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Em 2020, George Floyd, um afro-americano, foi morto por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos. Sua morte causou protestos em todo o mundo e reacendeu o debate público sobre o racismo. Na foto, manifestantes pedem o fim da violência contra a população negra. Nova York, junho de 2020. A pílula anticoncepcional, lançada nos Estados Unidos no fim dos anos 1950, significou para as mulheres a possibilidade de ter maior controle sobre seu corpo e sua capacidade reprodutiva. Na imagem, foto de propaganda de contraceptivo de 1975. S C O TT H E IN S /G E TT Y IM A G E S B E TT M A N N /G E TT Y IM A G E S Outra característica desses movimentos diz respeito às suas formas de organização, que passam a ser descentrali- zadas e estruturadas em redes capazes de articular ações e mobilizações de forma mais dinâmica, abrangente e inte- grada. Atualmente, a internet mostrou-se uma importante ferramenta para esses movimentos, ao propiciar maior visibilidade para suas causas e facilitar a mobilização e a organização de grupos que, muitas vezes, encontram-se espalhados pelos territórios. Além disso, a internet possibi- litou que as denúncias de violação dos direitos das minorias alcançassem cada vez mais pessoas, em razão da facilidade com que as informações podem ser disseminadas. Em 2014, dois casos ocorridos nos Estados Unidos ga- nharam destaque na mídia internacional e nas redes sociais: o assassinato de Eric Garner, em Nova York, e de Michael Brown, no Missouri. Ambos eram afro-americanos e foram mortos pelas forças policiais, apesar de não terem come- tido nenhum crime. Os casos tiveram ampla repercussão na internet, e a hashtag “Black lives matter” (vidas negras importam) virou símbolo de luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos. Os novos movimentos sociais são agentes importantes na transformação das sociedades contemporâneas, pois muitos dos direitos existentes hoje são fruto de suas lutas e mobilizações históricas. Além disso, movimentos como o feminista, o negro, o LGBTI+, o estudantil e o ambien- talista marcaram a história do século XX ao evidenciarem que a organização coletiva pode promover mudanças importantes na sociedade. O movimento feminista: igualdade e reconhecimento O surgimento do movimento feminista remonta ao final do século XIX, com a organização do movimento sufragista em países como os Estados Unidos e o Reino Unido. O principal eixo de suas reivindicações era a igual- dade jurídica e política entre homens e mulheres e o re- conhecimento da mulher como cidadã. Ao sufrágio, foram se somando outras demandas, como o direito ao controle reprodutivo, à sexualidade, à educação e à participação no mercado de trabalho e na política. O Partido dos Panteras Negras foi fundado nos Estados Unidos em 1966. Composto de muitos jovens, enfatizava, entre outras coisas, a valorização da negritude. Na foto, manifestação dos Panteras Negras durante o julgamento de um dos fundadores do movimento, acusado da morte de um policial. Oakland, Califórnia, 17 de julho de 1968. U N K N O W N /T H E S A N F R A N C IS C O C H R O N IC LE /G E TT Y IM A G E S As conquistas das feministas também impactaram a composição e a organização das famílias contemporâ- neas. O aumento da participação das mulheres no mer- cado de trabalho, o acesso à escolarização, a ampliação de seus direitos, a possibilidade de controle reprodutivo, entre outros fatores, viabilizaram a produção de novos valores e princípios que incidiram sobre a dinâmica das famílias. A diminuição do número de filhos por casal, o declínio do papel do homem como o único provedor e a reivindicação de uma relação conjugal mais igualitária são desdobramentos da luta feminista na vida privada. Podemos considerar o movimento feminista um dos mais relevantes do século XX, porque suas críticas promoveram o entendimento de que as diferenças e as desigualdades que atingem as mulheres são fruto de construções históricas, culturais e sociais. Doc. 1 Professor, incentive seus alunos a pesquisar a vida e as causas de outros defensores dos Direitos Humanos e do meio ambiente que foram assassinados ou sofreram atos de violência ao longo da história, como Martin Luther King Jr., Mahatma Gandhi, Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang, Margarida Alves, entre tantos outros. Caso considere pertinente, organize-os em grupos e peça que criem uma performance de três a cinco minutos representando a luta das personalidades pesquisadas. Com antecedência, agende um dia para que os grupos se apresentem, a fim de que todos possam conhecer as motivações daquelas personalidades para terem se tornado líderes de movimentos, as ideias e/ou projetos que defenderam e os interesses que estiveram por trás do crime de que foram vítimas. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 116 Os estados do sul dos Estados Unidos criaram leis para restringir os direitos da população afrodescendente no acesso a escolas, locais públicos e transportes. Na foto, um branco e um negro bebem água em bebedouros separados. No letreiro, lê-se “Apenas para pessoas de cor”. B E TT M A N N /G E TT Y IM A G E S O movimento negro: não basta não ser racista, é preciso ser antirracista! Movimento negro é o nome dado a um conjunto de organizações e entidades que atuam na denúncia das desigualdades raciais e na defesa de uma sociedade antir- racista. Esses movimentos trazem também como pauta de reivindicação o reconhecimento e a valorização da identi- dade cultural e da história da população afrodescendente, que foram distorcidas ou apagadas pela história oficial. Questões • Depois de ler com atenção o texto, responda às questões. “Ideias racistas devem ser combatidas, e não relativizadas e entendidas como mera opinião, ideologia, imaginário, arte, ponto de vista diferente, divergência teórica. Ideias racistas devem ser repri- midas, e não elogiadas e justificadas. Não adianta dizer que hoje tudo é racismo, mostrando uma explícita ignorância histórica. Este país foi fundado no racismo, não tem nada de novo nisso. A mídia brasileira nem de longe reflete a diversidade de seu povo. E, para perceber isso, basta ligar a tele- visão ou folhear uma revista. [...] Algumas pessoas pensam que ser racista é somente matar, destratar com gravidade uma pessoa negra. Racismo é um sistema de opressão que visa negar direitos a um grupo, que cria uma ideologia de opressão a ele.” RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 39. a) Por que a filósofa brasileira Djamila Ribeiro defende a ideia de que o racismo precisa ser combatido? b) Como o racismo pode ser percebido na socie- dade brasileira? c) O que é ser racista, de acordo com o texto? Registre em seu caderno (BNCC) Competências específicas: 1, 5 e 6 Habilidades: EM13CHS102 EM13CHS502 EM13CHS503 EM13CHS601 EM13CHS603 EM13CHS606 Internacionalmente, durante o século XX, o movimento negro lutou contra as arbitrariedades e perseguições sofri- das pela população negra e defendeu o fim de políticas de segregação racial, como o regime do apartheid, implemen- tado na África do Sul em 1948, e as chamadas leis Jim Crow, existentes em vários estados do sul dos Estados Unidos, as quais legitimavam a discriminação e a segregação raciais. No Brasil, o movimento negro foi imprescindível para a denúncia e a problematização da questão racial no país ao longo do século XX. Sua atuação durante os debates na Assembleia Nacional Constituinte garantiu a proibição da discriminação racial na Constituição promulgada em 1988. Além disso, em 1989, com a promulgação da Lei 7.716, o racismo passou a ser oficialmente criminalizado. Nas últimas décadas, muitos grupos ligados ao movi- mento negro passaram a ter um papel ativo na denúncia das más condições de vidae das violências cometidas pelas instituições e pelo Estado brasileiro contra a população afrodescendente. O reconhecimento do racismo como algo inerente à estrutura social brasileira foi imprescindível para o estabele- cimento de políticas governamentais voltadas para a promo- ção da igualdade racial e para a reparação das desigualdades históricas. A conquista das políticas de ação afirmativa figura como um marco do movimento negro no processo de luta e reconhecimento pelos seus direitos no país. No Brasil, muitos intelectuais e artistas negros contribuíram para a visibilidade do racismo em nossa sociedade. Entre eles, destaca-se Sueli Carneiro, filósofa, militante feminista e do movimento negro, que se dedicou ao estudo da situação das mulheres negras no país. Foto de 2019. Z É C A R LO S B A R R E TT A /F O LH A P R E S S R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 117 Uma das maiores paradas do Orgulho LGBTI+ do mundo acontece na cidade de São Paulo. O evento movimentou, em 2019, mais de R$ 400 milhões na economia da capital paulista. Na imagem, manifestantes se concentram na Avenida Paulista, com a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento e da diversidade. São Paulo, junho de 2015. O que é interseccionalidade? Desde a década de 1970, estudos na área de gênero e das questões raciais apontam que as