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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 ETAPA DO PROCESSO DE ENFERMAGEM ..................................... 4 2.1 Avaliação da Assistência de Enfermagem .................................... 5 2.2 Indicadores Assistenciais .............................................................. 6 2.3 Taxonomia NOC ........................................................................... 8 2.4 Indicadores de Gestão do Cuidado ............................................. 10 3 DESAFIOS DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ..................................................................................................... 12 3.1 Assistência de Enfermagem no Perioperatório ........................... 14 3.2 Importância da Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) ....................................................................................... 15 4 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE NO PERIOPERATÓRIO .............................................................................................. 18 5 A ENFERMAGEM NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE .. 21 6 DESENVOLVIMENTO DA ENFERMAGEM BASEADA EM EVIDÊNCIAS ......................................................................................................... 23 7 A PBE E O ENSINO DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM ..................................................................................................... 32 8 A PBE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO ......................... 35 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 38 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 ETAPA DO PROCESSO DE ENFERMAGEM De forma concomitante à implementação dos cuidados de enfermagem, o enfermeiro deverá propor meios para avaliar a efetividade desses cuidados, visando a agregar qualidade à assistência prestada ao paciente, a qual deve responder às suas necessidades em saúde. Fonte:pebmed.com.br Para tanto, o processo de avaliação da assistência de enfermagem considera o uso de indicadores de resultado, que emergem da realidade do estabelecimento de saúde ou do sistema NOC (classificação de resultados de enfermagem, do inglês nursing outcomes classification). 5 2.1 Avaliação da Assistência de Enfermagem Existem dois tipos de avaliação de enfermagem, a primeira, denominada avaliação formativa, ocorre no início do processo de enfermagem, quando o enfermeiro busca identificar os problemas por meio de entrevista, exame físico, consulta ao prontuário do paciente e discussão do caso com os demais profissionais da equipe multidisciplinar de saúde; já a avaliação somativa acontece após a implementação dos cuidados de enfermagem e visa a analisar a resolubilidade desses cuidados sobre os problemas identificados no início do processo de enfermagem. Essa diferenciação é fundamental, pois cabe ao enfermeiro desenvolver uma postura profissional crítica e comprometida com uma avaliação responsável e de acompanhamento dos resultados que emergem dela. Para a análise da efetividade da assistência de enfermagem, o enfermeiro realiza o que se chama de avaliação somativa. Esse tipo de avaliação ocorre após a implementação dos cuidados de enfermagem e tem o objetivo de verificar se os cuidados implementados resolveram os problemas diagnosticados (VAUGHANS, 2012). Para que o processo de avaliação dos cuidados implementados ocorra de forma satisfatória, o envolvimento do paciente é mandatório, uma vez que ele é o protagonista do processo de cuidar. Essa perspectiva garante maior assertividade na condução e no manejo dos cuidados prescritos (TAYLOR, 2014). Um paciente oncológico está realizando o primeiro ciclo de quimioterapia em uma clínica especializada. A enfermeira, no primeiro dia de tratamento do paciente, realizou a coleta de dados, o diagnóstico, o planejamento dos resultados esperados e a prescrição de enfermagem. A cada dia que o paciente realizava a sessão de quimioterapia, a enfermeira o avaliava, buscando identificar a efetividade dos cuidados propostos. À medida que estes não respondiam às necessidades do paciente, ela readequava o plano terapêutico. Para identificar a efetividade dos cuidados 6 propostos, a enfermeira questionava o paciente em relação ao seu bem-estar, aos efeitos colaterais dos fármacos, entre outros aspectos colaborativos. Esse breve relato demonstra que o processo de avaliação não é realizado isoladamente pelo enfermeiro, mas, sim, por intermédio do envolvimento do paciente, que deve ser colocado como o centro do processo de cuidar. O processo de avaliação se configura como uma atividade sistemática e contínua do acompanhamento dos desfechos derivados das ações de enfermagem sobre o paciente, a família, o grupo social ou a coletividade. Esse processo se utiliza das anotações de enfermagem como um instrumento de captação das ações de enfermagem realizadas e do monitoramento delas, juntamente com os indicadores assistenciais que possibilitam a elaboração da evolução de enfermagem. A evolução de enfermagem consiste em uma atividade analítico-crítica realizada pelo enfermeiro, que, a partir dos registros de enfermagem e da avaliação somativa, verifica a efetividade dos cuidados prestados e o impacto sobre a condição de saúde do paciente (SÃO PAULO, 2015; TAYLOR et al., 2014). 2.2 Indicadores Assistenciais Os indicadores são definidos como um método de medida, cujo resultado é comparado a um critério preestabelecido. A clareza em relação a essa definição é importante, uma vez que a proposição de um indicador, sem o consenso em relação ao critério de comparação, não agrega valor ao cuidado prestado ao paciente. Um paciente idoso está acamado e segue em internação hospitalar devido a um agravo no sistema respiratório. Durante a avaliação de enfermagem, ele foi diagnosticado com Dor aguda, uma vez que o paciente relatou à enfermeira presença de dor moderada. Diante desse diagnóstico de enfermagem, os resultados esperados foram planejados e a prescrição de enfermagem foi elaborada. 