Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Diversidade Cultural e Cidadania 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
Patrick Aparecido Trento 
 
 
 
INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
● Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. 
● Mestra em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. 
 
Sobre o Autor 
Mestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de 
Maringá, na linha de Pesquisa Subjetividade e Práticas Sociais na Contemporaneidade (2019). 
Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá (2016). Atualmente, realiza 
estudos nos seguintes temas: Gênero, Violências contra as Mulheres, Abrigamento de mulheres 
em situações de violências. É membra do grupo de pesquisa Hera, Grupo de Estudos em 
Psicologia Social dos Afetos. 
 
 
 
INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR 
Patrick Aparecido Trento 
● Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá. 
● Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá. 
 
Sobre o Autor 
Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de 
Maringá (PPH-UEM), na Linha de Pesquisa Fronteiras, populações e bens culturais (2017). 
Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (2014). Atualmente, é doutorando 
na linha de Linguagens e Identificações pelo Programa de Pós-Graduação em História da 
Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGH-UDESC), e professor da Rede Pública de 
Ensino do Estado do Paraná (Quadro Próprio do Magistério – 20 horas). 
 
 
 
INTRODUÇÃO DO LIVRO 
Caro(a) aluno(a), este livro tem como objetivo apresentar diferentes conteúdos sobre 
diversidade e cidadania, que são pertinentes para a formação de futuros profissionais de diferentes 
áreas do conhecimento. 
Na primeira unidade, você estudará como foram elaborados os projetos de construção da 
identidade nacional brasileira no período Imperial e Republicano. Veremos que, após a 
Independência do Brasil, em 1822, buscou-se construir o sentimento de pertencimento de 
diferentes regiões que compunham o território brasileiro, em um momento marcado, também, por 
conflitos separatistas. Após a Proclamação da República, em 1889, pretendeu-se construir um 
sentimento republicano na população, além da consolidação de uma forte identidade nacional. 
Por fim, estudaremos o que é multiculturalismo, as relações dele com a formação da identidade 
nacional brasileira e com a globalização que vivenciamos atualmente. 
Em nossa segunda unidade, estudaremos as relações étnico-raciais existentes no Brasil. 
Conheceremos como Gilberto Freyre e Florestan Fernandes, dois importantes pensadores 
brasileiros do século XX, compreenderam essas relações e a formação da sociedade Brasileira. 
Veremos, também, dois tipos de políticas afirmativas que buscam diminuir as desigualdades 
existentes no Brasil: as cotas sociais e as cotas raciais. 
A terceira unidade abordará a diversidade e a promoção de direitos. Conheceremos as 
principais diferenças entre o conceito de sexo e de gênero, estudaremos o que é identidade de 
gênero e orientação sexual, e diversos preconceitos com relação a diferentes identidades e 
sexualidades. Veremos algumas discussões sobre as desigualdades de gênero existentes, 
atualmente, as violências que as mulheres vivenciam, e as leis e políticas públicas existentes que 
visam propor enfrentamentos a essas violências. 
Por fim, em nossa quarta e última unidade, estudaremos diversos temas relacionados à cultura 
e à cidadania nos dias atuais. Aprenderemos os papéis do Estado, da sociedade e dos indivíduos 
na promoção e na garantia de direitos. Conheceremos o que são políticas públicas universais e 
específicas e, também, a importância da acessibilidade. 
Esperamos que os conteúdos abordados neste livro contribuam para sua formação profissional 
e pessoal. Bons estudos! 
 
 
UNIDADE I 
Identidade cultural brasileira e multiculturalismo 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
Patrick Aparecido Trento 
 
 
 
Introdução 
Nesta unidade, estudaremos a construção da identidade cultural brasileira, em diferentes 
momentos da história do país. Inicialmente, compreenderemos o que é a identidade de uma 
nação e, posteriormente, estudaremos como esse processo ocorreu no período Imperial e 
Republicano no país. 
Veremos que, durante o Primeiro Reinado, diversos conflitos separatistas ocorreram no país, 
pois se tratava de um período em que não existia um sentimento de pertencimento nacional 
entre diferentes regiões. No Segundo Reinado, estudaremos algumas medidas que foram 
tomadas com o intuito de revalorizar a história nacional. 
No início do Brasil República, veremos como a construção da Identidade Nacional esteve 
atrelada à construção de um sentimento republicano na população brasileira. Veremos medidas, 
tomadas pelo governo de Getúlio Vargas, que contribuíram para a construção de uma identidade 
nacional, como as reformas educacionais realizadas na década de 1930. 
Aprenderemos o conceito de multiculturalismo e sua relação com a identidade nacional 
brasileira. Por fim, estudaremos algumas relações entre o multiculturalismo e o processo de 
globalização que o mundo vivencia atualmente. 
 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
 
 
A construção da identidade nacional brasileira no Período Imperial (1822-1889) 
O Brasil possui um território de, aproximadamente, 8.516.000 km². Para termos 
uma ideia de comparação com outros países, o estado de Pernambuco tem uma extensão 
territorial semelhante à de Portugal, e a Bahia é quase do mesmo tamanho que a França. 
Nós, brasileiros, vivemos em um país extenso e temos semelhanças e diferenças. 
Considerando essa diversidade, podemos entender que, a priori, não existe uma única 
identidade brasileira definida, contudo, buscou-se, ao longo de diferentes períodos da 
história do país, construir uma identidade brasileira, utilizada também como estratégia 
política, econômica e social. Podemos compreender a identidade de um país como um 
conjunto de características, que podem ser étnicas ou culturais, que une diferentes pessoas 
que residem em um mesmo território. Contudo, não devemos compreendê-la como uma 
construção estática, e sim em constante movimento, em outras palavras, de acordo com 
Zila Bernd (1992 apud MARTINS, 2006), uma formação descontínua construída por 
meio de processos de reterritorialização e desterritorialização, sendo, aqui, território 
compreendido como as representações que um sujeito possui de si e do mundo. 
Uma identidade é uma representação, a qual define a ideia e o 
sentimento de pertença a um grupo. Dessa forma é, ao mesmo 
tempo, sentimento e ideia, é sentida e pensada enquanto 
formulação de uma imagem de si mesma, ou seja, como 
representação. A constituição da identidade é um processo por 
meio do qual o indivíduo situa-se enquanto indivíduo e enquanto 
ser social, ou seja, é um processo em que o indivíduo determina 
quem ele é em relação aos diversos grupos que estão presentes 
em seu imaginário. É o processo de representação de quem é o eu 
e de quem é o outro (KERBER, 2002, p.139). 
Estudaremos os processos de criação de uma identidade nacional em dois 
momentos diferentes da história do Brasil: Imperial e Republicano. O Brasil Império tem 
início com a Independência do Brasil, em 1822. Nesse período, o país possuía uma 
monarquia, cujo principal representante era o imperador, sendo o poder transmitido 
hereditariamente. O período Imperial teve fim com a Proclamação da República, no ano 
de 1889, marco que dá início ao Brasil Republicano, caracterizado pela forma republicana 
presidencialista de governo, que permanece até os dias atuais. 
 
É importante compreendermos que os períodos utilizam marcos iniciais e finais, 
como a Independência do Brasil (1822) e a Proclamação da República (1889), contudo, 
a transição entre esses diferentes períodos não ocorre por meio de rupturas instantâneas, 
e sim por meio de prolongados processos.Iniciaremos nossos estudos sobre a construção da identidade cultural brasileira tendo 
como marco a Independência do Brasil, ocorrida em 1822, pois foi a partir desse período 
que o território brasileiro, antes dividido em capitanias hereditárias, tornou-se um único 
território e deixou de ser colônia de Portugal. 
 
Império (1822-1889) 
O período Imperial é dividido frequentemente em três partes: Primeiro Reinado, 
quando Dom Pedro I foi imperador; Período Regencial, em que Dom Pedro I abdicou o 
trono brasileiro, contudo, seu sucessor, Dom Pedro II, tinha apenas 5 anos de idade; e 
Segundo Reinado, período em que o Brasil teve como imperador Dom Pedro II. 
O marco inicial do Brasil Império é a Independência do Brasil, em 1822, contudo, 
é importante compreendermos que esse processo não aconteceu de modo instantâneo, 
além disso foi ganhando novos significados ao longo da história brasileira. O chamado 
Brasil Império: 
 
Figura 1.1 – Independência ou Morte, Pedro Américo, 1888 
Fonte: Américo / Wikimedia Commons. 
 
 
 A pintura Independência ou Morte, criada por Pedro Américo1 (1843-1905), 
tornou-se a obra de arte mais famosa do chamado “grito” de Independência. É um 
exemplo de tentativa de construção de identidade nacional, por meio da exaltação 
posterior desse período, pois ela foi pintada pelo artista somente em 1888, ou seja, 66 
anos após a data da Independência. 
Com o reconhecimento do Brasil como território emancipado de Portugal, 
percebe-se a necessidade da criação de uma identidade nacional, visto que muitas regiões 
eram diferentes entre si e não tinham muito contato. Dom Pedro I, imperador do Brasil 
na época, buscava construir um projeto de nação, contudo, essa tarefa foi permeada por 
conflitos, pois diversas regiões não se sentiam pertencentes. 
 
REFLITA 
Nação: o conceito é utilizado para fazer referência a um grupo de pessoas que 
compartilham a mesma origem étnica, o mesmo idioma e costumes semelhantes. Para ser 
considerada uma nação, não basta a existência dos aspectos pontuados, mas também o 
sentimento de pertencimento de todos que fazem parte desse grupo social. 
 
A busca pela construção de uma identidade cultural brasileira pretendia também 
conter diversos conflitos. 
 
O processo de autonomização do Brasil não se restringe ou esgota 
em 1822. A desagregação do mundo colonial se estende pelo 
início do século XIX com a reformulação do papel das câmaras, 
a criação da Guarda Nacional e o fim das tropas e milícias, além 
das tentativas de várias províncias de proclamar a república e se 
tornar independentes do próprio Brasil (SOUZA, 2000, p.11). 
 
 
1 Pedro Américo foi um importante pintor, historiador, poeta e romancista do século XIX. Além 
da obra que retrata a Independência da República, pintou, também, outras que tornaram-se 
conhecidas, como Batalha do Avaí e Batalha do Campo Grande. 
 
Um desses conflitos foi a Confederação do Equador, movimento político, ocorrido 
inicialmente em Pernambuco, em 1824, que depois se espalhou por outros estados do 
Nordeste e que buscava, entre outros objetivos, a separação do território brasileiro. 
Outro exemplo de conflito enfrentado pela monarquia brasileira no Primeiro 
Reinado foi a Revolução Farroupilha, que ocorreu entre 1835 e 1845. Essa revolta foi 
uma das que mais representou ameaças à integridade do território brasileiro. Inicialmente, 
foi organizada principalmente por grupos de elite, que residiam no estado do Rio Grande 
do Sul, que estavam insatisfeitos com as taxas cobradas pelo governo na época. 
 Com o intuito de construir um sentimento de nação comum a todos que viviam no 
território brasileiro, foi criado, no ano de 1838, o Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro (IHGB), que tinha a função de produzir relatórios científicos sobre as diferentes 
regiões brasileiras, visando construir uma identidade cultural, política e social brasileira. 
Na época, os membros que compunham o IHGB faziam parte da elite, assim como aponta 
Manoel Guimarães (1988): 
E, portanto, à tarefa de pensar o Brasil segundo os postulados 
próprios de uma história comprometida com o desvendamento do 
processo de gênese da Nação que se entregam os letrados 
reunidos em tomo do IHGB. A fisionomia esboçada para a Nação 
brasileira e que a historiografia do IHGB cuidará de reforçar visa 
a produzir uma homogeneização da visão de Brasil no interior das 
elites brasileiras. E de novo uma certa postura iluminista – o 
esclarecimento, em primeiro lugar, daqueles que ocupam o topo 
da pirâmide social, que por sua vez encarregar-se-ão do 
esclarecimento do resto da sociedade – que preside o pensar a 
questão da Nação no espaço brasileiro (GUIMARÃES, 1988, p. 
6). 
 
De acordo com Guimarães (1988), a história seria um meio indispensável para forjar a 
nacionalidade. O IHGB, através de embasamentos teóricos e elitistas, pretendia utilizar o 
instrumentário da história e da geografia para criar uma identidade nacional. 
Como vimos, buscou-se construir o sentimento de nação nos povos que viviam no 
território brasileiro, pois, na época, as diferentes regiões não se sentiam pertencentes a 
 
um mesmo país. Além disso, após a Independência, o Brasil não era mais uma colônia de 
Portugal, era necessária a existência desse sentimento de independência, pois ele 
possibilitaria a unificação do país e, consequentemente, poderia conter as revoltas e 
conflitos de caráter separatista. De certo modo, esses projetos obtiveram sucesso, pois o 
sentimento de nação passou a ser criado por parte da população que vivia em território 
brasileiro, contudo, essa identidade de pertencimento nacional ainda era recente e não 
compartilhada por todos, desse modo, veremos que, no início do Brasil Republicano, 
buscou-se investir e consolidar o sentimento de uma identidade nacional. 
 
FIQUE POR DENTRO 
O Período Regencial foi um intervalo, entre os anos de 1831 e 1840, ocorrido no Brasil 
entre o Primeiro e o Segundo Reinado. 
O Primeiro Reinado ocorre quando o Brasil deixa de ser colônia de Portugal, tendo como 
imperador Dom Pedro I, responsável por “declarar” a independência do país. No ano de 
1831, ele abdica de seu trono, contudo, seu filho, que deveria ser seu sucessor, tinha 
apenas 7 anos de idade. 
A Constituição de 1824 dizia que uma pessoa com menos de 18 anos não podia assumir 
o cargo, por isso, o Império foi delegado a uma Regência, até que Dom Pedro II pudesse 
assumir. 
Em 1840, o Período Regencial chegou ao fim, após o chamado “Golpe da maioridade”, 
que subverteu a Constituição de 1824 e possibilitou que Dom Pedro II, na época com 
apenas 15 anos de idade, assumisse o Império. 
Para saber mais, assista ao vídeo sobre o Período Regencial produzido pelo canal Brasil 
Escola, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dIDLmZd3wEU>. Acesso 
em: 04 jun. 2019. 
 
No Segundo Reinado, período governado por Dom Pedro II, o IHGB intensificou ainda 
mais seus projetos de criação de uma integridade entre diferentes regiões brasileiras. 
Atualmente, o IHGB ainda existe, sendo a mais antiga entidade de incentivo à pesquisa 
no Brasil. 
 
 
ATIVIDADE 
1- D. Pedro é representado por Pedro Américo, em segundo plano, mas no centro da 
cena, ligeiramente deslocado para a esquerda, no momento em que levanta sua espada, 
rompendo simbolicamente os laços com Portugal. O séquito de D. Pedro e os soldados 
repetem o gesto e, em vivas, acenam com seus chapéus e lenços. Em verdade, é o restante 
do conjunto – comitiva, soldados, caipira – que interage com ele e faz com que 
direcionemos nosso olhar ao herói. 
 
SCHLICHTA, C. A. B. D. Independência ou Morte (1888), de Pedro Américo: a pintura 
histórica e a elaboração de uma certidão visual para a nação. In: XXV Simpósio Nacional 
de História ANPUH, Fortaleza, 2009. 
 
O texto acima faz referência a um quadroque se tornou bastante conhecido pelos 
brasileiros: Independência ou Morte, pintado por Pedro Américo, em 1888. Pode-se 
afirmar, a respeito dos objetivos da obra: 
 
a. pretendia exaltar as vestes utilizadas pela corte Imperial, por exemplo, lenços e 
chapéus. 
b. busca realizar uma releitura gloriosa do passado brasileiro através da exaltação 
da Independência. 
c. fortalecer o sentimento de dependência artística do Brasil em relação a Portugal, 
que, na época, possuía diversos pintores famosos em território brasileiro. 
d. contribuir para a construção de um pensamento moderno, visto que o Brasil 
passava por um intenso processo de industrialização. 
e. e) dar visibilidade para a Semana de Arte Moderna realizada, na cidade de São 
Paulo, por pintores modernistas, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. 
 
 
 
 A construção da identidade nacional brasileira no Período Republicano 
Seguindo nossa trajetória pelos caminhos que buscaram construir uma identidade 
cultural brasileira veremos agora o Período Republicano, que contempla desde a 
Proclamação da República, em 1889, até os dias atuais. 
A Proclamação da República deu fim à Monarquia Constitucional Parlamentar e 
instaurou um novo regime governamental. O Brasil, antes governado por imperadores, 
passou a ser comandado por presidentes. Esse tipo de governo permanece até os dias 
atuais. 
Nosso objetivo é compreender como foi sendo construída a identidade cultural 
brasileira ao longo desse período. 
 
Primeira República 
A Primeira República (1889-1930), conhecida como “República Velha”, ocorreu de 1889 
até a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. Esse primeiro período republicano 
costuma ser dividido em República da Espada, período em que o Brasil teve como 
presidentes os militares Marechal Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, e a República 
Oligárquica, liderada pelas oligarquias rurais do estado de São Paulo e de Minas Gerais, 
conhecida como “República Café com Leite”, pois, na época, a economia paulista tinha 
o café como principal produto, e a mineira, o leite. 
Para compreendermos melhor a construção da identidade cultural brasileira no início do 
período republicano, é importante pontuar que o processo de transição do período 
imperial para a República ocorreu por meio de um golpe militar, propiciado, na época, 
por diversos fatores, ele não foi marcado por intensa participação popular, isso é, ocorreu 
principalmente devido a disputas de interesses entre as elites nacionais, e não 
necessariamente pelo interesse imediato da maior parte da população. 
O Brasil havia se tornado uma República, contudo, não existia um sentimento republicano 
compartilhado pela população. A tentativa de criação desse sentimento foi a principal 
diretriz da construção da identidade cultural brasileira no início do período republicano. 
 
 
 
REFLITA 
Sentimento republicano: sentimento de pertencimento e defesa do sistema republicano, 
que inclui a existência de uma constituição que regula outras legislações, existência de 
representantes que governam em nome da população e busca pelo bem comum, ao invés 
de satisfação de interesses particulares. 
 
O segundo momento da chamada República Velha, conhecido como República 
Oligárquica, como o próprio nome sugere, garantiu a manutenção do poder das 
oligarquias. Mesmo que parte da população tivesse direito ao voto (no início da Primeira 
República, as mulheres não podiam votar), ele era considerado moeda de troca, e não um 
direito democrático. 
 
FIQUE POR DENTRO# 
Você sabia que, até o ano de 1932, as mulheres eram proibidas de votar no Brasil? 
A partir desse ano, apenas mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas e 
solteiras com renda própria tinham esse direito, sendo o voto estendido a todas as 
mulheres apenas em 1946. 
O processo de conquista do direito ao voto foi bastante longo e contou com a luta 
de diversas mulheres, como Bertha Lutz, responsável por fundar a Frente Brasileira pelo 
Progresso Feminino e liderar diversos movimentos pelo direito das mulheres ao voto; 
Isabel Dillon, responsável por realizar reivindicações pelo direito ao voto e também de 
ser votada, apresentando-se candidata à deputada; e a professora Celina Guimarães 
Vianna, que foi a primeira mulher a votar no Brasil. 
A luta pela democracia no Brasil foi marcada pela força e coragem de diversas 
mulheres. Quer conhecer a história de outras mulheres que ousaram lutar pelo direito ao 
voto no Brasil? Acesse: <https://www.huffpostbrasil.com/entry/mulheres-voto-feminino-
brasil_br_5c703bcde4b06cf6bb256eb1>. Acesso em: 04 jun. 2019. 
 
 
 
O processo de rompimento da República Oligárquica ocorre devido a diversos 
conflitos e interesses. Desse modo, aprenderemos, de modo resumido, como ocorreu a 
transição, pois nosso principal objetivo é compreender como o projeto de construção de 
identidade cultural brasileira foi se modificando ao longo da história do Brasil. 
O fim da República Oligárquica ocorre após o rompimento do acordo entre São 
Paulo e Minas Gerais, que se revezavam com as eleições presidenciais. Em 1929, ano que 
ocorreu também a crise da Bolsa de Nova York, provocando queda nas exportações 
brasileiras de café, o então presidente, Washington Luís, indicou outro paulista, Júlio 
Prestes. Desse modo, o presidente (na época, chamava-se presidente, e não governador) 
do estado de Minas Gerais, Antonio Carlos, também recebeu apoio de governantes do Rio 
Grande do Sul e da Paraíba, formando a Aliança Liberal, tendo Getúlio Vargas e João 
Pessoa como líderes. 
Em 1930, Júlio Prestes venceu as eleições, contudo, não conseguiu assumir a 
presidência. João Pessoa, líder na Paraíba, foi assassinado, o que intensificou as 
justificativas para o golpe de estado que inseriu Getúlio Vargas como presidente. 
Na chamada República Velha, isso é, os anos iniciais do período republicano, 
buscou-se construir a identidade nacional brasileira, a partir, principalmente, do 
rompimento da valorização dos períodos anteriores, ou seja, de Portugal e da monarquia. 
Valorizava-se a ideia de que o Brasil era um país que teve influência portuguesa, mas sua 
existência cultural e política era, naquele momento, autônoma em relação a Portugal. 
 
Era Vargas 
Os anos seguintes ao governo de Getúlio Vargas até os dias atuais, como o regime 
militar, que ocorreu entre 1964 e 1985, o processo de redemocratização do Brasil e o 
período caracterizado como Nova República, também foram marcados por projetos que 
visavam construir e reformar aspectos da identidade nacional, contudo, focaremos nossos 
estudos no período varguista, visto que ele estruturou diversos aspectos do que 
conhecemos hoje como identidade cultural brasileira. 
O governo de Getúlio Vargas inicia-se na década de 1930 e busca criar 
mecanismos de controle e negociação política. Visando a esses objetivos, foram criados 
alguns departamentos, como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que 
veiculava imagens positivas do governo e controla diversos meios de comunicação. 
 
Departamentos como este foram responsáveis por criar aspectos da identidade cultural 
brasileira. 
 
Figura 1.2 – Getúlio Vargas (1882- 1954) 
Fonte: Governo do Brasil / Wikimedia Commons. 
 
Nesse período, a construção da nossa identidade passa, cada vez mais, a utilizar 
embasamentos de ciências como a História, as Ciências Sociais e a Geografia, pois é 
também nessa época que tais ciências passam a ganhar mais espaço no Brasil. 
Entre as principais diretrizes que contribuíram para a construção de uma 
identidade cultural comum aos brasileiros estão as reformas educacionais realizadas 
durante o governo de Getúlio Vargas. 
Na Primeira República, não existia um único ideal de educação, e sim diversos. 
Contudo, após a Proclamação da República, os governantes da oligarquia passaram a 
investir no processo de homogeneização do sistema escolar brasileiro,também com o 
intuito de contribuir para a construção de uma identidade nacional republicana. 
No período, o processo de escolarização também foi utilizado como instrumento 
para generalizar práticas higienistas disciplinadoras. A educação é vista como um campo 
capaz de modificar os indivíduos, desse modo, as elites pretendiam dominá-la e construí-
la de acordo com seus interesses. 
 
A construção de um projeto nacional de educação também visa construir valores 
considerados civis e republicanos, sob a lógica de que era necessária “uma nova pessoa 
para um novo Brasil”. Pretendia-se construir uma identidade comum para a nação e 
fortalecer uma identidade nacional. 
Por exemplo, diversas reformas educacionais buscaram normalizar, 
profissionalizar e sistematizar o ensino das pessoas mais pobres, almejando, também, 
homogeneizar hábitos e vontades. A História foi utilizada como uma disciplina capaz de 
construir ideais de nacionalidade, por meio da revalorização de diferentes períodos do 
Brasil. 
Nas reformas curriculares de Francisco Campos, em 1931, e na 
de Gustavo Capanema, em 1942, em plena ditadura de Getúlio 
Vargas, a questão nacional continuou sendo o fio condutor do 
ensino de história e do sistema educacional tanto na formação 
política dos jovens como na formação da consciência nacional. A 
propaganda imagética, explorando as emoções, os sentimentos, a 
memória afetiva, os símbolos, imagens, rituais, reforçou o 
princípio da nacionalidade e facilitou a centralização política, 
divulgando a sua ideologia: nos livros didáticos, no rádio, nas 
paradas militares, nas apresentações de estudantes em praça 
pública, principalmente por ocasião das festas cívicas, na 
imprensa falada, escrita. O presidente Vargas criou o 
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) encarregado de 
organizar e controlar todas as manifestações públicas e divulgar 
as ações governamentais reforçando a ideia de uma identidade 
nacional comum (ZAMBONI, 2003, p. 370-371). 
 
 Como aponta Zamboni (2003), durante o governo de Getúlio Vargas, o projeto de 
construção de uma identidade nacional também utilizou amplamente a publicidade, por 
meio de órgãos como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). 
 
Destaca-se a valorização do trabalho dos chamados sertanistas, como os irmãos Villas-
Bôas2, que percorreram diversas regiões do território brasileiro, tarefa essa vista pelo 
governo como possível contribuição para o fortalecimento da nação e de sua identidade. 
Foi também durante o período do governo Vargas que surgiram obras importantes de 
intelectuais brasileiros que abordaram a identidade nacional, como Gilberto Freyre3, que 
estudaremos de modo mais aprofundado na segunda Unidade deste livro. 
Ocorre, também, a valorização e a criação de diversos aspectos, hoje considerados 
símbolos do Brasil, como o samba e o futebol. 
Nos anos 30, essas confluências – entre um esporte que cresce 
com força entre a população em geral e uma intencionalidade 
política de modernizar diversas instituições do país – geram as 
possibilidades de se enxergar no futebol e em todos seus 
corolários (estádios, torcida, federação e imprensa) o epicentro de 
um sentimento nacional. É nos anos 30 que se iniciam as copas 
do mundo, onde seleções com os melhores representantes de cada 
país passam a duelar para decidirem qual seria o melhor plantel 
mundial. No mesmo período, em 1933, institui-se o 
profissionalismo no país, indicando que o esporte não seria mais 
uma questão apenas de clubes ou chuteiras. O mundo do trabalho, 
ideia poderosa do período varguista, incorpora em suas bases seus 
novos heróis nacionais (SILVA, 2006, p. 135). 
 
 Atualmente, o futebol é o esporte mais popular no Brasil, tendo a seleção brasileira 
conquistado cinco vezes o título de campeão do mundo em Copas. 
 
 
2 Orlando Villas-Bôas, Cláudio Villas-Bôas e Leonardo Villas-Bôas foram brasileiros que fizeram 
parte da Expedição Roncador-Xingu, projeto desenvolvimento no período do governo de 
Getúlio Vargas, com o intuito de promover o processo de interiorização do Brasil. 
 
3 Sociólogo e historiador brasileiro, nascido em Recife, Pernambuco, escreveu obras que 
tornaram-se bastante conhecidas e mudaram a forma de fazer pesquisas no campo da História 
no Brasil, como Casa Grande & Senzala, conhecida e debatida até os dias atuais. 
 
 
Figura 1.3 – Seleção Brasileira embarcando para a Copa do Mundo de 1934, realizada na 
Itália 
Fonte: Arquivo Nacional / Wikimedia Commons. 
 
Como vimos, o projeto de construção de uma identidade cultural brasileira atravessa 
diferentes momentos da história do país. No período do governo de Getúlio Vargas, 
buscou-se construir e consolidar o sentimento de uma identidade nacional, isso é, de que 
todas as pessoas que pertenciam às diferentes regiões do território brasileiro faziam parte 
de uma única nação. Para isso, diversas propostas foram realizadas, como a reforma no 
campo educacional, com o intuito de promover a padronização em diferentes estados, e a 
valorização de itens que se tornaram marcos da identidade nacional brasileira, como a 
música e o futebol. 
No próximo momento de nossos estudos, conheceremos elementos da música, da 
arquitetura, da literatura e da publicidade que contribuíram para a construção da 
identidade nacional. 
 
 
 
ATIVIDADE 
2) Neste período da história do Brasil, houve um processo de unificação das políticas 
educacionais. A educação é vista como um campo que poderia provocar transformações 
no modo de pensar dos sujeitos, desse modo, as elites buscaram, também, construí-las de 
acordo com seus interesses. Esse processo de mudanças no campo educacional brasileiro 
também era uma importante estratégia para a construção de uma identidade nacional. O 
trecho apresentado faz referência ao período da história do Brasil chamado de: 
 
a) Primeiro Reinado. 
b) b) Era Vargas. 
c) c) Segundo Reinado. 
d) d) Brasil Colônia. 
e) e) Período Regencial. 
 
A ARTE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA: LITERATURA, 
MÚSICA E PINTURA NO SÉCULO XX 
Vimos, anteriormente, diferentes períodos da história do Brasil e como eles construíram 
o projeto da criação da identidade nacional. Nosso foco, nesse momento, será apresentar 
como o campo das artes contribuiu com esse processo. Para compreendermos melhor, 
devemos busca fazer articulações com o que já estudamos anteriormente nesta Unidade, 
pois, assim, conseguiremos fazer aproximações entre o período histórico e as 
manifestações artísticas apresentadas. 
 
Literatura 
Compreender alguns aspectos da literatura brasileira também pode nos ajudar no 
processo de entendimento da construção de uma identidade nacional. De acordo com 
Pesavento (2000, p. 9): 
História e literatura apresentam caminhos diversos, mas 
convergentes, na construção de uma identidade, uma vez que se 
apresentam como representações do mundo social ou como 
práticas discursivas significativas que atuam com métodos e fins 
 
diferentes. A identidade, por sua vez, é um processo ao mesmo 
tempo pessoal e coletivo, onde cada indivíduo se define em 
relação a um ‘nós’ que, por sua vez, se diferencia dos ‘outros’. 
 
Destacaremos dois livros escritos por José de Alencar, Iracema e O Guarani, e o 
livro escrito pelo modernista Mário de Andrade, Macunaíma. 
 José de Alencar (1829-1877) foi um autor do período caracterizado na literatura 
brasileira como Romantismo, movimento este que teve início na Europa, mas que também 
influenciou diversos outros países. 
 A visão desse período colocava-se em oposição ao período anterior, caracterizado 
como Neoclassicismo, centrando-se no indivíduo e o valorizando. Diversos autores desse 
movimento artístico e filosófico escreveram romances que abordavam, por exemplo, 
tragédias de amores (muitas vezes, platônicos e/ou impossíveis) edramas pessoais. 
 No Brasil, o Romantismo aproximou-se do sentimento nacionalista, pois, nesse 
período, década de 1820, o país vivenciava o processo de independência. 
 
