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1 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 2 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 300 PERGUNTAS em 300 PALAVRAS Gabriel Ben-Tasgal 1ª edição 2020 Mitos e realidades sobre o conflito israelense-palestino 3 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Desenho da capa: Carolina Rosenthal (Venezuela) Foto de Gabriel Ben-Tasgal: Fred Braunstein Capa: Marcos Diniz Revisão: Issi (Israel) Winicki e Paulo Geiger Tradução: Yehoshua Alexander e Paulo Geiger Diagramação: Katia Regina Fonseca Direção: Mauro Wainstock Todos os direitos reservados. O conteúdo deste livro é de exclusiva responsabilidade do autor e não poderá ser reproduzido, total ou parcialmente, sem autorização expressa do mesmo. 1ª edição – 2020 4 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Hatzad Hasheni (A Cara da Verdade) é um programa educativo fundado em 2010 por Roby Croitorescu, então presidente da CLAM (Confederação Latino-americana Macabi) em colaboração com todas as instituições líderes do mundo hispano. Através da produção de materiais educativos, desejamos posicionar Israel como um estado que ama a paz, que fomenta o progresso da humanidade e que é difamado injustamente por culpa de uma desinformação que, às vezes, esconde verdadeiros antissemitas. A principal fonte de informações está em www.hatzadhasheni.com, sendo que cursos em formato universitário on-line podem ser realizados gratuitamente em www.academiajs.com 5 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 6 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 7 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 8 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 9 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 10 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 11 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Apresentação O conflito palestino-israelense é relativamente simples de compreender se conhecermos os códigos do Oriente Médio. Ao mesmo tempo, é um conflito sobre o qual inúmeros porta- vozes tecem as interpretações mais absurdas. Existe certa impunidade em relação a esse assunto. Ninguém se atreveria a escrever sobre as disputas na África ou sobre o conflito na Ucrânia sem se aprofundar bastante na matéria. No entanto, “no caso de Israel, todos nós opinamos” (diria cinicamente o genial Jorge Marirrodriga). Por último, é um conflito em relação ao qual se derramam litros e litros de tinta, nem sempre por uma preocupação sincera com o futuro do povo palestino, mas porque é um conflito que envolve os judeus. Desde o surgimento do cristianismo, existe uma obsessão em relação a esse pequeno povo que não aceitou Jesus como seu messias, obsessão que foi acompanhada por uma teologia adversa (desde a teoria da substituição até a acusação de deicídio), traduzida em ações violentas e conversões forçadas dos judeus, que, durante o século XX, ganharam força com o assassinato planejado dos judeus da Europa (e de comunidades norte-africanas) na Shoá. O antissemitismo tem vinte e três séculos de existência e, ao longo de sua destrutiva genealogia, mudou e se manifestou em diversos mitos e concepções. Na Idade Média, muitas pessoas no mundo “estavam convencidas” de que os judeus sequestravam crianças para preparar pão ázimo ou de que poluíam as águas de propósito para provocar a Peste Negra. Na época moderna, muitas pessoas “estavam convencidas” de que os judeus não eram humanos do ponto de vista racial, ou seja, constituem uma raça pária pouco criativa, que devia ser eliminada. Na Europa, muitos estavam convencidos disso e, no mundo, muitos mais não fizeram nada para desmentir tamanha aberração ou para impedir que o genocídio fosse levado adiante, 12 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal nem que fosse somente abrindo as portas de suas fronteiras para alguns judeus que precisavam de refúgio. Atualmente, o ódio antissemita se manifesta de três formas. Falamos de mutações dos séculos XX e XXI à espera de que surjam novos mitos. Primeiro, um judeufóbico moderno afirmará que o Holocausto não aconteceu e tentará disfarçar seu ódio com uma ilegítima pergunta “científica”. Segundo, o judeufóbico atual afirmará que os judeus (ou o Mossad) estão por trás de todas as crises, sejam anarquistas, fundos abutres, crises políticas ou desastres naturais. Para o antissemita moderno, os judeus estão por trás de todo mal, acreditando cegamente nos “Protocolos dos Sábios de Sion”, ou em sua versão tropical argentina: “O Plano Andínia”. Terceiro, o judeufóbico moderno sabe que é inaceitável declarar-se antissemita, pois a discriminação seria condenável, de modo que ele optará por odiar o judeu entre as nações (Israel), e o fará de maneira obsessiva, maniqueísta e demonizadora. Criticar Israel, tudo bem. Na verdade, os mais críticos são os próprios israelenses. No entanto, a demonização obsessiva que se apresenta contra Israel nos meios de comunicação e outras instituições, ou por parte de certos acadêmicos e alguns partidos políticos, é tão evidente e clara que não há como não chamá-la por seu devido nome: antissemitismo, ou judeufobia. Este livro foi escrito para quem goza de boa saúde moral, para quem tenta compreender o Oriente Médio em seu idioma original, e para quem possui inclinações intelectuais sinceras. Em dias em que tantas falsidades são defendidas com base no pretexto “essa é a minha opinião, e ela é tão válida quanto a sua”, por mais clichê que isso possa parecer, queremos oferecer dados, processos e interpretações comprováveis para dar a opção de uma postura não demonizadora, e sim construtiva. Em linhas gerais, o cenário no qual se interpreta o conflito palestino-israelense na Europa é influenciado pelo fato de que esse continente é o berço do antissemitismo. Podemos ver incontáveis manifestações de antissemitismo justamente na 13 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Espanha, um país que sofre dessa doença há centenas de anos, embora, durante séculos, quase não tenha tido judeus entre seus cidadãos. Na América Latina, as teorias de centro-periferia, os sentimentos antiamericanos e as premissas ideológicas “materialistas” influenciam, muitas vezes com força, a forma de interpretar o Oriente Médio. Neste sentido, é comum escutar porta-vozes de língua espanhola declarando, alto e bom som, que Israel é um “país imperialista e colonialista, como os americanos são em relação a nós, de modo que devemos nos opor a ambos”. Se, na Europa, as interpretações são influenciadas pelo fato de o continente ser o berço do antissemitismo e, na América Latina, por questões materialistas – é impossível entender o Oriente Médio sem se especializar em identidades tribais e de clãs e, principalmente, na religião dominante na região: o islã. Levando em conta que a base da identidade dos indivíduos do Oriente Médio é sua origem tribal (clã) e sua identidade religiosa, um texto que careça de profundidade nesses assuntos é como uma “tradução” de uma realidade para outra, que perde sua essência no processo. Na Argentina, podemos encontrar trabalhos jornalísticos que NÃO ajudam a compreender o conflito palestino-israelense. Um exemplo é o de Pedro Brieger em: “O conflito palestino- israelense: 100 perguntas e respostas”.Quando o indivíduo está mergulhado demais num padrão materialista, explicará os conflitos sempre como disputas de poder e de domínio sobre os recursos naturais (água, terras, petróleo). Ao analisar o Oriente Médio dessa forma, o sujeito, para entender a região, subestima, ou nem sequer considera,elementos religiosos fundamentais. Como bem explicaria o grande orientalista mundial Bernard Lewis (entre outras coisas, em seu livro Faith and Power), a religião é uma peça fundamental da identidade local. Dentro do padrão “materialista” clássico, o conflito entre palestinos e israelenses é explicado, de modo obsessivo, pela ocupação (de território), sendo os demais fatores secundários ou terciários. 14 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal É verdade que alguns jornais de extrema-esquerda de Israel pensam da mesma maneira, e até a narrativa palestina segue nesse sentido, mas trata-se de um princípio inaceitável entre os especialistas. Como o argumento central materialista é que “tudo é pela ocupação”, não é bom nem desejável, embora seja certo do ponto de vista intelectual, explicar a realidade factual da presença israelense na Judeia e Samaria (Cisjordânia) e Gaza. É preocupante e até surrealista a ausência de descrições e explicações profundas, por parte desse autor, sobre as consequências da divisão, em Oslo II (1995), dos territórios A, B e C e a “Desconexão” de Israel da Faixa de Gaza em 2005. Ao longo do livro, o sionismo é apresentado como um movimento criado para que somente os judeus vivam em Israel e, portanto, deduz-se que os palestinos foram “expulsos” em 1948. A liderança sionista, inclusive a revisionista (de direita), sempre declarou que em Israel viviam e viveriam árabes, e, assim como minorias judaicas em outros países do mundo, o mesmo ocorreria com a minoria árabe no estado que estava sendo criado. E mais: o sionismo foi liderado durante décadas por sua vertente socialista, que lutava por uma identidade sem classes (incluindo os árabes) ou propunha a criação de um estado binacional junto aos árabes. Não existem fundamentos profundos, nem em textos, nem em declarações, que o sionismo corresponda a esse argumento. São muitos os que consideram que a culpa da não paz na região é dos israelenses. Para sustentar tal afirmação, descartarão ou minimizarão as propostas de paz que fizeram tanto o primeiro-ministro Ehud Olmert (2007-2008) quanto Ehud Barak (2000) e as ideias oferecidas por Bill Clinton para colocar um ponto final no conflito. Os desejos de paz dos israelenses serão ignorados, assim como o fato de que os palestinos nunca se dispuseram a apresentar contrapropostas de paz a fim de solucionar os aspectos territoriais do conflito. Explicar ambas as coisas seria correto do ponto de vista acadêmico-intelectual, 15 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal mas prejudicaria a coerência na hora de promover preconceitos. O conflito entre israelenses palestinos é fácil de compreender em sua essência, mas seus detalhes são mais complexos. Uma análise demonizadora de Israel serve de pretexto para um aumento da “estigmatização” do único estado com maioria judia absoluta no mundo (Israel). À luz do que foi dito, a missão do nosso livro será responder a dezenas de perguntas, sinceras e válidas, com apenas 300 palavras em cada resposta. Uma tentativa de proporcionar ao estudante e ao pesquisador uma ferramenta pequena, mas útil, que desejamos que sirva de trampolim para ampliar os estudos sobre o conflito palestino-israelense. Que a paz esteja com cada um de vocês e com sua família! 16 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Meus agradecimentos a Sergio Pikholtz, presidente da Organização Sionista Argentina, por sua força e confiança; a Roby Croitorescu, presidente da Hatzad Hasheni (A Cara da Verdade); a Anabella e Oscar Jaroslavsky, por me apresentar o mundo da defesa dialética de Israel; a meus inestimáveis amigos das comunidades judaicas e cristãs do continente; a Dori Lustrón e Israel (Issi) Winicki, pelas correções e conselhos; ao Juiz Dr. Franco M. Fiumara, por sua amizade e suas sugestões. E, evidentemente, a Eva Ben-Tasgal, e a Eitane Galit, por me deixarem roubar um pouco de seu tempo para explicar coisas das quais estou totalmente convencido (mesmo que eles riam de mim, dizendo: “Você também não nos deu muita opção!”). Seu, Gabriel Ben-Tasgal 17 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Primeira Seção - Presente Imperfeito 1 - Por que existe um conflito entre palestinos e israelenses? 2 - Por que existem autores e jornalistas, inclusive israelenses, que afirmam que o conflito entre palestinos e israelenses é devido à “ocupação”? 3 - Que territórios os palestinos e os israelenses dominam atualmente (2019)? 4 - É verdade que os assentamentos judeus na Cisjordânia estão se expandindo tanto que é impossível conseguir uma solução territorial? 5 - O que são os assentamentos judeus situados nos “blocos territoriais”? 6 - Existe uma solução territorial concreta e viável para o conflito palestino-israelense? 7 - Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, realmente domina os territórios A e B na Cisjordânia (2019)? 8 - Por que Mahmoud Abbas e outros porta-vozes da Autoridade Palestina reclamam que soldados israelenses penetram e atuam nos territórios que eles dominam? 9 - Por que a Autoridade Palestina é um governo tão instável? 10 - Há exemplos concretos de casos de corrupção alarmantes da Autoridade Palestina? 11 - É verdade que a Autoridade Palestina tira dinheiro de seu orçamento para remunerar quem assassina civis judeus israelenses? 12 - É legal que a Autoridade Palestina pague de seu orçamento salários a terroristas? 13 - De que maneira os palestinos incitam seus civis à violência? 14 - O governo de Israel (2019) está interessado em chegar a um acordo de paz com os palestinos? 15 - Existem forças radicais judias que atentam contra palestinos? 16 - Os serviços de inteligência de Israel controlam os radicais? 17 - O que é a Faixa de Gaza? 18 - O que é o bloqueio da Faixa de Gaza? 18 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 19 - É verdade que Israel não permite a entrada de civis palestinos da Faixa de Gaza em seu território? 20 - Israel é culpado pelo não desenvolvimento da Faixa de Gaza? 21 - É verdade que, atualmente (2019), a Faixa de Gaza sofre uma crise econômica profunda? 22 - Quando Israel se retirou da Faixa de Gaza? 23 - Israel continua ocupando a Faixa de Gaza? Quando termina uma ocupação estrangeira? 19 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Segunda Seção - Passado Explicativo 24 - O que é o movimento sionista? 25 - Todos os judeus se identificam com o sionismo? 26 - Quando surgiu o sionismo, todos os judeus o apoiaram? 27 - Qual a relação entre o renascimento do uso do hebraico com o sionismo? 28 - O sionismo é consequência do antissemitismo europeu? 29 - Quem foi Theodor Herzl e o que foi o Caso Dreyfuss? 30 - O sionismo foi uma invenção do colonialismo para ocupar a “Palestina”? 31 - O que é o antissionismo? 32 - Por que a extrema-esquerda e parte da esquerda moderada passaram a levantar tão firmemente a bandeira antissionista? 33 - Existem outros grupos que defendem a bandeira do antissionismo atualmente? 34 - É possível ser antissionista sem ser antissemita? 35 - Como podemos reconhecer um judeufóbico moderno? 36 - Todo mundo que critica Israel é antissemita? 37 - É possível ser judeu e antissemita (judeufóbico) ao mesmo tempo? 38 - Afinal, é certo utilizar o termo antissemita? 39 - Por que os judeus escolheram a Palestina para desenvolver um Estado próprio? 40 - Quando o sionismo foi formado, o povo palestino existia? 41 - O que aconteceu em 1834 e quando foi desenvolvida a identidade nacional palestina? 42 - É correto afirmar que os judeus roubaram a terra dos palestinos antes de 1948? 43 - Estava certa a frase: “Um povo sem terra para uma terra sem povo”? 44 - Por que tantos testemunhos afirmam que a terra de Israel foi abandonada antes da chegada dos sionistas e britânicos? 45 - Os ideólogossionistas consideraram a possibilidade de um confronto com os árabes locais? 20 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 46 - Existe, então, um povo palestino (2019)? 47 - É verdade que o sionismo pensou em um estado “somente para os judeus” e isso criou o conflito? 48 - Por que os britânicos e franceses dividiram o Oriente Médio em 1916? 49 - O que é o Acordo secreto Sykes-Picot de 1916? 50 - O que significam as promessas aos árabes ou a correspondência McMahon-Hussein, de 1915? 51 - Que importância tem a Declaração Balfour de 1917? 52 - Por que os britânicos emitiram a Declaração Balfour? 53 - Qual o significado do Mandato Britânico na Palestina? 54 - É verdade que os britânicos criaram um estado artificial chamado Jordânia? 55 - É verdade que os líderes sionistas e os árabes se reuniram para chegar a um acordo de convivência no Oriente Médio em 1919? 56 - Quando começam os confrontos físicos entre árabes e judeus? 57 - É verdade que os judeus sionistas desejavam criar um estado “somente para eles”, com base no que disse Yosef Weitz? 58 - O que Yosef Weitz disse realmente? 59 - É verdade que, ao longo da história, judeus e muçulmanos sempre conviveram em harmonia, e somente “com o sionismo” esse idílio se desfez? 60 - Os árabes e os judeus aceitaram que os britânicos ocupassem a Palestina? 61 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1920? 62 - Como árabes e judeus reagiram ante os massacres de 1920? 63 - Como os britânicos reagiram ante os massacres de 1920? 64 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1921? 65 - Como os britânicos reagiram ante os massacres de 1921? 66 - O que é o Livro Branco britânico de 1922? 67 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1929? 68 - Existem testemunhos dos massacres árabes de 1929? 69 - É verdade que em 1929 a comunidade judaica de Hebron foi destruída por causa de um massacre? 21 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 70 - Qual foi a reação dos judeus ante os massacres de 1929? 71 - O que os britânicos decidiram diante da nova onda de violência árabe de 1929? 72 - Que papel Hajj Amin Al-Husseini desempenhou na gestação do conflito? 73 - É verdade que o palestino Hajj Amin Al-Husseini, mufti de Jerusalém, foi aliado de Hitler? 74 - O que aconteceu com o mufti Al-Husseini após a Segunda Guerra Mundial e sua aliança com os nazistas? 75 - Por que é possível afirmar que o conflito explodiu com força em 1929? 76 - O que significa a afirmação de que a narrativa palestina modifica a ordem dos acontecimentos? 77 - Quais foram as razões que motivaram a explosão da violência entre 1936-1939? 78 - Que ações militares os árabes-palestinos realizaram entre 1936-1939? 79 - O que os ingleses fizeram para reprimir a violência árabe contra eles? 80 - Como reagiram os judeus ante os massacres de 1936- 1939? 81 - Que consequências teve para os árabes-palestinos o fracasso de sua revolta? 82 - Quem foi Izz ad-Din al-Qassam? 83 - O que é a Comissão Peel? 84 - O que é o Livro Branco de MacDonald, de 1939? 85 - Qual foi a reação dos árabes e dos judeus em relação ao Livro Branco de MacDonald, de 1939? 86 - Os judeus respeitaram as limitações à imigração estipuladas no Livro Branco de 1939? 87 - O que foi o navio Êxodo? 88 - O que os britânicos fizeram para deter a imigração ilegal de judeus? 89 - É verdade que os judeus da Palestina britânica “colaboraram” com os nazistas? 22 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 90 - Qual foi a reação dos judeus ao Acordo de Transferência de 1933? 91 - É verdade que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (2019), negou o Holocausto e acusou os judeus de colaborar com os nazistas? 92 - Como os judeus fizeram para ser maioria no território da Palestina se antes eram minoria? 93 - É verdade que os judeus tinham uma “sólida estrutura militar” considerando o que aconteceu na Guerra da Independência de 1948? 94 - É verdade que as forças clandestinas judaicas cooperavam regularmente entre si para promover objetivos comuns? 95 - Qual era o nível de institucionalização dos judeus tendo em vista da Guerra da Independência de 1948? 96 - Qual era o nível de institucionalização dos palestinos em vista a Guerra da Independência de 1948? 97 - É possível comparar o terrorismo árabe-palestino ao judaico antes de 1948? 98 - O que aconteceu no Hotel King David em 1946? 99 - Por que em 1947 as Nações Unidas optaram pela partilha de Palestina? 23 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Terceira Seção – Modernidade Flutuante 100 - O que é e o que decidiu a UNSCOP? 101 - O que a Assembleia-Geral da ONU decidiu no dia 29 de novembro de 1947? 102 - Como os países latino-americanos votaram nesse Plano de Partilha? 103 - Que valor legal tem a Declaração 181 da Assembleia-Geral da ONU? 104 - Se a Declaração 181 carece de força legal, por que a ONU aceitou o Estado de Israel como membro em 1949? 105 - Como os árabes reagiram ao Plano de Partilha da Palestina? 106 - Como os judeus reagiram ao Plano de Partilha da Palestina? 107 - Foi justa a Partilha da Palestina – Declaração 181? 108 - Até que ponto a criação do Estado de Israel foi uma compensação pelo sofrimento do Holocausto? 109 - É justo afirmar que a “culpa” pelo Holocausto explica a indulgência atual em relação ao Estado de Israel? 110 - É verdade que entre a Declaração 181 e a independência de Israel houve uma guerra civil? 111 - O que é o Plano Dalet? 112 - Ocorreram atos de terrorismo durante a guerra civil antes de maio de 1948? 113 - O que aconteceu na vila árabe de Deir Yassin? 114 - O que é o plano de protetorado para adiar a independência de Israel? 115 - Por que Israel declara sua independência no dia 14 de maio de 1948? 116 - O que diz a Declaração de Independência de Israel? 117 - A Declaração de Independência de Israel é uma lei? 118 - Por que Israel não adotou uma Constituição e o que é uma Lei Básica? 119 - Como se desenvolveu a Guerra da Independência de 1948? 120 - Por que Israel derrota os exércitos árabes invasores durante a guerra de 1948? 24 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 121 - É verdade que os árabes foram deliberadamente expulsos durante a guerra de 1948, transformando-se em refugiados? 122 - Existem testemunhos de líderes árabes que confirmam que sua liderança no passado causou o problema dos refugiados palestinos? 123 - Há mais testemunhos de líderes árabes que assumem sua culpa pelo problema dos refugiados palestinos? 124 - Há testemunhos individuais de que os árabes-palestinos não foram expulsos em 1948? 125 - Há mais testemunhos de que os árabes-palestinos não foram expulsos em 1948? 126 - Podemos receber “mais confirmações” de que os árabes- palestinos não foram expulsos em 1948? 127 - Quais são as diferencias entre outros refugiados no mundo e os palestinos? 128 - É verdade que os palestinos gozam de uma organização própria e única para eternizar o status de refugiado? 129 - Existem relações e conexões entre a UNRWA da ONU e grupos terroristas? 130 - Quantos árabes-palestinos abandonaram a zona de combate em 1948? 131 - O que significa o termo Nakba Palestina? 132 - É verdade que durante a guerra de 1948 as comunidades judaicas nos países árabes foram destruídas? 133 - É verdade que mais judeus do que palestinos-árabes foram deslocados durante a Guerra da Independência de 1948? 134 - Quanto dinheiro em bens e propriedades os judeus reivindicam dos países árabes? 135 - Como terminou territorialmente a Guerra da Independência de 1948? 136 - O que é a Declaração 194 da Assembleia-Geral da ONU? 137 - Qual é a situação dos refugiados palestinos nos países árabes? 138 - Pode-se dizer que houve limpeza étnica na Palestina? 25 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 139 - Um palestino que abandonou sua terra em 1948 poderá voltara ela? 140 - É verdade que Israel aceitou o pagamento de indenizações por parte da Alemanha? 141 - O que é a Lei do Retorno para os judeus? 142 - Que princípios defendia o pan-arabismo? 143 - Quem foi Gamal Abdel Nasser e que papel ele desempenhou no conflito árabe-israelense? 144 - Por que justamente os cristãos foram fortes promotores das ideais pan-árabes? 145 - Quem foram os fedayins? 146 - Por que foi tão importante a Unidade 101 de Ariel Sharon? 147 - Por que Grã-Bretanha, França e Israel se unem para enfraquecer Nasser? 148 - O que aconteceu na Operação Kadesh – Guerra do Sinai, em 1956? 149 - É verdade que a França ajudou Israel a desenvolver uma central nuclear com fins militares? 150 - Qual a política israelense em relação à utilização de armas nucleares? 151 - É comparável a situação de Israel com os desejos do Irã de desenvolver armas não convencionais (2019)? 152 - O que é a Organização para a Liberação de Palestina (OLP)? 153 - O que é a Carta Nacional Palestina de 1968? 154 - Quem foi Yasser Arafat? 155 - Por que os palestinos recorreram à violência? 156 - Por que motivo começou a Guerra dos Seis Dias, em 1967? 157 - Que territórios Israel ocupou na guerra de 1967? 158 - Por que a Guerra dos Seis Dias em 1967 foi tão importante? 159 - Qual foi a postura das Nações Unidas em relação à guerra de 1967? O que é a Resolução 242 do Conselho de Segurança? 160 - Qual foi a atitude da população israelense diante da ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza? 161 - O que o governo israelense decidiu fazer com os territórios conquistados na Guerra de 1967? 26 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 162 - Todos os palestinos vivem em os territórios que Israel ocupou em 1967? 163 - Em que situação se encontram os palestinos que vivem dentro do Estado de Israel? 164 - O que foi a Guerra de Desgaste? A que nos referimos quando falamos do “País das Perseguições”? 165 - O que é o chamado “Setembro Negro”? 166 - O que aconteceu nas Olimpíadas de Munique de 1972? 167 - Qual é a importância da Guerra de Yom Kipur de 1973 no conflito palestino-israelense? 168 - Por que os judeus do mundo se sentem tão ligados a Israel? 169 - Como se explica o apoio dos EUA a Israel? É devido ao lobby judeu? 170 - O que é o Acordo Intermediário entre Israel e Egito? 171 - Por que motivo o nacionalismo derrotou o trabalhismo em Israel nas eleições de 1977? 172 - O que significou para os palestinos o Acordo de Paz de Camp David entre Israel e Egito? 173 - Que ideologia substituiu o pan-arabismo e por que o pan- islamismo é tão importante hoje? 174 - Podemos observar distintas escolas na hora de analisar o islã? 175 - Que fatores profundos motivaram o surgimento do radicalismo islâmico? 176 - Quantos muçulmanos sentem afinidade com as ideias do radicalismo islâmico (2019)? 177 - O que significa para um radical islâmico que todo ocidente é Jahiliyyah? 178 - Como um radical islâmico divide o mundo? 179 - Como um radical islâmico divide a humanidade? 180 - É verdade que, para os radicais islâmicos, não existem valores universais? 181 - É verdade que se alguém deseja imitar 100% todas as ações e declarações de Maomé, a tendência ao radicalismo aumenta? 27 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 182 - O que é a organização Jihad Islâmica para a Palestina? 183 - Por que Israel invadiu o Líbano em 1982? 184 - Quais são as leituras sem suporte nos fatos, sobre as razões para a Guerra do Líbano em 1982? 185 - Qual era a estratégia de Israel no Líbano em 1982? 186 - O que sucedeu nos acampamentos de refugiados de Sabra e Chatila em Beirute? 187 - Quando surgiu o Hezbollah no Líbano? 188 - O que é a Faixa de Segurança do Sul do Líbano e o Exército do Sul do Líbano? 189 - É verdade que Israel criou o Hamas? 190 - Quando o Hamas foi fundado? 191 - O Hamas defende argumentos antissemitas em sua plataforma política? 192 - Por que em 1987 deflagrou-se a revolta palestina conhecida como Intifada? 193 - Que influência teve para os palestinos a Guerra do Golfo Pérsico de 1990-1991? 194 - O que significou a Conferência de Paz de Madrid 1991? 195 - Quais foram as razões que levaram Yitzchak Rabin e Yasser Arafat a reconhecerem um ao outro? 196 - O que são os Acordos de Oslo? O que é a Autoridade Palestina? 197 - Qual foi a reação palestina aos Acordos de Oslo? 198 - Qual foi, em Israel, a reação judaica aos Acordos de Oslo? 199 - Que base legal Israel defende para a construção de assentamentos na Cisjordânia e em Gaza? 200 - O que são os Acordos de Oslo B? 201 - Até que ponto o assassinato de Yitzchak Rabin destruiu o processo de paz com os palestinos? 28 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Quarta Seção – Intifada e decadência 202 - É verdade que Israel e Síria estiveram a ponto de assinar um acordo de paz? 203 - O que foi a retirada unilateral de Israel do sul do Líbano? 204 - Que plano de paz Ehud Barak e Yasser Arafat negociaram em Camp David no ano 2000? 205 - O que opinaram os principais negociadores sobre o fracasso de Camp David no ano 2000? 206 - Por que motivo começou a Intifada de Al-Aqsa? 207 - É verdade que a visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo provocou a Intifada? 208 - Quais foram as consequências para os palestinos e israelenses da Intifada de Al-Aqsa? 209 - Por que Israel constrói uma cerca de segurança entre Israel e Cisjordânia? 210 - Por que Israel não construiu a cerca sobre a Linha Verde? É verdade que a cerca é ilegal? 211 - Por que alguns chamam a cerca de “muro” e fazem referências ao Muro de Berlim? 212 - Por que o Hamas triunfou nas eleições de 2006? 213 - O que é a Segunda Guerra do Líbano de 2006? 214 - Que consequências práticas teve o golpe de estado do Hamas contra a Autoridade Palestina? 215 - Que armas o Hamas dispara contra a população israelense? 216 - O que são os túneis que o Hamas e o Hezbollah constroem para atacar Israel? 217 - Desde quando os palestinos reconhecem o Estado de Israel? 218 - O Hamas reconhece o Estado de Israel? 219 - Por que um ex-primeiro-ministro israelense disse que “se tivesse nascido palestino, teria se unido a uma organização terrorista”? 220 - Os atentados suicidas palestinos são o principal obstáculo para a paz? 29 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 221 - Qual é a postura dos palestinos em relação à violência e aos ataques suicidas? 222 - Como a violência palestina afeta os israelenses? 223 - Por que um palestino decide se suicidar para matar israelenses? 224 - Como a violência israelense afeta os palestinos? 225 - É verdade que há cidades palestinas cercadas pelo muro? 226 - Quem é Gilad Shalit? 227 - Como se manifesta o controle israelense sobre a Cisjordânia? 228 - É verdade que Israel rouba água dos palestinos da Cisjordânia? 229 - Os palestinos usam seus cidadãos como “escudos humanos”? 230 - O que são os assassinatos seletivos que Israel pratica? 231 - Morrem civis inocentes quando Israel mata um terrorista palestino? 232 - Por que palestinos e israelenses se acusam mutuamente de práticas terroristas? 233 - Por que Israel levou a cabo a Operação Chumbo Fundido na Faixa de Gaza em dezembro de 2008? 234 - É verdade que Israel viola a Lei Internacional ao usar “fósforo branco”? 235 - Por que a Operação Chumbo Fundido foi tão criticada na mídia? 236 - Por que Israel é tão criticado na mídia, de um modo geral? 237 - É verdade que os palestinos violam as leis internacionais em suas ações de guerra? 238 - Quais são as abordagens legais para lutar contra o terrorismo islâmico (incluindo o palestino)? 239 - É verdade que os israelenses violam a lei internacional por usar força desproporcional? 240 - O que aconteceu com as escolas da ONU (UNRWA) durante a Operação Margem Protetora de 2014? 30 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 241 - O que é o Conselho de DireitosHumanos da ONU? 242 - O que é o Relatório Goldstone? 243 - O que foi a Flotilha à Faixa de Gaza? 244 - O que foi a Operação Pilar Defensivo, de 2012? 245 - O que foi a Operação Margem Protetora, de 2014? 246 - Que tipo de narrativa se impôs durante a Operação Margem Protetora de 2014? 247 - Por que os Estados Unidos influenciam tanto no Oriente Médio? 248 - Qual foi a estratégia de Barack Hussein Obama em relação ao conflito palestino-israelense? 249 - O que é a Resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU? Que papel tem no conflito palestino-israelense? 250 - Os territórios da Judeia e Samaria (Cisjordânia) são “territórios ocupados”? 251 - Como convivem os Acordos de Oslo e a Desconexão de Gaza de 2005 com os “territórios ocupados”? 252 - Qual é a estratégia de Donald Trump em relação ao conflito palestino-israelense? 253 - Por que Jerusalém é tão importante para judeus, muçulmanos e cristãos? 254 - A transferência da embaixada americana para Jerusalém nos aproxima ou nos afasta da paz? 31 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Quinta Seção – Para fechar… 255 - Quem são os sunitas e quais seus grupos mais radicais? 256 - O que é o Catar e até que ponto seu radicalismo influencia no mundo? 257 - Por que Israel se aproximou dos países muçulmanos sunitas não radicais? 258 - Quem são os xiitas e como eles manifestam seu radicalismo? 259 - Que influência os xiitas têm na América Latina? 260 - Existe relação entre o Hezbollah na América Latina e o tráfico de drogas? 261 - Por que não há muita dúvida de que o atentado à AMIA foi realizado pelo Irã? 262 - Quais são as queixas de Israel contra o acordo nuclear 6+1 com o Irã? 263 - Como a guerra civil na Síria favoreceu a penetração iraniana? Podemos supor que haverá confrontos ali? 264 - A Primavera Árabe favoreceu as aspirações nacionais palestinas? 265 - De que forma Donald Trump tem castigado a intransigência palestina? 266 - O que significou a aparição dos chamados “novos historiadores israelenses”? 267 - Por que há pessoas que citam Ilan Pappe ou Shlomo Sand? 268 - O que é o BDS? 269 - Como nasceu o BDS? 270 - Por que o BDS foi proibido em tantos estados democráticos? 271 - Quem impulsiona o BDS na América Latina e o que ocorreu judicialmente? 272 - Que relação existe entre os ativistas do BDS e os grupos terroristas? 273 - Quais são as seis técnicas modernas para demonizar Israel, impulsionando sua destruição? 32 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 274 - Podemos comparar o tratamento que os israelenses dão aos palestinos com o tratamento que os nazis deram aos judeus? 275 - Podemos dizer que Israel pratica uma política de Apartheid? 276 - Eu não odeio Israel nem os judeus. Por que a comparação Israel-Apartheid é absurda? 277 - Israel é a única democracia no Oriente Médio? 278 - Que tipo de poliarquia moderna é Israel? 279 - O que significa ser de direita ou de esquerda em Israel? 280 - Que outros temas são cruciais para compreender o mapa político israelense? 281 - A Autoridade Palestina e a Faixa de Gaza vivem em democracia? 282 - O que é a Lei Básica Israel Estado Judeu? 283 - É verdade que existe uma alternativa para o princípio de “dois estados para dois povos”? 284 - De que forma se manifesta o antissemitismo na Espanha? 285 - Por que o antissemitismo no Chile preocupa tanto? 286 - De que forma se manifesta o antissemitismo na Argentina? 287 - O que é o Plano Andínia? 288 - O que significa que a paz não é possível, mas, sim, uma Hudna (Trégua)? 289 - Que papel desempenhou a Europa no conflito palestino- israelense? 290 - Que papel desempenhou a Rússia no conflito palestino- israelense? 291 - Que papel desempenhou a América-Latina no conflito palestino-israelense? 292 - Por que em Israel se desconfia tanto das Nações Unidas? 293 - Há números concretos para justificar a desconfiança israelense em relação à ONU? 294 - O que é a Declaração que compara o Sionismo com o Racismo? 33 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 295 - Por que países próximos de Israel votam contra ele nas Nações Unidas? 296 - O que é a Iniciativa de paz da Arábia Saudita? Os países árabes querem a paz com Israel? 297 - Que iniciativas de paz “de baixo para cima” merecem ser destacadas no âmbito do conflito palestino-israelense? 298 - Por que Israel se transformou em uma potencia criativa? 299 - É possível que o Irã imploda (2019)? 300 - O tempo joga a favor dos palestinos ou dos israelenses? 34 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Primeira Seção Presente Imperfeito 1 - Por que existe um conflito entre palestinos e israelenses? O conflito palestino-israelense é fácil de compreender. Para a imensa maioria dos judeus que moram no Estado de Israel, onde representam praticamente 80% da população, o conflito é territorial. Segundo as crenças judaicas, a terra é menos importante do que a vida, de modo que ceder territórios considerados “nacionais” para alcançar a paz é uma medida justificada. Evidentemente, existem judeus israelenses que consideram que a terra é sagrada e não deve ser cedida em nenhuma circunstância, mas eles representam uma minoria em Israel. Para a maioria do povo palestino, muito influenciado pelos valores muçulmanos e pela retórica muçulmana, o conflito é religioso. No islã tradicional, os judeus são uma religião falsa (Din Batel), não são um povo, e sim somente uma religião (falsa), ocupam propriedades herdadas do islã (Waqf al-Islamyah) e estão com parte da terra santa islâmica que nunca pode ser cedida (Dar al-Islam). De fato, existem palestinos que acreditam que o conflito seja territorial, mas eles não se destacam entre aqueles que tomam decisões, nem entre os que impõem a retórica local. Para os judeus em Israel o conflito é territorial e para os palestinos o conflito é essencialmente religioso. Sem dúvida, existe um conflito territorial, mas esse conflito é secundário frente à motivação principal. Além disso, existem propostas de soluções concretas e viáveis para resolver as disputas territoriais. Quem impõe a natureza e a raiz do conflito é quem agride. Como sabemos que quem agride são os radicais islâmicos e aferição do povo palestino? A resposta pode ser deduzida pela 35 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal lógica: Se os israelenses abandonassem o uso da força física, seriam eliminados por grupos como o Hamas e outros, porque eles atuam nessa direção, anunciando suas intenções nesse sentido. Se, ao contrário, os palestinos abandonassem o uso da força,ninguém os atacaria, aumentando consideravelmente as possibilidades de um acordo. 2 - Por que existem autores e jornalistas, inclusive israelenses, que afirmam que o conflito entre palestinos e israelenses é devido à “ocupação”? Não existe uma resposta única e abrangente. Entre os israelenses, há aqueles que dizem que Israel deve ceder todo o controle territorial na Cisjordânia (Judeia e Samaria) em benefício próprio, porque eles acreditam que controlar, direta ou indiretamente, os palestinos é uma degradação moral, ou porque eles consideram que se Israel não se “desligar” dos palestinos, a alternativa será a criação de um estado binacional, com minoria judaica. Na retórica desses israelenses, o termo “ocupação” é utilizado diariamente, e eles são expoentes claros da tradição judaica de ver na terra algo menos importante do que a vida ou os valores humanos. Para outros que tratam do conflito palestino-israelense, entre os quais se destacam alguns jornalistas e acadêmicos, para não causar uma dissonância em relação a seu treinamento conceitual “materialista dialético”, o conflito em questão é “territorial” (“ocupação”). O materialismo dialético (apresentado por Marx e Engels) define a matéria como a essência de toda a realidade, seja ela concreta ou abstrata(ideologia, filosofia). Para um materialista, os conflitos são sempre por petróleo, terras (“ocupação”), água, gás, poder etc. Na hora de analisar o conflito palestino-israelense, o analista materialista adotará duas posturas. Os mais radicais argumentarão que toda presença judaica em Israel é uma “ocupação”, já que o sionismo, afirmam eles, é uma manifestação 36 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal do imperialismo europeu. Percebemos nesses analistas seu DNA antissemita quando constatamos que eles promovem a eliminação de “um único estado” na terra, um estado que é o “judeu entre as nações”. Outros dirão que o conflito pode ser explicado pela “ocupação da Cisjordânia” por parte de Israel depois da guerra dos Seis Dias (1967). O fato de que a grande maioria dos palestinos vive sob um regime palestino ou que os árabes- palestinos assassinam judeus desde muito antes de 1967 é só um detalhe que não poderá contradizer seu dogma materialista. 3 - Que territórios os palestinos e os israelenses dominam atualmente (2019)? O Estado de Israel decidiu “se desligar” da Faixa de Gaza, retirando de lá toda e qualquer presença militar e civil israelense. Desde o dia 12/9/2005 até o mês de julho de 2007, o território esteve sob o controle da Autoridade Palestina, autoridade que foi derrubada por um golpe militar do grupo terrorista Hamas. Desde então, a Faixa de Gaza é governada pelo islamismo, e a Autoridade Palestina exige sua devolução. Enquanto isso, Israel impõe um bloqueio militar legal sobre Gaza desde o início do ano 2009. 37 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Faixa de Gaza – Mapa autorizado por CIA World Factbook A situação na Cisjordânia (Judeia e Samaria) é diferente. Com base nos Acordos de Oslo B (de 28/9/1995, assinados em Washington), conhecidos também como “Acordos Intermediários em Relação à Margem Ocidental e à Faixa de Gaza”, os palestinos assumiram um governo autônomo nas cidades palestinas e em cerca de 450 povoados. A zona se dividiu em Territórios A, sob domínio civil e militar da Autoridade Palestina, onde os civis israelenses não podem entrar, por ordem expressa de seu governo, uma vez que eles temem que os seus cidadãos sejam assassinados, como já ocorreu no passado. Fazem parte dos “Territórios A”: 38 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Ramala, Belém, Jericó, Jenin, Tulcarem, Calquília, Nablus e a parte árabe de Hebron. Os Territórios B são administrados civil e policialmente pela Autoridade Palestina, enquanto a segurança perimetral dessa área está nas mãos de Israel. Os Territórios C estão sob controle civil e militar de Israel, até que se chegue a um acordo para definir o seu status final. Divisão Oslo B (Wikipédia) 39 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Hoje em dia, 100% dos cidadãos palestinos de Gaza vivem sob um regime palestino (do Hamas), enquanto 91% dos palestinos da Cisjordânia vivem sob o governo da Autoridade Palestina, nos Territórios A ou B. Os territórios A e B representam 40% da área de 5.790 km2. O território C, sob controle israelense, representa 60% da Cisjordânia. 4 - É verdade que os assentamentos judeus na Cisjordânia estão se expandindo tanto que é impossível conseguir uma solução territorial? Não é verdade. Essa afirmação costuma ser utilizada para reafirmar uma concepção “materialista” do conflito. Hoje em dia, os israelenses que moram além da Linha Verde (a linha de separação de forças – que, diga-se de passagem, nunca foi uma fronteira – entre Israel e a Jordânia, de 3/4/1949) totalizam 649.872 pessoas, frente a uma população, não registrada em censos, de 2.700.000 palestinos. O Conselho da Judeia e Samaria publicou dados do ano 2018 afirmando que existem 201.200 israelenses morando nos bairros judeus de Jerusalém, bairros esses construídos depois da Guerra de 1967 (sobre os quais existe um consenso de que ficarão como parte de Israel em um futuro acordo). Os bairros mencionados acima são: Guiló, Pisgat Zeev, Armon HaNatziv etc. Os outros 448.672 israelenses que vivem além da Linha Verde estão situados somente nos Territórios C (que representam 60% da Cisjordânia). 40 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Distribuição dos assentamentos além da Linha verde (https://www.shaularieli.com) 41 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Podemos dividir as colônias judaicas além da Linha verde em quatro tipos: Marrons – Colônias colocadas ali pelos governos trabalhistas, por ocasião do Plano Alon. Estamos falando de aproximadamente 6.000 pessoas que estão situadas no Vale do Jordão, em frente à fronteira com a Jordânia. Vermelhos – Colônias de judeus ortodoxos que se assentaram ali incentivados, principalmente, pelos baixos preços de moradia. Verdes – Cidades grandes, como Maale Adumim ou Ariel, onde habitam judeus laicos e judeus religiosos. Azuis – Assentamentos de judeus neo-ortodoxos (nacional-religiosos), alguns dos quais são assentamentos isolados em forma de pequenas colônias, com cerca de apenas 100 famílias cada uma. A grande maioria dos colonos judeus não se encontra espalhada em cidades palestinas, mas concentrada em blocos de assentamentos ao lado da Linha Verde. A fim de compreender uma possível solução territorial para o conflito palestino-israelense, é imprescindível entender que um assentamento judeu “isolado” não é a mesma coisa que um assentamento situado nos “blocos territoriais”. A construção em assentamentos se concentrou nos blocos territoriais. 5 - O que são os assentamentos judeus situados nos “blocos territoriais”? Quando nos referimos a blocos territoriais, estamos falando de zonas em que há muita presença judaica contígua, e pouca, ou nenhuma, presença palestina. Esses blocos estão colados ou unidos à Linha Verde. Estamos nos referindo a: • Bloco Maale Adumim – 52.000 israelenses espalhados em uma cidade de 60 km2. • Bloco Guivat Zeev – Localizado a noroeste de 42 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Jerusalém, tem 25 km2; moram ali 20.000 israelenses. • Bloco Gush Etzion – 72 km2, onde moram 48.000 judeus, em 9 cidades. • Bloco Modiin-Ilit – Um território de 11 km2, donde moram 70.000 israelenses, em 4 colônias. • Bloco Ariel – Cerca de 60.000 colonos, que habitam 13 povoados, em um território de 80 km2. • Bloco Karnei Shomron – 20.000 pessoas, em um território de 78 km2. Nos grandes blocos territoriais de assentamentos judeus na Judeia e Samaria vivem entre 270.000 e 290.000 israelenses, o que representa 65% dos 448.672 israelenses que vivem na Cisjordânia e não em Jerusalém, em uma área que equivale a 326 km2 (ou seja, 5,7% de toda a Cisjordânia). Segundo esses mesmos dados, os israelenses que vivem além da Linha Verde e que se situam em Jerusalém ou nos blocos territoriais representam 75,58% do total de israelenses na Cisjordânia. Em seu artigo “Quantos colonos judeus precisam ser evacuados para se criar um Estado palestino?”, Ori Mark (Haaretz) explicou que os assentamentos “isolados” são 33, com cerca de 46.000 pessoas, o que significa 9.800 famílias, no máximo, um número comparável a um grande povoado israelense. 43 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Gráfico publicado no artigo de Ori Mark (Haaretz) 44 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No ano de 2018, o romancista israelense A.B. Yehoshua escreveu no Haaretz: “A solução de dois estados está deixando de existir devido à constante expansão dos assentamentos na Judeia e Samaria”. No mês de outubro de 2015, o colunista Gideon Levy (Haaretz) afirmou que a solução de dois estados “se perdeu” por causa da expansão dos assentamentos.No entanto, e de acordo com dados concretos, tanto Yehoshua quanto Levy estão equivocados. 6 - Existe uma solução territorial concreta e viável para o conflito palestino-israelense? No mês de setembro de 2008, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, ofereceu ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, uma solução definitiva, segundo a qual Israel anexaria os blocos territoriais (destacados em azul no mapa, representando 6,2% da área da Cisjordânia), mas compensaria os palestinos com 5,8% dos territórios localizados dentro de Israel antes de 1967 (destacados em vermelho no mapa). A ideia era criar um Estado Palestino reconhecido internacionalmente e também por Israel (nos territórios amarelos). A lógica de Ehud Olmert era clara: “Israel fica para a grande maioria dos cidadãos israelenses, mas renuncia à maior parte dos territórios em disputa e até compensa pelos blocos anexados”. O princípio de intercâmbio de territórios é conhecido como “Swap” e passou a ser a base de qualquer acordo futuro. 45 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Para unir a Faixa de Gaza à Cisjordânia, os israelenses ofereceram uma estrada segura de quatro pistas em território israelense, por onde circulariam “somente” palestinos. A solução para Jerusalém se baseava na premissa de que os bairros judeus seriam de Israel, enquanto os bairros árabes seriam do Estado Palestino. A Cidade Velha de Jerusalém seria dividida em duas: Os bairros árabes, cristãos e muçulmanos seriam palestinos, enquanto os bairros armênios e judeus seriam israelenses. O que se encontra sobre o Monte do Templo seria da Palestina, e o Muro das Lamentações continuaria sendo judeu. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, rejeitou a oportunidade de colocar um ponto final no conflito territorial e não aceitou a proposta. A sua desculpa foi que Ehud Olmert estava a ponto de renunciar, de modo que “não havia 46 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal tempo”. Abbas, assim como Arafat no passado, não fez uma contraproposta. A “proposta Olmert” nos mostra que existem propostas territoriais para acabar com o conflito. A não solução deve-se ao fato de que o conflito, para os palestinos, não é territorial. 