Prévia do material em texto
PROMOÇÃO EM SAÚDE DO ADULTO E DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA AULA 1 Prof. Elgison da Luz dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Neste estudo, iremos abordar, de forma breve, os contextos histórico e epidemiológico de construção de políticas e programas voltados para a saúde do adulto e as melhorias das condições de saúde da população adulta. É extremamente relevante abordar a saúde do adulto, uma vez que essa faixa etária representa uma parcela significativa da população assistida pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Assim, os profissionais da saúde precisam estar preparados para o acolhimento e o atendimento dessa população. No decorrer desta etapa falaremos sobre atenção integral à saúde do adulto (Tópico 1), redes e níveis de atenção à saúde (Tópico 2), acolhimento da população adulta na Atenção Primária à Saúde (APS) (Tópico 3), indicadores de mobimortalidade na população adulta – rastreamento do risco cardiovascular (Tópico 4) e obesidade, tabagismo e abuso de álcool (Tópico 5). TEMA 1 – ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO ADULTO As mudanças demográficas ocorridas nos ultimos anos fazem com que a população adulta seja uma parcela significativa da população assistida pelas equipes de saúde. Mas, afinal, o que é ser adulto? A faixa etária considerada adulta depende de cada cultura. Algumas culturas africanas consideram adultos os indivíduos a partir de 13 anos, enquanto a maioria dos povos considera essas pessoas como adolescentes. Em se tratando do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê o término da adolescência aos 18 anos. Já o Estatuto do Idoso descreve que pessoa idosa é aquela com 60 anos completos ou mais. Assim, vamos considerar pessoa adulta aquela entre 18 e 60 anos. Nesse sentido, a fase adulta compreende cerca de 50% do total da vida de cada pessoa. Conforme Piancastelli, Di Spirito e Flisch (2013) podemos categorizar a fase adulta em três períodos: • adulto jovem: entre 18 e 21 anos; • adulto: entre 21 e 45 anos; • meia-idade: entre 45 e 60 anos. Cada faixa etária da fase adulta tem experiências diferentes, que vão 3 desde a transição da adolescência para a vida adulta até a transição da vida adulta para a senescência. Não podemos esquecer ainda que, em decorrência do envelhecimento populacional, no Brasil também se enfrenta uma mudança em relação às doenças mais presentes no adulto. Por exemplo, há uma substituição das doenças infecciosas e transmissíveis1 por doenças crônicas degenerativas, tais como as doenças crônicas não transmissíveis, ou DCNT2. Também devemos lembrar que existem outras situações de saúde na população adulta, como o alcoolismo, a dependência química, os casos de violência, além das doenças transmissíveis. Tradicionalmente, foram priorizadas ações voltadas à saúde da criança, da mulher e do idoso, o que pode ter criado um lapso na saúde da população adulta. Mas fica evidente a necessidade de alavancar as ações voltadas a essa população. Dessa forma, o Ministério da Saúde busca implementar políticas de saúde direcionadas à assistência integral à saúde do adulto, contribuindo com o aumento da expectativa e da qualidade de vida, com base em uma rede articulada que possibilite atender às necessidades dessa população. Assim, o Ministério da Saúde tem lançado diretrizes visando reorganizar as Redes de Atenção à Saúde (RAS) e as linhas de cuidado às doenças crônicas, comuns à população adulta, bem como orientações de ações para vigilância das doenças infecciosas mais prevalentes. Para isso, o Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto (Paisa) estimula os serviços de saúde a atuarem nas condições específicas do público adulto: hipertensão arterial, diabetes melito, tuberculose, hanseníase, saúde do homem, entre outras. Portanto, a promoção de saúde da população adulta deve ser priorizada e é uma estratégia de promoção de saúde. Cabe à equipe de atenção primária informar a população quanto às ações de prevenção de doenças e de promoção de saúde de forma contínua e resolutiva, bem como encaminhá-la para atenção especializada dentro da rede de saúde, quando necessário. Vamos a seguir relembrar as redes e os níveis de atenção à saúde. 