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Kierkegaard entendia que a própria natureza da lógica a impossibilitava de abarcar a realidade, tão marcada pela variabilidade e pela casualidade. Essa ideia fica clara no seguinte comentário do filósofo a respeito da obra Ciência da lógica, de Hegel: “Assim, quando se intitula a última seção da Lógica: ‘a Realidade’, obtém-se com isso a vantagem de pare- cer que, já na lógica, atingiu-se o que há de mais alto ou, se preferirmos, o mais baixo. A perda, porém, salta aos olhos; pois nem a lógica nem a realidade são bem servidas com isso. A realidade não sai ganhando, pois a contingência, que é um elemento essencialmente co- pertencente à realidade, a lógica jamais poderá deixar infiltrar-se. Nem a lógica fica bem servida com isso; pois, se ela pensou a realidade efetiva, então acolheu em si algo que ela não pode assimilar, e chegou a antecipar o que ela deve tão somente predispor.” KIERKEGAARD, Sören. O conceito de angústia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 12. Para o filósofo, como a lógica aborda só o que é neces- sário (o que é de uma maneira e não pode ser de outra), ela não pode tratar da realidade humana efetiva, uma vez que esta inclui a contingência (o que é de uma maneira e pode ser de outra). Acreditar que a lógica explica a realidade é, então, uma ilusão. O indivíduo não poderia ser explicado ou entendido por meio de conceitos que simplesmente não considerassem a existência na sua concretude. Em outras palavras, conceitos como humanidade ou Espírito Absoluto não dariam conta das existências concretas de João, Maria e Clara, que seriam singulares e insubstituíveis. Olhando para a vida do indivíduo, o filósofo encontraria a realidade do ser humano, seus desejos mais íntimos e seu sofrimento. Possibilidade e angústia Segundo Kierkegaard, a existência humana não seria determinada por uma necessidade racional, na qual o desti- no estaria traçado de antemão. A existência real e concreta de um indivíduo estaria marcada pelo imponderável, o que significa que as suas ações e decisões pessoais o levariam para situações às vezes imprevisíveis. Em certa medida, a existência seria, assim, um salto no escuro, pois sempre há a possibilidade de o indivíduo ser surpreendido pela miséria e pelo engano. A maior desgraça, porém, não seria o resultado de decisões infelizes, mas encarar sua inevitável possibilidade, a indeterminação permanente, o estado de equilíbrio instável da vida. A existência seria sempre um talvez, a iminência de um fracasso ou de um nada. Essa situação inerente à existência humana provocaria angústia. A angústia seria, então, um sentimento relacionado à possibilidade de escolha, pois, embora o futuro dependa das decisões do indivíduo, não há como ter certeza de que elas lhe assegurarão uma vida boa ou saber se o conduzirão à miséria. Kierkegaard entende que, ainda que busquemos tomar as decisões mais acertadas, nunca podemos ter certeza de que as coisas se desenvolverão como planejamos. Diante de nós há sempre o imponderável, e aquele que nos parecia o melhor caminho pode nos conduzir à ruína. Na imagem, a obra Labirinto, pintura de John Armstrong, 1927. De olho no presente A angústia da sociedade tecnológica do consumo Vivemos em uma sociedade na qual as mudanças e o apelo ao novo são constantes. Movemo-nos sob a bandeira da rapidez, do aqui e do agora, do imediatis- mo. Estamos sempre correndo ou atrasados, no reino da urgência. Em pouco tempo, um produto tecnológico torna-se obsoleto e somos compelidos a substituí-lo. Consumimos freneticamente, desejando cada vez mais. Ao mesmo tempo, a angústia existencial está presente. • Em sua opinião, que fatores podem explicar esse cenário? (BNCC) Competências específicas: 1, 2, 3 e 5 Habilidades: EM13CHS103 EM13CHS202 EM13CHS303 EM13CHS501 EM13CHS502 EM13CHS504 Heidegger e o sentido do ser Kierkegaard influenciou inúmeros filósofos contem- porâneos que tiveram