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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA .................. 5 3 A SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA: AVANÇOS E PERSPECTIVAS ...................................................................... 8 3.1 Avanços e perspectivas ................................................................................ 12 4 A ATUAÇÃO ABRANGENTE DO NEUROPSICOPEDAGOGO: AVALIAÇÃO, INTERVENÇÃO E PREVENÇÃO NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM INSTITUCIONAIS ......................................................................................... 12 4.1 Neuropsicopedagogia: atuação profissional ................................................. 14 4.2 Neuropsicopedagogo Institucional ................................................................ 15 4.3 O aspecto inclusivo da atuação do Neuropsicopedagogo ............................ 16 4.4 Neuropsicopedagogo Clínico ........................................................................ 18 4.5 O Neuropsicopedagogo e a Educação Inclusiva .......................................... 19 4.6 Neuropsicopedagogo no contexto da Consciência Fonológica .................... 20 4.7 Ética Profissional do Neuropsicopedagogo .................................................. 22 5 A IMPORTÂNCIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO COMPREENDIMENTO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA LÍMBICO E A FUNÇÃO CONATIVA ................................................................................................... 25 5.1 Sistema Límbico e sua importância na aprendizagem ................................. 26 5.2 Explorando as funções conativas em profundidade ..................................... 31 5.2.1 Estudos sobre funções conativas e aprendizagem ...................... 36 6 NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROPSICOLOGIA E NEUROCIÊNCIA: INTERSECÇÕES E SINGULARIDADES ..................................................... 39 6.1 O conceito amplo da Neuropsicopedagogia ................................................. 40 6.2 Neuropsicologia ............................................................................................ 40 6.3 Neurociência ................................................................................................. 41 7 A ABORDAGEM NEUROPSICOPEDAGÓGICA NO CONTEXTO ATUAL ... 42 7.1 Integração de Conhecimentos Interdisciplinares .......................................... 43 7.2 Avaliação e Intervenção Personalizada ........................................................ 44 7.3 Apoio Institucional e Clínico .......................................................................... 44 7.4 Adaptações Curriculares e Suporte Educacional.......................................... 44 7.5 Relevância no Cenário Atual ........................................................................ 44 7.6 Impacto da Tecnologia na Educação............................................................ 45 7.7 Saúde Mental e Educação ............................................................................ 45 7.8 Educação Inclusiva ....................................................................................... 45 8 INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA EM CRIANÇAS COM TDAH 45 8.1 Abordagem geral da avaliação do TDAH...................................................... 47 8.2 Avaliação neuropsicopedagógica .................................................................... 47 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 49 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para ser esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA O próprio termo neuropsicopedagogia nos remete à combinação dos campos pedagógico, psicológico, sociológico e antropológico. Observa-se que a neuropsicopedagogia é um domínio do conhecimento que se integra harmoniosamente com outras disciplinas e princípios das ciências humanas, enfatizando a aprendizagem significativa e as interações como fatores cruciais no desenvolvimento das habilidades cognitivas. Com efeito, a neuropsicopedagogia origina-se do vasto conjunto teórico- metodológico das Neurociências. No entanto, o Art. 10.º do Código de Ética Técnico- Profissional da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia a define como: A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar fundamentada nos conhecimentos da neurociência aplicada à educação com interfaces da pedagogia e da psicologia cognitiva que têm como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional (ARTIGO 10 – RESOLUÇÃO SBNPP n. º 03/2014). Reconhecida como a Ciência da Aprendizagem, a neuropsicopedagogia sustenta a hipótese de que a evidência científica desempenhará um papel crucial na elevação dos níveis de qualidade e desenvolvimento educacional. Políticas públicas no setor da saúde, fundamentadas em estudos científicos que promoveram transformações globais, servem como base para avaliar a eficácia da pesquisa com o objetivo de oferecer soluções relevantes para a sociedade contemporânea. [...] é inegável que o mundo (o Brasil inclusive) vivenciou uma queda na mortalidade infantil, controle da maioria das doenças infectocontagiosas de alta morbidade, inovações revolucionárias nas tecnologias diagnóstica de imagens, nas ferramentas terapêuticas com fármacos, nas técnicas operatórias e na prevenção de doenças por medidas sanitárias de alcance social. Como resultado um grande aumento na expectativa de vida da população pôde ser observado na maioria dos países (LENT et al.,2018). É relevante acrescentar que, para alcançar esse status, a política científica americana do pós-guerra teve uma contribuição significativa, pois seu objetivo era manter a paz utilizando a ciência para combater doenças que poderiam causar um número de mortes muito maior do que as grandes guerras. Uma vez consolidada a importância do caráter científico, a neuropsicopedagogia reconhece que o papel das Neurociências é desenvolver soluções para os desafios relacionados à aprendizagem, 6 visto que essa disciplina relaciona o funcionamento do sistema nervoso aos contextos de ensino e aprendizagem. O objetivo das Neurociências é a compreensão de como o fluxo de sinais elétricos, através de circuitos neurais, origina a mente –como percebemos, agimos, pensamos, aprendemos e lembramos. Embora ainda estejamos muitas décadas distantes de alcançar tal nível de compreensão, os neurocientistas têm feito progressos significativos na obtenção acerca dos mecanismos subjacentes ao comportamento, os sinais de saída que podem ser observados em relação ao sistema nervoso de seres humanos e outros organismos (KANDEL etal., 2014). Dessa forma, são necessárias interfaces que permitam acessar o ambiente escolar de maneira eficaz, proporcionando soluções reais e práticas. Concordamos, portanto, com a pesquisadora Tracey Tokuhama-Espinoza, que destaca a importância de "os conhecimentos produzidos pelas Neurociências em seus laboratórios chegarem às instituições de ensino através da Pedagogia" (Palestra proferida no Congresso Aprender Criança de 2016). A Pedagogia, frequentemente subvalorizada em nosso país, ressurge no cenário educacional, impulsionada pela necessidade de desenvolvimento de pesquisas relacionadas à aprendizagem. Pesquisadores como José Carlos Libâneo, Demerval Saviani e Selma Garrido Pimenta (2011), defendem a Pedagogia como a ciência da educação. Já os doutrinadores Libâneo e Pimenta (2011) enfatizam a necessidade de capacitar tanto o pedagogo quanto o professor para atuar em qualquer contexto onde haja uma ação educativa. A necessidade da Pedagogia para compreender a educação é confirmada quando ela sistematiza e apresenta o aspecto histórico que a constitui, evidenciando que: Quando um povo alcança um estágio complexo de organização da sua sociedade e de sua cultura, quando ele enfrenta, por exemplo, a questão da divisão social do trabalho e, portanto, do poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema as formas e os processos de transmissão do saber. E é a partir de então que a educação emerge à consciência e o trabalho de educar acrescenta à sociedade, passo a passo, os espaços, sistemas, tempos, regras de prática, tipos de profissionais e categorias de educandos envolvidos em exercícios de maneiras cada vez menos corriqueiras e menos comunitárias do ato, afinal tão simples, de ensinar-e-aprender (BRANDÃO, 2013). O doutrinador Libâneo (2001) aduz que: 7 A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico- profissionais, investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa o entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação (LIBÂNEO, 2001). A Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, amplamente estudada nos cursos de Pedagogia, há muito tempo discute como o ser humano aprende, sendo outro aspecto crucial para a compreensão dos processos educacionais. Com o advento das Neurociências, Oliveira e Lent (2018) indicam que "o desenvolvimento humano é uma gigantesca e fascinante transformação do cérebro e de suas funções (...) que emergem ainda durante a gestação, e estende-se do nascimento por toda a vida, de modo infindável, que só acaba com a morte do indivíduo." A partir dos aspectos filosóficos, históricos, psicológicos e sociais da Educação, surge a necessidade de um espaço responsável pela inserção do ser humano nos conhecimentos acumulados ao longo da existência da humanidade, além da família, da religião e da comunidade em geral. Esse espaço são as instituições de ensino, que acolhem os indivíduos em sua inserção contínua e gradual na sociedade, desde o nascimento até a vida adulta (BRANDÃO, 2005). À luz do funcionamento do sistema nervoso, as Neurociências estudam as alterações nos processos de desenvolvimento e aprendizagem à medida que o indivíduo evolui. Assim, ao considerar sua relação com a educação, podemos compreender como cada pessoa assimila e utiliza os conteúdos das disciplinas escolares, como numerosidade, leitura e suas dificuldades, aritmética, além das funções executivas na infância e adolescência em relação ao desenvolvimento escolar (BARTOSZECK, 2021). Portanto, as formas de planejar e propor experiências pedagógicas para o ser humano, que são amplamente estudadas pelas Neurociências, requerem uma interface que dialogue com o eixo científico da neuropsicopedagogia para relacionar e interagir com o ambiente e as informações dele provenientes. Nesse sentido, a Psicologia pode contribuir significativamente ao abordar as teorias do desenvolvimento e da aprendizagem humana. Segundo Sternberg (2010), a Psicologia Cognitiva estuda como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação, concentrando-se nos processos internos envolvidos em extrair sentido do ambiente e decidir quais ações são apropriadas. Esses processos 8 incluem atenção, percepção, aprendizagem, memória, linguagem, resolução de problemas, raciocínio e pensamento (EYSENCK e KEANE, 2007). É a partir dessa relação entre Neurociências, Pedagogia e Psicologia Cognitiva que a neuropsicopedagogia se dedica à produção de evidências científicas para o sucesso escolar, empregando um método transdisciplinar como diferencial. [...] a transdisciplinaridade, como o prefixo ‘trans’ indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual dos imperativos é a unidade do conhecimento (NICOLESCU, 1999). À vista desse panorama, em síntese, a neuropsicopedagogia baseia-se em ações avaliativas e intervencionais nos processos de aprendizagem do aluno e, para isso, requer informações multidisciplinares que contribuam para uma compreensão mais detalhada e aprofundada do processo de aprendizado de cada estudante. nesse contexto, a neuropsicopedagogia, ao integrar conhecimentos neurocientíficos, psicológicos e pedagógicos, desempenha um papel crucial na prevenção, pois avalia e auxilia nos processos que envolvem aspectos didáticos e metodológicos, bem como na dinâmica escolar, visando aprimorar o processo de ensino e aprendizagem (HENNEMANN, 2012). Um exemplo fascinante da neuropsicopedagogia em prática é a aprendizagem com intervalos. Essa abordagem pedagógica baseia-se em teorias neurocientíficas que sugerem que a estimulação repetida das vias neurais associadas à memória pode melhorar a aprendizagem e a retenção de informações. 