1 Doenças que podem ser transmitidas de forma direta ou indireta ao indivíduo. Estudaremos algumas delas posteriormente. 2 Classificadas como cardiovasculares, cerebrovasculares, respiratórias obstrutivas, neoplasias, entre outras. Algumas delas iremos abordar com mais detalhamento nesta e nas demais etapas. 4 TEMA 2 – REDES E NIVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE O Sistema Único de Saúde (SUS), considerado o maior sistema de saúde do mundo e que atende mais de 190 milhões de pessoas de forma integral e gratuita, precisa ser organizado em diferentes níveis de atenção e assistência à saúde. Dessa forma, os serviços são agrupados em níveis de atenção e assistência de acordo com a complexidade. Esses níveis foram estabelecidos pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria n. 4.279 de 30 de dezembro de 2010, que define as diretrizes para a organização da RAS no âmbito do SUS. São eles: atenção primária e atenção especializada (secundária e terciária) conforme mostra o Quadro 1. Quadro 1 – Níveis de atenção e assistência do SUS Nível Descrição Primário Porta de entrada do SUS. Constituído pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), Equipes de Saúde da Família (eSF), equipes de atenção básica à saúde, Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Equipes de Saúde Bucal (eSB), Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) etc. Secundário Formado pelos serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a terciária. Compreende serviços médicos especializados, de apoio diagnóstico e terapêutico e atendimento de urgência e emergência. Terciário Abrange terapias e procedimentos de elevada complexidade, alta tecnologia e/ou alto custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, parto de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise, entre outros. Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2022. Conforme observarmos no Quadro 1, a atenção primária à saúde engloba as Unidades Básicas de Saúde (Figura 1), conhecidas pela maioria da população como postos de saúde. Esses locais realizam ações e atendimentos voltados à promoção da saúde e à prevenção de doenças, como consultas de rotina e acompanhamento com equipes multiprofissionais que trabalham para garantir atenção integral à saúde no território. 5 Figura 1 – Unidade Básica de Saúde Créditos: Maila Facchini/Shutterstock. Os demais componente das redes de atenção à saúde incluem os níveis secundário e terciário. Nesses níveis são ofertados determinados serviços especializados, mas que se diferenciam em relação às respectivas complexidades e densidades tecnológicas/custos envolvidos. O nível terciário utiliza densidade tecnológica e custos mais elevados comparado ao nível secundário. Um exemplo comum de atendimento de média complexidade são as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas (Figura 2). 6 Figura 2 – Unidade de Pronto Atendimento Créditos: Alf Ribeiro/Shutterstock. Já os hospitais gerais de grande porte, os hospitais universitários, as santas casas e as unidades de ensino e pesquisa fazem parte do nível de alta complexidade da atenção especializada (Figura 3). 7 Figura 3 – Transplante cardíaco em unidade de alta complexidade Créditos: Dmitry Kalinovsky/Shutterstock. Embora os níveis de atenção sejam distintos, eles são interligados, o que permite compor uma rede organizada e não há, entre eles, relações de principalidade, de subordinação ou componentes hierárquicos, uma vezque todos são importantes para que os objetivos em relação ao paciente sejam alcançados. Em relação à saúde do adulto, a rede articulada favorece o aumento da expectativa e da qualidade de vida dessa população. Porém, sabe-se que os programas educativos para doenças crônicas e degenerativas podem reduzir bastante o número de hospitalizações e melhorar significativamente as complicações agudas e crônicas, além de prevenir ou retardar o aparecimento de enfermidades. Por isso, é importante que você sempre reflita sobre estas questões: • Quais práticas, no âmbito individual e/ou coletivo, podem potencializar a assistência integral à saúde do adulto? • Qual é o meu papel, dentro da equipe, para que a rede de atenção seja implementada? 