o ser humano e sua existência como objeto de reflexão. Entre eles está o alemão Martin Heidegger (1889-1976). Heidegger dedicou sua obra ao estudo do sentido do ser. Ele retomou uma preocupação que esteve presente nos primórdios da filosofia, principalmente em Parmêni- des, Platão e Aristóteles: a ideia de que o pensamento ou a filosofia deveria buscar os fundamentos daquilo que verda- deiramente é ou os princípios gerais de tudo o que existe. B R ID G E M A N IM A G E S /F O TO A R E N A - T H E F IN E A R T S O C IE TY , L O N D O N , U K R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 136 Dessa preocupação deriva a investigação sobre o ser, tema central de todos os sistemas metafísicos ou da ontologia. O ser poderia ser definido como aquilo que permitiria a existência de todos os entes, quer dizer, das coisas ou de todos os seres. Na teoria das formas de Platão, o verdadeiro ser só poderia ser encontrado no mundo inteligível, apartado da realidade sensível. Aristóteles, por sua vez, na sua estruturação do conhecimento, defendia que caberia à filosofia primeira o estudo do ser, o qual seria caracterizado principalmente como substância. Heidegger retomou o tema do sentido do ser porque considerava que todas as investigações sobre o ser teriam fracassado e que ninguém conheceria o sentido do ser. Da investigação do ser à investigação do ser humano Em sua obra Ser e tempo, publicada em 1927, a intenção de Heidegger era tratar do sentido do ser em geral. No entanto, segundo o autor, o melhor para essa investigação seria analisar entre todos os entes (coisas e seres) aquele que poderia possibilitar uma abertura para atingir o sentido do ser. “Elaborar a questão do ser significa, portanto, tornar transparente um ente – o que ques- tiona – em seu ser. [...] Esse ente que cada um de nós somos e que, entre outras, possui em seu ser a possibilidade de questionar, nós o designamos com o termo pre-sença.” HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1, p. 32. O ser humano – entendido como ente, pessoa – seria essa possibilidade privilegiada de acesso ao sentido do ser porque não constituiria uma coisa entre as coisas do mundo, mas um ente que refletiria, ponderaria, pensaria, sentiria e se perguntaria sobre si e sobre os fundamentos de tudo o que existe, ou seja, sobre o sentido do ser das coisas em geral. Por ter esse modo de existência, o ser humano seria o ente que estaria aberto ao ser ou que o desvelaria. Em decorrência disso, a investigação sobre a existência humana foi o tema de Ser e tempo, por meio da qual Heidegger formulou suas principais contribuições ao existencialismo, ainda que não se considerasse um existencialista. O projeto de um ser no mundo Na análise existencial heideggeriana, cada pessoa (ser-aí) só pode ser compreendida em sua relação com o mundo, pois é um ser-no-mundo. Não é uma consciência isolada, fechada, ou um sujeito que, antes de tudo, conhece. O ente humano é um ser em abertura, em relação ativa com as coisas e os outros seres. Assim, a constituição do ser-aí tem por base essa relação de familiaridade com o mundo e não pode ser dissociada dele. Criança observa flores mostradas pelos pais em Bruxelas, Bélgica, s/d. O indivíduo não nasce pronto. É na sua relação com o mundo e com os demais seres humanos que ele virá a ser. Apesar de o ser humano não ter criado o mundo, ele o transforma ao manipular os entes naturais, ao criar cultura e, sobretudo, ao estabelecer sentidos. Sem o ser-aí não há sentido no mundo; por outro lado, o ser humano forma-se em sua relação com o mundo. O ser humano é, então, um projeto voltado para o mundo e para as coisas. É um vir a ser que se projeta, transcendendo-se, indo além do que é. O ser-aí constitui-se nesse projetar-se, transformando e utilizando as coisas ao seu redor. O ser-aí se forma e desenvolve sua existência não só na relação com as coisas,mas também na relação com as outras pessoas (outros eus). O ser