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Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu- ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. TEORIA No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui- dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa- cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. MULTIMÍDIA Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co- nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi- culta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial me- morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi- venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo- cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. VIVENCIANDO Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa- zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re- solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica- ções dadas em sala de aula. APLICAÇÃO DO CONTEÚDO Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-las com tranquilidade. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte- údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos estudos e até a resolução dos exercícios. DIAGRAMA DE IDEIAS © Hexag SiStema de enSino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2022 Todos os direitos reservados. Coordenador-geral Raphael de Souza Motta reSponSabilidade editorial, programação viSual, reviSão e peSquiSa iConográfiCa Hexag Sistema de Ensino editoração eletrôniCa Felipe Lopes Santos Letícia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira projeto gráfiCo e Capa Raphael de Souza Motta imagenS Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Pixabay (https://www.pixabay.com) ISBN: 978-65-88825-97-6 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusi- vo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2022 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br SUMÁRIO ENTRE LETRAS GRAMÁTICA 5 AULAS 1 E 2: FORMAÇÃO DE PALAVRAS 7 AULAS 3 E 4: ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS 15 AULAS 5 E 6: VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO 23 AULAS 7 E 8: VERBOS: MODO IMPERATIVO E VOZES VERBAIS 30 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 33 AULA 1: FUNÇÕES DA LINGUAGEM I 35 AULA 2: FUNÇÕES DA LINGUAGEM II 38 AULA 3: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA I 40 AULA 4: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA II 42 LITERATURA 43 AULAS 1 E 2: FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO LITERÁRIO: ARTE E TÉCNICA 45 AULAS 3 E 4: TROVADORISMO E HUMANISMO 54 AULAS 5 E 6: RENASCIMENTO: CLASSICISMO E LUÍS VAZ DE CAMÕES 63 AULAS 7 E 8: QUINHENTISMO E ESTÉTICA BARROCA 70 Co m pe tê n Ci a 1 Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociaisque são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Co m pe tê n Ci a 2 Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Co m pe tê n Ci a 3 Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Co m pe tê n Ci a 4 Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Co m pe tê n Ci a 5 Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Co m pe tê n Ci a 6 Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constitu- ição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional. Co m pe tê n Ci a 7 Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Co m pe tê n Ci a 8 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Co m pe tê n Ci a 9 Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tec- nologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA GRAMÁTICA 6 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS UFMG Dentre os temas abordados neste ca- derno, o de maior incidência no ENEM é o uso de tempos verbais. Os demais temas são de aplicação bastante es- porádica. As maiores ocorrências no vestibular da Fuvest são regência verbal e normas pa- drão e coloquial. É comum que a prova exija do candidato conhecimentos sobre aspectos morfossintáticos. Convém aten- tar-se sobre advérbios, tempos e vozes verbais. Como uma prova transversal, a exigência de conhecimentos tende a se alargar a outros assuntos. Dessa maneira, é com- preensível que se veja os significados textuais que a mudança de classes de palavras, a pontuação ou mesmo aspec- tos coesivos podem provocar no texto. Vê-se maior incidência de temas que se orientam sobre os processos de forma- ção de palavras e a utilização das vozes verbais. No mais, assuntos como a apli- cação de classes de palavras em determi- nados contextos surgem com frequência. Bastante objetivo, o vestibular da Unesp exige domínio acerca dos sentidos deno- tativos e conotativos que uma palavra pode ter em determinado contexto, além da compreensão de classes gramaticais. Tempos verbais e suas aplicações tam- bém são frequentes. Nesse vestibular, aspectos semânticos de um termo dentro de seu contexto são o ponto de partida para a resolução das questões. Também, poderá ser exigido do candidato compreender as possibilidades de variação linguística. Os temas de maior incidência são a com- preensão conotativa e denotativa de ter- mos no âmbito de determinado texto e o uso das pontuações para a construção de sentido. Além disso, temas que atra- vessam conhecimentos a respeito das classes gramaticais. Concordâncias verbal e nominal, regên- cia e aspectos sintáticos na dinâmica de um texto aparecem com frequência nas provas. De igual modo, as diferentes situações que conduzem a pontuação também aparecem com frequência. Bastante direto e objetivo, o vestibular da Santa Casa faz exigências de com- preensão sobre vozes verbais e classes gramaticais. É seguro, então, entender os procedimentos textuais que configuram as especificidades destes temas. Tam- bém, a atenção à pontuação é uma constante. A prova da UEL cobra conhecimentos gramaticais apenas na segunda fase. Questões que associam a semântica à interpretação de textos literários são co- muns, além de um trabalho mais direcio- nado à formação de palavras e às classes gramaticais (substantivo, adje- tivo e verbo). A Semântica é trabalhada em contexto, sempre em comparação e por relações de equivalência. Além disso, questões objeti- vas que abordem a Morfologia do portu- guês podem, também, aparecer com uma grande incidência. Questões que exigem conhecimentos sobre elementos coesivos e figuras de linguagem, bem como aspectos se- mânticos que podem aparecer em um texto, seja por expressõesdenotativa ou conotativa. O uso de vozes verbais e os processos de formação de palavras. Igualmente, o sentido de determinado tempo verbal na dinâmica textual, bem como os prejuízos que a mudança de um modo verbal a outro pode provocar a um texto. Os temas de maior incidência são classes de palavras e pontuação. Por isso, com- preender aspectos morfológicos e recur- sos coesivos é essencial para a resolução de suas questões. Essa prova é bastante flexível no que diz respeito aos temas que aborda. Faz exi- gências sobre tempos e modos verbais, elementos coesivos e funções sintáticas. Apesar disso, de modo geral, suas questões são bastante objetivas. 7 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Morfologia: formação de palavras Neste tópico, estudaremos os processos de estruturação e formação de uma palavra em língua portuguesa. Palavra: unidade linguística de som e significado que entra na composição dos enunciados da língua. Embora representem uma totalidade, as palavras podem ser decompostas de modo que reconheçamos as unida- des menores que as compõem. Esses elementos menores são todos dotados de significação e recebem o nome de morfemas. Morfema: unidades mínimas de uma palavra, que pos- suem significação. 1.1. Morfemas § Radical (morfema lexical): é a parte da palavra que contém o seu significado básico e também é comum às palavras chamadas de cognatas (que pertencem à mesma família etimológica). Exemplos: terra; terreiro; terrestre; enterrar. § Afixos (morfemas gramaticais): são elementos que se juntam ao radical para formar novas palavras. Podem aparecer antes do radical (prefixos) ou depois do radical (sufixos). Exemplos: desfazer (radical com encaixe de um prefixo) recentemente (radical com encaixe de um sufixo) § Desinências: são os morfemas que indicam flexões de palavras variáveis. São subdivididas em desinência- -nominal (em que ocorrem flexões de gênero e de nú- mero) e desinência-verbal (com flexão modo-tempo e número pessoa). Exemplos: a) desinência-nominal: garota / garotas / exaus- ta / exaustas b) desinência-verbal: derrubar / derrubamos / derrubassem / derrubaria § Vogal temática: é um morfema vocálico que se acrescenta aos radicais antes das desinências. Temos dois tipos: a) Vogal temática nominal Em radicais nominais (paroxítonos ou proparoxítonos) são acrescentadas as vogais átonas “-a”, “-e” ou “-o” que in- dicarão classe gramatical. Exemplo: revista / inteligente b) Vogal temática verbal Indicam a conjugação dos verbos. Funcionam da seguinte maneira: Vogal “-a” = (1ª conjugação) / Vogal “-e” = (2ª conjugação) / Vogal “-i” = (3ª conjugação) Exemplo: convida / escreve / sorri Palavras primitivas e derivadas O conceito de palavras primitivas e derivadas é bastan- te complexo e maleável, dependendo de uma observa- ção cuidadosa de determinadas palavras. No geral, palavras primitivas são aquelas que não de- rivam de outras; já as palavras derivadas, originam-se de palavras primitivas. Em geral, são consideradas pala- vras primitivas substantivos que designam objetos, es- paços, materiais ou circunstâncias (Exemplos: flor, pedra, banana, avião, tempo, ano, dia, mar, ferro, chuva, entre FORMAÇÃO DE PALAVRAS COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 1, 2, 3, 4, 26 e 27 LC AULAS 1 E 2 8 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s outras palavras). São dessas palavras anteriormente citadas que surgem as palavras derivadas (Exemplos: florista, pedreiro, bananeiro, temporal, diário, marítimo, chuvoso, entre outras). Também temos tempos verbais primitivos. Em geral, são verbos no infinitivo onde não seja possível pres- supor a existência de um substantivo que se refira a algum objeto (Exemplo: falar, dançar, cair, correr, seriam verbos primitivos. Já um verbo como “ancorar” nos per- mite recuperar um substantivo primitivo que designa um objeto: “âncora”). § Vogal e consoante de ligação As vogais e consoantes de ligação são elementos que unem determinados radicais a certos sufixos que facilitam ou, ainda, possibilitam a leitura de uma palavra. Não são considerados morfemas, uma vez que não possuem se- mântica / sentido. Exemplo 1: trico – t – ar (a letra “t” é a consoante que liga o radical “tricô” ao sufixo formador de verbos no infinitivo “-ar”. Exemplo 2: gas – ô – metro (a letra “o” é a vogal que liga o radical “gás” ao sufixo formador de substantivos “-metro”. 1.2. Processos de formação Basicamente, as palavras da língua portuguesa são for madas pelos processos de derivação e composição. Além des- ses, também temos outros processos que contribuem para a criação de novas palavras, como a onomatopeia, o neolo- gismo e o hibridismo. 1.2.1. Formação por derivação Em geral, no processo de formação por derivação, a pala- vra primiti va (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. Há também outros processos que não envolvem encaixe de prefixo ou sufixo. Vejamos: § Derivação prefixal: acréscimo de prefixo à palavra primitiva. Exemplo: in-capaz. § Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à palavra primitiva. Exemplo: papel-aria. § Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se um prefi- xo e um sufixo a um mesmo radical de modo sequencial, ou seja, os afixos não são encaixados ao mesmo tempo. Percebe-se facilmente, ao remover um dos afixos, a pre- sença de uma palavra com sentido completo. Exemplo: in-feliz-mente. § Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de um prefixo e de um sufixo a um mesmo radical ou à palavra primitiva. Em geral, as formações parassintéticas originam- -se de substantivos ou adjetivos para formarem verbos. Exemplo: en-triste-cer. § Derivação regressiva: ocorre redução da palavra pri- mitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abstra- tos por derivação regressiva de formas verbais. Exemplo: ajudar >>> (a) ajuda. § Derivação imprópria: ocorre a alteração da classe gramatical da palavra primitiva. Exemplo: olhar (verbo) >>> (o) olhar (substantivo). 1.2.2. Formação por composição Nos processos de formação de palavras por composição, ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com significados distintos formam uma nova palavra com um novo significado. São dois os processos de formação por composição: § Composição por justaposição: quando não ocorre a alteração fonética das palavras. A justaposição tam- bém pode ocorrer por hifenização. Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva). § Composição por aglutinação: quando ocorre alte- ração fonética, em decorrência da perda de elementos das palavras. 9 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Exemplos: aguardente (água + ardente); embora (em + boa + hora). 1.3. Outros processos 1.3.1. Hibridismo No processo de formação por hibridismo, as palavras compostas ou derivadas são constituídas por elementos originários de línguas diferentes: § grego + latim: automóvel e monóculo § latim + grego: sociologia, bicicleta § árabe + grego: alcaloide, alcoômetro § tupi + grego: caiporismo § africano + latim: bananal § africano + grego: sambódromo § francês + grego: burocracia 1.3.2. Neologismo Neologismo é o nome dado ao processo de criação de novas palavras. São três tipos: Semântico (a palavra já existe no dicionário, mas adquire um novo significado); Le- xical (criação de uma palavra nova, sem necessariamente seguir regras formais); Sintático (construção sintática que passa a ter um significado específico). Exemplos: Originalmente, a palavra bonde significava certo veículo utilizado como meio de transporte. Hoje, na variedade linguística utilizada por falantes inse- ridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo significado para a palavra bonde: turma, galera. É comum formar verbos a partir de palavras do meio da informática, como googlar (procurar noGoogle), twittar (escrever no Twitter) ou resetar (de reset). Neste poema, o autor joga com os diferentes sentidos produzidos por morfemas iguais ou semelhantes. Diversonagens suspersas (Paulo Leminski) Meu verso, temo, vem do berço. Não versejo porque eu quero, versejo quando converso e converso por conversar. Pra que sirvo senão pra isto, pra ser vinte e pra ser visto, pra ser versa e pra ser vice, pra ser a super-superfície onde o verbo vem ser mais? Não sirvo pra observar. Verso, persevero e conservo um susto de quem se perde no exato lugar onde está. Onde estará meu verso? Em algum lugar de um lugar, onde o avesso do inverso começa a ver e ficar. Por mais prosas que eu perverta, não permita Deus que eu perca meu jeito de versejar. (Paulo leminski, in: Toda Poesia) multimídia: poema • poesia 10 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s VIVENCIANDO A tabela abaixo traz significados de prefixos e radicais, alguns frequentemente usados no dia a dia. Prefixos latinos Significados Exemplos a–, ab–, abs– afastamento, separação abstenção, abdicar a–, ad–, ar–, as– aproximação, direção adjunto, advogado, arribar, assentir ambi– ambiguidade, duplicidade ambivalente, ambíguo ante– anterioridade anteontem, antepassado aquém– do lado de cá aquém-mar bene–, bem– excelência, bem beneficente, benfeitor bis–, bi– dois, duas vezes, repetição bípede, binário, bienal com– (con–), co– (cor–) companhia, contiguidade compor, conter, cooperar contra– oposição controvérsia, contraveneno cis– posição, aquém de cisandino, cisalpino de–, des– separação, privação, negação, movimento de cima para baixo deportar, demente, descrer, decair, decrescer, demolir dis– separação, negação dissidência, disforme e– ,en– ,em– introdução, superposição engarrafar, empilhar e–, es–, ex– movimento para fora, privação emergir, expelir, escorrer, extrair, exportar, esvaziar, esconder, explodir extra– posição exterior, excesso extraconjugal, extravagância intra–, posição interior intrapulmonar, intravenoso i–, im–, in– negação, mudança ilegal, imberbe, incinerar infra– abaixo, na parte inferior infravermelho, infraestrutura justa– posição ao lado justalinear, justapor o–, ob– posição em frente, oposição obstáculo, obsceno, opor, ocorrer per– movimento através de perpassar, pernoite pos– ação posterior, em seguida pós-datar, póstumo pre– anterioridade, superioridade pré-natal, predomínio pro– antes, em frente, intensidade projetar, progresso, prolongar preter–, pro– além de, mais para frente prosseguir re– repetição, para trás recomeço, regredir retro– movimento mais para trás retrospectivo Radicais latinos Significados Exemplos aristo– melhor, nobre aristocracia arqueo– antigo arqueologia, arqueólogo anthos– flor antologia, crisântemo, perianto atmo– ar atmosfera auto– mesmo, próprio autoajuda, autômato baro– peso, pressão barômetro, barítono biblio– livro bibliófilo, biblioteca 11 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s VIVENCIANDO Radicais latinos Significados Exemplos bio– vida biologia, anfíbio caco– mau cacofonia, cacoete cali– belo caligrafia, calígrafo carpo– fruto pericarpo céfalo– cabeça cefalópodes, cefaleia, acéfalo cito– célula citoplasma, citologia copro– fezes coprologia, coprófagas cosmo– mundo microcosmo, cosmonauta crono– tempo cronômetro, diacrônico dico– em duas partes dicotomia, dicogamia eno– vinho enologia, enólogo entero– intestino enterite, disenteria etno– povo étnico, etnia, etnografia filo–, filia– amigo, amizade filósofo, filantropia fono– som, voz fonética, disfônica gastro– estômago gastrite, gastronomia hemo– sangue hemorragia, hemodiálise hidro– água hidravião, hidratação higro– úmido higrófito, higrômetro hipo– cavalo hipódromo, hipopótamo –ambulo que anda noctâmbulo, sonâmbulo –cida que mata fraticida, inseticida –cola que habita arborícola, silvícola –cultura que cultiva triticultura, vinicultura –evo idade longeva, longevidade –fero que contém ou produz mamífero, aurífero –fico que faz ou produz benéfico, maléfico –forme que tem a forma cordiforme, uniforme –fugo que foge vermífugo, centrífugo –grado grau, passo centígrado –luquo que fala ventríloquo –paro que produz ovíparo –pede pé velocípede, bípede –sono que soa uníssono –vago que vaga noctívago –voro que come carnívoro, herbívoro, onívoro 12 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s VIVENCIANDO Prefixos gregos Significados Exemplos acro– alto acrobata, acrópole aero– ar aerodinâmica agro– campo agrônomo, agricultura antropo– homem antropofagia, filantropo homo– igual homônimo, homógrafo idio– próprio idioma, idioblasto macro–, megalo– grande, longo macronúcleo, megalópole metra– mãe, útero endométrio, metrópole meso– meio mesóclise, mesoderma micro– pequeno micróbio, microscópio mono– um monarquia, monarca necro– morto necrópole, necrofilia, necropsia nefro– rim nefrite, nefrologia odonto– dente odontalgia, odontologia oftalmo– olho oftalmologia, oftalmoscópio onto– ser, indivíduo ontologia orto– correto ortópteros, ortodoxo, ortodontia pneumo– pulmão pneumonia, dispneia Radicais gregos Significados Exemplos –agogo o que conduz demagogo, pedagogo –alg, –algia sofrimento, dor analgésico, cefalalgia, lombalgia –arca o que comanda monarca, heresiarca –arquia comando, governo anarquia, autarquia, monarquia –cracia autoridade, poder aristocracia, plutocracia, gerontocracia –doxo que opina paradoxo, heterodoxo –dromo corrida, pista hipódromo –fagia ato de comer antropofagia, necrofagia –fago que come antropófago, necrófago –filo, –filia amigo, amizade bibliófilo, xenófilo, lusofilia –fobia inimizade, ódio, temor xenofobia –fobo aquele que odeia xenófobo, hidrófobo –gamia casamento monogamia, poligamia –gene que gera, origem heterogêneo, alienígena –gênese geração esquizogênese, metagênese –gine mulher andrógino, ginecóforo –grafia descrição, escrita caligrafia, geografia 13 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s VIVENCIANDO Radicais gregos Significados Exemplos –gono ângulo pentágono, eneágono –latria que cultiva idolatria –log, –logia que trata, estudo psicólogo, andrologia –mancia adivinhação cartomante, quiromancia –mani loucura, tendência megalomaníaco –mania loucura, tendência cleptomania –metro que mede barômetro, termômetro –morfo forma, que tem a forma amorfa, zoomórfico –onimo nome sinônimo, topônimo –polis, –pole cidade metrópole –potamo rio mesopotâmia, hipopótamo –ptero asa helicóptero –scopia o que faz ver endoscopia, telescópio –sofia sabedoria, saber filosofia, teosofia –soma corpo cromossomo –stico verso monóstico, dístico –teca lugar, coleção biblioteca, hemeroteca –terapia cura, tratamento hidroterapia –tomia corte, divisão vasectomia, anatomia –topo lugar topografia, topônimo –tono tom barítono, monótono 14 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS GRAMÁTICA NORMATIVA MORFOLOGIA FORMAÇÃO DE PALAVRAS COMPOSIÇÃO ARTIGO SUBSTANTIVO ADJETIVO VERBO ADVÉRBIO PRONOME NUMERAL PREPOSIÇÃO CONJUNÇÃO INTERJEIÇÃO DERIVAÇÃO • SUFIXAL • PREFIXAL • IMPRÓPRIA • REGRESSIVA • PARASSINTÉTICA FORMAÇÃO DE PALAVRAS A PARTIR DE UM ÚNICO RADICAL FORMAÇÃO DE PALAVRAS COM MAIS DE UM RADICAL CLASSES DE PALAVRAS ESTUDO DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS • JUSTAPOSIÇÃO • AGLUTINAÇÃO 15 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Artigo Artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um marcador pré-nominal), com a função inicial de determiná- -lo ou indeterminá-lo. Subdivide-se em dois grupos: defini- dos e indefinidos. § Artigos definidos: determinam o substantivo de ma- neira precisa. São eles: o(s), a(s). Exemplo: Preciso quevocê me traga a cadeira branca. (O artigo definido marca a necessidade de se pegar uma cadeira determinada.) § Artigos indefinidos: dão ao substantivo um caráter vago / impreciso. São eles: um(uns), uma(s). Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira branca. (O artigo indefinido marca a possibilidade de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada.) 1.1. Artigo combinado com preposições A contração de artigos com preposições é um movimento essencial para a demarcação de sentido em construções textuais. Muitas vezes, fazer ou não fazer a contração do artigo com a preposição pode alterar significativamente o entendimento que se tem de um texto. Esses eventos tex- tuais serão discutidos no próximo tópico (o artigo aplicado ao texto). Ficaremos aqui com as possibilidades de contra- ção do artigo com a preposição. Preposições Artigos o, os a, as * um, uns uma, umas a ao, aos à, às * — — de do, dos da, das dum, duns duma, dumas em no, nos na, nas num, nuns numa, numas por pelo, pelos pela, pelas — — * a junção de “a” (PrePosição) + “a” (arTigo) é o que dá origem ao fenômeno da crase, que será discuTido em momenTo oPorTuno. 1.2. Artigo aplicado ao texto O artigo talvez seja uma das classes gramaticais mais su- bestimadas da língua portuguesa, e isso ocorre, principal- mente, pelo fato de, em âmbito escolar, ser apresentado apenas em suas características estruturais mais básicas, sem o devido aprofundamento semântico ou textual que os vestibulares costumam abordar. Por esse motivo, apre- sentaremos a seguir as aplicações textuais do artigo. 1.2.1. Artigo como marcador de quantidade A presença ou ausência do artigo pode servir como quan- tificador de elementos. Exemplos: Casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assalta- da. (A ausência de artigo indica que há mais de uma casa de câmbio na rua). A casa de câmbio da Rua do Ouvidor foi assal- tada. (A presença de artigo indica que há apenas uma casa de câmbio na rua). 1.2.2. Artigo como marcador de convívio/intimidade A presença ou ausência do artigo pode servir como algo que marca certos afetos em relação aos indivíduos. Exemplos: A gerência será assumida por Gerson Soares, do almoxarifado. (A ausência de artigo indica distanciamento de Gerson, marcando o fato de que, possivelmente, nem todos o conheçam.) A gerência será assumida pelo Gerson Soares, do almoxarifado. (A presença de artigo indica intimida- de com Gerson, podendo demarcar a ideia de que muitas pessoas da empresa conhecem o Gerson.) ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 1, 2, 3, 4, 26 e 27 LC AULAS 3 E 4 16 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1.2.3. Artigo marcando conhecimento ou desconhecimento de substantivos Os artigos definido e indefinido podem marcar o conheci- mento ou o desconhecimento de certos assuntos conduzi- dos por substantivos. Exemplos: Foi localizado, ontem, o jovem serial-killer que havia fugido da cadeia. (O artigo definido nos transmite a ideia de que a notícia da fuga do jo- vem era de conhecimento dos leitores, ou seja, o substantivo era conhecido.) Foi localizado, ontem, um jovem serial-killer que havia fugido da cadeia. (O artigo indefinido nos transmite a ideia de que a fuga do jovem era no- vidade para os leitores, ou seja, o substantivo era desconhecido.) 1.2.4. Artigo como particularizador ou generalizador Exemplos: Garfield é um gato. (O artigo indefinido marca a ideia de que Garfield é mais um entre os vários ga- tos no mundo, ou seja, generaliza o substantivo.) Garfield é o gato. (O artigo definido marca a ideia de que Garfield é um gato especial em relação a outros gatos, ou seja, particulariza e destaca o substantivo.) 1.2.5. Artigo como marcador de coerência textual Para marcarmos coerência textual, muitas vezes nos vale- mos das capacidades de determinação e indeterminação dos artigos. Exemplos: Uma feira de livros usados terá início nesse fim de semana, em Sorocaba. A feira contará com a participação de sebos e livrarias da região... No exemplo apresentado, constatamos que, quando pre- cisamos introduzir uma informação que nosso interlocu- tor desconhece, utilizamos primeiro um artigo indefinido e, depois de apresentado o substantivo, (no caso, “feira”) começamos a demarcá-lo a partir do artigo definido. Há também outra possibilidade de organização: Exemplos: — Então, como é o sítio? — Bem, é um sítio antigo, retiramos a água do poço, mas é bastante tranquilo... Nesse segundo exemplo, a coerência textual é definida quando é apresentado um substantivo definido que nosso interlocutor conhece. Para satisfazer a demanda de expli- cação, o interlocutor abre sua explicação marcando o subs- tantivo com artigo indefinido. fonTe: YouTube A canção, em seu refrão, recorre às propriedades semân- ticas do emprego dos artigos: “Ele é o homem /Eu sou apenas uma mulher”. Esse cara (Caetano Veloso) Ah! Que esse cara tem me consumido A mim e a tudo que eu quis Com seus olhinhos infantis Como os olhos de um bandido Ele está na minha vida porque quer Eu estou pra o que der e vier Ele chega ao anoitecer Quando vem a madrugada ele some Ele é quem quer Ele é o homem Eu sou apenas uma mulher multimídia: letra e música 2. Substantivo Classe de palavras variável que dá nome a seres reais ou imaginários (pessoas, animais ou objetos), lugares, quali- dades, ações ou sentimentos. Em suma, que pode ter exis- tência concreta ou abstrata. É importante, pensando em provas de vestibular, que consigamos entender que os conhecimentos a respeito de elementos mais básicos de classificação de substanti- vos (ligados à morfologia) não são efetivamente exi- gidos em provas de vestibulares. Hoje em dia, as pro- vas esperam que os alunos saibam localizar substantivos com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver exercícios de compreensão textual (por exemplo, enten- der as funções textuais de um substantivo) ou mesmo de sintaxe. Em suma, dividiremos o conteúdo a seguir en- tre os conteúdos de baixa incidência em provas de vestibular e os conteúdos de maior incidência em provas de vestibular. Vejamos então: 17 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s I. Conteúdos de baixa incidência em provas de vestibular. 2.1. Classificação de substantivos § Próprio: nomeia determinados indivíduos de uma es- pécie (designação específica), como um homem, um país ou uma cidade específicos. Exemplos: Paulo; Pedro; Roma; Folha de S.Paulo. § Comum: nomeia, sem distinção, todos os seres de uma espécie (designação genérica). Exemplos: cadeira; porta; sala; cidade; homem. § Concreto: nomeia os seres de existência concreta, real, palpável “a pedra” ou “a porta”, por exemplo e também seres dos quais já se constituiu uma imagem histórica “a bruxa” ou “a fada”, por exemplo. § Abstrato: nomeia elementos não palpáveis, como sen- timentos, sensações, qualidades, estados, noções e ações. Exemplos: maldade; compaixão; beijo; largura. 2.2. Flexão dos substantivos 2.2.1. Número Os substantivos podem se flexionar em número, indi- cando quantidades de certos termos/elementos. Existe, a princípio, uma regra geral, e também algumas variantes que são apresentadas a seguir: § Regra geral: o plural dos substantivos terminados em vogal ou ditongo exige o acréscimo do sufixo marcador de plural “–s”. Exemplos: cadeira – cadeiras; mãe – mães; perna – pernas. Substantivos terminados em ”–ão” § Fazem o plural em “–ãos”. Exemplos: cidadão – cidadãos; irmão – irmãos; órgão – órgãos. § Fazem o plural em “–ães”. Exemplos: escrivão – escrivães; cão – cães; alemão – alemães. § Fazem o plural em “–ões”. Exemplos: canção – canções; gavião – gaviões; botão – botões. fonTe: YouTube A canção é composta por substantivos de diferentes naturezas. Nome das coisas (Karnak) Nomes se dão às coisas / Nomes se dão Nomes se dãoàs pessoas / Nomes se dão Nomes se dão aos deuses / na imensidão do céu Nomes se dão aos barquinhos / na imensidão do mar Nomes se dão às doenças / na imensidão da dor Nomes se dão às crianças / na imensidão do amor You and me Salame / Batata / Barata / Bigorna / Casa / Comida / Bicho / Paçoca /Tampinha de caneta / Bolinha de sabão / Rabo de galo /Circo / Pão / Conchinha de galinha / Coxinha do mar / Linha / Palito / Terra / Água / Ar / Seriema / Tatu / Mertiolate / Saci / Rocambole de laranja / Revista / Gibi / Pipoca / Margari- na / Lentilha / Leitão / Carrinho de feira / Terremoto / Furacão / Centopeia / Isqueiro / Cefaleia / Blefarite / Cimento / Colar / Rissole / Rinite / Armário / Geladeira / Furadeira / Cobertor / Ladeira / Pedreira / Fogueira / Extintor / Jetom / Bazuca / Suporte / Argamassa / Fio de nylon / Lamparina / Chocolate / Queratina / Juliana / Cadarço / Picareta / Beija-flor / Convida- dos / Esfiha / Chupeta / Fruta-cor /Trompete / Arame / Hepa- tite / Fac-símile / Chocalho / Geleia / Biga / Mocreia / Apolo / Nostradamus / Filarmônica / Marisa / Biriba / Pelé / Afrodite / José / Filho / Veleiro / Alá / Deus / Salomão / Peixe / Pão multimídia: letra e música Substantivos terminados em consoantes § “r“, “z“ e “n“ fazem o plural em “–es“. Exemplos: mar – mares; rapaz – rapazes. § Substantivos oxítonos terminados em “–s“ e “–z“ fa- zem o plural em “–es“. 18 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Exemplos: país – países; raiz – raízes. § Substantivos paroxítonos terminados em “–s“ são invariáveis. Exemplos: atlas – atlas; lápis – lápis. § Substantivos terminados em “–al“, “–el“, “–ol“ e “–ul“ substituem no plural o “–l“ por “–is“. Exemplo: animal – animais. § Substantivos oxítonos terminados em “–il“ fazem o plural em “–s“. Exemplos: ardil – ardis; funil – funis. § Substantivos paroxítonos terminados em “–il“ fazem o plural em “–eis“. Exemplos: fóssil – fósseis. 2.2.2. Gênero Há dois gêneros na língua portuguesa: o masculino e o feminino. Também existe uma regra geral e algumas va- riantes a serem observadas: § Regra geral: são masculinos os substantivos que po- dem ser precedidos pelo artigo “–o” e femininos os que podem ser precedidos pelo artigo “–a”. Exemplos: o poema; o pão (masculinos); a mão; a fruta (femininos). Substantivos biformes Possuem duas formas diferentes para designação de gê- nero e geralmente são formados pela substituição da desi- nência “–o” pela desinência “-a”. Exemplos: menino – menina; garoto – garota. Há também substantivos biformes formados por radicais diferentes. Exemplos: homem – mulher; cavalheiro – dama. Substantivos uniformes São aqueles que apresentam uma única forma para mar- cação de gênero: § Epicenos: usados para nomes de animais de um só gênero que designam ambos os sexos. Exemplos: a águia; a mosca; o condor; o gavião. § Comuns de dois: a marcação de gênero é feita ex- clusivamente pelos artigos. O substantivo se mantém. Exemplos: o agente – a agente; o gerente – a gerente. § Sobrecomuns: apresentam um só termo para os gê- neros masculino e feminino. Exemplos: a criança; a testemunha; o cônjuge. Observação Caso haja necessidade de especificar o sexo do ani- mal, juntam-se aos substantivos os adjetivos macho ou fêmea: Exemplos: gavião macho – gavião fêmea; tatu macho – tatu fêmea. 2.2.3. Grau Os substantivos se flexionam em grau, que marca aumento ou diminuição: § Grau normal: homem; boca. § Grau aumentativo: homenzarrão; bocarra. § Grau diminutivo: homenzinho; boquinha. § Grau diminutivo / aumentativo sintético (subs- tantivo acrescido de um sufixo que indica aumento ou diminuição): chapeuzinho, chapelão; homúnculo, ho- menzarrão; boquinha, bocarra. § Grau diminutivo / aumentativo analítico (subs- tantivo acompanhado de um adjetivo que indica au- mento ou diminuição): boca grande; homem pequeno. 19 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s II. Conteúdos de maior incidência em provas de vestibular a) Lembrar que o substantivo é chamado também de “nome” Nos estudos gramaticais, em geral, alguns elementos que não fazem parte da categoria “verbos” são denominados como elementos nominais. No entanto, vale ressaltar que o elemento nominal “por excelência” é o substanti- vo, pois ele é o elemento “nomeador” da língua. Embora seja uma informação simples (lembrar que o substantivo é chamado de “nome”), tal informação será essencial para a melhor organização dos estudos em sintaxe. Por exemplo, a categoria conhecida como adjunto adnominal é com- posta por itens que “acompanham”, que “estão juntos”, que “estão ao lado” de um elemento nominal (em ter- mos mais práticos, um “adjunto adnominal” é um item que fica “junto” do “nome”, ou “junto” do “substantivo”). Ter essa noção, ajuda a diluir a confusão que comumente ocorre quando precisamos, mais adiante, nomear determi- nadas categorias sintáticas. b) Saber que o substantivo é precedido de artigo (e que pode vir também precedido ou acompanhado de outras categorias gramaticais) O método mais prático para confirmarmos se uma palavra é, ou não, um substantivo consiste em inserirmos diante dela um artigo (o, a, um, uma ou as formas plurais desses itens). Por exemplo, desejo saber se “floresta” é um subs- tantivo. Pronuncio, então: “a floresta”. Funcionando, te- nho a confirmação de que “floresta” é um substantivo. Tal procedimento não funcionaria, por exemplo, diante de um “verbo” (por exemplo, a construção “a dormir”, não existe em português). Outro ponto relevante é que, embora seja comum utilizar- mos artigos com elementos que precedem substantivos, também podemos ter outras categorias que “acompanham” substantivos, como pronomes (“essa floresta”), numerais (“duas florestas”) e adjetivos (“florestas imensas”). c) Saber que o substantivo será o núcleo diversas funções sintáticas que serão estudadas em tópicos futuros Muitas vezes saímos da escola “abarrotados” de nomen- claturas sintáticas na cabeça, que muitas vezes temos di- ficuldade em organizar e dominar. Algo que ajudará nes- se processo é entender que, uma vez que você se torne um bom “localizador” de substantivos, você está a meio caminho de se tornar um bom “localizador” de determi- nadas categorias sintáticas. Isso porque o substantivo é núcleo (parte essencial de uma categoria sintática, que comporta maior carga de sentido) de categorias que es- tudaremos mais adiante como sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, entre ou- tras. Vejamos alguns exemplos: Exemplos: O agricultor cuida do solo Substantivo é núcleo do sujeito O agricultor cuida do solo Substantivo também é núcleo do objeto indireto d) O substantivo possui funções de organização textual A construção de um texto depende essencialmente dos substantivos, pois é deles que parte o processo de refe- rencialidade. Entende-se por referencialidade a capacidade que os subs- tantivos têm de apontar para os elementos do mundo que compõem sentido, e também de fazer com que esses sen- tidos sejam construídos à medida que novos substantivos apareçam no texto. O movimento de referencialidade parte de três pressupostos importantes: § Introdução/construção: apresenta um ou mais substantivos no texto que servirão não apenas de intro- dução, mas também como elementos que constituem / fundamentam uma ideia. É a partir desse(s) substanti- vo(s) que o texto e seu sentido são construídos. § Retomada/manutenção: usam-se outros substan¬- tivos muito similares ao(s) primeiro(s) apresentados no início do texto, que permitirão reto¬mar a ideia inicial- mente apresentada (o que contribui para a manuten- ção de sentido). § Desfocalização: é o momento do texto em que en- tram em cena novos substantivos que tomam o foco para si e ampliam os sentidosdo texto. 3. Adjetivo Classe de palavras variável que acompanha e modifica o substantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo. Assim como alertamos mais acima, pensando em pro- vas de vestibular, é importante que consigamos enten- der que os conhecimentos a respeito de elementos mais básicos de classificação de adjetivos (ligados à morfolo- gia) não são efetivamente exigidos em provas de vestibulares. Hoje em dia, as provas esperam que os 20 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s alunos saibam localizar adjetivos e locuções adjetivas com precisão, a fim de que sejam capazes de resolver exercícios de compreensão textual (por exemplo, en- tender as funções textuais de um adjetivo) ou mesmo de sintaxe. Desse modo, aqui no tópico de “Adjetivos”, também dividiremos o conteúdo a seguir entre os con- teúdos de baixa incidência em provas de vestibu- lar e os conteúdos de maior incidência em provas de vestibular. Vejamos então: I. Conteúdos de baixa incidência em provas de ves- tibular. 3.1. Nomes substantivos e nomes adjetivos No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de outras classes, entre elas os adjetivos, que se transformam em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo. Exemplos: o jovem desempregado; um desempregado jovem. § Adjetivos Pátrios e Gentílicos Derivados de substantivos, os adjetivos que in- dicam a nacionalidade de pessoas e coisas são chamados pátrios. Exemplos: brasileiro; mineiro; paranaense; paulista; português. Os que indicam etnias e povos são os adjetivos gentílicos. Exemplos: israelita; semita; europeu; africano; curdo. § Adjetivos pátrios e gentílicos compostos Exemplos: luso-brasileiro; euro-asiático; teuto-brasileiro; afro- -americano; franco-suíço; hispano-americano; aus- tro-húngaro; indo-europeu, anglo-americano. 3.1.1. Flexão do adjetivo § Número: o adjetivo toma a forma singular ou plural do substantivo que ele determina. Exemplos: aluno estudioso – alunos estudiosos; aluna apli- cada – alunas aplicadas; perfume francês – per- fumes franceses. § Plural dos adjetivos compostos: apenas o último elemento vai para o plural. Exemplos: clínicas médico-dentárias; institutos ítalo-brasileiros. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis) No primeiro capítulo, o autor trabalha com os sentidos das palavras “autor” e “defunto” em diferentes classes gramaticais. Capítulo I - ÓBITO DO AUTOR [...] Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente mé- todo: a primeira é que eu não sou propriamente um au- tor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. [...] multimídia: livro 3.1.2. Grau dos adjetivos § Comparativo: indica determinada qualidade em grau igual, superior ou inferior a outra (Comparativo de Igualdade, de Superioridade e de Inferioridade). Exemplos: Pedro é tão estudioso como (ou quanto) Rodrigo. Pedro é mais estudioso do que Rodrigo. Pedro é menos estudioso do que Rodrigo. § Superlativo: expressa determinada qualidade em grau elevado. Pode ser Superlativo Absoluto ou Relativo. O Superlativo Absoluto se apresenta como Sinté- tico (com o acréscimo de sufixos) e Analítico (com o auxílio de advérbios que dão ideia de intensidade). Exemplos: Pedro é inteligentíssimo. (Superlativo Absolu- to Sintético). Rodrigo é muito inteligente. (Superlativo Ab- soluto Analítico). O Superlativo Relativo indica qualidade em grau mais ou menos elevado em comparação à totalidade dos seres. Pode ser: Relativo de Su- perioridade e de Inferioridade. 