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Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech intro_22401 Cap. 1 TUBERCULOSE PULMONAR EPIDEMIOLOGIA E PATOGÊNESE VIDEO_01_PNEU2 DEFINIÇÃO – EPIDEMIOLOGIA INTRODUÇÃO A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que pode ser causada por qualquer uma das sete espécies do "complexo Mycobacterium tuberculosis": M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedii e M. caprae. A etiologia mais importante é o M. tuberculosis, cuja principal característica é a preferência pelo parênquima pulmonar e a transmissão de pessoa a pessoa através da inalação de partículas de aerossol contaminadas, as quais são produzidas pela tosse, espirro ou fala do paciente “bacilífero” (aquele que elimina bacilos no escarro, o que só acontece na TB de vias aéreas: pulmonar ou laríngea). Em alguns locais (geralmente no meio rural) o principal agente etiológico passa a ser o M. bovis, adquirido pela ingestão de leite ou derivados não pasteurizados produzidos a partir do gado bovino contaminado. Neste caso, as manifestações clínicas são idênticas as do M. tuberculosis, notando-se uma maior frequência de apresentações extrapulmonares, principalmente TB ganglionar. A tuberculose afeta a humanidade desde tempos imemoriais... Existem indícios arqueológicos sugestivos de tuberculose óssea no período neolítico (5.000 a.C. a 4.000 a.C.). Na história escrita, os primeiros relatos – encontrados na Índia – datam de 700 a.C. Hipócrates, o famoso médico grego, denominou a doença de phthisis, termo que significa “derreter” (ou “esvair”), dando a base etimológica para o radical “tisio” (ex.: tísico)... Aristóteles descreveu pela primeira vez sua natureza contagiosa, a qual foi confirmada posteriormente pela descoberta de seu principal agente etiológico por Koch, no século XIX: o Mycobacterium tuberculosis, ou Bacilo de Koch (BK). Surgiu a tisiologia – um importante ramo da medicina naquela época! Com a revolução industrial, em fins do século XVIII, as circunstâncias epidemiológicas dos agregados urbanos (miséria, desnutrição, aglomeração) facilitaram um grande aumento no número de casos da doença, que se tornou a responsável por quase um quarto de todas as mortes na população europeia – era a chamada “peste branca” (em contrapartida à “peste negra” do passado). Até o desenvolvimento das drogas tuberculostáticas, o tratamento se baseava em repouso ao ar livre (“sanatórios”), com cerca de metade dos pacientes falecendo. Após introdução da radiografia de tórax, generalizou-se o conceito de que a doença possuía natureza cavitária, e assim seu tratamento passou a incluir uma cirurgia de obliteração da “caverna” tuberculosa... Em 1946, a estreptomicina foi usada no combate ao bacilo, mostrando algum sucesso. Em 1952, surgiu a isoniazida e, em 1970, a rifampicina, ambas revelando-se excelentes agentes antituberculosos! A partir daí, a maioria dos pacientes tratados passou a obter a cura, sem necessidade de “sanatórios” ou “colapsoterapia” das lesões cavitárias. A doença passou para as mãos do clínico, e os pacientes internavam em hospitais comuns. A letalidade despencou de 50% para < 10%, o que fez com que muitos acreditassem que o problema estava em vias de ser definitivamente erradicado... Entretanto, nos dias de hoje, a despeito de um aparente controle em meados do século passado (pelo menos em algumas partes do mundo), voltamos a um contexto epidemiológico global bastante crítico em relação à tuberculose, devido à reemergência da doença em nível mundial (fato principalmente relacionado à pandemia de HIV)! A TB preenche os critérios de priorização de um agravo em saúde pública: magnitude; transcendência e vulnerabilidade (isto é, alta incidência/prevalência, relevância para a sociedade e potencial de cura). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL E NO MUNDO O Brasil pertence ao grupo de 30 países definido pela OMS como prioritário para o controle da TB (países que detêm cerca de 90% da carga global da doença). A incidência de TB em nosso meio tem girado em torno de 73 mil casos novos por ano, com pouco mais de quatro mil óbitos. Vale dizer que, atualmente, cerca de 10% dos casos novos de tuberculose diagnosticados no Brasil apresentam coinfecção pelo HIV. É importante compreender que a tuberculose ainda afeta a sociedade brasileira de forma bastante heterogênea, o que significa que existem locais e subgrupos populacionais que apresentam maior risco e vulnerabilidade! O grupo mais afetado pela TB no Brasil é o dos negros (pretos e pardos), que responde por mais da metade dos casos novos. Dentro deste grupo as taxas de diagnóstico precoce, testagem para HIV, realização de cultura do escarro em casos de retratamento e cura/abandono do tratamento, isto é, indicadores “operacionais” que refletem a oferta e a qualidade dos serviços de saúde, são consistentemente inferiores ao observado para a população “não negra”... Um subconjunto de altíssimo risco é o dos presidiários (coeficiente de incidência cerca de 26 vezes maior que o da população geral). Logo, o acesso ao diagnóstico e tratamento da TB ainda não é feito de forma igualitária para todos, e as razões para isso são múltiplas e complexas, envolvendo questões econômicas, sociais, culturais, históricas e políticas... Em nível mundial, a maioria dos casos novos ocorre na Ásia (55%) e na África (33%), sendo menor o percentual das Américas (3%), inclusive menor que o da Europa (5%). O número absoluto de casos novos no mundo aumentou, porém, devido ao crescimento populacional concomitante, a taxa de incidência global (nº de casos/100.000 habitantes) vem declinando de forma discreta (cerca de 1% ao ano)… Os casos novos coinfectados pelo HIV somam 15% do total mundial, e cerca de 80% destes ocorrem na África! A TB Multirresistente (MDR) é uma ameaça em constante evolução, e já representa cerca de 5% do total mundial de casos novos… No Brasil, o percentual de casos novos com TB-MDR ainda é baixo. Para que a cadeia de transmissão da TB seja efetivamente quebrada, a OMS recomenda que o percentual de cura em cada país seja de no mínimo 85%, com taxas de abandono inferiores a 5%. Os últimos dados nacionais revelam taxa média de cura de 71,9%, com 11,6% de abandono, quer dizer, o Brasil ainda precisa melhorar suas estratégias para o controle da tuberculose... AGENTE ETIOLÓGICO Como vimos, o principal agente causal da tuberculose é o Mycobacterium tuberculosis. De forma mais rara, a doença também pode ser causada por outras espécies do complexo M. tuberculosis, como o M. bovis. Todos pertencem à família das micobactérias (Mycobacteriaceae), ordem dos actinomicetos (Actinomycetales)... Fora deste grupo, existem mais de 150 espécies diferentes de micobactéria (incluindo o M. leprae, agente da hanseníase), genericamente referidas como “MNT” (Micobactérias Não Tuberculosas). As micobactérias são pequenos bacilos de 2-4 µm, discretamente curvos, que possuem uma curiosa propriedade tintorial: após corar a lâmina com carbolfucsina (corante avermelhado), aquecê-la, e descorá- la com álcool e ácido, acrescentando azul de metileno (método de Ziehl- Neelsen), os bacilos retêm a coloração avermelhada do corante inicial, que contrasta com o fundo azul... Tal propriedade é chamada de álcool-ácido resistência, e é daí que vem o termo Bacilo Álcool-Ácido Resistente (BAAR). A explicação está na composição da parede celular com lipídios de alto peso molecular, como o ácido micólico, que protegem o bacilo da agressão exógena pelo álcool e pelo ácido. Veja a Fig. 1: Tuberculose cavitária. FIGURA 2. Fig. 2: Bacilo de Koch corado pela técnica de Ziehl-Neelsen (vários “BAAR”). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Vale ressaltar que as outras micobactérias são virtualmente idênticas ao bacilo de Koch na bacterioscopia. Existem ainda certos micro- organismos,como Nocardia asteroides e Rhodococcus equi, que também são Ziehl-Neelsen positivos. A coloração de Gram pode destacar o M. tuberculosis, que aparece como bastonete fracamente Gram-positivo... Enquanto as outras micobactérias são, em geral, saprófitas, o M. tuberculosis é um agente eminentemente patogênico, que vive do parasitismo de seu único reservatório – o ser humano. Por ser estritamente aeróbio, o bacilo de Koch procura microambientes com altas tensões de O2, com os ápices pulmonares. De todos os infectados, somente cerca de 5-10% adoecem, com muitos se tornando fontes de infecção. Estes são representados especialmente pelos adultos com a forma cavitária/bacilífera pulmonar. Estima-se que cada indivíduo bacilífero infecte 10-15 pessoas por ano, mantendo assim o ciclo de vida do bacilo de Koch na população. VIDEO_02_PNEU2 TRANSMISSÃO E INFECTIVIDADE A fala, o espirro e, principalmente, a tosse de um doente com tuberculose pulmonar bacilífera lançam no ar gotículas contaminadas de tamanhos variados (gotículas de Flügge). As mais pesadas se depositam rapidamente, e as mais leves permanecem em suspensão no ar. Somente as gotículas desidratadas, com pequeno diâmetro (de até 5 micra), contendo um a dois bacilos em suspensão, conseguem atingir bronquíolos e alvéolos e iniciar o processo infeccioso. Tais partículas infectantes são chamadas núcleos de Wells. As partículas médias ficam retidas na mucosa do trato respiratório superior e são removidas dos brônquios através do fluxo mucociliar. Os bacilos assim removidos são deglutidos, inativados pelo suco gástrico e eliminados nas fezes. Os bacilos que se depositam nas roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersarão em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importante na transmissão. Após o contato com essas partículas, quais são os determinantes da chance de infecção? A chance de uma pessoa se infectar após contato com um paciente bacilífero depende: (1) da concentração de bacilos expelidos pelo paciente tuberculoso; (2) da intensidade e frequência do contato; (3) de condições ambientais; e (4) da resistência natural do indivíduo exposto. Eliminação de bacilos pela fonte: é importante ressaltar que a maioria dos indivíduos infectados pelo BK (“prova tuberculínica positiva” – ver adiante) não é bacilífera, logo, não transmite a doença. Apenas os que desenvolvem “tuberculose-doença” podem eliminar bacilos e transmiti-los... Ainda, dos que adoecem, nem todos eliminam bacilos... Os chamados multibacilíferos (representados principalmente pela forma cavitária da doença) são definidos pela presença de baciloscopia positiva no escarro (“BAAR positivos”). Estes são os principais responsáveis pela transmissão da tuberculose! Os chamados paucibacilíferos (geralmente as formas não cavitárias) são definidos pela baciloscopia do escarro negativa, mas com cultura positiva. Um estudo mostrou que a chance de transmissão domiciliar foi de 50% quando a fonte era multibacilífera e de apenas 5% quando a fonte era paucibacilífera. Ainda existem os não bacilíferos, represen tados pelas formas extrapulmonares de tuberculose. Cumpre ressaltar que crianças com TB pulmonar de um modo geral NÃO são bacilíferas, logo, não desempenham papel importante na cadeia de transmissão... Sendo assim, sempre que encontrarmos uma criança doente, temos que procurar o adulto que lhe transmitiu a infecção (geralmente algum contato intradomiciliar multibacilífero). Intensidade e frequência do contato: em tese, apenas um bacilo seria o suficiente para iniciar a infecção. Contudo, estima-se que na prática pelo menos 20-200 bacilos sejam necessários para desencadear o processo. Na verdade, quanto maior o inóculo de bacilos e menor a resistência natural do contactante, maior a chance de infecção! Os contatos esporádicos raramente são infectados, enquanto os contatos diários e domiciliares comumente o são. A chance de transmissão em contatos domiciliares beira os 30-50%. Fatores ambientais: as partículas infectantes podem ficar dispersas no ar por algumas horas, mas são rapidamente “diluídas” se estiverem em ambientes ao ar livre, onde também costumam ser inativadas pela luz ultravioleta solar. Portanto, o risco de transmissão é muito maior em ambientes confinados e pouco iluminados. Contactantes diários neste tipo de ambiente podem ter um risco de transmissão > 80%. PATOGÊNESE INSTALAÇÃO DA PRIMOINFECÇÃO A primoinfecção ou infecção primária define os eventos decorrentes do primeiro contato com o agente infeccioso. No Brasil – um país Determinantes do Risco de Adquirir Tuberculose Maior Inóculo inalado pelo contactante: ● Quantidade de bacilos expelidos pela fonte; ● Tempo e proximidade do contato; ● Condições ambientais – confinamento, pouca luz solar. Menor resistência natural do contactante: ● Aspectos genéticos; ● Doenças debilitantes ou imunodepressoras. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech endêmico de tuberculose – a primoinfecção é mais comum na infância e na adolescência, embora possa ocorrer em qualquer idade! Ao alcançar o espaço alveolar, o bacilo da tuberculose é inicialmente fagocitado por macrófagos locais. Esses fagócitos são incapazes de destruir ou mesmo inativar o bacilo, que então se prolifera livremente em seu interior – Após acumular um grande número de bacilos, a célula se rompe e morre, liberando-os para infectar outros macrófagos. Neste momento, novos fagócitos são atraídos para o local, desenvolvendo-se um pequeno foco pneumônico (imperceptível na radiografia) cujo número de bacilos pode ultrapassar 100 mil. A imunidade específica ainda não se instalou, portanto, a proliferação bacilar é alta. Os bacilos são drenados para linfonodos hilares e mediastinais, onde continuam se proliferando no interior de macrófagos e, em seguida, atingem a corrente sanguínea, sendo semeados para diversos órgãos e sistemas, nos quais também começam a se proliferar. SURGIMENTO DA IMUNIDADE Felizmente, após 2-10 semanas, a imunidade celular específica se desenvolve plenamente, permitindo uma defesa eficaz contra o M. tuberculosis. O que acontece a partir de agora? Os linfócitos T helper CD4+ específicos contra os antígenos bacilares se proliferam (“memória imunológica”) e tornam-se capazes de ativar os macrófagos, pela liberação de interleucinas (ex.: IL-2). Os macrófagos aumentam seu citoplasma, alguns ganhando aspecto semelhante ao das células epiteliais (“células epitelioides”), além de multiplicar sua capacidade bactericida. Estas células então se acumulam em volta do foco de infecção primária e nos focos de disseminação linfonodal e hematogênica. Em 95% dos casos, a infecção tuberculosa será efetivamente controlada em todos esses focos, permanecendo o paciente absolutamente assintomático – A reunião de macrófagos circundados por um infiltrado de linfócitos compõe o granuloma – um tipo especial de reação inflamatória que representa a hipersensibilidade tipo IV. O granuloma pode conter em seu interior as chamadas células gigantes de Langerhans – formadas pela fusão de vários macrófagos ativados. No caso específico da tuberculose, no centro da reação granulomatosa surge uma área de necrose “sólida” do tipo caseosa. O termo caseoso vem do latim caseum (parecido com “queijo”), e define o granuloma caseoso. Tal aspecto é secundário à presença de lipídios degradados da parede micobacteriana (com o ácido micólico). VIDEO_03_PNEU2 QUADRO DE CONCEITOS I FIGURA 3. Fig. 3: BK se proliferando nos macrófagos não ativados. FIGURA 4. Fig. 4: Contenção do processo infeccioso. O foco é contido pela formação do granuloma tuberculoso em 95% dos casos. FIGURA 5, Fig. 5: Granuloma caseoso. Observe a célula gigante de Langerhans (multinucleada, em volta do cáseo). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Além do foco primário, existem múltiplos focos de disseminação linfo- hematogênica em vários órgãos, inclusive no próprio pulmão. Curiosamente,um pequeno número de bacilos permanece latente (inativos, porém viáveis) no interior desses granulomas! Mais cedo ou mais tarde, um ou mais desses focos pode ser reativado, determinando uma nova proliferação de bacilos e tuberculose pós-primária – ver adiante. O foco granulomatoso pulmonar onde tudo começou é chamado de “foco primário” ou nódulo de Ghon. Geralmente ele é único, e se localiza no terço médio (lobo médio, língula, parte inferior do lobo superior ou parte superior do lobo inferior). Entretanto, pode se instalar em qualquer local do pulmão e raramente é múltiplo. Na maioria das vezes, este foco é pequeno (1-2 mm), e não chega a ser visualizado na radiografia de tórax... Contudo, eventualmente atinge dimensões > 8 mm e aparece no raio X como um nódulo pulmonar solitário – ver É comum a calcificação homogênea desse nódulo após cicatrização. O foco nos linfonodos satélites também pode crescer, levan-do à adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral – ver A associação do nódulo de Ghon com adenopatia satélite é chamada de “complexo primário” ou complexo de Ranke. MECANISMO DE DOENÇA Vamos entender agora como o bacilo da tuberculose causa doença... O desenvolvimento de “tuberculose-doença” depende basicamente da “guerra” entre bacilo e hospedeiro. Nesta “batalha”, existe um fato curioso: a lesão tecidual é decorrente da resposta imunológica do hospedeiro, e não de um efeito direto do bacilo, que é desprovido de toxinas de alto poder lesivo... Ou seja, em alguns pacientes, a tentativa de controlar a infecção acaba gerando destruição tecidual! Quando a carga de bacilos é muito grande, a resposta imunológica tende a ser exacerbada, formando focos maiores de granuloma caseoso. Em alguns pacientes, as células do granuloma conseguem de fato conter o processo (focos “regressivos”), mas em outros elas continuam apenas “tentando”, sem efetivamente “completar o serviço”. A consequência é a progressão da lesão inflamatória e a formação dos chamados focos “progressivos” – Analise atentamente a Acabamos de descrever a disseminação linfo-hematogênica característica da primoinfecção. Ela ocorre de forma precoce, antes do desenvolvimento de imunidade específica contra o bacilo. FIGURA 6A. FIGURA 6B. Fig. 6A: Nódulo de Ghon. Fig. 6B: Adenopatia hilar. FIGURA 7. FIGURA. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech No cáseo os bacilos se proliferam com muita dificuldade, devido à baixa tensão de O2 e pH ácido. Se o cáseo for mantido, o processo tem chance maior de estabilizar. Contudo, aí vem o grande perigo: a liquefação da necrose caseosa... Seu mecanismo é a liberação excessiva de enzimas destrutivas pelos macrófagos ativados que circundam o foco caseoso! Os produtos da degradação do cáseo aumentam a osmolaridade local, “puxando” água do tecido circunjacente e transformando o material num excelente meio de cultura (rico em nutrientes). Dessa forma, pela primeira vez o bacilo poderá se multiplicar no ambiente extracelular!!! Se a lesão atingir um brônquio, erodindo sua parede e permitindo a comunicação com o espaço aéreo, rico em O2, a proliferação bacilar se exacerbará ainda mais... Surge então a caverna tuberculosa, um ambiente propício ao acúmulo de quantidades absurdas do bacilo de Koch, chegando a mais de um milhão por ml... O material liquefeito é despejado na árvore brônquica, levando àdisseminação endobrônquica da tuberculose, além de ser expelido ao meio externo, contaminando circunstantes suscetíveis. QUADRO DE CONCEITOS II QUADRO DE CONCEITOS III PATOLOGIA Existem três tipos de lesão parenquimatosa na tuberculose: (1) proliferativa; (2) exsudativa; e(3) mista. A lesão proliferativa (ou produtiva) – – é caracterizada pela formação de granulomas caseosos bem formados, chamados de “tubérculos”, que desenvolvem cápsula fibrosa. A infecção está contida dentro desses focos inflamatórios... A lesão exsudativa caracteriza a pneumonia tuberculosa e os alvéolos são preenchidos por macrófagos e neutrófilos, entremeados à necrose caseosa. A resposta exsudativa costuma ocorrer nos focos de disseminação broncogênica (fistulização de foco pulmonar liquefeito ou linfonodo hilar infectado para o lúmen de um brônquio lobar ou segmentar). A confluência dessas áreas pode levar à formação de grandes focos caseosos que se liquefazem e viram novas “cavernas”. De um modo geral, pequenos inóculos geram lesões proliferativas, enquanto grandes inóculos geram lesões exsudativas. O mais comum, no entanto, é a presença dos dois tipos de lesão no mesmo paciente, em diferentes áreas do pulmão – tipo misto. Fig. 7: Patogênese da tuberculose (bacilo versus hospedeiro). O granuloma caseoso é o grande marco histopatológico da tuberculose. As demais causas de granuloma (micoses profundas, sarcoidose, doença de Crohn, angeíte granulomatosa ANCA (+), etc.) não apresentam necrose caseosa. Nos casos em que a resposta imunológica não consegue controlar a proliferação bacilar (ex.: quando o inóculo é muito grande), formam-se grandes áreas de necrose caseosa. Estas podem liquefazer-se, por ação de enzimas líticas liberadas pelos macrófagos do granuloma, transformando-se num verdadeiro “caldo de cultura” para a proliferação do bacilo de Koch. No pulmão, o processo pode erodir a parede brônquica, comunicando-a com o espaço aéreo. A entrada de ar na cavidade forma a “caverna tuberculosa”, onde a quantidade de bacilos aumenta absurdamente. O material despejado na árvore brônquica justifica a disseminação endobrônquica do BK. FIGURA 9A (FIGURAS 8 9B): Fig. 9A: Forma “Proliferativa”. Tuberculose cavitária com disseminação endobrônquica – observe o infiltrado formado por “tubérculos” confluentes nos 2/3 inferiores – cada um desses “tubérculos” é um foco “proliferativo” de tuberculose. Fig. 9B: Forma exsudativa. Um linfonodo caseoso rompeu para o lúmen brônquico, disseminando um grande inóculo de bacilos para o lobo inferior. Nesta localização desenvolveu-se uma pneumonia tuberculosa – foco “exsudativo”. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech SÍNDROMES DA TUBERCULOSE PRINCÍPIOS GERAIS A doença tuberculosa se desenvolve em apenas 10% dos indivíduos infectados. Em 5% dos casos, a primoinfecção evolui diretamente para a doença – tuberculose primária – que ocorre dentro dos primeiros três anos da infecção, geralmente no primeiro ano (período de incubação: um mês a três anos). Nos 5% restantes, a doença se desenvolve após três anos da primoinfecção (geralmente décadas depois) – tuberculose pós-primária, antigamente denominada “tuberculose secundária”... Como veremos, este tipo de tuberculose pode ser decorrente da reativação de um foco latente da primoinfecção ou simplesmente de uma reinfecção (nova inalação de bacilos). QUADRO DE CONCEITOS IV Enquanto a tuberculose primária é a forma clássica da doença em crianças pequenas, a tuberculose pós-primária ocorre quase que exclusivamente em pessoas com mais de quinze anos de idade... TUBERCULOSE PRIMÁRIA TÍPICA Esta é a forma mais comum nas crianças entre 2-12 anos cuja resposta imunológica dos linfonodos hilares e mediastinais é exacerbada. Neste caso, o complexo primário costuma ser representado por uma pequena área de pneumonite, ocupando geralmente o terço médio do pulmão, associada a uma grande adenomegalia hilar e/ou mediastinal ipsilateral. Este aumento linfonodal acentuado pode levar à compressão brônquica, cursando com atelectasia (segmentar, lobar ou mesmo pulmonar total). A ruptura do foco caseoso para o brônquio resulta em pneumonia tuberculosa – devido à grande quantidade de bacilos que invadem os alvéolos. Qualquer segmento ou lobo pulmonar pode ser afetado... TUBERCULOSE PRIMÁRIA PROGRESSIVA Ocorre em pacientes que se infectam com um grande inóculo de bacilos, ou quando as defesas imunológicas estão deprimidas. Neste caso, o foco primário evolui para uma grande área de inflamação granulomatosa e exsudativa, evoluindo para pneumonia tuberculosa– O local mais comum desta pneumonia é exatamen-te a localização mais frequente do foco primário (terço médio do pulmão). Podem surgir grandes focos caseosos locais que, ao se liquefazerem, transformam-se em “cavernas” e disseminam a doença para outros lobos pulmonares. Pode ou não haver adenomegalia hilar/mediastinal satélite (esta associação é mais comum em crianças, sendo menos frequente em adultos). Fig. 8: Pneumonia tuberculosa. Um grande inóculo de bacilos atingiu os alvéolos. Observe o preenchimento alveolar com áreas de necrose caseosa de permeio. Taxa de adoecimento ~10%. *Tuberculose primária: ocorre dentro dos primeiros três anos da primoinfecção, geralmente no primeiro ano. *Tuberculose pós-primária: ocorre após três anos da primoinfecção, por reativação de foco latente ou por reinfecção (nova inalação de bacilos). FIGURA 9B, Fig. 9A: Forma “Proliferativa”. Tuberculose cavitária com disseminação endobrônquica – observe o infiltrado formado por “tubérculos” confluentes nos 2/3 inferiores – cada um desses “tubérculos” é um foco “proliferativo” de tuberculose. Fig. 9B: Forma exsudativa. Um linfonodo caseoso rompeu para o lúmen brônquico, disseminando um grande inóculo de bacilos para o lobo inferior. Nesta localização desenvolveu-se uma pneumonia tuberculosa – foco “exsudativo”. FIGURA 10. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech TUBERCULOSE MILIAR Esta forma é mais comum em crianças menores de dois anos e não vacinadas com BCG, ou então em pacientes com imunodepressão moderada a grave (ex.: desnutrição, aids). Lembre-se da disseminação linfo-hematogênica logo após a primoin-fecção... Normalmente, os focos são contidos quando da instalação da imunidade e permanecem latentes. Nesta forma de tuberculose, entretanto, tais focos não são contidos e evoluem com progressão da lesão e grande proliferação bacilar. O foco primário pode progredir e continuar lançando bacilos no sangue, ou então um foco metastático na parede de uma veia pulmonar (foco de Weigart) pode ser o responsável pela continuidade da disseminação. O interstício pulmonar e as meninges são os tecidos mais afetados, mas a doença também está presente no sistema reticuloendotelial (fígado, baço, linfonodos, medula óssea, etc.). Se não tratada precocemente, quase sempre leva a criança a óbito. O termo “miliar” vem do aspecto macroscópico multinodular pulmonar – os nódulos granulomatosos intersticiais são semelhantes às sementes de millet, uma espécie de gramínea – e A meningite tuberculosa, também mais comum em crianças < 2 anos, é uma forma de tuberculose miliar primária. Veremos adiante que a vacina BCG previne estas complicações. TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA (“FORMA DO ADULTO”) A tuberculose pós-primária é definida como a forma da doença que se desenvolve em pacientes infectados pela tuberculose há mais de três anos, ou seja, que já tiveram contato prévio com o BK. Antigamente, era chamada de tuberculose secundária ou “do adulto”, numa época em que quase todas as crianças da área endêmica se infectavam pelo bacilo de Koch, ou seja, quase todos os adultos eram reatores na prova tuberculínica... Atualmente, continua sendo a forma predominante em adolescentes e adultos, porém devemos ressaltar que estes indivíduos também podem apresentar tuberculose primária! A tuberculose pós-primária pode ocorrer por: (1) reativação de um foco latente; ou por (2) reinfecção – inalação de um novo inóculo bacilar. Em países com baixa incidência de tuberculose quase todos os casos são devidos à reativação, enquanto nos países com grande número de indivíduos infectantes (como na África negra), a regra é a Fig. 10: Tuberculose primária progressiva. Temos adenopatia hilar (direita) e pneumonia tuberculosa nos lobos inferiores. FIGURA 11A FIGURA 11B. Fig. 11A: Tuberculose miliar. Fig. 11B: Tuberculose miliar. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech tuberculose por reinfecção. No Brasil, provavelmente os dois tipos ocorrem numa frequência semelhante. Os focos intersticiais (focos de Simon) que se disseminaram pelo parênquima pulmonar durante a primoinfecção contêm o bacilo na forma latente. Por mecanismos pouco conhecidos, geralmente relacionados a uma queda (mesmo que sutil) da imunidade, estes bacilos são novamente ativados e voltam a se proliferar nos macrófagos. Os segmentos posteriores dos lobos superiores e o segmento superior dos lobos inferiores (segmento 6) são os mais acometidos pela tuberculose pós-primária – Existem duas explicações plausíveis para este fato: (1) a maior tensão de O2 nos alvéolos da porção superior dos pulmões; e (2) menor drenagem linfática desses segmentos. Curiosamente, a reinfecção após inalação de nova carga de bacilos determina uma doença com as mesmas características da reativação, acometendo as mesmas regiões pulmonares. Como a “memória imunológica” já está desenvolvida, a reação granulomatosa se instala rapidamente, juntamente com áreas de necrose caseosa. Uma resposta mista, com componente proliferativo e exsudativo, toma o tecido pulmonar afetado. Nesse momento, é muito comum a formação de um grande foco caseoso que evolui com liquefação e eliminação do material na árvore brônquica. Suas possíveis consequências:(1) surgimento da “caverna tuberculosa” – um local rico em O2 onde o bacilo se multiplica de forma absurda; (2) disseminação broncogênica – grande carga bacilar atingindo outros lobos e segmentos pulmonares (incluindo o pulmão contralateral), determinando infiltrados pneumônicos; e (3) transmissão da infecção – a cada tosse, espirro, ou mesmo durante a fala, uma infinidade de gotículas contendo bacilo viável é expelida. Vale frisar que, apesar da resposta imunológica exacerbada, não costuma haver adenopatia hilar ou mediastinal em adultos da mesma forma que nas crianças... QUADRO DE CONCEITOS V VIDEO_04_PNEU2 Estes pacientes funcionam como importantes fontes de infecção na comunidade. Ainda mais pelo fato de muitos apresentarem um quadro clínico oligossintomático e até mesmo assintomático, portanto, nem sequer suspeitando que estão com tuberculose ativa. A faixa etária entre 15-30 anos é a mais propensa a este tipo de tuberculose pulmonar. Aí vem uma pergunta: será que todos os casos de tuberculose pulmonar apical são pós-primários? A resposta é NÃO... Alguns indivíduos entre 15-30 anos podem desenvolver esta forma de tuberculose meses após a primoinfecção. O que acontece é simplesmente uma antecipação dos fenômenos descritos acima: primoinfecção – disseminação – latência – reativação nas regiões apicais pulmonares! TUBERCULOSE NO IDOSO Os idosos podem desenvolver a forma pós-primária apical, mas frequentemente apresentam uma forma semelhante à tuberculose primária progressiva, com infiltrados pneumônicos predominando nos lobos médio e inferior. Tal como os adultos e adolescentes, raramente existe adenopatia hilar e mediastinal. TUBERCULOSE NO IMUNODEPRIMIDO (AIDS) A tuberculose no paciente HIV positivo tem um espectro amplo, bastante dependente do grau de imunodepressão (estimado pela contagem de linfócitos CD4+). Quando o CD4+ encontra-se entre 350-500/mm3, a tuberculose assume um padrão cavitário, semelhante ao da tuberculose pós-primária do adulto. Quando o CD4 está abaixo de 350/mm3, a tuberculose assume uma tendência exsudativa, acometendo grandes áreas pulmonares, predominando nos lobos inferiores. Nos casos de imunodepressão extrema, o padrão se caracteriza por uma reação inflamatória inespecífica, contendo neutrófilos, linfócitos e macrófagos, juntamente a um grande número de bacilos. Este tipo de lesão tuberculosa chama-se “não reativa”. Na aids, o histopatológico demonstra áreas granulomatosas e exsudativas lado a lado a áreas de lesão não reativa. Não tratados, estes pacientes evoluem rapidamente para óbito. Vale lembrar que a imunodepressão também predispõe à tuberculose miliar. TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR A tuberculose extrapulmonar pode afetar qualquer órgãoe sistema, porém os mais acometidos são: pleura, linfonodos, ossos, articulações, meninges, cérebro, rins, genitália interna, pericárdio, peritônio e intestino. A patogênese da tuberculose extrapulmonar varia conforme FIGURA 12. Fig. 12: Tuberculose pós-primária. Forma cavitária. A tuberculose pulmonar pós-primária do adulto tem grande tendência a assumir um padrão cavitário e, por isso, é uma forma altamente contagiosa de tuberculose. ● Repare, por analogia, que as crianças, por tenderem a evoluir com a forma não cavitária de tuberculose, têm, em geral, pouca importância na transmissão da doença. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech o órgão acometido. A tuberculose pleural vem da progressão de um foco pulmonar subpleural, lançando uma pequena quantidade de bacilos no espaço pleural. Isso leva a uma reação inflamatória exsudativa e ao derrame pleural unilateral. A infecção pericárdica tem patogênese semelhante. As meninges geralmente são afetadas durante a disseminação linfo-hematogênica, quando o bacilo penetra no espaço liquórico através dos plexos coroides nos ventrículos cerebrais. A tuberculose óssea, articular, renal e genital são formas pós-primárias da doença. Os focos latentes instalados no momento da primoinfecção são reativados, causando cada uma dessas formas específicas de tuberculose. A patogênese da tuberculose extrapulmonar será revista adiante em um capítulo específico. PROVA TUBERCULÍNICA (PT) OU “PPD” A prova tuberculínica (teste de Mantoux), também chamada de “PPD”, identifica os indivíduos infectados pelo bacilo de Koch, seja “infecção latente” (ILTB) ou “infecção-doença” (TB). Na realidade, o PPD (tuberculina ) é uma fração proteica purificada a partir da cultura de BK (PPD = Purified Protein Derivative), que contém os principais antígenos do M. tuberculosis. Pessoas infectadas pelo BK desenvolvem, após 2-10 semanas, uma memória imunológica pela seleção de linfócitos T helper (CD4+) específicos contra o BK. A partir desse momento, ao injetarmos o PPD na derme do paciente, surge uma lesão indurada e eritematosa cerca de 48-72h após a injeção O que aconteceu? Os linfócitos T helper específicos contra o BK determinaram uma reação tipo IV (hipersensibilidade tardia) naquele local. A prova tuberculínica é feita com a administração intradérmica de 2 UT (“Unidades Tuberculínicas”) no 1/3 médio da face anterior do antebraço esquerdo, equivalente a 0,1 ml da solução padrão utilizada no Brasil (PPD-RT 23). A leitura é feita 48-72h após (podendo estender o prazo até 96h, caso o paciente não compareça na data marcada) medindo-se o tamanho da induração, e não do eritema! Antigamente, o resultado era expresso como não reator, fraco-reator ou forte-reator, mas essa classificação foi abandonada... Agora,o ponto de corte para a interpretação do teste varia em função da população estudada e seu respectivo risco de adoecimento. A PT é empregada na prática para o diagnóstico de infecção latente (ILTB) em adultos, e ILTB/infecção ativa em crianças. Existem casos de PT “falso-positiva” e “falso-negativa”. Observe a a seguir. * Principalmente se a vacina foi tomada após o 1º ano de vida (quando a reação é mais intensa e duradoura). No Brasil, ela geralmente é dada nos primeiros DIAS de vida... Mesmo assim, após dez anos, a influência da BCG sobre o resultado da PT tende a ser mínima. IGRA (ENSAIO DE LIBERAÇÃO DE INTERFERON GAMA) O IGRA é um novo teste laboratorial que pode ser usado para o diagnóstico de Infecção Latente por Tuberculose (ILTB) em pacientes assintomáticos, isto é, o paciente possui o bacilo em seu corpo, mas não desenvolveu a doença. Trata-se de metodologia altamente específica (> 95% de especificidade), cujo resultado NÃO é falseado pelo uso da vacina BCG (quer dizer, uso recente de BCG não produz IGRA “falso-positivo”). Em poucas palavras, a técnica consiste no seguinte: o sangue do paciente é coletado e exposto a antígenos do M. tuberculosis, medindo- se a produção de IFN-gama pelos linfócitos presentes na amostra. (FIGURA 13)... Fig. 13: Prova tuberculínica: observe a medida da induração (20 mm). TABELA PT falso-positiva PT falso-negativa ● Infecção por outras micobac térias. ● Vacinação recente com BCG*. Questões técnicas: Má conser vação do frasco, contami nação, dose incorreta, erro de leitura. Questões bioló gicas: TB grave (meníngea) ou disseminada (miliar), imuno- depressão (aids, corticoides, imunossu pressores, quimioterapia), outras infecções graves (virais, bacterianas ou fúngicas), neoplasia (linfopro liferativa, cabeça e pescoço), vacinação com vírus vivo nos últimos 15 dias, desnutrição, desidra tação grave, diabetes mellitus, IRC, insuficiência hepática, gravidez, idade < 3 meses ou > 65 anos, febre durante o período de feitura da PT, luz ultravioleta e linfogra nulomatoses benignas ou malignas. Para realização do IGRA são utilizadas sequências proteicas purificadas altamente específicas do M. tuberculosis, não encontradas no BCG ou em qualquer outra micobactéria. Logo, a especificidade de um teste positivo é de virtualmente 100%. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Apenas linfócitos previamente selecionados para reagir contra o M. tuberculosis secretam IFN-gama em grande quantidade! Assim, somente os indivíduos que já tiveram contato prévio com o BK apresentam maior secreção de INF-gama, isto é, um “IGRA positivo”. O ponto de corte para o exame ser considerado positivo varia conforme o kit específico. Cap. 2 TUBERCULOSE PULMONAR CLÍNICA, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E PROFILAXIA APRESENTAÇÃO CLINICORRA DIOLÓGICA Aqui descreveremos as manifestações clínicas, laboratoriais e radiológicas da tuberculose pulmonar, classificando-as nos seguintes tipos: (1) tuberculose primária; (2) tuberculose pós-primária; (3) tuberculose primária do adulto; e (4) tuberculose na aids. TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA ● Tuberculose pulmonar primária: o paciente se infectou há menos de três anos. ● Quase sempre uma doença autolimitada. ● Faixa etária mais comum: crianças. O quadro clínico clássico da tuberculose pulmonar primária é encontrado principalmente nas crianças recém-infectadas, predominando naquelas com idade < 4 anos. Este grupo possui forte predisposição à adenopatia hilar e mediastinal. Os sintomas acompanham os achados radiológicos, aparecendo, geralmente, logo após a viragem tuberculínica, isto é, entre 2-10 semanas após a primoinfecção. O quadro clínico da tuberculose pulmonar primária pode ser comparado ao de uma pneumonia atípica... Os sintomas mais frequentes são febre baixa (38-39ºC) e tosse seca. Em muitos casos, o quadro é confundido com o de uma “gripe” prolongada (apesar de não haver sintomas do tipo coriza/sinusite/cefaleia), não motivando atendimento médico. Mesmo sem tratamento, a síndrome febril da tuberculose primária dura em média 14-21 dias, podendo chegar até 2- 3 meses. O estado geral costuma estar preservado; outros sintomas, como fadiga e dor torácica são incomuns. A dor pleurítica sugere pleurite tuberculosa, um evento relativamente comum no contexto da tuberculose primária em adultos. O tema “tuberculose pleural” será abordado com mais detalhes adiante. A ativação do sistema imunológico na tuberculose primária pode levar, numa minoria de pacientes (< 5% dos casos), a três tipos de reação a distância: eritema nodoso, conjuntivite flictenular e uma síndrome poliarticular (artrite/artralgia). O eritema nodoso é uma vasculite subcutânea, apresentando-se como múltiplos nódulos dolorosos com superfície eritematosa, de predomínio na superfície extensora dos membros. Todas essas reações tendem a ser autolimitadas. Apesar de o quadro clínico ser inespecífico, os achados radiológicos são extremamente sugestivos! O exame radiológico revela tipicamente uma adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral ao foco primário. Este foco se localiza mais comumente no lobo médio (pulmão direito), mas pode ser descritoem qualquer segmento pulmonar (30% no lobo inferior e 10% no lobo superior). No local do foco, a radiografia geralmente mostra um pequeno infiltrado que pode eventualmente ser nodular (nódulo de Ghon). Aqui vale ressaltar: a tuberculose primária é a causa mais comum de adenopatia hilar/mediastinal unilateral em crianças! A adenopatia pode ser bilateral em 15% dos casos, confundindo o diagnóstico com outras patologias, como a sarcoidose. (FIGURA 1), Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Os achados radiológicos da tuberculose pulmonar primária tendem a desaparecer ao longo de seis meses a um ano, mesmo sem tratamento específico. O foco primário regride, muitas vezes deixando uma “marca” ou “cicatriz”, representada por um nódulo pequeno, geralmente calcificado – o “tuberculoma”. Este nódulo poderá ser visto na radiografia de tórax para o resto da vida... Futuramente, poderá ser considerado no diagnóstico diferencial dos nódulos pulmonares solitários. COMPLICAÇÕES DA TB PULMONAR PRIMÁRIA A ocorrência de outros sintomas está na dependência de eventuais complicações do quadro pulmonar. Vejamos: ● Atelectasia, devido à compressão de um brônquio pela adenopatia hilar – ; ● Pneumonia tuberculosa, devido à ruptura de um linfonodo infectado para dentro de um brônquio – ; ● Evolução para a forma linfo-hematogênica (miliar), mais comum em crianças < 2 anos não vacinadas pelo BCG; ● Evolução para a forma primária progressiva. O local mais comum de atelectasia é o lobo superior direito. O aumento dos linfonodos hilares pode comprimir o brônquio lobar ou provocar edema em sua parede, levando à obstrução total de seu lúmen. A tendência é a reversão espontânea da atelectasia, à medida que a adenopatia e o edema brônquico se reduzem naturalmente. A pneumonia tuberculosa é decorrente da inoculação alveolar de uma grande quantidade de bacilos (uma “chuva de bacilos”), provenientes de um linfonodo hilar infectado que fistuliza para o brônquio. Forma- se um exsudato mononuclear com áreas de necrose caseosa, ocupando os alvéolos. O quadro radiológico pode ser comparado ao de uma pneumonia bacteriana pneumocócica. A tuberculose primária progressiva ocorre principalmente nas crianças desnutridas e nos indivíduos HIV positivos. Nestes pacientes, o foco primário evolui para um infiltrado broncopneumônico progressivamente maior, capaz de cavitar e disseminar o bacilo para outros segmentos pulmonares, do mesmo lado ou contralaterais O quadro é o de uma pneumonia multilobar necrosante, de curso arrastado e sem resposta aos antibióticos convencionais. Fig. 1 FIGURA 2 FIGURA 3 Fig. 2: Atelectasia na TB pulmonar primária. No primeiro radiograma, observamos uma imagem típica de TB primária – infiltrado pulmonar mais adenopatia hilar satélite. O aumento destes linfonodos comprimiu o brônquio lobar superior direito, gerando uma atelectasia. Fig. 3: Pneumonia tuberculosa. Nesta peça de autópsia, observa-se o aumento importante do linfonodo hilar esquerdo. Sua ruptura lançou uma grande quantidade de bacilos nos alvéolos do lobo inferior, levando à formação de uma pneumonia tuberculosa lobar. (FIGURA 4). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA ● A tuberculose pós-primária é a forma crônica de tuberculose pulmonar. ● É típica de indivíduos entre 15-40 anos. ● É a forma responsável pela transmissão da doença na população. Esta forma de tuberculose ocorre em pacientes infectados há mais de três anos (geralmente há mais de cinco anos) e que, portanto, já desenvolveram a “memória imunológica” contra o bacilo. São PPD positivos há bastante tempo... Por razões pouco conhecidas, um ou mais focos bacilares hematogênicos localizados no interstício pulmonar são reativados (focos de Simon). Outras vezes, o paciente é reinfectado (uma nova carga de bacilos). Geralmente, o foco de reativação (ou de reinfecção) bacilar está localizado no segmento posterior do lobo superior ou, menos frequentemente, no segmento superior do lobo inferior (segmento 6) – áreas reconhecidamente de maior oxigenação alveolar, nas quais o bacilo se prolifera com mais facilidade. A resposta imunológica é imediata, porém “exagerada” e ineficaz... Macrófagos ativados, em conjunto com linfócitos T helper, reagem intensamente para formar o infiltrado granulomatoso evoluindo geralmente para necrose caseosa em seu interior. No cáseo semissólido o bacilo se prolifera pouco, mas logo ocorre liquefação do material, por ação de enzimas proteolíticas secretadas pelas células inflamatórias do granuloma. No cáseo liquefeito, o bacilo consegue se multiplicar em larga escala. Pela erosão da parede brônquica, o ar (rico em O2) penetra na lesão, criando a “caverna tuberculosa” – o meio ideal para a proliferação bacilar ( ). No interior desta cavidade existe mais de um milhão de bacilos por ml! Esses bacilos são expelidos com a fala, espirro ou tosse. Dizemos que o paciente é multibacilífero. Quais são os sinais e sintomas da tuberculose pulmonar pós-primária? O conceito fundamental é: a maioria desses pacientes é oligossintomática! A principal queixa é a tosse crônica, que pode ser seca, mucoide ou com expectoração purulenta, associada ou não a hemoptoicos. Esta tosse muitas vezes não é valorizada pelo paciente, que então não procura atendimento médico. Ao longo de vários meses, ele vai perdendo peso e muitos relatam febre vespertina (38-38,5ºC) e sudorese noturna. Quando o médico é procurado, a doença já evoluiu, e pior: o paciente já contaminou várias pessoas (uma média de quinze), geralmente crianças. Aí está o grande problema epidemiológico da tuberculose pulmonar bacilífera!!! Os exames laboratoriais podem revelar uma anemia leve, normocítica normocrômica (anemia de doença crônica), aumento importante da VHS, raramente uma leucocitose neutrofílica ou linfocítica (de até 15.000/mm3), monocitose ou monocitopenia, elevação de enzimas hepáticas e eventualmente hiponatremia por SIADH. A evolução do processo pulmonar é para disseminação broncogênica. Os bacilos que se proliferam na “caverna tuberculosa” são lançados na árvore brônquica, disseminando-se para qualquer lobo ou segmento pulmonar. Daí vão surgindo novos infiltrados, do mesmo lado ou contralaterais – e A “imagem em escada”, característica desta forma de tuberculose, é a presença de um infiltrado no lobo superior (onde se encontra a cavidade) e de um infiltrado no lobo inferior contralateral, por disseminação broncogênica. A presença de linfadenopatia hilar e/ou mediastinal NÃO é característica do quadro pós-primário, pelo menos nos pacientes HIV negativos. Fig. 4: TB pulmonar primária progressiva. O foco primário, em vez de seguir um rumo autolimitado, evoluiu para a formação de pneumonia extensa, com cavitação e disseminação broncogênica do bacilo. (FIGURA 5) FIGURA 6 Fig. 5: Infiltrado da TB pós-primária. Neste momento, a radiografia mostra um infiltrado misto, contendo, frequentemente, linhas que convergem para o hilo pulmonar. Fig. 6: “Caverna tuberculosa”. Poderia ser o mesmo paciente da Fig. 5, meses depois. Observe a grande área de cavitação no meio de uma condensação alveolar. FIGURA 7 FIGURA 8. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech COMPLICAÇÕES DA TB PULMONAR PÓS- PRIMÁRIA Ao contrário da tuberculose pulmonar primária, a forma pós- primária não é autolimitada. A doença tende a progredir lentamente, disseminando-se pelos pulmões. Na tentativa de resolver o processo tuberculoso, o sistema imunológico acaba ativando fibroblastos, causando fibrose parenquimatosa das áreas acometidas, especialmente o local onde está a lesão cavitária. A fibrose pulmonar provoca destruição irreversível da área afetada. Consequentemente, graves sequelas surgirão: retrações, bronquiectasias, cavidades com paredes fibrosadas (possíveis focos para o aspergiloma – fungus ball) e pulmão vicariante Quando a fibrose é extensa, o paciente evolui com dispneia e posteriormentecom cor pulmonale e insuficiência respiratória. Fig. 7: Tuberculose cavitária com disseminação broncogênica. Observe o infiltrado no lobo superior direito contendo uma cavitação (bem demonstrada na tomografia linear – figura menor). O infiltrado superior esquerdo deve-se à disseminação broncogênica. Fig. 8: Tuberculose cavitária com disseminação broncogênica. Há uma grande cavitação ocupando praticamente todo o lobo superior esquerdo. Os infiltrados pneumônicos no lobo inferior esquerdo e no pulmão direito devem-se à disseminação broncogênica. (FIGURA 9). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Os bacilos expelidos de uma cavidade infectada podem infectar a parede de um brônquio, levando à tuberculose endobrônquica, ou a própria laringe, causando a tuberculose laríngea. A primeira pode justificar o encontro de lesões infiltrativas na broncoscopia e pode acarretar complicações como estenose brônquica (com atelectasia), broncorreia (> 500 ml/dia de expectoração) e/ou hemoptise. O comprometimento laríngeo manifesta-se como rouquidão, e a lesão pode ser confundida com neoplasia ao ser visualizada na laringoscopia. Apesar do escarro hemoptoico (raias de sangue) ser frequentemente notado, franca hemoptise não é comum... Quando ocorre, deve-se à corrosão de vasos pulmonares ou brônquicos que passam na parede da “caverna tuberculosa”. O chamado aneurisma de Rasmussen é descrito como uma erosão da adventícia e média do segmento de uma artéria brônquica que se dilata para o interior da cavidade. A hemoptise também pode ser decorrente do aspergiloma, instalado em uma cavidade fibrosada inativa. A “caverna tuberculosa” pode se estender para a pleura, com risco de se formar uma fístula broncopleural. A consequência imediata é o pneumotórax. Neste caso, um número absurdamente alto de bacilos pode atingir o espaço pleural, culminando num empiema tuberculoso. O aspecto radiológico é o de um hidropneumotórax Se não for tratado com drenagem precoce, o empiema tuberculoso pode deixar as mesmas sequelas que um empiema pleural bacteriano (encarceramento pulmonar). Façamos um resumo das alterações radiológicas típicas da tuberculose pulmonar pós-primária. ● Fase inicial: infiltrado pulmonar misto com imagens lineares convergindo para o hilo – ● Fase cavitária: infiltrado pulmonar com cavitação – . ● Fase cavitária com disseminação broncogênica: presença de novos infiltrados – e ● Fase avançada: fibrose pulmonar (retração do parênquima) – Fig. 9: Tuberculose com fibrose pulmonar. Observe a cavitação no lobo superior direito, a fibrose pulmonar extensa no mesmo lado e o pulmão esquerdo vicariante (hiperinsuflação compensatória). (FIGURA 10). Fig. 10 FIGURA 5. FIGURA 6 FIGURA 7 FIGURA 8. FIGURA 9. Fig. 5: Infiltrado da TB pós-primária. Neste momento, a radiografia mostra um infiltrado misto, contendo, frequentemente, linhas que convergem para o hilo pulmonar. Fig. 6: “Caverna tuberculosa”. Poderia ser o mesmo paciente da Fig. 5, meses depois. Observe a grande área de cavitação no meio de uma condensação alveolar. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech A TC de tórax pode ajudar nos casos de tuberculose pulmonar pós- primária incipiente, quando a radiografia de tórax pode ser considerada normal. Veja na TC abaixo a presença de nódulos esparsos e imagens de infiltrado do tipo “brotos de árvore” ou “brotamento”, característicos da doença – Fig. 7: Tuberculose cavitária com disseminação broncogênica. Observe o infiltrado no lobo superior direito contendo uma cavitação (bem demonstrada na tomografia linear – figura menor). O infiltrado superior esquerdo deve-se à disseminação broncogênica. Fig. 8: Tuberculose cavitária com disseminação broncogênica. Há uma grande cavitação ocupando praticamente todo o lobo superior esquerdo. Os infiltrados pneumônicos no lobo inferior esquerdo e no pulmão direito devem-se à disseminação broncogênica. Fig. 9: Tuberculose com fibrose pulmonar. Observe a cavitação no lobo superior direito, a fibrose pulmonar extensa no mesmo lado e o pulmão esquerdo vicariante (hiperinsuflação compensatória). FIGURA 11. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech TUBERCULOSE PRIMÁRIA DO ADULTO Quando um adulto desenvolve a forma primária da doença, pode seguir um curso semelhante ao da infância, porém com uma importante diferença: na maioria das vezes, não há adenopatia hilar e/ou mediastinal (a não ser no paciente HIV positivo). O adulto é mais propenso à tuberculose pleural primária do que à tuberculose pulmonar primária. Todavia, pacientes diabéticos, gastrectomizados, desnutridos ou HIV positivos possuem uma chance maior de adoecer após a primoinfecção! Eles podem se apresentar como uma pneumonia atípica, com pequeno infiltrado unilateral ou com uma forma primária progressiva (broncopneumonia tuberculosa). Às vezes, após a primoinfecção, o adulto desenvolve a forma apical semelhante à tuberculose pós-primária. Nestes casos, é provável que o foco primário tenha sido controlado, mas o período de latência foi curto, havendo uma reativação precoce do foco intersticial no lobo superior. TUBERCULOSE NA AIDS O paciente HIV positivo tem uma chance aumentada de desenvolver tuberculose-doença (risco 30 vezes maior que o imunocompetente). O mecanismo pode ser a reativação, reinfecção ou infecção primária (viragem tuberculínica). Quando o CD4 está acima de 200 células/mm3, a tuberculose pulmonar tende a se apresentar de forma semelhante à tuberculose do imunocompetente, com a forma cavitária predominando no adulto. Na imunodepressão grave, isto é, CD4 < 200 céls/mm³, a tuberculose pulmonar possui um quadro clinicorradiológico atípico! Neste grau de imunodepressão podemos encontrar alterações semelhantes as da pneumocistose, como um infiltrado intersticial difuso. Derrame pleural e adenopatia hilar/mediastinal também passam a ser mais frequentes... Os linfonodos são facilmente reconhecidos na TC pela sua típica captação periférica de contraste e atenuação da densidade no centro. Um estudo constatou os seguintes padrões radiológicos na TB pulmonar de pacientes HIV+, independentemente do CD4: (1) padrão de TB pulmonar primária – 36%; (2) padrão de TB pulmonar pós- primária ou apical – 30%; (3) padrão pneumocistose-símile – 14%; (4) radiografia de tórax normal – 13%; (5) padrão miliar – 4%. Quando suspeitar de tuberculose pulmonar? Estratégia para interromper a cadeia de transmissão As medidas de saúde pública de maior impacto para o controle da TB na população são a detecção precoce dos casos bacilíferos e seu tratamento adequado. Bacilíferos são os pacientes que apresentam baciloscopia do escarro positiva, o que só ocorre em TB das vias aéreas, isto é, pulmonar e/ou laríngea (formas exclusivamente extrapulmonares não transmitem a doença). No geral, cerca de 90% dos casos de TB são pulmonares, e 60% destes são bacilíferos. Sabe-se que eles contaminam, em média, 10-15 pessoas por ano!!! Portadores de TB pulmonar com baciloscopia negativa, porém cultura do escarro positiva, são disseminadores menos eficientes da doença, mas a transmissão também ocorre. Por este motivo, recomenda-se que serviços de saúde em todos os níveis (primário, secundário e terciário), públicos ou privados, sejam estruturados para a realização permanente de busca ativa de Sintomáticos Respiratórios (SR), isto é, os médicos SEMPRE devem investigar a presença de tosse (qualquer que seja o motivo da consulta) e solicitar exame do escarro nos indivíduos SR! SR é todo indivíduo com tosse por tempo ≥ 3 semanas. Em populações com maior vulnerabilidade para TB, a definição muda... Por exemplo: diabéticos serão considerados SR quando apresentarem tosse por ≥ 2 semanas. Já os profissionais de saúde, portadores do HIV, indígenas, presidiários, imigrantes e moradores de rua são considerados SR com tosse de qualquer duração! Observe alguns exemplos práticos do que vem a ser a “busca ativa” de SR: (1) visita domiciliardo agente comunitário de saúde – faz parte dos formulários perguntar se algum morador tem tosse; (2) internação em hospital geral, por qualquer motivo – avaliar se o paciente é SR na anamnese de admissão, caso positivo, colocá-lo em isolamento respiratório até o resultado dos exames de escarro; (3) sistema carcerário e unidades de longa permanência (asilos, hospitais psiquiátricos, albergues para população de rua) – avaliar SR na admissão e de maneira periódica. Vale lembrar que nem sempre o SR terá tuberculose... Estima-se que a cada 100 SR avaliados, apenas 3 ou 4 sejam bacilíferos. O SUS deve se organizar para avaliar e tratar os SR não portadores de TB (outras infecções ou doenças crônicas como asma e DPOC) através da rede de referência e contrarreferência. A estratégia que traça a estrutura de atendimento aos SR não TB é chamada pela OMS de PAL (Practical Approach to Lung Health). VIDEO_05_PNEU2 DIAGNÓSTICO PACIENTE ADULTO (TB PÓS-PRIMÁRIA) Fig. 11 Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Formalmente, a confirmação diagnóstica de tuberculose REQUER a demonstração da presença do BK no corpo do paciente. Por conseguinte, apenas três métodos são capazes de confirmar em definitivo o diagnóstico: (1) teste rápido molecular; (2) baciloscopia; e (3) cultura. Não obstante, existe a possibilidade de considerarmos o diagnóstico de TB – e iniciarmos o tratamento – mesmo sem confirmação micobacteriológica. É o que se chama de diagnóstico clinicoepidemiológico, definido como a situação em que um paciente adulto com quadro clínico típico, no contexto epidemiológico apropriado, por qualquer motivo, não puder comprovar por meio de exames laboratoriais a presença do BK... Em tal cenário, é preciso que outros testes corroborem a impressão inicial, por exemplo: exames de imagem, histopatológico, etc. A base racional do diagnóstico clinicoepidemiológico é: “Tem cara de TB e só pode ser TB, mas não conseguimos (por qualquer motivo) confirmar formalmente o diagnóstico, nem tampouco outro diagnóstico pode ser estabelecido. Como se trata de doença transmissível de grande impacto na saúde pública, o correto, nesta situação peculiar, é iniciar o tratamento e observar a resposta clínica. O diagnóstico só vai ser posto em xeque (e o tratamento interrompido) se não houver qualquer melhora com o uso de tuberculostáticos... Uma resposta clínica adequada será apenas mais um elemento a fortalecer o diagnóstico clinicoepidemiológico”. Faremos agora uma breve descrição de cada um dos três métodos confirmatórios citados. Em seguida, veremos as estratégias recomendadas para a sua utilização na prática. TESTE RÁPIDO MOLECULAR (TRM-TB) O TRM-TB é um teste de amplificação gênica que utiliza a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR). Ele detecta especificamente a presença de DNA do M. tuberculosis (e não de outras micobactérias), ao mesmo tempo em que sinaliza a existência de genes que conferem resistência à rifampicina... Seu resultado fica pronto em duas horas, com sensibilidade de 90% e especificidade de 99%. Atualmente, no Brasil, o TRM-TB representa o método de escolha para a pesquisa de tuberculose pulmonar ou laríngea em adultos e adolescentes! Diante da suspeita de TB pulmonar ou laríngea, o teste pode ser feito em uma única amostra de escarro. Cumpre ressaltar que o TRM-TB ainda não está disponível em algumas localidades... A implantação da “Rede de Teste Rápido para Tuberculose”, que possibilitará sua realização em todas as unidades do SUS, teve início em julho de 2014 e ainda não terminou. O TRM-TB detecta o DNA de micobactérias vivas ou mortas. Logo, ele NÃO SERVE para acompanhar a resposta ao tratamento, uma vez que a persistência de sua positividade não necessariamente significa falha terapêutica (podemos detectar o DNA de micobactérias mortas, mesmo com tratamento eficaz)... O acompanhamento da resposta terapêutica deve ser feito com baciloscopias mensais (ver adiante). Atenção: mais de 80% dos BK resistentes à rifampicina TAMBÉM são resistentes à isoniazida. A resistência a essas duas drogas caracteriza a TB-MDR (multirresistente) – ver adiante. BACILOSCOPIA A baciloscopia consiste na pesquisa direta do bacilo de Koch através do exame microscópico. O método de Ziehl-Neelsen é a técnica de coloração mais utilizada. Quando o material analisado for o escarro, devem ser coletadas duas amostras em momentos distintos (uma na consulta, e a outra na manhã do dia seguinte). Se estivermos diante de um paciente com fortes indícios clínicos e radiológicos de TB pulmonar, porém as duas amostras de escarro forem negativas, pode-se repetir a baciloscopia conforme avaliação individual. A baciloscopia também pode ser empregada em materiais biológicos que não o escarro (ex.: outros fluidos orgânicos, tecido de biópsia ou peça cirúrgica). É importante compreender que, nestes casos, a sensibilidade é sempre mais baixa, sendo obrigatória a realização conjunta de cultura para BK... Como no paciente com suspeita de TB extrapulmonar devemos considerar a possibilidade de TB pulmonar associada, além de baciloscopia + cultura do material biológico em questão, é preciso solicitar também duas amostras de escarro conforme anteriormente descrito. Uma baciloscopia positiva em qualquer amostra indica tuberculose ativa. A baciloscopia é o exame de escolha para acompanhar a resposta terapêutica na TB pulmonar bacilífera, uma vez que sua negativação representa o parâmetro mais confiável para demonstrar a eficácia do tratamento. Observe na o padrão de registro dos resultados da baciloscopia do ESCARRO. Ressalte-se que, em se tratando de outros materiais biológicos, o registro é mais simples (presença de qualquer quantidade de bacilos = exame positivo). Tab. 1 TABELA 1 BAAR por campo Resultado Nenhum BAAR em 100 campos Negativo Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech *Com 1 a 9 BAAR por campo em 100 campos observados define-se a amostra como PAUCIBACILAR. CULTURA + TSA A cultura para BK possui elevada sensibilidade e especificidade, podendo ser realizada em meios sólidos ou líquidos. Os mais utilizados são os meios sólidos a base de ovo, como o Löwenstein-Jensen e o Ogawa-Kudoh. As principais vantagens desses meios são o baixo custo e a menor chance de contaminação, sendo sua grande desvantagem a demora para o crescimento micobacteriano (14 a 30 dias, podendo se estender até 60 dias). Os meios líquidos permitem incubação em sistemas automatizados, e têm como vantagem um resultado mais rápido (5 a 12 dias, podendo se estender até 42 dias). Seu custo, no entanto, é bem mais elevado... Com a cultura positiva, a identificação da espécie deve ser feita por técnicas bioquímicas, fenotípicas e/ou moleculares. Toda cultura positiva deve ser submetida ao TSA (Teste de Sensibilidade Antimicrobiana). Por padrão, os fármacos inicialmente testados são: rifampicina, isoniazida, pirazinamida, etambutol e estreptomicina. Se alguma resistência for encontrada, a amostra deverá ser enviada a um laboratório de referência para testagens adicionais, com pesquisa de sensibilidade às drogas de segunda linha, como canamicina, amicacina, capreomicina e ofloxacina. O TSA pode ser realizado em meio sólido ou líquido. ESTRATÉGIAS PARA A CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA DE TUBERCULOSE Como vimos, sempre que o TRM-TB estiver disponível, ele deverá ser solicitado perante a suspeita de tuberculose. Em se tratando de TB pulmonar ou laríngea, uma única amostra de escarro basta. Ademais, existem situações onde – além do TRM-TB – a cultura com teste de sensibilidade (TSA) também deve ser solicitada, independentemente do resultado do teste molecular... Tratam-se dos indivíduos que pertencem aos grupos de maior vulnerabilidade, isto é, os que têm – estatisticamente – maior chance de apresentar a doença ( ). Tab. 2 Duas definições são importantes neste momento: ● Caso novo = o paciente nunca recebeu tratamento anti-TB, ou o fez por < 30 dias. ●Retratamento = o paciente é uma recidiva (após cura confirmada ou tratamento completo), ou então um reingresso após abandono, tendo deixado de tratar a TB por período > 30 dias consecutivos. Observe na a estratégia diagnóstica que deve ser seguida na suspeita de CASO NOVO de tuberculose. Perceba que cultura + TSA sempre estarão indicados se a tuberculose for confirmada! Agora, observe na a estratégia diagnóstica que deve ser seguida nos casos de RETRATAMENTO. Perceba que todo possível 1 a 9 BAAR por campo em 100 campos* Citar a quantidade de bacilos vistos 10 a 99 BAAR por campo em 100 campos + 1 a 10 BAAR por campo em 50 campos ++ Acima de 10 BAAR por campo nos primeiros 20 campos observados +++ SAIBA MAIS... O sistema automatizado utiliza os princípios da radiometria... No BACTEC-460, o material é semeado em meio líquido (Midlebrook 7H-12A ou 7H-12B), ao qual se adiciona ácido palmítico marcado com C14. O BK metaboliza esta substância, convertendo-a em CO2 radioativo. A detecção de aumento da radioatividade no espaço aéreo da garrafa sinaliza positividade. TABELA 2 Grupos de maior vulnerabilidade para Tuberculose no Brasil Índios Presidiários Portadores do HIV/aids População de rua Profissionais de saúde Contatos de TB multirresistente TABELA 3 TABELA 4 Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech retratamento deve coletar, após suspeita diagnóstica, os três exames confirmatórios ao mesmo tempo: TRM-TB, baciloscopia e cultura. Um TRM-TB positivo no retratamento não necessariamente indica tuberculose ativa, já que tal resultado poderia ser explicado pela detecção do DNA de micobactérias mortas... Logo, a confirmação do diagnóstico de TB nos casos de retratamento só pode ser feita através de baciloscopia e/ou cultura! Contudo, ainda assim o TRM-TB deve ser solicitado, pelo seguinte motivo: este exame pode nos dizer de forma rápida, nos casos com baciloscopia positiva, se existe ou não resistência à rifampicina... Caso o TRM-TB não esteja disponível, a conduta preconizada passa a ser a realização de baciloscopia, lembrando que para a TB pulmonar é necessário analisar duas amostras de escarro obtidas em dias consecutivos. Nesta situação a cultura é obrigatória, independentemente do resultado das baciloscopias. OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES Radiografia de tórax – O exame radiológico é auxiliar no diagnóstico de tuberculose, justificando sua solicitação rotineira em todos os casos suspeitos! Nestes pacientes, detecta imagens sugestivas de tuberculose, sendo indispensável a realização do exame bacteriológico para diagnóstico definitivo, já que não existem achados patognomônicos de tuberculose na radiografia... O exame radiológico em pacientes com baciloscopia positiva (diagnóstico já confirmado) tem como função primordial a exclusão de doenças pulmonares associadas, que necessitem de tratamento concomitante, além de permitir avaliar a evolução radiológica, sobretudo na ausência de resposta ao tratamento. De acordo com o Ministério de Saúde, os resultados dos exames radiológicos do tórax devem obedecer à seguinte classificação: ● Normal – Não apresentam imagens patológicas nos campos pulmonares; ● Sequela – Apresentam imagens sugestivas de lesões cicatriciais; ● Suspeito – Apresentam imagens sugestivas de tuberculose em atividade (opacidades ou infiltrados radiológicos, nódulos, cavidades, fibroses, retrações, linfonodomegalia, calcificações ou aspecto miliar); ● Outras doenças – Apresentam imagens sugestivas de pneumopatia não tuberculosa. Tomografia computadorizada do tórax – A TC de alta resolução detecta a doença em casos onde o raio X simples apresenta resultados imprecisos, por alterações parenquimatosas mínimas ou por não permitir a distinção entre lesões antigas e lesões de tuberculose ativa (ex.: cavidades de paredes finas x paredes espessas; nódulos calcificados x nódulos com densidade de partes moles, respectivamente). No entanto, é método de maior custo e menor oferta, restrito aos centros de referência. Deve ser usado de forma individualizada, levando em consideração os recursos disponíveis e o custo-benefício, especialmente nos casos com baciloscopia negativa que exigem diferenciação com outras doenças. Broncoscopia – A