REFLITA 
Sentimento nacionalista: refere-se à sensação de pertencimento, amor e valorização por 
uma nação. Como vimos anteriormente, nação refere-se a um grupo social que 
compartilha da mesma origem étnica, idioma e costumes parecidos, mas que também 
possui o sentimento de pertencimento. 
 
 A obra Iracema, de José de Alencar, retrata a história de amor entre Martim, 
homem branco, de origem europeia, com Iracema, uma mulher indígena brasileira. No 
decorrer do livro, Iracema fica grávida de Martim, tendo um filho que é a “mistura” de 
um homem branco e de uma mulher indígena. O livro busca, entre outras interpretações, 
contar a história do Brasil e do povo brasileiro. 
 A obra recebeu diversas críticas, visto que, no Brasil, as relações estabelecidas 
entre homens brancos, de origem europeia, e mulheres indígenas foram, na maior parte 
das vezes, violentas, e não amorosas, como relata Alencar em sua obra. Iracema é 
retratada como uma mulher sedutora, que provoca o amor de Martim e se coloca na 
 
posição passiva de esperar seu verdadeiro amor e é capaz de esperar por ele ou até mesmo 
morrer de saudades. 
 Em O Guarani, a história se passa no século XVII, em uma fazenda do interior do 
estado do Rio de Janeiro. A figura indígena também aparece na obra, com o personagem 
Peri, pertencente à tribo dos Goitacases e amigo de um fidalgo português chamado Dom 
Antônio de Mariz, pai de Ceci. 
 Peri era responsável por proteger Ceci, contudo, também era apaixonado por ela. 
A história narra diversos outros acontecimentos, mas sempre focando na devoção de Peri 
por sua amada e tendo como eixo também a vida de seu pai, Dom Antônio, que simboliza 
o homem branco colonizador. 
 As críticas realizadas a esses livros de Alencar também sinalizam vieses do 
processo de construção de uma identidade nacional no Brasil Império, como o 
apagamento da população negra e a imposição da cultura branca europeia sobre a 
indígena. 
Naturalmente, o índio e o negro não contam nesse processo, pois 
não entram na história nesse momento de construção identitária. 
São invisíveis para a nação, seja pelo silêncio (caso do negro), 
seja pela incorporação mítica numa sociedade que os legitima 
como vencidos pelo branco colonizador (caso da narrativa 
histórica), seja como incorporados pelo amor romântico (caso do 
discurso literário, tal como Iracema ou O Guarani, de José de 
Alencar) (PESAVENTO, 1999, p.127). 
 
Conheceremos, agora, a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, e seu papel no processo 
de construção da identidade brasileira. O livro foi escrito em outro período literário, 
denominado Modernismo, que teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna de 
1922, que estudaremos brevemente ainda nesta Unidade. 
Esse movimento literário ocorreu em um período de insatisfações políticas e buscou 
romper com tradicionalismos e formalidades, inclusive na escrita, por meio de versos 
livres e ausência de pontuações. 
No livro Macunaíma, Mário de Andrade também busca contar a história da formação do 
Brasil, através do personagem Macunaíma, considerado um herói sem caráter. O 
 
personagem nasce no mato virgem, sendo filho do medo e da noite, considerado uma 
criança preguiçosa e manhosa. Quando adulto, apaixona-se por Ci e acabam tendo um 
filho, que morre ainda bebê. Devido ao desgosto causado pela morte do filho, Ci sobe aos 
céus, virando uma estrela. A única recordação que Macunaíma possuía de Ci era um 
amuleto, contudo, ele acaba perdendo-o e sai em busca de reencontrá-lo. 
Na obra Macunaíma, Mário de Andrade busca construir a ideia do Brasil como unidade, 
uma única nação, ou seja, unir diversas características da cultura nacional. 
[...] Mário de Andrade pôde, através do sentimento nacional 
encontrado, pôr em prática duas teses suas: o primitivismo do 
povo brasileiro e a legitimidade estética da literatura popular e 
oral, para auxiliar a criação erudita. A elaboração do enredo usou 
dos três elementos formadores da nacionalidade: índio, 
português, negro (LOPEZ, 1974, p. 9). 
 
 O movimento modernista buscou produzir obras que abordassem a identidade 
brasileira por meio da cultura afro-brasileira, contudo, existem também diversas críticas 
com relação à obra Macunaíma. Um homem negro é protagonista do livro, todavia, 
aparecem apontamentos caracterizados como racistas, como o banho tomado por 
Macunaíma e outros personagens, quase no fim da história. Mário de Andrade escreve 
que, ao sair da água, Macunaíma torna-se um branco de olhos azuis, assim, seu irmão, 
Jiguê, também entra na água, na tentativa de ficar da mesma forma, contudo, a cor de 
Macunaíma (colocada como “sujeira”) não permite que ele fique branco, e sim da cor de 
“bronze novo”. Por fim, quando o personagem Maanape entra na água, consegue clarear 
apenas os pés e as mãos. Nessa passagem, Mário de Andrade buscou retratar a diversidade 
do povo brasileiro, mas, na verdade, acabou reforçando visões racistas, com a ideia de 
que a cor da pele negra é uma “sujeira” que precisa ser “lavada”. 
 
Música 
A música também foi um campo que contribui para a construção de uma 
identidade nacional. Não seria possível abordarmos toda a diversidade musical brasileira 
e sua contribuição nesse processo, por isso veremos, aqui, dois destaques: um ritmo 
 
musical, o samba, de origem afro-brasileira; e uma artista que ficou bastante conhecida, 
a cantora Carmen Miranda. 
O samba é um ritmo musical brasileiro que tem origem na musicalidade de povos 
de origem africana que foram escravizados no Brasil. No século XIX, a cidade do Rio de 
Janeiro recebeu diversas pessoas negras que viviam em outras regiões do país. 
Aconteciam encontros em praças públicas no centro da cidade, como na Praça Onze, em 
torno das religiões iorubás. Nesses lugares, passaram a acontecer as rodas de samba, por 
meio da mistura de elementos do batuque africano, do maxixe e da polca. 
A história do samba no Brasil é bastante extensa e contempla diversas lutas e 
resistências dos povos de origem africana, desse modo, é importante sabermos que, nesta 
unidade, faremos apenas um resumo de sua influência na cultura brasileira e na 
construção de uma identidade nacional. 
O samba não foi utilizado inicialmente pelo governo como uma ferramenta para 
a construção de uma identidade nacional, pelo contrário, era bastante reprimido. Por ter 
suas raízes na cultura afro-brasileira, no início da Primeira República, segundo Soihet 
(1998), as rodas de samba eram alvo de estigmas, preconceito e repressão. O samba, ainda 
segundo a autora, era considerado um ritmo depravado, obsceno e inferior a outras 
manifestações musicais. 
 
Figura 1.4 – Batuque, 1835. Obra pintada por Johann Moritz Rugendas (1808-1858) 
Fonte: Johann Moritz Rugendas / Wikimedia Commons. 
 
No Estado Novo, período comandado por Getúlio Vargas, a figura do trabalho 
como formador da dignidade humana passa a ser cada vez mais defendida, uma vez que 
a industrialização no país era incentivada pelo governo. Nessa época, a figura do 
compositor passa a ser associada à figura do malandro, considerado uma pessoa vadia, 
conquistadora, briguenta e boemia. 
Com o passar dos anos, o samba passou a ser utilizado como uma espécie de 
“cartão postal” brasileiro, isso é, um ritmo típico também exportado para outros países. 
Nesse processo, houve também o chamado “embranquecimento” do samba, isso é, 
cantores brancos passaram cada vez mais a se apropriar do ritmo, que passou a ser visto 
pelo governo de outra forma. 
 
REFLITA 
Você já ouviu falar em apropriação cultural? 
É um termo utilizado para fazer referência à apropriação de ideias, músicas, símbolos, 
imagens, objetos etc. de uma cultura historicamentemarginalizada por outra, que é 
considerada dominante, por terem relações desiguais de poder. 
Um exemplo é o caso do samba. O ritmo sofreu diversas represálias e foi visto com muito 
preconceito. Contudo, quando virou lucrativo, passou a ser valorizado e “embranquecido” 
para a mercantilização. 
O termo ficou bastante conhecido nas redes sociais após alguns casos, como o uso de 
turbantes por pessoas brancas ou a utilização de símbolos indígenas como “fantasias”. 
As pesquisadoras Djamila Ribeiro (2016) e Stephanie Ribeiro (2017) defendem que o 
tema precisa ser compreendido a partir de uma perspectiva estrutural, e não individual. 
Para elas, existem problemáticas que precisam ser debatidas, pois nesses processos de 
aculturação diversos elementos são esvaziados de sentido de uma cultura, visando à 
mercantilização e “invisibilizando” populações que vivenciam diversos preconceitos e 
violências. Para Djamila Ribeiro (2016), a cultura negra acaba, muitas vezes tornando-se, 
mas as pessoas negras não. E você, o que pensa sobre isso? 
Fonte: Ribeiro (2016, on-line); Ribeiro (2017, on-line). 
 
 
Conheceremos, agora, uma cantora que se tornou símbolo do Brasil também fora do 
país: Carmem Miranda. 
Maria do Carmo Miranda da Cunha (1905-1955), conhecida popularmente como 
Carmem Miranda, foi uma cantora e atriz brasileira. Ficou famosa no Brasil e nos Estados 
Unidos da América, entre as décadas de 1930 e 1950. Vestia-se de forma bastante 
característica, utilizando figurinos coloridos e chapéus com diversas frutas. 
 
 
Figura 1.5 – Carmen Miranda, na capa da revista americana Click, 1939 
Fonte: JKBRASIL / Wikimedia Commons. 
 
De acordo com Kerber (2002), as músicas cantadas por Carmen Miranda abordavam 
com frequência o nacionalismo, como a música “Eu gosto da minha terra”, escrita por 
Randoval Montenegro, que, em seus versos, diz: 
 
Deste Brasil tão famoso eu filha sou, vivo feliz 
Tenho orgulho da raça, da gente pura do meu país 
Sou brasileira reparem, no meu olhar, que ele diz 
E o meu sambar denuncia que eu filha sou deste país [...] 
 
https://commons.wikimedia.org/wiki/Carmen_Miranda#/media/File:Carmen_Miranda,_November_1939.jpg
https://commons.wikimedia.org/wiki/Carmen_Miranda#/media/File:Carmen_Miranda,_November_1939.jpg
 
Outro exemplo apontado por Kerber (2002) é a música “Bom dia, meu amor!”, escrita 
por Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, que diz: 
 
Nas aulas de francês e de espanhol 
De inglês, de italiano, de alemão 
A gente aprende sempre a lição: 
Good-morning, good-morning my dear 
Buongiorno, bonjour mon amour 
Mas o que é melhor dos três é o português: 
Bom dia, meu amor, amor [...] 
 
De acordo com Kerber (2002), na música “Bom dia, meu amor!”, a comparação do 
Brasil com outras nações importantes no cenário mundial é realizada com o intuito de 
promover uma valorização do país. 
Evidentemente que o português representa o Brasil. Assim, a 
valorização da Língua Portuguesa representa, automaticamente, 
uma valorização da Nação brasileira. A comparação do Brasil 
com nações como a França, a Alemanha, os Estados Unidos e a 
Inglaterra, representa uma tentativa, também, de valorização 
deste Brasil. Note-se: o Brasil não está, nessas canções, sendo 
comparado com nações pobres ou pouco importantes no cenário 
internacional. Compara-se o Brasil justamente às nações mais 
ricas, importantes e avançadas no processo de construção de um 
imaginário sobre si daquele momento. Isso é, claramente, uma 
tentativa de colocar, dentro do imaginário popular, o Brasil em 
uma posição mais elevada e próxima às grandes nações do mundo 
(KERBER, 2002, p. 140). 
 
As músicas aqui citadas são exemplos de como Carmem Miranda abordava o 
nacionalismo nas canções que interpretava, contribuindo para a construção da identidade 
nacional na época. Além de cantora, ela ficou bastante conhecida, nos Estados Unidos da 
América, como atriz, nas décadas de 1940 e 1950. Algumas críticas apontam que, mesmo 
 
visando promover a identidade nacional, a imagem de Carmem Miranda não simbolizava 
a maior parte das mulheres brasileiras, uma vez que ela era uma mulher branca e de 
nacionalidade portuguesa. 
 
Pintura 
Nesta última parte de nossos estudos sobre a construção da identidade nacional a 
partir de vieses artísticos, conheceremos alguns pintores(as) brasileiros que, em suas 
obras, representaram a identidade cultural brasileira, no início do século XX. 
Utilizaremos, como recorte teórico para nossa aprendizagem, a Semana de Arte Moderna 
de 1922 e artistas da época, uma vez que ela está situada no início do Período Republicano 
que estudamos anteriormente. 
A Semana de Arte Moderna de 1922 ocorreu entre os dias 11 e 18 de fevereiro, do 
ano de 1922, na cidade de São Paulo. Diversos artistas participaram desse evento, como 
Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral 
e Manuel Bandeira. 
O Modernismo é a primeira expressão do novo Brasil. O objetivo 
de artistas e intelectuais da época era o de colocar a cultura 
brasileira coerente com a nova época, além de torná-la um 
instrumento de conhecimento efetivo de seu país (ZILIO, 1997, 
p. 40). 
 
 Tarsila do Amaral foi uma importante artista do movimento Modernista e também fez 
parte do chamado movimento Antropofágico. Pintou diversos quadros que se tornaram 
bastante conhecidos, como Abaporu (1928), símbolo do movimento Antropofágico, e 
Operários (1933). 
Na obra de Tarsila, reside a síntese do Modernismo. Na referência 
à cidade e ao campo, procura incorporar todos os aspectos do 
Brasil, dando a eles um sentido de temporalidade. O campo 
assume o valor de manutenção do passado, porque conserva os 
sinais da ‘infância’ do próprio país – e também uma referência à 
infância da artista. A cidade representa o presente e as 
 
transformações sociais pelas quais passa a nação (SANT’ANNA 
MULLER, 2006, p. 654). 
 
 
Figura 1.6 – Abaporu (1928), Tarsila do Amaral - obra símbolo do movimento 
Antropofágico 
Fonte: Tarsila do Amaral / Wikipedia. 
 
O Manifesto Antropofágico, publicado no ano de 1928, expressa diversos objetivos 
dos artistas que participaram da semana. Ele aborda a dependência cultural brasileira e 
cita diversos nomes importantes de nossa história, como o Padre Vieira e Dom João VI, 
por meio de uma escrita que utiliza metáforas e expressões de humor. O manifesto foi 
importante para o movimento Modernista no Brasil, uma vez que exaltou características 
brasileiras na arte, tanto na forma como era vista no Brasil quanto em outros lugares do 
mundo. 
 
 
 
ATIVIDADE 
3) Leia, a seguir, um trecho da música “O que que a baiana tem?” escrita por Dorival 
Caymmi e gravada por Carmen Miranda, no ano de 1939: 
 
O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem? 
Tem torso de seda tem (tem) 
Tem brinco de ouro tem (tem) 
Corrente de ouro tem (tem) 
Tem pano da Costa tem (tem) 
Tem bata rendada tem (tem) 
Pulseira de ouro tem (tem) 
 
(Dorival Caymmi, 1939) 
A partir da letra e da relação da cantora com a construção de uma identidade nacional 
brasileira, pode-se afirmar que: 
 
a) a cantora Carmen Miranda buscava retratar apenas experiências da região 
Nordeste do Brasil, o que, na época, dificultou a construção de uma identidade 
nacional. 
b) a nacionalidade era tema frequente nas músicas interpretadas por Carmen 
Miranda, contribuindo para o projeto de construção da identidade nacional 
republicana. 
c) Carmen Miranda tornou-se um símbolo brasileiro, por decidir fazer sucesso 
apenas em território nacional, não estendendo sua carreira a outros países. 
d) a letra apresentada tem como objetivo retratar as dificuldades enfrentadas pela 
população nordestina, assim como diversas outras músicas, livros e pinturas do 
início do século XX, como o livro Vidas Secas, escrito por Graciliano Ramos. 
e) a origem baiana de Carmen Miranda fezcom que ela tivesse dificuldades para 
fazer sucesso no início de sua carreira, pois as diferentes regiões brasileiras não 
se entendiam como um único país. 
 
MULTICULTURALISMO, IDENTIDADE NACIONAL E GLOBALIZAÇÃO 
Nesse tópico, conheceremos as especificidades do multiculturalismo, da 
identidade nacional e da globalização. Vamos lá? 
 
O que é multiculturalismo? 
Multiculturalismo é um termo utilizado para fazer referência às chamadas sociedades 
multiculturais, isso é, locais em que diversas culturas existem em um mesmo território. 
 
 
Figura 1.7 – Sociedade multicultural: existência de diferentes culturas em um mesmo 
território 
Fonte: artqu / 123RF. 
 
As relações estabelecidas entre pessoas de diferentes culturas, em um mesmo 
território, podem ser de tolerância ou também de conflito e/ou rejeição. As discussões 
sobre essas relações não são assuntos apenas de sociólogos, historiadores ou outros 
pesquisadores das culturas e relações humanas, mas também de todos nós, pois estão 
presentes em nosso cotidiano. 
 
Vemos, com frequência, notícias, reportagens ou até mesmo conversas entre 
amigos que produzem e reproduzem diversos preconceitos, como comentários 
xenofóbicos e estereótipos de diferentes culturas. 
A xenofobia é o sentimento de hostilidade e ódio por pessoas estrangeiras. Um 
exemplo é o preconceito vivenciado por mexicanos que estão nos Estados Unidos da 
América. Aqui, no Brasil, podemos tomar como exemplo os haitianos e os venezuelanos, 
que, nos últimos anos, vieram para o país e acabaram sofrendo diversos preconceitos por 
parte dos brasileiros. 
Estereótipos são imagens preconcebidas de pessoas, grupos ou situações em que 
são traçados perfis simplificados e generalistas, com base em preconceitos. Um exemplo 
de estereótipo é a afirmação de que “toda menina gosta de rosa e de brincar de boneca”, 
o que não é verdade, pois diversas meninas preferem outras cores e brincadeiras. 
Considerando as informações apresentadas, entendemos que as discussões sobre 
multiculturalismo são importantes para a formação profissional em diferentes campos do 
conhecimento e, também, para a formação de sujeitos que saibam conviver e respeitar 
diferenças. O termo multiculturalismo pode ser compreendido por diferentes autores de 
formas diversas, assim como aponta Canen (1997, p. 92): 
Desta forma, críticos e defensores do mesmo travam, muitas 
vezes, lutas e discussões em torno de um conceito que, na 
verdade, pode estar sendo entendido de formas diferentes para os 
envolvidos em tais disputas. A começar pelo nome: alguns 
apontam que o interculturalismo seria um termo mais apropriado, 
na medida em que o prefixo ‘inter’ daria uma visão de culturas 
em relação, ao passo que o termo multiculturalismo estaria 
significando o mero fato de uma sociedade ser composta de 
múltiplas culturas, sem necessariamente trazer o dinamismo dos 
choques, relações e conflitos advindos de suas interações. 
 
Segundo os apontamentos de Canen (1997), alguns autores compreendem o 
multiculturalismo como a existência de diferentes culturas em um mesmo território, já 
outros buscam estudar as relações existentes entre diferentes culturas. 
 
O chamado multiculturalismo crítico, por exemplo, busca articular visões 
folclóricas com discussões sobre relações desiguais de poder entre diferentes culturas e 
refletir sobre a construção histórica de preconceitos e discriminações. Essa perspectiva 
tem sido criticada por alguns pesquisadores pós-modernos e/ou pós-coloniais, que 
pontuam a necessidade dos estudos irem além, isso é, não somente identificar esses 
discursos, mas também identificar, na própria linguagem e construção de tais discursos, 
as diferenças de poder construídas e exercidas. Em outras palavras, isso significa que 
algumas perspectivas pós-modernas e/ou pós-coloniais buscam, também, “descolonizar” 
discursos, identificar expressões preconceituosas e construções de linguagens que 
representam apenas perspectivas ocidentais, coloniais, brancas, masculinas etc. (CANEN, 
1997). 
 
FIQUEPORDENTRO 
O conceito de etnocentrismo é importante para compreendermos estudos multiculturais. 
Pode ser definido como a visão sobre o mundo com base apenas no próprio grupo, ou 
seja, quando observamos e julgamos outras culturas somente a partir dos valores da nossa 
sociedade. Esse tipo de compreensão sobre o outro produz e reproduz preconceitos e 
estereótipos. 
Visões etnocêntricas nos fazem avaliar costumes de outras culturas, diferentes das nossas, 
como inferiores. Um exemplo que podemos citar é no campo culinário. As culturas 
utilizam diferentes vegetais, verduras e animais em seus preparos, como o escargot, 
caracol utilizado na culinária francesa. Para nós, brasileiros, pode ser diferente saber que 
pessoas se alimentam de caracóis, contudo, julgar uma cultura como inferior à nossa, 
devido aos seus hábitos alimentares, é uma visão etnocêntrica. 
Para saber mais sobre o conceito de etnocentrismo, acesse: 
<https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/etnocentrismo.htm>. Acesso em: 05 jun. 
2019. 
 
Como mencionado por Canen (1997), o multiculturalismo pode ser compreendido 
a partir de diferentes vieses. Veremos, agora, como podemos compreender o tema 
articulado à identidade nacional brasileira. 
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/etnocentrismo.htm
 
Multiculturalismo e Identidade Nacional 
Vimos, no decorrer da Unidade 1, o processo de construção da identidade nacional em 
diferentes períodos da história do Brasil. Veremos, agora, as relações entre o 
multiculturalismo e a identidade nacional. 
O Brasil é um país que contempla diferentes culturas e etnias. Antes dos portugueses 
iniciarem o processo de colonização no país, diferentes povos viviam aqui. 
O termo mais adequado para nos referirmos aos povos originários da América é 
indígenas, e não índios, pois existiam diferentes povos, com diferentes culturas e 
tradições. Quem generalizou essas diferentes culturas, referindo-se a elas como índios, 
foram os europeus. 
 
REFLITA 
Cultura: de forma simplificada, podemos compreender que o conceito de cultura, no 
campo sociológico, refere-se a aspectos que os seres humanos adquirem ao longo da vida, 
a partir do contato social, como costumes, crenças, leis, artes, linguagens e 
conhecimentos. 
Tradição: transmissão de conhecimentos, hábitos, valores, costumes, crenças, lendas e 
memórias que são transmitidas para pessoas de diferentes gerações de uma comunidade. 
 
Ao retomarmos a história do Brasil, vemos que, além dos povos originários que existiam 
aqui, outros povos, de outras regiões do mundo, também vieram para cá, seja à força, 
como a diáspora africana, ou devido à possibilidade de oportunidades de vida, como os 
europeus, no século XIX, e os japoneses e sírio-libaneses, no século XX. 
 
 
 
Figura 1.8 – O Brasil é um país com diferentes culturas e etnias 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
Muitos autores consideram o Brasil um país miscigenado, isso é, um território em que 
existem diferentes etnias. Contudo, é importante destacar que o estupro e outras 
violências contra as mulheres fizeram parte desse processo. 
A própria história brasileira se constitui mediante o estupro. Da 
chegada dos portugueses e do estupro das mulheres indígenas, 
que dá início à tão enaltecida miscigenação do povo brasileiro, à 
chegada de negros e negras para servirem em sistema de 
escravidão aos senhores da casa grande, no que se incluía a 
violência sexual, cujo fruto, se houvesse, seria mais um escravo 
da fazenda como todos os outros. Para o escravizador, mulheres 
negras eram bens móveis sub-humanos, apenas ‘carnes’ das quais 
eram proprietários (NIELSSON; WERMUTH, 2018, p. 178). 
 
A diversidade cultural existente no país também foi empecilho enfrentado pelos 
governos brasileiros, para a construção de uma identidade brasileira compartilhada por 
todos que aqui residiam.Como vimos no início da Unidade 1, houve diversos conflitos 
 
separatistas durante o Brasil Império, pois diversas regiões não se sentiam pertencentes a 
um mesmo território. 
 
 
FIQUEPORDENTRO 
A umbanda é uma religião afro-brasileira que sincretiza outras religiões, como o 
catolicismo, o espiritismo e religiosidades de origem africana, indiana e indígena. 
O local onde são realizadas as cerimônias da umbanda é chamado de Casa, Terreiro ou 
Barracão. Podem, também, ser feitas cerimônias em lugares abertos, como praias ou rios. 
Para a umbanda, existe um deus supremo, chamado de “Olorum” ou “Oxalá”, contudo, 
também existe adoração de personificações de elementos da natureza e de energia, 
chamados de orixás. 
Os orixás, segundo a umbanda, possuem guias espirituais, chamados também de 
“entidades”, como caboclos, pretos velhos, baianos, marinheiros e erês. 
Por ser uma religião de origem afro-brasileira, a umbanda ainda é vista com preconceito. 
Saber mais sobre essa religião é importante para repensarmos intolerâncias religiosas: 
<http://umbanda-orixas.info/o-que-e-umbanda.html>. Acesso em: 05 jun. 2019. 
 
Multiculturalismo e globalização 
A globalização pode ser definida como uma aproximação entre diferentes 
sociedades existentes no mundo, provocando diversas mudanças políticas, econômicas e 
sociais que ocorreram no mundo no último século. Esse processo resultou na maior 
proximidade entre locais distintos, fazendo, hoje, com que eles, mesmo diferentes, 
compartilhem de experiências comuns. Vemos, portanto, que, com o processo de 
globalização, o multiculturalismo, ou seja, a existência de diferentes culturas em um 
mesmo território, torna-se ainda mais presente e frequente. 
Podemos pensar, como exemplos de aproximações entre diferentes territórios do 
planeta, nas relações de dependência econômica entre diferentes nações. Outro exemplo 
é a existência de multinacionais em diversos países, como a rede de fast-food McDonald's, 
presente, atualmente, em 119 países. Existem diferenças entre as lanchonetes existentes 
no mundo, por exemplo, no México, local onde o McDonald’s já ofereceu, em seu 
cardápio, pão com feijões, queijo e salsa e, no Paquistão, onde são servidos sanduíches 
 
de frango no pão sírio. Mesmo existindo algumas adaptações dos lanches servidos em 
diferentes locais, a mesma rede está presente em diferentes culturas. 
 
 
Figura 1.9 – McDonald’s na cidade de Tóquio, Japão 
Fonte: Paul Vlaar / Wikimedia Commons. 
 
Outro exemplo recente é a Netflix, plataforma de streaming utilizada em 
diferentes países do mundo. Existem algumas diferenças na oferta de séries e filmes em 
alguns países, contudo, grande parte dos vídeos está disponível para a maior parte deles. 
Atualmente, por exemplo, podemos assistir, no Brasil, uma novela libanesa, disponível 
na Netflix, que é uma plataforma de origem estadunidense, ou seja, o mundo globalizado 
faz com que diferentes culturas estejam em contato. 
Diversos pesquisadores do século XX e XXI dedicaram-se a estudar as relações entre a 
globalização e a cultura. Um deles foi o teórico e sociólogo Stuart Hall (1932-2014), 
nascido na Jamaica e fundador do que é conhecido hoje como Estudos Culturais 
Britânicos; Néstor García Canclini (1939-atualmente), de nacionalidade argentina, que 
tem se dedicado a realizar estudos sobre a cultura a partir de pontos de vista latino-
americanos; e Homi Bhabha (1949-atualmente), pensador de origem indiana que se 
dedica a estudos pós-coloniais. 
Os três teóricos dedicaram-se a pensar as relações culturais nas sociedades e abordaram 
concepções sobre o hibridismo cultural. A palavra hibridismo é um processo de união de 
duas ou mais palavras diferentes, ou seja, o hibridismo cultural refere-se ao intercâmbio 
entre diferentes culturas. 
 
O ir e vir do visível e do invisível, do qualitativo e do quantitativo, 
em um grupo ou grupos pelo intercambiar de conhecimentos, 
concepções, noções, interações políticas, econômicas e outros 
provoca aquilo que alguns autores denominam hibridismo 
cultural. Nesse cenário, Ortiz (2003, p. 83) aponta para o 
surgimento de culturas híbridas, pois ‘a mobilidade das fronteiras 
dilui a oposição entre o autóctone e o estrangeiro’. Soma-se a 
percepção da inexistência de um único modelo de organização 
mobilizável, mesmo na base, porque o mundo se caracteriza pela 
diversidade de populações e situações entrelaçadas em sistemas 
de crenças e práticas variadas no tempo e no espaço (BELINAZO, 
2006, p. 7-8). 
 
Para Canclini (2011 apud SOUSA, 2014) o hibridismo cultural é uma prática 
multicultural que é possível a partir do encontro de diferentes culturas. O autor propõe 
dois conceitos-chave para a expressão do hibridismo cultural, são eles: 
desterritorialização e descolecionamento. 
O descolecionamento, segundo Canclini (2011 apud SOUSA, 2014) possibilita 
que um bem cultural seja produzido e disponibilizado para grande parte da população. 
O descolecionamento dá sentido, sobretudo, ao fim da produção 
de bens culturais colecionáveis resultando na quebra de divisões 
entre cultura elitista, popular e massiva. O descolecionamento 
seria possibilitado pelo uso de recursos tecnológicos como a 
fotocopiadora, o videocassete e o video game, que destituiriam as 
referências que ancoravam o sentido das coleções. Eles permitem 
que um bem cultural seja reproduzido e disponibilizado mais 
facilmente para a população (SOUSA, 2014, p. 2). 
 