21 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Exemplos: João é o aluno mais estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Superioridade). João é o aluno menos estudioso da classe. (Superlativo Relativo de Inferioridade). Observação 1 Há uma exceção: surdo-mudo / surdos-mudos. Observação 2 São invariáveis os adjetivos referentes a cores se o último elemento ou ambos forem substantivos: blusas vermelho-sangue; vestidos cor de rosa; blusas verde-limão. II. Conteúdos de maior incidência em provas de vestibular a) Lembrar que a posição de um adjetivo em relação a um substantivo “pode” modificar as relações de sentido. Exemplos Ele é um atleta pobre (sem recursos financeiros / sem dinheiro) Ele é um pobre atleta (um atleta medíocre / sem grandes habilidades) Embora a posição mais tradicional de inserção do adjetivo seja posterior ao substantivo, a gramática normativa autoriza a inversão de posições; desde que, é claro, estejamos atentos sobre possíveis mudanças de sentido. Nos exemplos apresen- tados acima, a mudança de posição entre as palavras “atleta” e “pobre” criou nuances variadas de sentido. É importante ressaltar que isso não ocorrerá sempre. Por exemplo, dizer que “o Brasil precisa de um jornalismo novo” e dizer que “o Brasil precisa de um novo jornalismo” (em que modificamos as posições do adjetivo “novo” em relação ao substantivo “jornalismo”) não muda efetivamente nada do ponto de vista do sentido. b) O adjetivo possui funções de organização textual Os adjetivos exercem o importante papel de auxiliar nos processos descritivos de um texto. Em termos mais claros, os adjeti- vos são responsáveis por compor sentenças que, por exemplo, caracterizem os personagens de uma narrativa (suas roupas, atitudes, etc.) ou que apresentem detalhes a respeito de uma localização (detalhes de uma cidade, ou ambiente florestal), entre outras caracterizações. Em textos literários brasileiros do período romântico, por exemplo, havia a necessidade de se evidenciar características que valorizassem a nação. Por esse motivo, encontramos obras em que há grandes processos de adjetivação caracterizando o ambiente brasileiro (o livro Iracema, de José de Alencar, é um grande exemplo). c) A locução adjetiva A locução adjetiva é uma categoria morfológica em que utilizamos duas estruturas (em geral, uma preposição + um substan- tivo) que, no final, funcionam como um único adjetivo (caracterizando um substantivo). Um detalhe importante é que a es- trutura que funciona locução adjetiva nos permite, em alguns casos, “enxergar” um adjetivo por trás dela. Vejamos exemplos: Exemplos Preciso imprimir a fatura do mês substantivo locução adjetiva (equivale ao adjetivo “mensal”) Eu levantei uma parede de concreto substantivo locução adjetiva (não há adjetivo equivalente) 22 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS ESTUDO DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS SUBSTANTIVO ADJETIVO CLASSE DAS PALAVRAS ARTIGO PALAVRA VARIÁVEL QUE DÁ NOME A SERES REAIS, IMAGINÁRIOS OU IDEIAS PALAVRA VARIÁVEL QUE SE ANTEPÕE AO SUBSTANTIVO, DETERMINANDO-O PALAVRA VARIÁVEL QUE ESPECIFICA O SUBSTANTIVO, CARACTERIZANDO-O MORFOLOGIA GRAMÁTICA NORMATIVA 23 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Verbo Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista se- mântico e morfológico, contém as noções de ação, proces- so, estado, mudança de estado e manifestação de fenôme- nos da natureza. É variável e suas flexões marcam: § pessoa: indica o emissor, o destinatário ou o ser do qual se fala. Os pronomes pessoais do caso reto in- dicam as pessoas do verbo – eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as); § número: indica se o sujeito gramatical está no singu- lar ou no plural; § tempo: localiza a ação, o processo ou o estado em relação ao momento do enunciado. Os tempos verbais são seis: presente, pretérito perfeito, pretérito imper- feito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro do pretérito; § modo: indica a atitude do emissor quanto ao fatopor ele enunciado, que pode ser de certeza, dúvida, temor, desejo, ordem, etc. Os modos verbais são: indicativo, subjuntivo e imperativo; § voz: indica o comportamento do sujeito em rela- ção ao verbo (agente, paciente ou ambos, simulta- neamente). 1.1. Conjugações verbais Conjugar um verbo compreende adicionar ao seu radical a vogal temática da conjugação ou classe a que pertence somada aos sufixos modo-temporal e número-pessoal que lhe são permitidos. Existem três conjugações verbais na lín- gua portuguesa: § 1.a conjugação: indicada pela vogal temática –a– amar, brincar, falar § 2.a conjugação: indicada pela vogal temática –e– nascer, crescer, morrer § 3.a conjugação: indicada pela vogal temática –i– dormir, sorrir, partir O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2.ª conjugação por conta de um processo fonológico ao longo da história que suprimiu a vogal temática –e–. Em um estágio anterior da língua portuguesa, a sua forma original era poer. 1.2. Classificação dos verbos 1.2.1. Verbos regulares Os verbos regulares não sofrem alteração do radical e das desinências nos diferentes tempos, modos e pessoas. O radical do verbo é obtido pela supressão das terminações do infinitivo (–r): eu mand(o) / tu mand(as) / ele mand(a) / nós mand(amos) 1.2.2. Verbos irregulares Os verbos irregulares sofrem alteração do radical e das de- sinências nos diferentes tempos, modos e pessoas. § fazer: faço, faria, fazia; § estar: estou, estive, estarei; § saber: sei, soubera, saiba. 1.2.3. Verbos anômalos Os verbos anômalos apresentam radicais diferentes ao lon- go da conjugação: § ser: sou, é, fomos; § ir: vou, fui, ia. 1.2.4. Verbos defectivos Os verbos defectivos não possuem todas as as formas para conjugação (não costumam apresentar, por exemplo pri- meira pessoa do singular): VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 1, 2, 3, 4, 26 e 27 LC AULAS 5 E 6 24 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s § reaver (composto de haver, tem apenas as formas em “v“): reavemos, reavia, reaverá; § precaver: precavemos, precavia, precavi; § latir: lates, late, latimos; § colorir: colores, colore, colorimos, coloris. OBSERVAÇÃO: Entre os verbos defectivos estão inclu- ídos os chamados verbos impessoais, usados apenas na terceira pessoa do singular: chover, trovejar, ventar, haver (existir), fazer (refere-se ao clima: faz frio; ao tem- po: faz dez anos). 1.2.5. Verbos auxiliares Os verbos auxiliares formam os tempos compostos ou lo- cuções verbais com os verbos principais: § ser (pago); § estar (curado); § ter (estudado); § haver (prometido). 1.2.6. Verbos abundantes Os verbos abundantes apresentam mais de uma forma, especificamente de particípio: § cozido e cozinhado; § morto e morrido; § imprimido e impresso. Os particípios abundantes são classificados em regula- res e irregulares. a) As formas regulares terminadas em –ado e –ido, não contraídas, acompanham os verbos auxiliares ter e haver. Ele já havia pagado a dívida. Tínhamos aceitado o convite. b) As formas irregulares, contraídas, acompanham os verbos auxiliares ser e estar. O feijão foi cozido na panela de pressão. A lâmpada foi acesa. 1.3. Formas nominais do verbo O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerúndio são chamados formas nominais do verbo porque podem funcionar como nomes – substantivo, adjetivo, advérbio. § Infinitivo O comer demais faz mal. (substantivo) O viver é bom. (substantivo) § Gerúndio Ela bebeu chá fervendo. (advérbio) Fervendo, desligue. (advérbio) § Particípio A feira foi inaugurada. (adjetivo) O parque foi inaugurado. (adjetivo) 1.4. Locução verbal Expressão formada por mais de um verbo, O primeiro verbo da sequência é chamado de auxiliar e pode apresentar flexões (de tempo, modo e pessoa); o segundo é chamado de principal e assumirá alguma das formas nominais (in- finitivo, gerúndio ou particípio). Exemplos: Eu irei estudar mais tarde. Ele está pensando que é adulto. Estamos preocupados com a situação. 1.5. Modos verbais Os modos verbais têm como objetivo indicar o “com- portamento” dos verbos em relação aos tempos (exce- to no modo imperativo, que será estudado na próxima aula). São os modos verbais que nos permitem saber se tempo utilizado em uma sentença refere-se a uma situação de certeza dos acontecimentos (modo indicati- vo) ou incerteza dos acontecimentos (modo subjuntivo). Vamos conhecê-los: 1.5.1. Tempos do modo indicativo Presente: em sua designação padrão, indica ação simul- tânea ao momento de fala. Exemplo: Só passa ônibus lotado! Por isso o ponto con- tinua cheio. Também é utilizado para exprimir outras situações além da anteriormente mencionada: a) Presente histórico ou narrativo: é articulado com informações no passado. Muito usado em narrativas para criar uma aproximação entre o fato passado e o leitor / espectador do presente. 25 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Exemplo: Em 1970, O Brasil vence a Copa do México evento passado verbo no presente b) Presente com valor de futuro: é articulado com informações no futuro. Encontramos em situações variadas, desde construções literárias mais sofisticadas, até construções mais oralizadas. Exemplo: Pode deixar, amanhã eu falo com o Roberto. evento passado verbo no presente c) Presente frequentativo ou habitual: é articulado com “marcadores linguísticos de hábito” (elementos como “todo dia”, “toda hora”, “a todo o momento”, “sempre”, entre outros). Dá ao verbo no presente a sensação de ação que é realizada frequentemente, como um hábito. Exemplo: Sempre viajamos com nossos pais para Aparecida do Norte marcador verbo no presente de hábito d) Presente durativo ou universal: é articulado em fenômenos pontuais em que conseguimos perceber uma situação que seria “imutável”. É muito comum em sentenças que apontam verdades universais, provérbios e teoremas. Ocorre fre- quentemente com verbo “ser”, mas admite outras construções. Exemplo: A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Presente durativo (verdade universal / imutável) Pretérito: indica ação anterior ao momento de fala. No modo indicativo, temos três modalidades: a) Pretérito perfeito: ação passada pontual, encerrada, já concluída. Não apresenta referência a outra ação anterior ou contemporânea. Exemplo: O gerente indicou um candidato para a vaga. pretérito perfeito (ação passada concluída) Apresenta forma composta! O pretérito perfeito composto é estruturado a partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um passado que continua a se repetir no presente. Exemplo: O novo filme de Almodóvar tem agradado crítica e público. 26 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s b) Pretérito imperfeito: em sua designação mais comum, indica ação passada não encerrada, mas também apresenta outras nuances de sentido. Vejamos: Exemplo: Ele caminhava quando o foi atingido por uma bicicleta. pretérito imperfeito (ação passada não encerrada / interrompida) Exemplo: Enquanto existiram, as Lojas Arapuã abriam as portas às 10 horas. pretérito imperfeito (ação habitual / frequente no passado) Exemplo: Pretendíamos ir à Bahia, mas os preços subiram muito. pretérito imperfeito (ação idealizada / imprecisa / vaga / não realizada) c) Pretérito mais-que-perfeito: trata-se de uma ação passada anterior a outra ação também passada. Vejamos: Exemplo: O avião já decolaraquando o passageiro atrasado chegou. pretérito mais-que-perfeito (simples) outra forma de passado Apresenta forma composta! O pretérito mais-que-perfeito composto é estruturado a partir dos verbos “ter” ou “haver” + “particípio” e indica o mesmo que a forma simples, no entanto, é mais frequentemente usado na linguagem cotidiana. Exemplo: O avião já tinha / havia decolado quando o passageiro atrasado chegou. pretérito mais-que-perfeito (composto) outra forma de passado Futuro: indica ação posterior ao momento de fala. a) Futuro do presente: indica ação futura (de realização material certa ou incerta) em relação ao presente. Apresenta também alguns usos particulares que veremos a seguir: Exemplo: O medicamento estará disponível no mercado em setembro. futuro do presente (ação futura enunciada) 27 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Exemplo: Conseguirá o grande varejista manter-se no topo? futuro do presente (usado estilisticamente para indicar incerteza) Exemplo: Na África, quantos não estarão mortos de fome! futuro do presente (usado para enfatizar fato futuro aproximado) Apresenta forma composta! O futuro do presente composto é estruturado a partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um fato que estará concluído antes de outro. Exemplo: Em dois anos, você terá terminado o seu mestrado. b) Futuro do pretérito: indica ação futura que não se concretizará por conta de uma relação com fato passado. Sua estrutura apresenta também alguns outros usos particulares que veremos a seguir: Exemplo: Eu participaria da São Silvestre se não tivesse torcido o tornozelo. futuro do pretérito ação passada que compromete ação futura Exemplo: O suspeito teria sido visto próximo à residência da vítima alguns dias antes. futuro do pretérito (indicando incerteza / condição subentendida) Exemplo: Poderia me passar os talheres, por gentileza? futuro do pretérito (recurso de polidez / delicadeza) Apresenta forma composta! O futuro do pretérito composto é estruturado a partir de verbo “ter” + “particípio” e exprime um fato que poderia ter acontecido após outro fato passado. Exemplo: a crise teria quebrado a empresa, se não fos- se o auxílio dos investidores. fonTe: YouTube Jornalista - Veja o uso do futuro do pretérito multimídia: vídeo 28 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1.5.2. Tempos do modo subjuntivo O modo subjuntivo indica, em qualquer tempo que atue, nuances de incerteza (hipóteses, suposições, fatos duvidosos, etc.). Sua adequada conjugação depende de algum elemento que, além de reafirmar a incerteza, contribua para a expressão verbal. Não há a mesma quantidade de conjugações que vimos no modo indicativo. Trabalha-se, habitualmente, com três: Presente, Pretérito Imperfeito e Futuro (há formas compostas, menos usadas, mas que também serão apresentadas). Presente Exemplo: Ainda que eu compre um novo carro, não sei se seria mesma coisa elemento de suporte presente do subjuntivo Pretérito Imperfeito Exemplo: Se houvesse tempo, eu também iria ao show elemento pretérito imperfeito do subjuntivo de suporte Futuro Exemplo: Quando mudar de ideia, ligue para o seu gerente. elemento futuro do subjuntivo de suporte Formas compostas As formas compostas do subjuntivo também indicam nuances de incerteza e dependem de algum elemento de suporte para realização da conjugação. São apenas três tempos utilizados: Pretérito perfeito composto, Pretérito mais-que- -perfeito composto e Futuro composto. Vejamos: Exemplo: É essencial que tenham discutido esse problema na reunião. elemento de suporte pretérito perfeito composto do subjuntivo Exemplo: Se você tivesse comprado na semana passada, teria pago mais barato. elemento de suporte pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo Exemplo: Daremos a resposta assim que tivermos recebido o orçamento da reforma. elemento de suporte futuro composto do subjuntivo 29 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS VERBOS MODOS SUBJUNTIVO IMPERATIVOINDICATIVO • PRESENTE • PRETÉRITO PERFEITO IMPERFEITO MAIS-QUE-PERFEITO • FUTURO DO PRESENTE DO PRETÉRITO TEMPOS • PRESENTE • PRETÉRITO IMPERFEITO • FUTURO TEMPOS VOZES MORFOLOGIA 30 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Modo imperativo O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou exortação do emissor e pode ser imperativo afirmativo ou imperativo negativo. § Se beber, não dirija! § Dorme, que já está na hora! TABELA PARA CONJUGAÇÃO DO MODO IMPERATIVO presente do indicativo imperativo afirmativo imperativo negativo presente do subjuntivo eu compro x x (ainda que) eu compre tu compras compra tu* compres tu (ainda que) tu compres ele compra compre você compre você (ainda que) ele compre nós compramos compremos nós compremos nós (ainda que) compremos nós vós comprais comprai vós* compreis vós (ainda que) vós compreis eles compram comprem vocês comprem vocês (ainda que) eles comprem *as duas Passagens do PresenTe do indicaTivo Para o imPeraTivo afirmaTivo imPlicam na Perda do “s” final que comPõe a consTrução verbal. Embora a palavra “imperativo” esteja ligada à ideia de co- mando e ordem, os verbos que compõem essa modalidade também são empregados para designar pedido, convite, sugestão, conselho ou súplica. § Faça isso agora, amor! (pedido) § Faça-nos uma visita! (convite) § Meu filho, faça sempre o melhor! (conselho) § Senhor, faça-nos esse milagre! (súplica) 2. Vozes As vozes verbais indicam o comportamento do sujeito (ati- vo, passivo ou reflexivo) em relação ao verbo apresentado. Vejamos alguns exemplo iniciais: § João cortou árvores. O fato (cortou) é praticado pelo sujeito (João). Portanto, o verbo está na voz ativa. § Árvores foram cortadas por João. O sujeito (árvores) é alvo, ou seja, sofre a ação de João. Portanto, o verbo está na voz passiva. § João cortou-se com o machado. O sujeito (João) é agente e também alvo da ação de cortar. Portanto, o verbo está na voz reflexiva. 2.1. Voz ativa Como vimos nos exemplos iniciais, na voz ativa, o sujeito da construção pratica a ação verbal. Trata-se de uma estrutura que ocorre prioritariamente com verbos transitivos diretos (VTD) ou a parte direta dos verbos bitransitivos (VTDI). Ve- jamos a estrutura: Filomena comprou mais plantas. sujeito agente VTD objeto direto 2.2. Voz passiva (analítica) Também vimos anteriormente, na voz passiva, o sujeito da construção sofre a ação verbal. Em língua portuguesa, te- mos dois modelos de voz passiva. Primeiramente, veremos a voz passiva analítica, que se trata de uma construção que, além de constatarmos um sujeito “paciente”, que sofre a ação verbal, visualizamos uma estrutura de locução verbal formada por verbo “ser” + verbo no particípio, além de uma estrutura preposicionada, chamada de agente da passiva.Edson foi incentivado pelos colegas. sujeito verbo “ser” agente paciente + da passiva verbo no particípio Atenção Em casos mais raros, podemos encontrar construções passivas analíticas com o verbo “estar” + “particípio” Exemplo: Os criminosos estavam cercados pelas au- toridades. VERBOS: MODO IMPERATIVO E VOZES VERBAIS COMPETÊNCIA(s) 1 e 8 HABILIDADE(s) 1, 2, 3 e 27 LC AULAS 7 E 8 31 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 2.3. Voz passiva (sintética) Temos um outro modelo de voz passiva em língua portu- guesa, conhecido como voz passiva sintética. Esse ou- tro modelo é originário de um fenômeno conhecido como partícula apassivadora, resultado da junção de um verbo transitivo direto (VTD) + uma partícula “se”. Dessa junção, surge um fenômeno que nos permite visualizar um sujeito “paciente” (que sofre a ação verbal). Vejamos a estrutura. Exemplo: Consertam-se televisores. VTD partícula sujeito paciente “se” VIVENCIANDO O imperativo é usualmente empregado no universo publicitário. Procure identificar em qual pessoa gramatical os verbos presentes nas imagens abaixo estão empregados. 