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CONTROLADORES LÓGICOS PROGRAMÁVEIS AULA 1 Profª Carla Eduarda Orlando de Moraes de Lara 2 CONVERSA INICIAL Neste estudo, vamos abordar diversos assuntos relacionados a esses dispositivos tão versáteis e que podem ser aplicados em diferentes processos e indústrias. Vamos começar falando sobre o histórico desses dispositivos, suas definições e evolução (Tópico 1). Em seguida abordaremos suas aplicações e discutiremos suas vantagens (Tópico 2). No Tópico 3 analisaremos seu funcionamento e aprofundaremos o tema falando sobre métodos de processamento e modos de operação. No Tópico 4 vamos nos dedicar à compreensão dos elementos que formam a estrutura interna do controlador lógico programável, que chamamos de arquitetura. Finalizaremos (Tópico 5) verificando as possíveis classificações adotadas para esses dispositivos e analisando as implicações dessas classificações em sua especificação para as mais diversas aplicações. TEMA 1 – HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO Começaremos nossos estudos sobre o controlador lógico programável (CLP) entendendo o contexto histórico em que ele foi desenvolvido, abordando suas definições e analisando seu processo de evolução. Esses assuntos são relevantes para compreendermos as razões que levaram à criação de um dispositivo com as características do CLP, que viria a se tornar um dos controladores mais utilizados na automação industrial. Para compreendermos a criação dos controladores lógicos programáveis precisamos antes analisar as categorias da automação industrial, pois por meio das particularidades de cada categoria podemos classificar os dispositivos. Quando falamos em classificação da automação existem diferentes possibilidades, porém aqui vamos adotar como critério de classificação o nível de flexibilidade dos sistemas. Segundo Camargo (2014), a automação industrial pode ser classificada em fixa, programável e flexível. Além do grau de flexibilidade dos sistemas, é comum analisarmos as categorias tendo em vista a variedade de produtos e a quantidade a ser produzida. Assim, na Figura 1 são apresentadas as relações entre esses elementos para as três categorias de automação industrial citadas. 3 Analisando a Figura 1 podemos observar que quanto mais flexível o tipo de automação, considerando que a flexibilidade cresce da automação fixa para a flexível, menor é a quantidade produzida e maior a variedade de produtos. Nesse cenário fica mais fácil compreender o processo de evolução dos sistemas automatizados. Os primeiros sistemas automatizados desenvolvidos eram sistemas empregando automação fixa, também chamada automação rígida ou cabeada. Esses sistemas empregavam componentes eletromecânicos, baseados em relés e contatores, para o desenvolvimento de lógicas de funcionamento e controle dos processos. Têm como vantagem os custos de implantação, que são atrativos. Entretanto, quando analisados sob a questão de flexibilidade, são praticamente inflexíveis quanto à reprogramação, pois para alterações em sua lógica de funcionamento é necessário reconexão física de elementos. É justamente nesse sentido que surge a necessidade da criação de tecnologias que permitam a reprogramação do sistema automatizado sem a necessidade de reconexão física. Devido às situações mencionadas anteriormente, surgiu a automação programável, da qual podemos citar como exemplo de controlador empregado o CLP, foco do nosso estudo. Por fim, temos a automação flexível, que mistura elementos das outras categorias, porém é o tipo mais ajustável a mudanças no processo. Figura 1 – Relação entre a quantidade produzida e a variedade de produtos conforme o tipo de automação Fonte: Elaborada por Lara, 2022 com base em Camargo, 2014. 4 Agora que compreendemos as categorias de automação, vamos abordar o cenário em que surgiu o CLP e discutir suas definições e evolução. 1.1 Histórico e definições O CLP, também conhecido pela sigla de seu nome em inglês programmable logic controller (PLC), é um dispositivo físico, eletrônico, munido de memória interna, com capacidade para armazenar sequências de instruções lógicas e outros comandos, tendo como principal característica a possibilidade de reprogramação (Rosário, 2005). Conforme discutido por Rosário (2005), os primeiros modelos de CLP surgiram no ano de 1968 em virtude de uma necessidade de reprogramação dos processos industriais observada pela General Motors (GM), que foi responsável pela criação da primeira lista de especificações de um dispositivo que viria a se tornar o CLP. Antes de discutirmos essas especificações, precisamos entender como eram implementados os sistemas automatizados nessa época. Como discutimos