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INTRODUÇÃO GERAL À 
FILOSOFIA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Robson Stigar 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá! Nesta aula vamos conhecer os fundamentos do pensamento 
filosófico, buscando compreender suas origens, sua natureza e as semelhanças 
e diferenças em relação a outras áreas do conhecimento. 
Bons estudos! 
TEMA 1 – AS ORIGENS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO 
A literatura científica aponta que o pensamento filosófico teve origem na 
Grécia por volta do século VI a.C., período histórico conhecido como arcaico, no 
qual ocorreram uma série de mudanças políticas e sociais. Dentre outros 
aspectos, destacamos a formação das cidades-Estado (pólis), o 
desenvolvimento comercial e a expansão territorial. A conjugação desses fatos 
efetivou uma nova ordem social na Grécia que propiciou o desenvolvimento de 
várias áreas do conhecimento, como as artes, a literatura e a filosofia. 
No que tange a essa última, podemos afirmar que a nova ordem política 
foi essencial. Com o fim dos governos aristocráticos e a ascensão da 
democracia, os cidadãos passaram a ser os responsáveis por definir o destino 
da cidade. Essas decisões eram tomadas com base em discussões públicas que 
tinham como pressuposto a argumentação, o raciocínio e a reflexão. O que regia 
a vida das pessoas não era mais a influência dos deuses ou a explicação dada 
pelos mitos, mas a razão. 
Importante! 
Aristocracia: “literalmente governo dos melhores, é uma das três formas 
clássicas de Governo e precisamente aquela em que o poder (krátos = domínio, 
comando) está na mão da [...] casta dos nobres” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 
1995, p. 57). 
Democracia: “identificado como governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, 
de todos aqueles que gozam de direitos de cidadania” (Bobbio; Matteucci; 
Pasquino, 1995, p. 319). 
Segundo Vernant (2002), essa compreensão histórica da origem da 
filosofia se justifica por duas características próprias da organização da pólis: o 
exercício da política por meio da compreensão de que a fala é um instrumento 
 
 
3 
de poder; e a disseminação e publicização de todas as manifestações da vida 
cultural: 
O que implica o sistema da pólis é primeiramente uma extraordinária 
preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder 
[...] a arte da política é essencialmente exercício da linguagem; e o 
logos, na origem, toma consciência de si mesmo, de suas regras de 
sua eficácia, através da função política. Uma segunda característica da 
pólis é o cunho de pena publicidade dada às manifestações mais 
importantes da vida social [...] tornando-se elementos de uma cultura 
comum, os conhecimentos, os valores, as técnicas mentais são 
levadas à praça pública, sujeitos à crítica e à controvérsia. (Vernant, 
2002, p. 34-35) 
Outro elemento destacado por Vernant (2002) é a função da escrita nesse 
contexto. Sabemos que no século VI ela era dominada por poucos, mas foi quem 
possibilitou a disseminação de saberes antes relegados apenas a um grupo de 
sujeitos ou ainda considerados como exotéricos. De outro, a escrita propiciou a 
organização social em torno de leis que eram acordadas entre os cidadãos, 
tornando-as universais e ao mesmo tempo democráticas. 
Dessa forma, podemos compreender que os elementos fundantes da vida 
da pólis cooperaram para o surgimento da filosofia: a disseminação dos saberes, 
a reflexão racional, a participação social e a constituição de um arcabouço legal. 
Como afirma Chauí (1999, p. 21): “Através da filosofia, os gregos instituíram para 
o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos 
razão, racionalidade, ciência ética, política, técnica, arte”. 
Entretanto, no início desta aula afirmamos que o avanço comercial e a 
expansão territorial também são elementos de transformação social e 
contribuem para o desenvolvimento da filosofia. No que tange às questões 
relacionadas ao comércio, destacamos a mudança relacionada às transações 
financeiras. No período aristocrático, elas eram baseadas na troca de bens, e a 
autoridade que as regulava era envolta em um misticismo sobrenatural, tendo 
em vista sua postura social. Com a ascensão da democracia e com a expansão 
do comércio marítimo, a moeda passou a ser o meio de troca de valores. É 
importante destacar que a moeda em si possui um caráter abstrato, tendo em 
vista que seu valor é uma convenção realizada pelos homens. 
Por fim, enfatizamos a importância da expansão e consolidação da 
democracia nas diversas colônias gregas. Apesar de esse regime político ser 
vivenciado de diferentes maneiras (pois cada pólis tinha uma organização social 
e política própria), os princípios de discussão e deliberação pública 
 
