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1 Curso de Especialização em Engenharia da Produção Disciplina: Desenvolvimento e Gestão da Rede de Suprimentos (Material de Apoio) Prof. Sérgio Silveira Martins 1. Logística Integrada de Suprimentos: Conceitos, atividades e subsistemas As condições de exigências do mercado definem as características para que a logística deve atentar para dar respostas satisfatórias aos clientes: "oferecer o produto certo, no lugar certo, no tempo certo, nas condições certas, pelo custo certo". A logística adquire, a cada dia com maior profundidade, um caráter estratégico para as cadeias de negócios formados em torno de um produto identificado ao cliente final. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2008), o marco dessa transformação é entendido como tendo acontecido nos anos de 1990, em que operações suportadas com longos prazos para atendimento de pedidos e com estoques altos passaram a ser requisitadas em prazos curtos, estoques baixos e com alto nível de satisfação dos clientes em variedade, quantidade e prazo (pedido perfeito). A formação de cadeias de suprimento como forma de competição é uma das principais novas características atuais ambientes de negócios, crescentemente globalizados. Tal estratégia é decorrente do acirramento da competição, no contexto da alteração do foco das empresas da orientação para os clientes, em vez de orientadas para produtos. Esse pode ser considerado um dos avanços mais significativos no pensamento administrativo dos últimos anos, implicando a substituição de esforços isolados de empresas individuais na busca de competitividade pela visão de que esta ocorrerá somente para aquelas organizações que puderem melhor estruturar, coordenar e gerenciar os relacionamentos com os seus parceiros em uma rede cujo compromisso é entregar valor superior ao consumidor final. Nesse novo contexto, segundo o influente Conselho de Profissionais de Gestão de Cadeias de Suprimentos (CSCMP), logística é aquela parte das cadeias de suprimentos que planeja, implementa e controla, de forma eficiente e eficaz, os fluxos para frente e para trás e os estoques de bens e serviços, bem como as informações relativas a eles, desde o ponto de origem até o destino final, dentro dos requisitos dados pelos cliente. É um conceito bastante completo, por dar uma boa dimensão das necessidades de planejar e controlar operações de forma mais eficiente, tendo como meta principal o atendimento ao cliente final, que é quem sinaliza os atributos valorizados e que devem ser perseguidos. Atualmente, mais do que foco na minimização dos custos, as principais estratégias logísticas têm potencial de aumentar o faturamento das empresas. Isso se deve aos resultados das estratégias que têm por base aumento do nível de serviço ao cliente (tempo de processamento de pedidos, ciclo do pedido, taxa de entrega dos pedidos corretamente,etc), que impactam a receita das empresas por fidelizar clientes e 2 ampliar a participação das empresas no mercado, por obter novos clientes. Nesse caso, uma decisão primária é sobre o nível de serviço a oferecer. Ao perguntar aos agentes de mercado, a resposta pode ser a de que a logística deve priorizar os custos, pois o padrão de concorrência que prevalece é o preço. Sendo assim, deve-se primar pela logística eficiente, isto é, de baixo custo, mas também de baixo nível de serviço. Outra opção é uma logística de melhor qualidade, quando possível e desejada, haja vista que a condição de concorrência é, entre outros atributos, a disponibilidade do produto sempre que desejável – ess é a logística baseada na responsividade. Esse é o caso, por exemplo, da logística do setor de medicamentos, quando há a necessidade de medicamento disponível, pois o paciente não pode esperar para consumi-lo. 1.1 Atividades primárias e de apoio na logística Na prática, a logística deve ser compreendida como facilitadora dos relacionamentos entre agentes econômicos de uma rede de negócios, adicionando valor ao cliente final. Para atingir essa meta, a logística deve ser planejada para a organização e a interface de suas atividades, que podem sistematizadas em atividades primárias e atividades de apoio. Algumas atividades são consideradas primárias porque são aquelas encontradas em todos os subsistemas logísticos e são responsáveis pela maior parte dos custos logísticos, ou seja, elas são essenciais para a coordenação e o cumprimento da tarefa logística. As atividades primárias compreendem a gestão do transporte, dos estoques, das informações e das instalações. A gestão do transporte implica decisões sobre como movimentar materiais e produtos acabados entre diferentes pontos de uma determinada rede de negócios. É a atividade muitas vezes de maior visibilidade pela movimentação física que proporciona. O transporte adiciona o valor de lugar, que é próprio da logística. É bastante importante, pois representa geralmente de um a dois terços dos custos logísticos. É a interface entre os pontos produtores e os consumidores. Envolve decisões como: determinação do modo de transporte; cálculo do roteiro e da utilização da capacidade dos veículos. A gestão dos estoques de matéria-prima, de produto em processamento ou de produto acabado dentro de uma cadeia, cumpre a função de regular as quantidades demandadas com aquelas ofertadas no mercado. Ou seja, o objetivo é atingir um maior nível de disponibilidade dos produtos, mantendo os estoques tão baixos quanto possíveis, sem comprometer o interesse dos clientes de consumir. Dessa forma, diz-se que os estoques adicionam valor de tempo ao produto, pois, quando são requeridos, devem ser encontrados. Tais decisões são tomadas aos níveis da política de estoques, da previsão de vendas, da composição do mix de produtos no estoque e das estratégias de produção (empurrada para o mercado ou puxada pela demanda). A gestão das informações consiste na forma de coletar e analisar dados, tendo em vista compor informações sobre os estoques, o transporte, as instalações e os clientes. A gestão das informações é a base para a formação de redes de negócios, dando condições de flexibilidade operacional dos componentes da rede e de respostas mais rápidas ao mercado. É atualmente a barreira a ser vencida para o avanço do uso mais aprimorado do potencial da logística, 3 principalmente no que diz respeito aos custos da ferramenta que viabilizam o pleno uso das informações. Os clientes, atualmente, mais do que comprarem determinado produto, requerem serviços agregados a esse, tais como informações sobre se chegou, quando vai chegar, onde está. Por isso, entregar informação é muitas vezes mais importante do que entregar o produto. A gestão das instalações envolve decisões sobre localização, capacidade e métodos de fabricação e de armazenagem. Essa atividade logística é tão mais importante quanto maior a amplitude geográfica de atuação das empresas. Dessa forma, empresas que têm produção local e atuação global, produção local e atuação nacional, fornecedores globais e atuação global e fornecedores globais e atuação nacional. Apesar de essas atividades serem os principais ingredientes que contribuem para as decisões estratégicas sobre a disponibilidade e a condição física de produtos e serviços, há uma série de atividades adicionais que apoiam essas atividades primárias. São as chamadas atividades de apoio, tais como a armazenagem, o manuseio de materiais, a embalagem de proteção, a obtenção dos materiais, a programação de produtos e a manutenção de informação. O subsistema de suprimentos ou abastecimento tem por função prover o material certo, no local de operação certo, no instante correto e com o mínimo custo possível. Uma boa administração de materiais significa coordenar a movimentação dos suprimentos com as exigências da produção ou das vendas. Portanto, engloba as atividadestradicionais de compras das empresas sem