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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
UNIDADE: Campo Grande 
CURSO: Direito 
DISCIPLINA: Filosofia (ARA0099) – 2024.1 
PROFESSOR: Danilo Mariano Pereira 
UNIDADE II: Filosofia na Modernidade 
AULA 7: Teorias do Contrato Social: John Locke e o liberalismo 
Temas de Aprendizagem 
- O contrato social na visão de John Locke: a defesa da propriedade privada 
- Jusnaturalismo: o Estado como protetor de direitos naturais 
- A diferença entre Estado e governo: o moderno Estado democrático 
- Juspositivismo: o governo das leis e o moderno Estado de direito 
Situação-Problema 
John Locke (1632-1704) foi um importante filósofo e político inglês, considerado o principal 
ideólogo da Revolução Gloriosa de 1688. Muito ligado às elites burguesas de seu país, suas ideias 
foram fundamentais na luta contra as tentativas de restituição da Monarquia Absolutista na Inglaterra. 
No entanto, suas teorias extrapolaram os limites de seu contexto histórico e, segundo Norberto 
Bobbio, se tornaram a principal base do Estado democrático do direito em que vivemos até hoje. 
Pergunta-se: Quais são as ideias mais importantes de John Locke? De que maneira elas 
atenderam aos interesses da burguesia de sua época? Por que se tornaram tão importantes para a 
concepção do atual Estado democrático de direito? 
Referências 
MASCARO, Alysson Leandro. “A Filosofia do Direito Moderna - I”; “A Filosofia do Direito 
Moderna - II”. In: Filosofia do Direito. 6ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2018. 
MELLO, Leonel. “John Locke e o individualismo liberal”. In: WEFFORT, Francisco (org.) 
Os clássicos da política – Volume 1. 14ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2011. 
Atividade Verificadora da Aprendizagem 
Qual é a diferença entre justiça e lei? Todas as leis são justas, pelo simples fato de terem sido 
instituídas pelo Estado? É possível haver leis injustas? O que torna as leis legítimas? 
 
O contrato social na visão de John Locke: a defesa da propriedade privada 
John Locke (1632-1704) foi um importante filósofo e político inglês, considerado o principal 
ideólogo da Revolução Gloriosa de 1688. Muito ligado às elites burguesas de seu país, suas ideias 
foram fundamentais na luta contra as tentativas de restituição da Monarquia Absolutista na Inglaterra. 
John Locke (1632-1704) é o mais destacado pensador da filosofia burguesa moderna, em ascensão 
na Inglaterra de seu tempo. Locke esteve envolvido de modo próximo com a Revolução Gloriosa, de 1688, 
que pôs fim ao Absolutismo e declarou, em 1689, o Bill of Rights inglês. No mesmo ano de 1689 saem 
publicados, na Inglaterra, seus dois principais livros, os chamados Dois tratados sobre o governo: o 
Primeiro e o Segundo tratado sobre o governo civil (Mascaro, 2018, p. 181). 
Como filósofo, Locke era um radical defensor do empirismo. Para ele, o verdadeiro 
conhecimento provém da experiência empírica. Assim, ele se contrapõe aos chamados inatistas, 
segundo os quais, todo conhecimento é inato, isto é, encontra-se na mente humana, não no mundo 
sensível. Assim, na visão dessa corrente, seria por meio da reflexão, e não pela experiência empírica, 
que se poderia construir (ou melhor, acessar) esse conhecimento que nós já temos dentro de nós. 
No que diz respeito à sua filosofia geral, Locke é um dos mais destacados pensadores do 
empirismo. Insurge-se contra os inatistas, que argumentavam que o conhecimento partia de ideias já dadas, 
inatas. Para Locke, não se encontram em todos os indivíduos as mesmas ideias universais inatas. Por isso, 
o conhecimento se faz, no indivíduo, a partir de uma tabula rasa. No pensamento de Locke, é a experiência 
sensível que leva ao conhecimento. Tal postura, no campo da filosofia do conhecimento, será a mesma para 
o campo da filosofia política e da filosofia do direito. Não há poder inato, que venha de Deus. O poder é 
uma construção humana (Mascaro, 2018, p. 181-182). 
