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Tuberculose: Agente, Transmissão e Epidemiologia

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Leticia Frei 
 
1. Agente etiológico 
 
A TB pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium 
tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae. Em saúde 
pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, conhecida também como bacilo de Koch (BK). O M. 
tuberculosis é fino, ligeiramente curvo e mede de 0,5 a 3 μm. É um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), 
aeróbio, com parede celular rica em lipídios (ácidos micólicos e arabinogalactano), o que lhe confere baixa 
permeabilidade, reduz a efetividade da maioria dos antibióticos e facilita sua sobrevida nos macrófagos. Em 
alguns locais, o M. bovis pode ter especial relevância como agente etiológico da TB e apresenta-se de forma 
idêntica ao M. tuberculosis, com maior frequência da forma ganglionar e outras extrapulmonares. A ocorrência 
é mais comum em locais que consomem leite e derivados não pasteurizados ou não fervidos de rebanho bovino 
infectado; em pessoas que residem em áreas rurais e em profissionais do campo (veterinários, ordenhadores, 
funcionários de matadouros, entre outros). Nessas situações, os serviços de vigilância sanitária devem ser 
informados para atuar na identificação precoce das fontes de infecção e no controle da doença, prevenindo 
assim a ocorrência de novos casos. Outro grupo de micobactérias, as micobactérias não tuberculosas (MNT), 
compreendem diversas espécies como M. avium, M. kansasii, M. intracellulare e M. abscessos com relevância 
epidemiológica no Brasil restrita a determinadas populações ou regiões. 
 
 
 
2. Transmissão 
 
O M. tuberculosis é mais comumente transmitido de uma pessoa com TB pulmonar infecciosa por núcleos de 
gotículas, que são aerossolizados por tosse, espirro ou fala. As minúsculas gotículas secam rapidamente; as 
menores (< 5-10 µm de diâmetro) podem permanecer suspensas no ar durante várias horas e alcançar as vias 
respiratórias terminais quando inaladas. Pode haver até 3 mil núcleos infecciosos por episódio de tosse. Outras 
vias de transmissão do bacilo da TB (p. ex., por meio da pele ou placenta) são incomuns, carecendo de 
importância epidemiológica. A probabilidade de contato com uma pessoa que apresenta a forma infecciosa de 
TB, a intimidade e a duração desse contato, o grau de infectividade do caso e o ambiente compartilhado no 
contato constituem importantes determinantes da probabilidade de transmissão. Diversos estudos sobre 
 
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situações de contatos próximos demonstraram claramente que os pacientes com TB cujo escarro contém BAAR 
visíveis à microscopia (casos de esfregaço de escarro positivo) têm maior tendência a transmitir a infecção. Os 
pacientes mais infectantes apresentam doença pulmonar cavitária ou, menos comumente, TB laríngea e 
produzem escarro que contém até 105-107 BAAR/mL. Os pacientes que apresentam TB com esfregaço de 
amostra de escarro negativo/cultura positiva são menos infectantes, embora tenham sido responsáveis por 
até 20% da transmissão em alguns estudos nos Estados Unidos. Aqueles com TB pulmonar de cultura negativa e 
TB extrapulmonar são essencialmente não infecciosos. Como os indivíduos com infecção pelo HIV e TB têm 
menos tendência a apresentar cavitações, podem ser menos infectantes do que os sem coinfecção pelo HIV. A 
aglomeração em salas pouco ventiladas constitui um dos fatores mais importantes na transmissão de bacilos 
da TB, visto que aumenta a intensidade de contato com um caso. O risco de aquisição da infecção pelo M. 
tuberculosis é determinado principalmente por fatores exógenos. Devido à demora na procura de atendimento 
médico e no estabelecimento de um diagnóstico, geralmente estima-se que, em condições de alta prevalência, 
até 20 contatos podem ser infectados para cada caso BAAR-positivo antes do diagnóstico de TB no caso índice. 
 