segmentação organizacional que consideram a logística. No processo de suprimento existem algumas atividades que têm impactos diretos no fluxo e nos custos logísticos. São elas: • Seleção de fornecedores: distância entre fonte e comprador influencia transporte, tempo de entrega, confiabilidade dos prazos. A existência de múltiplos fornecedores localizados geograficamente próximos facilita a consolidação dos fretes com consequente redução dos custos de transporte. Historicamente existe a evidência de que os fornecedores procuram se localizar próximos a seus clientes e vice-versa, o que permite uma entrega mais rápida e com menores probabilidades de interrupção nos transportes. • Quantidades a serem adquiridas: o tamanho individual do lote de entrega é afetado pelo custo de transporte (frete), pelo número de fornecedores, pela estrutura de preço praticada pelo fornecedor (com ou sem desconto), pelo método de controle de estoque (ponto de reposição – ponto de mínimo estoque). • Programação das compras: volume e frequência de compras estão relacionados. Quando os volumes de compras são maiores, o número de pedidos/ano é menor, e assim os custos de manutenção de estoques são maiores. • Forma física das mercadorias: é essencial manter compatibilidade logística ao longo do fluxo para uma eficiente movimentação. Em geral, a incompatibilidade entre sistemas de movimentação de materiais é resultante do uso de páletes de tamanho diferente (fornecedor e comprador), forma ou peso do produto (excede capacidade das máquinas e equipamentos disponíveis) e modo de transporte não é o mais apropriado para o comprador. É sabido, no entanto, que os potenciais da logística são alcançados quando esses subsistemas são 4 gerenciados de uma forma integrada. Isso se deve ao melhor aproveitamento dos resultados dos processos, quando acontecem de forma integrada entre as atividades e entre os subsistemas da logística. 1.2 Gestão de Materiais: Construindo um Sistema de Suprimentos ou Abastecimento Nesse contexto, a Administração de Materiais é uma área responsável pela compra, armazenagem e distribuição de materiais na organização. É responsável pelo fluxo de materiais a partir do fornecedor, passando pela operação, até o consumidor. A Administração de Materiais pode proporcionar redução dos custos totais, pelo fato de disponibilizar os materiais no local e tempo certos, assim utilizando corretamente os recursos da organização e melhorando o nível de serviços prestados. É responsável pelo planejamento e controle do fluxo de materiais. Segundo ARNOLD (1999), a classificação do fluxo de materiais se dá da seguinte forma: a) Planejamento e controle da operação: responsável pelo planejamento e controle do fluxo de materiais por meio da operação As atividades são: § Planejamento da operação: para buscar atender à demanda do mercado de forma produtiva, estabelecendo prioridades e para verificar se é adequada à capacidade produtiva. § Implementação e controle: responsável por colocar em ação e alcançar os planos realizados pelo planejamento de operação. § Administração de estoque: fez parte do planejamento e fornecimento de reserva intermediária, para dar conta de diferenças nas taxas de demanda e operação. b) Suprimento/distribuição física: inclui todas as atividades envolvidas em movimentação de bens, do fornecedor para o início do processo operativo. Essas atividades são: § Transporte § Estoque para distribuição § Armazenamento § Embalagem § Manuseio de materiais § Recebimento de encomendas O agrupamento das atividades envolvidas na movimentação e estocagem de bens em um departamento possibilita à organização oferecer melhor serviço e, ainda, diminuir seus custos. Portanto, a Administração de Materiais deve priorizar e ter capacidade para atender à demanda dos usuários. 5 Fonte: Santos e Maçada (2007). Além disso, Conforme Ballou (1993), a distribuição física é representada, dentro da logística empresarial, pelos processos de movimentação, estocagem e processamento de pedidos dos produtos finais das organizações. No ambiente hospitalar, por exemplo, a função de distribuição gera um dos problemas de mais difícil solução, em que a falta de confiança dos usuários na disponibilidade dos materiais e medicamentos cria um ciclo acumulativo abaixo, cuja única possibilidade de rompimento é por intermédio de estoques suficientes que garantam o abastecimento (VECINA NETO & REINHARDT FILHO, 2002). Figura 1 – Ciclo acumulativo A falta de confiança entre o usuário e a administração de materiais leva à criação de estoques periféricos que tornam a administração do sistema ainda mais difícil. Após a ruptura do ciclo de desconfiança, a principal regra a ser aplicada é a distribuição da menor quantidade possível que a logística da instituição permitir. 6 2. Estratégias de Aquisição 2.1. Introdução O ambiente de acirrada competição no qual as empresas operam atualmente, independentemente do porte ou setor de atuação, vem contribuindo para reforçar o papel estratégico exercido pela função compras. A função, por sua natureza de intermediação entre a empresa e os seus fornecedores, é aquela que se incumbe da maior parte das atividades relativas à gestão do relacionamento em cadeias de suprimento. Por esse motivo, afirma-se que compras é uma função em transformação. Suas estratégias representam grandes oportunidades para se criar diferenciais competitivos substanciais. Porém, nem todas as empresas são capazes de perceber ou utilizar o potencial de contribuição da função compras para essa criação de valor. 2.2. Atividades e objetivos da função compras As empresas tendem a tratar a função compras como aquela cujo foco principal deve ser a obtenção de bons preços na aquisição dos itens necessários à sua operação. Sob esse aspecto, compras deve garantir ainda que os produtos e serviços adquiridos sejam entregues ao usuário no momento certo. Alguns dos objetivos de compras são: · Atender às necessidades operacionais da empresa; · Gerenciar, de forma eficiente e eficaz, seus processos internos; · Selecionar, desenvolver e manter fontes de fornecimento, gerenciando uma base de fornecedores capaz de oferecer um bom desempenho em custo, qualidade, tecnologia, entrega e desenvolvimento de novos produtos; · Apoiar as metas e objetivos organizacionais; · Monitorar o mercado fornecedor e suas tendências, identificando os materiais e serviços que sejam críticos para apoiar a estratégia corporativa e desenvolvendo opções de fornecimento e planos de contingências que apoiem os planos da empresa. Para muitas empresas, a função compras resume-se a essa atuação operacional. Nesses casos, isso se deve a um baixo nível de complexidade nas necessidades operacionais da empresa ou a uma miopia quanto ao potencial de contribuição que a função pode oferecer aos seus resultados, desde que desempenhada sob uma perspectiva mais estratégica. No recente cenário de negócios, o fator tempo se torna cada vez importante para as operações nas empresas. As empresas estão mais conscientes do impacto que o nível de serviço prestado por um fornecedor exerce sobre a sua capacidade em operar de maneira eficaz. Assim, o que se espera dos fornecedores é que consigam aumentar a sua performance nos diversos critérios de medição, tais como velocidade de atendimento, consistência, qualidade, confiabilidade e custo. Os clientes são mais exigentes 7 com seus fornecedores como forma de possibilitar a melhoria de seu próprio desempenho, e são grandes as oportunidades de melhorar o seu próprio desempenho quando se tem o apoio da base de fornecedores – ou seja, quando se recebe dessa base um bom nível de serviço. Portanto, pode-seafirmar que as empresas estão mais dependentes de seus fornecedores. As últimas décadas do século XX mostraram uma tendência de crescimento da terceirização de atividades nas empresas, uma vez que elas estão privilegiando a busca pela especialização no desempenho de um conjunto restrito de atividades. Dessa forma, reforça-se a necessidade de se estabelecer vínculos mais fortes entre as empresas e, consequentemente, a necessidade de uma atuação estratégica da função compras, uma vez que empresas, ao terceirizarem atividades, aumentam o volume de recursos financeiros aplicados em aquisição de recursos externos. A gestão da função compras na perspectiva estratégica, portanto, lida com um escopo maior do que a perspectiva operacional. Trata-se de um processo multifuncional, não se restringindo aos membros diretamente ligados ao departamento formal de compras. O foco da gestão estratégica de compras envolve a gestão, o desenvolvimento e a integração com o conjunto de atividades e a estrutura de recursos dos fornecedores, a fim de se obter uma vantagem competitiva ligada a efeitos de redução de custos, desenvolvimento de tecnologia, melhoramento da qualidade, redução do tempo de ciclo e melhoramento da capacidade de entrega, a fim de atender às necessidades dos clientes. 