3 A SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA: AVANÇOS E PERSPECTIVAS A assessoria neuropsicopedagógica é regulamentada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, a qual define duas principais áreas de atuação, a saber: o campo institucional e o campo clínico. De acordo com o art. 29 do Código de Ética Técnico Profissional do Neuropsicopedagogo, os profissionais com formação no campo institucional atuam exclusivamente em ambientes escolares ou em instituições de atendimento coletivo. Eles integram a equipe técnico-pedagógica e o corpo docente, colaborando na 9 construção de projetos de trabalho em áreas de conhecimento formal, orientando estudos interdisciplinares e promovendo a prevenção da qualidade de vida por meio de campanhas internas voltadas à saúde, educação e lazer. É importante destacar que a prática do neuropsicopedagogo é fundamentada em uma metodologia que integra teoria e prática psicopedagógica. Sobre o tratamento e a assessoria psicopedagógicos, deve-se identificar a fragmentação dos conhecimentos, as atitudes pedagógicas, a construção que o aluno reproduz da imagem do professor e vice-versa, sobre a ideologia da realidade, dos mitos e símbolos, na direção da implantação de recursos preventivos no cotidiano escolar, assim como da investigação de diferentes metodologias sócio-pedagógicas, histórico-antropológicas e etnológico- educativas (SILVEIRA, 2019). Nas instituições, o neuropsicopedagogo desempenha a crucial função de disseminar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e estabelecer normas de conduta dentro de um projeto social mais amplo, buscando minimizar a necessidade de repressão. Os procedimentos de adaptação curricular voltados para uma perspectiva inclusivade educação devem estar presentes no Projeto Político-Pedagógico (PPP) escolar. Esses procedimentos devem incentivar a relação professor/aluno, especialmente nas dificuldades de comunicação dos alunos, e incluir a utilização de sistemas alternativos de ensino, como Língua de Sinais, Sistema Braille, e Sistema Bliss, entre outros. A interação entre colegas deve ser marcada por atitudes positivas de cooperação, e os alunos devem ser agrupados de forma a favorecer as relações sociais e o processo de ensino-aprendizagem. O trabalho do professor de sala de aula, junto com professores de apoio ou outros profissionais envolvidos, deve ser cooperativo, interativo e com papéis bem definidos. A organização do espaço e dos aspectos físicos da sala de aula deve ser funcional, otimizando a utilização dos recursos. A seleção, adaptação e utilização de recursos materiais, equipamentos e mobiliários devem favorecer a aprendizagem de todos os alunos em uma perspectiva inclusiva de educação. A Psicopedagogia surgiu na interseção entre a Pedagogia e a Psicologia, originada pela necessidade de atender crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas no sistema educacional convencional. 10 No momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, sociologia, antropologia, linguística, epistemologia, o campo da psicopedagogia passa por uma reformulação. De uma perspectiva puramente clínica e individual, busca-se uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva (KIGUEL apud BOSSA, 2000). Nos espaços do terceiro setor, como as ONG’s (Organizações Não- Governamentais), o neuropsicopedagogo pode atuar de maneira psicopedagógica ao desenvolver projetos interdisciplinares voltados para as dificuldades de aprendizagem dos educandos. Suas atividades incluem realizar triagens para encaminhamentos a profissionais da saúde quando necessário e inserir crianças e adolescentes em oficinas pedagógicas para acompanhar e melhorar o desempenho da aprendizagem em relação às dificuldades apresentadas. No âmbito das intervenções do neuropsicopedagogo clínico, a avaliação deve ter como principal objetivo identificar o desenvolvimento e a aprendizagem do educando, com foco na atenção, nas funções executivas relacionadas ao comportamento, na linguagem, na compreensão leitora, na memória dos processos de ensino e aprendizagem, na motivação intrínseca e extrínseca, nas estratégias de aprendizagem, no desenvolvimento neuromotor, nas habilidades matemáticas e nas habilidades sociais de interação interpessoal. Portanto, o neuropsicopedagogo atua em equipes multiprofissionais em consultórios, clínicas, postos de saúde e no terceiro setor, realizando avaliações e intervenções em crianças e adolescentes com dificuldades escolares. Este trabalho envolve enfrentar o insucesso escolar e o baixo rendimento, assim como lidar com as múltiplas implicações para a autoavaliação da criança, para a família, professores e comunidade, constituindo-se em uma tarefa complexa e desafiadora que ainda não possui uma solução definitiva, apontando para a necessidade de buscar alternativas que possam minimizar tais situações. O arcabouço teórico que sustenta a formação do neuropsicopedagogo institucional e clínico está estreitamente relacionado à neurociência e à educação. Para compreender os mecanismos do aprendizado, é fundamental entender o funcionamento do sistema nervoso e a organização dos nossos comportamentos e emoções. A interação entre os 86 bilhões de neurônios do cérebro forma redes neurais que nos permitem aprender o que é significativo e relevante para a vida. 11 Cada tipo de habilidade ou comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em particular. Assim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam a percepção visual e auditiva, à compreensão e a capacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de movimento, e assim por diante (RELVAS, 2010). Na avaliação neuropsicopedagógica clínica, é possível utilizar testes e escalas padronizadas para a população brasileira, visando avaliar a aprendizagem adquirida. Além disso, a observação clínica, lúdica e do material escolar é empregada para formular a hipótese diagnóstica. O contato com a escola, a família e outros profissionais envolvidos é essencial para compreender o quadro e desenvolver um projeto de intervenção adequado a cada caso específico. É importante ressaltar que, tanto no campo institucional quanto no clínico, a atuação do neuropsicopedagogo mantém como objetivo central o saber-fazer. Especialmente na avaliação inicial, é fundamental elaborar hipóteses diagnósticas que considerem os aspectos orgânicos, afetivo-cognitivos, psicológicos e familiares do sujeito, bem como sua relação com o processo de aprendizagem. Na escola, a avaliação pode se concentrar na dinâmica professor/aluno, na metodologia de ensino e na instrumentalização didática, embora essa análise seja mais desafiadora devido ao número de alunos envolvidos. Portanto, as intervenções neuropsicopedagógicas visam assessorar e criar condições para que a aprendizagem ocorra de forma satisfatória, estimulando áreas que possam estar comprometendo esse processo. Inicialmente, as intervenções têm um caráter preventivo e, em seguida, tornam-se reeducativas, sendo desenvolvidas em clínicas ou consultórios psicológicos para identificar os motivos subjacentes aos problemas de aprendizagem. Referidos problemas podem incluir déficits intelectuais, incapacidades físicas ou sensoriais, dificuldades de adaptação, imaturidade psicomotora, falta de pré- requisitos para a alfabetização, métodos de ensino inadequados, fatores emocionais e dislexia, entre outros. O objetivo é solucionar os problemas de aprendizagem, com foco no aluno, por meio de diagnóstico e intervenção psicopedagógica utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias da psicopedagogia institucional. 12 3.1 Avanços e perspectivas Com quase duas décadas de existência, a neuropsicopedagogia no Brasil tem se expandido no campo da neuroeducação, tanto como uma área de conhecimento quanto como uma profissão em destaque, contando com aproximadamente 3060 associados na SBNPp. Essa expansão é fundamental para a sociedade, já que a neuropsicopedagogia trabalha com transformações neurobiológicas embasadas cientificamente e estratégias cognitivas e metacognitivas. Foi essa instituição que conquistou o reconhecimento das profissões de neuropsicopedagogo institucional e neuropsicopedagogo clínico em março de 2018, sendo oficializadas por portaria ministerial em julho de 2019. O LIEENP (Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos neuropsicopedagógicos) da Faculdade Censupeg é o primeiro Laboratório Nacional de Pesquisas em neuropsicopedagogia, com uma longa história na Faculdade São Fidélis/RJ e atualmente situado em Joinville/SC, dentro da Faculdade Censupeg. Ele é uma referência para novos estudos brasileiros, a padronização de instrumentos de avaliação e testes específicos, visando agregar valor à formação qualificada e contínua do neuropsicopedagogo por meio de palestras, seminários e congressos que contribuem para a divulgação ética dos objetivos da neuropsicopedagogia, aprimorando os processos de ensino e aprendizagem. 4 A ATUAÇÃO ABRANGENTE DO NEUROPSICOPEDAGOGO: AVALIAÇÃO, INTERVENÇÃO E PREVENÇÃO NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM INSTITUCIONAIS A neuropsicopedagogia emergiu com o propósito de identificar e apoiar estudantes que enfrentam desafios na aprendizagem, enquanto busca compreender o funcionamento do cérebro e desenvolver os métodos mais eficazes para ajudá-los. Segundo Cosenza e Guerra (2011), a neurociência não apresenta uma nova pedagogia nemsoluções prontas para as dificuldades de aprendizagem; no entanto, ela oferece orientações valiosas para a prática pedagógica, elucidando o funcionamento cerebral. Destaca-se que a plasticidade cerebral se refere à capacidade do sistema nervoso de estabelecer e modificar conexões entre os neurônios em resposta à 13 interação contínua com o ambiente interno e externo do corpo. Nesse contexto, Cosenza e Guerra também afirmam que: Se os comportamentos dependem do cérebro, a aquisição de novos comportamentos, importante objetivo da educação, também resulta de processos que ocorrem no cérebro do aprendiz. As estratégias pedagógicas promovidas pelo processo ensino aprendizagem, aliadas às experiências de vida às quais o indivíduo é exposto, desencadeiam processos como a neuroplasticidade, modificando a estrutura cerebral de que aprende. Tais modificações possibilitam o aparecimento dos novos comportamentos, adquiridos pelo processo da aprendizagem. (COSENZA e GUERRA, 2011) Assim, apenas mediante essa compreensão torna-se viável abordar integralmente o contexto envolvendo o aluno, considerando aspectos como memória, capacidade de aprendizado e os vínculos afetivos com professores, colegas e familiares. Identificar e desenvolver novos métodos de aprendizagem que resultem em uma memória eficaz é essencial. Dessa forma, o processo de aprendizagem ocorre por meio de estímulos provenientes tanto do ambiente interno quanto do externo, adaptados a cada indivíduo e ao seu ritmo próprio. Considerando que cada pessoa está imersa em ambientes distintos e, portanto, vivencia experiências diversas, é fundamental, como ressaltado por Maluf (2003), analisar a idade e o estágio de desenvolvimento cerebral do aluno, pois esses aspectos são cruciais para o sucesso educacional. Nesse contexto, cabe ao neuropsicopedagogo promover um ensino inclusivo, onde todos os alunos, independentemente de suas deficiências, sejam integrados, preparando-os para a vida em sociedade. Isso implica em adotar uma abordagem inovadora na construção do conhecimento, mesmo diante das dificuldades de aprendizagem, tornando-se uma especialidade fundamental para auxiliar os alunos a superar suas adversidades. O Código de Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, em seu capítulo III, que trata do exercício das atividades, das responsabilidades e da promoção profissional, conforme estabelecido na resolução SBNPp n° 03/2014, enfatiza: 1°. Entende-se que sua atuação na área de Institucional, ou de educação especial, de educação inclusiva escolar deve contemplar: a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem do aluno; c) 14 Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização (BRASIL, 2014). 