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IMUNOLOGIA TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA - Tolerância imunológica é a não resposta a um determinado antígeno • Isso é conseguido pela exposição prévia ao antígeno - AUTOTOLERÂNCIA: tolerância a autoantígenos • Propriedade fundamental do sistema imunológico normal • Falha da autotolerância -> desenvolve AUTOIMUNIDADE (doenças autoimunes) - A tolerância dos linfócitos pode acontecer nos órgãos linfoides primários (TOLERÂNCIA CENTRAL) e nos secundários (TOLERÂNCIA PERIFÉRICA) • A tolerância central certifica que os linfócitos (B ou T) maduros se tornem incapazes de responder a antígenos próprios • Mas sabemos que ela não é perfeita e alguns linfócitos auto reativos acabam saindo dos órgãos reconhecendo o que próprio • Por isso os mecanismos de tolerância periférica são necessários para prevenir a ativação desses linfócitos que podem causar uma doença Experimento de tolerância imunológica de Peter Medawar EXPERIMENTO 1 - Ele testou o processo de rejeição em camundongos - Pegou um camundongo neonato da linhagem A (com seu próprio sistema imune em desenvolvimento) - Depois de 6 semanas esse camundongo A já é adulto e ele enxertou nele um pedaço de pele de um camundongo da linhagem B - Depois de 7-14 dias ele viu que houve rejeição do enxerto EXPERIMENTO 2 - Ele pensou se era possível induzir a tolerância caso injetasse células do sistema imunológico do camundongo B no camundongo A - Ele injetou leucócitos da linhagem B no camundongo neonato da linhagem A -> como esse camundongo é muito novo e seu sistema imune está em formação ele adquire essas células como sendo dele - Após 6 semanas (com o camundongo já adulto) fez o enxerto de pele da linhagem B e após 7- 14 dias viu que isso deu certo e não levou a rejeição EXPERIMENTO 3 - Ele pegou um camundongo da linhagem A, injetou leucócitos da linhagem B com ele ainda neonato e após 6 semanas fez um enxerto de pele de uma linhagem C - Após 7-14 dias ele viu que o enxerto sofreu rejeição - Com esse experimento ele provou que é sim possível induzir tolerância imunológica e que existe uma ESPECIFICIDADE da tolerância imunológica Antes de tudo... como ocorre o desenvolvimento dos linfócitos? Como funciona a tolerância central dos linfócitos? - O pró-linfócito passa por uma proliferação e se alguma das células geradas não tiver a capacidade de expressar os pré-receptores antigênicos ela morre - As células que sobreviveram se diferenciam em pré-linfócitos e começam a expressar os receptores de antígenos - Elas se proliferam de novo e as células que ainda não estão expressando os receptores de antígenos morrem - O pré-linfócito se torna um linfócito imaturo (ainda não está pronto, mas já expressa um receptor de antígeno completo) - A célula entra em contato com o antígeno próprio • Se o reconhecimento do autoantígeno for fraco a célula sofre um processo de seleção positiva e fica viva • Se o reconhecimento do autoantígeno for forte a célula sofre seleção negativa e morre o Isso acontece para que células que reconheçam autoantígenos não vão para a corrente sanguínea A TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS T - Ocorre no Timo • Lá existem células epiteliais tímicas (apresentam MHC de classe II), células dendríticas e macrófagos • Elas interagem fisicamente com os timócitos (vão virar linfócitos T futuramente), o que é necessário para a maturação e seleção dos linfócitos T • Os timócitos em maturação ou reconhecem fortemente o antígeno próprio e morrem por seleção negativa, ou reconhecem fracamente o antígeno próprio e permanecem vivos por seleção positiva ou simplesmente não reconhecem o antígeno próprio e morrem por negligência - E o que são os autoantígenos? • São todas as proteínas e moléculas que estão espalhadas por todo o corpo. - Como os autoantígenos são apresentados no timo? • As células epiteliais tímicas têm um gene em atividade que sintetiza uma proteína denominada AIRE, relacionada ao alongamento transcricional e o desenrolamento e remodelamento da cromatina (funciona como um fator de transcrição) • Esse gene faz com que proteínas que não deveriam ser expressas no timo sejam o Isso acontece justamente para que os linfócitos T em processo de maturação encontrem esses autoantígenos e aconteça o reconhecimento • Quando há mutação no gene Aire os indivíduos desenvolvem a Síndrome Poliendócrina Autoimune que é caracterizada pela lesão mediada por anticorpos e linfócitos em múltiplos órgãos endócrinos (como o pâncreas, as suprarrenais e a paratireoides) A TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DOS LINFÓCITOS T - Nos órgãos linfoides secundários a células T já estão maduras - Caso alguma delas reconheça o próprio ela vai sofrer processos de autotolerância: anergia, deleção ou supressão - Em uma situação normal, na presença de microrganismos as células T se proliferam e há a formação de células T efetoras que trabalham na resposta imunológica - Na ANERGIA acontece a não responsividade funcional • A célula não morre, mas também não faz nada • A exposição de células T maduras a um antígeno, na ausência de co-estímulo, pode tornar essa célula incapaz de responder o antígeno • 2 mecanismos: o Bloqueio de sinalização: ▪ A célula dendrítica se liga a célula T fazendo o 1º sinal, mas sem co- estimulação mediada pelo CD28 -> bloqueio da sinalização • Esse bloqueio de sinalização pode se dar quando a proteína CBL-b que leva a ubitiquinação do complexo TCR -> endocitose e a degradação lisossomal do complexo TCR) • Também pode ser quando a ligação do CTLA-4 ao B7 o que ativa a fosfatase, removendo os fosfatos das moléculas de sinalização associadas ao TCR e ao CD28, inibindo a célula T o Redução da disponibilidade de B7: ▪ O B7 é importantíssimo para a ativação do linfócito T ▪ O CTLA-4 se liga às moléculas B7 das APCs, impedindo-as de se ligarem ao CD28 ▪ OU o CTLA-4 induz endocitose de B7, reduzindo a expressão destas nas APCs ▪ Resultado final: redução de B7 nas APCs -> deficiência na coestimulação -> inibição da célula T - Na DELEÇÃO a célula entra em processo de apoptose e morre • 2 mecanismos: via intrínseca e extrínseca • Proteínas sensores (BH3) se ligam a proteínas efetoras no processo de morte celular • As proteínas efetoras tem a capacidade de levar a célula a apoptose (são chamadas de pró-apoptóticas) • Sinais fortes gerados por autoantígenos em linfócitos T imaturos e/ou privação de fator de crescimento ativam a BH3 • No caso da via intrínseca a caspase 9 é a iniciadora • A via extrínseca é quando a célula que recebeu o sinal forte (Fas) se liga ao FasL e recruta a caspase-8 - Na SUPRESSÃO as células T reguladoras promovem o bloqueio na ativação da célula T • A célula T reg é um subconjunto de células T CD4+ (auxiliar) cuja função é suprimir as respostas imunológicas e manter a autotolerância • As T reg podem ser geradas no timo ou em órgãos periféricos • Uma das coisas que elas fazem para bloquear a ativação de outras células é produzir citocinas imunossupressoras IL-10 e TGF-beta • Outro mecanismo é reduzir a habilidade das APCs em estimular as células T • E o ultimo mecanismo é o consumo de IL-2 (uma citocina que leva a proliferação de células T) pela T reg A TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS B - Acontece na medula óssea - Se há um receptor que reconhece o próprio então acontece a edição do receptor • RAG-1 e RAG-2 são responsáveis por isso - Se há uma falha nessa edição então a célula sofre apoptose e anergia (acontecem de maneira muito semelhante ao linfócito T) TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DOS LINFÓCITOS B - Acontece caso saia da medula óssea alguma célula com potencial para ser auto reativa - Na ausência de T auxiliar, ao encontrar o autoantígeno na periferia a célula torna-se anérgica • Não teve os sinais necessários para que a célula B evolua - Pode ser quea célula anérgica encontre outra célula T ativada • Nesse caso a B é eliminada pela interação entre Fas da célula B e FasL da célula T - Quando há uma falha nos mecanismos de autotolerância há a reação contra as células próprias levando a uma AUTOIMUNIDADE • As doenças autoimunes são crônicas e incuráveis - A autoimunidade está relacionada com fatores genéticos e infecções - As doenças autoimunes podem ser divididas em sistêmicas e órgão-especificas • Ex: lúpus é sistêmico -> autoanticorpos se ligam a autoantígenos formando os imunocomplexos -> esses imunocomplexos acabam sendo retiros nos glomérulos dos rins (no processo de filtração) -> outras células são recrutadas para o rim levando a uma inflamação renal - Mecanismos efetores da lesão tecidual: complexos imunológicos, autoanticorpos e linfócitos T autorreativos - Papel das infecções na autoimunidade: • 1) Expressão de coestimuladores nas APCs o A infecção por um vírus infecta a APC e faz com que ela passe a expressar um coestimulador -> o que leva a autoimunidade • 2) Mimetismo molecular o Alguns microrganismos tem moléculas muito parecidas com as nossas -> reação cruzada -> o corpo ao tentar combater esse microrganismo também combate os nossos antígenos próprios