anteriormente, os sistemas automatizados empregavam a automação fixa, principalmente utilizando painéis eletromecânicos a relés, portanto a reprogramação dos processos era trabalhosa, pois requeria reconexão física e parada da produção, gerando custos e diminuindo a produtividade. Como a indústria automobilística estava aquecida, a GM sentiu a necessidade de dispositivos que permitissem a reprogramação de uma forma facilitada, sem a necessidade de parada de produção, e que ocupassem espaços menores para otimização do espaço no chão de fábrica. Portanto, a empresa lançou uma lista de especificações para um controlador que viria a ser conhecido como CLP. Entre essas especificações estavam as seguintes (Moraes, 2015): • facilidade de programação (e reprogramação); • manutenção facilitada empregando o conceito plug-in; • alta confiabilidade; • dimensões reduzidas quando comparadas aos painéis a relés; • envio de dados para processamento centralizado; • preço e custo de implantação competitivos; • sinais de entrada e saída de 115 VCA; • expansão em módulos. 5 Seguindo as especificações da GM, a fabricante Gould Modicon lançou o primeiro dispositivo que futuramente viria a ser considerado o primeiro CLP da história, que sofreu alterações ao longo dos anos principalmente por conta dos avanços tecnológicos que enfrentamos. Essas alterações marcam a evolução do CLP, que abordaremos a seguir. Além disso, é importante ressaltar que os modelos disponíveis atualmente possuem diversas funções adicionais à lista desenvolvida pela GM anteriormente, o que possibilitou a utilização desse dispositivo nos mais diversos processos e tipos de indústrias. Atualmente, a utilização do CLP ultrapassou os limites da automação industrial e ele é empregado em outras categorias de automação, como residencial e predial. 1.2 Evolução Quando falamos em evolução do CLP precisamos ter em mente que ela ocorreu principalmente pela evolução dos elementos que o formam, como os microprocessadores. De acordo com Rosário (2005), em 1971 o CLP começou a ser empregado em outros tipos de indústrias, além da automobilística, e em 1975 foi introduzido o controlador proporcional integral derivativo (PID), o que possibilitou uma maior gama de aplicação do dispositivo. Ainda segundo esse mesmo autor, até 1977 o CLP era constituído apenas de componentes eletrônicos discretos, posteriormente substituídos por microprocessadores, amplamente aceitos na automação industrial. É comum dividir a evolução do CLP em cinco gerações, as quais estão relacionadas aos sistemas de programação desse dispositivo. Como discutido por Zancan (2011), a evolução dos CLPs pode ser classificada como indicado a seguir. • 1ª geração. Esta geração tem como principal característica o emprego de uma linguagem de programação que se relaciona diretamente com o hardware do CLP, no caso, a linguagem Assembly. Isso implicava no conhecimento do projeto completo do CLP por parte do programador, isto é, além de conhecer e dominar a linguagem de programação Assembly, o programador também precisava ter conhecimento doscomponentes eletrônicos que formavam o modelo de CLP com o qual ele iria trabalhar. • 2ª geração. A partir desta geração surgem as primeiras linguagens de programação específicas para o CLP, porém a complexidade dessas 6 linguagens ainda era de nível médio. Nesta geração era possível desenvolver programas de instruções nessas linguagens, que posteriormente eram convertidos pelo próprio CLP em linguagem de máquina, o que de certa forma simplificou sua programação. • 3ª geração. O grande marco desta geração é a criação de entradas de programação, ou seja, foi possível conectar dispositivos para a programação do CLP, como teclados e programadores portáteis. A grande vantagem do uso desses dispositivos de programação era realizar alterações, gravar e apagar programas de instruções implementados anteriormente e, ainda, realizar testes. • 4ª geração. Nesta geração surge a comunicação serial, ou seja, empregando-se uma entrada destinada a esse tipo de comunicação era possível a conexão com outros dispositivos, como os microcomputadores. Desse modo, passou a existir a possibilidade de programação do CLP por meio de um computador, realizando-se em seguida a transferência, para o CLP, do programa de instruções desenvolvido pelo usuário. • 5ª geração. A última geração faz uso de protocolos de comunicação, permitindo assim a comunicação com outros equipamentos, tornando a aplicação dos CLPs ainda mais versátil. Além disso, como os protocolos de comunicação são padronizados, existe a possibilidade de comunicação de dispositivos de diferentes fabricantes, desde que utilizem um mesmo protocolo. Outra vantagem da