8 TEMA 3 – ACOLHIMENTO DO ADULTO NA DEMANDA ESPONTÂNEA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) Já vimos nos tópicos anteriores que o Ministério da Saúde investe em diretrizes que orientam a reorganização das Redes de Atenção à Saúde e as linhas de cuidado às doenças crônicas, assim como ações para vigilância das doenças infecciosas mais prevalentes. É importante lembrar que as doenças crônicas estão relacionadas a causas múltiplas, podem ter início gradual, prognóstico incerto e longa duração, inclusive gerando incapacidades. Diante da complexidade, relevância e, de certo modo, da elevação do número de doenças crônicas, especialmente na população adulta, é importante que a equipe de atenção primária à saúde saiba como realizar o acolhimento e a classificação de risco dessa população. Vamos lembrar que o acolhimento não envolve somente a classificação de risco e/ou organização de agendas de consultas e ações em grupo, mas deve integrar diversas estratégias que visam melhorar o acolhimento e a identificação das necessidades do adulto. A atenção primária, para ser resolutiva, deve dar atenção redobrada à escuta, bem como ter capacidade para lidar com diferentes sofrimentos, doenças e necessidades de saúde da população. Nesse quesito, o acolhimento tem apresentado alta relevância e centralidade para o estabelecimento de vínculos entre comunidade e equipe de saúde. Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH), o acolhimento deve ser incorporado como parte da rotina de todos os profissionais de saúde e, ainda, ser realizado em todos os encontros do usuário com o serviço de saúde. No entanto, por não se tratar de uma proposta isolada, o acolhimento é desafiador para os serviços de saúde, posto que a noção de acolhimento na saúde ora é tomada como uma dimensão espacial, como recepção administrativa e/ou ambiente confortável, ora como ação de triagem administrativa e repasse de encaminhamentos para serviços especializados. Apesar de ambas terem sua importância, quando isoladas levam aos transtornos vivenciados em diversos equipamentos que você já deve ter observado, tais como: • início de filas ainda de madrugada, uma vez que o único critério para atendimento é conseguir uma senha (Figura 4); • atendimento a pessoas com problemas de saúde graves, sem assistência durante o período de agravamento; 9 • reprodução e privilégio de produção de procedimentos/atividades em relação aos resultados. Figura 4 – Fila em equipamento de saúde Créditos: Parikh Mahendra N/Shutterstock. A equipe de saúde deve estar ciente de que para acolher com qualidade e equidade não é necessário distribuir senhas ilimitadas nem encaminhar todas as pessoas ao médico, tampouco o acolhimento deve ser unicamente uma triagem para atendimento médico. É preciso que as equipes discutam o papel de cada profissional nesse processo e estabeleçam alguns quesitos para um bom andamento do acolhimento. Itens a serem estabelecidos pela equipe para o acolhimento adequado • Quem recebe o paciente quando ele chegar? • Como avaliar o risco e/ou a vulnerabilidade do paciente? • Qual a conduta e o que fazer de imediato? • Quando será necessário agendar consulta médica? • Como será organizada a agenda dos profissionais? • Quais outros recursos podem ser necessários além da consulta? 