7 Para monitorar a efetividade dessas ações, a enfermeira propôs os seguintes indicadores: Dor relatada; Duração dos episódios de dor; Agitação; Irritabilidade; e Expressões faciais de dor. No dia seguinte, porém, ao reavaliar o paciente, a profissional não analisou as medidas desses indicadores, tampouco os comparou aos resultados esperados planejados. Fonte:prontocare.com.br A partir do apresentado, fica evidente que, devido ao fato de a enfermeira ter aplicado as etapas da SAE, ela não considerou a execução da reavaliação constante do paciente, pois não seutilizou continuamente dos indicadores previamente propostos. Portanto, a proposição isolada dos indicadores, sem o uso adequado deles no sentido de agregarem qualidade à assistência ao paciente , não se traduz em melhores práticas de cuidados, o que reitera a obrigatoriedade de o enfermeiro se apropriar de todo o processo de avalição da assistência de 8 enfermagem, a qual engloba a proposição dos indicadores assistenciais para o monitoramento, a mensuração e a comparação deles com os critérios propostos. A proposta do uso de indicadores é essencial ao se pensar no monitoramento das ações de enfermagem presentes no plano de cuidados, o que remete à ideia de os resultados esperados serem ou não confirmados. Esses resultados podem ser classificados em quatro tipos: cognitivos, psicomotores, afetivos e fisiológicos (TAYLOR et al., 2014). Resultados cognitivos: Têm o objetivo de analisar se o paciente e/ou a rede de apoio/família compreendeu os conhecimentos compartilhados. Exemplo: o paciente relatou como o medicamento deve ser ingerido. Resultados psicomotores: Seu objetivo é analisar se o paciente e/ou a rede de apoio/família aprendeu um novo comportamento ou atitude. Exemplo: o filho de um paciente aceitou visitá-lo diante da iminência da morte, apesar das desavenças do passado. Resultados afetivos: Têm o objetivo de analisar mudanças em valores, crenças e atitudes do paciente. Exemplo: o paciente verbalizará valorização de sua saúde em grau suficiente para praticar novos comportamentos de saúde para prevenir a recorrência da úlcera na perna. Resultados fisiológicos: Têm o objetivo de analisar se houve mudança na condição clínica do paciente. Exemplo: a pressão arterial sistêmica do paciente normalizou. 2.3 Taxonomia NOC Ao considerar a existência de tipologias de resultados de enfermagem, os indicadores assistenciais devem se propor a mensurar a efetividade dos desfechos das ações de enfermagem prescritas e presentes no plano de cuidados. Para tanto, quando a Universidade de Iowa, na década de 1990, propôs a NOC, estabeleceu-se que cada um dos resultados listados deveria dispor 9 de indicadores para avaliar esse resultado por meio da Escala de Likert com cinco pontos de mensuração (JOHNSON et al., 2013). Dessa forma, foram sistematizados mais de 400 resultados, cada um com 5 a 15 indicadores de monitoramento, o que denota a robustez e o esforço da Enfermagem em organizar as suas práticas por meio da proposição de um padrão internacional de desfechos e indicadores de monitoramento. Fonte:yapoli.com Esse posicionamento permite que o enfermeiro e os demais membros da equipe multidisciplinar avaliem e quantifiquem o estado de saúde do paciente, da família e de um grupo social e/ou uma coletividade. Um paciente do sexo masculino, de 42 anos, buscou atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento referindo dor no peito e falta de ar repentina. Em entrevista com a enfermeira, ele relatou que está em processo de separação da esposa e que está preocupado com os filhos e a condição do casal. Em exame físico, apresentou pressão arterial sistêmica 168x120 mmHg, frequência cardíaca de 106 bpm, frequência respiratória de 19 ipm e sudorese em face e mãos. Os 10 exames complementares eletrocardiograma e enzimas cardíacas se mostraram dentro do padrão de normalidade.Trocardiograma e enzimas cardíacas se mostraram dentro do padrão de normalidade (MOORHEAD, 2016). A partir dessa situação, a enfermeira elegeu o diagnóstico de enfermagem de ansiedade como o que melhor retrata a necessidade em saúde do paciente, sendo assim, ela planejou o seguinte resultado esperado, segundo a taxonomia NOC: Redução da ansiedade. Em seguida, a profissional propôs a avaliação do Nível de ansiedade por meio de indicadores NOC: ansiedade verbalizada; pressão arterial aumentada; frequência cardíaca aumentada; sudorese. 2.4 Indicadores de Gestão do Cuidado Além dos indicadores atrelados ao desfecho dos cuidados de enfermagem, há os vinculados à gestão do processo de cuidar e que são utilizados como indicadores de qualidade assistencial. Nesse sentido, quando se pensa em qualidade em saúde, esta deve ser compreendida como um conjunto de atributos que envolvem a resolubilidade dos serviços de saúde, a alocação eficiente dos recursos, a assistência segura e isenta de riscos, a satisfação do usuário e, em última análise, o valor agregado nessa cadeia produtiva de cuidados. Fonte:blog.maxieduca.com.br 11 No contexto da qualidade em saúde, três conceitos são importantes: eficácia, efetividade e eficiência. Eficácia é quando uma determinada intervenção é analisada em condições ideais, como, por exemplo, ao se pensar em um medicamento testado em cobaias, ou seja, em situações ideais de temperatura, nutrição, atividade física, repouso, etc. Já a efetividade é a análise de uma determinada intervenção em condições reais, ou seja, no cotidiano da vida humana, por exemplo, na execução de um determinado cuidado de enfermagem, é necessário considerar o estado emocional do paciente para verificar se esse cuidado foi efetivo ou não. Por fim, eficiência é quando a intervenção é efetiva, mas com o menor custo possível para a sua viabilização (TAYLOR et al., 2014). Portanto, é inerente à gestão do cuidado garantir a provisão assistencial eficiente, ou seja, cuidados que respondam às necessidades em saúde individuais e/ou coletivas, com o menor custo possível para a sua operacionalização. Resolubilidade dos serviços de saúde: destacam-se os indicadores de monitoramento dos desfechos de enfermagem, considerando, inclusive, as metas de enfermagem propostas. Alocação eficiente dos recursos: a SAE colabora ao propor a identificação e a resposta assertiva às necessidades em saúde individuais e coletivas, evitando desperdícios e ausência de recursos. Assistência segura e isenta de riscos: a SAE contribui de forma significativa, ao compreender a provisão de cuidados de forma processual e sistêmica, garantindo segurança e qualidade assistencial. Satisfação do usuário: considerada como o mapeamento da experiência do paciente e sua rede de apoio/família durante o processo assistencial, a qual deve ser percebida como qualidade. Diante do apresentado, fica evidente que, para garantir a manutenção da qualidade na assistência de enfermagem, esses elementos devem permear as práticas da equipe de enfermagem. Corroborando essa ideia, em 2012, o Núcleo de Apoio à Gestão Hospitalar (NAGEH), formado por enfermeiros, como desdobramento do Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), publicou o 12 Manual de Indicadores de Enfermagem do NAGEH, no qual são propostos indicadores de gestão do cuidado de enfermagem com