utilização dos protocolos de comunicação é a comunicação do CLP com os sistemas supervisórios, fundamentais para o monitoramento e a supervisão das plantas industriais. Assim, podemos concluir que, com as evoluções e transformações do CLP ao longo dos anos, foi possível aplicá-lo em diferentes processos, tornando esse dispositivo um dos mais (senão o mais) utilizados nos sistemas de automação em geral. TEMA 2 – APLICAÇÕES E VANTAGENS Conforme vimos no tópico anterior, o controlador lógico programável teve boa aceitação na indústria e é o controlador mais utilizado tanto nesse ambiente quanto em outros setores da automação. Além disso, discutimos sobre seu 7 processo de evolução, que resultou em um dispositivo com diferentes capacidades e aplicações. Neste tópico vamos abordar as principais categorias de aplicações do CLP, diferenciando-as principalmente pelo tipo de controle que exercem sobre os sistemas. Trataremos ainda das vantagens que o uso do CLP traz tanto para a automação dos sistemas quanto para os demais setores da planta, como a gestão da produção e a gestão da manutenção. Assim, dividiremos nossos estudos, trabalhando primeiramente os conceitos relacionados às aplicações do CLP e, na sequência, discutindo suas vantagens. 2.1 Aplicações Devido à presença das diferentes funções agregadas ao CLP com o passar dos anos, ele hoje pode atuar em qualquer tipo de sistema de controle, pois é um dos controladores mais robustos disponíveis no mercado. Nesse contexto, começaremos nossa discussão verificando um diagrama que representa a posição do CLP em um sistema de controle em malha fechada, apresentado na Figura 2. Analisando a Figura 2 podemos perceber que o CLP atua recebendo informações sobre o processo por meio dos sensores, o que caracteriza um sistema realimentado, pois é possível medir e averiguar os parâmetros do sistema após o envio de um comando aos atuadores. Com o processamento dos dados oriundos dos sensores, o CLP executa um programa de instruções desenvolvido pelo usuário com a intenção de executar as lógicas de comandos, finalizando sua ação enviando comandos a respeito de ações a serem executadas pelos atuadores. Assim como os demais sistemas de controle em malha fechada, o objetivo é manter os parâmetros do processo dentro de um set point. Sobre o processo de obtenção de sinais oriundos dos sensores e envio de comandos aos atuadores, vamos discuti-lo com mais detalhes mais adiante nesta etapa. 8 Figura 2 – Fluxo de sinais em um sistema de controle Para entendermos as aplicações dos controladores lógicos programáveis, vamos analisar os possíveis tipos de controle que podemos ter nas aplicações. Para isso, assumiremos a classificação abordada por Camargo (2014), que divide os tipos de controle em binário, digital e analógico. 2.1.1 Controle binário O controle binário ainda pode ser subdividido em controle lógico e controle sequencial. O controle lógico emprega a lógica binária para realizar a operação, sendo comum ser denominado controle combinacional ou discreto. Mas, afinal, o que é uma variável discreta? Primeiramente precisamos dizer que vamos abordar esse assunto com mais detalhe em conteúdo posterior, entretanto podemos definir uma variável discreta como aquela que pode assumir apenas determinados valores. Existe ainda um tipo particular de variáveis discretas que pode assumir apenas dois valores, a que chamamos variável binária. Assim, qualquer um dos elementos de um sistema de controle binário lógico poderá assumir apenas dois estados, que também serão complementares como, por exemplo, um sensor que pode ser ativado/desativado, um motor que 9 pode ser/estar ligado/desligado, um contato que pode ser aberto/fechado (Camargo, 2014). O controle binário também pode ser sequencial. Nesse tipo, as operações acontecem de forma sequencial, uma depois da outra. Nesses sistemas a saída é uma função dos sistemas presentes nas entradas e depende do estado atual. A próxima etapa está condicionada à ocorrência de algumas condições da etapa anterior (Camargo, 2014). 2.1.2 Controle digital O controle digital é comum nos sistemas modernos que fazem uso de processamento distribuído. Podemos dizer que esses sistemas utilizam redes de comunicação industrial para a conexão de sensores, controladores e atuadores, permitindo assim a comunicação digital entre eles. 2.1.3 Controle analógico O controle analógico pode até mesmo ser considerado uma capacidade adicional do CLP, conforme discutido em Groover (2011). Ele é empregado para o controle de processos contínuos, principalmente quando falamos de sistemas que têm como objetivo manter uma variável dentro de uma faixa de valores. 