2.3. Análise da importância dos itens de aquisição Tomando-se como base o cenário descrito anteriormente, torna-se necessário desenvolver estratégias para a gestão eficaz da base de fornecedores. Da mesma forma que em gestão de estoques sugere-se que os itens sejam classificados de acordo com a importância dos mesmos para a formação de estoques – a chamada classificação ABC –, em compras também é importante ranquear os itens de acordo com algum critério de importância. Uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas neste sentido chama-se matriz de Kraljic ou análise de portfólio. O objetivo dessa matriz é classificar os itens de acordo com o seu valor para a empresa compradora. A medida do valor surge em função de algum conjunto de critérios definidos pela própria empresa, de acordo com suas características de operação. Pode-se utilizar o valor financeiro consumido na aquisição, a importância do item para a qualidade final do que a empresa fornece ao mercado, o impacto que uma possível ruptura de fornecimento poderá provocar na operação da empresa, ou qualquer outro critério considerado relevante para a empresa. Na matriz, os itens são classificados em alto valor ou baixo valor. Uma outra classificação utilizada na matriz é o risco de suprimento. Materiais ou serviços cuja base de fornecedores seja extensa e facilmente acessível possuem baixo risco de fornecimento. Caso a base de fornecedores seja reduzida ou de difícil acesso, o risco é considerado alto. Um maior ou menor risco de suprimento gerará certamente impacto na estratégia de relacionamento com essa base de fornecedores a ser adotada pela empresa. Além disto, gerará impacto também na forma como o grupo de fornecedores se motivará a atender a empresa cliente em suas solicitações. 8 A matriz de portfólio analisa os itens adquiridos, fazendo uma combinação entre esses dois fatores, o risco de fornecimento e o valor adquirido, conforme pode ser visto na Figura 2: Estratégicos Alavancagem Gargalo Rotineiros Valor para comprador Risco no suprimento alto alto baixo baixo Figura 2 – Matriz de portfólio de compras Fonte: Monczka (2002) O gerenciamento de compras deve se iniciar a partir da identificação do posicionamento dos itens adquiridos na matriz. São os itens de alto valor para a empresa compradora – ou seja, aqueles localizados nos quadrantes superiores – que devem receber a maior atenção por parte dos gestores. Geralmente os itens do quadrante estratégico são de alto valor ou customizados. Como o risco do suprimento é maior, torna-se crítico o estabelecimento de parcerias com os fornecedores. No quadrante alavancagem, estão os itens de alto valor e de baixo risco de suprimento. Exatamente por essas características, oferecem as melhores possibilidades de se trabalhar com uma base de fornecedores criteriosamente selecionada. A ideia por trás dessa seleção criteriosa é poder consolidar o volume de compras com poucos fornecedores, como forma de reduzir o custo de aquisição e melhorar a qualidade, seja do item, seja do nível de serviço recebido pela empresa compradora. Para os itens de baixo valor, têm-se buscado alternativas de facilitação do processo de aquisição, de forma a permitir que os maiores esforços de compra sejam dedicados aos grupos de itens de maior valor. As empresas tendem a buscar fornecedores com solução completa, de forma a reduzir a complexidade na aquisição. Além disso, tem havido a busca também por implantação de ferramentas eletrônicas de compartilhamento de informações, como portais de compras, troca eletrônica de dados, etc. Ainda, a padronização dos itens adquiridos traz bons resultados nessas categorias. 3. Gestão da base de fornecedores: avaliação e seleção 9 Uma das tarefas mais importantes em compras é o gerenciamento dos relacionamentos com a base de fornecedores da empresa. Como dito, é cada vez mais importante estabelecer relacionamentos mais colaborativos com um grupo restrito de fornecedores estratégicos. A avaliação, seleção e mensuração contínua da performance desses fornecedores constituem processos extremamente importantes para o sucesso de uma empresa que opere em ambientes colaborativos. Uma rede de fornecedores adequada e competente é uma importante competência a ser desenvolvida pelas empresas. Tradicionalmente, as empresas de todos os portes tendem a manter, sempre que possível, um elevado número de fornecedores ativos, de maneira a assegurar que o risco de fornecimento seja minimizado. A ideia por trás dessa estratégia é que se reduza a dependência da empresa para com os fornecedores. Além disso, pode-se estimular a competição entre as empresas, garantindo os menores preços unitários de aquisição de produtos ou serviços. No entanto, várias empresas têm adotado uma estratégia inversa, sugerindo que o custo associado à manutenção de um alto número de fornecedores para cada item ultrapassa os benefícios obtidos com o menor risco do fornecimento. Assim, cada vez mais empresas têm adotado estratégias de redução do número de fornecedores. Esse é o processo de redução da base de fornecedores e é composto de duas fases distintas: a) eliminar os fornecedores aos quais se aloca um baixo volume de compras e b) substituir alguns bons fornecedores pelos melhores, que passam a ser contemplados com volumes maiores do que anteriormente forneciam. Uma estratégia de redução do número de fornecedores apresenta alguns benefícios importantes. O primeiro deles refere-se à qualidade do relacionamento que será mantido com uma base reduzida de fornecedores. As conseqüências de relacionamentos qualitativamente superiores com um grupo seleto de fornecedores são: tendência a um menor índice de problemas relacionados à qualidade e à entrega; melhor acesso à tecnologia de ponta, e possibilidade de redução do custo dos produtos, a partir da inserção do fornecedor durante o processo de desenvolvimento dos novos produtos. Uma segunda vantagem está na economia de escala proporcionada pelo maior volume de compras alocado a cada fornecedor remanescente. Sempre que o volume aumenta, aumentam também as chances de se conseguir melhores acordos de fornecimento. Além disso, tal concentração permite, se combinada com contratos de fornecimento, que os fornecedores possam realizar investimentos em aumento ou melhoria da capacidade produtiva, a fim de melhorar a qualidade ou reduzir o custo no atendimento ao cliente. Um exemplo é a possibilidade de um transportador autônomo investir em um novo veículo a partir do aumento do volumetransportado e da garantia de volume dada por um contrato de médio prazo assinado com o cliente ou grupo de clientes. Os argumentos em favor de fontes múltiplas de fornecimento recaem, geralmente, na redução da dependência do cliente em relação ao fornecedor – e as possíveis consequências negativas associadas a essa dependência, entre elas o risco de o fornecedor escolhido não ser ou vir a deixar de ser tecnologicamente adequado – e nas vantagens em se estimular a competição entre os fornecedores, especialmente no que se refere ao preço de aquisição. Porém, é possível que a redução do número de fornecedores reduza o risco de fornecimento, desde que se redobrem os esforços para o estabelecimento de um relacionamento mais próximo entre cliente e 10 fornecedor – um dos principais papéis de um gestor de compras. 