeiro. A Gestão, inerente ao Enfermeiro em sua formação, responde pela coordenação de sua equipe, e cuidado, que deverá ser realizado por meio de uma assistência segura, pautada na qualidade e livre de erros. Já o pilar assistencial é voltado para um cuidado realizado com atitudes padronizadas, guiado por bases científicas que solidificam o meio assistencial, respaldando o papel da equipe de enfermagem no que concerne a qualidade de suas ações (BARROS et al., 2022). Em outras palavras, os pilares que sustentam a atuação do Enfermeiro inter-relacionam- se em suas funções, visto que o ensino é a base para a assistência de qualidade, sustentada e coordenada pelo responsável pelos cuidados desenvolvidos em sua unidade de atuação. Figura 2. A competência clínica do enfermeiro. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/medical-laws-legal-medicine-malpractice- law-1821102746. 15 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I Nessa perspectiva cabe ao enfermeiro elaborar e desenvolver ações sistematizadas que enxerguem o paciente em sua integralidade, e como indivíduo único dotado de especificidades próprias, que deverão ser reconhecidas e trabalhadas pela Equipe de Enfermagem, desenvolvendo uma assistência com técnicas e ideias inovadoras que complementem a equipe multiprofissional, pensando-se na valorização e empoderamento profissional (BOTELHO, PRUCOLI, 2022). O Gerente de enfermagem, em meio a seu processo de trabalho, deverá ser capaz de agir com rapidez e perspicácia, primando-se pela ética e responsabilizando-se diretamente pela assistência desenvolvida, reconhecendo problemas e apresentando possibilidades inovadoras para ações assistenciais. O quadro abaixo resume, o que é esperado do enfermeiro no desenvolvimento de suas atribuições (SANTOS et al 2021). Quadro 3. Atividades esperada do Enfermeiro em conformidade com suas atribuições. Atividades Responder pelo cuidado do grupo de pessoas. Deter o domínio intelectual da dinâmica assistencial da unidade. Utilizar uma ferramenta científica de trabalho. Atender à demanda dos serviços de saúde. Ser um profissional instrumentalizado para interagir em equipe. Reconhecer o contexto de prática. Promover o controle da evolução de patologias de natureza transmissível e crônico-degenerativa. Encaminhar a outros profissionais (caso necessário). Identificar e intervir em situações clínicas específicas. Avaliar clinicamente o estado de saúde do indivíduo. Utilizar-se do teor educativo (indivíduo/família) para o autocuidado. Assistir a pessoa de forma individualizada, atendendo suas necessidades sistematicamente. Fonte: Elaborada pelos próprios autores, 2022. Mediante as discussões realizadas, podemos afirmar que o Enfermeiro, visando seu desenvolvimento pessoal e como líder de equipe, deverá ser dotado de competência clínica, a fim de reconhecer situações que indiquem instabilidade por parte dos pacientes, traçando e implementando ações que favoreçam a melhora do seu quadro. Para tanto, o Enfermeiro, em meio às suas responsabilidades, deve ter conhecimento para avaliar seus pacientes, identificando sinais e sintomas e correlacionando-os com dados encontrados no exame físico, laboratoriais e de imagem, pensando em prever situações de piora, e assim implementar cuidados que evitem o agravamento do seu estado (BARROS et al 2022). A partir do momento que o Enfermeiro consegue relacionar fisiopatologia, quadro clínico, exames laboratoriais e de imagem, este se torna competente na identificação de potenciais alterações, traçando intervenções em conjunto com sua equipe, e assim desenvolvendo sua competência e raciocínio clínico. 16 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO Em outras palavras, a competência clínica advém da junção entre teoria e prática, em conjunto com a habilidade de tomar decisões e intervir mediante situações adversas. Vale destacar que ninguém se gradua enfermeiro com sua competência clínica já desenvolvida, esta se forma e consolida-se com o decorrer daexperiência profissional, sendo em grande parte responsabilidade do Enfermeiro na busca pelo seu aprimoramento (BOTELHO, PRUCOLI, 2022). A construção da competência clínica permite que o Enfermeiro vincule seus conhecimentos a suas habilidades e atitudes, constituindo o chamado Raciocínio Clínico, assunto este amplamente discutido e divulgado na comunidade geral da enfermagem, visto que o desenvolvimento do raciocínio clínico torna o enfermeiro mais autônomo no desempenho de suas atividades, favorecendo seu reconhecimento profissional para atuar com a equipe multiprofissional (SANTOS et al 2021). Mas afinal, o que significa um Enfermeiro com Raciocínio Clínico? O que faz com que este ou aquele enfermeiro sejam