2.2 Vantagens A respeito das vantagens do uso dos CLPs, já discutimos algumas delas quando falamos das especificações definidas inicialmente pela GM, porém agora vamos discutir outras vantagens, inclusive as que foram agregadas com o tempo. Quando falamos em vantagens desses dispositivos precisamos ter em mente que a maioria delas são vantagens quando tais dispositivos são comparados com os antigos painéis a relés, que foram substituídos pelo CLP em aplicações que necessitavam do uso de automação programável. A principal vantagem do CLP foi a flexibilização da produção, embora existam atualmente outros dispositivos considerados mais flexíveis, como os sistemas flexíveis de manufatura. Voltando ao conceito de flexibilidade do CLP, podemos considerar que eles são mais versáteis quanto à programação quando comparados aos painéis a relés, pois permitem a reprogramação de processos sem a necessidade de reconexões físicas nos elementos. 10 Outro critério que deve ser considerando na análise das vantagens dos CLPs é o espaço ocupado por estes equipamentos no chão de fábrica, pois eles possuem dimensões reduzidas, portanto otimizam a utilização do leiaute da instalação. Além disso, o CLP também consome menos energia elétrica devido às características de seus componentes. Ainda sobre a reprogramação, essa característica permite que um mesmo CLP possa ser reutilizado em outros processos após deixar de ser empregado no processo anterior. Alémdisso, essa reprogramação é facilitada pelos dispositivos de programação, que permitem inclusive a realização de testes antes da transferência do programa de instruções para o dispositivo. Por fim, conforme discutimos no tópico referente à evolução do CLP, a partir da quinta geração ocorreu a possibilidade de comunicação com outros equipamentos, portanto a comunicação entre o CLP e outros dispositivos foi facilitada. Quando avaliamos as possibilidades que a indústria 4.0 traz para as plantas industriais, constatamos que essa possibilidade de comunicação é fundamental para o uso do CLP atualmente. Além disso, a gestão da manutenção teve seu trabalho otimizado com o emprego do CLP e a gestão da produção pode obter mais dados a respeito dos processos. TEMA 3 – FUNCIONAMENTO Neste tópico conversaremos a respeito do funcionamento do CLP, que possui algumas particularidades, principalmente quando consideramos os métodos de processamento e os modos de operação, que veremos adiante. Segundo Rosário (2005), o CLP possui, como princípio de funcionamento fundamental, a execução de um programa desenvolvido pelo fabricante que ocorre na sua central de processamento. Esse programa tem uma rotina cíclica sequencial que consiste em leitura das variáveis de entrada por meio do módulo de entrada do CLP. Em seguida ocorre a execução de um outro programa, desenvolvido pelo usuário e denominado programa de instruções, seguida da última etapa, em que as variáveis de saída são atualizadas conforme os resultados das lógicas e operações realizadas na etapa anterior. O processo cíclico descrito anteriormente é designado ciclo de varredura, ou ciclo de scan, que é ilustrado por meio do fluxograma apresentado na Figura 3. Esse ciclo pode ser dividido basicamente em três etapas de varreduras, por isso o nome ciclo de varredura. A primeira é a varredura das entradas. Nessa 11 etapa o CLP realiza a verificação dos sinais que estão sendo recebidos em seu módulo de entrada, a fim de constatar se ocorreu alguma alteração em relação ao ciclo anterior. A próxima é a varredura do programa, que consiste na execução do programa desenvolvido pelo usuário; os valores de entrada armazenados na memória na etapa anterior são empregados em cálculos da lógica de controle, com a intenção de determinarem-se os valores e condições das saídas. Finalmente, na última etapa, ocorre a varredura das saídas, na qual são atualizados os valores das variáveis de saídas com base nos cálculos da etapa anterior (Groover, 2011). Figura 3 – Funcionamento de um CLP O tempo de execução do ciclo das varreduras é denominado tempo de varredura e depende de vários fatores: quantidade de entradas e saídas, complexidade das lógicas contidas no programa de instruções e velocidade do clock do processador. Normalmente a execução de cada ciclo de varredura é rápida o suficiente para identificar variáveis nas variáveis de entrada e interferir a tempo na atualização das saídas. Entretanto, dependendo do programa 12 desenvolvido pelo usuário e da velocidade do processo, podem ocorrer alguns problemas quanto ao tempo de varredura, o que, todavia, não costuma ser comum. A seguir vamos discutir outros métodos de processamento, destinados a condições específicas e diferentes do cenário em que ocorre a execução do ciclo de