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C E D E R J 103 A U LA M Ó D U LO 1 6 Quadro 6.1: Sistemas XX/XY e XX/X0 de determinação do sexo. Sistema XX/XY Todos os mamíferos, incluindo os humanos, têm o sexo dos indivíduos determinado pela combinação de dois cromossomos sexuais: o X e um cromossomo não-homólogo ao X, chamado Y. Nestes organismos, as fêmeas possuem um par de cromossomos homólogos (XX) e produzem, portanto, apenas um tipo de gameta com relação ao cromossomo sexual, sendo chamadas homogaméticas (do grego homos, igual). Por sua vez, os machos possuem um X como o das fêmeas e um cromossomo Y, exclusivo dos machos e geralmente menor. Esses machos (XY) são chamados heterogaméticos (do grego heteros, diferente) por produzirem dois tipos distintos de gametas, metade deles contendo um cromossomo X e a outra metade conten- do um cromossomo Y. Sistema XX/X0 Alguns outros organismos, como os gafanhotos, possuem um sistema de determinação do sexo parecido com o sistema XX/XY, exceto pela ausência do cromossomo Y nos machos. As fêmeas são XX enquanto os machos são X0. Nesse caso, o “zero” representa a falta de um cromossomo sexual. No entanto, os machos continuam sendo o sexo heterogamético, já que metade de seus espermatozóides carrega um cromossomo X, enquanto a outra metade não carrega cromossomo sexual. Neste caso, assim como no caso do sistema XX/XY, são os machos que determinam o sexo dos indivíduos da prole. Como os cromossomos sexuais X e Y se emparelham durante a meiose? Na espécie humana, apenas as extremidades do cromossomo Y possuem homologia com as extremidades do cromossomo X (regiões de pareamento), o que permite o emparelhamento dos cromossomos X e Y durante a meiose masculina. Dessa forma, a meiose segue seu curso normal e as células-fi lhas recebem apenas um dos cromossomos sexuais. ! Co cro dip Ga P Conjun cromos diplóid Gamet Prole Genética Básica | A teoria cromossômica da herança e a descoberta dos cromossomos sexuais C E D E R J104 A DESCOBERTA DA HERANÇA LIGADA AO SEXO Em 1906, Doncaster e Raynor observaram um tipo de herança ligada ao sexo a partir de um estudo envolvendo cruzamentos de duas variedades de mariposas do gênero Abraxas, as variedades grossulariata e lacticolor. As mariposas grossulariata eram caracterizadas por possuírem asas escuras devido à presença de grandes manchas, enquanto as lacticolor apresentavam asas mais claras, uma vez que as manchas eram menores. Quando machos grossulariata foram cruzados com fêmeas lacticolor (Figura 6.4.a), só foram observados indivíduos grossulariata na prole (F1). Dessa forma, Doncaster e Raynor concluíram que o fator condicionante do estado de caráter grossulariata era dominante (G) em relação ao fator que condiciona o estado de caráter lacticolor (g). Você se lembra dos experimentos de Mendel? Entretanto, quando os indivíduos F1 foram intercruzados, eles produziram a proporção esperada de 3 grossulariata para 1 lacticolor na F2, mas todos os indivíduos lacticolor eram fêmeas — o que não era esperado. Para tentar entender por que só as fêmeas eram lacticolor, Doncaster e Raynor realizaram cruzamentos recíprocos, nos quais machos lacticolor foram cruzados com fêmeas grossulariata selvagens (Figura 6.4b) provenientes de regiões onde não existia a variedade lacticolor, e que, portanto, deveriam ser puras. Eles observaram que na F1 todas as fêmeas eram lacticolor, enquanto todos os machos eram grossulariata, e não o esperado de 100% dos indivíduos grossulariata. A partir destas observações, Doncaster e Raynor formularam uma hipótese, um pouco complicada, que fornecia uma explicação possível para o problema. Entretanto, essa hipótese foi rejeitada quando começaram a surgir os primeiros trabalhos com Drosophila. De qualquer maneira, Doncaster e Raynor fi zeram duas obser- vações importantes: a existência de caracteres que possuem herança ligada ao sexo; e, que no sistema de determinação do sexo nessa espécie de mariposas, as fêmeas deveriam ser heterozigóticas enquanto que os machos seriam homozigóticos. Hoje sabemos que a determinação do sexo em algumas espécies de mariposas segue o sistema ZZ/ZW (Quadro 6.2) e que o gene que condiciona as manchas da asa está no cromossomo Z.