considerados profissionais com Raciocínio Clínico? Para responder essa pergunta, é preciso que primeiramente saibamos o significado de Raciocínio Clínico que nada mais é do que a aplicação do conhecimento teórico em conjunto com a prática visando a resolução de problemas por meio de ideias possíveis de serem implementadas. O Raciocínio Clínico permite que o enfermeiro, por meio da coleta de dados e sua consequente análise, identifique problemas potenciais ou aqueles já instalados, e assim planeje intervenções a serem implementadas visando a resolução ou prevenção do problema, em conjunto com o paciente e familiares. O que o Gerente de Enfermagem, pode fazer para desenvolver suas competências clínicas, bem como a de sua equipe? O primeiro passo para o desenvolvimento da competência clínica, refere-se à identificação de fragilidades. Nesse ponto é importante que o Gerente conheça sua equipe de trabalho e esteja presente na assistência, observando a resolutividade dos seus Enfermeiros, bem como tomada de decisões mediantes situações inesperadas. Identificadas as fragilidades, o Gerente deve trabalhá- las no sentido de aprimorá-las, para tal, indica-se a possibilidade de realização de treinamentos setoriais para toda a equipe. Outra opção, seria responsabilizar o Enfermeiro com fragilidades a preparar uma aula a ser repassada ao setor, nesse caso, o profissional sente-se valorizado ao ser atribuído tal responsabilidade, permitindo que este busque seu próprio aprimoramento ao ter que desenvolver uma aula por exemplo. É ainda viável formar parcerias com os Serviços de Educação Permanente, que poderão acompanhar os processos de formação profissional. O importante no desenvolvimento de competências clínicas é tornar o Enfermeiro a figura central deste 17 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I processo, estimulando a reflexão mediante suas ações e condutas, oportunizando discussões para consolidação do conhecimento. O Enfermeiro necessita ter claro para si que todas suas ações devem ser tomadas e baseadas levando-se em conta o raciocínio clínico, que envolve: a análise dos dados coletados com consequente interpretação em conjunto com os aspectos físicos e patológicos do paciente, seguido pelo planejamento da assistência, implementação das ações e avaliação das decisões e medidas realizadas (MOURA et al 2021). O desenvolvimento do raciocínio clínico depende da apurada percepção do enfermeiro em relação ao paciente, bem como do seu constante aprimoramento no quesito científico. O Enfermeiro, deverá unir os dados encontrados no paciente por meio da realização do exame físico e avaliação de exames diagnósticos, a aqueles relacionados à patologia, medicações, estilo de vida e demais terapêuticas utilizadas. Ao unir todos esses dados o Enfermeiro, por meio do seu processo crítico reflexivo, passará a relacioná-los entre si, buscando semelhanças e explicações, que favorecerão a identificação de riscos e problemas apresentados pelo paciente, norteando assim a delimitação sistemática das ações a serem desenvolvidas pela Equipe de Enfermagem, visando à melhora do indivíduo (SANTOS et al 2021). O raciocínio clínico faz com que o Enfermeiro consolide seu conhecimento, considerando- se aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais do indivíduo, relacionando seus achados práticos e teóricos, e assim propondo intervenções por meio da tomada de decisão estruturada e pautada em bases científicas, considerando-se ainda sua experiência profissional. Além disso, o raciocínio clínico garante a delimitação do cuidado conforme as necessidades do paciente, sendo, portanto, imprescindível para realização do Processo de Enfermagem (MOURA et al 2021). Em síntese, podemos dizer que o raciocínio clínico deve ocorrer de forma ativa, dinâmica, crítica e autônoma, direcionando sua atenção às necessidades do paciente, família e comunidade, possibilitando a constante identificação de situações de risco. Este deve ainda favorecer a realização de avaliações e reavaliações dos cuidados implementados, seguindo as determinações do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (BARROS et al 2022). Até o momento discutimos a respeito da importância do desenvolvimento do raciocínio clínico para Enfermeiro, como subsídio para consolidação do Processo de Enfermagem e da SAE, que é assegurada em território nacional pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução no 358/2009, que estabelece a obrigatoriedade de sua realização, em todos os ambientes de saúde que apresentem serviços de enfermagem, 18 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO como escolas, domicílios, hospitais, unidades de pronto atendimento, entre outras (COFEN, 2009). Ao falarmos