 
 
3. Epidemiologia e coinfecção com HIV 
Epidemiologia 
A tuberculose segue como uma das principais ameaças a saúde pública mundial. Em 2015, cerca de 10,4 milhões 
de pessoas desenvolveram tuberculose, 580 mil delas na sua forma multirresistente ou resistente a 
rifampicina, com 1,4 milhão de mortes. 
O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV considerados prioritários para o controle da 
tuberculose globalmente. Foram 72 mil casos notificados em 2017, e a incidência variou de 10 a 74,7 casos por 
100 mil habitantes entre as unidades federais, com um coeficiente de mortalidade de 2,2 mortes por 100 mil 
habitantes. 
Não há uma epidemia de tuberculose no Brasil, mas concentrações dos casos da doença. Pessoas vivendo com 
HIV, em situações de rua e privadas de liberdade, população indígena, pessoas vivendo em aglomerados ou em 
situação de pobreza são as mais acometidas pela doença no país. 
HIV 
 
A TB é uma das doenças mais comuns entre pessoas infectadas pelo HIV em todo o mundo e uma causa 
importante de morte nessa população; mais especificamente, é responsável por estimados 24% de todas as 
mortalidades relacionadas com o HIV. Em alguns países africanos, a taxa de infecção pelo HIV em pacientes com 
TB atinge 70 a 80%. Uma pessoa com TCT-positivo que adquire infecção pelo HIV corre risco anual de 3 a 13% 
de desenvolver TB ativa. Uma nova infecção tuberculosa adquirida por um indivíduo infectado pelo HIV pode 
 
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evoluir para a doença ativa em questão de semanas, em lugar de fazê-lo no decorrer de meses ou anos. A TB 
pode aparecer em qualquer estágio da infecção pelo HIV, e a sua apresentação varia de acordo com o estágio. 
Quando a IMC está parcialmente comprometida, a TB pulmonar apresenta-se de maneira típica, com infiltrados 
no lobo superior e cavitação e sem linfadenopatia significativa ou derrame pleural. Nos estágios avançados da 
infecção pelo HIV, quando a contagem de células T CD4+ é < 200/μL, é mais comum haver um padrão 
semelhante ao da TB primária, com infiltrados intersticiais difusos e sutis, pouca ou nenhuma cavitação, 
derrame pleural e linfadenopatia intratorácica. Entretanto, essas formas estão se tornando menos comuns 
devido ao uso disseminado de terapia antirretroviral (TARV). De modo global, as amostras de escarro são 
positivas com menos frequência entre pacientes tuberculosos com infecção pelo HIV do que nos sem essa 
infecção; por conseguinte, o diagnóstico de TB pode ser difícil, particularmente em vista da variedade de 
afecções pulmonares relacionadas com o HIV que simulam a TB. A TB extrapulmonar é comum em pacientes 
infectados pelo HIV. Em várias séries, foi documentada a ocorrência de TB extrapulmonar – isoladamente ou em 
associação com doença pulmonar – em 40 a 60% dos casos em indivíduos coinfectados pelo HIV. As formas 
mais comuns são a linfática, a disseminada, a pleural e a pericárdica. A micobacteremia e a meningite também 
são comuns, particularmente na doença avançada pelo HIV. O diagnóstico de TB em pacientes infectados pelo 
HIV pode ser complicado não apenas pela maior frequência de resultados negativos do esfregaço de escarro 
(até 40% em casos pulmonares comprovados por cultura), mas também por achados radiológicos atípicos, 
ausência de formação clássica de granuloma nos estágios avançados e resultado negativo do TCT. O ensaio 
Xpert MTB/RIF (ver “Tecnologia de amplificação de ácido nucleico”, adiante) é a opção diagnóstica inicial 
preferida, e a terapia deve ser iniciada com base em um resultado positivo porque atrasos no tratamento 
podem ser fatais. Um resultado de Xpert MTB/RIF negativo não exclui um diagnóstico de TB, e a cultura 
permanece o padrão-ouro. As exacerbações em sinais e sintomas sistêmicos (linfadenopatia) ou respiratórios e 
manifestações laboratoriais e radiográficas de TB – chamados de síndrome inflamatória de reconstituição 
imune (SIRI) ou doença de reconstituição imune de TB (TB-DRI) – foram associadas à administração de TARV e 
ocorrem em cerca de 10% dos pacientes com TB infectados peloHIV. Em geral, desenvolvendo-se 1-3 meses 
após o início de TARV, a SIRI é mais comum entre pacientes com imunossupressão avançada e TB 
extrapulmonar. A “SIRI do tipo unmasking ” também pode se desenvolver após o início de TARV em pacientes 
com TB subclínica não diagnosticada. Quanto mais cedo a TARV for iniciada e quanto menor a contagem de 
células T CD4+ de momento basal, maior o risco de SIRI. A morte devido à SIRI é relativamente infrequente e 
ocorre principalmente entre pacientes que têm um alto risco de mortalidade preexistente. A patogênese 
presumida de SIRI consiste em uma resposta imune que é evocada por antígenos liberados à medida que 
bacilos são mortos durante quimioterapia eficaz e que está temporariamente associada à melhora da função 
imune. Não há nenhum exame diagnóstico para SIRI, e sua confirmação depende fortemente das definições de 
casos que incorporam dados clínicos e laboratoriais; uma variedade de definições de casos foi sugerida. A 
primeira prioridade no tratamento de um possível caso de SIRI é assegurar que a síndrome clínica não 
represente uma falha do tratamento de TB ou o desenvolvimento de outra infecção. As reações paradoxais 
brandas podem ser tratadas com base nos sintomas. Os glicocorticoides foram usados para reações mais 
graves, e a prednisolona, administrada durante quatro semanas com uma dosagem baixa (1,5 mg/kg/dia, 
durante duas semanas, e metade dessa dose para as duas semanas restantes) reduziu a necessidade de 
hospitalização e de procedimentos terapêuticos, além de ter acelerado o alívio dos sintomas, como refletido 
pelo escores de desempenho de Karnofsky, avaliações de qualidade de vida, resposta radiográfica e níveis de 
proteína C-reativa. A eficácia dos glicocorticoides no alívio dos sintomas de SIRI está provavelmente ligada à 
supressão das concentrações de citocina próinflamatória, pois essas medicações reduzem as concentrações 
séricas de IL-6, IL-10, IL-12p40, TNF-α, IFN-γ e proteína 10 induzível por IFN-γ (IP-10). As recomendações para a 
prevenção e o tratamento da TB em indivíduos infectados pelo HIV são apresentadas adiante. 
 