broncoscopia e os procedimentos a ela associados, como lavado brônquico, lavado broncoalveolar, escovado brônquico, biópsia brônquica, biópsia transbrônquica e punção aspirativa com agulha, podem ser úteis no diagnóstico da tuberculose nas seguintes situações: ● Formas com exames micobacteriológicos iniciais negativos; ● Suspeita de outra doença pulmonar que não a tuberculose; ● Presença de doença que acometa difusamente o parênquima pulmonar (ex.: TB miliar); ● Suspeita de tuberculose endobrônquica; ● Pacientes imunodeprimidos, particularmente os infectados pelo HIV (maior risco de formas não cavitárias e, portanto, menor positividade do escarro). Histopatologia – A análise tecidual é indicada no diagnóstico de tuberculose extrapulmonar, assim como no diagnóstico de tuberculose pulmonar difusa (TB miliar). O achado de granulomas caseosos é altamente sugestivo de TB, porém é importante ter em mente que eles NÃO são patognomônicos desta condição... Além do estudo histopatológico em si, também podemos demonstrar a presença ou não do bacilo de Koch através do emprego da baciloscopia, cultura e/ou TRM-TB no material coletado. Dosagem de ADA – A ADA (adenosina deaminase) é uma enzima secretada por linfócitos e macrófagos ativados. Quando em níveis aumentados no líquido pleural (> 40 U/L), possui elevado valor preditivo positivo para tuberculose, permitindo a confirmação diagnóstica mesmo sem demonstração direta da presença do BK (ou seja, trata-se de importante elemento na composição do diagnóstico “clinicoepidemiológico” de TB pleural). A ADA também tem sido aceita no diagnóstico de TB pericárdica, peritoneal, articular (sinovial) Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech ou mesmo do SNC (liquor). O fato é que o encontro de níveis normais de ADA em todos esses líquidos possui elevado valor preditivo negativo, afastando a possibilidade de tuberculose. Exames para HIV – A coinfecção TB-HIV possui efeito sinergístico, agravando o curso clínico de ambas as doenças! Dada a elevada prevalência de coinfecção, e considerando que o tratamento antirretroviral afeta favoravelmente o prognóstico, a realização de testes para detecção do HIV é atualmente OBRIGATÓRIA em todo paciente que recebe o diagnóstico de tuberculose! O método de escolha deve ser o teste rápido para HIV. PACIENTE PEDIÁTRICO (< 10 ANOS DE IDADE): COMO DIAGNOSTICAR TB PRIMÁRIA NA CRIANÇA? A criança com TB primária é tipicamente paucibacilar e, portanto, o estudo do escarro (quando possível a sua coleta) costuma ser negativo, mesmo com a utilização do TRM-TB, que é menos sensível nesta população. Desse modo, o diagnóstico em crianças < 10 anos pode ser CONFIRMADO por uma análise conjunta de critérios clínicos, radiológicos e pela PT. Existe uma escala de pontos validada com este intuito, cuja interpretação é a seguinte: ≥ 40 pontos (diagnóstico muito provável) = o tratamento deve ser iniciado; 30-35 pontos (diagnóstico possível) = o tratamento pode ou não ser iniciado a critério médico; < 30-25 pontos (diagnóstico pouco provável) = a investigação deve prosseguir, podendo-se partir para exames mais complexos como a broncofibroscopia. Observe a . Tab. 5 Em crianças pequenas que têm dificuldade para expectorar (geralmente < 6 anos), a cultura do lavado gástrico, realizado de manhã bem cedo (aproveitando o material acumulado no estômago pela deglutição do escarro), pode ser utilizada para o estudo micobacteriológico. Tal exame pode ser feito ambulatorialmente ou com a criança internada, dependendo das condições locais para sua realização. O ideal é que sejam obtidas duas amostras em dias consecutivos. TB NEONATAL A TB neonatal pode ser congênita, adquirida in utero, ou logoapós o nascimento, pela exposição a um adulto bacilífero. A TB congênita é rara e gravíssima (geralmente uma TB miliar disseminada), com letalidade > 50% a despeito do tratamento. Mais da metade dos partos são prematuros. A infecção in utero pode se dar por disseminação hematogênica ou por infecção tuberculosa do útero ou canal vaginal (nestes casos, o RN adquire o BK ao ingerir líquido amniótico e/ou secreções vaginais). Toda gestação com diagnóstico de TB em atividade no momento do parto deve ter a placenta biopsiada e submetida à cultura para BK após o parto. A conduta frente à exposição do RN a um adulto bacilífero será vista adiante (“quimioprofilaxia primária” em “controle de contatos”). Uma forma incomum de aquisição após o nascimento é através da ingesta de leite materno ou colostro nas mães portadoras de mastite tuberculosa. ABORDAGEM TERAPÊUTICA INTRODUÇÃO TABELA 5 Escore de Pontos para Diagnóstico de TB Pulmonar Primária em Crianças que Não Expectoram ou Têm Escarro Negativo ● Febre ou sintomas como tosse, adinamia, expectoração, emagrecimento e sudorese por ≥ 2 semanas. ● Adenomegalia hilar ou padrão miliar e/ou condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) inalterado por duas semanas ou evoluindo com piora ou sem melhora com antibióticos para germes comuns. 15 pontos (cada item) ● Contato próximo com adulto bacilífero nos últimos dois anos. ● PT ≥ 10 mm. 10 pontos ● Condensação ou infiltrado de qualquer tipo por < 2 semanas. ● Desnutrição grave (peso < percentil 10). ● PT entre 5-9 mm. 5 pontos (cada item) ● RX de tórax normal. - 5 pontos ● Infecção respiratória com melhora após uso de antibióticos para germes comuns ou sem antibióticos. - 10 pontos ● Assintomático ou com sintomas há menos de duas semanas. ● Contato com adulto bacilífero ocasional ou negativo. ● Prova tuberculínica < 5 mm. ● Peso ≥ percentil 10. ZERO pontos Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech A proposta da OMS para o enfrentamento global da TB é a estratégia conhecida como TDO – Tratamento Diretamente Observado. O TDO se baseia em cinco princípios (resumidos abaixo) e tem como objetivo propiciar a adesão ao tratamento, reduzindo a chance de surgimento de resistência aos fármacos anti-TB e aumentando a probabilidade de cura. TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO (TDO) No Brasil, TODOS os casos de tuberculose devem ser submetidos ao TDO! O motivo é que não é possível predizer a adesão ao tratamento, mas o TDO comprovadamente aumenta a adesão... Consiste não apenas em observar a deglutição do medicamento, mas também, e fundamentalmente, na construção de um vínculo com o doente! Sempre que necessário outras ações deverão ser adotadas, como o uso de incentivos (ex.: lanche, auxílio-alimentação) e facilitadores (ex.: vale- transporte). O ideal é a observação diária, de segunda a sexta, feita pelo profissional de saúde na própria unidade de saúde. Contudo, esquemas alternativos (ex.: observação três vezes por semana, na unidade de saúde ou no domicílio do paciente) também são aceitáveis, desde que o doente e seus familiares compreendam a importância do uso diário da medicação e haja participação de lideranças comunitárias no processo. Foi documentado em estudos que, quando o TDO é feito exclusivamente por familiares, a chance de má adesão ao tratamento aumenta... Para ser considerado TDO o paciente deve ter, no mínimo, 24 doses observadas pelo profissional de saúde durante a fase intensiva do tratamento (dois primeiros meses), e 48 doses na fase de manutenção (meses subsequentes) – ver adiante. TERAPIA TUBERCULOSTÁTICA Os esquemas de tratamento atualmente preconizados para a tuberculose “sensível” são: ● Esquema básico (idade < 10 anos) – 2 RHZ/4 RH; ● Esquema básico (idade ≥ 10 anos) – 2 RHZE/4 RH; ● Esquema para meningoencefalite e TB osteoarticular (idade < 10 anos) – 2 RHZ/10 RH + corticoterapia (exceto na forma osteoarticular). ● Esquema para meningoencefalite e TB osteoarticular (idade ≥ 10 anos) – 2 RHZE/10 RH + corticoterapia (exceto na forma osteoarticular). Obs.: TB osteoarticular considerada de “baixa complexidade” pode receber tratamento por apenas seis meses (2 RHZE/4 RH), a critério clínico... Legenda: R = rifampicina; H = isoniazida; Z = pirazinamida; E = etambutol. A corticoterapia na meningoencefalite tuberculosa deve ser feita com prednisona oral 1-2 mg/kg/dia por quatro semanas, ou dexametasona intravenosa nos casos mais graves, 0,3-0,4 mg/kg/dia por 4-8 semanas, com desmame ao longo das quatro semanas subsequentes. Fisioterapia motora é mandatória em todos os casos, e deve ser iniciada sem demora. As indicações do esquema básico são: (1) casos novos de TB pulmonar ou extrapulmonar (exceto meningoencefalite e TB osteoarticular), infectados ou não pelo HIV; (2) retratamento (exceto meningoencefalite e TB osteoarticular). O esquema para meningoencefalite e TB osteoarticular está indicado para os casos novos e retratamentos destas formas específicas de TB extrapulmonar. Evidentemente, se um paciente com TB meningoencefálica ou osteoarticular apresentar tuberculose concomitante em outra localização, o tratamento deverá ser feito com o esquema mais longo... Como vimos, no retratamento o paciente deve coletar TRM-TB, baciloscopia e cultura antes de iniciar a terapia. Após o resultado desses exames ele deverá ser reavaliado quanto à adequação do esquema iniciado. Perceba que a principal diferença em relação à faixa etária está no acréscimo do ETAMBUTOL para os pacientes com idade ≥ 10 anos. Tal fármaco não deve ser feito em crianças com < 10 anos, pelo fato de acarretar maior toxicidade ocular neste subgrupo! Em relação à duração, o esquema básico (indicado para todas as formas de TB, exceto a meningoencefálica e a osteoarticular) deve ser feito por seis meses, ao passo que o esquema para TB meningoencefálica e a osteoarticular deve ser estendido até doze meses. Em ambos os casos, porém, a duração da fase intensiva é a mesma: os primeiros dois meses! O esquema básico pode ser usado em GESTANTES nas doses habituais, porém é preciso associar piridoxina (vit. B6) 50 mg/dia, a fim de reduzir o risco de toxicidade neurológica da isoniazida para o feto. Para os adultos, as drogas agora são fornecidas em comprimidos de doses fixas combinadas (RHZE e RH), visando facilitar a adesão. Para as crianças, por outro lado, a apresentação dos fármacos varia PRINCÍPIOS DO TDO 1. Compromisso político com a estratégia e mobilização da sociedade. 2. Garantia de exames bacteriológicos de qualidade. 3. Tratamento padronizado e supervisionado. 4. Fornecimento eficaz de medicamentos. 5. Sistema de monitoramento dos casos (desde a notificação até o encerramento). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech conforme a faixa de peso... O tratamento deve ser preferencialmente conduzido em nível ambulatorial, no âmbito da atenção primária. O tratamento sob regime de internação hospitalar estará indicado nas situações descritas na Tab. 6 O paciente pode ser internado compulsoriamente para tratamento da TB? Sim, desde que esgotadas todas as possibilidades de abordagem terapêutica ambulatorial, com avaliação do Serviço Social e aval do Ministério Público... EFEITOS COLATERAIS Os paraefeitos da terapia tuberculostática são classificados em dois grandes grupos: (1) efeitos menores; e (2) efeitos maiores. Os primeiros não indicam a suspensão do tratamento, podendo ser manejados pela equipe de atenção primária. Já os efeitos maiores devem levar à suspensão do tratamento, demandando um manejo mais complexo, com necessidade de recursos da atenção secundária... A suspensão é geralmente temporária, podendo-se tentar reintroduzir os mesmos fármacos na maioria das vezes. No entanto, quando o paciente experimenta reações de hipersensibilidade “graves” (como plaquetopenia, anemia hemolítica, injúria renal entre outras), o fármaco responsável deve ser definitivamente suspenso, uma vez que suareintrodução irá causar uma nova reação de hipersensibilidade ainda mais grave... Observe as e Que tipo de paciente apresenta risco aumentado de efeitos colaterais com o tratamento anti-TB? Observe a Tab. 9 Quais são os esquemas especiais para a substituição dos medicamentos de primeira linha quando estes últimos provocam efeitos adversos intoleráveis? Observa a Tab. 10 Lfx = levofloxacino. ACOMPANHAMENTO O controle de tratamento nos pacientes bacilíferos é feito através de baciloscopias seriadas do escarro, idealmente a cada mês, mas de forma obrigatória no segundo, quarto e sexto meses. TABELA 6. 1. Meningoencefalite tuberculosa (sempre internar na fase inicial do tratamento). 2. Intolerância aos medicamentos incontrolável em ambulatório. 3. Mau estado geral. 4. Intercorrências clínicas ou cirúrgicas relacionadas ou não à TB que necessitem de tratamento hospitalar. 5. Vulnerabilidade social (ex.: morador de rua) ou grupo com alto risco de abandono, especialmente se for retratamento, falência ou TB-MDR. TABELAS 7 8. TABELA 9. 1. Idade (a partir de 40 anos o aumento no risco é progressivo). 2. Alcoolismo (ingestão diária de álcool > 80 g). 3. Desnutrição (perda > 15% do peso corporal). 4. Hepatopatas. 5. Coinfecção pelo HIV. TABELA 10. INTOLE RÂNCIA MEDICA- MENTOSA ESQUEMA Rifampici na 2 HZELfx / 10 HELfx Isonia zida 2 RZELfx / 4 RELfx Pirazina mida 2 RHE / 7 RH Etambutol 2 RHZ / 4 RH Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech É importante ressaltar que a duração do esquema básico (seis meses) pode ser prolongada a critério médico, de acordo com a evolução clinicorradiológica do caso (isto é, pode-se fazer mais três meses de tratamento de manutenção (RH), resultando num esquema 2 RHZE / 7 RH). Para tanto, as seguintes diretrizes devem ser observadas: *O Manual do Ministério da Saúde orienta que, antes de decidir pelo prolongamento da fase de manutenção, é preciso consultar uma unidade de referência em TB!!! FALÊNCIA TERAPÊUTICA Todo paciente com critérios de falência terapêutica ( ) deve receber o “esquema padrão para multirresistência” ou “esquemas especiais” individualizados, de acordo com o perfil de sensibilidade do germe. Falaremos sobre resistência do BK um pouco mais a frente. Tab. 11 Vejamos rapidamente alguns conceitos interessantes que poderão ser cobrados em prova... ● Tuberculose na Gestante, o que eu preciso saber? ● Tuberculose e Hepatopatia, o que eu preciso saber? Situações onde se pode considerar o prolongamento da fase de manutenção, de forma individualizada* 1. Persistência de poucos bacilos no escarro após o quinto ou sexto mês. 2. Resposta clinicorradiológica insatisfatória, mesmo que a baciloscopia do escarro seja negativa. 3. TB pulmonar cavitária cuja baciloscopia persiste positiva após segundo mês de tratamento. 4. Monorresistência à R ou H, caso o paciente não apresente melhora clinicorradiológica satisfatória. 5. HIV/aids. 6. Diabetes mellitus. TABELA 11 Falência ● Persistência de baciloscopia positiva ao final do tratamento. ● Pacientes com baciloscopia inicial fortemente positiva (++ ou +++) que mantêm essa situação até o quarto mês de tratamento. ● Positividade inicial da baciloscopia, seguida de negativação e retorno da positividade após o quarto mês, por dois meses consecutivos. Se no momento do parto a mãe apresentar tuberculose ativa, realizar cultura e histopatologia da placenta. Não há contraindicação ao esquema básico durante a gestação. Não há contraindicação ao esquema básico durante o aleitamento. O aleitamento está contraindicado na presença de mastite tuberculosa. A mãe portadora de TB deve usar máscara cirúrgica durante o aleitamento e durante os cuidados com a criança. Em um pequeno percentual de pacientes, as enzimas hepáticas sofrem elevações discretas e assintomáticas nos dois primeiros meses de tratamento. Nestes casos não é necessário suspender o tratamento, apenas monitorizar (a maioria normaliza espontaneamente). O tratamento deve ser interrompido se: ● Elevação das enzimas hepáticas > 5x LSN, assintomática; ● Elevação das enzimas hepáticas > 3x LSN, com sintomas; ● Surgimento de icterícia, independentemente das enzimas hepáticas. Se após a interrupção do tratamento ocorrer normalização das alterações clinicolaboratoriais dentro de quatro semanas, reintroduzir o esquema básico na seguinte sequência: 1. Rifampicina + etambutol; 2. Isoniazida; 3. Pirazinamida. As drogas são reintroduzidas a intervalos de três a sete dias, e antes de cada etapa é necessário verificar o hepatograma! O tempo de tratamento começará a ser contado a partir da data em que a reintrodução completa for possível… Se as enzimas hepáticas não se reduzirem dentro de quatro semanas, ou caso a tuberculose seja grave o bastante a ponto de impossibilitar a suspensão temporária do tratamento (ex.: meningoencefalite, TB miliar), devemos lançar mão do seguinte esquema alternativo: 5 Cm3 E Lfx / 7 E Lfx Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Observe abaixo o algoritmo para manuseio do tratamento anti-TB nos casos de hepatopatia prévia e hepatotoxicidade atual: Lembre-se: devemos sempre tentar usar um esquema que contenha rifampicina e isoniazida, pois será mais eficaz... ● Tuberculose e Nefropatia, o que eu preciso saber? O clearance de creatinina sempre deve ser calculado para determinar a posologia correta das drogas. Como regra prática, para pacientes que utilizarão o esquema básico e apresentam clearance de creatinina < 30 ml/min, recomenda-se o seguinte: ● Fase intensiva (primeiros dois meses): RHZE às segundas, quartas e sextas; RH às terças, quintas, sábado e domingo; ● Fase de manutenção (últimos quatro meses): RH diariamente. Pacientes em programa de diálise devem tomar os medicamentos após o término da sessão de diálise. ● Tuberculose e HIV, o que eu preciso saber? Apresentamos abaixo os dez conceitos essenciais que você não pode deixar de saber sobre este assunto... 1. No Brasil, a TB é a principal causa de morte em pessoas que vivem com HIV (letalidade da coinfecção ~ 20%), e cerca de 10% dos casos de TB ocorrem em indivíduos HIV+. Por este motivo, é mandatório investigar HIV após o diagnóstico de tuberculose! O exame de escolha é o teste rápido para HIV. 2. Todo paciente infectado pelo HIV deve realizar PT ao diagnóstico, e depois, anualmente. Se PT ≥ 5 mm, descartada tuberculose- doença, tratar Infecção Latente por Tuberculose, a “ILTB” (ver adiante). 3. As manifestações clínicas da tuberculose variam conforme o grau de imunodepressão... Indivíduos com CD4 > 350 geralmente têm apresentação clínica semelhante a de pessoas não infectadas pelo HIV, isto é, tuberculose pulmonar (lobo superior), com ou sem cavitação. CD4 < 350 costuma cursar com formas pulmonares atípicas (ex.: infiltrado em lobos inferiores + adenopatia hilar), formas extrapulmonares ou mesmo TB disseminada (ex.: miliar + meningoencefalite). 4. Em todo paciente coinfectado por TB/HIV deve-se buscar o isolamento micobacteriano por meio de cultura, identificação e teste de sensibilidade. 5. A TARV está indicada para todo paciente HIV+ com tuberculose ativa (qualquer que seja a forma da doença), independentemente do nível de CD4. A genotipagem viral pré-TARV está sempre indicada na coinfecção HIV-TB, porém não se deve esperar por seu resultado para começar o tratamento (isto é, inicia-se a TARV conforme as orientações a seguir, ajustando-a posteriormente, caso necessário). 6. Recomenda-se não iniciar a TARV concomitantemente com a terapia tuberculostática, pelo risco de sobreposição de efeitos colaterais e, no caso da TB meningoencefálica, pelo risco de síndrome da reconstituição imune grave, com desenvolvimento de hipertensão intracraniana... O primeiro tratamento a ser iniciado é o tuberculostático, seguido da TARV. As atuais diretrizes são: (1) CD < 50 ou sinais clínicos de imunodeficiência avançada (exceto TB meníngea) = começar TARVdentro das primeiras duas semanas de tratamento anti-TB; (2) TB meningoencefálica = começar TARV após a oitava semana de tratamento anti-TB; (3) demais casos (CD4 > 50, ausência de TB meníngea) = começar TARV na oitava semana de tratamento anti-TB. 7. Sempre que possível o tratamento anti-TB para os pacientes HIV+ deve ser igual ao de pessoas não infectadas pelo HIV. É importante compreender que o uso de rifampicina deve ser priorizado (maior eficácia do esquema anti-TB). O grande problema é que a rifampicina (indutora de citocromo P450) interage com diversos antirretrovirais... 8. Atualmente, definem-se dois cenários: (1) pacientes coinfectados HIV-TB sem critérios de alto risco; (2) pacientes coinfectados HIV- TB com critérios de alto risco. Os critérios de alto risco são (basta ter pelo menos um dos seguintes): ● CD4 < 100; ● Presença de outra doença oportunista; ● Doença grave/necessidade de internação hospitalar; ● TB disseminada. Se nenhum desses critérios estiver presente, a TARV inicial de escolha será TDF + 3TC + EFV (tenofovir, lamivudina e efavirenz), ou seja, 2 ITRN/ITRNt + ITRNN... Por outro lado, se pelo menos um critério estiver presente (ou se houver intolerância ao EFV), a TARV inicial de escolha passa a ser TDF + 3TC + RAL (raltegravir), ou seja, 2 ITRN/ITRNt + inibidor de integrase. Terminado o tratamento da TB, pode-se optar pela prescrição da TARV de primeira linha na atualidade, que consiste na combinação de TDF + 3TC + DTG (dolutegravir, um inibidor de integrase ministrado em dose única de 50 mg/dia). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech E se o paciente já estiver em uso da TARV padrão (TDF + 3TC + DTG) quando receber o diagnóstico de TB? Neste caso, o esquema TDF + 3TC + DTG deverá ser mantido, com a diferença que o DTG, que era ministrado em dose única de 50 mg/dia, passará a ser feito na dose de 50 mg de 12/12h até 15 dias após término do tratamento da TB. Findo este prazo, retorna-se a dose de DTG para 50 mg/dia... Isto é necessário porque a rifampicina diminui os níveis séricos de DTG, e o aumento na dose deste último é feito para contornar tal problema, permitindo a continuidade do uso do DTG com segurança e eficácia, durante o período em que for necessário coadministrar o tratamento anti-TB. Quando o paciente não puder utilizar o DTG, o esquema de segunda linha passa a ser TDF + 3TC + RAL (raltegravir, que também é um inibidor de integrase). Caso nenhum desses esquemas possa ser usado (ex.: intolerância ou resultado da genotipagem do HIV mostrando resistência viral) e seja necessário associar um Inibidor de Protease (IP) – uma classe que diminui muito os níveis séricos de rifampicina – deve-se substituir esta última pela rifabutina (150 mg/dia). Se nenhuma rifamicina puder ser usada (ex.: intolerância), devemos associar estreptomicina ao esquema tuberculostático, que fica assim: 2 HZES/10 HE. 9. O risco de reações adversas aos medicamentos anti-TB é maior no portador do HIV. A explicação é que a ativação ininterrupta do sistema imunoinflamatório que caracteriza a infecção pelo HIV aumenta a chance de surgirem reações de natureza alérgica/imunológica contra substâncias exógenas. 