sobre a SAE é comum vermos uma associação com o Processo de Enfermagem, de forma que, conforme a literatura ou autores adotados e utilizados, estes poderão considerar a SAE e o Processo de Enfermagem como sinônimos, enquanto outros partem do pressuposto que o Processo de Enfermagem e a SAE são termos diferentes, mas com semelhanças entre si. A confusão nesta diferenciação é comum e pouco abordada nos estudos de enfermagem (SANTOS et al 2021). Destaca-se, porém, que o Processo de Enfermagem se define como um referencial norteador visando à unificação do cuidado e sendo utilizado como um guia assistencial a enfermagem, a fim de torná-la organizada e estruturada nos diferentes espaços de saúde, podendo ser considerado como uma ferramenta de orientação metodológica para a assistência e documentação da prática de enfermagem. Nesse ínterim a SAE é vista como a operacionalização do Processo de Enfermagem, que torna possível a organização do trabalho no que concerne a instrumentos e registros a serem realizados, possibilitando que o Processo de Enfermagem seja colocado em prática (BOTELHO, PRUCOLI, 2022). Assim, o Processo de Enfermagem subsidia o raciocínio clínico do enfermeiro, auxiliando na identificação de alterações, propostas de intervenções e análise de resultados, consolidando a tomada de decisão clínica do enfermeiro. É preciso que o Processo de Enfermagem seja permeado pelo conhecimento teórico do enfermeiro e as relações que este desenvolverá com o paciente, família e comunidade, visando uma assistência que reflita a qualidade, eficiência e eficácia, bem como sua intelectualidade e capacidade em unificar teoria e prática por meio do seu raciocínio clínico. Nesse contexto, o Processo de Enfermagem subsidia o enfermeiro na junção e avaliação dos dados coletados, favorecendo a determinação dos cuidados a serem realizados, conforme as características dos pacientes, auxiliando na assistência integral e individualizada. Para isso, o Processo de Enfermagem, deverá ser: intencional, sistemático, dinâmico, interativo, flexível e baseado em teorias: » Intencional: Voltado para uma meta a ser alcançada. » Sistemático: Utiliza uma abordagem organizada em fases para atingir o seu propósito. » Dinâmico: Envolve mudanças contínuas, de acordo com o estado da pessoa, identificadas na relação enfermeiro-pessoa. » Interativo: Baseia-se nas relações que se dão entre enfermeiro-pessoa, enfermeiro- família, enfermeiro-equipe multiprofissional. » Flexível: Pode ser aplicado em diferentes situaçõesque envolvam a assistência. 19 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I 2.2. A importância da SAE em cardiologia As doenças cardiológicas podem ser consideradas o grupo de distúrbios clínicos que possuem as maiores taxas de hospitalização e mortalidade. Devido ao envelhecimento da população, temos observado um aumento progressivo na incidência de tais doenças, ao mesmo tempo em que novas tecnologias e tratamentos são desenvolvidos. O tratamento de pessoas com insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio possui um grande impacto financeiro no sistema de saúde, pois, geralmente, os indivíduos diagnosticados com doenças cardíacas têm sua capacidade funcional e qualidade de vida prejudicadas. Quando ocorrem em crianças, essas doenças podem levar a um comprometimento do desenvolvimento, uma vez que é possível causarem lesões sistêmicas, resultando assim, em deficiências (BARROS et al 2022). Diante dessa situação, os enfermeiros enfrentam diversos desafios, como consequência, alcançaram resultados que os colocam em um papel de destaque em diferentes dimensões do cuidado. Um exemplo nacional e internacional são as diretrizes que creditam aos enfermeiros os benefícios trazidos aos pacientes durante o acompanhamento do controle de diversas doenças crônicas, programas de saúde e educacionais. O desenvolvimento e a validação de escalas e instrumentos de medição auxiliam os enfermeiros a estabelecerem ações e tomarem decisões que irão melhorar o processo de atenção à saúde do paciente. Os recentes avanços na cardiologia também se destacam, uma vez que o aumento do conhecimento pelos enfermeiros, por meio de pesquisas, e a compreensão de doenças, tratamentos e manifestações clínicas levam ao destaque em debates e discussões com a equipe de saúde. Apesar das amplas possibilidades e da necessidade do trabalho do enfermeiro, os ambientes de atenção à saúde possuem diversos desafios como: escassez de mão de obra; falta de estrutura física, equipamentos e materiais; salários inadequados; dupla jornada de trabalho; esforço físico constante e riscos de acidente. Essas situações indicam lacunas na qualidade do atendimento, muitas vezes revelando um padrão de declínio nos indicadores de saúde. Considerando tal situação, que é muito semelhante em diferentes partes do mundo, como podemos criar um futuro promissor para a enfermagem cardiológica? Observamos que faltam intervenções de enfermagem que possam consolidar o caminho da profissão, levando ao domínio da enfermagem baseada em evidências, focada em objetivos previamente estabelecidos (BOTELHO, PRUCOLI, 2022). 