o objetivo de auxiliar na qualificação dos serviços de saúde (CQH, 2012). Os indicadores assistenciais de monitoramento da gestão do cuidado de enfermagem são: Incidência de queda de paciente; incidência de extubação não planejada de cânula endotraqueal; incidência de saída não planejada de sonda oro/nasogastrenteral para aporte nutricional; incidência de lesão por pressão Unidade de Internação de Adultos; incidência de lesão por pressão; Unidade de Terapia Intensiva de Adultos; incidência de lesão de pele; incidência de erro de medicação; incidência de quase falha relacionada ao processo de administração de medicação; incidência de flebite; incidência de extravasamento de contraste; incidência de extravasamento de droga antineoplásica em pacientes em atendimento ambulatorial; incidência de extravasamento de droga antineoplásica em pacientes internados; incidência de perda de cateter central de inserção periférica; incidência de perda de cateter venoso central; incidência de instrumentais cirúrgicos com sujidade (TAYLOR, 2014). É fundamental compreender que esses indicadorestêm o objetivo de oportunizar a gestão global dos cuidados providos ao paciente, com vistas a garantir uma assistência segura e que se traduza em qualidade, a qual deve permear todo o processo de cuidar. 3 DESAFIOS DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Para operacionalizar a SAE, o enfermeiro enfrenta alguns desafios que merecem atenção com pontos de reflexão para proposição de mudanças. 13 Fonte:freeimages.com Entre esses desafios, destaca-se a dificuldade de uso da SAE como: Ferramenta intelectual uma vez que, para muitos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, bem como outros profissionais, a SAE se configura como uma atividade isolada do processo multidisciplinar de cuidado e de natureza legal, e não como um método essencial para embasar as práticas de enfermagem. Essa ideia traz em si um grande desafio quando se reflete sobre a necessidade de uma maior difusão da relevância da SAE para responder às necessidades em saúde individuais e coletivas. Documento formal e universal que possibilita o registro das ações realizadas pela equipe de enfermagem junto a indivíduos, famílias, grupos sociais e coletividades ocorre pela falta de compreensão dos estabelecimentos de saúde em considerar a SAE não como processo burocrático, mas como um processo que agrega valor ao cuidado dispendido ao indivíduo e ao coletivo. Método que pode ser utilizado para além do ambiente hospitalar denota a sua potencialidade de uso 14 em outros ambientes, como atenção domiciliária, ambulatorial, apoio ao diagnóstico e à terapêutica, pronto atendimento, entre outros. Diante do apresentado, é mandatório que o enfermeiro internalize a SAE como um potente método para garantir a assistência segura, isenta de riscos e que se traduza em qualidade, colocando o paciente como o centro do cuidado em saúde e tendo postura profissional tecnocientífica sólida e crítico-reflexiva sobre a realidade em que o cuidado se materializa. 3.1 Assistência de Enfermagem no Perioperatório A sistematização da assistência de enfermagem perioperatória, conhecida pela sigla SAEP, objetiva ser um instrumento de realização privativa do enfermeiro, conforme a Lei do Exercício Profissional, para aprimoramento do cuidado ao paciente cirúrgico, de modo a desenvolver uma melhoria na qualidade assistencial, sendo documentada, sistematizada, participativa e individualizada, voltada para as necessidades do indivíduo, e com a finalidade de também melhorar a comunicação entre as equipes envolvidas no pré, no trans e no pós-operatório. A atuação do enfermeiro nesses períodos cirúrgicos em relação à aplicação da ferramenta SAEP tem em comum a percepção dos sentimentos quanto ao procedimento, fazendo com que o paciente fique menos vulnerável nas fases cirúrgicas, pela explicação de todos os atos que se seguirão, trazendo informações claras e explícitas. Além desses pontos, a humanização do atendimento de enfermagem desses períodos se dá por meio de ações e comportamentos do enfermeiro para tornar todos os processos mais leves e buscando uma melhor recuperação. Assim, cabe ao enfermeiro o cuidado humanizado, estando ciente dos possíveis fatores de interferência e promovendo a ligação entre os atos tecnológicos e humanos, 15 favorecendo as relações entre profissional e paciente e visando a um resultado pós- cirúrgico satisfatório e com o menor número de complicações possíveis. Fonte:gestaoemsaude.net 3.2 Importância da Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) Inicialmente, a função do enfermeiro nos centros cirúrgicos, era direcionada ao planejamento, ao acompanhamento e à avaliação das ações, de modo a atender às solicitações médicas, em detrimento, portanto, da assistência direta ao paciente. O centro cirúrgico (CC) é uma das unidades mais críticas de um hospital, já que compreende o local onde há uma diversificada circulação de funcionários e a realização de procedimentos diversos, para diagnóstico ou tratamento (JOST VIEGAS CAREGNATO, 2018). Em consonância com os checklists de cirurgia segura, que visam a melhorar a qualidade assistencial e a comunicação entre os profissionais, a SAEP objetiva 16 auxiliar o paciente durante o perioperatório, para promover a segurança do paciente e de toda a equipe envolvida no processo. Além disso, atua na educação para o autocuidado e no apoio aos pacientes, e a seus familiares, de modo a auxiliar na redução da ansiedade sobre o procedimento cirúrgico a ser realizado, por meio de apoio emocional, reforçando a qualidade e a eficácia na assistência de enfermagem (VASCONCELOS et al., 2014). Tais fases têm diversos objetivos, todos com foco no paciente, já que o enfermeiro é o indivíduo mais qualificado para o desenvolvimento de ações que possibilitem alta qualidade assistencial e a segurança do paciente e da equipe no perioperatório. O enfermeiro é muito importante nos processos operatórios em todos os seus períodos, já que compete a esse profissional o planejamento da assistência de enfermagem, visando à qualidade assistencial do paciente, de seus familiares e da equipe envolvida no procedimento cirúrgico. Para minimizar as ansiedades, melhorando a qualidade da assistência e a recuperação final do paciente, o período pré-operatório constitui uma parte importantíssima do cuidado. Nesse momento, cabe ao enfermeiro fornecer, de maneira clara e explícita, as informações sobre o procedimento que será realizado e as necessidades pré-operatórias individuais, que incluem o preparo físico e emocional, com a finalidade de diminuir os riscos cirúrgicos, promovendo a recuperação e evitando complicações pós-cirúrgia. Os cuidados prestados nesse primeiro momento devem ser individualizados, com o fornecimento de informações claras, baseadas em evidências científicas e reforçadas pelas características do paciente, como estado de saúde, tipo de cirurgia a ser realizada, média de permanência hospitalar pelo tipo de procedimento, etc. No período transoperatório, a importância do enfermeiro reside nos cuidados vinculados aos riscos que o paciente apresenta em decorrência do tempo de cirurgia e da necessidade de posicionamento cirúrgico. 