10. A TB ativa, por estimular o sistema imunológico, promove aumento da carga viral e diminuição da contagem de CD4 (fenômeno da transativação heteróloga do HIV). Assim, não devemos dosar esses marcadores antes de iniciar o tratamento específico anti-TB (pois os resultados estarão falseados)! Podemos dosar o CD4 e a carga viral trinta dias após o início do tratamento anti-TB. ● Tuberculose e Tabagismo, o que eu preciso saber? Estima-se que cerca de 20% da incidência de tuberculose possa ser diretamente atribuída ao tabagismo ativo!!! Logo, é óbvio que qualquer programa de controle da tuberculose deve englobar medidas para o controle do tabagismo… O tabagismo (ativo ou passivo) é comprovadamente um fator de risco INDEPENDENTE para os seguintes desfechos: ● TB infecção; ● TB doença; ● Recidiva de TB; ● Mortalidade por TB. As explicações são as seguintes: (1) o tabagismo reduz as defesas da árvore respiratória; (2) reduz a tensão de O2 no sangue, agravando as lesões necróticas pulmonares; (3) prejudica a cicatrização, aumentando a extensão da doença e suas sequelas. Além de recomendações de cunho político-econômico, como por exemplo, aumentar os impostos sobre o cigarro, restringir sua propaganda e promover campanhas educativas para a população, o programa de controle da tuberculose também recomenda que todos os pacientes com tuberculose sejam questionados a respeito de tabagismo. Aqueles que fumam devem ser aconselhados a parar. Tal recomendação, à primeira vista, pode parecer simplória demais e, quiçá, sem qualquer efeito prático… Entretanto, um estudo realizado em unidades de atendimento à TB no Rio de Janeiro mostrou que esta conduta (chamada de “intervenção breve”) é comprovadamente benéfica!!! Durante a consulta, intervenções breves de cinco a dez minutos (com explicações adaptadas para o grau de compreensão de cada paciente em particular) podem aumentar a taxa de abandono do tabagismo em fumantes portadores de tuberculose!!! Existem dois modelos de intervenção contra o tabagismo na atenção primária: 1. Abordagem breve/mínima: consiste em perguntar e avaliar, aconselhar e preparar o paciente para parar de fumar, sem, contudo, acompanhá-lo nesse processo. Pode ser feita em três minutos e por todos os profissionais de saúde em qualquer tipo de contato com o paciente (ex.: atendimento em pronto-socorro). Não é a melhor abordagem, mas pode produzir resultados. 2. Abordagem básica: neste caso, além de perguntar e avaliar, aconselhar e preparar, o profissional também acompanha o paciente no processo, oferecendo suporte médico na fase crítica da abstinência. RESISTÊNCIA DO BACILO DE KOCH Preste atenção aos termos utilizados quando o assunto é resistência do BK Tab. 12 (TABELA 12): Monorresis tência Resistência a somente um fármaco anti-TB. Polirresis tência Resistên cia a dois ou mais fármacos, exceto a associa ção rifampi cina + isoniazida. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech ESQUEMA PARA TB-RR Com a incorporação do teste rápido molecular (TRM-TB), a identificação de casos com resistência à rifampicina passou a ser feita de forma extremamente rápida (em até 2h após coleta do exame). Considerando que este diagnóstico agora está sendo realizado antes de obtermos os resultados definitivos da cultura + teste de sensibilidade, e considerando que frequentemente (em 80% das vezes) o BK com resistência à rifampicina também é resistente à isoniazida (TB-MDR), um esquema padronizado para tratamento inicial desses casos é proposto pelo Ministério da Saúde. Observe o quadro abaixo. 8 Cm3 EZLfxTrd/10 ELfxTrd Relembrando... Cm = capreomicina, E = etambutol, Z = pirazinamida, Lfx = levofloxacina, Trd = terizidona. O primeiro número (à esquerda da sigla referente à droga) indica a quantidade de meses em que aquele esquema deve ser tomado. O número ao lado direito da sigla indica a quantidade de doses semanais. Se não houver número ao lado direito a droga deve ser tomada diariamente, isto é, sete dias na semana. Vale lembrar que toda vez que o TRM-TB mostrar resistência à rifampicina este exame deverá ser repetido (nova coleta de escarro), e o paciente deverá ser encaminhado a um serviço de atenção TERCIÁRIA, a fim de ser avaliado e acompanhado por especialistas em tuberculose... Após resultado da cultura o esquema tuberculostático deve ser revisto, podendo ou não ser modificado de acordo com o antibiograma. O tempo total de tratamento da TB-MDR varia de 18 a 24 meses. Pacientes com boa evolução clinicorradioló- gica/bacteriológica (baciloscopia) podem fazer 18 meses de tratamento. Aqueles que apresentam baciloscopia e/ou cultura positiva ao final do sexto mês devem completar 24 meses. As formas extrapulmonares de TB-MDR são tratadas com o mesmo esquema,pelo mesmo período. Por ser um tema de grande complexidade, o tratamento das outras formas de resistência, conforme definido na não será abordado nesse texto... Não obstante, cumpre ressaltar que, na prática, esses pacientes devem encaminhados para serviços especializados a fim de receber esquemas terapêuticos específicos. Destaca-se um dado interessante: a bedaquilina é uma nova droga contra a TB XDR. Há mais de 40 anos não se aprovava uma nova droga com este intuito. Tab. 12 CONTROLE DE CONTATOS Contato é toda pessoa que convive com o caso índice no momento em que este recebe o diagnóstico de tuberculose (domicílio, trabalho, instituição de longa permanência ou escola). Idealmente, todos os contatos de um paciente com TB devem ser avaliados na rede básica de saúde, mas a prioridade deve ser dada a: (1) menores de cinco anos; (2) HIV+; (3) outras condições consideradas de alto risco para adoecimento (ex.: idosos, imunodeprimidos, alcoólatras, etc.)… Quando uma criança for o caso índice, será MANDATÓRIO avaliar todos os contatos, pois com certeza ela adquiriu a doença de algum adulto bacilífero (lembre-se: na prática as crianças NÃO são consideradas fontes de infecção, por não serem bacilíferas)… Como avaliar os contatos? O primeiro passo, obviamente, é composto por anamnese e exame físico. Os passos subsequentes estão Resistência à Rifampicina (RR) Resistência à rifampicina identificada pelo Teste Rápido Molecular (TRM-TB) – a presença de outras resistências ainda é desconhecida nesse momento... Multirresis tência (MDR) Resistência a pelo menos rifampicina + isoniazida. Resistência extensiva (XDR) Resistência MDR + resistência a uma fluoroquinolona + resistência a uma droga parenteral de segunda linha (ex.: amicacina, canamicina ou capreomicina). TABELA 12, Monorresis tência Resistência a somente um fármaco anti-TB. Polirresis tência Resistên cia a dois ou mais fármacos, exceto a associa ção rifampi cina + isoniazida. Resistência à Rifampicina (RR) Resistência à rifampicina identificada pelo Teste Rápido Molecular (TRM- TB) – a presença de outras resistências ainda é desconhecida nesse momento... Multirresis tência (MDR) Resistência a pelo menos rifampicina + isoniazida. Resistência extensiva (XDR) Resistência MDR + resistência a uma fluoroquinolona + resistência a uma droga parenteral de segunda linha (ex.: amicacina, canamicina ou capreomicina). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech sintetizados abaixo: Se houver sintomas sugestivos de TB (adultos e crianças) = investigar com RX de tórax, pesquisa micobacteriológica do escarro, além de outros exames específicos conforme cada caso. Feito o diagnóstico de TB ativa, deve-se iniciar o tratamento. Adulto ou adolescente (≥ 10 anos) assintomático = realizar Prova Tuberculínica (PT) ou IGRA. ● PT < 5 mm = repetir PT em oito semanas (o paciente pode estar na “janela imunológica”). Considera-se conversão uma diferença ≥ 10 mm entre uma PT e outra. Se não houver conversão, o contato recebe alta e orientações. Caso haja conversão, deve-se realizar um raio X de tórax. Se este for normal, tratar Infecção Latente por Tuberculose (ILTB – ver adiante). Caso o RX seja suspeito, prosseguir com a investigação. ● PT ≥ 5 mm ou IGRA positivo = realizar raio X de tórax. Se normal, tratar ILTB. Se suspeito, prosseguir com a investigação. Crianças (< 10 anos) assintomáticas = realizar raio X de tórax E prova tuberculínica ou IGRA. ● RX de tórax suspeito = prosseguir investigação (escore de pontos para diagnóstico de TB). ● RX de tórax normal = avaliar PT ou IGRA. Tratar ILTB se: ➤ PT ≥ 5 mm ou IGRA positivo, independentemente do tempo decorrido da vacinação com BCG. ➤ PT < 5 mm = repetir PT em oito semanas (o paciente pode estar na “janela imunológica”). Considera-se conversão uma diferença ≥ 10 mm entre uma PT e outra. Caso conversão, tratar ILTB. Na ausência de conversão: alta e orientações. Contatos portadores do HIV = após afastar TB doença, tratar ILTB, independentemente de qualquer outro fator. TRATAMENTO DA ILTB Todas as pessoas são suscetíveis à infecção pelo bacilo da tuberculose e, no paciente infectado, enquanto a doença não se manifestar, diremos que existe uma Infecção Latente por Tuberculose (ILTB). O tratamento da ILTB reduz a chance de evolução para “tuberculose- doença” em 60-90%. Observe na os esquemas atualmente preconizados no Brasil. Tab. 13 Cumpre ressaltar que o mais importante é a quantidade de doses ingeridas! Mesmo que o tratamento da ILTB seja feito de forma irregular, devemos tentar fazer com que o paciente tome o total de doses preconizadas dentro dos prazos estipulados... Existem duas modalidades de tratamento “preventivo” da TB: a prevenção da primoinfecção e o tratamento da infecção latente (ILTB). Veja: Recém-nascidos coabitantes de caso índice bacilífero – PREVENÇÃO DA PRIMOINFECÇÃO (antiga “quimioprofilaxia primária”). ● Não vacinar com BCG ao nascer. ● Isoniazida ou rifampicina por três meses. ● Após três meses, realizar PT. ● PT ≥ 5 mm – manter isoniazida por mais três meses, ou rifampicina por mais um mês. Não precisa vacinar com BCG após o término do tratamento (a ILTB já provê imunização natural contra o BK). ● PT < 5 mm – suspender isoniazida ou rifampicina e vacinar com BCG. ● Caso o RN tenha sido inadvertidamente vacinado com BCG ao nascer: recomenda-se fazer isoniazida por seis meses (ou rifampicina por quatro meses) e não realizar a PT. Pode-se considerar a revacinação com BCG após este período, devido ao efeito das medicações sobre o próprio BCG, que pode ter sua eficácia imunizante reduzida... TABELA 13 Tratamento Atual da ILTB no Brasil (adultos, adolescentes e crianças) Isoniazida 5 a 10 mg/kg/dia (máx. 300 mg/dia). 270 doses no total, que deverão ser tomadas entre 9 e 12 meses. Rifampicina 10 mg/kg/dia (máx. 600 mg/dia). 120 doses no total, que deverão ser tomadas entre 4 e 6 meses. Esquema de escolha para pacientes < 10 anos ou > 50 anos, hepatopatas, contactantes de portadores de TB com monorresistência à isoniazida ou intolerância à isoniazida. A rifampicina não deve ser ministrada aos portadores do HIV que utilizem inibidores de protease ou dolutegravir em seus esquemas de TARV (preferir isoniazida nestes casos)... Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Indivíduos infectados e não doentes, porém com risco significativo de adoecimento – TRATAMENTO DA INFECÇÃO LATENTE (antiga “quimioprofilaxia secundária”). Para indicar o tratamento da ILTB devemos levar em conta os seguintes fatores: (1) PT; (2) idade do paciente; (3) probabilidade de ILTB; e (4) risco de adoecimento. Já vimos as indicações de tratamento da ILTB em crianças (< 10 anos) contactantes de um caso de tuberculose: ● PT ≥ 5 mm ou IGRA positivo, independentemente do tempo decorrido da vacinação com BCG. A maior complexidade em relação ao tratamento da ILTB diz respeito aos adultos e adolescentes (> 10 anos). Observe abaixo as recomendações para tratamento da ILTB segundo o Ministério da Saúde (lembrar que a presença de TB-doença deve ter sido previamente descartada): PT ≥ 5 mm ou IGRA positivo ● Contactantes de um caso de TB. ● Uso de inibidores do TNF-alfa. ● Alterações fibróticas no RX de tórax sugestivas de sequela de TB. ● Transplantados em uso de imunossupressores. ● Uso de corticoide (equivalente a > 15 mg de prednisona por > 1 mês). PT ≥ 10 mm ou IGRA positivo ● Silicose. ● Neoplasia de cabeça e pescoço ou hematológica. ● Qualquer neoplasia em tratamento quimioterápico. ● IRC em diálise. ● Diabetes mellitus. ● Baixo peso (≤ 85% do peso ideal). ● Tabagismo (≥ 1 maço/dia). ● Calcificação isolada (sem fibrose) no RX de tórax. CONVERSÃO (aumento ≥ 10 mm entre a 1ª PT e a 2ª) ● Contatos de TB bacilífera. ● Profissionais de saúde. ● Trabalhadores de laboratório de micobactéria. ● Trabalhadores do sistema prisional. ● Trabalhadores de instituições de longa permanência.HIV/aids ● RX de tórax normal: ➤ CD4 ≤ 350 ou desconhecido, tratar independentemente da PT ou IGRA. ➤ CD4 > 350, se PT ≥ 5 mm ou IGRA positivo. ➤ Contato intradomiciliar ou institucional de paciente bacilífero (TB pulmonar ou laríngea), independentemente da PT ou IGRA. ➤ PT < 5 mm ou IGRA positivo, com registro de PT anterior ≥ 5 mm ou IGRA positivo sem realização de tratamento ou quimioprofilaxia. ● RX de tórax com cicatriz de TB, sem história de tratamento prévio, independentemente da PT ou IGRA, desde que afastada a possibilidade de TB doença (baciloscopia). VACINA BCG A BCG, sigla decorrente da expressão Bacilo de Calmette-Guérin, é o nome da vacina antituberculosa preparada com uma subcepa do Mycobacterium bovis atenuada por repicagens sucessivas. Logo, trata- se de uma vacina de micróbio vivo... Segundo o Ministério da Saúde, a BCG faz parte do calendário vacinal: Dose única: recém-nascidos com peso ≥ 2 kg. A vacina é indicada para crianças da faixa etária de 0 a 4 anos, 11 meses e 29 dias de vida, sendo idealmente ministrada logo após o nascimento, ainda na maternidade ou na primeira visita ao serviço de saúde. Qual é o real benefício da vacina BCG? A vacina BCG é administrada sem prova Tuberculínica Prévia (PT), na dose de 0,1 ml, via intradérmica, no braço direito, na altura da inserção inferior do músculo deltoide. A reação esperada ao BCG é a formação de uma lesão no local da aplicação. Em torno da segunda semana, palpa-se uma zona endurecida medindo 3-9 mm. Da quinta a oitava semana, o centro dessa lesão amolece, formando uma crosta. Quando essa crosta cai, deixa em seu local uma úlcera de cerca de 2-6 mm de diâmetro, que se cura lentamente, entre a oitava e a décima Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech terceira semana, deixando como resultado uma cicatriz plana, com diâmetro de 3-7 mm. Em alguns casos, esta cicatrização é mais demorada, podendo prolongar-se até o quarto mês e, raramente, além do sexto mês. Eventualmente, a vacina causa complicações locais e nos linfonodos axilares satélites. O tratamento deste problema deve ser feito com isoniazida 10 mg/kg/dia (máximo de 400 mg/dia) por 45 dias – até o desaparecimento da lesão. QUADRO DE CONCEITOS Recomenda-se o adiamento da aplicação da vacina nos seguintes casos: (1) peso ao nascer inferior a 2 kg; (2) reações dermatológicas na área de aplicação; (3) doenças graves; (4) até três meses após uso de imunossupressores ou corticoide em dose alta; (5) RN de mãe bacilífera. Há contraindicação para a vacina BCG em: (1) pacientes com idade maior ou igual a cinco anos portadores de imunodeficiências de qualquer natureza (congênita ou adquirida), mesmo que assintomáticos e sem sinais clínicos de imunodeficiência; (2) neoplasia maligna; (3) uso de corticoide em dose imunossupressora por mais de duas semanas; (4) uso de outros tratamentos imunossupressores (ex.: quimio e/ou radioterapia); (5) gestantes. Crianças verticalmente expostas ao HIV devem receber a vacina BCG o mais precocemente possível logo após o nascimento. Naquelas comprovadamente infectadas pelo HIV que não foram vacinadas ao nascimento pode-se ministrar a vacina até a idade de 4 anos, 11 meses e 29 dias, desde que assintomáticas e sem sinais de imunodeficiência. Após cinco anos de idade a vacina BCG é contraindicada para os portadores do HIV, mesmo que assintomáticos e sem sinais de imunodeficiência. Cap. 3 TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR VIDEO_07_PNEU2 INTRODUÇÃO O pulmão é o órgão preferido pelo Mycobacterium tuberculosis para se proliferar, já que é um local rico em O2 e o bacilo é um agente aeróbico estrito. No entanto, vimos que durante a primoinfecção ocorre uma disseminação linfo-hematogênica para vários órgãos e sistemas, logo contida pelo sistema imunológico na viragem tuberculínica. Os focos bacilares fora do pulmão estão num ambiente inóspito para o BK, já que a tensão de O2 é bem menor do que aquela encontrada no interior dos alvéolos pulmonares, além de ser totalmente dependente do suprimento vascular. Por isso, a forma extrapulmonar de tuberculose é muito mais rara do que a forma pulmonar e, quando ocorre, é caracteristicamente paucibacilar, dificultando o seu diagnóstico bacteriológico. A disseminação linfo-hematogênica é a responsável por várias formas de TB extrapulmonar: miliar, ganglionar, renal, genital, óssea, articular, oftálmica, meníngea, etc. Além da via linfo-hematogênica, o bacilo pode alcançar alguns órgãos e tecidos por contiguidade. A forma mais frequente de TB extrapulmonar – a TB pleural – é o principal exemplo deste fenômeno. Um foco da primoinfecção localizado na região subpleural do pulmão lança uma pequena quantidade de bacilos no espaço pleural, gerando a reação exsudativa. A infecção de linfonodos internos é uma importante fonte de disseminação do bacilo por contiguidade. Por exemplo, a TB pericárdica geralmente é fruto do rompimento de linfonodos mediastinais infectados para o espaço pericárdico; a TB peritoneal pode ser decorrente da ruptura de linfonodos mesentéricos ou retroperitoneais. Outros mecanismos de inoculação extrapulmonar: a deglutição de bacilos provenientes do pulmão pode ser a porta de entrada da TB gastrointestinal; a eliminação de secreções pulmonares Vários estudos evidenciam que, em crianças, a aplicação da BCG diminui a incidência de formas graves de tuberculose (redução de 75%), como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar, formas que predominam nas crianças < 4 anos e nos imunodeprimidos. Entretanto, a utilização da vacina não acarreta uma redução do número total de casos de tuberculose. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech pelas vias aéreas superiores pode instalar um foco infeccioso na traqueia ou na laringe. A TB pleural, a TB miliar e a TB meníngea geralmente são formas de tuberculose primária, ocorrendo em até três anos após a primoinfecção. Já as outras formas, como a renal, genital e osteoarticular, são pós-primárias, decorrentes da reativação de focos quiescentes que se instalaram muitos anos atrás durante a primoinfecção. Em termos epidemiológicos, os dados sobre as formas de TB extrapulmonar são mais escassos, devido à dificuldade do diagnóstico preciso. Entretanto, sabe-se que a sua frequência não apresenta sinais de redução, principalmente as formas pós-primárias com longo período de latência. TB PLEURAL É a forma mais comum de tuberculose extrapulmonar em indivíduos não portadores do HIV. Em um estudo brasileiro, a TB pleural correspondeu a 64% dos casos de TB extrapulmonar, seguida de longe pela TB ganglionar (15-20% dos casos) e depois pela TB renal. O mecanismo mais frequente da TB pleural (ou pleurite tuberculosa) é a ruptura de um pequeno foco primário de localização subpleural. Poucos bacilos atingem o espaço pleural, desencadeando uma reação imunológica de hipersensibilidade granulomatosa, levando à inflamação das pleuras visceral e parietal, com a produção de exsudato. A maioria dos pacientes é jovem e manifesta os sintomas cerca de um a três meses após se infectarem pelo BK. O quadro clínico pode ser agudo ou subagudo, sendo composto por febre, dor pleurítica e tosse seca. A dispneia pode ocorrer nos casos de derrames volumosos que se instalaram mais rapidamente. O derrame é caracteristicamente unilateral e de moderada intensidade – O diagnóstico diferencial pode ser feito com derrame parapneumônico e pleurite relacionada às colage-noses (lúpus, artrite reumatoide). Quando ocorre em indivíduos mais velhos, pode ser confundido com o derrame neoplásico. O diagnóstico deve ser pesquisado pela toracocentese, que revela um líquido amarelo-citrino, turvo ou raramente serossanguinolento (< 10% dos casos), cujo exame laboratorial confere com um exsudato, com densidade > 1.020, proteína > 2,5-3 g/dl, apresentando uma celularidade alta (1.000-6.000 leucócitos/mm3), com predomínio de mononucleares (linfócitos), exceto nos primeiros quinze dias de instalação(polimorfonucleares). Todo derrame exsudativo com celularidade elevada e predomínio de mononucleares (mais especificamente linfócitos) deve ter como um de seus principais diagnósticos diferenciais a TB pleural. Outras características do líquido pleural tuberculoso: glicose baixa, porém raramente chegando a níveis inferiores a 20 mg/dl (média: 40-80 mg/dl), pH normal (7,30-7,40), ausência de eosinófilos e menos de 5% de células mesoteliais (frequentemente encontradas no derrame neoplásico). A dosagem da ADA (adenosina deaminase – uma enzima secretada por linfócitos ativados) é útil para auxiliar no diagnóstico. Considerando o ponto de corte 60 U/ml, observa-se uma especificidade de 96%. A sensibilidade torna-se alta baixando-se o ponto de corte para 40 U/ml. Em resumo, uma ADA > 60 U/ml é bastante sugestiva do diagnóstico, enquanto que uma ADA < 40 U/ml torna-o bastante improvável (na prática, a maioria dos serviços utiliza o corte de 40 U/ml para a ADA). A dosagem do gama-interferon, utilizando um ponto de corte de 3,7, possui uma acurácia ainda maior que a ADA (95% versus 90%). A positividade da baciloscopia (B.A.A.R.) é baixa: < 5%. A cultura para BK é positiva em < 15% dos casos. Portanto, não devemos esperar a bacteriologia para a confirmação diagnóstica, dado o seu baixo rendimento... O exame padrão-ouro para a confirmação diagnóstica é a biópsia pleural com avaliação do histopatológico e da cultura para BK do fragmento de tecido macerado. O cirurgião que biopsiar a pleura não deve esquecer de colocar um fragmento no formol (para histopatologia) e outro no soro fisiológico (para bacteriologia). O granuloma caseoso é encontrado em 75% dos casos, um achado considerado confirmatório. A cultura para BK do fragmento é positiva em 60% dos casos, incluindo os 25% de casos com histopatologia negativa. Somando-se a cultura do fragmento