7 - Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, realmente domina os territórios A e B na Cisjordânia (2019)? Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, NÃO domina a Faixa de Gaza, pois as suas forças foram expulsas em um golpe de estado do Hamas, em 2007. Segundo os acordos de Oslo B (1995), Israel controla legalmente o Território C da Cisjordânia até que se chegue a um acordo final. O que acontece nas zonas A e B da Cisjordânia? Atualmente, os níveis extremos de antipatia e hostilidade partidária e tribal dentro da Autoridade Palestina são impactantes. Existem rivalidades políticas e armadas dentro da liderança do Fatah (Muhammad Dahlan frente a Marwan Barghouti versus G’ibril Rajoub etc.) nas cidades e nos povoados. A situação parece mais uma disputa entre “máfias”. Existem bairros inteiros em Nablus ou Hebron que recebem ordens diretamente de Gaza (do Hamas), embora a cidade esteja, nominalmente, sob controle de Ramala (AP). Fora destas áreas, algumas ruas são domínio da Frente Popular para a Liberação da Palestina, enquanto outras estão nas mãos de homens que prometeram lealdade ao ISIS. O nível de hostilidade entre essas facções é ilustrado pelo fato de que todas elas estão mais inclinadas a tratar, cada uma, diretamente com os israelenses. A Autoridade Palestina como governo central exerce o seu domínio claro e evidente em três cidades grandes da Cisjordânia: Ramala, Belém e Jericó. 47 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal É possível notar essa fidelidade observando os grafites nas praças dos povoados. Outra forma é verificar quem assume a autoria dos atos de terrorismo. Se, por exemplo, há dois ou mais atentados com faca realizados por palestinos do Hamas, sinal de que essa aldeia pertence a eles. Por enquanto, Mahmoud Abbas mantém uma aparência de unidade interna sob a Autoridade Palestina. Quando ele falecer, começará uma luta interna de sucessão. Pode acontecer, inclusive, sem derramamento de sangue, que as áreas A e B percam rapidamente a aparência de estarem sob um controle administrativo coeso. 8 - Por que Mahmoud Abbas e outros porta- vozes da Autoridade Palestina reclamam que soldados israelenses penetram e atuam nos territórios que eles dominam? Na verdade, as suas queixas são razoáveis, mas “simuladas”. Segundo os Acordos de Oslo B (1995), a Autoridade Palestina deveria exercer o monopólio do uso da força, pelo menos na zona A. No entanto, como vimos (na resposta à pergunta 7), grupos armados alternativos questionam o governo da Autoridade Palestina. A mais poderosa dessas forças é o Hamas, grupo islâmico que conseguiu derrubar a Autoridade Palestina em Gaza e que pretende fazer a mesma coisa na Cisjordânia. A Autoridade Palestina persegue soldados do Hamas e da Jihad Islâmica, inimigos comuns tanto de Abbas quanto de Israel, visando destruir as suas organizações locais. Muitas vezes, pedem a colaboração de Israel ou veem como as forças israelenses penetram unilateralmente em suas cidades para prender algum suspeito, partindo depois da ação. Os seis mil oficiais da Autoridade Palestina permanecem dentro de seus quartéis em suas estações quando as Forças de Defesa de Israel perseguem ou fazem prisões preventivas daqueles que planejam atos 48 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal terroristas. A inteligência flui livremente nas reuniões entre altos funcionários israelenses e os seus homólogos palestinos a serviço de Mahmoud Abbas. Com frequência, essas reuniões são fotografadas e depois divulgadas nos meios de comunicação do Hamas, o que provoca críticas e escárnio por parte dos palestinos, que consideram tais ações uma forma de colaboracionismo. Os israelenses que entram sem querer em um território controlado pela Autoridade Palestina, ou que desafiam intencionalmente a proibição de fazer negócios nessas áreas e são atacados, muitas vezes são resgatados pelas forças de segurança da Autoridade Palestina. A colaboração surge por conta de interesses comuns: Para Israel, como forma de prevenir a perda de vidas inocentes, e para a Autoridade Palestina, por ser uma forma de erradicar a ameaça de golpe. O acontecimento que pode mudar esse status- quo é o falecimento de Mahmoud Abbas. 9 - Por que a Autoridade Palestina é um governo tão instável? A resposta propagandística mais comum é que a “ocupação israelense é tão contundente” que os palestinos se veem impossibilitados de se governar de maneira eficaz. Sem dúvida, o confronto com Israel tem influência na instabilidade. No entanto, precisamos de uma resposta mais profunda. Em primeiro lugar, assim como em todo o Oriente Médio, a fidelidade básica dos árabes palestinos é em relação a seu clã ou família maior (hamula), e não em relação a um governo central de estilo ocidental. Um árabe de Hebron sente-se mais identificado com seu clã Qawasme do que com sua ascendência palestina. O mesmo pode ser dito do clã Al-Masri em Nablus ou de tantos outros. A identidade nacional palestina é prejudicada porque os filhos dos diversos clãs geralmente não se casam entre si. 49 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Outro fator que não contribui para a estabilidade é a cultura democrática muito pobre. Embora Mahmoud Abbas tenha vencido em eleições presidenciais livres em 2005 (o Hamas não participou), o seu governo, que devia durar 4 anos, permanece no poder até hoje, sem eleições. Como tantos outros governos não democráticos, a Autoridade Palestina se mantém de pé utilizando três técnicas: Pagam por apoio popular comdinheiro público (Soft State), reprimem, perseguem e matam a oposição e colocam a culpa de suas desgraças (como bode expiatório) no inimigo conhecido (o Estado de Israel). Outro fator fundamental é a corrupção endêmica, muito bem explicada pelo palestino Bassam Tawil em seu artigo: “O mundo secreto da Autoridade Palestina: a corrupção que os meios ocidentais silenciam”. A AP já recebeu bilhões de dólares em ajuda dos EUA, da União Europeia e de diversos outros países doadores, mas esses fundos não beneficiaram em nada o palestino comum. O Instituto de Justiça de Jerusalém afirmou que Yasser Arafat e Mahmoud Abbas, juntos, roubaram 31.000.000.000 de dólares dos cofres palestinos. 10 - Há exemplos concretos de casos de corrupção alarmantes da Autoridade Palestina? Um relatório publicado em 2018 pela Coalition for Accountability and Integrity (AMAN), aliança criada (no ano 2000) por um grupo de associações civis que trabalham no âmbito da democracia e dos direitos humanos, afirma, por exemplo, que a AP investiu 17,5 milhões de dólares na construção de um “palácio presidencial”, de 4.700 metros quadrados, para Mahmoud Abbas. A fim de contrabalançar as críticas, Abbas decidiu transformar o palácio em uma enorme biblioteca nacional. Outro exemplo do esbanjamento é o pagamento de despesas e salários para uma companhia aérea inexistente chamada Palestine Airlines (que nem tem aviões). “Centenas 50 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de funcionários dessa companhia continuam recebendo salários e subsídios da Autoridade Palestina, embora a companhia não esteja registrada como tal de acordo com a lei palestina”, afirma a AMAN. Eles não são os únicos que recebem salário sem trabalhar. Segundo o relatório mencionado acima, os membros do Conselho Legislativo Palestino (CLP) vêm recebendo salários mensais, embora o Parlamento esteja paralisado há mais de uma década por causa da disputa entre o Fatah de Mahmoud Abbas e o Hamas. Segundo a AMAN, a AP gastou (em 2017) cerca de 11 milhões de dólares num parlamento que não funciona. A metade do dinheiro foi destinada ao pagamento dos salários desses deputados “fantasmas”. A AMAN também detectou um aumento injustificado de funcionários de alto escalão entre os palestinos e a compra de veículos para eles, para os seus amigos e para os seus familiares. Vale a pena lembrar que, segundo a lei palestina, terroristas que tenham passado mais de vinte anos em uma prisão israelense têm direito a um automóvel grátis. Os palestinos precisam, com urgência, de novas escolas e hospitais, não desse tipo de gastos. A corrupção palestina não pode ser atribuída a Israel e, preocupantemente, tem sido ignorada pelos meios de comunicação internacionais. 11 - É verdade que a Autoridade Palestina tira dinheiro de seu orçamento para remunerar quem assassina civis judeus israelenses? Em seu orçamento do ano 2018, a Autoridade Palestina destinou cerca de 360 milhões de dólares, 7% do orçamento nacional palestino, a duas instituições que ajudam terroristas presos em Israel, terroristas que foram soltos e famílias de “shahids” (mártires) que são mortos em ataques contra civis ou em confrontos com Israel. As instituições que receberam o dinheiro são a “Comissão de Assuntos para os Detentos e Ex-detentos” e o “Fundo para 51 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal as Famílias dos Mártires e para os Feridos”, duas organizações subordinadas à OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que governa a Autoridade Palestina. A quantidade de dinheiro destinada a terroristas representa 46% do montante de doações que a Autoridade Palestina recebe do exterior. Desde o ano de 2014, a quantidade destinada à “Comissão de Assuntos para os Detentos e Ex-detentos” tinha sido camuflada no orçamento oficial para ocultar o fato de que a Autoridade Palestina era quem, de fato, financiava os pagamentos aos terroristas presos e aos terroristas soltos. Segundo o Al-Hayat Al-Jadida, jornal oficial da Autoridade Palestina, mais de 5.500 prisioneiros palestinos recebem dinheiro desse fundo. Os salários variam entre 650 e 3.240 dólares, em função da pena. Quanto mais grave for o crime, maior será o número de anos de sentença e, por conseguinte, mais alto deve ser o pagamento. Desse modo, um palestino que não conseguiu matar um israelense, mas só feri-lo, recebe uma remuneração muito menor do que a do palestino que conseguiu matar um ou vários israelenses. E a remuneração média é muito superior ao que um funcionário palestino poderia sonhar em receber. Ou seja, matar israelenses vale mais do que trabalhar. No ano de 2018, o governo de Israel decidiu que deduziria o montante exato pago pela Autoridade Palestina aos terroristas do valor que deve lhe reintegrar por arrecadar os seus impostos. 52 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal D ad os d e do cu m en to s of ic ia is p al es tin os p ub lic ad os n o ar tig o “A um en ta m o s pa ga m en to s do s Pa le st in os a t er ro ris ta s pr es os e à s fa m íli as d os m ár tir es e m 20 17 ” - G en er al d e B rig ad a (R .) Y os si K up er w as se r (B ES A ) S a lá ri o s P o rc e n ta g e m P o rc e n ta g e m T o ta l d o To ta l d e d o s Te rr o ri st a s d o o rç a m e n to d e a ju d a o rç a m e n to a ju d a ( a n u a lm e n te ) n a ci o n a l e st ra n g e ir a d a A P ex te rn a p a le st in o 20 13 27 1 m ilh õe s u$ 7% 20 % 3. 87 2 m ilh õe s u$ 1. 29 0 m ilh õe s u$ 20 14 28 0 m ilh õe s u$ 7% 24 % 4. 00 0 m ilh õe s u$ 1. 15 0 m ilh õe s u$ 20 15 29 0 m ilh õe s u$ 7% 14 .8 % 4. 14 2 m ilh õe s u$ 1. 95 0 m ilh õe s u$ 20 16 30 4 m ilh õe s u$ 6. 9% 29 .6 % 4. 40 6 m ilh õe s u$ 1. 02 0 m ilh õe s u$ 20 17 34 5 m ilh õe s u$ 7% 49 .6 % 4. 92 8 m ilh õe s u$ 6 93 m ilh õe s u$ 20 18 36 0 m ilh õe s u$ 7% 46 % 5. 14 2 m ilh õe sU $ 7 82 m ilh õe s u$ 53 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 12 - É legal que a Autoridade Palestina pague de seu orçamento salários a terroristas? O desvio, direto e indireto, do financiamento de doadores internacionais para o pagamento de salários de palestinos presos por atos de terrorismo é ilegal. Para evitar críticas, a AP entregava o dinheiro à OLP e, de lá, às famílias dos terroristas. No entanto, não importa se é a OLP ou a AP quem paga: ambas as ações são ilegais. Segundo os Acordos de Oslo (1993), a AP e a OLP devem se abster, e atuar no sentido de desencorajar o terrorismo. Os países que doam fundos ajudam a AP a executar os Acordos de Oslo. Portanto, a transferência de fundos de doadores para terroristas é incompatível com esse requisito. A Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo de 1999 faz parte de uma série de convenções internacionais antiterrorismo. Tal convenção define como delito a ação de financiar, direta ou indiretamente, qualquer medida conectada com o terrorismo. A “Convenção Interamericana Contra o Terrorismo”, de 2002, contém um artigo específico, o 4, que detalha as medidas para prevenir, combater e erradicar o financiamento do terrorismo. O artigo 5 prevê a apreensão e o confisco de fundos ou outros ativos, e o artigo 6, está relacionado à lavagem de dinheiro. A Resolução 1373 do Conselho de Segurança da ONU (2001) é uma resolução vinculante, adotada no Capítulo VII da Carta da ONU, obrigando os estados a cooperar no combate ao terrorismointernacional e criminalizando todo fornecimento de fundos para uso terrorista. Ademais, a resolução determina o congelamento e a proibição de transferência de fundos e bens de pessoas que cometem atos terroristas. O Plano de Ação Global de Estratégia Antiterrorismo de 54 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 2006 (ONU) ordena a prevenção e o combate ao terrorismo, proibindo seu financiamento. Pagando salários a terroristas, a AP viola as leis internacionais e os Acordos de Oslo (1993) e Oslo B (1995). 13 - De que maneira os palestinos incitam seus civis à violência? A incitação à violência promovida pelo Hamas é diferente da incitação à violência promovida pela AP. No caso do grupo terrorista islâmico Hamas, o “martírio” (shaada) pela causa é promovido pelos meios de comunicação oficiais e nas redes sociais. O indivíduo disposto a partir para o ataque ouvirá todo tipo de promessas religiosas e econômicas. Na Sexta Conferência, celebrada em Belém (4/8/2009), o Fatah (OLP) entendeu que o estilo de terrorismo armado do Hamas não os beneficiava, pois não contava com a simpatia internacional. Eles optaram, então, por substituir seu modelo de luta armada por um que pudesse ser apresentado como luta popular, complementada com diplomacia unilateral, ações através da ONU e a promoção de boicotes (como o BDS). Os palestinos a chamam de “Habba popular”. A Habba popular funciona da seguinte maneira: Utiliza-se a incitação religiosa, com o argumento de que os judeus (que costumam ser representados como militares ou ortodoxos) estão querendo destruir a Mesquita de Al-Aqsa. Quando o incitador deseja que se produzam ações concretas, o discurso muda, e ele apregoa: E você não fará nada para defender a Mesquita? Tal incitação faz com que as pessoas se armem com facas ou lancem seus veículos em cima de israelenses. A grande maioria dos terroristas palestinos não sai viva depois desses atentados. O passo seguinte da “Habba popular” é desenvolver um culto ao “mártir”, o que faz com que 55 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal outros indivíduos queiram imitá-lo. Se somarmos a isso a remuneração que a AP dá aos terroristas, o atacante gozará não só de honra, mas também de dinheiro. É muito possível que Abbas, o Fatah ou a AP não tenha dado uma “ordem direta” para a deflagração da violência como o Hamas fez. No entanto, não existe dúvida de que eles planejaram e criaram a infraestrutura que facilita e promove a violência. 56 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 14 - O governo de Israel (2019) está interessado em chegar a um acordo de paz com os palestinos? Entre os anos de 2009 e 2019, Israel foi governado por uma aliança nacionalista-religiosa liderada por Binyamin Netanyahu, líder do partido Likud. Netanyahu considera o Hamas uma entidade terrorista com a qual é impossível dialogar, enquanto a Autoridade Palestina é incapaz de tomar decisões cruciais, tentado alcançar sua independência internacionalizando o conflito, em vez de negociá-la diretamente com Israel. A postura oficial de Binyamin Netanyahu ante o conflito palestino-israelense foi definida em seu discurso na Universidade de Bar-Ilan (junho de 2009). Netanyahu aceita o princípio de “dois estados para dois povos” (ou seja, a criação de um estado palestino vizinho a Israel) condicionando tal reconhecimento a: 1) A Palestina não terá armas de guerra, e sim policiais; 2) A Palestina não assinará pactos com países que desejam destruir Israel (como o Irã); 3) Os refugiados palestinos serão integrados somente à Palestina; 4) Jerusalém permanecerá indivisível; e 5) A Palestina deve reconhecer que Israel é o berço nacional do povo judeu. Para os defensores de Binyamin Netanyahu, a quinta condição foi imposta para obrigar os palestinos a colocar um ponto final no conflito, renunciando às suas premissas teológicas, segundo às quais os judeus nem sequer são um povo. Para os opositores, Netanyahu não acredita realmente na possibilidade de dois estados e, por isso, coloca uma condição impossível de ser cumprida pelos palestinos. Outro pilar dos últimos governos de Israel foi Naftali Bennet (ex-líder do partido “Lar Judeu” – Habait Hayehudi). Bennet propôs anexar os Territórios C (60% da Cisjordânia), concedendo cidadania a 5% dos palestinos. Sua proposta não foi adiante. Os partidos de esquerda e de centro de Israel propõem a reativação do processo de paz, por meio de algum tipo de acordo 57 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal regional, talvez inspirados nas premissas da Iniciativa Saudita (ver pergunta 296). Os partidos que exigem a anexação de toda a Cisjordânia são parcamente representados na Knesset. 15 - Existem forças radicais judias que atentam contra palestinos? Os Jovens das Colinas (Noar Hagbaot) são diversos subgrupos de ideologia nacional-religiosa (conhecidos como Guivonim). Os integrantes desses grupos costumam ser jovens (segunda geração de colonos judeus) que se assentam em postos avançados ilegais da Judeia e Samaria (Cisjordânia). Muitos deles se dedicam à agricultura ou à pecuária, consomem comida orgânica e ouvem música judaica New Age. O assentamento em toda a terra de Israel, incluindo a Cisjordânia, com o objetivo de estabelecer fatos consumados, é um componente importante de sua ideologia. Muitos veem nisso o cumprimento da vontade de Deus e um sinal de que a redenção está próxima. Muitos dos “Jovens das Colinas” defendem posições radicais de direita. Alguns participam ativamente do movimento contra a evacuação de postos avançados na Judeia e Samaria e muitos outros participaram dos protestos contra o Plano de Desconexão de Gaza (2005). As forças de segurança de Israel acreditam que alguns deles participam também em atividades chamadas Tão Medir, ou “Etiqueta de Preço”. “Etiqueta de Preço” refere-se a atividades ilegais atribuídas aos ativistas da direita radical israelense. Estas ações, em que aparece o grafite “Etiqueta de Preço”, começaram em 2008 e consistiram em atos de violência contra os palestinos e os seus bens (como apedrejamentos, danos a mesquitas, queima de campos e hortas e destruição de propriedades), além de atos que danificam bens pertencentes à polícia de Israel ou às Forças de Defesa de Israel. Em alguns outros casos, eles ameaçam ou atacam ativistas de esquerda ou árabes israelenses. 58 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Imagem de um Jovem da Colina (Wikipédia) 16 - Os serviços de inteligência de Israel controlam os radicais? As forças de segurança de Israel realizam detenções administrativas e adotam medidas liminares contra suspeitos de atos de “Etiqueta de Preço”. Eles são controlados pela Polícia, pela Seção Judaica das forças do Shin-Bet (Shabak – Serviço Geral de Segurança) e as FDI (Forças de Defesa de Israel) . Em 2011, foi criado um novo grupo, composto pelas unidades “Yasam” e pela Polícia da Fronteira. Segundo fontes legais israelenses, os perpetradores têm entre 12 e 23 anos, e operam em grupos pequenos e independentes, sem um líder. A Polícia de Israel informou que, desde o início de 2012, foram registrados 788 casos, 276 suspeitos foram presos e 154 Estas ações geralmente são levadas a cabo em resposta à demolição de estruturas não autorizadas nos postos avançados, por parte da Polícia ou das Forças de Defesa de Israel, depois de detenções administrativas e ordens de restrição contra os seus ativistas ou depois de ataques e atentados contra judeus. 59 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal acusações apresentadas. Em abril de 2014, o Departamento de Estado dos EUA, baseando-se em relatórios da ONU e ONGs, calculou que, em 2013, realizaram-se aproximadamente 400 ações, algumas dentro da Linha Verde.Em junho de 2013, o Gabinete de Segurança Política autorizou o Ministro de Defesa a declarar os ativistas de “Etiqueta de Preço” como uma “associação ilegal”. Em março de 2018, por exemplo, dois acusados foram sentenciados a dois anos e meio e a cinco anos de prisão por três ações da “Etiqueta de Preço”. Paralelamente, os palestinos exploram o tema como uma arma difamatória. No dia 12/11/2014, uma mesquita foi incendiada em Al-Mu’ayyir, notícia que provocou censura mundial conta Israel, embora peritos internacionais tenham demonstrado que as provas foram “forjadas”. No dia 3/10/2015, os palestinos informaram que um colono israelense atirou numa criança palestina de 6 anos em Calquília, mas a investigação posterior revelou que a criança se feriu enquanto brincava com os seus amigos. O fenômeno de “Etiqueta de Preço”, embora menor em comparação ao terrorismo palestino, foi condenado por todas as autoridades israelenses. Em dezembro de 2011, foi criada uma organização chamada “Tag Meir” (Etiqueta de Luz) para combater os delitos de ódio cometidos por judeus israelenses contra os “não judeus”. 17 - O que é a Faixa de Gaza? A Faixa de Gaza é um pequeno território de 360 km2. Tem cerca de 50 quilômetros de comprimento ao longo do mar Mediterrâneo, e a largura varia de seis a doze quilômetros. De um lado está o mar, do outro, o Estado de Israel, que também fica ao norte, enquanto o sul faz fronteira com o Egito. Na Faixa de Gaza vivem 1.800.000 palestinos, o lugar de maior densidade demográfica do planeta. 60 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Para entrar na Faixa de Gaza, no caso de produtos vindos de Israel, utiliza-se a passagem de Kerem Shalom. A pé, em Israel, entra-se pela passagem de Erez. O limite entre a zona de influência britânica (Egito) e o Império Otomano foi estabelecido no ano de 1906, e é uma linha imaginária entre Rafah e Eilat. Até 1917, a Faixa de Gaza e todo o território adjacente pertenciam ao Império Otomano. De 1917 a 1948, a zona foi dominada pelos britânicos. O Egito ocupou essa área para utilizá-la como base a fim de atacar Yafo-Tel Aviv e Jerusalém durante a guerra de 1948, para em seguida explorá-la como base de operações dos atentados dos “fedayins”. O cessar- fogo (1950) determinou que a pequena Faixa, com as dimensões 61 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal atuais, ficaria sob controle egípcio (uma ocupação ilegal). Os palestinos do lugar não receberam cidadania egípcia. Depois da assinatura do Acordo de Oslo (1993), a Faixa de Gaza foi entregue à Autoridade Palestina, e em 2005, Israel retirou-se totalmente, civil e militarmente, dessa região. A Faixa de Gaza foi tomada à força pelo Hamas (2007) para ser convertida em uma base para o lançamento de mísseis e para a construção de túneis com o objetivo de atacar civis do Estado de Israel. Hoje em dia, a Faixa de Gaza é praticamente um estado independente governado pelo Hamas. 18 - O que é o bloqueio da Faixa de Gaza? Desde 2001, os terroristas do Hamas lançaram 14.000 foguetes e mísseis, propositalmente contra civis israelenses. Além disso, cavaram uma centena de túneis, um dos quais foi utilizado para sequestrar o soldado Guilad Shalit (2006) dentro de território israelense. Como se não bastasse, o Hamas investiu seu dinheiro numa educação voltada para o ódio e em armas, governando sozinho a Faixa de Gaza desde 2007. Enquanto expõem propositalmente sua população, ao fixar depósitos de foguetes e lançadores de mísseis intencionalmente em mesquitas ou escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), os dirigentes do Hamas se escondem, junto com o seu bando, no sótão do Hospital Shifa de Gaza City. Durante a Operação Chumbo Fundido (2008-2009), Israel declarou um bloqueio à Faixa para evitar a entrada de armas. O bloqueio da Faixa de Gaza é legal (de acordo com a Convenção de San Remo de 1995 e segundo a comissão investigadora Palmer (ONU) sobre a Flotilha a Gaza - 2010). Palmer concluiu que: 1) O bloqueio naval de Israel a Gaza 62 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal é legal e Israel tem o direito de impô-lo; 2) A decisão de romper o bloqueio naval (pela Flotilha) foi um ato perigoso e temerário; 3) A conduta e os verdadeiros objetivos dos organizadores da flotilha, em particular a IHH, eram violentos. O relatório criticou Israel por abordar as embarcações de forma “excessiva e não razoável”. Para ser legal, o bloqueio deve ser geral, conhecido e público, e se deve evitar uma crise humanitária perene na zona bloqueada. Quando um barco com ajuda humanitária pretende ir a Gaza, a marinha israelense o detém e o leva ao porto de Ashdod, onde verifica se ele esconde armas, e no caso de barcos que transportam produtos (quantidades simbólicas), eles são entregues aos palestinos pela passagem de Kerem Shalom. 19 - É verdade que Israel não permite a entrada de civis palestinos da Faixa de Gaza em seu território? Até setembro de 2000 (Segunda Intifada), os civis de Gaza entravam para trabalhar ou receber tratamento médico em Israel. Mais de um milhão de entradas eram registradas por ano. Embora Israel continue em guerra com Hamas-Gaza, só em maio de 2017 foram realizados 2.282 pedidos de entrada, dos quais 47,2%, foram aprovados e 2,1%, rejeitados. O restante das solicitações não havia recebido resposta na ocasião da publicação dessa notícia (no jornal Haaretz). Um dos últimos indivíduos tratados em Israel é familiar direto de Ismail Hanya, líder do Hamas. As permissões para a entrada de doentes que provêm da Faixa de Gaza devem receber a autorização da Autoridade Palestina, mas, devido à guerra interna entre eles e o Hamas, durante largos períodos de tempo a Autoridade Palestina recusou-se a conceder permissões aos habitantes de Gaza. Em 1970, Israel construiu a zona industrial na passagem de Erez. Milhares de palestinos trabalhavam nessa região. Ali se 63 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal produziram dezenas de atentados e o lançamento de foguetes palestinos. No dia 8/6/2003, três combatentes palestinos lançaram granadas e dispararam contra soldados israelenses, matando 4. No dia 31/8/2004, os israelenses prenderam um terrorista suicida. No dia 20/6/2005, foi detida uma terrorista suicida que tinha uma autorização médica e que pretendia realizar um atentado no hospital Soroka de Beer-Sheva. No dia 22/5/2008,um caminhão-bomba explodiu em Erez com centenas de quilos de explosivos. A pergunta, na verdade, deveria ser: Por que Israel seria obrigado a tratar os doentes palestinos de Gaza? Em Gaza, quem governa é o Hamas, que está empenhado em assassinar todos os judeus. Israel age, pois, somente por motivos humanitários. Poderíamos nos perguntar também por que os palestinos de Gaza não vão para o Egito, país que não desejam destruir. O bloqueio mais ilógico é o que lhes impõe o Egito. 20 - Israel é culpado pelo não desenvolvimento da Faixa de Gaza? No livro “100 perguntas e respostas sobre o conflito palestino-israelense”, o jornalista argentino Pedro Brieger afirma: “A economia da Faixa é mínima, e Israel sempre obstruiu o seu desenvolvimento impedindo a entrada de matérias-primas ou bens de capital e pondo inumeráveis obstáculos à exportação de produtos – muitos deles perecíveis (como flores) - que nem sequer são exportados diretamente”. Os fatos contradizem tal afirmação. Nos importantes Acordos de Paris (do dia 9/5/1994, que não são citados no texto), os signatários acertaram que Israel receberia a importação mútua, cobraria os impostos e entregaria a parte pertinente à Autoridade Palestina, revisando o material para que entre os produtos não entrasse material bélico. No caso de exportações , Israel entrega o dinheiro correspondente à Autoridade 64 300Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Palestina, e, no ano de 2018, foi Mahmoud Abbas quem ameaçou o Hamas, dizendo que não entregaria a parcela acordada para as compras realizadas em Gaza. No período entre os anos 2007 e 2012, Israel entregou ao Hamas 2,567 bilhões de dólares. Outros 1,351 bilhão foram entregues até 2011, através do sistema bancário israelense. A jornalista Orna Shimoni (Ynet) afirmou que 80% desse dinheiro chegavam às mãos da direção do movimento terrorista Hamas, que os usava para construir túneis ou produzir foguetes, que depois eram lançados contra Israel. Uma segunda inverdade é que em Gaza não entram produtos por culpa de Israel. Segundo os dados do exército israelense, passaram de Israel a Gaza no ano de 2013 (e nos anos posteriores) 45.000 toneladas de produtos por semana, cerca de 400.000 toneladas de grãos, aproximadamente 60.000 toneladas de frutas e verduras, 40.000 cabeças de gado, vestimentas, conservas e remédios. Antes do golpe de estado do Hamas (no ano de 2007), o mesmo comércio chegava a 570 milhões de dólares, enquanto que até o ano de 2018, esse número chegou a 325 milhões de dólares. 21 - É verdade que, atualmente (2019), a Faixa de Gaza sofre uma crise econômica profunda? Até o ano de 2018, pelo menos 50% dos produtos que entravam na Faixa de Gaza provinham de fábricas israelenses. Os caminhões israelenses chegavam à passagem fronteiriça de Kerem Shalom e descarregavam os produtos no meio da passagem, que, então, eram conferidos e carregados em caminhões palestinos. Para negociar com Israel, o palestino deve estar registrado na Associação de Comerciantes Palestinos de Gaza (dirigida pelo Hamas). Devido ao fato de que o Hamas utiliza e utilizou materiais de construção para suas casamatas e túneis de ataque, o 65 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal estado hebreu procura entregar a Gaza quantidades passíveis de controle. O mesmo acontece com materiais que podem ter mais de um uso e podem ser utilizados para fabricar armas ou foguetes (por exemplo, adubo ou ferro). A maior parte dos materiais de construção entra em Gaza pelo lado egípcio No mês de janeiro de 2015, o Hamas já devia a Israel 50 milhões de dólares pela eletricidade comprada nos últimos anos. Essa dívida aumentou. O jornal israelense Kalkalist informava: “Todo dia, duas empresas israelenses vendem 200 mil litros de óleo diesel e benzina junto com alguns milhares de litros de gás de cozinha. Agora também, durante a guerra (de 2014), as empresas continuam vendendo esses produtos para os habitantes da Faixa de Gaza”. No ano de 2018, produziu-se uma séria crise econômica por culpa da Autoridade Palestina e do governante Hamas. A Autoridade Palestina decidiu castigar economicamente o Hamas cortando seus pagamentos. Sem poder contar com dinheiro para comprar produtos, a quantidade de caminhões que passam para Gaza pela fronteira de Israel sofreu uma drástica redução. A crise econômica é tão grande que Israel viu-se obrigado a aceitar que o Qatar entregue, em dinheiro, 15 milhões de dólares por mês. Desse modo, o Hamas pode pagar os salários de seus funcionários públicos. 22 - Quando Israel se retirou da Faixa de Gaza? No mês de dezembro de 2003, o primeiro-ministro Ariel Sharon apresentou o seu “Plano de Desconexão”. O seu objetivo era evacuar unilateralmente os 21 assentamentos israelenses na Faixa de Gaza e outros 4 assentamentos isolados no norte da Samaria. Nesses assentamentos viviam 8.600 judeus israelenses. 66 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Ariel Sharon afirmou que o Plano de Desconexão de Gaza reduziria as pressões internacionais sobre Israel, era uma prova dos desejos israelenses de alcançar a paz e diminuía drasticamente a necessidade de ter tropas militares posicionadas ali para cuidar daqueles civis. Outros afirmaram que Sharon estava interessado em distrair a atenção da imprensa quanto aos casos de corrupção relacionados a ele. Os opositores argumentavam que, sem o exército israelense, os palestinos multiplicariam os lançamentos de foguetes a partir da Faixa de Gaza. No dia 16/2/2005, o parlamento israelense (Knesset) aprovou, por 59 votos a favor, 40 votos contra e 5 abstenções, o Plano de Desconexão. No dia 11/9/2005, finalizou-se a retirada, movimento que foi acompanhado de duras discussões entre os que estavam a favor (cor azul) e os que se opunham (cor laranja). É verdade que Ariel Sharon, então na oposição, votou contra os Acordos de Oslo, mas, como premiê, ele aceitou o “Mapa do Caminho” (2003), que resultaria em um Estado Palestino, e foi nesse cenário, com enormes resistências dentro de seu partido e entre os colonos, que ocorreu a “Desconexão”. Israel não negociou a sua retirada com a Autoridade Palestina, uma vez que Sharon considerava que não havia entre eles um sócio para a paz. Vale lembrar que, em 2005, vivia-se o epílogo da onda de atentados suicidas contra israelenses (Segunda Intifada), que provocou o assassinato de 1.150 israelenses. O colunista Thomas Friedmam (New York Times) chegou a “sugerir” aos palestinos que fizessem de Gaza uma nova Dubai. Um conselho um tanto ou quanto ingênuo. 23 - Israel continua ocupando a Faixa de Gaza? Quando termina uma ocupação estrangeira? Embora a lei de ocupação beligerante não dê uma resposta explícita, o enfoque aceito é o de uma “imagem espelho” das 67 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal condições para a sua criação, ou seja, quando o exército de ocupação já não mantém um controle efetivo do território e, em seu lugar, existe um novo regime que possui tal controle. A ocupação pode terminar por meio de um acordo ou quando o ocupante é forçado a sair, mas também por um ato unilateral. Israel se retirou totalmente de Gaza no ano de 2005. Israel tem um “controle efetivo” sobre a Faixa de Gaza? Se aplicarmos a fórmula da Corte Internacional de Justiça no caso Congo vs. Uganda, ou seja, quando uma ocupação significa realmente exercer autoridade sobre o território, chegaremos à conclusão de que, claramente, Israel não é (nem remotamente) um ocupante da Faixa de Gaza. A formulação básica para definir uma “ocupação” encontra-se no artigo 42 das Convenções de Haia, relativo às leis e costumes da Guerra Terrestre (1907), que estabelece: “Um território é considerado ocupado quando se encontra, de fato, sob a autoridade do exército inimigo. A ocupação se estende somente aos territórios em que tal autoridade foi estabelecida e pode ser exercida”. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) sustenta que uma ocupação beligerante existe quando o exército de ocupação realmente exerce a sua autoridade sobre o território, e, desse modo, suplanta a autoridade do governo soberano nessa área. Alguns autores pouco versados em assuntos legais argumentam que “se Israel se retirou unilateralmente”, então o país é culpado de não ter negociado com os palestinos da Segunda Intifada, mas “se o país se retirar e não ficar nenhum israelense em Gaza”, então inventarão que ele continua “ocupando” a região. Desse modo, convivem com os seus preconceitos materialistas de que tudo é por “ocupação”. 68 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Segunda Seção Passado Explicativo 24 - O que é o movimento sionista? O movimento sionista é uma reivindicação do caráter nacional do povo judeu e de seu direito a uma existência soberana. Do ponto de vista histórico, os judeus sempre foram vistos como uma identidade composta. O pensador Mordechai Kaplan afirmava que o judaísmo era “uma civilização”. Essa civilização compreendia diversos pilares: 1) Os judeus foram e são um povo: Os descendentes do reino da Judeia são “judeus”, mas Judá, que originou a tribo de Judá, (origem do reino), era filho de Israel (Jacó),portanto os descendentes também são chamados de “israelitas”, o mesmo povo; 2) Os judeus se manifestam também como uma religião; 3) Os judeus possuem todos uma cultura similar ou parecida em todas as comunidades do mundo; 4) Os judeus possuem uma “memória coletiva”. Eles se consideram descendentes dos escravos do Egito, e foram vítimas da Shoá (Holocausto) e da Inquisição; 5) Eles possuem um idioma particular, o hebraico. Na Idade Média, por exemplo, um indivíduo judeu que morava em Barcelona não se apresentava como catalão, espanhol ou como um “ser humano”. Ele era simplesmente um judeu de Barcelona. O que era o judaísmo então? Uma mistura dessas cinco variáveis. Ao longo do século XIX, as identidades nacionais na Europa foram se fundindo, resultado da Revolução Francesa (cada ser humano possui direitos), da Revolução Industrial (surgimento de uma classe média) e do direito de autodeterminação dos povos Os judeus sofreram muitas decepções na Europa. Muitos tiveram a promessa de emancipação, mas o antissemitismo no velho continente já estava enraizado demais para que essa promessa fosse cumprida. 69 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O sionismo nada mais é do que o “Movimento de Libertação Nacional do Povo Judeu”. Em outras palavras, é a filosofia que afirma que os judeus “também” são um povo e que, assim como todos os outros povos do planeta, possuem o direito de autodeterminação. O desejo dos judeus é regressar a Sion, que é um dos nomes de Jerusalém, o seu centro nacional e religioso. 25 - Todos os judeus se identificam com o sionismo? O notável pensador Abraham Infeld afirma que os cinco pilares da identidade judaica são: 1) A história e a memória judaicas; 2) A halachá (a lei judaica); 3) Os laços familiares; 4) A língua hebraica e; 5) O vínculo com a terra de Israel. A grande maioria dos judeus do mundo sente-se parte da história e das memórias judaicas, tem laços familiares e possui um vínculo com a terra de Israel. É importante levar em conta que, no início do século XIX, os judeus foram convidados a se emancipar em diversos países europeus. A resposta dos judeus não foi homogênea. Um determinado grupo não se identificava com a modernidade e não se sentia atraído por essa proposta “laica”, de modo que optou por rejeitar a proposta (na verdade, os judeus ortodoxos se vestem de forma similar à da época na qual a proposta foi feita, para enfatizar seu conservadorismo). Uma segunda resposta foi a de muitos judeus ansiosos por “fazer parte”, que decidiram se afastar de sua identidade judaica. Uma terceira resposta foi a de judeus que separaram a sua identidade nacional (de povo judeu) da identidade religiosa. Muitos deles passaram a se apresentar como “franceses que são judeus de religião”. Um quarto grupo, decepcionado depois do fracasso da emancipação, optou pela autoemancipação nacional, que ganhou força no sionismo. 70 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Hoje em dia, metade dos judeus do mundo mora em Israel e a maioria dos judeus da diáspora se sente identificada com e apoia a existência de um estado para o povo judeu na terra de Israel. Então, os judeus possuem uma dupla identidade nacional? Exatamente. Existe um nexo sentimental e uma identificação nacional. Na maioria dos casos, um judeu argentino sente-se parte do povo argentino e também do povo judeu. O mesmo acontece com um argentino-chinês, um argentino-italiano ou um argentino-espanhol. 26 - Quando surgiu o sionismo, todos os judeus o apoiaram? A oposição ao sionismo veio, sobretudo, de três grupos: em primeiro lugar, dos que acreditavam que os judeus deviam aceitar a “emancipação”, ou seja, sendo judeus em “casa” e “cidadãos” na rua. Dentro desse grupo podemos incluir o Movimento Reformista na religião judaica, naquela época (isso mudou posteriormente na maior parte do movimento). A segunda oposição veio da ortodoxia judaica, que considerava que o nacionalismo laico “ao estilo europeu” era estranho ao judaísmo. Mais ainda: Eles se consideravam ameaçados por esses princípios. Além disso, o Renascimento judaico ocorreria com a vinda do Messias e não antes. Com a oficialização do Movimento Sionista, parte da ortodoxia judaica formou partidos políticos para promover seus interesses dentro do sionismo (Agudat Israel, por exemplo) e, depois do Holocausto, a oposição da ortodoxia ao Estado de Israel é praticamente irrelevante e menor. A terceira oposição, em número e influência, veio dos grupos russo-poloneses do movimento BUND. A história do BUND é trágica. O movimento terminou arrasado pelo Holocausto e rejeitado pelos socialistas não judeus. O agradecimento do mundo socialista ao trabalho revolucionário dos judeus pode 71 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal ser sintetizado no fato de que o BUND se apresentou para eleições na Polônia depois do Holocausto, elegeu um deputado e depois foi “convidado” pelo Partido Comunista a se desfazer. O primeiro movimento proibido pelos comunistas foi o BUND, e Stalin chegou a ordenar que se colocasse uma letra “J” nos documentos dos judeus, por considerá-los “cidadãos soviéticos suspeitos”. De qualquer maneira, ao nascer o sionismo, uma quantidade mínima de judeus emigrou para Israel. Os lugares mais promissores para uma imigração judaica eram países em rápido desenvolvimento, como os EUA, o Canadá ou a Argentina. A Palestina, uma remota província do Império Otomano, era um lugar inóspito. O desafio era para poucos, sendo encarado fundamentalmente por jovens idealistas que organizaram precárias colônias socialistas (kibutzim), limparam a área e trabalharam uma terra que permanecera inculta por séculos, sem ter nenhuma experiência no assunto. 27 - Qual a relação entre o renascimento do uso do hebraico com o sionismo? O conceito de estado-nação foi desenvolvido na Europa e teve influência também sobre os judeus. O sionismo propunha o renascimento do idioma hebraico como uma manifestação identitária e nacional. Até então, o idioma hebraico era utilizado somente nas rezas, já que os judeus que viviam no leste europeu (nos Países Bálticos, na Polônia, na Ucrânia ou na Rússia) usavam outro idioma comum chamado “iídiche” (um idioma judaico, mistura de hebraico e alemão), rico em literatura, música e tradições culturais, e ao qual muitos não estavam dispostos a renunciar. Na visão dos sionistas, o iídiche era o idioma do “gueto da diáspora”, enquanto o hebraico era “o idioma do renascimento da pátria”. Por outro lado, o iídiche era o idioma dos judeus da Europa Oriental e Central (desde o século XI), mas não era um 72 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Eliezer Ben-Yehuda (Wikipédia) Nos primeiros anos, existia uma tendência entre os sionistas de tentar erradicar seu passado, ou seja, os nomes, o idioma e a cultura provenientes dos países onde eles tinham nascido. Dizia-se que, em Israel, devia nascer um novo povo, resultado dessa “mistura de raças” (Kurt Ético). Em Israel dos dias de hoje, a diversidade, o domínio de idiomas e a cultura internacional são valorizados e fomentados. Provavelmente, trata-se de uma reação, para uma maior segurança social e pessoal. idioma a ser compartilhado por todos os judeus. Os sefaradim e os judeus do Oriente Médio não falavam iídiche, nem se sentiam identificados com esse idioma. Eliezer Ben-Yehuda, nascido como Eliezer Yitzchak Perelmam (1858–1922), foi um linguista e editor de jornais lituano-judeu, que passou a ser o responsável pelo renascimento e pela reimplantação da língua hebraica como língua falada e escrita nos tempos modernos. Ao longo de sua vida, o seu lema era: “Se você é hebreu, fale hebraico”, educando os seus filhos somente no idioma nacional. 73 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - GabrielBen-Tasgal 28 - O sionismo é consequência do antissemitismo europeu? O sionismo não é consequência do antissemitismo, embora tenha sido reforçado por esse ódio. Os fatores que explicam o surgimento do movimento são variados: 1) Fracasso da emancipação. O judeu europeu se viu diante de uma promessa de igualdade não cumprida. 2) Sentimentos nacionais e territoriais que impregnaram toda a Europa. 3) Um profundo desejo religioso de “retorno a Jerusalém”, desejo que ainda não tinha sido realizado de modo efetivo e massivo. 4) O antissemitismo europeu. Portanto, o sionismo não surgiu como consequência de um único fator (o antissemitismo). Nem todos os líderes judeus viam o antissemitismo da mesma maneira. Leon Pinsker dizia que o antissemitismo era uma doença incurável (“a judeufobia é uma psicose, hereditária e incurável”). No entanto, outros pensadores judeus consideravam que o antissemitismo seria erradicado com o advento do liberalismo europeu; outros acreditavam que o mesmo aconteceria por conta do socialismo; outros ainda (como Simon Dubnov), que a solução passava pelo “autonomismo”. Aqui também não houve homogeneidade de critérios. Para o fundador do sionismo político, o jornalista Theodor Herzl, o antissemitismo obrigava os judeus a encontrarem um “refúgio”. Achad-Haam falava menos de um “refúgio” e mais da formação de um “centro cultural” relevante para os judeus do mundo, uma situação que não requeria o translado de massas judias à “Palestina”. Dov Ber-Borochov via o movimento sionista como uma revolução marxista, enquanto Aharon David Gordon o enxergava por um viés tolstoiano, como um processo de reconexão com a terra e o trabalho físico no campo. O movimento religioso nacional o entendia como redenção. O sionismo nunca foi um movimento ideologicamente homogêneo. Quem o apresentar como tal está distorcendo sua natureza. No entanto, em relação ao antissemitismo, 74 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal os líderes sionistas consideraram que a melhor forma de combater a judeufobia era pela autoemancipação, criando um estado judeu próprio. 29 - Quem foi Theodor Herzl, e o que foi o Caso Dreyfuss? Continuando com a lógica das respostas à emancipação (pergunta 25), observamos que o jornalista Theodor Herzl (1860-1904) pertencia ao grupo que aspirava a assimilar-se à identidade nacional europeia. Herzl foi criado em uma família burguesa judia, do Império Austro-Húngaro, que falava iídiche. Cresceu em um ambiente confortável, liberal e laico. Durante sua juventude, ele frequentou a associação “Burschenschaft”, que aspirava à unificação alemã, e seus primeiros trabalhos não foram relacionados com o tema judaico. Seu primeiro emprego importante foi o de correspondente, em Paris, de um influente jornal liberal de Viena, chamado Neue Freie Presse. Em 1894, no âmbito de seu trabalho, ele teve que cobrir o “Caso Dreyfuss”. Um capitão judeu do exército francês, Alfred Dreyfuss, foi injustamente acusado de traição, por espionar para a Alemanha. Durante o julgamento e no ato de degradação, as massas gritaram palavras de ordem, como: “Morte a Dreyfuss! Morte aos judeus!” O levante antissemita gerado impressionou Herzl a tal ponto que ele ficou decepcionado com o assimilacionismo. Em fevereiro de 1896, ele publicou sua nova visão sionista no livro O Estado Judeu: Ensaio de uma Solução Moderna da Questão Judaica, onde propôs a formação de um movimento político que buscasse apoio global para solucionar o antissemitismo sofrido pelos judeus mediante o estabelecimento de um estado próprio. Seus esforços diplomáticos internacionais tiveram sucesso limitado. Além disso, ele desperdiçou grande parte da fortuna 75 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal concedida pela esposa para subornar mediadores, que lhe conseguiam entrevistas diplomáticas. Em 1897, organizou e presidiu o Primeiro Congresso Sionista em Basileia, na Suíça. Em 1902, publicou seu trabalho Altneuland (A velha nova terra), onde apresenta o futuro Estado judeu como uma utopia de uma nação moderna, democrática e próspera. Theodor Herzl representa a ideia do sionismo político. Sua grande conquista foi convencer os judeus do mundo de que os ideais sionistas eram viáveis. 