A desterritorialização, considerada, por Canclini (2011 apud SOUZA, 2014), o 
segundo fator responsável pela desarticulação da América Latina, refere-se à 
“transnacionalização dos mercados simbólicos, ocasionada pela descentralização das 
empresas e a disseminação dos produtos pela eletrônica e telemática. O autor cita nesse 
 
processo, também, as migrações multidirecionais, referindo-se à experiência diaspórica” 
(CANCLINI, 2011 apud SOUSA, 2014, p. 2-3). 
Para Stuart Hall e Homi Bhabha, o hibridismo é visto como um processo em que 
existem ambivalências e antagonismos resultados de negociações culturais que possuem 
relações não hierárquicas de poder (2010 apud SOUSA, 2014). 
De acordo com Bhabha (2010 apud SOUSA, 2014), é uma ameaça à autoridade 
colonial. Diferentemente de Canclini, ele compreende o hibridismo como resultante de 
choques entre diferentes culturas. 
Resulta da contestação do discurso hegemônico dominante no 
qual a autoridade do colonizador é subvertida através da ironia do 
colonizado, que exige que suas diferenças culturais sejam 
observadas, produzindo assim, um discurso híbrido. Homi 
Bhabha (2010) propõe que o hibridismo não resolve o embate e o 
processo de tensão entre duas culturas, não é um novo elemento 
que surge da junção entre duas matrizes culturais distintas, 
conforme vemos em Canclini (2011). O hibridismo seria sob esse 
viés, um processo resultante do choque, do embate, não se trata 
de um simples processo de adaptação e ressignificação cultura 
(SOUSA, 2014, p. 5). 
 
Para Stuart Hall (2010 apud SOUSA, 2013) o processo de hibridização ocorre no 
contexto da diáspora e também nas traduções culturais vivenciadas por indivíduos, ao 
buscarem se adaptar a matrizes culturais diferentes da sua. 
O hibridismo não é um processo que traz ao sujeito a sensação de 
completude ao dialogar com outras culturas, pelo contrário, seria 
o momento onde o sujeito percebe que sua identidade está sempre 
sendo reformulada, ressignificada e reconstruída, num jogo 
constante de assimilação e diferenciação para com o ‘outro’ 
(SOUSA, 2014, p. 5). 
 
Não existe uma única visão sobre como ocorrem as relações entre diferentes 
culturas na contemporaneidade. Vimos, de forma breve, as principais considerações de 
 
alguns autores contemporâneos que se dedicaram a pensar o conceito de hibridização 
cultural, contudo, as reflexões estendem-se também a você, aluno(a), pois pensar as 
relaçõesculturais é uma atividade pertinente na formação de diferentes campos do 
conhecimento. 
 
ATIVIDADE 
4) Leia o seguinte trecho escrito por Jacques d'Adesky (1997, p. 178): 
 
As bases democráticas de uma sociedade multicultural levam exatamente à 
exigência e à aceitação do reconhecimento de igual valor das diferentes culturas 
que a compõem. O desafio que tal sociedade coloca é conseguir tornar possível 
a convivência de culturas ou grupos muito variados. Trata-se, portanto, de 
instaurar um consenso democrático que seja respeitoso em relação a essa 
diversidade sem tomar-se um simples encontro de interesses divergentes. 
 
Pode-se afirmar, a partir do trecho apresentado e dos estudos sobre multiculturalismo, 
que: 
a) os estudos multiculturais buscam construir teorias para justificar a sobreposição 
de uma cultura por outra. 
b) os estudos multiculturais sinalizam que as relações estabelecidas entre diferentes 
culturas, em mesmo território, podem ser de tolerância ou também de conflito. 
c) o multiculturalismo impossibilita práticas democráticas nas sociedades 
contemporâneas. 
d) as sociedades contemporâneas enfrentam o desafio de conter o multiculturalismo, 
considerado forte ameaça à democracia. 
e) os interesses divergentes, segundo o trecho, sinalizam a impossibilidade de 
existência de sociedades multiculturais. 
 
 
 
INDICAÇÕES DE LEITURA 
Nome do livro: Manifesto antropófago 
Editora: Penguin - Companhia das Letras 
Autor: Oswald de Andrade 
ISBN: 8582850492 
Comentário: Esse livro reúne quatro textos famosos de Oswald de Andrade, são eles: 
Manifesto da Poesia Pau Brasil, Manifesto Antropófago, Falação e Antologia. Trata-se 
de uma obra que permite que o leitor compreenda os principais ideais modernistas e o 
chamado “Movimento Antropofágico”, teorizado por Oswald de Andrade e também por 
Tarsila do Amaral. O movimento buscou, entre outros aspectos, questionar a dependência 
brasileira de outros países, sendo propostas obras de arte e literárias que fossem realmente 
nacionais e retratassem o povo brasileiro. 
 
INDICAÇÕES DE FILME 
Nome do filme: Babel 
Gênero: Drama/Suspense 
Ano: 2006 
Elenco principal: Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal 
Comentário: Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid) são duas crianças 
do Marrocos que estão com o rifle que seu pai lhes deu para proteger a criação de cabras 
da família. Eles acabam atingindo um ônibus de turistas que atravessa a região e Susan 
(Cate Blanchett), uma mulher americana, é atingida. O filme busca, a partir desse 
acontecimento, retratar as consequências desse fato para outras pessoas, em diferentes 
regiões do planeta. Trata-se de uma história repleta de suspense que nos faz refletir sobre 
as diferenças e as proximidades existentes entre diferentes regiões do planeta. 
 
 
UNIDADE II 
Relações étnico-raciais e desigualdade social 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
Patrick Aparecido Trento 
 
 
 
Introdução 
Nesta unidade, caro(a) estudante, você aprenderá a respeito das relações étnico-raciais e das 
desigualdades sociais existentes no Brasil. Para isso, inicialmente, abordaremos algumas 
questões raciais, como o período escravocrata brasileiro e as consequências dele na sociedade 
atual, a importância da cultura africana na formação do Brasil e os preconceitos vivenciados 
pela população negra. 
Em seguida, apresentaremos os conceitos de um dos principais nomes dos estudos raciais no 
Brasil, Gilberto Freyre (1900-1987), e o impacto de sua obra mais conhecida: Casa grande e 
senzala. Assim, discutiremos as relações da obra com o contexto histórico em que foi 
construída, abordando os aspectos que sustentam o pensamento de Freyre, além de como suas 
ideias foram recebidas na época da publicação do livro e como é vista atualmente. 
Depois, apresentaremos outro importante pesquisador brasileiro: Florestan Fernandes (1920-
1995), considerado um dos maiores sociólogos brasileiros e da América Latina e que tem 
alcance internacional. Assim, discutiremos como Fernandes compreende as relações raciais no 
Brasil e propõe alternativas para a superação das desigualdades sociais brasileiras. Ademais, 
abordaremos as principais diferenças entre os pensamentos de Freyre e de Fernandes. 
Por fim, apresentaremos dois tipos de políticas afirmativas: as cotas sociais e as cotas raciais. 
Nesse contexto, defenderemos essas duas políticas afirmativas como propostas capazes de 
diminuir as desigualdades sociais e raciais existentes no Brasil. 
 
Fonte: Wilfredor / Wikipédia. 
 
QUESTÕES RACIAIS NO BRASIL 
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2017, 
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, o salário 
de uma pessoa negra é em torno de R$ 1.570,00, e de uma pessoa branca é de R$ 2.814,00. 
Existe uma diferença de cerca de R$ 1.200,00 entre o salário de uma pessoa branca e uma 
pessoa negra. 
O desemprego também sinaliza a desigualdade. A PNAD de 2017 registrou uma 
taxa de desemprego mais alta entre pessoas não brancas, 28,1%, enquanto, no caso de 
pessoas brancas, a porcentagem era 9,5%. Além disso, a taxa de homicídio de pessoas 
negras no Brasil era de 40,2, enquanto a de não negros era de 16 por 100 mil habitantes. 
Esses dados mostram as desigualdades existentes entre pessoas negras e brancas no país 
e como o racismo está presente na sociedade brasileira. 
 
FIQUE POR DENTRO 
Para ter acesso aos dados citados acerca das questões raciais no Brasil, leia os 
textos “IBGE mostra as cores da desigualdade” e “Taxa de homicídios de negros é mais 
do que o dobro da de brancos no país”, que estão disponíveis, integralmente, nos links: 
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/21206-ibge-mostra-as-cores-da-desigualdade> e <https://sao-
paulo.estadao.com.br/noticias/geral,taxa-de-homicidios-de-negros-e-mais-do-que-o-
dobro-da-de-brancos-no-pais,70002337809>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
Na primeira parte desta unidade, apresentaremos os aspectos que envolvem 
algumas questões raciais no Brasil, como o processo de escravidão no país, as 
perseguições e os preconceitos em relação à cultura afro-brasileira e a importância das 
pautas levantadas pelos movimentos negros. 
 
A escravização negra no Brasil 
Para compreender e propor enfrentamentos para as desigualdades raciais 
existentes no Brasil, é necessário estudar aspectos históricos, com o intuito de realizar 
reflexões, caro(a) estudante, acerca dos diversos processos que resultaram nessa 
desigualdade. Assim, inicialmente, abordaremos o período escravocrata brasileiro, que 
 
ocorreu entre 1550 e 1888, perdurando por mais de três séculos. Contudo, mesmo com a 
abolição da escravatura, em 1888, muitas pessoas negras continuaram em situações de 
trabalho análogas à escravidão. 
 
FIQUE POR DENTRO 
O dia 13 maio é conhecido como o Dia da Abolição da Escravatura, porém 
diversos movimentos negros afirmam que não se trata de um dia de comemoração, mas 
de reflexão e luta, para que seja possível enfrentar o racismo. 
A Princesa Isabel, responsável por assinar a Lei Áurea em 1888, não realizou esse 
ato por ser abolicionista e querer o fim do processo da escravização de pessoas negras, 
mas por interesses políticos, que envolviam também pressões internas e externas. Assim, 
mesmo com a Lei Áurea, as pessoas negras não tiveram significativas melhoras nas 
condições de vida e trabalho. Até hoje, diversas pessoas negras ainda trabalham em 
situações análogas à escravidão. 
Para saber mais a respeito desse assunto, leia o texto “5 verdades e mitos sobre a 
abolição da escravatura no Brasil”, de Cinthya Oliveira, que pode ser lido, integralmente, 
no link: <https://www.geledes.org.br/5-verdades-e-mitos-sobre-abolicao-da-escravatura-
no-brasil/>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
Como principal referência para a discussãode alguns aspectos que envolveram o 
período escravocrata no país, utilizaremos o livro O genocídio do negro brasileiro: 
processo de um racismo mascarado, escrito por Abdias Nascimento, com prefácio de 
Florestan Fernandes. 
Antes, salientamos que, ao estudar uma obra, caro(a) aluno(a), é importante saber 
algumas informações sobre o(a) autor(a), como local e data de nascimento, período em 
que escreveu a obra, fatos importantes que marcaram sua vida, as principais diretrizes do 
seu pensamento, etc. No meio acadêmico, há poucos autores negros. 
Assim, alguns estudiosos expõem que, além do genocídio da população negra, há 
o epistemicídio, que, segundo Nogueira (2012), é a morte simbólica de pessoas negras, 
como em um processo de apagamento, colonização e assassinato do conhecimento de 
alguns povos. Para Carneiro (2005), há o epistemicídio quando a sociedade não considera 
 
o conhecimento das pessoas negras e, nesse contexto, diversas contribuições teóricas e 
científicas são deslegitimadas e apagadas. 
Abdias do Nascimento (1914-2011) é uma importante referência sobre as questões 
raciais no Brasil. Ele foi professor na Universidade do Estado de Nova York, 
conferencista visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale e professor 
convidado do departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade de Ife, 
na Nigéria. Além de escritor de importantes obras e professor universitário, ele foi 
também ator, artista plástico e político. 
 
 
Figura 2.1 - Abdias do Nascimento (1914-2011) 
Fonte: Ricardo Stuckert / Wikimedia Commons. 
 
O processo de escravização dos povos de origem africana está atrelado à história 
brasileira. De acordo com Nascimento (1978), no Brasil, há o trabalho de pessoas negras 
escravizadas desde o início da colonização pelos portugueses. Conforme expõe o autor, 
a imediata exploração da nova terra se iniciou com o simultâneo 
aparecimento da raça negra fertilizando o solo brasileiro com suas 
lágrimas, seu sangue, seu suor e seu martírio na escravidão. Por 
volta de 1530, os africanos, trazidos sob correntes, já aparecem 
exercendo seu papel de “força de trabalho”; em 1535, o comércio 
 
escravo para o Brasil estava regularmente constituído e 
organizado, e rapidamente aumentaria em proporções enormes. 
Como primeira atividade significativa da colônia portuguesa, as 
plantações de cana-de-açúcar se espalhavam pelas costas do 
nordeste, especialmente nos estados da Bahia e de Pernambuco 
(NASCIMENTO, 1978, p. 48). 
Como argumenta Nascimento (1978), o trabalho de pessoas negras escravizadas 
no país ocorreu desde o início do cultivo de cana-de-açúcar no nordeste brasileiro. Com 
as descobertas de ouro em Minas Gerais, diversas pessoas negras foram para essa região. 
Posteriormente, o declínio desse ciclo fez diversos negros escravizados irem para estados 
como São Paulo e Rio de Janeiro. 
As pessoas negras eram trazidas de alguns países do Continente Africano para o 
Brasil nos navios negreiros ou tumbeiros, embarcações que atravessam o mar Atlântico, 
em viagens que podiam durar dois meses ou mais, em condições sub-humanas, sem 
garantias mínimas de higiene e alimentação. As pessoas escravizadas eram colocadas nos 
porões dos navios, amontoadas e acorrentadas, eram violentadas de diversas formas e 
muitas morriam no decorrer da viagem. A Figura 2.2 é um quadro de Johann Moritz 
Rugendas, que retrata o porão de um navio tumbeiro. 
 
Figura 2.2 - Negros no fundo do porão, Johann Moritz Rugendas (1802-1858) 
Fonte: Wilfredor / Wikimedia Commons. 
 
A seguir, discutiremos a cultura negra da sociedade brasileira e suas 
especificidades. Vamos lá? 
 
A cultura negra na formação da sociedade brasileira 
Os negros tiveram papéis fundamentais na economia brasileira. Desse modo, para 
compreender as desigualdades raciais existentes no país, caro(a) estudante, também é 
necessário entender aspectos da história do Brasil. Conforme expõe Nascimento (1978), 
o africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade 
com a flexão e a quebra da sua espinha dorsal, quando ao mesmo 
tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela 
colônia. Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do 
país para o desfrute exclusivo da aristocracia branca. Tanto nas 
plantações de cana-de-açúcar e café e na mineração quanto nas 
cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das classes 
dirigentes que não se autodegradavam em ocupações vis como 
aquelas do trabalho braçal. A nobilitante ocupação das classes 
dirigentes – os latifundiários, os comerciantes, os sacerdotes 
católicos – consistia no exercício da indolência, no cultivo da 
ignorância, do preconceito e na prática da mais licenciosa luxúria 
(NASCIMENTO, 1978, p. 49-50). 
 
Outro ponto abordado por Nascimento (1978) é a exploração sexual da mulher 
africana no período escravocrata. Na visão do autor, as relações entre homens brancos e 
mulheres negras eram bastante violentas, argumento que derruba a ideia de que o Brasil 
formou-se a partir da integração entre povos negros e portugueses brancos, sem 
preconceitos raciais. Portanto, 
essa realidade social é oposta à prevalecente ideia de que a 
formação do Brasil se verificou obedecendo um processo 
integrativo imune de qualquer preconceito; tira a máscara do 
português e do brasileiro “branco” isentos de procedimentos 
racistas. Liquida certos argumentos considerando que aquela 
ausência de preconceito teria permitido ao colonizador engajar-se 
 
numa saudável interação sexual com a mulher negra: não só 
brasileiros, como latino-americanos (NASCIMENTO, 1978, p. 
62). 
 
As mulheres negras no Brasil ainda vivenciam diversas violências. De acordo com 
Carneiro (2003), a problemática das violências doméstica e sexual atinge todas as 
mulheres, mas as negras vivenciam violências específicas, como as limitações 
enfrentadas no campo afetivo, o que compromete, muitas vezes, o pleno exercício de suas 
sexualidades. 
Ademais, Nascimento (1978) destaca as perseguições às culturas afro-brasileiras. 
Naquele contexto, as agressões à cultura de origem africana dos povos escravizados 
ocorriam de diferentes formas. Segundo o autor, muitas vezes, essas violências eram 
consideradas sutis, como o ato de batizar os africanos em alguns portos brasileiros. 
A Igreja Católica foi utilizada pelos colonizadores como uma ferramenta de 
controle e dominação, perseguindo e atacando crenças religiosas durante séculos. 
Conforme expõe Nascimento (1978), diversos terreiros (templos) ficavam em locais 
escondidos nas matas ou disfarçados em encostas de morros e, quando encontrados, 
podiam ser invadidos e ter diversos objetos confiscados. A intolerância às religiões afro-
brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, ainda existe no Brasil, visto que terreiros 
ainda são atacados e destruídos. 
Assim, caro(a) aluno(a), a história do Brasil é marcada pela escravização da 
população negra de origem africana, que teve um papel importante nos diferentes ciclos 
econômicos brasileiros, trabalhando, por exemplo, nos engenhos de cana-de-açúcar, entre 
os séculos XVI e XVIII, e na exploração do ouro em Minas Gerais, no século XVIII. 
Nesse contexto, a cultura dos negros de origem africana também colaborou para a 
construção da sociedade brasileira, no que se refere às religiões, músicas, danças e à 
culinária, mas as consequências da escravização e do preconceito vivenciado por essas 
pessoas permanecem até hoje. 
Os movimentos negros, existentes no Brasil desde o período escravocrata, 
realizam enfrentamentos às desigualdades raciais. De acordo com Carneiro (2003), esses 
movimentos são responsáveis, por exemplo, pela exigência de maior representatividade 
das pessoas negras em livros didáticos e pelas reivindicações de políticas públicas de 
 
enfrentamento ao racismo. Um exemplo é a Lei nº 10.639, de 2003, que inclui, no 
currículooficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura 
Afro-Brasileira”. 
 
ATIVIDADE 
1) Leia um trecho da música “A carne”, composta por Seu Jorge, Marcelo Fontes do 
Nascimento e Ulisses Cappelletti (SEU JORGE, on-line). 
A carne mais barata do mercado 
É a carne negra 
A carne mais barata do mercado 
É a carne negra 
Que vai de graça pro presídio 
E para debaixo do plástico 
E vai de graça pro subemprego 
E pros hospitais psiquiátricos 
A carne mais barata do mercado 
É a carne negra 
Que fez e faz história, 
Segurando esse país no braço, meu irmão 
O cabra aqui não se sente revoltado 
Porque o revólver já está engatilhado 
E o vingador é lento [...]. 
 
De acordo com essa música e a história dos povos negros de origem africana no Brasil, 
assinale a alternativa correta. 
 
a) A música faz uma crítica ao alto preço da carne de boi na década de 1990 no país, 
o que impossibilitava o acesso a esse produto por grande parte da população negra. 
b) No trecho “Que fez e faz história, segurando esse país no braço”, os autores da 
música fazem referência ao período escravocrata brasileiro. 
 
c) A música aborda a miscigenação brasileira que inclui povos indígenas, negros e 
portugueses. 
d) No trecho “E vai de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátricos”, há uma 
crítica aos hospitais psiquiátricos brasileiros que, na década de 1980, cobravam 
altas taxas para internação de pessoas negras. 
e) A música faz uma crítica à sociedade patriarcal brasileira, que não valoriza o 
trabalho doméstico realizado pelas mulheres. 
 
RELAÇÕES RACIAIS E DESIGUALDADE SOCIAL: GILBERTO FREYRE 
No século XX, dois nomes marcaram os estudos sobre relações raciais no Brasil: 
Gilberto Freyre (1900-1987) e Florestan Fernandes (1920-1995). Inicialmente, 
apresentaremos como Freyre compreende a relações raciais no país e, depois, 
discutiremos o pensamento de Florestan Fernandes e as divergências entre ambos. 
 
As relações raciais no Brasil, segundo Gilberto Freyre 
Gilberto Freyre foi um historiador e sociólogo que estudou a formação da 
sociedade brasileira durante o período colonial, a partir da perspectiva da miscigenação, 
abordando como funcionavam os engenhos e a estrutura física existente neles, como a 
senzala, a casa-grande, a capela e a casa de moer. A obra desse autor destaca-se devido 
aos estudos da sociedade brasileira não apenas a partir de perspectivas econômicas e 
políticas, visto que Freyre também analisou vieses sociais, abordando o cotidiano e as 
relações existentes no período colonial. 
 
REFLITA 
A miscigenação é a mescla entre diferentes etnias. As populações formadas por 
meio das relações entre diferentes etnias são consideradas miscigenadas ou mestiças. 
 
Freyre escreveu o livro Casa-grande e senzala durante o Estado Novo, período 
em que o Brasil buscava construir uma identidade nacional, compartilhada por diferentes 
pessoas que viviam no território nacional. Nesse momento, questionava-se o que era ser 
brasileiro e o que as pessoas tinham em comum, e sua obra buscou responder a esses 
questionamentos. 
 
Na época do lançamento, o livro não foi bem recebido por diversos setores 
conservadores e elitistas, que defendiam a supremacia das pessoas brancas. Outras 
críticas também foram construídas em relação a essa obra, principalmente quanto à forma 
como o autor aborda as relações entre brancos e negros escravizados. 
Aqui, não faremos análises densas a respeito do pensamento de Gilberto Freyre, 
pois nosso objetivo é conhecer as principais ideias defendidas pelo autor e como seu 
pensamento influenciou a forma como outros pensadores compreendem a sociedade 
brasileira. Assim, salientamos que o pensamento de Freyre (2003) sustenta a formação 
do Brasil por meio do encontro de três raças: o branco, o indígena e o negro, dando 
origem, segundo o autor, a uma quarta “raça”: o povo brasileiro. 
A obra de Freyre apresentou algumas respostas à pergunta “o que é o brasileiro?”, 
que ecoava nos projetos de construção de uma identidade nacional. Desse modo, os 
estudos desse autor foram considerados um “divisor de águas” na historiografia brasileira. 
Para Freyre (2003, p. 62), 
formou-se na América tropical uma sociedade agrária na 
estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, 
híbrida de índio – e mais tarde de negro – na composição. 
Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela 
consciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita e 
plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em 
sistema de profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do 
que pelo braço e pela espada do particular. 
 
Ademais, Freyre (2003) salienta que os portugueses preferiam mulatas4, caboclas 
e morenas do que mulheres brancas e loiras. Nas palavras do próprio autor: 
[...] a mulher morena tem sido a preferida dos portugueses para o 
amor, pelo menos para o amor físico. A moda de mulher loura, 
limitada aliás às classes altas, terá sido antes a repercussão de 
 
4 Em sua obra, o autor utiliza a palavra “mulata” e, por isso, ela foi reproduzida neste texto. É 
importante pontuar, no entanto, que existem diversas problemáticas racistas em relação ao 
termo, que tem como origem a palavra “mula”, a qual nomeia o animal resultante do 
cruzamento de um cavalo com uma jumenta ou de uma égua com um jumento. 
 
 
influências exteriores do que a expressão de genuíno gosto 
nacional. Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca 
para casar, mulata para f..., negra para trabalhar”; ditado em que 
se sente, ao lado do convencionalismo social da superioridade da 
mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual 
pela mulata. Aliás o nosso lirismo amoroso não revela outra 
tendência senão a glorificação da mulata, da cabocla, da morena 
celebrada pela beleza dos seus olhos, pela alvura dos seus dentes, 
pelos seus dengues, quindins e embelegos muito mais do que as 
“virgens pálidas” e as “louras donzelas”. Estas surgem em um ou 
em outro soneto, em uma ou em outra modinha do século XVI ou 
XIX. Mas sem o relevo das outras (FREYRE, 2003, p. 71-72). 
 
Ainda na obra Casa-grande e senzala, Freyre (2003) abordar os papéis de povos 
indígenas na formação da sociedade brasileira, contudo essas análises assumem papel 
secundário, quando o autor aborda os engenhos de cana-de-açúcar que se situavam em 
Pernambuco. Nesses locais, a mão de obra indígena teve papel secundário, se comparada 
à da população negra escravizada. 
A mulher indígena teve destaque em algumas análises de Freyre (2003), pois seus 
estudos mostraram que, nos engenhos, muitas vezes, ela era considerada responsável por 
receitas culinárias, pela agricultura e pelos remédios naturais. 
De acordo com Santos (2012), Freyre parece considerar a cultura indígena 
complementar em relação às culturas europeias e africanas, por isso, não enfatiza essa 
influência no processo de construção da sociedade brasileira. Ainda segundo Santos 
(2012), para Freyre, as pessoas negras de origem africana tiveram maior facilidade para 
se inserir na formação econômica e social brasileira do que os povos indígenas. Nas 
palavras do próprio estudioso: 
a enxada é que não se firmou nunca na mão do índio nem na do 
mameluco; nem o seu pé de nômade se fixou nunca em pé-de-boi 
paciente e sólido. Do indígena quase que só aproveitou a 
colonização agrária no Brasil o processo da coivara, que 
 
infelizmente viria a empolgar por completo a agricultura colonial. 
O conhecimento de sementes e raízes, outras rudimentares 
experiências agrícolas, transmitiu-as ao português menos o 
homem guerreiro que a mulher trabalhadora do campo ao mesmo 
tempo que doméstica. Se formos apurar a colaboração do índio 
no trabalho propriamente agrário, temos que concluir, contra 
Manuel Bonfim – indianófilo até a raizdos cabelos –, pela quase 
insignificância desse esforço (FREYRE, 2003, p. 162). 
 
 
Figura 2.3 - Primeira Missa (1860); quadro pintado por Victor Meirelles 
Fonte: Tetraktys / Wikimedia Commons. 
 
A obra pintada por Victor Meirelles (1832-1903) retrata a primeira missa católica 
realizada no Brasil. Como exposto anteriormente, a Igreja exerceu papel fundamental na 
dominação de povos indígenas, mediante a imposição religiosa, por exemplo, por meio 
do batismo. Assim, Freyre (2003) destaca o papel dos jesuítas na formação do Brasil 
Colônia, por meio da educação e da moral. Os portugueses, de acordo com o autor, não 
trouxeram para o território brasileiro divergências religiosas, como os franceses e ingleses 
fizeram em suas colônias. 
 
 
Para o “unionismo” prepara-nos aliás a singular e especialíssima 
situação do povo colonizador; o qual chega às praias americanas 
unido política e juridicamente; e por maior que fosse a sua 
variedade íntima ou aparente de etnias e de crenças, todas elas 
acomodadas à organização política e jurídica do Estado unido à 
Igreja Católica (FREYRE, 2003, p. 90). 
 
A contribuição dos negros na formação do Brasil, de acordo com Freyre (2003), 
além de estar relacionada ao esforço físico do trabalho escravizado, é cultural e pode ser 
vista, por exemplo, na alimentação e nas vestimentas. 
No que se refere à vida sexual das pessoas do período escravocrata, Freyre (2003) 
expõe que os homens brancos sentiam-se atraídos pelas mulheres negras por diferentes 
motivos, como o clima tropical brasileiro e as questões sociais e culturais. 
No caso do brasileiro, desde menino tão guloso de mulher, 
atuaram, ainda com mais força, influências de caráter social 
contrárias à continência, ao ascetismo, à monogamia. Entre nós o 
clima tropical terá indiretamente contribuído para a 
superexcitação sexual de meninos e adolescentes; para a sua 
antecipação, tantas vezes mórbida, no exercício de funções 
sexuais e conjugais. Menos, porém, que as influências puramente 
sociais (FREYRE, 2003, p. 350). 
 
A tese de que as mulheres negras eram responsáveis por corromper a vida sexual 
da sociedade brasileira é questionada por Freyre (2003), porque, para ele, essa corrupção 
não ocorreu a partir da mulher negra, mas de pessoas escravizadas, negras ou indígenas, 
tendo como responsável os sistemas social e econômico em que elas estavam inseridas. 
Portanto, segundo o autor, 
é absurdo responsabilizar-se o negro pelo que não foi obra sua 
nem do índio, mas do sistema social e econômico em que 
funcionaram passiva e mecanicamente. Não há escravidão sem 
depravação sexual. É da essência mesma do regime. Em primeiro 
lugar, o próprio interesse econômico favorece a depravação 
 
criando nos proprietários de homens imoderado desejo de possuir 
o maior número possível de crias (FREYRE, 2003, p. 414). 
 
A forma como Gilberto Freyre compreende as relações entre negros escravizados, 
indígenas e colonizadores brancos, por um lado, questionou diversas teorias que 
apontavam a inferioridade dos povos negros e indígenas por meio de justificativas 
biológicas, físicas ou sociais. Por outro lado, o pensamento desse autor foi bastante 
criticado por romantizar as relações, deixando de considerar diversas violências 
vivenciadas pelos povos escravizados. 
A seguir, abordaremos as contribuições de Florestan Fernandes, outro importante 
pensador brasileiro. Apresentaremos os principais pontos de seus estudos e como ele 
compreende as relações raciais no Brasil. Depois, realizaremos uma breve discussão 
sobre as proximidades e diferenças entre os pensamentos de Gilberto Freyre e Florestan 
Fernandes. 
 
ATIVIDADE 
2) Leia o texto a seguir. 
 
Os primeiros escravos africanos começaram a ser importados em 
meados do século XVI; seu emprego nos engenhos brasileiros, 
contudo, ocorria basicamente nas atividades especializadas. Por 
esse motivo, eram bem mais caros que os indígenas: um escravo 
africano custava, na segunda metade do século XVI, cerca de três 
vezes mais que um escravo índio (MARQUESE, 2006, p. 111). 
 
Gilberto Freyre, importante estudioso brasileiro, dedicou-se a escrever sobre a formação 
do Brasil e as relações entre diferentes povos. Em sua obra Casa-grande e senzala, ele 
faz algumas diferenciações quanto ao emprego da mão de obra escrava negra e indígena 
no período colonial. Com base nesse contexto, assinale a alternativa correta. 
 
 
a) Os povos de origem africana eram bondosos e inocentes, por isso, não se 
rebelavam contra os colonizadores portugueses e, desse modo, contribuíram para 
a economia do Brasil no período colonial. 
b) Os povos indígenas tiveram papel secundário na formação cultural da sociedade 
brasileira. 
c) Apenas os povos indígenas foram utilizados como mão de obra no período de 
produção da cana-de-açúcar. 
d) Os povos indígenas recusaram interações com os portugueses, por isso, o Brasil 
necessitou da mão de obra africana. 
e) As mulheres indígenas, devido ao pouco conhecimento sobre agricultura, em nada 
contribuíram para a colonização agrária brasileira. 
 
