Prévia do material em texto
INOVAÇÃO E TECNOLOGIA EM ALIMENTAÇÃO Jeison Fernando Schmitz Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir os diversos tipos de fraude e adulteração em alimentos. � Reconhecer os malefícios da fraude para o consumidor. � Identificar fraudes e adulterações por meio de técnicas analíticas convencionais e emergentes. Introdução A qualidade de um alimento não está restrita somente aos seus atributos de qualidade, como características organolépticas, vida útil e disponibi- lidade, mas também à sua segurança, ou seja, a garantia de que o seu consumo será seguro. Fraudes e adulterações intencionais são temas emergentes que podem colocar em risco a segurança alimentar do consumidor, tendo os mais diversos efeitos, desde uma intoxicação alimentar até a morte. Portanto, é fundamental que o profissional da gastronomia conheça em detalhes sobre o assunto, para que consiga utilizar o máximo de estratégias e ferramentas e reduzir os riscos possíveis. Neste capítulo, você vai compreender o conceito de fraude e adulte- ração em alimentos, assim como os diferentes tipos mais comuns. Ainda, entenderá suas consequências para a saúde da população e, por fim, reconhecerá diversas técnicas utilizadas para a análise e a identificação de fraudes e adulterações em alimentos. 1 Fraudes e adulterações em alimentos Ao adquirir um alimento, o consumidor espera que, além das características organolépticas e nutricionais, ele seja seguro e não lhe cause nenhum problema, uma preocupação também constante para a indústria de alimentos. Normalmente, a gestão de riscos tem o foco voltado para programas de segurança de alimentos visando à prevenção da contaminação não intencional dos alimentos, por perigos biológicos, físicos ou químicos, a partir da utilização de diferentes ferramentas, como Análise de perigos e pontos críticos de controle (hazard analysis critical control points [HACCP]) e boas práticas de fabricação (BPF). Porém, esses progra- mas não se mostram efetivos para detectar ou minimizar ações de contaminação intencional sobre um processo ou produto, que, em geral, não representam um risco à saúde pública, as chamadas fraudes alimentares (CORREIA, 2018). Nos Estados Unidos, existem duas expressões muito empregadas nesse contexto, mas que no Brasil ainda são pouco conhecidas (KOLICHESKI, 1994; ROMERO, 2017); veja a seguir. � Food defense (“defesa alimentar”): utilizada principalmente em nações que sofrem ataques terroristas, representando a soma de atividades que visam à proteção da cadeia produtiva de alimentos, contra a contami- nação ou a adulteração intencional. Em geral, a motivação dessa ação consiste em causar danos para a imagem da empresa. � Food fraud: conhecida como fraude alimentar, que compreende artifícios utilizados sem o consentimento oficial, que não fazem parte da rotina convencional, ocasionando uma alteração no produto com o objetivo de um ganho econômico ilícito. Assim, quando o objetivo da alteração é exclusivamente econômico, ou seja, não há a intenção de causar danos na saúde dos consumidores, o ato é considerado uma fraude alimentar; no entanto, se essa ação é ilícita e tem como motivação ocasionar consequências que afetam a saúde pública, resultando em adoecimentos e até mesmo falecimentos, é tida como uma adulteração de alimentos. Existem registros de que a fraude alimentar acontece há centenas de anos, envolvendo alimentos como vinho, azeite e especiarias. Portanto, as indústrias de alimentos têm se desenvolvido e se aprimorado em processos que reduzem a vulnerabilidade de seus produtos, identificando as potenciais ameaças, ganhando, com isso, não somente a confiança de seus consumidores, mas também mantendo o negócio justo e sustentável, evitando uma concor- rência desleal (CORREIA, 2018). Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos2 Acesse o site oficial da Iniciativa Global de Segurança Alimentar (Global Food Safety Initiative [GFSI]) e saiba mais sobre a iniciativa voluntária criada em 2000 com o intuito de ajudar a resolver o problema global de segurança alimentar, a fim de garantir a confiança na distribuição de alimentos seguros em todo o mundo. A partir do Quadro 1, você pode conhecer os tipos de fraudes e adulterações alimentares mais comuns. Tipo de fraude Definição Exemplos Diluição Quando se mistura um líquido de maior valor econômico com um de menor valor. Mistura de azeite de oliva com outros óleos vegetais Diluição de suco de frutas Substituição Quando um ingrediente ou parte de um produto de maior valor econômico é substituído por outro ingrediente ou parte de menor valor. Substituição de uma carne de primeira por uma de segunda qualidade Falsificação Consiste na indução do consumidor a um produto de nível inferior, com características idênticas ou semelhantes ao produto original. Funcho barato como se fosse erva-doce Polaco salgado como se fosse bacalhau Alteração Alterações que ocorrem nas características essenciais do alimento, pelo comprometimento de suas qualidades físico-químicas, ocasionadas por negligência ou ignorância das normas. Congelamento de verduras sem que haja o branqueamento Acondicionamento em recipientes e ambientes inadequados Quadro 1. Principais fraudes alimentares, definição e exemplos (Continua) 3Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Fonte: Adaptado de Correia (2018) e Filipe (2019). Tipo de fraude Definição Exemplos Adulteração Ocasionada intencionalmente, afeta o valor nutritivo, por privação ou substituição de forma parcial ou total de seus elementos úteis ou característicos, ou adição de elementos não permitidos para dissimular alguma deficiência ou defeito. Adição de água no leite Uso do amido em iogurtes, para aumentar seu volume Extração de cafeína do café Uso de anilina em aves para que fiquem com o aspecto de “caipira” Sofisticação Variante da falsificação, porém com a alegação de ser um produto mais sofisticado. Normalmente, ocorre reaproveitamento de rótulos e embalagens, geralmente de origem estrangeira. Bebidas alcoólicas nacionais vendidas como se fossem importadas Açougues com iluminação avermelhada para que car- nes envelhecidas fiquem com aspecto de novas Rotulagem inadequada Quando se omitem ou se incluem falsas alegações no rótulo, visando ao aumento do valor econômico. Azeite de oliva refinado ro- tulado como “extravirgem” Reetiquetar após a expiração do vencimento Quadro 1. Principais fraudes alimentares, definição e exemplos (Continuação) No Brasil, existem legislações que asseguram a segurança do consumidor diante de fraudes alimentares, como o próprio Código de Defesa do Consu- midor, que caracteriza como impróprios ao uso e ao consumo alimentos que estiverem vencidos, adulterados, falsificados, fraudados e em desacordo com as suas normas regulamentares de fabricação (BRASIL, 2019). No estado de São Paulo, há o Decreto nº 25.544, que regulamenta a fiscalização sanitária de gêneros alimentícios, proibindo fraudes alimentares e considerando-as uma infração gravíssima (SÃO PAULO, 1988). Também há a Resolução RDC nº 259 de 2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regulamenta a rotulagem de alimentos embalados e declara que os rótulos não devem apresentar informações que levem o consumidor ao engano (BRASIL, Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos4 2002). E, no artigo 272 do Código Penal Brasileiro (1940), o infrator que adulterar, falsificar ou alterar qualquer substância ou produto alimentício destinado a consumo e, com isso, torná-lo nocivo à saúde ou com valores nutritivos reduzidos, estará sujeito à pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa (BRASIL, 1940). 