10 3.1 Organização da demanda espontânea A demanda espontânea é a busca do usuário pela unidade de saúde, independentemente do motivo ou do tempo de evolução do problema, de forma não esperada pelo serviço, para vigilância de doenças infecciosas transmissíveis ou doenças crônicas não transmissíveis. Todos devem passar pelo acolhimento para viabilizar o acesso equitativo. Nesse quesito, a classificação de risco pode ser uma ferramenta auxiliadora, mas para que seja efetiva todos os profissionais presentes devem se envolver no processo a fim de identificar situações que apresentam maior risco ou que geram maior sofrimento. É importante ressaltar que determinadas situações aumentam a vulnerabilidade das pessoas e o acolhimento é a oportunidade de incluí-las em um plano de cuidados. Assim, faz parte do trabalho da equipe, na primeira escuta do usuário: • avaliar a necessidade de cuidados imediatos; • prestar ou facilitar os primeiros cuidados; • identificar as vulnerabilidades individuais ou coletivas; • classificar o risco para definir as prioridades de cuidado; • organizar a disposição dos pacientes no serviço, de modo a acomodar os que: necessitam de observação ou administração de medicação; estejam esperando remoção para outro serviço; sejam suspeitos de portar doenças infectocontagiosas de transmissão aérea (meningite, por exemplo). TEMA 4 – INDICADORES DE MORBIMORTALIDADE EM SAÚDE DO ADULTO Você já deve ter estudado que a Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) prevê como estratégia, em todo o território nacional, a eliminação da hanseníase, o controle da tuberculose, da hipertensão arterial e do diabetes melito, a eliminação da desnutrição infantil, a saúde da criança, da mulher, do idoso e a saúde bucal. Na saúde do adulto, os indicadores permitem aos profissionais de saúde encontrar a organização da demanda, a prevalência e a incidência de doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis, bem como comportamento, estilo e vulnerabilidade das pessoas do território. 11 Dois indicadores importantes, na atenção primária por exemplo, referem- se à hipertensão arterial e ao diabetes melito. Quanto a essas morbidades, quando a base de dados está atualizada é possível verificar como esses problemas estão distribuídos no território. Mas para que isso seja possível deve ser realizado o cadastramento correto desses pacientes, além do monitoramento e/ou acompanhamento nas demais ações direcionadas a esses públicos, inclusive com orientações sobre dieta, medicação e exercícios físicos. Perceba que conhecer os indicadores em saúde permite elaborar o diagnóstico situacional e/ou das necessidades específicas de cada território, fundamenta as discussões entre os membros da equipe e auxilia o gestor em saúde na elaboração de novas políticas públicas de saúde. Por isso é importante saber avaliar e rastrear determinados riscos à saúde na população, conforme veremos nos próximos tópicos. 4.1 Avaliação e rastreamento na saúde do adulto – Risco cardiovascular Neste tópico iremos abordar algumas recomendações importantes para os profissionais de saúde relacionadas à avaliação de risco, rastreamento e ao diagnóstico precoce. É importante que você se lembre que existem diferentes tipos de fatores de risco. Alguns desses fatores são considerados como risco cardiovascular alto, baixo ou intermediário (Brasil, 2010). Quadro 2 – Fatores de risco cardiovascular Baixo risco / risco intermediário Alto risco Tabagismo Acidente vascular encefálico prévio HAS (hipertensão arterial sistêmica) Infarto agudo do miocárdio prévio Obesidade Ataque isquêmico transitório Sedentarismo Hipertrofia do ventrículo esquerdo Sexo masculino Nefropatia Idade > 65 anos Retinopatia (H < 55 a; M< 65 a) – Evento cardiovascular prévio Aneurisma de aorta abdominal Estenose de carótida sintomática Diabetes melito Fonte: Brasil, 2010. 12 Na prática diária, para determinar o risco cardiovascular (RCV) do paciente você deve primeiramente classificar seus fatores de risco. O paciente, poderá fazer parte de um dos três grupos a seguir. 