17 Fonte:laboro.edu.br As complicações pós-cirúrgicas estão diretamente relacionadas às falhas ocorridas nas informações comunicadas no período pré-operatório. Portanto, o enfermeiro busca, no pré-operatório, identificar alterações anatômicas e fisiológicas que possam estar associados ao tipo de anestesia, procedimento e tempo cirúrgico, para que não ocorram complicações no pós-operatório (MIRANDA et al., 2016). Conforme o tipo de cirurgia, haverá um posicionamento específico, cabendo ao enfermeiro, portanto, avaliar os fatores intrínsecos e extrínsecos do paciente no pré-operatório a fim de evitar ou minimizar complicações associadas ao posicionamento durante longos períodos na mesa cirúrgica, visto que todos os pacientes devem ser considerados de alto risco para o desenvolvimento de lesões por pressão. A recuperação anestésica está compreendida no pós-operatório imediato, contado a partir da saída do paciente da sala cirúrgica até a saída da sala de recuperação, seja para o leito de internação, seja para alta hospitalar, nos casos de procedimentos ambulatoriais. O período em que o paciente está na sala de 18 recuperação é considerado crítico, pois, nesse momento, ele poderá apresentar depressão cardiorrespiratória, ausência de sensações, ausência de tono simpático e inconsciência, todas as condições associadas diretamente aos anestésicos utilizados no procedimento, de anestesia geral ou regional. o enfermeiro deverá acompanhar e documentar todo o processo, para que esse meio de comunicação seja único, contínuo, com registros fidedignos ao paciente e acessíveis à toda a equipe de saúde.Por ser considerado um período crítico, as ações documentadas nesse momento garantem a segurança e os cuidados específicos ao paciente, de maneira individualizada, prevenindo a ocorrência de complicações ou prevendo as possibilidades de ocorrência para que consigam ser revertidas. O período pós-operatório, quando o paciente está recobrando a consciência, pode ser muito desconfortante, pois o paciente acorda em um local completamente desconhecido, após uma “agressão física” provocada pelo procedimento e, normalmente, sem um rosto familiar ou conhecido por perto (JOUCLAS, TENCATTI E OLIVEIRA, 1998). Assim, o papel do enfermeiro no pós-cirúrgico também é o de estar ao lado, oferecendo o conforto e a segurança necessários nesse momento, de forma a amenizar o processo doloroso do paciente, físico e psicológico. 4 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE NO PERIOPERATÓRIO Um processo cirúrgico promove muitos períodos de incerteza e ansiedade ao paciente, seja um procedimento realizado de forma eletiva, seja de urgência. Em ambos os casos, a acolhida do paciente é fundamental para a minimização de seus anseios, proporcionando, eventualmente, uma recuperação mais efetiva. 19 Fonte:istoedinheiro.com.br Além disso, o ato cirúrgico pode provocar constrangimentos e privações, já que, muitas vezes, o paciente, ainda em processo anestésico, está nu em uma maca, cercado de pessoas desconhecidas, e os preparativos, como a tricotomia, podem ser bastantes invasivos à sua privacidade e individualismo. Muitas vezes, o avanço científico e tecnológico fez com que o enfermeiro assumisse mais cargos e encargos administrativos. Por vezes, isso promoveu, em centros cirúrgicos, uma cultura de um sistema fechado e rotineiro, visando às questões práticas envolvidas no processo, como a conferência de dados pessoais, do tipo de patologia e do procedimento a ser realizado. Esse processo, inúmeras vezes realizado mecanicamente e sem empatia, poderia agravar o grau de ansiedade do paciente, pois esse percebe não dispor do “conhecimento técnico” e, muitas vezes, se sentir acuado por esse motivo (BEDIN; RIBEIRO; BARRETO, 2005; DESLANDES, 2004). Humanização e cuidado são indissociáveis e ambos inerentes à enfermagem, cujo principal instrumento de trabalho é o cuidar. Assim, pode-se afirmar que cuidar é uma forma de usar a própria humanidade para assistir o outro. O termo “humanização” vendo sendo utilizado na saúde como um sinônimo para cuidado, legitimado em 2000, quando da regulamentação, pelo Ministério da 20 Saúde, do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que buscou a promoção de uma nova cultura no atendimento à saúde hospitalar. O emprego do termo “humanização” no âmbito assistencial tem por objetivo a valorização da qualidade da assistência técnica, associada ao reconhecimento dos direitos, subjetividades e traços culturais do paciente, de modo a valorizar, também, o diálogo entre os profissionais e o paciente, bem como entre as equipes de atendimento. Com o passar do tempo, percebeu-se que eram necessárias modificações na sistematização da assistência, nas quais o enfermeiro voltaria a ter seu papel principal de atuação no cuidado direcionado a uma atenção mais direta ao paciente, destacando a importância dessas ações para o sucesso do tratamento. Com a criação da SAEP, buscou-se diminuir essa diferença criada pelo tempo entre a real objetividade do enfermeiro no cuidar e a mecanização nos processos realizados em CC. A SAEP é uma sistematização que auxilia o enfermeiro na humanização do cuidado aos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, pois visa a analisar as necessidades individuais, de forma participativa, orientada e documentada, com objetivo de diminuir a ansiedade atrelada ao processo. Se a humanização do cuidado em CC passar a ser considerada uma ação concreta da atividade do enfermeiro, a qualidade da assistência, pragmatizada no reconhecimento das individualidades e do diálogo, aumentará. Em suma, a humanização do cuidado ao paciente durante o perioperatório se dá quando o enfermeiro consegue estabelecer uma relação de escuta, diálogo, respeito às individualidades e crenças, tornando o processo cirúrgico menos estressante a partir do momento em que o paciente recebe os cuidados e as orientações adequadas, claras e acolhedoras em todos os momentos. No pré-operatório, o enfermeiro deverá ser empático às ansiedades do paciente, esclarecendo suas dúvidas sobre o procedimento de forma clara e explícita, respeitando-o e conhecendo-o