30 - O Sionismo foi uma invenção do colonialismo para ocupar a “Palestina”? Um esclarecimento importante: Os judeus europeus usaram o termo Palestina por anos imitando os seus contemporâneos europeus. Durante os dias do Império Mameluco na Terra de Israel (1260-1517) ou no Império Otomano (1517-1917), o termo “Palestina” não era usado porque era uma denominação europeia. Durante o Mandato Britânico da Palestina (1920-1948), a Orquestra Sinfônica Nacional da Palestina ou o jornal Palestine Post, por exemplo, eram instituições judaicas. Se uma pessoa pesquisasse na Enciclopédia Larrousse (1938) a bandeira da Palestina, adivinha o que ela encontrava? 76 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O sionismo não foi uma invenção dos ingleses ou das grandes potências para dividir o mundo árabe, como muitas pessoas ainda acreditam. No entanto, recebeu o apoio do poder britânico, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, por várias razões, e não por meras motivações “colonialistas”. Os fatores foram: 1) Fiéis cristãos que consideravam que a chegada do Messias estava se aproximando e que ele deveria ser recebido na terra renascida de Israel, com o povo judeu vivendo nela. Profundos sentimentos religiosos que podemos constatar entre os templários alemães, ou governantes como o primeiro-ministro Lloyd George; 2) Real Politik e preconceitos antissemitas: Os britânicos desejavam manter os russos em estado de guerra e envolver os americanos, e presumiam que os judeus tinham uma força desproporcional para fazer lobby junto a ambos os países a favor dos interesses britânicos. Os britânicos também fizeram promessas aos árabes (por exemplo, a correspondência McMahon-Hussein, de 1915). Os judeus decidiram traduzir essas promessas em ações para efetivar os seus desejos nacionais. A afirmação de que o sionismo é sinônimo de colonialismo visa a apagar de uma só vez a história de um povo formado várias centenas de anos antes daquele que geralmente o acusa de ser uma manifestação imperialista. A intenção do demonizador é transformar o povo judeu em um grupo artificial. 31 - O que é o antissionismo? É a recusa em aceitar que os judeus são (também) um povo e que as suas aspirações nacionais na terra de Israel (não necessariamente em todo o país) são legítimas. Até a criação de Israel (1948), o antissionismo era um patrimônio quase exclusivo dos judeus. Havia três posições antissionistas (ortodoxa, socialista e liberal) que tinham as 77 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal suas contrapartes sionistas: a religiosa nacional (para a qual a recuperação nacional era o início da redenção), a do sionismo socialista (para quem a contribuição ao socialismo mundial se daria por meio de uma experiência própria de construção cooperativa) e a dos sionistas liberais e livres-pensadores, que entendiam que para os judeus se assimilarem genuinamente ao mundo com um todo , eles tinham que fazê-lo como um povo, e não diluindo a sua identidade. A primeira e mais contundente oposição ao sionismo veio, desde a década de 1920, do mundo árabe e islâmico e não da esquerda mundial. Durante as décadas de 1950 e 1960, Israel foi um emblema para os socialistas do mundo inteiro. A liderança árabe-palestina, sob a nefasta direção do mufti Hajj Amin Al-Husseini e outros, rejeitou o direito dos judeus à autodeterminação. A esquerda foi aumentado as suas críticas contra Israel devido às estruturas das alianças globais (com os Estados Unidos apoiando Israel, as esquerdas alinhando-se com a União Soviética, e, no nosso continente,com Cuba). Desde a rebelião de Berkeley (1964) e o Maio Francês (1968), a Nova Esquerda começou a atacar Israel, acusando o país de ser uma “manifestação colonialista”, desprezando a sua identidade nacional, e isso independentemente do que fizesse ou deixasse de fazer o governo de Israel da época (naquele momento, e até 1977, nas mãos de uma centro-esquerda ). Hoje em dia, quem antes odiava os judeus encontra na demonização do Estado de Israel e do sionismo um pretexto supostamente mais “politicamente correto”. 32 - Por que a extrema-esquerda e parte da esquerda moderada passaram a levantar tão firmemente a bandeira antissionista? É possível explicar parte ou grande parte das críticas da esquerda global a Israel pelo princípio da “interseccionalidade”. Interseccionalidade é um termo cunhado no ano de 1989 pela 78 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal ativista e acadêmica Kimberly Williams Crenshaw. Crenshaw acredita que devemos pensar em cada elemento ou traço de uma pessoa como indissoluvelmente ligado a todos os outros elementos, de modo que podemos entender como a injustiça social e a desigualdade social ocorrem a partir de uma base multidimensional. Portanto, grupos que se sentem afetados ou em situações de injustiça se reúnem e forjam, por vezes, alianças incompreensíveis, como a da extrema-esquerda e a do radicalismo islâmico. A maioria das organizações da esquerda europeia e até latino-americana se mostra indiferente à judeufobia, ou se associa a ela e muitas vezes a promove. Exemplos? Durante a Convenção Anual do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha (em 2017), o seu líder Jeremy Corbyn viu-se compelido a agir porque foram distribuídos folhetos do “Partido Trabalhista Marxista” que discutiam a “comunhão entre sionistas e nazistas” e citavam Reinhard Heydrich, arquiteto do Solução Final, afirmando que “os nacional-socialistas não tinham nenhuma intenção de atacar o povo judeu”. Outro, Pablo Iglesias, do partido “Podemos”, da Espanha, que recebe fundos iranianos, por meio de contrato, para realizar um programa de TV na “Hispan TV”. Na América Latina há manifestações na Venezuela, em Cuba, na Bolívia ou no claro antissemitismo do movimento esquerdista Quebracho, na Argentina. No Brasil, PSOL, PSTU, PCdoB (outros partidos de esquerda também, porém com mais moderação) manifestam- se sistematicamente contra Israel e o sionismo O antissionismo da esquerda usa muitos dos mecanismos de demonização do antissemitismo clássico europeu. É difícil para eles odiarem os judeus, mas eles demonizam o “judeu entre as nações” (ou seja, Israel). Jean-Paul Sartre teria vergonha do comportamento atual da esquerda em relação ao estado hebreu. “Israel é imperialista com os seus kibutzim e os árabes são socialistas com os seus estados feudais”, zombava dos que apresentam o sionismo como “colonialismo”. 79 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 33 - Existem outros grupos que defendem a bandeira do antissionismo atualmente? No Oriente Médio, o antissionismo mais extremo se manifesta dentro do radicalismo islâmico. O antissionismo muçulmano considera que Israel ocupa Dar al-Islam (terra sagrada islâmica). Grupos islâmicos ou o governo do Irã insistem que Israel é ilegítimo e o chamam de “entidade sionista”. Outra oposição veio da Igreja Católica, que considerava que a “antiga aliança” (judaísmo) existe para testemunhar a superioridade da “única” verdade (o cristianismo). Há cristãos que acreditam que o Estado de Israel não tem o direito de existir porque contradiz o destino da subjugação judaica. Hoje em dia, o Vaticano reconhece Israel, mas não como uma expressão da redenção judaica. Após o Congresso de Basileia (1897), o jornal Civilita Cattolica publicou sobre o sionismo: “1827 anos se passaram desde que a previsão de Jesus de Nazaré foi cumprida, ou seja, que [depois da destruição de Jerusalém] os judeus seriam levados para longe para serem escravos entre as nações, e que eles devem permanecer em dispersão [diáspora] até o fim do mundo”. O Conselho Mundial de Igrejas é um exemplo dessa obsessão em deslegitimar Israel. Por outro lado, hoje em dia, grupos católicos como o “Opus Dei” se sentem muito próximos de Israel. Os sentimentos antissionistas também foram expressos em fóruns como a Organização da Unidade Africana e o Movimento dos Países Não Alinhados, que adotaram resoluções condenando o sionismo e que o igualaram ao racismo e ao apartheid durante a década de 1970. A oposição ao sionismo também inunda identidades afro- americanas. O apoio afro-americano aos palestinos é motivado, de um modo geral, por considerações de “cor”. O cientista político Andrew Hacker escreve: “A presença de Israel no Oriente Médio é percebida como uma tentativa de frustrar o status legítimo das 80 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal pessoas de cor. Alguns negros veem Israel como uma potência essencialmente branca e europeia, com apoio do exterior”. 34 - É possível ser antissionista sem ser antissemita? Do ponto de vista teórico, sim, é possível. Do ponto de vista prático, isso não acontece. Se um indivíduo considera que nenhuma pessoa na face da terra merece ser chamada de povo ou acha que pouquíssimas pessoas têm o direito de ostentar esse título, agindo e pregando a destruição de todos os estados do mundo, então podemos supor que dentro dessa vertente também existe uma aspiração à destruição do estado do povo judeu sem que isso seja expressão de antissemitismo, porque se estende a todos. Na prática, os antissionistas lutam apenas pela destruição de um único estado: o estado judeu. Afirmar que os judeus não são um povo quando a grande maioria dos judeus no mundo acredita que são um povo é “discriminar os judeus”. A grande maioria dos judeus considera que o judaísmo é tanto uma religião quanto uma identidade nacional. O filósofo Mordechai Kaplan definiu o judaísmo como uma “civilização”. Negar essa essência do povo judeu desperta uma chamada de atenção sobre o “negador”, especialmente quando existem milhares de evidências arqueológicas que provam a existência do povo judeu muito antes de surgirem os estados e povos europeus ou latino-americanos. Considerar que todos os povos têm o direito de se declarar “nação”, exceto o povo judeu, é discriminar os judeus. Acreditar que todo povo tem direito à autodeterminação “exceto os judeus” é discriminar os judeus. Odiar os judeus que se declaram sionistas quando quase todos os judeus do mundo se identificam com as premissas do sionismo e amam ou simpatizam com o Estado de Israel é odiar quase todos os judeus. Aceitar a existência de cento 81 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal e noventa e três países, mas exigir a extinção de um é antissemitismo ou, mais precisamente, judeufobia. Depois da Segunda Guerra Mundial, é politicamente incorreto ser “antissemita”. Hoje em dia, muitas vezes é visto como “válido” (entre pessoas com baixos padrões morais) se declarar “antissionista”. 35 - Como podemos reconhecer um judeufóbico moderno? Podemos apontar duas maneiras de reconhecer um judeufóbico moderno que tenta se camuflar de “antissionista”. O pensador Gustavo Perednik considera que um antissemita pode ser reconhecido por três critérios: Sua obsessão (em relação a Israel ou aos judeus), a coprolalia (insulto - “Estado nazista de Israel”, por exemplo) e o maniqueísmo (tudo o que está vinculado ao judeu e a Israel é “negativo”). É importante repetir que o ódio direto e grosseiro contra os judeus é frequentemente condenado pelas leis nacionais, porque as pessoas ainda se lembram do que tal judeufobia causou no mundo. No entanto, odiar os judeus como estado é algo que, para qualquer pessoa com uma bússola moral mal ajustada, é um comportamento com a qual ela pode conviver tranquilamente.Outro método é usar o “Teste 3D do antissemitismo”: Deslegitimação (de Israel), Demonização (de Israel) e o ato de sujeitar Israel a padrões Duplos. Esse parâmetro foi desenvolvido por Natan Sharansky, ex-ministro israelense e ex-presidente da Agência Judaica para Israel. Criticar Israel não significa ser antissemita. Criticar obsessivamente Israel, e especialmente Israel, de maneira maniqueísta, qualificando o país com insultos (coprolalia), usando padrões duplos, demonizando e provocando sua deslegitimação é, “SIM”, ser judeufóbico. Quase todos os países do mundo são apresentados como 82 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal “estados-nação de um determinado povo”. A Espanha é o berço nacional dos espanhóis, a argentina é o berço nacional dos argentinos e a Rússia é o berço nacional dos russos. Em todos esses países, existem minorias nacionais. Ninguém opina ou se atreve a dizer que é “a favor” da destruição da Argentina porque, por exemplo, esse país não se dissolve para formar um “novo estado” que inclua bolivianos, peruanos e venezuelanos. No entanto, no caso de Israel, esses antissionistas/antissemitas dizem que é necessário renunciar a ser o estado nacional do povo judeu (que representa 80% da população). Isso é discriminação. 36 - Todo mundo que critica Israel é antissemita? Obviamente, nem todo mundo que critica Israel é judeufóbico. Criticar Israel é válido, e aqueles que mais criticam o país são os próprios israelenses. Felizmente, os ataques dos judeus em relação a Israel não têm o mesmo destino que as críticas dos muçulmanos em relação ao islamismo. Quem crítica Israel obsessivamente, de modo maniqueísta e ultrajante, é judeufóbico (antissemita). Os judeus são especialmente sensíveis quando presenciam críticas obsessivas contra eles ou contra Israel. Na verdade, eles têm vinte e três séculos de “experiência”, com provas de manifestações de ódio contra seu povo, promovidas por autoridades cristãs e, atualmente,por representantes islâmicos, ou representantes da extrema-direita e da extrema-esquerda. Eles têm como evidência os libelos de sangue, atuais e de outrora, assassinatos e pogroms ou conversões forçadas. Desde a Inquisição, passando pelos massacres de judeus na Ucrânia de Bogdán Jmelnicki, seguindo com o último grande massacre de judeus durante a Segunda Guerra Mundial e terminando com os islamitas modernos ou seus aliados, que querem destruir Israel “porque Israel não é um estado binacional”. Vale a pena conferir os comentários de leitores quando se trata de uma história relacionada com Israel para verificar que 83 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal vinte e vinte e três séculos de ódio não desapareceram depois do Holocausto (Shoá). Afirmar que as suspeitas judaicas quanto a motivações antissemitas são uma reação próxima à “chantagem intelectual” desmerece aqueles que assim afirmam. Porém, a utilização excessiva, exagerada e deficiente, que certos líderes israelenses fizeram e fazem a respeito do nazismo e do Holocausto não é benéfica. Primeiro, porque o antissemita se refugia nisso, argumentando que “é tudo um exagero”. Por outro lado, os culpados de genocídios como o Holocausto (os europeus e seus aliados) tentam apagar seu passado assassino culpando Israel de fazer o que eles fizeram (ou permitiram que acontecesse), fingindo, assim, “desculpar-se” ou limpar seus antigos pecados. A preocupação de manter viva a memória do Holocausto deve ser apresentada como uma contribuição à memória universal também, para que não aconteça novamente, não só com os judeus como com qualquer povo, nação, país, religião ou cultura. 37 - É possível ser judeu e antissemita (judeufóbico) ao mesmo tempo? Trata-se de um fenômeno muito estudado. O trabalho mais notável foi o livro de Theodor Lessing (1930): Jüdischer Selbsthaß (O autodesprezo dos judeus). O fenômeno do ódio a si mesmo não se manifesta apenas entre os judeus. Vemos isso também entre pessoas de cor, que fazem de tudo para se livrar de algumas características físicas próprias (por exemplo, alisando obsessivamente o cabelo para eliminar o “afro” ou operando-se para mudar a cor da pele). Os judeus que padecem de ódio a si mesmos não são muitos, embora existam casos realmente extremos. Em 1935, um judeu alemão, Max Naumann, fundou o “Verband Nationaldeutscher Juden” (Liga de judeus nacionalistas alemães), que se 84 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal identificava com a ideologia nazista. Entre os judeus, as razões que levam ao ódio a si mesmo diferem entre si. Alguns o fazem porque, exagerando suas declarações, desejam livrar-se do “fardo” de serem judeus; outros, porque têm vergonha de serem judeus; outros ainda, porque querem ser aceitos pela maioria (costumam ser citados como o “bom judeu” por aqueles que odeiam os judeus). Uma das características do judeu que se odeia é que ele considera que o judaísmo não é um povo, mas uma religião ou cultura, e sua formação em temas históricos e religiosos judaicos geralmente são muito fracos. Um grande nome do socialismo israelense, Berl Katzenelson, disse (1936): “Há, por acaso, outro povo na terra cujos filhos se encontram tão perturbados emocional e mentalmente que consideram desprezível e odioso o que sua nação faz, enquanto cada assassinato, estupro e assalto cometido por seus inimigos enchem seus corações de admiração e reverência? O fato de ser judeu ou descendente de judeus, para aquele que critica obsessivamente Israel, é completamente irrelevante. Se o indivíduo criticar Israel de maneira obsessiva, maniqueísta e ultrajante, ele será considerado antissemita de qualquer maneira, seja ele judeu ou não. 38 - Afinal, é certo utilizar o termo antissemita? O termo correto é judeufobia. Leon Pinsker usou corretamente esse termo em 1883, esclarecendo que o fenômeno descrevia o “ódio irracional” especificamente em relação aos judeus. O adjetivo ‘semítico’ foi cunhado pelo orientalista alemão August Ludwig von Schlözer, em 1781. Schlözer não se referia a uma raça - conceito que apareceu cinquenta anos antes por causa do trabalho do francês Henri de Boulainvilliers - mas a um grupo de línguas chamadas “semíticas”, que seriam as que falam os descendentes do filho de Noé, Shem. 85 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O termo ‘antissemitismo’ aparece um pouco depois, em 1873, por obra do jornalista alemão (e judeufóbico) Wilhelm Marr. Marr confundiu muita gente, já que deu a entender que o ódio era e é em relação aos “semitas”, quando nunca houve uma raça ou povo semita (semitas são idiomas, e existem quatro). Os etíopes que falam amárico não são odiados, nem se odeiam os árabes e arameus que falam línguas semíticas. Só os judeus são odiados. Esse truque dialético de Marr permite que os judeufóbicos árabes (ou descendentes) argumentem falsamente: “Como posso ser antissemita se eu mesmo sou semita?” Um argumento que pode ser refutado, observando que o ódio é direcionado especificamente e irracionalmente ao judeu, e não ao indivíduo que fala amárico, árabe ou aramaico. Além disso, a pessoa pode ser de origem judaica e odiar os judeus (são poucas, mas existem). Como disse muito bem um pensador universalista com uma bússola moral bem ajustada: “Recuso-me a chamar de opinião uma doutrina que aponta expressamente para certas pessoas e tende a suprimir seus direitos ou exterminá-las. O antissemitismo não se enquadra na categoria de pensamentos protegidos pelo direito à livre opinião”. “O antissemita é, no fundo do seu coração, um criminoso. O que ele quer, o que ele prepara, é a morte do judeu”(Jean-Paul Sartre). Wilhelm Marr, criador do termo “antissemitismo” (Wikipédia) 86 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 39 - Por que os judeus escolherama Palestina para desenvolver um Estado próprio? A resposta está na Declaração de Independência de Israel: “Erets Israel tem sido o berço do povo judeu. Aqui a sua personalidade espiritual, religiosa e nacional foi forjada. Aqui ele viveu como um povo livre e soberano; aqui ele criou uma cultura com valores nacionais e universais”. A terra de Israel está repleta de provas arqueológicas históricas da presença do povo judeu. Entre outras, nela desenvolveu seu ministério Yehoshua (Jesus), originalmente de Nazaré, embora nascido em Beit-Lechem, também judaica (Belém). Os ideólogos sionistas eram, em sua maioria, judeus seculares, embora a referência territorial para a sua identidade como povo e nação fosse, sem dúvida, a terra de Jerusalém ou o seu nome alternativo, Sion (daí o nome do movimento). O sionismo visava a reconstrução nacional em Israel, que sempre ocupou um lugar central nas rezas e na memória coletiva do povo judeu, e porque o lugar era associado com a soberania política judaica do passado. As referências bíblicas vêm somente reforçar este vínculo. O território havia sido submetido ao Império Otomano, cujo “título de propriedade” era o fato de tê- lo conquistado à força (como os árabes fizeram anteriormente). Os judeus queriam recuperar a soberania por meio da compra de terras, do trabalho e da imigração em massa. Herzl, em seu livro “O Estado Judeu”, questionou se a Palestina era um lugar melhor que a Argentina. De fato, a Argentina é mencionada, mas nunca chegou a ser uma proposta concreta. O projeto da Argentina foi liderado pelo filantropo barão Hirsch e procurava “salvar” os judeus europeus em colônias agrícolas, sem qualquer pretensão ou associação nacional com o sionismo (com o acordo das autoridades argentinas). A alternativa territorial à Palestina apresentada ao sionismo foi Uganda, uma colônia britânica, mais acessível do que a Palestina otomana. No 87 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal entanto, foi rejeitada, porque os sionistas só aceitavam Sion, devido à ligação histórica, nacional, religiosa e cultural. 40 - Quando o sionismo foi formado, o povo palestino existia? As ideias nacionalistas chegaram ao Oriente Médio em meados do século XIX de mãos dadas com o expansionismo europeu e a influência das ideologias nacionais. No entanto, as ideias da Revolução Francesa, que atribuem ao indivíduo direitos inalienáveis, não entraram na região e não são consideradas autóctones. O Oriente Médio também não vivenciou a Revolução Industrial, que cria uma classe média exigente de direitos políticos. Evidentemente, o formato de estado-nação europeu era estranho às sociedades tribais. A identidade primária e natural dos indivíduos no Oriente Médio está relacionada a seu pertencimento a uma “hamula” (um clã ou uma família maior). As potências europeias souberam como tecer alianças, por interesses, com certos clãs. Por exemplo, na Arábia Saudita, elas formaram um pacto com o clã Saud (à custa do clã Hashemi-Hussein de Meca). O surgimento precoce de sinais de nacionalismo palestino é uma questão menor nas discussões acadêmicas. Poucos acadêmicos renomados “detectam” um sentimento nacional de estilo europeu entre os árabes que, mais tarde, sob o domínio dos britânicos, seriam conhecidos como “palestinos”. O antecedente de certa identidade palestina já no ano de 1834 é apontado pelos historiadores israelenses Baruch Kimmerling e Joel Migdal, enquanto o historiador árabe Rashid Kalidi enfatiza que a identidade palestina nunca foi exclusiva e que o arabismo, a religião e a lealdade local sempre desempenharam um papel de destaque. A linha do historiador Rashid Kalidi é muito mais aceita e realista. 88 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal A maioria dos historiadores considera que o nacionalismo palestino faz parte de um movimento pan-árabe maior, que surgiu durante o século XX e foi impulsionado pela Revolução dos Jovens Turcos (no ano de 1908). Para os tempos da imigração sionista (a partir de 1881-1882), é artificial falar seriamente de uma consciência nacional árabe-palestina. O que não significa que hoje em dia essa identidade não exista. 41 - O que aconteceu em 1834 e quando foi desenvolvida a identidade nacional Palestina? Em 1834, houve uma revolta de falachim, agricultores vassalos, contra o governo modernizador do muçulmano egípcio Muhammad Ali, como forma de protesto contra o serviço militar obrigatório. Os líderes das revoltas foram os chefes dos clãs (hamula) de Nablus, Hebron, Jerusalém e Yafo. Ao longo do caminho, como em outras ocasiões, também assassinaram judeus. Argumentar que essa revolta é um sinal de “nacionalismo palestino” não é sério. Os modelos nacionais na arena palestina surgiram especialmente graças ao contato com um Ocidente organizado segundo o princípio nacional e, especialmente, como um reflexo do nacionalismo sionista que desenvolvia sua própria comunidade. Quando, por exemplo, começaram a circular os jornais árabes locais, expressando certa identidade nacional, como o Al-Quds (Jerusalém) em 1908, o Al-Karmil (Carmel) em 1909 ou o Falastin (ou Palestina) em 1911, os clãs já estavam em contato, havia trinta anos, com o sionismo judaico importado da Europa. Durante e no final da Primeira Guerra Mundial, os clãs árabes-palestinos estavam mais interessados na formação de um reino pan-árabe regional centralizado em Damasco. Então, quando a região da Síria-Líbano passou para as mãos da França e Palestina-Transjordânia passaram a ser governadas pela Grã- Bretanha, tal proposição foi irrelevante. Além disso, quando 89 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal os britânicos declararam seu desejo de criar um Estado, ou Lar Nacional Judaico, a reação do principal clã dominante (Husseini) foi promover um repúdio religioso-nacional, muito mais religioso do que nacional. O primeiro passo para a criação da identidade palestina ocorre durante a década de 1920, no século XX, o passo intermediário acontece após a derrota árabe na Guerra de 1948 (árabes palestinos ficaram sob o domínio da Jordânia na Cisjordânia, enquanto outros passaram a ser governados pelo Egito em Gaza). A cristalização final da identidade ocorre após a guerra de 1967, quando esses dois territórios passam a ser governados por Israel. 42 - É correto afirmar que os judeus roubaram a terra dos palestinos antes de 1948? O jornalista argentino Pedro Brieger escreveu (“100 perguntas e respostas”) que “os líderes nacionalistas já haviam se dado conta de que alguns camponeses árabes, cujas terras haviam sido vendidas por latifundiários para o movimento sionista, lutavam para voltar e confrontavam-se com os novos imigrantes”. Essa “raiva” começou durante os dias de mandato britânico, enquanto na época do domínio otomano (até 1917) foi uma questão menor. Essas terras não eram propriedade dos árabes- palestinos (a despeito da afirmação incorreta de Brieger, “cujas terras”). Nessas terras, compradas pelos judeus, moravam árabes, segundo o modelo de “buztan” (arrendamentos). Em 1858, os turcos otomanos criam um primeiro registro de terras. Tal registro comprometia duplamente: O indivíduo devia pagar impostos, e podiam recrutá-lo para o exército, pois sabiam onde morava. Latifundiários ricos, vários deles cristãos que viviam no Líbano, adquiriram propriedades. O proprietário de terras alugava 90 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal o local para seu cuidado ou pequena produção. Os sionistas compraram propriedades “de seus legítimos donos” e, após pagar preços exorbitantes, decidiram trabalhar e proteger as terras de forma autônoma. Motivados por princípios socialistas, eles acreditavam na possibilidade de trabalhar e produzir diretamente, sem explorar os outros. O contato entre o judeu ocidental e os costumes árabesproduziu tensões. Por exemplo, imaginemos um grupo de judeus trabalhando numa pequena porção de terra. Os árabes tinham o costume de que os restos das colheitas fossem de acesso público. Agora imaginemos um guarda que espanta os invasores de sua propriedade privada sob a mira de uma arma. O indivíduo expulso chamará seu clã para pedir ajuda, e já temos um conflito. Para adquirir terras e resgatá-las, os sionistas fundaram o KKL (Keren Kayemet Le-Israel ou Fundo Nacional Judaico), criado em 1901 em Basileia (Suíça). Desde sua criação, o KKL plantou mais de 240 milhões de árvores em Israel, construiu 180 represas e desenvolveu 250.000 hectares de terra. 43 - Estava certa a frase: “Um povo sem terra para uma terra sem povo”? Podemos diferenciar duas questões: Quantas pessoas havia? Existia uma consciência nacional palestina quando os sionistas começaram a imigrar? Com relação aos dados demográficos, eles são fracos devido à falta de censos (leia “A população árabe e judaica na ‘Palestina’ durante o Império Otomano e o Mandato Britânico”, no site MidEastWeb). A terra que conhecemos hoje como Israel- Palestina era pouco habitada (em 1800), por 250.000 pessoas (20.000-25.000 judeus). O território experimentou uma onda de imigração durante o século XIX por várias razões: A construção do Canal de Suez causou a imigração de clãs egípcios que não queriam ser forçados a trabalhar. Além disso, a moderada 91 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal modernização após o governo de Muhammad Ali encorajou o assentamento. O aumento da imigração árabe é multiplicado com a chegada dos sionistas e do Mandato Britânico. Foi uma época de imigração em massa, aumentando a população árabe de 250.000 (em 1800) pessoas para 1.300.000 pessoas em 1947. Por outro lado, se em 1881 perguntassem a um árabe local se ele era “palestino”, ele ficado espantado. Palestina é uma palavra europeia (os judeus europeus é que usavam esse termo), e nem os otomanos nem os mamelucos a usavam para nomear a terra e os seus habitantes. Parece incrível, não? Nem tanto.Peça a um indivíduo que fala árabe para dizer Palestina com P e você verá que ele só consegue dizer “Balestina”. Uma prova de que o nome do povo não é autóctone. A expressão “uma terra sem povo” é um exagero da situação naqueles anos. Havia habitantes locais de língua árabe que não formavam um povo. Essa afirmação pode ser verificada por milhares de depoimentos da época. “Não há nada chamado Palestina na história, absolutamente nada”, afirmou o professor Philip Hitti (historiador árabe, em 1946). Tal declaração não determina que atualmente não haja um povo palestino. 44 - Por que tantos testemunhos afirmam que a terra de Israel foi abandonada antes da chegada dos sionistas e britânicos? No início do movimento sionista, os judeus não sentiam que havia um povo palestino na frente deles: “Não existe nenhum país chamado Palestina. ‘Palestina’ é um termo inventado pelos sionistas.(...) Nosso país faz parte da Síria há séculos. A ideia de ‘Palestina’ é estranha para nós”, confirmou Auni Bey Abdul-Hadi (líder árabe sírio na Comissão Britânica Peel, de 1937). A percepção da Palestina como um território semiabandonado não nasceu dos judeus, mas dos viajantes europeus do século XIX, talvez imbuídos do espírito colonialista, mas também como um reflexo da realidade. A terra, depois de 92 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal uma longa história de guerras e conquistas, estava deserta, era uma província pobre e esquecida do Império Otomano. Mark Twain, que visitou a área (no ano de 1867), escreveu: “[Um] país desolado, cujo solo é bastante rico, mas foi inteiramente tomado por ervas daninhas: uma extensão silenciosa e triste.(...) A desolação é tão grande que nem mesmo a imaginação é capaz de congraçar-se com o esplendor da vida e da ação. (...) Nunca vimos um ser humano em todo o caminho. (...) Havia somente uma árvore ou um arbusto aqui e ali. Até as oliveiras e os cactos, esses amigos fiéis dos solos mais pobres, quase abandonaram o país”. O Relatório da Comissão Real para a Palestina descreve a planície costeira no ano de 1913: “A estrada de Gaza para o norte era apenas uma estrada de verão adequada para o transporte em camelos e carroças. (...) Não havia laranjeiras, nem se viam pomares nem vinhas até chegar à aldeia judaica de Yavne.(...) A parte ocidental, em direção ao mar, era quase um deserto. (...) As aldeias nessa área eram poucas e quase despovoadas. Muitas ruínas de aldeias pontuavam a região, porque, devido à frequência da malária, muitas delas tinham sido abandonadas”. 45 - Os ideólogos sionistas consideraram a possibilidade de um confronto com os árabes locais? Os primeiros ideólogos não consideraram em profundidade a presença dos 250 mil não judeus (árabes) que viviam na região. Em Altneuland (A velha nova terra), Theodor Herzl chega a descrever até mesmo uma coexistência idealizada, em que os árabes iam “agradecer e desfrutar” do progresso trazido pelos judeus. Os precursores do sionismo não levaram em conta uma identidade nacional palestina que se desenvolveu a posteriori (nas décadas de 1920 e 1930). Os habitantes locais eram árabes e beduínos, com algumas famílias mais poderosas como as Nashashibi ou os Husseini. Os ideólogos socialistas consideravam que uma sociedade 93 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal justa baseada no proletariado deveria ser construída. Os conflitos nacionais eram subordinados aos conflitos de classe, uma vez que os conflitos nacionais não deveriam surgir em uma sociedade justa e inclusiva. O patriarca do sionismo socialista, Dov Ber-Borochov escreveu: “Quando as terras improdutivas forem preparadas para a colonização, quando novas técnicas de produção forem introduzidas e quando os outros obstáculos forem removidos, haverá terra suficiente para acomodar judeus e árabes. As relações normais entre judeus e árabes prevalecerão”. Em 1907, o líder sionista Isaac Epstein, apresentou claramente o problema: “De uma coisa nos esquecemos: existe em nossa amada terra uma cidade inteira que se agarra a ela há centenas de anos e nunca pensou em abandoná-la”. As palavras de Epstein não significam que existia uma nação palestina, mas, de certa forma, despertavam o líder para a percepção de um sentimento de desrespeito pelos habitantes locais. Apenas dois dos ideólogos sionistas foram capazes de prever o conflito: Achad HaAm e Zeev Jabotinsky. Em 1923, e depois de ganhar alguma experiência, o ideólogo sionista Zeev Jabotinsky elaborou uma visão abrangente sobre o assunto em seu texto “A Muralha de Ferro”, em que reconhece a existência de uma identidade local e respeita (e compreende) que eles se oponham à chegada sionista. 46 - Existe, então, um povo palestino (2019)? Como explicamos acima, a identidade primária no Oriente Médio é tribal (clãs - hamula). Quando um país árabe é liderado por uma única hamula, sem competição, ele experimenta “estabilidade”. No Catar, o Al-Thani domina hegemonicamente e no Kuwait quem domina é o clã Al-Sabah. O outro lado é o Iraque, com 10 religiões, muitos povos divididos: curdos, árabes, turcomanos e persas, e pelo menos 70 tribos. Num país com múltiplos clãs, é possível formar um povo 94 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal homogêneo? Certamente, se as pessoas desses clãs se forem casando entre si. No caso dos judeus de Israel, existem muitos exemplos de casamentos entre pessoas de origens diferentes. No entanto, ocorrem poucos casamentos entre judeus (80%) e árabes em Israel (20%). É possível falar, então, de um povo israelense? O que acontece entre os palestinos? Estamos falando de muitos clãs que normalmente não se casam entre si. Se o clã chama-se Al-Masri, é de - “emigrantes egípcios”; Al-Lubnani -”Líbano”; Al-Dimashqi- “Damasco Síria”; Al-Hijazi - “Hejaz Arábia Saudita”; Al-Baghdadi - “Bagdá Iraque”; Al-Trablusi - “Trípoli Líbano”; Al-Mugrabi - “Magrebe”; Al-Otman - “otomanos”; Al-Tikriti - “Tikrit Iraque”; Al-Masrawa - uma variável do Egito; Al-Jumblatt - “do vale de Jumblatt no Curdistão”; Al-Jzayer - “Argélia”; o Nashashibi –“descendente de sírios”; Al-Khaurani - “Hauran Síria”; Zouabi - “Jordânia e Iraque”. Por não haver um clã dominante, surgem propostas de paz, como a do Dr. Mordechai Keidar, eminência no islã (Universidade Bar-Ilan), intitulada: “A solução de oito estados palestinos: Uma alternativa viável para o futuro de Israel”. Atualmente (2019), a Faixa de Gaza é um estado que, na prática, é independente e é dominado pelo Hamas. Na Cisjordânia, existe outra autoridade liderada pelo Fatah. No entanto, assim como é inaceitável que os palestinos rejeitem o direito do povo judeu a definir-se como tal, seria desrespeitoso negar a identidade palestina atual. 47 - É verdade que o sionismo pensou em um estado “somente para os judeus” e isso criou o conflito? Theodor Herzl, promotor do primeiro Congresso Sionista e ideólogo da criação de um “Estado Judeu”, descreve em seu romance Altneuland (“A velha nova terra”,1902) um futuro imaginário (ano de 1923) durante as eleições nacionais. Lá, o direito ao voto universal, de mulheres e árabes, é discutido. Um dos heróis é Rashid Bey, um engenheiro árabe de Haifa. O livro mostra que as práticas discriminatórias comuns na Europa não 95 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal conseguiriam subsistir na nova sociedade. Além disso, hoje em dia, a grande maioria dos árabes israelenses (73%) sente que pertence ao estado judeu e 60% se orgulham de serem israelenses, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto New Wave Research (2017). O que diziam os socialistas tão dominantes no sionismo? Eles defendiam a construção de uma sociedade justa baseada em uma classe proletária da qual os árabes seriam uma parte inseparável. É verdade, os grandes nomes do sionismo estavam mais interessados em conseguir um refúgio para os judeus perseguidos do que em pensar no que iria acontecer em uma segunda instância (por exemplo, Theodor Herzl e Leon Pinsker). Os ideólogos dominantes do nacionalismo judaico (de direita), como Zeev Jabotinsky, escreveram que em toda sociedade coexistiam minorias nacionais, sendo o ideal “um estado onde o presidente fosse judeu e o vice-presidente fosse árabe” (Jabotinsky foi um dos redatores do Programa de Defesa das Minorias Nacionais, 1901). A Declaração de Independência de Israel (1948) afirma claramente “SOLICITAMOS - mesmo em meio à sangrenta agressão que tem sido dirigida a nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel que mantenham a paz e participem da construção do Estado com base em plenos direitos civis e representação adequada em todas as suas instituições provisórias e permanentes”. Não eram apenas palavras. Este é o documento oficial de fundação do Estado de Israel. 48 - Por que os britânicos e os franceses dividiram o Oriente Médio em 1916? Grande parte do Oriente Médio foi ocupada durante 400 anos pelo Império Otomano. Era um império fraco, que não se dissolveu antes como meio de impedir a expansão do poder alemão emergente. As ideias imperiais dominantes buscavam aumentar o prestígio dos países, gerar mercados para a venda 96 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de produtos, dominar matérias-primas e às vezes eram gestadas graças auma dinâmica própria (dominar um território para que a concorrência não o faça). A economia não era a única explicação do colonialismo, embora as potências desejassem ocupar lugares geoestratégicos fundamentais para o comércio mundial, uma vez que já estava claro que a região era uma fonte de petróleo. Por exemplo, as colônias francesas na Argélia (desde 1830) ou a inauguração em 1869 do Canal de Suez em terras egípcias, ambos países que não eram “potências petrolíferas”. Após a queda do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, três potências dividiram seu território. Os principais territórios foram distribuídos entre a Inglaterra e a França. O terceiro pé do acordo foi a Rússia czarista, que, após o golpe comunista, deu a conhecer ao mundo o pacto secreto (Sykes-Picot 1916). O Império Austro-Húngaro se desintegrou também, o que resultou na formação da Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, o reino da Sérvia, Croácia e Eslovênia etc., de acordo com as fronteiras estabelecidas pelas potências vitoriosas. A Inglaterra e a França ocuparam a região que agora compreende o Egito, a Jordânia, o Iraque etc . No caso do Oriente Médio e Israel, os britânicos tinham dois compromissos: O de favorecer um lar nacional judeu na Palestina [Declaração Balfour, 1917] e o de recompensar os árabes que os apoiaram em sua guerra contra os otomanos. Por conta desse segundo motivo, entregaram o Iraque e depois o que agora é a Jordânia a um clã específico, à família Haxemita (originária da península arábica). O nome oficial da Jordânia é Reino Haxemita da Jordânia. 49 - O que é o Acordo secreto Sykes-Picot de 1916? O acordo é oficialmente conhecido como o “Acordo da Ásia Menor”. Os diplomatas Mark Sykes (da Grã-Bretanha) e François Georges-Picot (da França) negociaram os seus termos. 97 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Era um pacto secreto assinado entre a Grã-Bretanha, a França e a Rússia para distribuir as esferas de influência e controle dos três países após a queda do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial. Considera-se que o acordo moldou a região. Os britânicos receberam o controle das áreas desde a costa do Mar Mediterrâneo até o rio Jordão, hoje a região que compreende a Jordânia, o sul do Iraque e uma pequena área que incluía os portos de Haifa e Acre para permitir o acesso ao Mediterrâneo. Os franceses ficaram com o controle do sudeste da Turquia, do norte do Iraque, da Síria e do Líbano. O Império Russo iria receber Istambul, os Estreitos Turcos e a Armênia. Cada poder decidiria depois as fronteiras dentro de suas próprias áreas. 98 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Na verdade, estamos falando de cinco zonas: uma de controle britânico, uma de controle francês, uma de influência ou protetorado britânico, uma de influência ou protetorado francês e uma de administração internacional (que incluía as cidades de Jerusalém e Nazaré). Esses acordos foram referendados durante a conferência de San Remo e também receberam um aval da Liga das Nações (predecessora da Organização das Nações Unidas, a ONU). Os britânicos formaram o Mandato Britânico da Palestina entre 1920 e 1948 e o Mandato Britânico do Iraque (1920- 1932), enquanto o Mandato Francês da Síria e do Líbano durou de 1923 a 1946. O governo dos czares na Rússia teve um papel menor no acordo, e quando a Revolução Russa ocorreu, foram os bolcheviques que deram a conhecer o acordo de 3/11/1917 para mostrar as desgraças do imperialismo. Os ingleses e franceses ficaram envergonhados, enquanto os árabes ficaram consternados. 50 - O que significam as promessas aos árabes ou a correspondência McMahon-Hussein, de 1915? Essa correspondência é uma série de 10 cartas trocadas (do dia 14/7/1915 ao dia 30/1/1916) entre o governante de Meca (do clã Hashemi) Hussein Iben Ali e o alto-comissário britânico para o Cairo, Henry McMahon. Os britânicos propunham uma revolta árabe contra o Império Otomano, durante a Primeira Guerra Mundial, em troca do reconhecimento aliado de um Estado árabe na área. Na carta do dia 24 de outubro de 1915, as terras que pretendem reconhecer a Hussein são todas, “menos”: “Os distritos de Mersin e Alexandreta e as áreas da Síria a oeste dos distritos de Damasco, Homs, Hama e Alepo”. Não estava totalmente claro o status reservadopara Israel-Palestina, que não é mencionado especificamente, nem a unidade administrativa, ou Sanjak, de Jerusalém. O próprio McMahon, 99 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal já aposentado (em 1922), esclareceu em cartas ao The Times e a Sir John Evelyn Shuckburgh, do British Colonial Office, o seguinte: “Minha intenção era excluir a Palestina de uma Arábia independente, e espero ter escrito as cartas de forma clara em todos os sentidos.(...) Minha intenção era, com certeza, excluir a Palestina, da mesma maneira que se fez com as partes costeiras do norte da Síria”. Para reforçar a revolta contra os otomanos, os britânicos enviaram Thomas Edward Lawrence, conhecido como “Lawrence da Arábia”, em uma operação que durou dois anos e não contou com o líder palestino Hajj Amin Al-Husseini, que participou a favor dos otomanos. Após as cartas, os impérios distribuíram as terras no Acordo Sykes-Picot (de 1916), sendo que eles também prometeram Israel aos judeus na Declaração Balfour (de 1917). Quanto ao Reino do Hejaz, o estado árabe criado justamente por Hussein Iben Ali, de Meca, no começo da rebelião, e que estava fora da política de distribuições e mandatos, ele foi conquistado e anexado por seus vizinhos para formar a Arábia Saudita. 51- Que importância tem a Declaração Balfour de 1917? Enquanto insistiam com o xeque de Meca, Hussein Iben Ali, para que ele lutasse em troca de promessas de um reino próprio, os britânicos seduziam os sionistas diplomaticamente. As promessas aos judeus foram feitas para um movimento sionista organizado, com aspirações nacionais no estilo europeu e com uma ação e uma eficácia no terreno por meio de fazendas e cidades já estabelecidas em Israel. As promessas aos árabes foram feitas a chefes tribais e elementos não constituídos com base em uma perspectiva nacional, líderes que não habitavam o que hoje se conhece como Israel-Palestina. 100 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No dia 2/11/1917, o chanceler britânico Arthur James Balfour escreveu uma carta ao barão, banqueiro e ex-deputado Lionel W. Rothschild, para que fosse ela entregue ao movimento sionista, com o qual ele tinha estreitos laços. O texto dizia: “O governo de Sua Majestade contempla favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu e usará os seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo”. E acrescentou: “Entende-se que nada será feito no sentido de prejudicar os direitos civis e religiosos de comunidades não judaicas existentes na Palestina”. A Declaração Balfour foi “uma declaração” feita pela principal potência da época. No ano de 1920, no Tratado de San Remo, a Liga das Nações (que correspondia à atual Organização das Nações Unidas, ONU) cria o Mandato Britânico da Palestina, com o objetivo de estabelecer ali um estado para o povo judeu de acordo com a Declaração Balfour. A legalidade internacional vem do Tratado de San Remo, na entidade que precedeu a Organização das Nações Unidas, e não da Declaração Balfour. Os sionistas ficaram entusiasmados com a Declaração Balfour, mas o entusiasmo aumentou quando eles constataram que a Liga das Nações ordenava que a Grã-Bretanha administrasse a terra a fim de cumprir a declaração mencionada acima. 52 - Por que os britânicos emitiram a Declaração Balfour? O historiador Avi Shlaim, em “The Balfour Declaration and its Consequences” (2005) afirma que duas razões podem justificar a Declaração. Uma, que ela foi produzida pela boa ação do lobby sionista, e a outra, porque se tratava de um interesse imperial britânico. Alguns historiadores afirmam que a decisão do 101 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal governo britânico reflete o que James Gelvin chama de “antissemitismo patrício”, superestimação do poder judaico, tanto nos Estados Unidos quanto na Rússia. Essa lógica indicava que os judeus russos poderiam pressionar os seus próprios concidadãos para mantê-los na guerra, enquanto os americanos eram instados a entrar na Primeira Guerra Mundial (dois conselheiros próximos de Woodrow Wilson eram sionistas convictos). Além disso, os britânicos pretendiam evitar a previsível pressão francesa em relação a uma administração internacional, especialmente dos lugares sagrados. Lloyd George, em suas Memórias (de 1939), apresentou uma lista de nove fatores que motivaram a sua decisão, como primeiro-ministro, de emitir a declaração, incluindo a opinião de que uma presença judaica na Palestina reforçaria a posição da Grã-Bretanha no Canal de Suez e fortaleceria o caminho para o domínio imperial da Grã-Bretanha na Índia. Lloyd George disse à Comissão Real Palestina, no ano de 1937, que a declaração foi feita “por razões de propaganda. (...) Seria mais difícil para a Alemanha reduzir os seus compromissos militares e melhorar a sua posição econômica na frente oriental”. Outra razão apresentada foi a profunda convicção cristã, por parte das autoridades britânicas, da necessidade de acelerar a redenção judaica para promover o retorno messiânico, enquanto outros a apresentam como um agradecimento à contribuição incalculável de Chaim Weizmann (o presidente da Organização Sionista Mundial) ao poder militar britânico por meio de seus desenvolvimentos científicos. Sem dúvida, naquele momento, os ingleses se sentiam mais próximos dos sionistas europeus do que dos árabes do Oriente Médio. 