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Leonardo Birnfeld Kurtz | 157 
 
 
Walker, C.B.F, 1987 
 
 As formas corresponderiam às datações de 3000, 2400 e 650 a.C. É 
possível observar um processo de abstração, no qual o pictograma prati-
camente perde seu referencial “real” para tornar-se escrita propriamente 
dita (Walker, 1987). Vale destacar a simplicidade da formação dos sinais 
em que, basicamente, ocorriam dois tipos: o “triângulo com a haste” e ape-
nas o “triângulo”, sendo que esses dois seriam angulados e combinados 
em diferentes formas para compor um sinal. 
Duas consequências linguísticas do desenvolvimento do cuneiforme 
sumério foram a homofonia e polissemia. Em diversos casos, um mesmo 
sinal com seu respectivo som teria diversos sentidos, ou diferentes sinais 
poderiam ter o mesmo som. Para organizar essas peculiaridades, os pes-
quisadores desenvolveram métodos de diferenciar as sílabas iguais entre 
si utilizando acentos ou números (Foxgov, 2021; Halloran, 2018; Hayes, 
1990; Otto, 2003; Walker, 1987). Seguem exemplos para gi: 
 
 
ochre, 2021 
158 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa 
 
 
No primeiro caso, temos a designação de junco, no segundo, um 
verbo com diversas possibilidades de sentidos como virar, retornar, mudar 
e voltar, o terceiro também é um verbo cujo significado está vinculado ao 
ato de entrelaçar2 – os três sinais são homófonos e polissêmicos. Outro 
aspecto interessante é a formação dos sinais claramente derivados do pri-
meiro. Os diversos casos de homofonia demonstram a importância do 
contexto do discurso para ajudar o leitor a compreender algo escrito. Além 
disso, o sumério se destaca por ser pouco específico; boa parte do sentido, 
tempo verbal, preposições, entre outros aspectos, devem ser inferidos a 
partir do contexto em que os sinais estão colocados (Hayes, 1990; Walker, 
1987). 
Cabe agora exemplificar alguns aspectos específicos da escrita cunei-
forme do sumério para que se entenda aspectos estruturais. Importante 
pontuar que o sumério é compreendido por dois prismas que inevitavel-
mente poluem a possibilidade de algum dia realmente compreendermos a 
língua. Primeiro, que o sumério foi descoberto e inicialmente decifrado 
através do acádio, uma língua semita que teve diversos aspectos empres-
tados do sumério. Segundo, que todo o nosso arcabouço conceitual, 
constantemente dependendo de comparações, dificulta a caracterização e 
compreensão da estrutura do sumério (Hayes, 1990; Otto, 2003). 
Em termos gerais, o sumério era uma língua aglutinante e semi-er-
gativa, que era escrita através de vogais e sílabas sem repetição de 
consoantes. Aglutinante, pois suas frases eram formadas de logogramas, 
“palavras” que reservavam um sentido e não poderiam ser alteradas, e 
silabogramas, indicadores fonéticos e determinativos que se agregavam a 
 
2 Definição a partir do Dicionário inglês de cuneiforme sumério MUG SAR, editado por Peter e Tara Hogan. 
Facilmente acessível na internet.

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