 
4 
possibilitavam o exercício do pensamento racional e da argumentação, 
viabilizando o distanciamento da percepção sobrenatural da realidade. 
Com base em todos esses elementos, podemos afirmar que a filosofia se 
originou em um período histórico (século VI) e em um lugar (Grécia) e que isso 
foi possível por causa da confluência de vários elementos que caracterizavam a 
organização social: 
• surgimento da pólis e a prática argumentativa; 
• utilização da escrita como publicização do saber; 
• instituição de uma estrutura legal; 
• instituição de um sistema comercial monetário; 
• expansão territorial grega. 
Isso significa que a filosofia teve origem em um tempo e em um espaço 
específicos, e que é neles desenvolve sua reflexão. 
TEMA 2 – DO MYTOS AO LOGOS 
Vimos que a filosofia se originou na Grécia do século VI a.C. em um 
período histórico no qual a organização social se pautava em novos princípios 
relacionados a uma visão racional de mundo. Mas, aqui nos cabe uma pergunta: 
qual era a visão de mundo que antecedeu a da filosofia? A questão é 
fundamental, pois nos possibilita compreender as primeiras reflexões propostas 
pelos filósofos da época. 
Segundo Aranha e Martins (2009, p. 26), a percepção de mundo presente 
na Grécia era a mitológica: “modo de consciência que predomina nas sociedades 
tribais e nas civilizações da Antiguidade”. Tal consciência não deve ser 
compreendida como algo fantasioso ou ainda como uma visão infantilizada da 
realidade, pois seu nível de complexidade é grandioso; ela está pautada nos 
mitos. Podemos definir mito como “narrativa lendária, pertencente à tradição 
cultural de um povo, que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino e 
ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e a origem e 
os valores básicos do próprio povo” (Japiassú; Marcondes, 2006, p. 189). 
Compreendido dessa forma, o mito não pode ser também relacionado 
com a compreensão de que se trata de mentira ou algo que não existe. Ele 
expressa de forma efetiva uma verdade, que provém de uma intuição 
compreensiva da realidade, pautada em elementos que ajudam determinado 
 
 
5 
povo ou sociedade a significar a vida. Quando afirmamos isso, percebemos que 
o mito é uma forma de explicação do mundo que busca dar respostas a aspectos 
da existência por símbolos próprios de cada cultura. 
Muitos autores realizaram pesquisas sobre o mito nas culturas. Em 
especial, vamos nos pautar nas reflexões do antropólogo Claude Lévi-Strauss 
(1908-2009). Para esse autor, o mito possui a função de explicar a realidade, 
mas também de garantir a perpetuação das tradições e dos valores do grupo 
social. 
Sob essa lógica, Lévi-Strauss (2004) pontua que o mito é um dos 
elementos estruturantes de cada uma das sociedades e que a relação entre os 
signos, significados e significantes é que permite entender a mensagem do mito. 
Dessa forma, a compreensão do mito não reside na forma como eles são 
pensados, mas como se aplicam na vida dos seres humanos. 
Um exemplo clássico dessa relação são os mitos que versam sobre a 
origem, tanto do mundo quanto de realidades presentes. Na estrutura de crenças 
judaico-cristãs, o mito de um ser soberano,onipotente que cria todas as coisas 
permite a esses grupos religiosos afirmar a existência de um único Deus, que dá 
a todos os homens um conjunto moral a partir do qual devem reger suas vidas. 
De outro, mitos indígenas brasileiros explicam as características dos elementos 
da natureza por meio de narrativas que mesclam a relação do ser humano com 
as divindades. Um exemplo é a lenda do pirarucu, peixe da região amazônica, 
conhecido pelo tamanho, força e voracidade que é comparado ao guerreiro da 
tribo dos uaiás que, por seu comportamento soberbo para com os membros de 
sua tribo e para com os deuses, foi condenado a viver nas profundezas do rio. 
Sob essa ótica, podemos compreender a importância que o mito e a 
consciência mitológica possuem em um grupo social. No contexto da Grécia do 
século VI a.C., o mito expressava um conjunto de valores, regras e crenças 
próprios do período arcaico, no qual o governo aristocrático encontrava 
legitimação para o poder que exercia sobre a sociedade. A filosofia, como filha 
da pólis e da democracia, se opunha ao mito tanto no que tange à divergência 
política como à estrutura lógica de formação do conhecimento. Pautando-se no 
logos, critica veementemente a crença irrefletida, opondo-se a toda e qualquer 
discurso que não apresente argumentos racionais. Como afirma Grimal (1982, 
p. 89): 
 