da melhor maneira para que também consiga exercer seu papel profissional, realizando as previsões sobre possíveis complicações e necessidades do paciente no trans e pós- 21 operatório (BEDIN; RIBEIRO; BARRETO, 2005; CORBANI; BRÊTAS; MATHEUS, 2009; DESLANDES, 2004). Durante o procedimento, no transoperatório, cabe ao enfermeiro tornar o momento o menos invasivo possível, respeitando e cuidando para que os posicionamentos não promovam outros problemas para o paciente. No pós-operatório cirúrgico, o enfermeiro terá uma postura humanizada, ao estar ao lado da pessoa que está acordando em um local desconhecido, cercado por rostos incomuns à sua vivência. Tais pontos, como dito anteriormente, poderão ser geridos e orientados para a execução pela SAEP, ao ponto de o cuidado humanizado estar tão implícito às rotinas diárias quanto a conferência de dados pessoais e patologias do paciente. O trabalho da enfermagem tem como objetivo fornecer o melhor cuidado a seu paciente ou a populações em todos os níveis de atenção. Hoje em dia, a qualidade da assistência em enfermagem está atrelada ao desenvolvimento de práticas baseadas em evidências, que atuam como fio guia para a tomada de decisão clínica no cuidar. A prática baseada em evidências é a utilização simultânea da melhor evidência científica, da experiência clínica e das preferências dos pacientes. Sua implementação envolve diferentes aspectos, como atributos pessoais, contexto da organização, acesso a recursos e insumos, etc. 5 A ENFERMAGEM NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE O perfil da Enfermagem no Brasil é um levantamento amostral do contingente de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em atividade no País no ano de 2013. Abrange aspectos sociodemográficos, formação profissional, acesso à informação técnico-científica, o mundo do trabalho e aspectos político-ideológicos. Para isso, baseou-se em dados de todas as unidades da federação e, posteriormente, de cada região brasileira, para então traçar o perfil nacional. 22 Fonte:esquerdaonline.com.br O conjunto das três categorias profissionais que compõe a equipe de enfermagem, é constituída de 1.804.535 profissionais, sendo 414.712 enfermeiros e 1.389.823 técnicos e auxiliares de enfermagem. A enfermagem representa a metade da força de trabalho em saúde, sendo impossível imaginar, hoje, um serviço de saúde sem a presença desse profissional (MACHADO, 2015). A importância da profissão no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentando as principais características da enfermagem: perfil formativo, distribuição geográfica dos enfermeiros, técnicos e auxiliares, atividades que desenvolvem e outros aspectos relacionados com o trabalho que esse contingente de trabalhadores realiza. A demografia da enfermagem, a sua distribuição desigual no território nacional com grande concentração nas capitais e na região Sudeste, segue o mesmo modelo espacial de distribuição dos serviços de saúde no País. 23 6 DESENVOLVIMENTO DA ENFERMAGEM BASEADA EM EVIDÊNCIAS Precursora da enfermagem moderna, defendia que os cuidados em saúde deviam ser pautados em conhecimentos científicos, e não apenas nos conhecimentos empíricos, necessidade de que enfermeiros apliquem princípios científicos no cuidado em saúde afim de estabelecer uma terapêutica singular, integral e segura. Os enfermeiros devem instrumentalizar seus cuidados por meio da aproximação entre os saberes teóricos e práticos, respeitando a subjetividade de cada indivíduo e o contexto de cuidar qualidade do cuidado pode ser entendida como o grau em que os serviços de saúde prestados ao indivíduo e às populações aumenta a probabilidade de se atingir os resultados desejados em saúde e é consistente com o conhecimento profissional atual. Contudo, em muitas situações o alcance da alta qualidade no cuidado e dos melhores resultados em saúde demora a acontecer devido à lacuna existente entre a disseminação dos achados de pesquisa e a adoção das mudanças na prática (SAUNDERS; VEHVILAINEN-JULKUNEN, 2017). No mundo, existem diversas iniciativas que objetivam melhorar a qualidade e a segurança do cuidado. Para tanto, elas enfocam aspectos como acreditação dos serviços de saúde, investimento em programas de educação permanente, uso da pesquisa e adoção da prática baseada em evidências. 24 Fonte:www.12.senado.leg.br A PBE foi proposta em 1972, no Reino Unido, pelo epidemiologista Archibald Cochrane. No entanto, foi somente a partir da década de 1980 que ela ganhou força, com as reflexões de um grupo de estudos da Universidade de McMaster, no Canadá. Esse grupo propôs que a tomada de decisão clínica na medicina deveria levar em consideração aspectos como eficácia, efetividade e segurança do paciente, e as suas produções acadêmicas disseminaram os pressupostos do que hoje chamamos medicina baseada em evidências (MBE). A MBE leva em consideração os princípios envoltos na PBE, segundo os quais a experiência clínica deve ser integrada com o uso racional das melhores evidências científicas disponíveis, levando-se em consideração as preferências do paciente. Fundamentando-se na MBE, a enfermagem baseada em evidências (EBE) propõe um rompimento em relação à tradição de trabalho não sistematizado, baseado em opiniões e práticas ritualísticas infundadas. Para a EBE, a tomada de decisão sobre a assistência à saúde deve ser subsidiada pelo consenso entre as evidências mais relevantes (oriundas 25 de pesquisas clínicas, bases de dados em saúde e da opinião de especialistas na área) e as preferências do cliente (GALVÃO; SAWADA; MENDES, 2003). Para usar as pesquisas na prática, é necessário que o enfermeiro saiba como obter e interpretar as evidências científicas, considerando sempre o caráter mutável e dinâmico da ciência e, por consequência, a necessidade de se manter atualizado. Tendo isso em conta, analisemos a seguir aspectos positivos e negativos da pesquisa em algumas fontes de conhecimento. Colegas de trabalho e professores/supervisores: sanar dúvidas recorrendo-se a alguém em quem se confia é uma prática bastante comum que, além de demonstrar humildade e sinceridade, serve para a obtenção de respostas rápidas quando não se dispõe de tempo para realizar um estudo por conta própria. Nesses casos, porém, é difícil saber se a informação obtida tem base na ciência ou na experiência pessoal do profissional a que se recorreu. Não é raro que profissionais ensinem uns às outras práticas desatualizadas e/ou em desacordo com as recomendações de fontes confiáveis. Livros-texto físicos: os livros-texto costumam ser boas fontes por serem bem redigidos, apresentarem uma boa didática e cobrirem muitos aspectos sobre