RELAÇÕES RACIAIS E DESIGUALDADE SOCIAL: FLORESTAN 
FERNANDES 
Florestan Fernandes foi um importante sociólogo brasileiro, que se dedicou a 
escrever a respeito de temas como as relações raciais e as desigualdades sociais no Brasil. 
Esse autor escreveu diversos livros e artigos que ficaram conhecidos no Brasil e em outros 
países, contudo apresentaremos apenas as principais ideias defendidas por ele no livro O 
negro no mundo dos brancos, de 1972, pois, nesse livro, Florestan Fernandes faz diversas 
considerações sobre as relações étnico-raciais brasileiras. 
 
As relações raciais no Brasil, segundo Florestan Fernandes 
Em pesquisas realizadas na cidade de São Paulo, com pessoas negras, Florestan 
Fernandes percebeu que, mesmo após a abolição da escravatura em 1888, ainda existiam 
diversas desigualdades entre pessoas brancas e negras na sociedade brasileira, que se 
tornava cada vez mais industrializada. O pensamento de Fernandes sustenta, 
principalmente, a defesa de que a democracia racial, proposta por autores como Gilberto 
Freyre, na verdade, é um mito, pois, segundo Fernandes, negros e brancos tinham 
condições de vida diferentes. 
 
 
 
Figura 2.4 - Família de brasileiros brancos e mulheres negras escravizadas por ela (1860) 
Fonte: Kingpin13 / Wikimedia Commons. 
 
A democracia racial é utilizada por alguns autores para a compreensão das 
relações raciais brasileiras. Para esses estudiosos, no Brasil, diferente de em outros países, 
os indivíduos não veem uns aos outros a partir do conceito de raça e, desse modo, não 
têm preconceitos raciais. 
Salientamos, porém, que, apesar de Freyre nunca ter utilizado a tese da 
democracia racial em suas obras, as interpretações de seu pensamento fazem ele ser 
considerado um defensor dessa tese. Nesse contexto, conforme expõe Fernandes (1972), 
sob a égide da ideia de democracia racial justificou-se, pois, a 
mais extrema indiferença e falta de solidariedade para com um 
setor da coletividade que não possuía condições próprias para 
enfrentar as mudanças acarretadas pela universalização do 
trabalho livre e da competição [...]. Esse quadro mostra que a 
chamada “democracia racial” não tem nenhuma consistência e, 
vista do ângulo do comportamento coletivo das “populações de 
cor”, constitui um mito cruel (FERNANDES, 1972, p. 29). 
 
 
O mito da democracia racial foi criado visando ao interesse e aos valores sociais 
e não contribui para que as pessoas negras se conscientizem quanto à realidade vivenciada 
e lutem para modificá-la. Isso porque se argumenta que, no Brasil, não existe racismo. 
Ademais, segundo Fernandes (1972), as transformações econômicas que 
ocorreram no Brasil, no início do século XX, beneficiaram a “raça dominante”, que 
ocupava posições importantes na estrutura de poder político e econômicoe, em extensão 
menor, os imigrantes europeus. Nessa época, o governo preocupava-se muito mais com 
a falta de integração política e econômica nacional do que com a falta de integração da 
sociedade brasileira no nível das relações sociais e do desequilíbrio que existia. 
 
FIQUE POR DENTRO 
Conceição Evaristo é uma escritora mineira, nascida em 1946. Ela é formada em 
Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestra em Literatura pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e doutora em Literatura 
Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Evaristo é a autora de diversos 
livros e poemas, como “Vozes-Mulheres”, do livro Poemas de recordações e outros 
movimentos, exposto a seguir. 
 
Vozes-Mulheres 
 
A voz de minha bisavó 
ecoou criança 
nos porões do navio. 
Ecoou lamentos 
de uma infância perdida. 
A voz de minha avó 
ecoou obediência 
aos brancos-donos de tudo. 
A voz de minha mãe 
ecoou baixinho, revolta 
no fundo das cozinhas alheias, 
 
debaixo das trouxas 
roupagens sujas dos brancos, 
pelo caminho empoeirado 
rumo à favela. 
A minha voz ainda 
ecoa versos perplexos 
com rimas de sangue 
e 
fome. 
 A voz de minha filha 
recolhe todas as nossas vozes, 
recolhe em si 
as vozes mudas, caladas, 
engasgadas nas gargantas. 
A voz de minha filha 
recolhe em si 
a fala e o ato. 
O ontem – o hoje – o agora. 
Na voz de minha filha 
se fará ouvir a ressonância 
O eco da vida-liberdade. 
Para conhecer outros poemas de Conceição Evaristo, acesse o link: 
<https://www.revistaprosaversoearte.com/conceicao-evaristo-poemas/>. Acesso em: 6 
jun. 2019. 
 
 O padrão das relações raciais no Brasil, de acordo com Freyre (1972), foi 
construído para uma sociedade escravista, ou seja, para manter as pessoas negras sob a 
sujeição das pessoas brancas. Para o autor, enquanto essa forma de relação não for 
abolida, as distâncias social, política e econômica entre brancos e negros continuarão 
imensas, mesmo que essa diferença não seja reconhecida de modo explícito. 
 
 
 
Figura 2.5 - Mulher negra escravizada como babá e ama de leite de Eugen Keller, na 
província de Pernambuco. Obra de Alberto Henschel, 1874 
Fonte: Spoladore / Wikimedia Commons. 
 
 Para Fernandes (1972), existem diferenças entre o racismo brasileiro e de outros 
países que tiveram populações negras escravizadas, como nos Estados Unidos. Para o 
autor, no entanto, mesmo existindo dissimilitudes, os dois países são racistas. O racismo 
existente nos EUA pode ser caracterizado como sistemático e, no Brasil, como 
assistemático, pois, aqui, não se reconhece a existência do preconceito racial. 
Tomaram-se estas noções para dar fundamento à escravidão e 
para alimentar outra racionalização corrente, segundo a qual o 
próprio negro seria beneficiado pela escravidão, mas sem aceitar-
se a moral da relação que se estabelecia entre o senhor e o escravo. 
Por isso, surgia no Brasil uma espécie de preconceito reativo: o 
preconceito contra o preconceito ou o preconceito de ter 
preconceito (FERNANDES, 1972, p. 42). 
 
Segundo Fernandes (1972), a discriminação racial existente no Brasil é uma 
herança do período escravista. A abolição da escravatura não fez as pessoas negras terem 
as mesmas condições sociais, econômicas e políticas das pessoas brancas brasileiras. 
 
Diferenças entre o pensamento de Gilberto Freyre e de Florestan Fernandes 
A primeira diferença entre o pensamento de Gilberto Freyre, na obra Casa-grande 
e senzala, e de Florestan Fernandes, em “O negro no mundo dos brancos”, é o período 
em que as obras foram escritas. 
A primeira foi publicada em 1933, período em que o Brasil ainda enfrentava 
dificuldades para se consolidar como uma nação única; desse modo, buscava-se construir 
uma identidade comum para todos os brasileiros, em um território de pessoas diversas. 
Por sua vez, a obra de Fernandes foi publicada em 1972, período em que o Brasil 
possuía uma industrialização mais consolidada, mesmo que tardia. Anos após o processo 
que colocou fim na escravatura, as desigualdades entre pessoas negras e brancas ainda se 
mostravam presentes no país. 
 
REFLITA 
A ideia de que as mulheres são frágeis e delicadas não se estende a todas. Angela 
Davis, importante filósofa estadunidense, em seu livro “Mulheres, raça e classe”, 
publicado em 1981 e, em 2016, no Brasil, destaca a fala de Sojourner Truth, considerada 
pioneira na luta por direitos de mulheres e homens negros nos Estados Unidos. 
Segundo Angela Davis, na primeira National Convention on Women’s Rights 
(Convenção Nacional de Direitos das Mulheres), que ocorreu em 1850, um dos homens 
presentes na reunião afirmou que as mulheres não eram capazes de votar, porque, até para 
atravessarem uma poça de água ou entrarem em uma carruagem, precisavam da ajuda dos 
homens. Nesse contexto, Sojourner Truth 
 
[...] apontou para fora desse argumento com a simplicidade de que 
ela nunca foi ajudada a atravessar poças de água nem a entrar em 
carruagens “e não sou eu uma mulher?”. Com uma voz como um 
trovão, ela disse “olhem para mim! Olhem para os meus braços” 
e enrolou as suas mangas para revelar os tremendos músculos dos 
seus braços. “Eu lavrei, plantei, e ceifei para celeiros e nenhum 
homem podia ajudar-me! E não sou eu mulher? Podia trabalhar 
tanto e comer tanto como um homem – quando podia fazê-lo – e 
suportar o chicote também! E não sou eu mulher? Dei à luz treze 
 
crianças e vi a maior parte delas serem vendidas para a 
escravatura, e quando chorei a minha dor de mãe, ninguém senão 
Jesus me ouviu! E não sou eu mulher?” (DAVIS, 2016, p. 49). 
 
O olhar de Freyre (2003) para o Brasil é construído a partir da perspectiva da 
miscigenação, ou seja, a mistura entre as diferentes raças era justamente o que dava 
unidade ao povo brasileiro. Para o estudioso, o Brasil era um país mestiço desde o início 
do processo de colonização. Assim, a miscigenação brasileira, vista por muitos estudiosos 
da época como um atraso para a construção do Brasil, é, para Freyre (2003), na verdade, 
o que possibilitou a colonização do país pelos portugueses. 
As relações raciais e “misturas” entre povos é vista por Freyre (2003) como algo 
que aconteceu sem grandes conflitos, pois, para ele, o português (por diversos motivos 
elencados no livro Casa-grande e senzala) teve facilidade para se relacionar com as 
pessoas negras de origem africana. Diversos pesquisadores, porém, contestam essa visão, 
visto que, para eles, a miscigenação brasileira também mostra o estupro sofrido por 
mulheres e homens negros escravizados. 
 Por ver essas relações entre diferentes raças sem grandes conflitos, Freyre (2003) 
defende que a sociedade brasileira não é racista como em outros países. Assim, a forma 
como esse autor compreendeu as relações raciais no Brasil fez seu pensamento ser 
atrelado ao conceito de democracia racial. 
Em contrapartida, Fernandes (1972) questiona essa democracia, considerando-a 
um grande mito. Para o autor, as relações raciais brasileiras têm algumas diferenças, se 
comparadas com outros países, contudo a sociedade brasileira também é racista. 
Enquanto Freyre (2003) considera que a convivência entre pessoas brancas e negras foi 
pacífica, Fernandes (1972) afirma que essa convivência é conflituosa e desigual até hoje. 
Devido à influência marxista, isto é, por embasar seu pensamento na perspectiva 
materialista de Karl Marx (1818-1883), Fernandes (1972) compreende a situação das 
pessoas negras no país também a partir da perspectiva de classe social. O autor expõe, 
por exemplo, que o negro teve dificuldades para se integrar à sociedade industrial 
brasileira, porque estava acostumado com serviços do campo e domésticos. Por outro 
lado, Freyre (2003) afirma que as pessoas negras de origem africana tiveram facilidade 
para se adaptarem à sociedade brasileira no períodocolonial. 
 
Para Fernandes (1972), no Brasil, o debate sobre raça precisa ser acompanhado 
das discussões sobre classe social, visto que, para ele, a desigualdade social entre pessoas 
brancas e negras só deixará de existir por meio da integração dos negros à sociedade. 
Portanto, caro(a) estudante, a história do Brasil é marcada pela escravização da 
população negra. Ainda existem diversas desigualdades raciais no país e, com o intuito 
de propor enfrentamentos para elas, há propostas de políticas afirmativas, como as cotas 
raciais para pessoas negras em vestibulares e em outros concursos públicos. No próximo 
tópico, apresentaremos as principais justificativas que fundamentam esse tipo de ação 
afirmativa. 
 
ATIVIDADE 
3) Leia o trecho a seguir. 
“Democracia racial, a rigor, significa um sistema racial desprovido de qualquer barreira 
legal ou institucional para a igualdade racial, e, em certa medida, um sistema racial 
desprovido de qualquer manifestação de preconceito ou discriminação” (DOMINGUES, 
2005, p. 116). 
Com base nesse contexto, segundo o entendimento de Fernandes, importante sociólogo 
brasileiro, a democracia racial é: 
 
a) uma interpretação correta acerca da sociedade brasileira, pois o racismo no Brasil 
é diferente de outros locais do mundo. 
b) um mito, pois, no Brasil, as relações entre pessoas brancas e negras são marcadas 
pelo preconceito e pela violência. 
c) uma interpretação problemática da sociedade brasileira, pois várias pessoas 
deixam de comparecer em votações eleitorais. 
d) um mito, pois a sociedade brasileira tornou-se democrática apenas no fim do 
Regime Militar, na década de 1980. 
e) uma interpretação correta acerca da sociedade brasileira, pois não é possível 
identificar uma única raça no Brasil. 
 
 
 
O DEBATE SOBRE AS POLÍTICAS AFIRMATIVAS NO BRASIL: COTAS 
RACIAIS OU COTAS SOCIAIS? 
Caro(a) aluno(a), você sabe o que são políticas afirmativas? São medidas políticas 
realizadas com o intuito de colocar fim a exclusões sociais, econômicas e culturais que 
alguns grupos vivenciam em uma sociedade. Essas políticas podem ocorrer por meio da 
oferta de recursos ou de outros benefícios a grupos com históricos de discriminações 
raciais, religiosas, de gênero, etc. 
Uma dessas medidas corresponde às cotas, que podem ocorrer em processos 
seletivos de órgãos públicos, como concursos e vestibulares. Esse é um tema que costuma 
levantar diversos debates, por isso, nosso objetivo, inicialmente, é explicar o que são as 
políticas afirmativas e, posteriormente, dois tipos de cotas, as sociais e as raciais, e os 
principais argumentos que fundamentam suas existências, de acordo com alguns 
estudiosos. 
 
O que são políticas afirmativas? 
Provavelmente, caro(a) estudante, você já ouviu a expressão “todos são iguais 
perante a Lei”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, afirma que todos 
têm os mesmos direitos à moradia, educação, saúde, liberdade e ao lazer, mas, na prática, 
isso acontece? Todos nós, de fato, temos os mesmos direitos? 
De acordo com Piovesan (2008a), a ideia de que todos têm os mesmos direitos é 
denominada igualdade formal, genérica e abstrata, contudo considerar os sujeitos apenas 
sob esse viés é insuficiente, pois também é preciso pensar em suas particularidades, visto 
que diversos grupos tiveram direitos violados por muitos anos. A diferença, utilizada, 
muitas vezes, como justificativa para a subversão de direitos, deve ser, segundo Piovesan 
(2008a), promotora de direitos. 
Nessa ótica, determinados sujeitos de direitos, ou determinadas 
violações de direitos, exigem uma resposta específica e 
diferenciada. Isto é, na esfera internacional, se uma primeira 
vertente de instrumentos internacionais nasce com a vocação de 
proporcionar uma proteção geral, genérica e abstrata, refletindo o 
próprio temor da diferença (que na era Hitler foi justificativa para 
o extermínio e a destruição), percebe-se, posteriormente, a 
 
necessidade de conferir a determinados grupos uma proteção 
especial e particularizada, em face de sua própria vulnerabilidade. 
Isso significa que a diferença não mais seria utilizada para a 
aniquilação de direitos, mas, ao revés, para a promoção de direitos 
(PIOVESAN, 2008a, p. 888). 
 
Nesse contexto, alguns grupos, como os de mulheres, afrodescendentes, pessoas 
com algum tipo de deficiência, devem ser compreendidos a partir de suas condições 
sociais específicas. Em outras palavras, deve-se buscar o direito à igualdade, mas também 
é preciso considerar as diferenças (PIOVESAN, 2008a). Corroborando, Santos (2003) 
afirma que deve haver uma igualdade que reconheça as diferenças, em vez de produzi-las 
e de colaborar com as desigualdades. 
Desse modo, há diferentes medidas que podem proporcionar o enfrentamento das 
desigualdades existentes entre diferentes grupos. Uma dessas medidas, de acordo com 
Piovesan (2008a), é a estratégia de promoção de direitos. Para a autora, proibir 
discriminações de modo repressivo não é o suficiente para garantir a igualdade; são 
necessárias ações que aceleram esse processo, por meio de estratégias que estimulem a 
inserção de grupos social e historicamente discriminados nos espaços coletivos e 
democráticos, como as ações afirmativas. Portanto, as ações afirmativas não devem ser 
compreendidas apenas pelo viés da reparação histórica, ou seja, de recompensar um 
passado discriminatório, mas de proporcionar a transformação social (PIOVESAN, 
2008a). 
A seguir, observe uma foto da equipe ministerial, indicada em 2019. 
 
 
 
Figura 2.6 - Equipe ministerial indicada pelo governo federal (2019) 
Fonte: Senado Federal / Wikimedia Commons. 
 
Mesmo o Brasil tendo 55% de sua população negra, de acordo com o IBGE 
(2016), e 51,6% de mulheres, segundo dados do IBGE (2017), as pessoas que ocupam os 
cargos políticos do país são, em sua maioria, homens e brancos. Isso significa que a 
equipe ministerial não representa, de fato, os diferentes grupos sociais que compõem a 
sociedade brasileira. Como consequência, as demandas desses diferentes grupos podem 
não ser consideradas pautas necessárias. 
Algumas ações afirmativas já foram realizadas no Brasil, a fim de diminuir as 
desigualdades de gênero no campo político. Uma delas é a Lei nº 9.100, de 1995, 
conhecida como “Lei das cotas”, que definiu uma cota mínima de 20% das vagas de cada 
partido ou coligação para mulheres. Posteriormente, conforme expõe Piovesan (2008a), 
essa lei foi alterada pela Lei nº 9.504, de 1997, a qual define que todos os partidos ou 
coligações devem reservar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de 
homens e mulheres, respectivamente. 
A Constituição Federal Brasileira (1988) também inclui a possibilidade de ações 
afirmativas, como no artigo 7º, inciso XX, que aborda a proteção do mercado de trabalho 
das mulheres, considerando necessários incentivos específicos. Além disso, o artigo 37, 
 
VII, define a reserva percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas com algum 
tipo de deficiência (PIOVESAN, 2008). 
A seguir, apresentaremos dois tipos de ações afirmativas: as cotas sociais e as 
cotas raciais. 
 
O que são as cotas sociais? 
Como o nome sugere, as cotas sociais visam propor enfrentamentos às 
desigualdades sociais existentes no Brasil. Essas cotas podem atender às demandas como 
vagas em concursos e vestibulares, reservadas para grupos sociais específicos. As regras 
podem variar de acordo com a instituição. Por exemplo, podem haver vagas destinadas a 
pessoas com renda per capita até determinado valor, oriundas de escolas públicas ou que 
preencham esses dois requisitos. 
Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), por exemplo, as cotas sociais são 
reservadas para candidatos que tenham cursado os Ensinos Fundamental e Médio em 
escolas da rede pública, não tenham diploma de curso superior e tenham renda bruta 
mensal per capitade até 1,5 salários mínimos. Por sua vez, a Fuvest, responsável por 
realizar o vestibular da Universidade de São Paulo (USP), define que 40% das vagas 
devem ser destinadas aos alunos de escola pública e aos alunos de escola pública que são 
pretos, pardos e indígenas. 
A defesa da necessidade de cotas sociais sustenta-se no argumento de que o Brasil 
é um país bastante desigual, logo, as pessoas não têm o mesmo acesso à educação e ao 
mercado de trabalho, o que impossibilita a transformação social e a diminuição das 
desigualdades. 
 
 
 
Figura 2.7 - Contraste social entre a Rocinha, maior favela do Brasil, e os edifícios de São 
Conrado, Rio de Janeiro 
Fonte: Alicia Nijdam / Wikimedia Commons. 
 
Considere a seguinte situação fictícia: Flávia e Manuela são adolescentes de 17 
anos, estudantes do terceiro ano do Ensino Médio, residentes na cidade do Rio de Janeiro. 
Ambas sonham com o ingresso em um curso de medicina. Flávia mora com sua mãe, que 
é empregada doméstica, no Complexo da Maré, bairro pobre da cidade, e precisa pegar 
diversos ônibus para chegar até a escola. Desde criança, quando não está na escola, Flávia 
ajuda sua mãe com as diárias, sobrando pouco tempo para estudar. 
Em contrapartida, Manuela vive com seus pais no Leblon, bairro nobre da cidade. 
No Ensino Fundamental, ela estudou em uma escola particular próxima a sua casa e, no 
Ensino Médio, estudou em uma escola bilíngue. No último ano, durante as tardes, ela 
começou um cursinho específico para estudantes que querem prestar o vestibular de 
medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
Caro(a) aluno(a), você considera que Flávia e Manuela têm as mesmas condições 
de passar no vestibular de medicina no fim do terceiro ano do Ensino Médio? O 
argumento utilizado pelas cotas sociais é que as pessoas pobres não têm o mesmo acesso 
às universidades brasileiras e, mesmo quando formadas, não têm possibilidades iguais no 
mercado de trabalho, por isso, também existem cotas sociais em concursos públicos. Sem 
 
acesso à educação e, posteriormente, ao mercado de trabalho na área de formação, Flávia 
dificilmente conseguirá mudar sua atual situação financeira. 
 
O que são cotas raciais? 
Quantos(as) professores(as) negros(as), caro(a) aluno(a), você já teve durante os 
Ensinos Fundamental ou Médio? Quantos(as) médicos(as) negros(as) você conhece? 
Provavelmente, a quantidade de pessoas negras que você já conheceu em cargos de 
prestígio social e financeiro é bem menor se comparada ao número de pessoas brancas. 
As cotas raciais pretendem garantir que pessoas negras ingressem nas 
universidades públicas e passem em outros concursos públicos. Assim, são consideradas 
um caminho para a mudança social. Além disso, o conhecimento produzido pelas pessoas 
negras tem sido deslegitimado ao longo da história, logo, a entrada de pessoas negras nos 
espaços universitários possibilita a produção de conhecimentos diversos e plurais. 
Historicamente, a prática acadêmica evidencia o apagamento de 
biografias de intelectuais negras/os, o esvaziamento de 
singularidades por narrativas descontextualizadas distanciadas da 
história, e isto é uma estratégia discursiva poderosa que resulta 
em danos irreparáveis na vida de pessoas negras (MARTINS et 
al., 2018, p. 124-125). 
 
Portanto, as relações de poder entre pessoas brancas e negras não são iguais. A 
população negra teve seus direitos negados ao longo da história do Brasil, desse modo, 
as cotas raciais visam propor enfrentamentos a essas desigualdades. 
 
REFLITA 
A língua de um país também pode expressar preconceitos de uma sociedade. Você 
já pensou que diversas expressões que ainda são utilizadas nos dias atuais são racistas? 
Quando dizemos que um lápis tem “cor de pele”, geralmente, estamos falando de um lápis 
rosado/bege, mas essa cor não representa a pele de todos os brasileiros. 
Outro exemplo é a expressão “não sou tuas negas”, indicando que uma negra é 
propriedade de alguém e que se pode fazer tudo com ela. No período escravocrata, as 
 
mulheres negras eram consideradas propriedade dos homens brancos e violentadas 
sexualmente por eles. 
Ademais, as palavras “negro” e “preto” são utilizadas em diversas expressões 
como algo negativo. Em “a coisa está preta”, o termo indica uma situação ruim ou 
desconfortável. Na expressão “serviço de preto”, essa palavra é utilizada para fazer 
referência a um serviço malfeito. 
 
De acordo com Segato (2006), ainda existe bastante desinformação quanto à 
proposta de cotas raciais, por isso, diversas pessoas emitem suas opiniões sem conhecer 
as justificativas que sustentam a existência dessas cotas. Segundo a autora, atualmente, 
no Brasil, a exclusão social de pessoas negras é vista como algo natural. Assim, é 
necessário um resgate histórico do período da escravatura no país, para que se 
compreenda como as pessoas negras vivenciaram diversas violências e exclusões sociais. 
A exclusão, entre nós, é uma estrutura profunda de ordem 
psíquica, cognitiva, ontológica, e não meramente 
socioeconômica. Originária do sistema de exploração 
escravocrata, logo permaneceu enquistada na ideologia e 
reproduzida pela cultura do povo brasileiro. As relações sociais 
próprias da escravidão constituíram-se em matriz de convivência 
no Brasil, transformaram-se em “costume”, numa forma de 
normalidade. Na sociedade brasileira pós-escravocrata, a 
suspensão da ordem jurídica que garantia a exclusão na lei foi 
substituída por uma caução ideológica, o racismo, que passou a 
ser a norma não-jurídica a garantir a permanência da exclusão das 
pessoas negras (SEGATO, 2006, p. 81). 
 
Para Segato (2006, p. 83), as cotas raciais não devem ser entendidas apenas como 
algo que altera “o perfil da injustiça social que prejudica os índices brasileiros ou como 
um mecanismo de desenvolvimento socioeconômico, através de educação ampliada de 
setores menos favorecidos da população”. Para a autora, essa é uma visão reducionista do 
fenômeno e que pode provocar diversos outros impactos na vida social dos sujeitos. 
 
Com base nos estudos de Segato (2006), há dez impactos particulares da eficácia 
da política de cotas nas universidades, dentre eles, destacamos a eficácia reparadora, 
capaz de instituir nos espaços acadêmicos mecanismos para ressarcir, pelo menos em 
parte, a população negra brasileira que foi marginalizada e violentada durante a história 
do país. Ademais, há a eficácia política, pois a sociedade aceita, publicamente, sua 
responsabilidade por práticas racistas ao longo da história, e a eficácia propriamente 
transformadora, capaz de desestabilizar estruturas racistas. 
 
Cotas raciais ou cotas sociais? 
Muitas pessoas posicionam-se contra as cotas sociais e raciais e outras ficam em 
dúvida sobre a necessidade dessas duas políticas. É realmente necessária a existência 
dessas políticas? As cotas raciais substituem as cotas sociais? É preciso optar por uma 
delas? 
As pessoas que defendem apenas a existência das cotas sociais argumentam que, 
uma vez colocado o critério social, as pessoas pobres, tanto brancas como negras, terão 
acesso à universidade e ocorrerão transformações sociais. 
Segundo o professor Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biociências da 
Universidade de São Paulo, em entrevista ao Jornal da USP (2016), a correlação entre 
renda e raça pode fazer as pessoas pensarem que as cotas sociais, ao promoverem a 
entrada dos mais pobres na universidade, são também uma ação afirmativa racial. Dados 
da USP, porém, sinalizam que apenas 5% dos alunos que entraram na universidade pelo 
programa de inclusão de alunos da escola pública se autodeclararam negros e/ou 
indígenas. 
Portanto, caro(a) estudante, as cotas são um dos tipos de ações afirmativas que 
visam propor enfrentamentos às desigualdades existentes no Brasil. Há diferenças entre 
as cotas raciais e as cotas sociais, por isso, alguns pesquisadorese movimentos sociais 
defendem a necessidade de ambas. 
Por fim, salientamos que a intenção dos estudos propostos nesta unidade não foi 
a de construir visões definitivas, mas apresentar algumas discussões e alguns argumentos 
que sustentam a defesa das cotas sociais e raciais, para que você, caro(a) aluno(a), possa 
refletir acerca desse assunto. 
 
 
FIQUE POR DENTRO 
O debate sobre cotas raciais e sociais, geralmente, gera diversas polêmicas. Várias 
universidades já adotaram a política de cotas, como a Universidade de Brasília (UnB) e a 
Universidade de São Paulo (USP), mas ainda existem alguns mitos acerca da implantação 
e da eficácia das cotas. 
A Universidade Federal de Minas Gerais divulgou um texto com os 10 principais 
mitos sobre as cotas, que inclui discussões relacionadas ao fato de as cotas serem ou não 
inconstitucionais, se subvertem o princípio do mérito acadêmico ou se podem diminuir o 
nível do processo de ensino-aprendizagem. Você pode ler o texto, na íntegra, no link: 
<https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53>. 
 
A defesa das cotas, tanto raciais como sociais, para a grande maioria dos 
estudiosos, não deve ser separada da ideia de que se trata de uma política imediata, capaz 
de diminuir desigualdades e promover a transformação social, contudo outras medidas 
devem ser tomadas, por exemplo, na educação básica. 
 
ATIVIDADE 
4) Leia a notícia a seguir, veiculada pela CBN. 
 
O Coletivo negro Yalodê-Badá realizou um ato pedindo cotas 
raciais na UEM. Além do grupo, pessoas ligadas a movimentos 
sociais, estudantes e professores que apoiam a causa se reuniram 
em frente à Biblioteca Central da Universidade Estadual de 
Maringá. Foi na noite desta quinta-feira (16). Havia cartazes e 
faixas pedindo o maior acesso de alunos negros na instituição. 
Houve falas e manifestações artísticas. 
O fato de o dia 13 de maio ser marcado como a data da abolição 
também foi lembrado no ato – mas como dia de luta. E também 
as cotas raciais, uma demanda de muito tempo, disse Amanda 
Lima, membro do coletivo (SIMÃO, 2019, on-line). 
 
 
Em relação às cotas raciais nas universidades públicas e aos argumentos utilizados por 
quem defende essas cotas, assinale a alternativa correta. 
 
a) As cotas raciais têm o principal objetivo de aumentar a quantidade de vagas nas 
universidades distantes de grandes centros urbanos. 
b) As cotas raciais são um dos tipos de políticas afirmativas e têm o objetivo de 
propor enfrentamentos às desigualdades sociais, culturais e econômicas existentes 
entre pessoas brancas e negras no Brasil. 
c) Defende-se que as cotas raciais devem ser implementadas apenas em alguns 
cursos superiores, pois não existe demanda, por exemplo, na área de licenciatura. 
d) As faixas e os cartazes construídos por movimentos negros em manifestações a 
favor das cotas raciais em universidades públicas são inconstitucionais. 
e) As cotas raciais são destinadas a pessoas com renda per capita de até 1,5 salários 
mínimos, oriundas de escolas públicas. 
 