 
6 
O mito se opõe ao logos como fantasia à razão, como a palavra que 
narra à palavra que demonstra. Logos e mito são duas metades da 
linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. 
O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é 
verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à lógica; é falso quando 
dissimula alguma burla secreta. Mas o mito tem por finalidade apenas 
a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, 
mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou 
simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno 
a si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano. 
 Por esse motivo é que o mito e a filosofia são visões de mundo e formas 
antagônicas. Para Chauí (1999), esse antagonismo pode ser verificado a partir 
de três elementos, conforme mostra o Quadro 1. 
Quadro 1 − Elementos antagônicos entre mito e filosofia 
MITO FILOSOFIA 
Narra a realidade como ela era em 
um passado memorial, buscando 
trazer elementos que possam pautar 
a vida no presente. 
Busca explicar a realidade, por meio 
da reflexão sobre o quê, como e por 
quê, considerando o passado, 
analisando o presente e projetando o 
futuro. 
Explica a origem das coisas por meio 
de confluência de forças 
sobrenaturais antagônicas ou 
convergentes. 
Explica a origem da realidade por 
meio da natureza, seus elementos e 
suas manifestações. 
Utiliza narrativas nas quais se 
encontram elementos contraditórios 
ou incompreensíveis, 
fundamentando-se na crença sobre o 
mistério. 
Desenvolve a argumentação de 
forma lógica e racional, estruturando 
um discurso coerente e cognoscível 
por todos os seres humanos. 
Fonte: elaborado com base em Chauí, 1999, p. 31. 
Com base nessa compreensão, percebemos que há uma ruptura entre o 
pensamento filosófico e a consciência mitológica, pois como ressaltam Aranha e 
Martins (2009, p. 41): 
Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a 
filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. No mito a 
inteligibilidade é dada, na filosofia é procurada. A filosofia rejeita o 
sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos 
fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a coerência interna, a 
definição rigorosa dos conceitos; organiza-se em doutrina e surge, 
portanto, como pensamento abstrato. 
Dessa forma, podemos compreender que a filosofia traz à nova ordem 
social uma forma diferenciada de compreensão de mundo e produção de 
 