experiências de violência e as desigualdades sociais não atingem todas as mu- lheres da mesma forma. Desenvolvido pela jurista estadunidense Kimberlé Crenshaw, o conceito de interseccionalidade nas- ceu de sua militância no movimento negro dos Estados Unidos e da per- cepção de que as diferen- ças de sexo, raça, gênero, classe e orientação sexual não podem ser pensadas separadamente. D A N IE L C Y M B A LI S TA /P U LS A R IM A G E N S O movimento LGBTI+: a diversidade sexual em pauta A história do movimento em defesa dos direitos dos homossexuais remete ao con- texto de mudanças e questionamentos iniciados nas décadas de 1960 e 1970. O movimento, identificado a princípio pela sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizan- tes), provocou transformações importantes nas relações sociais ao trazer as questões do preconceito, da homofobia e da diversidade sexual para a pauta de debate público. Ao longo das últimas décadas, a sigla passou por adaptações, refletindo as mudanças experimentadas e, ao mesmo tempo, promovidas pelo movimento, que passou a dar visibilidade e reconhecimento político a outras formas de identidade de gênero e orien- tação sexual. Hoje, ele é mais comumente identificado pela sigla LGBTI+ (Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti, Transexual e Intersexual), acrescida do símbolo + para incorporar outras formas de orientação sexual e de gênero. Durante muito tempo e em muitos países, a homossexualidade foi criminalizada ou tratada como doença mental, e o seu entendimento esteve obscurecido por precon- ceitos e tabus. Foi somente depois de anos de mobilização que o movimento LGBTI+ conseguiu que o Estado e as entidades médicas reconhecessem que a orientação sexual do indivíduo é inata – não depende de sua escolha – e não pode ser curada, porque não é uma doença. No Brasil, em 2020, o Supremo Tribunal Federal determinou ilegal qualquer tipo de prática que trate a orientação sexual como patologia ou que busque mecanismos ou tratamento para a mudança da orientação sexual dos indivíduos. O movimento começou a ser organizado no Brasil a partir dos anos 1970, e ao longo de sua história alcançou vitórias significativas, como o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo, a criminalização da homofobia, o uso do nome social e o direito à adoção para casais homoafetivos. Doc. 2 O movimento estudantil: a vez e a voz dos jovens A partir da segunda metade do século XX, os estudantes e a juventude assumiram um papel central no processo de mudanças das sociedades. No Brasil, o movimento es- tudantil atuou na luta contra o autoritarismo e a violência praticados pelo regime militar nas décadas de 1960 e 1970. Na França, em maio de 1968, os estudantes aliaram-se aos trabalhadores e tomaram as ruas da capital francesa exigindo ampla pauta de mudan- ças, que iam desde uma reforma educacional até a superação do sistema capitalista. Professor, oriente seus alunos a pesquisar nomes de pensadores, artistas e ativistas negros brasileiros, como Abdias do Nascimento, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Djamila Ribeiro, entre outros. Caso julgue interessante, você pode organizar os alunos em trios e pedir que façam uma pequena biografia ilustrada sobre as personalidades pesquisadas. Caso seja possível, monte uma galeria no corredor da escola ou em sala de aula para que compartilhem os novos conhecimentos com outros estudantes. 118 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Jovens em manifestação contra a proposta de limitação de gastos públicos em saúde e educação, em São Paulo (SP), 2016. C R IS F A G A /N U R P H O TO /A FP Entre as pautas de luta do movimento estudantil, a defesa da educação pública é uma das mais importantes. Porém, em momentos críticos da vida nacional, acontece de o movimento estudantil alargar sua participação política e unir-se a outros setores da sociedade para pressionar o poder público por reformas mais profundas. O movimento estudantil geralmente é composto de numerosos grupos de estudantes vinculados aos grêmios escolares e aos centros acadêmicos universitários. Seu caráter multifacetado e dinâmico confere ao movimento a possibilidade de integrar várias outras frentes de luta, como o feminismo, o movimento negro e o LGBTI+, e de defesa dos Direitos Humanos ou do meio ambiente. O movimento ambientalista: pelo direito ao meio ambiente O movimento ambientalista é, segundo o sociólogo Manuel Castells, um dos movi- mentos sociais mais bem-sucedidos de nosso tempo. Ao longo das últimas décadas, ele conseguiu promover