20 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO Existe uma necessidade de se implementar ações que demonstrem um desempenho consciente do papel da enfermagem, centrado no paciente e na família; ações realizadas por meio de um julgamento coerente, avaliando os resultados obtidos. Considerando as constantes atualizações em cardiologia, ainda há necessidade de melhoria tecnológica para o manuseio seguro de dispositivos e equipamentos, abordando também seus riscos e benefícios. A enfermagem deve buscar conhecimentos e desenvolver pesquisas na área de cardiologia, para que seja possível realizar uma prática independente do modelo biomédico existente, pois a atuação do enfermeiro baseada nesse modelo representa uma má representação do profissional, prejudicando o progresso da ciência da enfermagem. O enfermeiro deve ser capaz de induzir um processo visionário de crescimento profissional em cardiologia, por meio de estudos abordando diagnósticos de enfermagem e as melhores intervenções, mais específicas para esse público. Estudos abordando a acurácia diagnóstica, taxonomia e identificação de novos fenômenos contribuem para a consolidação do campo de conhecimento do enfermeiro. Assim como os estudos sobre a aplicabilidade e a eficácia das intervenções com resultados positivos aumentam a visibilidade da enfermagem e garantem padrões de excelência no atendimento. Existe uma necessidade urgente de reduzir a lacuna entre os cuidados de saúde no hospital e nos serviços primários de saúde, assim como na educação ao consumidor de cuidados de enfermagem, para que seja possível promover mudanças de vida e no autogerenciamento da doença. Para isso, modelos inovadores, como consultas ambulatoriais, consultas telefônicas, técnicas de coaching e treinamento individual podem e devem ser implementadas(SANTOS et al 2021). Além das ações de prevenção nos diferentes ambientes de atenção à saúde, os profissionais de enfermagem devem estar por dentro das novas tecnologias, como aplicativos móveis e páginas da web interativas. O avanço nos conhecimentos na área de enfermagem cardiológica tem sido alcançado de maneira progressiva, cooperando para um gerenciamento seguro das condições de saúde (BARROS et al 2022). O importante papel desempenhado pelo enfermeiro na área cardiológica não deve ser perdido e, por isso, devemos consolidar o desenvolvimento do profissional, não somente em nosso país, mas também no resto do mundo. As práticas nacionais, apesar de ainda estarem atrasadas em relação a países desenvolvidos, como Estados Unidos e Canadá, têm a cada dia se consolidado mais graças à prática dos especialistas na área. Implantar e desenvolver a SAE Cardiológica deve ser um dos focos do especialista da área, que será o responsável pela modernização dessas práticas (BOTELHO, PRUCOLI, 2022). 21 CAPÍTULO 3 LEIS E APLICABILIDADE DA SAE A SAE é uma metodologia científica criada por um corpo de enfermeiros de todo o mundo e que vem sendo utilizada cada vez mais, em razão de maior segurança e melhoria na qualidade da assistência de enfermagem. Além disso, com a correta implementação e utilização da SAE, o enfermeiro possui maior autonomia em suas ações profissionais, baseando suas práticas em evidências científicas daquilo que tende a ser o melhor para o paciente. Podemos afirmar que a SAE é a aplicação prática de uma teoria de enfermagem que permite ao Enfermeiro prescrever cuidados personalizados, levando em consideração as necessidades humanas básicas. Não somente a SAE, mas todo o Processo de Enfermagem (PE) pode ser considerado um método de solução de problemas, é organizado e classificado de forma que permita que todas as necessidades básicas do paciente sejam atendidas de uma maneira lógica. Dessa forma, podemos afirmar que a implementação da SAE é necessária, pois irá contribuir para uma assistência de enfermagem de qualidade, estabelecer e fortalecer o corpo de conhecimentos da profissão e ressaltar e trazer implicações positivas, não somente para o paciente, mas para toda a equipe de enfermagem (BARROS et al 2022). Essa qualidade na assistência de enfermagem, que tanto ouvimos falar e estudamos, somente ocorre quando há um planejamento adequado em relação às ações e aos procedimentos que serão executados, em um contexto no qual todos os profissionais possuam uma