 
7 
conhecimento. Entretanto, como vimos, não é possível afirmar que tenha 
extinguido o mito, mas sim que se colocou como oposição a ele. 
TEMA 3 – A NATUREZA DO CONHECIMENTO FILOSÓFICO 
Como já vimos nos dois temas anteriores, a filosofia é um saber racional 
que se originou na Grécia do século VI a.C. em oposição ao mito, que constituía 
um tipo de narrativa fundamentada na crença. Compreendemos também que a 
filosofia se caracteriza por um tipo de saber racional, lógico e argumentativo. 
Entretanto, até o momento não foi apresentada uma definição do que é filosofia 
nem a natureza desse tipo de conhecimento. Mas, podemos questionar: é 
possível conceituá-la? 
A pergunta foi pauta da reflexão de inúmeros pensadores, pois a filosofia 
pode ser entendida tanto como uma área do conhecimento quanto uma atitude 
perante a realidade. Neste tema, vamos abordar a primeira compreensão, e a 
segunda será pautada posteriormente. 
O termo filosofia é cunhado no século V por Pitágoras, que buscava 
explicar a nova forma de conhecimento que se consolidava. Etimologicamente, 
é formado por dois radicais gregos, filos e sophia. O primeiro significa amor, 
entendido como afeição, amizade, apreço por determinada realidade; o segundo 
tem como significado sabedoria, que não se restringe apenas ao acesso a dado 
conhecimento, mas à capacidade de entender sua constituição, aplicação e 
inter-relação. 
Com base nesse entendimento, é importante esclarecer que a filosofia 
pode ser confundida com algumas posturas ante o mundo que não estão 
pautadas em uma reflexão racional. Chauí (1999, p. 16) destaca essa questão, 
sublinhando que é extremamente contraditório afirmar que a filosofia se constitui: 
• visão de mundo: esta é formada não apenas por análises racionais da 
realidade, mas pelo conjunto de experiências, valores e crenças de 
grupos sociais específicos; 
• sabedoria de vida: esta é relacionada à vivência de indivíduos que, a partir 
de uma visão de mundo, dão explicações, nem sempre racionais, sobre 
aspectos da vida; 
• explicação da totalidade da realidade: esta envolve elementos irracionais 
pautados na crença e na unilateralidade da existência. 
 
 
8 
Tendo em vista esses aspectos, Deleuze e Guattari (1997, p. 14) 
apresentam um conceito apofático da filosofia, ou seja, a definem pelo que ela 
não é: 
Ela não é contemplação, nem reflexão, nem comunicação, mesma se 
ela pôde acreditar se ora uma, ora outra coisa, em razão da capacidade 
que toda disciplina tem de engendrar suas próprias ilusões, e de se 
esconder atrás de uma névoa que ela emite especialmente. Ela não é 
contemplação, pois as contemplações são as coisas elas mesmas 
enquanto vistas na criação de seus próprios conceitos. Ela não é 
reflexão, porque ninguém precisa de filosofia para refletir sobre o que 
quer que seja [...] E a filosofia não encontra nenhum refúgio último na 
comunicação, que não trabalha em potência a não ser de opiniões, 
para criar o consenso e não o conceito. 
Sob essa ótica, percebemos que a definição de filosofia não é algo 
simples, pois mais do que apenas um amor à sabedoria, é um tipo de 
conhecimento que possui escopo e intencionalidade próprios, que não se limita 
aos objetos de conhecimento que trata ou muito menos às abordagens que 
desenvolve. Nesse ponto, mais uma vez trazemos o questionamento: afinal, o 
que é filosofia? Como ela pode ser definida? 
Para responder tais perguntas, precisamos recordar que em sua origem 
a filosofia foi uma atitude perante uma estrutura social que estava em mudança. 
Por meio de uma reflexão racional e argumentativa, busca compreender a 
realidade sem se conformar com aquilo que era considerado verdade. A partir 
dessa percepção, Chauí (1999, p. 12) afirma: 
O que é filosofia? Poderia ser: a decisão de não aceitar como óbvias e 
evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os 
comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem 
antes havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a 
um filósofo: Para que filosofia?E ele respondeu: para não darmos 
nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações. 
Essa definição não apenas nos ajuda a compreender o que é a filosofia, 
mas nos apresenta aspectos que constituem sua natureza. Por natureza 
entendemos a essência de algo “conjunto de propriedades que definem uma 
coisa” (Japiassú; Marcondes, 1996, p. 198). No que tange à filosofia, podemos 
afirmar que se trata de uma atitude questionadora diante da realidade. Segundo 
Jaspers (2014, p. 140), “as perguntas em filosofia são mais essenciais que as 
respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”. Entretanto, isso 
não significa que a pergunta é um fim em si mesmo; ela é, sim, o ponto de partida 
para compreender de forma mais profunda a realidade. 
 