1. Se o paciente apresentar apenas um fator de risco baixo/intermediário, não há necessidade de calcular o RCV, pois ele é considerado como baixo risco cardiovascular e terá menos de 10% de chance de morrer por acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto agudo do miocárdio (IAM) nos próximos dez anos. 2. Se apresentar ao menos um fator de alto risco cardiovascular, não há necessidade de calcular o RCV, pois esse paciente é considerado como alto risco cardiovascular e terá chance maior ou igual a 20% de morrer por AVC ou IAM nos próximos dez anos. 3. Se apresentar mais do que um fator de risco baixo/intermediário, há necessidade de calcular o RCV, pois esse paciente pode mudar para baixo, para alto ou permanecer como risco intermediário. Nesse caso, de acordo com o Ministério da Saúde, a avaliação e o rastreamento do risco cardiovascular podem ser realizados por meio do escore de Framingham (Figura 5), que leva em consideração algumas variáveis como obesidade e histórico familiar, além de fatores sociais e étnicos (Brasil, 2010). Mas como posso utilizar o escore? O escore deve ser realizado da seguinte forma: primeiramente faça o cálculo do número de pontos dos fatores de risco. Posteriormente, encontre o escore total de risco. Cruze esse dado de modo a obter a projeção do risco em dez anos. 13 Figura 5 – Modelos do escore de Framingham para homens e mulheres Fonte: Ferreira, 2020. 4.2 Avaliação e rastreamento de dislipidemia A dosagem de lipídios séricos pode auxiliar a identificação de homens e mulheres assintomáticas, porém com alterações significativas que indiquem serem elegíveis para terapia preventiva. Os fatores de risco incluem níveis altos de colesterol total (CT) e de lipoproteína de baixa densidade de colesterol (LDL-C), assim como baixos níveis de lipoproteína de alta densidade de colesterol (HDL-C) são importantes fatores de risco para doença arterial coronariana (DAC). Já os riscos de incidência são maiores nas pessoas em que há combinação de fatores de riscos (Brasil, 2010). O risco de doença arterial coronariana em dez anos é menor em homens jovens e em mulheres que não tenham outros fatores de risco, mesmo na presença de anormalidades lipídicas (Brasil, 2010). Não há uma definição exata sobre intervalos de rastreamento. Sugere-se que, quanto maior o risco, menor o intervalo de rastreamento. O rastreamento deve incluir a solicitação da dosagem de lipídios séricos 14 em jejum (12 horas), sem bebida alcoólica e sem mudanças na prática de exercícios diários e/ou rotina alimentar. TEMA 5 – AVALIAÇÃO E RASTREAMENTO DE OBESIDADE, TABAGISMO E ABUSO DE ÁLCOOL Dando continuidade ao rastreamento e avaliação das doenças prevalentes na população adulta, iremos neste tópico abordar obesidade, tabagismo e alcoolismo. 5.1 Rastreamento da obesidade De acordo com o Ministério da Saúde, a obesidade está relacionada com diversas doenças, incluindo doença coronariana, HAS, diabetes e acidente vascular encefálico. Além disso, está associada à menor qualidade de vida devido ao estigma social e à menor mobilidade. Em relação ao rastreamento, é recomendado que seja realizado em todos os pacientes adultos e crianças maiores de seis anos (Brasil, 2010). Não há recomendação clara sobre a periodicidade do rastreamento, assim sua realização fica indicada para ocorrer durante a consulta de exame periódico de saúde. O rastreamento pode ser realizado com base no cálculo do índice de massa corporal (IMC). É importante que você saiba como realizar esse cálculo, em que usamos a massa de uma pessoa (peso em quilos) e a dividimos pela altura (em metros). Em seguida, classificamos o resultado conforme a tabela a seguir. 15 Tabela 1 – IMC: classificação IMC Classificação <18,5 Peso baixo 18,5 – 24,9 Peso normal 25,0 – 24,9 Sobrepeso 30,0 – 34,9 Obesidade (Grau I) 35,0 – 39,9 Obesidade severa (Grau II) >40,0 Obesidade mórbida (Grau III) Agora, para praticar, você pode realizar seu cálculo de IMC e classificá-lo de acordo com Tabela 1. 