102 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 53 - Qual o significado do Mandato Britânico da Palestina? A Conferência de San Remo (abril de 1920) ratificou e legalizou as divisões territoriais do antigo Império Otomano, 103 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal previamente acordadas entre a França e o Reino Unido no anterior Tratado de Versalhes (1919). Dessa forma, a Síria e o Líbano (terras que se separavam) ficavam sob mandato francês. O Iraque foi entregue ao novo rei Feissal (filho de Hussein de Meca) no Mandato Britânico da Mesopotâmia. A Palestina, que se desligava da Síria, ficou sob domínio britânico (o território incluía o que hoje é a região de Israel-Palestina-Jordânia). A Liga das Nações confirmou, no dia 24/7/1922, que o que foi estabelecido em San Remo era um poder na forma de um Mandato, significando que sua missão era ajudar os locais a realizarem sua autodeterminação. Na introdução do texto explicava-se claramente: “Considerando que as principais potências aliadas também concordaram que o Mandatário deve ser responsável pela implementação da declaração originalmente feita no dia 2/11/1917 pelo Governo de Sua Majestade Britânica e adotada por essas potências a favor do estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, é claramente entendido que nada deve ser feito no sentido de prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina, ou os direitos e o status político dos judeus em qualquer outro país”. Há quem diga que “todo o problema” foi a traição aos árabes em benefício dos judeus. Vejamos: Os impérios coloniais receberam cerca de 7.000.000 km2 no Oriente Próximo, dos quais prometeram aos judeus 120.000 km2, mas, em 1922, grande parte deles já lhes foi retirada, restando apenas 25.000 km2, aproximadamente. Ou seja, chefes tribais de língua árabe receberam 99,65% da terra e os judeus receberam 0,35% e, segundo esse argumento, teria sido por causa disso, (...) justamente por causa disso, que o conflito começou. Não parece sério. 104 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 54 - É verdade que os britânicos criaram um estado artificial chamado Jordânia? Os ingleses estavam em apuros. Eles conquistaram fisicamente Damasco-Síria, mas, devido ao Acordo Sykes- Picot (1916) e após a Conferênciade San Remo (1920), a Síria deveria ser entregue à França. Os britânicos haviam colocado como rei na Síria o filho de seu aliado Hussein Iben Ali de Meca (Feissal), e no dia 30/9/1918 chegaram a declarar um governo leal a Hussein, a quem chamaram de “rei dos árabes”. Como se não bastasse, os franceses argumentavam que tinham o direito de decidir quem deveria governar a Síria. Na verdade, o ministro das Relações Exteriores, Stephen Pichon, disse que a França não tinha nenhum acordo com o rei Hussein. Se o governo britânico aceitasse agora que Damasco, Homs, Hama e Alepo estavam incluídos na esfera direta de influência da França, os ingleses teriam de quebrar sua promessa em relação aos árabes, e eles não estavam dispostos a isso. A partir da Conferência de Paz de Versalhes (1919), a Grã- Bretanha não só obteve um mandato na Palestina (confirmado em San Remo), mas também tomou Mossul, além de Basra e Bagdá, criando o Reino do Iraque; recortou da Síria e a Alta Galileia para construir ali o oleoduto de Mossul a Haifa. Sob intensa pressão francesa, os britânicos propuseram compensar Hussein com um reino governado por seu filho Feissal I nas ricas terras do Iraque. O irmão mais novo de Feissal, Abed Allah (Abdallah), também queria “sua parte” ao assediar franceses e judeus na Alta Galileia, na fronteira com a Síria. Os britânicos queriam erradicar a influência islâmica dos turcos, colocando “o seu povo” nos seus vastos territórios. Abdallah recebeu 76,5% dos 120.000 km2 do Mandato Britânico, criando o Emirado Haxemita da Transjordânia (hoje o Reino Haxemita da Jordânia), um território que foi separado da Palestina em 1922, contradizendo 105 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal os compromissos internacionais assumidos na Conferência de San Remo. 55 - É verdade que os líderes sionistas e os árabes se reuniram para chegar a um acordo de convivência no Oriente Médio em 1919? O acordo entre o líder sionista Chaim Weizmann e Feissal, filho de Hussein de Meca, no Reino de Hejaz (destruído e anexado à Arábia Saudita para o benefício do clã Saud) foi assinado em Londres, em 3/1/1919, em uma tentativa de acomodar as relações entre os sionistas e alguns árabes ansiosos para criar o seu reino (como apareceu na correspondência McMahon-Hussein). Tal ideia acabou por desaparecer entre a primavera e o verão de 1920. As relações entre os sionistas e os árabes liderados por Hussein não eram necessariamente ruins no início do século XX. Em março de 1918, o jornal “Al-Kibla”, fiel a Hussein de Meca, publicou uma “declaração do desejo árabe de abençoar os seus irmãos judeus que estavam retornando à terra de Israel”. Weizmann e Feissal se encontraram pela primeira vez em Akaba-Jordânia em 4/6/1918 e continuaram a se encontrar por um ano. Em novembro de 1919, chegaram a um acordo que estabelecia: 1) As relações entre os árabes e os judeus na Palestina britânica serão colaborativas e se basearão na Declaração Balfour; 2) Eles pedem uma emigração generalizada e massiva de judeus para a Palestina, a fim de criar uma comunidade forte; 3) Promessa de liberdade de culto, dado que os muçulmanos se encarregarão de seus lugares sagrados; 4) Uma delegação organizada pelos judeus será enviada para apresentar projetos de oportunidades econômicas, liderados por árabes e sionistas. Por que o acordo não foi executado? Feissal condicionou o acordo a que os britânicos concretizassem o desejo árabe de independência, e se houvesse uma pequena mudança (como houve, ao se remover Feissal de 106 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal seu governo na Síria depois de apenas 4 meses de reinado para passá-lo ao Iraque), então o acordo seria cancelado. Tampouco os judeus estavam 100% entusiasmados, pois não lhes era reconhecido um futuro Estado Judeu independente. 56 - Quando começam os confrontos físicos entre árabes e judeus? “À medida que os árabes foram-se dando conta de que os judeus que chegavam à Palestina falavam de maneira aberta e clara sobre a ideia de criar um Estado só para eles, a oposição começou, e se iniciaram os confrontos”, escreve o jornalista argentino Pedro Brieger em seu livro “100 perguntas e respostas”. No entanto, os judeus já haviam declarado o seu desejo de formar um estado 30 anos antes do início da violência. Além disso, é incorreto dizer que os judeus queriam criar um estado somente para si mesmos. Os primeiros atos de violência armada ocorreram nos anos 1920 e 1921, e a incitação foi de ordem mais religiosa do que nacional. O fracasso do plano da Grande Síria, o desenvolvimento de ideias nacionalistas após a Revolução dos Jovens Turcos (em 1908) e o contato traumático com o nacionalismo europeu de britânicos e sionistas criaram a atmosfera para o aparecimento do principal incitador. Um líder local, o mufti Hajj Amin Al-Husseini (do clã Hussein), que competia com o clã Nashashibi, era uma figura que havia ajudado militarmente os otomanos contra os britânicos, não recebeu nenhuma promessa britânica e, desde o início, apoiava a ideia nacional da Grande Síria (não um estado árabe- palestino). Hajj Amin Al-Husseini se opôs à intervenção cristã britânica na região e, evidentemente, se opôs ao sionismo. O padrão de incitação e violência religiosa foi revelado com total vigor nos massacres árabes contra os judeus (ao melhor 107 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal estilo pogrom) no ano de 1929. O principal movimento armado foi a grande revolta de 1936-1939, liderada novamente pelo mufti de Jerusalém, na época aliado de Hitler, e se concentrou, sobretudo, nos ingleses. A situação no início do século XXI mostra que, mais de 100 anos depois, a religião ainda é uma alavanca no momento de promover a violência. 57 - É verdade que os judeus sionistas desejavam criar um estado “somente para eles”, com base no que disse Yosef Weitz? Uma das citações recorrentes para desacreditar o sionismo é a seguinte: “Em 1940, o diretor da Agência Judaica, Yosef Weitz, explicou muito bem: Deve ficar claro para nós que não há lugar para os dois povos no país (...). Com os árabes dentro do país não conseguiremos atingir o nosso objetivo de nos tornarmos um povo independente neste pequeno território. A única solução é uma Eretz Israel (terra de Israel) sem árabes (...). E não há outro recurso senão transferir os árabes para os países vizinhos. Eles devem ser transferidos em sua totalidade, sem que reste uma única aldeia ou tribo, e essa transferência deve ser feita na direção do Iraque, da Síria e até mesmo da Transjordânia” (o mesmo que diz o livro de Brieger). Com esta citação, o indivíduo pretende sustentar duas falsidades: 1) Que a violência começou com esse “exclusivismo judaico” 2) Que esta “é a prova” de que houve a posterior expulsão dos palestinos em 1948. Esclareçamos o assunto: Yosef Weitz não era o diretor da Agência Judaica (o braço político), mas, sim, do KKL (encarregado da compra e arborização de terras), uma posição bem menor na hierarquia sionista. Ou seja, a pessoa não tinha o poder atribuído a ela. Yosef Weitz fazia parte da Comissão de Intercâmbio de Populações, formada pela Agência Judaica depois da Comissão Peel. Lá, foram os britânicos que propuseram uma “transferência” 108 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de populações. Yosef Weitz apoiou esta “transferência”, mas somente se ela tivesse a aprovação dos envolvidos. Ele acreditava que uma transferência forçada não era real nem viável. Yosef Weitz tentou convencer a liderança sionista a preparar um plano de “transferência”, e só em 1943 o contador da Agência Judaica, Eliezer Kaplan, decidiu dedicar fundos para estudar o assunto, sem chegar a nada operativo. A liderança sionista não aprovou nem agiu de acordo com o que disse Weitz. 58 - O que Yosef Weitz disserealmente? Eis a declaração, na íntegra, da proposta de transferência do diretor do KKL, Yosef Weitz: “Depois da guerra, a pergunta sobre Eretz Israel e a questão judaica não será mais um tópico que gire somente em torno do ‘desenvolvimento’ (da terra). Deve ficar claro para nós que não há lugar para os dois povos no país. Nenhum sentido de ‘desenvolvimento’ nos levará ao nosso objetivo de sermos independentes neste pequeno território. Se os árabes deixarem a terra, ela será nossa, com toda a sua grandeza e fartura, e se os árabes permanecerem, a terra será estreita e pequena (...)”. Essa transferência de população não deve ser forçada, mas acertada entre as partes envolvidas. “E quando a guerra terminar, com o triunfo dos ingleses, e quando os povos se puserem a julgar, o nosso povo deve apresentar os seus argumentos, e a única solução é que uma terra de Israel, pelo menos a do lado ocidental, fique sem árabes Não há lugar para concessões aqui! O trabalho sionista que fizemos até hoje foi como um treinamento e uma preparação para a criação do estado hebreu em Erets Israel, algo bom e apropriado naquele momento, e poderíamos ficar satisfeitos em ‘comprar a terra’. Mas não há outra maneira senão transferir os árabes para os países vizinhos, transferir a todos, exceto, talvez, os de Belém, Nazaré e da cidade velha de Jerusalém. Não deve restar uma única aldeia, uma única tribo. E a transferência deve ser para o Iraque, a Síria e até para 109 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal a Transjordânia. Para esse propósito, fundos e dinheiro serão encontrados. Somente com essa transferência o país conseguirá absorver milhões de irmãos nossos e a questão judaica terá fim, sendo solucionada. Não há outra saída”. Weitz não conseguiu convencer a liderança sionista. Em Israel atualmente, 20% da população é árabe. 59 - É verdade que, ao longo da história, judeus e muçulmanos sempre conviveram em harmonia, e somente “com o sionismo” esse idílio se desfez? Os judeus, para o islamismo, não configuram um povo e, embora sejam uma “religião”, essa religião é falsa e deve ser subjugada. Hoje em dia, muitos muçulmanos não querem executar tal premissa, outros sim. Na base teológica do islã, as outras duas religiões anteriores (judaísmo e cristianismo) são acusadas de “distorcer” os ensinamentos oferecidos pelo “Furkan”, antes da chegada da única verdade (o islã). Do ponto de vista teológico islâmico, judeus e cristãos podem optar por três caminhos: conversão, morte ou submissão ao islã sob regras claras (regras de Omar) que incluem o pagamento do imposto per capita (“jizia”). Se a relação teológica do islã com o judaísmo é clara e a religião é primordial, então a origem do conflito é muito mais ampla e profunda do que o que é exposto pelos materialistas. Como é que uma religião submissa e falsa (o judaísmo) se atreve a exigir um estado independente? Durante séculos, desde o século IX até o século XI, 90% dos judeus viviam sob o islamismo em um status de “povo subjugado” (Dhimmi). É verdade que a agressividade cristã europeia em relação aos judeus foi mais frequente do que a muçulmana. Isso não significa que os judeus nas sociedades islâmicas viviam no paraíso. No último século, por exemplo, os judeus foram expulsos e assassinados no Iraque, na Síria ou no norte da África. 110 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Desde pouco antes da Segunda Guerra Mundial, o mundo muçulmano adotou várias premissas da ideologia nazista, verificadas nos meios de comunicação árabes e islâmicos modernos. Desde a década de 1930, o mufti palestino Hajj Amin Al-Husseini se aliou a Adolf Hitler, propôs-lhe matar judeus em crematórios a ser construído em Emek Dotan (em Israel), executou um plano malsucedido de contaminar as águas de Tel Aviv e dirigiu uma rádio nazista em árabe e persa (Rádio Zessen). 60 - Os árabes e os judeus aceitaram que os britânicos ocupassem a Palestina? O Mandato Britânico da Palestina, concedido pela Liga das Nações, não era um modelo “clássico” do colonialismo. A Liga das Nações disse que os britânicos deviam ajudar as populações locais a se desenvolver até alcançar a independência, com base na “Declaração Balfour”. Ou seja, os britânicos iniciaram seu mandato favorecendo os judeus, pois assim ordenaram as autoridades que lhes concederam o poder de governar essas terras. A política inicial do Mandato Britânico foi, efetivamente, de abertura à imigração judaica, mas não produziu uma chegada em massa. Quando o fluxo migratório aumentou, aumentaram também as manifestações de descontentamento dos árabes, e os britânicos passaram a uma política restritiva, que se tornaria mais dura justamente quando mais se necessitava permitir a entrada de imigrantes pela deterioração da situação na Europa. A violência árabe fez com que as autoridades britânicas se retirassem gradualmente do que se comprometeram a cumprir perante a Liga das Nações. A relação demográfica indica que a população de judeus chegava a 11,14% da população no ano de 1922, a 16,90% no ano de 1931, a 27,91% no ano de 1939 e a 32,96% no ano de 1945. Se não houve ainda mais judeus é justamente porque os 111 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal britânicos não liberaram certificados de imigração, limitando a sua chegada. No ano de 1922, os árabes residentes na região receberam 76,5% do território do Mandato Britânico da Palestina (que era de 120.000 km2) para formar outro reino árabe, a Jordânia. Isso quer dizer que a Palestina já fora dividida pelos britânicos em benefício total dos árabes. O conflito palestino-israelense gira em torno dos restantes 23,5% do território de 120.000 km2, dos quais as Nações Unidas decidiram conceder aos judeus pouco mais de 10%. Os árabes-palestinos não aceitaram nenhuma concessão e declararam guerra contra a Grã-Bretanha no ano de 1936. 61 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1920? O primeiro grande pogrom de árabes contra judeus na Palestina ocorreu nos massacres do ano de 1920. Primeiro eles atacaram no norte, com 8 judeus mortos em um ataque árabe à colônia de Tel-Chai . Na Alta Galileia, os árabes lutavam contra os franceses por terem afastado o rei pró-britânico Feissal (que acabou finalmente se coroando no Iraque). No caminho, os árabes atacaram os judeus em Metula, Ayelet HaShachar, Degania e Tel-Chai. Um mês depois, começam os assassinatos em Jerusalém e em seus arredores. No dia 4 de abril de 1920, durante as festividades de Nabi Mussa, Hajj Amin Al-Husseini e Aref el- Aref fizeram um sermão que fez com que as massas árabes corressem para a Cidade Velha de Jerusalém gritando “Itbah al-Yehud” (massacremos os judeus), junto com “A-Daula Maana” (o governo – britânico – está conosco). Assim, os judeus do bairro judeu na Cidade Velha foram atacados e o número de mortos foi de 7 judeus e 4 árabes, enquanto 250 judeus ficaram feridos. De acordo com relatos coletados antes dos massacres árabes contra os judeus no ano 112 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de 1920, o público árabe gritava pelas ruas de Jerusalém: “A Palestina é a nossa terra, os judeus são os nossos cães!” Policiais árabes se uniram em aplausos, e assim a violência começou. A Yeshivá Torat Chaim foi atacada e os rolos da Torá foram danificados e jogados no chão, enquanto o prédio foi queimado. Em apenas três horas, 160 judeus ficaram feridos. Ao mesmo tempo, a administração militar britânica deu uma resposta irregular e atrasada de contenção e prevenção desses distúrbios, ataques que duraram quatro dias. Ironicamente, as autoridades britânicas prenderam membros judeus da Haganá (Defesa) e Zeev Jabotinsky, um de seus fundadores, que havia tentado defender os atacados, sentenciando-o a 15 anos de prisão (ele recebeu uma anistia depois de alguns meses).62 - Como árabes e judeus reagiram ante os massacres de 1920? No ano de 1920, os líderes judeus pediram aos britânicos que armassem e treinassem defensores judeus para compensar a falta de tropas britânicas adequadas. Dezenas de relatórios afirmam que o governador militar britânico, Ronald Storrs, encorajou os árabes e impediu que os judeus se defendessem. O pedido de voluntariado foi rejeitado, e Zeev Jabotinsky e Pinchas Rutenberg treinaram voluntários judeus para a autodefesa da comunidade. Os judeus informaram os britânicos sobre esses esforços. Grande parte dos voluntários eram membros do clube esportivo Maccabi e alguns deles eram veteranos da Legião Judaica, que havia lutado ao lado da Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial. No final de março, cerca de 600 pessoas haviam realizado exercícios militares em Jerusalém. Após os massacres, os judeus chegaram à conclusão de que os britânicos não estavam dispostos a defender os assentamentos judaicos dos ataques árabes, de modo que eles decidiram estabelecer unidades de autodefesa chamadas de “Haganá” (Defesa, em hebraico). 113 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Em paralelo, xeques árabes de oitenta e dois povoados ao redor da cidade de Jerusalém e Yafo, que afirmavam representar 70% da população, emitiram um documento de protesto em relação às manifestações contra os judeus. No entanto, outros porta-vozes árabes disseram que tal condenação foi obtida graças a subornos. Pode ser que, de fato, a maioria dos árabes estivesse realmente contra o massacre de seus concidadãos judeus, mas, também aqui, os radicais eram os que mandavam e estabeleciam a pauta. No lado palestino, os tumultos fizeram com que a liderança árabe na Palestina começasse a se ver menos como parte do sul da Síria e mais como uma comunidade árabe única e separada. O conceito de povo palestino ainda não existia. No contexto dessa mudança, onde os árabes permaneciam sob o controle direto do Mandato Britânico, o papel radical da liderança nascente passou a ser fundamental. 63 - Como os britânicos reagiram ante os massacres de 1920? O novo governo civil do mandato britânico, liderado pelo alto-comissário judeu Herbert Samuel, perdoou o principal instigador do massacre, Hajj Amin Al-Husseini (em março de 1921) e, mais tarde, o nomeou “mufti de Jerusalém”. Quando o Conselho Supremo Muçulmano foi formado no ano seguinte, Husseini exigiu e recebeu o título de grão-mufti. Se os britânicos tivessem cortado a violência árabe pela raiz em vez de acreditar que era capaz de amenizá-la por meio da adulação, talvez hoje não houvesse conflito. Durante os massacres, o governo militar britânico da Palestina foi criticado duramente pela retirada de suas tropas do interior de Jerusalém e por agir lentamente para recuperar o controle. Os soldados britânicos descobriram que a maioria das armas ilícitas era escondida entre as roupas das mulheres árabes. 114 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Como resultado dos distúrbios, a confiança entre os britânicos (que protegiam o instigador mufti de Jerusalém), os judeus e os árabes acabou por ruir. A Comissão Palin, um grupo investigativo britânico que chegou à região para examinar as razões dos massacres em maio de 1920, assegurou que a violência foi provocada, segundo Palin, (a) pela decepção árabe ante a quebra das promessas de independência, que eles alegaram terem sido feitas durante a Primeira Guerra Mundial, (b) pela Declaração Balfour (1917) que, de acordo com os árabes, implicava uma negação do direito à livre determinação árabe, (c) pela propaganda pan-árabe do emir Feissal, como rei da Síria reunificada, e pela impaciência dos judeus, que queriam alcançar logo os seus objetivos. Como resultado dos massacres árabes contra os judeus em 1920, a imigração judaica foi temporariamente interrompida pelos britânicos. Os distúrbios precederam a Conferência de San Remo, que seria realizada entre os dias 19 e 26 de abril de 1920, onde seria estabelecido o Mandato Britânico da Palestina, que deveria executar e cumprir a Declaração Balfour (1917). 64 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1921? Os distúrbios de 1921 foram uma série de ataques contra judeus ocorridos entre os dias 1 e 7 de maio de 1921. No dia 1º de maio de 1921, o “Partido Comunista Judeu” realizou um desfile em Yafo para comemorar o Dia do Trabalho. Uma noite antes, eles haviam distribuído folhetos em árabe e iídiche que exigiam a derrubada da administração britânica. Naquela manhã, um líder da polícia de Yafo, o árabe Toufiq Bey al-Said, visitou a sede do partido para pedir aos 60 membros presentes que não marchassem. Outro desfile foi organizado em paralelo em Tel Aviv pelo rival socialista “Unidade Trabalhadora”, com autorização oficial. Quando as duas manifestações se encontraram, houve briga, e a força policial do Mandato Britânico perseguiu os 115 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal comunistas de Yafo. Ao saber dos confrontos, os árabes de Yafo aproveitaram para matar judeus. Os ataques se espalharam por Rechovot, Kfar Saba, Petach Tikva e Hadera. Dezenas de testemunhas britânicas, árabes e judias relataram que muitos árabes, portando facas, espadas e pistolas, invadiram edifícios judeus e mataram os seus habitantes. Eles destruíram casas e lojas de judeus, espancando os judeus em suas casas e, em alguns casos, abrindo o crânio de suas vítimas. A violência árabe contra os judeus no ano de 1921 se estendeu a Abu Kabir. A família judia Itzker, proprietária de uma fazenda de gado leiteiro nos arredores do bairro, alugava quartos. Na época dos tumultos, Yosef Chaim Brenner, um dos pioneiros da literatura hebraica moderna, estava morando no local. Em 2 de maio de 1921, apesar das advertências, Itzker e Brenner se recusaram a deixar a fazenda e foram mortos. O motim resultou na morte de 45 judeus (e outros 5 assassinados em Jerusalém) e 48 árabes (que entraram em confronto com as tropas britânicas). 146 judeus e 73 árabes ficaram feridos. Tumbas e monumento aos assassinados em 1921, cemitério Trumpeldor, de Tel Aviv 116 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 65 - Como os britânicos reagiram ante os massacres de 1921? Para acalmar os provocadores árabes, o alto-comissário britânico para a Palestina, Herbert Samuel, declarou estado de emergência, impôs censura à imprensa e pediu reforços do Egito. Samuel se reuniu com Musa Al-Husseini, que havia sido demitido do cargo de prefeito de Jerusalém por ter participado dos massacres de 1920, e ele solicitou o fim da imigração judaica. Samuel assentiu, e dois ou três pequenos barcos que chegaram com 300 judeus foram impedidos de desembarcar e obrigados a retornar a Istambul. Em paralelo, Hajj Amin Al-Husseini, sobrinho do outro, foi nomeado grande mufti de Jerusalém. Em seu discurso por ocasião do aniversário real no mês de junho de 1921, o alto-comissário britânico Herbert Samuel enfatizou o compromisso da Grã-Bretanha com a segunda parte da Declaração Balfour do ano de 1917 (não prejudicar os direitos de outros habitantes locais) e afirmou que a imigração judaica só seria permitida se a economia pudesse absorver os novos cidadãos. Desse modo, a imigração judaica foi suspensa por um tempo. Aqueles que ouviram o discurso de Herbert Samuel tiveram a impressão de que ele estava tentando apaziguar os árabes após os massacres de 1921, e alguns líderes judeus o boicotaram por um tempo. Após os massacres de 1921, o alto-comissário britânico Herbert Samuel estabeleceu uma comissão de inquérito, chefiada pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça da Palestina, Sir Thomas Haycraft. O seu relatório confirmou a participação da polícia nas revoltas árabes e considerou as medidas adotadas pelas autoridades como medidas adequadas. O relatório enfureceutanto os judeus quanto os árabes: os árabes foram culpados, mas, para amenizar o clima, o relatório dizia: “A causa fundamental da violência é que os sionistas não estavam fazendo o suficiente para mitigar os temores dos árabes”. Além disso, o relatório também culpava o aumento da imigração judaica. 117 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 66 - O que é o Livro Branco britânico de 1922? O Livro Branco de Churchill (do dia 3 de junho de 1922) é o primeiro de uma série de três documentos para limitar a compra de terras e a imigração de judeus. Foi uma resposta “conciliatória” aos massacres de 1921 (os britânicos acreditavam que ceder à violência árabe apaziguaria a raiva). O Livro Branco britânico concluiu que a violência foi causada pelo ressentimento em relação aos judeus sionistas e por uma percepção de favoritismo em relação a eles por parte dos britânicos, assim como pelos temores árabes de subjugação. Embora mantivesse o compromisso da Grã- Bretanha com a Declaração Balfour e a sua promessa de um Lar Nacional Judaico na Palestina, “garantido internacionalmente” e “reconhecido como uma antiga conexão histórica” (por direito e não por graça), o documento enfatizava que o estabelecimento de um Lar Nacional Judaico não imporia essa nacionalidade aos habitantes árabes da Palestina, e “o estado de todos os cidadãos da Palestina diante dos olhos da lei será palestino”. Para reduzir as tensões entre os árabes e os judeus na Palestina, o Livro pedia a limitação da imigração judaica de acordo com “a capacidade econômica do país de absorver os recém-chegados”. Dentro do mesmo processo, os britânicos decidiram separar os territórios a leste do rio para entregar a Abdallah, filho de Hussein de Meca, o chamado Emirado Árabe da Transjordânia (o atual Reino Haxemita da Jordânia, segundo o artigo 25 do Mandato Revisado). Trata-se de uma violação ou contravenção da carta de cessão do Mandato Britânico feita pela Liga das Nações, apenas dois anos depois dos compromissos acordados na Conferência de San Remo (no ano de 1920). As autoridades da Organização Sionista Mundial, liderada por seu presidente Chaim Weizmann, decidiram aprovar o documento. Os árabes o rejeitaram, 118 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal ordenando o retorno de sua comitiva, que acabava de chegar a Londres. 67 - O que aconteceu nos massacres árabes de 1929? Em 1928, os muçulmanos procuraram obter dos britânicos direitos exclusivos sobre o Muro das Lamentações, incluindo o pequeno espaço usado pelos judeus para rezar desde os dias mamelucos. Enquanto isso, tijolos da “reconstrução da Mesquita Al-Aqsa” caíram “acidentalmente” sobre os fiéis judeus. Os muezins aumentavam o volume do chamado à oração para atrapalhar as rezas judaicas. O mufti de Jerusalém, Amin Al- Husseini ordenou (agosto de 1929) que se abrisse o extremo sul do beco que atravessa o Muro. As mulas passavam por aquela rua estreita, muitas vezes deixando excremento e aborrecendo os judeus que iam rezar no lugar sagrado. Isso causou a revolta dos judeus frente aos britânicos, mas estes permaneceram indiferentes. A comunidade judaica pedia que o Muro permanecesse nas mãos dos judeus (o Monte do Templo, o lugar mais sagrado do judaísmo, ainda era dominado pelos muçulmanos). Em 14 de agosto de 1929, após ataques aos judeus que rezavam no Muro das Lamentações, 6.000 judeus protestaram em Tel Aviv, gritando: “O Muro é nosso”. No dia seguinte, dia de jejum para os judeus (Yom Kipur), 300 jovens judeus içaram a bandeira e cantaram o Hatikva (hino do movimento sionista) em frente ao Muro. Um dia depois, 16 de agosto de 1929, uma multidão organizada de 2.000 muçulmanos desceu ao Muro das Lamentações, destruindo objetos litúrgicos e queimando livros de orações e bilhetes de súplica. Durante aquela semana de tumultos, pelo menos 133 judeus foram mortos e 116 árabes perderam a vida. Outros 339 ficaram feridos. Como é o caso hoje em dia, os muçulmanos incitaram as massas acusando os judeus de quererem roubar 119 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal locais sagrados muçulmanos. De acordo com eles, os judeus haviam incendiado a mesquita. Os principais instigadores na ocasião foram o mufti de Jerusalém, Hajj Amin Al-Husseini (mais tarde um notável aliado nazista) e Aref al-Aref. 68 - Existem testemunhos dos massacres árabes de 1929? Baruch Katinka, membro da Haganá, contou sobre o massacre: “Chegamos a Hebron depois da meia-noite e entramos na casa de Eliezer Dan Slonim, gerente do banco zonal e chefe da comunidade judaica. Nós o acordamos e dissemos a ele que tínhamos trazido armas e pessoas para protegê-los. Ele começou a gritar e disse que, se quisesse armas, pediria, que não havia necessidade delas, porque tinha um entendimento com os árabes, que eles mereciam crédito, que estavam sob a sua influência e que não iria prejudicá-los. No dia seguinte, aconteceu o massacre”. Após o massacre de 1929, o tenente britânico Raymond Cafferata, chefe da polícia de Hebron na época, testemunhou: “Ao ouvir gritos, entrei e vi um árabe no momento de cortar a cabeça de uma criança com um punhal. Ele já havia batido na criança e, quando me viu, se virou e correu na minha direção, mas se equivocou, porque veio praticamente na boca do meu rifle. Atirei baixo, atingindo-o na virilha. Atrás dele havia uma mulher judia coberta de sangue, com um homem que admitiu ser um policial chamado Issa, comissário de Yafo. Ele estava de pé sobre a mulher com uma adaga na mão. Então eu atirei nele”. Em Tzfat (Safed), como em Hebron, os judeus foram mortos, com cerca de vinte vítimas, incluindo mulheres, crianças e idosos. O massacre estendeu-se durante o dia 29 de agosto de 1929, até que a autoridade britânica mandatária conseguiu controlar os assassinos árabes. Além disso, os árabes incendiaram e saquearam o bairro judeu. Esse massacre foi 120 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal parte dos Massacres de 1929, cujas consequências históricas foram profundas, sendo atribuídas ao desaparecimento de comunidades judaicas milenares instaladas na área (a cidade de Hebron só veio a ser reabitada em 1968). Durante essa semana, pelo menos 133 judeus foram mortos por árabes. 69 - É verdade que em 1929 a comunidade judaica de Hebron foi destruída por causa de um massacre? Hebron, cidade localizada a 30 quilômetros ao sul de Jerusalém, é o segundo local mais sagrado e uma das quatro cidades sagradas do judaísmo. Ali se encontram enterrados os três Patriarcas de Israel e três das quatro Matriarcas. A comunidade judaica sefaradi havia vivido de forma contínua em Hebron por mais de 800 anos sob várias ocupações, enquanto a comunidade ashkenazi havia regressado um século antes. Ao longo da década de 1920, na cidade de Hebron, os árabes perseguiam diariamente a comunidade judaica: insultos nas ruas, espancamentos, ataques com pedras através das janelas de suas casas e, esporadicamente, distúrbios na Caverna dos Patriarcas. Durante esse período, a comunidade judaica apresentou várias queixas à polícia britânica, alegando que não estava sendo feito o suficiente para protegê-los. Os judeus atribuíram grande parte dos problemas às atividades dos nacionalistas árabes da Associação Muçulmana Cristã, que espalhavam propaganda racista e canções de incitamento religioso antijudaico. Depois de um primeiro assassinato na cidade de Hebron (no ano de 1929), 40 judeus se reuniram na casa de Eliezer Dan Slonim (chefe da comunidade), acreditando que, devido à sua influência, poderiam ser salvos. No sábado, os manifestantes árabes se aproximaram do rabino e lhe ofereceram um acordo: “Entreguem os judeus ashkenazim e vocês, sefaradim, serão salvos”. O rabino Eliezer Dan Slonim se recusou a entregar os ashkenazim e foi morto na hora, junto com a suaesposa e o 121 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal seu filho de 4 anos de idade. No fim, 12 judeus sefaradim e 55 judeus ashkenazim foram mortos. O massacre de 1929 liquidou a comunidade judaica de Hebron. Os sobreviventes se viram obrigados a fugir, e os seus bens foram tomados pelos árabes até depois da Guerra dos Seis Dias (no ano de 1967). Depois da guerra, alguns judeus retornaram à cidade para se estabelecerem lá. 70 - Qual foi a reação dos judeus ante os massacres de 1929? Os ataques contra os judeus não ocorreram apenas em Jerusalém e Hebron. Na sexta-feira, dia 23 de agosto de 1929, enfurecidos com os falsos rumores de que os judeus estavam prestes a atacar a mesquita de Al-Aqsa, os árabes começaram a atacar os judeus na Cidade Velha de Jerusalém. Outros ataques sanguinários ocorreram em Safed, Motza, Kfar Uria e Tel Aviv. No dia 20 de agosto de 1929, depois de um primeiro ataque árabe contra os judeus em Jerusalém, os líderes da Haganá propuseram enviar forças defensivas aos quase 800 judeus de Hebron. Os líderes da comunidade judaica rejeitaram essas ofertas, insistindo que confiavam nos A’yan (notáveis) para protegê-los dos setores violentos entre os árabes-palestinos. Entre os defensores de Jerusalém, destacando o oficial Avraham Tehomi (também conhecido como “Gideon”), começou a se desenvolver a convicção de que os ingleses não protegiam os judeus adequadamente e que a política da Haganá, a Havlagá (Contenção), não era a resposta adequada para essas agressões. Da mesma forma, os críticos reclamavam da falta de armas. No dia 4 de outubro de 1931, os comandantes e diretores de uma unidade paramilitar judaica anunciaram sua recusa em devolver as armas que a Haganá havia requisitado antes do 122 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal feriado de Nabi Mussa. Tehomi, junto com outros membros fundadores e comandantes da Haganá, além de membros do Partido Trabalhista Juvenil, formou a Haganá B, que com o tempo cooptou muitos voluntários do movimento nacionalista jovem Betar e mudou seu nome para Irgun Tzvai Leumi ou Etzel (“Organização Militar Nacional”), a fim de destacar seu caráter ativista, em contraste com a Haganá. Os massacres de 1929 provocaram uma nova decepção quanto à possibilidade de conviver com a liderança árabe-palestina. Na prática, essa decepção se traduziu na formação de uma força clandestina que agisse de forma preventiva para desarticular atentados. 71 - O que os britânicos decidiram diante da nova onda de violência árabe de 1929? Assim como após os massacres anteriores (1920-1921), os britânicos formaram uma comissão de inquérito, que concluiu que a melhor maneira de acalmar a agressão árabe era desentendendo-se um pouco mais com a Declaração Balfour. O Livro Branco de Passfield, emitido pelo secretário colonial, Lorde Sidney Webb Passfield, no dia 20 de outubro de 1930, foi uma declaração formal sobre a política britânica na Palestina, previamente estabelecida pelo Livro Branco de Churchill (em 1922). A nova declaração foi o resultado da investigação da Comissão Hope-Simpson sobre as causas dos massacres de 1929. O Livro indicava que, “na ausência de terra livre”, uma terra só poderia ser vendida aos judeus se isso não prejudicasse os árabes. Sobre a imigração judaica e o seu emprego, a permissão limitava-se à capacidade de absorvê-los, desde que as condições de desemprego no setor árabe melhorassem. Os britânicos concordavam que haviam feito promessas contraditórias para os árabes, de modo que sugeriam formar um “Conselho Legislativo” representativo de ambos os lados. 123 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Como resposta ao documento britânico, o principal defensor da aliança sionista-inglesa, o presidente da Organização Sionista Mundial, Chaim Weizmann, renunciou ao posto. Organizações sionistas de todo o mundo montaram uma vigorosa campanha de oposição. Na Grã-Bretanha, o primeiro- ministro Ramsay MacDonald foi forçado a explicar o Livro Branco perante a Câmara dos Comuns britânica, e, em uma carta a Chaim Weizmann, no ano de 1931 (Carta MacDonald), pretendia aplacar os sionistas, embora, em paralelo, eram os árabes agora que rotulavam a carta como “letra negra”. De qualquer forma, o primeiro-ministro inglês disse no parlamento, no dia 11 de fevereiro de 1931, que ele “não estava disposto a dar à carta o mesmo status que o documento dominante”. Ou seja, ele confirmava que o Livro Branco de Passfield era mais importante que a sua própria carta de explicação. 50.000 judeus de Varsóvia protestam contra o Livro Branco de 1930 (Wikipédia) 124 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 72 - Que papel Hajj Amin Al-Husseini desempenhou na gestação do conflito? Ele é um dos principais instigadores do conflito palestino- israelense. Se tivéssemos que posicioná-lo politicamente nos dias de hoje, com o seu antissemitismo convicto, com o incitamento religioso que desencadeou os pogroms (em 1920, 1921, 1929 e no período entre os anos 1936 e 1939), o colocaríamos como um dos principais expoentes do terrorismo islâmico palestino. Nesse sentido, o mufti de Jerusalém foi um pioneiro. O seu nome era Muhammad Amin Al-Husseini e ele pertencia ao exaltado clã Husseini. Nascido em Jerusalém no ano de 1895 ou 1893, em 1913 ele fez a sua peregrinação a Meca, daí seu tratamento honorário do Hajj. Amin Al-Husseini estudou a lei religiosa muçulmana na Universidade do Cairo e mais tarde ingressou na Escola de Administração de Istambul. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi soldado e imã, encarregado das necessidades espirituais das tropas do exército otomano, lutando contra as forças britânicas. No entanto, em 1917, ele retornou a Jerusalém e mudou de lado, juntando- se ao exército britânico quando ficou claro que eles seriam os vencedores da guerra. Amin Al-Husseini foi um dos instigadores dos massacres judeus em 1920. No entanto, o governo civil britânico, liderado pelo fraco Herbert Samuel, e aconselhado por oficiais do rei que se opunham aos judeus, perdoou-o em março de 1921 e nomeou-o “mufti de Jerusalém”. Ou seja, ele lutou contra os britânicos na Primeira Guerra Mundial e depois instigou o assassinato de judeus, mas os britânicos o perdoaram e o nomearam interlocutor legítimo. Uma loucura! Amin Al-Husseini tinha como meta erradicar todos os judeus da Palestina. Para isso, ele se valeu de uma retórica religiosa implacável, um argumento que o ajudou a arrecadar fundos no mundo todo para reconstruir a Mesquita Al-Aqsa (em Jerusalém) no ano de 1928 e, é claro, para instigar a violência 125 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal contra os judeus. 73 - É verdade que o palestino Hajj Amin Al- Husseini, mufti de Jerusalém, foi aliado de Hitler? Quando os ingleses se cansaram do mufti (1936-1939), foram procurá-lo no Monte do Templo, mas ele já havia fugido, vestido de mulher, para o Iraque. Lá, ele apoiou o golpe pró- nazista de 1941, liderado por Rashid Ali Al-Gailani. Quando o golpe fracassou, ele fugiu novamente, com um passaporte italiano, para a Roma de Mussolini. Durante a Segunda Guerra Mundial Al-Husseini já estava estabelecido em Berlim, como aliado do Terceiro Reich. Em 1941, após a bem-sucedida invasão da Iugoslávia, Al-Husseini promoveu o recrutamento de muçulmanos bósnios e albaneses para a Waffen SS, ajudando a formar a 13ª Divisão de Montanha da Waffen SS Handschar. Esta divisão tornou-se famosa pelos massacres particularmente atrozes cometidos contra os militantes iugoslavos. Al-Husseini conseguiu reunir-se com Adolf Hitler (em novembro de 1941) e, de acordo com o professor Bernard Lewis, ali teria tentado convencê-lo a ampliar o extermínio dos judeus nos territórios da França de Vichy e da Itália fascista, e também propôsque a Luftwaffe bombardeasse Tel Aviv. Uma vez que os nazistas conquistassem a Palestina britânica, Amin Al-Husseini queria construir câmaras de gás em Emek Dotan para eliminar os últimos judeus do Mandato Britânico. Durante esses anos, ele fundou uma rádio nazista em árabe e persa, a Rádio Zessen, de particular influência sobre o antissemitismo de cunho nazista que os islamistas professam hoje em dia. No ano de 1944, ele ativou um comando especial da Waffen SS (Operação ATLAS) da inteligência alemã e do próprio mufti, que na noite de 5 de novembro de 1944 enviou um comando de paraquedistas composto pelos palestinos Hassan Salameh 126 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal e Abdul Latif, e três templários alemães que conheciam Israel. Sua missão era envenenar os depósitos de água e assassinar 250.000 judeus de Tel Aviv. O plano foi frustrado pela astúcia de um policial árabe da região de Jericó. 74 - O que aconteceu com o mufti Al-Husseini após a Segunda Guerra Mundial e sua aliança com os nazistas? Amin Al-Husseini foi considerado por alguns historiadores judeus, pelo menos do ponto de vista ideológico, como um dos “arquitetos do Holocausto”. Segundo a escritora Pamela Geller, durante a sua estada na Europa, ele teria defendido que o regime nazista procedesse ao genocídio dos judeus, matando o máximo possível deles, e até teria solicitado aos hierarcas nazistas que assassinassem 400.000 judeus que os alemães planejavam deportar para a Palestina. Após a Segunda Guerra Mundial, ele tentou fugir para a Suíça, mas foi barrado na fronteira e obrigado a entrar na França, onde permaneceu em prisão domiciliar por um ano. Hajj Amin Al- Husseini contornou a vigilância francesa em 1946 e chegou ao Cairo, onde pediu asilo político e assumiu o comando do recém- criado Alto Comitê Árabe. O movimento sionista solicitou ao Reino Unido (naqueles anos o Egito era protetorado britânico) a sua extradição, para julgá-lo como criminoso de guerra. No entanto, os britânicos não aceitaram o pedido, uma vez que Al-Husseini gozava de grande prestígio no mundo árabe. A Iugoslávia, que havia sofrido os seus massacres, também tentou, mas a Liga Árabe e o governo egípcio mais uma vez negaram o pedido de extradição. Já no Egito, Al-Husseini lutou para que os países árabes lançassem ataques maciços contra o recém-criado Estado de Israel, em 1948, e se opôs tenazmente a qualquer armistício ou negociação. A sua popularidade foi gradualmente perdendo a importância, e ele se mudou para o Líbano, onde morreu. 127 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Al-Husseini faleceu em Beirute em 1974. Não pôde ser enterrado em Jerusalém, como era o seu desejo, devido à recusa do governo israelense, que governava toda a cidade após seu triunfo na Guerra dos Seis Dias, de 1967. O terrorismo palestino continuou e fez parte da árvore genealógica do mufti Hajj Amin Al-Husseini, que era tio-avô de Yasser Arafat. O mufti Hajj Amin Al-Husseini (Wikipédia) 75 - Por que é possível afirmar que o conflito explodiu com força em 1929? Há quem afirme que o conflito israelense-palestino começou depois da guerra de 1967 com a ocupação da Cisjordânia por Israel. Na Guerra dos Seis Dias, os palestinos de Gaza (que estavam sob controle do Egito) e os palestinos da Cisjordânia (sob o governo jordaniano) foram deixados nas mãos de um governo militar israelense. Para aqueles que consideram que “o conflito todo tem como motivo a ocupação”, o conflito começou nesse ano de 1967. Como lemos até agora, as ações 128 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de violência foram registradas quase 50 anos antes da guerra citada, de modo que esse argumento tem pouca base factual. Há outros que afirmam que o conflito israelense-palestino começou em 1948 com a criação do Estado de Israel e a criação do problema dos refugiados palestinos. Um argumento pouco convincente, quando se leva em conta que muito antes já havia conflito, e, de 1920 a 1948, perderam a vida devido à violência nacional-religiosa pelo menos 808 judeus e 613 árabes. Alguns afirmam que os massacres de 1936 a 1939 foram o ponto de partida para o conflito. Essa foi uma revolta árabe contra os britânicos, embora, no processo, os judeus também tenham sido assassinados. Entre os historiadores do conflito israelense-palestino são discutidas duas datas possíveis para o início do conflito: 1920/1921 ou 1929. Até certo ponto, aqueles que afirmam que os assassinatos de 1920/1921 são o ponto de partida tomam como base o fato de que, além de se verificar incitamento à violência, os palestinos mostravam uma identidade nacional até então desconhecida. Aqueles que afirmam que a data correta é o ano de 1929 apontam para os claros argumentos religiosos islâmicos usados para incitar a violência árabe-palestina (o mufti Al-Husseini afirmava que os judeus queriam destruir a Mesquita Al-Aqsa e queimá-la). Os argumentos usados no ano de 1929 são semelhantes aos argumentos que são usados hoje em dia. 76 - O que significa a afirmação de que a narrativa palestina modifica a ordem dos acontecimentos? Se prestarmos atenção, veremos que a maneira de expor os argumentos dos porta-vozes palestinos segue um padrão repetitivo: A consequência de sua mais recente agressão é o motor da próxima agressão. Hoje em dia, ao entrevistar um porta-voz palestino, o argumento mais repetido é que “eles vivem sob ocupação israelense”, e, portanto, o conflito se mantém. Quando pedimos 129 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal explicações sobre a Faixa de Gaza, onde não há militares nem civis israelenses, o argumento anterior perde a força. Às vezes, eles culpam a ocupação por tudo, inclusive a sua corrupção endêmica. O que aconteceu foi que a violência palestina contra os judeus é anterior a 1967. Por exemplo, a Organização para a Libertação da Palestina foi fundada em 1964, declarando o seu desejo de destruir Israel à força. O próprio nome da OLP é uma prova clara, a ‘Palestina’ a ser libertada na época era, e só podia ser, o Estado de Israel. A Cisjordânia fora anexada pela Jordânia, a Faixa de Gaza, pelo Egito . Além disso, não haveria “ocupação” se a Jordânia, o Egito e a Síria não tivessem iniciado a crise que levou à guerra de 1967, já que a “ocupação” israelense foi a consequência e não a causa. E antes de 1967, como a violência contra os judeus era justificada? Bem, se tivéssemos entrevistado o mesmo palestino em 1956, ele argumentaria que a sua violência é justificada “pelo problema dos refugiados palestinos”. Mas... se os árabes não tivessem iniciado a guerra para destruir Israel em 1948, o problema dos refugiados não teria sido criado. Mais uma vez, a consequência da agressão é o motor do futuro ataque. E antes de 1948, como a violência contra os judeus era justificada? De muitas maneiras, mas o mais comum era afirmar que os judeus roubavam a terra dos árabes. Era inútil mostrar ao porta-voz que absolutamente todas as terras em que os judeus viviam tinham sido compradas, e nenhum árabe tinha sido roubado de suas terras. Os que pregam a extinção de Israel e são sinceros não “inventam” as razões e declaram os seus desejos com base em incentivos religiosos. 77 - Quais foram as razões que motivaram a explosão da violência entre 1936-1939? 