varredura. Além disso, também abordaremos os modos de operação relacionados com o modo de operação da unidade central do CLP. 3.1 Métodos de processamento Além da rotina cíclica de processamento descrita anteriormente, existem outros métodos de processamento que possibilitam ao CLP realizar o processamento do programa de instruções. Esses métodos estão relacionados a condições em que é necessário processar o programa de instruções de maneiras diferentes, a saber: • processamento por interrupção; • processamento comandado por tempo; • processamento por evento. O processamento por interrupção acontece em situações nas quais ocorre alguma circunstância em que não se pode esperar a execução completa do ciclo de varredura, sendo necessário parar esse ciclo e tratar a ocorrência. Nesse caso, a unidade central de processamento para a execução do ciclo de varredura, salvando o ponto de parada desse ciclo, e executa um outro programa, denominado programa de interrupção, que vai lidar com a anomalia. Na sequência, o ciclo de varredura é retomado do ponto em que foi interrompido. É importante ressaltar que podem ser definidos diferentes programas de interrupção, destinados às possíveis condições que podem ocorrer durante o processo. Outra possibilidade de processamento é o comandado por tempo. Nesse caso o princípio é semelhante ao processamento por interrupção, porém as situações que envolvem o acionamento desse método estão relacionas com intervalos de tempo regulares. Além dos métodos discutidos anteriormente, temos o processamento por evento. Esse método está condicionado à ocorrência de eventos específicos 13 que, caso venham a ocorrer, deverá ser acionado. Alguns exemplos de eventos que podem ser tratados por esse método são: • problemas com o sistema de baterias; • retorno à operação após queda de energia elétrica; • estouro do tempo de execução do ciclo de varredura. Conforme pudemos observar, cada método de processamento é destinado a uma condição com a qual a execução do ciclo de varredura não é capaz de lidar. 3.2 Modos de operação Os modos de operação estão associados com a operação da unidade central de processamento, que pode assumir diferentes modos de operação baseados na situação em que o CLP se encontra. Esses modos de operação são divididos em modo de programação, modo run, modo stop e modo reset. A seguir examinaremos as características e funções de cada um desses modos, verificando as condições em que cada um deles deve ser acionado. 3.2.1 Modo de programação O modo de programação, como o próprio nome sugere, é destinado à programação do dispositivo. Nesse modo é possível fazer a transferência de programas de instruções desenvolvidos pelo usuário na unidade de programação para o CLP, assim como o download de programas que estejam armazenados no CLP. Em termos gerais, somente nesse modo é possível fazer o upload de programas implementados. Entretanto, existem modelos desenvolvidos recentemente que permitem a implementação on-line de alterações nos programas de instruções, enquanto o CLP se encontra no modo run. Todavia, a literatura nos fala que o modo de programação é o destinado a tal função, inclusive alguns modelos emitem avisos solicitando a alteração do modo de operação quando tentamos realizar upload/download de programas enquanto o CLP se encontra em outros modos. 14 3.2.2 Modo run Quando o CLP se encontra no modo run ocorre a execução do programa de instruções com o emprego do método de processamento cíclico que discutimos anteriormente, o ciclo de varredura. Nesse caso, todas as ações desenvolvidas pelo CLP estão condicionadas às lógicas contidas no programa de instruções que está ativo. Assim, após realizar o envio do programa de instruções, é necessário trocar o modo de operação de programação para o modo run. Nesse modo o CLP também pode se comunicar com outros dispositivos, como outros CLPs e interfaces homem-máquina (IHMs). 3.2.3 Modo stop O modo stop é acionado quando é necessário parar o CLP, que, nesse modo, se encontra literalmente parado. Esse modo é indicado para situações em que se deseja verificar as condições das entradas do CLP, permitindo que sejam detectados possíveis problemas com o módulo. Além disso, nesse modo não ocorre a atualização das saídas. Não é possível realizar o upload/download de programas nem executar programas que estejam armazenados em sua memória. 