2.4. Voz reflexiva A voz reflexiva, como vimos anteriormente, é um fenô- meno em que sujeito pratica e sofre a ação realizada. É estruturada a partir de um verbo pronominalizado (verbo + pronomes “me”, “te”, “se”, “nos” e “vos”). Vejamos: Exemplo: Acidentalmente, ele se feriu com o aparelho. pronome reflexivo verbo DIAGRAMA DE IDEIAS VERBOS MODOS SUBJUNTIVO IMPERATIVOINDICATIVO VOZES NÃO ARTICULA TEMPO AFIRMATIVO NEGATIVO • ATIVA • PASSIVA • REFLEXIVA MORFOLOGIA ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ANOTAÇÕES 32 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 34 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS UFMG A interpretação de texto é primordial para a resolução da prova, devendo o aluno focar não apenas na interpretação dos textos literários, mas sobre os mais varia- dos gêneros. Além disso, saber interpretar o comando das questões, que podem dar pistas sobre a resposta correta. No vestibular Fuvest a interpretação de texto acontece de forma mais prática. Muitas vezes ligada aos textos literários ou críticos, a temática aborda de figuras de linguagem à projeções sobre o senso comum. Textos críticos e literários são colocados em discussão, de modo que não basta reconhecer os recursos linguísticos. Por- tanto, notar o contexto é essencial. Uma vez que a interpretação não ocorre isolada, é preciso que o aluno repare nos contextos e nos recursos utilizados para alcançar os efeitos de sentido, identifi- cando-os e validando-os Conduz a interpretação de texto em paralelo aos textos literários, majorita- riamente. Crônicas, poemas e pequenos trechos canônicos podem ser cobrados pelo vestibular, exigindo, do aluno, não a leitura integral da obra, mas a capa- cidade de análise e avaliação do texto. Questões que demandam do aluno o conhecimento sobre os recursos linguís- ticos costumam aparecer, bem como uma interpretação de texto basilar ao desen- volvimento leitor. Saber ler não só as questões da frente de Português, mas também as questões ge- rais, ainda que em linhas bastante curtas e diretas, será um diferencial. Os recursos linguísticos ligados à produção de textos não devem ser esquecidos no momento da leitura. A interpretação de textos ocorre de ma- neira direcionada, focada, sobretudo, aos recursos linguísticos (como figuras de lin- guagem e funções linguísticas). Trabalhar de forma atenta, lembrando e aplicando os conceitos aprendidos em aula será fundamental. As questões de interpretação se tornam bastante direcionadas. Conhecer os con- ceitos por trás da produção dos textos (literários ou não), será uma ferramenta interessante para que o vestibulando possa atuar. Alinha a interpretação de texto às obras literárias que costuma exigir na sua lista obrigatória. O conhecimento sobre os re- cursos literários adquiridos no estudo das obras será fundamental. Além de conhecer os recursos linguís- ticos, é importante lembrar que uma leitura atenta pode render ao candidato pontos em questões não apenas na área de Português, mas nas variadas áreas do conhecimento. O exame CMMG é objetivo. Exige do candidato uma capacidade leitora funda- mental, que demonstre aptidão em reco- nhecer os recursos linguísticos dentro das questões. Assim, lembrar e compreender serão as duas principais habilidades tra- balhadas por esse vestibular. Diversos gêneros textuais podem ser pedidos, de modo que conhecer os fun- damentos da produção textual (figuras de linguagem e funções da linguagem) pode ser um diferencial. A prova conta ainda com textos literários, o que demanda uma interpretação de senti- do conotativo. Ter em mente os conceitos de denotação e conotação renderá, ao aluno, um ponto de segurança na hora de iniciar a sua in- terpretação. Lembrar que a interpretação se liga ao contexto pode ser a chave para a aprovação. Ler atentamente, tendo em vista as carac- terísticas dos principais recursos linguísti- cos e dos variados gêneros textuais, é um bom modo de mergulhar na prova. Além disso, saber interpretar o comando das questões se mostrará de grande ajuda. 35 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Funções da linguagem 1.1. Introdução O estudo das funções da linguagem está vinculado ao que os linguistas denominam teoriada comunicação. As teo- rias da comunicação têm como objetivo observar o funcio- namento de processos comunicativos tanto no campo da fala como no campo da escrita, inclusive observando os gestos de transposição entre os dois campos; por exem- plo: que elementos do sistema de fala são encontrados no sistema de escrita? O linguista russo Roman Jakobson (1896-1982) foi o responsável por desenvolver a teoria das funções da lin- guagem. De acordo com o estudioso, a linguagem apre- sentaria funções mais amplas do que simplesmente as de caráter informativo. A partir desse pressuposto, Jakobson determina que os sistemas comunicativos seriam pauta- dos por seis funções da linguagem, que seriam determi- nadas a partir de um “foco” (ou uma ênfase) que recai em pontos específicos da mensagem observada. As fun- ções seriam as seguintes: § Emotiva ou expressiva: foco no emissor, locutor ou enunciador (a pessoa que fala ou escreve); § Apelativa ou conativa: foco no receptor ou interlo- cutor (a pessoa para quem se fala ou escreve, ou, em algumas abordagens, aquele com quem se conversa); § Referencial ou denotativa: foco no contexto ou na referência de mundo (o assunto, situação ou objeto so- bre o qual se fala); § Fática ou de contato: foco no canal de comunicação ou a partir da abertura de contato (físico ou psicológi- co) com terceiros; § Poética: foco nos modos de elaboração da mensagem e do texto que a compõe; § Metaliguística: foco no código comunicativo (nas bases prévias de comunicação, sejam elas verbais ou não verbais). A partir dessas definições, Roman Jakobson propôs o se- guinte sistema organizativo: 1.2. Função emotiva ou expressiva Foco: emissor / locutor / enunciador A função emotiva, centralizada na figura daquele que fala, expressa algumas particularidades do enunciador, como emoções, sentimentos, opiniões a respeito de determinadas situações, crenças e até mesmo concordâncias e discordân- cias em relação a certos assuntos. Nela prevalece a 1.ª pes- soa do singular (eu), podendo, em alguns casos mais raros, ocorrer com a 1.ª pessoa do plural (casos em que emoções ou opiniões são mobilizadas de modo coletivo). Trata-se de uma função que é facilmente identificada nos processos comunicativos falados. Nos processos escritos, por sua vez, ela se torna evidente pela presença, no texto, de interjeições, exclamações, reticências ou outros sinais que demonstrem a subjetividade do falante. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. Desencanto Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. – Eu faço versos como quem morre. Teresópolis, 1912. (manuel bandeira) 1.3. Função apelativa ou conativa Foco: receptor / ouvinte / interlocutor A função apelativa, centralizada na figura daquele que ouve, expressa a tentativa de um falante de interferir, geralmente FUNÇÕES DA LINGUAGEM I COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULA 1 36 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s de maneira persuasiva, nos sentimentos do interlocutor. Nela prevalece a 2.ª pessoa do discurso (representada, em portu- guês, pelos pronomes tu e você). Trata-se de uma função que, para atingir seus objetivos, manipula formas imperativas, vocativos e, em casos menos frequentes, pronomes demonstrativos e possessivos de se- gunda pessoa. É facilmente identificada em textos publici- tários, discursos políticos, textos religiosos (sermões), além de parágrafos específicos de textos argumentativos, como artigos de opinião e editoriais. 1.4. Função referencial ou denotativa Foco: referente A função referencial, centralizada na figura daquilo que Roman Jakobson definiu como “referente”, consiste no uso objetivo da linguagem em duas instâncias: § indica/aponta elementos que estão no mundo; § indica/aponta situações ou acontecimentos no mundo. Trata-se de uma função que não envolve expressão de sentimentos (há a neutralização do emissor e do recep- tor); por isso, diz-se que ela é centrada na 3.ª pessoa do discurso e transmite uma informação objetiva e direta sobre um assunto. É identificada em muitos tipos de texto, como nos téc- nicos ou científicos (artigos acadêmicos, matérias de revistas científicas, livros didáticos), nas bulas de re- médio, nas placas informativas, e também em alguns subgêneros e gêneros jornalísticos, como a notícia e a reportagem. Exemplo: “Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para que ele permita uma in- vestigação independente sobre os aparentes erros dos seus serviços de inteligência no que se refere às armas de destruição em massa do Iraque. A indicação do governo americano, também ques- tionado sobre a sua avaliação da ameaça iraquia- na, de que um inquérito pode ser aberto no país, reforçou o argumento dos críticos de Blair. O Parti- do Conservador britânico deverá apresentar nesta semana uma moção pedindo a investigação.” fonTe: folha de s. Paulo - 02-02-2004 37 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS Função emotiva Função fática Função conativaFunção poética EMISSOR LOCUTOR Função metalinguística Função referencial CÓDIGO MENSAGEM DESTINATÁRIO INTERLOCUTOR CONTEXTO REFERENTE CANAL 38 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Funções da linguagem (continuação) Nesta aula, as funções da linguagem de Roman Jakobson continuarão a ser estudadas. Lembrando que, das seis exis- tentes, três foram vistas na aula anterior. As três restantes serão abordadas agora. 1.1. Função fática Foco: canal de comunicação A função fática, centralizada no canal de comunicação, opera em duas instâncias: § Verifica o modo como a linguagem opera dentro de de- terminados canais de comunicação: Roman Jakobson sugere que, ao se observar pessoas conversando em determinado canal, é preciso estar atento a particulari- dades que surgem na manipulação da linguagem. Para isso, recomenda-se verificar a abertura (como a conversa começa), a manutenção (quais são as características de progressão) e seu fechamento (como os falantes encer- ram a conversa). Um exemplo claro disso é a comunica- ção por telefone, em que a abertura é feita a partir de um sinal que não é usado em interações frente a frente (alô?). Também é perceptível no telefone a emissão de sinais sonoros durante a conversa que indicam a manu- tenção/progressão da comunicação (aquele que ouve, por exemplo, costuma usar sinais como ahã! ahã! ahã!). § Verifica estratégias gerais para abertura, manutenção e encerramento de comunicação. Para abertura comunica- tiva, por exemplo, há as saudações “olá”, “boa tarde!”, “tudo certo?”; para manutenção comunicativa, existem os marcadores conversacionais, que são usados para “testar” o funcionamento do canal, como “né”, “en- tendeu?”, “viu?”, “aí”, “tipo”, etc.; e, para fechamen- to comunicativo, existem recursos de despedida, como “tchau”, “adeus”, “até logo”, etc. Trata-se de uma função que encontrada em muitos luga- res. Basta que, em determinado espaço comunicativo, seja esboçado algum gesto linguístico que dê margem para o início de uma conversa (e, posteriormente, outros gestos que mantenham sua progressão e também a encerrem). 1.2. Função poética Foco: mensagem A função poética, centralizada na mensagem, promove alterações na estrutura da referida mensagem, com o in- tuito de modificar as relações do ouvinte com o conteúdo expresso. Por exemplo, um poema feito em estrutura de so- neto caracteriza-se como função poética pelo fato de usar uma forma/estruturacomunicativa que difere do modelo direto (em prosa) habitual. Assim, entende-se que a função poética suplementa o sentido da mensagem. FUNÇÕES DA LINGUAGEM II COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULA 2 39 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Trata-se de uma função que, para atingir seus objetivos, manipula figuras de linguagem, trocadilhos e quebras ou distorções de sequências sintáticas. Parte-se do pressupos- to que todo o poema já é uma função poética. Não obs- tante, é possível encontrar tal função em prosas poéticas (como os textos de Guimarães Rosa, por exemplo), ou em textos publicitários que manipulam trocadilhos nas mensa- gens de suas propagandas. (ProPaganda com Trocadilho) Sem Mim Ando Com Igo Sigo Sem Com Ando (arnaldo anTunes) 1.3. Função metalinguística Foco: código A função metalinguística, centralizada no código, ocorre quando se usa um código (algum modelo comunicativo) por meio do próprio código. É importante salientar que os referidos códigos (modelos comunicativos) podem ser de cunho verbal ou não verbal. Assim, é possível chegar às seguintes conclusões: § A pintura, por exemplo, é um tipo de arte que estabele- ce comunicação. Elas é, portanto, um código. Caso um pintor deseje registrar em seu quadro um outro pintor trabalhando, ele estará fazendo referência ao “código pintura” por meio da própria pintura, o que caracteriza um gesto metalinguístico (não verbal). § Uma crônica, por exemplo, é um gênero que comu- nica algo. É, portanto, um código. Caso um cronista, em vez de discutir um fato cotidiano, prefira falar so- bre a dificuldade de se fazer uma crônica no momento contemporâneo, ele estará usando o “código crônica” para falar sobre crônica. Trata-se de um gesto também metalinguístico (verbal). A função metalinguística é facilmente encontrada nas artes em geral; e também em alguns textos instrucionais de de- terminadas áreas, como os livros de língua portuguesa que ensinam o que é a língua portuguesa, caracterizando-se como instrumentos que operam uma metalinguagem. Razão de ser Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso Preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece. E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? (Paulo leminski) 40 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Variação linguística A variação linguística é a diversificação dos sistemas de uma língua em relação às possibilidades de mudança de seus ele- mentos (vocabulário, fonologia, morfologia, sintaxe). 1.1. Linguagem formal versus linguagem informal a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à varieda- de linguística dos membros da classe social de maior prestí- gio dentro da classe literária. Observação: não se trata da única forma correta. b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada à variedade linguística utilizada no cotidiano e que não exige a observância total da gramática. 1.2. Língua falada versus língua escrita a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de recursos rítmicos e melódicos – entonação, pausas, ritmo, flu- ência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou transmite uma mensagem numa dada linguagem) está pre- sente fisicamente. Algumas das características principais são: § frequência da ocorrência de repetições, hesitações e bor- dões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pronto, não sei...“, “Cara, o que é isso, cara?“); § frases curtas; § frases inacabadas, porque foram cortadas ou inter- rompidas; § uso frequente da omissão de palavras; Exemplo: Eu vou com minha mãe e com meu pai; empresta o seu caderno? § formas contraídas; Exemplo: prof, med, refri, facul § afastamento das regras gramaticais; Exemplo: Eu vi ele. § possibilidade de adequar o discurso de acordo com as reações dos ouvintes. b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de acentuação para exprimir os recursos rítmicos e melódicos da oralidade: § uso de descrições ricas; § obedece às regras gramaticais com maior rigor; § sinais de pontuação e acentuação para transmitir a ex- pressividade oral; § frases longas, apesar de também poder usar frases curtas; § uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso; § conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coe- são textual. 1.3. Variação diatópica Também conhecida como variação regional ou variação geográfica, ocorre quando percebemos que a linguagem apresenta variações de acordo com o espaço em que ela é operada. É verificável não apenas entre estados (Rio de Janeiro × São Paulo), mas também entre regiões em um mesmo estado (interior de São Paulo × periferia de São Paulo × litoral de São Paulo). É por meio dessa variação que estudamos também os sotaques ou dialetos interiora- nos (como o dialeto caipira). Exemplos: I. Diferença de nomes entre regiões para um mes- mo objeto/item (mandioca × macaxeira × aipim). II. Diferença de caracteres morfológicos, sintáti- cos ou semânticos entre regiões (usos de “tu” no litoral de São Paulo × usos de “você” na ca- pital de São Paulo). VARIAÇÃO LINGUÍSTICA I COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULA 3 41 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1.4. Variação diacrônica Também conhecida como variação histórica, ocorre quan- do percebemos que a linguagem apresenta variações de acordo com o tempo em que ela é operada. Parte-se do pressuposto que a linguagem é um sistema vivo, constan- temente mutável, e que seu uso apresenta variações em três âmbitos: § na passagem entre gerações (avós, pais e filhos que uti- lizam linguagens diferentes); § na evolução tecnológica (as novas tecnologias fazem com que as pessoas passem a utilizar novos termos linguísticos); § nos textos arcaicos (textos que, mesmo pertencendo a nosso idioma, nos trazem certa dificuldade de compre- ensão pelo fato de estarem muito afastados temporal- mente. Um exemplo disso seria o texto Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, que por estar escrito em por- tuguês medieval, apresenta muitas diferenças fonológi- cas em relação ao português contemporâneo). 1.5. Variação diastrática Também conhecida como variação social, ocorre quando percebemos que a linguagem apresenta variações por con- ta de dois fatores mais gerais: § fatores socioeconômicos (uma pessoa que, por ques- tões financeiras, é obrigada a abandonar o espaço es- colar para trabalhar e ajudar no sustento do lar, pode apresentar, no futuro, dificuldades no uso da gramática normativa, por exemplo). § uso de socioleto (na linguística, um socioleto é a va- riante de uma língua falada por um grupo social, uma classe social ou subcultura. É também entendida como cada uma das variedades de uma língua usada pelos grupos de indivíduos que, tendo características sociais em comum (profissão, passatempos, geração etc.), usam termos técnicos, ou gírias, ou fraseados que os distinguem dos demais falantes na sua comunidade). 42 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Variação linguística (continuação) Nessa aula, continuaremos a estudar as variações linguísticas. 1.1. Variação diafásica Também conhecida como variação situacional, ocorre quan- do percebemos que a linguagem apresenta variações de acordo com o contexto/situação em que ela é usada. É veri- ficável quando um indivíduo, adaptado a um tipo de uso lin- guístico, é obrigado a fazer uma alteração momentânea em seu registro por conta de uma situação de mundo específica. Por exemplo, alguém que use muitas gírias em seu dia a dia (registro informal) e que é obrigado a usar um registro mais formal por conta de uma entrevista de emprego. 1.2. Variação diamésica Ocorre quando percebemosque a linguagem apresenta variações de acordo com os diferentes “meios” em que ela usada, entendendo esses “meios” como espaços de uso oral da linguagem (fala) e uso escrito. Em geral, consiste em verificarmos as seguintes possibilidades: § A linguagem falada costuma ser entendida como um sistema normalmente desorganizado, marcado por he- sitações, reformulações, correções etc. Por conta disso, é comum encontrarmos recursos diferentes do que vemos no espaço escrito (alguns, inclusive, não seriam transpo- níveis, sendo exclusivos do espaço falado, como os mar- cadores conversacionais). § A linguagem escrita costuma ser entendida como um sistema normalmente organizado, em que, por mais que pensemos, por exemplo, em repetições de alguma pa- lavra, efetivamente elas não se materializam na escrita. Além disso, ao produzir um texto, costumamos organizar como vamos distribuir certas informações (parágrafos de introdução, argumentação e conclusão). 1.3. Preconceito linguístico Denomina-se preconceito linguístico aquele gerado pe- las diferenças linguísticas existentes dentre de um mesmo idioma. Ele está associado a diversas diferenças de base linguística, especialmente as regionais (envolvendo diale- tos, socioletos, regionalismos, gírias e sotaques). Também é gerado em menor grau pelos outros tipos de variação. O preconceito linguístico tem sido muito praticado na atu- alidade (de modo voluntário e involuntário), sendo forte marcador de exclusão social. Na obra Preconceito linguístico: o que é, como se faz (1999), o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno aborda sobre os diversos aspectos da língua, especialmente o preconceito linguístico e suas implicações sociais. Segundo ele não existe uma forma “certa“ ou “errada“ dos usos da língua e que o preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada na gramática normativa), colabora com a prática da exclu- são social. No entanto, devemos lembrar que a língua é mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de acordo com ações dos falantes. Além disso, as regras da língua, determinada pela gramá- tica normativa, não inclui expressões populares e variações linguísticas, por exemplo as gírias, regionalismos, dialetos, dentre outros. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA II COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULA 4 LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA LINGUAGENS CÓDIGOS e suas tecnologias ENTREENTRE LETRASLETRAS TEORiA DEDE AULAAULA LITERATURA INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS UFMG Como o Enem não possui uma lista obrigatória de livros, as questões con- templam o conhecimento acerca dos di- ferentes gêneros literários e das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. A maior parte das questões de literatura se refere às obras de leitura obrigató- ria. Neste livro, encontram-se algumas questões de anos anteriores sobre o Humanismo, bem como sobre gêneros literários e as estéticas medieval e qui- nhentista. A maior parte das questões de literatura da Unicamp se refere às obras de leitura obrigatória. Neste livro, encontram-se algumas questões de anos anteriores sobre Humanismo e Classicismo, bem como sobre gêneros literários e as es- téticas medieval, clássica e quinhentista. As questões da UNIFESP contemplam o conhecimento das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste livro, estão presentes questões so- bre gêneros literários, Trovadorismo, Hu- manismo, Classicismo e Quinhentismo. Como a Unesp não possui uma lista obri- gatória de livros, as questões contemplam o conhecimento das escolas literárias, bem como de seus principais representan- tes. Neste livro, estão presentes questões sobre gêneros literários, Trovadorismo, Humanismo, Classicismo e Quinhentismo. A prova em questão exige seus conhe- cimentos acerca dos gêneros literários e dos movimentos literários no Brasil e em Portugal. Neste livro, estão presentes questões sobre gêneros literários, Tro- vadorismo, Humanismo, Classicismo e Quinhentismo. A maior parte das questões de literatura se refere às obras de leitura obrigatória. Neste livro, encontram-se algumas ques- tões de anos anteriores sobre gêneros literários e as estéticas medieval, clássica e quinhentista. Como a PUC-Camp não possui uma lista obrigatória de livros, as questões con- templam o conhecimento acerca dos di- ferentes gêneros literários e das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. A prova da Santa Casa exige seus conhe- cimentos acerca dos gêneros literários e dos movimentos literários no Brasil e em Portugal. Neste livro, estão presentes questões sobre gêneros literários, Tro- vadorismo, Humanismo, Classicismo e Quinhentismo. Estão presentes questões sobre gêneros literários, Trovadorismo, Humanismo, Classicismo e Quinhentismo. A maior parte das questões de literatu- ra da UFPR se refere às obras de leitura obrigatória. Neste livro, estão presentes questões sobre gêneros literários, Tro- vadorismo, Humanismo, Classicismo e Quinhentismo. A maior parte das questões de literatura se refere às obras de leitura obrigatória. Neste livro, encontram-se algumas ques- tões sobre gêneros literários e as esté- ticas medieval, clássica e quinhentista. O vestibular da Uerj não exige os con- teúdos contidos neste livro, exceto os das aulas 1 e 2. Como a Ungranrio não possui uma lista obrigatória de livros, as questões con- templam o conhecimento acerca dos di- ferentes gêneros literários e das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. A Souza Marques exige seus conheci- mentos acerca dos gêneros literários e dos movimentos literários brasileiros. Neste livro, estão presentes questões so- bre gêneros literários e sobre a estética quinhentista. 45 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Arte: representação e resistência “A literatura é uma transfiguração da realidade” – anTonio candido Estudar Literatura é estudar um objeto de conhecimento que há muito tem seu conceito discutido. A palavra Litera- tura tem origem latina e é comumente lembrada como a arte de escrever. Contudo, essa definição é menos esclare- cedora do que propulsora de novas questões. Afinal, escre- ver, isto é, o ato de grafar como letras e/ou ideogramas os fonemas da comunicação de uma determinada língua, é um conceito de comum senso. Já a ideia de arte, até hoje, faz-se constantemente motivo de discussões dentro de universidades até conversas corriqueiras entre amigos. No dicionário, é comum encontrarmos verbetes que defi- nem arte nos seguintes termos: Aptidão inata para aplicar conhecimentos, usando talento ou habilidade, na demons- tração uma ideia, um pensamento. Embora a definição apresentada seja consideravelmente rasa, ela possui seu fundo de verdade, já que esboça dois lados dessa relação: expressão e técnica. A arte, assim, pode ser entendida como uma forma de representação da realidade (feita a ressalva de que essa realidade, é claro, sempre perpassa a maneira como cada indivíduo percebe e experimenta o mundo). Por conta disso, a arte costuma ser conjugada, também, com o conceito de mimesis. Na Antiguidade Clássica, tanto Platão como Aristóteles tra- balhariam para o desenvolvimento do conceito. Primeiro, Platão o tenta definir como uma forma de discussão acerca do que se extrai do mundo das ideias. Contudo, é só com a famosa Poética de Aristóteles que o termo ganha força ao ser apresentado como imitação / emulação da realidade. Nesse mesmo livro, Aristóteles associa o conceito à Lite- ratura, observando que as diferentes formas de expressão literária tendiam a mimetizar a realidade a partir de dife- rentes perspectivas. A imitação (mimese) de uma ação é o mito (fábula)... A parte mais importante é a da organização dos fatos, pois a tragédia é a imitação, não de homens,mas de ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a infelicidade resulta também da atividade)... Daí resulta serem os atos e a fábula a finalidade da tragédia. Sem ação, não há tragédia. (arisTÓTeles. PoéTica. Tradução de anTônio carvalho. são Paulo: difusão euroPéia do livro, 1959.) É claro, porém, que a arte não deixa de dizer alguma coisa e, por isso, faz valer também as análises sobre uma teoria da comunicação. Nesse sentido, faz-se contundente pensar o papel da arte sobre nós mesmos. Afinal, o que nos move a buscar esse tipo de conteúdo (um filme, uma história em quadrinhos, um bom livro, um poema, uma peça de teatro, uma música, entre tantas outras expressões), e o que, no contato com a mensagem que encontramos, é absorvido, repelido e transformado por nós? O que é literatura – Marisa Lajolo Definir o que é, o que não é e o que pode ser literatura depende do ponto de vista, do sentido que a palavra tem para cada um e da situação na qual se discute o que é literatura. multimídia: livro FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO LITERÁRIO: ARTE E TÉCNICA COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 1 E 2 46 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s O direito à literatura Antonio Candido (1918 – 2017) foi um importante so- ciólogo e crítico literário do Brasil. Seu nome ecoa forte até os dias hojes no que tange à área da Literatura, da Edu- cação e do que fizer do ser humano ainda mais humano. Seu famoso texto Direito à Literatura norteia as percepções contemporâneas do que envolve a ideia de Arte. “a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas ma- nifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos diale- ticamente os problemas.” (candido, anTonio. o direiTo à liTeraTura. in.: “vários escriTos”. 3ª ed.. revisTa e amPliada. são Paulo: duas cidades, 1995.) Para ele, a arte de escrever é um elemento a ser encara- do como um potencial humanizador, isso porque o seu produto final não apenas concatena os valores de uma sociedade, mas também, cristaliza as contradições desse mesmo núcleo no qual se insere. Assim, a literatura passa a atuar como direito, já que é direito, previsto na DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos), o indivíduo ter acesso a meios que o permitam se posicionar e se reco- nhecer no mundo; ciente de si, daqueles que o cercam e do contexto que o engloba. Para tanto, é preciso que entendamos que a literatura tem como matéria-prima a linguagem e que esta é a nossa capacidade de produzir significação dentro de uma deter- minada língua. Uma metáfora que auxilia no entendimen- to da questão é proposta por Roland Barthes, na medida que em sua concepção a língua e suas regras é por si só tanto instrumento necessário a nossa comunicação como preconizadora de uma realidade opressora, na medida em que estabelece um modo de ver o mundo quase sempre utilitarista e fomentador das desigualdades sociais e da violência. Nesse sentido, para o autor, o uso artístico da linguagem – a literatura, portanto – faz-se essencialmen- te anti-poder, isto é, apresenta-se como uma possibilidade anti-opressora, capaz de deslocar o olhar do indivíduo para outras realidades que não a dele, a sua, a nossa. Língua: conjunto regrado de elementos (sons e ima- gens) que permitem a comunicação. Linguagem: capacidade de compreender e utilizar a língua para comunicação e outras manifestações cria- tivas (a arte). 1.1. A prosa A prosa é uma das duas formas mais comuns da manifes- tação literária. Normalmente, é oposta à poesia pela ma- neira como se estrutura, já que apresenta o que chamamos de “texto corrido”, organizado da esquerda pela direita. Nela, costuma imperar a narrativa, isto é, o uso de deter- minada referencialidade para organizar eventos dentro de determinado tempo e espaço – fictícios ou não. Biografias, resenhas, resumos, textos ficcionais, contratos, en- tre outros gêneros textuais, são exemplos de textos em pro- sa. Os textos em prosa considerados literários são, portanto, aqueles em que há uma preocupação com o valor artístico do material, a exemplo dos romances de Machado de Assis ou, contemporaneamente, os contos de Jarid Arraes. 1.2. A poesia A poesia, nome que deriva do termo grego poiesis e que significa criar, é um dos modos de constituição literária. An- terior à prosa, a poesia sempre adequou-se ao longo do tempo à lógica dos versos, das estrofes e da musicalidade. Na poesia, há uma grande força sobre cada uma das pa- lavras que a compõe, por isso ela faz-se valer de rimas, de rompimentos com a lógica padrão de uso da língua. Nesse sentido, analisar um poema é, também, em alguma medida, romper com o modo padrão de organização da língua. Em um poema, a polissemia, as figuras de lingua- gem, a musicalidade, o tempo de leitura, tudo que pode ter a ver com a linguagem é bastante explorado. Catar feijão 1. Catar feijão se limita com escrever: Jogam-se os grãos na água do alguidar E as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo; pois catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. 2. Ora, nesse catar feijão entra um risco, o de que, entre os grãos pesados, entre um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a com risco. joão cabral de melo neTo 1.3. Teoria dos gêneros Mikhael Bakhtin, importante estudioso da linguagem, apresenta uma interessante definição de gênero textual; 47 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos in- tegrantes desse ou daquele campo da atividade huma- na. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gra- maticais da língua mas, acima de tudo, por sua constru- ção composicional.[...] Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seu tipos relativamente estáveis de enun- ciados, os quais denominamos gêneros do discurso. (bakhTin, m. os gêneros do discurso) Bakhtin, porém, não é nenhum precursor desse conceito, que já era trabalhado na antiguidade clássica por Aristóte- les. Contudo, não se pode negar que seus estudos torna- ram-se importante marco da Linguística e norteiam, hoje, nossa concepção desse conceito. Assim, entendemos que os gêneros são reflexos de enunciados que são produzidos na interação humana. Em outras palavras, cada situação contextual em que a linguagem é posta em pauta (situ- ação comunicativa) exigirá dos emissores a atenção para produção de um discurso oral ou escrito que seja capaz de abarcar as necessidades do momento em questão. Os gêneros, assim, ao longo do tempo, vão assumindo for- mas mais ou menos fixas, suportes distintos e adequando- -se aos contextos em que são produzidos. Como a carta, que com o passar dos anos transformou-se no e-mail, pre- servando a estrutura de um gênero anterior, mas cedendo lugar a um outro contexto de veiculação, virtual e veloz. PenéloPe e odisseu Em relação ao gênero literário, na Antiguidade, Aristóteles cunhou que a literatura dividia-se em três deles: épico, dra- mático e lírico. Anatol Rosenfeld, crítico literário, muito tempo depois, também escreveria a respeito, em seu famoso ensaio Teoria dosgêneros. Trata-se, pois, de perceber características cruciais a cada uma dessas formas, analisando como elas permaneceram e/ou se desdobraram em tantas outras nas formas mais modernas da arte literária. Afinal, quando Aris- tóteles propôs tal organização, apenas os textos em versos eram conhecidos. Gêneros Literários – Angélica Soares As manifestações poéticas mais remotas já mostram a tendência para classificar as obras literárias conforme a realidade que retratam, pelo uso de mecanismos de estruturação semelhantes. multimídia: livro 1.3.1. O gênero épico O gênero épico surge com as produções gregas atribuí- das a Homero, Ilíada e Odisseia. Épico deriva da palavra grega epos, que significa verso ou discurso. Há quem associe a palavra aos versos iniciais de uma epopeia – nome dado aos grandiosos poemas épicos, ou seja, um conjunto de epos. A epopeia, assim, emerge como um ancestral do que co- nhecemos hoje por narrativa (cinematográfica, em quadri- nhos, um romance etc.). Contudo, ela traz algumas dife- renças ímpares no que tange não apenas a sua forma e estrutura, mas ao seu conteúdo. Afinal, a epopeia traz o relato de um herói em um mundo cuja organização é total- mente diferente da organização moderna. De tal modo, a epopeia concentra algumas características particulares na principal relação que norteia a literatura ao longo dos tem- pos: o sujeito e o mundo. Na epopeia, temos: § linguagem rebuscada e elevada, digna de glorificar os feitos do herói. § imagem de herói que condensa os valores de uma nação. § destino a ser cumprido, normalmente traçado pelas divindades. § cenário de guerra ou contexto de um grande aconteci- mento histórico. 48 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s A estrutura do poema épico É dividido em partes, chamadas cantos, que, por sua vez, são divididos em: § Proposição: O texto apresenta o tema e o herói. § Invocação: O texto pede inspiração à musa (divin- dade inspiradora da poesia). § Narração: Narração das aventuras do herói. § Conclusão ou Epílogo: Encerramento das aventu- ras e conclusão dos feitos heroicos. 1.3.1.1. A narrativa O gênero épico dá origem às formas narrativas mais co- nhecidas, como o conto, a novela, a crônica e, é claro, o romance. Todos esses gêneros têm em comum o seu cará- ter narrativo, isto é, a organização de fatos que se sucedem dentro de um tempo-espaço específico. “A narrativa está presente em todos os tempos, em to- dos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade. (...) é fruto do gênio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma estrutura acessível à análise”. – barThes, roland. a avenTura semiolÓgica, PP. 103-104. A narrativa fará sempre parte das sociedades e, por isso, é importante instrumento não apenas de análise formal a respeito dos seus aspectos literários, mas como matéria- -prima para compreensão de mundo. 1.3.2. O gênero lírico O gênero lírico surge, também, na Grécia Antiga. Trata-se de poemas que eram declamados, normalmente, acompa- nhados pela lira, instrumento musical, concatenando as- sim, em uma primeira camada, dois importantes elemen- tos: o som e a imagem. Tal gênero centra-se, sobretudo, na expressão dos senti- mentos; isso não quer dizer, porém, que diz respeito aos sentimentos de quem o declama, mas do conceito de eu lí- rico, ou voz poética, a voz que fala no poema. Por definição, compreendemos eu lírico como um importante elemento das análises de poemas, que corresponde ao sujeito (que não é necessariamente o poeta) detentor dos sentimentos e sensações expressas no texto. O gênero lírico, assim, surge em consonância com a poe- sia e, por isso, traz como principal característica o verso: a segmentação proposital e pensada de um texto levando em conta o sentido e a sonoridade das palavras que com- põem o texto. Além disso, figuras de linguagem, como as metáforas, e o ritmo, a partir das rimas, por exemplo, são elementos que ajudam a nortear a análise desses textos. 1.3.2.1. O ritmo do poema Podemos entender como ritmo a sucessão de tempos for- tes e fracos em determinado verso, poema ou canção. Na literatura, esse ritmo, contudo, passa a ganhar uma maior significação, na medida que atua como elemento constitu- tivo do texto. As rimas são caracterizadas normalmente como um dos principais fatores que corroboram para a rítmica do poe- ma. Elas são, por definição, a repetição de sons ao final de dois ou mais versos. É claro que isso não implica que todo poema possua uma rima, ou que elas estejam sempre ao final do verso, há quem classifique os sons fortes do verso como rimas internas. Assim, quando as rimas acontecem ao final do verso, são chamadas de rimas externas, quando dentro do verso, rimas internas. Vejamos alguns exemplos e classificações para as rimas: Tipos de rimas § Ricas – entre palavras de classes gramaticais diferentes: Cristina e ensina § Pobres – entre palavras de mesma classe gramatical: Precisava esconder sua afeição... Na Idade Média, uma imortal paixão § Toantes – entre sons vocálicos repetidos: hora e bola; saltava e mata § Aliterantes – entre sons consonantais idênticos ou semelhantes: vozes, veladas, veludosas, vozes vagam nos velhos vórtices velozes § Consoantes – entre sons e letras repetidos: terra e serra; amoníaco e zodíaco; rutilância e infância § Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas: É um flamejador, dardânico uma explosão de rápidas ideias, que com um mar de estranhas odisseias saem-lhe do crânio escultural, titânico!... (cruz e sousa) § Agudas – entre palavras oxítonas: dó e só; fez e vez; ti e vi 49 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s § Preciosas – entre palavras combinadas: múmia e resume-a; réstea e veste-a; águia e alague-a; estrela e vê-la § Versos brancos – verso sem rimas. Disposição das rimas no poema § Mistas – sem posição regular: De uma, eu sei, entretanto 1, Que cheguei a estimar 2 Por ser tão desgraçada 3! Tive-a hospedada 3 a um canto 1 Do pequeno jardim 4; Era toda riscada 3 De um traço cor de mar 2 E um traço carmesim 4. (alberTo de oliveira) § Emparelhadas (AABB): No rio caudaloso que a solidão retalha A, na funda correnteza na límpida toalha A, deslizam mansamente as garças alvejantes B; nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes B... (fagundes varela) § Interpoladas ou opostas (ABBA): Mais de mil anos-luz já separado A, Naquela hora, do meu pensamento B. O filme de uma vida, ínfimo momento B, O derradeiro instante havia impregnado A. § Alternadas ou cruzadas (ABAB): Amor, essência da vida A, é uma expressão de Deus B. Alma, não fique perdida A! Ele luz os dias seus B. 1.3.2.2. A sílaba poética A sílaba poética dialoga com o que chamamos de métrica do poema. É importante estabelecer que elas são diferentes das sílabas gramaticais, já que sua divisão não se atenta à morfologia, mas à fonologia. Em outras palavras, a sílaba é contada a partir das unidades sonoras do verso. Além disso, a contagem vai apenas até a última sílaba tônica do verso. A partir dessa contagem, os poemas são classificados pelo seu número de sílabas. Assim, quando você ouve que um poema apresenta uma métrica decassílaba, estamos nos referindo a um poema com versos de 10 (dez) sílabas poé- ticas. Vejamos alguns exemplos: As diferentes métricas que o poema pode assumir § Monossílabos – uma única sílaba: Ru/a tor/ta Lu/a mor/ta Tu/a por/ta § Dissílabos – duas sílabas: Tu,/ on/tem na/ dan/ça que/ can/sa vo/a/vas com as/ fa/ces em/ ro/sas for/mo/sas de/ vi/vo car/mim (casimiro de abreu) § Trissílabos – três sílabas: Vem/ a au/ro/ra pre/ssu/ro/sa cor/ de/ ro/sa que/ se/co/ra de/ car/mim as/ es/tre/las que e/ram/ be/las têm/ des/mai/os já/ por/ fim (gonçalves dias) § Tetrassílabos – quatro sílabas: O in/ver/no/ bra/da for/çan/do as/ por/tas Oh!