2 Alimentos fraudados e suas consequências para a saúde do consumidor O consumidor, por ser o elo maisfraco da cadeia de alimentos, acaba não conseguindo se proteger de maneira adequada das fraudes alimentares, que não resultam apenas em prejuízos financeiros ou na falta de algum efeito esperado no organismo pela ausência de uma substância declarada, mas podem prejudicar seriamente a saúde do consumidor, representando um problema de segurança alimentar. Há dois tipos de riscos que o consumidor pode enfrentar: � o risco direto, quando o consumidor está em risco iminente ou imediato. Como exemplos, podemos citar a presença de alguma substância tóxica no alimento (como a adição de formol ao leite) ou de algum ingrediente alérgeno adicionado de maneira irregular e não informada no rótulo; � o risco indireto, quando o consumidor está em risco em virtude da exposição prolongada, por exemplo, o consumo de bebidas alcoólicas fraudadas com a adição de metanol, que pode causar cegueira. Com a globalização e os novos modelos de produção, os alimentos percor- rem longas distâncias entre o local em que são produzidos e aquele no qual serão consumidos, o que torna o processo produtivo suscetível a uma contaminação intencional, compreendendo um desafio manter o alimento seguro. Outro fator que oportuniza a ocorrência de fraudes alimentares reside na modernização e na utilização de diversos equipamentos. De acordo com Fredrickson (2014), entre os anos de 1950 e 2008, no mundo, foram confirmadas mais de 350 contaminações intencionais de alimentos, e, desde 1980, há o registro de 169 casos de adulteração com motivação econômica. No Quadro 2, você poderá verificar os 10 alimentos com o maior número de casos de fraudes notificadas no mundo, sendo que apenas os 7 primeiros correspondem a 50% de todas as fraudes registradas. 5Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Fonte: Adaptado de Moore, Spink e Lipp (2012). Alimento Fraudes notificadas Azeite de oliva 167 Leite 143 Mel 71 Açafrão 57 Suco de laranja 43 Café 34 Suco de maçã 20 Vinho 16 Xarope de bordo 16 Extrato de baunilha 16 Quadro 2. Lista dos 10 alimentos mais fraudados no mundo Fraudes de alimentos pelo mundo Em 1981, na Índia, bebidas alcoólicas foram adulteradas com metanol, que tem aparência e sabor semelhante ao etanol, porém pode causar cegueira e insuficiência respiratória, levando à morte. Por ser vendido a baixo custo, aproximadamente 300 pessoas da classe baixa vieram a óbito (PATHAK, 2012). Também em 1981, na Espanha, a empresa RAELCA distribuía azeite de oliva considerado puro, porém foi encontrado por pesquisadores óleo de colza com 2% de anilina, misturada com gordura animal e vegetal. O caso foi chamado de síndrome do óleo tóxico e teve como resultado mais de 19 mil pessoas doentes e mais de 300 falecimentos (MCKAY; SCHARMAN, 2015). Em 2003, nos Estados Unidos, um funcionário de um supermercado de Michigan, insatisfeito com o seu supervisor, contaminou mais de 760 kg de carne com inseticida à base de nicotina. O incidente resultou em 111 pessoas contaminadas, com sintomas de vômito, náuseas, diarreia e dor abdominal, que, caso tivessem ingerido um hambúrguer com um quarto da carne contaminada, teriam corrido o risco de morrer (UNITED STATES OF AMERICA, 2003). Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos6 Outro caso mais grave se deu na China em 2008, quando indústrias de leite em pó adicionaram intencionalmente melamina a seus produtos com o objetivo de aumentar os valores proteicos. Porém, como dois terços da melamina são compostos por nitrogênio, o produto fraudado ocasionou o falecimento de seis bebês, além do fato de mais de 50 mil crianças terem apresentado complicações renais. Após o ocorrido, a China ficou proibida de exportar leite para 10 países (CHAN; LAI, 2009). Ainda em 2008, nos Estados Unidos, constatou-se que uma empresa comercializou manteiga de amendoim contaminada com Salmonella spp. O caso teve como resultado nove óbitos e mais de 700 pessoas doentes. Após a confirmação, a empresa foi encerrada e os responsáveis presos (GOETZ, 2013). No Brasil, um dos maiores casos de fraudes em alimentos foi a Operação Carne Fraca realizada em 2017 pela Polícia Federal, que investigou um suposto esquema de fraude no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e irregularidades nos maiores frigoríficos do país, acusados de adulterar a carne comercializada, que ia desde o comércio de carne estragada, a alteração da data de