biopsiado ao resultado histopatológico, o resultado vem positivo em 90% dos FIGURA 1. Fig. 1 Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech casos. A utilização de métodos de cultura rápida do bacilo da tuberculose, como o BACTEC (pronto em 5-10 dias), pode ser decisiva no diagnóstico. Uma outra forma de diagnosticar a TB pleural é a prova terapêutica com RIPE, utilizada nos casos típicos, com idade < 40 anos, na impossibilidade de biópsia e bacteriologia negativa... O tratamento com RIPE já pode ser instituído na suspeita clínica, mas o clínico deve buscar a confirmação diagnóstica, pois se por acaso não for TB pleural, o paciente irá tomar desnecessariamente um esquema que dura seis meses e tem os seus possíveis efeitos adversos. Além disso, se o diagnóstico for outro, a doença não será tratada. Os sintomas podem demorar um pouco para regredir, já que refletem muito mais a hipersensibilidade aos antígenos bacilares do que a invasão tecidual pelo bacilo. O uso do corticoide (prednisona) pode acelerar a melhora, mas não há uma indicação formal para o seu uso, já que os estudos não demonstraram um benefício em médio e longo prazos. É curioso destacar que a TB pleural primária é muitas vezes autolimitada – ela acaba melhorando espontaneamente após 2-4 meses, mas a falta do tratamento específico permite uma evolução mais tarde para TB pulmonar crônica pós-primária em 65% dos casos. Não devemos confundir a TB pleural típica com o empiema tuberculoso. Este último é decorrente da ruptura de uma “caverna tuberculosa” para o espaço pleural, levando a instalação de uma fístula broncopleural, hidropneumotórax e grande quantidade de bacilos no espaço pleural. O tórax destes pacientes deve ser precocemente drenado, para evitar maiores sequelas. A positividade do BAAR e da cultura no líquido pleural é maior no empiema pleural tuberculoso. TB MILIAR É a forma disseminada da tuberculose, que ocorre quando o organismo não consegue oferecer resistência adequada à micobactéria. As crianças < 2 anos, os desnutridos, os idosos debilitados e os pacientes imunodeprimidos (aids, uso de imunossupressores) são os indivíduos mais propensos a desenvolver esta forma de tuberculose. Os focos de disseminação linfo-hematogênica da primoinfecção, ao invés de serem contidos precocemente pelas defesas do organismo, evoluem para a formação de múltiplas pequenas lesões granulomatosas contendo bacilos em proliferação. A disseminação pode se manifestar nos seguintes órgãos e tecidos: interstício pulmonar, fígado, baço, serosas, linfonodos periféricos e internos, pele, testículo, etc. O termo miliar foi dado devido ao aspecto dos pulmões na necrópsia, que continham pequenos nódulos difusos, semelhante a sementes de miliet, uma espécie de gramínea. A radiografia de tórax pode revelar o padrão miliar em 90-95% dos casos – Apesar de não ser patognomônico de tuberculose (pode ocorrer na pneumonia por varicela, histoplasmose, sarcoidose, silicose, metástases pulmonares difusas), um quadro sistêmico associado a esta imagem radiológica indica TB miliar até que se prove o contrário. Existem três formas clínicas de TB miliar: 1. Forma aguda clássica; 2. Forma “críptica”; 3. Tuberculose não reativa disseminada. A forma aguda clássica é a mais facilmente reconhecida. Caracteriza-se pelo início agudo/subagudo de febre alta, adinamia, prostração (“toxemia”) e envolvimento multissistêmico. Os órgãos mais acometidos são: pulmão (tosse seca, dispneia, taquipneia), pleura (derrame pleural, uni ou bilateral), sistema reticuloendotelial (adenomegalia cervical, axilar e/ou intratorácica, hepatomegalia, esplenomegalia) e sistema nervoso central (meningite, meningoencefalite). A meningite se manifesta em 30% dos casos, com os sintomas clássicos de cefaleia e rigidez de nuca. A infiltração hepática provoca o aumento das enzimas, especialmente a fosfatase alcalina e, em segundo lugar, as aminotransferases e o LDH. Pode haver hiperbilirrubinemia e icterícia. O quadro hematológico na maioria das vezes revela apenas anemia normocítica normocrômica (anemia de doença crônica) e leucocitose neutrofílica. O comprometimento da medula óssea pode levar à reação leucemoide, à trombocitose reativa ou à pancitopenia. Outros órgãos envolvidos mais SAIBA MAIS... Mesmo na ausência de imagem radiológica de tuberculose pulmonar, cerca de 50% dos pacientes com a forma pleural da tuberculose apresentam positividade na cultura de escarro induzido. Sendo assim, este pode ser um método auxiliar em casos de difícil diagnóstico. FIGURA 2. Fig. 2 Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech raramente são: rins, retina, ossos, articulações, pericárdio, peritônio, pele (lesões papuloeritematosas difusas). O diagnóstico deve ser buscado, a princípio, pelo exame bacteriológico de vários materiais (escarro, aspirado gástrico, urina, aspirado ganglionar, líquido pleural e ascítico, hemocultura para BK). O escarro tem a baciloscopia positiva em 30-35% dos casos. O tratamento deve ser iniciado prontamente, mesmo com as baciloscopias negativas. A confirmação deve, no entanto, ser buscada através do exame histopatológico – procurando-se o granuloma caseoso. O local escolhido costuma ser o próprio pulmão. A broncofibroscopia com biópsia transbrônquica revela o granuloma em 70-75% dos casos. A biópsia hepática confirma o diagnóstico em 70-80% dos casos e o aspirado de medula óssea, em 20-50% dos casos. Uma prova terapêutica positiva nos casos altamente suspeitos também pode ser considerada critério suficiente para o diagnóstico... As outras duas formas de TB miliar são menos frequentes (ou menos diagnosticadas). A TB miliar “críptica” caracteriza-se por um quadro bem arrastado, levando à perda ponderal progressiva e a uma febre de origem obscura. O raio X pode mostrar o padrão miliar apenas no estágio mais avançado da doença. Este tipo de TB é mais comum nos idosos ou pacientes debilitados. Frequentemente leva a óbito antes de ser diagnos-ticado. A forma não reativa ou anérgica deve ser lembrada especialmente nos pacientes com imunodepressãograve (ex.: aids). Em vez de formar o granuloma, os tecidos infectados contêm uma grande quantidade de bacilos em focos de microabscessos neutrofílicos. Pequenos abscessos podem ser visualizados no fígado e no baço nos exames de imagem. Neste grupo de pacientes, culturas de vários tecidos, inclusive sangue, podem estar positivas em até 60% dos casos. TB MENÍNGEA A meningoencefalite é a forma mais comum de acometimento do SNC da tuberculose. O tuberculoma e o abscesso cerebral tuberculoso são formas menos comuns de apresentação. A aplicação rotineira da vacina BCG é uma importante estratégia visando reduzir o número de casos de TB meníngea em crianças pequenas – a faixa etária mais propensa. O fato da criança ter sido vacinada não deve excluir a possibilidade de TB meníngea, pois um estudo nacional demonstrou que 54% das crianças com este diagnóstico possuem a cicatriz vacinal. A TB meníngea (ou meningoencefalite tuberculosa) é uma das formas mais graves de TB, com um alto potencial de morbimortalidade. Um estudo brasileiro com crianças < 12 anos mostrou uma letalidade em torno de 25% e uma chance em torno de 70% para o desenvolvimento de sequelas neurológicas permanentes nos sobreviventes (deficit motores, visuais, auditivos ou intelectuais). Na criança, a TB meníngea é uma forma de tuberculose primária, podendo ou não estar associada à TB miliar. É frequente a história de contato com bacilíferos. Durante a disseminação linfo-hematogênica da primoinfecção, o bacilo se assesta em múltiplos focos subependimários. O epêndima é a camada de células que reveste internamente o sistema de ventrículos cerebrais e o canal medular. Nas crianças suscetíveis, estes focos continuam se proliferando, formando- se granulomas que expelem bacilos para o espaço subaracnoide. O efeito antigênico das proteínas do bacilo promove uma intensa reação inflamatória por fenômeno de hipersensibilidade. No adulto, provavelmente a maioria dos casos é pós-primária, decorrente da reativação dos focos subependimários previamente instalados na primoinfecção ocorrida há muitos anos. O restante da patogênese é semelhante ao que foi descrito acima na criança. O processo não termina aí... O intenso estímulo inflamatório provoca uma aracnoidite proliferativa, formando um exsudato espesso que se concentra na base do crânio e suas cisternas (“meningite basal exsudativa”), comprimindo a origem de nervos cranianos e provo- cando vasculite dos vasos de pequeno e médio calibre que por ali passam. Os vasos com a parede inflamada trombosam, causando infartos cerebrais, os principais responsáveis pelas sequelas motoras da doença. As estruturas mais afetadas por esses infartos vasculíticos são: gânglios da base, córtex cerebral, ponte e cerebelo. Uma outra complicação que ocorre em 85% das crianças e em 50% dos adultos é a hidrocefalia comunicante. O exsudato espesso obstrui a passagem de liquor pelas cisternas ou a sua drenagem nas granulações aracnoides dos seios ve-nosos do encéfalo. A hidrocefalia aguda pode contribuir para o aumento da pressão intracraniana. O quadro clínico caracteriza-se por três fases evolutivas: Fig. 3 Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech O ideal é que o diagnóstico seja feito na fase II (meníngea), já que na fase I fica muito difícil a suspeição de uma meningite. Embora o quadro geralmente seja de instalação subaguda (semanas), é possível que se apresente como manifestação aguda, assemelhando-se à meningite bac-teriana ou viral. A TB meníngea pode também se manifestar como uma encefalite, caracterizada por cefaleia, queda do nível de consciência e convulsões, com pouco ou nenhum sinal meníngeo. QUADRO DE CONCEITOS I Entre as complicações clássicas da TB meníngea, podemos citar: ● Compressão de pares cranianos (ordem decrescente de frequência: VI, III, IV, VII e VIII); ● Hidrocefalia, levando à hipertensão intracraniana e ao papiledema; ● Vasculite cerebral com infartos, levando a deficit focais ou movimentos involuntários (ex.: coreoatetose); ● Hiponatremia, por SIADH (ocorre em 45% dos casos, contribuindo para o quadro de torpor/coma/convulsões); ● Tuberculomas, que podem se manifestar como lesões expansivas. O diagnóstico deve ser inicialmente presuntivo, analisando-se os primeiros exames: (1) radiografia de tórax; (2) TC de crânio contrastada; e (3) exame do liquor. A radiografia de tórax pode demonstrar alterações compatíveis com TB pulmonar em até 60% dos casos. A TC de crânio revela hidrocefalia em 85% das crianças e em 50% dos adultos, sendo um dado bastante sugestivo de TB meníngea, especialmente quando associada a hipercaptação da meninge basal, infartos cerebrais e/ou tuberculomas. Esses três últimos achados são detectados, respectivamente, em 40%, 15-30% e 5-10% dos casos. O exame do liquor é um componente essencial da avaliação diagnóstica. Como é o liquor da TB meníngea? O que chama atenção é um liquor com acentuada hiperproteinorraquia (proteína na faixa entre 100-500 mg/dl), pleocitose mononuclear (linfocítica), com uma celularidade entre 100-500/mm3, e uma hipoglicorraquia (glicose < 45 mg/dl em 80% dos casos). Em cerca de 20% dos casos, nota-se uma pleocitose com predomínio de PMN (neutrofílica), especialmente nos primeiros dias de doença. No paciente com aids e TB meníngea, não há uma redução da proteinorraquia nem da pleocitose, ao contrário do que acontece na meningite criptocócica. A ADA (adenosina deaminase) liquórica teve alguns bons resultados em ensaios diagnósticos. Considerando-se o ponto de corte entre 5-10 U/ml, a acurácia diagnóstica atinge 90% (acima de10 U/ml é sugestivo e abaixo de 5 U/ml fala contra). A ADA pode se elevar em outras causas de meningite subaguda, como sarcoidose, linfoma, brucelose e a hemorragia subaracnoide. Bacteriologia do liquor: a baciloscopia (BAAR) do liquor raramente é positiva pelo processamento convencional do material. A cultura do liquor para BK é positiva em 50-60% dos casos, porém o seu resultado é demorado. A positividade da baciloscopia (e também da cultura) pode aumentar para acima de 30% quando alguns princípios são seguidos: (1) colher três amostras de liquor, uma a cada dia, porém sem atrasar o início da terapia empírica; (2) em cada amostra devem ser colhidos 10-15 ml de liquor; (3) aproveitar mais o liquor do final da coleta; (4) esperar a formação de um “coágulo” – se não formar, adicionar 2 ml de álcool etílico a 95%, para facilitar a precipitação do sedimento proteico após centrifugação; e (5) colocar na lâmina de leitura pelo Ziehl-Neelsen 0,02 ml do material centrifugado. O tratamento da TB meníngea deve ser feito com o esquema RIPE por doze meses, com as doses de rifampicina e isoniazida aumentadas e acrescentando-se o corticoide (prednisona 1-2 mg/kg/dia ou 30 mg/dia) por 2-4 meses. QUADRO DE CONCEITOS II FASE I Pródromo (2-3 semanas) Febre, mal-estar, irritabilidade ou apatia (no caso da criança), inapetência, sintomas respiratórios. FASE II Meníngea Febre + cefaleia persistente + sinais meníngeos; Alterações de pares cranianos, hemiparesia, desorientação. FASE III Fase avançada Torpor, coma, crise convulsiva; Hemiplegia, coreoatetose. A TB meníngea é a causa mais comum de meningite (ou meningoencefalite) subaguda em nosso meio, devendo fazer o diagnóstico diferencial com outras causas de meningite subaguda (sífilis, criptococo, sarcoidose, linfoma, brucelose) e com quadros “arrastados” de meningite bacteriana. A regra é: suspeitou – tratou; enquanto se busca chegar ao diagnóstico, o tratamento já deve ser iniciado. O corticoide é fundamental para prevenir sequelas e uma piora clínica esperada nos primeiros dias de esquema RIPE, precipitada pela liberação de antígenos proteicos dos bacilos mortos. Nesse momento, pode surgir uma pleocitose neutrofílica. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech OUTRAS FORMAS DE TB EXTRAPULMONAR TUBERCULOSE GANGLIONAR (ESCRÓFULA) É a segunda forma mais comum de TBextrapulmonar no geral, e a primeira em pessoas vivendo com HIV e crianças. É denominada escrófula. Os linfonodos acometidos são os cervicais, submandibulares e supraclaviculares, raramente os axilares. A princípio o quadro assemelha-se a uma síndrome de mononucleose, porém logo se observam alguns achados mais sugestivos, como assimetria (ou unilateralidade) e aumento da consistência dos linfonodos – A fistulização cutânea é comum, com liberação do material caseoso. Na aids, a TB ganglionar costuma ser mais generalizada e associada a sinais e sintomas sistêmicos (febre, perda ponderal, hepatoesplenomegalia, adenopatia mediastinal e/ou abdominal). Em casos de adenopatia torácica ou abdominal, a TC contrastada pode ser de grande valia, ao demonstrar linfonodos aumentados com captação periférica do contraste e densidade atenuada no centro (correspondente à área de necrose caseosa). Este aspecto é bastante sugestivo de tuberculose. O diagnóstico bacteriológico raramente pode ser feito pelo aspirado ganglionar nos pacientes HIV negativos, pois a positividade é baixa. Nos pacientes HIV positivos, com adenite tuberculosa relacionada à aids, o aspirado é BAAR positivo em 75- 80% dos casos. O exame de melhor rendimento para o diagnóstico é a biópsia do linfonodo. Nos pacientes HIV negativos, a necrose caseosa aparece em boa parte dos casos e a cultura do fragmento macerado é positiva em 60%. TUBERCULOSE RENAL O comprometimento renal e do aparelho geniturinário pelo Mycobacterium tuberculosis é uma manifestação da tuberculose secundária, isto é, da reativação de um foco latente no tecido renal. O diagnóstico deve ser sempre suspeitado quando são encontrados repetidos exames de urina (sedimento) mostrando piúria (> 10 piócitos por campo) e hematúria microscópica (> 10 hemácias por campo) não dismórfica. A piúria não está associada à cultura positiva para germes comuns e, por isso, é chamada “piúria asséptica”. O paciente pode ou não apresentar sintomas, geralmente disúria e urgência urinária crônica ou recorrente. Os sintomas gerais são incomuns, mas podem ocorrer sob a forma de febre vespertina, com sudorese noturna e perda ponderal. O diagnóstico deve ser feito pela cultura para BK do sedimento centrifugado da primeira urina da manhã, enviada imediatamente ao laboratório. O procedimento então é repetido nos dias subsequentes, com um total de 3-6 amostras colhidas. A sensibilidade pode ultrapassar 80%. No meio de cultura convencional (Lovestain-Jansen), o bacilo da tuberculose cresce de forma muito lenta, positivando o exame entre 30 e 60 dias. Atualmente, existem meios de cultura especiais (de alto custo) que apresentam positividade entre 7 a 15 dias. A bacterioscopia pelo Ziehl-Neelsen pode confundir o diagnóstico, pois pode ser positiva pela presença de micobactérias saprófitas na urina. A urografia excretora está sempre indicada nos casos de urinocultura positiva para o BK. Em cerca de 85% dos casos, alguma anormalidade é encontrada (calicectasias ou abscessos renais em 40%, estreitamento ureteral em 25%, exclusão renal unilateral em 20% e hidronefrose/hidroureter em 5%). A detalha as principais alterações deste exame de imagem na tuberculose renal. Tab. 1: Alterações típicas da tuberculose renal na urografia excretora (ver ). FIGURA 4. Fig. 4 TABELA 1 FIGURA 5 Lesão das papilas renais (1) Se generalizada, confere o aspecto de “roído de traça”. Cavernas no parênquima renal (3) dilatações císticas dos cálices (4) Se generalizadas, confere o aspecto de “margarida”. Deformidades dos ureteres (5) Encurtamento do ureter. Dilatação + estenose: ureter em “saca-rolhas”. Calcificações disseminadas (2) Parênquima renal, ureter, parede vesical. Autonefrectomia Exclusão funcional (o rim acometido não aparece no exame). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Na cistoscopia, podem ser vistas lesões nodulares ou ulceradas, cuja biópsia revela granuloma caseoso. A ultrassonografia renal pode revelar a deformidade renal, focos hiperecoicos (correspondendo a granulomas) e anecoicos (correspondendo a lesões cavernosas – abscessos). O tratamento é feito com o esquema RIPE padrão, com cerca de 65% dos pacientes negativando a urinocultura já no primeiro mês. Devem ser realizadas urografias excretoras periódicas, pois há risco de desenvolvimento de estenoses mesmo durante o tratamento. Em algumas situações podem ser indicadas intervenções cirúrgicas, especialmente se houver estenoses. Rara-mente haverá necessidade de nefrectomia, que fica reservada aos seguintes casos: (1) dor intratável; (2) hematúria macroscópica refratária; (3) ITU de repetição; (4) suspeita de neoplasia; (5) refratariedade da urinocultura ao esquema RIPE; e (6) hipertensão secundária. QUADRO DE CONCEITOS III TUBERCULOSE PERICÁRDICA O Mycobacterium tuberculosis pode chegar ao pericárdio de duas formas: por contiguidade de um foco de infecção torácica ativa (linfonodo mediastinal, pleura ou pulmão) ou por via linfo- hematogênica, durante a primoinfecção, geralmente subclínica, manifestando um quadro de pericardite anos depois, pela reativação do foco pericárdico (tuberculose pós-primária). O quadro clínico caracteriza-se, em sua maioria, pelo desenvolvimento insidioso de sintomas não específicos, como emagrecimento, hiporexia, astenia, febre e sudorese noturna. Às vezes, o paciente refere uma dor retroesternal ou precordial contínua, de leve intensidade e opressiva. Outras vezes, um derrame pericárdico crônico assintomático é descoberto. O exame físico geralmente não tem alterações sugestivas de doença pericárdica, sendo incomum o atrito pericárdico. A suspeita diagnóstica de pericardite é feita pela constatação de aumento da área cardíaca na radiografia de tórax e confirmação de derrame pericárdico no ecocardiograma. O derrame pleural tuberculoso está presente em 40% dos casos, quase sempre unilateral. Eventualmente, o quadro clínico é o de uma pericardite aguda clássica, com dor pericárdica, atrito e evolução em 1-2 semanas. O ecocardiograma revela derrame pericárdico, geralmente de moderada quantidade e algumas vezes com imagens hiperecogênicas no espaço pericárdico, sugestivas de fibrina; este último aspecto é sugestivo do diagnóstico. A pericardiocentese diagnóstica deve sempre ser realizada, pois o derrame normalmente persiste por mais de três semanas. As características do líquido são as de um exsudato, com celularidade moderadamente aumentada (500-2.500/mm³) e com predomínio de linfócitos na maioria dos casos, exceto nas fases iniciais, quando podem predominar os polimorfonucleares. Para a confirmação diagnóstica, a bacterioscopia, pela coloração Ziehl-Neelsen, deve ser positiva, contudo, isso ocorre em menos de 25% dos casos. A dosagem da enzima ADA (adenosina deaminase) no líquido pericárdico (ou pleural) é de extremo auxílio no diagnóstico: um estudo prospectivo em 26 pacientes mostrou que para um ponto de corte de 40 U/L a sensibilidade é de 93% e a especificidade de 97%. O líquido pericárdico sempre deve ser mandado para cultura, que é positiva em menos de 50% dos casos. Quando o diagnóstico não é confirmado pela bacterioscopia, não devemos esperar o resultado da cultura para indicar a terapêutica, pois o M. tuberculosis pode demorar até 60 dias para crescer no meio apropriado. Neste caso, o melhor método diagnóstico é a biópsia pericárdica guiada pela pericardioscopia. O material biopsiado é mandado para exame bacterioscópico, cultura e histopatológico. A bacterioscopia continua tendo baixa sensibilidade (25%), mas o histopatológico frequentemente mostra granuloma caseoso, que no nosso meio é praticamente diagnóstico de tuberculose. Quando todos Fig. 5: Alterações típicas da tuberculose renal na urografia excretora (ver ).TABELA 1 ● Lembrar sempre da possibilidade de tuberculose renal quando houver piúria persistente com urinoculturas negativas (“piúria asséptica”). ● Não se pode confiarno exame microscópico de urina (Ziehl- Nielsen) para o diagnóstico. ● O diagnóstico deve ser feito com urinocultura para BK, em 3-6 amostras, e o resultado pode demorar até dois meses. ● O tratamento é o mesmo utilizado para a maioria das formas de tuberculose extrarrenal (RIPE). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech os exames são negativos, ainda assim não podemos afastar o diagnóstico; nesse caso se impõe uma prova terapêutica. As principais complicações são o tamponamento cardíaco e a pericardite constritiva (ou efusivoconstritiva). O primeiro deve ser abordado com pericardiocentese de alívio e drenagem pericárdica; na pericardite constritiva está indicada a pericardiectomia. A incidência da pericardite constritiva tuberculosa não diminui com o tratamento específico, ocorrendo em 30% dos casos. O tratamento da pericardite tuberculosa é feito com o esquema RIPE por seis meses. A associação de corticosteroides nos primeiros três meses da terapia geralmente é recomendada. A dose é de 60 mg/dia de prednisona no primeiro mês, com redução progressiva nos próximos dois meses. A pericardiectomia está indicada nos casos em que há derrame pericárdico recorrente ou síndrome constritiva precoce, devendo ser realizada entre 4-6 semanas após o início do tratamento. TUBERCULOSE PERITONEAL Geralmente, resulta na extensão de uma adenite tuberculosa abdominal para o peritônio, por contiguidade. Pode também fazer parte do quadro hematogênico da chamada polisserosite tuberculosa, quando encontramos ascite, derrame pleural e/ou pericárdico. A inflamação peritoneal leva à produção de um exsudato e à formação de ascite. Assim, a tuberculose entra no diagnóstico diferencial de ascite exsudativa sem hipertensão porta, fazendo diagnóstico diferencial com neoplasia, síndrome de Meigs, pancreatite crônica e colagenose. A ascite pode vir associada ao derrame pleural tuberculoso ou mesmo à pericardite tuberculosa, quando estamos diante da chamada polisserosite tuberculosa. A análise do líquido ascítico revela uma celularidade elevada (500-2.000 células/ml), com predomínio de mononucleares (linfócitos), a não ser nas fases precoces, glicose normal ou um pouco baixa e gradiente de albumina soro-líquido ascítico < 1,1 (ascite exsudativa). A positividade da baciloscopia é baixa, assim como a cultura (25-40%). O diagnóstico deve ser feito pela biópsia peritoneal guiada por peritoneoscopia, com o achado do granuloma caseoso e a cultura positiva do fragmento retirado. TUBERCULOSE OSTEOARTICULAR Pode representar até 30% dos casos de TB extrapulmonar, principalmente em crianças. Durante a disseminação linfo- hematogênica da primoinfecção, diversos ossos e articulações recebem o bacilo que é logo inativado pela resposta imunológica que acabou de se formar. Muitos anos após, um ou mais destes focos osteoarticulares podem reativar. Os ossos são tecidos bastante vascularizados, especialmente os corpos vertebrais e as epífises dos ossos longos. Por isso, são os locais preferidos pelo bacilo, que necessita de O2 para sobreviver. O local mais acometido é a coluna vertebral (em 50% dos casos), na sua porção torácica ou toracolombar, e em segundo lugar as grandes articulações do quadril e joelho. A TB osteoarticular deve ser tratada tal qual a TB meningoencefálica, isto é, esquema RIPE por doze meses. No entanto, NÃO é necessário fazer glicocorticoide na TB osteoarticular, ao contrário da TB meningoencefálica... Espondilite tuberculosa (mal de Pott): a tuberculose vertebral, conhecida como mal de Pott, acomete caracteristicamente a porção anterior do corpo vertebral de duas a três vértebras contíguas, levando à dor torácica dorsal e à deformidade progressiva e insidiosa do tipo cifose (“gibosidade”). Esta é explicada pelo fato das vértebras acometidas evoluírem com um encunhamento anterior e perda do espaço discal. O diagnóstico deve ser diferenciado de neoplasias pelo aspecto radiográfico. Tanto na tuberculose quanto nas neoplasias o mais comum são as lesões líticas. A tuberculose, entretanto, não respeita o disco intervertebral, além de geralmente poupar os pedículos. A confirmação diagnóstica só pode ser feita pela biópsia do corpo vertebral. Pela sua dificuldade, o aspecto de imagem sugestivo autoriza a prova terapêutica. A complicação mais importante do Mal de Pott é a paraplegia aguda, devido à compressão medular pela massa inflamatória – ou um infarto da medula por acometimento vascular. Infelizmente, cerca de metade dos pacientes são trazidos ao médico já com esta complicação! QUADRO DE CONCEITOS IV Abscesso paravertebral: a espondilite tuberculosa frequentemente está associada à formação de um abscesso paravertebral (50% dos casos). Este abscesso é definido como uma massa inflamatória que se estende em sentido superior ou inferior, acompanhando a coluna vertebral (espaço paravertebral). Pode ser visualizado na TC e às vezes FIGURA 6, Fig. 6 O segmento da coluna vertebral mais acometido pela TB é o torácico baixo. Em seguida, temos o lombar. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech na própria radiografia de coluna. É bastante comum que o abscesso fistulize para a pele, criando um trajeto sinusal. Os pontos comuns de fistulização são: região supraclavicular, crista ilíaca posterior, região inguinal, nádega. Artrite tuberculosa: o comprometimento das grandes articulações manifesta-se por monoartrite subaguda/crônica, que pode evoluir para defor-midade. As articulações mais acometidas são joelho e quadril. A articulação apresenta dor e edema, mas sem outros sinais flogísticos (“artrite fria”). TUBERCULOSE GENITAL A reativação de um foco renal ou genital pode levar aos quadros de salpingite tuberculosa ou epididimorquite tuberculosa. A salpingite tuberculosa é uma importante causa de esterilidade feminina em nosso meio e deve ser diagnosticada e tratada. Utiliza-se a histerossalpingografia e biópsia guiada por histeroscopia. TUBERCULOSE GASTROINTESTINAL A TB GI pode acometer qualquer segmento do tubo digestivo, da boca ao ânus, além das “glândulas” digestivas fígado e pâncreas. Temos dois tipos principais: (1) hepatite granulomatosa; e (2) tuberculose ileocecal. O diagnóstico do primeiro deve ser por biópsia. O quadro clínico é de febre com dor abdominal, hepatomegalia e aumento das enzimas hepáticas, especialmente a fosfatase alcalina. A tuberculose ileocecal leva a um quadro muito semelhante à doença de Crohn, com alteração dos hábitos intestinais, má absorção com esteatorreia, massa palpável na fossa ilíaca direita, obstrução intestinal, fístula. O bacilo invade a parede intestinal proveniente da deglutição do material escarrado ou por via linfo-hematogênica. Antigamente, a ingestão de leite não pasteurizado associava-se frequentemente à tuberculose ileocecal pelo M. bovis. A cultura de fezes positiva pode ocorrer na tuberculose pulmonar, mesmo sem haver o comprometimento intestinal. O diagnóstico é pela biópsia guiada por colonoscopia ou laparoscopia. TUBERCULOSE OFTÁLMICA Qualquer estrutura ocular pode estar acometida na tuberculose, desde as glândulas lacrimais, órbita e córnea, até a retina, passando pela úvea. A coriorretinite tuberculosa é a forma mais comum de apresentação ocular. A fundoscopia demonstra os tubérculos coroides (lesões elevadas amarelo-brancacentas). O diagnóstico diferencial deve ser feito com toxoplasmose e neo-plasias oculares. Esta diferenciação é bastante difícil, devendo-se analisar o paciente como um todo e o aspecto da fundoscopia, bem como a sorologia para toxoplasmose, etc. Sempre que a tuberculose acometer a retina, associaremos corticosteroides ao esquema antibiótico. Cap. 4 MICOSES PULMONARES Os fungos são seres vivos eucariotas (com membrana nuclear), tal como as bactérias, unicelulares ou pluricelulares, aeróbios em sua maioria, apresentando, diferentemente das bactérias e protozoários, uma membrana celular rica em ergosterol e uma parede celular formada porquitina e glucana. A sua reprodução pode ser assexuada (por brotamento ou divisão binária) ou sexuada, com formação de esporos. Os mais relevantes para a medicina apresentam a importante propriedade de dimorfismo: na natureza, a temperaturas em torno de 25ºC, apresentam-se como estruturas filamentosas (hifas) que se organizam no chamado micélio; no organismo infectado ou a temperaturas em torno de 37ºC, apresentam-se como estruturas leveduriformes (unicelulares). Os fungos que parasitam o ser humano, tendo como principal órgão o pulmão, são: ● Paracoccidioides brasiliensis (paracoccidioidomicose); ● Histoplasma capsulatum (histoplasmose); ● Criptococcus neoformans (criptococcose); ● Aspergillus sp. (aspergilose); ● Pneumocystis carinii (pneumocistose) – ver apostila de aids. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech VIDEO_08_PNEU2 PARACOCCIDIOIDOMICOSE AGENTE ETIOLÓGICO A paracoccidioidomicose, ou blastomicose sul-americana, é uma das principais micoses pulmonares no Brasil. O agente é o fungo Paracoccidioides brasiliensis (paracoco), um fungo dimórfico, presente no solo e restos de vegetais nas áreas rurais na América Latina, desde o sul do México até a Argentina, excetuando-se o Chile, Guianas, Suriname e algumas ilhas do Caribe. No Brasil (principal área endêmica), os casos desta micose são registrados especialmente nas zonas rurais dos estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA Várias evidências apontam as vias respiratórias como porta de entrada do fungo no organismo humano. O paciente se contamina pela inalação do fungo durante as atividades agrícolas. A doença não é contagiosa: não há transmissão interpessoal!! Estima-se que até 10% da população de nações endêmicas (como o Brasil) tenha positividade para reações intradérmicas à paracoccidioidina (história de exposição ao fungo), mas a incidência anual dessa doença é de apenas 1-3 casos/100.000 habitantes. A doença é mais frequente entre os 40 e 60 anos, sendo muito mais comum (14:1) no sexo masculino. Isso se deve à presença de receptores de estrógenos nas formas infectantes do fungo, que atuam inibindo a transformação destes em leveduras. Todavia, como a forma aguda incide em uma população mais jovem (muitas vezes pré-púbere), a incidência nesta forma específica da doença é igual nos dois sexos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA O fungo tem como porta de entrada os pulmões. Durante a formação do complexo primário (foco pulmonar + adenopatia satélite), o agente sofre disseminação linfo-hematogênica, tal como a tuberculose. Os órgãos mais acometidos são os pulmões; linfonodos (periféricos e/ou internos); mucosas labial, oral, faríngea, laríngea e traqueal; pele; fígado e baço. As principais formas de apresentação clínica da paracoccidioidomicose são: FORMA AGUDA/SUBAGUDA (TIPO JUVENIL) É a forma característica da criança e de adultos até trinta anos de idade. As manifestações são basicamente do sistema reticuloendotelial: adenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia (uma espécie de “síndrome de mononucleose”). O paciente pode apresentar febre, adinamia e perda de peso. Geralmente procura assistência médica após um a três meses do início dos sintomas. A adenopatia pode evoluir com fistulização e liberação de secreção purulenta (adenite supurativa), tal como ocorre na adenite tuberculosa (escrófula). A adenopatia pode acometer o hilo hepático, determinando icterícia obstrutiva. O envolvimento dos linfonodos mesentéricos pode dificultar a drenagem linfática dos intestinos, provocando uma enteropatia perdedora de proteínas (com hipoalbuminemia e anasarca) e ascite quilosa. O envolvimento das adrenais é uma característica importante da paracoccidioidomicose, ocorrendo com expressão clínica em 5% dos casos, manifestando-se com hiperpigmentação cutânea, anorexia, sintomas gastrointestinais, hipotensão, hipoglicemia e distúrbios eletrolíticos (insuficiência adrenal). FORMA CRÔNICA (TIPO ADULTO) Esta é a forma de maior interesse para a pneumologia... É a forma pulmonar da paracoccidioidomicose, respondendo por cerca de 90% dos casos. A apresentação clínica típica é uma história de meses de evolução com tosse, expectoração e dispneia aos esforços, com lenta progressão. A semiologia do aparelho respiratório é pobre, em contraste com as alterações radiológicas (dissociação clinicorradiológica). A febre e o emagrecimento costumam ser mais acentuados na forma aguda, podendo estar ausentes na forma crônica desta micose. O acometimento cutâneo-mucoso e a história de atividades agrícolas podem chamar atenção para o diagnóstico... As lesões mucosas acometem lábios, mucosa oral, orofaríngea ou mesmo a laringe, traqueia ou esôfago, manifestando-se como rouquidão inexplicada, tosse seca e/ou odinofagia. (FIGURA 1B) Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech As lesões de pele são polimórficas, apresentando-se como pápulas, placas, ectimas, úlceras ou lesões vegetantes Embora mais comum na forma aguda, na forma crônica também podemos observar a linfadenopatia, algumas vezes com fistulização e supuração, especialmente nos linfonodos inguinais e cervicais. O sistema nervoso central é acometido em 6% dos casos, com cefaleia progressiva, convulsões e deficit motor de instalação lentamente progressiva. Este quadro é causado por lesão cerebral expansiva (um “paracoccidioidoma”). A forma crônica pode evoluir com uma síndrome disseminada, apresentando características da forma aguda associada e frequente insuficiência adrenal. Portadores do HIV com CD4+ abaixo de 250/mm3, transplantados e pacientes com neoplasias hematológicas são particularmente suscetíveis a essa apresentação. Embora somente 5% dos pacientes com paracoccidioidomicose apresentem sinais e sintomas clínicos de falência adrenal, cerca de 14% dos casos têm uma reserva adrenal limitada, sob o risco de crise adisoniana durante algum tipo de estresse (ex.: cirurgia). EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO Na forma crônica, a radiografia de tórax é o exame principal. Encontra-se quase sempre alterada!! O mesmo não podemos falar sobre a forma aguda, que muitas vezes poupa os pulmões. A radiografia de tórax típica da paracoccidioidomicose crônica está na A doença cursa caracteristicamente com infiltrado pulmonar bilateral simétrico peri-hilar, acometendo predominantemente os terços médios. Os principais padrões radiológicos desta micose são: ● Infiltrado micronodular: com nódulos de diferentes tamanhos, ao contrário da tuberculose miliar e da histoplasmose miliar; ● Alveolar, de distribuição simétrica peri-hilar (“asa de morcego”); ● Intersticial, reticular ou reticulonodular; ● Cavitário, com pequenas cavitações irregulares e confluentes; Fig. 1: Na figura 1A, observamos uma radiografia de tórax da paracoccidioidomicose, com um infiltrado misto bilateral simétrico peri-hilar (asa de morcego). Na figura 1B, observamos a lesão na mucosa labial e oral; e na figura 1C, múltiplas lesões cutâneas ectimatoides. (FIGURA 1C). SAIBA MAIS... O que determina a evolução da infecção pelo paracoco para a forma aguda ou crônica? A resposta imune mais eficaz no controle do paracoco é aquela mediada pelos linfócitos Th-1, com secreção de IFN-gama, IL-2 e IL- 12, citocinas importantes na ativação de macrófagos e formação de granulomas. Com isso, a infecção é contida, e o paciente se torna um portador crônico não doente do paracoco... ...Todavia, alguns pacientes, por motivos constitucionais ou outras condições relacionadas à redução da imunidade celular (alcoolismo, desnutrição), apresentam uma resposta imune predominantemente do tipo Th2, com altos níveis circulantes de IL-4, IL-5 (que induzem eosinofilia) e IL-10 (que inibe a ativação de macrófagos e a formação de granulomas). Se este perfil for encontrado já no momento da infecção, teremos a forma aguda; se este perfil se desenvolver após um longo período de infecção controlada, haverá reativação da paracoccidioidomicose,resultando em sua forma crônica. FIGURA 1A. Fig. 1: Na figura 1A, observamos uma radiografia de tórax da paracoccidioidomicose, com um infiltrado misto bilateral simétrico peri-hilar (asa de morcego). Na figura 1B, observamos a lesão na mucosa labial e oral; e na figura 1C, múltiplas lesões cutâneas ectimatoides. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech ● Fibrótico, com estrias grosseiras, do hilo para a periferia pulmonar, com ou sem áreas enfisematosas. Este padrão é a sequela pulmonar da doença. O exame de sangue inespecífico apresenta poucas alterações, em geral compatíveis com “doença crônica”, como anemia e aumento do VHS. Eosinofilia costuma estar presente nas formas agudas, e monocitose pode ser encontrada nas formas crônicas. Em caso de insuficiência adrenal, pode haver hipoglicemia, hiponatremia, hipercalemia e eosinofilia. DIAGNÓSTICO É feito pela pesquisa direta do fungo (materi-al clareado por hidróxido de potássio ou tinta Parker) ou cultura (rendimento baixo) do material colhido do escarro, aspirado linfonodal ou raspado das lesões cutâneas. A sensibilidade do escarro pode chegar a 80%, se for utilizada a centrifugação e inclusão em parafina (técnica de citoinclusão), para serem realizados cortes corados pela prata. Se os resultados forem negativos, o diagnóstico pode ser buscado pelo exame histológico (biópsia pulmonar, linfonodal, cutânea), que mostrará o fungo corado pelo método da prata-metenamina (Gomori). Um outro método diagnóstico é a sorologia, com sensibilidade e especificidade em torno de 90%. Os métodos mais usados são a imunodifusão, o ELISA e a CIE (contra imunoeletroforese). A sorologia também é utilizada para controle de cura. Como alguns pacientes podem manter baixos títulos de anticorpos circulantes mesmo após a cura, é interessante confirmar o diagnóstico através da demonstração direta do fungo, diante da positividade de uma sorologia. O teste intradérmico com a paracoccidioidina é utilizado apenas em inquéritos epidemiológicos, não servindo para diagnóstico da doença. Este teste pode estar negativo no momento do diagnóstico, ou mesmo se manter positivo após a cura, já que indica apenas imunidade (infecção tanto prévia quanto atual) contra o paracoco. TRATAMENTO A terapia da paracoccidioidomicose tem duas fases distintas: ataque e manutenção. Embora sejam normalmente realizadas com a mesma droga, isso não é uma regra absoluta (podemos, por exemplo, iniciar o tratamento com uma droga e fazer a manutenção com outra). A maioria dos esquemas tem duração em torno de seis a doze meses. A tendência atual é cada vez mais basear a duração da terapia na melhora clínica e sorológica do doente, e não em períodos previamente fixados. A droga de escolha (embora de custo mais alto) para a paracoccidioidomicose é o itraconazol, na dose de 100-200 mg/dia, via oral, 1x/dia. O cetoconazol (200-400 mg/dia) é uma opção mais barata, porém menos potente e mais associada a efeitos adversos graves (hepatotoxicidade, bloqueio da síntese de testosterona). A anfotericina B venosa é reservada para os casos mais graves, disseminados... e, mesmo assim, somente em uma fase inicial (a terapia de manutenção é geralmente com SMX-TMP). As drogas de mais baixo custo no tratamento da paracoccidioidomicose, embora menos potentes, são as sulfonamidas. O sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim) pode ser usado na dose de 800/160 mg, duas a três vezes ao dia. Os pacientes que voltaram a positivar a sorologia e/ou voltaram a apresentar sinais e sin-tomas clínicos característicos devem receber o retratamento com a mesma droga ou com droga diferente. HISTOPLASMOSE AGENTE ETIOLÓGICO É o fungo dimórfico Histoplasma capsulatum. É um fungo encontrado no solo, principalmente em áreas com umidade elevada e temperatura entre 25-30ºC, como cavernas (ou edifícios abandonados) habitadas por morcegos ou locais habitados com aves (galinheiros, viveiros de pombos). TRANSMISSÃO E QUADRO CLÍNICO Transmitido quase sempre pela inalação do fungo proveniente do ambiente (não existe transmissão respiratória pessoa-pessoa). Muito raramente, a transmissão pode se dar por inoculação percutânea, em laboratórios. Há um relato de caso de transmissão vertical do Histoplasma, em que o RN desenvolveu a doença com três dias de vida. HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA SAIBA MAIS... A patogenia da Histoplasmose A histoplasmose tem patogenia análoga à tuberculose. Primeiro, o fungo é inalado, atinge os pulmões e, antes que se organize a imunidade contra ele, se dissemina para vários órgãos (SRE, adrenais, pele e outros), podendo, a partir daí, evoluir com a forma aguda da doença ou ser neutralizado pelo sistema imune, pela formação de granulomas, com necrose caseosa. Neste caso, a infecção se torna latente, subclínica, “aguardando” uma queda na imunidade para sua reativação. O HIV tem papel decisivo nestas reativações. A partir daí, podem se desenvolver formas agudas pulmonares ou disseminadas. A forma pulmonar crônica depende de um defeito estrutural pulmonar para evoluir. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Após período de incubação de duas a três semanas ou poucos dias (indivíduos previamente infectados e, portanto, sensibilizados), surge um quadro gripal (febre, cefaleia, calafrios, mialgia, mal-estar). Tosse seca, dor torácica e dispneia são comuns, sendo registrados casos que evoluíram com insuficiência respiratória. Adenomegalia periférica, hepatoesplenomegalia, eritema nodoso, eritema multiforme, artralgia e exantemas podem ser observados menos comumente. Seis por cento dos casos se apresentam com pericardite aguda, sendo rara a evolução para tamponamento. Normalmente, a histoplasmose aguda regride espontaneamente num prazo de dez dias a algumas semanas... A partir daí desenvolve-se um complexo de Ghon, semelhante ao que se forma na tuberculose. Embora sejam mais comumente encontrados no pulmão, estes granulomas cicatriciais podem ser vistos no fígado ou baço. HISTOPLASMOSE PULMONAR CRÔNICA É uma forma quase exclusivamente pulmonar, mais comum em pacientes com pneumopatia prévia (DPOC, bronquiectasias). O quadro é semelhante ao da tuberculose pulmonar, com início insidioso de sintomas respiratórios, febre, adinamia e perda ponderal. Os casos mais avançados acabam complicando com hemoptise e graus variáveis de fibrose pulmonar. A exemplo do que ocorre na tuberculose cavitária, pode haver disseminação broncogênica para o outro pulmão ou outro segmento pulmonar. HISTOPLASMOSE DISSEMINADA A disseminação do HIV mudou completamente a incidência da histoplasmose disseminada. Antes restritas a grupos específicos, as formas disseminadas da histoplasmose já foram muito mais raras; hoje em dia, é considerada doença definidora de aids. Outras formas de imunossupressão, como a realizada em transplantados, também colocam o paciente sob risco da forma disseminada da histoplasmose. Existem basicamente três formas de histoplasmose disseminada: aguda, subaguda e crônica. Forma aguda: mais comumente vista em crianças, antes da era HIV, essa forma evolui ao longo de dias, comfebre/calafrios, tosse, hepatoesplenomegalia, adenomegalias diversas (a mais comum, cervical) e, frequentemente, diarreia. Lesões cutâneas (especialmente papulocrostosas) estão presentes em 2/3 dos pacientes com HIV associado. Uma característica marcante da forma aguda é a presença de citopenias: pode ocorrer qualquer combinação delas, incluindo citopenias isoladas ou pancitopenia. Encefalite pode acompanhar 1/5 dos casos. A letalidade é de 100% se não tratada, caindo para 20% com tratamento adequado. Os pacientes sob maior risco de óbito são os que evoluem com choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. Forma subaguda: apresenta os mesmos sintomas básicos da forma aguda, que agora tem evolução pouco mais arrastada. As citopenias são menos comuns e mais leves nesta forma. Nela, a grande marca são as lesões cutâneo-mucosas, possivelmentepresentes no pulmão, intestinos, vasos sanguíneos e adrenais, que podem, por exemplo, provocar ulceração e até perfuração intestinal. Endocardite, meningite crônica ou, menos comumente, lesões sólidas intracranianas, podem acompanhar o quadro. Embora sejam raros os sintomas adisonianos, acometimento adrenal é visto em 80% das necropsias. Forma crônica: essa é a forma menos relacionada ao HIV, sendo normal seu encontro em adultos imunocompetentes. Os sintomas são mais brandos e arrastados, e a febre pode estar ausente ou ser intermitente. A forma crônica é mais localizada, menos sistêmica. A característica clínica mais típica dessa forma são as lesões cutâneo- mucosas, principalmente em cavidade oral, ou ainda em outros pontos do tubo digestivo, vias aéreas superiores, glande e grandes lábios. A doença pode evoluir na forma de surtos-remissões, sempre no mesmo sítio ou em sítios diferentes. RADIOLOGIA, LABORATÓRIO E DIAGNÓSTICO Os padrões radiológicos da histoplasmose simulam os padrões da tuberculose, em especial a tuberculose primária e miliar Adenopatia hilar e mediastinal é comum nas formas aguda e disseminada, compondo o complexo primário desta micose. Na forma pulmonar crônica, à semelhança do que ocorre na TB pós-primária, nota-se cavitação pulmonar, e não se visualiza adenomegalia mediastinal. Do ponto de vista laboratorial, como vimos, podem estar presentes várias citopenias... Em concursos, pode ser cobrado o característico aumento da ECA (Enzima Conversora da Angiotensina), presente SAIBA MAIS... Muito raramente, este nódulo formado após a infecção primária pelo histoplasma começa a aumentar de tamanho, provavelmente devido a um estímulo antigênico persistente, que acaba por perpetuar a resposta imune. Nesses casos, desenvolve-se uma massa formada por inflamação intensa e destruição tecidual na periferia, e uma área de fibrose central. Muitas vezes, desenvolve-se uma fina calcificação periférica. Essas massas são capazes de atingir grandes tamanhos, e são chamadas de histoplasmomas, pois podem ser confundidas com um Ca de pulmão. (FIGURA 2). Figs. 2 e 3: Dois casos de histoplasmose pulmonar crônica. Na figura 2, temos adenopatia hilar bilateral com tênue infiltrado e múltiplos micronódulos. Na figura 3, temos um padrão semelhante à tuberculose pulmonar pós-primária do adulto. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech também na sarcoidose. A fosfatase alcalina também tende a se elevar, e pode ocorrer hiperbilirrubinemia nas formas aguda e subaguda em até 20% dos casos. O diagnóstico idealmente deve ser feito pelo exame direto ou cultura de sangue, escarro, lavado broncoalveolar ou sangue. Como o crescimento do fungo é lento em meios de cultura, uma opção em pacientes mais instáveis, que requeiram rápido diagnóstico, é a biópsia pulmonar ou de outro sítio acometido (linfonodo, pele, medula óssea), em caso de doença disseminada. A prata-metenamina e o PAS são dois dos métodos de coloração utilizados. A sorologia pela imunodifusão dupla em gel (mais específica) ou pela fixação do complemento (mais sensível) pode ser usada para o diagnóstico, mas pode ser falso-positiva na tuberculose, linfoma, sarcoidose ou outras micoses (todas com clínica parecida). A pesquisa do antígeno polissacarídico no sangue ou na urina tem uma acurácia em torno de 90% (melhor na urina) para o diagnóstico da histoplasmose disseminada. TRATAMENTO A maioria dos casos de histoplasmose pulmonar aguda leve não requer tratamento, a menos que os sintomas perdurem por mais de três a quatro semanas. Neste caso, lançaremos mão de um ciclo curto (seis semanas) de itraconazol. A histoplasmose pulmonar aguda grave, definida normalmente pela presença de hipoxemia ou grandes infiltrados pulmonares, deverá ser tratada inicialmente com anfotericina B, seguida ou não de uma manutenção de itraconazol por algumas semanas. As formas pulmonares crônicas podem ser tratadas com itraconazol ou com anfotericina B. O tratamento da histoplasmose disseminada deve ser iniciado com anfotericina B venosa, inicialmente, e completado com itraconazol, devendo ser mantido por período indeterminado (profilaxia secundária) nos HIV positivos. Observe maiores detalhes dos esquemas terapêuticos na Tab. 1 ASPERGILOSE AGENTE ETIOLÓGICO O gênero Aspergillus contém 18 grupos, 132 espécies e 18 variedades. Sua presença na natureza é ubíqua, sendo encontrado no solo, água e ar. Pode colonizar as vias aéreas proximais de indivíduos normais, sob a forma de hifas e micélio. FORMAS CLÍNICAS TABELA 1 Esquemas Para o Tratamento da Histoplasmose – não é preciso decorar as doses Histoplas mose pulmonar aguda leve Só é necessário o tratamento caso os sintomas permaneçam por mais de 3-4 semanas. Neste caso... Itraconazol 200 mg/dia por 6 a 12 semanas. Histoplas mose pulmonar aguda grave (hipoxemia, grandes infiltrados) Anfotericina B 0,7-1,0 mg/kg/d por 1-2 semanas... depois... Itraconazol 200 mg 2x/dia por 12 semanas ... ou... Anfotericina B até dose total acumulada de 250-500 mg. Histoplas mose pulmonar crônica Itraconazol 200-400 mg/dia por 12- 24 meses... ou... Anfotericina B, até uma dose total acumulada de 30-35 mg/kg. Formas dissemi nadas em pacientes não-HIV Anfotericina B 0,7-1,0 mg/kg/dia por 1-2 semanas... depois... Itraconazol 200 mg 2x/dia por 12 meses ... ou... Anfotericina B, até uma dose total acumulada de 30-35 mg/kg (menos recomendado). Forma disseminada em HIV positivos Anfotericina B 0,5-1,0 mg/kg/dia por 1 semana... depois... Anfotericina B 0,8 mg/kg/dia 3x/semana, até a dose acumulada total de 10/15 mg/kg... depois... Itraconazol 300 mg VO 2x/dia por 3 dias... depois... Itraconazol 200 mg 2x/dia por período indeterminado (manutenção e profilaxia secundária). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech ASPERGILOSE BRONCOPULMONAR ALÉRGICA Causada pela hipersensibilidade crônica do tipo alérgica (tipo I) ao Aspergillus fumigatus. Manifesta-se como uma asma brônquica persistente moderada ou grave, com febre esporádica, tosse com expectoração de tampões mucosos de hifas ou micelas, infiltrados pulmonares migratórios, atelectasias segmentares ou subsegmentares, evoluindo para a formação de bronquiectasias proximais predominando nos lobos superiores (esta é a fase mais avançada, com fibrose pulmonar associada). Laboratorialmente, há eosinofilia importante e aumento da IgE sérica. O diagnóstico é feito baseado em critérios. A presença de seis critérios maiores firma o diagnóstico. Embora os critérios menores não tenham mais utilidade prática, eles serão citados para melhor ilustração das características clínicas (veja a ). Tab. 2 A doença evolui nos seguintes estágios: agudo, exacerbação, remissão, dependência aos corticoides, fibrose. O tratamento dos primeiros dois estágios é a prednisona 0,5 mg/kg/dia por duas semanas, passando-se para dias alternados durante pelo menos três meses. Nos casos mais graves (dependência a corticoide), a dose da prednisona deve ser aumentada para 30 mg/dia. Um estudo randomizado mostrou benefício na associação de itraconazol, com objetivo de poupar corticoide. A sequela fibrótica não responde à terapia. PNEUMONITE POR HIPERSENSIBILIDADE Quadro clinicorradiológico idêntico às outras formas de pneumonite por hipersensibilidade. Existe a forma aguda (pneumonite aguda febril) e crônica (granulomatosa). BOLA FÚNGICA (FUNGUS BALL) Os pacientes com lesões cavitárias fibróticas (especialmente aquelas com sequela de tuberculose ou bronquiectasias) podem desenvolver colonização intracavitária por fungos (bola fúngica), sendo o Aspergillus sp. o gênero mais envolvido, daí o nome aspergiloma. O aspergiloma é constituído pela presença de hifas mortas ou viáveis do fungo, muco, células mortas, leucócitos e hemácias, formando uma massa sólida no interior da cavidade, em comunicação com a árvore brônquica. A lesão costuma ser localizada e geralmente não há sintomas sistêmicos.O paciente pode ser assintomático, com a bola fúngica descoberta ao acaso no exame radiológico e ou então apresentar sintomas de tosse crônica, com ou sem hemoptise. A hemoptise pode eventualmente ser de grande monta, inclusive com casos registrados de fatalidade. Febre baixa e emagrecimento são sintomas possíveis. TABELA 2 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA A ASPERGILOSE BRONCOPULMONAR ALÉRGICA Maiores (seis critérios fecham o diagnóstico) ● Asma persistente. ● Infiltrados pulmonares migratórios. ● Bronquiectasias proximais. ● Eosinofilia > 500 cel/mm³. ● IgE sérica > 1.000 ng/ml. ● IgE e IgG específicas para o Aspergillus fumigatus. ● Precipitinas contra o Aspergillus fumigatus. ● Resposta imediata a teste cutâneo. Menores ● Presença de tampões de muco no escarro. ● Expectoração com hemoptoicos e elevada taxa de eosinófilos no escarro. ● Impactação mucoide. ● Resposta cutânea tardia. ● Presença de Aspergillus no escarro. (FIGURA 4) Figs. 4, 5 e 6: Aspergiloma. Na figura 4, temos uma peça anatômica de um aspergiloma. Figura 5: achado na radiografia de tórax. Figura 6: TC de tórax. (FIGURAS 5 6), Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech O tratamento está indicado nos casos sintomáticos (especialmente na presença de hemoptise), realizado por cirurgia, com ressecção da bola fúngica. Alternativamente, a cavernostomia pode ser indicada em casos selecionados. Nos pacientes sem condições clínicas para tolerar a cirurgia ou com múltiplas cavitações, pode-se iniciar itraconazol 400 mg/dia por vários meses, com uma resposta variável. Outras opções são o voriconazol ou a anfotericina B. ASPERGILOSE PULMONAR INVASIVA Infecção pulmonar grave pelo Aspergillus sp. (A. fumigatus, A. flavus, A. niger ou A. terreus). Ocorre quase que exclusivamente em paciente neutropênicos ou em uso de altas doses de corticosteroides. O quadro clínico mais frequente é o de um paciente neutropênico há mais de dez dias, manten-do febre prolongada, apesar da antibioticoterapia apropriada. Ou seja, muito semelhante à candidemia. O paciente pode apresentar tosse e dispneia progressiva. Sem tratamento, o paciente evolui rapidamente para deterioração do quadro clínico, com insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica, com alta letalidade. A radiografia de tórax e a TC de tórax mostram infiltrados pulmonares com a presença de múltiplos nódulos pulmonares. Imagens nodulares com halo em sua periferia (sugerindo sangramento perilesional) são muito sugestivas... A coalescência dos nódulos forma infiltrados e condensações alveolares difusas. A evolução é para extensas áreas de necrose do parênquima pulmonar. Dada a gravidade da aspergilose invasiva, tanto o achado do fungo no escarro ou no lavado broncoalveolar da broncoscopia em indivíduos neutropênicos, quanto um exame histopatológico (biópsia pulmonar), mostrando o Aspergillus na intimidade do tecido pulmonar, autorizam o início do tratamento. Devemos ressaltar que a sensibilidade do escarro e do LBA é baixa, sendo a biópsia frequentemente requerida (o diagnóstico deve ser perseguido a qualquer custo diante da suspeita clinicorradiológica!). Na aspergilose pulmonar invasiva crônica, diante da baixa positividade do escarro e LBA, aceita-se o diagnóstico sorológico para início do tratamento. O tratamento classicamente sempre foi feito com anfotericina B em dose alta. Com a descoberta de cepas resistentes a esse antifúngico, que também tem um extenso perfil de efeitos colaterais (o principal, certamente, é a insuficiência renal), foram realizados novos trials. O voriconazol se mostrou o agente mais efetivo nesse contexto clínico nos últimos trials e, portanto, é considerado o melhor tratamento para a aspergilose invasiva. O itraconazol é uma alternativa. Diante de impossibilidade do uso de voriconazol ou itraconazol (extensa lista de interações medicamentosas e alto custo dos dois medicamentos), a anfotericina B continua sendo uma opção. CRIPTOCOCOSE AGENTE ETIOLÓGICO O fungo Criptococcus neoformans variação neoformans é o agente da meningite criptocócica e da criptococcose pulmonar ou disseminada, especialmente em pacientes imunodeprimidos, como aqueles com aids. A variedade gatti pode ser encontrada causando infecção em imunocompetentes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO A meningite criptocócica e a criptococcose disseminada serão descritos na apostila de aids. A criptococcose pulmonar é uma doença semelhante à histoplasmose e pode lembrar bastante a tuberculose primária. Existem a forma aguda e a forma crônica, manifestando-se, respectivamente, como síndrome gripal e dispneia e como um quadro insidioso respiratório. O padrão radiológico inclui infiltrado pulmonar intersticial, alveolar unilateral ou bilateral, imagens nodulares, com adenopatia hilar e mediastinal satélite e/ou derrame pleural. O diagnóstico é feito pelo exame direto (tinta Nanquim ou tinta da China), pela cultura ou pela sorologia (látex para criptococo). TRATAMENTO Apesar da criptococose pulmonar normalmente se resolver espontaneamente, atualmente se recomenda o tratamento com fluconazol (200-400 mg/dia, por três a seis meses), mesmo nas formas oligossintomáticas e em pacientes imunocompetentes. O mesmo tratamento é recomendado nas formas extrapulmonares não meníngeas. Nos casos graves ou meníngeos, todavia, o tratamento deve ser iniciado com a anfotericina B venosa. APÊNDICE: CANDIDÍASE Figs. 4, 5 e 6: Aspergiloma. Na figura 4, temos uma peça anatômica de um aspergiloma. Figura 5: achado na radiografia de tórax. Figura 6: TC de tórax. SAIBA MAIS... Na forma disseminada (extrapulmonar, incluindo meningite) da criptococose, é comum o acometimento da pele. Nos pacientes HIV positivos e em transplantados, a lesão cutânea mais típica é uma pápula com umbilicação central, semelhante ao molusco contagioso. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Por mais que as candidíases não sejam micoses predominantemente pulmonares, não tinha como não aproveitarmos o capítulo de micoses para falar das infecções causadas pelo fungo mais prevalente no ambiente hospitalar. ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO O gênero Candida engloba mais de 150 espécies, das quais somente algumas poucas causam infecção em humanos. Algumas das principais são: C. albicans, C. krusei, C. glabrata e C. tropicalis. Embora há algumas décadas a quase totalidade das infecções por estes fungos se devesse à C. albicans (um patógeno clássico em diabéticos), alguns fatores induziram uma mudança na epidemiologia das candidíases. As cândidas são encontradas em objetos e comidas, além de colonizarem o trato gastrointestinal (desde a boca), a pele e o trato genital feminino. Sabendo disso, não é difícil imaginar que o advento da imunossupressão e o uso cada vez mais disseminado de antibióticos de amplo espectro, bem como o uso de cateteres venosos profundos (e vesicais) e a “quebra de barreira” de tecidos naturalmente colonizados (manipulação cirúrgica do trato gastrointestinal, uso sem assepsia adequada de drogas ilícitas IV, queimaduras extensas), trouxeram um aumento substancial na incidência das candidíases, modificando, inclusive, o perfil etiológico dessas infecções: atualmente, metade das infecções por Candida já é causada por Candida não albicans. Quadro 1 APRESENTAÇÕES CLÍNICAS As candidíases compreendem um espectro extremamente amplo de manifestações e formas clínicas. Vamos trazer aqui as mais importantes na prática clínica. CANDIDÍASE MUCOCUTÂNEA A forma mucocutânea de candidíase engloba algumas manifestações distintas. Primeiro falaremos da clássica candidíase oral, caracterizada pela presença de finas placas brancas, indolores, que são facilmente removíveis. Essa forma clínica está muito relacionada ao uso de corticoides inalatórios para a asma, ou pode ser sinal de doença grave e debilitante. Seu achado em jovens aparentemente hígidos deve suscitar a pesquisa de infecção pelo HIV. Falando em HIV,a candidíase oral pode, eventualmente, se estender até o esôfago, causando odinofagia ou até mesmo pirose. É a famosa candidíase esofagiana, uma entidade praticamente exclusiva dos imunodeprimidos. A vulvovaginite por Candida se apresenta com sintomas de prurido vulvar, leucorreia (que pode ou não conter pequenas placas “soltas”, similares as da candidíase oral) e desconforto local, acometendo preferencialmente mulheres em idade reprodutiva, especialmente as usuárias de anticoncepcionais orais. A balanite se manifesta por lesões eritematosas, que podem apresentar descamações ou erosões, às vezes recobertas por placas brancacentas, como as da candidíase oral. A candidíase cutânea classicamente aparece em áreas de dobras (submamária, interglútea...), na forma de lesões eritematosas e pruriginosas, frequentemente com pus. Quase sempre são notadas lesões-satélite menores. As cândidas também podem causar paroníquia e onicomicose. CANDIDÍASE SISTÊMICA Aqui se distinguem três síndromes: a candidíase invasiva focal, a candidíase invasiva disseminada e a candidíase disseminada crônica. Candidíase invasiva focal: decorre da invasão de algum tecido isolado a partir de um foco específico, causando sintomas/sinais de infecção exatamente iguais aos de uma infecção bacteriana. Exemplos são a peritonite a partir da manipulação do tubo digestivo e a infecção do trato urinário a partir do uso de cateteres vesicais. Candidíase invasiva disseminada: decorre da presença da Candida na corrente sanguínea e consequente disseminação para diversos órgãos. As hemoculturas são, geralmente, positivas. SIRS está presente em grande parte dos casos, o que torna a mortalidade alta. A presença de lesões cutâneas e/ou oculares (exsudatos algodonosos na retina) é FATORES DE RISCO PARA AS CANDIDÍASES Antibioticoterapia de amplo espectro. ● Imunossupressão: ● Diabetes mellitus; ● Quimioterapia citotóxica; ● Corticosteroides; ● HIV+ com baixa contagem de CD4. “Quebra de barreira”: ● Cateteres intravenosos ou vesicais; ● Cirurgia do trato gastrointestinal ou de tórax; ● Uso de drogas ilícitas IV; ● Grandes queimaduras. SAIBA MAIS... A candidíase mucocutânea crônica é uma rara entidade que normalmente se inicia na infância e é marcada por surtos-remissões das diversas formas de candidíase mucocutânea que vimos e que podem vir acompanhadas de lesões hiperceratóticas em face e couro cabeludo. Essa forma de candidíase pode estar relacionada a uma disfunção de células T e frequentemente se associa a endocrinopatias (hipogonadismo, hipotireoidismo...). Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech fortemente preditiva de acometimento de órgãos internos... Mas quais órgãos? Cérebro, meninges, glândulas endócrinas, rins, articulações, ossos e até coração (endocardite), são algumas das estruturas passíveis de acometimento na candidíase disseminada. Candidíase disseminada crônica (forma hepatoesplênica): é uma doença de pacientes leucêmicos que acabaram de se recuperar de uma neutropenia. Surgem então febre e outras manifestações sistêmicas, destacando-se a hepatoesplenomegalia. A fosfatase alcalina está elevada. O quadro, portanto, te incita a pedir uma USG ou uma TC de abdome, que mostra lesão focal hepática. A biópsia desta lesão mostra o quê? Microabscessos sugestivos de Candida. DIAGNÓSTICO A candidíase mucocutânea tem diagnóstico clínico, e o tratamento será iniciado com base no aspecto das lesões. Todavia, lesões recorrentes ou resistentes ao tratamento devem ser culturadas, pois pode se tratar de cândidas resistentes aos antifúngicos habituais. A candidíase invasiva é diagnosticada por meio de hemoculturas, que geralmente são positivas, especialmente na forma disseminada ou mesmo de biópsias, com envio do material para cultura, no caso de um acometimento mais focal ou de fácil acesso (lesões cutâneas, por exemplo). Exames de imagem, como TC, são úteis em estabelecer a extensão da infecção local ou mesmo avaliar o acometimento de outros órgãos internos.Na presença da forma disseminada de candidíase, uma fundoscopia deverá obrigatoriamente ser realizada, com o objetivo de definir a presença ou não de acometimento ocular, que tem tratamento específico. TRATAMENTO A mudança no perfil das infecções por Candida, o aumento de sua incidência e a importância epidemiológica cada vez maior das Candidas não albicans trouxeram à tona a questão da resistência ao fluconazol, o agente clássico no tratamento das candidíases. Ainda assim, nas formas sistêmicas/invasivas, este agente persiste sendo o mais utilizado. Alternativas de maior espectro são os “recentes” voriconazol e caspofungina, normalmente reservados aos pacientes com instabilidade hemodinâmica ou aos casos devidos a espécies resistentes ao fluconazol, no antibiograma. As formas mucocutâneas são tratadas na maioria absoluta das vezes com agentes tópicos, à base de nistatina ou cetoconazol. Em geral, o tratamento tópico é mantido até dias após a melhora da lesão. Veja a abaixo, que resume os tratamentos das principais formas de candidíase. *Obviamente, o tratamento da candidíase invasiva deverá ser ajustado conforme os resultados das culturas, de acordo com o perfil de sensibilidade do fungo. O objetivo é deixar o paciente com o antifúngico de menor espectro possível, desde que cubra o fungo em questão e penetre adequadamente nos tecidos acometidos. Essa medida, a exemplo do que ocorre com os antibióticos, permite poupar nossos “grandes trunfos”, diminuindo a indução de resistência. TABELA TRATAMENTO DAS CANDIDÍASES Candidíase cutânea ou balanite Cetoconazol (ou outro azol) tópico; → Alternativa: nistatina tópica. Candidíase vulvovaginal Fluconazol 150 mg VO dose única; → Alternativa: nistatina tópica. Candidíase oral Nistatina oral, bochechar e engolir 5x/d; → “Lá fora”: clotrimazol tópico. Candidíase invasiva* (hemodi nâmica estável) Fluconazol IV 400 mg/d. Candidíase invasiva* (hemodi nâmica instável) Caspo fungina 50 mg/d ... ou... Vori conazol 3 mg/kg 2x/d. Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech Telegram: @kiwifz - Site: medvideos.tech