4.1 Neuropsicopedagogia: atuação profissional O pós-graduado em Neuropsicopedagogia irá adquirir um conhecimento aprofundado sobre o funcionamento do cérebro humano e suas transformações ao longo do desenvolvimento, bem como a maneira como este se manifesta em situações cotidianas. De acordo com o doutrinador Ribas (2006): [...], uma visão progressiva das complexidades nervosa e comportamental ao longo da evolução das espécies, a análise filogenética da própria conceituação de termos como consciência e psiquismo, principalmente por propiciar especulações sobre os possíveis paralelos comportamentais existentes entre as diferentes espécies e o próprio ser humano. Considerando que a neuropsicopedagogia é uma ciência dedicada aos estudos educacionais, promovendo a troca de informações entre a pedagogia e a psicologia e enfatizando a aprendizagem humana, busca-se a inclusão do indivíduo na sociedade. Nesse contexto, para Beauclair (2009): O campo de estudo da Psicopedagogia está focado no próprio ato de aprender e ensinar, percebendo que é necessário considerar simultaneamente aspectos da realidade interna e da realidade externa da aprendizagem, visando compreender as dimensões sociais, subjetivas, afetivas e cognitivas que interagem dialeticamente na constituição do sujeito que se movimenta na complexidade inerente ao processo de conhecer (BEAUCLAIR, 2009). Além disso, Bossa (2007) afirma que a psicopedagogia: Se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda o problema de aprendizagem. Como se preocupa com esse problema, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem, estudando assim as características da mesma (BOSSA, 2007). Portanto, nessa perspectiva, torna-se essencial o trabalho do neuropsicopedagogo diante das dificuldades de aprendizagem, visando preveni-las para evitar o fracasso escolar. Para isso, é necessário que esse profissional não se concentre apenas no aluno, mas também observe a prática pedagógica do professor e a aplicação do aprendizado na prática (BARBOSA, 2001). 15 Diante desse contexto, a atuação do neuropsicopedagogo envolve características bem definidas que incluem prevenção, avaliação, orientação, encaminhamento e acompanhamento ao longo do desenvolvimento do aluno, com o objetivo de monitorar e apoiar seu progresso de forma positiva. A partir dessas observações, o neuropsicopedagogo pode solicitar que um psicólogo elabore um laudo detalhado e seguro para o paciente (CIASCA, 2003). 4.2 Neuropsicopedagogo Institucional O profissional em neuropsicopedagogia pode atuar tanto no âmbito escolar quanto no clínico, compreendendo melhor o funcionamento do cérebro, a plasticidade cerebral, os transtornos do neurodesenvolvimento, as síndromes, e as metodologias de ensino e aprendizagem voltadas para o fenômeno do aprender e suas dificuldades (BARBOSA, 2001). No art. 15º do código de ética, fica evidenciado que: O Neuropsicopedagogo fará sua atuação dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos quais presta serviços (SBNPp nº 00.001, 2014). Quando mencionado o Neuropsicopedagogo Institucional, faz-se referência ao profissional que, ao obter tal qualificação, desempenha suas atividades no ambiente das instituições escolares, oferecendo suporte à equipe técnico-pedagógica e ao corpo docente (DEHAENE, 2012). De acordo com o doutrinador Silveira (2019): Sobre o tratamento e a assessoria psicopedagógicos, deve-se identificar a fragmentação dos conhecimentos, as atitudes pedagógicas, a construção que o aluno reproduz da imagem do professor e vice-versa, sobre a ideologia da realidade, dos mitos e símbolos, na direção da implantação de recursos preventivos no cotidiano escolar, assim como da investigação de diferentes metodologias (SILVEIRA, 2019). O papel do neuropsicopedagogo institucional é de grande relevância, pois por meio de seus conhecimentos, desempenha a crucial função de compartilhar os conhecimentos disponíveis, promovendo o desenvolvimento cognitivo e potencializando as habilidades dos alunos. É essencial uma comunicação direta com todos os envolvidos nesse processo, incluindo não apenas a equipe pedagógica, mas principalmente a família, para que juntos possam oferecer suporte à criança com dificuldades de aprendizagem e necessidades especiais (DEHAENE, 2012). 16 4.3 O aspecto inclusivo da atuação do Neuropsicopedagogo A inserção da inclusão escolar no panorama da história da educação brasileira representa um desenvolvimento recente nos dias atuais. Esse processo inclusivo abrange múltiplas esferas institucionais e políticas, uma vez que a inclusão não é apenas uma responsabilidade da escola, mas também reflete todo um contexto social e familiar. A educação especial desempenhou um papel crucialcomo precursora da educação inclusiva em um contexto mais amplo. Ao longo do século XX, a educação especial passou por mudanças significativas. Impulsionada pelos movimentos sociais que clamavam por maior igualdade entre todos os cidadãos e pela eliminação de qualquer forma de discriminação, gradualmente se integrou ao sistema educacional regular. Buscou-se, então, estratégias que facilitassem a inclusão dos alunos com deficiência. Paralelamente, ocorreu uma profunda reflexão no campo educacional, levando a uma abordagem mais interativa dos problemas enfrentados por esses alunos, com a escola assumindo sua responsabilidade diante das dificuldades de aprendizagem que enfrentavam. O surgimento do conceito de necessidades educacionais especiais e o reconhecimento da importância de a escola se adaptar à diversidade de seus alunos foram reflexos dessas novas realidades (COLL; MARCHES e PALACIOS, 2004). A evolução da educação especial em direção à inclusão foi um processo gradual, marcado pela transição de um modelo segregacionista para uma abordagem inclusiva, que proporcionou oportunidades educacionais para aqueles que anteriormente eram excluídos do ambiente escolar considerado "normal". A escola emergiu como uma das principais defensoras da inclusão. Nesse contexto, as escolas que priorizam a diversidade dos alunos e adaptam suas práticas educacionais para atender a esse objetivo são as que conseguem uma integração mais eficaz. No entanto, esse processo implica em uma reformulação significativa. A partir desses princípios, Carvalho (1997) nos leva a refletir sobre o verdadeiro papel da escola: [...] Todas as escolas deveriam acomodar todas as acrianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou 17 marginalizados... No contexto destas Linhas de Ação o termo “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem... As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves (CARVALHO, 1997). O propósito de estabelecer escolas inclusivas implica em uma reformulação profunda do sistema educacional, que transcende a simples reforma da educação especial. Embasado nessa perspectiva de reforma, em agosto de 2015, o governo federal promulgou a Lei Brasileira de Inclusão, uma iniciativa que engloba medidas destinadas a capacitar espaços de todos os tipos para acolher, comunicar e integrar pessoas com deficiência. Essa legislação está alinhada com as diretrizes da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU). As autoras Honora e Frizanco (2008) elucidam esses princípios da inclusão escolar: [...] O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola (HONORA e FRIZANCO, 2008). A presença da escola inclusiva é uma realidade atual no cenário educacional contemporâneo, e a lei é bastante enfática quanto à sua aplicação, exigindo que a instituição escolar e seus colaboradores incorporem nos processos pedagógicos de trabalho a inclusão do aluno com alguma forma de limitação, seja ela intelectual, sensorial ou física. Neste contexto, o Projeto Político-Pedagógico (PPP) escolar pode implementar adaptações significativas para facilitar o acesso ao currículo. Essas adaptações incluem modificações nos elementos físicos e materiais do ensino, bem como na capacitação dos professores para trabalhar com alunos que apresentam dificuldades e limitações de aprendizagem. Referidas modificações podem ser planejadas como alterações espaciais, materiais de comunicação e outros recursos que auxiliem os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolverem suas habilidades e competências em um currículo escolar que atenda às suas reais necessidades. 18 Ademais, o papel do neuropsicopedagogo é promover processos educacionais inclusivos e conscientizar a comunidade escolar de que o conceito de inclusão não significa adequar ou normatizar os alunos de acordo com as características da maioria, mas sim proporcionar a possibilidade de participação, convivência e respeito às diferenças. É importante destacar que o documento que orienta a educação inclusiva é a Declaração de Salamanca, que se configura como uma Declaração de Direitos e uma proposta de ação. Esta surgiu na Conferência Mundial, patrocinada pela UNESCO, em junho de 1994, em Salamanca, na Espanha, com o objetivo de garantir os direitos de todos os alunos, independentemente do grau de deficiência ou distúrbio de aprendizagem, dentro do que é chamado de Educação Comum. A Lei 13.146, sancionada em julho de 2015 e conhecida como Lei Brasileira de Inclusão, consagrou a política de educação inclusiva no Brasil. Isso implica que todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares, devem seguir as determinações dessa legislação com o objetivo de aprimorar seus sistemas de ensino, garantindo condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem a todas as pessoas com deficiência. É importante destacar que essas adaptações necessárias para o atendimento educacional inclusivo não devem acarretar custos extras para as famílias das pessoas com deficiência, visto que devem ser suportadas pela sociedade como um todo, compreendendo a comunidade, a escola e a família (TEAPOIO, 2019). Portanto, é com grande cautela que devemos promover a inclusão escolar de crianças com sérios problemas de desenvolvimento. Em vez de abordar o tema apenas com base no ideal legislativo, é mais apropriado considerar cada criança individualmente, identificar seus problemas específicos e, a partir disso, avaliar a melhor maneira de promover processos educacionais inclusivos e adaptações no cotidiano escolar. 4.4 Neuropsicopedagogo Clínico O profissional especializado em neuropsicopedagogia clínica desempenhará suas funções em ambientes como consultórios clínicos e postos de saúde, onde realizará avaliações de crianças e adolescentes que enfrentam dificuldades de aprendizagem ou apresentam necessidades especiais, tais como TEA (Transtorno do 19 Espectro Autista) e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), entre outros (CARNEIRO et al., 2021). Quanto à avaliação, destaca-se a importância de identificar no aluno qual é o diagnóstico, ou seja, que dificuldades e transtornos estão impedindo seu desenvolvimento, seja no aspecto do vínculo afetivo, comportamental, neuromotor, linguagem, entre outros, tanto por motivos intrínsecos quanto externos. Com base nessas observações, elabora-se um laudo consciente que auxilie tanto a família quanto a escola. Portanto, é crucial que após a elaboração do laudo, o profissional continue acompanhando o desenvolvimento do aluno e, se necessário, encaminhe para outros profissionais que possam dar continuidade ao processo, buscando maneiras de mitigar seu estado clínico (ROSARIO et al., 2018). O neuropsicopedagogoprecisa ter um bom conhecimento do cérebro humano, já que essas limitações estão associadas a áreas específicas do cérebro. Conforme Relvas (2010): Cada tipo de habilidade ou comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em particular. Assim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam a percepção visual e auditiva, à compreensão e a capacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de movimento (RELVAS, 2010). Assim, o neuropsicopedagogo, ao realizar sua avaliação, tem a possibilidade de empregar testes, recursos lúdicos e jogos, sendo suas anotações por meio de observações de extrema importância para uma eventual intervenção diagnóstica (ROSARIO et. al, 2018). 4.5 O Neuropsicopedagogo e a Educação Inclusiva Ao abordar a educação inclusiva, o objetivo é modificar a perspectiva de toda uma sociedade para garantir os direitos de todas as crianças e adolescentes que enfrentam necessidades especiais. Nesse contexto, a escola desempenha um papel crucial ao ampliar a participação dos alunos nas instituições de ensino (ROSARIO et. al, 2018). De acordo com o Ministério da Educação –MEC (2004): A educação tem, nesse cenário, papel fundamental, sendo a escola o espaço no qual se deve favorecer, a todos os cidadãos, o acesso ao conhecimento e 20 o desenvolvimento de competências, ou seja, a possibilidade de apreensão do conhecimento historicamente produzido pela humanidade e de sua utilização no exercício efetivo da cidadania (BRASIL, 2004). E ainda continua relatando que: Escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades (BRASIL, 2004). Diante da implementação da educação inclusiva, que visa atender a todos os indivíduos com diversas necessidades especiais, surge uma demanda maior para o neuropsicopedagogo. Ele precisa planejar suas intervenções pedagógicas e avaliações de forma mais cuidadosa, com um olhar atento para identificar as necessidades apresentadas, seja no aspecto físico, sensorial, mental ou em algum transtorno comportamental, que estejam impedindo o progresso do desenvolvimento social e escolar (ROSARIO et. al, 2018). Sahb (2004) discorre sobre a escola inclusiva da seguinte maneira: [...] pressupõe uma nova escola, comum na sua organização e funcionamento, pois adota os princípios democráticos da educação de igualdade, equidade, liberdade e respeito à dignidade que fortalecem a tendência de manter na escola regular os alunos” (SAHB, 2004). Assim, ao desempenhar suas funções, o neuropsicopedagogo deve garantir que crianças e adolescentes com qualquer tipo de necessidade especial sejam integrados de forma inclusiva nas escolas, proporcionando apoio aos pais e professores em tudo o que for benéfico para o desenvolvimento deles (ROSARIO et. al, 2018). 