/ Que/ re/voa/da de/ fo/lhas/mor/tas o/ ven/to es/pa/lha por/ so/bre o/ chão/... (alPhonsus de guimarães) § Pentassílabos ou redondilha menor – cinco sílabas: Meu/ can/to/ de/ mor/te, Gue/rrei/ros/ ou/vi Sou/ fi/lho/ das/ sel/vas Nas/ sel/vas/ cres/ci; Gue/rrei/ros/ des/cen/do Da/ tri/bo/ tupi (gonçalves dias) § Hexassílabos – seis sílabas: E o/ ca/va/lei/ro/ pa/ssa an/te a/ som/bria/ por/ta da/ lú/gu/bre/ des/gra/ça (alPhonsus de guimarães) § Heptassílabos ou redondilha maior – sete sílabas: An/tes/ de a/mar,/ eu/ di/zi/a pa/ra/ cor/tar/ na/ ra/iz es/ta/ cons/tan/te a/go/ni/a pre/ci/so a/mar/ al/gum/ di/a a/man/do,/ se/rei/ fe/liz. (menoTTi del Picchia) § Octossílabos – oito sílabas: No ar/ so/sse/ga/do, um/ si/no/ can/ta Um/ si/no/ can/ta/ no ar/ som/bri/o (olavo bilac) § Eneassílabos – nove sílabas: Ó/ gue/rrei/ros/ da/ ta/ba sa/gra/da, 50 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Ó/ gue/rrei/ros/ da/ tri/bo tu/pi Fa/lam/ deu/ses/ nos/ can/tos/ do/ Pia/ga! Ó/ gue/rrei/ros,/ meus/ can/tos/ ou/vi! (gonçalves dias) § Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas: A/mo/-te, ó/ cruz, /no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da (alexandre herculano) § Hendecassílabos – onze sílabas: Não/ te/nho/ na/da/ com i/sso/ nem/ vem/ fa/lar Eu/ não/ con/si/go en/ten/der/ sua/ ló/gi/ca Mi/nha/ pa/la/vra/ can/ta/da/ po/de es/pan/tar E a/ seus/ ou/vi/dos/ pa/re/cer/ e/xó/ti/ca. (caeTano veloso) § Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze sílabas: A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus. Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus (aberTo de oliveira) § Bárbaros – mais de doze sílabas: Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/ po/rra/da. To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/ cam/pe/ões/ em/ tudo. (fernando Pessoa) Ressalta-se, ainda, que um poema sem métrica, isto é, com versos de métrica irregular, é comumente conhecido como um verso livre. II. Você não diz porém o vosso corpo está delindo no ar, Você apenas esconde os olhos no meu braço e encontra a paz na escuridão. A noite se esvai lá fora serena sobre os telhados, Enquanto o nosso par aguarda, soleníssimo, Radiando luz, nesse esplendor dos que não sabem mais pra onde ir. (mário de andrade. “girassol da madrugada”) 1.3.2.3. A forma poética Durante seus estudos pela história da Literatura você verá que a forma poética bastante se altera, afinal, o número de versos, o número de estrofes, o número de sílabas poéticas não irá permanecer igual no fazer literário. Algumas for- mas, contudo, terão evidente impacto histórico na arte do escrever, como é o caso do Soneto, forma que passa a ser utilizada durante o Renascimento e até hoje vemos poetas, claro que com uma menor frequência, a empregando em seus livros – ou ainda músicos e compositores a empre- gando em suas canções. É válido destacar, assim, que a forma poética é muito im- portante para a análise de um poema. Por isso, ao analisar um poema, é preciso certificar-se de que você entendeu onde começa e onde termina o verso. Caso o poema não esteja disposto em versos, a sepração pode ser feita por meio da / (barra). Como no exemplo a seguir: Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Os versos, extraídos do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, estão separados por vírgulas, já que foram realocados den- tro do texto corrido. Além disso, lembre-se de que quando um verso é muito longo para uma página, ele deve ser des- locado para a linha seguinte e indicado com um recuo e/ou um sinal gráfico, como o [ (colchete). Além do soneto, outros nomes que você encontrará nos seus estudos serão: a trova, o vilancete, a esparsa, a ode etc. Essas outras formas, por vezes, são classificadas como subgêneros poéticos, já que costumam ser usadas em con- textos específicos. A ode, como poema de glória, a Elegia, como um poema triste ou fúnebre, entre outros. Cada qual, irá seguir as suas respectivas normas no que tange a métri- ca, a versificação e a estrofação. Vejamos alguns exemplos: § Soneto – forma lírica bastante conhecida, é composta de catorze versos, com dois quartetos e dois tercetos. Soneto da fidelidade (vinicius de moraes) De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. § Elegia – poema em tom triste e fúnebre originado na Grécia antiga. Caracterizam as digressões moralizan- tes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis da vida, como a morte de um ente querido ou de uma personalidade pública. Elegia na sombra fernando Pessoa (2 jun. 1935) Lenta, a raça esmorece, e a alegria É como uma memória de outrem. Passa Um vento frio na nossa nostalgia E a nostalgia torna-se desgraça. Pesa em nós o passado e o futuro. Dorme em nós o presente. E a sonhar A alma encontra sempre o mesmo muro, E encontra o mesmo muro ao despertar. Quem nos roubou a alma? Que bruxedo De que magia incógnita e suprema Nos enche as almas de dolência e medo 51 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Nesta hora inútil, apagada e extrema? Os heróis resplandecem a distância Num passado impossível de se ver Com os olhos da fé ou os da ância. Lembramos névoa, sombras a esquecer. Que crime outrora feito, que pecado Nos impôs esta estéril provação Que é indistintamente nosso fado Como o pressente nosso coração? (...) Como – longínquo sopro altivo e humano! – Essa tarde monótona e serena Em que, ao morrer, o imperador romano Disse: Fui tudo, nada vale a pena. § Ode – poema lírico de exaltação e homenagem, tam- bém originado na Grécia antiga, destinado ao canto. Composto de estrofes e de versos iguais em tom ale- gre, entusiástico e de louvação. Ode do gato (Pablo neruda) Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça. Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça voo. O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer. O homem quer ser peixe e pássaro, a serpente quisera ter asas, o cachorro é um leão desorientado, o engenheiro quer ser poeta, a mosca estuda para andorinha, o poeta trata de imitar a mosca, mas o gato quer ser só gato e todo gato é gato do bigode ao rabo, do pressentimento à ratazana viva, da noite até os seus olhos de ouro. Não há unidade como ele, não tem a lua nem a flor tal contextura: é uma coisa só como o sol ou o topázio, e a elástica linha em seu contorno firme e sutil é como a linha da proa de uma nave. Os seus olhos amarelos deixaram uma só ranhura para jogar as moedas da noite. Oh pequeno imperador sem orbe, conquistador sem pátria, mínimo tigre de salão, nupcial sultão do céu das telhas eróticas, o vento do amor na intempérie reclamas quando passas e pousas quatro pés delicados no solo, cheirando, desconfiando de todo o terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato. Oh fera independente da casa, arrogante vestígio da noite, preguiçoso, ginástico e alheio, profundíssimo gato, polícia secreta dos quartos, insígnia de um desaparecido veludo, certamente não há enigma na tua maneira, talvez não sejas mistério, todo o mundo sabe de ti e pertences ao habitante menos misterioso talvez todos o acreditem, todos se acreditem donos, proprietários, tios de gato, companheiros, colegas, discípulos ou amigos do seu gato. Eu não. Eu não subscrevo. Eu não conheço o gato. Tudo sei, a vida e o seu arquipélago, o mar e a cidade incalculável, a botânica o gineceu com os seus extravios, o pôre o menos da matemática, os funis vulcânicos do mundo, a casca irreal do crocodilo, a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote, mas não posso decifrar um gato. Minha razão resvalou na sua indiferença, os seus olhos têm números de ouro. § Madrigal – composição poética elegante cujos temas invocam atos heroicos e pastoris. Madrigal melancólico (manuel bandeira) O que eu adoro em ti, Não é a tua beleza. 52 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s A beleza, é em nós que ela existe. A beleza é um conceito. E a beleza é triste. Não é triste em si, Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza. O que eu adoro em ti, Não é a tua inteligência. Não é o teu espírito sutil, Tão ágil, tão luminoso, – Ave solta no céu matinal da montanha. Nem é a tua ciência Do coração dos homens e das coisas. O que eu adoro em ti, Não é a tua graça musical, Sucessiva e renovada a cada momento, Graça aérea como o teu próprio pensamento. Graça que perturba e que satisfaz. O que eu adoro em ti, Não é a mãe que já perdi. Não é a irmã que já perdi. E meu pai. O que eu adoro em tua natureza, Não é o profundo instinto maternal Em teu flanco aberto como uma ferida. Nem a tua pureza. Nem a tua impureza. O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me! O que eu adoro em ti, é a vida. § Écloga – poema ambientado no campo, pastoril e bu- cólico. Écloga IV (v. 52-59) Vê como, com os séculos por vir, tudo se alegra. A última parte desta vida seja-me tão longa, que para dizer os feitos não me falte alento! O trácio Orfeu não poderá vencer-me nestes cantos, nem Lino, ainda que a Orfeu a mãe Calíope socorra e por seu turno a Lino dê assistência o belo Apolo. Se competir comigo o próprio Pã, por juiz a Arcádia, dar-se-á por vencido o próprio Pã, por juiz a Arcádia. 1.3.3. O gênero dramático O drama tem origem na Grécia Antiga e a etimologia da palavra nos leva ao sentido de ação. É, afinal, o gênero que compreende o teatro, cuja característica principal é a ence- nação, a representação de uma determinada realidade. No teatro, os atores, o eu poético da ação, relacionam-se com o tu-vós, a plateia. O texto dramático traz algumas características marcantes, como a sua estruturação por meio do diálogo, realizado em discurso direto. No texto teatral, não há um narrador a relatar fatos, o tempo é dado no diálogo e nas ações das personagens. Além disso, o texto conta ainda com as rubricas, notações do dramaturgo, normalmente em itálico, com direcionamentos para o autor ou para a composição da cena. Esse elemento deixa bem clara a noção de que no teatro a relação entre o palco e o espectador é constante- mente pensada. O gênero dramático expõe dois subgêneros principais em sua gênese: a tragédia e a comédia. 1.3.3.1. A tragédia A tragédia é uma forma dramática marcada pelo enfren- tamento do indivíduo em relação a questões superiores ao seu próprio entendimento: os deuses ou o destino. Traz como característica o final destrutivo e irremediável, no in- tuito de provocar no espectador a catarse e o assombro. Em sua essência, a tragédia aborda personagens de classes sociais ou homens superiores (heróis), pressupondo serie- dade, já que as comédias são, normalmente, vinculadas às classes sociais inferiores. 1.3.3.2. A comédia A comédia é um gênero que também aparece na Grécia Antiga. Para Aristóteles, enquanto a Tragédia trata dos ho- mens superiores, a comédia trata dos homens comuns. Em outras palavras, reproduz com intuito humorísticos as re- lações morais e sociais do cotidiano. A comédia, portanto, é um gênero que iguala os homens, já que pressupõe na sátira, a crítica dos costumes a tudo e a todos; na Grécia, assim, era vista como ponto importante para a satíra, in- clusive, política. A comédia dá origem a um outro subgênero dramático bas- tante conhecido: a farsa. 53 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS DRAMÁTICOÉPICO – CONTA A HISTÓRIA DE UM HERÓI E SEUS EFEITOS. – AUXILIA O HOMEM A COMPREENDER A SUA HISTÓRIA E SUA RELAÇÃO COM O MUNDO QUE O CERCA. – DEU ORIGEM ÀS NARRATIVAS COMO CONHECEMOS HOJE. – GÊNERO DA REPRESENTAÇÃO: ESTABELECE UMA RELAÇÃO ENTRE O EU QUE REPRESENTA E O PÚBLICO QUE ASSISTE. – DIVIDE-SE EM DOIS GRANDES SUBGÊNEROS: A TRAGÉDIA E A COMÉDIA. – EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE DE UM EU POEMÁTICO. – UTILIZA O SOM E IMAGEM DAS PALAVRAS PARA COMPOR SENTIDO. – PODE SER APRESENTADO DENTRO DE ESTRUTURAS FORMAIS BEM DEFINIDAS, COMO O SONETO. LÍRICO TEORIA DOS GÊNEROS 54 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Trovadorismo: contexto de produção "A poesia traz, sob as espécies da figura e do som, aquela realidade pela qual, ou contra a qual, vale a pena lutar" – alfredo bosi Entende-se por Idade Média o período que compreende do século V ao século XV na história. É claro que o termo vai para além de uma mera delimitação temporal, assim como carrega, comumente, uma significação especial no que tange à uma história que serve a narrativa ocidental. Nesse sentido, falar de um contexto de produção literária nesse período é compreender a temporalidade como um conjunto de práticas e relações sociais que moldaram a concepção de indivíduo e sociedade sob o manto de um pensamento teocêntrico. É, nesse contexto, afinal, que tem início o que consideramos como o primórdio da literatura em língua portuguesa. 1.1. Nasce Portugal A nação portuguesa começa a se consolidar a partir de 1128, quando D. Afonso Henriques enfrenta uma luta pelo trono e sai vitorioso. O mesmo homem, anos mais tarde, iria se proclamar o primeiro rei de Portugal, como Afonso I, inau- gurando a dinastia de Borgonha. Centena de anos depois, a Revolução de Avis ajudaria a consolidar a história do país. Portugal, assim, emerge na Península Ibérica e, consequen- temente, uma língua comum passa a ajudar a modelar o pequeno país situado entre a Espanha (e o restante da Eu- ropa) e o continente Africano para além do mediterrâneo. Nesse momento, o modo de organização do trabalho é o feudalismo, a Igreja católica possui forte influência na so- ciedade e o teocentrismo impera como corrente do pensar. 1.2. Nasce a Literatura Portuguesa O trovadorismo tem origem no provençal e no galego (regiões respectivamente localizadas na atual França e na atual península ibérica). Acontece durante o feudalismo, dentro do período que engloba a Baixa Idade Média. Como marco inicial desse período, temos a Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga da Guarvaia, atribuída a Paio Soares de Taveirós. Estima-se que a cantiga tenha sido com- posta ou em 1189 ou 1198. Trata-se, assim, do mais antigo texto em língua portuguesa: o marco incial do trovadorismo. TROVADORISMO E HUMANISMO COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 3 E 4 55 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Cantiga da Ribeirinha No mundo non me sei parelha, mentre me for’ como me vay, ca já moiro por vos e ay! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraya quando vus eu vi em saya! Mao dia me levantei que vus enton non vi fea! E, mia senhor, des aquel di’, jay! me foi a mi muyn mal, e vos, filha de don Paay Moniz, e ben vus semelha d’aver eu por vós guarvaya pois eu, mia senhor, d’alfaya nunca de vos ouve nem ei valia dua correa. (Paio soares de Taveiros) Cantiga da Ribeirinha (tradução) Não há no mundo ninguém que se compare a mim em infelicidade, enquanto a minha vida continuar assim, porque morro por vós e, ai, minha senhora branca e de faces rosadas, quereis que vos retrate quando vos vi sem manto. Mau dia foi esse em que me levantei, porque vos vi tão bela! [ou seja: melhor seria se vos tivesse visto feia]. E, minha senhora, desde aquele dia, ai, tudo para mim foi muito mal, mas vós, filha D. Paio Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha e vós uma garvaia[manto de luxo] quando nunca recebi de vós o simples valor de uma correia. 1.3. O feudalismo A sociedade medieval é caracterizada pela ausência do co- mércio e, consequentemente, pela produção em latifúndios pertencentes aos senhores feudais. Nos campos do senhor feudal, então, as pessoas organizavam-se em uma divisão social e de trabalho atrelada à crença de que o senhor feu- dal era o representante de Deus na Terra – crença também alimentada pela igreja. Assim, a sociedade segmentava-se em castas imutáveis, estando no topo dela o rei, seguido pelo clero, depois pela nobreza e, em última instância, os servos. Os servos, assim, estabeleciam para o senhor uma relação de vassalagem. Essa relação consistia na serviência com direitos e obrigações do servo ao seu suserano (o rei). A relação de suserania e vassalagem, desta forma, iria sus- tentar o grande pilar da literatura medieval: a serviência do eu lírico à figura da amada. 1.4. Tradição Oral As manifestações culturais da Idade Média ligavam-se, sobretudo, à premissa religiosa de que Deus é o Todo Po- deroso e, portanto, deve ser temido. Os trovadores, assim, apresentavam-se nas cortes dos senhores feudais, exibindo com música os seus jograis e as suas cantorias. A literatura que se estuda aqui é vinculada à melodia e à musicalidade, levando antes do nome de poesia o nome de cantigas. Do francês, Trouver significa encontrar, o trovador, portanto, é aquele que busca encontrar uma composição capaz de unificar melodia e voz, isto é, uma cantiga, uma canção. 56 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 2. Cantigas Trovadorescas As cantigas trovadorescas são divididas em categorias dentro do gênero: as cantigas líricas e as satíricas. O pri- meiro tipo (líricas) corresponde às cantigas que tem como temática os sentimentos, em especial, o amor e a saudade. Já as cantigas satíricas são textos com caráter cômico e crí- tico, a categoria apresenta, ainda, duas subclassificações, as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer. Cantigas LíricasSatíricas Cantigas de amor Cantigas de amigo Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer 2.1. Cantigas Líricas Aqui, o termo remete ao uso da Lira como instrumento de acompanhamento e não, necessariamente, ao gênero lírico como um todo. As cantigas líricas expressam sentimentos. A lírica trovadoresca. Segismundo Spina Seria preciso, segundo Segismundo Spina, retomar o mesmo entusiasmo com que o Romantismo abraçou o mundo encantado da poesia das catedrais e dos duelos sarracenoda Idade Média, cujos trovadores formam, no século XII, o primeiro capítulo da história literária da Eu- ropa moderna. multimídia: livro 2.1.1. Cantigas de Amor § Apresentam um eu lírico masculino; § A mulher amada é inacessível, pertence a uma casta social superior; § Tematizam o sofrimento (coita d’amor) e a servidão (vassalagem) amorosa; § Os pronomes utilizados costumam aparecer no mascu- lino (mia senhor, mia fremosa senhor, mia don (dona); Cantiga d’amor Quantos an gran coita d’amor eno mundo, qual hoj’ eu ei, querrían morrer, eu o sei, o averrian én sabor. Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor, sempre m’eu querria viver, e atender e atender! Pero já non posso guarir, ca já cegan os olhos meus por vos, e non me val i Deus nen vos; mais por vos non mentir, enquant’eu vos, mia senhor, vir’, sempre m’eu querria viver, e atender e atender! E tenho que fazen mal-sen quantos d’amor coitados son de querer sa morte, se non ouveron nunca d’amor ben com’eu faç’. E, senhor, por én sempre m’eu querria viver, e atender e atender! (garcia de guilhade) Cantiga de amor (tradução) Quantos o amor faz padecer penas que tenho padecido querem morrer e não duvido que alegremente queiram morrer. Porém enquanto vos puder ver, vivendo assim eu quero estar e esperar, e esperar! Sei que a sofrer estou condenado e por vós cegam os olhos meus. Não me acudis; nem vós, nem Deus Mas, se sabendo-me abandonado, ver-vos, senhora, me for dado. vivendo assim eu quero estar e esperar, e esperar! 57 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Esses que veem tristemente desamparada sua paixão querendo morrer, loucos estão. Minha fortuna não é diferente; porém eu digo constantemente: vivendo assim eu quero estar e esperar e esperar! 2.1.2.Cantigas de Amigo § Apresentam um eu lírico feminino; § Cantam a saudade/desejo do amigo (levam a crer que a relação amorosa acontece e/ou aconteceu); § O amigo corresponde ao namorado ou amado; § Trazem uma estrutura simples, de refrões e paralelismo; § Dialogam com o espaço social destinado à mulher. Cantiga de amigo – Ai flores, ai flores do verde piño, se sabedes novas do meu amigo? Ai, Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi á jurado? Ai, Deus, e u é? – Vós me perguntades pelo voss’ amigo? E eu ben vos digo que é san’e vivo Ai, Deus, e u é? Vós me perguntades pelo voss’ amado? E eu ben vos digo que é viv’ e sano: Ai, Deus, e u é? E eu ben vos digo que é san’e vivo, e será vosc’ant’o prazo saído. Ai, Deus, e u é? E eu ben vos digo que é viv’e sano, e será vosc’ant’o prazo passado. Ai, Deus, e u é? (dom dinis) Cantiga de amigo (tradução) – Ai, flores do verde pinheiro, sabeis notícias do meu namorado? Ai, Deus, onde está? Ai flores, ai flores, do verde ramo, Sabeis notícias do meu amado? Ai, Deus, onde está? Sabeis notícias do meu namorado, Aquele que mentiu sobre o que combinou comigo? Ai, Deus, onde está? Sabeis notícias do meu amado, Aquele que mentiu sobre o que jurou? Ai, Deus, onde está? Vós perguntais pelo vosso namorado? E eu bem vos digo que está são e vivo: Ai, Deus, onde está? Vós perguntais pelo vosso amado? E eu bem vos digo que está vivo e são. Ai, Deus, onde está? E eu bem vos digo que está são e vivo e estará convosco antes do prazo combinado: Ai, Deus, onde está? E eu bem vos digo que está vivo e são e estará convosco antes de terminar o prazo: Ai, Deus, onde está? https://cantigas.fcsh.unl.pt/ multimídia: site 2.2. Cantigas Satíricas As cantigas satíricas criticam os comportamentos sociais da época, fazendo uso do humor e do vocabulário de baixo calão para denunciar as ações dos nobres e das damas. 