 
9 
Assim, a filosofia se constitui em um conhecimento que apresenta a 
verdade, mas a ciência que busca incessantemente a verdade. Em um de seus 
escritos, Platão explica que mais do que o saber, é a ignorância que move a 
reflexão filosófica: “Mais sábio do que esse homem eu sou; bem provável que 
nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa, 
enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Para que sou um nadinha 
mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei” (Platão, 
1972, p. 15). 
Essa passagem pode parecer um tanto contraditória, mas não é. Para 
Merleau-Ponty (1993, p. 11), a filosofia é um saber cuja natureza é constituída 
de um movimento “que levaria incessantemente do saber à ignorância, da 
ignorância ao saber, e um certo repouso entre esse movimento”. Esse 
movimento é inerente à atitude crítica que se fundamenta na dúvida metódica, 
ou seja, na suspensão do juízo, na abstenção de conceitos prontos ou valores 
pessoais, que ajudam a explicar a realidade. Se o pensador considera que 
determinada atitude é boa, ele não se detém nessa afirmação, mas questiona: 
o que é bom? Como é bom? Por que é bom? As respostas obtidas é que levam 
a uma nova compreensão sobre a atitude em questão. 
Nesse sentido, Chauí (1999, p. 14) afirma que a atitude filosófica possui 
características próprias: 
• Perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a ideia é. A Filosofia 
pergunta qual é a realidade ou a natureza e qual é a significação 
de alguma coisa, não importa qual; 
• Perguntar como a coisa, a ideia, ou o valor é. A Filosofia indaga 
qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma 
coisa, uma ideia ou um valor; 
• Perguntar por que a coisa, a ideia, ou o valor, existe e como é. A 
filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma 
ideia ou um valor. 
Assim, a dúvida, o questionamento no contexto da filosofia não podem ser 
considerados como fúteis, inúteis ou ainda vagos, mas sim como um método 
para que construa uma explicação coerente e fundamentada acerca daquilo que 
se estuda. 
Um dos pensadores que fundamentou sua obra na dúvida metódica foi 
René Descartes. Esse filósofo viveu no início da modernidade, quando ocorria 
uma mudança do paradigma teocêntrico para o antropocêntrico, em que a busca 
por novos pressupostos era essencial. Assim, a partir da dúvida metódica 
 
 
10 
Descartes buscava encontrar um fundamento inabalável para o conhecimento, 
como ele afirma: 
Há algum tempo que eu me apercebi de que, desde meus primeiros 
anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que 
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não 
podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era 
necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de 
todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo 
novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme 
e de constante nas ciências. (Descartes, 1999, p. 17) 
Entretanto, é importante salientarmos que a dúvida metódica não constitui 
um eterno duvidar ou, ainda, um duvidar despropositado. Ela se refere aos 
fundamentos do saber, aos princípios sobre os quais o conhecimento está 
calcado. Como afirma Descartes (1999, p. 17): “visto que a ruína dos alicerces 
carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei 
inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas opiniões estavam 
apoiadas”. Para tanto, estabelece que a dúvida metódica deveria ser trabalhada 
a partir do critério de evidência, ou seja, o conceito se apresenta de forma clara 
e distinta, não havendo a possibilidade de contraditório. 
Jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse 
evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a 
precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não 
se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu 
não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. (Descartes, 1996, p. 
37) 
Nesse contexto, é importante destacar que apesar de a atitude filosófica 
estar calcada na dúvida e no consequente questionamento, não é todo tipo de 
dúvida que é objeto da filosofia. Um exemplo são as dúvidas acerca de fatos 
futuros aos quais não se pode dar uma resposta racional, mas apenas 
especulativa, tendo vista que a sucessão dos fatos é que determinará a resposta. 
Dessa forma, a filosofia é uma atitude de crítica ante a realidade, que se 
expressa por meio do questionamento que passa a ser entendido como um 
método que busca a verdade. Mas, qual é o objeto ou o campo de estudo da 
filosofia? Ao contrário de outras áreas do conhecimento, que possuem um objeto 
definido, a filosofia não o tem, pois todas as realidades podem se tornar campo 
de investigação filosófica, desde que abordadas de forma clara e distinta. 
 