4.6 Neuropsicopedagogo no contexto da Consciência Fonológica A intervenção neuropsicopedagógica desempenha um papel crucial no aprimoramento da consciência fonológica. Este método permite que o profissional avalie minuciosamente a competência da criança nessa área e detecte suas dificuldades específicas. A partir dessa avaliação, é possível desenvolver atividades personalizadas e estratégias de ensino adaptadas às necessidades individuais de cada criança. 21 Algumas das abordagens empregadas na intervenção neuropsicopedagógica incluem o uso de jogos e brincadeiras para estimular a percepção auditiva dos sons, práticas de repetição oral de palavras e fonemas isolados, atividades de identificação de rimas e segmentação de palavras em sílabas, entre outras. Como mencionado, a consciência fonológica refere-se à habilidade de reconhecer e manipular os sons da fala, as unidades sonoras que formam as palavras. A intervenção da neuropsicopedagogia no desenvolvimento da consciência fonológica é crucial, especialmente para crianças em idade escolar, pois essa habilidade está diretamente relacionada ao processo de alfabetização e letramento. Ocorre que, na avaliação e identificação de dificuldades, a neuropsicopedagogia realiza avaliações específicas para determinar o nível de consciência fonológica de cada criança. Essa avaliação ajuda a identificar eventuais dificuldades na segmentação, identificação ou manipulação dos sons da fala, conhecimentos essenciais para o domínio da leitura e escrita. Com base na avaliação realizada, são elaboradas estratégias de intervenção personalizadas. Essas estratégias podem englobar atividades direcionadas para aprimorar a percepção e discriminação de sons, jogos que abordam a segmentação de sílabas e fonemas, exercícios voltados para rimas, entre outras práticas, todas destinadas a fortalecer a consciência fonológica. Com efeito, o estímulo à pré-Leitura e escrita, a neuropsicopedagogia desempenha um papel fundamental ao incentivar precocemente o desenvolvimento das habilidades fonológicas, que constituem pré-requisitos essenciais para o processo de aprendizagem da leitura e escrita. O progresso nessas habilidades facilita a associação entre sons e letras, tornando mais eficiente a decodificação e codificação de palavras. Ademais, os profissionais de neuropsicopedagogia podem propor adaptações no currículo escolar, implementar estratégias de ensino diferenciadas e oferecer suporte específico a alunos que enfrentam dificuldades na consciência fonológica, contribuindo para a promoção de um ambiente escolar mais inclusivo. A eficácia do treinamento da consciência fonológica já foi comprovada em diversos estudos científicos, inclusive em crianças com transtornos de aprendizagem e dificuldades específicas de leitura. Portanto, a intervenção neuropsicopedagógica 22 representa uma ferramenta importante para auxiliar as crianças no desenvolvimento dessa habilidade essencial. A escola desempenha um papel central na sociedade, promovendo o desenvolvimento integral dos indivíduos, tanto intelectual quanto emocional, social e moralmente, preparando-os para uma participação ativa na comunidade e contribuindo para o progresso social em várias esferas. O neuropsicopedagogo desempenha uma função significativa na escola, oferecendo compreensão e apoio aos estudantes com dificuldades de aprendizagem, considerando tanto os aspectos neurobiológicos quanto os pedagógicos. 4.7 Ética Profissional do Neuropsicopedagogo A ética profissional é compreendida como o comportamento, a postura e a maneira como o profissional se conduz em seu dia-a-dia, refletindo os valores que influenciam suas interações com sua equipe de trabalho. Stukart (2003) aborda que: A ética é uma palavra que vem do grego ETHOS, que significa estudo de caráter, juízo do ser humano e reflete sobre a situação vivida, para ele, ‘A ética não analisa o que o homem faz, como a psicologia e a sociologia, mas o que ele deveria fazer. É um juízo de valores, como virtude, justiça, felicidade, e não um julgamento da realidade (STUKART, 2003). Nessa perspectiva, o autor mencionado anteriormente conceitua ética como um conjunto de princípios que influenciam o caráter do indivíduo, orientando-o de maneira positiva em sua trajetória tanto pessoal quanto profissional, cuidando assim da sua reputação. Lado outro, o compromisso ético do neuropsicopedagogo envolve a prática de investigação do conhecimento epistêmico das neurociências da educação, com o objetivo de constituir, segundo Ribas (2006), uma visão progressiva das complexidades nervosa e comportamental ao longo da evolução das espécies. Isso inclui a análise filogenética de termos como consciência e psiquismo, permitindo especulações sobre os possíveis paralelos comportamentais entre diferentes espécies e o ser humano. A partir desse ponto, é essencial reconhecer as funçõesfundamentais do sistema nervoso humano: ajustar o organismo ao ambiente, perceber e identificar 23 condições externas e internas, elaborar respostas adaptativas e integrar funções sensoriais, integrativas e motoras. No campo institucional e clínico, a prática deve ter como objetivo principal integrar, de maneira coerente, conhecimentos e princípios de diferentes ciências humanas, visando uma compreensão abrangente dos variados processos de aprendizagem. Dessa forma, o neuropsicopedagogo atua com metodologia psicopedagógica em um amplo conjunto de tarefas e funções, oferecendo assessoria às escolas, independentemente de sua diversidade. O trabalho psicopedagógico não se restringe a aulas de reforço escolar; ele é mais amplo e abrangente. Embora possa envolver conteúdos educacionais, seu foco principal é abordar as defasagens biopsicossociais reais, voltado para a vinculação com a aprendizagem e o compromisso com o educando e suas famílias nos contextos socioeducativos. É importante destacar que, durante sua prática (antes, durante e depois das intervenções), o neuropsicopedagogo deve constantemente avaliar sua postura ética, os procedimentos realizados e as técnicas utilizadas para favorecer o aprendizado do educando. Os objetivos do assessoramento psicopedagógico podem ser categorizados em quatro eixos principais, conforme apontam Coll e Marchesi (2004). O primeiro eixo refere-se aos objetivos da intervenção: tarefas centradas no sujeito e aquelas que visam influenciar o contexto educacional. O segundo eixo trata das modalidades de intervenção, que podem ser corretivas, preventivas ou enriquecedoras. O terceiro eixo diz respeito aos modelos de intervenção: enquanto alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno de forma individualizada, outros combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas focadas nos agentes educacionais que interagem com o aluno. O quarto eixo está relacionado ao lugar preferencial de intervenção, abrangendo diversos níveis e contextos, como a sala de aula, subsistemas dentro da escola, a instituição como um todo, o sistema familiar e a zona de influência. De acordo com a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), a atuação do neuropsicopedagogo na área institucional, de educação especial e de educação inclusiva deve incluir a observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas 24 motoras, cognitivas e comportamentais. Também deve desenvolver estratégias que viabilizem os processos de ensino e aprendizagem, além de encaminhar alunos para outros profissionais quando necessário, considerando a necessidade de assistência de outras áreas de atuação ou especialização. É um princípio ético que o neuropsicopedagogo realize testagens, protocolos e estratégias de intervenção conforme determinam as Normas Técnicas de seu regulamento. No contexto escolar, o neuropsicopedagogo deve prestar assessoria em conjunto com toda a equipe técnica e pedagógica da instituição, observando e analisando as demandas que necessitam de avaliação e intervenção, sem perder de vista o desenvolvimento integral do aluno. O neuropsicopedagogo deve estar familiarizado com as características dos contextos em que atuará. No contexto institucional, como em ONGs, ele deve atender coletivamente e, conforme o caso, oferecer assessoria individual, realizando encaminhamentos para outros profissionais especializados quando necessário. Além disso, deve propor o planejamento institucional de suas atividades nesses contextos, incluindo observação e anamnese. Cada instituição realiza atividades em diferentes áreas e possui uma cultura própria de atendimento, utilizando instrumentos coletivos. Portanto, é essencial realizar um diagnóstico institucional para identificar o que precisa ser trabalhado. Entre as necessidades que podem surgir estão as funções executivas, habilidades sociais, linguagem, habilidades matemáticas e comportamento motor. A execução de projetos de trabalho ou oficinas temáticas deve ser planejada antecipadamente e compartilhada com todos os agentes do contexto institucional, considerando o tempo necessário para alcançar os objetivos pretendidos. No que se refere à atividade do neuropsicopedagogo clínico, conforme destacado por Paín (1989), a intervenção visa levantar e sistematizar o perfil do aluno no processo de aprendizagem, detectando os principais pontos de dificuldade e necessidade apresentados pelo educando em diferentes momentos de sua formação. O objetivo é identificar o desenvolvimento do aluno em relação à atenção, funções executivas, expressão comportamental, linguagem, compreensão leitora, memória dos processos de ensino e aprendizagem, motivação intrínseca e extrínseca, e estratégias de aprendizagem. 25 O olhar clínico neuropsicopedagógico pretende analisar a dinâmica relacional do indivíduo nos processos de ensino e aprendizagem de forma preventiva, diagnóstica e curativa, desenvolvendo atividades e dinâmicas acadêmicas eficazes para o bom andamento da vida escolar do aluno. Isso inclui atendimento individual para suas necessidades e dificuldades, de maneira pedagógica, e encaminhamentos para outros profissionais e especialistas quando necessário. A assessoria neuropsicopedagógica, tanto para a equipe gestora e de professores quanto para os alunos, seja em âmbito institucional ou clínico, é essencial para a formação da cidadania crítica nos diversos contextos socioculturais. Essa assessoria promove a participação social, contribui para a formação ética, prepara para o mundo do trabalho, combate o fracasso escolar e eleva a autoestima. 5 A IMPORTÂNCIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO COMPREENDIMENTO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA LÍMBICO E A FUNÇÃO CONATIVA Diversos estudiosos de diferentes áreas têm, ao longo do tempo, buscado entender o processo de ensino e aprendizagem humana, na tentativa de encontrar uma metodologia linear e funcionalmente perfeita. Contudo, com o advento das neurociências, a percepção de que cada ser humano aprende de forma única e é influenciado por diversos fatores internos, externos, biológicos, cognitivos, afetivos e sociais ao longo de sua trajetória de eterno aprendiz se tornou mais intensa. Com isso em mente, e destacando uma das fases mais cruciais do desenvolvimento cognitivo — a infância —, iniciamos reflexões sobre uma área cognitiva pouco explorada, mas que exerce grande influência nos processos mentais e no sucesso escolar. Adotando uma perspectiva neuropsicopedagógica, começamos com uma breve explicação do Sistema Límbico, também conhecido como cérebro emocional, que é um conjunto de estruturas do sistema nervoso responsável pela percepção das emoções. Em seguida, exploramos o papel da função conativa na aprendizagem e sua relevância na construção de saberes. Por fim, abordamos as dimensões da aprendizagem na educação infantil, construindo conexões reflexivas e teóricas sobre a importância de atender às necessidades das crianças, respeitando sua autonomia e seu direito de explorar e aprender. 