 
 
 
 
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4. Patogênese (desenho) 
 
As vias aéreas são a principal porta de entrada para o M. tuberculosis. Uma pessoa com tuberculose 
pulmonar em atividade expele, pela tosse ou fala, pequenas partículas contendo um ou dois bacilos viáveis no 
seu interior. Uma vez inaladas, essas partículas alcançam os alvéolos pulmonares, onde os bacilos se 
implantarão, este órgão é o mais acometido pela doença. 
 Nos alvéolos pulmonares, os bacilos são fagocitados por macrófagos, que são as células de primeira 
linha na defesa. A entrada da micobacteria nas células fagocitarias ocorre por meio da ligação do bacilo com 
vários receptores celulares. Se contidos no interior do lisofagossomo, a infecção é barrada nessa fase, 
evitando a disseminação hematogênica primaria que ocorre principalmente em crianças e imunodeprimidos. 
 Se a resposta imunológica não for efetiva para a eliminação do patógeno, os bacilos podem deixar o 
interior do macrófagos e disseminar para a corrente linfática ate os linfonodos regionais, Os linfonodos hilares 
infartam-se, constituindo o complexo primário tuberculoso de Ranke, composto pelo cancro de inoculação, a 
linfangite e a adenomegalia hilar. Embora possa ser visível a radiografia de tórax, a maioria dos casos de 
infecção tuberculosa é clinica e radiologicamente inaparente, sendo o teste tuberculínico positivo indificio da 
infecção bem-sucedida. 
A partir dos linfonodos hilares, os bacilos se disseminam para linfonodos paratraqueais e vertebrais e, via duto 
torácico, alcançam a corrente sanguínea, podendo se alojar nas regiões superior do pulmão ou em diversos 
órgãos, como rins, cérebro e ossos, oferta satisfatória de oxigênio associada a uma baixa perfusão local 
facilitam a multiplicação dos bacilos. 
 O granuloma pode desenvolver área central de necrose caseosa resultado da morte da maioria dos 
bacilos e destruição do tecido pulmonar. O bacilo pode sobreviver no interior do granuloma na forma latente ou 
escapar do controle do sistema imunológico e causa doença – definida como tuberculose primaria -, se a lesão 
inicial provocar sintomas imediatamente após a infecção, ou tuberculose pós-primaria, se ocorrer tardiamente. 
A capacidade dos bacilos de sobreviver no interior dos macrófagos depende de fatores relacionados a 
virulência do bacilo e a habilidade das células do sistema imunológico em elimina-lo. Nesse contexto, o sucesso 
da interação entre macrófagos infectados e linfócitos T tem uma função relevante no controle da infecção. 
 No inicio da infecção,as células T são ativadas após a apresentação de antígenos microbianos e são 
induzidos citocinas inflamatórias, como IFN-y e TNF-α , de modo a potencializar a resposta de macrófagos. 
Duas a 3 semanas após infecção linfócitos T-CD4+ e CD8+ podem participar na proteção contra o bacilo. 
 A resposta imunológica protetora induzida durante a infecção inicial requer principalmente a ação de 
linfócitos T-CD4+ efetores que produzem citocinas com padrão Th-1, INF-y e TNF-α , que ativam macrófagos. 
Sob o ponto de vista pratico, a patogenia da tuberculose ainda é claramente entendida pela formula clássica de 
Rich, na qual a probabilidade de doença é diretamente proporcional ao numero e virulência do bacilo a 
hipersensibilidade e inversamente proporcional a resistência natural e adquirida. 
 