3 .1 O processo de avaliação e seleção de fornecedores As empresas utilizam diversas abordagens para executar o processo de avaliação e seleção de fornecedores. O objetivo é reduzir o risco de compras e maximizar o valor global para o comprador. O reconhecimento da necessidade de se selecionar fornecedores pode surgir a partir do desenvolvimento de um novo produto ou a partir da constatação de que um fornecedor não desempenha de forma adequada seu papel, tornando a troca de fornecedor necessária. O primeiro passo é identificar os requisitos essenciais para uma aquisição, fundamentais para que se definam os critérios de seleção e avaliação do fornecedor e a estratégia de fornecimento adotada para um item ou serviço – o numero de fornecedores, o tipo de contrato a ser firmado, o tipo de relacionamento a ser estabelecido e o tipo de fornecedor a ser avaliado. O passo seguinte é identificar quais são as fontes potenciais de fornecimento, que podem ser obtidas através de: (1) relação dos atuais fornecedores; (2) visitas de representantes comerciais; (3) Consulta a bases de dados; (4) experiência pessoal do comprador; (5) jornais ou revistas especializadas; (5) feiras e eventos; (6) informações indiretas, tais como eventos ou publicidades de outras empresas; (7) fontes internas, e (8) pesquisa na Internet. A partir daí, deve-se filtrar os fornecedores identificados, analisando-se aspectos como a capacidade operacional, a proposta de fornecimento apresentada, o risco financeiro da empresa fornecedora, a performance passada da empresa, entre outros critérios. 3.2 Critérios para avaliação de fornecedores Cada empresa utiliza suas próprias categorias e critérios, definindo inclusive o peso de cada critério no resultado final. A maior parte das avaliações classifica os fornecedores de acordo com três critérios básicos: custo de aquisição, qualidade do item comprado e performance de entrega. Esses três elementos são geralmente as áreas mais óbvias e críticas que afetam uma empresa compradora. Tabela 1 – Exemplos de critérios de seleção de fornecedores Classificação Critério Comprometimento estratégico do fornecedor Importância estratégica para o comprador Disposição para integrar a gestão da cadeia de suprimentos Disposição para compartilhar informações Habilidade de gerar lucro fornecendo para o comprador Esforço para implantação dos princípios JIT Percentual dos negócios com o cliente em relação ao faturamento do fornecedor Sistemas de captação de pedidos, inclusive EDI Atendimento das necessidades do Habilidade em atender prazos de entrega 11 comprador Compromisso com qualidade Comunicação freqüente Responsividade a demandas inesperadas Estabilidade financeira Compromisso com melhorias de produto e processo Flexibilidade nas condições contratuais Competência Especialização técnica Conhecimento da indústria Competência em análises e testes Escopo de recursos Compatibilidade entre as empresas Relacionamento passado e atual com fornecedor Compatibilidade Geográfica Compatibilidade cultural entre as empresas Integridade e honestidade Abertura para avaliação da unidade produtiva Esforço para eliminação de desperdícios Histórico de processos legais Itens não agrupados Capacidade do processo Padrão ético Reputação e referências Percentual de sub-contratação do fornecedor Preço Preço de materiais, peças e serviços Capacidade do fornecedor Porte do fornecedor Fonte: Baseado em Furtado, G. A. (2005) Para itens críticos que necessitem de uma análise mais aprofundada das capacidades dos fornecedores, um estudo mais detalhado dos critérios faz-se necessário. As seguintes categorias de desempenho são exemplos de possíveis critérios: capacidade gerencial do fornecedor; capacidade geral do corpo de funcionários; estrutura de custos; desempenho em qualidade total; capacidade tecnológica e de processos; comportamento referente a regulamentação ambiental; capacidade financeira; sistema de controle da produção; capacidade do sistema de informação; estratégias, políticas e técnicas de compras do fornecedor; e potencial de relacionamento de longo prazo. A tabela anterior apresenta alguns exemplos de critérios de avaliação de fornecedores, classificados em categorias de análise. 3.3 Medição de desempenho de fornecedores Um sistema de medição de performance de fornecedores inclui os métodos e sistemas para coletar e disponibilizar informações para medir ou classificar tal performance de uma maneira contínua. Geralmente, critérios quantitativos são avaliados, relacionados ao desempenho de entrega, de qualidade e de redução de custos. Porém, critérios qualitativos podem ser analisados, designando-se para eles um valor, por exemplo, utilizando-se uma escala de cinco pontos. 12 As empresas utilizam as medidas obtidas para identificar os fornecedores capazes de obter um desempenho diferenciado. Além disso, é uma maneira de identificar com quais fornecedores deverão estabelecer relacionamentos de longo prazo, apoiar os esforços de otimização da base de fornecedores, determinar o volume de encomendas a cada fornecedor, identificar áreas de desempenho carentes de aprimoramento e apoiar futuras decisões de suprimento. Normalmente, as empresas utilizam três técnicas de medidas de performance: categórica, ponderada e baseada em custo. A primeira categoria é a mais fácil de implementar, bastante útil para empresas que desejam comprometer poucos recursos no desenvolvimento e operação de um sistema de mensuração de performance. Por esse motivo, é o mais utilizado por pequenas empresas ou por aquelas que ainda estão desenvolvendo o seu primeiro sistema de avaliação de performance de fornecedores. Os demais métodos envolvem técnicas um pouco mais complexas e, por esse motivo, são pouco utilizados por micro e pequenas empresas. Os métodos ponderados demandam a criação de planilhas de performance dos fornecedores, divididas em categorias e critérios de performance. Requer o uso de computadores e planilhas de cálculos, quando não de softwares especializados. Por serem mais complexos, têm custo de implementação mais alto. O método baseado em custos é o mais completo, quantificando o custo total de se fazer negócios com um fornecedor específico. O maior desafio envolve a identificação e obtenção de custos associados com a não performance de fornecedores. A lógica inicial do sistema reside no cálculo de um índice de performance do fornecedor (IPF), que é o índice do custo total calculado para cada item ou família fornecido. A tabela a seguir apresenta alguns indicadores de desempenho para fornecedores. Tabela 2 – indicadores de desempenho para fornecedores Qualidade Entregas no prazo acordado Responsividade / disponibilidade Competitividade em custo dos fornecedores Capacidade de tecnologia e inovação dos fornecedores Tempo total de ciclo dos fornecedores Percentual de aquisição com fornecedores preferenciais Empresa como parceiro preferencial entrefornecedores Risco de disponibilidade Auditoria da capacidade dos fornecedores Diversidade dos fornecedores Performance geral em relação ao contratado Número de fornecedores para 95% dos gastos (indicador de redução da base) Localização geográfica dos fornecedores Número de fornecedores lean Fonte: Adaptado de Carter & Monczka (2005) 13 4. Gestão de estoques na Rede de Suprimentos Arnold (1990, p. 265) apresenta sua definição de estoques como: “os estoques são materiais e suprimentos que uma organização ou instituição mantém, seja para vender ou para fornecer insumos ou suprimentos para o processo de operação.”