 
 
INDICAÇÕES DE LEITURA 
Nome do livro: Quem tem medo do feminismo negro? 
Editora: Companhia das Letras. 
Autor: Djamila Ribeiro. 
ISBN: 8535931139. 
Comentário: Nesse livro, Djamila Ribeiro reúne diversos artigos publicados no blog da 
revista Carta Capital, entre 2014 e 2017. O texto que abre o livro aborda a própria história 
de vida da autora, que expõe ter passado por um processo de “silenciamento” durante a 
infância e a adolescência. Ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, Djamila 
Ribeiro relata que teve contato com autoras negras que a fizeram mudar a forma como 
ela via o mundo e a si própria. 
 
INDICAÇÕES DE FILME 
Nome do filme: Moonlight: sob a luz do luar 
Gênero: Drama. 
Ano: 2017. 
Elenco principal: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes. 
Comentário: O filme mostra três momentos da vida de Chiron, um jovem negro que 
vivencia diversos conflitos no reconhecimento de sua identidade e sexualidade. Durante 
a infância, Chiron cresceu no subúrbio de Miami, nos EUA, vivenciando dificuldades 
com sua mãe, viciada em drogas. Quando se tornou adolescente, sofria bullying de 
diversos colegas na escola, em um momento em que também passa a se entender como 
homossexual. Quando adulto, Chiron tentou adaptar-se ao contexto em que estava 
inserido, enfrentando novas problemáticas. O filme recebeu oito indicações ao Oscar, 
ganhando os prêmios de melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante. 
 
 
 
UNIDADE III 
Gênero, diversidade sexual e promoção de direitos 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
Patrick Aparecido Trento 
 
 
 
Introdução 
Nesta unidade, primeiramente, apresentaremos o conceito de gênero e as diferenças entre ele 
e o conceito de sexo, além das principais ideias de algumas autoras, como Simone de Beauvoir 
e Judith Butler. Em um segundo momento, abordaremos as identidades e as sexualidades. 
Assim, discutiremos o que é identidade de gênero e orientação sexual, bem como os 
preconceitos relacionados às diferentes identidades e sexualidades, como a homofobia e a 
transfobia. 
Posteriormente, apresentaremos algumas discussões acerca das relações de gênero, 
abordando o que é machismo e que é feminismo e esclarecendo algumas dúvidas em relação a 
esses conceitos. Nesse contexto, apresentaremos os movimentos feministas e a importância 
deles na luta pelos direitos das mulheres. 
Por fim, discutiremos as violências contra as mulheres, evidenciando que existem diversas 
formas de violências, por exemplo, físicas, psicológicas, patrimoniais, sexuais e morais. Nesse 
sentido, apresentaremos alguns marcos legais no enfrentamento das violências contra as 
mulheres no Brasil, como a criação das Delegacias da Mulher, a Lei nº 11.340/2006, conhecida 
como Lei Maria da Penha, e a Lei nº 13.104/2015, chamada de Lei do Feminicídio. 
 
Fonte: Varvara Gorbash / 123RF. 
 
 
GÊNERO EM DEBATE 
No Brasil e em outros lugares do mundo, a palavra “gênero” tem ganhado 
destaque nos últimos anos, mas você, caro(a) estudante, sabe o que significa o conceito 
de gênero? Nesta unidade, você aprenderá o que significa gênero e sexo, assim como as 
principais diferenças entre os dois conceitos. Além disso, apresentaremos algumas 
discussões sobre os motivos que fazem esse tema ser considerado polêmico, atualmente, 
no Brasil, por muitas pessoas. 
 
 
Figura 3.1 - Existem diversas dúvidas em relação aos conceitos de gênero e sexo 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
Antes de compreender o que é o conceito de gênero, é necessário entender o que 
é sexo, pois, no campo teórico-acadêmico, esses dois conceitos são frequentemente 
diferenciados. 
 
O que é sexo? 
Sexo é considerado uma categoria biológica de diferenciação de seres vivos. As 
justificativas de diferenciação são de ordem anatômica, por exemplo, as pessoas que 
nascem com pênis e os cromossomos XY são homens, e as que nascem com vagina e os 
cromossomos XX são mulheres. 
 
Esse conceito é utilizado, muitas vezes, como argumento para proposições de 
características inatas aos seres humanos, como “toda mulher gosta de cozinhar”. 
Inicialmente, parte-se da ideia binária de que existem apenas homens (com pênis) e 
mulheres (com vaginas), e que, por terem estruturas anatômica e fisiológica diferentes, 
cada um tem características inatas de comportamento. Ademais, conforme expõem Wolff 
e Saldanha (2015), 
a subordinação das mulheres era atribuída a seu sexo, que, por sua 
vez, era uma diferença considerada natural. Pesquisas científicas 
e especialmente o conhecimento médico indicavam diferenças 
nos corpos, entre homens e mulheres, que explicariam, de alguma 
maneira, porque as mulheres estavam em uma condição de 
subordinação aos homens. Os argumentos mais usados eram, e 
até hoje são (!!!), que as mulheres, por terem menor força física, 
dependeriam do trabalho dos homens para sobreviver,e, além 
disso, como elas teriam seu destino marcado pela maternidade, 
isso também as tornaria dependentes dos homens (WOLFF; 
SALDANHA, 2015, p. 33). 
 
Muitas autoras denominam “binária” a diferenciação dos seres humanos a partir 
da categoria sexo, pois, nesse caso, considera-se a existência de apenas dois sexos: 
homem e mulher. As pessoas consideradas intersexo, como as que nascem com uma 
genitália que não é considerada somente um pênis e/ou uma vagina, ou as que nascem 
com um mosaico genético, em que parte das células é cromossomo XX e outra XY, com 
frequência, vivenciam violências. 
Essas violências referem-se ao fato de que, muitas vezes, ainda crianças, essas 
pessoas são submetidas a cirurgias ou a tratamentos médicos que têm o intuito de 
enquadrá-las como homens ou mulheres. As consequências desses procedimentos podem 
ser irreversíveis, como a falta de sensibilidade em órgãos genitais, cicatrizes e traumas 
emocionais. 
 
 
 
Figura 3.2 - Conceito de sexo tradicionalmente utilizado 
Fonte: Lukáš Kolesár / 123RF. 
 
Portanto, como exposto anteriormente, o conceito de sexo diferencia os seres 
humanos em duas categorias: homens (cromossomos XY) e mulheres (cromossomos 
XX). Essa divisão não contempla todas as pessoas, por exemplo, as consideradas 
intersexo. 
 
FIQUE POR DENTRO 
Antigamente, era comum o uso do termo “hermafrodita” para fazer referência a 
pessoas com variações de caracteres sexuais, como cromossomos, gônadas e/ou órgãos 
genitais. Com o passar do tempo, no campo da Biologia e da Medicina, esse termo foi 
substituído por “intersexo”. 
A intersexualidade ainda é um tabu na sociedade, vista a partir de diversos 
preconceitos, logo, uma pessoa intersexo pode vivenciar diversas violências e 
apagamentos durante sua vida. Quando nasce, a criança é enquadrada na compreensão 
binária de sexo: um menino ou uma menina. Quando uma criança não se enquadra nessa 
divisão tradicional, geralmente, é submetida a cirurgias e a outros tratamentos médicos, 
que podem trazer consequências físicas e psicológicas para o resto de sua vida. 
Para saber mais a respeito desse assunto, leia o texto “Sou intersexual, não 
hermafrodita”, de Barbara Ayuso. Esse texto pode ser lido, integralmente, no link: 
https://br.123rf.com/stock-photo/xx_e_xy.html?&sti=n295olitdge4rgh5m3%7C&mediapopup=22229699
https://br.123rf.com/stock-photo/xx_e_xy.html?&sti=n295olitdge4rgh5m3%7C&mediapopup=22229699
 
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/17/estilo/1474075855_705641.html>. Acesso 
em: 17 jun. 2019. 
 
Diversos estudos questionam essas justificativas que atribuem características 
consideradas “naturais” de homens e mulheres a partir do conceito de sexo. Desse modo, 
o conceito de gênero passou a ser utilizado também no campo das ciências humanas. 
 
O que é gênero? 
Se você procurar a palavra “gênero” no dicionário, caro(a) estudante, encontrará 
diversos significados, porque essa palavra é utilizada por diferentes campos do 
conhecimento, como a literatura (gêneros literários), a Biologia (para se referir a um 
grupo morfológico ou uma categoria taxonômica que reúne espécies com relações 
filogenéticas e que se diferenciam de outras por traços específicos), a música (para se 
referir a diferentes gêneros musicais), etc. (MICHAELIS, 2019). 
Nesta unidade, apresenta-se como esse conceito tem sido compreendido em seu 
sentido social. Esse não é um trabalho simples, pois diversos autores compreendem o 
conceito de gênero de diferentes formas. Desse modo, utilizaremos algumas referências 
principais acerca desse tema, mas é preciso salientar que existem diversos debates e 
visões distintas em relação a ele. 
Uma definição simplista do conceito de gênero, mas que pode ajudar a entendê-
lo, corresponde ao fato de que ele visa compreender questões sociais atribuídas, 
geralmente, ao que a sociedade entende como homem ou mulher, ou seja, é um conceito 
utilizado para fazer referência ao que é construído socialmente e historicamente acerca 
do conceito de sexo. Nesse contexto, Olinto (1998) expõe que 
gênero é um conceito das Ciências Sociais surgido nos anos 70, 
relativo à construção social do sexo. Significa a “distinção entre 
atributos culturais alocados a cada um dos sexos e à dimensão 
biológica dos seres”. O uso do termo gênero expressa todo um 
sistema de relações que inclui sexo, mas que transcende a 
diferença biológica. O termo sexo designa somente a 
caracterização genética e anátomo-fisiológica dos seres humanos 
(OLINTO, 1998, p. 162). 
 
A palavra “gênero” tem sido utilizada nas últimas décadas dentro dos debates 
acadêmicos. Joan Scott, por exemplo, é uma importante historiadora estadunidense que 
se dedicou a compreender esse conceito. O artigo “Gênero: uma categoria útil para análise 
histórica”, escrito por ela, tornou-se uma referência importante sobre o tema em diversos 
países. 
De acordo com Scott (1995), as palavras têm uma história, portanto, para 
compreender os significados atuais da palavra “gênero” no campo social, é importante 
entender como a categoria “gênero” se inseriu nos discursos e nas pesquisas acadêmicas. 
Segundo a autora, essa categoria foi utilizada para defender o caráter fundamentalmente 
social das distinções que são baseadas no sexo, rejeitando o determinismo biológico do 
termo “sexo” e da expressão “diferença sexual”. 
Diversas autoras feministas passaram a utilizar a categoria gênero como uma 
alternativa para sexo, considerado por muitas um conceito determinista. Outro uso do 
conceito de gênero teve o intuito de introduzir uma noção relacional nos estudos 
feministas, defendendo que não é possível compreender homens e mulheres de forma 
isolada (SCOTT, 1995). 
O conceito de gênero, de acordo com Wolff e Saldanha (2015), tem relação com 
a cultura, a história e a formação social. Isso significa que características consideradas 
femininas, masculinas ou neutras dependem da cultura e do período histórico em que 
estão inseridas. Como exemplo, podemos mencionar o uso do kilt pelos escoceses, traje 
que muitos consideram semelhante a uma saia. Na Escócia, essa peça de roupa é utilizada 
por homens em algumas situações formais, como casamentos, formaturas e outras 
comemorações. No Brasil, as roupas semelhantes a uma saia são consideradas femininas. 
 
 
 
Figura 3.3 - Escoceses vestindo o kilt 
Fonte: James F. Perry / Wikimedia Commons. 
 
O conceito de gênero também deve ser compreendido como poder, pois a 
sociedade estabelece algumas hierarquias em relação a gênero e a outras categorias, como 
raça e classe. Conforme expõem Wolff e Saldanha (2015, p. 36), 
gênero é poder, é hierarquia. As sociedades estabelecem lugares 
sociais que são demarcados em termos de gênero, classe, raça, 
geração, religião, entre outros. Mas o gênero tem sido, nas 
sociedades que conhecemos, o primeiro desses critérios, aquele 
que estabelece, desde que a pessoa nasce e é identificada a partir 
de características sexuais com papéis esperados de gênero, que 
atividades ela poderá exercer em sua vida, e quanto poder terá em 
suas relações. Nas sociedades que conhecemos, esta hierarquia é 
do tipo “patriarcal”, ou seja, são as pessoas identificadas com o 
gênero masculino que detêm a maior parte do poder. Isso não quer 
dizer, como ensina Michele Perrot (1988, p. 168), que as mulheres 
não tenham “poderes”. E como nos aponta Michel Foucault 
(1988, p. 91), não há poder sem resistência. 
 
 
Nesse sentido, gênero é também uma construção social, isto é, algo que não é 
natural e predeterminado antes do nascimento de um indivíduo. 
Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma importante filósofa, que apresentou 
debates sobre as relações entre homens e mulheres, sendo considerada, atualmente, um 
dos maiores nomes no campo acadêmico dos estudos de gênero e de movimentos 
feministas. Para Beauvoir (1970), não se nasce mulher, torna-se mulher. Essa famosafrase da filósofa refere-se à ideia de que não existem características inatas em relação ao 
comportamento e aos gostos das mulheres, por exemplo, mas que eles são construídos 
socialmente. 
Essa compreensão da autora se relaciona à corrente filosófica da qual ela fazia 
parte, o existencialismo, o qual considera que a existência tem prioridade sobre a essência 
humana. Em outras palavras, as mulheres não têm uma essência inata, que faz delas 
mulheres, mas, ao longo de suas vidas, elas constroem essa identidade. Nas palavras da 
própria autora: 
ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino 
biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea 
humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização 
que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado 
que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode 
constituir um indivíduo como um Outro (BEAUVOIR, 1970, p. 
9). 
 
Nos dois livros que compõem a obra “O segundo sexo”, Beauvoir (1970) defende 
a tese de que as mulheres ocupam o não lugar na sociedade, isto é, a mulher é sempre 
pensada em relação ao homem. Segundo a autora, o homem é considerado essencial e 
universal, enquanto a mulher é entendida como aquilo que o homem não é, ou seja, a 
mulher é considerada o “outro”, o segundo sexo. Como exemplos, podemos citar a 
utilização do termo “homem” como sinônimo de humanidade ou quando, em uma sala de 
aula com mais mulheres do que homens, os(as) professores(as) dizem “bom dia a todos”. 
 
 
 
Figura 3.4 - Simone de Beauvoir, importante filósofa dos estudos de gênero 
Fonte: Moshe Milner / Wikimedia Commons. 
 
As contribuições de Simone de Beauvoir foram bastante significativas para os 
estudos de gênero e questionaram os lugares ocupados e não ocupados pelas mulheres na 
sociedade. 
Outra filósofa bastante conhecida nesse campo de estudos é a estadunidense 
Judith Butler. A autora difere do pensamento de Simone de Beauvoir em alguns aspectos, 
por exemplo, ao considerar que, de certo modo, as mulheres não nascem com essa 
classificação por terem características inatas do que é considerado ser mulher, mas, 
porque, antes mesmo de nascer, no período da gestação, já existe o questionamento: trata-
se de uma menina ou de um menino? 
Nesse contexto, são criadas diversas expectativas, as quais são lançadas sobre o 
feto que ainda não nasceu. Em outras palavras, antes mesmo de nascer, já somos 
socializados como homens ou mulheres. Por exemplo, no caso de uma mulher grávida, 
que descobre que o neném gestado tem vagina, diversas expectativas de comportamento 
são lançadas sobre esse feto, como as roupas que o bebê deverá vestir, as cores que deverá 
gostar, como deverá se comportar, quais brinquedos poderá ter, etc. 
De acordo com Butler (2003), a diferenciação entre o conceito de sexo e de gênero 
foi realizada, inicialmente, para questionar a afirmação de que biologia era um destino 
 
incontornável. Hoje, segundo a autora, é importante romper perspectivas binárias, ao se 
pensar na categoria de gênero, pois o entendimento de feminino e masculino como 
definições únicas e opostas não é suficiente para compreender e enquadrar todas as 
pessoas, além de apresentar diversas problemáticas. 
 
Discussões sobre gênero 
Nos últimos anos, houve diversos debates em relação ao conceito de gênero. Um 
exemplo corresponde ao Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014, que orienta o 
planejamento educacional dos municípios por dez anos. Esse plano gerou diversas 
polêmicas acerca da necessidade ou não de discussões sobre gênero nas escolas. Outra 
situação bastante polêmica refere-se às manifestações a favor e contra a visita da filósofa 
Judith Butler ao Brasil, em 2017. 
Nos últimos anos, a ideia de ideologia de gênero ganhou destaque no Brasil. Você 
já ouviu essa expressão? Ela ganhou força quando alguns pesquisadores e/ou militantes 
foram acusados de promovê-la ao realizarem discussões sobre gênero e sexualidade. 
De um lado, existem pesquisadores e educadores que defendem a necessidade das 
discussões de gênero e sexualidade para a construção de uma sociedade menos desigual 
e preconceituosa; do outro, muitas vezes, há representantes de instituições religiosas e 
conservadoras, que acusam esses pesquisadores de promover a ideologia de gênero, 
incentivar crianças a práticas sexuais e colaborar com a homossexualidade. 
Grande parte das pessoas que defendem a existência da ideologia de gênero tem 
pouco ou nenhum conhecimento acerca dos conceitos abordados nesta unidade e faz 
críticas e acusações errôneas e sem fundamentos teóricos e científicos. Desse modo, antes 
de defender ou não uma posição, é fundamental ter conhecimento sobre o tema. 
Os pesquisadores que defendem a necessidade de discussões de gênero e 
sexualidade afirmam que as escolas, por exemplo, podem ser locais de construção de 
preconceitos e discriminações, mas também de promoção de emancipações e mudanças 
(AUAD, 2006). Para Louro (1998 apud VINHOLES, 2012), por meio das simbolizações 
das relações pedagógicas construídas na escola, a criança aprende normas, valores e 
sentidos que vão lhe conduzir em relação à diversidade de gênero. Dessa forma, além de 
refletir as concepções de gênero que circulam na sociedade, a escola também as produz, 
logo, as discussões relacionadas a gênero e sexualidade são necessárias no espaço escolar. 
 
Os pesquisadores que consideram necessárias as discussões acerca de gênero e 
sexualidade afirmam que orientações sexuais são diferentes de aulas sobre sexo. Ao 
propor orientações sexuais nas escolas, os educadores têm o objetivo de contribuir para 
que o(a) aluno(a) tenha, futuramente, uma vida sexual saudável, sem riscos de contrair 
doenças sexualmente transmissíveis ou de ter uma gravidez indesejada, por exemplo. 
Ademais, as discussões sobre sexualidade permitem a promoção da igualdade e o 
enfrentamento a preconceitos, como homofobia, lesbofobia e transfobia, além de 
promover a igualdade entre gêneros, como no caso de enfrentamentos às violências contra 
as mulheres. 
 
ATIVIDADE 
1) Simone de Beauvoir, proeminente filósofa francesa do século XX, dedicou-se a 
refletir sobre os lugares das mulheres na sociedade, questionando e dialogando com 
áreas do conhecimento como a Psicanálise e a Biologia. Dentre suas proposições mais 
conhecidas, está contida a frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, presente em 
sua obra “O segundo sexo”. Em relação esse contexto, assinale a alternativa correta. 
 
a) Simone de Beauvoir propõe que as questões constitutivas de gênero se reduzem à 
esfera biológica. 
b) Para Beauvoir, não existem aspectos inatos na constituição dos gêneros, mas 
construídos por meio de elementos histórico-sociais. 
c) A frase faz uma apologia à supremacia das mulheres em relação aos homens. 
d) Tornar-se mulher refere-se ao processo de transição de gênero, denominado 
segundo sexo. 
e) Beauvoir enfatiza a importância da conexão entre mãe e filha durante o parto, para 
que a criança se torne mulher. 
 
 
 
SEXUALIDADES E IDENTIDADES 
Nesta parte da unidade, apresentaremos mais alguns aspectos relacionados às 
sexualidades e identidades. Assim, discutiremos dois conceitos importantes para esse 
tema: orientação sexual e identidade de gênero. Neste momento, caro(a) aluno(a), o 
objetivo é possibilitar que você entenda quais são as diferenças entre identidades e 
sexualidades e compreenda que nós, seres humanos, somos diversos. 
 
Orientação sexual 
Caro(a) estudante, você sabe o que é orientação sexual? Esse conceito pode ser 
definido como o desejo afetivo e/ou sexual que cada pessoa tem em relação a outras 
pessoas. Assim, uma pessoa pode se sentir atraída por alguém do mesmo gênero 
(homossexual), do gênero oposto (heterossexual), pelos dois gêneros (bissexual), bem 
como pode sentir atração independente do sexo ou gênero (pansexualidade), etc. 
É denominadaheteronormatividade a compreensão de que o desejo afetivo pelo 
sexo oposto “é tomado como parâmetro de normalidade em relação à sexualidade, para 
designar como norma e como normal a atração e/ou o comportamento sexual entre 
indivíduos de sexos diferentes” (PETRY; MEYER, 2011, p. 196). Em outras palavras, na 
sociedade em que vivemos, a heterossexualidade é tratada como norma, ou seja, como 
aquilo que é comum ou “normal”. 
Assim, salientamos que a heterossexualidade é um tipo de orientação sexual, mas 
não é a única. Apesar disso, como vivemos em uma sociedade heteronormativa, as 
pessoas que não se enquadram nessa orientação sexual vivenciam diversos preconceitos, 
com frequência. 
 
 
 
Figura 3.5 - Existem diferentes orientações sexuais 
Fonte: rootstocks / 123RF. 
 
Quando o assunto é orientação sexual, devemos considerar que a sexualidade faz 
parte da vida humana e tem grande importância na vida psíquica dos sujeitos. Também é 
preciso considerar as singularidades existentes entre diferentes pessoas em relação à 
sexualidade, visto que há orientações sexuais e formas de se relacionar distintas. Portanto, 
não existe apenas um modo de ser (heterossexual, homossexual ou bissexual, por 
exemplo). 
A palavra “orientação” é utilizada no lugar de “opção” (opção sexual), pois se 
entende que a sexualidade não é uma escolha realizada em algum momento da vida. Se 
fosse uma escolha, os heterossexuais também teriam feito essa escolha em algum 
momento e poderiam, inclusive, escolher novamente, ao se relacionarem com pessoas do 
mesmo sexo, por exemplo. 
 
FIQUE POR DENTRO 
Você já ouviu a expressão “cura gay”? Popularmente, é um nome para as terapias 
que propõem a “reorientação” ou a “reversão” sexual. As consequências psicológicas 
desses “tratamentos” são bastante expressivas, além dos relatos de violências físicas, 
como choques e torturas. 
 
O Conselho Federal de Psicologia do Brasil, na Resolução n° 001/99, de 22 de 
março de 1999, estabelece que a homossexualidade não é uma doença e, desse modo, 
os(as) psicólogos(as) não podem exercer atividades que colaborem com a patologização 
de práticas homoafetivas nem com serviços e eventos que visem aos tratamentos e às 
“curas” para a homossexualidade. 
Para saber mais sobre o tema e ter acesso a relatos de pessoas que vivenciaram 
violências nesse tipo de “tratamento”, leia o texto “O inferno da ‘cura’ gay”, de Marcos 
Sergio Silva. O texto pode ser lido, integralmente, no link: 
<https://www.uol/noticias/especiais/o-inferno-da-cura-gay.htm#se-nao-ha-mal-nao-ha-
cura>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
Identidade de gênero 
Agora, apresentaremos o conceito de identidade de gênero, que costuma ser 
confundido com a orientação sexual, a qual corresponde à sexualidade dos sujeitos. Por 
sua vez, a identidade de gênero se relaciona à forma como as pessoas se identificam. 
Para compreender o que é identidade de gênero, são fundamentais as discussões 
sobre sexo e gênero (e suas diferenças) realizadas anteriormente. Pode parecer um pouco 
confuso, inicialmente, quando abordamos o conceito de identidade de gênero, pois 
vivemos em uma sociedade que considera natural a existência de pessoas cisgêneras, 
contudo as identidades são diversas. 
As pessoas enquadradas em determinado sexo biológico e que se identificam com 
o gênero atribuído a elas são denominadas cisgêneros. Por exemplo, uma pessoa que 
nasce com uma vagina é classificada como mulher e se identifica como mulher, ou seja, 
identifica-se com o gênero atribuído a ela. As pessoas que se identificam com um gênero 
diferente do que foram classificadas no nascimento são denominadas transgêneros. Um 
exemplo é uma pessoa que nasce com uma vagina, é classificada em seu nascimento como 
mulher, mas que não se identifica como mulher. 
Se transgênero remete às pessoas que assumiram na vida adulta 
uma expressão de gênero (binário ou não) diferente ou 
complementar daquela atribuída ao nascer, cisgênero designa 
pessoas que se mantiveram no sexo designado (BONASSI, 2017, 
p. 23). 
 
A expressão não binário é utilizada para se referir às pessoas que não 
compreendem sua identidade limitada às categorias “feminino” ou “masculino”. Algumas 
pessoas podem compreender suas identidades como “entre” o masculino e o feminino e 
outras como totalmente distante das duas categorias. Conforme expõem Reis e Pinho 
(2016), os gêneros não binários, 
[...] além de transgredirem à imposição social dada no 
nascimento, ultrapassam os limites dos polos e se fixam ou fluem 
em diversos pontos da linha que os liga, ou mesmo se distanciam 
da mesma. Ou seja, indivíduos que não serão exclusiva e 
totalmente mulher ou exclusiva e totalmente homem, mas que 
irão permear em diferentes formas de neutralidade, ambiguidade, 
multiplicidade, parcialidade, ageneridade, outrogeneridade, 
fluidez em suas identificações (REIS; PINHO, 2016, p. 14). 
 
A expressão gênero fluido é utilizada para fazer referência às pessoas que podem 
se identificar, em alguns períodos, com diferentes identidades de gênero, masculino, 
feminino ou neutro. Segundo Reis e Pinho (2016), essa definição faz referência à 
identidade de pessoas que têm o espectro de gêneros em constante mudança. 
Por fim, o termo agênero é utilizado como classificação para pessoas que não se 
consideram pertencentes a qualquer gênero. De acordo com Reis e Pinho (2016), agênero 
refere-se aos casos em que os indivíduos vivenciam a ausência de gênero. 
 
Trans, travestis e drag queens 
Quando o assunto é identidades de gênero, surgem diversas dúvidas; uma delas 
corresponde às diferenças entre as pessoas que se consideram transexuais, travestis e drag 
queens. Como exposto anteriormente, uma pessoa que se considera transexual não se 
identifica com o gênero atribuído ao seu sexo biológico. 
No Brasil, o termo “travesti” é bastante utilizado e carrega uma visão, muitas 
vezes, preconceituosa e negativa, pois diversas pessoas trans são chamadas de travestis 
como forma de ofensa. Esse termo, no entanto, também assume um viés político de 
ressignificação e algumas pessoas preferem ser chamadas de travestis. Como a identidade 
 
de gênero diz respeito a como a pessoa se identifica, antes de considerarmos alguém trans 
ou travesti, é importante perguntarmos como ela se reconhece. 
 
 
Figura 3.6 - Bandeira Transgênero 
Fonte: SVG file Dlloyd based on Monica Helms design / Wikimedia Commons. 
 
Uma confusão bastante frequente é achar que as pessoas transexuais são as que 
querem mudar aspectos físicos do corpo ou fizeram cirurgias de redesignação sexual. 
Ademais, o mais adequado, ao se referir a mulheres travestis, é utilizar o pronome 
feminino, e não masculino, ou seja, a travesti, e não o travesti. Para alguns, pode parecer 
apenas um detalhe, mas se trata de respeito à identidade da outra pessoa e à diversidade. 
O conceito de drag queen, por sua vez, corresponde a uma expressão artística e 
não tem relação, necessariamente, com a identidade de gênero dessa pessoa. Isso porque 
um homem cisgênero pode ser drag queen sem se identificar como mulher. Em resumo, 
segundo Jesus (2012), 
a denominação “travesti”, mais frequente no Brasil do que em 
outros país, é historicamente estigmatizada. Tem-se discutido a 
sua utilidade hoje, quando se entende que: (1) Elas não se 
“travestem” no sentido original da terminologia; (2) Muitas 
pessoas tidas como travestis têm identidade transexual; e (3) Há 
 
os termos crossdresser e transformista (drag queen ou drag king) 
para se referir a dimensões específicas da vivência transgênero 
que não decorrem de aspectos identitários (como a travestilidade 
ou a transexualidade) (JESUS, 2012, p. 18). 
 
 As questões de identidade de gênero não impactam apenas elementos da aparência 
ou da sexualidade. Algumas pessoas que se identificam como transgêneras optam por não 
mais adotar o nome contido em seu registrode nascimento, pois entendem que tal nome 
não representa sua identidade de gênero, assim, preferem utilizar um nome social. O nome 
social é o nome pelo qual pessoas travestis e transexuais preferem ser chamadas, no lugar 
do nome registrado em cartório. 
A utilização do Nome Social para se referenciar às pessoas 
travestis e transexuais, respeitando suas autodeterminações sobre 
o modo de tratamento em torno de sua identidade de gênero, se 
refere à garantia de um direito para pessoas que historicamente 
vivem violações, o que pode atuar como um importante elemento 
para o desenvolvimento do acompanhamento socioassistencial 
(BRASIL, 2007, p. 7). 
 
Nem todas as pessoas trans querem ser chamadas por um nome social, mas as que 
desejam devem ser respeitadas, pois se trata de um direito que diversas instituições já 
reconhecem, como algumas universidades e concursos públicos, como o Exame Nacional 
do Ensino Médio (ENEM). 
 
Identidade X sexualidade 
Como exposto anteriormente, a identidade de gênero é diferente da orientação 
sexual. Isso significa que a forma como a pessoa se compreende no mundo não tem, 
necessariamente, relação com as pessoas com as quais ela deseja se relacionar. 
Gênero se refere a formas de se identificar e ser identificada como 
homem ou como mulher. Orientação sexual se refere à atração 
afetivossexual por alguém de algum/ns gênero/s. Uma dimensão 
não depende da outra, não há uma norma de orientação sexual em 
 
função do gênero das pessoas, assim, nem todo homem e mulher 
é “naturalmente” heterossexual. (BRASIL, 2007, p. 41). 
 
