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interesses portugueses no Brasil. Um dos principais focos de descontentamento estava nas
forças militares. Dom João chamou tropas de Portugal para guarnecer as principais cidades e
organizou o Exército, reservando os melhores postos para a nobreza lusa. O peso dos impostos
aumentou, pois agora a Colônia tinha de suportar sozinha as despesas da Corte e os gastos das
campanhas militares que o rei promoveu no Rio da Prata.
Acrescente-se a isso o problema da desigualdade regional. O sentimento imperante no
Nordeste era o de que, com a vinda da família real para o Brasil, o domínio político da Colônia
passara de uma cidade estranha para outra igualmente estranha, ou seja, de Lisboa para o Rio
de Janeiro. A revolução que estourou em Pernambuco em março de 1817 fundiu esse
sentimento com vários descontentamentos resultantes das condições econômicas e dos
pri¬vilégios concedidos aos portugueses. Ela abrangeu amplas camadas da população:
militares, proprietários rurais, juizes, artesãos, comerciantes e um grande número de
sacerdotes, a ponto de ficar conhecida como a "revolução dos padres". Chama a atenção a
presença de grandes comerciantes brasileiros ligados ao comércio externo, os quais
começavam a concorrer com os portu¬gueses, em uma área até então controlada, em grande
medida, por estes.
Outro dado importante da Revolução de 1817 se encontra no fato de que ela passou do
Recife para o sertão, estendendo-se a Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. O
desfavorecimento regional, acompanhado de um forte antilusitanismo, foi o denominador
comum dessa espécie de revolta geral de toda a área nordestina. Não devemos imaginar,
porém, que os diferentes grupos tivessem os mesmos objetivos. Para as camadas pobres da
cidade, a independência estava associada à idéia de igualdade, uma igualdade mais para cima
do que para baixo. Uma curiosa carta, escrita no Recife pouco após o fim da revolução,
descreve como "os cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam que éramos
todos iguais e não haviam de casar senão com brancas das melhores". Os boticários, cirurgiões
e sangradores davam-se ares de importância e até os barbeiros recusavam-se a fazer a barba
das pessoas, alegando que estavam "ocupados no serviço da pátria".
Para os grandes proprietários rurais, tratava-se de acabar com a centralização imposta
pela Coroa e tomar em suas mãos o destino, se não da Colônia, pelo menos do Nordeste.
Aquele era, aliás, um momento economicamente difícil, combinando a queda do preço
internacional do açúcar e do algodão com a alta do preço dos escravos. Mais uma vez, não
devemos supor que, em quaisquer circunstâncias, as posições radicais fossem assumidas pelos
mais pobres e as conservadoras, pelos ricos. Por exemplo, um dos membros radicais do
levante, defensor da abolição da escravatura, era o comerciante Domingos José Martins,
casado com moça nascida em uma família ilustre da terra.
Os revolucionários tomaram o Recife e implantaram um governo provisório baseado em
uma "lei orgânica" que proclamou a República e estabeleceu a igualdade de direitos e a
tolerância religiosa, mas não tocou no problema da escravidão. Foram enviados emissários às
outras capitanias em busca de apoio e aos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, em busca
também de apoio e de reconhecimento. A revolta avançou pelo sertão, porém, logo em
seguida, veio o ataque das forças portuguesas, a partir do bloqueio do Recife e do
desembarque em Alagoas. As lutas se desenrolaram no interior, revelando o despreparo e as
desavenças entre os revolucionários. Afinal, as tropas portuguesas ocuparam Recife, em maio

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