. As organizações cada vez mais vêm buscando a redução de estoque, a fim de reduzirem seus custos. Portanto, a gestão de estoque é uma atividade de suma importância nas organizações, para que essas consigam manter um estoque mínimo e atender devidamente às necessidades dos clientes, no momento correto e para que possam buscar sempre um bom desempenho e o pleno desenvolvimento. Segundo Dias (1997), é importante para a organização otimizar o investimento em estoque, aumentar o uso eficiente dos meios de planejamento e controle e minimizar as necessidades de capital para o estoque. Portanto, o estoque físico de materiais existe nas empresas para conciliar a diferença de ritmo entre a taxa de fornecimento e a taxa de demanda, balanceando a operação da empresa e evitando rupturas no atendimento aos clientes. Porém, o alto custo do estoque e o impacto que a sua falta podem representar levam à necessidade de se administrar as principais decisões relacionadas à sua gestão. Entram em cena temas como o planejamento do estoque, determinando o seu valor ao longo do tempo, especificando datas de entrada e saída dos materiais e determinando os pontos de pedido de materiais; controle do estoque, mantendo os registros dos dados reais e a retroalimentação sobre o planejamento do estoque, constatando desvios, suas causas e estabelecendo planos corretivos. Diversas razões são apontadas para que as empresas formem estoques. Dentre elas, destacamos: § Reduzir o risco de falhas no suprimento, provocadas por contingências – ou situações não esperadas –, tais como greves, interrupção no sistema de transportes, escassez de matérias-primas, entre outras; § Proteger contra incertezas no tempo de atendimento do fornecedor; § Atender a demandas não previstas por parte dos segmentos de mercado atendidos pela empresa; § Atender ao nível de serviço desejado pelos clientes; § Suavizar o impacto de demandas cíclicas ou sazonais na operação da empresa; § Beneficiar-se de possíveis descontos no preço de compra ou transporte obtidos a partir de lotes de aquisição superiores ao necessário para o curto prazo; § Oferecer proteção contra possíveis alterações no preço dos itens adquiridos; § Assegurar a reposição imediata de itens cuja demanda seja constante, como suprimentos de escritório ou itens de manutenção, reparo e operações. 14 É preciso ter cuidado, no entanto, para que tais justificativas não conduzam os gestores da empresa a sobrecarregar a mesma com altos custos de manutenção dos estoques. Além disso, deve-se considerar o risco do estoque tornar-se obsoleto, dada a alta taxa de inovação nos produtos e serviços que vem sendo necessária atualmente. Ainda, a formação de estoques muitas vezes oculta problemas operacionais que poderiam ser resolvidos, caso sejam identificados, tenham suas causas levantadas e planos de correção formatados e implantados. Muitas empresas, infelizmente, preferem ignorar a busca por soluções para tais problemas operacionais, optando pela alternativa de formar estoques de matérias-primas, produtos em processamento, materiais de embalagem, MRO (manutenção, reparo e operações) e produtos acabados. Assim, estoques devem ser mantidos apenas quando os benefícios excedam os custos incorridos para mantê-los. Estoques deixam de apresentar benefícios quando são formados para encobrir problemas operacionais ou outras ineficiências. Isso significa que a empresa aceita a ineficiência como parte de seu negócio. A seguir, são apresentadas algumas razões inadequadas para se formar estoques: · Materiais adquiridos de baixa qualidade; · Prazo de entrega dos fornecedores pouco previsíveis; · Tempo de ciclo dos pedidos excessivamente longo; · Previsão da demanda imprecisa; · Excesso de personalização dos itens adquiridos; · Processos produtivos e logísticos ineficientes. A partir da análise dos motivos descritos para se manter estoque e das razões consideradas inadequadas para tal formação, percebe-se a necessidade de se gerenciar os estoques de uma maneira abrangente nas empresas. Resumidamente, pode-se dizer que o gerenciamento dos estoques visa: a) oferecer aos clientes, tanto internos quanto externos, níveis de serviço adequados em temos de disponibilidade de produtos; b) determinar necessidades presentes e futuras para todos os tipos de estoques, evitando tanto o excesso de inventário quanto a ocorrência de gargalos operacionais; c) minimizar os custos, por meio da redução da análise dos custos incorridos em obter e manter estoques, e d) proporcionar visibilidade do nível atual de estoques para os membros da cadeia de suprimentos, tanto a montante quanto a jusante. Para avaliar o estoque, é necessário conhecer três tipos de custos considerados na sua gestão: 1. Custo para obter estoque: é o custo do pedido da compra, englobando os encargos totais de encomenda do material. O custo para se obter um bem unitário diminui à medida que aumenta o tamanho do pedido. 2. Custo para manter o estoque: é o custo de posse e engloba os encargos totais incorridos em razão de possuir e manter armazenado o material. É, principalmente, o custo de oportunidade por não se estar aplicando esse capital no mercado financeiro. De um modo geral, o custo para manter o estoque por unidade é determinado pelo prazo de tempo em que o bem fica estocado. 3. Custo de faltar: é o custo da falta do material, quando solicitado. É associado à situação em que a procura não pode ser atendida, devido à existência de estoques insuficientes. O custo de faltar inclui gastos com as providências para atender a essa demanda, como encomendas especiais. No caso de o cliente transferir as suas encomendas para outros fornecedores, considera-se como “custo de vendas 15 perdidas” ou “custo de deterioração da imagem”. Os estoques são classificados de acordo com a função desempenhada, conforme se segue: 1. Estoque de operação: é um estoque de trânsito, capaz de atender à demanda durante o tempo de espera entre a operação do pedido de reposição ao fornecedor e a sua entrega. O modelo de lote econômico é intrínseco a este propósito. O lote econômico é aquele que torna mínimos os custos de se obter e de se manter o estoque. 2. Estoque mínimo: é um estoque de proteção, capaz de atender às situações anormais do mercado que nem sempre podem ser previstas, como atrasos na entrega, falta de produtos e aumento inesperado da demanda. Os custos de manter o estoque e custo de faltar produtos são determinantes na avaliação do estoque de segurança. Se o nível do estoque de segurança for alto, isso acarreta maior custo de manutenção; por outro lado, se o nível for mais baixo que a demanda, isso poderá causar custo de faltar. 