participação. Para que essa qualidade seja alcançada, o Enfermeiro dispõe da SAE, um instrumento que permite que o profissional acompanhe o paciente desde o momento do primeiro contato, até a sua alta e, em alguns casos, acompanhando a assistência em domicílio (SANTOS et al 2021). A elaboração e a execução da SAE são garantidas pela Lei Federal n. 358, de 2009 pelos profissionais da enfermagem brasileira em seu ambiente laboral. A responsabilidade de executá-la, no entanto, é privativa do Enfermeiro, pois esse profissional utilizará método e estratégia de trabalho científico para a identificação das situações de saúde/ doença, subsidiando ações de assistência de Enfermagem que possam contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade. Tais atividades são descritas na Resolução COFEN-358/2009 (COFEN, 2009) No Brasil, o PE, introduzido pela Professora Wanda de Aguiar Horta na década de 1970, é descrito em seis passos inter-relacionados, segundo os quais as ações realizadas peloEnfermeiro podem ser executadas de maneira que estejam vinculadas ao indivíduo, à 22 UNIDADE I | ENFERMAGEM PADRÃO família e à comunidade. Tais passos são: Diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem. Relembrando os passos descritos pela Profª. Horta, o primeiro passo será levantarmos os dados por meio de um roteiro padronizado com o objetivo de identificar os problemas. Após levantarmos esses dados, passamos ao segundo, que é identificar as necessidades dos pacientes (diagnóstico de enfermagem). Aos termos em mente as necessidades, no terceiro passo iremos realizar a observação, encaminhamentos e cuidados (plano assistencial). Na sequência, prescreveremos as ações (Prescrição de Enfermagem) que serão realizadas, quando irá ser implementado o plano assistencial. Após o planejamento, cabe ao Enfermeiro ir ao quinto passo (evolução), no qual será observado como o paciente respondeu às ações implementadas. Por fim, no último passo, será avaliada a capacidade de o paciente conseguir voltar a realizar suas atividades básicas diárias (prognóstico) (BARROS et al 2022). Figura 3. Regulação da SAE. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/woman-workwear-nurse-helping-black- senior-2140128611. 3.1. Aplicabilidade da SAE Com certeza você já estudou tudo o que foi descrito, mas também deve estar pensando em como, muitas vezes, aplicar um plano de cuidados baseado na SAE pode ser desafiador ou distante da realidade de muitos serviços de saúde em nosso país. Desde a graduação, há uma evolução que ocorre em novos enfermeiros; eles saem da universidade com os olhos brilhantes e animados para cuidar de pacientes “reais”. Eles estão “tão felizes” que nunca mais precisarão fazer a “SAE” e, no momento que 23 ENFERMAGEM PADRÃO | UNIDADE I conseguem o primeiro trabalho, acabam descobrindo o quão difícil é ser enfermeiro (SANTOS et al., 2021). Após cerca de seis meses, eles começam a pegar o jeito das coisas e, após um ano, estão realmente andando com suas próprias pernas. Eles entram no quarto do paciente e podem avaliar a situação completamente, podem determinar como uma mudança impactará na assistência. A nova enfermeira desenvolveu o “pensamento crítico” sem sequer saber disso. Eles estão trabalhando com o uso de planos de cuidados de enfermagem, considerando um milhão de variáveis diferentes no local... sem nem perceber! Esses pequenos planos de cuidados são desenvolvidos, ajustados, avaliados paciente após paciente, turno após turno. E a enfermeira nem percebe isso. Imagine uma enfermeira durante a visita ao quarto do paciente, ela escuta o relato do cuidador de que houve uma mudança na pele do cliente e de que este passou a apresentar alguma vermelhidão no cóccix. No mesmo instante, ela já pensa no diagnóstico “Risco de integridade da pele prejudicada”, então, o plano de cuidados é feito, considerando questões do tipo: “como vou manter a pele seca”?, “quantas vezes será necessário virar o paciente?”, “o paciente está comendo adequadamente?”, “qual proteção posso aplicar no local”? Por meio deste material, esperamos que você encontre mais entusiasmo e conforto ao elaborar planos de cuidados, afinal a SAE veio para ficar, e cada vez mais está sendo implantada nos serviços de saúde. Para executar a SAE adequadamente, é necessário ter um raciocínio clínico, que considere as diversas variáveis que interferem na saúde do paciente. Existem cinco etapas para elaborar um bom plano de cuidados de enfermagem (SANTOS et al., 2021): » coletar informações; » analisar; » pensar; » adaptar; » transcrever. 24 REFERÊNCIAS ALVES, H. L. C.; LIMA, G. S.; ALBUQUERQUE, G. A.; GOMES, E. B.; CAVALCANTE, E. G. R.; VIANA, M. C. A. 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