3.2.4 Modo reset Além dos modos já explicados, pode ser necessárioativar o modo reset. Nesse modo ocorre a restauração das condições originais de fábrica do controlador. Quando esse modo é acionado todas as ações definidas pelo usuário ou por programas de instruções desenvolvidos por ele são resetadas e o CLP passa a assumir as condições definidas pelo fabricante. TEMA 4 – ESTRUTURA INTERNA DE UM CLP Agora que já discutimos as aplicações, vantagens e funcionamento do CLP, vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre sua estrutura interna. Portanto, neste tópico apresentaremos os elementos que compõem o CLP. Segundo Groover (2011), um CLP é formado por alguns elementos básicos: microprocessador, unidade de memória, módulo E/S e dispositivo de 15 programação. O microprocessador é a unidade central de processamento (UCP) ou, como é conhecido, CPU (central processing unit). O conjunto formado pelos elementos internos do CLP é comumente denominado arquitetura do CLP. A Figura 4 ilustra essa arquitetura, relacionando os componentes entre si. Figura 4 – Arquitetura do CLP Fonte: Elaborado por Lara, 2022 com base em Moraes, 2015. Como cada elemento da arquitetura é fundamental para o funcionamento do CLP, dividimos nossos estudos em tópicos nos quais serão abordados cada um dos elementos. A seguir encontraremos detalhes das funções de cada componente da arquitetura do CLP. 4.1 Fonte de alimentação A fonte de alimentação é responsável por fornecer energia elétrica à UCP e aos módulos de entrada e saída. Além disso, ela é responsável por realizar a conversão da alimentação de corrente alternada (proveniente da rede que alimenta o CLP) para corrente contínua em níveis de tensão adequados para a alimentação dos componentes. 16 Ademais, existe também um sistema de baterias responsável pela alimentação de sistemas vitais como as memórias. Esse sistema pode ser acionado caso ocorra uma falta de energia na rede ou quando o CLP é desligado. Segundo Moraes (2015), as fontes podem ser divididas em: • source: fonte de energia interna ao controlador; • sink: fonte de energia externa ao controlador. Ainda sobre o nível de tensão, normalmente um CLP costuma ser acionado por uma fonte de alimentação de 115 VAC, sendo necessário converter essa tensão para ± 5 VCC. Essas tensões são utilizadas para acionar equipamentos cuja tensão e potência podem ser até mesmo superiores às do CLP (Groover, 2011). 4.2 Módulos de entrada/saída Quando falamos dos módulos de entrada/saída estamos nos referindo aos componentes que realizam o interfaceamento do CLP com os demais dispositivos conectados a ele. Todo módulo de entrada/saída pode ser dividido em duas funções: entrada e saída. A entrada será utilizada para a comunicação com os diversos tipos de sensores que podem ser empregados nos processos industriais, como chaves fim de curso, interruptores e botoeiras. Existem ainda alguns CLPs que contam com entradas analógicas, sendo possível receber sinais oriundos de sensores analógicos, como sensores de temperatura. Já a parte de saída é responsável pela comunicação com os atuadores, os quais são conectados às saídas do CLP. O módulo de saída é responsável por enviar comandos de ligado/desligado a motores, válvulas e outros tipos de dispositivos empregados na atuação dos processos (Groover, 2011). Na sequência, estudaremos cada tipo de módulo e observaremos suas possíveis configurações. 4.2.1 Módulos de saída Quanto aos detalhes dos módulos de saída, vamos abordar os três principais modelos, os quais, segundo Moraes (2015), são classificados de acordo com seus métodos de acionamento e dividem-se em: saída a relé, saída a TRIAC e saída a transistor. 17 A Figura 5 traz uma representação do módulo de saída a relé, sendo possível observar que o atuador será acionado quando o contato do solenoide for fechado. Nesse tipo de configuração, quando o endereço da respectiva saída é ativado ocorre o acionamento do solenoide, fechando assim o contato no borne de saída do controlador (Moraes, 2015). A principal vantagem desse tipo de módulo é a robustez, uma vez que ele é muito resistente a diferentes anomalias na rede. Porém, segundo Moraes (2015), sua desvantagem está na baixa vida útil quando comparado aos demais módulos, tendo um número de acionamentos limitados entre 150.000 e 300.000, com corrente de até 5 A. Figura 5 – Módulo de saída a relé Outra possibilidade para acionamento de saídas é o módulo de saída a TRIAC, apresentado na Figura 6. Nesse modelo o elemento acionador é um TRIAC que é empregado quando a fonte é de corrente alternada. Além disso, durante sua vida útil pode fornecer até 10x106 acionamentos com uma corrente de até 1 A (Moraes, 2015). Figura 6 – Módulo de saída a TRIAC 18 Por fim temos o módulo de saída a transistor, mostrado na Figura 7. Nesse modelo o elemento acionador é um transistor comum ou do tipo efeito de campo (FET), o módulo mais utilizado. A recomendação é que esse método seja utilizado com fontes de corrente contínua. Tem capacidade de fornecer correntes