130 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Uma série de eventos políticos regionais serviu de inspiração para que os árabes da Palestina pressionassem, atacando os britânicos (1936-1939). Em março de 1936 houve uma greve geral na Síria, e, embora as represálias francesas fossem duras, o governo cedeu e formou uma delegação árabe que viajou a Paris para negociar um tratado de independência franco-sírio. Isso mostrou que a pressão econômica e política árabe poderia acabarcom uma frágil administração imperial. Em paralelo, em 2/3/1936, o Reino Unido e o Egito concordaram com a independência do Egito, permitindo que os britânicos mantivessem suas forças na área do Canal de Suez. Os árabes da Palestina interpretaram todos os itens acima como “fraqueza”. Em abril de 1936, os líderes árabes do Mandato Britânico, liderados por Hajj Amin al-Husseini (grão-mufti de Jerusalém), declararam greve geral para protestar contra a imigração judaica na Palestina e acabar com ela. Segundo dados modernos de Israel, entre 1933-1936, mais de 160.000 imigrantes chegaram legalmente a Israel e outros milhares chegaram clandestinamente. Segundo Chaim I. Waxman, entre 1931 e 1939, 225.000 pessoas chegaram. Em 1931, a população da Palestina era de 1.011.000 pessoas, incluindo 174.000 judeus (17% do total). Os árabes também protestaram contra as compras de terras pelos judeus, porque temiam se tornar uma minoria no território, embora fossem os próprios árabes que vendessem essas terras. Eles exigiram eleições imediatas que, com base em sua maioria demográfica, teriam resultado em um governo árabe que, de acordo com os partidários do mufti, daria autonomia aos judeus, mas impediria toda imigração judaica e revisaria retroativamente as entradas de judeus no país desde 1918. Em 1936, os árabes declararam uma greve geral contra os ingleses. Um mês depois, o grupo líder declarou a recusa em pagar impostos como uma oposição explícita à imigração judaica. Dali eles passaram à violência. 131 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 78 - Que ações militares os árabes-palestinos realizaram entre 1936-1939? A revolta árabe contra os britânicos teve duas fases distintas: a primeira foi liderada pelo Comitê Árabe Superior, um comitê urbano e elitista, e concentrou-se em greves e protestos políticos. A segunda fase, iniciada no final de 1937, foi de ataques violentos contra as forças britânicas. As ações militares começaram de modo esporádico, tornando-se mais organizadas ao longo do tempo. Um alvo em particular foi o oleoduto TAP, que ia de Kirkuk a Haifa, construído alguns anos antes, que foi destruído em vários pontos de sua extensão. Houve também ataques a ferrovias (incluindo trens), assentamentos judaicos (como o massacre de judeus em Tiberíades). A violência começou com um ataque militar em 15/4/1936 a um comboio de caminhões que ia de Nablus a Tulcarem, ataque realizado por seguidores do falecido Al-Qassam, matando dois judeus: Israel Hazan e Tzvi Dannenberg. Entre os dois surtos de violência, os britânicos formaram a Comissão Peel para analisar as causas da violência, sendo que durante esses meses a violência diminuiu sua virulência. Após a rejeição árabe á proposta da Peel, a violência recomeçou no outono de 1937, com destaque para o assassinato, em Nazaré, do comissário britânico do distrito da Galileia, Lewis Yelland Andrews (setembro de 1937). A violência continuou durante 1938 e foi desaparecendo em 1939. De acordo com dados oficiais britânicos, o exército e a polícia mataram (1936-1939) mais de 2.000 árabes em combate, enquanto 108 foram enforcados e mais 961 morreram em consequência do que eles descreveram como “ataques de gangues e atividades terroristas”. Em uma análise das estatísticas britânicas, Walid Khalidi estimou que os árabes tiveram 19.792 vítimas, com um total de 5.032 mortos (3.832 que foram mortos pelos britânicos e outros 1.200 mortos por 132 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal causa do “terrorismo”) e 14.760 feridos. Estes números são o resultado do confronto entre britânicos e árabes, não entre árabes-palestinos e judeus. 79 - O que os ingleses fizeram para reprimir a violência árabe contra eles? Durante o mês de julho de 1936, voluntários árabes da Síria e da Transjordânia, liderados por Fawzi al-Kawukji, ajudaram os rebeldes árabes palestinos a dividirem as suas formações em quatro frentes, cada uma liderada por um comandante de distrito que possuía pelotões armados de 150 a 200 combatentes. Em uma declaração emitida pelo Escritório Colonial em Londres (em 7/9/1939), os britânicos declararam: “Trata-se de um desafio direto à autoridade do governo britânico na Palestina”, e anunciaram a nomeação do tenente-general John Dill como comandante militar supremo. No final do mês de setembro, 20.000 soldados britânicos foram mobilizados na Palestina para “derrotar os bandos árabes”. A principal forma de punição coletiva usada pelos britânicos para reprimir a revolta árabe de 1936-1939 foi a destruição de propriedades. Às vezes, aldeias inteiras foram reduzidas a escombros, como aconteceu em Mi’ar, no mês de outubro de 1938; em muitos casos, várias casas foram explodidas e outras, destruídas por dentro. O maior ato de destruição ocorreu em Yafo, no dia 16/6/1936, quando 220-240 edifícios (Operação Âncora) foram destruídos, deixando 6.000 árabes desabrigados. Um grande número de atos brutais realizados pelas forças britânicas foi registrado durante a última parte da revolta, como espancamentos, tortura e execuções extrajudiciais. Uma das maneiras de reprimir a revolta árabe de 1936- 1939 foi a construção das fortalezas de Taggart, projetadas por Sir Charles Taggart, que também introduziu cercas de fronteira e centros de interrogatório para os árabes, onde os prisioneiros 133 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal foram submetidos a espancamentos, chicotadas nos pés, choques elétricos e o que hoje é conhecido como “o submarino”. A elite governante árabe palestina fugiu e retornou depois que o conflito com os britânicos terminou. Em 1948, fizeram exatamente o mesmo, mas dessa vez não puderam retornar, após a Guerra da Independência de Israel. A revolta árabe desgastou o ímpeto militante palestino. 80 - Como reagiram os judeus ante os massacres de 1936-1939? Os judeus estavam preocupados com as medidas britânicas que novamente contradiziam seu Mandato. O governo britânico introduziu medidas para limitar a transferência de terras de árabes para judeus (década de 1930), embora essas medidas fossem facilmente contornadas por compradores e vendedores interessados. O assentamento judaico melhorava sua qualidade, e as centrais de trabalho judaicas pediam para contratar trabalhadores judeus (especialmente após o nefasto massacre de 1929). Em 1935, apenas 12.000 árabes (5% da população) trabalhavam para os judeus, metade deles na agricultura, enquanto outros 32.000 trabalhavam para as autoridades do Mandato e outros 211.000 eram independentes ou trabalhavam para empregadores árabes. A crise econômica favoreceu a radicalização em direção à luta armada. Além disso, em outubro de 1935, um carregamento de armas destinado à Haganá judaica foi descoberto em Yafo, desencadeando novos temores árabes. Ao mesmo tempo, a imigração judaica atingiu seu ponto mais alto, após a ascensão de Hitler na Alemanha. Entre 1933-1936, mais de 164.000 imigrantes judeus chegaram à Palestina, passando a população judaica de 175.000 a 370.000 pessoas, ou seja, de 17% da população total a 27%. 134 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Durante o verão de 1936, milhares de acres e pomares cultivados por judeus foram destruídos, civis foram atacados e mortos, e os habitantes de algumas comunidades judaicas, como Beit-Shean e Acco, fugiram para áreas mais seguras. As hostilidades de 1936-1939 contribuíram para uma maior desvinculação das economias árabe e judaica. O desenvolvimento da economia e a infraestrutura judaica se aceleraram. Ben-Gurion não hesitou em dizer: “Deveríamos recompensar os árabes por nos darem o impulso para a nossa criação atual”. Os judeus estabeleceram empresas metalúrgicas para produzir placas blindadas para veículos e uma indústria de armamentos rudimentar. A maioria das indústrias importantesna Palestina era de propriedade de judeus, e tanto no comércio quanto no setor bancário eles estavam melhor colocados do que os árabes. 81 - Que consequências teve para os árabes- palestinos o fracasso de sua revolta? A revolta causou um enfraquecimento muito importante de sua recém-nascida classe dirigente. Tradicionalmente, os árabes tinham uma elite tribal, mas não uma verdadeira liderança. Além disso, as disputas entre os Nashashibi e os Husseini causaram centenas de mortes durante a revolta que aconteceu entre os anos 1936 e 1939. Como parte da tentativa de reforçar as ideias nacionais árabes, o aniversário da batalha dos Chifres de Hatim (4 de setembro de 1187, quando o líder aiúbida Saladino derrotou os cruzados e depois recuperou Jerusalém para os muçulmanos) foi estabelecido como uma data nacional, a partir de 1930, quando o dia da Palestina é comemorado. A expansão da educação, o desenvolvimento da sociedade civil e dos transportes e, especialmente, a radiodifusão, facilitaram esse “nacionalismo”. A revolta não teve sucesso, mas teve uma influência crucial na Guerra da Independência de Israel (1948), uma vez 135 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal que enfraqueceu muito a capacidade militar e o incentivo árabe local (palestino) para sair à guerra. A revolta árabe também provocou e forçou a fuga para o exílio do principal líder, o grande mufti de Jerusalém, Hajj Amin al-Husseini, que se aliaria abertamente a Hitler. A violência árabe contra os britânicos e judeus continuou durante os anos 1938 e 1939. Nos últimos quinze meses da revolta, 936 pessoas morreram e houve 351 tentativas de assassinato; 2.125 incidentes de franco-atiradores; 472 bombas lançadas e detonadas; 364 casos de assalto à mão armada; 1.453 casos de sabotagem contra o governo e instalações comerciais; 323 pessoas sequestradas; 72 casos de intimidação; 236 judeus foram mortos por árabes e 435 árabes foram mortos por judeus (sobretudo em defesa a seus ataques). Segundo os números de mortos na revolta árabe de 1936- 1939, 10% da população árabe palestina, masculina e adulta, entre 20 e 60 anos, foram mortos, feridos, aprisionados ou exilados pelos britânicos. 82 - Quem foi Izz ad-Din al-Qassam? Durante a década de 1930 na Palestina, formaram-se sociedades secretas que defendiam a luta armada contra os ingleses e judeus, como o grupo “Mão Verde”, que participou ativamente nas colinas ao redor de Safed e que foi eliminado pelos britânicos no ano de 1931. Outra dessas sociedades secretas foi a Organização pela Santa Luta, liderada por Abed al-Kader al-Husseini, que operou em Hebron e que mais tarde desempenharia um papel importante na Guerra de 1948 e nos Jovens Rebeldes que atuaram na área de Tulcarem e Kalkilyah em 1935. Em 1930, o xeique Izz ad-Din al-Qassam (nascido na Síria) organizou e estabeleceu a “Mão Negra” (Al-Kaf Al-Aswad), uma organização militar antissionista e antibritânica. Em suas viagens 136 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal na região, ele deu sermões extremistas de caráter político e religioso, incentivando os agricultores a se organizarem em bandos de capangas para atacar o governo britânico e os judeus. Após o massacre contra os judeus de Hebron em 1929, ele aumentou as suas atividades e recebeu uma fatwa (permissão) do xeque Badr al-Din al-Taji al-Hasani, mufti de Damasco, para realizar ataques. Al-Qassam recrutou e organizou o treinamento militar de camponeses e, em 1935, já tinha entre 200 e 800 homens que destroçavam árvores plantadas pelos agricultores e linhas ferroviárias construídas pelos britânicos. No mês de novembro de 1935, dois de seus homens mataram um policial em um confronto, dando início a uma caçada humana a Al-Qassam, que foi morto a tiros em uma caverna perto Ya’bad. Seu túmulo está situado na aldeia abandonada de Balad As-Sheikh, na moderna cidade israelense de Nesher. A influência desse personagem é relevante hoje em dia. Os foguetes lançados pelo Hamas contra civis israelenses em Gaza são conhecidos como “Qassam” e as forças terroristas do Hamas são chamadas, em homenagem a este líder militar árabe, de Batalhões Izz ad-Din al-Qassam. 83 - O que é a Comissão Peel? A Comissão Peel (Comissão Real para a Palestina, de 1936) foi uma Comissão de Inquérito, encabeçada pelo Lorde Peel e criada para investigar as causas dos distúrbios que começaram em 1936, após seis meses de greve árabe. No dia 25/11/1936, Chaim Weizmann deu seu testemunho, dizendo que havia 6.000.000 de judeus na Europa “para os quais o mundo é dividido em lugares onde eles não podem viver e lugares onde eles não podem entrar”. Pelos palestinos, não falou só o mufti radical de Jerusalém, mas também o ex-prefeito de Jerusalém, Ragheb Bey Al-Nashashibi (que era um duro rival do mufti dentro da Palestina). 137 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No dia 7/7/1937, a Comissão publicou um relatório e, pela primeira vez, declarou que o Mandato se tornara impraticável, recomendando a divisão da Palestina. Após a publicação, a Comissão Woodhead foi designada para projetar e apresentar um plano de divisão efetiva, que prejudicava os judeus em comparação com o que acabou sendo aprovado no ano de 1947. Como era de se esperar, os judeus aceitaram a proposta de divisão e os árabes novamente rejeitaram qualquer concessão de territórios aos judeus. Eles exigiram que os britânicos cumprissem sua “promessa” de criar um estado árabe. Os judeus, liderados por Ben-Gurion, aceitaram a ideia de uma divisão, embora não descartassem que, se a guerra começasse, eles aumentariam as suas posses territoriais. A Comissão delineou dez pontos sobre: um sistema de tratado compulsório entre os Estados árabe e judeu e o novo governo; um mandato para os lugares sagrados; as fronteiras; a necessidade de subsídios interestaduais; a necessidade do subsídio britânico; tarifas e portos; a nacionalidade; o serviço civil; concessões industriais; e a troca de terras e populações. Foram os britânicos que propuseram, na Comissão Peel, a “Transferência” de população, endossada por alguns autores menores como um plano dos judeus. 138 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Plano de divisão da Comissão Peel, julho de 1937 139 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Proposta da Comissão Woodhead 1939 140 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 84 - O que é o Livro Branco de MacDonald, de 1939? À medida que a guerra inevitável com a Alemanha se aproximava, os políticos britânicos concluíram que precisavam da ajuda árabe, já que a ajuda judaica “estava garantida”. O primeiro- ministro Neville Chamberlain disse: “Se tivermos de ofender um lado, ofenderemos os judeus em vez dos árabes”. Desse modo, para voltar a “comprar” a calma entre os árabes, os britânicos voltaram a se afastar de suas obrigações internacionais. Após a ascensão de Adolf Hitler e outros regimes antissemitas na Europa, um número cada vez maior de judeus europeus precisava fugir para o Mandato Britânico da Palestina. As leis de Nuremberg do ano de 1936 converteram 500 mil judeus alemães em refugiados sem pátria. O Livro Branco de MacDonald (do ano de 1939), cujo nome se deve ao secretário britânico das colônias que o patrocinou, rejeitava a ideia de dividir o Mandato em dois estados e propunha uma única Palestina independente governada em comum por árabes e judeus, com os primeiros mantendo a sua maioria demográfica. Os britânicos associariam gradualmente árabes e judeus ao governo, com a intenção de que, em 10 anos, um Estado independente pudesse ser criado. Quanto à imigração judaica, ela ficaria limitada a um máximo de 75 mil pessoas nos cinco anos seguintes, para manter essa minoria em um terço da populaçãototal. Depois desses cinco anos, nenhuma imigração judaica seria permitida, a menos que os árabes estivessem dispostos a aceitá-la. Quanto às terras, a compra de novas terras por judeus seria proibida ou restrita, como consequência do crescimento natural da população árabe e da manutenção do padrão de vida dos agricultores árabes, respectivamente. O exercício que devemos fazer agora é nos perguntar: O que teria acontecido se, em vez de fechar as portas, os britânicos tivessem permitido 141 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal que os judeus da Europa escapassem juntando-se aos irmãos judeus na Palestina? Quantos se teriam salvo do Holocausto ? 85 - Qual foi a reação dos árabes e dos judeus em relação ao Livro Branco de MacDonald, de 1939? O Livro Branco foi recebido com grande desagrado pela comunidade judaica do Mandato Britânico. Os seus porta-vozes acusaram as autoridades britânicas de “traição” e “deslealdade”, e de serem cúmplices da perseguição nazista, proibindo as suas vítimas de encontrar refúgio. O Yishuv (comunidade judaica) declarou uma greve geral no país, e diversas manifestações foram realizadas nas grandes cidades. Desafiando claramente o Livro Branco, os judeus estabeleceram 12 novos assentamentos na Terra de Israel durante o mês de maio. Os judeus consideravam que os britânicos estavam cancelando a Declaração Balfour, embora os próprios britânicos negassem tal consideração, afirmando que um “lar nacional” não significava um estado judeu, mas autonomia. No entanto, quando a Segunda Guerra Mundial começou (no dia 1º de setembro de 1939), os movimentos clandestinos judaicos Haganá e Etzel (Irgun) decidiram pôr um fim às suas operações de sabotagem contra os britânicos, concentrando-se no assentamento e na imigração ilegal para a Terra de Israel. David Ben-Gurion, o principal líder sionista, disse: “Devemos ajudar os britânicos como se não houvesse um Livro Branco e lutar contra o Livro Branco como se não houvesse guerra”. Os residentes árabes também se opuseram, exigindo, em troca, a interrupção total da imigração judaica, o cancelamento da Declaração Balfour e das resoluções da Conferência de San Remo. O mufti Amin Al-Husseini se opôs, porque não lhes era concedido um estado próprio. Essa atitude maximalista (de “tudo ou nada”) caracterizaria, desde a década de 1920, a liderança árabe-palestina. 142 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No mês de junho de 1939, o Comitê de Mandatos da Liga das Nações em Genebra discutiu a questão e concordou que a política do Livro Branco era incompatível com a interpretação do Mandato da Liga. O comitê recomendou que a questão fosse discutida no plenário da Liga das Nações. No entanto, a guerra começou, e tal reunião não aconteceu. 86 - Os judeus respeitaram as limitações à imigração estipuladas no Livro Branco de 1939? A resposta é clara: Não. As operações dos judeus para introduzir imigrantes ilegais a Israel por mar e por terra (e desde 1947 alguns por via aérea) são conhecidas como “Hapalá” (ou Aliyá B). Os historiadores costumam dividir a imigração ilegal em três estágios: O primeiro, entre 1934 e 1939: ocorre com a ascensão nazista e de outros partidos antissemitas, junto com uma limitação inglesa para estender permissões de imigração (certificados). Somente entre 1935 e 1937, imigraram legalmente 137.000 judeus, fugindo de Hitler. No entanto, milhares mais esperavam na Europa. Em paralelo, e em 50 navios, cerca de 21.000 judeus conseguiram entrar em Israel ilegalmente. Cerca de 12.000 foram trazidos pelo Movimento Revisionista, 6.000 pela Haganá e Hechalutz e outros 3.000 por várias organizações. O segundo período, entre 1939 e 1945: Ben-Gurion muda sua postura de oposição à imigração ilegal, passando a apoiá-la depois da Comissão Peel (é por isso que o número de imigrantes ilegais trazidos pela Haganá no primeiro período foi menor que o da oposição revisionista). Um total de 27 navios conseguiu chegar ilegalmente à Palestina durante a Segunda Guerra, transportando 17.000 judeus. O terceiro período, entre 1945 e 1948: Ocorre após o final da Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 84.000 refugiados judeus entraram ilegalmente em Israel. Os britânicos detiveram 143 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal a maioria dos navios, permitindo que alguns ficassem, devido às permissões estabelecidas no Livro Branco de 1939, enquanto outros 52.000 foram deportados. Enquanto esses chegavam, 250.000 judeus permaneceram em campos de refugiados ou até mesmo nos próprios campos de extermínio da Europa depois de terem sobrevivido à Shoá. A imigração ilegal custou muitas vidas. Cerca de 2.000 imigrantes morreram quando seus navios afundaram ou durante a captura de embarcações pela Marinha Britânica. Durante as três ondas de imigração ilegal, de 115.000 a 132.000 judeus chegaram à Palestina Mandatária. 87 - O que foi o navio Êxodo? A operação mais famosa da imigração ilegal foi a do “Exodus” (Êxodo). Em 1946, os membros do Mossad Le-AliyáBet (Instituição de Imigração B) dos EUA adquiriram um velho navio de turismo chamado Presidente Warfield, o reformaram e o levaram para a Itália. Os italianos atrasaram a liberação do navio por pressão britânica, e ele foi transferido para o porto de Sete (França), onde recebeu seu nome hebraico Ietziat Eiropa Tashaz, “A partida da Europa em 1947.” O navio foi carregado com 4.554 imigrantes ilegais, mas as autoridades francesas proibiram sua partida. A embarcação saiu assim mesmo (11/7/1947), sendo escoltada pelos contratorpedeiros britânicos desde sua partida. Quando se aproximava de Israel, e depois de rejeitar as ordens britânicas, o navio foi assaltado por soldados britânicos, que tiveram de se esquivar das latas lançadas pelos imigrantes. Os soldados começaram a atirar, matando um oficial do navio e dois imigrantes judeus. Devido aos danos sofridos, o Exodus foi levado para o porto de Haifa, sendo que os 4.552 judeus foram deportados em 3 navios, que os levaram para a França a fim de “ensinar- lhes uma lição” (em vez de Chipre). Chegando ao porto Port de 144 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Bouc (França), eles se negaram a desembarcar e começaram uma greve de fome, de modo que os britânicos decidiram levá- los e fazer com que desembarcassem à força em Hamburgo, Alemanha. O caso do navio Exodus foi um duro golpe para o prestígio britânico. Cerca de 200 jornalistas cobriram o caso e, diante das severas críticas, os britânicos deixaram de enviar de volta a seus portos de saída os navios de imigrantes. Membros da comissão de inquérito da ONU (UNSCOP) estiveram presentes no porto de Haifa e testemunharam como os imigrantes foram retirados à força do navio e transportados de volta para a Europa. O Exodus influenciou na decisão de dividir a Palestina (novembro de 1947). 88 - O que os britânicos fizeram para deter a imigração ilegal de judeus? Os britânicos não pouparam esforços em sua luta contra a imigração ilegal. No campo militar, os britânicos tinham um dos melhores serviços de inteligência do continente. Desse modo, então, conseguiram mapear quase toda a atividade dos organizadores da Aliyá B, localizando os portos de saída, as rotas de transporte de refugiados e os meios para comprar suprimentos e combustível. Como resultado da boa inteligência em seu poder, os britânicos criaram uma Patrulha para a Palestina, que interceptava a passagem dos navios. Essas forças incluíam lanchas de patrulha relativamente velozes, que se moviam ao longo do Mar Mediterrâneo, aeronaves de reconhecimento e contratorpedeiros, que operavam na fronteira das águas territoriais da Palestina. Eles perseguiram os barcos, atacando- os e bloqueando o seu caminho para a costa. Além disso, os britânicos usavam radares para captar osmovimentos dos navios (a base mais conhecida era a base de Stella Maris, na cidade de Haifa, onde ficava a sede da força naval na Palestina). 145 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal As forças militares britânicas também atuaram para impedir a dispersão de imigrantes entre a população civil. Quando um navio era capturado, o exército britânico costumava transportar os imigrantes para campos de detenção em Chipre. Na esfera política, os britânicos tentaram exercer o seu poder diplomático sobre os governos dos países de onde saíam os imigrantes, pressionando-os a deter os navios. Governos como o governo da Itália e o governo da França fecharam os olhos para a imigração ilegal de propósito, em solidariedade ao sofrimento dos judeus após o fim do Holocausto. Além disso, os britânicos também tentaram impor um embargo comercial às companhias de navegação que levavam imigrantes ilegais. Nesta área também, o seu sucesso foi muito parcial. É verdade que as grandes companhias de navegação não ajudaram a imigração ilegal, mas sempre houve marinheiros que concordaram em cooperar. 89 - É verdade que os judeus da Palestina britânica “colaboraram” com os nazistas? Um dos argumentos mais imorais é acusar os judeus de terem colaborado com as mesmas pessoas que os assassinaram em câmaras de gás. No entanto, houve algum acordo tático com a Alemanha nazista no início de seu governo? Sim. Nós nos referimos ao Acordo de Transferência, assinado pela Agência Judaica e as autoridades nazistas no dia 25/8/1933. O objetivo do pacto era permitir que os judeus vendessem propriedades e bens localizados em território alemão, antes que eles fossem confiscados, transferindo parte de seus fundos para Israel, facilitando, assim, a migração legal dos judeus para a Palestina Mandatária. Este acordo foi produzido graças a uma combinação de interesses. Os nazistas estavam interessados em se livrar de seus judeus (a decisão de matá-los fisicamente foi adotada 146 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal posteriormente). A política nazista era livrar-se de seus judeus (Judenrein), comprando barato seus bens, e eles também queriam que os judeus americanos cessassem o seu boicote organizado contra a exportação alemã; a Agência Judaica, por sua vez, queria aumentar o número de judeus mais instruídos e com capacidade econômica; e os britânicos esperavam que aumentassem os investimentos em seu mandato. Se um judeu tivesse 1.000 libras esterlinas, ele poderia receber um certificado de imigração sem ser incluído na quota estabelecida pelos britânicos para os judeus. Um judeu alemão que quisesse emigrar para a Palestina devia depositar o seu dinheiro em marcos em uma das instituições financeiras locais que eram inspecionadas pela Agência Judaica; com esse dinheiro os judeus compravam mercadorias e máquinas alemãs, o dinheiro era transferido para o Mandato Britânico, e o proprietário recebia aproximadamente dois terços do valor depositado, recebendo o visto de imigração britânico. Com o passar do tempo, o acordo se estendeu a outros países conquistados pelos nazistas, como a Tchecoslováquia e a Hungria, e houve um acordo semelhante para os judeus poloneses. 90 - Qual foi a reação dos judeus ao Acordo de Transferência de 1933? O Acordo de Transferência provocou duras controvérsias entre os judeus do Yishuv (comunidade judaica de Israel) e entre os judeus da diáspora, devido à obrigação de manter contato com os nazistas, uma ação interpretada por algumas pessoas como uma cooperação com o opressor. Outros argumentaram ainda que o acordo quebrava o boicote que havia sido organizado contra os produtos alemães em muitas comunidades, principalmente nos Estados Unidos. A principal resistência concentrou-se em alguns dos círculos do Partido Revisionista (representado principalmente 147 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal por Abba Achimeir). Para moderar as críticas, o mediador do acordo, Sam Cohen, adquiriu parte da propriedade do jornal revisionista, influenciando o conteúdo. No dia 16 de junho de 1933, o jornal “Frente Popular” publicou um artigo acusando os envolvidos no pacto de “terem se vendido a Hitler por ganância e riqueza”, acrescentando que o povo judeu “saberia como responder a esses vilões”. O jornal mencionou os envolvidos, entre eles Chaim Arlosoroff, que era o chefe do Departamento Político da Agência Judaica e foi um dos negociadores. Na tarde do mesmo dia, Chaim Arlosoroff foi morto enquanto caminhava com a sua esposa na praia de Tel Aviv. No verão daquele ano, durante a campanha eleitoral para o XVIII Congresso Sionista, Zeev Jabotinsky (líder revisionista) declarou que “tal acordo é desprezível, vergonhoso e horrível”. Como resultado da controvérsia, o Décimo Nono Congresso Sionista decidiu no ano de 1935: “Para incentivar a imigração contínua de judeus alemães para a Palestina, o Congresso exige que o Executivo assuma todas as ações de transferência sob a sua supervisão”. A imprensa revisionista atacou a Organização Sionista e a Agência Judaica, acusando-as de “aliadas de Hitler (...) que pisotearam a honra judaica com os seus pés cruéis”. Discussão semelhante ocorreu na década de 1950, quando foi assinado o acordo de reparações com a Alemanha. 91 - É verdade que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (2019), negou o Holocausto e acusou os judeus de colaborar com os nazistas? “A conexão entre os nazistas e os líderes do movimento sionista entre 1933 e 1945” é o título da tese de doutorado em História de Mahmoud Abbas, concluída em 1982 na Universidade da Amizade dos Povos da Rússia. Em 1984, ele publicou seu livro em árabe intitulado: “O outro lado: a relação secreta entre o nazismo e o sionismo”. 148 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O conteúdo da tese nega ou relativiza o Holocausto, enquanto afirma (descaradamente) que a agitação sionista foi a causa do Holocausto. Em seu livro de 1984, Abbas rejeitou como um “mito” e “mentira fantástica” que seis milhões de judeus haviam morrido no Holocausto, escrevendo que o verdadeiro número de judeus assassinados pelos alemães foi de, no máximo, “890.000” ou “algumas centenas de milhares.” O número teria sido exagerado para fins políticos, já que “parece que o interesse do movimento sionista (...) os levou a enfatizar esse número [seis milhões] para obter a solidariedade da opinião pública internacional em relação ao sionismo”. Em uma entrevista de março de 2006 ao jornal israelense Haaretz, Abbas declarou: “Eu citei uma discussão entre historiadores na qual vários números de vítimas foram mencionados. (...) O Holocausto foi uma coisa terrível e ninguém pode dizer que eu neguei isso”. Em 2012, Abbas disse à Al Mayadeen, uma emissora de televisão de Beirute afiliada ao Irã e ao Hezbollah, que “desafiava qualquer um a negar que o movimento sionista tinha laços com os nazistas antes da Segunda Guerra Mundial”. Em 2013, ele reafirmou que “o movimento sionista tinha ligações com os nazistas”. Em ambas as ocasiões, ele se referia ao Acordo de Transferência. Durante uma reunião do Conselho Nacional Palestino em 2018, Mahmoud Abbas declarou que os judeus na Europa foram massacrados durante séculos por causa de seu “papel social relacionado com a usura e os bancos”. 92 - Como os judeus fizeram para ser maioria no território da Palestina se antes eram minoria? Uma pessoa imbuída de dogma materialista afirmará que “eles se tornaram maioria por causa do apoio imperialista”. O que começou com o apoio da Grã- 149 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Bretanha em relação às aspirações dos judeus, endossadas na Conferência de San Remo, terminou com um declarado desentendimento britânico quanto às suas obrigações legais (expressas na ComissãoPeel, de 1939). Os judeus se tornaram a maioria, apesar das limitações britânicas cada vez mais duras. Para os britânicos, os judeus eram aliados incondicionais contra os nazistas, e eles precisavam do apoio dos árabes “condicionais”. Os britânicos não consideravam os árabes seus inimigos, e as relações entre britânicos, árabes e judeus não foram uniformes durante o Mandato. Se antes do sionismo existia uma pequena comunidade em Israel, principalmente ortodoxa, a força ideológica e o aumento do antissemitismo na Europa impulsionaram cinco ondas de imigração. A primeira (entre 1881 e 1903) trouxe famílias ortodoxas que criaram os primeiros assentamentos com o apoio do filantropo Barão Edmond de Rothschild. A segunda onda (entre 1903 e 1914) criou e desenvolveu cidades, contando com um pequeno núcleo muito idealista e socialista que se tornou a liderança política do sionismo desde meados da década de 1920. A terceira onda (entre 1917 e 1924) foi fundamental no estabelecimento de fazendas agrícolas cooperativas (kibutzim ou moshavim) e ocorreu após o estabelecimento do Mandato. A quarta onda (entre 1924 e 1928) veio após medidas antissemitas e a crise na Polônia, e a quinta (desde 1933), após a ascensão de Hitler ao poder. O povo judeu em Israel subiu de aproximadamente 20.000 pessoas em 1900 para mais de 600.000 em 1948. Após a guerra de 1948, os judeus tornaram-se maioria absoluta no recém-criado Estado de Israel, porque a maioria dos árabes ficou fora de suas fronteiras, em uma terra que representava apenas uma pequena parte do Mandato Britânico da Palestina. 93 - É verdade que os judeus tinham uma “sólida estrutura militar” considerando o que aconteceu na Guerra da Independência de 1948? 150 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Essa afirmação está longe de ser correta, embora, em comparação com as disputas entre os clãs de Nashashibi e Husseini ou a pouca coesão entre árabes e palestinos, a situação judaica fosse muito superior. A estrutura militar do Haganá (Defesa) desenvolveu- se no mesmo ritmo dos atos de violência árabe e não a priori. A semioficial Haganá foi fundada em 1920, após o pogrom de Jerusalém. Até 1929, era uma organização pequena e insignificante, e só se fortaleceu, saindo da clandestinidade, com a revolta árabe (1936), quando começou a formar quadros combatentes e não meros guardas. No seu auge, falamos de uma força de cerca de 50.000 homens e mulheres, a maioria deles não permanentemente mobilizada. A partir da Haganá surgiu a unidade de elite “Palmach” (Plugot Machatz - “pelotões de choque”) criada em 15/5/1941. Originalmente, ela foi formada com a ajuda inglesa para confrontar uma possível invasão nazista ao Mandato. Após o perigo, continuou em atividade, apesar dos ingleses. Em 1948, eles tinham três brigadas de combatentes: aérea, naval e de inteligência. Entre os líderes do Palmach, destacaram-se figuras como Moshe Dayan, Yigal Alon e Yitzchak Rabin. Ser palmachnik era considerado um modo de vida. A política da liderança judaica era de contenção (Havlagá). Após 1929, um grupo decidiu praticar uma política considerada mais dissuasiva em relação aos terroristas árabes-palestinos. Foi o Irgun Tzvai Leumi (Irgun) ou Eztel (Organização Militar Nacional), que rejeitava, ideologicamente, o uso do terrorismo. O Irgun tinha cerca de 5.000 soldados. Quando, em janeiro de 1940, o Irgun decidiu se alistar em favor dos britânicos contra os nazistas, um pequeno grupo liderado por Abraham Stern se separou, formando o Lechi (Lochamei Cherut Israel - combatentes pela liberdade de Israel), acreditando que a luta armada era a única maneira de alcançar a independência nacional. Eles tinham 500 soldados. 151 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 94 - É verdade que as forças clandestinas judaicas cooperavam regularmente entre si para promover objetivos comuns? As relações entre os grupos clandestinos judaicos pré- estatais foram complexas. As divisões ideológicas eram profundas, especialmente entre as socialistas-oficialistas Haganá-Palmach e os nacionalistas-revisionistas do Irgun. Estes últimos chamavam os primeiros de fracos e os primeiros chamavam os nacionalistas de fascistas irresponsáveis. Após a Segunda Guerra Mundial, houve um curto período de cooperação para lutar contra os ingleses no âmbito do Movimento de Rebelião Hebreia (Tnuat Ha-Meri Ha-Ivri), que operou entre 1945 e 1946. Os líderes do novo movimento incluíam quatro representantes: dois representantes da Haganá (Moshe Sneh e Israel Galili), um representante do Irgun (Menachem Begin) e um representante do Lechi (Nathan Yellin-Mor). Durante a existência do Movimento da Rebelião Hebreia, foram realizadas onze grandes operações militares, incluindo a libertação de 200 imigrantes ilegais do campo de detenção de Atlit, sabotagem a vias férreas e estações ferroviárias na “Noite dos Trens”, ataques a delegacias de polícia britânicas, destruição de onze pontes na “Noite das Pontes” e o ataque ao Hotel King David em Jerusalém. Em agosto de 1946, por causa do Sábado Negro (Operação Ágata, de 29 de junho de 1946 - os britânicos impuseram um cerco contra as cidades judaicas e roubaram documentos que envolviam a liderança oficial da Agência Judaica com as atividades da Haganá) e após o ataque ao Hotel King David, a coalizão foi desmantelada e cada um dos grupos continuou a operar de forma autônoma. Este breve período de cooperação coexistiu com os dias em que a liderança oficial entregava os combatentes do Irgun e do Lechi aos ingleses. Entre dezembro de 1944 e fevereiro de 1945, após o assassinato do britânico Lorde Moyne (ministro do Oriente Médio) por dois soldados do Lechi (Eliahu Chakim 152 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal e Eliahu Beit-Tzuri), as autoridades judaicas oficiais decidiram ajudar os britânicos a prender as forças dissidentes (fase conhecida como Saison–temporada de caça). 95 - Qual era o nível de institucionalização dos judeus tendo em vista a Guerra da Independência de 1948? Desde sua fundação, o movimento sionista entendeu que ninguém lhes entregaria um estado judeu “de bandeja”. Se o desejo era atrair imigrantes, era compulsório comprar terras, desenvolver instituições e uma economia. Durante o Mandato Britânico, um estado foi construído dentro do mandato, e o período foi chamado de “O Estado a Caminho” (Há-Mediná She-Ba-Derech). De fato, os judeus desenvolveram vários estados autônomos simultâneos antes que o Estado de Israel fosse criado oficialmente (1948). Cada grupo ideológico judaico desenvolveu serviços para sua população. Se o indivíduo fosse socialista, ele colocava seu dinheiro no Bank Hapoalim (Banco dos Trabalhadores), era sócio do time Hapoel de sua cidade, tinha serviços médicos da Histadrut Ha-Ovdim de Eretz Israel (Organização de Trabalhadores de Israel, fundada em Haifa, 1920) e se quisesse se alistar em uma força militar, se alistava na Haganá, a força clandestina do movimento socialista judaico. Se, por outro lado, o indivíduo pertencesse ao movimento revisionista, ele depositava suas economias no Bank Leumi (Banco Nacional), era torcedor do Beitar de sua cidade, tinha serviços médicos do Kupat Cholim Leumi (Serviço Médico Nacional) e poderia se alistar no clandestino Irgun Tzvai Leumi (Organização Militar Nacional). Uma pessoa identificada com ideias liberais optava por torcer pelos times Macabi, depositava suas economias no Bank Discount e recebia tratamento médico da Kupat Cholim Macabi (Serviço Médico Macabi). 153 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Quando a independência de Israel foi declarada, o primeiro- ministro de Israel, David Ben-Gurion, disse que era essencial passar de”Kitatiut Le-Mamlachtiut” (passar do setorialismo ao oficialismo), formando instituições nacionais,como um exército único (Tzahal). O que caracterizou o período de “Estado a Caminho” foi a construção. Devido a isso, quando a Partilha da Palestina foi aprovada e um Estado Judeu foi reconhecido como um Estado que convivia com outro Estado, o Estado Árabe, de fato já havia pelo menos um estado pronto para funcionar, o Estado Judeu. 96 - Qual era o nível de institucionalização dos palestinos em vista da Guerra da Independência de 1948? A sociedade árabe-palestina era semifeudal e tinha uma organização mais elementar do que a europeia-judaica, baseada em clãs que rivalizavam entre si (a disputa entre os Nashashibi, os Hussein e outros causou, até 1949, um total de 10 mil mortes). De acordo com a narrativa árabe, eles não estão interessados em melhorar as condições de vida da “Palestina”. A sua prioridade é obter liberdade política e civil para concretizar os seus direitos nacionais. Não em vão, quando a Partilha da Palestina foi declarada (1947), os árabes não puderam traduzir “em atos” os direitos que lhes eram concedidos pelas Nações Unidas. A população judaica aumentou para 470.000 pessoas entre as duas guerras mundiais e a população não-judaica subiu para 588.000 pessoas. De fato, a população árabe permanente aumentou 120% entre 1922 e 1947. O número de árabes aumentou graças à melhoria das condições desenvolvidas pelos judeus e britânicos. Assim, a mortalidade infantil entre eles diminuiu de 201/1.000 (1925) a 94/1.000 (1945), e a expectativa de vida aumentou de 37 anos (1926) para 49 (1943). De 1922 a 1947, a população não judaica 154 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal aumentou 131% em Jerusalém e 158% em Yafo. O crescimento nas cidades árabes foi mais modesto: 42% em Nablus e 37% em Belém. A instituição mais importante criada pelos árabes- palestinos foi o “Alto Comitê Árabe”, o órgão político da comunidade antes do Mandato Britânico, autoproclamado “representante exclusivo de todos os árabes da Palestina”. Foi criado no dia 25/4/1936 por iniciativa do Hajj Amin Al-Husseini, embora tenha sido proibido pelas autoridades britânicas em setembro de 1937, durante a revolta contra elas. A Liga Árabe reconstituiu o Comitê no dia 10/11/1945, mas alcançou pouca relevância após a Guerra Árabe-Israelense de 1948, onde a sua inoperância foi demonstrada. O comitê foi banido na Jordânia (1948) e ignorado pelo Egito e também pela Liga Árabe. 97 - É possível comparar o terrorismo árabe- palestino ao judaico antes de 1948? Ao lidar com o fenômeno do “terrorismo”, o que não faltam são comparações sem fundamento sólido, como ocorre em uma conversa de bar. Se o fenômeno não for definido, a análise não tem sentido. Não há uma definição única sobre terrorismo. No entanto, para os acadêmicos ocidentais, o terrorismo é: “A utilização ou ameaça de violência contra civis (não combatentes), para alcançar objetivos políticos, de modo intencional e no âmbito de uma estratégia de propaganda”. Nos capítulos anteriores, detalhamos os massacres de 1920-1921, 1929 e 1936-1939. Em todos esses casos, constatamos assassinatos intencionais contra civis para erradicar a imigração judaica e proibir a compra de terras pelos judeus (ambos objetivos políticos). O incitamento deliberado e o assassinato de civis judeus foram o modus operandi dominante dos árabes-palestinos. Entre os judeus, um único grupo clandestino poderia ser 155 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal qualificado como terrorista, embora a maior parte de suas ações não fosse terrorista: o Lechi, com os seus 500 soldados. Abraham Stern definiu os objetivos e métodos de luta do Lechi em um documento chamado “A Ressurreição” (Ha-Tchiá). O documento dizia: “A terra é posse absoluta do povo de Israel. A terra deve ser conquistada à força e não adquirida com dinheiro, ou obtida por meios políticos e pelos favores dos governantes e superpotências”. “Os árabes da terra são estrangeiros, cujo problema deve ser resolvido através de uma troca de população, mas o principal inimigo é o regime de ocupação britânico”. Os assassinatos de Lorde Moyne ou do Conde Folke Bernardotte são dois exemplos de assassinatos deliberados de civis. A maior parte das ações do Lechi era de “guerrilha” (assassinato de militares para alcançar objetivos políticos). Se entre os árabes-palestinos o assassinato intencional de civis foi o comportamento dominante, entre os judeus foram ações esporádicas, não dirigidas nem relacionadas com a liderança comunitária oficial. 98 - O que aconteceu no Hotel King David em 1946? Para demonizar Israel ou relativizar o terrorismo palestino, se costuma argumentar que “os judeus também cometeram terrorismo”, como no Hotel King David (no dia 22 de julho de 1946). O ataque ao Hotel King David, sede do Comando Militar do Mandato Britânico da Palestina e da Divisão de Investigação Criminal dos britânicos, foi perpetrado pelo Irgun Tzvai Leumi (Etzel). A operação foi contra um centro militar, operando em um hotel, transformando-o em um objetivo militar 100% legal. Do ponto de vista técnico, a operação acima mencionada deveria ser classificada como um ataque de “guerrilha”, porque o objetivo eram “militares”. A ala sul do hotel continha documentos confiscados pelos britânicos, que incriminavam a Agência Judaica (Operação 156 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Ágata). Para explodir essa ala, um homem do Irgun-Etzel entrou no hotel disfarçado com uma túnica de empregado e deixou explosivos em garrafas de leite no porão. Um membro do Irgun (Gideon) gritou para a multidão: “Saiam todos, o hotel está prestes a explodir”. Uma telefonista ligou avisando para evacuar todo o edifício a fim de evitar vítimas civis. A mesma pessoa telefonou para o escritório do jornal The Jerusalem Post e uma advertência final foi feita ao consulado francês vizinho, que foi evacuado. As autoridades britânicas da central militar ignoraram as advertências e responderam: “Nós não estamos aqui para receber ordens dos judeus. Somos nós que damos as ordens”. O ataque provocou a morte de noventa e duas pessoas, dezesseis delas, judeus. A ala sul do Hotel King David foi destruída. O Irgun foi acusado de terrorismo, pelos britânicos e também pela liderança oficial sionista que havia aprovado esse ataque. Embora o ataque tenha resultado na morte de civis inocentes, isso não significa que foi uma ação terrorista, já que não houve essa intenção nem era o modus operandi adotado para as ações do Irgun. 99 - Por que em 1947 as Nações Unidas optaram pela partilha de Palestina? Após a Segunda Guerra Mundial, a economia britânica estava bastante instável e não podia se dar ao luxo de continuar mantendo 100 mil soldados na Palestina. Além disso, a simples ideia de “colonialismo” havia perdido prestígio no mundo. Obrigados mais do que dispostos, os britânicos decidiram devolver o Mandato que haviam recebido da Liga das Nações à sua herdeira, a Organização das Nações Unidas (a ONU). Além disso, as ações dos movimentos clandestinos judaicos (como o ataque à prisão de Acco ou a execução dos oficiais em Netanya) abalaram e humilharam a Grã-Bretanha, e isso se refletiu nas manchetes de seus jornais. A reação britânica ao 157 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal navio Êxodo é outro exemplo da crise de legitimidade britânica na opinião pública mundial. Em seu livro “100 perguntas e respostas sobre o conflito israelense-palestino”, o jornalista Pedro Brieger afirma: “Isso só serviu para encorajar a revolta judaica contra os britânicos, já com o apoio do governo dos Estados Unidos, uma das potências emergentes da guerra, junto com a União Soviética”. A verdade é que o governo dos Estados Unidos não apoiou a revolta dos judeus contra os ingleses. Esta informação é incorreta. O apoio dos EUA às atividades sionistasconsistiu em tolerar que líderes judaicos, como Golda Meir, fizessem campanhas de arrecadação de fundos na comunidade judaica com cidadania americana. As causas da renúncia britânica à Palestina são resumidas da seguinte forma: 1) Eles foram à falência econômica após a Segunda Guerra Mundial; 2) Quando o genocídio dos judeus foi conhecido durante a Shoá, aumentou a simpatia em relação à necessidade de um lar nacional judeu; 3) Uma perda de prestígio do “colonialismo”. No entanto, os britânicos não queriam se retirar. Eles estavam convencidos de que os judeus seriam submetidos a um massacre nas mãos dos árabes e pediriam o socorro dos britânicos. 158 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Terceira Seção Modernidade Flutuante 100 - O que é e o que decidiu a UNSCOP? O Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP) foi criado no dia 5/5/1947 em resposta a um pedido do governo do Reino Unido para que a Assembleia-Geral da recém-criada ONU “fizesse recomendações em virtude do artigo 10 da Carta, sobre o futuro governo da Palestina”. Foi decidido que o comitê deveria ser composto de países “neutros”, excluindo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. A UNSCOP foi formada por representantes de 11 nações (entre elas destacam-se os representantes do Peru, da Guatemala e do Uruguai). A UNSCOP visitou a Palestina-Israel e reuniu testemunhos de organizações sionistas na Palestina e nos EUA. O Comitê Superior Árabe boicotou a Comissão, explicando que os direitos naturais dos árabes palestinos eram evidentes e não podiam continuar sendo investigados. Mais uma vez, os árabes-palestinos agiam de acordo com a premissa destrutiva de “tudo ou nada”. O relatório do Comitê, do dia 3/9/1947, aconselhava o fim do Mandato Britânico da Palestina. Continha uma proposta majoritária para um Plano de Partilha em dois estados independentes com uma União Econômica (Capítulo VI) e uma proposta minoritária para um plano de união federal, com Jerusalém como capital (CAPÍTULO VII). A maioria dos países da comissão, Canadá, Tchecoslováquia, Guatemala, Holanda, Peru, Suécia e Uruguai, recomendou a partilha em dois estados separados. Esta é a proposta da maioria. Houve uma abstenção e 3 votos contra, ironicamente trágicos. A Iugoslávia votou a favor de um estado formado pelas duas nacionalidades (apenas 36 anos depois a 159 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Iugoslávia desapareceu como resultado de sua união inviável). A Índia e o Irã também votaram contra. A parte sionista aceitou o Plano de Partilha, enquanto a parte árabe rejeitou ambas as propostas. A proposta da UNSCOP foi submetida a votação pela Assembleia- Geral da ONU (votação realizada em 29 de novembro de 1947). 