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23Especialização em Educação Profissional | História e políticas da Educação Profissional no Brasil Moenda de cana, gravura de Johann Moritz Rugendas (1802-1858). Observe-se que o trabalho apre- sentado na imagem é realizado exclusivamente por negros escravizados. Disponível em: https:// br.pinterest.com/pin/465067099015464049/. Acesso em: 11 abr. 2020. Já na segunda metade do século XVII, a produção açucareira da Holanda – que havia dominado parte do que hoje é o Nordeste do Brasil, entre 1630 e 1654 – na região das Antilhas torna-se forte concorrência. Ainda no fim daquele século, a descoberta do ouro em Minas Gerais faz brilhar os olhos da realeza de Portugal e, em pouco tempo, o centro econômico da colônia passa a ser a região das Minas Gerais. Ali, também, por conta das diversas atividades de mineração, houve aprendizagem e prática de novos ofícios manufatureiros. 4. O “CICLO” DO OURO E OS NOVOS OFÍCIOS LIGADOS À MINERAÇÃO No fim do século XVII, finalmente Portugal realizava o sonho do Eldorado, a terra reluzente de ouro. Esse metal tão precioso para a economia dos países mercantilistas foi encontrado pelos paulistas na região das Minas gerais, através de movimentos conhecidos como entradas (empreendimentos patrocinados pela Coroa Portuguesa) e bandeiras, dedicadas, especialmente, ao aprisionamento de indígenas e à busca por metais preciosos. 24Especialização em Educação Profissional | História e políticas da Educação Profissional no Brasil A descoberta do ouro alterou claramente os rumos da colonização e fez o Império Português ressurgir, após uma crise de décadas ligada, entre outros fatores, à União Ibérica (período em que o reino de Portugal esteve sob controle do reino da Espanha, de 1580 a 1640), à disputa com a Holanda e à crise do comércio do açúcar. A riqueza encontrada na região das Minas Gerais modificou a dinâmica de povoamento do território e a própria extensão dos domínios de Portugal. Milhares de pessoas afluíram para o centro da colônia, o que levou a população local a um crescimento vertiginoso. Os dados populacionais não são tão precisos, pois pouco se fazia censos à época e aqueles que existem carecem de maior detalhamento. Mas, o Atlas Histórico do Brasil indica que, entre 1742 e 1786, a população da região das Minas mais que dobrou, passando de 174 mil para 363 mil habitantes. No início daquele século, por volta de 1705, não devia passar de 30 mil almas. Pelas bandas de Portugal, havia quem temesse que o país ficasse vazio, razão pela qual a Coroa editou, em 1720, uma lei proibindo que lusitanos embarcassem para o Brasil, a não ser que fosse para ocupar cargo público. Sérgio Buarque de Holanda, um dos grandes nomes da historiografia brasileira, estima que um terço da população da colônia tenha se voltado para a mineração no auge da exploração aurífera (HOLANDA, 1973). Para saber mais O Mercantilismo é considerado a primeira fase do Capitalismo, com características como o metalismo (busca pelo acúmulo de metais preciosos), o colonialismo, o intervencionismo estatal/protecionismo, entre outras. Para saber mais sobre esse sistema, acesse: http://www.revistageopolitica.com.br/index.php/revistageopolitica/ article/viewFile/27/27 25Especialização em Educação Profissional | História e políticas da Educação Profissional no Brasil Para saber mais O Atlas Histórico do Brasil é um trabalho coletivo realizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para buscar mais dados sobre a população brasileira, do período colonial à contemporaneidade, acesse: https://atlas.fgv.br/ Com tamanho crescimento populacional, novos serviços e profissionais se farão necessários. Para a região das Minas chegam pedreiros, carpinteiros, ferreiros, entalhadores e pintores, entre outros. Além disso, havia o trabalho com o ouro propriamente. A Coroa Portuguesa criou as casas de fundição, onde o ouro era derretido e transformado em barra para posterior cobrança do quinto (os 20% que eram devidos à metrópole portuguesa). Ali, trabalhavam oficiais ensaiadores (responsáveis por analisar as ligas de ouro e as de prata a fim de conhecer o quilate ou toque), fundidores e moedeiros. Segundo o historiador Luiz Antônio Cunha (2000, p. 36), “os aprendizes desses ofícios levavam de quatro a seis anos para serem considerados habilitados quando, então, recebiam um prêmio em dinheiro.” Havia, ainda, os ourives, aqueles que faziam o trabalho artístico, tomando ouro e prata como matéria-prima. Mas, a Coroa Portuguesa, temendo o contrabando, fiscalizou e acabou por conter a expansão do trabalho desses artistas. Tal procedimento não foi necessário com entalhadores, pintores e escultores, os quais, segundo Cunha (2000, p. 37), “não obedeciam aos regulamentos que se tentou impor aos ofícios mecânicos. [...] Não havia contratos escritos, número mínimo de aprendizes por mestre, nem outras restrições” associadas àqueles ofícios. Nessa perspectiva, pais podiam repassar o ofício aos seus filhos. Foi o que fez o artista de maior destaque à época, Manoel Francisco Lisboa, o Aleijadinho, português de nascimento que levou sua arte ao máximo desenvolvimento na rica capitania das Minas Gerais.