 
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5. Quadro clinico: tuberculose primaria, secundaria e miliar 
 
Tuberculose primaria: irritadiço, febre baixa, sudorese noturna, inapetência e exame físico inexpressivo, 
raramente há manifestações de hipersensibilidade extrapulmonar, como o eritema nodoso, conjuntivite 
flictenular e a artralgia de Poncet. 
 
Tuberculose secundaria: tosse seca ou produtiva persistente por tempo igual ou superior a três semanas, a 
expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem sangue. A febre é vespertina, sem calafrios e não 
costuma ultrapassar 38,5°C. Sudorese noturna, anorexia e fadiga são comuns. Ao exame físico: facies de 
doença crônica e emagrecimento, embora há pacientes em bom estado geral e sem perda ponderal. 
 
 
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Tuberculose miliar: a apresentação clinica é mais aguda, febre, astenia e emagrecimento associado a tosse. No 
exame físico hepatomegalia, alterações do sistema nervoso central, e alterações cutâneas do tipo eritemato-
maculo-papulo-vesiculosas. 
6. Diagnostico radiológico 
 
Radiografia simples de tórax: principal método, no diagnostico da tuberculose pulmonar, pela simplicidade, 
disponibilidade e baixo custo, é a telerradiografia do tórax, utilizada em varias incidências (posterioanterior, em 
perfil, obliquas, apico-lordotica e em decúbito lateral – em casos de derrame pleural). 
A tuberculose pulmonar se apresenta de múltiplas formas, embora tenha preferencia por algumas localizações 
no pulmão: 
 
-Lobos superiores (segmentos posteriores) 
-Segmentos apicais dos lobos inferiores 
-Lingula, lobo médio 
 
 
 
Portanto, lesões nessas localizações devem entrar sempre no diagnostico diferencial de tuberculose. 
 
 
 
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Tomografia computadorizada de tórax: A TC de tórax, principalmente pela técnica de alta resolução pela alta 
sensibilidade, é bastante superior a radiografia simples de tórax, na avaliação da presença e extensão das 
varias alterações parenquimatosas, e permite: 
 
-Localizar a doença no nível do lóbulo pulmonar secundário 
-Lesões centrolobulares que caracterizam disseminação broncogênica 
-Mostrar pequenas escavações não visualizas na radiografia simples 
-Diagnostico diferencial com outras patologias pulmonares 
 
A TC de tórax é particularmente útil nos casos em que a baciloscopia direta se mostra negativa, e desde que a 
radiografia do tórax não seja altamente sugestiva de TB. 
 