 
 
11 
TEMA 4 – PARALELOS CONCEITUAIS ENTRE A FILOSOFIA, O MITO E A 
RELIGIÃO 
Já vimos que a filosofia, surgida no contexto da pólis, se opunha ao 
pensamento mítico, hegemônico naquele período histórico. Compreendemos 
também que o mito se constitui em um tipo de conhecimento expresso por meio 
de narrativas, próprias de diferentes tradições culturais, que buscavam explicar 
o mundo com base em elementos relacionados ao sobrenatural ou ainda àquilo 
que pertence ao mistério. Sob essa ótica, o mito tem como pressuposto a crença, 
já a filosofia, o pensamento racional. Mas, como podemos pensar a relação 
desses dois com a religião? 
Em um primeiro momento nos parece óbvio afirmar que o mito se 
relaciona com a religião, pois ambas se pautam na crença. Entretanto, tal relação 
não pode ser entendida de forma simples, é necessário compreendermos o que 
é a religião. Etimologicamente, o termo religião vem do latim religare e significa 
o processo de restauração da relação do fiel com a divindade. Entretanto, não 
se reduz a um relacionamento pessoal, mas sim a “um sistema de orientação 
que se expressa por meio de simbologias que estão associadas a rituais, que 
externalizam crenças em realidades as quais se consideram sagradas” (Ruthes; 
Esperandio, 2017, p. 123). 
Assim, a religião como sistema de crenças contempla em si elementos 
doutrinários que expressam verdades e valores que regem a visão de mundo e 
o comportamento das pessoas. De outro, essas verdades são expressas por 
meio de simbologias que remetem ao que consideram sagrado, se constituindo 
objeto de veneração, que ocorre por meio de rituais sagrados que reforçam tais 
elementos e respaldam a vivência dos que professam determinada religião. 
Sob essa ótica, podemos compreender que a religião é um sistema 
complexo e superior ao mito, entretanto necessita deste para respaldar seu 
conjunto de crenças. Se formos analisar as diversas religiões, vamos encontrar 
em todas mitos fundantes. Um exemplo clássico é a tradição religiosa judaico-
cristã, na qual o mito da criação exerce um papel importante na visão de mundo. 
O Deus onipotente que cria o ser humano insufla em suas narinas o sopro da 
vida e a partir disso ele possui existência. De outro, se esse ser humano se afasta 
de Deus, perde a vida plena e consequentementesua existência passa a ser 
cheia de sofrimentos. Em outras palavras, o mito da criação explicita a 
 
 
12 
necessidade de ele seguir as leis divinas para encontrar a plenitude e a 
felicidade. 
É importante salientar ainda que a religião não possui relação apenas com 
o mito, mas também com a filosofia. A partir do século II, no Ocidente, teve início 
um processo de afirmação da fé cristã no qual a filosofia passou a ser utilizada 
como ponto de justificação das verdades do cristianismo. Isso se deve a duas 
questões: a necessidade de dar um pressuposto teórico racional que afirmasse 
que as verdades cristãs eram supremas; e que a busca do conhecimento é a 
busca de Deus. Como afirma Agostinho (2014, p. 387): 
O nome filósofo significaria amor à sabedoria. Pois bem, se a sabedoria 
é Deus, por quem foram feitas todas as coisas, como demonstraram a 
autoridade divina e a verdade, o verdadeiro filósofo é aquele que ama 
a Deus. Mas. Como a realidade encerrada em tal nome não constitui 
patrimônio de todos quantos o trazem (não amam a verdadeira 
sabedoria todos quanto se chamam filósofos), torna-se preciso 
escolher, entre aqueles cujas sentenças e escritos pudemos conhecer, 
com quem trata dignamente a referida questão. 
Sob esse ponto de vista, a busca da filosofia cristã foi estabelecer uma 
harmonia entre a fé e a razão, pois “já que o falso constitui o contrário do 
verdadeiro, [...] é impossível que a verdade da fé seja contrária aos princípios 
que a razão humana conhece em virtude das suas forças naturais” (Aquino, 
1996, p. 143). Dessa forma, percebemos que no contexto da relação entre a 
filosofia e a religião, há um esforço em uni-las visando consensos acerca da 
crença. 
Assim, filosofia e religião têm suas interseções, como mito e religião 
possuem uma relação intrínseca. 
TEMA 5 – PARALELOS CONCEITUAIS ENTRE FILOSOFIA, SENSO COMUM E 
CIÊNCIA 
Sabemos que a filosofia é um tipo de conhecimento crítico, argumentativo, 
baseado na dúvida e no questionamento que busca compreender os 
fundamentos das realidades que são estudadas. Em sua origem, se opôs ao 
mito, que era uma compreensão pautada na crença que se desdobrava em 
valores e verdades que pautavam a vida das pessoas. Por volta do século XVI, 
o mundo passou por uma série de mudanças, e surgiu uma nova forma de 
analisar a realidade: a ciência. Esta já era desenvolvida antes desse período, 
mas seus métodos tinham caráter especulativo, e agora eram refletidos pela 
 
