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20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 1/23 Conceitos de infância Prof. Leandro Henrique de Jesus Tavares Descrição Apresentação dos conceitos sobre a infância e sua construção prática a partir do século XIX. Propósito Reconhecer a evolução histórica dos conceitos de infância para identificar a criança atual como um ser competente, ativo e sujeito de direitos. Objetivos Módulo 1 Concepção de infância nos séculos XIX e XX Identificar as concepções existentes sobre a infância nos séculos XIX e XX. Módulo 2 Concepção contemporânea de infância Reconhecer o conceito contemporâneo de infância como resultado de um processo histórico e legislativo. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 2/231 Concepção de infância nos séculos XIX e XX Você já parou para pensar em como as crianças eram vistas socialmente? Historicamente, percebemos diversos olhares sobre a infância que nos permitem identificar os conceitos construídos sobre a criança ao longo de nossa história. No entanto, para compreendê-los, não podemos perder de vista as relações sociais e a cultura nas quais a criança está inserida. Por isso, é importante fazer um percurso histórico sobre o atendimento à criança, de acordo com as concepções históricas, sociais e políticas de cada época, que influenciaram no modo de percebê-las, bem como na legislação voltada para elas. Para começar a nossa reflexão, leia o poema As cem linguagens da criança, de Loris Malaguzzi, cujo teor versa pela complexidade das crianças, de seu pensamento, de como elas se expressam por meio de múltiplas linguagens e de como ressignificam os saberes produzindo cultura e conhecimento. Feita a leitura, vamos compreender como a criança era considerada ao longo dos séculos XIX e XX. A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar. Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove. A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar, De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove. Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação, O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem. MALAGUZZI, L. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. Introdução 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 3/23 1 - Concepção de infância nos séculos XIX e XX Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as concepções existentes sobre a infância nos séculos XIX e XX. A infância ao longo do século XIX Quem cuidava das crianças no século XIX? As classes mais abastadas mantinham em suas estruturas familiares mulheres, escravizadas e alforriadas, que assumiam a função de tutela das crianças. Eram amas de leite, cantavam as cantigas de roda, envolviam-se com o cotidiano dessas crianças. As mães ensinavam bons modos e habilidades às meninas, como tocar piano, falar línguas, ser uma anfitriã que soubesse organizar a casa de seu futuro marido, preparando-as para um bom casamento. Isso mesmo: a formação das meninas visava ao casamento. A redenção de Cam (Modesto Brocos - 1895). A classe média urbana reproduzia um misto das linhas da influência da modernidade europeia (crianças mais “funcionais”, criadas para atender à sociedade) com traços da família patriarcal, com empregadas – mucamas ou assalariadas. As mães poderiam até cuidar dos próprios filhos, mas isso acontecia em classes menos favorecidas, nas quais os maridos conseguiam reproduzir o ideal burguês com suas esposas se dedicando ao lar e à criação dos filhos. Os meninos entravam nesse modelo social. Deveriam se exercitar, aprender números e letras para assumirem a condição que sua família permitisse. Deveriam aprender o ofício de seus pais ou profissões que lhes concedessem um papel superior. Os filhos dos menos favorecidos eram integrados ao mercado de trabalho muito cedo e as filhas assumiam a condição de cuidar dos irmãos menores para que a mãe pudesse trabalhar. Curiosidade Nesse período, surgiu a roda dos expostos (ou roda dos enjeitados), criada pela Santa Casa de Misericórdia como um instrumento que recolhia as crianças rejeitadas. Ao atingirem uma idade em que já tinham força para se preparar e trabalhar, os meninos eram enviados para casas de custódia. As meninas se mantinham por mais tempo, pois a Santa Casa buscava benfeitores que pudessem ceder-lhes um dote, permitindo que essas moças conseguissem um casamento. A roda dos expostos era uma representação social importante, icônica; ela não é uma política pública, mas uma ação dos grupos sociais que inserem as crianças de alguma forma. Outra peça importante da relação com as crianças eram as figuras das criadeiras, mulheres que passaram a tomar conta das crianças enquanto suas mães trabalhavam. Essas mulheres, que eram remuneradas por isso, reuniam em suas casas e terrenos algumas dezenas de crianças, onde eram alimentadas e aprendiam as primeiras letras (VELLOSO, 2009). Em se tratando do Estado, quais foram as ações com foco no cuidado das crianças ao longo do século XIX? Veja a seguir sua trajetória cronológica no período colonial: 1530 a 1822 Existia a tutela do Estado e influência do modelo europeu no atendimento à criança, com uma evidente diferença no trato entre brancas e negras, uma vez que estas eram incorporadas ao trabalho desde os 5 anos e aos 12 eram consideradas adultas. As crianças sofriam castigos corporais e havia elevado índice de mortalidade infantil. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 4/23 Em relação à repercussão do surgimento do jardim de infância no Brasil, Oliveira declara o seguinte: No final do século XIX, é trazido ao Brasil, através das influências americana e europeia, o jardim de infância, que também foi alvo de muitas discussões entre os políticos da época. Alguns o criticavam porque consideravam-no mais um local de mera guarda das crianças. Os Jardins de Infância eram considerados prejudiciais porque tiravam a criança do convívio familiar precocemente. Outros os defendiam por acreditarem que trariam benefícios ao desenvolvimento da criança, já se vislumbrando um aspecto pedagógico influenciado pelo Movimento das Escolas Novas. (OLIVEIRA, 2011, p.101) Agora observe a trajetória cronológica, desta vez, no período do Brasil República: 1824 De acordo com Aragão e Kreutz (2010, p. 27), o Brasil escravocrata e monocultor – que cedia espaço para a urbanização, com a abertura de portos e a reorganização administrativa – sofria fortes pressões dos ideais liberais europeus, que defendiam a instrução populacional em massa. Assim, em 1824, a Constituição estabeleceu, no artigo 179, a gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos. 1827 Uma lei determinou a criação de uma escola de primeiras letras em cada cidade, que não chegou a ser cumprida. 1861 Houve a criação do Instituto de Menores, para onde passaram a ser encaminhadas as crianças infratoras ou abandonadas e, em seguida, as não infratoras também. Isso causou um problema, uma vez que o objetivo da educação ficou perdido. A criança das classes menos favorecidas era tratada como criminosa. 1875 Nesse ano, foi criado o Jardim de Crianças do Colégio Menezes Vieira, localizado no Rio de Janeiro. Essa foi uma dasprimeiras instituições brasileiras a atender crianças de 0 a 6 anos. Dois anos mais tarde, a cidade de São Paulo passou a ter os seus primeiros jardins de infância, pertencentes à esfera privada (REIS; CUNHA, 2010). 1889 1930 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 5/23 ovimento Higienista No fim do século XIX e início do XX, surgia uma nova mentalidade que se propunha a cuidar da população, educando e ensinando novos hábitos. (...) Convencionou-se chamá-la “movimento higienista”. Muitos “higienistas” tomavam como referência a ideia que preconizava ser a falta de saúde e educação do povo responsável por nosso atraso em relação à Europa (GÓIS JUNIOR, 2002). anifesto dos pioneiros O Manifesto da Escola Nova foi um documento elaborado por 26 educadores, em 1932, com o objetivo de oferecer diretrizes para a política educacional. Veja um trecho desse manifesto: “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade”. reches Apesar do tímido processo de expansão das escolas e creches, tanto por parte dos sistemas de educação como pelos órgãos de assistência ou saúde, a legislação trabalhista que determinava a criação desses estabelecimentos tornou-se sem efeito, pois não atendia a todas as necessidades. A partir desse breve descritivo histórico sobre o tratamento dispensado às crianças ao longo do século XIX, podemos perceber que, em geral, a infância foi considerada sem importância e a criança era objetificada, ou seja, apontada como um ser que deveria ser protegido ou punido, seguindo a lógica do tratamento diferenciado, de acordo com classe social ou raça. E quanto ao conceito de infância, a partir desse histórico, você consegue de�ni-lo? Como você pode perceber, durante muito tempo não se pensou sobre o que é a infância. As decisões que eram tomadas com o objetivo de tutelar e cuidar das crianças, não eram estabelecidas baseadas em um conceito definido sobre a criança. No máximo, havia uma classificação a partir de 1889 a 1930 Como o índice de mortalidade infantil era alto nesse período e não diminuía, foi criado o Movimento Higienista, visando um melhor atendimento à criança para que ela sobrevivesse às epidemias e aos maus-tratos. Desse modo, surgiram as primeiras leis para os menores. 1932 Surge o Manifesto dos pioneiros, defendendo uma revolução educacional, com a criação da escola não religiosa, gratuita e obrigatória, função do Estado. Uma escola única, para meninos e meninas, com um ensino ativo. Primeiras décadas do século XX Uma parcela do movimento operário, em virtude da maior participação das mulheres no trabalho, reivindicava um local onde as mães pudessem deixar as crianças enquanto trabalhavam. Logo, os empresários construíam creches próximo às fábricas, embora tal ação não constituísse bondade ou descaso. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 6/23 debates sobre até quando se é uma criança. Essa discussão é antiga e tem como base a Teoria das Idades, de Agostinho de Hipona (354-430), que destaca duas fases da infância, veja: gostinho de Hipona Agostinho foi um importante filósofo, escritor, bispo e teólogo cristão e suas concepções sobre a fé e a razão, Igreja e o Estado influenciaram toda a Idade Média. Momentos de fragilidade das crianças que inspira cuidados e é de responsabilidade sempre da mãe. As crianças passam a ter outros locais de atuação-treinar para batalhas (espartanos), aprender a falar e a dominar a palavra (romanos), ir para a Igreja e conter suas paixões (III Concílio de Toledo). Mesmo para renascentistas (século XVI), iluministas (séculos XVII e XVIII) e cientificistas (séculos XVIII e XIX), as crianças tinham classificações e, ao longo do tempo, as percepções de cuidado foram alteradas sem nunca se discutir efetivamente o que era chamado de infância. Parecia algo tão óbvio, tão presente, que qualquer debate conceitual perdia para a observação direta: infância é esse momento de amadurecimento do ser. A infância ao longo do século XX O século XX é tratado como o século da infância e esse fenômeno ocorreu por muitos elementos. Nunca tinham ficado tão claras as diferenças sociais sobre como as sociedades pensam e se relacionam com as crianças. Etnógrafos perceberam que as crianças e os relatos de como lidar com elas eram diferentes. Vejamos como exemplo o relato de Heloisa Schurmann: eloisa Schurmann Graduada Professora de Inglês pela New York University com especialização na área de Pedagogia, Heloísa Schurmann educou os quatro filhos nas duas expedições de volta ao mundo da Família Schurmann. Desenvolveu o Programa Pedagógico da expedição Magalhães Global Adventure, intitulado “Educação na Aventura”, que foi acompanhado por mais de 2 milhões de alunos no Brasil e nos Estados Unidos. Além de palestrante, é 0 a 6 anos 7 e 8 anos 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 7/23 responsável pelo núcleo de dramaturgia da produtora e pelo conteúdo digital da Família Schurmann. Em certa ocasião, ao visitar algumas ilhas da Polinésia, percebi que as crianças de lá pareciam estar sempre felizes, elas corriam e brincavam sem a supervisão de um adulto. Então, perguntei a algumas pessoas se eles não tinham receio de que as crianças se machucassem, uma vez que na maioria das vezes estavam sozinhas. Foi então que aprendi uma lição inesquecível: para eles, uma criança deveria ser criança, crescer, brincar, aprender como a comunidade funcionava e como poderia ser um local de felicidade. Dessa forma, a criança pouco a pouco se sentiria responsável por si e pelos que as acompanhavam. (SCHURMANN) Perceba que esse relato se distancia da forma como as crianças eram tratadas ao longo do século XIX, quando eram constantemente supervisionadas. Ao contrário disso, nas ilhas da Polinésia, as crianças cresciam livres e se desenvolviam na medida em que interagiam com a sua comunidade. Não há aqui a intenção de taxar como certa ou errada essas diferentes formas de se perceber e lidar com a infância, no entanto, essa diferenciação nos faz refletir sobre o papel social da criança nas comunidades. Pensando nesse contexto, no século XX surgiram diversos movimentos científicos, cada um com o seu enfoque particular, mas que tinham como objetivo conceituar e classificar a infância, veja: Psicologia Pensando nas fases do desenvolvimento infantil, buscava analisar os estímulos e condicionamentos que poderiam ser desenvolvidos nos seres humanos. Medicina Buscava estudar o desenvolvimento dos corpos, definindo como deviam ser os cuidados com as crianças, estudando cérebros, medula, hormônios entre outros aspectos. Pedagogia Desenvolveu teorias sobre a absorção de conhecimentos, sobre as trocas e interações do sujeito. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 8/23 A ciência moderna tentava constituir uma versão singular sobre as formas de pensar e lidar com a criança, com o objetivo de garantir o melhor desenvolvimento infantil. Nesse cenário, o mundo passou a perceber e discutir a importância de cuidar de nossas crianças ainda que ninguém soubesse muito bem o que era isso. Como exemplo de ações desenvolvidas com esse objetivo, destacamos os órgãos internacionais que foram criados com a finalidade de discutir sobre os cuidados necessários às crianças: Fala sobre limitar o trabalhoinfantil em dois dos seus itens. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a questão dos órfãos, foi o primeiro documento internacional a abordar sobre a proteção das crianças. Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU foi pressionada a constituir um caminho de proteção e defesa internacional das crianças. O Brasil só adotou essas medidas a partir da Constituição de 1988. Sobre a Convenção de 1919, cabe dizer que ela foi fundada como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Já Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem como objetivo promover a justiça social. Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1969, a OIT é a única agência das Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual representantes de governos, de organizações de empregadores e de trabalhadores de 183 Estados-membros participam em situação de igualdade das diversas instâncias da Organização. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (Convenções e Recomendações). As Convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. Já acerca dos Direitos, podemos afirmar que são as vantagens, permissões e oportunidades que cada criança ou adolescente deve ter. A Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece esses direitos em 54 artigos e em um conjunto de "Protocolos Facultativos" que listam direitos adicionais. Convenção de 1919 da Organização Internacional do Trabalho Declaração de Genebra de 1924 Declaração do Direito das crianças e dos adolescentes de 1954 (ONU) 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 9/23 A partir de 1980, a criança passou a ser percebida, também, em seu âmbito social. Nesse sentido, os enfoques psicológicos, biológicos e médicos sobre a criança começaram a dialogar com os fenômenos sociais que englobam a infância. Essa nova percepção trouxe à tona o problema da marginalização da infância e, na década de 1990, temas como abuso sexual passaram a ser abordados. A partir desse direcionamento, novas ideias sobre a infância puderam ser concluídas, veja: Está imersa em contextos sociais. Está sujeita à sexualização. Pode ser considerada objeto de consumo. Estrutura relações e se constitui a partir da complexidade delas. Faz conexões com a cultura na qual está imersa. Perceba que as mudanças sociais e econômicas ocorridas no século XX provocaram significativas mudanças nos modos de ver e de lidar com as crianças. Apesar disso, manteve-se uma clara separação entre crianças pobres e ricas, brancas e negras: Às crianças das classes mais elevadas, quase sempre brancas, era garantida a educação desde a pré-escola, a partir das primeiras décadas do século XX. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 10/23 Às crianças de classes menos favorecidas, na maioria negras, posteriormente foi ofertada a creche, com caráter assistencialista e direito da mãe que trabalhava, não da criança. Ainda no século XX, surgiu a preocupação com um investimento maciço no ensino fundamental, mas não para todos. Houve, também, uma movimentação dos operários que passaram a reivindicar melhorias no atendimento educacional prestado às crianças pequenas, uma vez que as condições trabalhistas precárias às quais eram submetidos os havia impulsionado na luta por seus direitos. Esse cenário nos mostra como a visão que os adultos têm sobre as crianças mudou e continua em transformação, segundo as culturas nas quais estão imersas. Seja considerando-as seres mais ou menos frágeis, capazes ou incapazes, dignos ou não de proteção, costuma haver diferentes compreensões a respeito do que podem ou não fazer, dos lugares adequados para elas, das vivências permitidas ou não, das expectativas para seu futuro e dos seus direitos. Tratamento dado às crianças pelas representações artísticas Veja a seguir uma análise sobre o tratamento dispensado às crianças a partir de representações artísticas. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 11/23 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No século XIX, as crianças eram vistas como pessoas que precisavam ser assistidas e tuteladas, com a necessidade de supervisão constante. Nesse sentido, assinale a alternativa que indica de quem era a responsabilidade de cuidar das crianças. Parabéns! A alternativa A está correta. As famílias eram as responsáveis por cuidar de suas crianças, de acordo com o contexto social no qual se encontravam. Cada família A A responsabilidade de cuidar das crianças era da família. As que eram mais abastadas mantinham em suas estruturas mulheres, escravizadas e alforriadas, que cuidavam das crianças. Já as famílias de classe média urbana tentavam, na medida do possível, reproduzir os traços da família patriarcal: o pai era o provedor e a mãe era responsável por cuidar dos próprios filhos. B A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado, que disponibilizava creches e escolas para todas as crianças, sejam elas de classes mais pobres ou mais abastadas. C A responsabilidade de cuidar das crianças era da igreja, por meio das instituições religiosas que tinham como objetivo oferecer espaços nos quais as famílias poderiam deixar os seus filhos para serem educados. D A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado e da Igreja que, juntos, ofereciam escolas acessíveis para todos, onde os alunos poderiam desenvolver o seu potencial, de acordo com os interesses de cada família. E As famílias deveriam responsabilizar-se pelo cuidado das crianças: meninos e meninas eram educados para poder seguir a profissão do pai, ou o cuidado da casa, a exemplo da mãe 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 12/23 educava os seus filhos de acordo com as suas possibilidades econômicas e com o objetivo de prepará-los para o papel social estabelecido para eles. Assim, às meninas era ensinado bons modos: piano, como ser uma boa anfitriã etc., tudo isso com o objetivo de torná-las prontas para o casamento. Já os meninos deveriam se exercitar, aprender números e letras, e aprender o ofício ou profissão de seus pais. Questão 2 Como vimos, no século XX, a ciência moderna buscou construir uma versão singular sobre as formas de pensar e lidar com a criança, com o objetivo de garantir o melhor desenvolvimento infantil. Sobre isso, assinale a alternativa que apresenta o novo paradigma que foi utilizado para se pensar a infância. Parabéns! A alternativa C está correta. Esse novo direcionamento permitiu que os enfoques psicológicos, biológicos e médicos sobre a criança começassem a dialogar com os fenômenos sociais que englobam a infância. Esse cenário permitiu que novas ideias sobre a criança fossem construídas, como: a criança está imersa em contextos sociais; pode ser sexualizada; pode ser objeto de consumo; estrutura relações e se constitui a partir da complexidade delas; faz conexões com a cultura na qual está imersa. 2 Concepção contemporânea de infância A A criança passou a ser compreendida em seus aspectos biológicos. B A criança passou a ser percebida nos âmbitos social e biológico. C A criança passou a ser percebida, também, em seu âmbito social. D A criança passou a ser compreendida em seu âmbito psicológico. E A criança passou a ser compreendida em seus aspectos fisiológicos. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 13/23 2 - Concepção contemporânea de infância Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito contemporâneo de infância como resultado de um processo histórico e legislativo. Os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) Atualmente, tanto aspesquisas quanto os teóricos apresentam uma imagem de criança e infância bem diferente da que existia, ou seja, ela é considerada um ser competente, ativo, crítico e comunicativo, capaz de posicionar-se sobre as situações que mais lhe afetam, de representar o mundo e a si mesma, como coconstrutora de sua cultura lúdica, a partir das interpretações que faz sobre os conteúdos encontrados durante as interações sociais ocorridas em seus jogos e brincadeiras. Seguindo essa mesma linha de pensamento, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) definiram a criança como ser integrante da sociedade, que tem direito à dignidade e ao respeito, bem como à autonomia e participação. Desse modo, as crianças devem ser: Apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a expressar sentimentos e pensamentos, desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão. (PNQEI) Com base nesses novos preceitos, houve, então, a necessidade de se criar espaços onde a criança pudesse se expressar livremente. Para isso, novas leis foram criadas com o objetivo de garantir que os direitos das crianças fossem cumpridos. É o que veremos neste momento. Vamos lá! Aspectos legislativos sobre a infância Nunes (2011) afirma que o lugar da criança também na política pública corrobora com a visão que permeia a legislação nacional da atualidade, ou seja, que entende a criança como um sujeito histórico, protagonista e cidadão. Sendo assim, a criança precisa ter os seus direitos garantidos e um deles é a educação, desde o seu nascimento, em instituições que assegurem o cuidar e o educar indissociáveis e que possibilitem seu desenvolvimento integral, em seus múltiplos aspectos. Segundo Cury (2002), vivemos novos desafios no mundo contemporâneo e a cidadania também os enfrenta à medida que deve ser reafirmada a 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 14/23 todo instante, sem que se esqueça da luta histórica que garantiu seus direitos. Para ele, a educação, como um desses direitos é uma “dimensão fundante da cidadania”, nunca perderá sua atualidade no debate. Diz ainda que, em todo o mundo, as legislações garantem o acesso à educação de seus cidadãos. Assim, “tal princípio é indispensável para políticas que visam à participação de todos nos espaços sociais e políticos e, mesmo, para inserção no mundo profissional”. Por isso, a seguir, você encontrará um quadro legislativo que mostra as principais leis criadas com o objetivo de garantir os direitos da criança, dos mais básicos aos mais específicos, veja: A Constituição Federal (CF) de 1988, conhecida como Constituição cidadã, apresenta mudanças com relação ao tratamento dado à educação infantil, pois a partir dela esta etapa passa a ser vista como direito da criança, e não da mãe que trabalha. Dos artigos 205 ao 214, apresenta um rol dedicado apenas à Educação e alça a criança a sujeito de direito, garantindo a educação básica e gratuita dos 4 aos 17 anos, por força da emenda Constitucional n° 59 de 2009. ECA – Lei 8.069/90, por sua vez, regulamentando o art. 227 da CF, ratifica a visão da criança e do adolescente como sujeitos de direitos fundamentais (individuais, difusos e coletivos). Ademais, os reafirma como titulares de prioridade absoluta e de proteção integral. Segundo Amin (2014, p. 50), “o Estatuto da Criança e do Adolescente resultou da articulação de três vertentes: o movimento social, os agentes do campo jurídico e as políticas públicas.” Em seu artigo 3º ficam expostos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, os quais a criança e o adolescente devem ter assegurados para que seja possível seu “desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” (BRASIL, 1990). Para Nunes, (2011, p. 26), “o ECA, de 1990, é que vai fazer a revolução conceitual e criar os mecanismos operacionais para a implementação dos direitos da criança no Brasil”. A atual LDBEN insere a educação infantil como primeira etapa da educação básica. De acordo com seu art. 21, “a educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela Educação Infantil, ensino fundamental e ensino médio”. Em seu art. 29 afirma que a EI “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). Para Nunes (2011), a EI “vem se tornando não só uma demanda cada vez mais expressiva, um objeto explícito da política educacional e um dever dos organismos governamentais, mas também um claro empenho de organizações da sociedade civil.” (NUNES, 2011, p.15). Desse modo, não se modifica apenas a visão da criança, mas também, do papel do Estado para que a EI seja garantida a todos, a partir dos 4 anos de idade. A Lei n° 12.796, de 2013, regulamenta a EC 59/2009, pois estende a obrigatoriedade do Estado em oferecer educação para todos, dos 4 aos 17 anos. De acordo com a alteração proposta pela Lei nº 11.700, de 2008, no inciso X do art. 4° da LDB, no caso da EI e do ensino fundamental, a oferta de vaga deve ocorrer em escola pública mais próxima da residência de toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de idade. O Marco Legal da Primeira Infância é a Lei n° 13.257, de 8 de março de 2016, dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e Constituição Federal 1988 ECA - Lei 8.069/90 Lei de diretrizes e bases da educação nacional, Lei nº 9.394 de 1996 Lei n° 12.796 de 2013 Marco legal da primeira infância - Lei nº 13.257, de 2016 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 15/23 altera algumas leis, entre elas o ECA, o Código de Processo Penal (CPP), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei n° 12.662, de 5 de junho de 2012 (que regula a expedição e a validade nacional da Declaração de Nascido Vivo – DNV). Em seu artigo 1°, essa lei estabelece os princípios e as diretrizes a serem utilizados na formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano. A Lei n° 13.257/2016 está em consonância com os princípios e as diretrizes expressos na legislação que esta lei altera. Você consegue visualizar a trajetória legislativa que conferiu às crianças a imagem contemporânea de infância no Brasil? É possível afirmar que historicamente ocorreu uma luta intensa para que a infância fosse prioritária e houvesse um olhar atento às suas especificidades e às necessidades das crianças, como sua constituição em sujeito de direitos, merecedoras de proteção. Apesar dessa evolução de conceitos, as práticas aqui no Brasil permaneceram apontando a família como responsável máxima pela infância, seguida pelo Estado, garantidor daqueles cujas famílias não tivessem condição, e pelas ações religiosas como caridade. Fato é que a Educação, como direito social, requer a atuação do Estado para a garantia de sua efetividade e acesso a todos. Nesse sentido, Bobbio diz sobre os direitos sociais que: Para sua realização prática, ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à sua proteção efetiva, (...) é necessária a ampliação dos poderes do Estado. (BOBBIO, 2004, p. 67) Uma proposta para a solução desses percalços é a criação de mecanismos de fiscalização que permitam monitorar se todos os esforços para se garantir os direitos das crianças estão sendo realizados e alcançando os objetivos propostos. O Brasil é um dos líderes mundiais em termos de políticas de atendimento à infância, no entanto, é importante reconhecer que há a necessidade de que essas políticas se tornem em ações efetivas que atendam de forma satisfatória às crianças, foco desses direitos. Uma nova concepção sobre a criança Os estudos da área,realizados tanto por universidades como por centros de pesquisa brasileiros, têm contribuído para o surgimento de uma nova concepção das crianças e sua capacidade criadora: A criança passou a ser vista como produtora de cultura e sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico que atua na sociedade na qual está inserido. Seguindo essa concepção, a Política Nacional da Educação Infantil (2006) passou a preconizar a indissociabilidade entre o cuidar e o educar, possibilitando outra função para as ações que são desenvolvidas com as crianças, segundo suas especificidades. Posteriormente, tal filosofia é incorporada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010). 