 
 
 
Leticia FreiUltrassonografia de torax: é um metodo util para diagnostico de pequenos derrames, septações e 
espessamento pleurais, alem de servir como guia para punção pleural. 
 
Ressonancia magnetica: praticamente não é utilizada como meio de diagnostico da TB pulmonar, porem pode 
auxiliar no diagnostico da TB extrapulmonar. 
 
 
7. Diagnostico microbiológico: bacilocospia, cultura, PCR 
 
Cultura: A cultura para micobactérias de material respiratório apresenta sensibilidade em torno de 80% e 
especificidade de 98%. Nos casos de tuberculose pulmonar com baciloscopia negativa, a cultura aumenta a 
detecção da doença em 20-40%.Os métodos para cultura que utilizam a semeadura em meios sólidos, como o 
Löwenstein-Jensen e o Ogawa-Kudoh, são os mais comumente utilizados por apresentarem a vantagem de ter 
menor custo e um baixo índice de contaminação. Contudo, os meios sólidos demandam de duas até oito 
semanas para a detecção do crescimento micobacteriano. Por isso, se for acessível, deve ser utilizado o meio 
líquido através de sistemas automatizados não radiométricos, como o Mycobacteria Growth Indicator Tube 
(MGIT; Becton Dickinson, Sparks, MD, EUA), para maior rapidez no resultado (10-42 dias).A partir do crescimento 
de micobactérias, é necessária a complementação com teste de identificação e teste de sensibilidade a 
antimicrobianos. 
A identificação da espécie é feita por métodos bioquímicos e fenotípicos ou por meio de técnicas moleculares e 
consiste em distinguir as micobactérias do complexo Mycobacterium tuberculosis das micobactérias não 
tuberculosas (MNT). Os métodos disponíveis para o teste de sensibilidade a antimicrobianos são o método das 
proporções, que utiliza meio sólido e tem seu resultado em até 42 dias de incubação, e o método automatizado, 
que utiliza meio líquido, com resultados disponíveis entre 5 e 13 dias. Os fármacos testados são estreptomicina, 
isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida. Para os casos de tuberculose multirresistente (TB-MDR, do 
inglês multidrug-resistant) são testados fármacos de segunda linha. 
A realização de cultura em meios sólidos e/ou líquidos é considerada o padrão ouro para o diagnóstico de 
tuberculose pela OMS. É indicada também na suspeita de tuberculose extrapulmonar. Na tuberculose pleural, a 
cultura de micobactérias tem baixo rendimento (< 15%). Já no empiema tuberculoso, o rendimento da cultura é 
 
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elevado. A cultura de escarro induzido pode ser positiva em até 50% dos casos, mesmo que a única alteração 
visível na radiografia de tórax seja o derrame pleural. 
 
Baciloscopia: A baciloscopia do escarro é importante para o diagnóstico de tuberculose porque detecta os 
pacientes bacilíferos, que alimentam a cadeia de transmissão da doença. A pesquisa de BAAR é um método 
rápido e de baixo custo.Porém, apesar de a sensibilidade da baciloscopia direta em escarro espontâneo chegar 
a 80% na presença de lesões cavitadas e extensas, em média, essa apresenta sensibilidade de 40-60% e é 
positiva em apenas 20% dos pacientes com lesão mínima. Além disso, a baciloscopia apresenta menor 
sensibilidade em pacientes com a coinfecção por HIV (de 20-60%). 
Duas a três amostras de escarro devem ser enviadas para baciloscopia, com pelo menos uma coleta no início 
da manhã para a otimização dos resultados da baciloscopia. O volume de escarro deve ser maior que 3 mL, 
sendo o volume ideal de 5-10 mL. 
A microscopia de fluorescência pode incrementar a capacidade de detecção do bacilo em 10%, quando 
comparada à microscopia com luz convencional. Um aumento de 10-20% na sensibilidade da baciloscopia 
também pode ser obtido após centrifugação e/ou sedimentação do escarro. 
A indução de escarro com solução salina hipertônica é uma técnica útil em indivíduos que apresentam 
baciloscopia de escarro negativa ou são incapazes de produzir escarro, porque aumenta o rendimento da 
baciloscopia e da cultura.Tem um rendimento diagnóstico semelhante ao da broncoscopia com LBA e é mais 
custo-efetiva. Caso não se consiga o diagnóstico com a coleta de escarro espontâneo ou induzido e persista a 
suspeita de tuberculose pulmonar, pode-se proceder com broncoscopia e coleta de LBA para baciloscopia e 
cultura. A broncoscopia também tem papel no diagnóstico da tuberculose pulmonar com baciloscopia negativa, 
nos casos de hemoptise por tuberculose e para afastar diagnósticos alternativos. 
Nos casos suspeitos de tuberculose extrapulmonar, a baciloscopia do material obtido também é indicada, 
apesar de a sensibilidade ser menor. Nos casos de tuberculose ganglionar, o diagnóstico é realizado através de 
aspirado por punção por agulha ou ressecção ganglionar. Na tuberculose pleural, o líquido pleural apresenta-se 
como um exsudato, com predomínio de linfócitos, mas com baixo rendimento para a pesquisa de BAAR (< 5%). 
Já no empiema tuberculoso, o rendimento da baciloscopia é alto. Níveis elevados de adenosina desaminase (> 
40 U/L) no líquido pleural são considerados como fortemente sugestivos do diagnóstico de tuberculose pleural. 
 