 
13 
filosofia e posteriormente assumiram outro status quo, ou seja, um método de 
conhecimento próprio. 
No século XVIII, com o pensador francês Auguste Comte e de sua teoria 
positivista, a ciência passou a ser considerada um tipo de conhecimento superior 
aos demais, inclusive à filosofia. Ele afirmava que a experimentação possibilitava 
a compreensão da realidade por si mesma, sendo, portanto, um conhecimento 
neutro. Nesse momento, houve uma separação entre a filosofia e a ciência (a 
primeira, tida como um saber teórico e reflexivo, e a segunda, um saber prático 
e exato), contudo não se constituiu em uma oposição. A filosofia passou a ter a 
ciência como objeto de estudo, e a ciência, com suas novas descobertas, 
auxiliou a filosofia a ampliar a reflexão sobre a realidade. 
Mas, como podemos definir a ciência? O termo vem do latim scientia e 
significa conhecimento. Durante a história, a palavra teve várias acepções, e, 
segundo Japiassú e Marcondes (2006, p. 44), na modernidade a ciência 
é a modalidade de saber constituída por um conjunto de aquisições 
intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação racional e 
objetiva da realidade. Mais precisamente ainda: é a forma de 
conhecimento que não somente pretende apropriar-se do real para 
explicá-lo de modo racional e objetivo, mas procura estabelecer entre 
os fenômenos observados relações universais necessárias, o que 
autoriza a previsão de resultados (efeitos) cujas causas podem ser 
detectadas mediante procedimentos de controle experimental. 
Ao ser compreendida dessa forma, é necessário salientar que a ciência, 
principalmente a moderna, não surgiu em oposição à filosofia, já que nesta 
encontrou os fundamentos para se constituir metodologicamente. Mas há um 
tipo de saber que ciência veio contraditar: o senso comum. Este pode ser 
definido de duas formas: um saber comum a todos os sujeitos de determinada 
sociedade e/ou época; ou ainda um saber que foi transmitido de geração a 
geração sem uma investigação acerca de seu conteúdo. 
Um exemplo muito comum no cotidiano é a afirmação de que se uma 
pessoa abre a porta de um forno enquanto algo é assado, este murcha. Tal saber 
constitui senso comum por não ser questionado ou, ainda, por não se buscar 
uma explicação a respeito dele. A ciência busca validar tal afirmação 
apresentando as evidências pelas quais pode ser considerada ou não uma 
verdade. 
Nesse ponto, encontramos a diferença entre a ciência e o senso comum: 
ambos afirmam algo sobre a realidade, mas a primeira se fundamenta na 
investigação de evidências, e a segunda, na aceitação de saberes sem 
 