de até 1 A, com até 10x106 acionamentos ao longo de sua vida útil (Moraes, 2015). Figura 7 – Módulo de saída a transistor 4.2.2 Módulos de entrada Os módulos de entrada contam com optoisoladores em cada um de seus circuitos. Somente para entendermos melhor o funcionamento dos módulos de entrada, vamos entender o que é um optoisolador, que pode ser definido como um dispositivo eletrônico utilizado na transmissão de sinais empregando a luz. A Figura 8 traz uma representação de um módulo de entrada, através da qual podemos observar que quando um sensor é acionado fechando o circuito externo, um diodo emissor de luz aciona o componente de base, forçando a circulação de corrente interna no circuito de entrada correspondente. 19 Figura 8 – Módulo de entrada a optoisolador Ao longo de sua vida útil pode fornecer até 10x106 acionamentos com corrente de até 100 mA (Moraes, 2015). 4.3 Unidade central de processamento Conforme já discutimos, a unidade central de processamento é formada pelo microprocessador. Em termos gerais, podemos considerá-la o cérebro do CLP. Nela estão as memórias, as quais discutiremos a seguir. Segundo Moraes (2015), a UCP encarrega-se da execução do programa de instruções e da atualização da memória de dados e da memória imagem das entradas e saídas. A seguir vamos abordar os tipos de memórias empregadas no CLP e suas respectivas funções. 4.3.1 Memórias Como existem diferentes tipos de dados no CLP, temos também diferentes tipos de memórias: memória EPROM, memória do usuário, memória de dados e memória imagem das entradas e saídas. A memória EPROM armazena o programa monitor desenvolvido pelo fabricante do CLP e responsável pela inicialização do equipamento, armazenamento de dados e gerenciamento das operações (Moraes, 2015). Essa memória não é acessível ao usuário e é um tipo de memória não volátil. A memória do usuário é responsável pelo armazenamento dos programas de instruções desenvolvidos pelo usuário. A UCP é encarregada da execução 20 do programa de instruções e atualização da memória de dados internos e da memória imagem das entradas e saídas. Já a memória de dados é a que armazena os dados referentes aos processamentos dos programas de instruções. É formada por uma tabela de valores manipuláveis (Moraes, 2015). Por fim, temos a memória imagem das entradas e saídas, responsável pela reprodução do estado dos periféricos de entradas e saídas. 4.4 Unidade de programação A unidade de programação é o periférico responsável pela interface de comunicação entre o usuário e o controlador durante o processo de programação deste. Existem diferentes possibilidades para esse dispositivo, como um computador ou um dispositivo portátil equipado com teclado e display. Além disso,segundo Moraes (2015), quando instalados esses periféricos permitem diagnósticos, alterações on-line, desenvolvimento de programas de instruções, monitoração e gravação e aparamento de memória. A escolha do dispositivo que será empregado dependerá da aplicação e das necessidades dos usuários. TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DOS CLPS Conforme havia sido mencionado inicialmente, nosso último tópico seria dedicado às possíveis classificações em que o CLP pode ser categorizado. Assim como outros dispositivos destinados à automação de sistemas, o CLP pode receber diferentes classificações de acordo com diferentes critérios. Neste tema vamos discutir duas possíveis classificações, uma relativa às possibilidades de estrutura do CLP e a outra ao tamanho desses dispositivos. Para uma melhor compreensão das classificações, vamos dividi-las em dois tópicos, o primeiro destinado à classificação quanto à estrutura e o segundo à classificação quanto ao tamanho. 5.1 Classificação quanto à estrutura A classificação quanto à estrutura leva em consideração como estão arranjados os elementos que formam a arquitetura do CLP. Basicamente existem duas possibilidades. Uma delas é todos esses elementos virem dentro 21 de uma única estrutura, ou seja, uma única caixa. A outra é quando temos cada elemento de sua estrutura em um módulo, sendo necessário conectar todos esses módulos para formar o CLP. Quando o CLP apresenta todos os elementos de sua estrutura em uma única caixa, ele é considerado um CLP compacto (Figura 9). Nesse modelo de CLP não existe a possibilidade de expansão. Desse modo, todas as especificações do modelo permanecerão sempre iguais, não sendo possível agregar módulos. A principal vantagem desse modelo é seu custo, pois costumam ser CLPs pequenos e com menores custos. Entretanto, como esses modelos não permitem a expansão, não é possível adicionar módulos de entrada e de saída ou melhorar a capacidade de processamento, caso