26 5.1 Sistema Límbico e sua importância na aprendizagem A neuropsicopedagogia, ao investigar a relação entre o cérebro e a aprendizagem, dedica uma atenção especial ao sistema límbico devido à sua relevância no processo educacional. O sistema límbico, uma rede complexa de estruturas cerebrais, é responsável pela regulação das emoções, memória, motivação e comportamento, exercendo uma influência significativa e multifacetada na aprendizagem. Três aspectos são particularmente importantes: a regulação emocional, a relação entre memória e aprendizagem, e a motivação e recompensa. O sistema límbico desempenha um papel crucial na regulação das emoções, estabelecendo vínculos entrea experiência emocional e os processos de aprendizagem. Em um ambiente educacional, emoções como motivação, interesse e ansiedade influenciam diretamente a capacidade de absorver, processar e reter informações. Um ambiente que promove um estado emocional positivo pode facilitar a aprendizagem, enquanto emoções negativas podem dificultar o processo. O sistema límbico está profundamente ligado à consolidação da memória. Estruturas como o hipocampo, que fazem parte do sistema límbico, desempenham um papel crucial na formação e recuperação da memória. Isso é essencial para a aprendizagem, pois a capacidade de reter e recuperar informações é fundamental para a aquisição de conhecimento. Além disso, o sistema límbico está associado aos mecanismos de motivação e recompensa. Ele regula a liberação de neurotransmissores como a dopamina, que desempenha um papel central na motivação e no estabelecimento de comportamentos recompensadores. Uma aprendizagem que esteja associada a recompensas ou que seja percebida como significativa pode ser mais eficaz, pois o sistema límbico está envolvido na ativação desses processos motivacionais. A compreensão do sistema límbico na neuropsicopedagogia é essencial para educadores e profissionais da educação, pois possibilita a criação de ambientes de aprendizagem mais eficazes, considerando não apenas os aspectos cognitivos, mas também as emoções, motivações e a importância da formação de memórias significativas. Com base nesse entendimento, é possível desenvolver estratégias pedagógicas que considerem a regulação emocional, promovam a motivação intrínseca e facilitem a formação de memórias duradouras. Tais estratégias podem 27 incluir métodos de ensino que estimulem a curiosidade, conectem o aprendizado a experiências emocionais positivas e ofereçam feedback recompensador, criando um ambiente favorável ao processo de aprendizagem. Historicamente, conforme mencionado por Esperidião-Antônio (2007), “a complexa relação emoção – razão tornou-se tema recorrente no pensamento dos diferentes filósofos, os quais formularam concepções, as mais variadas, para explicar as origens e o papel das emoções na condição humana”. Nesse contexto, destacam- se dois filósofos, Descartes e Espinoza, que tinham opiniões divergentes sobre essa relação. Optamos por seguir a perspectiva de Espinoza, filósofo racionalista do século XVII, cujos 'teoremas éticos' pavimentaram o caminho para o estudo da rede de comunicação entre corpo, cérebro e mente. Ele os concebia como um sistema interativo complexo, altamente distribuído e com grande grau de liberdade, mas que possui um 'posto de comando'—um 'EU'—considerado um atributo fundamental de uma mente consciente" (FONSECA, 2014). A partir deste teorema ético, compreendemos que a consciência humana tem a capacidade de refletir sobre suas ações no mundo, incluindo seus sentimentos, pensamentos e desejos, permitindo que o indivíduo controle ou motive seus instintos primitivos e impulsos naturais, fenômeno que denominamos motivação. Nesse contexto, a contribuição de Espinoza possibilitou que pesquisadores refletissem sobre a relação física entre o cérebro e as emoções, especialmente nos estudos neurológicos. Essa linha de pensamento pode ser vista como uma introdução preliminar à neuropsicopedagogia, disciplina que integra estudos neurológicos, psicológicos e pedagógicos, visando ampliar o conhecimento sobre o complexo desenvolvimento humano e entendê-lo em sua totalidade. Voltando à compreensão do sistema límbico, termo central em nossa reflexão, consideramos o conceito apresentado por Del-Bianco (2023). O sistema límbico é entendido como uma estrutura neurológica composta por várias partes identificadas ao longo de pesquisas realizadas por neurologistas. Paul Broca, um neurologista francês, introduziu o conceito do lobo límbico em 1878. Posteriormente, James Papez, um neurocientista americano, revisou o estudo de Broca em 1937 e constatou que as estruturas do sistema límbico estavam interligadas, formando o que hoje conhecemos como o Circuito de Papez. 28 Figura 1: Circuito de Papez Fonte: neurologiaemfoco.com.br Evidências experimentais derivadas da revisão do circuito proposto por Papez, baseado no lobo límbico descrito por Broca, levaram à formulação do conceito de Sistema Límbico (SL). Este sistema passou a ser caracterizado como o circuito neuronal associado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais (Esperidião-Antônio, 2008). Do ponto de vista neurobiológico, conforme Del Bianco (2023), o sistema límbico é composto por uma série de estruturas nervosas que fazem parte do sistema nervoso central. Este conceito nos ajuda a identificar as estruturas nervosas que pertencem diretamente ao sistema límbico, para então compreender suas respostas emocionais. Para apresentar as estruturas que compõem o Sistema Límbico, baseamo-nos na proposta de Papez, conforme mencionada por Esperidião-Antônio (2008). Segundo esta proposta, as estruturas incluem: • O hipocampo: desempenha um papel essencial na criação de novas memórias, particularmente aquelas que são episódicas, ou seja, relacionadas a eventos específicos e contextuais, enquanto também desempenha funções significativas no comportamento e na memória. • O fórnix: é uma via nervosa que estabelece conexões entre o hipocampo e outras regiões do cérebro, como o hipotálamo e o tálamo. • O tálamo: desempenha papéis na regulação da consciência, controle do sono e manutenção do estado de alerta. • Hipotálamo: o componente central do sistema límbico, desempenha funções vegetativas que estão intimamente ligadas ao comportamento 29 associado a uma variedade de emoções, como prazer, raiva, desprazer, aversão e tendências ao riso descontrolado. Além disso, o hipotálamo desempenha um papel crucial na regulação da ansiedade. • Corpo mamilar: é um componente do hipotálamo, está associado a funções que dizem respeito tanto à memória quanto à emoção. • Trato mamilotalâmico: A conexão entre o corpo mamilar e o tálamo é caracterizada como uma estrutura que desempenha o papel de uma espécie de estação de retransmissão sensorial. • Córtex cingulado: O córtex cingulado, uma região significativa do córtex cerebral, está vinculado ao processamento emocional e à modulação das respostas emocionais. • Giro Cíngulado: desempenha um papel na percepção de odores e visões associadas a memórias agradáveis e emoções passadas, além de estar envolvido na resposta de memória à dor e na regulação do comportamento agressivo. • Giro para-hipocampal: está relacionado ao armazenamento da memória. Desta maneira, ao descrevê-la de forma mais funcional, podemos compreender que a estrutura do sistema límbico abrange funções relacionadas às emoções, aprendizado, memória, motivação e algumas respostas homeostáticas. A compreensão do Círculo de Papez e suas interconexões é de grande relevância para campos como neuropsicologia e neuropsicopedagogia, pois oferece insights sobre como as emoções e a memória estão intrinsecamente ligadas no funcionamento cerebral. Esses conhecimentos podem ser aplicados no desenvolvimento de estratégias educacionais que consideram a influência do estado emocional na formação de memórias duradouras e na criação de um ambiente propício para o aprendizado. De acordo com Del Bianco (2023), "o sistema límbico desempenha um papel crucial nas emoções e pode influenciar diretamente o processo de aprendizagem". Nesta perspectiva, avançamos para explorar o segundo termo relevante em nossa reflexão: a "Aprendizagem". A aprendizagem é um fenômeno que pode ser examinado sob várias perspectivas, resultando em diferentes teorias. No contexto da neuropsicopedagogia, a aprendizagem é compreendida como um processo complexo que envolve interações 30 entre aspectos neurológicos,psicológicos e pedagógicos. Este campo investiga como o cérebro opera durante a aquisição de conhecimento e como os diversos elementos cognitivos, emocionais e comportamentais influenciam a capacidade de aprender. Do ponto de vista neuropsicopedagógico, a aprendizagem é fundamentada na plasticidade cerebral, ou seja, na capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar em resposta a estímulos e experiências. As conexões neuronais (sinapses) são fortalecidas ou enfraquecidas com base na utilização e relevância das informações, o que constitui a base para a aquisição e consolidação do conhecimento. A aprendizagem transcende os processos puramente neurológicos, estando também intrinsicamente ligada a aspectos psicológicos, como motivação, atenção, emoções e memória. A motivação influencia a disposição para aprender, a atenção determina o que é percebido e processado, as emoções podem afetar a retenção e recuperação da informação, e a memória é fundamental para armazenar e recuperar o conhecimento adquirido. Com base na compreensão dos processos neurológicos e psicológicos envolvidos na aprendizagem, a neuropsicopedagogia procura desenvolver estratégias de ensino mais eficazes e adaptadas às necessidades individuais dos alunos. Isso inclui a adaptação do ambiente educacional, a identificação de dificuldades de aprendizagem e a criação de métodos que levem em conta as particularidades de cada estudante, promovendo uma abordagem inclusiva e diferenciada. Assim, a aprendizagem, como fenômeno facilitado pela plasticidade dos processos neurais e cognitivos, está intrinsecamente relacionada ao domínio das emoções, que desempenham um papel direto no processo de aprendizagem. A aprendizagem humana dificilmente decorrera numa atmosfera de sofrimento emocional, de incompreensão penalizante ou debaixo de uma autorrepresentação ou autoestima negativas, exatamente porque ela tem e assume sempre um significado afetivo, isto é, conativa (FONSECA, 2014). Para que o processo de aprendizagem ocorra de forma eficaz, é crucial que exista um contexto favorável em diversos aspectos, conforme definido pela perspectiva neuropsicopedagógica. Isso inclui a manutenção de uma estrutura do sistema nervoso em bom estado de funcionamento, a minimização de prejuízos psicoemocionais, tanto internos, relacionados ao sistema límbico, quanto externos, provenientes das interações sociais e do ambiente, e a ausência de prejuízos didático- pedagógicos, que requerem o entendimento dos fatores de desenvolvimento humano 31 para a proposição adequada de experiências, considerando as zonas de desenvolvimento proximais, conforme descrito pela teoria de Vygotsky. Isso possibilita compreender a dinâmica interna do desenvolvimento, levando em conta fatores como idade intelectual, estrutura e desenvolvimento físico, entre outros (Rego, 2001). Diante do exposto, enfatizamos a importância do sistema límbico na aprendizagem, como indicado pelo termo "CONATIVA", que descreve o elo subjetivo entre o pensamento e a ação. Esse conceito destaca o papel do sistema límbico em traduzir reações emocionais em ações efetivas no comportamento. A "tríade funcional da aprendizagem humana", conforme apresentada por Fonseca (2014), ressalta a interatividade dinâmica entre cognição, conação (ou sistema límbico) e execução, que sustenta o processo de aprendizagem humana. É nesse contexto que a conação, ou sistema límbico, atua conectando funções cerebrais superiores (cognitivas) a funções inferiores (motoras e executivas). A importância do sistema límbico na aprendizagem também é evidenciada ao considerar o pensamento do teórico Henry Wallon, que tratou do desenvolvimento e da aprendizagem, incorporando as emoções em seus estágios de desenvolvimento. Este aspecto é representativo dentro de sua teoria, como destaca um trecho significativo: Os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa. (…) Cada estágio é considerado como um sistema completo em si, isto é, a sua configuração e o seu funcionamento revelam a presença de todos os componentes que constituem a pessoa (WALLON, 1995). Esse raciocínio surge da percepção sensível da totalidade do ser humano, que está imerso no processo de aprendizagem. Agora, vamos analisar com mais profundidade as funções conativas. 