determinado tópico. Contudo, isso não impede que, por vezes, eles apresentem limitações, sobretudo no que diz respeito ao embasamento das ideias por eles reportadas: elas são amparadas pela ciência ou somente pela opinião e experiência do autor? Desse modo, é importante que se dê atenção não apenas à existência de referências, mas também à sua qualidade e atualidade. Mesmo um livro-texto muito bem redigido, com embasamento científico confiável e fruto de pesquisa séria pode ficar desatualizado em poucos anos devido aos novos conhecimentos que vão surgindo. Embora as mudanças sejam lentas em áreas como, por exemplo, anatomia, fisiopatologia e farmacologia, elas são, por outro lado, bastante dinâmicas com respeito às condutas relativas às intervenções e aos tratamentos — 26 por isso, é necessário ler com cautela um livro-texto que aborde essas condutas e tenha sido publicado há mais de cinco anos. Indexadores e bancos de dados: há muitos sites que realizam busca de artigos originais, como a seção PubMed da National Library of Medicine e o Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde. A sua vantagem é a indicação a uma quantidade gigantesca de artigos originais, estando alguns deles disponíveis gratuitamente. Entretanto, caberá ao enfermeiro selecionar trabalhos entre um resultado de pesquisa que poderá apresentar dezenas de milhares de artigos. Para tanto, será necessária habilidade para avaliar por conta própria a qualidade do artigo e seu rigor metodológico, interpretar seus resultados e considerar a aplicabilidade desses achados em seu contexto de trabalho. Ademais, o acesso à maior parte dos artigos não é gratuito. Buscar conhecimento dessa forma pode exigir muitas horas do profissional, além da expertise para realizar uma boa seleção entre os artigos disponíveis. (GALVÃO; SAWADA; MENDES, 2003). Revisões sistemáticas: as revisões sistemáticas compilam as pesquisas de qualidade feitas sobre determinado assunto, deixando de lado trabalhos com altos níveis de viés e, portanto, com qualidade duvidável. A maior autoridade mundial nesse quesito é a Cochrane. Outra opção é o site Evidence Alerts, que seleciona revisões sistemáticas pré-avaliadas por equipe própria. Entretanto, mesmo diante dessas compilações, ainda existe a necessidade de o enfermeiro saber avaliar a qualidade da própria revisão sistemática. Ademais, saliente-se que pode não existir revisão sistemática sobre determinado assunto, ou, ainda, existir, mas estar desatualizada. Diretrizes (ou, em inglês, guidelines): as diretrizes, quando bem confeccionadas, fornecem recomendações com base na ciência e na experiência profissional dos autores. Djulbegovi e Guyatt (2017), muitas diretrizes utilizam o sistema GRADE (do inglês Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation) para evidenciar a qualidade e o nível da evidência científica de cada recomendação. 27 No entanto, muitos assuntos não dispõem de diretrizes, e, quando as têm, é necessário que elas sejam atualizadas periodicamente. Livros-texto on-line: os livros-texto on-line buscam combinar a didática de livros-texto tradicionais com a exigência do embasamento científico e das atualizações periódicas. Abordando uma ampla variedade de assuntos, eles possibilitam ao usuário acesso fácil aos estudos que resultaram em cada recomendação. Embora haja dezenas de serviços que disponibilizam livros-texto on-line, os três sites mais associados à qualidade acadêmica, segundo Kwang et al. (2016). São o Dynamed, o Uptodate e o Best Practice. Contudo, infelizmente o acesso a esses sites não é gratuito, o que limita as pesquisas. Metabusca: existem ferramentas on-line (como o Accessss) que buscam determinado tópico em vários livros-texto on-line, guidelines, revisões sistemáticas, artigos pré-avaliados de jornal clubs, entre outros. Todavia, o seu uso é limitado pela necessidade de múltiplas assinaturas para os diversos recursos. Apresentadas algumas das fontes que podem ser utilizadas na busca por informações cientificas, cabe salientar que, para haver uma evidência cientifica, é necessária uma pesquisa obediente a critérios de viabilidade, adequação, significância/pertinência e eficácia. A viabilidade de uma pesquisa ocorre quando o resultado obtido por ela pode ser aplicado em um determinado contexto singular, levando-se em consideração os recursos humanos e os materiais disponíveis, a cultura da organizaçãoe o aspecto financeiro. Já a adequação diz respeito ao caráter apropriado ou não de uma intervenção para uma situação em específico. A significância/pertinência, por sua vez, se refere à recepção de uma intervenção pelo público, isto é, se ela foi experimentada positivamente ou não. Por fim, a eficácia é relativa à extensão do alcance do efeito pretendido por determinada intervenção. Importa observar que, para além desses critérios apresentados, também a qualidade da evidência é um fator crucial na PBE — e o profissional deve ter a competência necessária para avaliá-la. (GALVÃO; SAWADA; MENDES, 2003). 28 Segundo Botelho, Cunha e Macedo (2011), a caracterização dos tipos de evidência pode basear-se na qualidade metodológica do estudo, no tipo de incidência, na característica da amostra e na cronologia. Grau de força de evidências: Evidência forte a partir de, pelo menos, uma publicação de revisão sistemática de múltiplos experimentos controlados e randomizados, bem delineados. Evidência forte a partir de, pelo menos, uma publicação de experimento controlado, randomizado, corretamente projetado, com tamanho apropriado e em cenário clínico apropriado. Evidência forte a partir de apenas um experimento bem delineado, sem randomização, de apenas um grupo do tipo antes e depois, de coorte, de séries temporais, ou de estudos caso-controle. Evidência a partir de estudos não experimentais por mais de um centro ou grupo de pesquisa. Opiniões de autoridades respeitadas, baseadas em evidência clínica, estudos descritivos ou relatórios de comitês de especialistas. Para levar em consideração as necessidades individuais do cliente (incluindo seus valores e preferências), é imprescindível o estabelecimento de um bom vínculo entre profissional e assistido, alicerçado na empatia, no profissionalismo e na corresponsabilização. Não cabe ao enfermeiro impor condutas e prescrições, assumindo um papel paternalista e infantilizando o assistido. Esse é um erro muito comum ao qual devemos estar atentos, pois é fácil “mandar o paciente” mudar sua alimentação, perder peso, fazer exercícios regulares, parar de fumar, trabalhar menos, dormir mais, ter mais tempo de lazer, praticar sua religião, etc. Ordenar o cliente a seguir uma conduta é tanto infrutífero como frustrante, levando à culpabilização do assistido por “não se ajudar”. Uma alternativa a esse modelo paternalista, verticalizado (e até autoritário) é a corresponsabilização do cuidado, horizontalizando a relação terapêutica. Se nós como profissionais somos especialistas em nossa área de saber, o cliente é o maior especialista em si mesmo. 