PCR: O teste molecular Xpert MTB/RIF (Cepheid, Sunnyvale, CA, EUA) é baseado na amplificação de ácidos 
nucleicos para a detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resistentes à 
rifampicina pela técnica de reação em cadeia da polimerase (RCP) em tempo real, com resultados em 
aproximadamente 2 h, sendo necessária somente uma amostra de escarro. A sensibilidade do teste em 
amostras de escarro de adultos é em torno de 90%. Em relação à resistência à rifampicina, a sensibilidade é de 
95%. 
No Brasil, o Xpert MTB/RIF recebeu a denominação de teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) e está 
indicado para o diagnóstico de casos novos de tuberculose pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes, 
podendo ser utilizado com amostras de escarro espontâneo, escarro induzido, LBA e lavado gástrico; para o 
diagnóstico de tuberculose extrapulmonar em materiais biológicos já validados (líquor, gânglios linfáticos e 
macerado de tecidos); para a triagem de resistência à rifampicina em casos de retratamento; e para a triagem 
de resistência à rifampicina nos casos com suspeita de falência do tratamento. 
Para aprimorar o diagnóstico molecular da tuberculose, foi desenvolvido o Xpert MTB/RIF Ultra (Cepheid), que 
possui maior sensibilidade na detecção da tuberculose, principalmente em amostras paucibacilares. Sua 
sensibilidade é comparável à da cultura líquida e já está disponível no Brasil. Na versão Ultra, os resultados são 
descritos como M. tuberculosis não detectado (negativo), M. tuberculosis detectado (positivo) e M. tuberculosis 
traços detectados. Esse último resultado pode ser interpretado como positivo, dentro do contexto clínico, em 
espécimes de indivíduos com HIV/AIDS e crianças menores de 10 anos, assim como naqueles oriundos dos 
materiais extrapulmonares já descritos, porque esses materiais podem estar associados às formas 
paucibacilares da tuberculose mais frequentemente. Nas demais situações clínicas, o resultado “M. tuberculosis 
 
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traços detectados” deve ser considerado inconclusivo e a investigação da tuberculose deve prosseguir. 
Outro tipo de teste molecular aprovado e recomendado para uso pela OMS em material respiratório é o line 
probe assay, que além de identificar o complexo M. tuberculosis, identifica resistência à rifampicina e à 
isoniazida e, em teste separado, também pode avaliar resistência à fluoroquinolonas e a drogas injetáveis. 
Numa meta-análise, a sensibilidade e a especificidade desse teste foram de 96,7% e 98,8% na avaliação de 
resistência à rifampicina, respectivamente, enquanto essas foram de 90,2% e 99,2% em relação à resistência 
à isoniazida. 
 
8. Tratamento: esquema básico, principais efeitos adversos dos medicamentos, 
TDO (tratamento diferente observado). 
 
Esquema básico: para o tratamento de adultos e adolescentes >10 anos de idade. 
 