101 - O que a Assembleia-Geral da ONU decidiu no dia 29 de novembro de 1947? A Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (a ONU), reunida em Nova York e sob a presidência do brasileiro Osvaldo Aranha, aprovou a Declaração 181 que recomendava dividir a parte ocidental do Mandato Britânico em dois estados, um judeu e um árabe (não usava o termo palestino), com uma área sob controle internacional que incluía Jerusalém e Belém. Ambos os estados deviam colaborar economicamente. A ONU queria garantir um território para que os judeus pudessem absorver um milhão de refugiados que chegariam depois da criação de Israel, embora 45% do país fossem um deserto (Neguev). 160 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 161 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal A Declaração 181 (baseada na proposta da UNSCOP) recebeu voto positivo de 33 países, 13 votos contra e 10 abstenções, propondo certos ajustes nos limites entre os estados. A divisão entraria em vigor a partir da retirada dos britânicos, que não cooperaram com a execução da decisão. Os Estados Unidos e a União Soviética estavam entre os que votaram a favor da resolução. No ano de 1947, a ONU tinha 57 estados membros (atualmente, 193). Hoje em dia, é impossível acreditar que uma decisão semelhante fosse aprovada por um órgão tão descaradamente anti-israelense. A maioria dos habitantes judeus comemorou a decisão a favor do plano, embora eles criticassem a falta de continuidade territorial do mesmo, pois o território era dividido em três zonas que se tocavam apenas em vértices, o que o tornava pouco viável (e difícil de defender). David Ben-Gurion considerou que, se atacados, os judeus poderiam estender essa fronteira. Os líderes árabes se opuseram ao plano argumentando que ele violava os direitos da população árabe, que na época representava 67% da população total (1.237.000 habitantes). Duas semanas após a aprovação da Declaração 181, a Liga Árabe aprovou outra resolução que rejeitava diretamente a resolução da ONU, ameaçando partir para uma intervenção armada a fim de cancelar o que foi estabelecido. 102 - Como os países latino-americanos votaram nesse Plano de Partilha? Entre os 33 países (58%) que aprovaram a Declaração 181, destacam-se Bolívia, Brasil, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Haiti, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Entre os 13 países (23%) que votaram contra destaca-se Cuba. Os países que se abstiveram foram 10 (18%), entre eles Argentina, Colômbia, Chile, El Salvador, Honduras e México. 162 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O bloco latino-americano representava 20 dos 57 estados no total e, sem o seu apoio maciço, os sionistas não teriam nenhuma possibilidade real. Moshe Tov, chefe da Agência Judaica para a América do Sul, contou, após o estabelecimento do estado, que o chanceler brasileiro lhe disse: “A Assembleia- Geral optou pela divisão devido à pressão do presidente dos Estados Unidos”. Países como o Chile se abstiveram devido à pressão de sua comunidade palestina. Testemunhos e suspeitas de subornos, em várias comitivas, parecem ter sido fundamentais para explicar os votos dos países. Em um relatório enviado por Lawlin Thompson, diretor do departamento da Europa Oriental no Departamento de Estado, para Levi Handerson, ele diz: “O Sr. Ballet disse que um representante da América do Sul mudou a sua posição, saindo da oposição para apoiar a divisão, em troca de 75 mil dólares em dinheiro. Outro representante da América Central rejeitou uma oferta de 40 mil dólares, embora o seu governo tenha ordenado que ele apoiasse a divisão. O Sr. Ballet acredita que um ministro daquele estado colocou o suborno em seu próprio bolso”. Vale a pena destacar três personagens latino-americanos fundamentais para a aprovação da divisão: Primeiro, o presidente da Assembleia-Geral, Osvaldo Aranha, que adiou a votação crucial para o Dia de Ação de Graças, permitindo que os sionistas alcançassem os votos necessários. Antes, os representantes da Guatemala (Jorge García Granados) e do Uruguai (Enrique Rodríguez Fabregat) da UNSCOP, foram fundamentais para a elaboração do Plano de Partilha. 103 - Que valor legal tem a Declaração 181 da Assembleia-Geral da ONU? O status final do Mandato Britânico da Palestina foi aprovado no ano de 1922, inserindo a seção 25 que separava a Transjordânia do Mandato e, por conseguinte, modificava os 163 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal limites estabelecidos em San Remo (em 1920). Tal decisão foi aprovada pela Liga das Nações e, portanto, apesar de contradizer a Declaração Balfour, foi uma ação legal. No ano de 1936, a Liga das Nações adotou a Convenção de Montevidéu (de 1933), segundo a qual “o reconhecimento do Estado não pode ser revogado ou condicionado” (Artigo 6). Quando os britânicos aprovaram o Livro Branco (em 1939), eles violaram as leis da Liga das Nações e violaram a Convenção de Montevidéu. A Liga das Naçõesnão reconheceu a validade legal daquele Livro Branco. No ano de 1945, a Organização das Nações Unidas (a ONU) aprovou o artigo 80 (do 12º capítulo) para que os direitos concedidos aos diferentes povos fossem reconhecidos e, como resultado, todas as decisões de 1920-1946 ainda eram válidas. Assim, as fronteiras (do rio Jordão ao mar) e os direitos nacionais dos judeus à Terra de Israel foram reconhecidos pela ONU. Se os árabes tivessem aceitado a proposta de partilha (Declaração 181), chegando a um acordo com os judeus, teria sido possível promulgar uma nova lei internacional. Em outras palavras, se os árabes tivessem aceitado a Declaração 181 (em 1947), ela poderia ter tido força legal. Devemos lembrar que o presidente da antiga Corte Internacional de Justiça, o jurista professor Steven Schwebel, ex-assessor jurídico do Departamento de Estado e presidente da Corte Internacional de Justiça em Haia, disse: “A Assembleia- Geral das Nações Unidas só pode, em princípio, apresentar propostas sem efeito legal, nos termos do artigo 10 da Carta das Nações Unidas”. O status legal de Israel não é baseado na Declaração 181, que foi uma “declaração”. 104 - Se a Declaração 181 carece de força legal, por que a ONU aceitou o Estado de Israel como membro em 1949? 164 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal As Nações Unidas reconheceram o direito histórico dos judeus a Israel, de acordo com o artigo 80 (do 12º capítulo), que confirmava a continuidade do que foi estabelecido pela Liga das Nações (no ano de 1920). De acordo com este artigo, não foi a partir de “nada” que a Organização das Nações Unidas reconheceu o direito de existência de Israel, mas sim ratificava e validava um direito anterior reconhecido pela Liga das Nações. Uma opinião consultiva da Corte Internacional de Justiça do dia 21 de junho de 1971 explicava: “A última decisão da Assembleia da Liga das Nações e o artigo 80, parágrafo 1, da Carta da Organização das Nações Unidas preservaram as obrigações dos Mandatos”. A Corte Internacional de Justiça sempre reconheceu que o mandato sobreviveu ao fim da Liga das Nações. Quando, no ano de 1949, Israel pediu para ser aceito como membro das Nações Unidas, essa organização não considerou se os judeus “tinham direitos”, conforme o que havia sido estabelecido no artigo 80 (do 12º capítulo). O processo para ser aceito como membro da Organização das Nações Unidas é que o candidato deve ser um estado que cumpra as premissas da Convenção de Montevidéu (limites claros, população determinada, governo efetivo e capacidade de estabelecer relações internacionais). Tais conformidades são verificadas pelo Conselho de Segurança e, em seguida, é a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas que deve validar a aceitação com dois terços dos votos. No dia 11 de maio de 1949, o Estado de Israel se tornou o 59º membro das Nações Unidas, com 37 países votando a favor de sua inclusão, 13 contra e 9 abstenções. O país que impulsionou com maior veemência a aceitação de Israel na ONU foi a União Soviética, que na época esperava que o Estado de Israel se tornasse parte de seu bloco. 165 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 105 - Como os árabes reagiram ao Plano de Partilha da Palestina? O jornalista argentino Pedro Brieger explica: “A população árabe da Palestina se opôs de maneira categórica à partilha. Era lógico que eles se opusessem. Eles consideraram que estavam tomando seu território, que as Nações Unidas não tinham nenhuma autoridade para sentenciar a divisão e que nem sequer os consultaram”. Vamos analisar essas afirmações erradas. Primeiro de tudo, o argumento sobre a ONU é estranho, já que foram as mesmas potências ocidentais que criaram o Iraque, a Síria, a Jordânia, o Líbano ou a Arábia Saudita. Não é lógico aceitar como “legítimos” estados artificiais criados na região pelas potências,e, ao mesmo tempo, acreditar que é “ilegítimo” quando eles decidem sobre o futuro de um território onde também habitam judeus. Esse duplo critério não pode ser aceito. O segundo erro factual é afirmar que “eles não os consultaram”. Os árabes se recusaram a colaborar com a comissão de investigação da UNSCOP. O maximalismo da posição árabe impediu que se aproveitassem as oportunidades disponíveis nos diferentes processos de negociação, priorizando a expulsão de judeus e os interesses dos novos estados árabes vizinhos à área. Por quê? Porque a identidade árabe-palestina era fraca durante aqueles dias. Descrever como “lógica” sem nomear a razão mais importante empobrece uma análise séria do assunto: os árabes não aceitaram a divisão porque acreditavam que derrotariam militarmente os judeus. Isto foi claramente explicado pelo secretário da Liga Árabe, Azzam Pasha, aos negociadores da Agência Judaica (16/9/1947): “O mundo árabe não está disposto a chegar a um acordo. (...) As nações nunca concedem; elas lutam. Vocês não conseguirão nada por meios pacíficos ou por acordos. Talvez possam conseguir alguma coisa, mas apenas pela força das 166 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal armas. Nós vamos tentar derrotá-los. Não estou certo de que teremos sucesso, mas vamos tentar. (...) Mas já é tarde demais para soluções pacíficas”. 106 - Como os judeus reagiram ao Plano de Partilha da Palestina? A liderança sionista era pragmática e via na Partilha uma oportunidade de finalmente fundar o estado judeu para abri-lo à imigração, independentemente das potências. Se atacados, os judeus se defenderiam e as fronteiras finais seriam estabelecidas após o confronto. Cumpria-se um dos princípios dos precursores sionistas como Theodor Herzl: criar um refúgio para os judeus perseguidos do mundo. De um modo pragmático, David Ben-Gurion e a liderança judaica de Israel aceitaram a Partilha (181), ignorando as críticas de dois grupos ideológicos relativamente menores: Os nacionalistas-revisionistas, os quais aspiravam a um Estado judeu em todo o território da Palestina que receberam os britânicos no ano de 1920. O outro grupo, de esquerda, desejava um estado binacional ao lado dos árabes. De acordo com o Plano de Partilha da Palestina, dentro do Estado judeu viveriam 538.000 judeus e 397.000 árabes (embora houvesse mais de meio milhão de refugiados judeus à espera para entrar no novo Estado de Israel). A Organização das Nações Unidas (ONU), ao dividir o território, levou em consideração que a população judaica seria, depois de criar Israel, de cerca de 1.300.000 pessoas. Aproximadamente 92.000 árabes viviam em Tiberíades, Safed, Haifa e Beit-Shean e outros 40.000 eram beduínos que viviam no deserto. O estado árabe teria uma população de 804.000 árabes e 10.000 judeus. Jerusalém permaneceria como uma zona internacional, isolando outros 100.000 judeus dessa cidade. O fato de haver uma minoria árabe dentro de Israel não contradizia o projeto sionista, que nunca defendeu a ideia de um Estado judeu “etnicamente puro”. Alguns autores afirmam 167 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal que o sionismo tinha esse objetivo, mas tal acusação carece de evidência factual e apenas pretende demonizar o ideal nacional judaico. O plano era péssimo e bastante falho para os judeus, mas eles o aceitaram, enquanto os árabes o rejeitaram e deram início à guerra. 107 - Foi justa a Partilha da Palestina – Declaração 181? Existem três fatores que fundamentaram a divisão da terra, e não somente o fato de que um censo geral mostrava uma maioria árabe. A primeira razão é que o que fosse adquirido pelos judeus seria parte de Israel. O que era propriedade privada árabe seria árabe. A segunda é que o estado judeu a ser formado deveria permitir a absorção de cerca de um milhão de refugiados que chegariam ao país depois do Holocausto. A terceira razão está relacionada ao princípiode que as áreas onde os árabes eram a maioria ficariam sob domínio árabe, e o mesmo valeria para áreas com maioria judaica. Jerusalém, que desde o final do século XIX tinha maioria judaica, e Belém permaneceriam como área de administração internacional. Após a partilha, as comunidades judaicas nos países árabes foram ameaçadas e atacadas, causando a fuga de quase um milhão de pessoas, muitas das quais vieram para Israel. Os judeus receberam, de acordo com o Plano de Partilha (1947), um território que era, em sua maior parte, o deserto de Neguev, depois de demonstrar uma incrível capacidade de desenvolver a agricultura em condições impossíveis. Vamos analisar os números frios: O Mandato Britânico original incluía 120.000 km2, mas, no ano de 1922, a Inglaterra cortou 76,5% da Palestina para a criação de um primeiro estado árabe chamado Emirado Árabe da Transjordânia (Jordânia). Em 1947, os judeus 168 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal receberam 55% de 23,5% das terras restantes onde eram maioria e onde possuíam terras. A divisão da Palestina é uma clara manifestação da implementação dos princípios do presidente Thomas Woodrow Wilson e de outros progressistas. Além disso, em termos de terras aráveis, o acordo era injusto para os judeus. Além das terras que haviam comprado, eles receberam 25% de terra arável. O resto ficou para os árabes. Os judeus recebiam terras boas se as comprassem. 108 - Até que ponto a criação do Estado de Israel foi uma compensação pelo sofrimento do Holocausto? A efetividade da independência do Estado de Israel é uma consequência do cumprimento das premissas de Montevidéu. Nos anos 1947 e 1948, os judeus de Israel dominavam territorialmente parte do território da Palestina britânica, havia uma população judia concreta, os civis judeus respeitavam amplamente as suas autoridades eleitas (a Agência Judaica e a Organização Sionista Mundial), que tinham a capacidade de desenvolver relações internacionais. Desde os dias da primeira onda de imigração (1881-1882), o ideal sionista era construtivo, o reconhecimento viria mais tarde. Se compararmos essa situação com a atual Palestina, com uma Faixa de Gaza dominada pelo Hamas e os territórios A e B da Cisjordânia parcialmente dominados pela Autoridade Palestina, a “efetividade” do Estado Palestino é discutível. É verdade que o genocídio de seis milhões de judeus afetou profundamente o mundo ocidental. Não apenas porque alguns países ocidentais executaram o massacre, mas porque muitos outros foram aliados ativos ou passivos ou porque permitiram que o antissemitismo se estabelecesse entre os seus cidadãos. Enquanto o genocídio nazista estava sendo perpetrado, vários países limitaram a entrada de judeus e alguns chegaram a 169 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal rejeitar navios com judeus que precisavam de um refúgio. Viviane Forrester, autora do livro O crime ocidental, afirma que os países da Europa deixaram os judeus “presos na ratoeira hitleriana” para, depois da guerra, “isolá-los em campos de refugiados”. Na própria Palestina, as autoridades britânicas restringiram as cotas de imigração ao mínimo, para evitar conflitos com a população árabe - cuja liderança, por outro lado, tomara o partido dos nazistas. Esse sentimento de “culpa” ajudou a somar votos para aprovar o Plano de Partilha da Palestina, em novembro de 1947. A pergunta hipotética seria: Sem o Holocausto, teria sido formado um Estado judeu? Certamente sim, porque essa realidade estava em vias de construção pelas ações sionistas no terreno. 109 - É justo afirmar que a “culpa” pelo Holocausto explica a indulgência atual em relação ao Estado de Israel? A narrativa árabe ou a narrativa pró-palestina geralmente contém dois argumentos: os palestinos “pagaram o preço” pelo Holocausto europeu, enquanto Israel goza de impunidade por ter sido vítima desse genocídio. É importante ter em mente que os palestinos não foram alheios ao Holocausto. A liderança palestina, liderada por Hajj Amin Al-Husseini, foi uma aliada ativa dos nazistas, promovendo o assassinato de judeus. Desde o pedido de construção de câmaras de gás em Emek Dotan até a tentativa de contaminar as águas de Tel Aviv. Para avaliar se há indulgência em relação a Israel, devemos comparar o tratamento que se dá às ações de Israel comparado com o que se dá a ações de outros protagonistas, tanto na política internacional quanto nos meios de comunicações. Na Organização das Nações Unidas (ONU), há um viés acusatório e não-indulgente muito claro em relação a Israel. Algumas 170 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal agências, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, deveriam envergonhar toda e qualquer pessoa decente da Terra. Nos meios de comunicação, basta comparar a abrangente cobertura das operações israelenses em Gaza com a cobertura quase inexistente de mais de meio milhão de mortes e milhões de refugiados na Síria, as mortes étnicas em Darfour ou à falta de divulgação da perseguição a homossexuais, mulheres ou cristãos nos mesmos países que desejam destruir Israel, para rejeitar essa acusação de suposta “indulgência”. Existem meios de comunicação que ganharam certo prestígio nefasto por demonizarem Israel. A grande maioria dos meios de comunicação da Espanha é um exemplo claro do viés obsessivo contra Israel. Para dizer a verdade, a pergunta deveria ser outra: A obsessão que a maioria dos países das Nações Unidas mostra em relação a Israel, ou a que nos apresentam os principais meios de comunicação do mundo não é uma demonstração de que as lições do Holocausto não foram assimiladas como era de se esperar? 110 - É verdade que entre a Declaração 181 e a independência de Israel houve uma guerra civil? A primeira etapa da Guerra da Independência foi um confronto civil entre os árabes locais e os judeus do Mandato Britânico, que durou desde o dia da partilha até a independência de Israel (em 14 de maio de 1948). No dia seguinte à Declaração 181 (que foi em 29 de novembro de 1947), sete judeus foram mortos por árabes em três incidentes isolados: às oito da manhã, três árabes atacaram um ônibus que ia de Netanya a Jerusalém, matando cinco passageiros judeus. Depois disso, um novo ataque em um ônibus causou outra morte e, para terminar o dia, um novo assassinato em Yafo. Em Jerusalém, o Supremo Comitê Árabe proclamou uma greve geral de três dias, que ganharia força na oração de sexta- 171 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal feira, no dia 2/12/1948. Os ataques se intensificaram e no dia 11/12/1947, o correspondente do jornal The Times em Jerusalém estimou o número de mortos em cerca de 130, dos quais cerca de 70 eram judeus, 50 eram árabes e 4 eram britânicos. A guerra civil concentrou-se na luta pelo controle de estradas e em torno das cidades isoladas e mistas. O combate nas cidades mistas (Haifa, Safed ou Tiberíades) foi caracterizado por tiros e ataques de franco-atiradores árabes. As forças judaicas fizeram um esforço considerável para manter contato com os assentamentos isolados, enviando comboios. O mês de março de 1948 foi muito difícil nas estradas, com o ataque ao comboio de Nebi Daniel (15 mortos e 40 feridos) ao retornar de Gush Etzion, ou ao comboio para Yechiam (46 mortos) a caminho do kibutz. As mortes desse mês suscitaram dúvidas sobre a capacidade da comunidade judaica de se defender, o que levou à apresentação de propostas para estabelecer um regime de protetorado na Palestina ou novas reconsiderações perante a ONU. Os judeus decidiram, em vez disso, executar o Plano Dalet. 111 - O que é o Plano Dalet? Em muitas ocasiões, esta operação é apresentada com um certo halo místico negativo. Os historiadores palestinos falam de um plano para executar uma “limpeza étnica”, por meio de expulsãosistemática, saques, incêndios etc. O Plano Dalet (D) foi desenvolvido para controlar todas as áreas designadas para o Estado judeu pelo Plano de Partilha, a fim de se preparar para uma invasão dos países árabes assim que a independência fosse declarada. É uma reação da liderança judaica a dois desafios: o surgimento de ideias como o Protetorado e as terríveis baixas após os ataques contra os comboios (em março de 1948). O Plano D incluiu a mobilização e organização de forças judaicas em brigadas e o estabelecimento de objetivos para assumir o controle de áreas onde havia concentrações de judeus 172 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal (inclusive as localizadas fora das fronteiras), criando blocos de assentamentos e dominando áreas fundamentais diante da esperada invasão árabe. A premissa era evitar um confronto com as forças britânicas ainda estacionadas em Israel. O problema mais urgente era que Jerusalém (e os seus 100 mil judeus) ainda estava bloqueada pelas forças árabes locais. Para liberar o acesso, executou-se a Operação Nachshon (no dia 4 de abril de 1948), quando, pela primeira vez, forças de uma brigada se concentraram como se fossem um exército regular, com armas recentemente chegadas da Tchecoslováquia e, além disso, se tomava a iniciativa. Essa iniciativa judaica continuou, e durante abril e meados de maio de 1948, Tiberíades, Haifa, Yafo e Safed (todas cidades designadas a ficarem na área do partilha destinada aos judeus) ficaram sob o seu domínio. O fator árabe local foi derrotado, a liderança se desintegrou e a maioria dos líderes fugiu. Um movimento de fuga começou a transformar os árabes em refugiados, e os árabes locais deixaram de ser uma verdadeira força militar. Os judeus alcançaram a maior parte dos objetivos do Plano Dalet. 112 - Ocorreram atos de terrorismo durante a guerra civil de 1948? Os árabes executaram três grandes massacres de judeus. O primeiro (no dia 31/12/1947), quando centenas de árabes massacraram 40 trabalhadores judeus (seus colegas de trabalho) nas refinarias de Haifa. O massacre foi precedido por um ataque do Irgun, no qual seis árabes foram mortos depois de ser jogada sobre eles uma lata de explosivos. Em resposta, a Haganá atacou as aldeias árabes de Balad Al-Sheikh e Hawassa, matando cerca de 60 árabes. A Haganá também começou a sequestrar e torturar soldados do Irgun, matando um deles, Yedidia Segal. O segundo caso foi o massacre do comboio médico do Hadassah (no dia 13/4/1948), perpetrado por forças árabes 173 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal que emboscaram um comboio civil com suprimentos médicos e pessoal para o Hospital Hadassah do Monte Scopus (localizado ao norte de Jerusalém). Setenta e nove judeus, a maioria médicos e enfermeiras, foram mortos no ataque, o que também foi interpretado como uma retaliação pelo Massacre de Deir Yassin. O terceiro massacre foi o de Kfar Etzion (no dia 13/5/1948), quando uma força combinada da Legião Árabe e árabes locais mataram os 129 residentes judeus e os soldados da Haganá que defendiam o kibutz. Martin Gilbert afirma que quinze prisioneiros foram assassinados depois de se renderem. Outros falam de números maiores. Aparentemente, foi uma vingança pelo que aconteceu mais cedo em Deir Yassin e pela destruição de uma de suas aldeias vários meses antes. Do lado judaico, o historiador Benny Morris afirma que as forças israelenses capturaram Jish (Gush Chalav) no dia 29/10/1948, durante a Operação Hiram, e depois de “uma batalha muito dura”, dez prisioneiros de guerra marroquinos, além de alguns aldeões, entre eles uma mulher e o seu bebê (totalizando, talvez, 50 pessoas), foram mortos por soldados israelenses. O primeiro-ministro israelense, David Ben-Gurion, ordenou uma investigação, mas nenhum soldado foi levado a julgamento. Os restos da ambulância queimada no caminho ao Hadassah 174 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 113 - O que aconteceu na vila árabe de Deir Yassin? A ONU decidiu que Jerusalém (e Belém) seria uma cidade internacional, enquanto 100.000 judeus (2.500 da Cidade Velha) sofriam um bloqueio árabe. A vila de Deir Yassin, localizada em uma colina na entrada de Jerusalém, foi usada para atacar os comboios de socorro judaicos. A liderança oficial judaica aprovou o ataque a Deir Yassin (no dia 9/4/1948). David Shaltiel, comandante da Haganá, escreveu aos líderes do Irgun-Lechi: “Soube que vocês estão planejando atacar Deir Yassin. Quero ressaltar que a captura da posição é uma etapa do nosso plano geral. Não tenho nenhuma objeção quando à realização da operação, desde que possam ocupar a aldeia”. Cento e trinta e dois soldados do Irgun-Lechi atacaram dezenas de árabes armados que se escondiam entre 750 civis. Muitos combatentes, incluindo soldados iraquianos, se disfarçaram de mulher para atirar nos soldados judeus. As forças do Irgun-Lechi tentaram avisar os civis que eles seriam atacados para afugentá-los e fizeram isso com um caminhão e alto-falantes. Aparentemente, o caminhão teria caído em uma vala e não foi ouvido. No dia do ataque, às 9h30, cinco horas depois de ter dado início ao fogo, o Lechi evacuou 40 idosos, mulheres e crianças, e os levou para uma base em Sheikh Bader. Por que eles os salvariam se estivessem planejando um massacre? Um estudo da Universidade Palestina de Bir Zeit, baseado em testemunhos árabes, afirma que 107 civis foram mortos e 12 ficaram feridos, além de 13 “combatentes”. Quatro judeus morreram. As autoridades judaicas oficiais repudiaram as ações de Deir Yassin e as usaram para desacreditar seus rivais ideológicos. Os árabes as exageraram para que os países vizinhos enviassem mais forças contra os judeus. O caso de Deir Yassin fez com 175 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal que muitos árabes-palestinos se convencessem de que realmente havia ocorrido um massacre, decidindo, portanto, fugir das áreas de combate. 114 - O que é o plano de protetorado para adiar a independência de Israel? É comum ouvir que o lobby judaico nos Estados Unidos controla a política local. Vamos ver um exemplo claro do oposto. Os Estados Unidos estavam prestes a desistir de apoiar o Plano de Partilha de novembro de 1947, quando ele já havia sido aprovado. Os duros acontecimentos de março de 1948 levaram a uma mudança na política dos Estados Unidos. O Departamento de Estado começou a promover a ideia de que os judeus de Israel ainda não estavam prontos para a independência, propondo suspender a implementação do plano de partilha. Eles temiam que a comunidade judaica não fosse capaz de resistir a uma invasão árabe maciça. Em março de 1948, os Estados Unidos exigiram uma nova discussão na Assembleia Geral sobre a questão de Israel. Essa mudança na política dos Estados Unidos teve como base outras razões: o Departamento de Estado temia que, se os Estados Unidos apoiassem a execução do plano de partilha, os laços com o mundo árabe e muçulmano fossem se comprometer, fazendo com que o país perdesse os direitos sobre o petróleo e as companhias aéreas do Oriente Médio. A tensão entre o bloco ocidental e oriental, no âmbito da Guerra Fria, começou a aumentar durante esse ano, levando os americanos a executar movimentos de Realpolitik. Em março de 1948, os Estados Unidos afirmam que, até que uma solução política adequada fosse alcançada, um regime temporário de segurança liderado pelas Nações Unidas deveria ser imposto. O estabelecimento de um regime de protetorado 176 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal significava adiar o estabelecimento do estado judeu por um período de tempo indeterminado. Os líderes do movimento sionista se opuseram a isso, assim como a União Soviética, que continuava a apoiar o estabelecimento de Israel. O desenlaceem direção à guerra e a decisão da liderança sionista motivaram o abandono da ideia de protetorado. 115 - Por que Israel declara sua independência no dia 14 de maio de 1948? A liderança judaica estava em dúvida quanto a se devia ou não declarar a independência. Alguns estavam convencidos de que o exército judaico não seria capaz de lidar com um ataque árabe, sugerindo adiar a declaração, aceitando o protetorado proposto pelos Estados Unidos. Outros aconselhavam a formar um novo “Mandato Internacional”, por dois ou três anos, até que a situação se esclarecesse e se chegasse a uma estabilização da área. O Chefe do Estado-Maior (de fato) do futuro exército israelita, Yigael Yadin, disse a David Ben-Gurion que a possibilidade de vencer diante de uma invasão árabe era de “50% -50%”. Surpreendentemente, os britânicos decidiram não cooperar com o plano de partilha da Organização das Nações Unidas (a ONU), retirando as suas forças no dia 15/5/1948, à meia-noite (eles deviam partir no dia 1/8/1948). Desse modo, os britânicos pretendiam manter a sua influência e a dependência dos judeus à coroa britânica. O curioso é que esse dia era Shabat (dia de descanso dos judeus) e nenhum judeu trabalhava no porto. Também não seria possível declarar a independência nesse sábado. A escolha da sexta-feira e a precipitação da retirada britânica foram interpretadas como mais um sinal das intenções imperialistas e da permanência do governo de sua “Graciosa Majestade”. Na sexta-feira, dia 14/5/1948, às 16h00, no salão principal do museu da rua Rothschild, em Tel Aviv, a liderança 177 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal provisória da comunidade judaica se reuniu. Em um ato breve e simples, e apesar das várias ameaças árabes, a Independência do Estado de Israel foi declarada. Essa declaração começaria a valer à meia-noite do dia 15/5/1948. A posição de quem seria o primeiro premier de Israel, David Ben-Gurion, prevaleceu (6 representantes da Administração do Povo votaram a favor, 4 votaram contra e 3 se abstiveram). A oportunidade de recuperar a independência judaica na terra de Israel devia ser aproveitada. David Ben-Gurion lê a Declaração de Independência de Israel 116 - O que diz a Declaração de Independência de Israel? A Declaração de Independência de Israel é um texto curto, dividido em três partes. A primeira seção é “histórica” e analisa a formação do povo judeu, a sua contribuição para a humanidade, as calamidades sofridas e o surgimento do sionismo. Esta seção expõe o direito judaico à terra de Israel, selado com o reconhecimento dado pela Organização das Nações Unidas (a ONU) na partilha do mês de novembro do ano de 1947. 178 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal A segunda parte é a seção “operativa”, onde é explicado que o Conselho do Povo (o parlamento de 39 pessoas) declarou o fim do Mandato Britânico, anunciando em seu lugar um Estado judeu em Eretz Israel, que será conhecido com o nome de ESTADO DE ISRAEL. Eles anunciaram que até outubro de 1948 se apresentaria uma Constituição e, com base nela, haveria eleições. Além disso, o Conselho do Povo seria conhecido a partir de agora como “Conselho Temporário do Estado”, e o seu órgão executivo, a Administração do Povo, seria o “Governo Provisório do Estado Judeu”. A terceira parte é a seção “declarativa” e detalha todos os valores positivos que o Estado de Israel assume como um país democrático, fazendo um apelo especial à paz e coexistência com os vizinhos árabes e locais. Os signatários da Declaração não foram unânimes em relação ao o conteúdo escrito por David Ben-Gurion. Por exemplo, os judeus ortodoxos se opuseram a que se escrevesse “Tzur Israel” em vez de citar a presença e proteção de Deus. Os representantes leigos rejeitavam todo e qualquer tipo de alusão religiosa. O abandono da Palestina pela Grã-Bretanha produziu um vazio político e legal. A Declaração veio preencher essa lacuna. Ela anuncia que a partir do dia 15 de maio de 1948, à meia- noite, outro Estado, conhecido como Israel, começa a governar. A Declaração é a que anuncia formalmente que nasceu o Estado de Israel. 117 - A Declaração de Independência de Israel é uma lei? Depois de declarar a independência do Estado de Israel, começaram as discussões sobre se a declaração deveria ser vista como uma Constituição ou um texto histórico-educacional. Em 1953, apareceu em um jornal comunista israelense “Kol Ha- Am” (A Voz do Povo) uma notícia falsa que afirmava que Israel 179 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal cederia aos Estados Unidos 200.000 soldados para lutar contra a União Soviética. O ministro do Interior decidiu fechar o jornal, acusando-o de ameaçar a paz pública. O Supremo Tribunal de Justiça determinou que não estava claro que a paz pública estava em perigo, de modo que, na ausência de uma lei formal e diante da possibilidade de duas ou mais interpretações, a lei deve ser decidida segundo o espírito da Declaração de Independência, na qual se garante a liberdade de expressão. Como podemos ver, quando não há uma lei e tampouco podemos adotar como referência a jurisprudência, a lei deve ser decidida segundo o espírito da Declaração de Independência, embora esta não seja uma Constituição formal. Se houver uma lei que contradiga formalmente aspectos da seção declarativa e que, ao mesmo tempo, não seja contrária a uma lei superior, essa lei valeria mais do que a Declaração de Independência. O caso a seguir confirma o explicado anteriormente. Um casal de um kibutz do movimento juvenil Ha-Shomer Ha-Tzair se casou na presença de duas testemunhas sem um rabino e sem assinar a ata religiosa. Ou seja, eles se casaram à sua maneira. A família, agora Rogozinsky, pediu à justiça que reconhecesse o seu casamento. A justiça decidiu que, segundo a Lei dos Tribunais Nupciais Religiosos de 1953, a autoridade competente para todos os assuntos relacionados a casamentos ou divórcios é o Tribunal Rabínico. Portanto, embora possa parecer injusto, a família Rogozisnky deve se casar pelo rabinato se quiser que seu matrimônio seja legalmente reconhecido. 118 - Por que Israel não adotou uma Constituição, e o que é uma Lei Básica? Israel não tem uma Constituição escrita (formal), mas uma “material”. Uma Constituição material também lida com as funções e limitações dos Poderes do Estado, e com os direitos 180 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal e obrigações do cidadão, mas todas essas leis não estão unidas em um texto chamado “Constituição”. A Declaração de Independência de Israel expressa o desejo de apresentar uma Constituição formal. A eleição da Assembleia Constituinte só ocorreu em fevereiro de 1949, e não como ditado pela referida Declaração em outubro de 1948, devido à guerra com os países árabes. A Assembleia Constituinte ditou a “Lei de Transferência de 1949” (Chok HaMaavar de 1949) que estabelece que o Poder Legislativo em Israel será chamado de Knesset (Parlamento) e que ela era a “Primeira Knesset”. Desta forma, não se apresentava uma Constituição conforme estabelecido pela Declaração de Independência. Entre aqueles que se opunham a uma Constituição escrita estavam os partidos religiosos (para eles, a única lei suprema era a Halachá, ou seja,a Lei Religiosa), e David Ben-Gurion, que argumentava que o conflito tornava difícil ditar normas supremas para tempos de paz, se o país se encontrava em estado de guerra. A discussão continuou até dia 13 de junho de 1950, quando o deputado do Partido Progressista Izahar Harari conseguiu aprovar a sua proposta de que uma secretaria da Knesset assumisse o papel da Assembleia Constituinte e preparasse uma Constituição, mas “por etapas”. A Knesset aprovaria essas “Leis Básicas” (chamadas de Chukei Iessod). As Leis Básicas são escritas no estilo de uma Constituiçãoe no futuro serão superiores às leis comuns. Se existir uma lei comum que contradiz uma Lei Básica, vale a lei que se apresentou por último, mas durante dois anos. Existem artigos “blindados” (Meshurianim) e para mudá-los, deve haver maioria de um número especial de deputados. Até agora, Israel emitiu 14 Leis Básicas. 119 - Como se desenvolveu a Guerra da Independência de 1948? 181 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O secretário-geral da Liga Árabe, Azzam Pashá, ameaçou: “Pessoalmente, eu espero que os judeus não nos forcem à guerra, porque seria uma guerra de extermínio e um massacre terrível, comparável aos estragos dos mongóis e das Cruzadas”. O futuro chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Ahmed Shukeiri, disse que a invasão buscava “a eliminação do Estado hebreu”, e a Universidade Islâmica do Cairo proclamou a Guerra Santa contra o sionismo. Depois de declarar sua independência, Israel é invadido pelo Líbano, Síria, Jordânia, Iraque, Arábia Saudita e Egito. O melhor exército árabe era o jordaniano, comandado pelo general britânico John Baggot Glubb e armado pelos próprios britânicos. Embora os Estados Unidos apoiassem fortemente a resolução de partilha, o Departamento de Estado não quis fornecer armas aos judeus. No dia 5 de dezembro de 1947, os Estados Unidos impuseram um embargo de armas à região. Ao longo da guerra, Israel consegue comprar armas da Tchecoslováquia com a aprovação da União Soviética. A guerra de 1948 foi dividida em três etapas: 1) Do dia 15/5/1948 ao dia 11/6/1948. Invasão de seis exércitos árabes e uma postura defensiva por parte de Israel. 2) Do dia 9/7/1948 ao dia 18/6/1948. Após o cessar-fogo, o Tzahal ataca os exércitos árabes, tomando a Galileia inferior e o caminho para Jerusalém. 3) De julho de 1948 a julho de 1949. Os árabes se rendem, e, no processo, Israel executa planos para proteger seus civis, dominando os terrenos de onde o país era atacado. Israel derrota os exércitos árabes, expande seu território no âmbito de uma guerra defensiva, pagando um preço doloroso: 1% de sua população morre em combate (6.373 pessoas, 2.373 delas civis). Territórios destinados ao estado árabe são ocupados pelo Egito (Gaza) e pela Jordânia (Cisjordânia), mas ninguém protesta nem se queixa dessa injustiça. 182 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Plano de ataque árabe publicado na imprensa árabe 120 - Por que Israel derrota os exércitos árabes invasores durante a guerra de 1948? Porque os civis judeus não tinham outra escolha: ou venciam, ou eram mortos e expulsos. Do ponto de vista estritamente militar, os árabes foram derrotados por sua falta 183 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de coordenação. Não é a mesma coisa lutar pela sobrevivência, como fizeram os judeus, e atacar alguém motivado por objetivos “abstratos” e guiado por líderes corruptos. Os judeus estavam mal preparados para a guerra de 1948. A Haganá tinha 6 divisões (Golani, Guivati, Carmeli, Alexandroni, Kiriati e Etzioni) e três outras divisões do Palmach (Harel, Yftach e Ha-Neguev). Durante a guerra, formaram outras três divisões e uma pequena força aérea (força 101). 6.373 israelenses morreram na guerra, 4.000 soldados e 2.373 civis. Eles lutaram contra 20.000 egípcios, 18.000 iraquianos, 5.000 sírios, 13.000 jordanianos e outros. O número exato de mortos árabes em 1948 é desconhecido. Segundo estimativas, morreram 2.000 egípcios, 1.000 sírios, 1.000 jordanianos, 500 iraquianos, 500 libaneses e mais 3.000 árabes da Palestina, totalizando 8.000 pessoas. De acordo com Aref El-Aref, que também inclui as mortes provocadas por disputas entre clãs árabes palestinos, o total é de 17.000 mortos (13.000 deles árabes da Palestina). Inclui os acertos de contas entre diferentes clãs árabes e palestinos, porque na guerra direta contra Israel morreram 3.000! Os países árabes assinaram acordos de armistício com Israel em 1949, começando pelo Egito (no dia 24/2/1949), seguido pelo Líbano (no dia 23/3/1949), Jordânia (no dia 3/4/1949) e Síria (no dia 20/7/1949). O Iraque foi o único país que não assinou um acordo com Israel. As linhas de cessar- fogo eram acordos militares de armistício e não fronteiras reconhecidas, embora, no caso do Líbano, a linha de cessar-fogo tenha sido estabelecida na fronteira internacional de 1923 e, no caso do Egito (em parte), a linha de cessar-fogo passasse pela fronteira de 1906 (com exceção da ocupação egípcia da Faixa de Gaza). 184 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 185 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 121 - É verdade que os árabes foram deliberadamente expulsos durante a guerra de 1948, transformando-se em refugiados? Durante anos, a historiografia israelense assegurou que os refugiados palestinos haviam fugido guiados por seus líderes, que pediam “que se permitisse a passagem dos exércitos que destruiriam os judeus”. O historiador Efraim Karsh resume: “Todos em 1948 sabiam que os árabes atacaram os judeus, foram derrotados e fugiram. Então, na década de 1950, eles tentaram apagar sua culpa inventando assassinatos” (filme”A Maldição de Adriano”). Por outro lado, a narrativa palestina garante que “todos foram expulsos para realizar uma limpeza étnica planejada com antecedência”. Um pioneiro em colocar as coisas em perspectiva foi Benny Morris, que em seus livros “O nascimento do problema dos refugiados palestinos 1947-1949” (de 1988 e revisado em 2004) e “1948” afirma que houve uma combinação de razões: ataques Israelenses e de grupos clandestinos que assustaram os árabes, expulsões e a aceitação de ordens de evacuação emitidas por líderes árabes. Em “1948”, Morris argumenta que não havia política de expulsão, embora o alto comando israelense tenha ordenado expulsões perante ataques locais. “Não há documentos para afirmar isso (uma expulsão intencional) e aparentemente não havia tal plano” (Morris em “A Maldição de Adriano”). A Organização das Nações Unidas afirma que os refugiados de 1948 foram 711.000 pessoas. De acordo com Morris, os árabes ricos ou acomodados (75.000-100.000) fugiram voluntariamente (de novembro de 1947 a março de 1948), repetindo o padrão da revolta de 1936-1939 e deixando sua comunidade acéfala. Em abril-julho de 1948, outros 300.000 seguem seus líderes e não há assédio israelense contra eles. Em julho de 1948, 100.000 pessoas foram expulsas de áreas estratégicas (Lod, Ramle). 186 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Por que um árabe-palestino fugiria da zona de combate? Possivelmente por medo. Talvez porque eles tenham assumido que os israelenses fariam com eles o que eles fizeram em seus massacres passados, como acontece quando executam vinganças entre clãs árabes. 122 - Existem testemunhos de líderes árabes que confirmam que sua liderança passada causou o problema dos refugiados palestinos? Em suas memórias (1972), o ex-primeiro-ministro sírio Khaled Al-Azam escreveu: “Desde 1948, somos nós que exigimos o retorno dos refugiados. (...) Embora tenhamos feito com que eles se fossem, causamos a desgraça dos refugiados árabes, instigando-os e pressionando-os a sair.(...) Nós os acostumamos a mendigar. (...) Participamos da redução de sua moral e de seu nível social. (...) Então, nós os exploramos para que cometessem assassinatos, provocassem incêndios, tudo isso a serviço de propósitos políticos”. Um líder do Comitê Nacional Árabe de Haifa, Hajj Nimer el-Khatib, disse que os soldados árabes em Yafo maltratavam os moradores. “Eles roubavam pessoas e casas. A vida tinha pouco valor e a honra das mulheres era violada. Esse estado de coisas levou muitos moradores [árabes] a deixar a cidade sob a proteção dos tanques britânicos”. Há muitos testemunhossobre a fuga dos árabes da Palestina com motivação própria. No dia 30 de janeiro de 1948, o jornal Ash Shaab de Yafo relatou: “Os primeiros da nossa quinta coluna são aqueles que abandonam as suas casas e os seus negócios e se mudam para outros lugares. Diante dos primeiros sinais de problemas, eles dão no pé, para evitar compartilhar o peso da luta”. Outro jornal de Yafo, As Sarih (de 30 de março de 1948), criticou os camponeses árabes das redondezas de Tel Aviv por “envergonhar todos nós, abandonando as suas aldeias”. Agora os palestinos e os seus 187 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal aliados reescrevem a história por razões políticas, auxiliados por certos acadêmicos. O Comitê Nacional Árabe de Jerusalém, seguindo as instruções do Supremo Comitê Árabe (8/3/1948), ordenou que mulheres, crianças e idosos de várias partes de Jerusalém deixassem as suas casas: “Qualquer oposição a esta ordem (...) é um obstáculo para a guerra santa (...) e dificultará as operações dos combatentes nesses distritos”(“1948 “, Benny Morris). 123 - Há mais testemunhos de líderes árabes que assumem sua culpa pelo problema dos refugiados palestinos? “Os estados árabes encorajaram os árabes da Palestina a deixar as suas casas, temporariamente, para não atrapalhar os exércitos árabes invasores”, publicou o jornal jordaniano Falestín (no dia 19 de fevereiro de 1949). O rei Abdullah da Jordânia, em suas memórias, culpou os líderes palestinos pelo problema dos refugiados: “A tragédia dos palestinos foi que a maioria de seus líderes ficou paralisada com falsas e infundadas promessas de que eles não estavam sozinhos, que 80 milhões de árabes e 400 milhões de muçulmanos, instantânea e milagrosamente, viriam em seu socorro”. “Os exércitos árabes entraram na Palestina para proteger os palestinos da tirania sionista, mas, em vez de fazer isso, eles os abandonaram, forçando-os a emigrar e deixar a sua terra natal” (Falastin A-Thaura, março de 1976). A revista The Economist informou no dia 2 de outubro de 1948: “Dos 62 mil árabes que anteriormente viviam em Haifa, não sobraram mais de 5 mil ou 6 mil. Vários fatores influenciaram na fuga. Não resta muita dúvida de que os fatores mais poderosos foram os anúncios de rádio feitos pelo Supremo Executivo Árabe, pedindo aos árabes que partissem.(...) O recado foi claro e objetivo: os árabes que permanecessem em Haifa e aceitassem a proteção dos judeus seriam considerados traidores”. 188 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal John Baggot Glubb, comandante da Legião Árabe da Transjordânia, disse: “As aldeias (árabes) eram frequentemente abandonadas, mesmo antes de serem ameaçadas pelo avanço da guerra”. Os testemunhos de 1948 (e imediatos) confirmam claramente que a vasta maioria dos árabes fugiu motivada por seus próprios líderes e pelo medo natural da guerra e das “vinganças tribais” que eles acreditavam que ameaçariam as suas vidas. Ao longo dos anos, o problema dos refugiados palestinos exigiu uma nova narrativa e uma nova versão da história, de modo a adaptá-la à necessidade da demonização de Israel. 124 - Há testemunhos individuais de que os árabes-palestinos não foram expulsos em 1948? Estão disponíveis dezenas de testemunhos que demonstram casos de abandono voluntário em vários lugares durante a Guerra de 1948 (esses testemunhos podem ser encontrados em https://www.youtube.com/watch?v=JxfJxuOWAz0). Fuad Khader, do povoado de Bir Ma’in (no centro de Israel), disse à TV jordaniana: “Fomos embora. Os que nos fizeram partir eram do exército jordaniano, porque eles iam para a batalha, e nós estaríamos sob os seus pés. Eles nos disseram: ‘Saiam. Em duas horas, vamos derrotá-los, e então vocês podem voltar’. Saímos somente com a roupa do corpo, não levamos mais nada, porque a ideia era que voltássemos em duas horas. Por que levar as coisas? Ainda estamos esperando essas duas horas até hoje”. Um refugiado de Ein Karem (Jerusalém) conta: “As estações de rádio dos regimes árabes viviam dizendo para nós: ‘Saiam da frente de batalha. Dentro de dez dias, ou pelo menos duas semanas, nós vamos trazer vocês de volta para Ein Karem’. E nós dissemos a nós mesmos: ‘Isso é muito tempo, duas semanas é demais’. Isso foi o que pensamos no momento, e já se passaram cinquenta anos”. 