29 Fonte:saude.gov.br Ele sabe melhor do que ninguém quais mudanças de estilo de vida são factíveis, até onde ele está disposto a mudar, suas fortalezas e suas limitações. Assim, ao orientarmos as mudanças de estilo de vida e demais cuidados (todos com embasamento científico), não as devemos impor como uma obrigação a ser cumprida, mas, sim, elaborar metas realistas junto com o cliente. A orientação, o esclarecimento de dúvidas e a desmistificação de preconceitos é fundamental para que o usuário tenha motivação para a mudança. A falha em atingir as metas deve ser tratada como algo natural e como um ponto de recomeço, no qual novas metas serão elaboradas em conjunto. Infelizmente, outro ponto a ser considerado na individualização da assistência é o contexto socioeconômico, que limita o repertório de atividades físicas, alimentos, medicações e exames complementares que podem ser realizados. Estudos apontam para diversos benefícios da adoção da dieta mediterrânea, como redução da mortalidade após infarto agudo do miocárdio, menor mortalidade cardiovascular, redução dos níveis de 30 colesterol, redução da pressão arterial, perda de peso, dentre outros benefícios. A dieta mediterrânea é baseada no consumo de alimentos frescos e naturais, como, por exemplo, azeites, frutas, castanhas e pescados (DYNAMED, 2018). A partir do exposto, evidenciamos que por muitas razões a prática de uma instituição pode (e deve) ser particularizada, seja ela uma unidade básica de saúde, uma unidade de pronto atendimento, seja ela um ambulatório, um hospital, etc. Os estudos que alicerçam determinada PBE podem ter sido realizados em contextos muito distintos daquele do local, exigindo que se interpretem os resultados das pesquisas tendo em mente as diferenças culturais, socioeconômicas, bem como os recursos financeiros, humanos e tecnológicos disponíveis. Essa adaptação aos recursos da instituição infelizmente pode significar uma limitação na quantidade e variedade de exames complementares, uso de equipamentos ultrapassados, limitação nas medicações que podem ser prescritas, falta de material para a realização de procedimentos, realização de procedimentos com número de profissionais aquém do mínimo recomendado, entre muitos outros exemplos. Já em serviços ligados à universidade, pode ser comum a realização de exames, procedimentos e tratamentos que não estão recomendados na literatura científica, mas que fazem parte de protocolos de pesquisa da instituição. Ademais, serviços de referência podem ter resultados melhores do que os relatados na literatura. Um ambulatório de feridas com resultados particularmente bons pode levar as equipes a investirem no tratamento clínico de casos que, em outros serviços, iriam ter indicação de amputação. Em qualquer que seja o cenário, caberá à equipe realizar a PBE levando em consideração as fortalezas e as limitações de sua realidade de trabalho. Um ponto sensível a respeito da PBE é a sua relação com a experiência individual do profissional de saúde. Cabe ao enfermeiro reconhecer que seu julgamento pode ser influenciado por suas experiências pessoais e profissionais, levando-o a conclusões precipitadas e induzindo-o a considerar que sua realidade é plausível de generalização para outros contextos. Observe a seguir um exemplo 31 prático de uma situação em que a experiência pessoal pode negativamente “cegar” o julgamento de um profissional, imbuindo-o de conceitos generalizados e errôneos. Fonte:aesc.org.com.br O cotidiano de um enfermeiro de uma unidade de pronto atendimento envolve a lida constante com situações de urgência e emergência. Logo, os portadores de esquizofrenia para ali direcionados frequentemente estarão agitados e ou agressivos. Sendo assim, o enfermeiro poderá erroneamente concluir que “todos os esquizofrênicos são muito perigosos e necessitam de constante atenção” e, assim, pautar todas as suas intervenções com esquizofrênicos baseando-se nessa percepção (mesmo fora do contexto das urgências e emergências). Contudo, devemos ressaltar que cada tipo de pesquisa tem suas vantagens e limitações e cabe ao profissional discernir até onde se podem aplicar os resultados de cada uma delas. 32 7 A PBE E O ENSINO DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM O PE é organizado em cinco etapas interdependentes: coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação de enfermagem. O profissional enfermeiro é o responsável por todas as fases do PE, sendo os responsáveis por sua execução (dentro de suas competências) o técnico de enfermagem e o auxiliar de enfermagem, sob a supervisão e orientação do enfermeiro. É comum haver confusão entre os termos SAE e PE. Desse modo, faz-se necessário enfatizar que a SAE organiza o trabalho profissional, cabendo ao enfermeiro uma atuação centrada na coordenação do processo de cuidar, já o PE é uma ferramenta que orientará o cuidado e a documentação da prática profissional. A PBE vem sendo inserida na SAE a partir das exigências crescentes de produtividade e das necessidades de melhoria contínua dos processos de bens e serviços de saúde. A PBE vem para romper com um modelo de práticas vinculadasao senso comum (tradicionalmente associadas à história dos cuidados em enfermagem) e para atender à necessidade de retirar o cliente/ paciente da posição de objeto de controle e subordinação. 33 Fonte:gov.br A PBE tem relação direta com as etapas do PE, propondo que todas as etapas sejam pensadas de uma maneira integrada e qualificada. A PBE apresenta que, pela própria natureza imprevisível dos cuidados em saúde, tendo de fazer constantemente escolhas e opções diagnósticas e terapêuticas, o profissional de saúde deve respaldar suas ações no raciocínio crítico reflexivo da tríade opinião do paciente, experiência pessoal e evidências científicas. Para a implementação do PE (que está dentro da SAE), o enfermeiro necessita de competências clínicas que envolvem o pensamento crítico. Pensar criticamente é uma atitude investigativa frente a um problema identificado, aceitando evidências para assegurar a qualidade da ação que será proposta, visando à precisão e à resolutividade. O que se almeja é que esse pensamento crítico leve em conta a tríade da PBE; entretanto, isso está longe de ser a regra no cotidiano da enfermagem. 