Assim, uma pessoa trans, necessariamente, não é heterossexual, homossexual ou 
bissexual. Para entender melhor esse assunto, considere o seguinte exemplo: quando 
nasceu, Paula foi identificada como homem, por ter nascido com um pênis, logo, seu sexo 
biológico foi classificado como homem. Paula, porém, não se identifica como um homem, 
mas como uma mulher, então, é considerada uma pessoa trans, por não se identificar com 
o gênero atribuído ao seu sexo biológico. 
Ademais, Paula sente atração por mulheres, e não por homens, assim, é 
considerada uma mulher trans lésbica, pois é uma mulher que sente atração por outras 
mulheres. Caso Paula sentisse atração por homens, seria uma mulher trans heterossexual. 
Sexualidade e gênero são, portanto, componentes distintos da formação identitária, que 
podem assumir formas múltiplas, como as evidenciadas nesse exemplo. 
Enquanto gênero se relaciona ao modo como pessoas são socialmente 
diferenciadas por aspectos histórico-culturais, tradicionalmente, em homens e mulheres, 
a orientação sexual está relacionada a questões afetivas, do desejo e da excitação sexual 
(CARDOSO, 2008, p. 73). 
 
Preconceitos e violências 
Existem diversos preconceitos relacionados às diferentes identidades e 
sexualidades. Homofobia e lesbofobia são preconceitos contra as pessoas que sentem 
atração e se relacionam com pessoas do mesmo gênero. De acordo com Borillo (2001), 
no cerne desse tratamento discriminatório, a homofobia tem um 
papel importante, dado que é uma forma de inferiorização, 
consequência direta da hierarquização das sexualidades, que 
confere à heterossexualidade um status superior e natural 
(BORILLO, 2001, p. 17). 
 
Existem também preconceitos relacionados às pessoas bissexuais, inclusive, 
dentro de movimentos denominados LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, 
 
queer, intersexo e outras variações de gênero). Muitas vezes, essas pessoas são 
consideradas temporariamente confusas ou pervertidas sexualmente. 
 
REFLITA 
A criminalização da homofobia tem sido discutida pelo Supremo Tribunal Federal 
(STF), no que se refere à criminalização ou não de condutas discriminatórias contra gays, 
lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, etc. O STF poderá exigir que o Congresso 
Nacional avalie a criação de uma lei que torne crime atos de homofobia. Não existe ainda 
uma definição sobre quais ações serão consideradas crimes e as penas aplicadas, pois, 
caso seja aprovado, o texto será discutido por deputados e senadores. 
Existem diversos debates e diversas opiniões divergentes de pessoas que apoiam 
ou não a criminalização da homofobia, tanto por setores conservadores como pela própria 
comunidade LGBTQI+. Para alguns representantes dos movimentos LGBTQI+, a 
criminalização seria um passo importante no reconhecimento de práticas discriminatórias 
como descumprimento dos direitos humanos e, desse modo, seria uma medida contra a 
impunidade relacionada a essas violências. Outros representantes afirmam que a 
criminalização não é a solução, pois práticas punitivas somente não são eficientes para o 
fim da homofobia, além de o sistema penal ser seletivo e injusto. 
 
Estima-se que cerca de 420 pessoas foram mortas no Brasil em 2018, devido à 
discriminação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), de acordo com o 
levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB, 2018). Esse cenário evidencia a 
violação dos direitos humanos, que garante que as pessoas têm o direito de expressar suas 
identidades e sexualidades. 
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) também divulga 
dados acerca das violências contra pessoas trans. Para essa associação, no Brasil, a 
expectativa de vida de transexuais e travestis é de 35 anos, bem inferior se comparada à 
expectativa nacional. 
Historicamente, a população transgênero ou trans é 
estigmatizada, marginalizada e perseguida, devido à crença na sua 
anormalidade, decorrente da crença de que o “natural” é que o 
gênero atribuído ao nascimento seja aquele com o qual as pessoas 
 
se identificam e, portanto, espera-se que elas se comportem de 
acordo com o que se julga ser o “adequado” para esse ou aquele 
gênero [...]. Em nosso país, o espaço reservado a homens e 
mulheres transexuais e a travestis é o da exclusão extrema, sem 
acesso a direitos civis básicos, sequer ao reconhecimento de sua 
identidade. São cidadãs e cidadãos que ainda têm de lutar muito 
para terem garantidos os seus direitos fundamentais, tais como o 
direito à vida, ameaçado cotidianamente. Violências físicas, 
psicológicas e simbólicas são constantes (BRASIL, 2007, p. 11). 
 
O canal de denúncias “Disque 100” do Governo Federal é um importante 
mecanismo para denúncias de casos que ferem direitos humanos, como situações que 
envolvem homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia. O canal funciona 24 horas por dia, 
todos os dias da semana, inclusive em feriados. 
 
ATIVIDADE 
2) A diversidade humana se observa também em suas feições identitárias e sexuais. 
Como exemplo, o termo “transgênero” emergiu como categoria para definir pessoas 
que não se identificam com o gênero que lhes é atribuído socialmente ao nascer. 
Assim, aquele que se reconhece com o gênero que lhe foi designado no nascimento 
é: 
 
a) homossexual. 
b) cisgênero. 
c) heterossexual. 
d) drag queen. 
e) pansexual. 
 
 
 
RELAÇÕES DE GÊNERO 
 Até agora, apresentamos algumas discussões sobre o conceito de gênero. Neste 
momento, abordaremos alguns apontamentos sobre as relações existentes entre esses 
conceitos. 
 
O que é machismo? 
 O machismo refere-se aos comportamentos, às ações e atitudes que visam a não 
igualdade de direitos entre diferentes gêneros, contribuindo para a diminuição das 
mulheres. Há situações machistas cotidianas, por exemplo, quando se considera que os 
serviços domésticos são tarefas apenas das mulheres, quando há julgamentos de 
personalidade feitos com base na roupa que uma mulher está usando, quando alguém diz 
que as mulheres são motoristas ruins, etc. 
 
 
Figura 3.7 - O machismo está presente nas relações cotidianas 
Fonte: nlshop1 / 123RF. 
 
Portanto, podemos ver exemplos de machismos em diversos âmbitos, como nos 
relacionamentos, em filmes, músicas, documentários, livros, etc. Para Drumont (1980), 
determinados comportamentosmachistas podem ser percebidos ainda na infância, pois, 
 
 
desde criança, o menino e a menina entram em determinadas 
relações, que independem de suas vontades, e que formam suas 
consciências: por exemplo, o sentimento de superioridade do 
garoto pelo simples fato de ser um macho e em contraposição ao 
de inferioridade da menina. Um outro exemplo nos é oferecido 
pela própria destinação em termos de trabalho: a menina é 
geralmente conduzida para atividades que não produzem 
dinheiro, enquanto que o garoto é necessariamente orientado para 
uma profissionalização (DRUMONT, 1980, p. 81-82). 
 
Algumas autoras consideram o machismo algo estrutural, ou seja, algo que é 
produzido e reproduzido pelos sujeitos, mas que também estrutura toda a sociedade. 
Desse modo, entende-se que as instituições que compõem a sociedade, como o Estado, a 
família e a religião cristã, por exemplo, estruturam-se a partir de perspectivas machistas. 
 
REFLITA 
Existem limites para o humor? 
Você, provavelmente, já escutou alguma “piada” que aborda como as mulheres 
dirigem mal ou que mulheres loiras são burras. Nesse contexto, existem diversos debates 
acerca dos limites existentes no humor. Algumas pessoas defendem que, por se tratar de 
uma brincadeira, a piada pode abordar situações como as pontuadas anteriormente. 
Ademais, alguns consideram que, hoje, vivemos um período politicamente correto, no 
qual os comediantes não podem mais fazer algumas piadas. 
Outras pessoas defendem que uma piada é engraçada apenas quando todas as 
pessoas envolvidas se divertem e, portanto, quando alguém é ofendido(a), não é uma 
brincadeira. Argumenta-se também que “piadas” machistas e homofóbicas, por exemplo, 
fortalecem estereótipos e preconceitos. 
O que você pensa a respeito desse tema, caro(a) estudante? Você acredita que 
existem limites para o humor? Se sim, quais? 
 
 
 
O que é feminismo? 
O feminismo é um movimento social e político e, de certo modo, uma forma de 
compreender o mundo e as relações, que reivindica a igualdade de direitos entre homens 
e mulheres. 
 
FIQUE POR DENTRO 
Algumas pessoas acreditam que o feminismo é o oposto do machismo, mas essa 
interpretação está incorreta. Na verdade, um termo que poderia ser considerado oposto ao 
machismo é “femismo”, e não feminismo. 
O “femismo” defende a superioridade do gênero feminino em relação ao 
masculino. O feminismo, por sua vez, defende a igualdade entre os diferentes gêneros, 
por meio de diversas pautas, como a igualdade de salário entre homens e mulheres, o fim 
de casos de feminicídio e violências contra as mulheres, os direitos políticos das mulheres 
iguais aos dos homens e a não discriminação das mulheres em espaços públicos e 
privados. 
Nesse contexto, para saber mais sobre as diferenças entre femismo e feminismo, 
leia o texto de Maria Eduarda, denominado “Feminismo x femismo: Qual a diferença?”. 
O texto pode ser lido, integralmente, no link: <https://super.abril.com.br/blog/turma-do-
fundao/feminismo-x-femismo-qual-a-diferenca/>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
De acordo com Alves e Pitanguy (2017), o feminismo propiciou discussões sobre 
desigualdades de poder entre homens e mulheres, tanto no espaço público como no 
privado. Segundo as autoras, o feminismo não defende uma disciplina única, imposta a 
todas as mulheres, ou seja, 
o movimento feminista não se organiza de uma forma 
centralizada [...]. Caracteriza-se pela auto-organização das 
mulheres em suas múltiplas frentes, assim como em grupos 
pequenos, onde se expressam as vivências próprias de cada 
mulher (ALVES; PITANGUY, 2017, p. 8-9). 
 
Os feminismos contemplam diferentes pautas, as quais, muitas vezes, têm relação 
com as especificidades da vida das mulheres que os organizam. Desse modo, podemos 
 
pensar na existência de diversos movimentos feministas, e não apenas de um, considerado 
universal, pois, como exposto anteriormente, as mulheres são sujeitas diversas. 
Alguns movimentos feministas, quando pressupõem a ideia de mulheres como 
sujeitas universais, deixam de considerar pautas específicas. Um exemplo é que muitos 
movimentos feministas deixam de considerar pautas relacionadas às mulheres negras e 
trans, ou seja, mesmo buscando a igualdade entre homens e mulheres, produzem e 
reproduzem outras opressões, como o racismo e a transfobia. 
A história do movimento feminista, geralmente, é dividida em gerações ou ondas, 
que ocorreram em épocas historicamente distintas e, desse modo, têm demandas políticas 
e sociais diferentes. A primeira onda feminista refere-se ao movimento sufragista, que 
lutou pela garantia de direitos como o voto (NEGRÃO, 2002 apud NARVAZ; KOLLER, 
2006). 
De acordo com Alves e Pitanguy (1985), a primeira onda tinha duas principais 
frentes: a luta por melhores condições de trabalho e a luta pelos direitos de cidadania. As 
mulheres reivindicaram o direito a melhores salários, à redução das jornadas de trabalho 
e ao voto. Para as autoras, essa luta abrangeu mulheres de diferentes classes e, apesar de 
ter acontecido de diferentes formas, em diversos países, foi um dos movimentos políticos 
de massa mais significativos do século XX, mas que, dificilmente, aparece nos livros de 
História. 
 
 
 
Figura 3.8 - Annie Kenney e Christabel Pankhurst: ativistas que defendiam o direito ao 
voto para as mulheres 
Fonte: Kaldari / Wikimedia Commons. 
 
A segunda onda ocorreu entre as décadas de 1950 e 1990, principalmente nos 
Estados Unidos e na França, com denúncias de opressões masculinas, a luta relacionada 
aos direitos reprodutivos e os debates sobre a sexualidade. Conforme expõem Alves e 
Pitanguy (1985), a segunda onda feminista reivindicou a igualdade em todos os níveis, 
tanto externo como doméstico, tendo como temas centrais a saúde, a sexualidade, as 
ideologias, o mercado de trabalho e as violências. 
Enfim, a terceira onda, com início na década de 1990, deu visibilidade para as 
singularidades e subjetividades das mulheres. Segundo Narvaz e Koller (2006), essa onda 
contesta as definições essencialistas de feminilidade e defende que as mulheres são 
plurais e têm diferentes vivências. A terceira onda também é estruturada como uma crítica 
a movimentos anteriores que excluíam algumas mulheres dos discursos e das 
reivindicações. O pós-estruturalismo é característico da terceira onda, enfatizado também 
pelo olhar para as micropolíticas. 
 
 
 
Figura 3.9 - A terceira onda feminista discute as singularidades e subjetividades de 
diferentes mulheres 
Fonte: venimo / 123RF. 
 
É significativo, caro(a) estudante, que você entenda as diferentes gerações dos 
movimentos feministas, mas, para algumas pesquisadoras, a divisão e a linearidade 
precisam ser vistas com cautela e criticidade. Isso porque diversos movimentos de 
mulheres, em diferentes países do mundo, realizaram resistências e enfrentamentos que, 
muitas vezes, são apagados quando se conta uma única história. 
Para Hemmings (2009), as histórias dominantes podem dividir o passado, visando 
à construção de uma narrativa de progresso, à perda e à homogeneização. Assim, a divisão 
tradicional das ondas feministas, segundo a autora, pode ocasionar generalizações e 
estereótipos para as diferentes décadas de reivindicações e lutas. 
 
 
 
ATIVIDADE 
3) Os movimentos feministas, assim como outros movimentos sociais, são considerados 
diversos, pois podem defender pautas distintas. Ao longo da história, as mulheres lutaram 
por diferentes reivindicações. Esses movimentos, para algumas autoras, são divididos em 
três principais ondas ou gerações. Nesse contexto, assinale a alternativa correta em 
relação à primeira onda feminista. 
 
a) A primeira onda feminista é marcada pelo pensamento de Simone de Beauvoir de 
que não existem concepções inatas para o que é ser mulher. 
b) Uma das principais demandas da primeira onda feminista estava relacionadaao 
direito das mulheres ao voto. 
c) A primeira onda feminista aconteceu em países asiáticos, pois as mulheres 
ocidentais, na época, já haviam consolidado diversos direitos. 
d) O rompimento entre concepções binárias dos conceitos de sexo e gênero foi 
amplamente debatido durante a primeira onda feminista. 
e) Os homens foram os principais responsáveis por defender os direitos das mulheres 
durante a primeira onda feminista. 
 
VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES 
Hoje, a violência contra as mulheres está presente em muitos contextos sociais, 
nos âmbitos privado, residencial ou público, atingindo, de forma geral, todos os grupos 
de mulheres, contudo, com maior força, segmentos mais empobrecidos e negros. Assim, 
a seguir, discutiremos diferentes tipos de violências que atingem as mulheres. 
 
O que são violências contra as mulheres? 
A violência doméstica e familiar contra as mulheres, segundo a ONU Mulheres 
(2015), é uma forma de violação aos direitos humanos. Para Gomes et al. (2007), diversos 
estudos feministas contribuíram para dar visibilidade à violência doméstica e, como 
consequência, ocorreram mais exigências de respostas políticas. De acordo com Araújo 
(2008), a violência de gênero é produzida e reproduzida nas relações de poder em que se 
entrelaçam diferentes categorias, como gênero, classe e raça/etnia. 
 
Quando são estudadas as violências contra as mulheres, é preciso considerar a 
compreensão plural dos conceitos de violência e de mulher. Não existe apenas uma forma 
de violência contra as mulheres, as quais, por sua vez, não formam uma categoria 
universal. Assim, as diferenças entre as mulheres precisam ser consideradas. 
As violências contra as mulheres podem acontecer em diferentes campos, como 
no trabalho, em situações domésticas ou públicas. As violências domésticas e familiares 
vivenciadas por mulheres no Brasil são alarmantes. De acordo com a pesquisa 
denominada “Violência doméstica e familiar contra a mulher”, 49% das mulheres em 
situação de violência tiveram como agressor o próprio marido ou companheiro e 21% 
disseram que foram agredidas pelo ex-namorado, ex-marido ou ex-companheiro 
(BRASIL, 2015). 
Uma em cada cinco mulheres, segundo a pesquisa, contou que não procurou uma 
forma de auxílio. Os motivos que impediram as mulheres de realizarem denúncias são: 
preocupação com a criação dos filhos (24%); medo de vingança do agressor (21%); 
crença de que seria a última vez (16%); crença na impunidade do agressor (10%); 
vergonha da agressão (7%) (BRASIL, 2015). 
A Lei nº 11.340/2006, que abordaremos mais especificamente ainda nesta 
unidade, define cinco tipos de violências contra as mulheres: patrimonial, sexual, 
psicológica, moral e física. O Quadro 3.1 apresenta alguns exemplos de violências contra 
as mulheres. 
 
Tipo de violência Exemplos 
Patrimonial Destruição total ou parcial de bens e objetos, 
documentos pessoais e instrumentos de trabalho. 
Sexual Relações sexuais sem consentimento, mesmo com uma 
companheira, ou o ato de impedir que a mulher use 
métodos contraceptivos. 
 
Psicológica Comportamentos e falas que afetem a autoestima ou 
causem outros danos emocionais, como chamar a 
mulher de “feia” ou dizer que ela não conseguirá se 
relacionar com outras pessoas. 
Moral Condutas relacionadas à calúnia, injúria ou difamação, 
como fazer comentários acerca da mulher para vizinhos 
e conhecidos ou afirmar que uma mulher praticou um 
crime que não cometeu. 
Física Ações que afetem a saúde e a integridade corporal, 
como tapas, socos, chutes e empurrões. 
Quadro 3.1 - Exemplos de violências contra mulheres 
Fonte: Elaborado pelos autores. 
 
Outro ponto importante que deve ser considerado em relação às violências contra 
as mulheres é a compreensão de que elas têm diversas identidades, por exemplo, 
diferenças étnicas, sexuais e de classes sociais. Todas as mulheres estão sujeitas a 
vivenciar violências, contudo outros marcadores sociais referentes a suas identidades 
precisam ser observados, ou seja, se as mulheres são negras, brancas, indígenas, ricas, 
pobres, lésbicas, heterossexuais, etc. 
 
 
 
Figura 3.10 - As mulheres são sujeitas diversas 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
De acordo com o Atlas da Violência, em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas 
no Brasil (IPEA, 2018). A mortalidade de mulheres brancas diminuiu 7,4% entre 2005 e 
2015, contudo a de mulheres negras aumentou em 22% nesse mesmo período. Esses 
dados mostram a importância de considerar questões raciais no que se refere às violências 
contra as mulheres. 
De acordo com Cerqueira et al. (2018), no estado de São Paulo, houve uma 
diminuição de 35,4% dos casos de violências contra mulheres entre 2004 e 2015, mas, no 
estado do Maranhão, houve um aumento de 130,0%. Esses dados mostram que a posição 
geográfica também é um marcador importante, quando se discutem as violências contra 
mulheres. 
 
FIQUE POR DENTRO 
O conceito de interseccionalidade é utilizado por Kimberlé Crenshaw (2002) para 
falar sobre opressões vivenciadas por mulheres negras. De acordo com a autora, as 
mulheres negras não têm suas pautas contempladas com frequência nos movimentos 
feministas, muitas vezes, racistas, e no próprio movimento negro, que se mostra, muitas 
vezes, machista. 
 
Segundo Crenshaw (2002), não devemos compreender as opressões de forma 
isolada ou como somas, ou seja, não podemos visualizar os eixos de opressão de modo 
separado. Nesse contexto, a autora utiliza a metáfora da intersecção de linhas de trânsito, 
para expor que as pessoas podem ser consideradas pontos em que diversas opressões se 
cruzam, desse modo, as posições são estabelecidas nesse cruzamento. Diferentes 
opressões, como racismo, sexismo e classe, atuam juntas e ao mesmo tempo. 
Para saber mais sobre esse conceito, leia o texto “A intersecionalidade na 
discriminação de raça e gênero” de Kimberlé Crenshaw. Você pode ler o texto, na íntegra, 
no link: <http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-
Crenshaw.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
Portanto, diferentes tipos de violências contra as mulheres acontecem com 
frequência, de forma simultânea (violências físicas são acompanhadas de violências 
psicológicas, por exemplo) e são diversas. 
 
Enfrentamentos às violências contra as mulheres no Brasil 
Você, provavelmente, já ouviu a frase “em briga de marido e mulher ninguém 
mete a colher”, que expressa a ideia de que a violência contra as mulheres é um assunto 
apenas do âmbito privado. Na verdade, essa violência também é uma responsabilidade do 
Estado e de todos(as). A partir da década de 1980, principalmente, no Brasil, foram 
criadas diversas políticas que visavam ao enfrentamento das violências contra as 
mulheres. 
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra 
a Mulher, denominada “Convenção de Belém do Pará”, que ocorreu em 1994, foi um 
marco importante. Ela promoveu o reconhecimento das violências contra as mulheres 
como violações aos direitos humanos, além de estabelecer deveres aos estados signatários 
no enfrentamento às violências contra as mulheres. 
Conforme expõe Santos (2008), há três principais momentos de mudanças 
institucionais que demonstram as políticas públicas relacionadas ao enfrentamento às 
violências contra as mulheres no Brasil: a criação da primeira Delegacia da Mulher, em 
1985, os Juizados Especiais Criminais, de 1995, e a Lei nº 11.340/2006, conhecida como 
Lei Maria da Penha. 
 
A primeira Delegacia da Mulher, chamada na época de Delegacia de Defesa da 
Mulher (DDM), foi criada na década de 1980. De acordo com Santos (2005 apud 
SANTOS, 2008, p. 157), 
em agosto de 1985, o governador Montoro criou a “Primeira 
Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher” do Brasil e da 
América Latina (Decreto 23.769/1985). O processo de criação 
desta delegacia, conhecida em São Paulo pelo acrônimoDDM, 
recebeu intensa cobertura dos meios de comunicação social e 
trouxe grande visibilidade ao problema da violência e ao trabalho 
desenvolvido pelas organizações não-governamentais feministas. 
 
Em 1986, foi criada a primeira casa-abrigo, também na cidade de São Paulo. Essas 
casas são instituições que acolhem mulheres em situações de violências e sob risco de 
morte. Atualmente, existem diversas casas-abrigos no território nacional, contudo há a 
necessidade de outras políticas de abrigamento, uma vez que o Relatório nº 1, de 2013, 
da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), demonstrou que essas instituições, 
mesmo importantes, são pouco procuradas. 
Essa baixa procura se deve, provavelmente, ao caráter sigiloso da instituição, que 
impossibilita saídas e contatos com pessoas próximas sem autorização prévia. Assim, 
muitas mulheres decidem não ir para as essas casas, o que sinaliza a necessidade de 
implementação de outras políticas de abrigamento para mulheres, como as casas de 
passagem, que acolhem mulheres que não estão sob risco de morte, e o aluguel social. 
 
Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): enfrentamento legal às violências 
domésticas e familiares 
A Lei nº 11.340, sancionada em 2006, é um dos marcos mais importantes acerca 
do enfrentamento às violências contra as mulheres no Brasil. Essa lei é referência para 
outros países do mundo, por considerar, além de aspectos punitivos e criminais, os de 
promoção e de igualdade de gêneros. 
Ademais, essa lei é uma homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, mulher 
que sofreu duas tentativas de assassinato pelo seu ex-companheiro e ficou paraplégica. 
Seu agressor continuou em liberdade durante 19 anos. 
 
 
Figura 3.11 - Maria da Penha Maia Fernandes, símbolo de luta pelos direitos das mulheres 
no Brasil 
Fonte: Cesar Itiberê / Wikimedia Commons. 
 
A Lei Maria da Penha ampara mulheres que vivenciaram violências no âmbito 
familiar e doméstico. A pessoa que sofreu a violência deve ser uma mulher, mas o 
agressor pode ser qualquer pessoa, não necessariamente homens. Nesse sentido, são 
consideradas violências familiares e domésticas as que ocorrem entre mulheres e 
seus(suas) parceiros(as) amorosos(as) e entre mulheres e demais pessoas com algum 
parentesco ou familiaridade. Por exemplo, violências entre nora e sogra podem ser 
enquadradas nessa lei. 
O reconhecimento de diferentes tipos de violências pela Lei Maria da Penha 
merece destaque, pois, de acordo com Machado (2013), antes, não existia, em nenhum 
nível legal brasileiro, o conceito de violência psicológica com a mesma complexidade. 
Além disso, com a Lei Maria da Penha, ocorreram algumas modificações no 
campo criminal, como o agravante para os crimes que envolvem violência doméstica e 
familiar contra a mulher, como consta no artigo 43 dessa lei. Assim, há a possibilidade 
de decretação de prisão preventiva em caso de descumprimento das medidas protetivas 
de urgência. 
 
Desse modo, essa lei é um marco no enfrentamento às violências contra as 
mulheres brasileiras, mas ainda existem diversas questões que precisam ser debatidas, 
como a dificuldade dos operadores do Direito de compreender as violências além do 
campo jurídico. Outro ponto é a falta de integração entre as instituições que compõem a 
rede de enfrentamento, como os Centros de Referência de Atendimento à Mulher, as 
Casas-abrigos, as Casas de Acolhimento Provisório, os Juizados Especiais de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher e a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180). 
 
Lei nº 13.104/2015 (Lei do Feminicídio) 
O feminicídio é a morte de mulheres em decorrência do fato de a pessoa ser uma 
mulher, ou seja, há relação com misoginia e discriminação de gênero. Em 2015, foi 
sancionada a Lei nº 13.104, com o intuito de alterar o Código Penal (artigo 121 do 
Decreto-lei nº 2.848/40) e incluir, desse modo, o feminicídio como uma modalidade de 
homicídio qualificado. 
Dessa forma, os projetos de lei (da CPMI e seus dois 
substitutivos) e a lei aprovada objetivaram dar um nome jurídico 
– feminicídio – a uma conduta que expressa a morte violenta com 
características ou contextos especiais, que, em geral, não são 
observadas em mortes masculinas. Assim sendo, nominar 
juridicamente o feminicídio como a morte por razões de gênero 
foi uma demanda feminista de reconhecimento da especificidade 
dessas mortes. Portanto, o nomen juris através da tipificação 
penal reflete o reconhecimento político-jurídico de uma violência 
específica que é também uma violação dos direitos humanos das 
mulheres (CAMPOS, 2015, p. 110). 
 
De acordo com o Mapa da Violência de 2015, entre os anos de 1980 e 2013, 
106.093 pessoas morreram pela condição de serem mulheres no Brasil. Sendo assim, a 
caracterização dos homicídios contra as mulheres como feminicídio foi também um passo 
importante no reconhecimento e no enfrentamento às violências e mortes de mulheres no 
país. 
 
 
ATIVIDADE 
4) A Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, é um marco de 
enfrentamento às violências domésticas e familiares contra as mulheres no Brasil. Nesse 
contexto, considere as assertivas expostas a seguir. 
 
I. A violência patrimonial diz respeito a qualquer tipo de calúnia ou difamação 
contra as mulheres. 
II. Por ser uma Lei que considera as desigualdades de gênero entre homens e 
mulheres, a violência doméstica e familiar, segundo essa lei, ocorre apenas 
quando os agressores são homens. 
III. Impedir que a mulher utilize métodos contraceptivos é um tipo de violência 
sexual. 
 
De acordo com a Lei nº 11.340/2006, está correto o que se afirma em: 
 
a) I e III, apenas. 
b) III, apenas. 
c) I e II, apenas. 
d) I, apenas. 
e) I, II e III. 
 
 
 
INDICAÇÕES DE LEITURA 
Nome do livro: Feminismo e política: uma introdução 
Editora: Boitempo. 
Autor: Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel. 
ISBN: 9788575593967. 
Comentário: Nesse livro, Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel apresentam sínteses e 
reflexões sobre a teoria política feminista, produzida desde a década de 1980 até os dias 
atuais. Diversos temas presentes hoje nas discussões feministas são abordados pelos 
autores, por meio de diferentes correntes teóricas. Utilizando uma escrita simples, os 
autores permitem que o leitor que não tem muita proximidade com os temas consiga 
compreender as discussões apresentadas. 
 
INDICAÇÕES DE FILME 
Nome do filme: Frida 
Gênero: Biografia, Drama. 
Ano: 2002. 
Elenco principal: Salma Hayek, Alfred Molina, Geoffrey Rush. 
Comentário: O filme retrata a vida de Frida Kahlo, importante artística mexicana do 
século XX. Sua trajetória foi marcada por diversos acontecimentos, como um acidente, 
quando ela era adolescente, que a fez ter problemas de saúde durante toda sua vida. O 
filme também aborda o relacionamento de Kahlo com um importante artista mexicano, 
Diego Rivera; uma relação intensa e marcada por conflitos. Além disso, o filme retrata 
como Frida Kahlo questionou diversos aspectos de uma sociedade machista e misógina, 
com suas obras e sua forma de ser no mundo. 
 
 
 
UNIDADE IV 
Cultura e Cidadania 
Karen Eduarda Alves Venâncio 
Patrick Aparecido Trento 
 
 
 
Introdução 
Nesta unidade, abordaremos aspectos que se relacionam com a cultura e a cidadania. 
Vivemos em uma sociedade plural e o respeito à diversidade é um aspecto importante para a 
vida coletiva. Inicialmente, conheceremos o papel do Estado na formulação e na implementação 
de políticas públicas e na garantia de direitos. Veremos, também, que essa não é uma tarefa que 
cabe apenas ao Estado mas também a toda sociedade e aos indivíduos que dela fazem parte. 
Posteriormente, estudaremos o que são políticas universais. Conheceremos dois principais 
marcos no campo dos direitos humanos. O primeiro marco é a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, elaborada em 1948, que contou com a contribuiçãode diversos países e foi 
divulgada pela ONU. O segundo é a Constituição Federal Brasileira de 1988. 
Veremos, também, o que são as chamadas políticas públicas específicas e inclusivas, que 
visam propor ações para grupos da sociedade que foram historicamente excluídos de setores 
políticos, sociais e econômicos. 
Por fim, estudaremos o conceito de acessibilidade. Conheceremos a definição de deficiência, 
segundo a legislação brasileira, e os diferentes tipos de deficiências. Veremos que existem leis 
no Brasil que visam garantir a inclusão e o acesso das pessoas com algum tipo de deficiência, 
contudo essa população ainda vivencia diversos preconceitos. Estudaremos, ainda, a 
acessibilidade de pessoas consideradas idosas, visto que, nas últimas décadas, a expectativa de 
vida dos brasileiros aumentou significativamente. 
 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
O PAPEL DO ESTADO, DA SOCIEDADE E DOS INDIVÍDUOS NA 
PROMOÇÃO DE DIREITOS E DE CIDADANIA 
Nesse primeiro momento da unidade, estudaremos os papéis do Estado, da sociedade e 
dos indivíduos na promoção de direitos e de cidadania. 
 