2.3 Rastreamento do tabagismo e do abuso de álcool Apesar de várias campanhas contra o tabagismo, estima-se que 17,2% das pessoas acima de 15 anos sejam tabagistas e o hábito é mais presente em homens que em mulheres (21 e 13%, respectivamente). De acordo com o Ministério da Saúde, o rastreamento em relação ao tabagismo deve ser realizado por meio de cinco passos, conhecidos como 5 As. O profissional deve ter conhecimento e habilidade para realizar o rastreamento. Quadro 3 – 5As Passos Procedimentos 1 Aborde o paciente sobre o uso do tabaco. 2 Aconselhe-o a abandonar o hábito por meio de uma mensagem clara, mas educada. 3 Avalie a disposição do paciente para deixar de fumar. 4 Ajude-o a parar. 5 Arranje condições para o seguimento e suporte do paciente. Fonte: Brasil, 2010. É importante lembrar que o rastreamento do tabagismo deve ser realizado em todos os pacientes adultos. Dessa forma, em todos os encontros com os pacientes, os profissionais de saúde podem perguntar sobre o uso do tabaco e 16 fornecer alternativas de intervenção para que deixem esse hábito. Um dado importante a se ter em mente: “Em cada mil mortes anuais em áreas urbanas, 25 são devido ao fumo passivo em domicílio. Políticas de criação de ambientes livres do tabaco em casa e no trabalho podem reduzir consideravelmente a mortalidade” (Brasil, 2008). Quanto ao abuso de álcool, que possui relação com determinadas doenças, violências e acidentes, o Ministério da Saúde descreve que o rastreamento proporciona identificação adequada daqueles usuários com padrões de uso excessivo de álcool. Embora não haja um período ideal para o rastreamento, pessoas com histórico de alcoolismo e tabagistas podem ter rastreio em tempo menor. Para isso, pode ser utilizado um teste como o CAGE, que é composto por perguntas como: • Você já sentiu necessidade de parar de beber? • Você já se sentiu chateado por críticas que os outros fazem pelo seu modo de beber? • Você já se sentiu culpado sobre seu jeito de beber? • Você já teve que beber para iniciar o dia e “firmar o pulso”? O resultado pode ser interpretado da seguinte forma: caso duas respostas sejam afirmativas, o rastreio é positivo e deve-se aconselhar e acompanhar o paciente, além de discutir com a equipe o melhor plano terapêutico para a situação. NA PRÁTICA Vimos, nesta etapa, alguns exemplos de avaliação e monitoramento da população adulta em relação a doenças crônicas. Agora, para colocar em prática, realize o cálculo do IMC em alguém de sua convivência diária. Após isso, avalie o risco de doença cardiovascular dessa pessoa. FINALIZANDO Nesta etapa, abordamos temas importantes sobre a saúde do adulto. Iniciamos a etapa comentando sobre o programa de saúde do adulto (Tópico 1). Na sequência, no Tópico 2, comentamos sobre as redes e os níveis (primário, secundário e terciário) de atenção à saúde. No Tópico 3 falamos sobre o acolhimento e a organização da demanda espontânea na atenção básica. No 17 Tópico 4 começamos a falar sobre indicadores de morbimortalidade em saúde do adulto e sobre rastreamento e avaliação em doenças cardiovasculares. Finalmente, no Tópico 5 abordamos o tabagismo e o abuso de álcool, inclusive a avaliação e o rastreamento. 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,Brasília, DF, 16 jul. 1990. _____. Lei n. 10.741, de 1° de outubro de 2003. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 out. 2003. _____. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad29.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2022. FERREIRA, G. de S. et al. Risco cardiovascular pelo escore de Framingham em serviços de cardiologia de uma cidade de médio porte de Minas Gerais. Revista Médica de Minas Gerais, v. 20, 2020. Disponível em: <http://rmmg.org/artigo/detalhes/2711>. Acesso em: 7 jun. 2022. PIANCASTELLI, C. H.; DI SPIRITO, G. C.; FLISCH, T. M. P. Saúde do adulto. 2. ed. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2013. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3999.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2022. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS. SUS. Disponível em: <https://www.saude.mg.gov.br/sus>. Acesso em: 7 jun. 2022.