3. Estoque especulativo: é criado, principalmente, pelas expectativas macroeconômicas e é determinado pela expectativa de aumento dos produtos. O aumento do estoque especulativo é favorecido quando a expectativa de aumento de preços está acima do custo financeiro e dos demais custos de manter o investimento em estoque. O gerenciamento de estoque é uma tarefa muito importante nas organizações, principalmente nos dias atuais, em que não mais se mantêm estoques elevados e, sim, o mínimo necessário. Manterestoque elevado não gera benefícios para a organização, ao contrário, resulta em ocupação dos espaços físicos e gastos com manutenção e seguro. Dias (1997) apresenta algumas medidas que colaboram para a elaboração de uma correta política de administração de estoques, que são: evitar manter estoques de produtos acabados, só estocar matéria- prima e usá-la para atender à produção de curto prazo, escolher o fornecedor adequado, reorganizar a diversificação dos produtos da organização, padronizar as peças e equipamentos, verificar qual é o esto- que mínimo necessário, limpar sempre o almoxarifado, harmonizar a produção com a chefia de vendas, tornar a organização mais flexível em momentos de crise econômica, definir a posição da organização no mercado de acordo com a conjuntura econômica e a concorrência. Conclui-se que o ideal em relação ao nível de estoque na organização seria manter um estoque “zero”, ou seja, vender, para depois efetuar as compras, o que evitaria problemas em relação à necessidade de capital de giro. Porém, isso é algo praticamente impossível. Sendo assim, a alternativa é manter um giro elevado e um nível baixo de estoque, vendendo as mercadorias com mais rapidez. Zaccarelli (1979, p. 24) expõe seu conceito de estoque mínimo: consiste na separação do lote em duas partes: uma parte que será utilizada totalmente até a data da encomenda de um lote para reposição; outra parte para ser utilizada entre a data da encomenda e a data do recebimento do lote. A denominação “duas gavetas” decorre da idéia de guardar um mesmo material em duas gavetas. Utiliza-se, inicialmente, o material da primeira gaveta e, quando for necessário utilizar o material da segunda gaveta, é ocasião de fazer um pedido de renovação de estoque. A quantidade colocada na segunda gaveta deverá ser suficiente para atender a demanda 16 durante a espera do recebimento do pedido. Zaccarelli acrescenta, ainda, que a denominação “sistema de estoque mínimo” é usada, principalmente, quando não há separação física entre duas partes do estoque e, sim, quando é apenas registrado, na ficha de estoque, o ponto de separação entre uma parte e outra. Dias (1997) mostra os diferentes níveis de estoque: § Tempo de reposição (TR) ou tempo de pedido: o TR é necessário para calcular o estoque mínimo. É o tempo gasto desde a verificação de que o estoque precisa ser reposto até a chegada do material no almoxarifado. § Estoque mínimo: pode ser definido como sendo a quantidade mínima existente em estoque, a fim de cobrir eventuais retardamentos no ressuprimento, cujo objetivo é garantir o funcionamento ininterrupto e eficiente do processo produtivo, sem o risco de faltar. § Rotatividade: é a relação entre o consumo anual e o estoque médio do produto. Faz-se, então, necessário um planejamento e controle de estoques dentro da organização, a fim de buscar maior confiabilidade para um padrão de atendimento mínimo e evitar a falta de produtos para entrega imediata quando isso for solicitado. Não é fácil definir e conhecer o padrão do comportamento de venda dos produtos no longo prazo. Arnold (1999, p. 272-273) mostra como o estoque pode influenciar a organização: (...) os estoques ajudam a tornar mais produtiva a operação de produção de quatro maneiras: 1. Os estoques permitem que operações com taxas de produções diferentes sejam desempenhadas separadamente e do modo mais econômico. 2. Nivelamento da produção e a organização de estoques de antecipação para vendas nos períodos de picos. 3. Os estoques permitem que a produção mantenha operações mais longas (...) 4. Os estoques permitem que a produção compre em quantidades maiores, o que resulta na redução de custos de pedidos por unidade e em descontos sobre a quantidade. Arnold (1999) discute, também, a partir da administração de estoques, os principais objetivos dessa área: § Excelência no atendimento aos clientes; § Operação de baixo custo; § Investimento mínimo em estoque. Nessa analise, é importante, além disso, considerar a sazonalidade. Para determinar sua existência, basta comparar o comportamento de venda de um produto no período de um ano. Figura 3 – Ciclo de Estocagem 17 Para atender a essas perspectivas, são apresentadas, a seguir, as atividades principais que compreendem o gerenciamento dos estoques. Tais atividades variam de teor e intensidade, de acordo com o porte e a complexidade operacional de cada empresa. 4.1 Decisões de volume de ressuprimento – quanto pedir Conforme citado, as empresas possuem fortes motivações de caráter financeiro para reduzir o tamanho do estoque médio. Torna-se um objetivo constante minimizar a equação do custo total. Quando se analisa a fórmula apresentada anteriormente sobre o custo total dos estoques, pode-se concluir que a única variável presente nela é o tamanho do lote de compra (Q). Todos os demais componentes são aproximadamente fixos ao se pensar no curto prazo – um ano, por exemplo. 4.1.1 Quantidade econômica de pedido Uma das ferramentas mais utilizadas para minimizar o custo total de estoques é a quantidade econômica de pedidos, conhecida como lote econômico de compras (LEC). Trata-se de uma quantidade ótima a se pedir – ou produzir – no período de análise considerado. Essa quantidade minimiza o custo total de estoques. O método do lote econômico de compra ou fabricação considera algumas condições especiais, como o fato de a demanda anual ser fixa e conhecida, o preço do item não sofrer variação ao longo do período e nenhuma influência das quantidades de compra sobre o valor do custo de carregamento e do custo de pedido. Apesar de essas condições não serem exatamente verdadeiras no dia a dia de uma empresa, o 18 método do lote econômico é útil para a tomada de decisões em determinadas políticas de reposição que recomendam quantidades fixas de reposição. Essas situações permitem o desenvolvimento de análises relacionadas ao tamanho da quantidade econômica de compra ou fabricação. Descontos por quantidade ofertados pelo fornecedor tendem a induzir a empresa a comprar lotes maiores. Tal fato, entretanto, levará a um aumento no nível de estoque médio, o que gerará, por sua vez, aumento no custo total de estoque. Por outro lado, o aumento no tamanho do lote de compra levará a uma redução do número de reposições, o que gera redução no custo associado a essas ações de reposição, além de permitir a consolidação de cargas para o transporte. Portanto, tais dados são muito úteis para análises dessa natureza, quando a empresa precisa confrontar informações importantes sobre o efeito de uma decisão de tamanho de lote sobre o seu custo total de estoque. 4.1.2 Planejamento da necessidade de materiais (MRP) A técnica MRP, desenvolvida nos anos 60, auxilia no planejamento detalhado da produção, possuindo como característica ser voltada exclusivamente para operações de produção. Além disso é uma técnica voltada para itens de demanda dependente – quando a demanda de um item está vinculada à demanda de um outro item – e ter seu funcionamento associado à utilização da TI. A ideia é de que seja definido o momento exato para que os itens produzidos ou adquiridos estejam disponíveis para o próximo estágio da produção. Auxilia a empresa a posicionar os materiais certos no momento certo para os pontos de produção ou distribuição. Quanto ao conceito de demanda dependente, sempre que a demanda de um determinado item A está diretamente atrelada à demanda de um item B, diz-se que a demanda de A depende da demanda de B. A demanda por pés de borracha em uma fábrica de móveis de cozinha, por exemplo, é dependente da demanda por mesas. A lógica do sistema envolve elaborar um plano mestre de produção (PMP) para determinado produto, a partir da análise da carteira de pedidos atual– o que já está encomendado pelos clientes – e da previsão de vendas feita para aquele item para o período atual. Uma lista de materiais discrimina todos os itens que compõem cada montagem e submontagem que levarão ao produto final. A situação dos estoques envolve informações sobre o estoque em mãos, pedidos em aberto, quantidades de itens por pedido, tempo de reposição e disponibilidade para uso imediato. A ferramenta MRP utiliza a informação gerada pelo PMP, pela lista de materiais e pela situação dos estoques para “explodir” o produto final em seus vários componentes. Para cada componente listado, deverá ser apontada sua quantidade necessária, a fim de atender à necessidade de montagem do número de produtos acabados identificados no PMP. Definidos os itens necessários e as quantidades necessárias, é