 
Efeitos adversos:Hidrazida: 
-Neuropatia periférica 
-Hepatite 
-Eosinofilia, plaquetopenia e anemia 
-Derrame pleural e síndrome de lúpus-like 
-Alterações mentais: convulsões, memoria recente afetada, dificuldade para aprendizado, erros em contas. 
-Encefalopatia é rara. 
 
Rifampicina: 
-Presença de coloração alaranjada nas fezes e urina 
-Nauseas e vômitos, porem a hepatite é rara 
-Urticaria podendo ser acompanhada de rash cutâneo, febre e eosinofilia, respondendo bem a anti-histaminicos. 
-interrupção do medicamento na síndrome de lúpus-like 
-trombocitopenia e eosinofilia, bem como nefrite intersticial. 
 
 
 
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Pirazinamida 
-Nauseas e vômitos 
-Artralgia decorrente de eliminação de acido úrico diminuído no período diurno, que reflete em aumento sérico 
do acido úrico. 
-Pode se manifestar com gota, mas também pode haver o envolvimento de articulações, como ombros e mãos. 
-Reações cutâneas mais frequentes são eritema e prurido, que usualmente melhoram com a interrupção da 
droga. 
 
Etambutol: 
-As manifestações colaterais como alterações visuais são raras quando a dose máxima é de 15 a 20mg/kg 
-Em diminuição da acuidade visual e alteração nas cores, recomenda-se a suspensão imediata da droga. 
-Sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, anorexia, náuseas e vômitos, podem ocorrer. 
-Sintomas neurológicos descritos são cefaleia e confusão mental. 
 
Etionamida: 
-Disturbios gastrointestinais 
-Hipotensão postural 
-Alterações psiquiátricas 
-Hepatite 
-Fraqueza muscular 
-Teratogenia 
 
 
Estreptomicina: 
-Ototoxicidade, como surdez irreversível, quando se usava a di-hidroestreptomicina e na formulação atual, que 
é sulfato de estreptomicina, é descrita a ocorrência de labirintopatia reversível; 
-Uma toxicidade grave é a renal. Embora menos frequente, pode ter seu risco aumentado no uso concomitante 
de anti-inflamatorios não hormonais. 
-Tambem é descrita a ocorrência de rash cutâneo, febre, cefaleia, tremores, parestesias e anemia. 
 
TDO 
O tratamento diretamente observado, como principal ação de apoio e monitoramento do tratamento das 
pessoas com TB, pressupõe uma atuação comprometida e humanizada dos profissionais de saúde. 
 Alem da construção do vinculo, o TDO inclui a observação da ingestão dos medicamentos, que deve ser 
realizada, idealmente, em todos os dias uteis da semana. Será considerado TDO se a observação da tomada 
ocorrer no mínimo 3 vezes por semana durante todo o tratamento (24 doses na fase intensiva e 48 doses na 
fase de manutenção em casos de tratamento padronizado por 6 meses). 
 O TDO deve ser realizado por profissionais de saúde ou outros profissionais capacitados, desde que 
supervisionados por profissionais de saúde. A supervisão realizada por amigos, familiares não será 
considerada como TDO para o sistema de informação de agravos de notificação. 
 
 
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9. Infecção latente pelo micobacteria tuberculose (ILMB): definição. Medicações 
de indicação de investigação, diagnostico, tratamento. 
 
Definição: A Infecção Latente da Tuberculose (ILTB) ocorre quando uma pessoa é infectada pelo M.tuberculosis 
(MTB) a partir de um indivíduo com tuberculose (TB) bacilífera (formas pulmonar e laríngea) e o bacilo 
permanece viável sem causar doença no indivíduo. 
 
Diagnostico: o rastreio da ILTB sempre deve iniciar pela exclusão da TB ativa (pulmonar/laríngea ou 
extrapulmonar). O diagnostico da ILTB deve ser realizado prioritariamente na atenção primaria, ou nas 
referencias secundaria ou terciaria, com especial atenção as populações sob maior risco de adoecimento. O 
diagnostico da LTB deve ser realizado por meio dos testes da Prova Tuberculínica ou IGRA. 
 
PT ≥ 5mm: positivo para ILTB 
PT < 5mm: negativo para ILTB 
 
 
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Tratamento: 
 
 
 
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