Assim como Thomas Hobbes, John Locke é um filósofo contratualista. Para ele, o Estado e a 
sociedade civil surgem por efeito de um pacto, um acordo, estabelecido racionalmente entre os 
homens, por meio do qual eles deixam de viver em estado de natureza e passam a viver em estado de 
civilização, tornando-se assim civilizados. 
Mas, sua visão sobre como se dá esse processo é totalmente diferente da de Hobbes. Para 
Locke, o estado de natureza não é uma guerra generalizada de todos contra todos ou o mais absoluto 
caos, como pensava Hobbes. Para ele, embora não haja leis positivas na natureza, uma vez que não 
há Estado nem instituições, há leis naturais que regem a vida dos homens. Essas leis naturais garantem 
um mínimo de ordem – uma espécie de ordem natural ou justiça natural (jus naturale) – que permite 
aos homens usufruírem de seus direitos naturais de forma mais ou menos pacífica e segura. 
Ao contrário de Hobbes, para quem o estado natural era de guerra de todos contra todos, em Locke 
o estado de natureza é pacífico, pois o homem, mesmo nessa condição, tem meios de compreensão da lei 
natural. O homem não tem, no pensamento de Locke, uma inclinação de natureza a ser lobo do homem. 
[...]. Os homens, em estado natural, são iguais e desfrutam da liberdade. Sendo livres e iguais, não são, no 
entanto, necessariamente irrefreáveis no uso dessa liberdade. Para Locke, a liberdade natural não impede 
que possam os indivíduos viver com algum respeito nessa condição. A liberdade é possível em natureza 
por conta da lei natural, que nela existe (Mascaro, 2018, p. 183, grifos nossos). 
Nesse sentido, os homens instituem o contrato social e passam a viver em sociedade apenas 
para assegurar e expandir a justiça e os direitos naturais de que já dispõem em estado de natureza. 
Para Locke, o direito natural mais importante é a propriedade. Esse termo, em sua obra, ora 
designa, em sentido genérico, a vida, a liberdade e a posse sobre os bens; ora designa, em sentido 
estrito, a propriedade privada, isto é, a posse sobre os bens, entendidos estes em sentido econômico. 
Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam 
livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam 
originalmente no estado de natureza. No estado civil os direitos naturais inalienáveis do ser humano à vida, 
à liberdade e aos bens estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um 
corpo político (Mello, 2011, p. 6). 
Nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, 
numa primeira acepção genérica utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberdade e os 
bens como direitos naturais do ser humano. [...]. Locke utiliza também a noção de propriedade numa 
segunda acepção que, em sentido estrito, significa especificamente a posse de bens móveis ou imóveis. A 
teoria da propriedade de Locke, que é muito inovadora para sua época, também difere bastante da de 
Hobbes. Para Hobbes, a propriedade inexiste no estado de natureza e foi instituída pelo Estado-Leviatã após 
a formação da sociedade civil. Assim como a criou, o Estado pode também suprimir a propriedade dos 
súditos. Para Locke, ao contrário, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma instituição 
anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado (Idem, p. 5). 
Por isso, a finalidade básica do Estado, para ele, é justamente proteger a propriedade privada. 
A finalidade precípua do contrato social é, para o pensamento de Locke, a garantia da propriedade 
privada. São célebres suas palavras nesse sentido, no Segundo tratado: “O fim maior e principal para os 
homens unirem-se em sociedades políticas e submeterem-se a um governo é, portanto, a conservação de 
sua propriedade” (Mascaro, 2018, p. 184). 