vencimento, o uso de produtos químicos como ácido ascórbico, injeções de água para aumentar o seu peso até o uso de carnes con- taminadas com Salmonella para fabricação de embutidos. O consumo dessas carnes poderia ter provocado um grande problema de saúde pública no Brasil, tendo em vista que, ao ingerir carnes contaminadas, principalmente malpassa- das, o consumidor está correndo o risco de adquirir problemas intestinais e até mesmo doenças como brucelose e cisticercose. Normalmente, o ácido ascórbico é utilizado como conservante em alimentos, porém seu excesso pode ocasionar uma sobrecarga nos rins, indo de uma leve toxicidade ao desenvolvimento de câncer. Outro alimento que tem um histórico longo de fraudes no Brasil é o leite, com casos de adição de água, peróxido de hidrogênio, formol e soda cáustica. Quando o consumidor ingere formol, por alimentos fraudados, poderá apresentar sintomas como dores abdominais, náuseas e diarreias; se as doses ingeridas forem muito altas, o risco aumenta consideravelmente, envolvendo convulsões, embolia pulmonar e até mesmo a morte. Já a ingestão de soda cáustica é capaz de provocar diversas reações imediatas no organismo, como queimaduras na boca e complicações gastrintestinais. 7Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Leia no site da revista Super Interessante a matéria “Lasanha de cavalo, ovo falso e outros casos de fraude alimentícia”, escrita por Rafael Tonon e Bruno Garattoni, e conheça outros casos de fraudes alimentares que aconteceram pelo mundo, com diversos alimentos. 3 Detecção de fraudes em alimentos As fraudes alimentares podem ser explicadas pela existência de três fatores: ausência ou ineficiência de medidas de controle; a motivação de fraudadores; e disponibilidade de consumidores vulneráveis. Qualquer alimento ou ingre- diente tem, em sua natureza, composição, qualidade, processo de produção e origem geográfica, uma oportunidade para fraude. Por exemplo, quanto à característica física, um ingrediente sólido tem uma oportunidade de fraude menor em comparação a um alimento líquido. A motivação de quem realiza as fraudes pode ser econômica (aumentar a renda ou diminuir os custos), a presença de algum sentimento pessoal (insatisfação ou chantagem) e uma demanda de mercado. Já as medidas de controle de fraudes alimentares devem ser internas, com controles específicos da empresa (p. ex., rastreabilidade dos produtos, integridades dos funcionários e idoneidade dos fornecedores), e externas, que competem aos órgãos fiscalizadores competentes. O problema das fraudes em alimentos é bem antigo, com relatos de que em Roma o vinho era diluído com água do mar para cobrir a cota de produção. Porém, em 2013, um acontecimento se tornou histórico para a fraude alimentar: na Irlanda, pesquisadores identificaram que produtos com alegação de serem 100% de carne de gado continham carne de cavalo. Após esse escândalo, o setor de alimentos ficou em alerta na Europa, foram criadas redes de fraudes de alimentos e houve melhorias nas formações dos inspetores de alimentos (CORREIA, 2018). A fraude da carne de cavalo foi descoberta pela Autoridade de Segurança Alimentar da Irlanda (Food Safety Authority of Ireland) enquanto desenvol- via uma nova metodologia de análise da composição de produtos cárneos (UNITED KINGDOM, 2013). Além de usarem muito bem a criatividade, os fraudadores são bem informados e se adaptam rapidamente, aproveitando-se de uma nova oportunidade. Da mesma maneira que as técnicas utilizadaspelos Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos8 fraudadores evoluem, as tecnologias de detecção também estão em constante melhoramento, tornando praticamente impossível o consumidor constatar uma fraude. Quase todos os alimentos têm um padrão de identidade e qualidade (PIQ) que regulamenta os padrões mínimos que cada um deve apresentar, os quais precisam ser respeitados; portanto, qualquer alimento que apresente características diferentes dessas especificações é considerado fraudado. O tipo de alimento, sua composição química e suas características deter- minarão o método de detecção de fraudes que deverá ser utilizado. A seguir, você conhecerá alguns exemplos de fraudes, bem como os métodos necessários para detectá-los. Azeite de oliva Por ser um produto de alto valor comercial, o azeite de oliva representa um dos itens que mais sofrem tentativas de fraudes, como a mistura com azeites refinados ou outros óleos vegetais. Embora um pouco trabalhosa, a principal — e mais eficaz — técnica para verificar fraudes em azeites de oliva virgem e extra virgem reside na quantificação de estigmastadienos, compostos formados quando do refinamento de óleos, principalmente nas etapas que envolvem altas temperaturas, como a clarificação e a desodorização. Portanto, os azeites de oliva virgens e extravirgens não podem conter esses itens em sua composi- ção. O método consiste em saponificar a amostra de azeite de oliva com um padrão interno (colesta-3,5-dieno), extrair e fracionar por cromatografia os componentes que não saponificaram, para, então, identificar e quantificar o estigmasta-3,5-dieno e seu isômero (MODOLO, 2007). A quantificação de estigmastadienos é considerada o método mais seguro e sensível no controle de fraudes em azeites de oliva, podendo substituir o convencional método por ultravioleta, que identifica a presença de dienos e trienos conjugados, formados no refinamento de óleos. Leite Por ser um produto altamente consumido, o leite, composto basicamente por 87% de água e o restante de sólidos totais, dissolvidos ou suspensos na água, é um grande alvo dos fraudadores de alimentos. Normalmente, os objetivos das fraudes nesse produto consistem em aumentar o volume, mascarar a acidez ou prolongar a sua conservação, podendo ter mais de uma intenção ao mesmo tempo. Como existem diversos tipos possíveis de fraudes no leite, há diversas técnicas para identificá-las, como as apresentadas a seguir. 9Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Determinação da densidade: utilizada para verificar o desnate excessivo do leite, como pela adição de água. O leite é colocado em uma proveta graduada e, então, se mergulha um termolactodensímetro (Figura 1), que identificará a densidade correta do leite a 15°C; caso esteja em uma temperatura diferente desta, há uma tabela de conversão que pode ser utilizada (BELOTI, 2015). Figura 1. Termolactodensímetro utilizado para determinar a densidade do leite. Fonte: macro videography/Shutterstock.com. Determinação de reconstituintes: os reconstituintes são utilizados para recompor a densidade, já que normalmente os fraudadores adicionam produtos como açúcar, sal, amido, citrato de sódio e ureia. A identificação da presença de sal baseia-se na reação do nitrato de prata aos cloretos do sal (cloreto de sódio), quando da existência do indicador cromato de potássio. Se a solução ficar amarela, indica que há presença de sal acima do recomendado. E o amido pode ser identificado pelo teste de Lugol, no qual se adicionam ao leite algumas gotas de solução de Lugol (iodo com iodeto de potássio). Caso haja amido na amostra, ele reagirá com a solução, alterando a coloração para azul (BELOTI, 2015). Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos10 Determinação de peróxido de hidrogênio: também conhecido como água oxigenada, o peróxido de hidrogênio é utilizado como conservante. Porém, seu uso é proibido no Brasil, pois seu emprego excessivo pode ocasionar problemas de saúde e afetar as propriedades nutricionais do leite. Uma das técnicas de verificação reside na adição de óxido de vanádio em meio ácido à amostra do leite, que reagirá com o peróxido de hidrogênio formando o ácido ortoperoxivanádico e alterando a coloração da amostra para vermelha (BELOTI, 2015). Mel O mel, composto basicamente por monossacarídeos, glicose e frutose, é um alimento muito apreciado por ser considerado terapêutico, o que facilita a ação de fraudadores com a sua adulteração pela adição de açúcares ou xaropes e também de “tintura de iodo” para que o produto fique com a coloração