humano é um ser social. Assim, estar no mundo é também estar com outros. O cuidar das coisas e dos outros é a expressão básica da existência humana. B S IP /G E TT Y IM A G E S R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 A angústia: a porta do ser Com base na concepção de que o ser-aí é um projeto que se realiza no mundo e sua condição originária fundamenta-se na relação com as coisas e as pessoas, Heidegger reflete sobre o sentido da existência e o sentido da morte. De acordo com o filósofo, a maioria das pessoas teria uma existência inautêntica. Os indivíduos se manteriam no plano factual, manipulando as coisas e se relacionando com os outros seres humanos de maneira superficial. Nessa condição, não procurariam o sentido de seu ser. Seria como se fugissem de si mesmos. Por ter uma existência inautêntica, cada indivíduo seria anônimo no meio de outros anônimos, apenas reproduzindo, nas ações e na linguagem, o que todos diriam e fariam. Suas decisões e escolhas o levariam sempre ao nível das coisas. Mas seria possível ter uma existência autêntica, isto é, uma vida na qual o ser-aí (o ser humano) enxergaria seu ser. O sentimento de angústia seria uma possibilidade privilegiada de abertura nesse sentido. Heidegger retomou o conceito de angústia analisado por Kierkegaard, estabele- cendo novo significado para ele. “Aquilo com que a angústia se angustia é o ser-no-mundo como tal.” HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1, p. 253. A angústia não seria o medo ou o temor de alguma coisa em particular, de algum ente, mas um sentimento de estranhamento diante do mundo cotidiano, do desdobramento rotineiro da vida, diante, sobretudo, da relação do ser-no-mundo com as coisas e as outras pessoas. Esse desconforto faria o indivíduo voltar-se para si, para o próprio ser, refletindo sobre o sentido da vida. Nesse aspecto, a angústia seria uma possibilidade privilegiada da existência humana, uma porta ou fresta para o ser. O estranhamento retiraria o indivíduo da cotidianidade, do anonimato, da reprodução irrefletida, levando-o para o centro de si mesmo. Doc. 1 Ser que caminha para a morte Heidegger também se referiu a modos inautênticos de tratar a morte. Para ele, geralmente a morte não recebe atenção adequada ou é ignorada. Ela parece algo que acontece aos outros, que marca o fim da vida, mas não nos diz respeito. Esse tipo de compreensão é uma recusa de reconhecer a morte em seu sentido pleno, em sua relação com a vida. Heidegger considera a morte o grande problema humano. Na nossa existência, há muitas possibilidades, mas a morte é a única necessária e invencível. Ela é a possibilidade que anula todas as demais e isola o ser-aí dos outros entes, confrontando-o com seu ser. O indivíduo anônimo, o ser-aí, está enredado, preenchendo seu tempo com as preocupações e as ações relacionadas ao cotidiano, que são uma fuga da morte. Mas se aceita o chamado de sua consciência para o sentido da morte, percebe a nulidade de todas as suas possibilidades e pode redimensionar sua vida. Pode, então, viver autenticamente, deixando o universo cotidiano, ou seja, as distrações da existência inautêntica, em segundo plano. Sartre: a existência precede a essência A concepção existencialista do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) também parte do conceito de intencionalidade da fenomenologia de Husserl. A consciência é um visar o mundo, uma atividade. A consciência é sempre consciência de alguma coisa. Portanto, fora dessa atividade, fora da intencionalidade, não há consciência, não há nada. Assim, a consciência e o sentido do mundo surgem ao mesmo tempo. Isso significa que o indivíduo, cuja consciência não está esta- belecida quando vem ao mundo nem se estabelecerá como um órgão fixo e sólido, é um nada. Ele existe, a princípio, apenas como projeto, quer dizer, um vir a ser. Esse indivíduo vai se tornar um sujeito, vai vingar como projeto existencial, ao se projetar para o