hora de se considerar também o tempo de atendimento necessário para cada um desses componentes. Esse tempo de atendimento deverá ser 19 subtraído do momento da necessidade do mesmo, a fim de determinar quando a empresa deve colocar um pedido junto ao fornecedor de cada componente. Esse é um conceito denominado programação para trás: quando se parte da data exigida para que um componente esteja disponível na empresa – ou na estação de trabalho – e se volta no tempo para precisar quando colocar o pedido. Todos os demais eventos antecedentes devem ser escalonados seguindo-se a mesma lógica para trás. Por fim, o cálculo das necessidades líquidas é feito da seguinte forma: Necessidade líquida = necessidade bruta – estoque em mãos + pedidos liberados A Tabela 3 apresenta um formulário de cálculo padrão para um MRP: Tabela 3 – Exemplo de Formulário de MRP FORMULÀRIO DE PROGRAMAÇÂO MRP Programação - períodos 1 2 3 4 5 6 7 8 Requisitos projetados Estoque no início do período Recebimentos Estoque no final do período Liberação de pedidos planejados 4.2 Decisões de tempo de ressuprimento – quando pedir O objetivo dos modelos de tomada de decisão em estoque é evitar que as empresas façam pedidos antes do momento adequado ou enfrentem situações de esvaziamento do estoque. Os modelos clássicos são: Reposição Contínua, Revisão Periódica, Kanban e MRP. Esse último foi discutido anteriormente. Vamos à análise dos outros três. 4.3.1 Reposição Contínua Nesse modelo, também chamado de ponto de pedido, busca-se determinar um nível de estoque que, uma vez atingido, determina o momento adequado para a colocação de um pedido junto ao fornecedor. Normalmente existe um razoável grau de incerteza nas operações normais de uma empresa, seja essa incerteza originada na demanda ou no suprimento. Para se determinar o momento de pedir, utilizando esse modelo, basta considerar o tempo de resposta médio desde a colocação do pedido no fornecedor até o reabastecimento das mercadorias. O ponto de pedido é o momento de pedir convertido no nível de estoques em unidades com base na multiplicação da taxa de consumo média – ou demanda – pelo tempo de resposta médio. É normal que as empresas possuam algum nível de estoque de segurança em suas operações. Dessa maneira, o ponto de pedido precisa considerar também esse nível de estoque de segurança. 20 A virtude principal desse modelo é que, dependendo do comportamento da demanda, o ritmo de pedidos pode ser irregular, mas o tamanho do pedido poderá ser constante e pode ser estabelecido no tamanho do lote econômico de compra. Uma das formas mais simples de visualizar o funcionamento desse sistema é utilizando o método conhecido como “duas gavetas”, conforme apresentado na Figura 4. Estoque de trabalho Estoque de reposição Estoque de segurança GAVETA 1 GAVETA 2 Figura 4 – Sistema duas gavetas Fonte: Gonçalves (2007) A ideia, comumente utilizada em empresas varejistas, é que se mantenha uma segunda gaveta guardada no estoque contendo a quantidade exata do ponto de pedido, enquanto uma primeira gaveta permanece na área de vendas da loja, contendo o estoque de trabalho. Toda vez que essa primeira gaveta esvazia, torna- se necessária a troca pela gaveta 2, e esse será o momento da colocação de um pedido de reposição junto ao fornecedor. A quantidade que está na gaveta 2 será suficiente para atender à demanda esperada durante o tempo de atendimento do fornecedor, sem que seja preciso utilizar o estoque de segurança. Caso haja algum atraso por parte do fornecedor, ou a taxa de demanda seja maior do que o esperado, o estoque de segurança servirá como proteção, evitando a falta de produtos. 4.2.2 Revisão Periódica Também chamado modelo do intervalo padrão ou modelo do estoque máximo. A quantidade disponível de um item é revista a intervalos de tempo especificados e fixos. Ao ser revisado o estoque do item, um pedido é emitido para o fornecedor, com quantidades que variarão, a depender da quantidade existente no momento da revisão e a previsão de demanda para o próximo intervalo de revisão. 21 Os intervalos de revisão são iguais e as quantidades de compra variam. A quantidade disponível mais a quantidade pedida devem durar até que a próxima remessa seja recebida. O sistema de revisão periódica é útil nas seguintes situações: · Quando os custos com pedidos são pequenos (pedidos são feitos a um centro de distribuição central da própria empresa, ou a atacadistas-distribuidores, entre outros casos); · Quando a atualização diária das transações no registro de estoque torna-se muito cara (supermercados e varejistas comumente se enquadram nessa categoria); · Quando muitos itens são pedidos em conjunto para completar uma carga de caminhão; Parâmetros para decisão em estoque (adaptado de Davis, 2001). 4.2.3 Sistema Just-in-time As novas técnicas de gestão da produção, como o just-in-time (JIT), entre outras, perseguem a compra de lotes cada vez menores como principal forma de se reduzir o nível de estoques nas empresas. Isso faz com que a determinação de quantidades econômicas de pedido perca um pouco da importância que se dedicava a ela anteriormente. O objetivo atual preponderante é atacar os custos que crescem de forma inversamente proporcional com o tamanho de lote de compra (Q), uma vez que se pretende justamente diminuir esse tamanho de lote (com os conseqüentes ganhos de flexibilidade e redução de riscos), sem que os custos totais de estoque sejam aumentados em virtude dessa meta. A técnica de origem japonesa just-in-time tem por objetivo tornar disponível o material certo, na quantidade certa e no momento certo. Trata-se de uma filosofia de manufatura baseada na eliminação de todos os desperdícios e no incremento da produtividade, reduzindo o índice de defeitos e os tempos de atendimento por meio da redução dos tempos de preparação dos equipamentos. 22 São sete os tipos de desperdícios apontados por essa filosofia: superprodução, tempo de espera, tempo de transporte, tempo de processamento, movimentação interna, produção sem qualidade e excesso de estoques. Alguns problemas podem surgir a partir da adoção de modelo JIT: o fluxo de comunicações entre fornecedor e cliente precisará ser bem dimensionado e bem utilizado; previsão da demanda deverá ter um grau de acurácia maior, pois o sistema trabalha com níveis menores de estoque; entregas frequentes em pequenos lotes podem encarecer os materiais de uma maneira que inviabilize o funcionamento do sistema; o sistema não é aplicável a itens que possuam curto ciclo de vida; ausência de habilidades e capacidades nas empresas para implantar tal filosofia pode impedir aprimoramentos propostos pelo sistema, levando a um resultado insatisfatório. 4.4. Sistemas de controle e análise de estoque Lidar com um grande número de itens estocados, fornecidos por diversos fornecedores, torna a tarefa de operações complexae dinâmica. Para controlar tal complexidade, deve-se atentar para duas tarefas primordiais: discriminar a prioridade de estoque e investir em um sistema de processamento de informação que possa lidar com seus particulares conjuntos de circunstâncias de controle de estoque. 