O papel do Estado na promoção e na garantia de direitos 
Quando pensamos no termo política, por vezes, tendemos a associá-la somente a 
uma ideia eleitoral ou partidária, mas ela está presente nas relações humanas cotidianas, 
ou seja, é o exercício da vida em coletividade. A origem da construção do Estado está na 
necessidade que algumas sociedades tiveram de organizar as demandas de diferentes 
pessoas que dela fazem parte, isto é, organizar o mundo da política. 
O Estado Moderno é construído pelo contrato firmado de uma sociedade, ou seja, 
o conjunto dos indivíduos de um determinado grupo se relacionando em seu interior, que 
pertence a um território e investe poder a determinadas pessoas para serem seus 
representantes, ou seja, para exercerem o poder. Assim, podemos entender o conceito de 
Estado como um poder com legitimidade e soberania para governar uma sociedade em 
um determinado território. 
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um importante pensador sobre a organização das 
sociedades. Uma de suas obras mais conhecidas é o livro Leviatã, cujo título faz 
referência ao monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo. 
O estado de natureza, de acordo com Hobbes, correspondia às situações de vida 
humana sem política. Nele, segundo o pensador, não existiriam limites e os sujeitos 
poderiam fazer o que quisessem, acontecendo guerras e conflitos. 
 
 
 
Figura 4.1 - Thomas Hobbes 
Fonte: Dcoetzee / Wikimedia Commons. 
 
Com o intuito de se afastarem do estado de natureza, as sociedades concordam em 
realizar o que Hobbes chama de contrato social, isto é, investir de poder um soberano, 
que deveria ser o mediador das relações. 
A concepção atual de Estado moderno baseou-se no pensamento de Hobbes, como 
também de Maquiavel (1469-1527), filósofo italiano que escreveu o livro O Príncipe, e 
de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que acreditava, diferente de Hobbes, que os 
sujeitos eram naturalmente bons, contudo a vida em sociedade poderia conduzi-los à 
depravação. Entende-se que, para que exista um Estado, é necessária uma unidade de 
comando, em que ele é o soberano, um território (local onde ele exercerá o poder) e um 
conjunto de pessoas comprometidas e que respeita as legislações impostas, por exemplo, 
as constituições. 
 
Muitas vezes, confundimos Estado com governo, contudo, são conceitos 
divergentes. O governo é constituído por pessoas que ocupam, por um determinado 
período, algumas posições dentro do Estado, como presidentes, governadores e reis. No 
Brasil, vivemos, atualmente, um período de democracia, em que os governantes são 
substituídos, contudo o Estado permanece. 
De acordo com Mattos (2001, apud ALVES, 2010) o Estado abrange um conjunto 
de instituições permanentes, por exemplo, os tribunais, o exército e a casa legislativa. Já 
governo diz respeito a um conjunto de programas que um grupo propõe para uma 
sociedade, ou seja, é o exercício das funções do Estado por parte de alguns sujeitos. 
Visto que o Estado deve representar todos de uma sociedade, é dever dele garantir 
direitos essenciais e garantir a cidadania. O conceito de cidadania possui relação com a 
formação do Estado Moderno, que ocorreu após a dissolução do sistema feudal, por volta 
do século XVI. 
Com a construção do Estado Moderno, os direitos dos sujeitos pertencentes a uma 
sociedade passaram a ter maior destaque. Posteriormente, foram formuladas as primeiras 
cartas e normativas que visavam discutir direitos e cidadania universais, como a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, no ano de 1789, considerada um 
marco da Revolução Francesa, processo social e político que trouxe diversas mudanças 
na Europa e colaborou com a conquista de poder da burguesia. Vale lembrar que, nessa 
época, os direitos abrangiam somente os homens, pois as mulheres não eram consideradas 
cidadãs. 
Após a Revolução Francesa, diferentes sociedades também realizaram discussões 
e formularam documentos com o intuito de definir e de garantir direitos. Um dos marcos 
mundiais com relação aos direitos humanos, foi a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, de 1948, que estudaremos mais detalhadamente ainda nesta unidade. 
 
Papel da sociedade civil e dos indivíduos na promoção e na garantia de direitos 
 Vimos, anteriormente, que na sociedade em que vivemos temos governantes, que 
fazem parte do Estado, e são responsáveis por nos representar, garantir direitos e 
promover a cidadania. E nós, tanto como sociedade quanto como indivíduos, qual é o 
nosso papel na promoção e na garantia de direitos e cidadania? 
 
 Muitas pessoas entendem que cabe ao Estado a promoção e a garantia de direitos, 
mas deixam de considerar que fazem parte de uma sociedade e, desse modo, também são 
responsáveis por mudanças ou pela manutenção de garantias ou não de direitos. 
 Entende-se, em nossa sociedade, que todos os cidadãos possuem direitos e 
deveres. São direitos de todo cidadão, por exemplo, direitos civis, como o direito à vida 
e à liberdade de expressão, direitos sociais, como educação, saúde, alimentação, trabalho 
e moradia, direitos políticos, com a garantia de voto direito e secreto e a ser candidato 
em eleições. Contudo, nós, enquanto cidadãos, também possuímos deveres, como 
cumprir as leis do nosso país, proteger o patrimônio público, proteger o meio ambiente, 
participar da formulação de políticas públicas e respeitar os direitos de outros cidadãos. 
 Algumas legislações brasileiras enfatizam e reafirmam os deveres da sociedade e 
dos indivíduos que a compõem com relação à garantia de direitos humanos. Um exemplo 
é a Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), que define, em seu Art. 
4°, que é dever de todos a garantia de diversos direitos: 
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação 
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, 
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, 
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária 
(BRASIL, 1990, on-line). 
 
 Isso significa que, ao vermos crianças vivenciando situações de violências e/ou 
negligências, temos a obrigação de realizar denúncias aos órgãos competentes, uma vez 
que também somos responsáveis pela garantia de seus direitos. 
 
 
Figura 4.2 - A sociedade e os indivíduos que dela fazem parte têm o dever de garantir, de 
acordo com a Lei 8.096/90, os direitos de crianças e de adolescentes 
Fonte: rawpixel / 123RF. 
 
Outra Lei brasileira que reafirma o compromisso da sociedade civil é a 11.340/06, 
conhecida como Lei Maria da Penha, a qual define que é dever de todos garantir a 
segurança das mulheres e não permitir que elas vivenciem situações de violênciasdomésticas e familiares (BRASIL, 2006). 
 
 
 
ATIVIDADE 
1) O Estado tem o papel de garantir direitos, através de políticas públicas e legislações 
específicas. A concepção de Estado Moderno foi construída a partir da visão de 
diversos autores, sendo um deles Thomas Hobbes. De acordo com o filósofo, é 
possível afirmar que: 
 
a) as pessoas são naturalmente boas, contudo o Estado as corrompe. 
b) Alternativa correta: o estado de natureza simbolizava a vida humana repleta de 
conflitos e caos, sem a existência do Estado. 
c) o Estado é soberano e, por isso, não representa a sociedade em que governa. 
d) o contrato social realizado entre pessoas pertencentes a uma sociedade é, de 
acordo com Hobbes, o principal motivo dos conflitos entre os sujeitos. 
e) os fins justificam os meios, ou seja, um governante deve fazer o necessário para 
manter-se no poder. 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS UNIVERSAIS 
Antes de iniciarmos nossos estudos sobre políticas públicas universais, 
aprenderemos o que são políticas públicas. Podemos entender políticas públicas como 
um conjunto de ações tomadas pelo governo, seja em nível federal, estadual ou 
municipal, que visam assegurar direitos relacionados à cidadania para um conjunto 
de pessoas. Elas podem ser universais, isto é, garantir o direito a todos, ou específicas, 
por buscarem atingir uma categoria: 
Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e atividades 
desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a 
participação de entes públicos ou privados, que visam assegurar 
determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para 
determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico. 
As políticas públicas correspondem a direitos assegurados 
constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento 
por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto 
 
novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens 
materiais ou imateriais (SANTOS, 2015, p. 55). 
 
 O processo de construção de políticas públicas é extenso e contínuo, pois 
para elas serem construídas é necessário que existam justificativas e, com o passar do 
tempo, precisam ser avaliadas e, se necessário, reformuladas. 
 Veremos, agora, algumas políticas públicas que visam garantir direitos 
universais, utilizando como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 
1948 e a Constituição Federal Brasileira de 1988. 
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada em conjunto com 
representantes de diversos países do mundo. Sua data de proclamação foi 10 de 
dezembro de 1948, dia em que ocorreu a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 
Paris. Trata-se de um conjunto de normas e de direitos que devem ser comuns em 
diferentes nações. Foi considerada um marco dessa área, pois foi a primeira vez que 
o mundo elaborou, em conjunto, um documento que visava a proteção universal dos 
direitos humanos. Já foi traduzida em mais de 500 idiomas e utilizada como base para 
a formulação de constituições de diversos países. 
 
 
 
Figura 4.3: Eleanor Roosevelt mostrando cartaz com a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, 1949 
Fonte: Civvi~commonswiki / Wikimedia Commons. 
 
 De acordo com Hogemann (on-line), os direitos humanos possuem relação 
com os conceitos de justiça, de igualdade e de democracia. A autora destaca que esses 
direitos deveriam ser obrigação de todas as nações que fizeram parte de sua 
construção, independente dos sistemas políticos e econômicos, mas destaca que, na 
prática, diversos direitos ainda são desrespeitados. 
 Ao longo da história da humanidade, foram lançados alguns documentos 
que buscaram discutir direitos humanos, mas nunca antes contemplando diversos 
países. São exemplos de outros documentos que preanunciam os direitos humanos, a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada em 1789, e a 
Declaração de direitos do homem, de Virgínia, em 1776. 
 O processo de construção da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
(ONU, 1948) tem relação com acontecimentos vivenciados pelo mundo, na época, 
como a Segunda Guerra Mundial, que durou entre 1939 e 1945. Durante esse 
momento, o mundo viu acontecer diversos conflitos e violências. Os ataques às 
 
cidades Hiroshima e Nagazaki, no Japão, mataram diversas pessoas e deixaram 
muitas outras com consequências físicas e psicológicas. 
 
Figura 4.4: Prisioneiros do campo de concentração de Mauthausen, libertos em 5 de 
maio de 1945 
Fonte: Arnold E. Samuelson / Wikimedia Commons. 
 
Outro exemplo de violências e mortes, foram os campos de concentração nazistas, 
que aprisionaram e mataram diversas pessoas, principalmente judeus. 
 
FIQUE POR DENTRO 
A pesquisadora Daniela Arbex utiliza da expressão “holocausto brasileiro” para 
fazer referência à morte de pessoas, que ocorreu no maior hospício brasileiro, 
localizado na cidade de Barbacena, no Estado de Minas Gerais. 
De acordo com a autora, as pessoas que ficavam na instituição eram torturadas, 
violentadas e mortas. Muitas pessoas eram colocadas dentro de hospícios sem 
qualquer diagnóstico psicológico e psiquiátrico, por exemplo, alcoólatras, 
homossexuais, prostitutas, mulheres que engravidam de patrões ou de homens 
 
casados e moças que haviam perdido a virgindade e, conforme a família, causavam 
vergonha. 
Mais de 50 mil pessoas morreram no Hospício de Barbacena, o que, para Danela 
Arbex, é classificado como holocausto. 
 Para saber mais sobre as violências que aconteciam no Hospício de 
Barbacena, acesse o link, disponível em: 
<https://www.huffpostbrasil.com/2016/11/09/o-holocausto-brasileiro-e-os-estragos-
irreparaveis-do-silencio_a_21700120/>, acesso em: 17 jun. 2019. 
 
 Após os eventos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, como a 
revelação dos campos de concentração nazistas e as bombas atômicas lançadas sobre 
o Japão, o mundo encontrava-se, de certo modo, assustado. Diante das catástrofes 
trazidas pela guerra, a urgência por discussões com relação aos direitos humanos 
tornava-se cada vez maior. Nesse contexto que a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos foi elaborada. 
 A Declaração de 1948 defende que todas as pessoas, independente de raça, 
cor, religião, sexo, opinião política, origem nacional ou social, ou qualquer outra 
condição, possuem os direitos estabelecidos nela. São estabelecidos diversos direitos, 
como a defesa de que todos os seres humanos, ao nascerem, são livres, possuem 
direitos iguais e, por serem dotados de razão e consciência, têm o dever de agir uns 
com os outros através do espírito da fraternidade (ONU, 1948). 
Define-se, na Declaração dos Direitos Humanos de 1948, de modo geral, que 
todos os seres humanos possuem direito à vida, à liberdade e à segurança. Desse 
modo, resguardado os princípios fundamentais, ninguém poderá ser mantido em 
regime de escravidão ou pode ser submetido à tortura (ONU, 1948). 
No texto ainda se afirma que todos são iguais perante à lei e devem ser protegidos 
de qualquer discriminação, que deve ser garantido o direito à liberdade de 
pensamento, de consciência e de religião, definindo, também, que todos têm direito a 
condições dignas de trabalho e direito à lazer, à liberdade de locomoção e à residência, 
podendo deixar seu país e, também, regressar, dentre outros direitos (ONU, 1948). 
 
 
REFLITA 
Um dos direitos estabelecidos pela Declaração dos Direitos Universais (ONU, 
1948) é de que todos seres humanos possuem direito à liberdade de locomoção e à 
residência dentro das fronteiras de cada Estado, mas que, também, tem direito de 
deixar seu país e de regressar. 
Nos últimos anos, países da Europa receberam diversos imigrantes, o que foi 
considerado por muitos pesquisadores como “crise dos refugiados”. Entende-se como 
refugiado um imigrante que saiu deseu país de origem, devido a temores ou a 
perseguições, relacionados à raça, à religião, à nacionalidade, ao grupo social ou à 
visão política. 
Grande parte dos refugiados que entrou no continente europeu é da Síria, pois o 
país tem vivenciado uma guerra civil bastante violenta nos últimos anos. A 
Organização das Nações Unidas pontua que atualmente estamos vivenciando uma 
grande crise humanitária, pois trata-se do maior fluxo de refugiados desde a Segunda 
Guerra Mundial. Parte da população e dos governantes de países da Europa é contra 
a entrada dos imigrantes sírios no país, pois teme que o mercado de trabalho seja 
abalado e ocorra aumento, também, dos gastos públicos para abranger essa população. 
Como você compreende a entrada de refugiados no continente europeu? 
 
Constituição Federal de 1988 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é considerada a Lei 
suprema do país, ou seja, a normativa legal que deve reger todas as demais leis. 
É chamada, também, de Constituição Cidadã, por ter sido construída durante o 
processo de redemocratização do Brasil, após o período do Governo Militar, que 
durou entre 1964 e 1985. Vale lembrar que durante esse período, ocorreram diversas 
ações autoritárias, portanto uma redemocratização do Brasil necessitava, também, de 
discussões com relação à liberdade de expressão: 
O marco inicial do processo de incorporação de tratados internacionais 
de direitos humanos pelo Direito Brasileiro foi a ratificação, em 1989, 
da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes. A partir desta ratificação, inúmeros 
outros importantes instrumentos internacionais de proteção dos 
 
direitos humanos foram também incorporados pelo Direito Brasileiro, 
sob a égide da Constituição Federal de 1988 (PIOVESAN, 2008b, p. 
95). 
 
O principal objetivo da Constituição de 1988 foi de trazer garantias 
constitucionais no campo dos direitos fundamentais (BRASIL, 1988). Alguns direitos 
garantidos assemelham-se aos elencados pela Declaração dos Direitos Humanos de 1948, 
por exemplo, todos serem iguais perante à lei, direito à liberdade de pensamento e crença 
e que ninguém pode ser submetido à tortura ou a tratamentos desumanos e degradantes 
(ONU, 1948; BRASIL, 1988). 
Piovesan (2008b, p. 95) complementa que 
a partir da Carta de 1988 foram ratificados pelo Brasil: a) a 
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 
de julho de 1989; b) a Convenção sobre os Direitos da Criança, 
em 24 de setembro de 1990; c) o Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; d) o Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 
24 de janeiro de 1992; e) a Convenção Americana de Direitos 
Humanos, em 25 de setembro de 1992; f) a Convenção 
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995. 
 
Outros aspectos que podem ser observados como garantias previstas na 
Constituição Federal são, por exemplo, o direito à saúde, à educação, à alimentação, ao 
trabalho, ao transporte, ao lazer, à previdência social, à proteção à maternidade e à 
moradia, que vêm, ao longo da existência da Carta de 1988, sendo complementados de 
acordo com as necessidades sociais que o contexto social brasileiro demanda (BRASIL, 
1988). 
 
 
 
ATIVIDADE 
2) A Declaração dos Direitos Humanos foi promulgada pela Organização das Nações 
Unidas (ONU) no ano de 1948 e, atualmente, já foi traduzida para mais de 500 
línguas. A esse respeito, observe as afirmativas a seguir. 
 
I- A Declaração dos Direitos Humanos foi elaborada no período da Revolução 
Francesa, desse modo, tem como princípios a igualdade, a fraternidade e a liberdade. 
II- Todo ser humano, segundo a declaração, tem direito ao trabalho e ao salário. 
III- De acordo com o documento, todas as pessoas pertencentes a uma sociedade têm 
direito à política, mas não podem fazer parte no governo de seu país, diretamente. 
 
Estão corretas as afirmativas: 
 
a) I e II, apenas. 
b) II, apenas. 
c) II e III, apenas. 
d) I, apenas. 
e) I, II e III 
 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS ESPECÍFICAS E INCLUSIVAS 
Estudamos, anteriormente, a respeito das políticas universais, que visam garantir 
direitos a todos. Veremos, a partir de agora, acerca das chamadas políticas públicas 
inclusivas. 
Os direitos universais, como os propostos pela Declaração dos Direitos Humanos 
de 1948 e, no Brasil, pela Constituição Federal de 1988, buscam garantir diversas 
prerrogativas a toda população, como aqueles relacionados à vida, à saúde, à educação, à 
liberdade de expressão, ao trabalho, à moradia etc. Se já existem essas garantias para 
todos, porque há necessidade de criar políticas públicas específicas para alguns grupos 
sociais? 
Os argumentos que sustentam as políticas públicas específicas e inclusivas são de 
que a garantia de direitos universais é importante, contudo não é suficiente para fazer com 
que grupos historicamente excluídos de setores políticos, sociais e econômicos da 
sociedade, consigam realmente ter acesso a direitos. 
As diferenças entre grupos sociais, no Brasil, sinalizam a necessidade de políticas 
públicas específicas. Geralmente, as justificativas para a criação de políticas públicas 
específicas são construídas por meio de dados estatísticos e de pesquisas acadêmicas de 
diversas áreas. Em nosso país ainda existem, por exemplo, diversas desigualdades entre 
diferentes grupos sociais. 
No território nacional, em 2017, os dados divulgados pela Pesquisa Nacional por 
Amostra de Domicílios (IBGE, 2017), apontaram que a minoria da população (cerca de 
10%) tinha 43,3% dos rendimentos do país. O chamado índice Gini é responsável por 
medir a desigualdade de renda em uma escala de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo 
de 1, maior a desigualdade. O Brasil, no ano de 2019, ficou com 0,6257, sendo 
considerado um país com acentuada desigualdade social. 
 
 
 
Figura 4.5 - A desigualdade social, no Brasil, é bastante acentuada: a menor parte da 
população concentra a maior parte da renda 
Fonte: Sira Anamwong / 123RF. 
 
Visando garantir que pessoas em situação de pobreza e de pobreza extrema 
consigam recursos para sua subsistência mínima, foram criados, pelo Governo Federal, 
alguns programas sociais, como o Programa Bolsa Família, instituído no ano de 2004, 
que visa a transferência de renda do Governo Federal, com o intuito de garantir direitos 
básicos, como alimentação. As famílias que recebem o benefício devem manter crianças 
e adolescentes, entre seis e 17 anos, frequentando a escola. 
Outro exemplo de políticas públicas específicas são as cotas para pessoas 
indígenas em concursos e vestibulares. A Lei 12.711/12, chamada de Lei de Cotas 
(BRASIL, 2012), foi criada com o intuito de estabelecer normativas com relação à reserva 
de vagas para alguns grupos sociais. 
Conforme já estudamos, há políticas públicas que visam a integração de pessoas 
negras na educação e no mercado de trabalho, como as cotas reservadas para essas 
populações. Contudo, outros grupos marginalizados, como os indígenas, ainda carecem 
de maior proteção legal. Desse modo, defende-se a necessidade de garantia de vagas 
específicas para as populações indígenas. 
De acordo com o Art. 3°, da Lei 12.711/12, 
 
Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que 
trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por 
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com 
deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de 
vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, 
indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da 
Federação onde está instalada a instituição, segundo o último 
censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
– IBGE (BRASIL, 2012, on-line). 
 
 
REFLITA 
Qual é o termocorreto para se referir às populações que já ocupavam o continente 
americano antes da chegada dos europeus: índios ou indígenas? O termo índio advém de 
um equívoco histórico, pois, ao aportarem inicialmente na América em seus primeiros 
contatos, os europeus não se deram conta de que haviam chegado a um continente até 
então desconhecido para eles e pensaram ter alcançado alguma região do Extremo 
Oriente, chamada pelos europeus, genericamente, de Índias Orientais. Por conta desse 
erro, os povos que, em um primeiro momento, estabeleceram contato com as expedições 
europeias foram batizadas por eles de índios, já que perante a percepção errônea europeia, 
seriam eles habitantes das Índias. 
O conceito de indígenas seria um termo mais adequado para se referir às 
populações americanas pré-colombianas, pois carrega um sentido semelhante à ideia de 
nativo. No entanto, tal terminologia não é isenta de problemas, porque generaliza em uma 
mesma categoria uma diversidade enorme de culturas e de populações distintas, tendo por 
referência a chegada do europeu na América. O elemento identitário que une essas 
populações é o fato de serem anteriores ao homem europeu no continente americano, 
apagando as particularidades de uma riqueza cultural extremamente diversa, em uma 
categoria genérica. 
 
 
As políticas públicas para populações específicas visam a inclusão desse grupo 
nas sociedades. Entende-se que todos deveriam ter as mesmas garantias, contudo, isso 
ainda não acontece nos dias atuais porque, historicamente, alguns grupos, por exemplo, 
pessoas com algum tipo de deficiência, negros e indígenas, tiveram, durante muito tempo, 
diversos direitos – que hoje são considerados fundamentais –, negados. 
Não há consenso sobre a melhor definição a respeito de políticas públicas, 
portanto, não há uma definição única sobre esse conceito. As explicações vão desde um 
campo de reflexão para a análise de grandes questões públicas, até a soma das atividades 
de um governo. Conforme Souza (2006, p. 24), “a definição mais conhecida continua 
sendo a de Laswell, ou seja, decisões e análises sobre política pública implicam responder 
às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz”. 
De modo geral, podemos entender políticas públicas, também, como ações 
governamentais que causam efeitos específicos no cotidiano da população, em áreas de 
interesse, como a saúde, a segurança ou a educação. 
Essas políticas públicas específicas visam, portanto, propor enfrentamentos dessas 
desigualdades e fundamentam-se no princípio da equidade. Enquanto a igualdade entende 
que todos possuem os mesmos direitos, a equidade propõe que é preciso considerar, ainda, 
as especificidades na busca pela igualdade. A equidade é um dos princípios básicos do 
Sistema Único de Saúde (SUS), no qual se entende, por exemplo, que os atendimentos 
em um hospital devem seguir uma classificação de risco, isto é, o atendimento é definido 
considerando ordem de chegada, mas, também, urgência e gravidade dos casos. 
 
REFLITA 
Medidas de adoção de políticas públicas, no Brasil, não são necessariamente 
novidade, e algumas dessas políticas puderam ser observadas ainda na década de 
1930, com a instauração do Estado Novo, de Getúlio Vargas, e sua perspectiva 
nacional desenvolvimentista (FARAH, 2016). 
É notável, já nesse período, um esforço de construção institucional, a 
universalização e a profissionalização de serviços públicos (FARAH, 2016). São 
desse período, por exemplo, a criação de institutos de aposentadorias e pensões, 
 
precursores do atual INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e a adoção da 
obrigatoriedade do ensino primário em todo o território nacional. 
O vínculo dos direitos civis e sociais se firmava, diretamente, no lugar ocupado 
no mundo do trabalho. A categoria dos “Trabalhadores do Brasil”, termo usado por 
Getúlio Vargas para se referir às classes urbanas de carteira assinada, adquiriu 
garantias reservadas por políticas públicas de assistência social e de valorização do 
salário no mesmo ritmo em que a complexidade e a modernização da economia e da 
administração nacional se intensificavam com a CLT (Consolidação das Leis 
Trabalhistas) de 1943. 
 
ATIVIDADE 
3) As políticas públicas específicas para determinadas parcelas da população visam 
promover a inclusão e a igualdade de grupos que historicamente foram excluídos dos 
setores políticos, sociais e econômicos da sociedade. O Programa Bolsa Família é um 
exemplo de benefício específico para uma parcela da população brasileira. A esse 
respeito, assinale a alternativa correta. 
 
a) O benefício foi criado na década de 1980, período em que o Brasil vivenciava um 
processo de redemocratização após o governo militar. 
b) Um dos principais objetivos do programa é combater a fome e promover a 
segurança alimentar e nutricional. 
c) Considerando as especificidades das diferentes regiões brasileiras, o benefício é 
exclusivo para pessoas que moram nas regiões nordeste e norte. 
d) Somente possui direito ao benefício pessoas que possuem filhos(as) de até 10 anos 
de idade e que estejam regularmente matriculadas em escolas. 
e) O Programa contempla pessoas que tenham renda per capita de até 2 salários 
mínimos por pessoa. 
 
 
ACESSIBILIDADE, DIFERENÇAS E DEFICIÊNCIAS 
O termo acessibilidade significa possibilitar o alcance e o uso de espaços, de 
equipamentos urbanos, de informação e de comunicação a pessoas que possuem 
mobilidade reduzida ou algum tipo de deficiência. 
 
Diferenças e deficiências 
O processo de luta pelos direitos das pessoas com deficiência e a substituição da 
representação do deficiente como uma pessoa anormal, considerando as maneiras como 
a estrutura social segrega corpos que têm outras formas de estar no mundo, intensificou-
se durante a década de 1970, com a criação da UPIAS (Union of the Physically Impaired 
Against Segregation), no Reino Unido, sendo a primeira instituição gestada e comandada 
por deficientes físicos (DINIZ, 2007). 
No Brasil, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência ocorreu 
somente no ano de 2009, após importantes lutas e mobilizações nacionais e internacionais 
com relação aos direitos das pessoas com deficiências. O tratado construído com a 
convenção foi incorporado à legislação com marco constitucional (Decreto 6.949/09) 
(BRASIL, 2009) e trouxe modificações com relação à compreensão da deficiência, 
superando a compreensão de impedimento com sinônimo de deficiência. Entende-se que 
o conceito de deficiência é uma construção social e, desse modo, também está em 
constante modificação. 
A deficiência é compreendida, conforme consta no Decreto 3.298/99, a partir de 
cinco principais tipos: 
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais 
segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da 
função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, 
paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, 
triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, 
amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo 
[...]; 
II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de 
quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas 
freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; [...] 
 
III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual 
ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; 
a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no 
melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a 
somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for 
igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer 
das condições anteriores; [...] 
IV - deficiência mental - funcionamento intelectual 
significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 
dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de 
habilidadesadaptativas, tais como: 
a) comunicação; 
b) cuidado pessoal; 
c) habilidades sociais; 
d) utilização da comunidade; 
d) utilização dos recursos da comunidade; [...] 
e) saúde e segurança; 
f) habilidades acadêmicas; 
g) lazer; e 
h) trabalho; 
V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências 
(BRASIL, 1999, on-line). 
 
Quando dizemos que uma pessoa possui algum tipo de deficiência, é importante 
nos atentarmos ao fato de que existem diferentes classificações que comprometem 
diferentes regiões corporais e psíquicas. Além disso, é importante nos atentarmos ao 
conceito de normalidade, pois as pessoas são enquadradas como deficientes a partir de 
um “modelo” de ser humano considerado normal. 
Para Maior (on-line), desde a origem da raça humana, as pessoas se diferem entre 
si, contudo, com a supervalorização das capacidades físicas, sensoriais e cognitivas, 
pessoas que possuem algum tipo de limitação com relação a essas capacidades vivenciam 
diversos preconceitos e exclusões. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art70
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art70
 
Existem várias medidas a serem adotadas para o combate ao preconceito e à exclusão, 
como algumas ações pontuais que, ainda que partam da boa vontade de quem as propõe, 
não integram a totalidade dos direitos das pessoas com deficiência. Pensar sobre a 
convivência entre pessoas enquadradas com algum tipo de deficiência, por não 
corresponder a uma “norma” social, física e cognitiva, apesar de atitude louvável, se posta 
sob caráter imediatista e assistencialista, não possibilitam, de fato, a acessibilidade, e 
continuam mantendo pessoas com deficiências à margem da sociedade. 
Pensemos em uma escola na qual as salas de aula ocupam um prédio de três andares. As 
turmas de ensino médio estudam, geralmente, no andar mais alto, porém, com a matrícula 
de um aluno cadeirante, a sua turma teve de ser deslocada para o térreo. Ainda que o 
problema tenha sido amenizado, pontualmente, a estrutura predial da escola continua não 
contemplando o direito à acessibilidade. 
 