mundo, ao ir em direção ao mundo, ao visá-lo. Para Sartre, então, a existência precede a essência; e o ser humano estabelece sua identidade por meio de sua vida, das suas ações e ponderações. Doc. 2 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 138 Liberdade: o ser humano é o que faz de si Se a consciência ou o sujeito é um nada ou algo não estabelecido; se o existir humano é, antes de tudo, um processo que não está antecipadamente fixado por nada exterior ou interior ao ser humano, então cabe ao próprio homem fazer-se, pois o ser humano é aquilo que ele faz de si. Nesse processo constante do sujeito em busca do ser, nesse fazer-se que é a existência humana, não há uma natureza dada e imutável que defina o que o sujeito é ou o que será, como a semente determina o futuro de uma planta. Também, para Sartre, não há um ser supremo que decrete valores que orientem o comportamento do ser humano e de sua consciência. O homem é livre para ser o que quiser. E a transcendência do nada para o ser, a transcendência da consciência ou do sujeito para o mundo, característica central da existência humana, é tomada por Sartre como liberdade. O ser humano é liberdade. Mais ainda: o homem não pode deixar de ser liberdade, porque ele é esse processo constante em direção ao mundo, esse vento em direção às coisas e aos outros homens, essa ação recorrente de se inventar. Como o ser humano não pode fugir de sua existência, ele estaria condenado a ser livre. Mafalda, tirinha de Quino, 2016. Para Sartre, sendo livre, o homem tem diante de si a possibilidade de fazer escolhas. Porém, ao fazê-las sem que exista nada nem ninguém que as determine, ele é responsável pela sua vida e pelos efeitos de seus atos, o que lhe causa angústia. Na tirinha, Felipe exterioriza a Mafalda sua angústia diante da liberdade representada pelas férias, quando não há mais nenhuma autoridade lhe dizendo o que fazer. Posteriormente, em vários ensaios e no livro Crítica da razão dialética (1960), Sartre atenuou esse caráter absoluto da liberdade humana, levando em consideração as situações históricas concretas que cada projeto-humano tem de enfrentar. Questões A filósofa Simone de Beauvoir ocupou um espaço muito importante entre os filósofos existencialistas, tratando, em especial, das questões de gênero em suas obras. Leia a citação e faça a atividade. “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade [...].” BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v. 2, p. 9. 1. O que a filósofa quis dizer ao afirmar que “ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher”? 2. De que forma a ideia proposta pela frase acima dialoga com o pensamento de Sartre? Registre em seu caderno (BNCC) Competências específicas: 1, 4 e 5 Habilidades: EM13CHS102 EM13CHS401 EM13CHS502 EM13CHS504 © J O A Q U ÍN S A LV A D O R L A VA D O (Q U IN O ) T O D A M A FA LD A / FO TO A R E N A FINALMENTE!! FINALMENTE!! TERMINARAM AS AULAS! FINALMENTE ACABARAM AS ANGÚSTIAS DE ESTUDAR E DE FAZER DEVERES! MEU DEUS! E AGORA O QUE FAREMOS COM TODA ESTA LIBERDADE PELA FRENTE? 139 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Merleau-Ponty e a fenomenologia da percepção Partindo da fenomenologia de Husserl, as investigações do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) tiveram como foco a relação entre o ser humano e o mun- do, na qual a percepção assume uma importância notável. Merleau-Ponty criticou as teorias científicas empíricas ou racionalistas porque elassubstituíam a percepção pelo pensamento sobre a percepção. Para ele, o que acontecia de fato com experiência perceptiva era diferente. Para o empirismo, a percepção é causada por estímulos externos aos sentidos. Portanto, essa corrente ressalta o caráter objetivo do processo perceptivo. Já para o raciona- lismo, a percepção depende fundamentalmente do sujeito do conhecimento, e as coisas externas apenas propiciam sua ação. Assim, o preponderante da percepção seria seu caráter