4.4.1 Sistema ABC de controle de estoques Alguns itens são mais importantes para a empresa do que outros. Um exemplo são itens que tem uma taxa de utilização muito alta, cuja falta decepcionaria muitos consumidores. Outros, por terem valores altos, se tiverem níveis excessivos de estoque, encarecerão sobremaneira o sistema. O principal objetivo da classificação ABC é gerenciar de maneira mais adequada os itens mais importantes para a empresa. O controle de estoque é exercido pelo controle dos itens individuais, chamados de unidades de armazenamento em estoques (SKUs – stock keeping units). Uma forma comum de discriminar diferentes itens de estoque é fazer uma lista deles, de acordo com suas movimentações de valor (taxa de uso multiplicada por seu valor individual). Geralmente, uma pequena proporção dos itens totais contidos em estoque vai representar uma grande proporção do valor total em estoque (Lei de Pareto, ou regra 80/20). Tipicamente, 80% do valor do estoque de uma operação é responsável por somente 20% de todos os tipos de itens estocados. Os esforços devem ser concentrados no controle desses itens mais significativos do estoque. Figura 5 – Classificação ABC 23 O sistema de controle ABC responde a duas perguntas importantes: (i) Qual é a importância do item em estoque? (ii) Como os itens são controlados? · Itens classe A são aqueles 20% de itens de alto valor que representam cerca de 80% do valor total do estoque. · Itens classe B são aqueles de valor médio, usualmente os seguintes 30% dos itens que representam cerca de 10% do valor total. · Itens classe C são aqueles de baixo valor que, apesar de compreender cerca de 50% do total de tipos de itens estocados, provavelmente somente representam cerca de 10% do valor total de itens estocados. A tabela a seguir apresenta um exemplo de classificação ABC de itens mantidos em estoque por uma empresa. O gráfico (Figura 6) ilustra os dados da tabela. Os primeiros quatro itens dessa lista de estoque da empresa serão classificados como “classe A” e terão seu uso e seus pedidos monitorados mais de perto, inclusive determinando alguns melhoramentos em quantidades de pedido e estoques de segurança, a fim de se conseguir algumas economias significativas. Do 5º ao 10º item serão classificados como classe B, com um pouco menos de esforço dedicado a seu controle. Todos os outros itens são classificados como itens classe C, cuja política de estoque é revista ocasionalmente. Uso anual e valor monetário, como no exemplo acima, são os dois critérios mais comuns. Porém, podem- se, alternativamente, utilizar outros critérios, tais como a consequência de falta de estoque, a incerteza de fornecimento ou a perda de valor do estoque por alta taxa de obsolescência, entre outros. 24 Tabela 4 – Valor de uso e percentual cumulativo de itens em estoque Item de estoque Uso (itens/ano) Custo ($/item) Valor de uso ($/ano) % do valor total % cumulativo total A 700 2,00 1.400 25,1% 25,1% B 450 2,75 1.238 22,2% 47,4% C 1.000 0,90 900 16,2% 63,5% D 95 8,50 808 14,5% 78,0% E 520 0,54 281 5,0% 83,1% F 73 2,30 168 3,0% 86,1% G 520 0,22 114 2,1% 88,1% H 170 0,65 111 2,0% 90,1% I 250 0,34 85 1,5% 91,7% J 250 0,30 75 1,3% 93,0% K 400 0,14 56 1,0% 94,0% L 80 0,63 50 0,9% 94,9% M 230 0,21 48 0,9% 95,8% N 400 0,12 48 0,9% 96,6% O 500 0,09 45 0,8% 97,5% P 50 0,88 44 0,8% 98,2% Q 70 0,57 40 0,7% 99,0% R 50 0,64 32 0,6% 99,5% S 50 0,32 16 0,3% 99,8% T 20 0,50 10 0,2% 100,0% 5.568 100,0% Fonte: elaborado pelos autores 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 número do item % c u m u la ti v o t o ta l Figura 6 – Classificação ABC de estoques As principais características que norteiam a função do estoque são: a) funcionar como amortecedor que garanta oscilações entre produção e demanda e b) garantir o suprimento dos materiais necessários à produção ou prestação de serviços (DIAS, 1995). Os profissionais responsáveis pelo dimensionamento dos estoques costumam reclamar em relação ao grau de incerteza que envolve o planejamento de 25 materiais, reforçando a necessidade de utilização de ferramentas que possibilitem, no mínimo, aliviar os transtornos causados pela falta ou excesso de produtos estocados. A utilização de técnicas que permitam aplicar tratamentos apropriados a cada item de estoque constitui importante aliado na elaboração das estratégias de gestão dos estoques. A utilização de ferramentas que permitam o dimensionamento dos estoques possibilita ao gestor diferenciar o senso comum do bom senso (GASNIER, 2002). Esse dimensionamento baseia-se na classificação dos itens de estoque, de acordo com suas características. O Quadro 1 resume as principais classificações normalmente utilizadas. No gerenciamento da cadeia de suprimentos, é possível ter várias ferramentas, de acordo com a necessidade da gerência e da organização com os seus fornecedores e clientes. De uma maneira geral, pode-se concluir que, com a incerteza no tempo de reposição, devido a problemas de tempo na licitação ou na falta de controle do estoque, por exemplo, pode ocorrer a falta de produtos ou a elevação do estoque de segurança, gerando custos desnecessários de manutenção de estoques, relativos aos custos financeiros e de armazenagem. Nota-se, ainda, uma otimização desse processo por meio da adoção de contratos de longo prazo para concorrências repetitivas e constantes. Essa política de aquisição tem levado à redução da imobilização em estoque, simplificação dos procedimentos de compra e ampliação do poder de compra. 26 Quadro 1 – Critérios para dimensionamento de estoques Várias outras técnicas tem sido desenvolvidas para auxiliar o controle e planejamento de estoque, originadas em grande parte na engenharia de produção (BALLOU, 1993). O planejamento e controle dos estoques encontram também em sistemas de gestão como o Just-in-Case (JIC) e Just-in-Time (JIT), parâmetros que auxiliam na elaboração de sistemas de disponibilidade de materiais durante o processo de aquisição. O Just-in-Time navega em direção contrária, considerando o estoque como recurso ocioso. É baseado no reabastecimento automático dos materiais no momento em que forem necessários, demandando uma proximidade maior com os fornecedores, além de um processo de compras mais ágil (GASNIER, 2002). 4.4.2 Indicadores de desempenho em gestão de estoques O valor monetário pode ser usado também para medir o nível absoluto de estoque em qualquer instante (quantidade em estoque x custo de aquisição do produto; posteriormente, soma-se o valor de cada item para chegar ao valor total de estoque). Chega-se ao tamanho do investimento que uma operação faz em estoques. Pode-se medir, também, o quão grande este investimento é em relação ao fluxo total da operação. Para 27 isso, deve-se comparar o número total de itens em estoque com sua taxa de uso, de duas maneiras: calculando a cobertura de estoque (quantidade de tempo que o estoque duraria, sujeito à demanda normal, se não fosse reabastecido) e calculando o giro de estoque (frequência com que o estoque é completamente usado em um período). A cobertura de estoque é calculada dividindo-se o estoque médio pela demanda por unidade de tempo (tal unidade de tempo será o resultado do cálculo). Indica o número de meses, semanas ou dias que o estoque médio (ou atual, o que for utilizado) suporta a demanda. O giro de estoque é o inverso do períodode cobertura de estoque, sendo calculado pela divisão da demanda por unidade de tempo pelo estoque médio no mesmo período. Indica o número de vezes que o estoque foi completamente zerado no período de tempo. A tabela a seguir apresenta alguns indicadores adicionais de desempenho em gestão de estoques. Tabela 5 – indicadores de performance em gestão dos estoques Giro de estoque Valor financeiro investido em estoque Valor do estoque em relação à receita bruta Custos de carregamento do estoque Obsolescência do estoque Estoque planejado versus estoque atual Taxa de disponibilidade do item Entregas no prazo acordado Taxa de precisão dos registros de estoque Relação entre o estoque consignado e o estoque total Número de programas de gestão do estoque pelo fornecedor Número de paradas da linha de produção em virtude de ruptura de fornecimento Taxa de atendimento do cronograma de produção Taxa de atendimento da demanda dos clientes Taxa de atendimento da demanda dos clientes internos Redução dos riscos de fonte única de suprimentos Fonte: Adaptado de Carter & Monczka (2005) Referências ARNOLD, J. R. Administração de materiais: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1999. BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 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