5.2 Explorando as funções conativas em profundidade A palavra "conação" tem sua origem no latim "conatios", que significa "esforço, empenho", e, na psicologia, refere-se ao processo intencional de realização de algo. Portanto, a função conativa relacionada à aprendizagem envolve a motivação e o desejo de realizar, desenvolver e aprender uma determinada tarefa ou processo. 32 Nesta seção do capítulo, vamos abordar a importância dessa função mental para o desenvolvimento do indivíduo, com um foco sensível voltado especialmente para a primeira infância, uma vez que sabemos que nessa fase ocorrem transformações neurobiológicas cruciais para a formação do sujeito. No entanto, discutir as funções conativas sem mencionar as funções executivas e cognitivas da aprendizagem tornaria nosso estudo incompleto. De acordo com Fonseca (2014), essas funções - conativas, executivas e cognitivas - são interdependentes, formando o que é chamado de tríade funcional da aprendizagem humana. No processo de aquisição de conhecimento, essas funções interagem de forma recíproca: enquanto a função cognitiva está envolvida na recepção e processamento das informações para transformá-las em novos conhecimentos, a função executiva trabalha nas habilidades intencionais que incluem o planejamento e a autorregulação, permitindo um gerenciamento consciente e deliberado para a ação, ao passo que a função conativa opera no desejo e motivação de alcançar um objetivo específico. Em resumo, é pela integração de todas essas funções que o ser humano se constitui como um fenômeno biológico com a capacidade de aprender e ensinar de forma intencional e sistemática, conforme descrito por Piaget (1967) no processo de adaptação ao ambiente. Esse processo envolve dois processos fundamentais do sistema cognitivo: a assimilação e a acomodação, que organizam a experiência vivida nas estruturas mentais. A neurociência classifica esse fenômeno como plasticidade cerebral ou neuroplasticidade, referindo-se à capacidade do cérebro de modificar e adaptar informações aos níveis estruturais em contato com novas habilidades. Esse processo é especialmente evidente na primeira infância, quando as crianças estão adquirindo conhecimento e hábitos sociais, enquanto partes de seu sistema nervoso estão em desenvolvimento. Portanto, abordaremos inicialmente a função cognitiva, que, como mencionado anteriormente, é encarregada de receber informações do ambiente externo ou interno e transformá-las em novos conhecimentos. De acordo com Aranha (2016, citado por Cavalcante, 2019), a cognição é uma função psicológica que opera na aquisição de conhecimento, permitindo que o cérebro perceba, aprenda, pense e lembre-se de informações captadas pelos sentidos. Esse papel é especialmente significativo na 33 infância, quando o cérebro é altamente suscetível à estimulação sensorial, o que pode ter impactos duradouros ao longo da vida. A função cognitiva pode ser dividida em diversos processos intelectuais, entre os quais se destacam a atenção, a memória, a linguagem e a percepção. A atenção pode ser classificada como seletiva ou dividida: a seletiva concentra-se em um único objetivo, enquanto a dividida distribui a atenção entre mais de um objeto. Ela seleciona as informações do ambiente e estabelece um ponto de focalização, segmentando o que é prioritário. Quanto à memória, pode-se distinguir entre memória de curto e longo prazo, memória episódica,semântica e procedimental, cada uma destinada a diferentes necessidades de armazenamento de informações. Além da atenção e memória, a linguagem e percepção também são processos cognitivos importantes, atuando na organização de palavras e frases, faladas ou escritas, para fins de comunicação, e na interação com o ambiente por meio dos sentidos. Em seguida, contextualizaremos as funções executivas, responsáveis pela coordenação e integração da tríade neurofuncional, localizada no córtex pré-frontal, que supervisiona processos mentais mais elaborados, especialmente em situações que exigem maior concentração. Elas permitem a direção de ações comportamentais para traçar metas eficazes na resolução de problemas imediatos, de médio e longo prazo. Assim como a função cognitiva, as executivas também se dividem em funções centrais, das quais destacaremos três: a inibitória, a memória operacional ou de trabalho e a flexibilidade cognitiva. A função inibitória, também conhecida como controle inibitório, regula a ação dos pensamentos e comportamentos, permitindo a inibição ou resistência a determinados impulsos, além de bloquear a atenção para distrações externas e concentrar-se na ação proposta, como também mencionado na atenção seletiva. Segundo Malato (2019), as crianças já apresentam essa capacidade a partir dos seis meses de idade, demonstrando intencionalidade nas ações aos oito meses, mantendo o foco em tarefas específicas nos primeiros anos e desenvolvendo ainda mais essa habilidade entre os três e seis anos, especialmente na capacidade de esperar. No entanto, é importante ressaltar que essa habilidade deve ser cultivada principalmente pelos cuidadores. 34 Outra responsabilidade da função executiva diz respeito à memória de trabalho ou operacional, que desempenha um papel imediato ao reter informações no momento em que são ativadas, embora possam ser descartadas pelo cérebro após o uso. No entanto, desempenha uma função vital de apoio às atividades cognitivas. Alan Baddeley, um renomado professor de Psicologia na Universidade de York, reconhecido por suas contribuições na área da memória operacional, desenvolveu em 1974 um modelo multicomponente que divide a memória em quatro componentes distintos: o Executivo Central, responsável por controlar, selecionar e manipular as informações armazenadas na memória de longo prazo; a Alça Fonoarticulatória, responsável pelo armazenamento acústico das informações, retendo uma quantidade limitada de sons em um curto período de tempo, como uma sequência de números de telefone; o Componente Visioespacial, cujos processamentos temporários estão relacionados ao campo visual; e, por último, o Buffet Episódico, que integra as informações de várias fontes, conectando-as à memória de longo prazo e sendo capaz de unificá-las e retê-las em um número restrito de episódios. Além disso, ao abordar as funções executivas, temos a Flexibilidade Cognitiva, que se refere à capacidade de adaptar-se rapidamente a um estímulo inesperado e encontrar estratégias para resolver problemas. Jean Piaget, em sua teoria de equilibração, menciona a flexibilidade como o ponto crucial para a aprendizagem, destacando o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Wadsworth (1996), propõe essa perspectiva ao descrever a situação de uma criança enfrentando um estímulo que ela não consegue dominar; nesse caso, ela será submetida a processos regulatórios que, uma vez superados, a conduzirão a novas construções. É evidente que as tentativas de acerto e erro estão intimamente ligadas às funções executivas e à flexibilidade cognitiva para encontrar diferentes abordagens para alcançar o objetivo. Por fim, após termos explorado um pouco sobre as funções cognitivas e executivas da aprendizagem, discorreremos sobre a função central de nosso capítulo: as funções conativas. Acreditamos que, após compreender todo o funcionamento das neurofunções, poderemos refletir sobre sua capacidade de influenciar a aprendizagem, seja causando prazer ou aversão ao novo conhecimento. A conação, segundo Fonseca (2014), refere-se à autopreservação, ao bem- estar e à interação social, incorporando representações dos sentimentos. Ela 35 responde instintivamente, visceralmente e homeostaticamente, desencadeando estados de alerta, atenção, processamento de informações, planejamento e execução das respostas cerebrais. Isso confere uma grande influência sobre as demais funções mentais, influenciando diretamente três circunstâncias que afetam a forma de aprendizado do indivíduo: otimizações funcionais de valor, expectativa e afetiva, ou seja, a motivação inicial, os ganhos obtidos e o nível de satisfação ou emoção na realização da tarefa. A função conativa está relacionada ao impulso emocional, temperamento e personalidade do ser humano, com representações geradoras de sentimentos, conscientes ou inconscientes, positivos ou negativos. Isso implica que podem ser marcados por dois procedimentos adaptativos: facilitadores e inibidores capazes de nutrir tanto o interesse, esforço, motivação e entusiasmo no ato de aprender, quanto os estados emocionais de fuga, desespero, frustração e indisciplina. Isso ressalta a importância de estabelecer laços significativos de afeto e respeito dentro do ambiente escolar para que a aprendizagem ganhe maior significado e seja verdadeiramente eficaz. O processo de aprendizado faz parte de um estado de sobrevivência; no entanto, evidências científicas da neurociência destacam a importância do estado emocional no ser humano como parte fundamental do processo de construção do conhecimento. Nesse contexto, percebe-se a relevância da prática facilitadora de aprendizagem por parte do professor, ao oferecer condições necessárias para o pleno desenvolvimento cognitivo da criança, não fazendo por ela, mas demonstrando empatia e respeito pela maturação cerebral e criando oportunidades para descobertas e experimentações. Apesar de culturalmente subestimada, essa intervenção reflete em resultados positivos no sistema afetivo ou límbico subcortical, capazes de influenciar as inclinações ou barreiras para a conclusão da tarefa. Isso nos leva a entender que o ser humano, em seu desejo inato de autopreservação, não está propenso a aprender por meio do sofrimento emocional, incompreensão punitiva ou autoestima negativa. Para elucidar o persistente fracasso escolar, desde a educação infantil, considerada até recentemente apenas como um local de cuidado para crianças enquanto seus pais trabalhavam, em contraste com um ambiente rico em experiências, explorações e experimentações que elucidam e desenvolvem 36 importantes habilidades psicomotoras do indivíduo, até o ensino fundamental e superior, que apresentam deficiências e dificuldades decorrentes da estruturação precária e subestimação no âmbito da aprendizagem afetiva nos ciclos anteriores. Portanto, o sucesso da aprendizagem pode ser influenciado pelas dimensões afetivas, cognitivas e motoras entrelaçadas, conforme afirmado por Victor Fonseca, senão vejamos: O treino de funções cognitivas, conativas e executivas é, quanto a nós, uma das chaves do sucesso escolar e do sucesso na vida, quanto mais precocemente for implementado, mais facilidade tende a emergir nas aprendizagens subsequentes. O aperfeiçoamento e o enriquecimento da tríade de funções mentais da aprendizagem resultam de uma alquimia neuropsicopedagógica complexa porque elas influenciam-se mutuamente em termos de comportamento, de performance e produtividade (Fonseca, 2014). 5.2.1 Estudos sobre funções conativas e aprendizagem A aprendizagem é um processo interativo no qual o indivíduo interage com seu corpo, emoções e mente. É evidente que cada pessoa tem uma maneira única de processar informações, influenciada não apenas pelo desenvolvimento cognitivo, mas também por suas emoções.Os estímulos recebidos por meio da interação com outros indivíduos ou do ambiente desempenham um papel crucial no desenvolvimento das funções de aprendizagem. Conforme argumentado por Gomez e Teran (2009), o desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo de reestruturação resultante das múltiplas interações que o indivíduo estabelece. Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo humano passa por quatro estágios distintos, nos quais a inteligência completa é alcançada após o quarto estágio. Ao observar esses estágios, torna-se fundamental para o educador compreender quem é a criança, como ela aprende e quais funções cognitivas ela está preparada para adquirir conhecimento. Essas reflexões são essenciais para o planejamento de experiências educacionais que promovam a interação com o ambiente, facilitando o processo de descoberta e concretização da aprendizagem. Explorar os estágios de desenvolvimento de acordo com Piaget nos permitirá compreender como a criança é capaz de desenvolver a aprendizagem em cada fase específica. Sensório motor que vai de 0 até 2 anos, nesta fase as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações 37 prazerosas desenvolvendo a percepção de si mesmas e dos objetos a sua volta (NOVA ESCOLA, 2009). Nesta etapa do desenvolvimento, exploramos o mundo por meio de experiências sensoriais e movimento, utilizando ao máximo nossos cinco sentidos. Desde o início, o cérebro busca ativamente experiências visuais, auditivas, olfativas, gustativas e táteis. Começamos com reflexos simples e, gradualmente, desenvolvemos nossos primeiros hábitos. Inicialmente, exploramos os espaços ao nosso redor, movendo-nos de forma a aprender a rastejar, ficar de pé, andar e até correr. Essa melhoria nas habilidades físicas naturalmente promove o desenvolvimento cognitivo. O segundo estágio, chamado pré-operacional, abrange dos 2 aos 7 anos de idade, quando a criança adquire a habilidade da linguagem e a capacidade de representar o mundo por meio de símbolos. Durante essa fase, nosso pensamento é predominantemente simbólico e intuitivo. Fantasiamos muito e tendemos a acreditar que objetos inanimados têm vida. Aprendemos a linguagem e a compreender que palavras, imagens e gestos são representações simbólicas. As crianças desse estágio frequentemente expressam-se por meio de desenhos com significados simbólicos e desfrutam de brincadeiras de faz de conta, que proporcionam experiências valiosas para o aprendizado. Surge o raciocínio intuitivo, denominado por Piaget como "idade intuitiva", caracterizado pelo fato de que, embora possamos possuir muitos conhecimentos, não compreendemos completamente como os adquirimos ou como aprendemos. o terceiro estágio é o operacional concreto, que vai do 7 até os 11 anos desenvolve a noção das ações consegue discriminar os objetos por similaridade e diferenças (NOVA ESCOLA, 2009). Nessa fase, somos capazes de organizar objetos em sequências ordenadas e entender conceitos de conservação em nossas experiências. O cérebro desenvolve a capacidade de reorganizar pensamentos, classificar informações e construir estruturas mentais operacionais concretas. Além disso, trocamos experiências por meio de interações sociais e cognitivas, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades mentais mais avançadas. o quarto estágio é o operacional formal, essa fase marca a entrada da idade adulta em termos cognitivos, o adolescente passa a ter domínio do 38 pensamento lógico e dedutivo, entre outras coisas a relacionar-se a conceitos abstratos é hipóteses (NOVA ESCOLA, 2009). No quarto estágio, alcançamos pensamentos operacionais mais abstratos, onde desenvolvemos habilidades conceituais com uma compreensão mais profunda sobre nossa própria identidade. O cérebro realiza raciocínios e deduções lógicas, capacitando-nos a planejar e inferir. Para promover o sucesso no desenvolvimento da aprendizagem, é importante considerar se os ambientes físicos proporcionam condições favoráveis para o processo de aprendizagem. As crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação (RCNEI, 1998). As interações que se desenrolam nos ambientes desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem da criança, onde ela se assume como agente principal desse processo. A influência do ambiente, por meio dessas interações e explorações, seja em contextos grupais ou individuais, proporciona experiências de descoberta que permitem que as informações sejam registradas na memória cognitiva e emocional das crianças ou dos frequentadores desses espaços, conforme Kramer (2000), senão vejamos: o desenvolvimento do meio resulta de combinações entre aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio (...) e que então os esquemas de assimilação vão se modificando progressivamente considerando os estágios de desenvolvimento (KRAMER, 2000). Vygotsky salienta a importância da troca de conhecimentos que ocorre por meio das interações entre o ambiente e o indivíduo. Segundo Vygotsky (citado por Davis e Oliveira, 1993), "o ser humano se desenvolve em um ambiente social e a interação com outras pessoas é crucial para seu desenvolvimento". Portanto, um ambiente enriquecedor para a criança é aquele em que ela se sente segura e, ao mesmo tempo, desafiada, proporcionando-lhe conforto e oportunidades para desenvolver relacionamentos interpessoais com os colegas. Os ambientes devem ser cuidadosamente planejados para atender às necessidades da criança e serem acessíveis para ela explorar e experimentar. Eles devem oferecer espaços e brinquedos que promovam a aprendizagem cognitiva, emocional e a autonomia da criança, proporcionando desafios cognitivos, sociais e 39 motores por meio da exploração do movimento corporal e do desenvolvimento do controle corporal, em um ambiente que estimule os sentidos da criança. Dessa forma, tanto a aprendizagem cognitiva quanto a emocional podem ser estimuladas por meio de diversas atividades realizadas pela criança, como correr, pular, saltar, ouvindo diferentes sons, sentindo a brisa do vento, os aromas das flores e experimentando diferentes texturas, sejam elas naturais ou não, conforme observado por Carvalho e Rubiano. (...) dizem que a variação da estimulação deve ser procurada em todos os sentidos, cores e formas, música e vozes, aromas e flores e de alimentos sendo feitos, oportunidades para provar diferentes sabores (CARVALHO e RUBIANO, 2001). É crucial entender que a aprendizagem está intimamente ligada ao desenvolvimento, pois o sujeito deve ser considerado em sua totalidade, aprendendo através de seu corpo, emoções e sua capacidade intelectual, bem como seu conjunto de referências. Quando um ser humano nasce, ele entra em um ambiente familiar e sua interação com o mundo começa através de vínculos, implicando uma relação entre sujeito e objeto. A capacidade de aprender depende do processo de individualização, que começa com sensações e sentimentos, passa para ações e, eventualmente, para a simbolização, permitindo ao sujeito refletir sobre seus pensamentos e emoções. O educador, em sua função, pode auxiliar a criança a expressar em palavras seus sentimentos e sensações, garantindo que o aluno estabeleça um vínculo saudável com o objeto de aprendizagem (Gomez e Teran, 2009). 6 NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROPSICOLOGIA E NEUROCIÊNCIA: INTERSECÇÕES E SINGULARIDADES A neuropsicopedagogia, a neuropsicologia e a neurociência são áreas de estudo que, apesar de suas especificidades, compartilham um interesse comum: a compreensão do funcionamento cerebral e suas implicações para o comportamento humano, a aprendizageme a saúde mental. Este ensaio explorará as definições, objetivos e metodologias dessas três disciplinas, destacando suas intersecções e singularidades. 40 6.1 O conceito amplo da Neuropsicopedagogia Em linhas gerais, conforme já visto no tópico/item 2 desta apostila, a neuropsicopedagogia é um campo de atuação emergente que se dedica a abordar problemas relacionados à aprendizagem humana e ao desenvolvimento cerebral. A formação do termo neuropsicopedagogia resulta da combinação de várias áreas essenciais para a atuação deste especialista: neurociência, psicologia e pedagogia. Esta disciplina está alicerçada nos estudos das neurociências, da psicologia e da pedagogia, com foco central no aprendizado humano. Fundamentada nos conhecimentos relacionados à aprendizagem, a neuropsicopedagogia se entrelaça com diversas ciências do conhecimento humano. Segunda a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), este campo é delineado no artigo 10º do Código Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia, in verbis: A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos das Neurociências aplicada à educação, com interfaces da Pedagogia e Psicologia cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional (SBNPp, 2016). As áreas de atuação do neuropsicopedagogo são delineadas conforme o art. 29 da SBNPp, que estabelecem as diretrizes para sua prática profissional. Art. 29. Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos exclusivamente em ambientes escolares e/ou instituições de atendimento coletivo. §1º. Entende-se que sua atuação na área de Institucional, ou de educação especial, de educação inclusiva escolar deve contemplar: a) Observação, identificação e analise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino- aprendizagem do aluno; c) Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização (SBNPp, 2016). 6.2 Neuropsicologia Na área institucional, a neuropsicopedagogia está fortemente associada ao ambiente escolar e às instituições de aprendizagem, embora sua atuação não se limite apenas a esses contextos. É responsabilidade do profissional determinar em que tipo de instituição deseja aplicar seus conhecimentos institucionais. De acordo com o Art. 41 30 da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBPp, 2016), a neuropsicopedagogia institucional é direcionada exclusivamente para ambientes coletivos, podendo incluir instituições hospitalares, empresas e ONGs (Organizações Não Governamentais). Por outro lado, a vertente clínica da neuropsicopedagogia se dedica a um atendimento mais individualizado e específico, conforme orientações da SBPp (2016): Art.30. Ao Neuropsicopedagogia com formação clínica, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos individualizados em setting adequado, como consultório particular, espaço de atendimento, posto de saúde, terceiro setor. Os atendimentos em local escolar ou hospitalar devem acontecer de forma individual e em local adequado. §1º. Entende-se que sua atuação na área clínica ou de atendimento multiprofissional deve contemplar: a) Observação, identificação e analise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam prejuízos na aprendizagem escolar e social; c) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem do aluno; d) Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação devidamente validados, respeitando sua formação de graduação; e) Elaboração de relatórios e pareceres técnicos-profissionais; f) Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização (SBNPp, 2016). 6.3 Neurociência A função do neuropsicopedagogo centra-se na compreensão das dificuldades apresentadas pelos indivíduos e no auxílio à elaboração de conteúdos pedagógicos pertinentes para alunos com necessidades especiais, sejam estas físicas ou cognitivas. Essa função está estreitamente ligada à neurociência, que conecta os campos da educação e da saúde em sua definição. Segundo Bartoszeck, a neurociência é uma área do conhecimento biológico que se vale das descobertas de suas subáreas, como a neurofisiologia, neurofarmacologia, eixo psiconeuroimuno, psicologia evolucionária e neuroimagem, para esclarecer o funcionamento do sistema nervoso (Bartoszeck, 2013). A neurociência é uma aliada poderosa no processo de aprendizagem e constitui a base da neuropsicopedagogia, permitindo sua plena atuação. Esta disciplina busca integrar estudos de seus próprios campos com os conhecimentos de outros profissionais, tanto da educação quanto da saúde. 42 O conhecimento em neurociência é de vital importância para a atuação do neuropsicopedagogo, uma vez que sua função envolve a compreensão das dificuldades que o indivíduo desenvolve e a assistência na elaboração de intervenções baseadas em referenciais da neurociência, sempre com um olhar psicopedagógico. Intersecções e Singularidades Nota-se que as três disciplinas se intersectam significativamente, mas cada uma possui suas especificidades: • Neuropsicopedagogia: Foca na aplicação prática de conhecimentos neurocientíficos e neuropsicológicos para otimizar o aprendizado e a educação. • Neuropsicologia: Centra-se na compreensão clínica e tratamento de disfunções cerebrais que afetam o comportamento e a cognição. • Neurociência: Abarca uma vasta gama de pesquisas sobre o sistema nervoso, desde o nível molecular até comportamental, fornecendo a base científica para as outras duas disciplinas. Em conclusão, a neuropsicopedagogia, a neuropsicologia e a neurociência são áreas complementares que, através de suas abordagens únicas, contribuem para um entendimento mais completo e integrado do cérebro e do comportamento humano. Juntas, elas possibilitam avanços significativos na educação, na saúde mental e no tratamento de condições neurológicas, promovendo o bem-estar e o desenvolvimento humano. 