dese- jada. Normalmente, as fraudes e adulterações de méis podem ser identificadas por análises físico-químicas. No mel, também é possível realizar o teste com solução de Lugol para identificar a adição de amido ou outras dextrinas, como nas amostras de leite. Reação de Fiehe: técnica utilizada para verificar a adição de açúcares ao mel e a presença de hidroximetilfurfural (HMF), um composto derivado de açúcares. Quanto maior o teor de HMF, menores serão a qualidade e o valor nutricional do mel, indicando a adição de outros açúcares, além de uma con- servação inadequada (OPUCHKEVICH; KLOSOWSKI; MACOHON, 2008). Reação de Lund: nessa análise, um mel que não foi adulterado deverá formar um precipitado proteico albuminoide natural do mel. A não ocorrência da precipitação indica algum tipo de adulteração do mel, como a adição de um diluidor (OPUCHKEVICH; KLOSOWSKI; MACOHON, 2008). Diversos alimentos são utilizados por fraudadores, que promovem desde fraudes simples e grosseiras até as mais sofisticadas. Assim, o conhecimento sobre elas e suas principais complicações para a saúde pública torna-se fun- damental para que o consumidor fique mais atento e exigente em relação ao alimento que está adquirindo, e, por consequência, que as empresas de alimentos se tornem idôneas e mais preocupadas com a qualidade de seu produto final. 11Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos BELOTI, V. (org.). Leite: obtenção, inspeção e qualidade. Londrina: Planta, 2015. 414 p. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Regulamento técnico para rotulagem de alimentos embalados. Brasília: Anvisa, 2002. 12 p. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/ pt-br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos- -e-bebidas/resolucao-rdc-no-259-de-20-de-setembro-de-2002.pdf/view. Acesso em: 22 out. 2020. BRASIL. Código de defesa do consumidor e normas correlatas. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2019. 131 p. Disponível em: https://www2. senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/555106/cdc_e_normas_correlatas_3ed.pdf. Acesso em: 22 out. 2020. BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília: Presidência da República, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del2848.htm. Acesso em: 22 out. 2020. CHAN, Z. C. Y; LAI, W. Revisiting the melamine contamination event in China: impli- cations for ethics in food technology. Trends in Food Science & Technology, [S. l.], v. 20, n. 8, p. 366–373, Aug. 2009. CORREIA, A. M. N. Fraude alimentar: fatores de risco e medidas de controlo e prevenção. Orientadora: Ana Luísa Almaça da Cruz Fernando. 2018. 154 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2018. Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/58098. Acesso em: 22 out. 2020. FILIPE, A. F. P. Avaliação da vulnerabilidade à Fraude Alimentar - O caso do Talho Nacional. Orientadora: Maria Raquel Lucas. 2019. 61 f. Relatório de Estágio (Mestrado em Gestão da Qualidade e Marketing Agroalimentar) – Escola de Ciências Sociais, Departamento de Gestão, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Évora, 2019. Dispo- nível em: https://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/25591.Acesso em: 22 out. 2020. FREDRICKSON, N. R. Food security: food defense and biosecurity. In: ALFEN, N. K. (ed.). Encyclopedia of agriculture and food systems, volume 1. London; Waltham; San Diego: Academic Press, 2014. p. 311–323. GOETZ, G. Peanut Corporation of America from Inception to Indictment: A Timeline. Food Safety News, Seattle, 22 Feb. 2013. Disponível em: https://www.foodsafetynews. com/2013/02/peanut-corporation-of-america-from-inception-to-indictment-a-time- line/#.WuKFHIjwbIU. Acesso em: 22 out. 2020. KOLICHESKI, M. B. Fraudes em Alimentos. Boletim do Centro de Pesquisa de Processamento de Alimentos, Curitiba, v. 12, n. 1, p. 65–77, jan./jun. 1994. Disponível em: https://revistas. ufpr.br/alimentos/article/view/14191. Acesso em: 22 out. 2020. Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos12 MCKAY, C.; SCHARMAN, E. J. Intentional and inadvertent chemical contamination of food, water, and medication. Emergency Medicine Clinics of North America, Philadelphia, v. 33, n. 1, p. 153–177, 2015. MODOLO, J. S. Quantificação de estigmastadienos em azeite de oliva (Olea europaea L.) por cromatografia em fase gasosa. Orientadora: Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves. 2007. 178 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) – Departamento de Tecnologia de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. Disponível em: http://repositorio.unicamp. br/jspui/handle/REPOSIP/254691. Acesso em: 22 out. 2020. MOORE, J. C.; SPINK, J.; LIPP, M. Development and application of a database of food ingredient fraud and economically motivated adulteration from 1980 to 2010. Journal of Food Science, Champaign; Malden, v. 77, n. 4, p. R118–126, Apr. 2012. OPUCHKEVICH, M. H.; KLOSOWSKI, A. L. M.; MACOHON, E. R. Qualidade do mel no mu- nicípio de Prudentópolis. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, v. 4, n. 1, p. 36–38, jan./ dez. 2008. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/254691. Acesso em: 22 out. 2020. PATHAK, A. Scenario of Hooch Tragedy in Gujarat State. Journal of Indian Academy of Forensic Medicine, [S. l.], v. 34, n. 1, p. 58–60, Mar. 2012. ROMERO, S. B. Defesa alimentar (Food Defense): avaliação e aplicação da ferramenta CARVER+Shock na indústria do leite no Brasil. Orientadora: Marta Mitsui Kushida. 2017. 151 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Inovação na Indústria Animal) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2017. Disponível em: https://teses.usp.br/ teses/disponiveis/74/74134/tde-23112017-090219/pt-br.php. Acesso em: 22 out. 2020. SÃO PAULO (Cidade). Decreto nº 25.544, de 14 de março de 1988. Regulamenta a fiscali- zação sanitária de gêneros alimentícios no município de São Paulo - Código Sanitário Municipal de alimentos, e dá outras providências. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1988. Disponível em: http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto-25544- -de-14-de-marco-de-1988. Acesso em: 22 out. 2020. UNITED KINGDOM. The Food Standards Agency, Department for Environment, Food & Rural Affairs, Department of Health. Food safety and authenticity in the processed meat supply chain. London: The Stationary Office; National Audit Office, 2013. 48 p. Disponível em: https://www.nao.org.uk/wp-content/uploads/2014/10/10255-001-Food-safety- -and-authenticity.pdf. Acesso em: 22 out. 2020. UNITED STATES OF AMERICA. Department of Health and Human Services. Centers for Disease Control and Prevention. Nicotine Poisoning After Ingestion of Contaminated Ground Beef --- Michigan, 2003. CDC, Atlanta, 2003. Disponível em: https://www.cdc. gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5218a3.htm. Acesso em: 22 out. 2020. 13Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas COSTA, M. J.; TEIXEIRA, P.; MOREIRA, R. Defesa e fraude alimentar na integridade da cadeia de fornecimento de alimentos - breve revisão. Acta Portuguesa de Nutrição, Porto, n. 20, p. 38–43, jan. 2020. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S2183-59852020000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng =pt. Acesso em: 22 out. 2020. GLOBAL FOOD SAFETY INITIATIVE. GFSI, Levallois-Perret; Tokyo; Shangai, Silver Spring, Bogotá, 2020. Disponível em: https://mygfsi.com/. Acesso em: 22 out. 2020. MEIRELES, S.; CANÇADO, I. A. C. Mel: parâmetros de qualidade e suas implicações para a saúde. SynThesis | Revista Digital FAPAM, Pará de Minas, v. 4, n. 4, p. 207–219, abr. 2013. Disponível em: https://periodicos.fapam.edu.br/index.php/synthesis/article/view/70. Acesso em: 22 out. 2020. TONON, R.; GARATTONI, B. Lasanha de cavalo, ovo falso e outros casos de fraude ali- mentícia. Super Interessante, São Paulo, 17 mar. 2017. Disponível em: https://super.abril. com.br/ciencia/lasanha-de-cavalo-ovo-falso-e-outros-casos-de-fraude-alimenticia/. Acesso em: 22 out. 2020. Métodos para detecção de fraudes e adulteração de alimentos14