subjetivo. Na avaliação de Merleau-Ponty, essas teorias, ao enfatizar ora o aspecto subjetivo, ora o aspecto objetivo, perdiam o fenômeno da percepção, que é um todo complexo. A percep- ção não é uma objetividade absoluta nem uma subjetividade absoluta. A percepção é uma vivência, uma relação do sujeito com tudo aquilo que o rodeia, a forma originária de o homem ser no mundo, anterior a qualquer teoria, e uma forma de estabelecer sentido. O corpo é um ponto de vista sobre o mundo Se a percepção é a forma originária de o homem estar no mundo e se realiza por meio dos sentidos, o entendimento sobre o corpo é o ponto central em qualquer análise da existência humana. Mas o que é o corpo para Merleau-Ponty? Antes de tudo, o ser humano está aberto para o mundo porque é corpo. O corpo é um sensível que possibilita o diálogo entre o interno e o externo, entre a consciência e as coisas do mundo, e que ancora as vivências perceptivas. Nes- se sentido, o corpo é um ponto de vista sobre o mundo, é a maneira de o ser humano ser no mundo e, ao mesmo tempo, constituir os sentidos dele, das coisas e dos outros homens. Quem sou eu? O filósofo grego Parmênides, no século V a.C., afirmava que a essência de algo nunca mudaria, pois, se mudasse, esse algo deixaria de ser o que é, perderia sua identidade. No estudo que realizamos sobre o existencialismo, vimos que Heidegger e Sartre não pensavam dessa maneira em relação ao ser humano. Esses filósofos de- fendiam que o indivíduo não nasce com uma essência definida, mas é um projeto a se realizar no mundo, entre as pessoas e as coisas. Cada indivíduo, ao longo de sua existência, constrói sua identidade, sendo responsável pelo que é e pelo que vier a ser. O fato de sermos um projeto cuja efetivação depende de nossas decisões e das relações que estabelecemos com as pessoas e as coisas explica a dificuldade que temos para nos definir. Sempre ficamos embaraçados se temos de responder à pergunta “Quem é você?”. Uma resposta possível é “Meu nome é...”. Entretanto, quem é esse ser que está para além do nome e do registro em algum cartório? Como firmar uma identidade em uma sociedade caótica e confusa, em que os valores mudam incessantemente, seguindo a lógica do consumo? As marcas identitárias Nascemos com determinadas características biológicas, mas elas não definem nossa individualidade. É na interação com as outras pessoas, vivenciando experiências, que nos tornamos aptos a agregar e a excluir elementos em nosso modo de ser. A identidade de um indivíduo é influenciada por vários fatores, entre os quais se destacam a cultura e a etnia a que ele pertence. Quer dizer, ao longo de sua formação, da infância à vida adulta, o indivíduo incorporará uma língua, tradições, valores, gostos, entre outros elementos culturais que são mais ou menos comuns para todos os membros da comunidade a qual ele pertence e que servirão de referência para suas opiniões e decisões. Assim, é por meio da cultura que o indivíduo aprende a olhar e a interpretar o mundo. A história de cada um Além disso, as condições sociais também influenciam a formação da identidade. Como dizem os existencialistas, somos lançados ao mundo (nascemos) em uma família, sociedade e país que não escolhemos e não temos res- ponsabilidade alguma por isso. É a partir dessa realidade que nossa existência (projeto) começa a se desenvolver, e cada indivíduo vive o mundo à sua maneira. Sua identidade será construída pelo conjunto de vivências, que é único para cada um e que determinará seu jeito particular de ser. É principalmente na adolescência que o indivíduo busca com mais obstinação definir sua identidade e experimenta a angústia de encontrar um sentido para sua existência. Na foto, cena do filme canadense C.R.A.Z.Y., de 2005, que conta a história de um jovem tentando encontrar a si mesmo. M O V IE S TO R E C O LL E C TI O N L TD /A LA M Y /F O TO A R E N A R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 140