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 16/23 De acordo com Bobbio (2004), essa caracterização da criança como um ser que merece proteção especial não surge naturalmente na sociedade, antes, é fruto de estudos e debates que comprovam essa necessidade de especificação. A ampliação dos direitos do ser humano ocorre de acordo com categorias específicas. Nesse sentido, a humanidade deixa de ser vista de maneira genérica para ser encarada de acordo com suas especificidades. Ou seja, são levadas em consideração características de sua diversidade, quais sejam, a idade, o sexo ou as condições físicas, por exemplo, que não permitem que todos sejam tratados igualmente. O autor conclui que a mulher é diferente do homem; a criança, do adulto; o adulto, do velho; o sadio, do doente etc. O Marco Legal pela Primeira Infância se tornou crucial para garantir ao Brasil o alinhamento com os países que estão na vanguarda do cuidado com suas crianças. Tal preocupação evidencia a importância que os primeiros anos de vida têm sobre todo o desenvolvimento do ser humano, desde o crescimento físico, a aquisição de habilidades motoras e a aprendizagem da fala até a criação das bases para o desenvolvimento cognitivo, social, psicológico e cultural. Dessa forma, o trabalho com as crianças deve ser um conjunto de: Um trabalho consciente na educação infantil. A participação da família por meio de políticas intersetoriais. Essa convergência entre o trabalho da educação infantil e a participação da família poderá gerar repercussões em toda a vida da criança, além de garantir que as suas necessidades sejam de fato atendidas. Vejamos o que Corsaro nos diz sobre isso: orsaro Professor titular do Departmento de Sociologia da Indiana University, Blommington, onde ocupa a cátedra Professor Robert H. Shaffer. Entre seus interesses de pesquisa, destacam-se a Sociologia da Infância, Etnografia e Sociologia da Educação. As crianças são agentes sociais, ativos e criativos, que produzem suas próprias e exclusivas culturas infantis enquanto, simultaneamente, contribuem para a produção das sociedades adultas. (CORSARO, 2011, p.15) 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 17/23 Ao se posicionarem diante dos acontecimentos do mundo, as crianças expressam sua visão da realidade que as cerca. Ou seja, de acordo com o pensamento de Corsaro, elas agem na sociedade e contribuem para que os adultos entendam um pouco como encaram determinados fatos sociais. Por isso, é necessário um trabalho conjunto entre escola, família e comunidade, pois esses três âmbitos permitirão que se conheça um pouco mais as necessidades e realidades nas quais a criança está inserida. A Sociologia da Infância aparece aqui como contribuição teórica, trazendo pesquisas que, atualmente, têm sido importantes para os delineamentos da política nacional para a infância. Os autores dessa Sociologia afirmam que esse é um campo recente do estudo da infância e evidenciam a importância de que os investigadores busquem observar as relações entre as crianças, desvelando os jeitos de ser criança. Para a Sociologia da Infância, as crianças são atores sociais, imersas em seus mundos; a infância, por sua vez, é entendida como uma categoria social do tipo geracional, socialmente construída. Para esses autores, a infância ainda é colocada numa relação de dependência nas sociedades em relação aos adultos. Por isso, a necessidade de olhar para as crianças com o objetivo de conhecer as suas construções e particularidades e permitir que elas se tornem participantes de suas culturas, manifestando as suas interpretações e percepções sobre os diferentes contextos nos quais estão inseridas. ociologia da Infância A Sociologia da infância é um campo de estudo que passa a analisar a criança como parte do tecido social. Assim, traz a ideia de que a educação funciona em teias de saberes, ou seja, os grupos sociais, ao se relacionarem, constroem regras próprias. Ao mesmo tempo se relacionam com outros grupos são, também, influenciados por essas regras. A Infância faz parte desta dinâmica, sendo assim, as crianças criam as suas próprias regras, trocam e fazem micro modelos sociais, mas, ao mesmo tempo, são marcadas pela sociedade dos adultos, suas disputas, vícios e formas de violência. Essa teoria está de acordo com as ideias do modelo construtivista, proposto por Lev Vygotsky, que desenvolveu pesquisas na área de Psicologia, enfatizando os processos de aprendizagem, sendo estes de grande relevância para a Educação. Vygotsky enxerga a criança como um ser competente, que deve ser colocada numa posição mais ativa que passiva e que é capaz de construir uma interpretação própria do mundo. Assim, ele relaciona o desenvolvimento social da criança às ações grupais que ocorrem na sociedade, possibilitando o desenvolvimento de estratégias coletivas por meio da interação com outras pessoas para superar os problemas que surgem. Alguns autores, fundamentados na teoria de Vygotsky, criticam o que foi feito por muito tempo no campo educacional, ou seja, a fixação em concepções de criança e infância advindas da psicologia do desenvolvimento, pautada na herança biológica, conformando-a num modelo universal, a-histórico, abstrato e predeterminado, que as remetem à condição de dependência. As maiores críticas que surgem residem no fato de muitas práticas revelarem a vontade de apagar esse “ser criança” ativo e crítico, exigindo a renúncia de seu desejo para prevalecer a vontade dos adultos que lidam com elas. Você consegue notar como fica clara a necessidade de reconhecer a competência dos discursos infantis e da urgência em se ouvir as crianças? 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 18/23 A ideia de criança como pessoa completa, competente, curiosa e criativa, com direito a ser ouvida e atendida nas suas necessidades específicas, surge tanto nos discursos dos profissionais envolvidos com elas como nas pesquisas e estudos que propõem escuta e olhar sensíveis e livres de preconceitos, que sejam capazes de ver e ouvir crianças concretas, vivas, reais. Ou seja, os novos paradigmas apresentam uma perspectiva diferente de criança, definindo-a como ser competente para interagir e produzir cultura no meio em que se encontra. Nesse sentido, cabe às instituições a disponibilização de espaços de participação nos quais as crianças, mais que ouvidas, sejam auscultadas de modo que sua opinião seja considerada e gere efetivas mudanças, a começar pela proposta pedagógica, que constitui um espaço privilegiado no qual a criança deve poder se expressar acerca de seus desejos e expectativas com relação à sua institucionalização. Indubitavelmente, não é uma tarefa fácil e requer metodologias capazes de captar essas vozes e transformar esses desejos em ações. Segundo Rocha (2008, p. 47), os projetos pedagógicos deixam de ser apenas para as crianças e passam a ser definidos a partir delas e com elas. Diferentes visões sobre o limite de idade infantil Veja a seguir diferentes profissionais e as visões das suas respectivas áreas sobre até qual idade uma pessoa é considerada criança. 20/08/202323:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 19/23 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No Brasil, tivemos o desenvolvimento de diversas legislações que foram construídas com o objetivo de tornar as crianças mais ativas na sociedade e de atender às suas reais necessidades. A seguir, você encontrará uma lista com as principais legislações brasileiras. Observe cada legislação e marque a que apresenta corretamente a sua contribuição para a construção desse novo cenário. Parabéns! A alternativa B está correta. A Constituição de 1988 na verdade mudou a relação de tratamento dado à educação infantil, estabelecendo como direito da criança e não mais da mãe, a ter acesso a esse nível de educação. Já a LDB teve como marco a inclusão da educação infantil como primeira etapa da educação básica. Por fim, o Marco Legal estabeleceu os princípios e diretrizes a serem utilizados na formulação e implementação de políticas públicas para a primeira infância. Questão 2 Ao discutirmos o conceito contemporâneo de infância, notamos uma transformação nas imagens de criança e de infância. Sobre isso, A Constituição de 1988: determinou a mãe como sujeito de direitos, podendo ter acesso a creches onde pudesse deixar o seu filho enquanto trabalha. B ECA: reafirmou a criança como sujeito de direitos e titular de prioridade absoluta e proteção integral. C LDB: determinou que a educação básica deve começar pelo ensino fundamental e concluir com o ensino médio. D Marco Legal da Primeira Infância: determinou que as crianças devem ter acesso à educação nas escolas mais próximas de suas casas. E ECA: teve como marco a inclusão da educação infantil como primeira etapa da educação básica. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 20/23 assinale as alternativas a seguir e marque a que apresenta a concepção contemporânea de criança e de infância. Parabéns! A alternativa C está correta. De acordo com essa nova concepção, a criança precisa ser ouvida e atendida nas suas necessidades específicas. Ela passa, então, a ser vista como um ser competente, capaz de interagir com o seu meio social, criando soluções a partir da sua própria interpretação da realidade. Considerações �nais Você percebeu que compreender o conceito de infância é fundamental a todo profissional que, direta ou indiretamente, colocará seus esforços com o objetivo de formar as crianças. Quanto mais entendermos tal conceito como constituído ao longo dos últimos séculos, melhor teremos condições de buscar possibilidades de uma atuação mais eficaz no processo educativo das crianças. Ao sairmos de um conceito forjado ao longo dos séculos XIX e XX que, por um lado, tutelava a infância sob o Estado e a Religião e, por outro, definia a mesma exclusão social e étnica presente no ambiente adulto, chegamos à visão contemporânea que tem como foco a garantia de uma educação integral das crianças. Busca, assim, alcançar um equilíbrio que não volte a transformar a criança em mini adulto, agora como que sem necessidade de cuidados específicos, por já possuir autonomia necessária a sua formação. Podcast Para encerrar, ouça um bate-papo sobre os conceitos de infância. A A criança passou a ser vista como um sujeito frágil e dependente, cujas vontades deveriam ser renunciadas para que a vontade dos adultos fosse sobreposta. B A criança passou a ser vista como um ator social à medida que seguia as regras determinadas pelos adultos. C A criança passou a ser vista como produtora de cultura e sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico que atua na sociedade na qual está inserido. D A criança passou a ser vista como um ser pensante e capaz de absorver as regras e orientações dos adultos de modo a reproduzi-las para seu grupo social. E A criança passou a ser vista como sujeito de direitos, mas ainda incapaz de ser produtora de cultura na sociedade na qual está inserida. 20/08/2023 23:03 Conceitos de infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00266/index.html# 21/23 Explore + Confira agora o que separamos especialmente para você! Para se aprofundar no conhecimento dos pensamentos que contribuíram para o avanço da Educação, leia a obra Manifestos dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores (1959), de Fenando Azevedo. Coleção Educadores. Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Massangana, 2010. Visite o site da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Busque, no site da UNICEF, a versão para crianças e adolescentes da Convenção sobre os Direitos da Criança, que traz uma linguagem mais simples para o documento promulgado pelo Decreto nº 99.710, em 1990. Conheça os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) – volume 1, publicados em 2010, que tratam do ensino infantil das crianças na faixa etária de 0 a 6 anos. Leia a matéria Pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação, 2006. Busque e conheça as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010). Visite o portal do MEC e conheça a Política Nacional da Educação Infantil. Referências AMIN, A. R. Doutrina da proteção integral. In: MACIEL, K. R. F. L. A. (coordenação) Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. – 7. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2014. ARAGÃO, M.; KREUTZ, L. 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Propósito Compreender as demandas da educação de crianças historicamente invisibilizadas a fim de promover a construção de suas identidades ao longo do processo de aprendizagem e desenvolvimento. Objetivos Módulo 1 Identidade da criança negra 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 2/41 Descrever aspectos da identidade da criança negra no contexto educacional brasileiro. Módulo 2 Educação da criança indígena no Brasil Identificar as especificidades na educação da criança indígena no Brasil. Módulo 3 Crianças migrantes e refugiadas Analisar desafios educacionais de crianças migrantes e refugiadas no âmbito brasileiro. Antes de iniciar a leitura, reconheça o cenário a seguir. Você consegue perceber a pluralidade cultural presente na sala de aula? Temos, por exemplo, crianças negras, indígenas e mulçumanas. A partir desse cenário, o professor tem o desafio de, diante de múltiplos elementos culturais, criar mecanismos que propiciem a coexistência e a harmonia dessas diversas culturas. Parte desses mecanismos se referem aos aspectos comunicacionais que se revelam na atenção dispensada aos alunos, na abertura dada ao diálogo, na escuta sensível, na afetividade e no acolhimento, elementos que devem constar no processo de aprendizagem. A outra parte tem por base o reconhecimento da cultura do outro, das especificidades de cada sujeito e de cada vivência da criança em seus contextos identitários. Introdução 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 3/41 1 - Identidade da criança negra Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever aspectos da identidade da criança negra no contexto educacional brasileiro. Diversidade e o papel da escola 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 4/41 Desa�os da escola Vamos ouvir o professor Rodrigo Rainha falando sobre os desafios da escola diante das múltiplas vivências e culturas na infância. A partir do vídeo, podemos refletir que, se a diversidade na escola for trabalhada desde cedo, isso ajudará no combate à invisibilidade – e, com isso, ao racismo e ao preconceito. Con�itos de diversidade Precisamos entender que mediar não é impor, e sim criar situações para que uma relação de aprendizado possa ser efetiva. A mediação docente, portanto, é parte desse processo. Além disso, é necessário perceber que, diante da prática e dos problemas cotidianos que abordamos, políticas públicas mostram-se necessárias. Para ilustrar o quanto a presença da diversidade coloca em questão o papel da escola, descreveremos, nos módulos a seguir, algumas situações reais vivenciadas em turmas de educação infantil (crianças de 0 a 5 anos de idade) de algumas instituições de ensino. olíticas públicas Políticas públicas de educação constituem a tentativa governamental de atuar em uma demanda ou um problema. Vamos conhecer situações de relações étnico-raciais na sala de aula? 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 5/41 Vejamos a primeira situação.Certo dia, duas crianças que costumavam brincar juntas se desentendem por conta de brinquedos. Uma era negra e a outra, branca. Na discussão entre as duas, esta rapidamente chama aquela de “macaca”. Após soltar o brinquedo de sua mão, a criança negra começa a chorar. A professora logo intervém, dizendo que não devemos tratar o colega dessa maneira. Por fim, a docente diz à criança negra que a outra não fez por mal, sendo apenas uma brincadeira. E nunca mais se toca nesse assunto. Agora vamos ao segundo caso.Toda vez que a professora da turma pede para seus alunos se desenharem, realizando um autorretrato, as crianças negras, em geral, retratam-se como brancas de olhos claros e cabelos lisos (mesmo contando com o apoio do espelho ou das próprias fotografias). Em sua intervenção, a docente compara as duas imagens (a da criança e a produzida por ela), tentando fazê-la ver a si mesma; no entanto, ela, ainda assim, se recusa a expressar no papel os próprios traços. Diante de tais situações, surgem as seguintes perguntas: Como estamos olhando para estas crianças? Quando silenciamos perante essas ocorrências, que mensagens e ensinamentos transmitimos às crianças negras e às brancas? Cada situação demonstrada anteriormente nos permite adentrar o cotidiano escolar e pensar nas relações entre crianças e adultos, no papel da escola, durante a inclusão das relações étnico-raciais e na figura do docente como alguém capaz de criar condições de mediação entre sujeitos que tendem a resistir ao olhar mediado.20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 6/41 Com o tempo, esse movimento permitirá a valorização da identidade negra, buscando, continuamente, vencer as manifestações de discriminação étnico-racial e, até mesmo, os próprios preconceitos. Tendo em vista o caráter invisível da população negra nos processos civilizatórios da história "oficial" do Brasil, o tópico sobre criança negra e identidade vem sendo, há muito tempo, pauta de estudiosos, professores e integrantes de movimentos negros. Ao trabalhar com as crianças, o educador precisa ter em mente que não basta reconhecer especificidades de corpos e culturas que carregam traços dos resquícios do imaginário social e prático da escravidão. Saiba mais Em voga no século XIX, o imaginário social sobre a escravidão pregava a inferioridade do negro. Além de menor capacidade cerebral, características selvagens e coisificação, defendia-se a ideia de uma compleição física própria para o trabalho e o sexo. Vistos como fortes e tendo ancas largas, seus corpos eram considerados apropriados para o abuso de todas as formas. Herdadas, essas compleições ainda resistem no nosso vocabulário: a referência à cabeleira de origem étnica negra é chamada de cabelo "ruim” ou “duro”. Vamos entender – ainda que de forma breve – o significado da identidade negra. Identidade negra No período escravagista, as crianças negras eram vendidas. Separadas de suas famílias, elas eram obrigadas a trabalhar em condições desumanas. Além disso, sofriam as consequências de uma herança – ainda alimentada atualmente pela reprodução de determinados conceitos – acumulada em três séculos de escravidão. Um deles, por exemplo, é a consideração de que os corpos negros são menos importantes. Tais ideias foram baseadas na concepção de raça. Não estamos nos referindo a uma ideia puramente biológica, mas a uma construção social erigida das tensões entre negros e brancos. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 7/41 O termo raça foi ressignificado por movimentos negros que o utilizavam com sentido político de valorização e afirmação do legado africano e afrodiaspórico. O discurso de que “todo mundo é igual” é desonesto com a história brasileira, responsável por – entre outras mazelas – tornar subalterna a população negra. frodiaspórico Afrodiáspora ou diáspora africana é o nome dado ao fenômeno histórico e sociocultural ocorrido em países do continente africano, referente à imigração forçada da população africana para outras partes do mundo. Tal fenômeno também diz respeito às reconstruções identitárias de outras maneiras de ser, agir e pensar desse povo nas distintas regiões onde passaram a viver. Atenção! É urgente afirmar a presença das diferenças que nos compõem enquanto povo para exigir que direitos sejam garantidos a todos. Negado por séculos, o direito à educação da população negra foi assegurado pela luta de movimentos negros que pressionaram o Estado pela sua oferta. Pensaremos na negritude que atravessa o cotidiano escolar, a fim de que possamos ver, sentir e prestar atenção na importância da escola para a formação da autoimagem e da autoconfiança das crianças. Vamos ver o que os estudiosos têm a dizer: No livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil (2017), a professora Eliane Cavalleiro faz a seguinte afirmação: liane Cavalleiro Mestra e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). A identidade é um dos resultados mais importantes de constituição social do sujeito. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 8/41 (CAVALLEIRO, 2017. p. 19) Vamos entender melhor. As identidades das crianças, particularmente a das negras, vão sendo formadas pelos professores e colegas dela por elas serem capazes de observar, desde cedo, diferenças de tratamento no contexto escolar. Isso acontece nas situações em que as crianças negras: Não recebem carinho nos seus cabelos crespos; Não veem nas histórias personagens negros em posição privilegiada; Notam que uma criança branca não as chama para brincar; Percebem que todos os bonecos do acervo de brinquedos são brancos; Verificam que os murais da escola não dão espaço para pessoas com as quais elas possam se identificar positivamente. Existem muitas situações que, sutilmente, permeiam a escola e suas práticas, demandando atenção dos professores e da própria instituição devido à responsabilidade que eles têm de potencializar a construção dessa identidade racial. Como essa construção deve ser potencializada? A professora Azoilda Loretto da Trindade considera que: zoilda Loretto da Trindade Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Educação, com área de concentração em Psicologia da Educação, pela Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), graduada (Licenciatura) em Pedagogia pelo Instituto Isabel e em Psicologia (Licenciatura, Bacharelado e Formação de Psicólogo) pela Universidade Gama Filho (UGF). 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 9/41 A escola deve rea�rmar o compromisso e o débito social de garantir-lhes sua infância, seu direito de brincar, de sorrir, de ter orgulho da sua memória e do seu povo. (TRINDADE, 2013, p. 145) Sabe por que devemos ter esse compromisso? Porque é principalmente na infância que as experiências de racismo mais marcam e ferem.É necessário reconhecer que o racismo existe, sendo sua demonstração, muitas vezes, silenciosa e silenciada. Crianças pequenas não sabem verbalizar a vivência de uma situação racista e discriminatória, mas podem carregar pelo resto da vida essa marca em seus corpos. As experiências de racismo na infância acabam fazendo com que as crianças neguem seus traços biológicos e sociais de negritude; por isso, muitas desejam ter a pele mais clara, começam a não gostar da textura de seus cabelos e isolam-se nas brincadeiras. Comportamentos e atitudes do tipo são reflexos de sua percepção atenta a um contexto escolar (e também fora da escola) responsável por, muitas vezes, conferir invisibilidade às situações do cotidiano. As crianças são sujeitos capazes de reproduzir a negação do corpo negro e de perceber que a beleza, a inteligência e o carinho estão majoritariamente padronizadas no “ser” branco. Atenção! A escola é um dos espaços em que essa tensão é maior. É fundamental que os profissionais da educação reconheçam isso, compreendendo ainda a urgência imposta à instituição que deverá lidar seriamente com 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 10/41 tais conflitos. O silêncio precisa ser rompido para que as vozes, os gestos e as palavras das crianças negras passem a nos afetar. A educação tem o papel de criar relações respeitosas na diferença sem esconder as tensões raciais que habitam o cotidiano escolar. Vamos conhecer uma situação de rompimento da invisibilidade negra? A professora leva um livro infantil sobre Zumbi dos Palmares para a sala de aula e conta sua história aos alunos. umbi dos Palmares Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra. Fonte: Palmares Fundação Cultural. As ilustrações da obra mostram o povo negro como pessoas fortes, unidas, bonitas e com uma história de vida que preza pelo coletivo e pela própria comunidade. No começo, as crianças estranharam as referências ilustrativas, mas, no decorrer das páginas, já estão curtindo e muitoatentas à narrativa. Ao final da história, todos os meninos desejam ser Zumbi dos Palmares, pois o reconhecem como uma figura heroica. No pátio da escola, inventam uma brincadeira envolvendo a narrativa da obra. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 11/41 A essência das situações deste módulo é a mediação: sempre que a atividade feita pelo docente é efetiva, ela rompe com a invisibilidade; quando é errática, este profissional costuma reforçar os comportamentos do senso comum. Recomendação O que a escola pode fazer para potencializar, de modo positivo, a formação da identidade negra nas crianças? Não deixe de conhecer outros exemplos nos vídeos indicados no Explore +. Também aproveite para pesquisar sobre o Projeto Griot, responsável pela promoção do ensino de tradições afro-brasileiras por meio da tradição oral. Políticas públicas A educação escolar deve se responsabilizar pelo desenvolvimento de competências que ajudem a romper com a reprodução do racismo, do preconceito e da discriminação racial. O combate à discriminação de raça e o trabalho pelo fim da desigualdade social e racial não são tarefas exclusivas da escola. Tampouco são originadas nela as diferentes formas de discriminação, mas é justamente o contrário: elas, na verdade, atravessam o cotidiano escolar. Como você já sabe, o governo age para remediar tais problemas (já apresentados nas situações que analisamos anteriormente) por meio de políticas públicas. A seguir, de maneira específica, conheceremos a atuação recente de algumas delas: A Lei nº 10.639/2003 (que foi reeditada em 2008) foi sancionada após grande mobilização dos movimentos negros. Esta lei prevê a alteração da Lei nº 9.394/96 – conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) –, incluindo no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da história e cultura afro-brasileiras. As diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais pretendem resgatar a contribuição histórica dos negros na construção da sociedade brasileira, promovendo a justiça e a LEI Nº 10.639/2003 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 12/41 democracia como princípios da formação cidadã dos estudantes e das crianças. Suas diretrizes ressaltam que o trabalho de educação das relações etnicorraciais significa “ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras e piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana”. (BRASIL, 2004) Em diálogo com a Lei nº 10.639/03, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil orientam que as propostas pedagógicas das instituições de educação infantil devem assegurar: “O reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discriminação”. (BRASIL, 2010) É necessário reconhecer que a educação e as instituições escolares ainda reproduzem as tradições de nosso passado escravocrata, influenciando, inclusive, nossos conteúdos, práticas, relações, escolha de temáticas, materiais e palavras. Deve-se estar atento a sutilezas que moldaram a maneira com que são formados os professores. É urgente, portanto, estarmos atentos às crianças e às relações estabelecidas entre elas que, por vezes, reproduzem práticas racistas e discriminatórias. Uma educação antirracista não é um projeto com começo, meio e fim ou uma proposta pedagógica baseada em sequências didáticas, além de outras estratégias. Ela deve constituir o próprio objetivo do ato educativo. Valores civilizatórios afro-brasileiros DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 13/41 Assista a este vídeo da professora Camila Machado para aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre o assunto. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 14/41 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre o contexto educacional brasileiro e a questão da identidade da criança negra, podemos considerar que ações como a Lei nº 10.639/03 buscavam: Parabéns! A alternativa C está correta. A Garantir o ensino da cultura e da história afro-brasileira, em especial dos aspectos da escravidão. B Resgatar a contribuição histórica da população africana na formação da sociedade brasileira. C Estabelecer que a educação escolar deve se responsabilizar por desenvolver competências que ajudem a romper com a reprodução do racismo. D Definir que o combate ao racismo e o trabalho pelo fim da desigualdade social e racial são tarefas exclusivas da escola. E Instituir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 15/41 O combate ao racismo e o trabalho pelo fim da desigualdade social e racial não são tarefas exclusivas da escola. Apesar de diferentes formas de discriminação permearem o ambiente escolar, elas não se originam dele. Questão 2 Em relação à formação da identidade racial da criança negra, qual alternativa apresenta uma prática que pode promover a valorização positiva dela? Parabéns! A alternativa B está correta. As identidades das crianças, particularmente das crianças negras, vão sendo formadas por serem capazes de observar, desde cedo, diferenças de tratamento no contexto escolar - pelos professores e por outras crianças –, como o carinho que não recebem nos seus cabelos crespos, por não verem nas histórias personagens negros em posição privilegiada, por notarem que uma criança branca não as chamam para brincar, ao perceberem que todos os bonecos do acervo de brinquedos são brancos ou A Em situação de reprodução do racismo entre as crianças, o professor deve atuar pontualmente sem a necessidade de uma abordagem que atravesse sua prática pedagógica cotidiana. B Usando imagens e narrativas positivas de personagens negros (reais e fictícios) presentes em filmes, histórias e livros infantis. C Trabalhar o tema da identidade negra, história e cultura africana e afro-brasileira em datas comemorativas e momentos específicos que tenham relação com a temática. D Abordar a história da escravidão da população negra, dando ênfase ao sofrimento a que eram submetidos. E Buscar opções que valorização da identidade das crianças, muito além de somente representá-las em murais escolares ou acervo de brinquedos 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 16/41 quando os murais da escola não dão espaço para pessoas com as quais elas possam se identificar positivamente. Existem muitas situações que sutilmente permeiam a escola e suas práticas, demandando atenção dos professores e da própria instituição devido à responsabilidade que eles têm de potencializar a construção dessa identidade racial. Trindade (2013, p. 145) nos diz que a escola deve reafirmar o compromisso e o débito social de garantir-lhes sua infância, seu direito de brincar, de sorrir, de ter orgulho da sua memória e do seu povo. 2 - Educação da criança indígena no Brasil Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car especi�cidades na educação da criança indígena no Brasil. Educação da criança indígena na escola formal A criança indígena na escola 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html#17/41 Existem algumas situações que estão ligadas diretamente ao contexto social em que a criança vive, que podem trazer alguns questionamento no convivio escolar. Vamos conhecer uma situação de criança indígena na escola formal? Pedro morava em um aldeamento, onde foi educado, perto de um centro urbano. Sua tribo fazia questão de educar as crianças pelas suas tradições, porém estava ciente quanto à importância de também estudar em uma escola formal. Os colegas da escola tinham materiais que ele não tinha. Certo dia, Pedro tentou pedir um emprestado, mas foi negado por todos os colegas, e eles começaram a brigar. A professora interveio, dizendo que devemos ter pena dele; afinal, ele era um índio, e índios não tinham tais objetos. Neste dia, Pedro voltou à sua casa triste, pois descobriu que, naquele mundo, ele não tinha nada. Diante dessa situação, cabem algumas reflexões: Como pensamos essa relação entre o povo ameríndio e o restante da sociedade? De que forma as crianças oriundas, de forma direta e indireta, da cultura indígena são vistas e integradas nas escolas? Pensar a respeito das crianças indígenas nos faz reconhecer que os povos originários do Brasil são muitos e diversos, assim como suas crianças. Elas são parte integrante de culturas distintas, sendo constituídas enquanto sujeitos no seio da relação com seu povo. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 18/41 A história de Pedro nos ajuda a pensar um pouco sobre o entendimento da criança indígena e como ela se sente na escola, porém isso é só o início de nossa reflexão. Antes de iniciarmos nossa leitura, precisamos conferir alguns dados sobre a população indígena no Brasil: ovo ameríndio Habitantes da América antes da chegada dos europeus ou seus descendentes. Agora que você já percebeu o panorama indígena no país, podemos compreender o cenário da educação brasileira. Papel da escola na educação indígena A educação infantil é a primeira etapa do ciclo básico, sendo dividida, conforme a LDB (Lei nº 9.394/1996), em creche e pré-escola (a creche para atendimento às crianças de 0 a 3 anos e a pré-escola atende de 4 a 5 anos.). Na forma da lei, ela está sob a responsabilidade dos municípios brasileiros e deve ser ofertada como direito da criança e dever do Estado. A LDB ainda afirma que a finalidade da educação infantil é o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos psicológico, físico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. No que se refere à educação infantil da população indígena, temos os seguintes dados do Censo Escolar de 2018 sobre as crianças matriculadas em todo o Brasil: DADOS DO CENSO ESCOLAR DE 2018: CRIANÇAS INDÍGENAS MATRICULADAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 19/41 DADOS DO CENSO ESCOLAR DE 2018: CRIANÇAS INDÍGENAS MATRICULADAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL CRECHE PRÉ-ESCOLA TOTAL NORTE 3.024 15.829 18.853 NORDESTE 3.247 7.933 11.180 CENTRO-OESTE 506 4.263 4.769 SUDESTE 1.176 2.145 3.321 SUL 397 2.326 2.723 BRASIL 8.350 32.496 40.846 Tabela: DADOS DO CENSO ESCOLAR DE 2018. Adaptado por INEP, 2019. Embora a educação infantil seja uma etapa opcional para as comunidades indígenas, o censo escolar nos mostra que, em todo o território nacional, há crianças indígenas matriculadas, o que gera o entendimento de que essa oferta deve ter o compromisso pela preservação cultural desses povos e o diálogo permanente com seus anseios, referências e concepções. Devemos sinalizar que o censo escolar é um indício de um problema muito maior: Educação indígena nos centros urbanos Mostra que eles estão regularmente matriculados e integrados à educação formal; no entanto, as bases do ensino tratam e abordam isso como se fosse uma questão eventual. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 20/41 Referenciais socioculturais A educação indígena não é para ser entendida como um fundamento voltado para os grupos ameríndios. É justamente o contrário: a criança indígena precisa ser integrada, tendo os seus referenciais socioculturais respeitados. Para que isso seja possível, é necessário que o coletivo ao qual ela se integra perceba o seu papel de maneira cotidiana. Sobre a população indígena brasileira de 0 a 5 anos, a Resolução CNE/CEB nº 5 de 22 de junho de 2012, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica, expressa, no artigo 8º, que: A educação infantil é um direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e especí�ca. (BRASIL, 2012) O mesmo documento ainda ressalta que a educação infantil pode ser uma opção de cada grupo indígena. Ele, portanto, é responsável por avaliar as funções e objetivos desta etapa da educação e decidir a respeito da matrícula da criança, tendo como parâmetros avaliativos as referências culturais da sua comunidade. Vamos entender melhor o problema? Nas aldeias, em geral, existem concepções de ensino totalmente demarcadas pela tradição cultural de seus grupos; sob esse viés, entende-se a educação como um processo contínuo cuja responsabilidade é dividida entre todos os índios adultos da comunidade. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 21/41 Os ensinamentos são transmitidos geralmente pela oralidade e pela prática cotidiana da vida, não separando lugares e momentos determinados para aprender. Nesse contexto, a escola, cuja organização ainda mantém certos aspectos tradicionais, acaba reforçando uma separação das aprendizagens. O modelo ocidental de educação reproduz práticas e conteúdos incapazes de dialogar com os contextos mais próximos do modo de viver dos índios. Atenção! Deve-se compreender o papel da Escola no atendimento às crianças indígenas. Além disso, é necessário pensar a afinidade entre a educação formal e a realizada nas aldeias. O desafio é perceber que seus sujeitos são marcados de forma ainda mais clara pela multiplicidade de referências culturais, muitas delas contrastantes. Portanto, precisamos perceber que cada grupo ou sociedade indígena tem seu modo de considerar a criança e seus processos de aprendizagem e desenvolvimento, pois, além da diversidade étnica, há outras especificidades, como, por exemplo, crianças indígenas na cidade. Saiba mais Se você quiser conhecer um pouco mais as pesquisas realizadas no campo da educação indígena no Brasil, sugerimos a leitura dos materiais de Sandra Benites, Guarani Nhandewa, doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do rio de Janeiro (UFRJ). Desde 2004, trabalha com educação indígena. Leia-os no Explore +. Vamos conhecer outra história? 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 22/41 Guaraciara, de cinco anos, nasceu em um centro urbano. Embora seja descendente de indígenas, nunca esteve em uma aldeia. Na escola, apesar de não se apresentar como índia, todos os professores e alunos a identificam por conta dos seus traços e cabelos. Os coleguinhas fazem algumas perguntas: Por que ela saiu da floresta? Por que ela usa roupa? Ela é amiga do curupira? Isso a deixa muito brava e quieta. Um dia, Guaraciara cortou os próprios cabelos para não ser mais conhecida como índia. A coordenação pedagógica precisou intervir, fazendo uma oficina com todas as turmas sobre as várias culturas e a importância delas para história do Brasil. Diante dessa situação, começamos a questionar especialmente o espaço que os conhecimentos e os saberes culturais ocupam no cotidiano escolar, questionando quais aparatos legais buscam garantir uma educação quenão negligencie crianças indígenas e suas culturas. Sabe-se que, historicamente, a população indígena brasileira sofre consequências da não valorização de suas matrizes, rituais culturais e concepções de mundo. Este povo também foi escravizado no período colonial, o que acarretou muitas mortes e desapropriações de terras indígenas. Ao longo da história, sua população sempre se manteve em luta para garantir a vida digna, a sobrevivência de seu povo e a participação nas decisões políticas do governo. Devemos, enquanto profissionais da educação, buscar referências e possibilidades de trabalho com as culturas indígenas baseadas nesse histórico e em suas manifestações a fim de valorizá-las e reconhecê-las. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 23/41 Apesar das diferenças existentes entre os povos, o reconhecimento da natureza como parte própria de cada indivíduo é um traço cultural e espiritual que os atravessa. Acontece que nenhuma dessas relações é fácil ou automática; afinal, essa construção é um desafio. Como resolver esse desa�o? As crianças indígenas vão se constituindo enquanto sujeitos no espaço-tempo pelo qual transitam. A formação de suas identidades perpassa as relações criadas na aldeia, na cidade, na escola ou na alteridade com os sujeitos que também compõem tais ambientes. Acreditamos, desse modo, que a escola para as crianças indígenas precisa constituir um lugar de ressignificação de seus contextos identitários e fortalecimento do que seu grupo étnico considera fundamental enquanto ensinamento e aprendizagem. As marcas e os traços culturais devem ser o centro das propostas pedagógicas, e não um adendo ou tópico a surgir esporadicamente no cotidiano escolar. Se levarmos em consideração que a importância da educação infantil está na criação de condições para a ampliação de repertório linguístico, imagético, de brincadeiras, de musicalidade ou de interações, também é possível aproximar e fundir tais práticas com as existentes nas comunidades indígenas. A escola voltada para esse público deve ser mais um local que o potencializa na sua completude, afirmando a garantia de seus direitos como criança indígena. Trata-se, enfim, de um lugar de criação e invenção com as narrativas tradicionais de seu grupo, a relação com a natureza, as palavras da língua de sua etnia e o brincar, possibilitando o reconhecimento de algo próprio desses sujeitos. Prêmio Territórios Educativos 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 24/41 Para entender ainda mais os problemas e começar a amealhar soluções, vejam este vídeo sobre o Prêmio Territórios Educativos do Instituto Tomie Ohtake. Percebemos neste vídeo quão urgente é, para nossa formação como professores, aceitar a enorme contribuição desses povos na educação das crianças em geral; afinal, eles a pensam de outra maneira. Isso manifesta-se tanto na possibilidade de atuar diretamente com as indígenas quanto no compromisso de não negligenciar saberes dos povos originários em práticas realizadas com crianças fora da realidade do índio. Uma vez mais, devemos sinalizar o fundamental papel da mediação. Diante de tais desafios, o professor deve entender como compromisso contínuo atacar as relações e as situações problemáticas que se manifestem. Saiba mais Precisamos frisar ainda que a sensação de inaptidão contribui para que a população ameríndia apresente números alarmantes de suicídios e alcoolismo. Agora que já observamos o panorama dos povos indígenas e maneiras de atuar nesse contexto, veremos as políticas públicas empregadas para reparar essa situação. O artigo 210, da Constituição Federal de 1988, trata de conteúdos mínimos para o ensino fundamental “de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. No segundo parágrafo, ela afirma que “o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. (BRASIL, 1988) Seu objetivo, portanto, é valorizar as referências linguísticas dos grupos indígenas no processo educacional. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: ARTIGO 210 LEI Nº 11.645/2008 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 25/41 A Lei nº 11.645/2008, anteriormente (em 2003), tratava da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica; após a inclusão do artigo 26-A, seu ensino passa a abranger também os seus aspectos, “resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil”. (BRASIL, 2008, grifos nossos). Já o artigo 78 versa sobre os fomentos à cultura e a assistência aos índios, traçando alguns objetivos para o desenvolvimento de programas de ensino e pesquisa na oferta da educação escolar bilíngue e intercultural destes povos. Atende-se, assim, à necessidade de que os próprios índios tenham assegurada a recuperação de sua história (que também é a história invisibilizada de formação do nosso país) a fim de fortalecer suas culturas tanto para esta quanto para as próximas gerações. Isso significa manter vivas as heranças e sabedorias dos povos originários. Documentos legais que possuem uma grande importância para a construção de uma sociedade democraticamente plural e de direitos, leis e diretrizes são fundamentais para repensar o desafio da escola frente às diferenças culturais e multiétnicas que a atravessam tanto no âmbito escolar indígena quanto no contexto educacional regular (que, por vezes, não conta com a presença física de crianças indígenas). A formação da nossa sociedade se deve também a esses povos, historicamente invisibilizados e destinados a lugares de subalternidade na construção histórica brasileira. Pensar na escola e na formação docente acerca da educação de crianças indígenas, os grupos a que pertencem, a diversidade étnica do Brasil e os traços comuns e singulares desses povos demonstra o potencial para outras maneiras de construção de práticas e teorias no campo da educação. É urgente reconhecer que as culturais indígenas também são parte integrante de nossas raízes. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 26/41 Diferenciais na educação Indígena Para solidificar nossos conhecimentos, vamos ouvir Gabriela dos Santos Barbosa, professora especialista em Educação Indígena da UERJ. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 27/41 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Estudamos alguns documentos legais que fazem referência à educação infantil para crianças indígenas. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Indígena na Educação Básica apontam que ela: A Constitui um direito dos povos indígenas, enquanto a matrícula das crianças nesta etapa de ensino é obrigatória. B É um direito dos povos indígenas, enquanto a matrícula das crianças é opcional pelo fato de a educação oferecida não ser diferenciada. C É um direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e específica. D É opcional a oferta pela rede de ensino e facultada aos povos indígenas a matrícula das crianças de sua comunidade. E É opcional a oferta pela rede de ensino, se não houver um pedido formal da Comunidade Indígena próxima ao ambiente escolar. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 28/41 Parabéns! A alternativa C está correta. No que diz respeito especificamente à população indígena brasileirade 0 a 5 anos (faixa etária atendida pela educação infantil), a Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de junho de 2012, que define tais diretrizes (MEC, 2012), expressa, no artigo 8º, que a educação infantil é um direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e específica. (BRASIL, 2010, grifos nossos) Questão 2 A Lei 9.394/96 é a legislação educacional mais importante do país, pois estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Porém, no que se refere à educação indígena – história e cultura desses povos – podemos afirmar que: I. Está determinada a oferta da educação escolar bilíngue e intercultural dos povos indígenas. II. Determina que o ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do provo brasileiro: indígena, africana e europeia. III. Acrescentado posteriormente, em 2008, o Art. 26-A define como obrigatório o estudo da herança história afro-brasileira e indígena, e como opcionais demais aspectos desses povos. Das afirmativas acima: A Somente I é verdadeira. B Somente II é verdadeira. C Somente III é verdadeira D Somente I e II são verdadeiras. E Somente II e III são verdadeiras. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 29/41 Parabéns! A alternativa D está correta. A LDB nº 9.394/96 teve o artigo 26-A acrescido à redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008. Anteriormente (em 2003), esta lei tratava da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro- brasileira na educação básica; após a inclusão deste artigo, seu ensino passa a abranger também os seus aspectos, “resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil” (BRASIL, 2008). Trata-se, sem dúvida, de um avanço muito importante aos movimentos sociais indígenas. 3 - Crianças migrantes e refugiadas Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar desa�os educacionais de crianças migrantes e refugiadas no âmbito brasileiro. Educação de crianças migrantes e refugiadas 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 30/41 Desa�os educacionais A criança em situação de refúgio ou migração pode enfrentar questionamentos muito diferentes da criança local que frequenta aquele ambiente escolar. Vamos entender melhor o contexto da criança migrante e refugiada? Samira, uma refugiada da Síria, chorava o tempo todo. Professoras e funcionários se revezavam para tentar ajudá-la, mas o problema ultrapassava a barreira do idioma. O pai contou que frequentar a escola era algo novo para toda a família, destacando que, em seu país, as famílias preferiam não mandar as crianças para lá. Samira saía de casa com receio de que seus pais não estivessem mais lá quando ela voltasse. Essas são marcas profundas de uma guerra que não se dissipam com o recomeço de uma nova vida. Tendo em vista situações do tipo, podemos fazer algumas reflexões: Qual é a responsabilidade dos educadores diante da integração dessas crianças na escola e na sociedade? Como diminuir a sensação de isolamento delas que é agravado pelas diferenças culturais? Essas situações delineiam um cenário sobre o enfrentamento dos desafios do atendimento educacional de crianças refugiadas. Mesmo que o acesso delas à educação seja garantido por lei, é necessário que o 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 31/41 ambiente escolar possa efetivamente promover sua inclusão, seu bem-estar e sua integração ao novo contexto de vida para que ela não seja, mais uma vez, submetida a condições de isolamento e não pertencimento a um lugar. A seguir, falaremos sobre o panorama dos refugiados no Brasil. Panorama dos refugiados no Brasil Segundo a Coordenação-Geral do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o Brasil: Refugiado 11.231 - Pessoas reconhecidas como refugiadas de 2011 a 2018. Indivíduos fora de seu país de origem por conta de perseguição relacionada a raça, religião, pertencimento a determinado grupo social, nacionalidade, opinião política ou conflitos armados, não podendo (ou não desejando) contar com a proteção do próprio país. Migrante 161.057 mil - Solicitações em tramitação para o reconhecimento da condição de refugiado. É garantida a pessoas com o processo ainda em tramitação a situação migratória regular enquanto elas aguardam a decisão do Conare. O porte do documento provisório de registro nacional migratório é obrigatório. Saiba mais Um relatório do Conare de 2018 lista os países com mais solicitações de reconhecimento da condição de refugiado no Brasil: Venezuela (61.681), Haiti (7.030), Cuba (2.749), China (1.450), Bangladesh (947), Angola (675), Senegal (462), Síria (409), Índia (370) e outros países (4.284). Os dados presentes no relatório do Conare demonstram um crescimento progressivo de indivíduos refugiados no país. Diferentes motivos levam os indivíduos a deixarem seu país. Desse modo, o Brasil e outros países de destino dos refugiados recebem famílias inteiras; nelas, há crianças que merecem atenção do Estado devido à sua vulnerabilidade social e às condições de risco às quais estão expostas, como o trabalho infantil, a exploração sexual e o abandono. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 32/41 Existe ainda a possibilidade de elas serem separadas de suas famílias antes de chegarem ao país de destino. Como, em geral, elas não possuem documentos de identidade ou registros, encontram-se ainda mais expostas ao tráfico de crianças. Nota-se o papel fundamental da escola na sua inserção social, cultural e linguística, além de ser um espaço de proteção e amparo para que as crianças migrantes e refugiadas tenham seus direitos e sua integridade preservados. Você deve estar se perguntando: Como é o cenário da educação para tais crianças? Educação para crianças refugiadas A análise sobre crianças refugiadas e educação no Brasil apresenta ainda poucos estudos. Mesmo os documentos legais de amparo àquelas nessa condição não tratam especificamente de seu acesso à educação. No entanto, existe o seguinte entendimento: quando a criança tem sua situação regularizada no país, ela passa a gozar dos mesmos direitos que as brasileiras no que diz respeito à educação, à saúde, à proteção, ao amparo, à segurança, ao lazer e à cultura. Ainda assim, pesquisadores do assunto, como Grajzer (2018) e Mattos (2016), alegam que essa lacuna da legislação brasileira nos faz questionar se, de fato, esses direitos estão sendo assegurados e aplicados. De acordo com Mattos (2016), um dos empecilhos para a garantia da matrícula escolar dessas crianças está relacionado à falta de documentação ou registro, às vezes devido à espera da avaliação do Conare. Assim, algumas instituições acabam não aceitando o protocolo emitido pelo comitê, o que é um equívoco, já que ele pode ser utilizado para o acesso aos serviços públicos. Atenção! O acesso à educação para todos em território nacional brasileiro ainda não é uma realidade. Apesar dessa “totalidade”, ainda encontramos crianças fora das escolas públicas por falta de vagas, instituições escolares perto de suas residências e infraestrutura para atender à demanda local, além de outros fatores que marginalizam a população mais vulnerável. Desse modo, as crianças migrantes e refugiadas também sofrem o reflexo das condições da educação 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 33/41 pública do nosso país. Elas estão duplamente vulneráveis, pois, além de serem indivíduos em desenvolvimento e merecerem uma atenção específica em diferentes aspectos, estão fora de seu centro cultural, precisandolidar com mudanças e transformações de contextos e eventuais traumas recorrentes de conflitos e situações de seu país de origem. Portanto, é indispensável que as instituições escolares repensem seus projetos políticos-pedagógicos com a comunidade. O Estado, por outro lado, deve oferecer formações específicas para os docentes em atuação com esse público. Isso não se limita a cursos de formação, mas a um exercício de atenção, acolhimento e adaptação a fim de ajudar essas crianças a viverem com tranquilidade na escola. Como mediar esse problema? Cada criança é singular, assim como toda aquela que é refugiada tem uma história de vida. É fundamental que a escola dedique a elas uma escuta sensível para potencializar seu desenvolvimento e sua aprendizagem, o que ultrapassa quaisquer conteúdos curriculares: trata-se, na verdade, da importância das relações que vão se criando e se fortalecendo entre os sujeitos que transitam pela instituição. O desafio é tornar a escola um lugar seguro para cada criança, preservando e valorizando suas marcas culturais, além de proporcionar práticas e reflexões que possam romper com o racismo e a discriminação perante as crianças refugiadas. Ou seja, ela deve ser um ambiente verdadeiramente intercultural que não silencie esses sujeitos, especialmente por conta de possíveis manifestações preconceituosas dos demais alunos e profissionais. Música e brincar na educação infantil Para facilitar esse entendimento na prática, vamos assistir ao vídeo Música e brincar na educação infantil do Instituto Tomie Ohtake. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 34/41 Políticas públicas para Crianças Refugiadas Para analisarmos as ações governamentais na tentativa de mediar tais situações, iremos, mais uma vez, destacar alguns pontos de documentos e orientações legais que nos ajudem a refletir sobre a condição da criança refugiada e migrante em nosso país. Nosso objetivo é analisar aqueles que versam sobre a proteção e a garantia de direitos básicos delas. Os destaques a seguir são documentos nos quais o Brasil, um de seus países signatários, se compromete a responder e criar condições de vida digna para esses sujeitos. Afinal, em todo o mundo, as crianças são aqueles mais vulneráveis à violação de seus direitos humanos. Atenção! Crianças em situação de refúgio e migração primeiramente são sujeitos de direitos cuja condição já está prevista em diversos documentos internacionais (como a Convenção sobre os Direitos da Criança) e nacionais (Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990). A Convenção Sobre os Direitos da Criança é um tratado aprovado na Assembleia das Nações Unidas (ONU) em 20 de setembro de 1989, sendo ratificada por 196 países. O Brasil é signatário deste documento desde 1990. O artigo 22 afirma que os Estados Partes deverão adotar medidas para assegurar que as crianças recebam proteção, assistência humanitária e possam usufruir dos direitos previstos na convenção. Tal artigo ainda ressalta que, no caso de ela estar desacompanhada, deve-se ajudá-la, localizando sua família a fim de obter informações que a permitam se reunir com seus parentes. Também conhecido como Convenção de Genebra de 1951, este documento apresenta os direitos dos indivíduos refugiados, bem como a concessão de asilo e responsabilidades dos países que fazem parte da convenção na qual o Brasil é nação contratante. O artigo 22 trata da educação pública para este grupo: “Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que aos nacionais no que concerne ao ensino primário”. (ACNUR, 2019) Convenção sobre os direitos da criança Convenção relativa ao estatuto dos refugiados 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 35/41 A Lei nº 9.474 trata-se de uma lei nacional que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951. Não aborda em nenhum de seus artigos algo relacionado ao direito à educação. O artigo 2° estabelece que “os efeitos da condição dos refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes e descendentes, assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional”. (BRASIL, 1997) Se observarmos as condições por vezes sub-humanas de vida e de sobrevivência a que estão sujeitas as crianças brasileiras das comunidades periféricas, pobres, negras e indígenas, apesar de todo o aparato legal existente, podemos imaginar a situação dos pequenos migrantes e refugiados que chegam ao Brasil. Afinal, eles ficam expostas às mesmas situações graves e traumáticas, além de estarem em um país que, em geral, possui cultura, língua, organização social e política totalmente diferentes daquele de sua origem. Por isso, essas crianças precisam de um apoio que – conforme já sabemos – nem sempre é dado às de nacionalidade brasileira. Lei nº 9.474 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 36/41 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Estudamos alguns documentos legais que tratam da condição das pessoas refugiadas. No que diz respeito ao ensino primário, assinale a alternativa cujo documento versa sobre a oferta e o acesso à educação pública pelos refugiados: A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. B Lei nº 9.474/97. C Constituição Federal de 1988. D Convenção sobre os Direitos da Criança. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 37/41 Parabéns! A alternativa A está correta. A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados também é conhecida como Convenção de Genebra de 1951. Neste documento, são apresentados os direitos dos indivíduos refugiados, bem como a concessão de asilo e responsabilidades dos países que fazem parte da convenção, na qual o Brasil é nação contratante. O artigo 22 trata da educação pública para os refugiados: “Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que aos nacionais no que concerne ao ensino primário” (ACNUR, 2019). Questão 2 Tendo em vista os desafios educacionais apresentados, assinale a alternativa que destaca a importância da inclusão escolar das crianças refugiadas e migrantes: E Decreto 99.70/90. A A aprendizagem de conteúdos curriculares é o principal objetivo da inclusão de crianças refugiadas. B Na escola, elas são protegidas de sua vulnerabilidade social. C É no ambiente escolar que estas crianças podem se sentir protegidas, interagir com outros sujeitos, entrar em contato com a língua oficial do país e aprender sobre seu novo país de domicílio, sendo acolhidas nas suas diferenças e especificidades. D A inclusão escolar destas crianças é importante, principalmente para a formação de professores. E O mais importante é que a criança se sinta fisicamente segura, para que possa assimilar o conteúdo da grade curricular, da mesma forma que as demais crianças. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 38/41 Parabéns! A alternativa C está correta. É necessário que o ambiente escolar possa efetivamente promover a inclusão, o bem-estar e a integração da criança refugiada ou migrante ao novo contexto de vida para que ela não seja submetida, mais uma vez, a condições de isolamento e não pertencimento a um lugar. Portanto, é indispensável que as instituições escolares repensem seus projetos políticos-pedagógicos com a comunidade. O Estado, por outro lado, deve oferecer formações específicas para os docentes em atuação com esse público. Isso não se limita a cursos de formação, mas a um exercício de atenção, acolhimento e adaptação a fim de ajudar essas crianças a viverem com tranquilidade na escola. Considerações�nais Como vimos neste tema, o professor, dentro da sala de aula, está diante de uma diversidade étnica e cultural. A partir desse desafio, ele precisa dirigir sua atenção em busca de uma mediação, efetivando a aprendizagem e combatendo o preconceito. Podcast No podcast a seguir, vamos falar mais sobre Criança e identidade étnica com os professores Guilherme Pereira e Flávia Miguel. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 39/41 Explore + Leia os textos: a. O alcoolismo entre jovens indígenas: estudo de uma comunidade kaingang no paraná, de Paulo Ramon e Rosangela Faustino, do X Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional. b. O suicídio do povo indígena, da jornalista Fernanda Martins, no site da CVV (Centro de Valorização da Vida). c. Ecos discursivos da AD em sala de aula: do período da escravidão ao século XXI, de Nara Sgarbi e Alexandra Figueiredo, na Revista Philologus. d. Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ. Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro (educação tradicional): o olhar distorcido da escola, de Sandra Benites e Ara Retes, da UFSC. Assista aos vídeos: a. O racismo é perigoso na educação das crianças, do Canal Preto, na plataforma YouTube. b. Olhar Indígena - Daniel Munduruku fala sobre Educação Indígena, do Canal Daniel Munduruku, na plataforma YouTube. c. BIENVENUE à Marly-Gomont (BEM-VINDO a Marly-Gomont). Filme de Julien Rambaldi. França: Fidélité Films, 2016”. Referências ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. 20/08/2023 23:05 Criança e identidade étnica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00002/index.html# 40/41 ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Refúgio em números – 4. ed. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BENITES, S. Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ. Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro (educação tradicional): o olhar distorcido da escola. Monografia do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina. UFSC. Santa Catarina, 2015. BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Brasília, 2012. Consultado na internet em: 2 dez. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 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[S. l.]: Arte que Acontece, 2019. Consultado na internet em: 24 jan. 2020. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF() 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 1/35 História da infância Prof.ª Jade Dias Descrição Abordaremos a construção social do conceito de infância por meio de uma contextualização histórica. Para isso, destacaremos as suas especificidades no Brasil, país permeado por desigualdades sociais que influenciam na caracterização dela em suas diferentes nuances. Por fim, discutiremos os marcos legais para a constituição da infância no país. Propósito Conhecer a história da infância significa apontar questões que definem a construção da nossa sociedade. Isso favorece um entendimento das modificações ocorridas ao longo do tempo sobre esse tópico, além de ampliar a visão da criança em seu papel social. Esse conhecimento também favorece a compreensão dos avanços na legislação e a problematização de possíveis afastamentos e aproximações entre diferentes períodos históricos, destacando as diferenças que ainda permeiam a diversidade de infâncias no contexto brasileiro. Objetivos 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 2/35 Módulo 1 A infância no Brasil Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo no Brasil. Módulo 2 Diferenças sobre a ideia de criança Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil. Módulo 3 Marcos legais na ideia de infância Reconhecer marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância no Brasil. Assista agora a uma apresentação da professora Flávia Miguel – historiadora que atua há 15 anos na formação de professores do ensino superior – sobre a história da infância, permitindo que você entenda um pouco mais sobre os caminhos que passa a trilhar. Introdução 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 3/35 1 - A infância no Brasil Ao �nal deste módulo, você será capaz de explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo no Brasil. A construção social do conceito de infância Quando pensamos na palavra história, comumente a atrelamos à ideia de um passado distante. Rememoramos, portanto, momentos que marcaram nossa jornada ou que nos impactaram de alguma maneira, concorda? Em alguns casos, recordamos situações que aconteceram: sentindo cheiros e sabores, fazemos comparações entre a ideia de uma “era que já se foi” e “tempo de hoje”. Quando entramos em contato com a palavra infância, esmiuçamos um pouco mais as lembranças de nossas histórias, aludindo a um período específico de nossas vidas delimitado pela idade (desde o nascimento até o que chamamos de adolescência). 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 4/35 Esse movimento de refazer caminhos da memória, estabelecendo conexões entre passado e presente (ou da infância à vida adulta), nem sempre foi tão simples assim. A infância, da maneira que a idealizamos ou discutimos hoje em dia, nem sempre existiu. Nesse ínterim,destaca-se o trabalho e o papel da História: ao recuperar imagens e informações, você poderá perceber que o entendimento e a vivência sobre o que é chamado de infância foi, ao longo do tempo, constituído de elementos bem diversos. Você sabia que a ideia de infância muda com o tempo, o espaço e as tradições familiares? Faça um exercício de reconhecimento. Busque registros fotográficos de seus antepassados (pais, avós ou bisavós) quando eram mais novos. Repare em suas vestimentas, procurando saber sobre suas vivências na infância e como era a relação deles com os adultos. Reuna as informações coletadas, comparando-as ao presente. As diferenças não se limitam às mudanças nos costumes e nas roupas: antigamente, a própria visão sobre a criança também era diferente. Em determinados contextos, ela aparecia como um "miniadulto". Essa visão permeava os contextos sociais da época, forjando uma noção de infância modificada ao longo dos anos. Você, por exemplo, pode ter ouvido histórias de algumas crianças cujo passado foi maravilhoso, sendo protegido e vivenciado de uma forma especial. Crianças que tinham uma verdadeira rede de proteção social e um quadro de projeção de futuro e investimento familiar. No entanto, também irá conhecer histórias tristes sobre outras que trabalhavam efetivamente ou viviam processos migratórios, sofrendo com isso. Ainda há aquelas cuja infância foi negada ou destruída pelos motivos mais diversos. O que você vai descobrir, a partir de agora, é que o estudo sobre a infância é algo muito mais complexo. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 5/35 iniadulto De caráter histórico, a imagem do miniadulto ainda está muito presente no chamado senso comum. Em sociedades tradicionais, as crianças comumente não eram vistas de maneira específica; afinal, um infante precisava ser preparado para a sua inserção no mundo adulto. Dessa forma, nos antigos e primeiros manuais de educação, havia constantemente a seguinte apresentação: até os oito anos, a criança estava sob a responsabilidade da mãe – especialmente em sociedades ocidentais –, momento em que deveria aprender os “modos”, ou seja, como comer, obedecer, se vestir e se alimentar. Depois disso, meninos passavam a sofrer uma influência masculina: vestidos como o pai, tinham de reproduzir o que ele fazia até aprender isso. Se não estivessem com ele, ficavam com os outros meninos para crescer e se desenvolver. Já as meninas estavam restritas aos afazeres domésticos: preparadas para o casamento, elas, futuras esposas, deviam cuidar das crianças mais novas. Comentário Os estudos desenvolvidos a partir do século XX articulavam campos, como, por exemplo, a Sociologia, a Filosofia, a História, a Antropologia e a Psicologia. Tais estudos ajudaram a desenvolver uma noção de infância que não se limita apenas à idade, mas também a um contexto histórico e social que circunda a vida das crianças menores. Eles defendem, enfim, que esses contextos constituem e forjam uma identidade para elas. Contudo, tal conquista ainda é recente. O aprofundamento desses estudos permitiu que a visão da criança como um sujeito de direitos fosse discutida e cada vez mais corroborada. Multidisciplinaridade No vídeo, a seguir, veja uma roda de conversa com os professores Allan Rodrigues, Camila Machado e Simone Berle. Eles estabelecem como a multidisciplinaridade adiciona novas camadas e ressignifica o entendimento sobre a infância e sobre o próprio conceito de criança. Na década de 1970, os estudos de Philippe Ariès embasaram, na América e na Europa, as discussões sobre 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 6/35 a infância a partir de seu contexto social e histórico. Mas, afinal, o que isso queria dizer? Especialmente na obra História social da criança e da família, de 1981, Ariès evidenciou a importância de observarmos as necessidades específicas referentes à idade das crianças, um dos fatos mais importantes para consolidar ideia de infância. Relacionar algumas especificidades a um determinado momento da vida não era algo tão natural naquela época; por isso, o autor foi considerado um dos precursores da discussão. istória social da criança e da família Em História social da criança e da família, Ariès mostra como a sociedade muda quando as atitudes daqueles que a compõem se modificam. Seu argumento baseia-se na ideia de que, a partir do século XVIII, o compromisso dos pais com seus filhos, antes que a criança se tornasse adulta, nasceu com o controle da natalidade e o declínio da fecundidade. A alta mortalidade incentivava uma excessiva atenção materna e paterna. Na sociedade medieval, destaca Philippe Áries, o conceito de infância sequer existia, porém isso não significa que suas crianças eram negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. Esse conceito não deve ser confundido com a atenção aos filhos; na verdade, ele corresponde a uma tomada de consciência – até então inexistente – da criança em particular. O autor aborda a importância das brincadeiras, as pequenas escolas, o ensino diferenciado e a "invenção" da infância a partir do momento em que as mulheres passam a ter menos filhos, tendo eles uma sobrevida maior em relação a épocas anteriores. A criança, portanto, é primordialmente um ser distinto do adulto, possuindo valores próprios, como fantasia, ingenuidade e ludicidade. Ariès analisou algumas imagens de famílias europeias na Idade Média, destacando modi�cações evidenciadas ao longo do tempo. Como podemos ver nas duas imagens a seguir, a passagem do tempo demonstra como a relação com a criança se modificou. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 7/35 Estudos como o de Ariès ajudaram a criar uma nova dinâmica de entendimento sobre o conceito de criança. Nota-se que a passagem dos anos cristalizou tais mudanças na própria percepção dos pais, da sociedade e do sistema educacional sobre o que é uma criança. Por isso, seus estudos foram tão importantes para essa abordagem. A partir disso, começam a ser debatidas questões como: Até que idade dura a infância e quando começa a adolescência? Quando um adulto se torna senhor de si? Atualmente, isso pode parecer natural para você; afinal, todos sabemos a idade necessária para abrir uma conta, atingir a maioridade penal ou poder participar de cada série escolar. Isso definitivamente está cristalizado em nossa mente, mas tais visões surgiram apenas nas décadas de 1960 e 1970. Vamos percorrer os caminhos delineados por Ariès: Seus estudos sobre a infância buscavam perceber, pela análise de determinadas imagens, alguns elementos específicos, como o fato de as crianças estarem vestidas como adultos. O autor compreendia que isso, além de outros fatores, simbolizava uma ausência do “sentimento de infância”. A partir de seus estudos, podemos conceber um contexto histórico em que diferentes conceitos de infância foram desenvolvidos. Mesmo sendo modificados pelo tempo, eles são vitais para a concepção de uma sociedade. Contexto histórico O conceito de infância pode ser considerado historicamente recente. Os estudos sobre a sua história podem abarcar três concepções: Criança adulto Nesta concepção, que tem origem na Idade Média, a criança era vista como um “miniadulto”. As necessidades específicas da faixa etária sequer eram pensadas. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 8/35 Ela era tratada somente como um pequeno ser que logo se desenvolveria para exercer suas funções na sociedade. O sentimento de infância, como conhecemos atualmente, não existia naquele momento. Às crianças, eram ensinados saberes necessários para que elas se tornassem adultos civilizados. Comentário Ser considerado um “miniadulto” significa não receber nenhum tipo específico de atenção. As crianças,portanto, tinham o mesmo tratamento conferido aos adultos, participando da vida social ao lado deles. Elas só exigiam alguns cuidados até o momento em que conseguissem realizar suas atividades por conta própria. ratamento conferido aos adultos À exceção dos recém-nascidos, que eram responsabilidade absoluta da mãe e cuja morte normalmente lhe gerava uma penalidade, as crianças que superavam a chamada primeira infância (até os três anos de idade) não recebiam nenhum favor em termos de cuidado e educação; logo, elas não estavam poupadas de castigos físicos, assim como não eram incomuns iniciações sexuais e abusos tremendamente precoces. Normalmente criticados pela Igreja, eles eram considerados uma manifestação de práticas rústicas. O reflexo disso pode ser percebido nas histórias de muitos idosos; segundo seus relatos, desde muito pequenos eles eram responsáveis por cuidar da casa e de seus irmãos mais novos, assim como iniciavam no mercado de trabalho ainda crianças. Na Idade Média, era muito comum o infanticídio; desse modo, a alta taxa de mortalidade de crianças era uma questão marcante. As famílias encaravam a perda dos filhos como algo natural, pois logo eles poderiam ser substituídos por outros. nfanticídio O termo refere-se à morte de crianças – em geral, as recém-nascidas. São entendidas como formas de infanticídio as mortes daquelas que nasciam com defeitos, fracas ou com marcas, cujas mães reagiam com depressão ou tinham dificuldade de fornecer leite além de outras ações que poderiam ser evitadas Ainda havia 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 9/35 depressão ou tinham dificuldade de fornecer leite, além de outras ações que poderiam ser evitadas. Ainda havia situações mais corriqueiras que podiam ser fatais, como baixa de temperatura, falta de higiene, intoxicação, pequenos ferimentos etc. Criança institucional Na segunda concepção, a criança passa a ser compreendida como um indivíduo institucional que necessita de cuidados específicos para cada faixa etária que são essenciais para seu desenvolvimento. egunda concepção Temporalmente percebida na pesquisa de Philippe Ariès sobre a segunda metade do século XVI, esta concepção perpetuou-se ao longo dos séculos seguintes. Muitos autores posteriores chamam este período de momento da formação da família moderna, cujos núcleos menores e segmentados em casas diversas justificam a adoção de cômodos específicos para adultos e crianças. Ariès também destaca que este modelo não invalida a existência do anterior, constituindo um fenômeno de tentativa de transposição das famílias burguesas para modelos e costumes da corte. Neste período, ela começa a ser concebida como filho(a) e aluno(a), passando a ser tratada como criança de fato. Regressemos um pouco mais na história para compreendermos como tal sentimento foi se desenvolvendo. Na França do século XVII, a inocência e a fragilidade são adjetivos que passam a acompanhar essa ideia, forjando, desse modo, o que viria a ser entendido como “sentimento de infância”. No período, por exemplo, passam a ser produzidas vestimentas específicas para o público infantil. Comentário A ideia de amor materno e da importância dos sujeitos por si só – e não por suas funções sociais desempenhadas – é uma questão cujo desenvolvimento foi operado na sociedade ao longo do tempo. No final do século XVIII, por exemplo, o cuidado com os filhos já é uma realidade em muitos lares. A partir de sua ligação com a mulher, a maternidade coloca as crianças em evidência. O ato de cuidar, até então função das “amas de leite”, agora constitui uma tarefa pertinente às mães de cada criança. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 10/35 A dependência dos adultos surge aí como mote para a construção da criança como centro de atenção das famílias. Ela é entendida como um sujeito que requer esforços de terceiros para poder se tornar um adulto considerado civilizado. Embora reconhecida institucionalmente em suas especificidades, a criança ainda é considerada o sujeito da “falta”; afinal, para ela se tornar um cidadão, falta-lhe conhecimento sobre o mundo e as suas regras. Por isso, a escolarização é valorizada. Nesta concepção, a família moderna, núcleo institucional que acolhe essas crianças, evoca questões sobre o controle da população e as relações de poder que reverberam um ideal de criança – e, desse modo, as relações estabelecidas para e com elas. Entendidos como seres irracionais que precisavam ser “preenchidos” e moldados de acordo com as exigências da sociedade, os infantes passaram a desenvolver um papel que constituía um ideal de futuro; por isso, sua vida precisava ser preservada, acentuando um olhar agora mais atento para as questões ligadas à saúde e à educação. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos, pesquise na internet e leia a resenha Família na contemporaneidade: mudanças e permanências, de Carolina M. B. de Souza (2008). O estudo específico desta etapa trouxe à tona a preocupação com a escolarização dos menores. Um ideal de universalização do ensino começava a ser traçado em consonância com a (já citada) construção de um cidadão. Consequentemente, as crianças foram se afastando cada vez mais de seus papéis ocupados nos postos de trabalho, embora saibamos que infelizmente o trabalho infantil ainda é uma realidade em nosso país. O sentimento de infância então passou a ser compreendido como uma característica específica que envolvia tanto as relações entre família e criança quanto a visão dela como alguém que difere dos adultos, exigindo, portanto, cuidados específicos e atenção para determinados aspectos em detrimento de outros. Criança social A partir do século XIX, surge uma terceira maneira de conceber a criança: percebida como um sujeito de direitos, ela se torna um ser social. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 11/35 Para isso, é preciso garantir seu desenvolvimento integral por intermédio de legislações que conferem ao Estado a responsabilidade de oferecer a escolarização. Passam a ser consideradas as potencialidades das crianças, que devem ser ativas, participativas e comunicativas, se desenvolvendo em sua relação com o mundo. Traçaremos um pequeno histórico sobre essa transformação para ilustrar o aparecimento da criança social. Nota-se que, no século XIX, havia múltiplas visões sobre ela. Destaca-se a criança que: Diante desses casos, ela deixa de ser um elemento auxiliar e passa a figurar nas discussões da ordem do dia, justificando, pouco a pouco, estudos, percepções, direitos e proposições na construção desses “seres”. É a trabalhadora representada nas cidades no dia a dia. Vive nos seios das famílias de classe média. Torna-se objeto da Psicologia. Possui uma educação que é vista como uma ciência que tenta perceber a forma como ela aprende Pertence à elite, preparada e direcionada para se tornar um grande líder 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 12/35 É por isso que passamos a entender a existência de um universo infantil próprio, ainda que não sistematizado. A percepção sobre essas pesquisas e as transformações vividas é um dos méritos da pesquisa de Ariès. A criança social é fruto de uma percepção importante de mundo. O século XX é denominado século da infância pela maneira como ela passa a ser trabalhada e vivenciada. A criança (ou infância) social indica a visão sobre esse período da vida como um meio próprio para ela estar no mundo. Senso comum e concepção de criança No vídeo a seguir, o professor Rodrigo Rainha nos ajuda a entender a relação entre Senso Comum e a concepção de criança no século XX Tendência Exercitemos um pouco nosso pensamento: Você consegue perceber resquícios e elementos dessas formas de tratar a infânciano seu dia-a-dia? Vamos pensar na educação dos meninos e na maneira como, via de regra, suas querelas devem ser solucionadas. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 13/35 Quem já viu ou ouviu alguém reproduzir diante de uma criança a expressão: Homem não chora? Ou ainda algo mais grosseiro e violento, como: “Se você apanhar na rua, vai apanhar novamente quando chegar a casa.” Para muitos, isso pode parecer uma realidade distante; no entanto, ainda é muito recorrente, evidenciando um traço de nossa sociedade. Você consegue fazer um link dessa forma de “educarmos” nossos meninos com a história da infância? Resposta O processo de “adultização” tão discutido e presente – ainda que detentor de uma concepção bastante tóxica sobre o que é ser homem – é a chave desta resposta. Você entende os debates sobre a condenação de uma criança por seus crimes? Conhece a crítica que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) recebe por não permitir que os pais tomem determinados comportamentos? Estes são alguns exemplos pertinentes para perceber que estudar História é notar o quanto suas camadas não jazem em um passado longínquo; em vez disso, elas dialogam com o nosso cotidiano. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 14/35 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 De acordo com os estudos de Philippe Ariès sobre a concepção de infância na Idade Média, podemos afirmar que: A As crianças sempre foram compreendidas como indivíduos que possuem suas especificidades, havendo uma preocupação integral com elas. B Os estudos sobre a infância sempre foram bem desenvolvidos, permitindo uma boa compreensão do que é ser criança e do que ela necessita para se tornar uma boa cidadã. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 15/35 Parabéns! A alternativa D está correta. A compreensão da criança como um ser diferente do adulto, que possui diferentes particularidades e demandas, se desenvolve, de acordo com Philippe Ariès, a partir da década de 1970, quando começam surgir estudos sobre a infância. Questão 2 Na família moderna, as crianças passam a ser relacionadas à construção do ideal de futuro. Para a compreensão de infância, isso não implica diretamente em: C O sentimento de infância foi desaparecendo, pois as crianças se interessam cada vez mais pelo mundo adulto. D A compreensão da criança como ser social e histórico, que se difere do adulto e possui especificidades, se desenvolve a partir da década de 1970 ao perceber as particularidades das diferentes faixas etárias E Embora a compreensão da criança como um ser diferente do adulto, já existisse desde o séc. XIX, foi com Philippe Ariès que se iniciaram os estudos sobre a infância. A Mais crianças ocupando postos de trabalho para dar um bom futuro às suas famílias. B Maior preocupação com as questões de saúde. C Investimento na educação das crianças. D Universalização do acesso à educação. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 16/35 Parabéns! A alternativa A está correta. Com a compreensão sobre a infância, passa-se a valorizar o acesso da criança à escola e cresce a preocupação com as questões de saúde; compreendida como o futuro do país, ela requer mais cuidados. 2 - Diferenças sobre a ideia de criança Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil. As crianças do Brasil E Por ser compreendida como o futuro do país, ela requer mais cuidados que em séculos anteriores. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 17/35 Ao estudar o desenvolvimento da ideia de criança e infância no Brasil, precisamos estar atentos a algumas especificidades ocorridas em nosso país. Há diferentes maneiras de vivenciar as infâncias. Realidade em vários países, no Brasil ela não se justifica apenas por questões históricas e culturais. Em nosso território, ela opera de acordo com a classe social e etnia, dado o grande número de crianças negras e indígenas cujos antepassados foram escravizados. Uma parte de nossa sociedade é composta por classes menos privilegiadas que frequentam meios urbanos. Estudando em escolas públicas ou particulares de baixo custo, seus filhos acabam tendo acesso limitado aos bens de consumo por condições financeiras. Mesmo influenciados por elementos da cultura popular, outros segmentos sociais vivem em uma realidade absolutamente inimaginável para a maior parte da população. A gama de marginalização brasileira constitui um traço fundamental de nossa sociedade. Nossas crianças são impactadas pela completa falta de suporte e saneamento, além de um campo marcado por conflitos e desigualdades sociais. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 18/35 As escolhas para nossa exposição são teórico-metodológicas. Para isso, nos basearemos na perspectiva da educação decolonial, já que ela busca lidar com as nossas mazelas. Nosso objetivo é indicar maneiras de se reconhecer as características desse passado colonial, observando como elas nos marcam e reestruturam a nossa formação. A concepção sobre a criança no Brasil é muito influenciada por tais perspectivas; afinal, fomos colonizados política, social e economicamente pelos europeus. Vista como adulto, o infante inserido no mercado de trabalho é o centro de atenção das famílias. Negros e indígenas compõem as múltiplas facetas dessa noção de criança que ainda carrega as marcas das diferenças que sempre permearam a história da infância. Embora devamos levar em consideração o fato de que, no Brasil, tal história se assemelha muito à da Europa em termos teóricos e conceituais, a perspectiva de desnaturalização do sujeito e a exploração escravista acabam por merecer alguns destaques e um olhar mais atento. Um dos aspectos importantes nessa discussão é a diferenciação entre os termos “infância” e “criança”. Observe o texto, a seguir, de Sarmento (2005). Apesar de, na maioria das vezes, serem apresentadas como sinônimos, a sociologia da infância compreende a infância como categoria social e criança, como o sujeito pertencente a ela. ategoria social Trata-se de um conjunto de agentes que, a despeito das diferentes origens de classe, é capaz de atuar politicamente como uma unidade e de maneira relativamente autônoma, respeitando os interesses das classes das eles quais se originam. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 19/35 Desse modo, podemos destacar as múltiplas infâncias que constituíram a história no Brasil, salientando as especificidades que abarcavam (e ainda abarcam) as inúmeras que faziam parte daqueles grupos. História do Brasil e a infância No vídeo a seguir, para entendermos um pouco mais sobre a relação entre a história do Brasil e a questão da infância, vamos assistir a mais um pouco da conversa entre os professores Allan Rodrigues, Camila Machado e Simone Berle. No Brasil, não existe um modelo de criança, e sim dezenas de modelagens estruturais de crianças. Podemos, contudo, identificar um traço comum segundo o entendimento das propostas que aproximam a história desse conjunto. Se, no entanto, tendo em vista uma perspectiva decolonial, desejarmos refletir sobre uma história da criança no Brasil, deveremos trilhar o caminho oposto, nos concentrando em uma concepção genérica. A música infantil, aliás, lida com essa mazela. úsica infantil O cunho educativo da música voltada para o público infantil tem reforçado essa visão. O grupo Palavra Encantada, por exemplo, expressa tal viés em músicas como Criança não trabalha (PauloTatit / Arnaldo Antunes).Exploração e trabalho infantil Discutir sobre a criança no Brasil é falar sobre a naturalização do trabalho infantil. No período de colonização, a exploração de crianças negras e indígenas era comum. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 20/35 A questão religiosa trazida para o país impactou não só a vida dos adultos, mas a dos infantes também. É possível que você esteja se perguntando: de que maneira isso ocorreu? Entre 1500 e 1800, as crianças passaram pelo processo de catequização realizado pelos jesuítas por serem consideradas mais acessíveis que os adultos, especialmente em termos de doutrinação religiosa. Atividades que envolviam o trabalho com as crianças eram predominantemente comandadas pela Companhia de Jesus. No intuito de preservar a vida dos filhos, alguns pais aceitavam a relação estabelecida entre eles e os jesuítas, o que, no caso, não impedia a sua escravização. ompanhia de Jesus Congregação religiosa, ligada à Igreja Católica, que via na educação catequético do nativo – que incluía trabalhos manuais, aprendizagem da língua latina e portuguesa, uso de instrumentos musicais – um caminho civilizatório. O filme A Missão, de Roland Joffé, mostra como havia contradições nesse processo. Saiba mais Para adensar a discussão, apresentando um contraponto a esse conteúdo, indicamos a leitura da dissertação intitulada O olhar dos jesuítas sobre a cultura indígena no Brasil – Século XVI, de Flávia Emília Zanini (2014). Ignorando aspectos culturais das crianças indígenas, os colonizadores consideravam atrasados todos os outros povos que habitavam o país, não demonstrando interesse em preservar suas tradições culturais ou lhes oferecer educação e assistência. Desse modo, a ausência de escolas e o trabalho escravo eram justificados por um discurso que colocava essas pessoas à margem da sociedade estabelecida na época. Dentro dela, a exploração infantil ocorria da seguinte forma: Novamente compreendidas sob uma visão servil, as crianças nativas tinham sua força de trabalho utilizada por senhores de escravos (órfãos ou não). Crianças nativas Crianças do continente africano 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 21/35 Juntamente com os indígenas, as crianças vindas do continente africano eram comercializadas e, na maioria das vezes, separadas de seus familiares. A relação entre infância, adolescência e vida adulta era subvertida pela lógica da utilidade de sua força de trabalho. Estas crianças vivenciavam outra realidade. Para as meninas, predominava a preocupação com o ensino de tarefas domésticas. Já para os meninos, prevalecia o trato com escravos – assunto “de homem”, que envolvia gerenciamento das questões do engenho. A adultização era um mecanismo evidente em ambos os gêneros. Nesse contexto, com a necessidade de estabelecer vínculos na tentativa de proteger tais sujeitos, a ideia de “apadrinhamento” surgiu a fim de manter a relação e garantir a permanência entre aqueles pares, ainda que isso não implicasse o impedimento do trabalho escravo. Estas crianças, que não eram denominadas indígenas ou africanas, também não recebiam tratamento diferenciado. Assim, reiterava-se nos diferentes contextos a ausência do sentimento de infância sobre o qual se havia discutido em séculos anteriores. Quanto às diferenças de gênero estabelecidas na época, aos meninos majoritariamente era atribuída a carreira militar, bem como o trabalho em fábricas ou oficinas. Já para as meninas, predominavam as tarefas domésticas. Tendência Como vimos, existe um componente histórico e sociológico na relação das crianças com a própria infância. Realidades sociais como pobreza e escravidão são componentes que exercem influência na questão, não podendo ser ignorados. Observar o paradigma da criança no Brasil é definitivamente uma tarefa difícil. Você reconhece estes discursos, reproduzidos de forma recorrente? A marginalidade aumentou porque as crianças não podem trabalhar; Crianças de famílias mais abastadas Crianças nascidas em classes menos favorecidas no país 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 22/35 A maioridade tinha de diminuir; Esta criança faz assim por falta de castigo físico (tradição que herdamos de nossa história); Está assim porque as crianças não têm a mãe em casa, é a ausência do modelo tradicional que leva a esse quadro confuso em que nós vivemos. Recente em nossa história, a análise sobre a forma de se lidar com a criança e o adolescente será objeto do nosso estudo à frente, mas a conexão entre os problemas deste e do próximo pode ser sistematizada e provocada a partir das ações políticas pensadas. Você já ouviu falar do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil (ECA)? Vamos ver o que especialistas têm a nos dizer sobre a sua história nas terras do Brasil. Constitui-se no país uma noção particular de infância e adolescência que protela políticas sociais de atendimento à criança e ao adolescente como direitos de cidadania até a década de 1980. A proclamação da Constituição Cidadã (Brasil, 1988) e da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1990a), um conjunto de direitos civis, sociais, econômicos e culturais de promoção e proteção – alteraram esse paradigma. Atualmente, o ECA demanda do Estado brasileiro e da sociedade política e civil esforços e continuidade nas ações, visando, por um lado, à formulação, implementação, monitoramento e controle social de políticas constitucionais e estatutárias, e, por outro, a ações mobilizadoras e societais capazes de ressignificar a concepção arcaica de infância e juventude presente no imaginário social da população. (PEREZ; PASSONE, 2010, pp. 650-651) 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 23/35 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre o desenvolvimento infantil no Brasil, é correto afirmar que: A Deu-se da mesma forma que na Europa. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 24/35 Parabéns! A alternativa C está correta. As vivências de infância não eram (e ainda não são) as mesmas para crianças brancas, negras e indígenas. Os dois últimos grupos, por exemplo, foram vítimas do processo de escravidão. Questão 2 A questão religiosa no período colonial impactou não somente a vida dos adultos, mas também a das crianças. No contexto do Brasil colônia, analise as afirmações: I. A catequização das crianças era realizada sob o discurso salvacionista, uma vez que as culturas e as religiões indígenas e negras não foram consideradas pelos colonizadores. II. As crianças catequizadas não eram escravizadas, o que fazia muitos pais aceitarem que seus filhos passassem por esse processo. III. O apadrinhamento era uma das formas encontradas para garantir a vida e a permanência das crianças com seus pais, mas isso não impedia que fossem escravizadas. IV. Os indígenas eram considerados povos atrasados; por isso, suas tradições culturais não eram consideradas. Está correto o que se afirma em: B Apesar de as crianças serem consideradas miniadultos, a exploração infantil nunca foi aceita. C As formas de vivenciar a infância no Brasil possuem especificidades que se referem principalmente à classe social e à etnia. D Somente as crianças negras trabalhavam no Brasil para ajudar seus pais. E Atualmente, superamos as diferenças entre as crianças brancas, negras e indígenas, pois a vivências de infância não eram as mesmas em séculos passados. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 25/35 Parabéns! A alternativa B está correta. A catequização nem sempre impedia que as crianças deixassem de ser escravizadas. Apesarde formar-se na religião católica, elas continuavam sendo consideradas como parte de um povo atrasado. A I, II e IV B I, III e IV C II e III D III e IV E I e II 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 26/35 3 - Marcos legais na ideia de infância Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância no Brasil. As primeiras legislações sobre a infância no Brasil Para pensarmos a relação entre as leis no Brasil e a infância, vamos ouvir três especialistas com olhares diferentes sobre o tópico. As leis no Brasil e a infância No vídeo a seguir, percebemos uma história que precisa ser contada em diversos prismas. Para isso, vamos ouvir a historiadora Flavia Miguel, o advogado Adriano Pinto e a pedagoga Wilma Mello. Uma das primeiras leis que visava a garantir o direito das crianças, a Lei nº 2040, conhecida como “Lei do Ventre Livre”, foi promulgada em 1871 para garantir que as crianças nascessem livres, além de vetar a compra e venda daquelas menores de 12 anos. Esta lei constitui um dos grandes avanços do período escravocrata; embora não impedisse o trabalho infantil, ela foi um marco precursor para a produção de outras leis e políticas que tratavam da proteção das crianças. A Constituição de 1988 e a infância no Brasil 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 27/35 A educação passa a ser reconhecida como direito social somente a partir da Constituição Federal de 1988, quando o Estado assume a obrigação legal de oferecer para todos uma que seja de qualidade. Antes disso, a educação pública já existia, mas era compreendida como uma assistência aos que não podiam pagar, enquanto o ingresso nas escolas não era facilitado para as classes mais populares, havendo pouca oferta de vagas e acesso limitado à informação. A obrigatoriedade do Estado na oferta de vagas em creches e pré-escolas ao declarar como direito dos trabalhadores a assistência gratuita de seus filhos e dependentes até os cinco anos de idade. No entanto, seu caráter assistencialista ainda persiste, sendo uma das questões mais discutidas no campo da educação infantil. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, é considerado um marco para os direitos das crianças e dos adolescentes. Os direitos fundamentais enunciados pelo ECA têm como objetivo assegurar o desenvolvimento: Físico; Espiritual; Moral; Social; Mental. O documento não se limita a anunciar direitos, representando um grande avanço ao nomear os responsáveis por seu cumprimento. A família, o poder público e a sociedade, em geral, possuem deveres com as crianças e os adolescentes do país. Portanto, mais que o direito à educação, esse público deve estar matriculado na escola – e isso se trata de uma obrigação legal. Atenção! O poder público não pode se negar à oferta de educação, assim como os familiares e a comunidade não podem deixar de cumprir tal obrigação. A Lei nº 9.394/1996 – denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – amplia a discussão sobre a educação infantil para além de um caráter assistencialista até então apresentado nas políticas púbicas. Para isso, a LDB a reafirma como primeira etapa da educação básica, cuja finalidade é o 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 28/35 desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Ela constitui, portanto, um complemento da ação da família e da comunidade. A LDB ainda regulamenta as seguintes questões de acesso, de acordo com a faixa etária e a carga horária. Veja a seguir: 0 - 3 anos Direito à creche. 4 - 5 anos Direito à pré-escola. 6 anos ou mais Direito à educação básica no ensino fundamental. 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 29/35 Em relação à carga horária, a regulamentação um número de horas para cada tipo de turno e período. Veja a seguir. Meio período A carga horária mínima, para turno parcial, é de 4 horas. Período integral A carga horária total, para este período, deve ser de 7 horas. Período anual A carga horária mínima é de 800 horas, distribuidas em 200 dias letivos. Sobre a questão da frequência, a LDB estipula a presença mínima de 60% do total de horas, cuja fiscalização deve ser feita pela instituição escolar. No ano de 2013, foi promulgada a Lei nº 12.796/2013, que altera a LDB para incluir a obrigatoriedade de matrícula das crianças de quatro anos na educação infantil. A frequência passa então a ser exigida em consonância com a carga horária estabelecida de 200 dias letivos. O que antes era facultativo aos pais, passa agora a ser um dever. De acordo com a Unicef, o Brasil é um dos países com legislação mais avançada no mundo no que diz respeito à infância e à adolescência. Entretanto, a legislação ainda não conseguiu superar suas desigualdades sociais, geográficas e étnicas. Saiba mais Veja a contextualização histórica do atendimento à infância no Brasil (1889-1985). 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 30/35 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 31/35 Questão 1 É dever do Estado ofertar educação pública nas seguintes condições: Parabéns! A alternativa A está correta. O atendimento gratuito se destina às crianças de 0 a cinco anos. Anteriormente, ele estava previsto até os seis anos, mas foi alterado em 2013 por considerar que, nesta idade, a criança deve estar matriculada no primeiro ano do ensino fundamental. Questão 2 A respeito da frase “A educação é um direito de todos”, marque a afirmativa correta: A Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero aos cinco anos de idade. B Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de um aos seis anos de idade. C Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de um aos cinco anos de idade. D Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero aos seis anos de idade. E A Legislação de 2013 define que, com 5 anos, a criança deve estar matriculada no primeiro ano do ensino fundamental. A educação é um dever do Estado, mas é um direito dos familiares decidir pela 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 32/35 Parabéns! A alternativa C está correta. O artigo 6º da LDB assim preconiza: “É dever dos pais e responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade” (BRASIL, 1996). Considerações �nais A história da infância é construída, ao longo do tempo, de acordo com seu contexto social e sua época. A concepção de infância, entre outras diferenças registradas, é por vezes modificada, suscitando tanto concepções de um sujeito com características próprias, segundo as quais se constroem possibilidades de um futuro, quanto a noção de criança como um miniadulto. Conforme os estudos na área foram se aprofundando, houve a modificação desses conceitos e foi dado um destaque às diferentes infâncias vivenciadas no Brasil. A diferença entre negros, indígenas, meninos e meninas traçava a visão de um sujeito à margem da sociedade em que o único tipo educação acessível era a cristã (por parte dos jesuítas). Entretanto, o trato com crianças brancas e provenientes de famílias mais A matrícula de seus filhos. B A educação torna-se obrigatória a partir dos seis anos de idade. C A educação torna-se obrigatória a partir dos quatro anos de idade. D A educação torna-se obrigatória a partir dos três anos de idade. E A educação torna-se obrigatória a partir do início do Ensino Fundamental(a partir dos 5 anos de idade). 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 33/35 abastadas já oferecia um olhar diferenciado em relação à educação, ainda que a adultização das crianças ainda fosse um fator presente em suas diferentes formas. Com o avanço dos estudos na área e a necessidade de garantir direitos para esses sujeitos, surgia uma série de políticas públicas construídas em prol dos pequenos: a Lei do Ventre Livre, que garantia, desde o nascimento, a não escravização das crianças de outra etnia ou as menos favorecidas; a Constituição Federal de 1988, que tornava obrigação legal do Estado o amparo à educação delas; o ECA, que se apresentava como mecanismo de garantia da proteção e dos direitos das crianças e dos adolescentes; e, por fim, a LDB, que impõe a obrigatoriedade de matrícula delas em creches e escolas. Elas constituem, nesse âmbito, os principais marcos alcançados. Pudemos então perceber os avanços e as modificações que circundam a história da infância e das crianças, identificando os principais pontos que a compõem. Consideramos que este assunto continua produzindo sentidos constantemente, além de abarcar questões de diferença, conquista de espaço e legitimação de um período marcado por suas especificidades. Podcast Ouça agora as professoras Wilna Mello e Flávia Miguel, que nos ajudam a aprofundar um pouco mais o conceito de “criança” ao longo da História Explore + Assista ao vídeo Concepções de infância na história, disponível na Plataforma YouTube. Leia o artigo A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e sua relação com as políticas públicas para a infância de Analedy Barbosa e Maria Magalhães 20/08/2023 23:06 História da infância https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00442/index.html# 34/35 para a infância, de Analedy Barbosa e Maria Magalhães. Leia a reportagem Situação das crianças e dos adolescentes no Brasil, disponível no site da UNICEF. Referências ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. BARBOSA, A. A.; MAGALHÃES, M.G.D. A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e sua relação com as políticas públicas para a infância. In: Revista eletrônica de Ciências Sociais, História e Relações Internacionais, v. 1, n.1, 2008. Consultado na internet em: 22 mar. 2022. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo nº 186/2008. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2016. BRASIL. Lei nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Consultado na internet em: 22 mar. 2022. BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. 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Relatar problema javascript:CriaPDF() 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 1/36 Educador infantil: formação e identidade Prof. Fernanda Alves Vendas Descrição Educador infantil, formação mínima exigida, a importância da formação continuada e as competências necessárias para este profissional, assim como a construção da identidade do professor infantil. Propósito Conhecer a história, a legislação e os requisitos da formação do educador infantil é importante para o aperfeiçoamento de habilidades significativas, a atuação profissional e a construção de sua própria identidade docente. Objetivos Módulo 1 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 2/36 A formação do educador infantil Reconhecer a construção histórica da formação do educador infantil. Módulo 2 Competências do docente infantil Identificar o cuidar e o educar como competências indissociáveis e fundamentais do docente infantil. Módulo 3 Saberes do educador Descrever os diferentes saberes presentes na identidade do professor. Introdução Olá, seja bem-vindo! Assista ao vídeo e compreenda a importância da educação infantil e da formação do educador. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 3/36 1 - A formação do educador infantil Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a construção histórica da formação do educador infantil.. A formação do educador infantil Histórico da educação infantil no Brasil Precisamos compreender brevemente o contexto histórico da educação infantil no Brasil. Nunes e Leite Filho (2013) explicam que: 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 4/36 Nem sempre se teve no Brasil uma legislação específica sobre a infância e a educação das crianças pequenas, o que permite dizer que, por muitos séculos, não se reconheceu o acesso às instituições de educação destinadas a pré- escolares como um direito, seja ele da mãe ou da criança pequena, mas sim como um favor. (NUNES; LEITE FILHO, 2013, p. 68) Não existia uma legislação que, de forma mais clara, pensasse sobre os direitos das crianças, assim como também não havia parâmetros mais concretos para o funcionamento dessas instituições nem critérios mínimos para a formação dos educadores infantis. Neste período emblemático, as creches são descritas por muitos autores como um “mal necessário”. Elas atendiam, em sua maioria, os filhos das mulheres da classe trabalhadora. Os jardins de infância (ou pré- escolas), por sua vez, atuavam como uma preparação dos filhos das classes mais abastadas para a vida escolar. Tais instituições dividiam-se da seguinte forma: Creche Público-alvo: classe baixa. Iniciativa: filantrópica. Faixa etária: 0 a 7 anos. Contexto familiar: Mães que trabalhavam (operárias e domésticas, em sua maioria) e, por isso, precisavam deixar seus filhos ainda bebês em uma instituição infantil. Meta: cuidar. Jardim da infância Público alvo: classe média 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 5/36 Público-alvo: classe média. Iniciativa: privada. Faixa etária: 4 a 7 anos. Contexto familiar: mães que não trabalhavam, geralmente podendo cuidar da criança até ela alcançar esta faixa etária. Meta: educar. Podemos observar que as instituições infantis ainda não eram responsabilidade do Estado, que deveria apenas fiscalizá-las. Desse modo, não havia uma formação mínima exigida para atuar com as crianças pequenas, como podemos observar na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) tanto de 1961 quanto de 1971: nos dois períodos, não há qualquer menção à formação do educador para atuar com as crianças pequenas. No Brasil, a educação infantil, desde o seu surgimento até o final do século XX, esteve vinculada a funções assistencialistas para atender a uma demanda social por espaços nos quais as crianças pequenas (de zeroa sete anos) permaneciam até atingir a idade escolar. Comentário A educação no Brasil tem uma tradição assistencialista quando falamos dos mais pobres: primeiramente, em relação aos órfãos, cujos abrigos davam rudimentos de educação; em seguida, com uma assistência para mulheres que precisavam trabalhar e não tinham onde deixar seus filhos. Repare que o foco não era a educação infantil, e sim a prestação de algum tipo de assistência. O que aproxima a educação infantil do assistencialismo é a tradição de caridade cristã; por isso, ele tende a ser reproduzido, mesmo quando se tentam inovações importantes. A relação assistencialista também é percebida nas ações governamentais. Por exemplo, o cuidado com as crianças e a sua educação somente surge na legislação do período do Estado Novo, quando um fundo assistencial é criado para elas. Este sistema era chamado de caixas públicas, cujos recursos assistenciais eram buscados a fim de conseguir tratamento de saúde para essa faixa etária ou para colocá-la na escola. A educação voltada às crianças pobres não era entendida como um processo de transformação (ou reinstrumentalização social), e sim como políticas que pretendiam gerar, por meio do assistencialismo, um início de mudança. Apesar da organização do Ministério da Educação e das Leis de Diretrizes e Bases, este modelo assistencialista continuou a existir. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 6/36 Para conhecer um pouco mais essa história da tradição assistencial no Brasil você pode ler alguns artigos indicados no Explore +. Existiam pedagogos no Brasil? Sim! Os primeiros cursos de Pedagogia são do início do século XX. Contudo, os pedagogos estavam em seus gabinetes e a educação era seu objeto de estudo em vez de sua área de atuação. Até poderia haver pedagogos atuando em grandes escolas, mas nunca na relação direta com as crianças. Visibilidade e legitimidade da infância Você deve estar se perguntando: Quando a infância se tornou legítima e visível aos profissionais e às instituições que atendem crianças pequenas? Veja a seguir os marcos legais que lhes trouxeram visibilidade e legitimidade. egítima Tornar-se legítima significa reconhecer direitos e especificidades, expressando, de forma mais viva, a necessidade de proteção à criança. isível Ser visível é debruçar-se sobre as características singulares da infância social psicológica e pedagogicamente. A i d C i i ã F d l d 1988 d l i i ã d i fâ i Constituição Federal de 1988 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 7/36 A partir da Constituição Federal de 1988, o processo de legitimação da infância e, consequentemente, do educador infantil começou a tomar forma. Um novo olhar é lançado sobre as crianças, percebendo-as como sujeitos de direito (crianças ou jovens protegidos integralmente pela lei e capazes de exercer direitos em nome próprio. Este termo só passou a ser efetivamente considerado no país a partir da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no ano de 1990). Nunes e Leite Filho (2013) salientam que, a partir da Constituição de 1988, ocorre o reconhecimento da educação infantil como um direito delas, enquanto a creche e a pré-escola passam a ser identificadas como instituições infantis. Leia o artigo 208, incisos I e IV. Vale destacar que ainda não havia qualquer obrigatoriedade legal quanto à formação mínima para a atuação na educação infantil. Ainda em vigor, a LDB n° 9.394/1996 deu continuidade ao processo de legitimação dos direitos da criança segundo o viés escolar. A formação dos educadores infantis finalmente é mencionada, garantindo a figura da professora na educação infantil, e não apenas a das cuidadoras. A formação mínima exigida para o professor de educação infantil passa a ser: • Licenciatura plena (nível superior); • Curso Normal (nível médio). Leia o artigo 62. A Lei nº 12.014/2009 alterou trechos do texto da LDB de 1996. Em seu artigo 61, ela reforça a necessidade da inclusão no quadro da escola de um professor habilitado na educação infantil e considera como profissionais da educação outros integrantes do corpo escolar, como técnicos, supervisores, orientadores e auxiliares de creche, os quais, mesmo sem formação específica, têm atuado ao longo do tempo em instituições infantis. Lei nº 9.394/1996 (Diretrizes e Bases da Educação) Lei nº 12.014, de 2009 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 8/36 Isso determina, contudo, que eles possuam uma formação mínima para a função que exercem. Ao apontar a necessidade do diploma, a Lei nº 12.014 acaba incentivando a formação desses profissionais. Para tornar seu estudo ainda mais completo em relação aos marcos legais que acabou de ver, leia trechos das seguintes leis: CF 1988 - artigo 208, incisos I e IV; Lei nº 9.394/1996 - artigo 62; Lei nº 12.014/2009 - artigo 61. F 1988 - artigo 208, incisos I e IV Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. ei nº 9.394/1996 - artigo 62 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. ei nº 12.014/2009 - artigo 61 Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio. II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 9/36 III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. O responsável pelo projeto de lei que fundamenta a educação nacional Veja a seguir as ações do então senador e grande educador Darcy Ribeiro, cujo trabalho transformador fez com que a LDB seja também chamada de Lei Darcy Ribeiro. Quando o jardim de infância e a creche se equiparam, temos então um novo olhar sobre a educação: agora, educar e cuidar se fundem. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 10/36 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A educação infantil, desde o seu surgimento até o final do século XX, esteve vinculada a ações privadas ou filantrópicas. O Estado ainda não possuía responsabilidade direta sobre as instituições infantis. Quais as implicações disso para os profissionais de tais instituições? A Seus profissionais ficavam desestimulados. B Educadores não criavam vínculos com as crianças e os demais educadores. C Não havia a obrigatoriedade de formação mínima para trabalhar com as crianças pequenas. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 11/36 Parabéns! A alternativa C está correta. Somente a partir da LDB (1996), é definida aformação mínima exigida para o educador infantil. Embora isso significasse ausência da responsabilidade do Estado, não significava que os profissionais que nela trabalhassem, não estivessem comprometidos ou desinteressados pelos seus alunos. Muito menos que houvesse grande rotatividade, em consequência da suposta falta de compromisso. Questão 2 A LDB nº 9.394/96 define como formação mínima para a atuação na educação infantil: Parabéns! A alternativa B está correta. A LDB de 1996 determina que os profissionais da educação infantil devem ser professores com D Existia uma grande rotatividade de profissionais nas instituições infantis. E Mesmo sem legislação específica até fins do séc. XX, a educação infantil sempre foi responsabilidade do Estado. A Nível superior em pedagogia e especialização em educação infantil. B Nível superior em licenciatura plena ou curso normal em nível médio. C Mestrado em Educação. D Ensino fundamental ou médio com experiência na área. E Nível Tecnológico (ensino médio). 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 12/36 formação superior em licenciatura plena, sendo admitida, porém, a adquirida no curso normal em nível médio como formação mínima. 2 - Competências do docente infantil Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o cuidar e o educar como competências indissociáveis e fundamentais do docente infantil. Habilidades para a docência infantil Contexto histórico do educador infantil Educar e cuidar são fundamentais na educação infantil. Porém, antes de esmiuçarmos esse conceito, precisamos compreender quais valores eram considerados importantes para quem trabalhava com crianças pequenas antes da promulgação da LDB nº 9.394/96, lei responsável por definir a formação mínima do educador infantil. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 13/36 Antes da exigência por essa formação mínima, critérios superficiais e subjetivos eram levados em conta para o trabalho com crianças pequenas, como: Ser mulher Ter instinto maternal Gostar de crianças Possuir um comportamento doce Demonstrar um lado afetivo “Levar jeito” na relação com as crianças Saber “tomar conta” delas 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 14/36 Em outras palavras, buscavam-se profissionais que substituíssem parcialmente a figura materna. Muitos dos valores que foram citados ainda são, mesmo que de forma indireta, considerados importantes para alguns empregadores. Você sabe por quê? Porque ainda vivemos o processo de desconstrução de um conceito histórico de infância e de educador infantil ainda muito voltado para o assistencialismo e a visão da escola (em especial, as creches) como uma extensão da casa e da família. Experiência como educador infantil Entenda a seguir como ocorreu a quebra de certos paradigmas na educação infantil e como se dá a experiência de um educador nessa área. Cuidar e educar Conforme sinalizamos, cuidar e educar eram vistos como pontos separados. No contexto histórico apresentado, podemos observar que: 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 15/36 Cuidar Função associada às crianças bem menores, estava estritamente vinculada às creches (Instituições filantrópicas que atendiam os filhos das trabalhadoras da classe baixa). Educar Era normalmente relacionado às práticas dos jardins de infância (instituições que cuidavam das crianças da classe média, a partir dos quatro anos de idade, como preparo para a vida escolar). Com a interferência do Estado nos espaços infantis, definindo creches e pré-escolas (ou jardins de infância) como espaços de educação infantil, além da formação dos educadores estabelecida pela LDB nº 9.394/96, temos a junção do cuidar, antes atribuído às creches, com o educar, voltado para as pré-escolas. Você sabe a consequência disso? Ambos passam a ser competências igualmente fundamentais para o trabalho do educador infantil. Com a valorização da figura do professor na educação infantil e as definições mais claras de sua formação, podemos dizer que o educar e o cuidar constituem as premissas do seu trabalho. Vamos analisar as mudanças da LDB, veja: Antes Quem atuava na educação tinha as seguintes formações: Professoras de nível médio: das antigas escolas normais, elas trabalhavam com os alunos; Auxiliares de creche: sem formação específica, eram os responsáveis por olhar as crianças; 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 16/36 Pedagogos: Especializados em Educação, sua função era elaborar a gestão, a supervisão, o funcionamento, as políticas públicas e as estratégias para a educação ser efetiva. Falavam com todos, à exceção dos alunos; afinal, não aprendiam a cuidar, mas a educar e pensar a educação. Depois O que era interpretado como cuidar passa a ser repensado como parte dos processos educativos. Desse modo, rompe-se com a ideia de cuidadores (especialmente na educação infantil) e seus gestores. Como o objetivo é cuidar da Educação, busca-se uma formação que entenda o trabalho para o desenvolvimento infantil como um ato pedagógico primordial. Cuidar e educar, portanto, são atos indissociáveis no trabalho do educador infantil. É a partir dessa compreensão que muitos aspectos importantes do desenvolvimento infantil são valorizados. Dessa maneira, a indissociabilidade entre tais atos corrobora uma visão ampla da criança, respeitando diferentes saberes e contextos sociais e familiares, além das formas de pensar, sentir e viver. Cuidado e ato educativo Veja a seguir a relação entre cuidado e ato educativo. Vamos refletir mais um pouco sobre a impossibilidade da separação de ambos, especificando, para isso, 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 17/36 suas definições e contribuições para a qualidade do trabalho com crianças pequenas. Definindo as crianças como sujeitos de direitos, Lima e Vendas (2017) falam sobre um cuidar que não se atenha apenas aos cuidados físicos, indicando a escuta como uma de suas formas de atuação. Temos então um cuidado que não é só físico – sem deixar de também ser – mas que é um cuidado com o ser humano, com o indivíduo que está conosco e necessita de nós tanto quanto nós dele. Este ser humano, detentor de direitos, pode ser criança. Somos nós, adultos educadores, sujeitos em interação com as crianças, que são também sujeitos. Quando escutamos nossas crianças, respeitamos e valorizamos o que elas já sabem, isso é cuidado. (LIMA; VENDAS, 2017, p. 58) Ao analisarmos o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), de 1998, podemos destacar dois pontos importantes: Reverbera a importância da integração entre as duas funções, favorecendo a formação integral da criança. Como historicamente o profissional da educação infantil sempre foi muito desvalorizado e sua conquista por espaço e formação ainda é recente, a quebra dessa hierarquia significa um ponto favorável para ele. No entanto, a busca pela igualdade de direitos entre os docentes de diferentes segmentos ainda é um processo em andamento. Premissas do trabalho do educador infantil Ed d i f ti i t i t j t f d ibilit d d Integração entre cuidar e educar Igualdade entre professores da educação infantil e demais docentes 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 18/36 Educadores infantis precisam construir trajetos formadores que possibilitem aos educandos o desenvolvimento de suas capacidades, zelando, ao mesmo tempo, por sua segurança e pelossentimentos envolvidos. Todas as crianças devem ser estimuladas para o desenvolvimento dos seguintes atributos: Motor Aquisição de movimentos amplos e finos. Sensorial Constituição de capacidades sensoriais (visão, audição, olfato, paladar e tato). Socioemocional Conjunto de atitudes e habilidades necessárias ao meio sociocultural. Linguístico Capacidade de compreender e se comunicar por meio de linguagem verbal e não verbal (gestos, vocalizações e palavras). Estabeleceremos, a seguir, algumas premissas do trabalho do educador infantil. Perceba como sua atuação está relacionada a cuidar e educar: Respeitar o tempo de cada criança aprender e se desenvolver Cuidar: Atender cada criança como um indivíduo com peculiaridades e características próprias que recebe a proteção e o estímulo do professor. Educar: Desenvolver competências motoras e cognitivas, percebendo e buscando estratégias para estimular cada aluno de forma correta. Resolver con�itos entre as crianças e mostrá-las as formas de lidar com as situações 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 19/36 Cuidar: Evitar que os alunos se machuquem ou se isolem por conta de alguma mágoa, tentando promover uma mediação para vida em sociedade. Educar: Estimular competências socioemocionais que estejam em consonância com uma educação voltada para paz, além de transformar o espaço em um clima acolhedor. Observar as manifestações infantis (brincadeiras e falas) e entender o que elas podem expressar Cuidar: Ouvir as crianças e lhes dar atenção, permitindo que lidem com a ideia de ruptura (achando-se o centro do mundo, elas enfim descobrem que ele é grande e que sua vontade não é soberana, algo definitivamente difícil). Isso pode ser realizado ao se transitar, treinar, falar e respeitar esses sujeitos no seu desenvolvimento. Educar: Ampliar os aspectos linguísticos, valorizando e estimulando a fala delas para dar sentido e significado à sua voz. Ajudar a criança a desenvolver autonomia para cuidar dos seus materiais e do coletivo Cuidar: Supervisionar sem intervir diretamente, evitando que a criança se sinta incapaz ou que entenda ser responsabilidade do outro fazer algo para ela. Educar: Fomentar a autonomia das crianças, permitindo que percebam suas capacidades e busquem soluções para problemas com os quais se deparem. Respeitar as singularidades do contexto social e familiar de cada criança Cuidar: Fazer a criança se sentir acolhida por ser como é, pertencendo à tradição que ela tiver d d ã it i 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 20/36 Apesar de a educação infantil ser uma fase essencial para o desenvolvimento e de os educadores precisarem de uma formação adequada, o Brasil ainda apresenta professores que estudaram só até o ensino fundamental ou médio. Na matéria 35% dos professores de educação infantil não têm diploma; entenda a importância da formação em pedagogia, do site G1, especialistas comentam a relevância dessa etapa de ensino para as crianças e explicam por que a graduação é fundamental para a qualidade do trabalho desenvolvido na escola. sem medo de não ser aceita por isso. Educar: Fortalecer competências socioemocionais é função do professor; uma vez estimuladas, isso permite aos alunos respeitar as diferenças. Propor situações de contato com o ambiente e os diferentes elementos da natureza Cuidar: Fortalecer sentimentos e medos que precisam ser mediados para o desenvolvimento dela. Afinal, o medo é um elemento que acompanha o novo. Por não o abstrair, a criança percebe uma verdade que a aflige. Educar: Aprimorar competências sensoriais, despertando para a realidade de que existe um mundo no seu entorno e uma natureza à qual a criança se integra. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 21/36 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A Lei nº 9.394/96 (LDB) definiu a formação mínima dos educadores infantis, buscando superar a visão destes profissionais como os que “deveriam substituir parcialmente a figura materna”. No entanto, hoje em dia, sabemos que muitos valores presentes na concepção dele ainda são, mesmo que de forma indireta, considerados importantes por alguns empregadores. Podemos afirmar que isso acontece porque: I - Não superamos plenamente o processo de desconstrução de uma concepção histórica de infância. II - A concepção de educador infantil que possuímos é muito legalista. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 22/36 III - A visão que temos das escolas – e, em especial, das creches – nos leva a reconhecê-las como uma extensão da casa e da família. Das afirmativas apresentadas: Parabéns! A alternativa B está correta. A concepção de educador infantil que possuímos ainda é muito voltada para o assistencialismo; por isso, permanece a mentalidade anterior à da promulgação da LDB. Se nossa visão fosse legalista, estaria presa à formação mínima para este profissional. Questão 2 Educar e cuidar são aspectos indissociáveis na educação infantil. Com essa compreensão, o educador A Apenas a II é verdadeira. B I e III são verdadeiras. C Apenas a III é verdadeira. D I e II são verdadeiras. E Apenas I é verdadeira. A trabalha melhor os conteúdos do currículo. B mantém-se atualizado e em constante formação. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 23/36 Parabéns! A alternativa C está correta. Educar e cuidar são indissociáveis no trabalho do educador infantil. É a partir dessa compreensão que muitos aspectos importantes do desenvolvimento infantil são valorizados, buscando sua formação integral enquanto indivíduo detentor de direitos. Perceba que as demais opções dizem respeito às características ou situações referentes ao professor. Embora elas possam acontecer, o foco aqui deve ser o desenvolvimento infantil. 3 - Saberes do educador Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os diferentes saberes presentes na C contribui para a formação integral da criança. D supre as necessidades da família. E sente-se realizado como profissional e pessoa. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 24/36 p p identidade do professor. Identidade do educador Apresentaremos algumas situações hipotéticas cujos fatores constituem a identidade do educador. Após a leitura, reflita sobre elas, buscando em sua memória escolar (seja como aluno, responsável, professor ou algum outro papel já desempenhado) vivências que se assemelhem às descritas a seguir: Uma professora possui um aluno em sua turma com uma dificuldade de aprendizado específica; por causa disso, sente-se esgotada, pois não sabe como proceder. Após uma conversa com seus colegas docentes, eles resolveram elaborar novas estratégias para lidar com a situação, fazendo com que esta profissional se mantivesse mais motivada. Uma professora de origem muito simples começou a trabalhar em uma escola da periferia. Ela se sensibiliza bastante com a realidade de seus alunos, pois se identifica com as histórias de vida deles; assim, busca realizar ações afirmativas em sala. Uma professora possui especialização em educação especial. Ao receber um aluno incluído, ela se sente mais segura que sua colega da sala ao lado, a qual, também tendo recebido um estudante incluído, não possui esse aperfeiçoamento. Relações e trocas estabelecidas com seus colegas de profissão Contexto sociocultural Cursos e aperfeiçoamento Trajetória profissional 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html#25/36 Ao longo dos anos de magistério, uma professora só teve oportunidades profissionais para trabalhar no ensino fundamental. Em dado ponto da carreira, foi-lhe oferecido o desafio de atuar na educação infantil. Sua trajetória profissional não a preparou amplamente para lidar com esta faixa etária, mas, com a ajuda de colegas e a busca por capacitações, ela pôde desenvolver um bom trabalho. Uma professora prefere manter uma relação mais distante em relação às crianças de sua turma. Certa vez, a mãe de uma delas contou-lhe sobre as dificuldades que seu filho estava enfrentando em casa. A profissional finalmente entendeu por que o menino passou a ficar mais sozinho e vinha demonstrando tão pouco interesse nas atividades, comportamento este que ela repreendia diariamente. Desse modo, ela pôde compreender a importância de manter vínculos de afeto e confiança com as crianças. Quando era criança, uma professora brincava bastante na rua com seus vizinhos, explorando brincadeiras de pique e outras inventadas. Subir em árvores e andar de bicicleta, além de outras brincadeiras ao ar livre ou feitas coletivamente, pode ser um traço marcante de suas práticas pedagógicas. Ao refletir sobre essas situações, você conseguiu encontrar vivências próximas às suas ou conhece relatos que se enquadrem nesses cenários? Tais reflexões são importantes para compreendermos a complexidade da formação docente. Saber docente A partir das reflexões que você fez sobre as situações hipotéticas, é possível correlacionar os diferentes Trajetória profissional Relações estabelecidas com os alunos Memórias e experiências de vida e da sua própria infância 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 26/36 saberes docentes que constituem a identidade do professor. Mas, primeiramente, precisamos conceituar a expressão saber docente. Para Maurice Tardif, importante filósofo e sociólogo canadense que tem suas pesquisas voltadas para a área da formação de professores e da profissão docente, a identidade docente vai se construindo, além da formação básica do professor, a partir de diversos fatores, como as situações hipotéticas às quais você foi apresentado. O saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola etc. Por isso, é necessário estudá-lo, relacionando-o com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (TARDIF, 2008, p.11) Na obra Saberes docentes e formação profissional, Tardif classifica tais saberes da seguinte forma: Saberes da formação pro�ssional Conhecimentos científicos adquiridos durante o processo de formação inicial ou continuada. Engloba também os conhecimentos pedagógicos, relacionados aos métodos de ensino. Saberes disciplinares Saberes específicos de um campo do conhecimento. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 27/36 Em suma, Tardif (2008) define o saber docente como um grupo de fatores que interfere na formação e nas práticas dos professores. Com tudo que vimos até agora, podemos chegar a uma conclusão: O professor é um pro�ssional em constante formação. Na educação infantil, isso é ainda mais evidente, principalmente devido às recentes reconfigurações do campo de ensino. A formação mínima para o profissional que atua na educação infantil foi definida nas últimas décadas. Outros avanços neste campo, como a promulgação de direitos mais claros da infância, também se configuram a partir do final do século XX. O que Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, falava sobre o saber docente? aulo Freire Importante educador e filósofo brasileiro, Freire destacou-se por seu trabalho na área da educação popular e suas inovações nos métodos de alfabetização. Saberes curriculares Objetivos, conteúdos e métodos próprios dos programas escolares, específicos de cada instituição educacional, que o professor deve apropriar-se deles. Saberes experienciais Conhecimentos adquiridos a partir do exercício do magistério, da própria trajetória profissional. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 28/36 Foi declarado patrono da educação brasileira por conta de suas grandes contribuições no campo da educação. Não existe ensinar sem aprender. (FREIRE, 2012, p.57) Segundo Paulo Freire (2012), o professor aprende em diversas situações: Dia a dia Com a autoavaliação das práticas, cotidianamente com seus alunos, revendo suas propostas, com seu planejamento, refletindo sobre suas escolhas e ações. Trocando informações com seus pares A troca de informações também é um diferencial, pois permite ampliar propostas, trazer novas ideias e manter um trabalho mais integrado e dinâmico. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 29/36 Formação continuada É fundamental, pois o educador infantil precisa se manter sempre atualizado, buscar formações e cursos, refletir sobre as mudanças no campo pedagógico, as novas tendências e tudo mais que puder ampliar seus conhecimentos e favorecer a qualidade do seu trabalho com as crianças. Sobre esse tema, Paulo Freire, no livro Professora, sim; tia, não (obra que oferece reflexões para o crescimento e valorização profissional dos educadores infantis), salienta a necessidade de os educadores buscarem conhecer a realidade de seus alunos. Creio que a questão fundamental diante de que devemos estar, educadoras e educadores, bastante lúcidos e cada vez mais competentes é que nossas relações com os educandos são um dos caminhos de que dispomos para exercer nossa intervenção na realidade a curto e a longo prazo. [...] Procurar conhecer a realidade em que vivem nossos alunos é um dever entre outros que a prática educativa nos impõe. Sem conhecer a realidade de nossos alunos, não temos acesso à maneira como pensam, dificilmente podemos saber o que sabem e como sabem. (FREIRE, 2012, p.152) Você sabia que a questão levantada por Freire ainda é muito atual? Na sociedade moderna, tão voraz e em constante transição, o contexto no qual as crianças vivem, socializam, interagem e se manifestam fala muito sobre a forma e o conteúdo aprendidos. Desse modo, os interesses delas, suas famílias, suas relações e o seu ambiente constituem pontos relevantes. O educador infantil deve estar atento a essas questões. Estabelecer uma relação de respeito, confiança e 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 30/36 afeto em relação à identidade da criança é um diferencial para o professor poder atuar na formação integral dela. Como compreender a infância atualmente? Veja a seguir um bate-papo sobre as perspectivas sobre o tema infância. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 31/36 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Leia este trecho de Tardif (2008): “O saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola etc. Por isso, é necessário estudá-lo, relacionando-o com esses elementos constitutivos do trabalho docente”. (TARDIF, 2008, p. 11) A partir desse trecho, podemos afirmar que: A O saber docente corresponde somente à sabedoria de vida do professor, a tudo aquilo que ele aprendeu no mundo. B O professor não deve permitir que influências diversas interfiram na sua formade ensinar. C O saber docente corresponde somente aos conteúdos e aos conhecimentos do currículo que o professor possui. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 32/36 Parabéns! A alternativa D está correta. Os saberes docentes se constituem pelas experiências cotidianas e profissionais do educador, transformando sua prática e constituindo sua identidade docente. Ou seja: a identidade docente é fruto dessa ação cotidiana, de cada professor, mas que constitui uma identidade coletiva. Questão 2 Releia e reflita sobre a citação abaixo: “Não existe ensinar sem aprender.” (FREIRE, 2012, p.57) Essa frase nos dá a ideia de que: D Os saberes docentes são adquiridos a partir das diferentes vivências de cada professor, sejam elas profissionais ou relativas à sua formação, à sua prática e também à sua vida. E O saber dos professores é pessoal e intransferível, e deve ser estudado por cada um. A O professor precisa certificar-se de que as crianças aprendam tudo o que ele ensina. B O aprendizado das crianças ocorre independentemente das ações dos educadores. C A formação do professor também se faz cotidianamente no exercício da sua prática docente. D O professor deve ensinar aos seus alunos tudo aquilo que ele próprio aprende. E Sem formação acadêmica, a experiência do professor torna-se irrelevante. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 33/36 Parabéns! A alternativa C está correta. Para Paulo Freire, a prática docente também é um constante aprendizado para o professor, que se forma e se transforma no exercício do magistério. Lembre-se de que sua análise deve ser feita a partir da frase e do pensamento do autor do enunciado, pois as outras opções podem ter sentido, porém, a partir de outro viés ideológico. Considerações �nais Compreender que a formação do educador infantil é uma construção histórica traz clareza não somente ao próprio educador, como também àqueles que se dedicam a estudar a infância e suas relações. Afinal, se não havia, por um longo tempo (e boa parte do século XX), uma exigência mínima e legal para que as funções de tal profissional fossem devidamente assumidas, atualmente elas já estão definidas pela LDB. Deixando para trás uma visão meramente emotiva que caracterizava este profissional, ele, hoje em dia, soma à formação acadêmica (licenciatura ou curso técnico normal) a própria vivência: aplicadas em sua prática docente, ambas fornecem ao educador infantil as condições adequadas para contribuir na formação integral das crianças. Podcast Para encerrar, ouça agora uma conversa com especialistas sobre a formação e identidade do educador infantil. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 34/36 Explore + Confira o que separamos especialmente para você! Leia estes artigos: • Instituições pré-escolares assistencialistas no Brasil (1899-1922); • As exposições internacionais e a difusão das creches e jardins de infância (1867-1922); • Educação infantil no Brasil: um percurso histórico entre as ideias e as políticas públicas para a infância; • Educar crianças pequenas: em busca de um novo perfil de professor, de Maria Malta Campos; • Formação de professores para a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e os cursos de Pedagogia: novos e velhos desafios; • Antonio Nóvia: “professor se forma na escola”; • Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério. Assista ao vídeo: • Como tornar-se um bom professor, de Leandro Karnal. Visite o site: • Portal do MEC – educação infantil. 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 35/36 Referências BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Brasília, 1961. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Brasília, 1971. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília, 1990. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. vol. 1. BRASIL. Lei nº 12.014 de 2009. Brasília, 1996. Consultado na internet em: 18 de abr. 2022. FREIRE, P. Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar. 23. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. LIMA, C. M. de; VENDAS, F. A. Cuidar e educar na Educação Infantil: história, políticas, práticas e formação docente. In: MENDONÇA, A; GUEDES, L; BASTOS, P. (Org). Jovens pesquisadoras: professoras refletindo sobre políticas e práticas educacionais. 1. ed. – Rio de Janeiro: Autografia, 2017. MICHAELIS ON-LINE. Verbete educar. NUNES, M. F. R.; LEITE FILHO, A. G. Direitos da criança à Educação Infantil: reflexões sobre a história e a política. In: NUNES; KRAMER; CARVALHO. (Org.). Educação Infantil: formação e responsabilidade. 1. ed. São Paulo: Papirus, 2013, v. 1, p. 67-88. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. – Petrópolis: Vozes, 2008. Material para download 20/08/2023 23:07 Educador infantil: formação e identidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01189/index.html# 36/36 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF() 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 1/39 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias Prof.ª Liana Pereira Borba dos Santos Descrição Os conceitos de desenvolvimento e de ambiente, a relação entre o desenvolvimento infantil e os ambientes educacionais e as possibilidades de organização de ambientes instigadores e relacionais. Propósito Compreender a constituição de ambientes nos quais as crianças vivenciem a expansão criativa, a invenção e a solução de problemas, a interação com outros sujeitos e a diversificação de possibilidades motoras, sensoriais, expressivas e emocionais, tendo como foco seu desenvolvimento integral. Objetivos Módulo 1 Ambiente na educação infantil 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 2/39 Ambiente na educação infantil Identificar a importância do ambiente das instituições de educação infantil para o desenvolvimento das crianças. Módulo 2 Ambientes que promovem o desenvolvimento infantil Definir ambientes nos quais as crianças desenvolvam a expansão criativa, a invenção e a solução de problemas. Módulo 3 Organização de ambientes educacionais Identificar a organização de ambientes que possibilitem a interação entre crianças e adultos. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) consolida a ideia de que o período da educação infantil compreende crianças de 0 a 6 anos. Esse é cientificamente considerado o momento crucial para os desenvolvimentos motor, sensorial e linguístico, bem como para a aquisição de capacidades socioemocionais que permitirão o aprimoramento de habilidades futuras cada vez mais complexas. É importante perceber que, em termos de educação, o Brasil dialoga com duas realidades: demandas políticas, a lei trata de orçamento, responsabilidade social, problemas históricos, que fomentam as tomadas de decisão; e desenvolvimentos educacionais mundiais, são estudos e pesquisas que dialogam e propõemformas de organizar a educação. O tema da educação infantil é um bom exemplo: em que idade saímos da educação infantil e iniciamos o primeiro segmento da escola básica? Não poderíamos pensar em maturidades Introdução 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 3/39 1 - Ambiente na educação infantil Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a importância do ambiente das instituições de educação infantil para o desenvolvimento das crianças. Fases do desenvolvimento humano diferentes, para tradições e culturas diferentes? Não é possível criar uma classificação única e inquestionável, mas as decisões políticas se fundamentam nas teorias da educação. Sendo assim, vamos ver como a concepção de desenvolvimento infantil nos ajuda a perceber que direcionamentos as políticas públicas podem tomar. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 4/39 Contexto É importante sinalizar que a educação trabalha o desenvolvimento humano com base em teorias diferentes sobre as fases etárias (Freud, Piaget, Vygotsky, entre outros), mas tende-se a adotar a regra do Conselho Internacional de Psicologia sobre as fases do desenvolvimento: Como vimos, a infância é um período muito importante para a formação de uma pessoa. Saiba mais Para aprender como tornar mais fácil entender alguns comportamentos infantis, reforçar as atitudes positivas e dar limites quando necessário, busque aprofundar seu conhecimento nas fases do desenvolvimento da criança, estudando práticas indicadas para cada idade e necessidade. Nesse contexto, as relações que a criança estabelece com o meio são cruciais para o seu desenvolvimento! Você sabe o que é o desenvolvimento infantil? Como é um ambiente adequado para esse processo? Acalme-se! Não temos respostas agora! Vamos provocar a sua visão ao longo deste material para que essas respostas possam ser construídas. O que queremos neste momento é a sua prévia visão, o senso comum, para que, ao fim, você possa comparar e entender como é importante compreender todo esse processo. De�nição de desenvolvimento O desenvolvimento humano ocorre por meio de aprendizagem, isto é, da aquisição e da apropriação de conhecimentos de diferentes domínios, como mostrado a seguir. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 5/39 esenvolvimento humano É um processo contínuo e dinâmico que envolve a aquisição de novas funções e habilidades cada vez mais complexas. Trata-se de um conceito amplo que inclui o crescimento e a maturação neurofisiológica que transcorrem em diferentes contextos. Motor Aquisição de movimentos amplos e finos. Sensorial Constituição de capacidades sensoriais (visão, audição, olfato, paladar e tato). Socioemocional Atitudes e habilidades necessárias ao meio sociocultural. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 6/39 Linguístico Capacidade de compreender e de se comunicar em linguagem verbal e não verbal (gestos, vocalizações, palavras). Os marcos etários do desenvolvimento infantil são aspectos amplamente debatidos. Em nossa sociedade, dispomos de profissionais qualificados, como pedagogos, médicos, psicólogos e terapeutas, que pretendem orientar sobre o desenvolvimento das crianças. Além disso, muito se fala sobre o tema em mídias e veículos de comunicação (livros, revistas, sites e páginas em redes sociais). Recomendação Busque mais informações sobre as seis teorias principais da psicologia de desenvolvimento humano. Em sua busca, pesquise por: gestalt; psicanálise; behaviorismos; cognitiva; Vygotsky; e Piaget. A concepção cronológica do desenvolvimento humano, que tem na psicologia uma importante base conceitual, marcou profundamente a compreensão do que é ser criança nas sociedades modernas, atuando como elemento definidor de padrões de normalidade, além de legitimar todo tipo de tratamento dirigido às crianças. A psicologia do desenvolvimento habituou-nos a pensar a criança na perspectiva de um organismo em formação, que se desenvolve por etapas, segundo uma dada cronologia, e que, além disso, fragmenta a criança em áreas ou setores de desenvolvimento (cognitivo, afetivo, social, motor e linguístico) de acordo com a ênfase dada a essas áreas por cada teoria específica (JOBIM; SILVA, 2007, p. 45) O caminho que as crianças percorrem em seu desenvolvimento é influenciado por múltiplos fatores como, por exemplo, fatores individuais, ambientais, culturais, econômicos, entre outros. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 7/39 O fator individual, pode ser divido em: Subjetivo Valores sociais, sentimentos, relação com os pais. Ex.: Medo da religião dos outros. Genético Caracterização física e aptidões. Ex.: Alunos que cantam, alunos que têm dificuldade de se expressar. Comportamental Heranças de práticas cotidianas. Ex.: Uma criança que fala alto ou que tem sotaque e cultura diferentes. Até agora você pôde situar a sua visão. Já sabe que trataremos sobre a criança e o seu desenvolvimento. Entendemos a importância do tema, mas falta discutir: como? Uma criança precisa ser entendida como um ser complexo, com voz e capacidades múltiplas para desenvolver. O Estado e a psicologia da educação têm estudado como possibilitar esse desenvolvimento. Essa questão, o como, levou estudiosos diversos a construir leituras e formas de oportunizar às crianças possibilidades para seu desenvolvimento, e uma das fronteiras mais importantes foi entender que o espaço para seu desenvolvimento é singular. Educação infantil e o ambiente 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 8/39 Conceito de ambiente Existem muitas teorias possíveis sobre a relação entre a primeira infância e a aprendizagem. Adotaremos aqui a perspectiva de que a aprendizagem e o desenvolvimento são influenciados pelo meio onde a criança vive e com o qual interage, a partir da relação estabelecida entre o processo individual (cognitivo e fisiológico) e a sua inserção no contexto sociocultural. O ambiente é o espaço no qual a criança consegue estabelecer relações com o mundo, com objetos, seres e pessoas. Todos os ambientes construídos para crianças devem atender a cinco funções relativas ao desenvolvimento infantil (CARVALHO; RUBIANO, 1995). Veja quais são elas: Identidade pessoal No contexto de convivência coletiva, os professores devem atentar para o fato de que cada criança é única e precisa deixar sua marca, sua identidade em sala. Para isso, ela pode contribuir personalizando e decorando seus objetos pessoais. Desenvolvimento de competências As instalações físicas devem ser planejadas de modo a possibilitar o domínio e o controle de competências físicas, cognitivas, linguísticas e sociais. O espaço precisa ser favorável para a criança realizar suas ações, sentindo-se competente, sem a intervenção constante de um adulto, a fim de construir confiança em si mesma. Oportunidade de crescimento Deve ser um espaço que possibilita a realização de movimentos corporais pela criança, com objetivo de autoconhecimento e controle motor, além de promover, favorecer e estimular o d i tid T d i b bi t l di õ 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 9/39 Focaremos agora a educação infantil no contexto brasileiro. Educação infantil no brasil A discussão acerca do desenvolvimento deve, então, levar em conta o ambiente das instituições de educação infantil, considerando: O direitodas crianças pequenas à educação. A exigência legal de matrícula escolar das crianças a partir de 4 anos. uso dos cinco sentidos. Toda criança merece receber no ambiente escolar as condições para sua autonomia e pleno desenvolvimento, incluindo as com necessidades específicas. Sensação de segurança e conforto As crianças precisam se sentir acolhidas por ambientes devidamente organizados de forma criativa, com atenção às questões de segurança nos momentos de brincadeiras, refeições, higiene e descanso. Oportunidade de interação social e isolamento Os ambientes planejados para crianças pequenas devem proporcionar o contato social, como espaços de conversa e brincadeiras em pequenos e grandes grupos, e atender à necessidade de privacidade e isolamento, quando necessário. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 10/39 O Brasil demorou a implementar processos mais técnicos relativos à educação infantil. Em razão da nossa história, marcada pelo entendimento de que a educação infantil é uma responsabilidade histórica da família, os redutos de educação infantil têm uma relação assistencial, buscando solucionar algum quadro social crítico — abandono, mães que precisam trabalhar ou outros problemas que afetam diretamente as crianças. Saiba mais A Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, alterou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), tornando a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade (art. 4º). Somente quando a Constituição de 1988 consolida a educação infantil como elemento fundamental e a define como responsabilidade governamental, municípios iniciam processos de debates sobre regras e dinâmicas de mobiliário. Mesmo com a LDB 1996, que determina a obrigatoriedade e as funções da educação infantil, a questão dos ambientes ficava fortemente delegada aos governos regionais, com o Ministério da Educação (MEC) legislando apenas sobre aspectos de conteúdo. Crianças em uma creche pública no bairro Dendezeiros de Salvador (BA). Apenas em 2006, com a publicação dos Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil, o país passou a determinar padrões para o desenvolvimento dos espaços da educação infantil. Estudos desenvolvidos pelo Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância, em 2014, sugerem que as crianças que frequentam instituições de educação infantil de qualidade experimentam efeitos positivos em seu desenvolvimento. A Resolução CNE/CP nº 4, de 17 de dezembro de 2018, muda mais uma vez os caminhos da educação infantil brasileira. A BNCC traz a educação infantil de forma inquestionável para a educação básica e fundamenta que conviver, brincar, participar, explorar, expressar e se conhecer são os direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil. Legislação brasileira e o ambiente educacional 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 11/39 Legislação brasileira e o ambiente educacional Para nos ajudar a entender melhor a importância e a evolução da legislação brasileira na organização do ambiente educacional, assista ao vídeo a seguir com a professora Carla Marçal Y Gutierrez. A importância do ambiente na educação A configuração espacial influencia na efetivação de propostas educacionais, mas não se trata de apenas dispor de ambientes de cuidado e proteção. É importante oferecer às crianças espaços que promovam seu desenvolvimento integral, articulando múltiplas dimensões de sua existência: emocional, sensorial, motora e socioafetiva. Valorizamos o espaço devido ao seu poder de organizar, de promover relacionamentos agradáveis entre pessoas de diferentes idades, de criar um ambiente atraente, de oferecer mudanças, de promover escolhas e atividade, e a seu potencial para iniciar toda a espécie de aprendizagem social, afetiva, 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 12/39 p p p p g , , cognitiva. Tudo isso contribuiu para uma sensação de bem-estar e segurança nas crianças. Também pensamos que o espaço deve ser uma espécie de aquário que espelhe as ideias, os valores, as atitudes e a cultura das pessoas que vivem nele. (MALAGUZZI, 1984 apud GANDINI, 2016, p. 148) O ambiente pode ser considerado, assim, como um segundo educador, juntamente com o professor. Para isso, o ambiente precisa ser flexível e deve passar por uma modificação frequente pelas crianças e pelos professores, para permanecer atualizado e sensível às necessidades de eles serem protagonistas de seu conhecimento. Você consegue pensar nesses ambientes? Diferentemente do que você pode ter pensado, esses ambientes não são exclusivamente de espaços de elite, criados de uma maneira singular. Estão previstos em documentos formais do MEC. Você já ouviu falar nos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil? Esse documento fundamenta vários espaços e seus cuidados, como, por exemplo, o lactário. Exemplo de lactário. Para finalizar, agora que já vimos os conceitos de ambiente e educação infantil, é a sua vez: Pense... ...nos espaços de educação infantil que você conhece. Compare... ...o que você pensou com os parâmetros aqui expostos. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 13/39 Troque... ...sobre o que viu com colegas em suas redes sociais e tente perceber como anda nossa educação infantil na prática. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Neste módulo, foi abordada a importância do ambiente no desenvolvimento infantil, que é o processo complexo de crescimento, maturação e aprendizagem de funções e conhecimentos de diferentes domínios: motor, sensorial, socioemocional e linguístico. Analise os exemplos de componentes do ambiente escolar que correspondem aos domínios motor, sensorial, socioemocional e linguístico. I. Domínio sensorial – disponibilização de objetos detentores de atributos diversos (sons, cores, pesos e texturas). II. Domínio socioemocional – disponibilização de mobiliário composto apenas por carteiras individuais, para que as crianças se sentem sempre sozinhas. III. Domínio motor – disponibilização de superfícies acolchoadas e barras de apoio para que bebês possam se movimentar. IV. Domínio linguístico – disponibilização de álbuns, pinturas, livros e fotografias variadas. Está correto o que se exemplifica em A I, III e IV. B I, II e III. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 14/39 Parabéns! A alternativa A está correta. O exemplo que que não corresponde ao domínio de desenvolvimento correto é o II pois a organização do ambiente apenas em espaços individualizados não favorece ao desenvolvimento do domínio socioemocional, que corresponde ao processo de aprendizagem de atitudes e de habilidades no meio sociocultural. Questão 2 Você estudou que o desenvolvimento humano é influenciado por múltiplos fatores, tanto individuais quanto ambientais. Analise as afirmações, considerando V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) O ambiente em que a criança vive afeta o seu desenvolvimento. ( ) O ambiente pode oferecer oportunidades de desenvolvimento de forma integrada e contínua às crianças. ( ) A faixa etária é o único aspecto relevante para a organização do ambiente. ( ) O ambiente pode atuar como uma instância educativa. A sequência correta, de cima para baixo, é C II e III. D III e IV. E I e IV. A V, F, F, V. B F, F, F, V. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 15/39Parabéns! A alternativa C está correta. Ainda que os marcos etários de desenvolvimento humano sejam relevantes para a organização dos ambientes no qual as crianças estão inseridas, devemos considerar o contexto sociocultural no qual a criança estabelece relações com o mundo que a cerca. 2 - Ambientes que promovem o desenvolvimento infantil Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir ambientes nos quais as crianças desenvolvam a expansão criativa, a invenção e a solução de problemas. C V, V, F, V. D F, V, V, F. E V, V, F, F. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 16/39 Laboratório: A casa dos passarinhos Antes de comerçar o assunto, vamos ver um vídeo sobre essa dinâmica. A casa dos passarinhos Para nos ajudar a entender melhor a importância dos ambientes, assista ao vídeo a seguir e observe uma possível dinâmica entre professores, alunos e ambiente. Como dar asas à imaginação das crianças e tornar real essa proposta? O fato de estar atento ao movimento das criança, observar o ambiente da escola e escutar suas ideias já mostra uma importante competência profissional. Como adulto e educador, você deve mediar os processos de construção individual e coletiva da casa dos passarinhos. Para isso, vale: Conversar com as crianças e estabelecer etapas para a empreitada. Levantar possibilidades de casas de passarinhos que elas já tenham visto e investigar juntos outras possibilidades de casa existentes na natureza, na literatura e no contexto social. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 17/39 Ao se colocar no lugar desse professor ou professora, esperamos que você tenha se sentido desafiado a pensar na criança como um sujeito explorador, um pequeno cientista que observa o mundo em busca de soluções para os problemas que percebe. Vamos discutir sobre possibilidades de organização de um ambiente instigador do desenvolvimento infantil? Possibilidades de organização de um ambiente instigador Um ambiente instigador na educação infantil deve convidar à ação, à imaginação e à narratividade, por meio da exploração de diferentes materiais, texturas, cores e aromas (HORN, 2004). Saiba mais Na legislação educacional brasileira os ambientes são valorizados por seu potencial provocador e Compartilhar com os pais a ideia da turma e contar com a participação das famílias, pois pode ser interessante convidar um familiar que crie passarinhos ou que seja marceneiro para participar do projeto. Pensar em materiais que podem ser usados nessa construção, garantindo o manuseio seguro pelas crianças. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 18/39 Na legislação educacional brasileira, os ambientes são valorizados por seu potencial provocador e desafiador no desenvolvimento infantil. A Base Nacional Comum Curricular, por exemplo, afirma que as práticas pedagógicas desenvolvidas na educação infantil devem ocorrer em “ambientes que as convidem [as crianças] a vivenciar desafios e sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural” (BRASIL, 2017, p. 33). Segundo a LDB 1996, professores e comunidades devem ser ativos no âmbito escolar propondo direcionamentos e demandas para o funcionamento da própria escola. Sendo assim, docentes têm responsabilidades sobre a estruturação da escola. Tratamos de "estrutura" e "preparação" para atender uma estratégia pedagógica prevista no planejamento docente. Educar precisa de planejamento e direcionamento para habilidades e competências as quais se quer adquirir. Cabe ao professor e à professora de educação infantil estruturar e preparar os ambientes para o desenvolvimento da independência e da autonomia das crianças em consonância com suas necessidades específicas. No entanto, esses profissionais devem lidar com alguns desafios relacionados à organização de ambientes instigadores como o mobiliário disponível, a conservação dos objetos, a organização coletiva e o uso consciente dos materiais, evitando desperdício. (GUIMARÃES, 2009, p. 98) Em relação ao mobiliário adequado às crianças, deve-se considerar seus atributos físicos e suas qualidades imaginativas. Sala vazia em uma disposição do espaço tradicional. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 19/39 Sala sendo utilizada e adaptada à necessidade dos alunos. Maria Montessori, educadora italiana que contribuiu para as definições de mobiliário das instituições escolares da primeira infância, afirmou: aria Montessori Maria Montessori (1870-1952) cursou Medicina e Cirurgia na Universidade de Roma, diplomando-se, em 1896, como a primeira mulher italiana a obter o título de médica. Montessori inaugurou a primeira Casa dei Bambini, em San Lorenzo, cuja proposta de pedagogia científica se baseava na necessidade de ir além do diagnóstico dos problemas educacionais e prover uma escola que auxiliasse o desenvolvimento natural da criança. Sua proposta de educação sensorial agregava exercícios e objetos de vida, prática e materiais de desenvolvimento. A necessidade do mobiliário ser adequado ao tamanho das crianças, leves para que elas pudessem arrastá-los e mudá-los de lugar, assim como de cores atraentes: as mesas, as cadeiras, as pequenas poltronas, leves e transportáveis, permitiram à criança escolher uma posição que lhe agrada; ela 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 20/39 p , p ç p ç q g ; poderá, por conseguinte, instalar-se comodamente, sentar-se em seu lugar, isto lhe constituirá, simultaneamente, um sinal de liberdade e meio de educação (MONTESSORI, 1965, p. 44) O desenvolvimento infantil ocorre no espaço vivido e é marcado pelas relações ali estabelecidas. Assim, um ambiente instigador deve ser um espaço adequado e motivador da exploração e da criatividade pelas crianças. Vamos entender um pouco mais do espaço a partir de um exemplo? Ambiente genérico para o ensino infantil. Vamos ver detalhadamente cada um dos itens do espaço: O ambiente da sala, com suas mesas e cadeiras, pode ser cotidianamente recomposto, abrindo espaço para a plasticidade e para a expansão criativa. Mesas podem servir de suporte para a leitura, para a expressão artística e para a brincadeira, transformando-se em uma cabana ou em uma casa. Cadeiras servem de mobília de diferentes tipos de cenário construídos pelas e com as crianças: sofás de casa, bancos de praça, assentos de consultórios médicos e, até mesmo, poltronas de trens, ônibus ou aviões. Espaço 1 - Expansão criativa e plasticidade 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 21/39 O espaço pode instigar o desenvolvimento do domínio linguístico por meio da iluminação e do uso de recursos luminosos, como lanternas e luminárias, em que a luz artificial possibilite a dramatização em jogos de sombras. As possibilidades de criação e exploração do ambiente também devem dar conta do desenvolvimento do domínio motor. Para isso, a sala, o pátio, o parque e os materiais disponíveis devem possibilitar que as crianças realizem atividades de andar, subir, descer, pular e de controlar o corpo. Espaço 2 - Domínio linguístico Espaço 3 - Domínio motor Espaço 4 - Domínio sensorial 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 22/39 O domínio sensorial é representado por um ambiente que estimula os sentidos ao brincar ao ar livre, tendo contato com elementos naturais(terra, água, vento, plantas, animais) e pela experimentação de diferentes texturas, cores, formas e sons. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Neste módulo, definimos a constituição de um ambiente instigador do desenvolvimento infantil. Analise as afirmações abaixo quanto a exemplos esse ambiente. I. Um ambiente em que as crianças usam os materiais indiscriminadamente. II. Um ambiente em que o mobiliário pode ser recomposto quando necessário não favorece o aspecto instigador. III. Um ambiente que possibilita às crianças experimentarem diferentes texturas, cores, formas e sons. IV. Um ambiente em que as crianças se movimentem com autonomia. Está correto o que se afirma em A I, II e III. B I, II e IV. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 23/39 Parabéns! A alternativa D está correta. As alternativas I e II que não correspondem a um exemplo de ambiente instigador, já que o uso consciente de materiais, evitando desperdício, é um relevante desafio para os profissionais de Educação Infantil. Deve-se atentar, assim, para o uso racional dos recursos como um aspecto educativo e necessário nas sociedades contemporâneas. Oferecer um ambiente no qual o mobiliário pode ser recomposto é instigador tendo em vista que possibilita a plasticidade e para a expansão criativa. Questão 2 Considerando os elementos de um ambiente instigador ao desenvolvimento dos domínios motor e sensorial, analise as relações contidas nos itens a seguir: I. Motor – escada de madeira móvel; sensorial – aquário. II. Motor – escrita; sensorial – contação de história. III. Motor – colchão; sensorial – vasos de flores. IV. Motor – bambolês; sensorial – chocalhos. Está correto o que se afirma em C I e III. D III e IV. E II e IV. A I, II e III. B I, II e IV. C II, III e IV. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 24/39 Parabéns! A alternativa D está correta. Um ambiente instigador deve proporcionar a livre experimentação, a criação e a imaginação das crianças. Por isso, embora a escrita tenha uma base motora — desenhos livres e primeiras letras —, a contação de história não é sensorial para uma criança que ainda não abstrai, fazendo com que o item II esteja incorreto. Os demais elementos listados atendem à proposta de um ambiente instigador, uma vez que possibilitam o desenvolvimento corporal das crianças, estimulam os sentidos e favorecem o contato com elementos naturais. 3 - Organização de ambientes educacionais Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a organização de ambientes que possibilitem a interação entre crianças e adultos. D I, III e IV. E II e IV. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 25/39 poss b e a e ação e e c a ças e adu os A organização de ambientes para educação infantil Vimos no módulo anterior as possibilidades de organização de um ambiente instigador e a importância de estimular as crianças a atuarem como agentes exploradores para o desenvolvimento. Avançando nesse objetivo, vamos categorizar a organização de ambientes que possibilitem a interação entre crianças e adultos, e construir, para e com as crianças, espaços propensos à interação entre seus participantes. Existe um jeito certo e único para preparar o ambiente? Estamos propondo algo inatingível, intangível, possível somente a partir de grandes investimentos? A construção do espaço é dinâmica e viva. O que propomos aqui são linhas que permitem estabelecer vivências, possibilidades, mas que principalmente indicam que o foco do desenvolvimento é no aluno e como podemos proporcionar dinâmicas ao seu desenvolvimento. Ambiente de educação infantil. O ambiente da educação infantil deve — entre outras possibilidades — potencializar o relacionamento, a troca de saberes e a interação entre as crianças e os adultos que dele participam. Na condição de sujeito, a criança é autora, tem vivências, tem experiências, e o ambiente da educação infantil deve lhe proporcionar segurança e disponibilidade para trocas. mbiente da educação infantil Como tratamos anteriormente sobre desenvolvimento da criança, é importante lembrar que muitos autores falam sobre o assunto. Para refletir vale a citação: 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 26/39 “É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 2007, p. 97). Com isso, nas linhas mais contemporâneas de educação infantil, o ambiente é agente ao proporcionar possibilidades de experiência e, por isso, o professor precisa interagir, construir, remontar. A relação das crianças com os ambientes Mas se o ambiente não tem o que é necessário? Os especialistas afirmam que o século XX foi o século das crianças, quando elas passaram a ter significação social e a infância passou a ser objeto específico de estudos. Podemos complementar que o século XXI é o período da integração dessas crianças ao mundo do capital de forma plena. Elas passaram a ter espaços próprios, nos centros de compra, nos restaurantes, nas academias. Aqueles ensinamentos e estudos sobre o ambiente infantil e sua adequação passaram a constar e ser vistos para muito além da escola. Aparecem de forma sistemática onde as crianças podem consumir — quem nunca viu o espaço infantil e bem organizado de uma livraria, demonstrando que teve um direcionamento pedagógico. Claro que temos as visões estereotipadas sobre o uso de ambientes de características infantis, atribuindo uma noção de que um espaço infantil é aquele cheio de distrações para crianças, para que os pais tenham onde deixá-las enquanto consomem, mas cada vez mais podemos observar a evolução desses espaços para contribuir com o desenvolvimento infantil. Saiba mais Para nos ajudar a refletir sobre o equilíbrio necessário para atuar como professor na educação infantil, busque conhecer o trabalho do professor e filósofo Mario Sergio Cortella sobre a relação entre afetividade, vínculo e aprendizagem. Quando está brincando, a criança tem atitudes diferentes de seu comportamento diário, habitual de sua idade, ao brincar é como se ela fosse mais complexa do que é na realidade. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 27/39 Um ambiente organizado para fortalecer o contato entre pares e aberto para a brincadeira potencializa o pleno desenvolvimento infantil. Uma criança que tem seu ambiente naturalizado pode pensar que o normal do mundo seja a violência, as dificuldades expressas em seu lar, a força física como a única possibilidade de se expressar. Uma criança que é levada a um ambiente seguro, em que essas trocas são ampliadas por comparação e por instrução pode pensar, estudar, tentar entender seu comportamento e isso auxiliar no seu desenvolvimento. Para compreender os ambientes, vamos retomar um documento já apresentado neste módulo: Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil. No documento, encontramos um guia que apresenta algumas características importantes sobre a organização de ambientes, indicando as necessidades específicas para algumas faixas etárias: Crianças de 0 a 1 ano 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 28/39 As interações e as brincadeiras são os eixos norteadoresdas propostas curriculares de educação infantil, conforme regulamenta o art. 9º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Em uma brinquedoteca, normalmente, são organizadas estações, e em cada uma dessas estações o ideal é que o aluno reconheça os espaços que são cotidianos, mas que dão a ampla possibilidade de interagir. Quer dizer, quando colocamos uma cozinha em miniatura e a criança se sente capaz de preparar, servir, trocar, ela traz o lúdico para si, sente-se integrada e reproduzindo o que seus pais fazem para cuidar dela. A ideia é que todos possam participar e estimular as crianças com dinâmicas e brincadeiras! Saiba mais O documento Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de orientação pedagógica, produzido pelo Ministério de Educação, reafirma que o mundo social “é rico de experiências que as crianças aproveitam Os ambientes são: sala para repouso, sala para atividades, fraldário, lactário e solário. Crianças de 1 a 6 anos Os ambientes são: sala para atividades. Uso geral Os ambientes são: sala multiuso, área administrativa, banheiros, pátio coberto, áreas necessárias ao serviço etc. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 29/39 para ampliar seu repertório de brincadeiras, por meio de interações com outras pessoas e para expressar novas formas lúdicas” (BRASIL, 2012, p. 46). Cabe aos profissionais da educação infantil planejar ambientes para as crianças e com as crianças, atentando para o meio cultural em que elas estão inseridas, com a promoção de interações em grupos para que possam brincar, criar, imaginar, construir e trocar saberes. São alguns exemplos: Constituir espaços que promovam trocas e encontros das crianças em grupos menores. Disponibilizar objetos que favoreçam a formação de subgrupos e possibilitem a criação de cenas e dramatizações. Oferecer diferentes materiais que possam ser transportados e favoreçam a construção de lugares, como 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 30/39 panos, almofadas, Vamos ver a seguir um vídeo que explorará mais sobre a contrução de espaços que proporcionam a troca de experiências e a brincadeira das crianças. Planejamento de ambientes que promovem troca de experiências e brincadeira Para nos ajudar a entender melhor o conceito de planejar os ambientes de modo a oferecer cantos específicos para proporcionar a troca de experiências e a brincadeira, assista ao vídeo a seguir. Nesse contexto moderno, a brinquedoteca assume a função de espaço de desenvolvimento infantil e de formação que estimula o lúdico e a formação de profissionais que valorizam a brincadeira. Laboratório: um refeitório-restaurante Imagine que você é um professor ou uma professora que atua em uma instituição de educação infantil de horário integral e se depara com a recusa dos seus alunos com a alimentação da escola. Quando você questiona o motivo, seus alunos dizem que: Não gosto de arroz em cima do feijão, porque prefiro colocar separadinho. Tem muita comida e eu só queria provar. No restaurante as pessoas se servem, né? 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 31/39 Além da resistência para comer, você reparou que seus alunos desperdiçam os alimentos e não entendem a importância de sentar para comer. Eles ficam dispersos e se movimentando pelo espaço. Como resolver esse problema? Em uma reunião com a equipe, vocês decidem realizar uma experiência: Permitir que as crianças se sirvam, transformando o refeitório em um restaurante! A expectativa é de que, com essa prática, as crianças se alimentem melhor e interajam mais. É uma proposta que mexe com o trabalho de várias pessoas, mas investe em uma equipe colaborativa, que coloca as necessidades das crianças em primeiro lugar. Entre outras coisas, a transformação do refeitório em restaurante requer: Conversar com as crianças e escutá-las sobre suas experiências de alimentação e compreensões sobre o que é um restaurante. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 32/39 Levantar possibilidades de organização do espaço do refeitório e confecção de elementos para o espaço com as crianças, como toalhas, quadros e objetos decorativos. Adquirir utensílios adequados ao público infantil e que permitam que se sirvam com autonomia. Compartilhar a proposta com as famílias e convidá-las para inauguração do refeitório-restaurante. Esperamos que essa história tenha feito com que você encare a criança como um sujeito que se desenvolve por meio de relações e interações sociais. Há clara intencionalidade educativa na ideia de transformar o refeitório em um restaurante, já que os momentos de refeição nutrem não só o corpo, como permitem o convívio social e a apropriação de uma cultura alimentar, sendo potenciais transformadores de hábitos de consumo. Ainda re�etindo sobre a dinâmica, será que basta criar um ambiente infantil e está tudo feito? Claro que não! 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 33/39 Cada grupo de crianças é um grupo, cada criança é uma criança e deve ser entendida e respeitada em sua individualidade. Quando propomos uma atividade, por exemplo, promover autonomia para que crianças possam se servir e se alimentar sozinhas, sabemos que as escolhas precisam ser limitadas, que a preparação dos produtos com a interação das crianças reforça a higiene e que saibam que podem optar por alimentos diferentes. Mais do que isso, incluir é fundamento! Crianças com dificuldades motoras e crianças que, por relações sociais ou religiosas, não consomem um tipo de alimento devem fazer parte da estratégia do professor. Podem ser chances de fomentar aspectos não só motores, como previsto no planejamento, mas competências socioemocionais. No contexto da educação infantil, a brincadeira não deve ser entendida como uma atividade secundária ou como mero passatempo das crianças. Ao contrário, deve ser valorizada e estimulada, já que tem uma importante função no desenvolvimento humano. Para que a brincadeira tenha lugar garantido no cotidiano das instituições educativas, é fundamental a atuação dos educadores. O modo como organizamos os mobiliários e os materiais no ambiente, possibilitando o livre brincar das crianças, revela nossa concepção pedagógica, uma vez que favorece ou prejudica a interação. Sendo assim, um ambiente relacional comunica e educa positivamente as crianças que nele interagem. Ambientes interativos 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 34/39 Para conhecer mais exemplos de ambientes interativos, assista ao vídeo a seguir. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Aproveitando a ideia do refeitório-restaurante, no contexto da necessária interação entre crianças e adultos, analise as afirmativas abaixo: I – Em nome de uma alimentação saudável, o espaço para gostos pessoais das crianças (por determinados tipos de comida) deve ser limitado. II – Compreender as experiências alimentares que a criança traz de casa é importante para a definição desse tipo de refeitório. III – Quanto mais cedo a criança se acostumar com utensílios de cozinha de tamanho adulto, mais rápida será sua interação com o próprio mundo adulto. Está correto o que se afirma em A I somente. B II e III. C II somente. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir35/39 Parabéns! A alternativa C está correta. Um elemento essencial nessa experiência é a possibilidade de as próprias crianças se servirem, levando em conta seus gostos pessoais; afinal, é um refeitório-restaurante! Mas para isso, alguns pontos são fundamentais. Em primeiro lugar, saber ouvir as crianças e conhecer suas experiências alimentares (em casa, em restaurantes etc.). A seguir, proporcionar melhor adequação à realidade sensório-motora infantil: das mesas aos talheres, as ferramentas e os objetos devem ser adaptados. E finalmente, não esquecer a importante participação da família nesse processo. Questão 2 Para a organização de um ambiente propício à interação, vimos que a brincadeira assume um lugar central. Analise as afirmações que abordam situações na perspectiva de brincadeira em um ambiente relacional. I. Disponibilizar objetos que possibilitem a dramatização pelas crianças. II. Organizar cantos fixos para a brincadeira em um único espaço da sala. III. Oferecer jogos, como dominós e quebra-cabeças, que permitam a brincadeira coletiva. IV. Possibilitar momentos de brincadeira de livre escolha pelas crianças na rotina da turma. Estão corretas as situações descritas nas afirmações D I e III. E III somente. A I, II e III. B I, III e IV. C II, III e IV. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 36/39 Parabéns! A alternativa B está correta. Os espaços propícios para as interações e brincadeiras devem ser flexíveis e não fixos, compostos por diferentes materiais que possam ser transportados e que favoreçam a construção de cenas, brincadeiras e histórias. Considerações �nais Na educação infantil, os ambientes instigadores e relacionais devem ser preparados para a criança e com a criança, respeitando o direito que ela possui de construir sua autonomia e ser ativa em seu processo de desenvolvimento. Cabe aos profissionais da primeira infância reconhecer a importância dos ambientes, além de planejar, mediar e intervir positivamente no desenvolvimento das crianças com quem atua. Podcast Neste podcast, os professores Rodrigo Rainha e Taziana Pessoa de Souza conversam sobre a importância dos ambientes e sobre as teorias para o desenvolvimento infantil. Aproveite! D I e II. E I e IV. 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 37/39 Explore + Confira as indicações que separamos especialmente para você! Assista ao filme O começo da vida, produzido em 2016 pela Maria Farinha Filmes e dirigido por Estela Renner. O documentário debate a importância dos primeiros anos de vida, à luz dos avanços da neurociência. O filme destaca a descoberta de que o desenvolvimento de todos os seres humanos se dá na combinação da genética com a qualidade das relações interpessoais e com o ambiente em que estamos inseridos. Acesse o portal da Enciclopédia do Desenvolvimento Infantil. Esse material ajuda a perceber o desenvolvimento infantil, reconhecer essas fases, e ajuda a perceber as discussões sobre a importância do desenvolvimento infantil. Conheça o Programa Criança e Natureza. Trata-se de um movimento que compreende a importância de uma infância em que a criança é deixada livre para vivenciar o contato com a natureza. Descubra os vários benefícios de brincar ao ar livre para o desenvolvimento e para a saúde das crianças. Acesse o portal da Biblioteca Parque. No Portal, você entende e visualiza a proposta de unir os conceitos de biblioteca e parque: tem-se acesso a teatro, cinema, aulas de dança (em alguns casos) e até Cozinha- Escola, sempre convergindo para a exploração dos acervos e das práticas de leitura. Na visão das bibliotecas contemporâneas, novas formas de linguagem mediadas pela tecnologia funcionam como estratégia de ampliação do repertório cultural: articulam a ideia de ler o mundo com múltiplos recursos, alargando os horizontes do ser e o potencial educativo, com experimentação e criação. Referências ANGOTTI, M. Maria Montessori: uma mulher que ousou viver transgressões. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO T M PINAZZA M A ( ) P d i ( ) d i fâ i di l d d 20/08/2023 23:08 Desenvolvimento infantil: ambientes e teorias https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00361/index.html#imprimir 38/39 KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A. (orgs.). Pedagogias(s) da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 95-114. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília, DF: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. 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