seja necessário. Portanto, embora apresente valores mais atrativos, a especificação de CLPs compactos deve ser criteriosa quanto à análise de possíveis expansões no sistema. Figura 9 – Exemplo de CLP compacto Crédito: Allahfoto/Shutterstock. A outra possibilidade de estrutura para o CLP é a modular. Nesse tipo de CLP cada módulo (que se refere a um elemento de sua arquitetura) possui uma função e é montado sobre uma base que chamamos de rack. Após montar os 22 módulos no rack, é necessário interligá-los. A Figura 10 mostra um exemplo de CLP modular, em que podemos observar a existência dos módulos montados sobre uma base. Figura 10 – Exemplo de CLP modular Crédito: emel82/Shutterstock. A grande vantagem desse tipo de CLP é a possibilidade de expansão, o que era uma limitação no modelo discutido anteriormente. Assim, podemos adicionar módulos conforme as necessidades do sistema que o CLP atende, por exemplo, caso seja necessário aumentar a capacidade da memória ou de processamento. Temos ainda a possibilidade de adicionar módulos de entrada/saída, aumentando a capacidade de conectar sensores e/ou atuadores. Conforme já mencionado, a adição ou remoção de módulos pode ocorrer no CLP modular, sendo apenas necessário encaixar ou desencaixar o novo módulo na base que chamamos de rack e realizar conexões ou desconexões com os demais módulos. A Figura 11 ilustra essa dinâmica de adição/remoção de módulos, sendo possível verificar como ocorre esse processo. 23 Figura 11 – Exemplo de CLP modular 5.2 Classificação quanto ao tamanho É comum que o tamanho do CLP seja medido de acordo com o número de entradas e saídas que ele apresenta, conforme abordado em Groover (2011). A Tabela 1 apresenta uma relação entre tamanho e quantidade de entradas e saídas (E/S). Quanto mais E/S, maior será o CLP, segundo essa classificação. Os tamanhos começam com CLP nano, que possui um número menor ou igual a 16 no que se refere à quantidade de E/S, indo até o tamanho grande, que possui um número maior ou igual a 1.024 E/S. A escolha do tamanho do CLP depende da aplicação na qual ele irá atuar, como estudamos no tópico anterior. Dessa forma, é necessário avaliar quantas entradas e quantas saídas serão necessárias para atender às necessidades da aplicação. Tabela 1 – Classificação típica de CLPs quanto ao número de E/S Tamanho do CLP Quantidade de E/S CLP grande ≥1.024 CLP médio < 1.024 CLP pequeno < 256 CLP micro ≤ 32 CLP nano ≤ 16 Fonte: Elaborado por Lara, 2022 com base em Groover, 2011. 24 Além disso, é importante pensar na expansão do sistema, principalmente caso o modelo escolhido seja compacto, pois, conforme vimos, esse modelo não permite que sejam agregados módulos adicionais de entrada e/ou saída. Caso seja especificado com poucas E/S é importante avaliar se existe a chance de esse sistema ser expandido no futuro ou até mesmo, caso seja possível, reaproveitar esse dispositivo em outro processo. O custo do CLP cresce conforme seu tamanho, ou seja, quanto mais E/S o modelo possuir, maior tende a ser seu custo. Por isso, dimensionar e especificar corretamente esse dispositivo é indispensável para viabilizar os custos de implantação de sistemas automatizados empregando controladores lógicos programáveis. FINALIZANDO Estamos concluindo esta etapa dedicada aos controladores lógicos programáveis, na qual pudemos verificar o cenário em que esses dispositivos foram criados, acompanhar como ocorreu sua evolução, além de discutir sobre seu princípio de funcionamento, verificando os métodos de processamento e os modos de operação. No último tópico analisamos as possíveis classificações que esses dispositivos podem ter, discutindo a respeito de sua classificação quanto à estrutura e quanto ao tamanho, a primeira relacionada à disposição dos elementos que formam sua arquitetura e a segunda à quantidade de entradas e saídas que os modelos de CLP podem ter. 25 REFERÊNCIAS CAMARGO, V. L. A. Elementos de automação. São Paulo: Érica, 2014. GROOVER, M. Automação industrial e sistemas de manufatura. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. MORAES, C. C. de. Engenharia de automação industrial. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. ROSÁRIO, J. M. Princípios de mecatrônica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ZANCAN, M. D. Controladores programáveis. 3. ed. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria: Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, 2011. Conversa inicial TEMA 1 – HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO TEMA 2 – APLICAÇÕES E VANTAGENS TEMA 3 – FUNCIONAMENTO TEMA 4 – ESTRUTURA INTERNA DE UM CLP TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DOS CLPS FINALIZANDO REFERÊNCIAS