189 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Vejamos agora o que diz o principal interessado no problema, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, que, durante a guerra de 1948, fugiu de sua casa em Safed (Tzfat). Abbas contou à TV palestina: “O Exército de Salvação (árabe) se retirou da cidade (de Safed) no ano de 1948, fazendo com que o povo árabe começasse a emigrar de Safed, assim como aconteceu em Hebron. As pessoas estavam com medo de que os judeus se vingassem do massacre perpetrado pelos árabes em 1929 (Nota: Sessenta e cinco judeus foram mortos em Hebron, dezoito judeus de Safed). No ano de 1948, as pessoas foram vencidas pelo medo, o que fez com que elas saíssem da cidade de maneira desordenada”. 125 - Há mais testemunhos de que os árabes- palestinos não foram expulsos em 1948? O ex-parlamentar jordaniano Talal Abu Ghazaleh, que deixou Yafo (Jaffa) durante a guerra de 1948, disse: “Carros com megafones circulavam pelas ruas, exigindo que as pessoas saíssem para que os combates pudessem ter sucesso. Eles falavam conosco em árabe para que saíssemos das nossas casas: ‘Nós – os palestinos, os combatentes – queremos lutar, e não queremos que nos impeçam, por isso lhes pedimos que deixem a cidade (Jaffa) imediatamente’. Todos nós – eu, a minha família e os outros – fomos embora como pudemos. Fomos até o porto e embarcamos em um navio”. Asmaa Jabir Balasimah escreveu em suas memórias por que ele foi embora de Kfar Saba (cidade do centro de Israel): “Ouvimos sons de explosões e tiros no início do verão do ano da Nakba (1948). Disseram-nos que os judeus estavam atacando a nossa região e que era melhor evacuar a cidade e retornar depois que a batalha terminasse. E, de fato, entre nós, houve pessoas que deixaram a panela no fogo, pessoas que deixaram para trás os seus rebanhos de ovelhas e pessoas que largaram todo o seu 190 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal dinheiro e todo o seu ouro, presumindo que voltaríamos depois de algumas horas”. Outro testemunho vem de Gaza, de uma pessoa que deixou o povoado sulista de Majdal (hoje em dia Ashkelon): “O meu avô e o meu pai me disseram que, durante a Nakba, o nosso oficial distrital havia emitido uma ordem dizendo que quem ficasse na Palestina e em Majdal seria considerado traidor. Aquele que deu a ordem proibindo-os de ficar é culpado disso, nesta vida e na próxima, ao longo de toda a história, até o Dia da Ressurreição. Porque eu fui embora de Dir Al-Qasi (norte de Israel). Disseram- nos que voltaríamos ‘em uma ou duas semanas’”. Foi o que eles testemunharam na época. Hoje, eles reescrevem essa história. 126 - Podemos receber “mais confirmações” de que os árabes-palestinos não foram expulsos em 1948? O jornalista jordaniano Jawad Al-Bashiti conta: “Na Nakba Palestina, a primeira guerra entre os árabes e Israel havia começado, e o Exército de Salvação Árabe disse aos palestinos: ‘Viemos até vocês para exterminar os sionistas e os seus estados. Deixem as suas casas e as suas aldeias. Vocês voltarão para lá em segurança dentro de poucos dias’”. Mahmoud Al- Habbash acrescenta: “Os líderes e as elites nos prometeram, no início da Nakba no ano de 1948, que o exílio não seria por muito tempo, e que não duraria mais do que alguns dias ou meses, e então os refugiados voltariam para as suas casas. Casas que muitos deles não abandonaram até que acreditaram nas falsas promessas feitas pelos líderes e pelas elites políticas”. Mais uma vez, o presidente da Autoridade NacionalPalestina (originalmente de Safed), Mahmoud Abbas, disse: “Para ser sincero, nós estávamos assustados. Minha família decidiu – eu era o mais velho dos que saíram com a mulher do meu irmão e seus dois filhos – que eles não nos expulsariam. (...) Eu só tinha 2 pares de sapatos, um par novo e um já velho. Eu disse: ‘Vou com meus sapatos velhos e deixo os novos para 191 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal quando eu voltar’. Saímos com a esperança de que voltaríamos. Eles nos levaram para o leste de Safed, para o rio Jordão”. Ali Muhammad Karake confessou: “Quando ouvimos a notícia de que os judeus estavam perto da aldeia, o Exército de Salvação Árabe – que Allah os proteja – veio e nos disse: ‘Saiam da cidade para que isso não aconteça com vocês, como em Deir Yassin: Saiam, mas não se afastem muito da cidade, porque eles (os judeus) farão uma visita curta à cidade’. As pessoas saíram sem nada, não levaram nem mesmo pão, e foram para as montanhas, onde lhes deram tendas de campanha”. 127 - Quais são as diferenças entre outros refugiados no mundo e um palestino? Segundo a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados (1951), um refugiado é “aquele que, devido a medos fundamentados”, foge ou deixa sua casa, temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade etc. Esta pessoa não quer se beneficiar da proteção de seu país (não aceita ou não lhe dão nacionalidade). Isto é o que estabelece o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Sendo assim, os refugiados palestinos seriam aqueles que fugiram das guerras de 1948-1967, continuaram vivos e não receberam cidadania em outros países. Porém, o Estatuto dos Refugiados (1951) exclui os refugiados palestinos de 1948, que são “protegidos” e “assistidos” por DUAS Comissões Especiais da ONU pré-existentes (a UNCCP, que lida com a proteção e resolução do conflito, e a UNRWA, de assistência e emprego). Segundo a surrealista UNRWA, um refugiado é aquele que residia no Mandato Britânico entre 1/6/1946 e 15/5/1948. Como entender esse prazo “estreito”? Um grande número de árabes veio a Israel por causa do trabalho oferecido pelos britânicos e pelos sionistas. Se eles colocassem como data 192 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 1918, isso “atrapalharia sua narrativa”, já que, nessa época, viviam ali 600.000 árabes, e não 1.800.000,como em 1948. Surpreendentemente, um árabe é considerado “refugiado” mesmo que se tenha mudado de sua aldeia a outra a poucos quilômetros de distância, sob controle árabe. Esta é a definição mais incomum de “refugiados” da história. Atualmente, segundo os parâmetros hereditários e ESPECIAIS da UNRWA, há mais de “quatro milhões de refugiados palestinos” (outros afirmam que são 9 milhões), o que os torna a maior população de refugiados do mundo. Um em cada três refugiados é “palestino” e cerca de 60% de todos os palestinos têm o status de refugiado eterno. Que azar dos milhões de refugiados do mundo, que não gozam desse status de REFUGIADO DE LUXO! 128 - É verdade que os palestinos gozam de uma organização própria e única para eternizar o status de refugiado? A Segunda Guerra Mundial criou uma terrível crise humanitária. Somente na Europa foram contabilizados mais de 16 milhões de refugiados e deslocados. Este enorme problema foi enfrentado pela Organização Internacional de Refugiados (OIR), estabelecida pela Assembleia-Geral da ONU em dezembro de 1946 e herdada em janeiro de 1951 pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR ou UNHCR), que rapidamente se espalhou pelo mundo todo. Houve apenas uma exceção a esse padrão: os fugitivos árabes da guerra de 1948-1949, que receberam a sua própria agência de ajuda, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRPR), estabelecida em novembro de 1948 e transformada em 1º de maio de 1950 na UNRWA. E enquanto a UNHCR foi criada com um orçamento anual reduzido de US$ 300.000, a UNRWA foi estabelecida sob a suposição de que “o equivalente a aproximadamente US$ 193 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 33.700.000 seria necessário para programas de assistência direta e obras para o período de 1/1/1950 a 31/12/1950”. Em outras palavras, os refugiados palestinos receberam 110 vezes mais que o dinheiro destinado ao tratamento de todos os outros refugiados do mundo. Recentemente, o ACNUR possuía cerca de 11.000 funcionários, atendendo a 17,2 milhões de refugiados (1.568 refugiados por trabalhador) e 65,6 milhões de pessoas deslocadas. A UNRWA tinha mais de 30.000 funcionários que atendiam a cerca de 5,3 milhões de “refugiados” (176 refugiados por trabalhador). Em outras palavras, os “refugiados” palestinos recebem 10 vezes mais recursos humanos do que os seus colegas menos favorecidos em qualquer lugar do mundo e 34 vezes o apoio humanitário fornecido aos deslocados em todo o mundo. A UNRWA foi inicialmente concebida como uma agência transitória, embora o seu mandato tenha sido rapidamente perpetuado por motivações políticas, para pressionar Israel, de modo que os palestinos herdassem o status de refugiados indefinidamente. 129 - Existem relações e conexões entre a UNRWA da ONU e grupos terroristas? No sensacional livro “Barricada pela Paz: Reconsiderando as Políticas da UNRWA”, David Bedein explica que a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) arrecada anualmente cerca de 1 bilhão de dólares. Sabemos que nos últimos anos duas escolas da UNRWA em Gaza foram usadas para esconder foguetes e dois soldados israelenses morreram como resultado de uma bomba colocada sob uma clínica da UNRWA (2014). 194 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Hoje em dia, 99% dos 30 mil trabalhadores da UNRWA são palestinos, a grande maioria definida como “refugiados”. Os livros acadêmicos das escolas da UNRWA (do primeiro ano ao bacharelado), tanto na Cisjordânia (aprovados pela AP) quanto em Gaza (aprovados pelo Hamas), estão cheios de demonizações dos judeus, exaltação nos escritos e em poesia do mito do “direito ao retorno”, e, evidentemente, glorificações ao caminho da jihad e do martírio. Desde o ano 2000, os trabalhadores da UNRWA participaram ou ajudaram em ações terroristas. Por exemplo, em 2002, Nidal Abad Al-Fatal Abdala, líder do Hamas em Kalkilyah, servia como motorista de ambulância para a UNRWA e foi preso. No mesmo ano, Nahd Rashid Ahmad Atallah, um alto funcionário da UNRWA em Gaza, que alocava fundos para refugiados, foi preso e confessou que, na década anterior, havia entregado alguns desses recursos a parentes de terroristas procurados. Awad Al-Qiq, que foi diretor de uma escola da UNRWA e professor de ciências em Gaza, era, à noite, um terrorista fabricante de foguetes para a Jihad Islâmica como comandante de sua “unidade de engenharia”. Em Gaza, os laços entre o Hamas e as escolas da UNRWA são profundos. Cerimônias e competições do Hamas são organizadas em escolas da UNRWA, os professores são nomeados pelo Hamas e a UNRWA não se preocupa em verificar se as pessoas que lhe prestam serviços têm alguma ligação com organizações terroristas. 130 - Quantos árabes-palestinos abandonaram a zona de combate em 1948? No início do mês agosto de 1948, após oito meses de combates entre árabes e israelenses, o diretor do Projeto de Alívio de Desastres para a Palestina, Sir Raphael Cilento, estabeleceu o número de refugiados entre 300.000 e 350.000, e o Relatório à Assembleia-Geral do mediador Folke Bernadotte (16/9/1948) 195 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal apresentou um número ligeiramente superior: 360.000 refugiados. Outro relatório, apresentado um mês depois pelo sucessor de Bernadotte, Ralph Bunche, elevou o número para 472.000,estimando o número de pessoas que necessitariam da assistência da ONU por 9 meses, de 1/12/1948 a 1/8/1949, em 500.000. Em outubro de 1948, a Liga Árabe estabeleceu o número de refugiados em 631.967 e até o final do mês as estimativas oficiais árabes variaram entre 740.000 e 780.000. Quando a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (a UNRWA) começou a operar no mês de novembro de 1948, encontrou cerca de 940.000 refugiados em suas listas de ajuda. As autoridades americanas consideraram esses números extremamente exagerados, especialmente porque não havia tanta afluência de refugiados. Sir John Troutbeck, chefe do escritório britânico do Oriente Médio no Cairo, teve uma primeira impressão da inflação generalizada do número de refugiados durante uma missão de busca de informações em Gaza no mês de junho de 1949. Ele informou a Londres: “Os quakers têm quase 250.000 refugiados em seus livros. Eles admitem, no entanto, que os números não são confiáveis, já que é impossível deter todas as fraudes na implementação dos retornos. As mortes, por exemplo, nunca são registradas, nem os nomes são apagados dos livros daqueles que deixam o distrito clandestinamente. É perfeitamente possível também que alguns nomes estejam registrados mais de uma vez para obter rações adicionais”. A UNRWA começou ajudando 711.000 refugiados palestinos, e hoje os “refugiados” (quarta geração!) já chegam a 5,3 milhões. 131 - O que significa o termo Nakba Palestina? O termo “Nakba” foi cunhado e usado pela primeira vez por Constantino Zureik, um professor sírio da Universidade Americana de Beirute, em seu livro O Significado da Catástrofe 196 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal (Nakba) de 1948: “A derrota dos árabes em Israel não é apenas um erro ou um passo ruim, mas um desastre em todos os sentidos da palavra (...)”. A palavra Nakba é traduzida como “catástrofe” e se refere à criação do Estado de Israel. Após a Guerra dos Seis Dias e especialmente após o livro de Aref Al-Aref, o termo passou a ser associado com o fenômeno dos refugiados palestinos (que não foi a intenção de quem criou a palavra). A comemoração oficial deste dia foi proclamada pela primeira vez por Yasser Arafat em 1998, no 50º aniversário de Israel. No entanto, no final da década de 1950, o dia 15 de maio ficou conhecido como o “Dia da Palestina”, descrito pelos meios de comunicação árabes-muçulmanos como um dia de solidariedade internacional. O dia da Nakba é um dia de luto nacional palestino. A sua desgraça foi a criação de Israel, e por isso o dia escolhido é o dia de sua independência. A chave é um símbolo das casas que os avós palestinos deixaram para trás durante a guerra, considerando que “eles voltarão para as suas casas”, embora não haja nenhuma obrigação legal que sustente isso. O pesquisador israelense Meron Benvenisti escreve que foram “os árabes- israelenses que ensinaram os habitantes da Cisjordânia-Gaza a comemorar o Dia da Nakba”. Em 23/3/2011, o parlamento israelense aprovou uma lei pela qual o Ministério da Economia poderia reduzir ou suprimir o financiamento do governo a qualquer ONG israelense que comemorasse o Dia da Nakba. O termo moderno é usado como uma tentativa de equilibrar a “carga moral” do Holocausto, banalizando-o ao compará-lo com a Shoá. 132 - É verdade que durante a guerra de 1948 as comunidades judaicas nos países árabes foram destruídas? 197 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Com o desenvolvimento do sionismo e o estabelecimento de Israel, cerca de 850.000-900.000 judeus foram forçados a deixar os estados árabes, tornando-se refugiados. O processo começou na década de 1930, intensificado pela intenção da Liga Árabe de destruir o Estado de Israel, continuou a sua virulência nas décadas 1950 e 1960 com o pan-arabismo, quando as comunidades judaicas deixaram de existir. Esses judeus foram expulsos e/ou forçados a fugir de suas pátrias, temendo por suas vidas. Eles foram submetidos a perseguição e a diversos pogroms, embora não tenham de modo algum atacado os seus compatriotas árabes – à diferença dos refugiados palestinos, que fugiram após uma guerra de aniquilação que os seus líderes e os regimes árabes haviam travado contra os judeus. Essa destruição, chamada por alguns de “A Nakba judaica”, causou o desaparecimento de comunidades milenares, como a comunidade iraquiana, estabelecida após a expulsão dos judeus para a Babilônia (no ano 586 a.C.), ou centenárias, como as comunidades do norte da África (Marrocos, Argélia , Tunísia), que foram alimentadas pela emigração sefaradi na época da Inquisição, ou do Egito e do Iêmen, com raízes anteriores à destruição do Templo de Jerusalém (no ano 70). Essa destruição foi acompanhada por um movimento de refugiados, maior em tamanho do que o dos palestinos, mas provocado por um grupo que não tinha nada a ver com a guerra. Israel absorveu esses refugiados com enormes dificuldades, pois o número de indivíduos era equivalente ao da população do Estado recém-criado, com uma cultura diferente e sem recursos – embora em seus países de origem eles tivessem sido prósperos. A integração não foi idílica, mas hoje eles são uma parte fundamental de Israel. Infelizmente, os estados árabes não apenas não querem pagar uma indenização aos judeus que eles expulsaram, mas também se recusam a reconhecer essa atrocidade. 198 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 133 - É verdade que mais judeus do que palestinos-árabes foram deslocados durante a Guerra da Independência de 1948? A afirmação está correta. O número oficial de árabes que fugiram ou foram expulsos durante a guerra israelense-palestina (1948) é de 711.000 pessoas. Por outro lado, o número de judeus de países árabes, que não haviam atacado seus pares e foram obrigados a abandonar suas casas, chega a 850.000-900.000. Em 1948, os judeus do Marrocos totalizavam 265.000 pessoas, e, em 1976, esse número era de apenas 17.000. Na Argélia, no mesmo período comparativo, viviam 140.000 pessoas e ficaram 400; na Tunísia, viviam 105.000 e ficaram 200; na Líbia, viviam 38.000 e ficaram 20;no Egito, viviam 200.000 e ficaram 200; no Iraque, viviam 135.000 e ficaram 400; na Síria, viviam 30.000 e ficaram 4.350; no Líbano, viviam 55.000 e ficaram 1.000; e no Iêmen, viviam 8.000 e não ficou ninguém. Se em 1948 havia 880.000 judeus vivendo em países árabes, em 1976 havia apenas 25.620 e atualmente, nesses mesmos países, eles não chegam a 7.650. 199 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No Irã, desde a revolução islâmica, a situação da comunidade judaica persa foi minada. Em 1990, cerca de 55.000 judeus deixaram o país: 30.000 foram para os EUA, 20.000 para Israel e 5.000 para a Europa. Porém, como a comunidade recebe relativa autonomia cultural, ela geralmente não sofre insultos ou assédio dos muçulmanos. A comunidade tem um representante no parlamento iraniano, Morris Mutmad. Em julho de 2012, havia 8.756 judeus iranianos. Com o estabelecimento do Estado de Israel, e mesmo antes, a maioria dos judeus da Turquia emigrou para Israel, totalizando cerca de 55.500. Hoje, há cerca de 17.400 judeus na Turquia. Até novembro de 2003, por exemplo, 101 das 681 resoluções da ONU sobre o conflito do Oriente Médio estão ligadas diretamente aos refugiados palestinos. Nem uma única resolução mencionou os refugiados judeus de países árabes que, do ponto de vista numérico, foram mais. 134 - Quanto dinheiro em bens e propriedades os judeus reivindicam dos países árabes? A situação econômica de várias comunidades judaicas antes do ano de 1948 era boa. O colonialismo europeu levou a uma crescente demanda por profissionais ricos em conhecimento e idiomas para a tradução, contatos para o comércio, a corretagem alfandegária, a administraçãobancária e de dinheiro, profissões nas quais os judeus desempenhavam um papel central. A rápida “fuga” voluntária ou forçada dos países árabes significava que eles tinham que deixar para trás a maior parte de suas propriedades. A propriedade abandonada incluía terrenos, casas, empresas e lojas, contas bancárias e muito mais. A maioria das propriedades foi confiscada pelas autoridades estaduais ou apropriada por outros indivíduos e nunca foi devolvida aos seus proprietários. 200 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Existem diferentes estimativas do valor das propriedades judaicas deixadas ou confiscadas. A diferença entre as estimativas se deve à dificuldade de calcular o total de propriedades dos refugiados judeus em um grande número de países, assim como às diferentes formas de calcular as somas. No ano de 2007, a Organização Mundial de Judeus provenientes dos Países Árabes estimou que o total de ativos deixados para trás pelos 900 mil refugiados dos países árabes equivalia a cerca de 300 bilhões de dólares na década de 2000, e o total estimado de propriedades chegava a 100 mil quilômetros quadrados de terra. Por outro lado, o professor Sidney Zabludof, economista especializado em compensações aos sobreviventes do Holocausto, calculou que a propriedade total valia cerca de 6 bilhões de dólares (valores referentes a 2007), enquanto a propriedade total dos refugiados palestinos valia 3,9 bilhões de dólares. Embora seja necessário realizar um estudo aprofundado sobre o assunto, restam poucas dúvidas de que devem mais dinheiro aos judeus dos países árabes e que, no âmbito de uma solução para o problema dos refugiados, as dívidas em relação a eles devem ser levadas em conta. 135 - Como terminou territorialmente a Guerra da Independência de 1948? A Linha Verde entre Israel e a Jordânia era a linha de cessar- fogo (estabelecida nos acordos de Rhodes, acordos firmados por Israel e cada um dos países árabes vizinhos). As linhas de armistício incluíam quase todas as terras designadas para o Estado judeu no âmbito do Plano de Partilha, exceto por uma pequena área no sul do vale de Beit Shean, embora incluíssem grande parte da área atribuída ao estado árabe de acordo com a Declaração 181. Hamat Gader e Snir (costa nordeste do Mar 201 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal da Galileia), que deviam ser israelenses, também ficaram sob o controle do exército sírio. Depois de ser atacado, Israel acrescentou 5.700 quilômetros quadrados ao que a Partilha lhe atribuía. No final da guerra, o Estado de Israel se estendia por 20.770 quilômetros quadrados, representando 77% do Mandato Palestino pós-1922 (cerca de 27.000 quilômetros quadrados) e 17,30% da terra original da Palestina (incluindo a Jordânia). Antes da Partilha, 7% da terra eram propriedade judaica direta, incluindo áreas que pertenciam ao Fundo Nacional Judaico (KKL). A área acrescentada após o ataque árabe era de qualidade e relativamente abundante em sedimentos. Isso duplicou as áreas adequadas para a agricultura em comparação com as áreas do Plano de Partilha, que incluía aproximadamente 9.600 quilômetros quadrados da desértica área do Neguev meridional no estado judeu. Em poucos meses, a população judaica chegou a 1.000.000, depois que centenas de milhares de imigrantes chegaram à Palestina entre 30/11/1947 e a assinatura dos acordos de armistício em julho de 1949. A população não judaica (de fala árabe) que permaneceu no Estado de Israel era de aproximadamente 156.000 pessoas. Jerusalém Oriental (incluindo a Cidade Velha e os lugares santos) e a Cisjordânia foram conquistadas pelo Emirado Haxemita da Transjordânia e a Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito. O que seria o estado palestino, apesar de a Cisjordânia e a Faixa de Gaza estarem em mãos árabes. não foi criado. 202 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 203 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 136 - O que é a Declaração 194 da Assembleia- Geral da ONU? A Declaração 194 foi adotada (11 de dezembro de 1948) perto do fim da guerra árabe-israelense. As Declarações da Assembleia-Geral têm força legal somente se os envolvidos as aceitarem como válidas. O artigo 11 prevê que “os refugiados que desejarem voltar para as suas casas e viver em paz com os seus vizinhos devem poder fazê-lo o mais breve possível, e que a indenização pela propriedade deve ser paga àqueles que escolherem não voltar e pela perda ou danos à propriedade que, de acordo com os princípios do direito internacional ou equidade, devam ser resolvidos por governos ou responsáveis autorizados”. Em outras palavras, os árabes que reconhecerem Israel devem ser indenizados ou autorizados a retornar a seus lares (o último não é uma obrigação legal). A Declaração também previa o estabelecimento de uma Comissão de Conciliação da Organização das Nações Unidas (ONU) para facilitar a paz entre Israel e os árabes. Dos 58 membros da ONU (1948), a Declaração foi aceita por 35 países, com 15 votos contra e 8 abstenções. Não por acaso, os seis países da Liga Árabe representados na ONU e que fizeram parte do conflito, ou seja, Egito, Iraque, Líbano, Arábia Saudita, Síria e Iêmen, votaram contra a resolução. Portanto, carecia de valor legal. Israel não era membro das Nações Unidas na época, mas se opunha e ainda se opõe a parte dos artigos. Os palestinos não foram consultados diretamente. Desde o final da década de 1960, o artigo 11 tem sido citado de forma dramática, já que os palestinos o usam para argumentar um “direito” de retorno inexistente. A Assembleia- Geral tem reafirmado a Declaração 194 anualmente, desde 1949. 204 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Em 2008, Ehud Olmert propôs que se permitisse a entrada de 100.000 palestinos em Israel, no âmbito de um acordo final de paz. 137 - Qual é a situação dos refugiados palestinos nos países árabes? Os refugiados palestinos e os seus descendentes totalizavam (em 2018) vários milhões, divididos em Jordânia (2.247.768), Líbano (504.376), Síria (630.035), Cisjordânia (970.633) e Faixa de Gaza (1.388.668). O drama palestino foi exacerbado pelas políticas dos países receptores, que optaram por confiná-los em campos de refugiados, negando-lhes a cidadania – com exceção da Jordânia e, mesmo assim, parcialmente – apesar de pertencerem ao mesmo grupo sociocultural e apesar do fato de alguns deles serem descendentes de egípcios, sírios, jordanianos ou libaneses que chegaram à Palestina em busca de trabalho. Os que estão melhor são os jordanianos (cerca de 60% da população é palestina). Dois terços deles são considerados refugiados e vivem em 10 campos de refugiados. No Líbano, somente um quarto tem cidadania, eles não têm liberdade de trabalho em muitas profissões, e em seus acampamentos, às vezes carecem de serviços educacionais e de saúde. Eles nem sempre desfrutam de liberdade de movimento. No passado, sofreram o Massacre de Sabra e Chatila nas mãos dos cristãos maronitas. Na Síria, eles não têm cidadania ou direitos políticos, embora desfrutem de serviços educacionais, de saúde etc. Os palestinos também foram mortos no âmbito da guerra entre o ISIS e os xiitas. No ano de 2016, cerca de 30 palestinos foram mortos pelo ISIS no acampamento de Al-Yarmuk (outros 2.000, de 18.000, conseguiram fugir). Na Arábia Saudita, eles não têm cidadania ou direitos 205 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal políticos (e não podem solicitá-los),embora tenham o direito de trabalhar. No Iraque, muitos vivem em precários acampamentos da UNRWA e foram parcialmente assimilados durante os dias de Saddam Hussein, mas perseguidos pelos xiitas. A Liga Árabe ordenou que os seus membros negassem a cidadania aos refugiados palestinosoriginais (ou aos seus descendentes) “para impedir a dissolução de sua identidade e proteger o seu direito de retornar ao seu país de origem”. 138 - Pode-se dizer que houve limpeza étnica na Palestina? O conceito implica a eliminação sistemática ou a expulsão forçada de uma população por motivos religiosos, étnicos ou nacionais e é atualmente considerado “crime contra a humanidade”. Os capítulos anteriores nos mostram uma guerra entre duas identidades, às vezes entre exércitos irregulares, com erros militares como em Deir Yassin, crimes de guerra, como o fuzilamento de inocentes em Kfar Etzion, o assassinato proposital de civis (terrorismo) no comboio do Monte Scopus, expulsões em Lod ou Ramle e fugas com motivação própria. Usar a palavra “limpeza étnica” nesse conflito é banalizar o fenômeno, relativizando o seu uso correto. Israel também não chama de limpeza étnica a destruição das comunidades judaicas nos países árabes, embora, nesse caso, praticamente não tenham sobrado vestígios de vida judaica, enquanto, no caso palestino, cerca de 150 mil continuaram vivendo em Israel e a maior parte dos restantes permaneceu em suas casas, dentro do que era o Mandato Britânico (ou foram para a vizinha Gaza ou para a Cisjordânia). Um dos propagandistas que acusam Israel de ter cometido tal crime é um quase-historiador israelense chamado Ilan Pappe. Nós o chamamos assim porque o próprio Pappe disse em uma entrevista ao Le Soir de Bruxelas (no dia 12 de julho de 1999): 206 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal “Nunca haverá um historiador que seja objetivo. O que aconteceu me importa menos do que a forma como as pessoas veem esses fatos. Confesso que minha ideologia influencia os meus textos históricos. A luta é baseada em ideologia e não em fatos”. O historiador Benny Morris, em The New Republic, disse sobre “História da Palestina Moderna: Um Território, Dois Povos”: “Infelizmente, grande parte do que Pappe tenta vender para os seus leitores é montagem. Para aqueles que amam a subjetividade e dependem do relativismo histórico, um fato não é um fato e a precisão é inatingível”. 139 - Um palestino que abandonou sua terra em 1948 poderá voltar a ela? Após a guerra de 1948, muitos árabes-palestinos tentaram retornar às suas casas. Embora as tropas israelenses tenham impedido o retorno da maioria, Benny Morris (2003) explica que, entre 1948-1950, os soldados reassentaram entre 30.000 e 40.000 árabes dentro do novo Estado israelense. Em um contexto no qual a comunidade árabe repudiava a judaica e declarava guerra a ela, não devemos nos surpreender com a reação da liderança judaica. Até hoje, muitos palestinos não reconhecem que Israel tem o direito de existir como berço nacional do povo judeu. O governo do primeiro-ministro David Ben-Gurion organizou a recolonização das terras e distribuiu os bens imóveis que eles chamaram de “abandonados”. Para este fim, foi aprovada em 1950 a Lei dos Bens Ausentes, que gerenciava a transferência das casas árabes-palestinas para as mãos de judeus. Ao longo do caminho, cerca de 400 assentamentos árabes e palestinos foram destruídos, criando uma nova realidade. Desse modo, 64.000 lares árabes-palestinos já haviam passado para as mãos dos judeus em 1958. 207 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O principal objetivo era impedir que o equilíbrio demográfico se inclinasse em favor dos árabes, quando o que se pretendia era que o Estado de Israel tivesse uma maioria judaica. Não há nenhuma obrigação legal de permitir o retorno dos árabes aos territórios onde eles viviam antes de 1948 (a menos que se “invente” uma lei internacional). Todos os conflitos bélicos do mundo provocam refugiados. A situação palestina é especial, porque, no caso deles, eles mesmos causaram a sua desgraça ao atacar Israel em 1948. A insistência árabe-palestina sobre um retorno às coordenadas geográficas pré-1948 não é mais do que um mecanismo para impossibilitar um acordo de paz. Se o objetivo é transformar Israel em um estado binacional, forçando-o a receber cerca de 5 milhões de descendentes de palestinos, nenhum acordo será alcançado quanto a essa questão. 140 - É verdade que Israel aceitou o pagamento de indenizações por parte da Alemanha? O Acordo de Reparação entre Israel e a República Federal da Alemanha foi assinado no dia 10/7/1952 estabelecendo que a Alemanha pagaria a Israel os custos de “reassentar tantos refugiados judeus deslocados e destituídos” depois da guerra, indenizando os judeus individualmente, por meio da Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha, pela perda de propriedade judaica resultante da perseguição nazista. O dinheiro era essencial no meio da angústia econômica que Israel vivia (Tzena). O desemprego era muito alto (especialmente nas Maabarot, acampamentos temporários) e as reservas de divisas estrangeiras eram escassas. Nahum Goldmann, presidente do Congresso Judaico Mundial, estava negociando a questão com Konrad Adenauer, chanceler da Alemanha. Parte da população israelense considerava uma humilhação receber o dinheiro alemão (estes 208 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal eram liderados por Menachem Begin). A posição de Ben-Gurion e seu partido Mapai era pragmática: “Há duas abordagens”, disse ele ao comitê central de Mapai. “Uma é a abordagem do gueto judeu e a outra é de um povo independente. Eu não quero correr atrás de um alemão e cuspir no rosto dele. Eu não quero correr atrás de ninguém. Eu quero me sentar e construir aqui”. Israel comprou máquinas e infraestruturas que eram indispensáveis naquela época. Os negociadores calcularam que, uma vez que a absorção custara US$ 3.000 por pessoa, Israel devia 1,5 bilhão de dólares (corresponde a 14.500.000.000 hoje em dia). Eles também pensaram que os nazistas saquearam seis bilhões de dólares em propriedades judaicas, mas enfatizaram que os alemães nunca poderiam indenizar pelo que fizeram com qualquer tipo de recompensa material. O Parlamento alemão (Bundestag) aprovou o acordo no dia 18/3/1953 com grande maioria, 239 votos a favor e 35 contra. Em Israel, a oposição ao acordo traumático reuniu 15.000 pessoas em Jerusalém (em 7/1/1952). No entanto, a decisão foi aceita por 61 a 50 votos na Knesset. 141 - O que é a Lei do Retorno para os judeus? A Lei do Retorno de 1950 do Estado de Israel diz que qualquer pessoa que tiver um dos avós judeus tem o direito de acessar um processo acelerado para conceder-lhe a cidadania israelense. De acordo com as leis raciais nazistas, bastava ter um avô judeu e a pessoa estaria “infectada” como judia, e seria eliminada por isso. A lei do retorno em Israel é a contraposição simétrica das Leis de Nuremberg. Para ter acesso a esse direito, o indivíduo não deve ter abandonado a sua ligação com o seu povo (ou seja, não deve professar nenhuma outra religião), não deve ser um perigo para a segurança pública e a saúde pública etc. Até pessoas casadas com judeus recebem cidadania, para não separar famílias. 209 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal O imigrante é chamado de “olê” (aquele que sobe) e quem emigra de Israel é chamado de “iored” (aquele que desce). A subida e a descida têm o mesmo significado positivo e negativo, respectivamente, de repatriamento e exílio. O conceito também aparece na Bíblia. Subia-se para a sagrada Jerusalém porque a cidade ficava a 800 metros de altura, enquanto as aldeias da costa ou o vale do Jordão estavam localizados fisicamente “abaixo”. A Lei do Retorno para os descendentes gregos se aplica apenas aos gregos. A lei do Japão, apenas aos japoneses, e lei a dos búlgaros, aos búlgaros. A Lei do Retorno no berço nacional do povo judeu se aplica apenas aos descendentes do povo “judeu” (reinos da Judeia e Israel). Existem 18 paísesno mundo que têm a mesma lei. Negar esse direito apenas a Israel seria uma postura discriminatória. Um futuro estado palestino certamente terá uma lei semelhante para receber refugiados e não será nenhuma surpresa se eles não incluírem judeus que querem retornar a Hebron, Nablus etc. (embora vivessem nesses lugares até serem expulsos pelos árabes). 142 - Que princípios defendia o pan-arabismo? O pan-arabismo é um movimento que defende a unificação política, social e econômica entre os povos árabes e os estados do Oriente Médio. Eles defendiam uma identidade secular, socialista e antiocidental. Argumentavam que, ao expulsar as potências (e Israel), eles reconstruiriam os seus estados. Alguns acreditam que isso é uma extensão dos dias dos Omíadas (século VIII), em que uma única autoridade governava desde o Paquistão até a Espanha. A ideia foi formulada pela primeira vez no ano de 1905 por Najib Azoury em “O Renascimento do Nacionalismo Árabe”. O pan-arabismo se tornou uma ideia executiva dirigida por Hussein Iben Ali, que, com base em sua correspondência com McMahon 210 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal (de 1915), pretendia criar um reino supranacional árabe. Uma versão pan-árabe mais concisa do que a de Hussein Iben Ali foi formada na década de 1940 na Síria por Michel Aflaq, fundador do Partido Baath, baseada em elementos socialistas e fascistas italianos. A ideologia pan-árabe foi a base de várias tentativas de unir os estados nacionais árabes em uma entidade política, dentre as quais a mais proeminente foi a República Árabe Unida, que uniu o Egito com a Síria (entre os anos de 1958 e 1961) e incluiu árabes drusos, sunitas, xiitas e cristãos. O termo “nasserismo” funciona como sinônimo de pan- arabismo, por ser a política promovida por Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito, um pan-árabe radical. O Partido pan-árabe Baath é o atual partido governante na Síria e que governou o Iraque até a queda do regime de Saddam Hussein. O movimento pan-árabe atingiu o seu auge na década de 1960, mas a derrota árabe na Guerra dos Seis Dias prejudicou gravemente o seu apoio. Nas décadas de 1970 e 1980, o pan- arabismo foi suplantado pelo atual pan-islamismo. A decadente Liga Árabe (fundada em 1945) é uma amostra de ideias pan-arabistas. 143 - Quem foi Gamal Abdel Nasser e que papel ele desempenhou no conflito árabe-israelense? Gamal Abdel Nasser foi presidente do Egito a partir de 1954. Durante a Guerra da Independência, ele serviu como oficial de inteligência com o posto de comandante na brigada sudanesa do exército egípcio que invadiu Israel. Durante vários meses, ele sofreu um cerco imposto pelos israelenses às forças egípcias no “bolsão de Fallujah”. No ano de 1952, Nasser liderou a revolta militar contra o rei Farouk. Como resultado do golpe, as forças britânicas foram retiradas do Egito e o governo passou a ser liderado pelo general Muhammad Naguib. Em 1954, Nasser expulsou Naguib e tornou-se presidente de fato. 211 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal A proeminência de Nasser como líder do pan-arabismo deveu-se principalmente à sua personalidade carismática e às suas habilidades retóricas. Essa personalidade permitiu que ele transformasse fracassos em sucessos, tanto em termos de propaganda quanto na esfera política (como a sua derrota militar na guerra de 1956). Nasser nacionalizou o Canal de Suez, uniu muitos países do bloco de países não-alinhados, expulsou as potências ocidentais, permitiu a penetração massiva da União Soviética em seu país e, ao mesmo tempo, afastou o Egito do liberalismo. A sua ideologia foi apresentada em seu livro “A filosofia da revolução”, em que ele apresenta a teoria dos três círculos: o círculo árabe, o círculo muçulmano e o círculo africano. Nasser via o Egito como o líder desses círculos. Impulsionado por essas diretrizes, ele transformou países e organizações (Liga Árabe, OLP etc.) em fantoches pessoais. Gamal Abdel Nasser morreu de um ataque cardíaco no dia 28 de setembro de 1970, sete semanas depois de concordar com o fim da Guerra de Desgaste. Alguns anos antes, ele havia sido humilhado por Israel na Guerra dos Seis Dias (de 1967). O seu sucessor no poder foi o seu companheiro no curso de oficiais, Anwar Al-Sadat. Sem Nasser, o pan-arabismo viria a decair. 212 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 144 - Por que justamente os cristãos foram fortes promotores das ideais pan-árabes? Devemos mencionar dois cristãos que foram fundamentais no desenvolvimento do pan-arabismo. O primeiro é Najib Azoury (1870-1916), um libanês cristão maronita, autor do pilar “O Renascimento do Nacionalismo Árabe”. Nele, Azoury exortou abertamente as províncias árabes a romperem os seus laços com o Império Otomano. Além da natureza nacionalista do texto, ele exibia sentimentos antissionistas. Alguns argumentam que a única intenção de Azoury era encorajar os europeus a derrubar o Império Otomano. O segundo pan-árabe cristão de destaque foi o sírio Michell Aflaq (1910-1989), um dos principais teóricos do socialismo e nacionalismo árabes e fundador do partido socialista árabe Baath. Na França, ele conheceu o seu parceiro ideológico, o muçulmano sunita Salah Bitar, desenvolvendo ambos uma ideologia essencialmente secular. A sua ideologia gira em torno de um conceito de nação árabe, postulando que ela existe de acordo com uma identidade cultural e linguística, mais do que religiosa. Na era moderna, podemos destacar dois outros cristãos que defenderam posições pan-árabes. Um deles é o cristão copta Boutros Boutros-Ghali, um diplomata egípcio que serviu como secretário-geral da Organização das Nações Unidas (entre 1992 e 1996). Outro pan-árabe foi Tarek Aziz, um cristão católico que serviu como vice-primeiro-ministro do Iraque durante a época de Saddam Hussein. O ativismo pan-árabe dos cristãos no Oriente Médio é totalmente lógico... embora um tanto patético. Se o fator de coesão é que “todos falam árabe”, eles, que são cristãos, farão parte dessa identidade. Se, por outro lado, a identidade que une é a religiosa, então o islamismo sunita ou xiita os deixará de fora. Sendo esse o caso, eles muitas vezes exageram seu 213 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal antissionismo, antissemitismo ou antiocidentalismo em vez de defender os cristãos daqueles que realmente os atacam. O cristão palestino-chileno Daniel Jadue e o maronita-mexicano Alfredo Jalife Rahme demonstram o mesmo padrão de comportamento “cristão pró-islamista”. 145 - Quem foram os fedayins? Os “fedayins” (literalmente, “adeptos”, que são a versão não religiosa dos mujahidin) eram terroristas esporádicos ou treinados por Nasser que atuavam da Jordânia e de Gaza, em meados da década de 1950, violando a cláusula do Acordo de Armistício (1949), que proibia a incitação de hostilidades por forças paramilitares. No entanto, foi Israel que acabou sendo condenado por seus contra-ataques no Conselho de Segurança da ONU. Refugiados palestinos, ansiosos para reverter a sua situação ou incitados por países que foram derrotados na guerra de 1948, entravam em Israel atacando e partindo rapidamente. Segundo o historiador Martin Gilbert, entre os anos de 1951 e 1955, o número de israelenses mortos em ataques terroristas perpetrados por fedayins e patrocinados pelo Egito chegou a 967. Os ataques não foram realizados só do Egito, mas também da Jordânia, do Líbano e da Síria. Para Israel, essa situação era completamente insustentável. O diplomata israelense Abba Eban explicou ao Conselho de Segurança da ONU (no dia 30/10/1956) a situação que Israel enfrentava: “Durante os seis anos do Acordo de Armistício, ocorreram 1.843 casos de assalto à mão armada, 1.139 casos de confrontos com forças armadas egípcias, 435 casos de invasões a partir de territóriocontrolado pelos egípcios, 172 casos de sabotagem perpetrados por unidades militares e fedayins egípcios em Israel. Como resultado dessas ações de hostilidade do Egito em Israel, 364 israelenses ficaram feridos e 101 foram mortos”. Uma das ações mais cruéis executadas pelos fedayins foi 214 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal o ataque a um ônibus da Egged em Maale Akravim (a Subida dos Escorpiões), no caminho para Eilat, no dia 17/3/1954, em que 12 passageiros morreram e apenas 2 sobreviveram. Os atacantes vieram da Jordânia. A ação provocou uma dura ação de retaliação por parte de Israel. Os fedayins foram uma das causas que provocaram a guerra de 1956. Ataque de fedayins em Tel Mond (1956) 215 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 146 - Por que foi tão importante a Unidade 101 de Ariel Sharon? Após o final da guerra de 1948, os soldados israelenses não mostravam capacidade militar especial. Por exemplo, eles fugiram de vários confrontos na frente síria. No ano de 1953, a infiltração dos fedayins assumiu um caráter organizado, de modo que o primeiro-ministro David Ben- Gurion foi procurar o estudante de história Ariel Sharon para comandar a sua nova Unidade 101. A Unidade 101 recebeu um treinamento especial (na base da Sataf) para realizar represálias e dissuadir os árabes. Em outubro de 1953, depois que infiltrados da Jordânia assassinaram uma mulher e os seus dois filhos em Yehud, cidade do distrito central de Israel, eles realizaram uma represália contra os árabes da aldeia de Kibiya, de onde os atacantes haviam saído. Sessenta civis, incluindo mulheres e crianças, foram mortos durante a operação. O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou Israel, que tentou se esquivar da responsabilidade pela ação, alegando que tinha sido uma ação de civis furiosos (David Ben-Gurion declarou que nenhum soldado havia abandonado as suas bases durante a noite). A explicação dada por Ariel Sharon foi que a força não sabia que havia civis escondidos dentro das casas explodidas. Outra ação foi a invasão de Hebron no dia 21 de dezembro de 1953, em que Meir Har-Zion levou uma pequena força em uma incursão a pé, quarenta e dois quilômetros ao longo de um caminho montanhoso, ao coração de Hebron, para destruir a casa um terrorista procurado. A operação de Kibiya provocou uma discussão sobre a sua moralidade. Para contê-los, David Ben-Gurion decidiu dissolver a unidade, integrando-os à Unidade de Paraquedistas, após somente cinco meses de atividade. A contribuição da Unidade 101 foi fundamental para o exército de Israel. Eles transmitiram um exemplo 216 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de treinamento, coragem e eficiência na execução das operações, que foram copiadas pelo resto do exército. 147 - Por que a Grã-Bretanha, a França e Israel se unem para enfraquecer Nasser? A Guerra do Sinai é uma breve guerra desenvolvida de 29/10/1956 a 5/11/1956, na qual Israel, França e Inglaterra atacaram o Egito de Nasser, após uma série de graves agressões do presidente egípcio. Em 26 de julho de 1956, Gamal Abdel Nasser decidiu nacionalizar a companhia que administrava a passagem marítima pelo Canal de Suez. Esta empresa pertencia a capitais franceses e ingleses. A Grã-Bretanha, apesar de ter sido prejudicada por Nasser, estava menos interessada que a França em começar uma guerra contra o Egito. A França queria deter Nasser, parceiros estratégicos dos rebeldes argelinos. A Grã-Bretanha tinha uma aliança militar defensiva com a Jordânia, um país que queria entrar na guerra com Nasser. Por outro lado, a Grã- Bretanha também queria enfraquecer Gamal Abdel Nasser, que liderava um nacionalismo pan-árabe que colocava sua posição na Jordânia ou no Iraque em risco. Isso explica a participação da Inglaterra e da França. Entre 22 e 24 de dezembro de 1956, os franceses convocaram uma reunião secreta em Sevres com a Grã-Bretanha e Israel para coordenar uma operação militar contra o Egito. Foi acordado que a França defenderia, de bases israelenses, um ataque aéreo egípcio. Israel atacaria (paraquedistas) o Canal de Suez e imediatamente aceitaria um ultimato francês e britânico para retroceder a 20 km do Canal em troca da liberdade de passagem marítima. Como o Egito deveria rejeitar o ultimato, as potências atacariam os aviões egípcios em terra. As forças europeias entraram em combate levemente. Um ultimato soviético, e uma posição passiva dos Estados Unidos (não avisados do ataque), decretou a retirada das forças aliadas 217 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal do Sinai. Assim, Israel conseguiu uma vitória militar, embora tenha sido parcialmente derrotado no campo diplomático. Em troca de sua retirada militar, Israel exigiu a abertura de Tiran e a colocação de capacetes azuis (ONU) no Sinai. 148 - O que aconteceu na Operação Kadesh – Guerra do Sinai, em 1956? Após o golpe que levou Nasser ao poder no Egito (1954), ele assinou um acordo de armas com a Tchecoslováquia em setembro de 1955. O Egito tentou superar o poder militar de Israel e da União Soviética (através da Tchecoslováquia), pretendendo ter uma porta de entrada para o Oriente Médio. Segundo o acordo, o Egito receberia 200 tanques pesados e médios, centenas de peças de artilharia, 150 aviões de guerra, dando-lhe uma vantagem quantitativa sobre Israel. Israel não tinha nenhuma fonte para adquirir armas, mas sabia que tinha que dar um golpe preventivo em Nasser antes que o seu exército aprendesse a usar as novas armas. Depois de 1949, os árabes adotaram a “doutrina da guerra de responsabilidade limitada”. Segundo esta teoria, os agressores podem rejeitar um acordo de compromisso e brincar de guerra para ganhar tudo com a certeza confortável de que, mesmo se fracassassem, poderiam insistir em restaurar o status quo anterior ao que eles começaram. Em 1956, aquele que ameaçava com a guerra era Nasser. Em meados de 1956, Nasser novamente violou o Acordo de Armistício (1949) ao fechar o Estreito de Tiran à passagem de navios israelenses (segundo a lei internacional, bloquear a navegação representa um ato de guerra), estrangulando o acesso marítimo de Israel ao oceano Índico e à Ásia. Em 25/10/1956, o Egito assinou um acordo tripartite com a Síria e a Jordânia, que colocou Nasser no comando dos três exércitos. O bloqueio do Canal de Suez e Tiran à navegação 218 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal israelense, juntamente com o aumento dos ataques dos fedayins e a belicosidade dos últimos pronunciamentos árabes, levaram Israel, com o apoio da Grã-Bretanha e da França, a atacar o Egito em 29/10/1956. Ao mesmo tempo, a Inglaterra e a França realizaram a Operação Mosqueteiro para dominar o Canal de Suez, embora sua divisão militar tenha sido quase nula. 219 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 149 - É verdade que a França ajudou Israel a desenvolver uma central nuclear com fins militares? O principal promotor da ideia de dotar Israel de capacidade nuclear militar foi David Ben-Gurion. Ele acreditava que quando os árabes entendessem que Israel tinha capacidade nuclear, eles abandonariam a ideia de destruir o país, alcançando a paz a longo prazo na região. No mês de outubro de 1956, os franceses convocaram uma reunião secreta em Sevres para coordenar uma operação militar contra o Egito. Juntamente com esses acordos, a França se comprometeria a construir um reator nuclear de um megaton para Israel em Dimona (outubro de 1957). O principal arquiteto do projeto e da execução foi Shimon Peres. Os que se opunham diziam que era um projeto muito caro, que colocaria Israel frente a frente com os Estados Unidos ou que a segurança de Israel não se baseava na construção de uma bomba atômica,mas na prevenção de que toda a região fosse nuclearizada. Em 1963, com a ascensão de Eshkol ao cargo de primeiro- ministro e pressão do presidente Kennedy, houve uma mudança na política, e o desenvolvimento nuclear mudou para um perfil menor. O Dr. Avner Cohen afirma que, no final de maio de 1967, durante o “período de espera” antes da Guerra dos Seis Dias, Israel conseguiu construir um dispositivo nuclear improvisado depois de uma ardorosa atividade. O único suposto teste nuclear conduzido por Israel foi conhecido como o incidente de Vela: No dia 9/9/1979, um satélite Vela dos Estados Unidos, construído para detectar testes nucleares, relatou um sinal característico de uma detonação nuclear ao sul do Oceano Índico. Segundo o jornalista Seymour Hersh, a detecção foi o terceiro teste nuclear conjunto realizado por Israel e pela África do Sul. O ex-diretor geral da 220 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohamed El-Baradei, considera Israel um Estado com armas nucleares. Estima-se que Israel tenha entre 75 e 400 ogivas nucleares. 150 - Qual a política israelense em relação à utilização de armas nucleares? Israel, apesar de não ter provas conclusivas, é considerado um estado que possui bombas nucleares. É um dos quatro países com armas nucleares que não aderem ao Tratado de Não- Proliferação Nuclear (juntamente com a Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte). Os estados árabes, especialmente o Egito, tentaram forçar Israel a assinar tal compromisso, sem sucesso. Israel mantém uma política de “ambiguidade nuclear” ou “opacidade nuclear”. Israel nunca admitiu ter armas nucleares; em vez disso, repetiu ao longo dos anos que não seria o primeiro país a introduzir armas nucleares no Oriente Médio, sem determinar se não será o primeiro país a criar, revelar ou usar armas nucleares na região. O primeiro a afirmar isso foi o primeiro- ministro Levi Eshkol, na década de 1960. Na década de 1970, o primeiro-ministro Yitzchak Rabin afirmou que “também não seremos os segundos”. Durante a Guerra do Yom Kipur (no ano de 1973), o Ministro de Defesa, Moshe Dayan, sugeriu levar em consideração o uso da “arma do julgamento final antes da destruição do Terceiro Templo (Israel)”. Embora se suspeite que Israel tenha construído a sua primeira bomba nuclear no final da década de 1960, essa suspeita não foi confirmada publicamente por uma fonte interna até que Mordechai Vanunu, um ex-técnico nuclear israelense, revelou detalhes do programa à imprensa britânica no ano de 1986. Hoje em dia, Israel possui a capacidade de lançar mísseis com ogivas nucleares por meio de aeronaves, submarinos (como o alemão Delfim) ou mísseis balísticos transcontinentais. 221 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Mais cedo ou mais tarde, alguns dos inimigos árabes/ islâmicos de Israel provavelmente começarão a ampliar os seus objetivos e operações terroristas usando armas de destruição em massa. A estratégia israelense baseia-se em intimidá-los e frustrar suas tentativas por meio de ações diplomáticas ou militares (como quando Osirak foi destruído no ano de 1981). 151 - É comparável a situação de Israel com os desejos do Irã de desenvolver armas não convencionais (2019)? Para desenvolver armas nucleares, um país deve ter “intenções” e “capacidades”. Quando falamos de capacidades, nos referimos a três níveis: O desenvolvimento de mísseis precisos capazes de transportar cabeças não convencionais, saber como construir uma ogiva e a capacidade de enriquecer plutônio ou urânio (mínimo de 25 kg a 93%). Não restam dúvidas de que a República Islâmica do Irã tenha a capacidade de completar todos os três estágios. Quando se trata do Irã, devemos nos concentrar nas “intenções”. Em 30/04/2018, o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu revelou documentos roubados pelo Mossad mostrando que o Irã tem um programa secreto de armas nucleares (Projeto Amad) e assegurou que Teerã estava violando o acordo de 2015 que limita seu programa atômico (55.000 páginas e arquivos roubados de um depósito de Shorabad, ao sul de Teerã). É verdade que alguns meios de comunicação desmereceram a descoberta. Não foi o caso dos centros de inteligência e políticos do mundo (uma das razões que levaram os Estados Unidos a se retirarem do Acordo 6 + 1). As intenções do Irã não são “puras” ao esconder que eles violavam seus compromissos. Quando lemos as “intenções declaradas e públicas” do Irã, seus desejos de destruir fisicamente outro estado se destacam. O Irã está envolvido em milhares de ataques terroristas no mundo, armando e treinando 222 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal o Hezbollah e o Hamas, mantendo o presidente genocida sírio Bashar El-Assad e ameaçando outros reinos sunitas no Oriente Médio. Em suma, as intenções do Irã são destrutivas e ameaçadoras, enquanto suas capacidades técnicas são perigosas. Existe uma diferença legal fundamental. Os Estados não são obrigados a se comprometer com tratados internacionais. Israel nunca assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear, e o país não está comprometido, enquanto o Irã é obrigado a NÃO desenvolver armas nucleares (segundo acordo assinado durante o reinado do Xá). 152 - O que é a Organização para a Liberação de Palestina (OLP)? Em 1959, Yasser Arafat fundou a organização Al-Fatah no Kuwait. Para alguns, “outra manifestação nacionalista pan- arabista”. Esta é uma imagem incompleta, porque está faltando o fator religioso: Todas as vitórias de Maomé durante o seu califado são conhecidas como “Fatah”. O objetivo supremo da Al-Fatah era a destruição de Israel. Não havia então dominação israelense sobre a Judeia, Samaria ou Gaza, e assim isso significava que eles rejeitavam qualquer presença judaica na região. Em 1964, os países árabes convocaram uma conferência em Jerusalém Oriental para criar formalmente a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), subordinada ao pan- arabismo nasserista. O seu primeiro objetivo era destruir as tubulações nacionais israelenses que transportavam água do norte para o sul (Movil Artzi). Mais uma vez, o objetivo era destruir. A carta orgânica da OLP (1964) falava da destruição da “entidade sionista da Palestina” (artigo 15), mas não da fundação de um Estado palestino. A OLP era uma proteção para várias organizações, a mais forte delas a de Arafat, que se livrou do nasserismo após a 223 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal humilhação de 1967. Para conseguir essa unidade, Arafat não hesitou em eliminar rivais, como quando, após uma reunião de conciliação fracassada, ele jogou do telhado de um prédio o pró- sírio palestino Yussuf Orabi (em 1966). Modus Operandi: Além de sequestros de aeronaves, devem ser incluídos o assassinato de atletas israelenses nos Jogos Olímpicos, o sequestro e a morte de passageiros de ônibus em rotas israelenses (incluindo crianças) e bombas em várias cidades. Os objetivos civis prevaleceram amplamente sobre os objetivos militares. Em outubro de 1974, a Liga Árabe em Rabat (Marrocos) reconheceu a OLP como o “único representante legítimo do povo palestino.” Então, Yasser Arafat foi nomeado “observador” na Assembleia Geral (da ONU). Em 1993, a OLP foi reconhecida por Israel como único representante palestino, transformando- se nos líderes da Autoridade Palestina. 153 - O que é a Carta Nacional Palestina de 1968? A Carta Nacional de 1968 detalha (no artigo 9): “A luta armada é a única maneira de libertar a Palestina. É a principal estratégia, não apenas uma fase tática”. E no artigo 2 acrescenta: “A Palestina, com as fronteiras que tinha durante o Mandato Britânico, é uma unidade territorial indivisível”. No artigo 21, apresenta a sua fúria violenta: “Ao expressar a sua força na revolução armada palestina,o povo palestino rejeita todas as soluções que substituem a libertação da Palestina em sua totalidade e rejeita todos os planos destinados a eliminar o problema palestino ou a sua internacionalização”. Seguindo essa lógica, as negociações para dividir a terra contradizem os objetivos da carta. Como lemos, o conflito não era devido à “ocupação da Cisjordânia” (inexistente em 1964, quando a Organização para a Libertação da Palestina, a OLP, foi criada), e sim a única maneira de destruir Israel. 224 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal A Carta Nacional sofreu modificações, especialmente depois de 1967, quando Yasser Arafat assumiu o comando da OLP. A organização adotou um caminho menos pan-arabista, palestinizando a Carta Nacional e exigindo a formação da Palestina em lugar de Israel. Há quem veja na Carta “um documento histórico- declarativo”. Quando um líder árabe-muçulmano declara algo, ele deve ser levado a sério, uma vez que, através de sua declaração, ele está medindo a reação de seus seguidores (leia o livro de Eli Avidar, “O Abismo”). Quando afirmou reconhecer Israel, Yasser Arafat escreveu a Yitzchak Rabin que os artigos da Convenção Palestina que contradizem o conteúdo de sua carta eram “inválidos e impraticáveis”. A verdade é que, embora tenha sido realizada uma votação para cancelar os artigos terroristas, não houve dois terços de votos dos membros do conselho para a sua anulação, conforme exigido pela Constituição Palestina. Portanto, a Carta ainda se aplica do ponto de vista legal. 154 - Quem foi Yasser Arafat? Yasser Arafat nasceu no Cairo (em 1929). Um dado não anedótico é que o mufti Hajj Amin Al-Husseini era seu tio-avô. Fundador da Al-Fatah (Kuwait, 1959), deslocou o pan- árabe Ahmad Shukheiri para liderar a OLP após a derrota de 1967. No dia 13/11/1974, foi recebido na Assembleia-Geral da ONU como “chefe de Estado”, após 105 países (uma aliança árabe-islâmica-soviética-não-alinhada e outras ditaduras) votarem pelas “boas-vindas” a ele. Ele se mostrou desafiador, com sua kefia, dizendo: “Venho com um ramo de oliveira em uma mão e a pistola do combatente da liberdade na outra. Não deixem que o ramo de oliveira caia da minha mão”. A OLP começou a operar no Cairo e se mudou (no final da década de 1960) para a Jordânia. De lá, foram expulsos pelo rei 225 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal da Jordânia depois do Setembro Negro e, em seguida, foi Israel que os expulsou do Líbano em 1982, para agonizar na Tunísia depois de apoiar Saddam Hussein na Guerra do Golfo Pérsico em 1991. Encontrando-se encurralada e longe dos centros de poder, a OLP decide reconhecer formalmente Israel e declara que estava abandonando o uso da força. Depois de assinar o acordo, Yasser Arafat repetiu dezenas de vezes que ele havia imitado o Profeta Maomé em seu acordo com Hudaybiyah (ano 628), uma Hudna (Trégua), que poderia ser violada se isso favorecesse o Islã. No ano 2000, depois de rejeitar as concessões do primeiro- ministro israelense Ehud Barak (Camp David), ele retornou ao terrorismo, iniciando a Segunda Intifada (2000-2005). Ele faleceu em 2004. Dos 5,5 bilhões de dólares de ajuda internacional e impostos coletados entre 1994 e 2003, Arafat se apropriou de grandes quantias. No momento de sua morte, sua herança foi motivo de disputa. Tiveram que convencer e ameaçar sua esposa, Suha, para que o dinheiro escondido de Arafat fosse entregue ao povo palestino. Yasser Arafat com Muhammar Khadaffi, 1977 226 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 155 - Por que os palestinos recorreram à violência? Os palestinos recorreram à violência desde a época do Mandato Britânico, quando eles se opunham à imigração judaica e à compra de terras. O argumento que surge quando os refugiados palestinos tentam retornar às suas casas (em 1948) ou após a conquista da Cisjordânia (em 1967) não tem consistência factual. As motivações para tal violência são baseadas em princípios religiosos e nacionalistas. Para os líderes palestinos, os judeus não eram um povo, mas uma religião falsa, e eles estavam roubando terras sagradas islâmicas destruindo mesquitas muçulmanas. Essas acusações foram corroboradas pelo desenvolvimento “colonialista” dos judeus do Mandato Britânico. Mas há outro motivo: A sua fraqueza institucional e social. Quando não há coesão social (com disputas tribais) e falta capacidade construtiva, o mais simples e fácil é dizer “não”. É preciso muita força para dizer “sim” e renunciar. A política do “tudo ou nada” desenvolvida pelos palestinos desde a década de 1920 do século XX os condenou a um “pouco” momentâneo (embora os palestinos dominem 100% de Gaza e os territórios A e B da Cisjordânia). Uma visão materialista argumentará que “é tudo por causa da ocupação” e que eles são violentos porque não têm outra alternativa. Esse tipo de imputabilidade não ajuda os palestinos. Os atuais palestinos “DE FATO” têm o que perder, uma vez que controlam territórios e desfrutam de apoio econômico internacional desproporcional. Israel também é culpado pela tendência atual dos palestinos em relação à violência. De um lado, por não ter atuado de maneira contundente para desarticular o então nascente Hamas, acreditando que eles eram uma alternativa “social” para a OLP. Por outro lado, o contato e o controle das forças militares israelenses sobre os civis palestinos aumentaram o sentimento 227 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal de humilhação e, às vezes, manifestaram-se em comportamentos pouco nobres e violentos por parte dos soldados israelenses. 156 - Por que motivo a Guerra dos Seis Dias começou em 1967? A “Guerra dos Seis Dias” foi uma continuação da Guerra de 1956. Por que começou? 1) A Síria, que não sofreu a derrota de 1956, tinha uma nova liderança militar que atacou Israel, tentando desviar, ilegalmente, a rota do rio Jordão para “secar Israel”. Em 7/4/1967, os sírios atacaram tratores civis israelenses e, em combate aéreo, Israel derrubou seis aviões sírios. O Egito havia assinado (em novembro de 1966) um acordo mútuo de defesa militar com a Síria, que exigiu o socorro imediato de Nasser. 2) Em 17/5/1967, o Egito exigiu que as forças de paz da ONU evacuassem o Sinai. Nasser sabia que se tratava de um “casus belli” para Israel. 3) Com a retirada das forças da ONU, O Egito introduziu sete divisões com 100.000 soldados e 1.000 tanques em frente à fronteira israelense, violando os acordos após a guerra de 1956. 4) Em 23/5/1967, o Egito bloqueou o Estreito de Tiran à passagem de navios para Israel, em violação das Leis Marítimas da ONU, outra “causa de guerra”. 5) Em 30/5/1967, a pressão forçou a Jordânia a unir-se à aliança síria-egípcia, entregando o comando de suas forças a um general egípcio. Em 4/6/1967, o Iraque juntou-se à coalizão ofensiva. 6) A OLP e seus aliados nos países árabes tinham aumentado seus ataques contra Israel. Em 1965, 35 ataques foram realizados contra Israel. Em 1966, aumentaram para 41. Apenas nos primeiros quatro meses de 1967, 37 ataques foram realizados. 7) Nasser, presidente do Egito, disse claramente: “Não vamos aceitar nenhuma coexistência com Israel. (...) Hoje, 228 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal o problema não é o estabelecimento da paz entre os estados árabes e Israel. (...) A guerra com Israel está em vigor desde 1948”. O governo de Israel não queria a guerra e a temia. Os militares consideraram que era necessário contra-atacar, o que no caso significava um ataque preventivo, porque, sem o fator surpresa, Israel não poderia sobreviver. 157 - Que territórios Israel conquistou na guerra de 1967? A guerra começou no dia 5 de junho de 1967, quando Israel lançou a “Operação Foco”, um ataque surpresa contra aviões e bases aéreasegípcias enquanto eles ainda estavam em terra (eles atacaram às 8h00 da manhã). O Egito perdeu 286 de suas 420 aeronaves de combate, 13 de suas bases aéreas mais importantes e 23 estações de radar. Isso deu a Israel uma vantagem nos combates aéreos durante toda a guerra. Poucos minutos após o início da Operação Foco, a Jordânia começou, por volta das 11h15 da manhã, uma série de bombardeios da parte israelense de Jerusalém e um ataque a alguns dos principais edifícios, incluindo o Palácio do Governo. Às 12h30min de 5/6/1967, a força aérea israelense atacou a jordaniana, destruindo grande parte dela em terra. Em três dias, o exército egípcio foi derrotado, o exército jordaniano foi destruído em dois dias e o exército sírio, em um dia e meio. A agressão anterior da aliança egípcia-síria-jordaniana foi derrotada em apenas seis dias. Cerca de 15.000 egípcios morreram na guerra, outros 5.600 foram feitos prisioneiros. O rei da Jordânia declarou que 6.000 soldados jordanianos foram mortos. A Síria perdeu 1.000 soldados. Os árabes tiveram 45.000 feridos e outros 6.000 foram feitos prisioneiros. Do lado de Israel, morreram 779 soldados, especialmente na frente jordaniana. Outros 2.593 israelenses ficaram feridos e 15 foram feitos prisioneiros. Do ponto de vista territorial, Israel ocupou, 229 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal da Jordânia, as terras da Judeia, Samaria e Jerusalém Oriental, um total de 5.875 km². No Egito, Israel ocupou a Faixa de Gaza (363 km²) e a Península do Sinai (61.000 km²). Da Síria, Israel conquistou as estratégicas Colinas de Golan (730 km²). Mais de um milhão de palestinos ficou sob domínio israelense nas áreas da Judeia, Samaria e da Faixa de Gaza. Israel amplia o território que dominava, ocupando as áreas em laranja 230 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 158 - Por que a Guerra dos Seis Dias em 1967 foi tão importante? A guerra de 1967 produziu uma mudança: era a terceira derrota árabe sucessiva (haveria mais uma), mas era a segunda derrota do “pan-arabismo”. Foi um golpe mortal para a liderança de Nasser. Para os árabes, a derrota teve um efeito moral devastador, e por isso eles chamaram o combate de “Naksa” (o revés). Se em 1947 a partilha da Palestina havia dividido a nação árabe emergente, a expansão israelense de 1967 foi vista como uma humilhação para os árabes. A guerra de 1967 determinou uma mudança qualitativa. Israel alcançou o que é conhecido militarmente como “profundidade estratégica” ao deixar de estar “dentro do alcance do canhão do inimigo”, uma situação que perdurou por 20 anos. Ao contrário, as capitais dos países inimigos ficaram sob a mira das FDI. No entanto, Israel não sabia ao certo o que queria fazer com o que havia conquistado. A visão do Ocidente não foi unívoca. Israel deixou de despertar a simpatia da esquerda (não comunista) e do progressismo, já que, depois de 1967, era visto como uma potência “ocupante”, conforme fizera o próprio Ocidente, de acordo com essa visão, durante seus dias coloniais. A questão palestina assumiu uma nova dimensão devido à conjunção dos fatores mencionados e porque milhares de palestinos passaram a viver sob controle militar direto de Israel. Os danos causados pelo contato militar israelense- palestino foram sentidos pela segunda e terceira gerações de árabes-palestinos, que não conheceram a ocupação jordaniana (e egípcia) e que iniciaram a Intifada de 1987. Depois da Guerra dos Seis Dias, em agosto de 1967, os países árabes se reuniram em Cartum (Sudão), emitindo um comunicado conhecido como “Os três nãos de Cartum”: “Não haverá paz com Israel, não reconheceremos Israel, não 231 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal negociaremos com Israel”. Depois de 1967, começamos a falar muito mais sobre o conflito palestino-israelense que sobre o conflito árabe-israelense. 159 - Qual foi a postura das Nações Unidas em relação à guerra de 1967? O que é a Resolução 242 do Conselho de Segurança? A Organização das Nações Unidas elaborou um conhecido projeto de paz do Conselho de Segurança, a Resolução 242, que se baseia em: 1) Retrocesso das forças israelenses dos territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias; 2) Fim dos conflitos militares, respeitando o direito de todos os países da zona a viver em paz na sua integridade territorial; 3) Solução para o problema dos refugiados palestinos no âmbito de um acordo de paz. A ONU se comprometia a enviar um mediador para negociar um acordo de paz segundo a Resolução 242. Em princípio, Israel viu negativamente o pedido de retrocesso dos territórios conquistados, embora a declaração oficial (na versão em inglês) não dissesse de “todos os territórios”, permitindo o domínio israelense sobre locais importantes para a sua segurança. Os países árabes a rejeitaram imediatamente, embora mais tarde a Jordânia, o Egito e a Síria a tenham aceitado. Talvez o aspecto mais notório desta resolução tenha sido o fato de que ela foi aceita pela União Soviética e pelos Estados Unidos. Embora os palestinos não fizessem parte da Resolução 242, ela se tornou a base para a assinatura de Israel nos Acordos de Oslo (1993) com a OLP. A Resolução 242 do Conselho de Segurança (da ONU) não compromete legalmente, embora Israel a aceite desde dezembro de 1967. Não implica sanções, uma vez que se baseia no artigo VI da Carta da ONU, que trata de “conflitos cuja continuidade pode comprometer a manutenção da paz e a segurança internacional”, sendo que as resoluções obrigatórias 232 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal e vinculantes são aquelas relacionadas com o artigo VII, que são “ameaças à paz, violação da paz e atos de agressão”. Em dezembro de 2016, o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 2334 (artigo VI), que contradiz a 242, estabelecendo uma fronteira (Linha Verde) onde não havia uma. 160 - Qual foi a atitude da população israelense diante da ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza? Na frente interna, a população israelense “se apaixonou” pela Judeia, Samaria e Gaza. Alguns passeavam ou faziam negócios lá, enquanto outros encontraram mão de obra barata para as suas empresas. Indústrias inteiras, como a da construção civil, passaram a depender do trabalho palestino, uma situação que geraria problemas no futuro próximo. Houve amplo consenso israelense sobre a necessidade de manter o controle sobre parte dos territórios ou sobre os territórios inteiros. Até 1967, Israel não tinha “profundidade estratégica militar”, dificultando a defesa de civis. Agora, as fronteiras estavam muito mais longe das concentrações populacionais. Dentro de alguns partidos políticos, a vitória de 1967 foi entendida como uma era messiânica. De um modo geral, todo o mapa político israelense se inclinou acentuadamente para a direita. A mudança mais drástica foi experimentada pelo Mafdal (partido sionista neo-ortodoxo), cuja liderança foi lentamente suplantada por uma nova liderança ativista que defendia o direito judaico sobre todos os territórios. Às vésperas da Guerra dos Seis Dias (1967), havia um medo existencial em Israel (eles acreditavam que 100 mil israelenses perderiam as suas vidas). A memória das duras batalhas por Jerusalém em 1948, da queda e destruição de seu bairro judeu e os temores de antes da guerra estavam na base de uma sensação de euforia e onipotência sobre a qual se ergueram os grupos que viam nesse desenvolvimento parte de um processo de redenção. 233 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Estrategicamente falando, os israelenses se apaixonaram por sua força aérea, desenvolvendo a concepção errada de que nenhum novo ataque ocorreria sem a superioridade árabe naquela área. Muito poucos israelenses consideraram que o contato militar diário com uma populaçãocivil causaria uma deterioração do espírito defensivo de seus soldados, forçaria soldados a agir como policiais e que os palestinos se sentiriam humilhados pela presença judaica em todas as áreas de suas vidas. 161 - O que o governo israelense decidiu fazer com os territórios conquistados na Guerra de 1967? Em setembro de 1967, a Cúpula da Liga Árabe em Cartum (Sudão) emitiu seu comunicado chamado “Os três nãos de Cartum”: “Não haverá paz com Israel, não reconheceremos Israel, não negociaremos com Israel”. Os israelenses entenderam que não havia ninguém com quem negociar, de modo que passaram a estudar outras opções. O governo considerou que a Península do Sinai (Egito) e as Colinas de Golan (Síria) serviriam como moeda de barganha no âmbito de um acordo de paz bilateral. Israel devolveu a totalidade do Sinai ao Egito (1979) e o território reivindicado pela Jordânia foi restaurado (1994). Até hoje, aproximadamente 94% dos territórios obtidos nessa guerra (1967) foram entregues por Israel a seus vizinhos árabes no decorrer das negociações. Isso demonstra a disposição de Israel em fazer concessões territoriais. A posição do Partido Trabalhista no poder estava enquadrada no plano do ministro Yigal Alon. Israel devia, por uma questão de segurança, impedir a penetração de terroristas da Jordânia, estabelecendo bases e assentamentos no Vale do Jordão, e o mesmo deveria acontecer nas primeiras colinas a partir do leste, na cordilheira do centro do país, tudo isso por 234 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal motivos de segurança. O resto do território poderia ser entregue a uma autoridade árabe. É assim que o assentamento de Kiryat Arba (anexado a Hebron) e os 6.000 israelenses que atualmente vivem no Vale do Jordão foram estabelecidos. Moshe Dayan, ministro de Defesa na época, acreditava que não havia possibilidade de chegar a acordos cabais, conforme proposto por Alon, de modo que ele sugeria permitir que os palestinos vivessem como jordanianos, passando livremente para lá. Por essa política, os árabes-palestinos passariam para a Jordânia pela ponte Allenby. Ambos os planos foram executados. Com a chegada do nacionalista Likud, uma política de fatos consumados foi imposta para expandir o controle israelense sobre a Cisjordânia. Plano de Yigal Alon 235 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 162 - Todos os palestinos vivem nos territórios que Israel ocupou em 1967? A maior parte da concentração palestina, mais de quatro milhões de pessoas, embora não se realizem censos (intencionalmente), está localizada na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Hoje em dia, em Gaza, existe um estado palestino de fato governado pelo Hamas e outro protoestado nos territórios A e B da Cisjordânia. Muitos dos que partiram após a guerra de 1948 passaram a viver nos numerosos campos de refugiados do Líbano, da Jordânia e da Síria. A sua situação varia de país para país. O que eles têm em comum é que eles foram usados por seus irmãos árabes como bucha de canhão, sem qualquer proteção ou qualquer direito. A identidade palestina foi tomada como bastarda pelos líderes pan- árabes, começando com Nasser, mas continuando com os emires do Kuwait ou os presidentes do Iraque. Pouco mais de 20% da população de Israel são árabes (palestinos), ou seja, cerca de 1,7 milhão de pessoas. A cidadania israelense que eles possuem lhes permite desfrutar de direitos civis desconhecidos entre os seus pares árabes no Oriente Médio e um status econômico superior a quase todo o restante dos palestinos, que não foram integrados nos países que supostamente lutaram por eles em 1948 e geraram o seu drama. Em Israel, encontramos representantes palestinos na Knesset, no Supremo Tribunal de Justiça e em vários órgãos estatais e se constata hoje em dia (em 2019) um aumento no recrutamento de árabes israelenses nas forças de segurança ou no serviço nacional (voluntariado social ligado ao exército). A consciência palestina de pertencer a um único povo teve um despertar tardio e a dispersão não foi tanto um obstáculo como um fator de ligação. A conformação de uma nacionalidade palestina tem um claro impulso com a criação do Estado de Israel e é fortalecida após a Guerra dos Seis Dias. 236 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal 163 - Em que situação se encontramos palestinos que vivem dentro do Estado de Israel? Após a criação do Estado de Israel, cerca de 150.000 árabes permaneceram dentro de Israel (a maioria deles muçulmanos). Naquela época, eles representavam cerca de 15% da população e hoje eles são pouco mais de 20%. O governo decidiu impor um governo militar às cidades árabes até 1966, porque os árabes eram vistos como inimigos por terem lutado contra os judeus na Guerra da Independência. Uma situação completamente lógica para a época. Como resultado da nova realidade, entre 1948 e 1967, eles perderam as ligações diárias com os palestinos além da Linha Verde. Os israelenses gostam de chamá-los de árabes- israelenses, embora, hoje em dia, muitos deles prefiram ser chamado de palestinos com cidadania israelense. A maioria deles vive no norte, nas proximidades da antiga cidade cristã de Nazaré (um centro econômico). A maioria da população de Nazaré é árabe muçulmana e, muitas vezes, atormenta os seus pares árabes cristãos. Além disso, eles habitam cidades consideradas “mistas”, de árabes e judeus, como Haifa, Yafo ou Acco (Acre), as três no Mar Mediterrâneo. Outra concentração de palestinos, cerca de 200.000 pessoas, vive em Jerusalém Oriental, que esteve em mãos jordanianas até 1967. Após a guerra de 1967, eles receberam a oportunidade de obter a cidadania, mas a rejeitaram quase completamente. Desde então, foram autorizados a trabalhar e entrar em Israel, e podem votar nas eleições municipais, mas não no parlamento. Eles são residentes permanentes. Parte desses bairros em Jerusalém Oriental é indiretamente dominada pela Autoridade Palestina. Hoje em dia (2019), nota-se uma tendência à integração da minoria árabe (especialmente a minoria cristã). Uma pesquisa realizada entre os árabes israelenses pelo Instituto de Democracia de Israel (2007) já mostrou que 75% apoiavam 237 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal o Estado de Israel como um Estado judeu e democrático, que garantias igualdade de direitos para as minorias. 164 - O que foi a Guerra de Desgaste? A que nos referimos quando falamos do “País das Perseguições”? Foi uma longa e dura série de batalhas fronteiriças entre Israel e o Egito, e na frente israelense-jordaniana. O raciocínio do presidente Gamal Abdel Nasser para começar os incidentes foi explicado pelo assessor do regime, o jornalista egípcio Mohamed Heikal: “Se tivermos sucesso em fazer 10 mil vítimas, eles inevitavelmente serão forçados a parar de lutar, porque eles não têm reservistas”. O presidente egípcio Nasser acreditava que “o que foi levado à força deve ser restaurado à força”. A guerra de intensidade média começou no dia 01/7/1967, quando um comando egípcio assumiu uma posição em Ras el- Ish, a 16 km de Port Said, uma área nas mãos de Israel desde o cessar-fogo de 9/6/1967. A vingança israelense ocorreu na noite de 30/10/1967, quando os comandos helitransportados (Sayeret Matkal) destruíram a principal fonte de eletricidade do Egito. Israel foi atacado em bases e posições fixas (Linha Bar- Lev). Durante a Guerra de Desgaste, 1.424 soldados israelenses foram mortos e outros 3.000 ficaram feridos. A Força Aérea de Israel perdeu 14 aeronaves. De acordo com o historiador israelense Benny Morris, cerca de 10.000 soldados e civis egípcios foram mortos e 98 aeronaves foram destruídas. No entanto, os egípcios não publicaram dados. Os egípcios consideram esta batalha uma vitória, porque eles não foram derrotados, e o mesmo acreditam os israelenses,que controlaram uma ofensiva egípcia auxiliada pela União Soviética. A Guerra de Desgaste também foi vivida na frente jordaniana. A terra das perseguições (“Eretz Hamirdafim”) é o nome dado ao Vale do Jordão e à parte oriental das montanhas 238 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal da Judeia e Samaria, ao norte do Mar Morto. Até que a Jordânia assassinou palestinos no Setembro Negro (1970), comandos terroristas foram mortos, em centenas de perseguições, quando entravam da Jordânia para realizar atentados em Israel. Israel perdeu soldados e oficiais que lideraram tais perseguições. 165 - O que é o chamado “Setembro Negro”? Os combatentes da OLP não só atacavam Israel na “Terra das Perseguições”, mas também aspiravam derrubar o rei jordaniano Hussein (eles tentaram assassiná-lo duas vezes) por considerá-lo um aliado do imperialismo. As ações da OLP complicaram o rei na arena internacional, já que os aviões sequestrados consecutivamente (1970) por palestinos se dirigiam a seu território. Nos sequestros de Dawson’s Field, três aeronaves foram forçadas a aterrissar em Zarka, os seus passageiros estrangeiros, tomados como reféns, e os dispositivos, detonados na pista, em frente à imprensa internacional. Hussein viu o evento como a gota d’água e ordenou que o seu exército avançasse. Em 17 de setembro de 1970, os jordanianos começaram a bombardear os campos de refugiados palestinos. Os fedayins foram expulsos um por um, até que o último contingente de 2.000 combatentes palestinos se rendeu ao ser encurralado em uma floresta perto de Ajloun, no dia 17 de julho de 1971, marcando o fim do conflito. A organização do Setembro Negro foi criada durante o conflito para realizar represálias. O grupo assumiu a responsabilidade pelo assassinato do primeiro-ministro jordaniano que os reprimiu, Wasfi Al-Tal (1971), e pelo assassinato de 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos de Munique (1972). O número de palestinos mortos foi estimado pelos jordanianos em 2.500, enquanto Yasser Arafat calculou que houve 3.400 mortos e 10.800 feridos. De acordo com Israel, esse número é muito maior: cerca de 20.000. A dinastia Haxemita 239 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal assegurou o seu governo na Jordânia, enquanto os terroristas palestinos encontraram um novo lugar para as suas atividades: o Líbano. As forças jordanianas relataram a perda de 537 de seus membros. Depois de provocar o vácuo institucional e a anarquia na Jordânia, a OLP passou a fazer o mesmo no Líbano, participando da guerra civil contra os cristãos maronitas. Eles ficaram lá até 1982. 166 - O que aconteceu nas Olimpíadas de Munique de 1972? Nem todo terrorismo é idêntico: Existe “terrorismo romântico” (Narodna Volya); “terrorismo personalizado”, como o da ETA (que realizou algumas ações indiscriminadas); “terrorismo indiscriminado”, quando se mata o máximo de civis possível, de propósito; “terrorismo suicida”, e, finalmente, “terrorismo com armas não convencionais” (biológicas, químicas, atômicas). O modus operandi da Organização pela Libertação da Palestina (a OLP) nas décadas de 1970 e 1980 foi o terrorismo indiscriminado. Há pessoas com uma bússola moral mal-ajustada que glorificam aqueles que assassinaram civis deliberadamente (Leila Khaled ou personagens semelhantes). A questão parece exceder as circunstâncias do conflito israelense-palestino e estar ligada a uma valorização da violência pessoal como um ato heroico, enquanto medidas diplomáticas e políticas, ou ações de construção institucional, tendem a ser vistas por eles como “fracas” ou “concessivas”. Este padrão de santificar o terrorismo dificulta a solução de um conflito que só pode ser alcançada por meio do compromisso. Uma das ações terroristas da OLP foi o sequestro de atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos em Munique (no mês de setembro de 1972) para trocá-los por 234 prisioneiros palestinos abrigados em prisões israelenses e conseguir a 240 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal libertação dos fundadores da Fração do Exército Vermelho, Andreas Baader e Ulrike Meinhof, presos na Alemanha. Eles entraram nos quartos dos atletas, assassinaram alguns e levaram outros como reféns. O governo israelense recusou-se a negociar com um grupo autodenominado “Setembro Negro”, em memória do que aconteceu na Jordânia em 1970. O que começou como uma negociação com as autoridades alemãs continuou com a transferência de todos para uma base militar na periferia da cidade, onde, após uma troca de tiros, os atletas israelenses foram mortos. Os Jogos Olímpicos não foram interrompidos apesar do assassinato de onze israelenses. Depois de Munique, em 1972, o Mossad formou um comando especial para executar os responsáveis pelo assassinato. 167 - Qual é a importância da Guerra de Yom Kipur de 1973 no conflito palestino-israelense? Foi a última tentativa de “apagar” Israel por meio de uma guerra aberta com os exércitos do estado. No dia 6 de outubro de 1973, uma aliança egípcia-síria iniciou um ataque surpresa no Dia do Perdão (Yom Kipur), quando os judeus jejuavam e rezavam. As enfraquecidas defesas israelenses concentradas na Linha Bar-Lev foram facilmente superadas. Raymond Aron (“Memórias”) afirma que o presidente egípcio Anwar El-Sadat preparou um ataque com um objetivo limitado para, como disse mais tarde a Golda Meir, “não ter que se ajoelhar para negociar com Israel”. Mas essa afirmação foi a posteriori e não representava a opinião síria. Anwar Al-Sadat queria abandonar o patrocínio russo para se aproximar dos Estados Unidos (Sadat descreveu isso como Infitah, abertura). Em Israel, por outro lado, chegaram à conclusão deque superioridade aérea implicava que não era lógico que o ”fraco” Sadat pudesse atacá-los. Essa conclusão foi a que fez com que a inteligência que chegava do Egito fosse 241 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal decodificada erroneamente. Os objetivos limitados e duvidosos poderiam ter sido verdadeiros no caso egípcio, embora seja impossível acreditar no caso sírio no Golan, que atacou com 350.000 homens apoiados por iraquianos, sauditas e até marroquinos. Às vezes, confunde- se o fato de que muitos não tenham as capacidades para executar suas intenções, reconhecendo suas limitações imediatas, com o suposto abandono de seu programa político-ideológico. Embora o exército israelense tenha se recuperado do ataque surpresa, passando ao contra-ataque, a guerra causou uma profunda crise no Estado de Israel. Os árabes consideram uma vitória e chamam isso de “Guerra de Outubro”. A partir de 1973, os países árabes e os muçulmanos, incluindo os palestinos, buscariam outras formas de destruir ou enfraquecer Israel. Por exemplo, o pagamento a e o treinamento de terroristas como o Hezbollah ou o Hamas, a fomentação de embargos e boicotes e a continuação de uma retórica antissemita flagrante. 168 - Por que os judeus do mundo se sentem tão ligados a Israel? A resposta é simples: a maioria dos judeus do mundo se sente parte do povo judeu (é possível pertencer a mais de um povo, como o sino-argentino, o italiano-chileno ou o grego- peruano), e como Israel é o berço nacional do povo judeu (ali, os judeus representam 80% da população), o relacionamento e os laços sentimentais com o país são óbvios. Por gerações, os judeus do mundo rezam voltados para Jerusalém e em suas orações anseiam por um retorno para lá, em alguns poucos casos pedindo para serem enterrados ali. Além dessas circunstâncias, Israel é o lugar onde os judeus, como nação, restabeleceram sua capacidade de autodeterminação após terem, durante séculos, constituído minorias em diferentes 242 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal partes do planeta. Lá eles podem se governare assumir suas responsabilidades nacionais. A mensagem que se transmite aos judeus do mundo é que, contando com um estado, os judeus nunca mais se deixarão massacrar. Por isso, são tão celebrados os triunfos em guerras, seus diversos desenvolvimentos tecnológicos ou as ações criativas dos serviços secretos israelenses, como o sequestro do líder nazista Adolf Eichmann, na Argentina (1960), ou o resgate do avião sequestrado em Entebbe (1976). Alguns dos judeus do mundo consideram que Israel deve ser “luz para o resto das nações”, de modo que seu comportamento deve ser exemplar. Suas críticas a qualquer ação de Israel podem ser muito extremas (alguns até insistem em mostrar aos outros que eles não são “esse tipo de judeu”). No outro extremo, destacam-se os judeus acríticos, partidários incondicionais de Israel, que condenam qualquer julgamento negativo ao país, acusando de antissemita qualquer crítica ao estado judeu. Para o judeufóbico moderno, esses sentimentos de orgulho em relação a Israel são frequentemente descritos como “arrogância” ou “racismo”. Nós já sabemos que quem odeia acalenta o ódio acima de tudo e depois procura uma justificativa. 169 - Como se explica o apoio dos EUA a Israel? É pelo lobby judeu? O apoio dos Estados Unidos a Israel nem sempre foi assim, nem é incondicional. De 1948 a 1967, a avaliação do Departamento de Estado era de que Israel não suportaria as ameaças à sua existência, priorizando as relações com os países árabes. Os presidentes George Bush (pai), Jimmy Carter e Barack Obama foram reticentes em relação a Israel ou mostraram certa hostilidade em muitos assuntos. A influência dos judeus americanos é importante, especialmente durante as eleições, já que os judeus doam 70% do arrecadado pelo Partido Democrata e 30% do Partido 243 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Republicano. Na política interna, os judeus geralmente votam no Partido Democrata (mais de 70%, desde a década de 1920), um partido que nos últimos anos desenvolveu um ramo fortemente anti-israelense. Uma das organizações mais influentes é o AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense). Muitos dos mais de 5.000.000 de judeus pertencem a diferentes lobbies pró- israelenses, grupos que devem competir contra outros lobbies anti-israelenses. Os Estados Unidos têm outros aliados no Oriente Médio, e algumas dessas relações (com a Arábia Saudita) criaram atrito com Israel. Não obstante, Israel permanece mais previsível e confiável, pois é uma democracia vibrante, e por falta de alternativas em uma área de alta instabilidade. Atualmente (2019), o voto do lobby de 70 milhões de cristãos nos Estados Unidos, pertencentes ao Cinturão Bíblico (cristãos evangélicos) é mais determinante do que o “voto judaico”. O apoio econômico dos Estados Unidos a Israel é maior do que em relação a outros países, mas, à diferença da década de 1970, deixou de ser determinante para a sua economia. Quanto ao apoio estratégico, continua a ser uma questão de sobrevivência para Israel, não tanto por causa das ameaças imediatas, mas por causa do estrangulamento diplomático que deve enfrentar, e por causa da influência dos Estados Unidos em alguns dos países vizinhos. 170 - O que é o Acordo Intermediário entre Israel e Egito? O Acordo Intermediário (Acordo do Sinai) foi assinado no dia 4/9/1975, em Genebra, entre o governo de Anwar El-Sadat (Egito) e Yitzchak Rabin (Israel). O acordo foi alcançado após a mediação intensiva do Secretário de Estado dos EUA. Henry Kissinger, ansioso para afastar o Egito da URSS. 244 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal Kissinger exerceu forte pressão sobre Israel, ameaçando parar de fornecer armamentos e “reavaliando as relações bilaterais”, já que Israel não estava disposto a ceder o suficiente. No acordo, as partes comprometeram-se a não recorrer a ameaças ou a usar a força. A parte territorial estipulava que Israel se retiraria para uma linha de 30 a 40 quilômetros a leste, incluindo os desfiladeiros de Mitla e Gidi, no oeste do Sinai. Esta área foi transformada em uma zona de amortecimento sob a supervisão das forças da Organização das Nações Unidas. Israel também se retirou da maioria dos campos de petróleo no Sinai, incluindo Abu Rhodes (e o assentamento de Shalhevet, que estava localizado lá) e Belim. Esta faixa se tornou território desmilitarizado egípcio, e acordos israelenses-egípcios conjuntos foram estabelecidos na estrada paralela ao Golfo. Os egípcios prometeram em uma carta aos Estados Unidos que não interviriam em uma guerra entre Israel e a Síria, caso a Síria fosse a iniciadora. Como parte deste acordo, os Estados Unidos forneceram uma garantia para o fornecimento de petróleo a Israel como um substituto para os campos de petróleo evacuados no Sinai e prometeram que, no caso de uma guerra futura, preparariam um plano de emergência para fornecer equipamento militar a Israel em dois meses. Também foram incluídos acordos para a compra de equipamentos militares (aviões de combate F-15 e futuras aeronaves F-16). Esse acordo intermediário foi importante, porque aumentou a confiança entre o Egito e Israel para dar o próximo passo, que foi o acordo de paz bilateral de 1979. 171 - Por que motivo o nacionalismo derrotou o trabalhismo em Israel nas eleições de 1977? As eleições de 1977 canalizaram dois processos opostos que se desenvolveram desde o início da década de 1960. De um 245 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal lado o processo de perda de popularidade do Mapai (trabalhismo) contra o crescimento da legitimidade do Cherut (o atual Likud). A queda do Mapai, ou Maarach, começou com a segunda rodada do Essek bish, o “Assunto Vergonhoso” em 1960-1961 (o Caso Lavon, a operação fracassada de sabotagem de Israel no Egito). As lutas internas foram agravadas pela “negligência” de 1973 (o ataque surpresa em Yom Kipur), quando os pais fundadores (Ben-Gurion, Levi Eshkol e outros) já não lideravam mais o partido. O processo de legitimação do Likud começa com a formação do Gachal (Cherut-Liberais - 1965) e a sua posterior participação no governo da União Nacional (durante os Seis Dias - 1967), continuando com a conformação do Likud (em 1973). O Cherut de Menachem Begin foi declarado por Ben- Gurion como um partido ilegítimo para formar uma coalizão. No entanto, a sua posição no espectro político israelense foi cada vez mais aceita, especialmente após a Guerra dos Seis Dias, quando todo o mapa político se inclinou para a direita. O processo de legitimação do Likud foi reforçado pelo apoio concedido pelas camadas mais pobres. O Likud foi transformado em um partido apoiado pelas segundas gerações de imigrantes sefaradim, que viam como os ashkenazim e os novos imigrantes melhoravam a sua posição socioeconômica, enquanto eles não avançavam. Esses dois processos inversos tiveram catalisadores que aceleraram essa clara tendência. Tais catalisadores foram o colapso da coalizão após a chegada dos F-16 em Israel (1976) e os vários casos de corrupção na cúpula do Maarach. De 1977 a 2019, exceto por breves períodos de governo trabalhista ou do partido Kadima (Sharon-Olmert), o Likud tem sido o partido no poder em Israel (1977-1984, 1986-1992, 1996- 1999, 2001-2006, 2009-2019). 172 - O que significou para os palestinos o Acordo de Paz de Camp David entre Israel e Egito? 246 300 Perguntas em 300 Palavras - Conflito Israel-Palestina - Gabriel Ben-Tasgal No dia 26/03/1979, Israel e Egito assinaram dois acordos. A negociação teve como mediador o próprio presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que na fase final viajava do Cairo a Jerusalém e vive-versa, até a assinatura do acordo na Casa Branca. O primeiro acordo foi chamado de “Acordo Marco para uma Paz no Oriente Médio” e era dividido em duas partes. Por um lado, foi acordado que as