2.2.1. Cantigas de Escárnio § Cantigas Indiretas, isto é, velava-se o nome da pessoa referida; § Fazia uso do duplo sentido nas construções; § Declamada em ambiente palaciano. 2.2.2. Cantigas de Maldizer § Cantigas Diretas, isto é, identifica-se a pessoa crítica; § Faz uso de um vocabulário agressivo; § Proferidas nas ruas e praças públicas. 58 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 3. As novelas de cavalaria As novelas de cavalaria surgem como narrativas que, de- rivadas do gênero épico, passam a compor o imaginário medieval. Trata-se das novelas de reis e rainhas, condes e princesas, e costumam ser divididas em ciclos e temas. Por serem longos poemas, as novelas de cavalaria, quando a cultura escrita começa a emergir, passam a ser escritas em prosa. Portugal, França e Inglaterra tiveram grande in- fluência dessas narrativas. § Ciclo Bretão (ou Arturiano): ciclo inglês, são as narrativas mais famosas, envolvendo o Rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda. § Ciclo Carolíngio: ciclo francês, são menos conheci- das, Carlos Magno e seus cavaleiros são os heróis da narrativa. § Ciclo Clássico (ou Greco-Latino): ciclo da Anti- guidade, narram eventos como a Guerra de Tróia e as aventuras de Alexandre, o Grande. fonTe: YouTube Cruzada - Direção: Ridley Scott - 2005 Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um conceituado barãodo rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. multimídia: vídeo 4. Humanismo: um período de transição doré, gusTave. demônios confronTando danTe e virgílio. ilusTração Para o livro a divina comédia (inferno), de danTe alighieri, Publicado em 1885 – biblioTeca de arTes decoraTivas (Paris, frança). a ilusTração refleTe a confiança dos humanisTas. danTe e virgílio enfrenTam os demônios Por meio da razão, que os ajuda a afasTar as “Trevas” do PensamenTo vinculado à idade média. O humanismo é marcadamente um período de transição. Esse é, inclusive, um dos primeiros conceitos para se pen- sar sobre as produções artísticas. Na decadência do feuda- lismo e na retomada do comércio, em especial nas zonas longes dos grandes centros feudais, muito em função das cruzadas, surge a necessidade de se organizar as riquezas que a mais nova classe social passa a possuir. Assim, com a ascensão da burguesia, começa a despontar um investimento na própria formação cultural. Essa forma- ção, contudo, não está mais vinculada com tanta força ao pensamento teocêntrico, pelo contrário, busca-se atentar para uma retomada dos valores da Antiguidade Clássica em que o homem, isto é, o pensamento antropocêntrico norteava o desenvolvimento da sociedade. 59 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Desse modo, por toda a Europa transformações nos modos de produção da arte começam a aparecer. O Humanismo, assim, caracteriza-se por concentrar produções em um momento anterior ao estabelecimento da Idade Moderna, mas que já assinalava a queda do feudalismo. Os mecenas, patrocinadores da arte, e a expansão marítima portuguesa são importantes fatores do período. lucca – burgo (iTália) 4.1. Produção literária portuguesa Posteriormente à Revolução de Avis (1383-1385), Portugal passou a acumular poder e riquezas, investindo não ape- nas na expansão marítima, mas também na consolidação cultural da sua nação. Assim, em 1418 é fundada a Torre do Tombo, importante centro de arquivos históricos da na- ção portuguesa. Irão se destacar nesse período as produções de Fernão Lo- pes, um dos cronistas-mor a trabalhar na Torre do Tombo; a poesia de Garcia Resende, que passa a desvincular-se da tradição oral e começa a apresentar regras de escrita e composição; e o teatro de Gil Vicente, que traz peças hu- moradas e críticas, em oposição às peças de ensino religio- so até então vigentes na sociedade. 4.1.1. Fernão Lopes: crônica A importância de Fernão Lopes para a história da prosa é enorme. Assumindo a função de cronista-mor do reino, após alguns anos de trabalho na Torre do Tombo, o cro- nista passa a ser responsável por notar o cotidiano das práticas reais e da sociedade portuguesa. Distanciando-se do clero, Fernão Lopes irá narrar as suas crônicas com uma verossimilhança maior em relação à realidade. Fernão Lopes, assim, contribuiu para o desenvolvimento de uma visão de mundo antropocêntrica, tornando-se um marco para a prosa portuguesa. O cronista tem como obra: § Crônica de El-Rei D. Pedro I: narra os eventos acon- tecidos durante o reinado de D. Pedro I. É nesse volume que encontra-se o famoso episódio da morte de Inês de Castro (retomado no épico de Camões Os Lusíadas). § Crônica de El-Rei D. Fernando: reconstitui o reina- do de D. Fernando a partir de seu casamento com Leo- nor Teles. Encerra-se com a Revolução de Avis. § Crônica de El-Rei D. João: narrativa dividida em duas partes. Na primeira parte, iniciada na morte de D. Fernando (1383), narra-se a revolução que leva D. João ao trono de Portugal. A segunda parte descreve o reinado de D. João. 4.1.2. Garcia Resende: poesia palaciana A poesia palaciana representa uma desvinculação às raízes das cantigas trovadorescas. Desse modo, a tradição oral pas- sa a dar lugar à tradição escrita, a cantiga falada, torna-se poesia, escrita – ainda que com o intuito da declamação. A circulação da poesia palaciana acontece nas cortes. O sur- gimento do material representa, também, um aumento no número de pessoas leitoras, o que faz com que alguns nomes, como Nuno Pereira e Bernadim Ribeiro apareçam no papel de escritores. A língua portuguesa está se consolidando. O es- critor mais famoso será Garcia Resende, sendo ele, também, o responsável pela organização do Cancioneiro Geral. inês de casTro 60 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 4.1.2.1. Principais características da poesia palaciana § Instauração de regras formais da escrita, como a medi- da velha, com a forma fixa das redondilhas; § O sofrimento amoroso torna-se menos exagerado; § Vilancetes, esparsas e trovas surgem como novas for- mas de composição; § Aperfeiçoamento linguístico de técnicas como a alitera- ção e a ambiguidade. Medida Velha Redondilhas menores: versos com metrificação de 5 sílabas poéticas. Redondilhas maiores: versos com metrificação de 7 sílabas poéticas. 4.1.2.2. Formas Fixas § A trova: composta de duas ou mais quadras de versos de sete sílabas e rimas ABAB; § O vilancete: composto de um mote (motivo de dois ou três versos) seguido de voltas ou glosas (estrofes em que o mote é desenvolvido) de sete versos; § A cantiga: composta de um mote de quatro ou cinco versos e de uma glosa de oito ou dez versos, com repe- tição total ou parcial do mote no fim da glosa; § A esparsa: composta de uma única estrofe de oito, nove ou dez versos de seis sílabas métricas. Cancioneiro GERAL hTTPs://PT.wikiPedia.org/wiki/cancioneiro_geral#/ media/ficheiro:cancioneiro_geral_001.jPg Trata-se de um compilado de poesias palacianas feito por Garcia Resende e publicado em 1516. Nele en- contramos poemas do século XV e XVI, em português, mas também em castelhano, sobre variados temas. Foi o primeiro compilado poético impresso da história de Portugal. 4.1.3. Gil vicente: o teatro Sem dúvida, Gil Vicente é o nome mais conhecido do hu- manismo português. Além disso, é conhecido como o pai do teatro na terra lusitana. Embora pouco se saiba sobre a sua vida privada, estima-se que o autor tenha nascido no final do século XV. Sua obra é teatral é encarada como um vasto legado do início da dramaturgia portuguesa. Seus textos costumam dividir-se em autos (peças que envol- vem um plano de fundo religioso) e farsas (textos em que os personagens fazem parte da vida cotidiana da época). AUTOS E FARSAS § Autos Vicentinos: Os autos são peças com temáti- ca religiosa, sejam elas sérias ou cômicas. Os princi- pais autos vicentinos são: Auto da Barca do Inferno (1517), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519), que compõem a Trilogia das Barcas. § Farsas Vicentinas: As farsas são peças sem temá- tica religiosa, com personagens e enredos baseados nas situações do cotidiano. As principais farsas vicen- tinas são: A farsa do velho da horta (1512) e A farsa de Inês Pereira (1523). 4.1.3.1. Ridendo castigat mores As análises e classificações do teatro vicentino costumam envolver a maneira como ele retratava a sociedade na época. Em meio aos influxos renascentistas, a obra de Gil Vicente deixa para trás o teatro religioso como o te- atro do medo, por meio do qual os fiéis eram ensinados a temer a figura divina. Agora, o olho humanista de Gil 61 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Vicente percebe e atua sobre os comportamentos sociais, ainda seguindo uma moral ligada a preceitos católicos, mas muito mais crítica e atenta. Por isso, a frase que costuma ser atribuída a sua obra Riden- do castigat mores (rindo corrigem-se os costumes) – máxima latina – é capaz de sintetizar o seu teatro. Gil Vicente analisa em suas obras o comportamento social, como o Padre que não segue os preceitos e deita-se com mulheres, o banqueiro que só tem interesse no lucro, as traições da vida conjugal etc. Nesse sentido, sua obratece críticas moralizantes direta- mente aos comportamentos humanos, isto é, aos tipos sociais. Em outras palavras, é importante perceber que o autor de O velho da horta não critica instituições, como a igreja ou a burguesia, mas o comportamento individual de membros pertencentes a essas classes. Os textos vicentinos estão disponíveis, em sua maioria, no site do Domínio Público. Para acessá-lo, basta esca- near o QR Code. multimídia: site Artes Plásticas Obras Medievais “madonna e o menino” de duccio, PinTor iTaliano Período gÓTico (c.1255-1319) sePulTamenTo de crisTo (iluminura medieval) 62 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS IDADE MÉDIA IDADE MODERNA TEOCENTRISMO TRADIÇÃO ORAL ANTROPOCENTRISMO TRADIÇÃO ESCRITA TEATRO VICENTINO PROSA (CRÔNICA) POESIA PALACIANA TROVADORISMO HUMANISMO CLASSICISMO CANTÍGAS LÍRICAS • CANTIGAS DE AMOR • CANTIGAS DE AMIGO CANTÍGAS SATÍRICAS • CANTIGAS DE ESCÁRNIO • CANTIGAS DE MALDIZER 63 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s dade na região da Itália, retoma os princípios dos autores e pensadores da Antiguidade Clássica. Em outras palavras, volta-se ao passado e lá encontra-se a filosofia e a arte Grega, cujo um dos princípios era a busca pela perfeição e o desenvolvimento das virtudes humanas. Nessa direção, na pintura, na arquitetura, na escultura, na literatura, nas mais diversas áreas do conhecimento, um modo de pensar voltado à metodologia científica, racional e universal, passa a ser desenvolvido. NO VESTIBULAR Por se tratar de um marco na história da Literatura e da arte de forma geral, o Classicismo, bem como as ativi- dades de todo o Renascimento, costumam ser utilizadas como referência em questões de artes, história, literatura, entre outros. Por conta disso, é importante e interessante situar outros artistas do período, como Leonardo Da Vin- ci, famoso pelo La Gioconda (1503) [Mona Lisa]. Além disso, vale destacar Danti Alighieri, autor italia- no do século XIII, mas que em seu texto já anunciava formas modernas para o período, como o decassílabo. 1.1. A chegada do clássico É claro que não se pode deixar de incluir dentre as princi- pais transformações da Idade Moderna para a nação por- tuguesa a expansão marítima. Afinal, é dela que partirão importantes percepções para os sonetos de Camões a res- peito de Portugal. Não obstante, as navegações portugue- sas serão ainda tematizadas no grande épico Os lusíadas (1572). Contudo, é válido dizer que o Classicismo não tem início com Luís Vaz de Camões, mas sim com um outro por- tuguês: Sá de Miranda. Os Lusíadas – Edição Comentada por Otoniel Mota Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz de Camões, considerada a epopeia portuguesa por excelência. multimídia: livro Sá de Miranda (1481-1558) foi um importante escritor portu- guês. Capaz de escrever em diversos estilos, Sá de Miranda é 1. Classicismo: contexto de produção “Conhecer a história da nossa língua é conhecer uma parte importante de nossa história como cidadão e como nação” – luiz carlos cagliari Os influxos renascentistas angariados na retomada do co- mércio e no nascimento da burguesia contribuíram para que a Idade Média chegasse ao fim. Agora, o pensamento teocêntrico dá lugar a novas concepções de mundo, e, no plano da Arte, uma nova estética toma conta das produ- ções: o Classicismo. deTalhe do quadro o nascimenTo da vênus, de boTTicelli, galeria degli ufizzi, florença. O Classicismo alinha-se ao processo cultural denominado Renascimento, o qual, fazendo-se valer com maior intensi- RENASCIMENTO: CLASSICISMO E LUÍS VAZ DE CAMÕES COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 5 E 6 64 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s um dos nomes que faz parte do Cancioneiro Geral, organiza- do por Garcia Resende. É, porém, em 1521, quando vai estu- dar na Itália, que Sá de Miranda toma contato com os versos de Francesco Pretarca (1304-1374), poeta responsável por aprimorar o soneto: a forma perfeita da poesia renascentista. Assim, Sá de Miranda retorna a Portugal em 1527, publi- cando uma obra já com ares bastante modernos chamada “Os estrangeiros” (1527), uma comédia em prosa. A publi- cação, então, passa a funcionar como marco do Classicis- mo português, já que é no retorno de Sá de Miranda que o Soneto chega e passa a ser difundido em Portugal. O SOL É GRANDE O sol é grande: caem co’a calma as aves, Do tempo em tal sazão, que sói ser fria. Esta água que de alto cai acordar-me-ia, Do sono não, mas de cuidados graves. Ó cousas todas vãs, todas mudaves, Qual é tal coração que em vós confia? Passam os tempos, vai dia trás dia, Incertos muito mais que ao vento as naves. Eu vira já aqui sombras, vira flores, Vi tantas águas, vi tanta verdura, As aves todas cantavam de amores. Tudo é seco e mudo; e, de mistura, Também mudando-me eu fiz doutras cores. E tudo o mais renova: isto é sem cura! sá de miranda. in.: Poesias escolhidas. inTrodução, seleção e críTica de josé v. de Pina marTins ediTorial verbo, lisboa, 1969 hTTPs://PT.wikiPedia.org/wiki/francisco_PeTrarca#filosofia Petrarca foi considerado o pai do Humanismo; sua obra, além de alterar drasticamente a forma poéti- ca vigente, fazendo valer-se do que seria conhecido como Medida Nova, trata com um olhar mais filosófi- co e racional para temas como o amor e a existência humana. Alguns poemas de Camões tecem paralelos temáticos com a obra do italiano. 2. Luís Vaz de Camões A biografia de Camões é esparsa e não pode ser dada como certeira. O grande escritor português, afinal, não fora nenhum nobre, em uma época em que apenas reis e pessoas de gran- de importância eram biografadas. O que se conta, porém, é que o autor pode ter nascido em 1524 ou 1525, em Lisboa, ou em Coimbra, ou em Santarém. Embora essas informações não sejam precisas, o que se sabe é que Camões estuda na universidade de Coimbra, serve militarmente Portugal e, em 1549, na luta contra os mouros, perde o olho direito. Uma briga o fará ser preso, anos mais tarde. Solto, na con- dição de exercer serviço militar, vai trabalhar em Macau, colônia portuguesa. É lá, supostamente, que o manuscrito dos Lusíadas começa a existir. O escritor só voltaria a nação lusitana em 1569, depois de ter passado por Moçambique, pagando pena por dívidas. Sua obra épica seria publicada em 1572, o que rendeu uma pensão anual, oferecida pelo rei D. Sebastião. fonTe: rTP ensina Documentário português sobre Camões multimídia: vídeo Camões morre na pobreza, em 1580, coincidentemente, ano em que Portugal começa a declinar, ficando sob o domínio 65 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s da coroa espanhola. Seus poemas são publicados em livro póstumo, intitulado Rimas (1595). fonTe: rTP ensina Documentário português sobre a obra Os lusíadas multimídia: vídeo – sem título – Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento Etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente, Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alg’a cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. camões, luís vaz de. in: soneTos. Na ocasião de retorno de Macau à Portugal, o navio de Camões sofre um naufrágio, conta a lenda que entre salvar o manuscrito de Os Lusíadas e sua amada Dina- mene… Bem, hoje o mundo todo conhece Os Lusíadas como um grande épico português. No entanto, tal acon- tecimento não passou em branco e Camões escreve um poema em homenagem a sua amada falecida. 2.1. Épico: Os Lusíadas § Poema épicoaos moldes de Ilíada e Odisseia. § Épico secundário. § O herói concatena os valores do povo. § Tematiza as grandes navegações. § Explora tanto a mitologia cristã quanto a mitologia grega. § 8.816 versos decassílabos; § 1.102 estrofes de oitava rima; § 10 cantos, adequados na estrutura do poema épico: 1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3) O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema dos feitos heroicos dos ilustres barões de Portugal, o herói, Vasco da Gama, e o destino da viagem. As armas e os barões assinalados Que, da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reina, que tanto sublimaram; barões = homens ilustres ocidental praia lusitana = Portugal Taprobana = ilha de Ceilão, limite orien- tal do mundo conhecido 2. Invocação (canto I, estrofes 4 e 5) O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedin- do a elas para inspirá-lo na composição da obra. E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mim um novo engenho ardente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloquo e corrente, 3. Dedicatória ou oferecimento (canto I, es- trofes 6 a 18) O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei de Portugal na época em que o poema foi publicado, visto como a esperança de propagação da fé cristã e continuação dos grandes feitos de Portugal. Ouvi: vereis o nome engrandecido Daqueles de quem sois senhor superno E julgareis qual é mais excelente, Se ser do mundo rei, se de tal gente. superno = supremo 66 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 4. Narração (canto I, estrofe 19 até canto X, estrofe 144) O poeta relata a viagem propriamente dita dos portugueses ao Oriente. Essa é, portanto, a parte mais longa do relato e vários são os episódios que nela se destacam. O desenrolar dos fatos começa In Media Res, ou seja, no meio da ação, quando Vasco da Gama e sua esquadra se dirigem ao Cabo da Boa Esperança. Dentro da narração, alguns episódios merecem destaque: § Inês de Castro, amante do príncipe D. Pedro assassinada a mando do rei (canto III); a morTe de inês de casTro, século xix. § Velho do Restelo, velho que, simbolizando as ideias medievais e conservadoras, critica as grandes navegações (canto IV); Torre de belém, lisboa, PorTugal. § O gigante Adamastor (canto V), que é uma personificação dos perigos enfrentados pelos navegantes ao transporem o Cabo das Tormentas. § A ilha dos amores (canto IX), com o erotismo de seus símbolos, conclamando os portugueses a contemplarem a “Máquina do Mundo”. as nereidas (ninfas) da ilha dos amores 5. Epílogo É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do can- to X), em que o poeta demonstra cansaço e, em tom melancólico e pessimista, aconselha ao rei e ao povo português que sejam fiéis à pátria e ao cristianismo. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheO- braForm.do?select_action=&co_obra=1870 multimídia: site 2.2. Lírico: o amor e o desconcerto § Medida velha (redondilhas, trovas, esparsas etc.) e me- dida nova (sonetos, oitavas, éclogas); § O amor sob dupla perspectiva: § amor sensual e pagão § amor neoplatônico: fruto da relação entre o mundo sensorial e o mundo das ideias. O amor pleno só pode acontecer no mun- do das ideias, portanto, é inacessível. A percepção transforma o sentimento em uma coisa contraditória. § O desconcerto do mundo § Surge na literatura a incongruência do eu em rela- ção ao mundo; § Perspectiva pessimista de vida; § Questões existenciais do próprio poeta. 