34 Com o objetivo de auxiliar os estudantes de enfermagem em relação à acurácia nas tomadas de decisão envolvidas no PE, um modelo educacional chamado Developing Nurses’ Thinking (DNT). Esse modelo se aproxima muito dos pressupostos da PBE e do ensino da PE (que está dentro da SAE). Propondo que o processo de raciocínio do estudante para o diagnóstico de enfermagem considere quatro componentes: a segurança do paciente, o domínio dos conhecimentos, os processos de pensamento crítico da enfermagem e a prática repetida. A segurança do paciente envolve colocar também o receptor de cuidados como elemento de ponderação e opinião no tratamento em saúde. O domínio do conhecimento pode ser entendido como uma aquisição cognitiva de conhecimentos provenientes das melhores evidências. E, por fim, a prática repetida pode ser interpretada como a experiência do profissional frente à problemática quanto mais ele vivenciar a mesma situação, melhor será sua capacidade responsiva. Sabemos que, para orientar os diagnósticos, os resultados, as intervenções e as atividades de enfermagem, o enfermeiro poderá utilizar um sistema de linguagem padronizada, como a Classificação de Intervenções de Enfermagem (NIC), a Classificação Internacional de Práticas de Enfermagem (CIPE) ou a Classificação Internacional de Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC). Entretanto, os enfermeiros devem se preocupar constantemente com a busca de evidências científicas que deem sustentação às suas intervenções/ atividades. Sendo assim, o estudo sobre evidências e resultados de pesquisas pelos trabalhadores de enfermagem nas atividades de educação permanente poderá romper com práticas não sistematizadas, robotizadas e ancoradas pela “tradição”, caminhando, assim, em consonância com a PBE. 35 8 A PBE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO O uso de evidências para melhoria do cuidado atrelado à preferência do usuário teve início na década de 1970, na Inglaterra. Esse embrião da PBE teve forte influência na área médica, sendo posteriormente incorporado, de forma paulatina, por outras especialidades, como a enfermagem. A enfermagem agregou o conceito de prática da enfermagem baseada em evidências (PEBE), uma ferramenta útil no desenvolvimento da profissão. A PEBE exige que o profissional tenha competências diversificadas voltadas para a identificação dos problemas de saúde e para a busca das melhores evidências científicas que ofertem resolutividade e auxiliem no processo decisório (PEDROSA et al., 2015). A PEBE não considera a tomada de decisão em experiências cotidianas, rotinas, opiniões infundadas e práticas não sistematizadas — ela é exatamente o contrário desse modelo fordista, segmentado e pouco qualificado. O conceito inovador destaca a adoção no cotidiano de enfermeiros do exercício da crítica, com julgamentos criteriosos e que atendam à singularidade dos indivíduos que recebem os cuidados. Além disso, essa é uma ferramenta que possibilita a gestão de um cuidar efetivo, refletindo-se direta ou indiretamente nos custos em saúde e nas taxas de eventos adversos. A PEBE emerge do conceito de enfermagem de prática avançada (EPA). Para os enfermeiros de prática avançada (nurse practitioners), o Conselho Internacional de Enfermagem (CIE) elaborou a seguinte definição: Um Enfermeiro de Clinica Avançada é um enfermeiro que adquiriu a base de conhecimentos especializados, habilidades de tomada de decisão e competências clínicas para prática expandida, cujas características são moldadas pelo contexto e ou país que é credenciado a praticar (OETTEGEN, 2018). Segundo o CIE, os nurse practitioners devem ter formação profissional em nível avançado de pós-graduação (preferencialmente mestrado ou doutorado), 36 valendo-se de conhecimentos aprofundados capazes de atender às demandas de saúde de indivíduos e comunidades. Além disso, eles devem apresentar características bem delimitadas. Sete atividades clínicas definidas pelo CIE para os enfermeiros de práticas avançadas: Autonomia para prescrever mediante protocolos. Autonomia para solicitar exames médicos mediante protocolos. Autonomia para realizar diagnóstico de enfermagem ou avaliação avançada de saúde. Autonomia para indicar tratamentos médicos. Responsabilidade sobre um conjunto de usuários. Autonomia para referenciar e contrarreferenciar usuários. Primeiro ponto de contato: ser profissional de referência do primeiro ponto de contato para usuários com condições crônicas. A NIC pode ser utilizada em situações de cuidados agudos ou crônicos, cuidados no âmbito hospitalar, domiciliar, paliativos ou primários. Entretanto, a escolha de quais das intervenções propostas pela NIC são mais adequadas para cada caso deve envolver os pressupostos da PBE: experiência pessoal, opinião paciente e evidência cientifica. A incorporação da PBE implica uma mudança de atitude dos profissionais e das instituições, que, em conjunto, vão favorecer ambientes acolhedores que propiciem trocas de conhecimentos entre todos os envolvidos no cuidar, de profissionais a pacientes. Weber et al. (2019), que teve como objetivo revisar a produção científica sobre a influência da PEBE nos cuidados em saúde, aponta que há um movimento crescente em diversos setores no sentido de implementar práticas de enfermagem pautadas em evidências, com destaque para as unidades de tratamento intensivo (UTI). As autoras inferem que UTIs são ambientes de cuidados altamente especializados e complexos que demandam rapidez de ação da equipe de enfermagem. Sendo assim, tornam-se necessários o aperfeiçoamento e a concentração de recursos materiais e humanos que subsidiem intervenções adequadas para cuidados de maior complexidade. As evidências devem ser 37 buscadas a fim de sustentar efetivamente as decisões clínicas de diagnóstico, intervenção e resultados do paciente. A concretização de cada passo pode ser desafiadora no cotidiano da enfermagem, mas o cuidado baseado em evidências é fundamental para a afirmação da enfermagem como ciência. Além disso, a implementação da PBE permite que o enfermeiro desenvolva competências que intensificam seu julgamento clínico, possibilitam a incorporação de inovações e qualificam as tomadas de decisões para os problemas envoltos no cotidiano do cuidar. Para finalizar e contribuir para a solidificação de seus conhecimentos, apresentamos um último exemplo de aplicação na prática dos pressupostos da PBE. Ele diz respeito a uma situação de atendimento na área de saúde mental em uma unidade básica de saúde (UBS). 38 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEDIN, E.; RIBEIRO, L. B. M.; BARRETO,R. A. S. S. Humanização da assistência de enfermagem em centro cirúrgico. 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