 
14 
questioná-los. Segundo Aranha e Martins (2009), as características de cada um 
ratificam essa compreensão, conforme é possível verificar no Quadro 2. 
Quadro 2 − Características do senso comum e da ciência 
SENSO COMUM CIÊNCIA 
É um conhecimento subjetivo, pois 
se pauta em opiniões individuais e de 
grupos, que variam conforme os 
contextos. 
É um conhecimento objetivo, pois se 
pauta em conclusões gerais 
baseadas na observação. 
É de caráter fragmentário, pois não 
considera as relações existentes 
entre os diferentes conhecimentos. 
É de caráter unificador, pois 
apresenta as inter-relações entre os 
diferentes conhecimentos. 
É um conhecimento ambíguo, pois é 
expresso de forma não clara, muitas 
vezes contraditória. 
É um conhecimento rigoroso, pois 
baseia suas afirmações em 
linguagem clara e precisa, 
demonstrando todas as variantes 
sobre determinada realidade. 
Fonte: elaborado com base em Aranha e Martins, 2009, p. 334. 
O que garante que a ciência seja um conhecimento objetivo, unificador e 
rigoroso é o método por ela utilizado. Durante a história, este foi sendo 
desenvolvido e aperfeiçoado, e embora seja múltiplo, possui uma estrutura 
lógica que permite descrever suas principais fases: delimitação de um problema; 
formulação de hipóteses; teses experimentais de cada uma dessas hipóteses; e 
conclusão, com a elaboração de uma teoria. 
Baseados nessa diferenciação, salientamos que não se deve ter o senso 
comum como um tipo de conhecimento inferior ou desprezível. Ele tem uma 
importância fundamental para o desenvolvimento da ciência: suas proposições 
foram e ainda são causa de investigação científica e de descobertas importantes 
para a humanidade. Um exemplo clássico é a superação do modelo geocêntrico 
(no qual a Terra era o centro do universo) para o heliocêntrico (no qual o Sol 
passou a ser o centro): a explicação simples e contraditória do primeiro foi mote 
de pesquisa e se desdobrou, desde o século XV, em inúmeras leis e teorias 
científicas. Essa relação entre a ciência e o senso comum deve ser estabelecida 
entre a ciência e a filosofia, e entre a filosofia e o senso comum. 
 
 
 
15 
NA PRÁTICA 
Nesta aula, vimos que a filosofia é uma área do conhecimento 
caracterizada pelo exercício da reflexão racional por meio de questionamentos 
que buscam aprofundar o conhecimento. Em nossa sociedade atual, de que 
forma ela pode contribuir na formação do sujeito para que ele exerça de modo 
autônomo sua cidadania? 
FINALIZANDO 
Vimos nesta aula como foi a origem da filosofia, os motivos e 
características históricas que viabilizaram seu surgimento. Aprendemos também 
que ela se contrapõe a um pensamento próprio da Grécia no século VI a.C., o 
mito, narrativa que visa fundamentar elementos das crenças das sociedades. 
Tambémverificamos que a natureza do pensamento filosófico é racional, 
reflexiva e questionadora, possibilitando o esclarecimento dos conceitos que 
elaboramos sobre a realidade. 
Apontamos ainda que a relação da filosofia e do mito com a religião é 
próxima, seja por justificação, seja por fundamentação. Por fim, descobrimos que 
a filosofia se diferencia também da ciência, um tipo de conhecimento sistemático 
que analisa a realidade por meio de métodos predefinidos e que se opõe ao 
senso comum. 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
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BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 7. ed. 
Brasília: UnB, 1995. 
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1999. 
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 
1997. 
DESCARTES, R. Discurso do método. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 
_____. Meditações sobre a filosofia primeira. Campinas: Unicamp, 1999. 
GRIMAL, P. A mitologia grega. São Paulo: Brasiliense, 1982. 
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2006. 
JASPERS, K. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 2014. 
LÉVI-STRAUSS, C. O cru e o cozido. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. 
MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1993. 
PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Abril Cultural, 1972. 
RUTHES, V. R. M.; ESPERANDIO, M. R. G. Espiritualidade e produção de 
sentido no contexto da saúde. In: OISHI, A. C. E.; CHEMIM, M. R. C. (Org.). 
Reflexões bioéticas: a humanização do cuidado em saúde. Curitiba: Prismas, 
2017. 
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 2002.

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