7 A ABORDAGEM NEUROPSICOPEDAGÓGICA NO CONTEXTO ATUAL A neuropsicopedagogia não surgiu de forma repentina, mas sim a partir de um contexto histórico-cultural marcado por mudanças sociais e avanços técnico- científicos que promoveram uma inovadora interação entre a neurociência, a psicologia e a pedagogia. Essas transformações demonstraram que, por meio de um processo contínuo de pesquisa e verificação nessas áreas, foi possível perceber que a interdisciplinaridade é essencial para se obter uma compreensão mais ampla do ser humano e para alcançar resultados que potencializem as funções cognitivas em alunos com diferentes níveis de desenvolvimento (PAVÃO e SOUZA, 2018). 43 O trabalho interdisciplinar sobre o processamento da informação e a modularidade da mente, abordado sob a perspectiva da Neurociência Cognitiva, Psicologia, Pedagogia e Educação, é realizado por profissionais com formação multidisciplinar e direcionado para fins educacionais. Espera-se, portanto, que a abordagem de pesquisa proposta permita a correlação de diversas características do funcionamento neurofisiológico, cognitivo, intelectual, acadêmico e comportamental, de forma que os dados clínicos possam ser aplicados ao contexto escolar (PAVÃO e SOUZA, 2018).Ao longo dos anos, os avanços científicos nas áreas de neurologia, psicologia e pedagogia têm se entrelaçado com os estudos em neurociência, culminando na formação da neuropsicopedagogia. Esta nova disciplina busca promover pesquisas e estudos que contribuam para o aprimoramento da área como um todo. A integração desses campos tem trazido benefícios tanto para profissionais quanto para indivíduos que lidam com distúrbios neurológicos. De uma perspectiva mais abrangente, podemos entender essa convergência como uma ciência dedicada à análise do sistema nervoso e seu funcionamento no organismo, com ênfase na aprendizagem através da prática. Nesse sentido, a neuropsicopedagogia procura estabelecer uma relação entre a investigação neurocientífica e o conhecimento psicológico. A interação entre pedagogia, psicologia e neurociências deu origem ao campo conhecido como neuroeducação, que se dedica à identificação, diagnóstico, reabilitação e prevenção de dificuldades e incapacidades de aprendizagem. 7.1 Integração de Conhecimentos Interdisciplinares A neuropsicopedagogia combina insights de diferentes disciplinas para oferecer uma visão abrangente dos processos de aprendizagem. Este campo explora como o cérebro processa e armazena informações, considerando também os fatores emocionais e sociais que influenciam o aprendizado. Essa integração permite a elaboração de estratégias pedagógicas mais eficazes, alinhadas aos processos naturais do cérebro. 44 7.2 Avaliação e Intervenção Personalizada Os profissionais de neuropsicopedagogia utilizam avaliações detalhadas para identificar as dificuldades específicas de cada indivíduo. Com base nesses dados, desenvolvem intervenções personalizadas que visam melhorar as habilidades de aprendizagem e o desempenho acadêmico. Técnicas como jogos de percepção sonora, atividades de rima e segmentação de palavras são exemplos de intervenções utilizadas para desenvolver a consciência fonológica. 7.3 Apoio Institucional e Clínico A atuação neuropsicopedagógica pode ocorrer tanto em ambientes institucionais quanto clínicos. No contexto escolar, o neuropsicopedagogo trabalha com grupos para identificar dificuldades de aprendizagem e oferecer suporte educacional. Em ambientes clínicos, o foco é o atendimento individualizado, abordando transtornos de aprendizagem, distúrbios neurológicos e dificuldades cognitivas. 7.4 Adaptações Curriculares e Suporte Educacional A neuropsicopedagogia também contribui para a inclusão educacional. O profissional pode sugerir adaptações curriculares e estratégias de ensino diferenciadas para atender às necessidades de alunos com dificuldades específicas. Esse suporte é crucial para tornar o ambiente escolar mais inclusivo e propício à aprendizagem de todos os estudantes. 7.5 Relevância no Cenário Atual No contexto atual, marcado por uma maior conscientização sobre a diversidade de necessidades educacionais, a neuropsicopedagogia assume um papel fundamental. A complexidade dos desafios educacionais contemporâneos exige abordagens que considerem as interações entre fatores neurológicos, cognitivos e emocionais. 45 7.6 Impacto da Tecnologia na Educação A tecnologia tem transformado a maneira como aprendemos e ensinamos. A neuropsicopedagogia pode ajudar a compreender os impactos das tecnologias digitais no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem, promovendo o uso eficaz de ferramentas tecnológicas no ambiente educacional. 7.7 Saúde Mental e Educação A pandemia de COVID-19 destacou a importância da saúde mental no processo educativo. A neuropsicopedagogia pode oferecer suporte na identificação e intervenção em questões de saúde mental que afetam a aprendizagem, promovendo um ambiente escolar mais saudável e equilibrado. 7.8 Educação Inclusiva A promoção de uma educação inclusiva é uma prioridade crescente. A neuropsicopedagogia fornece as bases para entender e apoiar alunos com necessidades especiais, garantindo que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. 8 INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA EM CRIANÇAS COM TDAH A intervenção neuropsicopedagógica foca no microssistema individual para aumentar o potencial de desenvolvimento durante a infância. A baixa adaptação a diferentes contextos pode afetar negativamente o desenvolvimento psicossocial e o bem-estar, reduzindo a capacidade de viver e trabalhar eficazmente em sociedade. A integração eficaz ao longo da vida depende do apoio e cuidado do ambiente em que a criança se insere. Considerando que crianças e jovens interagem com diversos sistemas, é essencial que eles desenvolvam competências para serem eficazes em todos eles (SIMÃO, AIMI e CORREA, 2021). Portanto, é necessário promover o desenvolvimento de habilidades como resiliência, autoestima, autoconceito, maturidade emocional, gerenciamento de estresse, locus interno de controle, funções executivas, habilidades cognitivas e de 46 aprendizagem, além de habilidades sociais e de resolução de problemas. É crucial definir corretamente os antecedentes e a real extensão do transtorno, com base nos comportamentos e desempenhos esperados para cada criança ou jovem, levando em consideração sua idade, estado de desenvolvimento cognitivo, contexto ambiental e comportamento (SIMÃO, AIMI e CORREA, 2021). Todas as crianças, independentemente de sua condição, devem ter acesso aos serviços educacionais e de saúde necessários para melhorar sua qualidade de vida e se tornarem pessoas produtivas e úteis à sociedade. As condições individuais determinarão o tipo de programa de intervenção adequado para cada caso. Conforme revisado no primeiro capítulo, existem várias possibilidades de intervenção baseadas na abordagem teórica do profissional, devendo-se dar ênfase à condição individual (PORTO e SANTOS, 2019). Para os Transtornos Específicos de Aprendizagem, a intervenção enfatiza a automação de processos básicos de leitura. Em casos de deficiência cognitiva, o foco está no desenvolvimento de habilidades adaptativas e níveis superiores de pensamento, onde estratégias baseadas na modificabilidade cognitiva são potencialmente úteis. O manejo de distúrbios comportamentais pode ser facilitado pelo aprimoramento das funções executivas e da autorregulação comportamental (PORTO e SANTOS, 2019). Para crianças com talentos e habilidades excepcionais, é essencial promover o equilíbrio entre interesse, habilidade e qualidade da tarefa para que se tornem indivíduos úteis, produtivos, destacados e satisfeitos em suas áreas de conhecimento (VOLOBUFF, 2020). A família e a escola representam os principais microssistemas de intervenção, sendo os ambientes mais imediatos e influentes para as crianças. As dinâmicas e interconexões estabelecidas nesses ambientes são decisivas no processo de tratamento e no desenvolvimento de transtornos. Em crianças com transtornos do desenvolvimento, as condições não apenas afetam seu funcionamento, mas também impactam significativamente aqueles ao seu redor. O equilíbrio familiar é bidirecionalmente influenciado, pois a família, ao tentar se adaptar às condições geradas pela criança, adota uma série de comportamentos (VOLOBUFF, 2020). 47 8.1 Abordagem geral da avaliação do TDAH Conforme a abordagem neuropsicopedagógica, busca-se determinar as características neurofisiológicas, neuropsicológicas, acadêmicas e afetivo- comportamentais através de um estudo multidimensional, que possibilita a elaboração de perfis específicos e o desenvolvimento de estratégias de diagnóstico e intervenção (DE OLIVEIRA et al., 2020). Quando integrado à avaliação neurofisiológica, esse processo pode fornecer informações relevantes para uma compreensão mais aprofundada do TDAH, explorando a fisiopatologia e identificando marcadores neurobiológicos e neuropsicológicos em diversos transtornos doneurodesenvolvimento (DE OLIVEIRA et al., 2020). Para alcançar esse objetivo, é necessário desenvolver uma estratégia baseada na criação e implementação de um Protocolo de Avaliação Neuropsicopedagógica, que integre instrumentos de avaliação comportamental, cognitiva e acadêmica previamente padronizados, permitindo, ao mesmo tempo, uma correlação com dados neurofisiológicos (OLIVEIRA et al., 2020). 8.2 Avaliação neuropsicopedagógica No caso de crianças com TDAH, a observação e mensuração dos comportamentos e emoções no ambiente em que se desenvolvem dependem significativamente da natureza das normas e do contexto em que estão inseridas. Esse processo deve incluir a avaliação tanto do sentimento crítico individual quanto coletivo em relação à pertinência dessas normas. De acordo com o autor, essa situação resulta na necessidade de desenvolvimento de ferramentas adequadas para essa avaliação. Dentro dessas ferramentas estão escalas comportamentais ou questionários que permitem a avaliação objetiva dos comportamentos tanto no ambiente escolar quanto em casa (MUNCK, CARDOSO e LOUREIRO, 2021). Nesse contexto, para o macroprojeto, deve ser elaborada uma versão abreviada que possibilite uma avaliação cognitiva e acadêmica abrangente em crianças de 5 a 15 anos. Esta versão abreviada é composta por (MUNCK, CARDOSO e LOUREIRO, 2021): 48 • Subtestes para avaliação neuropsicológica: habilidades visuoespaciais e visuoperceptuais, memória verbal e visual, atenção visual e auditiva, flexibilidade cognitiva, linguagem (seguir instruções e habilidades metalinguísticas), habilidades visuoespaciais e visuoperceptuais, e fluência verbal (semântica e fonológica). • Subtestes para avaliação das habilidades de leitura (precisão, compreensão e velocidade) e habilidades de escrita (precisão, coerência narrativa e velocidade). A seleção desses subtestes é realizada com o objetivo de caracterizar o fenótipo cognitivo do TDAH, baseando-se em pressupostos teóricos que têm demonstrado importantes relações ao analisar o nível de funcionamento entre certas dimensões cognitivas e habilidades acadêmicas específicas. Especialmente relevantes são as funções executivas, a memória e a velocidade de processamento, fatores determinantes das diferenças individuais nas principais habilidades cognitivas (RAMALHO, 2022). No que diz respeito ao componente de avaliação médica e neurofisiológica, ele é composto por uma análise da história de desenvolvimento pré e pós-natal, estado físico, sistêmico, sensorial (visual e auditivo) e sinais neurológicos leves, além de uma avaliação neurofisiológica baseada na obtenção de potenciais evocados cognitivos — visuais e auditivos (PECs). Os PECs são técnicas de processamento de sinais para a análise da atividade cerebral, consideradas ferramentas de apoio ao diagnóstico médico. Com o crescente interesse pela análise automatizada de biossinais, esse tipo de análise é vantajoso por seu caráter não invasivo e seu potencial para fornecer uma medida quantitativa do estado funcional do paciente, reduzindo a subjetividade das opiniões e proporcionando ao profissional mais informações clínicas (RAMALHO, 2022). Em particular, a pesquisa neurofisiológica focada no estudo do TDAH baseia- se no registro da atividade elétrica cerebral por meio de potenciais cerebrais associados a estímulos específicos, conhecidos como potenciais evocados cognitivos ou de longa latência. Estes são causados pela elaboração sensorial do indivíduo diante de um estímulo, com respostas relacionadas a funções cognitivas superiores, especialmente a atenção (ABREU et al, 2019). 49 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M. P.; e BASTOS, L. de S. As influências de Vygotsky e Luria à neurociência contemporânea e à compreensão do processo de aprendizagem. Revista práxis, ano V, n. 10, p. 42-53, 2013. 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