Nesse ponto, Locke se alia à burguesia de sua época, que vinha justamente buscando 
fundamentos filosóficos e jurídicos para a proteção de suas riquezas. Em um primeiro momento,essa 
proteção era contra a tirania de um Estado monárquico absolutista. Em um segundo momento, após 
a Revolução Inglesa, essa proteção se tornou necessária contra as reivindicações dos trabalhadores, 
que se revoltavam com a miséria e a desigualdade e clamavam por distribuição de renda, por melhores 
salários, por direitos trabalhistas, previdenciários e sociais, como saúde e educação etc. 
Jusnaturalismo: o Estado como protetor de direitos naturais 
É preciso salientar a diferença entre a teoria dos direitos naturais em Hobbes e Locke. 
Para Hobbes, o contrato social e a criação do Estado significam a renúncia total aos direitos 
naturais. Em sua visão, qualquer reivindicação de direitos naturais leva os homens de volta para o 
estado de natureza, isto é, para a desordem, o caos e a guerra. Já para Locke, o contrato social não 
serve para pôr fim aos direitos naturais, mas sim, ao contrário, para assegurá-los. Por essa razão, ele 
é considerado o criador da chamada teoria dos direitos naturais, conhecida como jusnaturalismo. 
Na visão de Locke, o único direito natural ao qual o homem civilizado renuncia é o direito à 
“justiça por conta própria”, isto é, o direito ao castigo. Nesse ponto, ele se aproxima de Hobbes, pois, 
para ambos, o Estado deve exercer o monopólio sobre o uso legítimo da força e da violência. 
O Estado não surge como um negador dos direitos naturais. Antes, é um continuador desses 
direitos, garantindo-os. O mais importante direito que leva ao contrato, o direito à propriedade privada, 
mantém-se. Apenas o direito à justiça por conta própria é retirado dos indivíduos, situando-o agora nas 
mãos do Estado. Os demais direitos naturais permanecem em continuidade do estado de natureza para o 
social. Para Locke, a renúncia, na passagem do estado de natureza para a sociedade civil, só se dá no que 
tange ao direito à preservação de si por conta própria, que se acompanha também da renúncia ao poder de 
castigar [...]. Assim sendo, a passagem do estado de natureza para a sociedade civil em Locke não representa 
uma transformação da liberdade em submissão, como o era no pensamento de Hobbes (Idem, p. 184-185). 
Nas palavras do próprio John Locke: 
Ao primeiro poder, ou seja, o de fazer tudo quanto considere adequado para a preservação de si e 
do resto da humanidade, ele renuncia para que seja regulado por leis elaboradas pela sociedade. [...] Em 
segundo lugar, renuncia por completo ao poder de castigar e empenha sua força natural (que anteriormente 
poderia empregar na execução da lei da natureza, mediante sua autoridade individual, conforme julgasse 
conveniente) para assistir o poder executivo da sociedade, segundo a lei desta o exija (Idem, p. 184-185). 
A diferença entre Estado e governo: o moderno Estado democrático 
John Locke notabilizou-se também por introduzir a reflexão sobre a diferença entre Estado e 
governo. Para ele, a assinatura do contrato social é apenas o ato que instaura o Estado. Mas, a isso, 
deve-se seguir a construção de um governo, isto é, a escolha de um grupo de homens que vai exercer 
o poder dado pelo Estado. Logo, essas duas figuras são diferentes e funcionam de formas diferentes. 
A assinatura do contrato social, que dá origem ao Estado, deve ser obrigatoriamente unânime (nisso 
ele também concorda com Hobbes). Já as decisões do governo pressupõem e admitem divergências 
de opiniões, funcionando por maioria de voto. Logo, decisões de governo são decisões majoritárias. 
Essa reflexão sobre a diferença entre Estado e governo leva a duas conclusões. 
1. O povo não deve participar apenas do ato de instauração do Estado (assinatura do contrato 
social), mas também de todas as decisões do governo. Em outras palavras, não basta haver um Estado 
civil. É preciso haver também um governo civil. É por isso que suas obras mais importantes são os 
dois tratados sobre o governo civil. 