 
Figura 4.6 - As calçadas e as ruas, caso não sigam normas de acessibilidade, podem ser 
limitações de locomoção para pessoas que utilizam cadeiras de rodas 
Fonte: Dmitriy Shironosov / 123RF. 
 
No início do século XX, conforme Maior (on-line), a deficiência era encarada como uma 
dificuldade a ser superada, compreendida através do olhar biomédico: 
No modelo biomédico, considera-se a deficiência como 
consequência de uma doença ou acidente, que deve ser objeto de 
tratamento para a habilitação ou a reabilitação do máximo de 
 
capacidades, aproximando-se da cura. Este paradigma tem como 
foco as limitações funcionais que se encontram na pessoa, 
desconsiderando as condições do contexto social. O modelo 
biomédico corresponde à integração da pessoa com deficiência à 
sociedade, situação na qual os esforços de participação são 
desenvolvidos pela pessoa e sua família, sem que haja mudanças 
da sociedade (MAIOR, on-line, p. 1). 
 
Posteriormente, a deficiência passou a ser vista sob o viés social, sendo relacionada ao 
conceito de inclusão. Principalmente a partir da década de 1970, o conceito de deficiência 
passou a ser entendido como um conceito político, em especial, na Europa e nos Estados 
Unidos, como a marca social da desvantagem que acomete pessoas com diferentes tipos 
de lesões e não mais enquanto pessoas com problemas e anormalidades (DINIZ, 2007). 
 A partir desse conceito, busca-se propiciar condições de interação entre os indivíduos 
com algum tipo de limitação e toda a sociedade. Entende-se que as pessoas com 
deficiência são sujeitos de direito, autônomos e independentes, já que 
O modelo social visa à transformação das condições sociais, 
mediante políticas públicas inclusivas. Segundo Sassaki, no 
modelo social da deficiência cabe à sociedade eliminar todas as 
barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as pessoas 
possam ter acesso aos serviços, lugares, informações e bens 
necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional 
e profissional (SASSAKI, 2003, apud MAIOR, on-line, p. 2). 
 
 Atualmente, sob o modelo social aplicam-se, também, as concepções sobre 
direitos humanos para garantir os direitos das pessoas com algum tipo de deficiência, com 
relação a diversos campos, por exemplo, transporte, lazer, alimentação, liberdade e 
autonomia. 
 
 
 
FIQUE POR DENTRO 
 As mulheres surdas enfrentam dificuldades para denunciar situações de 
violências, pois, muitas vezes, as instituições que compõem a rede de enfrentamento às 
violências contra as mulheres, como Centros de Referência e Delegacias da Mulher, não 
possuem intérpretes de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). 
A Libras, no ano de 2002, foi considerada língua oficial no Brasil. Além do 
reconhecimento, a garantia de acessibilidade a pessoas surdas deve vir acompanhada da 
necessidade de existência de intérpretes ou de profissionais que compreendam a Libras 
em diferentes instituições de atendimento ao público. 
Para saber mais sobre dificuldades enfrentadas por mulheres surdas ao buscarem 
relatar violências, leia a reportagem, disponível em: 
<https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-
denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-
23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar
&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-
Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fw>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
Educação inclusiva x educação especial 
Como vimos com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição 
de 1988, a educação é um direito de todos. A partir de agora, estudaremos, brevemente, 
as principais diferenças entre a proposta da educação inclusiva e da educação especial. 
 A educação inclusiva defende que todos os alunos devem fazer parte da escola 
comum e pauta-se nos princípios da cidadania e da valorização das diferenças. O ensino-
aprendizagem é entendido como um processo social, em que todos fazem parte, ou seja, 
em que os alunos identificados com algum tipo de deficiência devem, também, estar 
presentes. A educação é vista como um campo capaz de promover a autonomia e a 
independência na escola e fora dela. 
A educação especial é uma modalidade de ensino que busca a promoção do 
desenvolvimento das potencialidades de pessoas portadoras de necessidades especiais, 
considerando diferentes níveis e graus do sistema de ensino. Busca possibilitar 
modalidades de ensino específicas para pessoas com deficiência ou com altas habilidades. 
https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fw
https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fw
https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fw
https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fw
https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mulheres-surdas-nao-conseguem-denunciar-violencia-domestica-por-falta-de-interpretes-23597017?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0iv50Zw9dEF95CUw431U2-Dl7SRGyYFTPjjD7uBn3wuTGf2WhrgXvu1fwA capacitação de profissionais para a atuação na educação especial tem sido tema 
constante na formação pedagógica em cursos de licenciatura. O desenvolvimento de 
competências para a adaptação de práticas de ensino e de conteúdos programáticos às 
demandas de cada aluno, de forma continuada, abre um horizonte de possibilidades 
maiores de inserção social para estudantes com necessidades especiais. 
 
As legislações que embasam a acessibilidade 
 Outro ponto relevante na garantia de direitos básicos para populações com 
necessidades especiais é a possibilidade de acesso nos mais diversos lugares da sociedade. 
No Brasil, a acessibilidade é um direito que deve ser garantido por meio de legislações e 
de políticas públicas. A Constituição Federal Brasileira de 1988, já aborda que todos 
possuem diversos direitos, contudo não trata somente de assuntos relacionados à inclusão 
de pessoas com algum tipo de deficiência. 
 No ano 2000, foi promulgada a Lei 10.098/00 (BRASIL, 2000), a primeira a trazer 
especificamente o tema da acessibilidade. Ela estabelece normas gerais e critérios básicos 
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com 
mobilidade reduzida. 
 O Decreto 5.296/04 (BRASIL, 2004) reforçou o que estava exposto na Lei 
10.098/00 (BRASIL, 2000), abordando o atendimento prioritário a pessoas com algum 
tipo de deficiência e a necessidade de projetos arquitetônicos e urbanísticos acessíveis. 
 Existe, também, no Brasil, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, chamado, ainda, 
de Lei Brasileira de Inclusão, que entrou em vigor no ano de 2016. A Lei utilizou como 
embasamento a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos 
das Pessoas com deficiência, que ocorreu nos Estados Unidos, em 2006. 
 A acessibilidade é necessária em diferentes campos, por exemplo, com relação à 
educação. O Ministério da Educação, com a Portaria nº 20 (BRASIL, 2017), exige a 
existência de ambientes físicos e digitais acessíveis nas universidades. Adaptando os 
espaços e os acessos nos ambientes físicos de escolas e de universidades, por exemplo, o 
exercício da cidadania, por meio da educação de grupos socialmente excluídos, torna-se 
efetivo, como no caso de pessoas com limitações advindas de lesões. 
 
 
 
População Idosa 
 Anteriormente, abordamos a acessibilidade em relação a pessoas com algum tipo 
de deficiência. Discutiremos, agora, algumas questões sobre o tema que envolve as 
pessoas idosas. 
 O Brasil tem vivenciado aumentos significativos na expectativa de vida nas 
últimas décadas. Atualmente, a expectativa de vida, no Brasil, é de 72 anos e cinco meses 
para os homens, e de 79 anos e quatro meses para as mulheres, conforme o Instituto de 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Os dados sinalizam que, entre 1940 e 
2016, houve um aumento de 30,3 anos na expectativa de vida dos brasileiros. 
 Com a população mais velha, os debates sobre acessibilidade com relação a 
pessoas idosas têm aumentado, mas ainda diversos direitos não são garantidos. 
 
 
Figura 4.7 - População idosa 
Fonte: Mark Bowden / 123RF. 
 
 O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/03, define que as pessoas consideradas idosas 
devem ter, no mínimo, 60 anos, e estabelece diversos direitos que devem ser garantidos 
a elas. Ainda, segundo a legislação, é dever da família, da comunidade, da sociedade e do 
poder público assegurar diversos direitos às pessoas idosas, como à alimentação, à vida, 
https://br.123rf.com/stock-photo/idoso_negro.html?oriSearch=idoso&sti=nqlx2pe8ujb9fbjzzu%7C&mediapopup=31054808
https://br.123rf.com/stock-photo/idoso_negro.html?oriSearch=idoso&sti=nqlx2pe8ujb9fbjzzu%7C&mediapopup=31054808
 
à saúde, à moradia, ao lazer, à liberdade, ao trabalho e à convivência familiar e 
comunitária (BRASIL, 2003). 
 Assim como pessoas com algum tipo de necessidade especial, os idosos possuem 
prioridade de atendimento, por exemplo, em bancos ou em filas de supermercado, de 
acordo com a Lei 10.048/00 (BRASIL, 2000). 
 No Art. 38, do Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/03 (BRASIL, 2003), garante-se 
que, em programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso 
goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria e devem ser eliminadas 
barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade. 
 
ATIVIDADE 
4- A Lei Brasileira, promulgada no ano 2000, é um marco na promoção da 
acessibilidade, pois estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da 
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. 
 
A Lei que o texto anterior faz referência é: 
 
a) Lei 8.069, também conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente. 
b) Lei 10.098, conhecida como Lei da Acessibilidade. 
c) Lei 11.340, chamada, popularmente, de Lei Maria da Penha. 
d) Lei 10.741, conhecida como Estatuto do Idoso. 
e) Lei 13.146, chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
 
 
INDICAÇÕES DE LEITURA 
Nome do livro: Introdução ao Estudo das Políticas Públicas: uma visão interdisciplinar e 
contextualizada 
Editora: FGV Editora 
Autor: Alvaro Chrispino 
ISBN: 8522517800 
Comentário: O livro de Alvaro Chrispino busca trazer considerações sobre o que são 
políticas públicas, a partir de perspectivas de acontecimentos recentes. A sociedade 
contemporânea, muitas vezes, não participa do processo de construção de políticas 
públicas, desse modo, o livro busca demonstrar como diferentes aspectos se articulam no 
processo de formulação, de execução e de avaliação de políticas públicas. Por abordar 
olhares interdisciplinares, o livro mostra-se significativo para profissionais de diferentes 
áreas que, de forma direta ou indireta, lidam com aspectos relacionados às políticas 
públicos nos seus campos de trabalho. 
 
INDICAÇÕES DE FILME 
Nome do filme: Hoje eu quero voltar sozinho 
Gênero: Drama e Romance 
Ano: 2014 
Elenco principal: Ghilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim 
Comentário: A história gira em torno de Leo, um adolescente cego, interpretado por 
Guilherme Lobo, e Gabriel, pelo ator Fabio Audi. Após a entrada de Gabriel no colégio, 
a vida de Leo passa por diversas mudanças e, assim, o longa mostra as relações de Leo a 
respeito da sua sexualidade e da identidade. Diversos sentimentos são abordados no filme, 
como as relações amorosas entre dois meninos, na adolescência, os ciúmes de amigos e 
alguns dilemas enfrentados no cotidiano escolar. 
 
 
CONCLUSÃO DO LIVRO 
Em nossa primeira unidade, estudamos a formação da identidade nacional brasileira, 
e vimos que o que entendemos hoje como ser brasileiro é, também, uma construção que 
envolve projetos de diferentes épocas da história do Brasil. Além disso, conhecemos o 
conceito de multiculturalismo, importante para compreendermos e refletirmos as relações 
entre diferentes culturas em um mundo cada vez mais globalizado. 
Na segunda unidade, discutimos acerca de aspectos da formação da sociedade 
brasileira, a partir da perspectiva das relações raciais entre diferentes povos, tendo como 
embasamento teórico dois importantes pensadores brasileiros, Gilberto Freyre e Florestan 
Fernandes. Vimos que as relações raciais no Brasil são desiguais e que, com o intuito de 
diminuí-las, são propostas políticas afirmativas, como as cotas raciais. 
Na terceira unidade, estudamos identidades, sexualidades e desigualdades de gênero. 
Vimos que a homofobia, a transfobia e o machismo estão presentes na sociedade 
brasileira, e diversas pessoas vivenciam violências em decorrência de preconceitos. 
Conhecemos diferentes tipos de violências contra as mulheres e verificamos políticas 
públicas que buscam enfrentá-las. 
Em nossa última unidade, vimos que o Estado tem papel essencial na promoção e na 
garantia de direitos, mas nós, como sociedade eindivíduos, também somos responsáveis. 
Conhecemos o que são políticas universais, por exemplo, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948 e, também, as políticas públicas para grupos sociais 
específicos, como a Lei 8.096/90, que corresponde ao Estatuto da Criança e do 
adolescente. Além do mais, estudamos o que é acessibilidade e a importância de sua 
promoção para a garantia de igualdade de direitos. 
Como vimos, o livro que estudamos trouxe diversas discussões sobre diversidade, 
cultura e cidadania. Tratam-se de temas pertinentes para suas formações profissionais, 
pois toda atuação, independente da área do conhecimento, envolve, de forma direta ou 
indireta, aspectos éticos. Esperamos que os conteúdos abordados tenham proporcionado 
novos conhecimentos e reflexões que contribuam para sua formação profissional e 
pessoal. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALVES, B. M.; PITANGUY, J. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
 
ALVES, F. O papel do Estado na garantia do direito à educação de qualidade: 
organização e regulação da educação nacional. Japaratuba: Conferência CONAE, 2010. 
ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais. Mapa dos assassinatos de 
travestis e transexuais no Brasil em 2017. Disponível em: 
<https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-
2017-antra.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2019. 
 
ARAÚJO, M. de F. Gênero e violência contra a mulher: o perigoso jogo de poder e 
dominação. Psicologia para América Latina, nº 14, México, 2008. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-
350X2008000300012>. Acesso em: 16 jun. 2019. 
 
AUAD, D. Educar meninas e meninos: relações de gênero na escola. São Paulo: 
Contexto, 2006. 
 
AYUSO, B. Sou intersexual, não hermafrodita. El país, 18 set. 2016. Disponível em: 
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/17/estilo/1474075855_705641.html>. Acesso 
em: 17 jun. 2019. 
 
BELINAZO, D. P.; JACOMELLI, J. Diversidade e hibridismo culturais: bases do 
desenvolvimento regional. Revista da FAE, v. 9, n. 2, 2006. 
 
BERND, Z. Função dessacralizadora da literatura. Literatura e identidade nacional. 
Porto Alegre: Editora UFRGS, 1992. 
 
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão europeia do livro, 
1970. 
 
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2008000300012
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2008000300012
 
______. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo: Difusão europeia do livro, 
1970. 
 
BONASSI, B. C. et al. Cisnorma: acordos societários sobre o sexo binário e cisgênero. 
2017. 123 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Santa 
Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em 
Psicologia, Florianópolis, 2017. 
 
BORRILLO, D. Homofobia. Barcelona: Bellaterra, 2001. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da 
União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 6 jun. 
2019. 
 
_____. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 
de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa 
Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. 
Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
_____. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>. 
Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
______. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em 
Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. 
Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
 
______. Garantia da utilização do nome social para as pessoas travestis e 
transexuais. Brasília: Ministério do desenvolvimento social e agrário, 2007. 
 
______. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
______. Lei nº 9.100, de 29 de setembro de 1995. Estabelece normas para a realização 
das eleições municipais de 3 de outubro de 1996, e dá outras providências. Diário Oficial 
da União. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9100.htm>. 
Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
______. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. 
Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
______. Lei n° 10.048, de 8 de novembro de 2000. Dá prioridade de atendimento às 
pessoas que especifica, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
______. Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios 
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com 
mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm>. Acesso em:18 jun. 2019. 
 
______. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no 
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura 
Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
 
______. Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá 
outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
______. Lei n° 11.340, de 07 de agosto de 2006. Diário Oficial da União. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. 
Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
______. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas 
universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá 
outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>. Acesso 
em: 17 jun. 2019. 
 
______. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, 
de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância 
qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, 
para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13104.htm>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
______. Violência doméstica e familiar contra a mulher. Pesquisa DataSenado, jun. 
2017. Brasília: Instituto de Pesquisa DataSenado, Observatório da Mulher Contra a 
Violência, Secretaria de Transparência, 2017. Disponível em: 
<https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/arquivos/aumenta-numero-de-
mulheres-que-declaram-ter-sofrido-violencia>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
______. Ministério da Educação. Portaria nº 20, de 21 de dezembro de 2017. Diário 
Oficial da União.Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=801
71-anexo-1-portaria-normativa-n-20-pdf&category_slug=janeiro-2018-
pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
 
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2003. 
 
CAMPOS, C. H. de. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal 
& Violência, v. 7, n. 1, p. 103-115, 2015. Disponível em: 
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/sistemapenaleviolencia/article/view/20
275/13455>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
CANEN, A. O multiculturalismo e seus dilemas: implicações na educação. 
Comunicação e Política, v. 25, n. 2, p. 91-107, 2007. 
 
CARDOSO, F. L. O conceito de orientação sexual na encruzilhada entre sexo, gênero e 
motricidade. Interamerican Journal of Psychology, v. 42, n. 1, 2008.Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
96902008000100008 >. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
CARNEIRO, S. Mulheres em movimento. Estudos avançados, v. 17, n. 49, p. 117-133, 
2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v17n49/18400.pdf>. Acesso em: 18 
jun. 2019. 
 
______. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese de 
Doutorado. 2005. 
 
CARVALHO, M. A. Taxa de homicídios de negros é mais do que o dobro da de brancos 
no país. O Estado de S. Paulo, 5 jun. 2018. Disponível em: <https://sao-
paulo.estadao.com.br/noticias/geral,taxa-de-homicidios-de-negros-e-mais-do-que-o-
dobro-da-de-brancos-no-pais,70002337809>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da 
discriminação racial relativos ao gênero. Revista estudos feministas, v. 10, n. 1, 2002. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf>. Acesso em: 18 jun. 
2019. 
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/sistemapenaleviolencia/article/view/20275/13455
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/sistemapenaleviolencia/article/view/20275/13455
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-96902008000100008
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-96902008000100008
http://www.scielo.br/pdf/ea/v17n49/18400.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf
 
______. A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero. Formação em Direitos 
Humanos, 27 set. 2012. Disponível em: 
<http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/?p=1533&hc_location=ufi>. Acesso em: 17 jun. 
2019. 
 
D’ADESKY, J. Pluralismo étnico e multiculturalismo. Afro-Ásia, n. 19-20, 1997. 
Disponível em: 
<https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20952/13555>. Acesso em: 12 
jun. 2019. 
 
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. Boitempo Editorial, 2016. 
 
DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. 
 
DOMINGUES, P. O mito da democracia racial e a mestiçagem no Brasil (1889-1930). 
Diálogos latino-americanos, v. 6, n. 10, p. 115-131, 2005. Disponível em: 
<http://www.redalyc.org/pdf/162/16201007.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
DRUMONT, M. P. Elementos para uma análise do machismo. Perspectivas, v. 03, 1980. 
Disponível em: <https://docplayer.com.br/37368360-Elementos-para-uma-analise-do-
machismo.html>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
EDUARDA, M. Feminismo x femismo: Qual a diferença? Superinteressante, 4 jul. 
2018. Disponível em: <https://super.abril.com.br/blog/turma-do-fundao/feminismo-x-
femismo-qual-a-diferenca/>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
FARAH, M. F. S. Análise de políticas públicas no Brasil: de uma prática não nomeada à 
institucionalização do “campo de públicas”. Revista de Administração Pública-RAP, 
Rio de Janeiro, v. 50, n. 6, p. 959-979, nov./dez. 2016. 
 
FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Europeia do 
Livro, 1972. 
https://docplayer.com.br/37368360-Elementos-para-uma-analise-do-machismo.html
https://docplayer.com.br/37368360-Elementos-para-uma-analise-do-machismo.html
 
FREYRE, G. Casa-grande & senzala. São Paulo: Global, 2003. 
 
GÊNERO. In: Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos, 
2019. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/genero/>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
GGB – Grupo Gay da Bahia. Assassinato de homossexuais (LGBT) no Brasil. 
Salvador, 2018. Disponível em: 
<https://homofobiamata.files.wordpress.com/2019/01/relatorio-2018-1.pdf>. Acesso 
em: 18 jun. 2019. 
 
GOMES, N. P. et al. Compreendendo a violência doméstica a partir das categorias gênero 
e geração. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 4, 2007. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002007000400020>. 
Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
GOMES, I.; MARLI, M. IBGE mostra as cores da desigualdade. Revista Retratos, 11 
maio 2018. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/21206-ibge-mostra-as-cores-da-
desigualdade>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
GUIMARÃES, M. L. L. S. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto histórico 
geográfico brasileiro e o projeto de uma história nacional. Revista Estudos Históricos, 
v. 1, n. 1, p. 5-27, 1988. 
 
HEMMINGS, C. Contando estórias feministas. Revista Estudos Feministas, v. 17, n. 1, 
p. 215, 2009. Disponível em: 
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2009000100012>. 
Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
HOGEMANN, E. R. Direitos Humanos: sobre a universalidade rumo a um direito 
internacional dos direitos humanos. Enciclopédia Digital de Direitos Humanos. 
https://homofobiamata.files.wordpress.com/2019/01/relatorio-2018-1.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002007000400020
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2009000100012
 
Disponível em: <http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/15673-15674-1-
PB.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. 
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. 
 
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da violência 2018. Brasília, 
2018. Disponível em: 
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3341
0&Itemid=432>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
JESUS, J. G. de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Guia 
técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores 
de opinião. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.diversidadesexual.com.br/wp-
content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf>. Acesso 
em: 18 jun. 2019. 
 
LOPEZ, T. P. A. Macunaíma, a margem e o texto. São Paulo: Hucitec, 1974. 
 
MACHADO, I. V. Da dor no corpo à dor na alma: uma leitura do conceito de violência 
psicológica da lei Maria de Penha. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa 
Catarina, Florianópolis, 2013. Disponível em 
<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/107617>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
MAIOR, I. História, conceito e tipos de deficiência. Disponível em: 
<http://violenciaedeficiencia.sedpcd.sp.gov.br/pdf/textosApoio/Texto1.pdf>. Acesso 
em: 18 jun. 2019. 
 
MARQUESE, R. de B. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro 
e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, n. 74, p. 107-123, 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=33410&Itemid=432
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=33410&Itemid=432
http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf
http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdfhttps://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/107617
 
mar. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/nec/n74/29642.pdf>. Acesso em: 6 
jun. 2019. 
 
MARTINS, C. M. As metamorfoses em Macunaíma: (re)formulação da identidade 
nacional. Nau Literária, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 1-14, jan./jun. 2006. 
 
MARTINS, Z. et al. Do racismo epistêmico às cotas raciais: a demanda por abertura na 
universidade. Revista ECO-Pós, v. 21, n. 3, p. 122-146, 2018. 
 
NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo 
mascarado. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978. 
 
NIELSSON, J. G.; WERMUTH, M. l. A. D. A “carne mais barata do mercado”: uma 
análise biopolítica da “cultura do estupro” no Brasil. Revista da Faculdade de Direito 
da Uerj, n. 34, 2018. 
 
NOGUEIRA, R. O conceito de drible e o drible do conceito: analogias entre a história do 
negro no futebol brasileiro e do epistemicídio na filosofia. Revista Z Cultural, 2012. 
 
NARVAZ, M. G.; KOLLER, S.H. Metodologias feministas e estudos de gênero: 
articulando pesquisa, clínica e política. Psicologia em estudo, v. 11, n. 3, p. 647-654, 
2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/pe/v11n3/v11n3a20.pdf> Acesso 
em: 18 jun. 2019. 
 
O HOMEM é o lobo do homem, Thomas Hobbes. Superinteressante. 2018. Disponível 
em: <https://super.abril.com.br/ideias/o-homem-e-o-lobo-do-homem-thomas-hobbes/>. 
Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
OLINTO, M. T. A. Reflexões sobre o uso do conceito de gênero e/ou sexo na 
epidemiologia: um exemplo nos modelos hierarquizados de análise. Revista Brasileira 
de Epidemiologia, v. 1, p. 161-169, 1998. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/%0D/pe/v11n3/v11n3a20.pdf
 
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-
790X1998000200006&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
OLIVEIRA, C. 5 verdades e mitos sobre a abolição da escravatura no Brasil. Geledés, 13 
maio 2017. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/5-verdades-e-mitos-sobre-
abolicao-da-escravatura-no-brasil/>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: 
<https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso 
em: 17 jun. 2019. 
 
ONU MULHERES. Eles por elas, 2015. Disponível em: 
<http://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2015/03/ElesPorElas_visao_geral.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
OS 10 MITOS sobre as cotas. Inclusão social: um debate necessário? UFMG, [2019]. 
Disponível em: <https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
PESAVENTO, S, J. A cor da alma: ambivalências e ambiguidades da identidade nacional. 
Ensaios FEE, v. 20, n. 1, p. 123-133, 1999. 
 
______. Literatura, história e identidade nacional. Vidya, Santa Maria, v. 19, n. 33, p. 9-
27, jan./jun. 2000. 
 
PETRY, A. R.; MEYER, D. E. E. Transexualidade e heteronormatividade: algumas 
questões para a pesquisa. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 193-198, 
2011. Disponível em: 
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/7375/6434>. 
Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
PIOVESAN, F. Ações afirmativas no Brasil: desafios e perspectivas. Estudos feministas, 
p. 887-896, 2008a. 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X1998000200006&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X1998000200006&script=sci_abstract&tlng=pt
http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/ElesPorElas_visao_geral.pdf
http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/ElesPorElas_visao_geral.pdf
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/7375/6434
 
PIOVESAN, F. A Constituição brasileira de 1988 e os tratados internacionais de proteção 
dos direitos humanos. Temas de direitos humanos, v. 2, p. 87-104, 2008b. 
 
PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Planejando a próxima década. 
Ministério da Educação, 2014. Disponível em: 
<http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>. Acesso em: 18 jun. 
2019. 
 
REIS, N. dos; PINHO, R. Gêneros não binários: identidades, expressões e educação. 
Reflexão e Ação, v. 24, n. 1, p. 7-25, 2016. Disponível em: 
<https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/7045>. Acesso em: 18 jun. 
2019. 
 
REVISTA Prosa, Verso e Arte. Conceição Evaristo – poemas. Revista Prosa, Verso e 
Arte, [2019]. Disponível em: <https://www.revistaprosaversoearte.com/conceicao-
evaristo-poemas/>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
RIBEIRO, D. Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos. 
Azmina, 5 abr. 2016. Disponível em: <https://azmina.com.br/colunas/apropriacao-
cultural-e-um-problema-do-sistema-nao-de-individuos/>. Acesso em: 12 jun. 2019. 
 
RIBEIRO, S. Afinal o que é apropriação cultural? Geledés, 27 set. 2017. Disponível em: 
<https://www.geledes.org.br/stephanie-ribeiro-afinal-o-que-e-apropriacao-cultural/>. 
Acesso em: 12 jun. 2019. 
 
SANT’ANNA-MULLER, M. R.; POELKING, C. Nacionais e modernos: o discurso da 
identidade brasileira na obra de Tarsila do Amaral. DAPesquisa, v. 4, n. 6, p. 622-625, 
2018. 
 
SANTOS, B. de S. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo 
multicultural. Civilização brasileira, 2003. 
 
http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf
https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/7045
 
SANTOS, C. M. D. Da delegacia da mulher à Lei Maria da Penha: lutas feministas e 
políticas públicas sobre violência contra mulheres no Brasil. CES, 2008. Disponível em: 
<https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11080>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
SANTOS, C. M. Da delegacia da mulher à Lei Maria da Penha: absorção/tradução de 
demandas feministas pelo Estado. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 89, p. 153-
170, 2010. Disponível em: <https://journals.openedition.org/rccs/3759 >. Acesso em: 18 
jun. 2019. 
 
SANTOS, K. C. C. Políticas públicas sociais aplicadas ao direito à moradia digna. 
Revista Espaço Acadêmico, n. 172, p. 53-64, set. 2015. 
 
SANTOS, R. L. dos. Algumas considerações sobre o negro e o índio no Casa Grande e 
Senzala de Gilberto Freyre. Revista Espaço Acadêmico, v. 12, n. 138, p. 113-120, 2012. 
 
SCHLICHTA, C. A. B. D. Independência ou Morte (1888), de Pedro Américo: a pintura 
histórica e a elaboração de uma certidão visual para a nação In: Simpósio Nacional de 
História ANPUH, Fortaleza, 2009. 
 
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, v. 
20, p. 71-99, 1995. Disponível em: 
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AA
nero-Joan%20Scott.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
SEGATO, R. L. Cotas: por que reagimos? Revista USP, n. 68, p. 76-87, 2006. 
 
SEU JORGE. A carne. Letras. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/seu-jorge/a-
carne/>. Acesso em: 17 jun. 2019. 
 
SILVA, M. S. O inferno da “cura” gay. Uol, [2019]. Disponível em: 
<https://www.uol/noticias/especiais/o-inferno-da-cura-gay.htm#as-origens-do-horror>. 
Acesso em: 17 jun. 2019. 
https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11080
https://journals.openedition.org/rccs/3759
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf
 
SIMÃO, V. Movimento negro realiza ato por cotas raciais. CBN, 16 maio 2019. 
Disponível em: <http://cbnmaringa.com.br/noticia/movimento-negro-realiza-ato-por-
cotas-raciais>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
 
SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n. 
16, p. 20-45, jul./dez. 2006. 
 
SOUZA, I. L. C. A independência do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 
 
SOUZA, L. L. de. O processo de hibridação cultural: prós e contras. Temática, v. 9, n. 3, 
2014. 
 
VINHOLES, A. Gênero e identidade: reflexões sobre o contexto escolar. In: IX AMPED 
SUL – Seminário de Pesquisaem Educação da Região Sul, Porto Alegre, 2012. Anais. 
Rio Grande do Sul: UFRGS, 2012. Disponível em: 
<http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/221
6/297>. Acesso em: 18 jun. 2019. 
 
WOLFF, C. S.; SALDANHA, R. A. Gênero, sexo, sexualidades: categorias do debate 
contemporâneo. Retratos da Escola, v. 9, n. 16, p. 29-46, 2015. Disponível em: 
<http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/download/482/595>. Acesso em: 
18 jun. 2019. 
 
ZAMBONI, E. Projeto pedagógico dos parâmetros curriculares nacionais: identidade 
nacional e consciência histórica. Cadernos Cedes, v. 23, n. 61, p. 367-377, 2003. 
 
ZILIO, C. A querela do Brasil: a questão da Identidade da arte brasileira: a obra de 
Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari, 1922-1945. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 
1997. 
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2216/297
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2216/297

Mais conteúdos dessa disciplina