67 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS Com o episódio de Inês de Castro, fica clara a intenção de associar o herói ao coletivo. É importante, pois, perceber que da história de amor ali narrada, emerge uma lição muito importante: o povo português é um povo que sabe amar, valor nobre e positivo que impulsionará Vasco da Gama em sua viagem. Estruturalmente, o episódio traz um tom lírico, da profusão de sentimentos, dentro do texto épico. O episódio retrata o conflito ideológico a respeito das grandes navegações. Para muitos, ela foi vista não como o símbolo da Idade Moderna e do engrandecimento da nação portuguesa, mas como fruto dos interesses oligárquicos que colocavam a vida de homens portugueses atrás da sua busca por riquezas, fama e glória. Como Portugal, de fato, adentra um período de derrocada a partir de 1580, as falas do Velho ganham um tom de profecia. Traziam-na os horríficos algozes Ante o Rei, já movido a piedade; Mas o povo, com falsas e ferozes Razões, a morte crua o persuade, Ela, com tristes e piedosas vozes, Saídas só da mágoa e saudade Do seu Príncipe e filhos, que deixava Que mais que a própria morte magoava “Episódio de “Inês de Castro” canto III Mas um velho, de aspeito venerado, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos os olhos em nós, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós o mar ouvimos claramente, Co’um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: Qual em cabelo: —”Ó doce e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Por que is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha, e não é vossa? Como por um caminho duvidoso Vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento Quereis que com as velas leve o vento?” “Episódio do “Velho do Restelo” Canto IV 68 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS Trata-se de um episódio de superação. Nele, o homem vence um gigante. Ali está simbolizada a coragem e a inteligência do povo português. Vasco da Gama vence o gigante ao não se amedrontar, percebendo, na história, que o gigante estava petrificado e, por isso, poderia passar por ele sem contorná-lo (o que levaria o navio à destruição). Tão temerosa vinha e carregada, Que pôs nos corações um grande medo; Bramindo, o negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo. – “Ó Potestade (disse) sublimada: Que ameaço divino ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta, Que mor cousa parece que tormenta?” [...] Não acabava, quando uma figura Se nos mostra no ar, robusta e válida, De disforme e grandíssima estatura; O rosto carregado, a barba esquálida, Os olhos encovados, e a postura Medonha e má, e a cor terrena e pálida; Cheios de terra e crespos os cabelos, A boca negra, os dentes amarelos. Episódio “O gigante Adamastor” canto V Na busca pela racionalidade, sentimentos como o amor, pouco explicáveis, mostram-se como contraditórios ao poeta. Camões retoma Platão e, a partir da grega filosofia que separa o mundo sensorial do mundo das ideias, percebe o amor como um sentimento complexo que, racionalmente, só pode existir em sua plenitude no mundo das ideias, ainda que possua grande força de atração (amor carnal), para a existência no mundo sensorial. Assim, o puro amor é algo desprovido de paixão e que só pode ser experienciado no desenvolvimento das virtudes do ser. O soneto Amor é fogo que arde sem se ver deixa bem claro as contradições a que esse sentimento está submetido. Por outro lado, sonetos como Transforma-se o amador na cousa amada confirmam que quanto mais desprovido de paixão e sensorialidade, mais puro será o amor. Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? amor é fogoque arde sem se ver. in: camões, luís vaz de. lírica. são Paulo: culTrix, 1976. Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está ligada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assim como a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [E] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. camões, luís de. lírica – seleção, inTrodução e noTas de massaud moisés. são Paulo: culTrix, 1972. 69 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS DIAGRAMA DE IDEIAS A perenidade das coisas, o conflito sobre o platonismo, o mundo em desencanto, tudo isso é tema da lírica camoniana, sobretudo de seus sonetos. A temática é comumente expressa, assim, a partir de uma visão pessimista do mundo (visão particular e individual). Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía. camões, luís vaz de. 200 soneTos. PorTo alegre: l&Pm. 1998. Artes Plásticas nos ombros de um TriTão... vai dione, comPosição alusiva ao canTo ii (esT. xxi) de os lusíadas de camões, figurando dione e um gruPo de ninfas num mar revolTo, PerTo de uma caravela de bordalo Pinheiro os PorTugueses e as ninfas na ilha dos amores (ilusTração do ePisÓdio do canTo ix de os lusíadas de camões, de bordalo Pinheiro 70 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s 1. Quinhentismo “Os descobrimentos e a astronomia copernicana provo- caram o descentramento da percepção bíblica medieval de mundo. A Terra deixava de ser o centro do universo, Jerusalém deixava de ser o centro da Terra e o homem deixava de estar no centro da criação. ( ... ) A crença dominante no pensamento europeu era de que a totali- dade da criação, incluindo a história da humanidade, se movia de leste para oeste.” – klaas woorTrnann Muitas transformações marcaram o século XVI e parte dos anos anteriores. Várias foram as descobertas no campo das artes e das ciências. Hoje, somos uma espécie de legado des- se momento, em que um grande golpe abateu o pensamento teocêntrico e, de uma centrada visão de mundo, surgiram estu- dos que comprovaram a esfericidade do planeta Terra, o Helio- centrismo, entre outras percepções humanas e astronômicas. Assim, as grandes navegações conduziram à “descoberta” de um Novo Mundo, que há muito já figurava no imaginário europeu. Nesse ínterim, entender o que se chama de Litera- tura Brasileira a partir de 1500 é, justamente, entender que se trata de uma literatura que NÃO era produzida por brasi- leiros. Nessa direção, é imprescindível rever o próprio concei- to de brasileiro e pensar de que maneira a língua portuguesa foi utilizada diante do que foi o processo de colonização. Grandes críticos literários brasileiros afirmam que a Lite- ratura começa a tomar ares verdadeiramente brasileiros a partir dos influxos do arcadismo, mas que somente a inde- pendência e, depois, no modernismo (e mesmo nos dias de hoje) é que a literatura começa a se consolidar no que tan- ge o pensar sobre o Brasil de forma aprofundada. Assim, temos que a literatura brasileira pode ser dividida em dois grandes momentos: a literatura pré-independência e a literatura pós-independência do Brasil, em 1822. Ainda assim, não podemos afirmar que em 1500 os escritos de Pero Vaz de Caminha, comunicando ao rei o “achamento” de novas terra, fosse uma literatura do Brasil, mas sim, uma li- teratura feita no Brasil (quem nem mesmo se chamava assim, na época). Além disso, vale dizer que essa mesma literatura não tinha, então, pretensões artísticas. Na verdade, eram car- tas, diários, crônicas, narrativas, dessa grande empreitada ao Novo Mundo. É claro, porém, que desse material é possível extrair literatura e, também, a história que nos precede. Há, nessa literatura, que muito caracteriza-se como uma literatura de informação, por meio das cartas ao rei e das narrativas de viagens (temos, aqui, duas concepções de gênero textual que se misturam), um valor documental e historiográfico que não pode ser esquecido. Por outro lado, em meio ao período que chamamos de Quinhentismo, e que compreende o século XVI nas terras portuguesas além do Atlântico, encontramos também o que será dada como literatura de formação, uma vez que a expansão marí- tima constituiu esse projeto de dominação leste-oeste dos povos europeus e, nessa direção, trouxe consigo valores morais associados à religião católica. De tal modo, esse segundo grupo constitui a produção textual voltada à ca- tequização dos povos nativos empreendida pelos jesuítas. As produções desse período, portanto, merecem atenção literária, já que trabalham com os primeiros registros em língua portuguesa em território nacional. Não obstante, na história da Literatura no Brasil, sabe-se que os textos produzidos nesse período servirão de base e/ou serão re- tomados em futuras produções, de Gregório de Matos até Oswald de Andrade. 1.1. Literatura de informação A literatura de informação diz respeito aos primeiros regis- tros sobre a geografia, a fauna, a flora e os nativos do território brasileiro. Tem como marco inicial a “certidão de nascimento da literatura brasileira”, isto é, a Carta (1500) de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel. Além disso, registros de viagens, diários e crônicas são outros textos documentais do período. Sobretudo, portanto, narrativos, os textos de informação nos colocam diante de reflexões importantes, na medida que exprimem a visão do colonizador, com sua moral e costumes, diante do Novo Mundo. A tentativa, portanto, de adequar à nova realidade a uma visão já preestabelecida pela moral cristã e pela ética europeia é nítida quando nos relatos vemos que os povos nativos são muitas vezes retra- tados como aqueles que precisam de salvação. QUINHENTISMO E ESTÉTICA BARROCA COMPETÊNCIA(s) 5 HABILIDADE(s) 15, 16 e 17 LC AULAS 7 E 8 71 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Além disso, em especial às cartas enviadas a Portugal, é importante destacar a ausência de personalidade. Embo- ra haja autoria, como Pero Vaz de Caminha, as cartas do período assumiam tons burocráticos, no sentido de que o autor se transmutava em uma espécie de olho do rei e nada mais. Há, por fim, no final das cartas em alguns casos, solicitações de favores ao rei, outro importante ponto para uma análise historiográfica do Brasil. A seguir, observe a lista com alguns documentos importan- tes relacionados à literatura de informação: § Carta, de Pero Vaz da Caminha, escrita em 1500; § Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza, escrito entre 1530 e 1532, durante a expedição de Martim Afonso de Sousa; § História da Província de Santa Cruz e Tratado da Terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo, ou Gândavo, publicados, respectivamente, em 1576 e 1826; § Tratado descritivo do Brasil em 1587 ou Notícias do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, publicado em 1851. § Diálogos das grandezas do Brasil (1618), atribuídos a Ambrósio Fernandes Brandão, e a História do Bra- sil (1627), de Frei Vicente do Salvador, publicados no século XVII. 1.2. Literatura de formação A literatura de formação ou literatura de catequese compre- ende o conjunto de textos produzidosno século XVI com o intuito de doutrinar os povos nativos aos dogmas da igreja ca- tólica. Nessa direção, é válido afirmar que se trata de uma for- ma literária cujos produtores são essencialmente os jesuítas. É importante frisar que além de se conquistar mais fiéis, haja vista que a igreja católica vinha sofrendo com a Reforma Pro- testante, os textos refletem a tentativa de estabelecer uma comunicação. Afinal, processos diferentes são empregados na catequização do branco europeu e do nativo indígena. Assim, a literatura jesuítica precisou transformar os ser- mões que eram proferidos em latim nas missas em poemas cantados, trovas, cantigas, tudo que pudesse aproximar e facilitar a comunicação com os nativos. Por isso, muitos dos textos podem soar infantis, mas, na verdade, carregam um tom didático e pedagógico. Leia abaixo A Santa Inês, um dos poemas mais conheci- dos de José de Anchieta. A Santa Inês Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Cordeirinha santa, de Iesu querida, Vossa santa vinda o diabo espanta Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo. Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tão pura. Vossa formosura honra é do povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo. Virginal cabeça pola fé cortada com vossa chegada, já ninguém pereça. Vinde mui depressa ajudar o povo, pois com vossa vinda lhe dais lume novo. Vós sois, cordeirinha, de Iesu formoso, mas o vosso esposo já vos fez rainha, Também padeirinha sois de nosso povo, pois, com vossa vinda, lhe dais lume novo. PorTela, eduardo (org.). josé de anchieTa: Poesia. rio de janeiro: agir, 1959. Assim, características como linguagem simples, tom moralizantes (teatro, prosa ou poesia), descritivismo e a clara fundamentação religiosa imperam nesse tipo de literatura. São grandes nomes do período: Padre José An- chieta e Padre Manuel da Nóbrega. Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo o ano árvores nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e varie- dade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedade e em seu canto não dão vanta- gem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos, e canários de Portugal e fazem uma harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar ao Senhor, e os bosques são tão frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo. Há muitas árvores de ce- 72 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s dro, áquila, sândalos e outros paus de bom olor e várias cores e tantas diferenças de folhas e flores que para a vista é grande recreação e pela muita variedade não se cansa de ver. josé de anchieTa. carTas, informações, fragmenTos hisTÓricos e sermões. informação da Província do brasil Para nosso Padre – 1585. rio de janeiro: civilização brasileira, 1933, P. 430-431. Como os jesuítas também tinham contas a prestar para a coroa, é possível, ainda, encontrar textos em que eles des- crevem o Brasil em cartas. Ali, vale a pena perceber a visão da Igreja para esse Novo Mundo: o deslumbramento diante do cenário e, ao mesmo tempo, o caráter missionário que davam a si mesmos na tentativa de “salvar” os indígenas. 2. Barroco: contexto de produção Muito se discute sobre as produções artísticas e literárias do século XVII, tendo-o como um período de relações entre mais ou menos 1580 e 1680, para melhor especificar. Há quem julgue que tudo que se produziu nesse tempo é pouco relevante à história da literatura, como há quem observe no período a raiz de grandes transformações culturais na litera- tura ocidental. É inegável, porém, que as transformações culturais e políti- cas na Europa durante o período tiveram significativa impor- tância não apenas nos modos de vida e de se pensar, mas também, na produção artística. Por isso, é válido pontuar que o Barroco pode ser lido como um movimento póstumo à Reforma Protestante, isto é, que se faz a partir dos des- dobramentos do embate religioso e político europeu. Reforma Protestante A Reforma Protestante foi um movimento reformis- ta cristão iniciado em 1517 por Martinho Lutero. Ele apresentou as 95 teses (1517) como forma de protes- to contra a doutrina da Igreja Católica. A reforma teve como pilares 5 princípios. 1. somente a fé; 2. somente a Escritura; 3. somente Cristo; 4. somente a graça; e 5. somente a glória de Deus. O protestantismo nasceu em decorrência da resistên- cia à Igreja Católica, em especial, a partir da recusa e da denúncia de abusos cometidos pela instituição: como a venda de indulgências A fim de evitar a perda de poder, a Igreja Católica adotou medidas a partir da convocação do Concílio de Trento, em 1546. Outra importante ação foi a fundação dos grupos jesuíticos, como a Companhia de Jesus, cujo papel histórico extrapolou, inclusive, as fronteiras europeias. Tais medidas ficaram conhecidas como contrarreforma católica. PinTura ilusTra sessão do concílio de TrenTo. arTisTa: Paolo farinaTi. (disPonível em: hTTPs://commons.wikimedia.org/wiki/file:TridenTinum.jPg) Entre os anos de 1580 e 1640, Portugal esteve anexado à Espanha, isto é, sob o domínio da mesma coroa, período conhecido como União Ibérica. O motivo de tal imple- mentação foi o desaparecimento de Dom Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, na África. Como o parente mais próximo do rei, logo, herdeiro do trono, fosse o rei da Espa- nha Felipe II, ele apenas unificou as coroas. 3. Estética Barroca: o dualismo O Barroco costuma ser estudado na literatura em língua portuguesa a partir de dois principais autores: Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. Contudo, diferente do que se pode pensar, a obra dos dois autores é bastante distinta, assemelhando-se sobretudo pela datação de seus textos e fazendo-se valer, justamente, pelo contraste. Em outras palavras, isto quer dizer que o Barroco não possui um apa- nhado direto de características estruturais para a literatura, mas que se manifesta a partir de algumas vertentes, como um reflexo do embate religioso e político do período. Essa aparente falta de unidade foi, inclusive, um dos fatores que contribuiu para o estigma de ausência de boas produções literárias durante o século XVII. Pelo fato de Portugal estar sob domínio espanhol no perí- odo, a produção barroca, mesmo que vislumbre a língua portuguesa, costuma ser associada à Espanha. Afinal, en- tre as manifestações barrocas da Europa (o efuísmo inglês, o marinismo italiano, o preciosismo francês, entre outros), aquela que dá nome e ecoa no primeiro poeta brasileiro é o gongorismo espanhol – nome que advém do poeta Luís de Gôngora (1561-1627). 73 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s Na Espanha, Gôngora era um grande poeta, porém, com uma desavença pessoal bastante significativa com Francis- co de Quevedo (1580-1645). Enquanto o último recrimi- nava as inovações propostas por Gôngora em seu excesso de preciosismo, o poeta gongorista insinuava que Quevedo era um péssimo tradutor de literatura grega. O embate é bastante simbólico, haja vista que é a corrente quevedista que irá influenciar o outro expoente literário do barroco brasileiro: Padre Antônio Vieira. Curiosidades O estilo barroco europeu do século XVII recebeu de- nominações particulares em cada país: § Espanha – gongorismo, originado do nome do po- eta Luis de Gôngora (1561-1627). § Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da obra Euphues, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly (1554-1606). § Itália – marinismo, derivado do nome de Gianbat- tista Marino (1569-1625). § França – preciosismo, em razão do exagero da for- ma preciosista, afetada e extremamente rebuscada na corte do rei Luis XIV. § Alemanha – silesianismo, estilo característico dos escritores da região da Silésia. 3.1.Luis Gongora: cultismo Luis de Gongora foi o expoente de uma tendência literária barroca chamada cultismo. Dentre as principais caracterís- ticas do cultismo estão: § o rebuscamento formal da linguagem; § amplo número de figuras de linguagens: metáforas, metonímias, antíteses, entre outras. § vernáculo preciosista; Em outras palavras, a tendência cultista valorizava a men- sagem, de modo que falar sobre algo era, em fato, descre- ver esse mesmo algo por meio de uma linguagem capaz de expor todas as sensações possíveis a respeito desse objeto. Assim, a realidade é ocultada diante das palavras, tratada de forma indireta. Gregório de Matos seguirá a tendência cultista em muitos de seus poemas. 3.2. Francisco de Quevedo: conceptismo Francisco de Quevedo foi um nome singular na defesa do conceptismo, corrente que, muitas vezes, leva o nome de quevedismo. Diferentemente do cultismo, a vertente con- ceptista do Barroco valoriza muito a clareza das ideias, ten- do como principais características: § clareza dos argumentos; § valorização da lógica; § bom uso da retórica; § silogismos (duas proposições que geram uma terceira proposição lógica); § sofismas (utiliza argumentos verdadeiros, mas associa- -se a algo que apenas parece real). No Brasil e em Portugal, Padre Antonio Vieira fará bastante uso dessa forma de trabalhar o texto. 74 VO LU M E 1 L IN G UA G EN S, C Ó D IG O S e su as te cn ol og ia s DIAGRAMA DE IDEIAS QUINHENTISMO LITERATURA FEITA NO BRASIL; OS VALORES VIGENTES SÃO OS VALORES DO COLONIZADOR. TOM DOCUMENTAL. ATENÇÃO À RELAÇÃO DAS CARTAS COM A COROA E À POSTURA DA IGREJA. LITERATURA DE INFORMAÇÃO CARTAS / NARRATIVAS NATIVOSFLORAFAUNA LITERATURA DE FORMAÇÃO CATEQUESE TEATROSERMÕESPOEMAS