2. A unanimidade necessária para a constituição do Estado desaparece no âmbito do governo. 
Divergências de opiniões podem existir (e inevitavelmente existirão), o que não compromete a 
integridade do Estado. As divergências devem ser dirimidas por meio do debate e do voto, que fazem 
prevalecer a vontade da maioria. As minorias, por sua vez, não devem ser vistas como um perigo para 
o Estado, não devendo, portanto, ser exterminadas ou submetidas à maioria, como propõe Hobbes. 
Assim, a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil [...] se opera quando, 
através do contrato social, os indivíduos singulares dão seu consentimento unânime para a entrada no estado 
civil. Estabelecido o estado civil, o passo seguinte é a escolha pela comunidade de uma determinada forma 
de governo. Na escolha do governo, a unanimidade do contrato originário cede lugar ao princípio da 
maioria, segundo o qual prevalece a decisão majoritária e, simultaneamente, são respeitados os direitos da 
minoria (Mello, 2011, p. 6, grifos nossos). 
Com isso, John Locke estabeleceu as bases do chamado moderno Estado democrático, em que 
o poder é exercido (i) pela maioria; (ii) com respeito aos direitos das minorias; e (iii) por meio da 
representação política, isto é, por representantes do povo escolhidos pelo próprio povo. 
Juspositivismo: o governo das leis e o moderno Estado de direito 
Locke é considerado ainda um grande expoente do chamado juspositivismo. Esse termo 
designa, de um modo geral, a visão, segundo a qual, a noção de justiça equivale ao cumprimento das 
leis positivas, isto é, as leis criadas pelo Estado, como se estas fossem dotadas de um valor intrínseco. 
O juspositivismo de Locke advém de que, para ele, o Poder Legislativo é o poder supremo. 
Os outros dois poderes – Executivo e Federativo (responsável pelas relações exteriores) – devem 
obrigatoriamente seguir as regras instituídas pelo Parlamento. E esse caráter supremo do legislativo 
deriva precisamente do fato de que é o povo quem escolhe os membros desse poder. Assim, por meio 
da representação política, isto é, o direito de voto, o Parlamento se torna a verdadeira expressão da 
vontade popular. Nesse sentido, as leis positivas são consideradas por Locke como necessariamente 
justas e virtuosas, na medida em que emanam do povo. E a vontade do povo, para ele, é sagrada. Por 
isso, segundo esse autor, um governo tirano é sempre aquele que viola e descumpre as leis do Estado. 
Definida a forma de governo, cabe igualmente à maioria escolher o poder legislativo, que Locke, 
conferindo-lhe uma superioridade sobre os demais poderes, denomina de poder supremo. Ao legislativo se 
subordinam tanto o poder executivo, confiado ao príncipe, como o poder federativo, encarregado das 
relações exteriores (guerra, paz, alianças e tratados). [...]. Locke afirma que, quando o executivo ou o 
legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a 
que fora destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania. O que define a tirania é o exercício do 
poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum (Idem, p. 6-7). 
Essa visão de Locke consolida o que hoje chamamos de Estado democrático de direito, isto é, 
um Estado cujo poder é exercido pela maioria, com respeito aos direitos da minoria, por meio da 
representação política e em observância às leis estabelecidas. Essa submissão absoluta às leis é a 
característica essencial do Estado de direito, denominado também de governo das leis. Portanto, as 
ideias de John Locke constituem a origem de algumas das características mais básicas do modelo de 
Estado adotado em quase todos os modernos países democráticos da atualidade. 
Ao mesmo tempo, essa visão juspositivista defendida por John Locke também interessava 
diretamente aos burgueses de sua época, pois, àquela altura, o Parlamento inglês (sede do Poder 
Legislativo) era ocupado quase exclusivamente pela burguesia. Assim, ao definir justiça como 
respeito às leis, afirmandoque estas últimas são a perfeita expressão da vontade popular, Locke 
ajudou a legitimar os interesses burgueses, pois estes sempre se transformavam em leis oriundas do 
Parlamento e passavam então a ser vistos como sinônimo de interesse geral da sociedade.

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