importantes reflexões sobre a economia, a sociedade, o consumo e a natureza. Além disso, suas críticas, propostas e ações viabilizaram o surgimento de novos hábitos, práticas e valores individuais, bem como influenciaram diretamente na formulação de políticas públicas relativas ao meio ambiente. Questões • Leia o texto e responda às questões. “O ambientalismo não pode ser considerado meramente um movimento de conscientização. [...] Em nível local e regional, os ambientalistas organizaram campanhas em defesa de novas formas de planejamento urbano e regional, medidas de saúde pública e controle sobre o desenvolvimento desenfreado. É [...] essa atitude que procura dar ênfase à resolução de questões, que vem proporcionando ao ambientalismo uma vantagem em relação à política internacional: as pessoas percebem que são capazes de exercer influência sobre decisões importantes aqui e agora, sem que para isso seja necessário qualquer tipo de mediação ou postergação.” CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 163. a) Por que, para o autor, o movimento ambientalista não pode ser consi- derado apenas um movimento de conscientização? b) De acordo com o texto, quais foram as principais contribuições dadas pelo movimento ambientalista? Registre em seu caderno (BNCC) Competência específica: 5 Habilidades: EM13CHS502 EM13CHS503 EM13CHS504 Um dos primeiros movimentos ambientalistas a se organizar foi o Greenpeace, quando um gru- po de doze ativistas realizou um protesto contra testes nucleares na costa do Alasca, Estados Uni- dos, em 1971. Na foto, um ativis- ta do Greenpeace tinge de verde a pelagem de um filhote de foca para inutilizá-la para caçadores de peles. Golfo de São Lourenço, Canadá, 1982. TO M S TO D D A R T/ G E TT Y IM A G E S 119 R ep ro d uç ãop ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . (BNCC) Competências específicas: 1 e 3 Habilidades: EM13CHS106 EM13CHS301 EM13CHS304 Criar uma hashtag • Registre, por meio de foto ou desenho, exem- plos de problemas am- bientais em sua cidade, bairro ou vizinhança. Com seus colegas de turma, crie um espaço virtual e uma hashtag para que vocês possam compartilhar essas ima- gens e evidenciar os im- pactos ambientais no local onde vivem. FA B R IC E C O FF R IN I/ A FP Jovens ativistas ambientais lideraram uma manifestação paralela ao Fórum Econômico de Davos, reivindicando ações dos governantes em relação ao aquecimento global. No centro, a ativista sueca Greta Thunberg. Davos, Suíça, 2020. O movimento ambientalista organizado surgiu nos anos 1960 nos Estados Unidos e no norte da Europa, motivado pelas numerosas denúncias de agressões contra o meio ambiente e pela luta pacifista e antinuclear. Os recorrentes casos de desastres ambientais e o aumento da poluição evidenciavam que o modelo de desenvolvimento imposto pelo capitalismo gerava efeitos danosos aos seres vivos e ao meio ambiente, colocando toda a humanidade em risco. O movimento ambientalista é composto de uma grande diversidade de grupos que se dedicam à defesa do meio ambiente. Sua organização ocorre de forma descentralizada e por meio da criação de redes, o que faz com que ele consiga abarcar diversos segmentos sociais e agir em diferentes frentes. Desde o início da década de 1970, acompanhando uma tendência internacional, a causa ambiental já mobilizava segmentos da sociedade civil brasileira. Entretanto, foi a partir da redemocratização, na década de 1980, que ele ganhou força e se expandiu, atuando energicamente frente ao Estado no sentido de denunciar e cobrar medidas e ações voltadas para a resolução dos problemas ambientais que assolam o país. Para assistir Raça humana Direção: Dulce Queiroz País: Brasil Ano: 2010 Duração: 42 min Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo>. Acesso em 14 jun. 2020. Documentário que retrata a polêmica em torno da questão das cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, a partir da realidade da Universidade de Brasília. As sufragistas Direção: Sarah Gavron País: Reino Unido Ano: 2015 Duração: 106 min O filme retrata a luta das mulheres por reconhecimento, direitos e igualdade na Inglaterra do início do século XX. Para ler Eu sei por que o pássaro canta na gaiola Autora: Maya Angelou. São Paulo: Astral Cultural, 2018. Com um relato autobiográfico emocionante, a autora retrata as dificuldades e os preconceitos vividos por uma menina negra nos Estados Unidos nas décadas de 1930 e 1940. Pacifismo: movimento que prega o desarmamento e se opõe aos conflitos armados. 120 R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo