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DIREITOS HUMANOS
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Direitos Humanos
O Que São Os Direitos Humanos?
Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça,
sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.
Estudantes da Escola Secundária Butkhak em Cabul, no Afeganistão, participam da Semana de Ação
Global, uma campanha internacional que defende uma educação gratuita e de qualidade para todas e
todos.
Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o
direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem
discriminação.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as obrigações dos governos de agirem de
determinadas maneiras ou de se absterem de certos atos, a fim de promover e proteger os direitos
humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos.
Desde o estabelecimento das Nações Unidas, em 1945 – em meio ao forte lembrete sobre os
horrores da Segunda Guerra Mundial –, um de seus objetivos fundamentais tem sido promover e
encorajar o respeito aos direitos humanos para todos, conforme estipulado na Carta das Nações
Unidas:
“Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos
humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre
homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em
uma liberdade mais ampla, … a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos
Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…”
Preâmbulo Da Declaração Universal Dos Direitos Humanos, 1948
Contexto E Definição Dos Direitos Humanos
Os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano.
O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos
humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem
social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza.
Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e
grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana.
Estão expressos em tratados, no direito internacional consuetudinário, conjuntos de princípios e
outras modalidades do Direito. A legislação de direitos humanos obriga os Estados a agir de uma
determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem em atividades específicas. No entanto, a
legislação não estabelece os direitos humanos. Os direitos humanos são direitos inerentes a cada
pessoa simplesmente por ela ser um humano.
Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir para proteger formalmente os direitos de
indivíduos ou grupos contra ações ou abandono dos governos, que interferem no desfrute de seus
direitos humanos.
Algumas das características mais importantes dos direitos humanos são:
o Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa;
o Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem
discriminação a todas as pessoas;
o Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles
podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido
se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo
legal;
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o Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente
respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o
respeito por muitos outros;
o Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo
igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.
Normas Internacionais De Direitos Humanos
A expressão formal dos direitos humanos inerentes se dá através das normas internacionais de
direitos humanos. Uma série de tratados internacionais dos direitos humanos e outros instrumentos
surgiram a partir de 1945, conferindo uma forma legal aos direitos humanos inerentes.
A criação das Nações Unidas viabilizou um fórum ideal para o desenvolvimento e a adoção dos
instrumentos internacionais de direitos humanos. Outros instrumentos foram adotados a nível
regional, refletindo as preocupações sobre os direitos humanos particulares a cada região.
A maioria dos países também adotou constituições e outras leis que protegem formalmente os
direitos humanos básicos. Muitas vezes, a linguagem utilizada pelos Estados vem dos instrumentos
internacionais de direitos humanos.
As normas internacionais de direitos humanos consistem, principalmente, de tratados e costumes,
bem como declarações, diretrizes e princípios, entre outros.
Tratados
Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprometem com regras específicas. Tratados
internacionais têm diferentes designações, como pactos, cartas, protocolos, convenções e acordos.
Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que tenham consentido em se comprometer
com as disposições do tratado – em outras palavras, que são parte do tratado.
Um Estado Pode Fazer Parte De Um Tratado Através De Uma Ratificação, Adesão Ou
Sucessão.
A ratificação é a expressão formal do consentimento de um Estado em se comprometer com um
tratado. Somente um Estado que tenha assinado o tratado anteriormente – durante o período no qual
o tratado esteve aberto a assinaturas – pode ratificá-lo.
A ratificação consiste de dois atos processuais: a nível interno, requer a aprovação pelo órgão
constitucional apropriado – como o Parlamento, por exemplo. A nível internacional, de acordo com as
disposições do tratado em questão, o instrumento de ratificação deve ser formalmente transmitido ao
depositário, que pode ser um Estado ou uma organização internacional como a ONU.
A adesão implica o consentimento de um Estado que não tenha assinado anteriormente o
instrumento. Estados ratificam tratados antes e depois de este ter entrado em vigor. O mesmo se
aplica à adesão.
Um Estado também pode fazer parte de um tratado por sucessão, que acontece em virtude de uma
disposição específica do tratado ou de uma declaração. A maior parte dos tratados não são auto-
executáveis. Em alguns Estados tratados são superiores à legislação interna, enquanto em outros
Estados tratados recebem status constitucional e em outros apenas certas disposições de um tratado
são incorporadas à legislação interna.
Um Estado pode, ao ratificar um tratado, formular reservas a ele, indicando que, embora consinta em
se comprometer com a maior parte das disposições, não concorda com se comprometer com certas
disposições. No entanto, uma reserva não pode derrotar o objeto e o propósito do tratado.
Além disso, mesmo que um Estado não faça parte de um tratado ou não tenha formulado reservas, o
Estado pode ainda estar comprometido com as disposições do tratado que se tornaram direito
internacional consuetudinário ou constituem normas imperativas do direito internacional, como a
proibição da tortura. Todos os tratados das Nações Unidas estão reunidos em treaties.un.org.
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cOSTUME
O direito internacional consuetudinário – ou simplesmente “costume” – é o termo usado para
descrever uma prática geral e consistente seguida por Estados, decorrente de um sentimento de
obrigação legal.
Assim, por exemplo, enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é, em si, um tratado
vinculativo, algumas de suas disposições têm o caráter de direito internacional consuetudinário.
Declarações, resoluções etc. adotadas pelos órgãos das Nações Unidas
Normas gerais do direito internacional – princípios e práticas com os quaisa maior parte dos Estados
concordaria – constam, muitas vezes, em declarações, proclamações, regras, diretrizes,
recomendações e princípios.
Apesar de não ter nenhum feito legal sobre os Estados, elas representam um consenso amplo por
parte da comunidade internacional e, portanto, têm uma força moral forte e inegável em termos na
prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações internacionais.
O valor de tais instrumentos está no reconhecimento e na aceitação por um grande número de
Estados e, mesmo sem o efeito vinculativo legal, podem ser vistos como uma declaração de
princípios amplamente aceitos pela comunidade internacional.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, por exemplo, recebeu o
apoio dos Estados Unidos em 2010, o último dos quatro Estados-membros da ONU que se opuseram
a ela.
Ao adotar a Declaração, os Estados se comprometeram a reconhecer os direitos dos povos indígenas
sob a lei internacional, com o direito de serem respeitados como povos distintos e o direito de
determinar seu próprio desenvolvimento de acordo com sua cultura, prioridades e leis
consuetudinárias (costumes).
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de
dezembro 1948.
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e
de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros
que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o
ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos
fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos
do homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida
em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as
Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a
observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso,
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Agora portanto a Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por
meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção
de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra
condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional
do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob
tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão
proibidos em todas as suas formas.
Artigo 5
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo 6
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos
têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os
atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um
tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer
acusação criminal contra ele.
Artigo 11
1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham
sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 12
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua
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correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da
lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo 13
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.
Artigo 14
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros
países.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de
direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade.
Artigo 16
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao
casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do
Estado.
Artigo 17
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo
ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.
Artigo 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; essedireito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
Artigo 20
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por
intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure
a liberdade de voto.
Artigo 22
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo
esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada
Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
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2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus
interesses.
Artigo 24
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e
a férias remuneradas periódicas.
Artigo 25
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde,
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou
outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças,
nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo 26
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do
fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus
filhos.
Artigo 27
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as
artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer
produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades
estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo 29
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de
sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e
do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 30
Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a
qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato
destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
Como Surgiram Os Direitos Humanos?
Os direitos humanos são garantias históricas, que mudam através do tempo, adaptando-se às
necessidades específicas de cada momento. Por isso, ainda que a forma com que atualmente
conhecemos os direitos humanos tenha surgido com a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
assinada em 1948, antes disso, princípios de garantia de proteção aos direitos básicos do indivíduo já
apareciam em algumas situações ao longo da história.
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A primeira forma de declaração dos direitos humanos na história é atribuída ao Cilindro de Ciro, uma
peça de argila contendo os princípios de Ciro, rei da antiga Pérsia que ao conquistar a cidade da
Babilônia, em 539 a.C. libertou todos os escravos da cidade, declarou que as pessoas poderiam
escolher a sua própria religião e estabeleceu a igualdade racial.
A ideia de direitos humanos espalhou-se rapidamente para outros lugares. Com o tempo, surgiram
outros importantes documentos de afirmação dos direitos individuais, como a Petição de Direito, um
documento elaborado pelo Parlamento Inglês em 1628 e posteriormente enviada a Carlos I como
uma declaração de liberdades civis. A Petição baseou-se em cartas e estatutos anteriores e tinha
como principal objetivo limitar decisões do monarca sem autorização do Parlamento.
Já em 1776, foi deflagrado o processo de independência dos Estados Unidos, contexto em que foi
publicada uma declaração que acentuava os direitos individuais (direito à vida, à liberdade e à busca
pela felicidade) e o direito de revolução. Essas ideias não só foram amplamente apoiadas pelos
cidadãos estadunidenses, como influenciaram outros fenômenos similares no mundo, em particular
a Revolução Francesa, em 1789.
Os marcantes acontecimentos da Revolução Francesa resultaram na elaboração de um histórico
documento chamado Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nele, foi garantido sobretudo
que todos os cidadãos franceses deveriam ter direito à liberdade, propriedade, segurança e
resistência à opressão.
Esses documentos são considerados importantes precursores escritos para muitos dos documentos
de direitos humanos atuais, entre eles a Declaração Universal de 1948.
Leia mais: conheça movimentos sociais contemporâneos nesta trilha
A Declaração Universal Dos Direitos Humanos
A Segunda Guerra Mundial resultou na perda de um grande número de pessoas, sobretudo com as
muitas violações a direitos individuais cometidas por governos fascistas durante o período. Logo após
o fim do conflito, formou-se a Organização das Nações Unidas (ONU), cujo objetivo declarado é
trazer paz a todas as nações do mundo.
Além disso, foi criada uma comissão, liderada por Eleanor Roosevelt, com o propósito de criar um
documento onde seriam escritos os direitos que toda pessoa no mundo deveria ter. Esse documento
é a Declaração Universal, formada por 30 artigos que versam sobre os direitos inalienáveis que
devem garantir a liberdade, a justiça e a paz mundial.
Entre os diversos direitos garantidos pela Declaração Universal, estão o direito a não ser escravizado,
de ser tratado com igualdade perante as leis, direito à livre expressão política e religiosa, à liberdade
de pensamento e de participaçãopolítica. O lazer, a educação, a cultura e o trabalho livre e
remunerado também são garantidos como direitos humanos fundamentais.
Hoje, a Declaração Universal é assinada pelos 192 países que compõem as Nações Unidas e, ainda
que não tenha força de lei, o documento serve como base para constituições e tratados
internacionais.
Como Estes Direitos São Garantidos?
As normas de direitos humanos são organizadas por cada país através de negociação com
organizações como a ONU e em encontros e conferências internacionais. Vários países ainda firmam
compromisso em garantir os direitos humanos através de tratados das Nações Unidas, sobre as mais
diversas áreas, como direitos econômicos, discriminação racial, direitos da criança, entre outros. Para
cada um destes tratados, existe um comitê de peritos que avalia como as nações participantes estão
cumprindo as obrigações que assumiram ao se comprometer com o tratado.
Além disso, outros órgãos da ONU, como a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Conselho de
Direitos Humanos e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos constantemente se pronunciam
sobre casos de violações de direitos humanos em todo o mundo.
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Outro instrumento para garantia destes direitos são as operações de manutenção da paz, realizadas
pela ONU e que fiscalizam o cumprimento dos direitos humanos em diversas partes do mundo. Além
disso, já existem três tribunais de direitos humanos, um localizado na Europa, um na África e um no
continente americano.
A nível nacional, cada país é responsável por garantir os direitos humanos dentro de seu território.
Mas na fiscalização destes direitos atuam também instituições de direitos humanos, organizações
profissionais, instituições acadêmicas, grupos religiosos, organizações não governamentais, entre
outros.
Na Prática, Os Direitos Humanos Ainda São Um Desafio
Embora existam diversos documentos e instrumentos para garantir os direitos humanos, na prática
ainda há uma grande dificuldade em tirar esses planos do papel. Segundo o doutor em Filosofia do
Direito Bernardo Guerra, o desafio para a eficácia dos direitos humanos está relacionado
principalmente à falta de vontade política, muitas vezes sob a justificativa dos altos custos
dos investimentos sociais.
Ainda hoje, os direitos humanos são desrespeitados em todas as regiões do mundo. Um caso
bastante notável é o da Síria, que, após anos em guerra civil, enfrenta uma grave crise de refugiados,
metade deles crianças sem acesso à educação, sem documentos e que muitas vezes são os
responsáveis pelo sustento da família.
Direitos Humanos
Fazem parte dos direitos humanos todo um conjunto de direitos fundamentais, os quais todos os
seres humanos, de todos os povos e nações, devem usufruir pelo simples fato de existirem,
independentemente de sua classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento político.
São direitos tidos como universais, aplicáveis a todos os homens e mulheres do planeta, sem
nenhuma distinção. Ainda que cada nação ou grupo tenha seu próprio escopo jurídico, os direitos
humanos devem ser aplicáveis em todo e qualquer território. Mesmo que escassamente praticado –
especialmente em países pobres ou com uma longa tradição de autoritarismo político – o respeito aos
direitos humanos é considerado pré-requisito para o exercício pleno da democracia.
Os direitos humanos são históricos, o que quer dizer que mudam através do tempo, respondendo as
necessidades e circunstâncias específicas de cada momento. A ideia de direitos humanos, tal como a
conhecemos, é bastante recente, mas tem precedentes históricos nascidos sob a égide do
pensamento liberal moderno. São anteriores, por exemplo, a Carta Magna – de 1921, que delimitava
o poder dos monarcas ingleses – e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – documento
de 1787, que estabelece a igualdade jurídica do homens em meio ao processo da Revolução
Francesa. Entretanto, o documento internacional que deve se ter por base hoje, quando falamos em
direitos humanos, foi formulado no contexto pós Segunda Guerra e adotado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 1948. Trata-se da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).
A DUDH é formada por 30 artigos que versam sobre direitos inalienáveis – tanto individuais, quanto
coletivos – que, em conjunto, deveriam assegurar a liberdade, a justiça e a paz mundial. Há de se
lembrar que esse documento foi redigido após o mundo passar por uma guerra perversa, marcada
pela brutalidade genocida de regimes fascistas. Entre outros direitos, esse conjunto de artigos declara
o direito à vida, o direito a não ser escravizado, não ser preso ou exilado de forma arbitrária, o direito
de contar com a presunção da inocência e ser tratado com igualdade perante as leis e o direito à
privacidade e à livre circulação, incluindo a imigração. Também ficam declarados, nesse mesmo
documento, os direitos à livre expressão política e religiosa, e à liberdade de pensamento e de
participação política. O lazer, a educação, a cultura e o trabalho (exercido livremente e remunerado
de forma a garantir uma vida digna a família do trabalhador) também são declarados como direitos
humanos fundamentais.
A DUDH não tem força de lei, mas a partir dela se formularam uma série de constituições e tratados
internacionais mais específicos – voltados aos direitos das crianças, ao combate a tortura e a
discriminação racial e de gênero, por exemplo. No Brasil há uma porção de organizações que se
articulam em torno da defesa e promoção dos direitos humanos. A atuação dessas instituições foi
importantíssima na denúncia dos crimes cometidos pelo regime militar. Hoje, elas continuam
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essenciais no debate público sobre a violação desses direitos, que atinge, especialmente, grupos
socais mais vulneráveis.
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FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS
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Fundamentos dos Direitos Humanos
Podemos afirmar que, os direitos protetivos dos seres humanos inicialmente eram denominados
“Direitos do Homem”, posteriormente levando-se em consideração a evolução doutrinária, por serem
inseridos nas Constituições dos Estados, passaram a ser conhecidos por “Direitos Fundamentais”, e,
por fim, receberam a designação de “Direitos Humanos”, quando começaram a serem previstos em
Tratados Internacionais. Sucintamente, representam à somatória de valores, atos e de normas que
possam possibilitar a todos uma vida digna. Para o Professor André de Carvalho Ramos, são um
conjunto mínimo de direitos necessários para se assegurar uma vida digna a todos os seres
humanos, que seja baseada na liberdade e na dignidade da pessoa humana.
Nas lições do Professor Erival de Oliveira, fica claro que os Direitos Humanos, de modo abrangente,
correspondem a todas normas jurídicas externas e internas que visam proteger a pessoa humana,
tais como os Tratados Internacionais, as Convenções, os Acordos ou até mesmo os Pactos, assim
como também as Constituições Federais dos Estados Democráticos de Direito, bem como suas
normas infraconstitucionais. Vale ressaltar que, os direitos individuais são o gênero dos quais os
Direitos do Homem, Fundamentais e Humanos, compõe-se em espécies.
A dignidade humana é um direito essencial, é o princípio moral de que o ser humano deve ser tratado
como um fim e nunca como um meio, como preceituado corretamente, na minha opinião, pela
linguagem filosófica. Conforme já exposto, já extensamente longo o caminho empreendido pelo
homem ao longo da história para lutar pelos seus direitos e suas garantias fundamentais, frente ao
constante abuso e desmandos do Estado autoritário.
De acordo com os ensinamentos do mestre Fábio Konder Comparato, fica claro que todos os seres
humanos, independentemente de suas diferenças biológicas e culturais, necessitam ter respeitados
os seus direitos e preceitos fundamentais, sem que ninguém, seja qual for sua etnia, classe social,
grupo religioso, tenha como afirmar-se superior aos demais. Nos tempos modernos é unânime na
Doutrina que há o reconhecimento de que todo ser humano tem direitos fundamentais, decorrendo
daí a imprescindibilidade da sua tutela para a preservação da dignidade humana.
Nesse sentido Noberto Bobbio, que foi um dos maiores juristas de todos os tempos, afirma que: “Os
direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em
certas circunstâncias, caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes,
e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas” (Bobbio,1992).
Sem sombra de dúvidas alguma, o conceito de Direitos Humanos é bastante amplo, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, aprovada em resolução da III Seção Ordinária da Assembleia Geral
das Nações Unidas, proclama: “A presente Declaração Universal dos Direitos dos Direitos Humanos
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem,
através do ensino e da educação, em promover o respeito a esses direitos e liberdades e, pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, em assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-
membros quanto entre os povos dos territórios sob a sua jurisdição’’.
Acerca da Declaração Universal, Bobbio discorre que: “Contém, em germe, a síntese de um
movimento dialético que começa pela Universidade abstrata dos Direitos Naturais. Transfigura-se na
particularidade concreta dos direitos positivos e termina na universalidade não mais abstrata, e sim
concreta dos direitos positivos universais” (Bobbio, 1992). Insta salientar que, essa Declaração
avaliou inúmeros aspectos dos relacionamentos humanos e seu estudo esta em crescente relevância
na caracterização da mentalidade jurídica do Século XXI, por possuir uma riqueza histórica
combinada com uma projeção do futuro.
Os teóricos estudiosos dos Direitos Humanos, se dividem em duas posições antagônicas, acerca de
qual é o fundamento desses direitos e qual a sua fonte de justificativa, e estas duas correntes são a
do Jusnaturalismo e do Positivismo. A primeira é amparada por doutrinadores como Dalmo de Abreu
Dallari e Fábio Konder Comparato, ressaltando a pessoa humana como o fundamento absoluto,
atemporal e global dos Direitos Humanos, pois a pessoa é a mesma em todos os lugares e,
considerando as diversidades culturais, deve ser tratada igualmente, de forma justa e solidária,
protegendo-se a dignidade inerente a todo e qualquer ser humano como a razão máxima do Direito e
da Sociedade, devendo ser resguardas e cultivadas por estes. Assim, os Direitos Humanos devem
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
https://jus.com.br/tudo/jusnaturalismo
https://jus.com.br/tudo/positivismo
FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS
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ser entendidos como o conjunto de condições, garantias e comportamentos, capazes de assegurar a
característica essencial do homem, a dignidade, de forma a conceder a todos sempre, o cumprimento
das necessidades inseridas em sua condição de pessoa humana.
Por sua vez, o Positivismo, apresentado por Noberto Bobbio, afirma a existência de um direito
absoluto para esses “direitos”, já que a dogmática jurídica caracteriza-se pela historicidade, sendo o
Direito passível de constantes modificações, advindas da sociedade, cultura, moral, economia, que se
alteram dia após dia, não podendo, assim, dar-se um fundamento eterno para algo que
necessariamente sofrerá modificações. Como bem ressalta Hans Kelsen, um preceito só pode ser
considerado como jurídico, quando nele estiver presente o caráter repressivo (principalmente em
âmbito penal).
Sendo que, se a ordem jurídica nada puder fazer para assegurar o eficaz cumprimento desses
preceitos fundamentais, estes não poderão ser denominados como “direitos”, pois traduzem-se em
meras expectativas de condutas, meras e simplesmente expressões de boas intenções que orientam
a ação para um futuro indeterminado e incerto. Modernamente, ficou consagrado a tendência de se
positivar os Direitos Humanos, inserindo-os nas Constituições através da criação de novos
mecanismos para garantir seu cumprimento, além difusão de sua regulação por meio de mecanismos
internacionais, como os Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos.
Diante desta argumentação, nos deparamos com um conceito positivo de Direitos Humanos, que
seriam os Direitos Fundamentais, assegurados ao indivíduo através da regulamentação e aplicação
desses direitos, tanto no campo estatal como no campo supraestatal. Todavia, esse sistema
positivista, vem recebendo algumas críticas, como, por exemplo, a de haver a necessidade de se
buscar um fundamento mais profundo para a existência dos Direitos Humanos do que a simples
declaração pelo Estado para a fundamentação dos Direitos Fundamentais, bem como os Direitos
Humanos não positivados (supostamente) não poderem ser propostos contra o Estado; e, por último,
o perigo do Estado inserir nas suas Cartas Magnas falsos Direitos Humanos para atender interesses
de uma minoria detentora do poder, o que particularmente me parece difícil atéporque seguem
diretrizes básicas de proteção ao ser humano, que foram normalmente aceitas internacionalmente.
Após a análise de ambas teorias, podemos perceber que há uma união entre elas na caracterização
moderna dos Direitos Humanos, ressaltando-se que o inciso III, do artigo 1º, da Constituição Federal
de 1988 afirma ser fundamento da República Federativa do Brasil a Dignidade da Pessoa Humana. A
Declaração Universal dos Direitos dos Homens, consagra logo em seu primeiro artigo, que: “Todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.
Importante observação se faz com o fato de que a Declaração supra, afirma que todos os homens
nascem livres e iguais em dignidade e garante a todos eles os mesmos direitos, sem distinção de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, nascimento ou qualquer outra
condição, conforme item um do artigo segundo. É pacífico na melhor Doutrina que a universalidade, a
inviolabilidade, a indisponibilidade, a imprescritibilidade e a complementariedade são características
desses direitos, assim como a historicidade, a inalienabilidade, a efetividade, a limitabilidade e a
concorrência.
Pela característica da universalidade, entende-se que todo e qualquer ser humano é sujeito ativo
desses direitos, independente de credo, raça, sexo, cor, nacionalidade e convicções. Pela
inviolabilidade fica disciplinado que esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa
ou autoridade. Quanto a indisponibilidade, fica claro que esses direitos não podem ser renunciados,
não cabendo ao particular dispor dos direitos conforme a própria vontade. Já a imprescritibilidade,
dispõem que eles não sofrem alterações em sua titularidade com o decurso do tempo, tendo caráter
eterno. Também pode-se dizer que, os Direitos Humanos devem ser interpretados em conjunto, não
havendo hierarquia entre eles, conforme preceitua a complementariedade.
O princípio da historicidade dos Direitos Humanos caracterizam-se por sua evolução ao longo do
tempo. E, a inalienabilidade, preceitua que esses direitos caracterizam-se face à impossibilidade de
sua transferência, ressalvado o direito de sua propriedade que pode ser relativizado, permitindo, por
exemplo, a alienação de um bem. Em respeito a efetividade, devem ser criados todos os mecanismos
possíveis à efetivação desses direitos. Por último, quanto aos princípios da concorrência e
limitabilidade, entendemos que o primeiro busca revelar a possibilidade de se exercerem esses
https://jus.com.br/tudo/hans-kelsen
https://jus.com.br/tudo/propriedade
FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS
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direitos concorrencialmente ou cumulativamente e a limitabilidade vem demonstrar que não há
Direitos Fundamentais absolutos, pois podem sofrer limitação no caso de confronto ou conflito com
outros princípios, ou ainda, em casos de grave crise institucional, como ocorre, por exemplo, na
decretação do estado de sítio.
Diante de todo o exposto, podemos concluir como um grande e injusto equívoco, o fato de expressão
“Direitos Humanos” ser uma das locuções que mais traga uma carga negativa e até mesmo um
sentido pejorativo de injustiça, de maneira totalmente errada essa proposição é identificada com a
impunidade, adstrita àqueles que defendem os marginais, principalmente em razão da ignorância dos
comunicadores da atualidade, pois é muito comum nos meios de comunicação, críticas
sensacionalistas à “turma dos direitos humanos”, sempre identificada como o grupo de pessoas que
defendem os transgressões dos delinquentes.
Fica claro, o quanto esse conceito pejorativo usado popularmente se afigura como extremamente
errôneo, pois conforme apresentado ao longo deste estudo, os Direito Humanos são inerentes à toda
sociedade civilizada, independentemente de qualquer tipo de condição pessoal e social, deverá ser
protegido tal rol desses nobres direitos como uma afirmação concreta do Estado Democrático de
Direito conquistado pela Constituição Cidadã de 1988. Cabe salientar que, em um Estado
Democrático de Direito como o nosso todo ser humano deve ter sua dignidade tutelada juridicamente
e sua integridade protegida totalmente. Desta forma, conclui-se que os Direitos Humanos são os
Direitos Fundamentais da pessoa humana protegidos inclusive Convenções, Pactos e Tratados
Internacionais e na Lei Maior; sendo que, são direitos básicos para o cidadão sobreviver dignamente
em sociedade, direito subjetivo de cada membro da sociedade.
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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
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Direito Internacional Público
Conceito
O Direito Internacional Público é o ramo do Direito que visa regular as relações internacionais e a
tutelar temas de interesse internacional, norteando a convivência entre os membros da sociedade
internacional, que passam assim, a ser também sujeitos de direito internacional público.
Sociedade Internacional
A sociedade internacional apoia-se na vontade objetiva dos Estados, nos costumes e nos princípios
gerais de direito internacional público, que disciplinam os interesses políticos e econômicos dos
sujeitos de direito internacional público. A soberania é compartilhada quando o Estado é criado e
passa a fazer parte da Sociedade Internacional. Da mesma forma, a vontade isolada sucumbe
quando o Estado aceita fazer parte de uma Organização Internacional e se submeter às regras que
regem tal organização.
Sobre o fundamento da sociedade internacional, a doutrina jusnaturalista, hoje predominante,
afirma que existe uma ordem jurídica internacional acima dos Estados e que o indivíduo só se
realiza em sociedade, a sociedade internacional sendo a sua forma mais ampla.
As Características da Sociedade Internacional são:
• Universalidade: porque abrange todos os entes do globo terrestre;
• Igualdade: porque há uma igualdade jurídica entre os sujeitos de DIPu;
• Abertura: significa que qualquer ente, ao reunir determinados elementos poderá ingressar, sem
que haja necessidade de aprovação dos membros já existentes.
• Originalidade: porque não se fundamenta em outro ordenamento jurídico, a não ser no direito
natural.
• Descentralização: porque não possui poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Não há
autoridade superior. Se a relação entre os Estados e seus nacionais é marcada pela subordinação
dos últimos diante dos primeiros, na sociedade internacional é a coordenação que permite o
convívio entre as diversas soberanias.Sujeitos de Direito Internacional Público
A sociedade internacional é composta por entes que possuem direitos e deveres outorgados pela
ordem jurídica internacional. Nessa linha, são sujeitos de DIPu com plena personalidade
internacional: os Estados e as Organizações Internacionais.
Mais controversa é a personalidade internacional das Coletividades Não Estatais (ONGs) e dos
Indivíduos. E inegável que os indivíduos têm direitos e deveres internacionais individuais, podendo,
inclusive, ser réus em processos perante o Tribunal Penal Internacional. Algumas ONGs (Cruz
Vermelha, Green Peace e Comitê Olímpico Internacional), já alcançaram expressão e
representatividade internacionais que lhes atribui, na nossa opinião, uma personalidade
internacional limitada.
Tratados Internacionais
Tratado é todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito internacional público, e
destinado a produzir efeitos jurídicos, consignado num instrumento único, quer em dois ou mais
instrumentos conexos, e independentemente da nomenclatura que receba (tratado, carta,
protocolo, acordo e etc.). O tratado é um acordo formal: ele precisa da forma solene e escrita.
As partes, em todo tratado, são os Estados soberanos e as Organizações Internacionais. Carecem
de capacidade para celebrar tratados, os indivíduos, as ONGs e as empresas privadas, pouco
importando sua dimensão econômica e sua eventual multinacionalidade.
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Os competentes à assinatura dos tratados são os chefes de Estado e de Governo. O ministro das
relações exteriores possui a presunção de ser plenipotenciário (plenos poderes para representar
seu país na missão diplomática para o qual foi designado, podendo assinar acordos ou realizar
negócios em nome do país que o enviou) e prescinde da apresentação de carta de plenos poderes.
Da mesma forma, os chefes de missões diplomática (embaixador ou o encarregado de negócios),
mas apenas para a negociação de tratados bilaterais entre o Estado acreditante e o Estado
acreditado. Outros membros do Executivo, normalmente diplomatas ou ministros de outras áreas,
devem demonstrar a plenipotência, de modo amplo ou limitado, por meio da apresentação da carta
de plenos poderes expedida pelo chefe de Estado ou de Governo.
Em função do seu conteúdo, a entrada em vigor do tratado pode se dar por um processo bifásico
(assinatura e ratificação), ou por um processo monofásico (assinatura ou troca de notas). Porém
para a maioria dos tratados, a assinatura tem apenas efeito autenticatório do texto e passa-se a
aguardar o consentimento definitivo das partes pela ratificação. A ratificação é ato unilateral de
governo, significando a confirmação do consentimento em obrigar-se pelo pacto que foi assinado.
Unicamente o chefe de Estado ou Governo têm competência para ratificar.
O sistema de ratificação serve para dar maior segurança nas relações internacionais, podendo-se
aferir eventual excesso de poderes do plenipotenciário e contornar qualquer mudança fundamental
das circunstâncias ou vícios da vontade. É uma nova ocasião de se verificar a oportunidade e as
consequências da ratificação do tratado, permitindo a participação do Poder Legislativo na
formação da vontade do Estado, o que colabora para confirmar a legalidade e a constitucionalidade
do tratado.
O Tratados podem ser classificados:
· Número de Partes: diz-se bilateral o tratado que contém apenas duas partes, sejam elas Estados
ou Organizações Internacionais; e multilateral ou coletivo todos os tratados que tenham três ou
mais partes;
· Procedimento: os tratados em sentido estrito com procedimento longo e consulta ao Congresso
nacional, e os tratados em forma simplificada (é concluído e posto em imediato vigor pela
assinatura das partes no instrumento único, ou por troca de notas).
· Tempo: vigência estática (são os tratados de fronteiras ou de limites, pelo qual dois Estados
definem a linha divisória entre seus territórios, formando um título jur ídico que não se modifica
durante a vigência do tratado e que legitima a situação que lhe deu origem); e vigência dinâmica
(se executam ao longo do tempo e podem ter seu conteúdo adaptado em função de fatos
supervenientes.)
Pela reserva um Estado pode excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições de um
tratado multilateral em relação a ele. É a forma de tornar possível que um Estado assine um tratado
mesmo não concordando com algumas de suas regras, geralmente regras menos importantes. São
raros os tratados que não disciplinam as hipóteses de reserva de parte de seu texto. No entanto, se
isso ocorrer prevalecerá a disciplina da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (art. 19):
“a reserva é possível, desde que compatível com o objeto e a finalidade do tratado”. Contudo,
segunda a doutrina, alguns tratados multilaterais não comportariam reservas, em razão de sua
relevante matéria: convenções internacionais do trabalho, convenções de Genébra sobre o direito
da guerra e etc.
A Carta da ONU prevê que o tratado deve ser imediatamente registrado na secretaria da ONU e
publicado por aquele que o ratifica. No art. 102, ela prevê a inoponibilidade do tratado não
publicado a qualquer órgão da ONU. A obrigação de registrar desaparece para as demais partes
quando o tenha feito uma delas.
Erro, dolo, corrupção e violação do direito interno geram a anulabilidade do tratado, a pedido do
Estado que agiu de boa-fé. Os atos praticados de boa-fé antes da anulação ter sido invocada, não
serão tornados ilegais. Isso não se aplica à parte a que é imputado o dolo, a corrupção ou a
coação. As disposições de um tratado nulo (coação do Estado) não têm eficácia jurídica. Se foram
praticados atos em virtude desse tratado, as partes podem exigir a retroatividade dos e feitos para
voltar à situação anterior ao tratado.
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Um Estado poderá anular um tratado que foi celebrado em violação de uma disposição de seu
direito interno sobre competência para concluir tratados. No entanto, ele não poderá, com base
nessa violação, se eximir de sua responsabilidade pelos atos realizados durante a vigência do
tratado que possam ter causado prejuízo a outros Estados ou Organizações Internacionais. Ele só
poderá se eximir dessa responsabilidade se a violação é manifesta e diz respeito a uma regra de
seu direito interno de importância fundamental. Uma violação será manifesta caso seja
objetivamente evidente, para qualquer Estado que age em conformidade com a prática normal e a
boa-fé.
Um Estado pode invocar que seu consentimento é inválido porque se baseou em erro, se este erro
se referir a um fato ou situação que constituía uma base essencial de seu consentimento em
obrigar-se pelo tratado. Não se aplicando se Estado prejudicado contribuiu para o erro pela sua
conduta.
O Estado pode invocar que seu consentimento foi invalidado, se ele foi levado a concluir um tratado
pela conduta fraudulenta de outro Estado negociador (dolo), ou pela corrupção de seu
representante por outro Estado (corrupção)
A coação exercida sobre o negociador ou sobre o Estado, mediante ameaça ou uso da força
tornam, respectivamente, o tratado anulável ou nulo.
Incorporação dos Tratados no Direito Doméstico
O tratado deve compor a ordem jurídica nacional de cada Estado. Assim poderão cumpri -lo os
particulares e, principalmente, os governantes, e poderão garantir-lhe vigência juízes e tribunais.
Cada Estado adota em seu Direito interno um procedimento de recepção das normas
internacionais. A vigência do tratado pode ser contemporânea ao primeiro consentimento, ou seja,
à assinatura, à troca de notas ou à adesão. Porém a maioria dos tratados exige um segundo
consentimento: a ratificação. Além disso a vigênciapode ser diferida, depois do consentimento, por
razões de ordem operacional, é a vacatio legis.
Em função do seu conteúdo, a entrada em vigor do tratado pode se dar por um processo bifásico
(assinatura e ratificação), ou por um processo monofásico (assinatura ou troca de notas). Porém
para a maioria dos tratados, a assinatura tem apenas efeito autenticatório do texto e passa-se a
aguardar o consentimento definitivo das partes pela ratificação. A ratificação é ato unilateral de
governo, significando a confirmação do consentimento em obrigar-se pelo pacto que foi assinado.
Unicamente o chefe de Estado ou Governo têm competência para ratificar.
O sistema de ratificação serve para dar maior segurança nas relações internacionais, podendo-se
aferir eventual excesso de poderes do plenipotenciário e contornar qualquer mudança fundamental
das circunstâncias ou vícios da vontade. É uma nova ocasião de se verificar a oportunidade e as
consequências da ratificação do tratado, permitindo a participação do Poder Legislativo na
formação da vontade do Estado, o que colabora para confirmar a legalidade e a constitucionalidade
do tratado.
Conflitos
Conflitos entres tratado:
· Enquanto à identidade da fonte de produção normativa: prevalece o princípio lex posterior derogat
priori. Contudo aplica-se o princípio lex specialis derogat generali, quando apure-se que,
independentemente da ordem cronológica, quiseram as partes abrir exceção a certo dispositivo de
alcance geral em situações determinadas.
· Enquanto à diversidade da fonte de produção normativa: No caso de conflito entre as obrigações
dos membros das Nações Unidas e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo
internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da Carta da ONU.
Conflito entre a tratado e o direito doméstico, há duas correntes doutrinárias buscam explicar a
prevalência do Direito Interno ou do Direito Internacional, O monismo, que divide-se em dois:
O monismo internacionalista sustenta a unicidade da ordem jurídica sob o primado do Direito
Internacional, ao qual deveriam se ajustar todas as ordens internas. E o monismo
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nacionalista defende o primado do direito nacional de cada Estado soberano, sendo a adoção de
regras internacionais uma mera faculdade daquele Estado. Prioriza a soberania e
a constituição dos Estados nas relações internacionais. E por outro lado o dualismo que admite a
existência de duas ordens completamente distintas: o Direito Internacional e o Direito Interno de
cada Estado. Desta forma, a validade jurídica de uma norma interna não se condiciona à sua
sintonia com a ordem internacional. Enfatiza a diversidade de fontes de produção das normas
jurídicas, uma norma de Direito Internacional sendo, portanto, aplicável no interior de um Estado
somente se este Estado promove sua introdução, transformando-a em norma de Direito Interno.
Causas de extinção e inexequibilidade dos tratados.
A extinção se dá pela violação substancial de um tratado bilateral dá direito a outra parte de
entendê-lo extinto, ou de suspender também ela seu fiel cumprimento, no todo ou parcialmente. Se
o compromisso é coletivo, igual direito tem, em conjunto, os pactuantes não faltosos, e o tem
também cada um deles nas suas relações com o Estado responsável pela violação.
Também extingue-se um tratado por ab-rogação sempre que a vontade de terminá-lo é comum às
partes por ele obrigadas, seja ela manifestada no momento da assinatura ou durante sua
execução.
Ou ainda, o Estado manifesta sua vontade de deixar de ser parte no acordo internacional pela
denúncia, mas só se encontra desobrigado após o curso do período de pré-aviso. Só a participação
do Estado denunciante se extingue. A prática internacional mostra a denúncia como um ato
retratável, se o tratado continua em vigor. A denúncia parcial só é possível se os dispositivos
visados poderiam ter sido objeto de reservas e o tratado é aberto à adesão.
E no caso da execução tornada impossível. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados dá
ao pactuante o direito de liberar-se do compromisso quando sua execução tenha resultado
impossível, por força da extinção definitiva do respectivo objeto. Se o fato for temporário, só dará
ensejo à suspensão do cumprimento do pacto.
Há também o Rebus sic stantibus (teoria da imprevisão). A Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados dispõe que a mudança fundamental das circunstâncias pode ser invocada para que o
pactuante se dispense de cumprir um tratado, presentes os seguintes requisitos:
1) Alteração de circunstâncias contemporâneas ao consentimento das partes que foram
consideradas por elas, implícita ou explicitamente, como condição essencial do tratado;
2) A mudança nessas circunstâncias deve ter sido fundamental, levadas em conta sua dimensão e
seu valor qualitativo;
3) A mudança deve, ademais, ser considerada imprevisível no momento do consentimento.
Ademais, o rebus sic stantibus deve ser invocado previamente ao descumprimento do tratado pela
parte interessada em ver extinto ou suspenso tal tratado. Não vale, pois, invocá-lo depois de
consumada a afronta ao compromisso.
Quanto ao Jus cogens na matéria prevista na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados:
"Art. 53. É nulo o tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa
de direito internacional geral [...] uma norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só
pode ser modificada por uma norma de direito internacional geral da mesma natureza"; e "Art. 64.
Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito internacional geral, qualquer tratado existente
em conflito com essa norma torna-se nulo e extingue-se.".
Podem ser considerados como jus cogens: o princípio pacta sunt servanda; a proibição do uso ou
da ameaça do uso da força; a proibição de atos que infrinjam a soberania e a igualdade dos
Estados; o princípio da autodeterminação dos povos; o princípio da soberania sobre os recursos
naturais; a proibição do tráfico de seres humanos; a proibição da pirataria; a proibição do
genocídio; a proibição dos atos qualificados como crimes contra a humanidade; e os princípios do
direito humanitário codificados nas quatro Convenções de Genébra e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948.
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Fontes de Direito Internacional Público
Costume Internacional - A norma jurídica costumeira, resulta de "uma prática geral aceita como
sendo o direito". É a prática, ou seja, a ação ou a omissão (modo de proceder ante determinado
quadro de fato), repetida ao longo do tempo, de um Estado ou Organização Internacional. Deve ser
um costume reconhecido de forma geral pela Sociedade Internacional. Não há desnível hierárquico
entre normas costumeiras e normas convencionais. Um tratado é idôneo para derrogar, entre as
partes celebrantes, certa norma costumeira. De igual modo, pode o costume derrogar a norma
expressa em tratado. O costume pode ser observado, geralmente, a partir da jurisprudência e da
doutrina internacionais.
Princípios Gerais do Direito – de acordo com o Estatuto da Conste Internacional de Justiça
refere-se aos princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas. Ficam assim
excluídas apenas as sociedades primitivas que não organizadas sob a forma estatal. Os princípios
decorrem do consentimento perceptivo dos Estados e não de seu consentimento criativo, que gera
as demais fontes. Os princípios fluem de modo absolutamente natural e inexorável do pensamento
humano, não havendo como situá-los nas categorias de tratado ou de costume. Suas regras são,
ainda, de caráter mais geral e abstrato que as das demais fontes. São princípios gerais do Direito
InternacionalPúblico: boa-fé; não agressão; solução pacífica dos litígios entre Estados;
autodeterminação dos povos; coexistência pacífica; desarmamento; proibição da propaganda de
guerra; pacta sunt servanda; lex posterior derogat priori; nemo plus juris transferre potest quam
ipse habet; contraditório; responsabilidade; e condenação do abuso de direito.
Jurisprudência e doutrina, não são formas de expressão do Direito, mas instrumentos úteis ao
seu correto entendimento e aplicação. A jurisprudência internacional é o conjunto das sentenças e
pareceres proferidos pelos tribunais internacionais, e as sentenças proferidas pelos tribunais
arbitrais internacionais. As decisões judiciárias nacionais não compõem a jurisprudência
internacional.
A analogia e equidade não são normas jurídicas nem instrumentos de sua interpretação, mas
métodos de raciocínio para compensar, seja a inexistência da norma, seja sua evidente falta de
préstimo para proporcionar um deslinde justo ao caso concreto. O uso da analogia consiste em
fazer valer, para determinada situação de fato, a norma jurídica concebida para aplicar -se a uma
situação semelhante, na falta de regra que se ajuste ao exato contorno do caso concreto. A
equidade pode operar tanto na hipótese de insuficiência da norma de direito positivo aplicável,
quanto naquela em que a norma, embora bastante, traz ao caso concreto uma solução inaceitável
de acordo com o senso de justiça do julgador.
Decisões da Organizações Internacionais tende-se a considerar seus atos decisórios como
fontes do direito internacional público, na medida que criam direitos e obrigações no âmbito de sua
atuação. As decisões procedimentais obrigam a totalidade dos membros da OI, ainda que adotadas
por órgão sem representação do conjunto, ou por votação não unânime em plenário. No que
concerne as decisões sobre matérias substanciais e mais relevantes, estas só obrigam todos os
membros quando tomadas por unanimidade, e, se majoritárias, obrigam apenas aqueles que
votaram com a maioria.
Atos unilaterais dos Estados na medida em que criam direitos e deveres internacionais. É o caso
das normas em que cada Estado determina, observados os limites próprios, a extensão de seu mar
territorial ou de sua zona econômica exclusiva, o regime de seus portos, ou ainda a franquia de
suas águas interiores à navegação estrangeira.
O Estado
A natureza do Estado é definida pela Convenção de Montevidéu de 1933, segundo a qual o
Estado, como sujeito de Direito Internacional Público, deve ter os seguintes requisitos: a)
população permanente; b) território definido; c) governo; e d) soberania.
A generalidade da jurisdição significa que o Estado exerce no seu domínio territorial todas as
competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. A exclusividade significa que, no
exercício dessas competências, o Estado não enfrenta a concorrência de qualquer outra soberania.
Dessa forma, apenas o Estado pode tomar medidas restritivas contra pessoas, pois é detentor do
monopólio do uso legítimo da força pública.
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Antigamente existia a aquisição por descoberta tinha como objeto a "terra nullius", não
necessariamente inabitada, mas que não havia resistência. E a aquisição de território por
conquista era aquela obtida mediante emprego da força unilateral, ou como resultado do triunfo em
campo de batalha. Hoje admite-se aquisição ou perda de território mediante cessão onerosaé a
compra e venda ou permuta, como no caso do Brasil que adquiriu o Acre da Bolívia, em 1903.
A aquisição mediante cessão gratuita é um instrumento típico dos tratados de paz.
A imunidade à jurisdição estatal, Hugo Grotius defendia que a embaixada era uma extensão do
território do seu Estado. Atualmente, esta teoria, chamada de teoria da extraterritorialidade, tem
sido abandonada. Ela se aplica, hoje, apenas aos navios e aeronaves militares, consideradas como
território nacional. As embaixadas gozam apenas de imunidade de jurisdição.
O diplomata representa o Estado de origem (Estado Acreditante) junto à soberania local para tratar
de assuntos bilaterais. O cônsul representa o Estado de origem com a finalidade de cuidar de
interesses privados, seja os interesses de seus concidadãos ou do comércio exterior. O Estado
local pode declarar persona non grata o agente estrangeiro indesejável, devendo o Estado
acreditante (Estado de origem) chamá-lo de volta imediatamente.
A cada Estado incumbe legislar sobre sua própria nacionalidade, respeitadas as normas de Direito
Internacional Público. A nacionalidade pode ser originária ou adquirida, sendo a primeira a que
resulta do nascimento e a segunda a que provem de uma mudança de nacionalidade. Todo
indivíduo, ao nascer, adquire uma nacionalidade, que poderá ser a de seus pais ( jus sanguinis) ou
do Estado de nascimento (jus soli).
O conceito de governo autônomo e independente, interna e externamente, é o elemento político
do Estado e leva à ideia de Estado soberano, ou seja, que se autodetermina e se
autogoverna. Soberania é o poder que o Estado tem de impor e resguardar, dentro de seu
território, as suas decisões (soberania interna); e a faculdade que o Estado detém de manter
relações com Estados estrangeiros em pé de igualdade (soberania externa). Não há soberania
absoluta dos Estados, enquanto poder ilimitado e ilimitável, já que a soberania hoje encontra é
compartilhada entre os Estados e encontra limites nas próprias regras de Direito Internacional
Público.
O reconhecimento do Estado demonstra a existência deste como sujeito de Direito Internacional
Público, e constata que ele possui as condições necessárias para participar das relações
internacionais. Existem 2 teorias em relação ao reconhecimento de Estados:
· Teoria constitutiva, para a qual o reconhecimento é que atribui ao Estado a condição de sujeito
de Direito Internacional Público. Distingue o nascimento histórico do nascimento jurídico
internacional. Os sujeitos de Direito Internacional Público começam a existir no momento em que
se verifica um primeiro reconhecimento ou tratado.
· Teoria declaratória, para a qual o reconhecimento apenas declara que o novo Estado é sujeito
de Direito Internacional Público, embora, ele já o seja desde sua criação. Esta corrente é a mais
aceita, estando inclusive positivada no art. 13 da Carta da Organização dos Estados Americanos.
O ato de reconhecimento pode ser:
Individual ou coletivo: conforme seja feito por um Estado ou por vários deles em conjunto em um
único documento diplomático. Atualmente se entende que a admissão de um Estado na ONU
representa o reconhecimento deste Estado pela sociedade internacional, sem que isto signifique a
obrigatoriedade de manutenção de relações diplomáticas com cada um dos Estados-Membros.
De direito (de jure) ou de fato (de facto): é de direito o reconhecimento resultante de documento
ou declaração expressa que indique com clareza o reconhecimento, que será definitivo e
irrevogável. É de fato o reconhecimento decorrente de um fato que implique a intenção de conceder
esse reconhecimento, que será provisório e revogável.
Os governos resultantes de golpes de Estado precisam ser reconhecidos pelos demais Estados. O
reconhecimento do novo governo não importa no reconhecimento de sua legitimidade, mas
significa apenas que este possui, de fato, o poder de dirigir o Estado e de representá-lo
internacionalmente.
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Em relação aos direitos dos Estados:
· Direito à existência - Que se expressa na faculdade que o Estado tem de poder reger seus
interesses internos, proteger seu território (mesmo à força), liberdade de legisla r para seus súditos
e expressar sua autonomia externa.
· Direito à Igualdade - Nas AssembleiasGerais das OIs, os Estados têm o mesmo voto. No entanto,
há desigualdade na tomada de decisões no Conselho de Segurança da ONU e em outras OIs como
o FMI, o BIRD, Banco Mundial e o BID. A outra consequência da igualdade é que nenhum Estado
pode reclamar o direito de jurisdição sobre outro Estado.
· Respeito Mútuo - O Estado é formado pela Nação que, por sua vez, aglomera costumes,
tradições, princípios, religião e forma de exteriorização de seus próprios anseios culturais (língua,
bandeira, hino, símbolos heráldicos). Nenhum Estado e nenhuma pessoa podem violentar esses
componentes que exteriorizam os fundamentos do Estado.
· Direito de defesa - Desde que injustamente agredido surge o natural direito de defender-se. A
defesa que se fundamenta na autoajuda não deve ultrapassar os limites por ela fixados, porque,
então, não haveria a defesa, mas agressão. Assim, os conceitos de legítima defesa, de contra-
ataque militar e de contramedida devem ser analisados em relação ao conceito de agressão.
Em relação aos deveres dos Estados:
· Imunidade de jurisdição - Visa a privilegiar cargos e funções voltados para o convívio das Nações,
de forma que se não houvesse tal imunidade os atos praticados pelos responsáveis ficariam
sempre à deriva.
· Neutralidade permanente - Dever de não participação em conflitos, com exceção da hipótese de
invasão de seu território, como decidiu a Suíça (desde o Congresso de Viena de 1815) e a Áus tria
(desde 1955, quando se tornou independente).
· Não intervenção - A autodeterminação das Nações é um cânone no DIPu e representa o outro
lado da moeda que se expressa na não intervenção (diplomática, armada, individual por um só
Estado ou coletiva por muitos). A não intervenção está prevista na Carta da OEA (artigo 19) e na
Carta da ONU (artigo 2º, nº 7) como dever das Nações.
Contudo, o DIPu admite a intervenção nos casos abaixo:
· Motivos humanitários - Quando o Estado em que se intervém adota situações de tamanha
violência e discriminação a seus súditos, como na Guerra da Iugoslávia e no Massacre de Ruanda.
· Libertação de nacionais - Medida tradicionalmente tomada pelos Estados mais fortes, em relação
a Estados mais fracos.
· Guerra civil - Alguns autores admitem a intervenção em caso de guerra civil, desde que sua
finalidade seja para afastar o perigo de alastramento da rebelião.
· Interesses nacionais em país estrangeiro - Esse argumento, bastante controvertido, foi usado nas
Américas, durante o período da descolonização e, mesmo após a Carta da ONU, os soviéticos
praticaram duas intervenções (Tchecoslováquia e Hungria), para proteger seus interesses.
A Responsabilidade Internacional dos Estados decorre de dano causado aos direitos de um
particular, Estado ou OIs, pelas OIs e Estados. Não se busca provar a intenção do dano, mas a
simples culpa por negligência, imprudência ou imperícia, basta que tenha havido afronta ao DIPu e
ocorrência de dano, como no caso de falta de diligência na manutenção da segurança no território
de um Estado. Responsabilidade objetiva apenas em atividades perigosas, como transporte de
produtos perigosos, danos nucleares e derramamento de óleo. São condições para a
responsabilidade internacional do Estado ou da OI: Dano; Ilicitude internacional; Imputabilidade. E
As causas de exclusão de responsabilidade são: legitima defesa; e participação da vítima
O Estado não pode ser autor de crime. A responsabilidade é apenas compensatória por prejuízo,
tanto material quanto moral. No prejuízo material, devemos ainda considerar o efetivo prejuízo e o
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lucro cessante. O Estado deve, dentro do possível, ser colocado na posição que se encontrava
antes do dano ocorrer.
O Estado pode conceder proteção diplomática a seus nacionais que sofreram algum dano
causado por Estado estrangeiro, defendendo-o perante um tribunal internacional, o que se
denomina “endosso”.
Essa proteção não se confunde com a imunidade diplomática, ela se destina aos particulares
(pessoas físicas ou jurídicas de direito privado) que não podem postular diante de cortes
internacionais. As condições para a proteção são:
· Nacionalidade - O Estado somente poderá endossar a pretensão do seu nacional, tenha ele uma
ou mais nacionalidades. Nesse caso, qualquer um dos Estados poderá endossar.
· Esgotamento dos recursos internos - Em litígios envolvendo particulares e Estado estrangeiro, é
necessário que o particular tenha esgotado todos os recursos internos administrativos e judiciários
à sua disposição no Estado estrangeiro.
Quando o Estado é responsabilizado, pelos atos praticados por aqueles representantes dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que praticam atos funcionais que podem ser imputados
ao Estado, mesmo aqueles realizados com excesso de poder. Por outro lado, a prática de ilícito por
particulares só levará à responsabilidade do Estado quando este falhou em prevenir ou reprimir o
ato.
Organizações Internacionais
Trata-se de uma sociedade entre Estados, constituída através de um tratado, com a finalidade de
buscar interesses comuns através de uma permanente cooperação entre seus membros. Elas têm
autonomia e constituem uma personalidade jurídica de DIPu diferente daquelas de seus Estados -
membros. Podem ser classificadas em:
· Natureza política. Seu traço fundamental está no caráter político-diplomático de suas atividades.
Seu objetivo primordial é a manutenção da paz e da segurança internacionais. Ex: ONU e OEA.
· Cooperação técnica. Descartam a interferência em assuntos de natureza política e restringem-se
unicamente a aproximar posições e tomar iniciativas conjuntas em áreas específicas. Cuidam de
problemas que só podem ser enfrentados com a ação do coletivo internacional. Ex: OMS, OIT, FAO
· Jurisdicionais. Visam solucionar conflitos entre os Estados-membros, como a CIJ, CIDH e o TPI.
A forma mais comum de aprovação das decisões das OIs é a maioria, embora algumas OIs adotem
o sistema da unanimidade ou do consenso. Existem diferentes regras de Maioria que podem servir
para classificar as OIs:
· Quantitativa: considera-se cada Estado como um voto, estipulando-se diversos quóruns.
· Qualitativa: voto ponderado – diferencia os membros segundo critérios próprios a cada
organização internacional. Os critérios podem ser: a população, o PIB ou as cotas que cada um
possui (FMI, BID, BIRD).
· Mista: dupla maioria - quantitativa e qualitativa. Ex. Conselho de Segurança da ONU, que para
tomar uma decisão, precisa de 2/3 dos votos dos membros, dentro dos quais devem,
obrigatoriamente, estar os votos dos cinco membros permanentes. O voto contrário de um destes
veta a decisão.
Enquanto a sua estrutura orgânica, possuem: Assembleia Geral, Secretaria e Conselhos
Permanentes.
ONU
Constituída pela ideia de uma organização para a paz. A Carta da ONU entrou em vigor em
24/10/45, inspirada na ideia de um governo mundial, com as finalidades básicas de manter a paz
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entre os Estados, mobilizar a comunidade internacional para deter uma agressão e promover o
respeito aos direitos humanos.
Enquanto sua estrutura:
· Assembleia Geral – Reúne-se anualmente. Discute e faz recomendações sobre quaisquer
assuntos envolvendo seus membros. À Assembleia Geral cabe eleger os membros permanentes do
Conselho de Segurança, os membros do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela,
autorizar os organismos especializados a solicitarem pareceres à Corte Internacional de Justiça e
coordenar as atividades dos organismos especializados.
· Secretariado – Órgão permanente encarregado da parte administrativa da ONU. Seu chefe é o
Secretário-Geral, com um mandato de cinco anos. É indicado pela Assembleia Geral, medianterecomendação do Conselho de Segurança.
· Conselho Econômico e Social – É formado por 54 membros eleitos para um período de três anos.
É o órgão que prepara relatórios e estudos e faz recomendações sobre assuntos econômicos e
sociais, convoca conferências e faz projetos de convenção, promove o respeito e a observância
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
· Conselho de Segurança – É formado por quinze membros, sendo cinco permanentes e, em
número de dez os membros não permanentes que são eleitos pela Assembleia Geral para um
mandato de dois anos. As funções podem ser resumidas em: regulamentar os litígios entre os
Estados-membros, regulamentar os armamentos, agir em casos de agressão e ameaça à paz e
decidir sobre medidas a serem tomadas para a execução das sentenças da Corte Internacional de
Justiça.
Corte Internacional de Justiça.
Com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário da ONU, obedecendo seu
funcionamento ao que estipula seu Estatuto - ECIJ, que é parte integrante da Carta da ONU.
A Corte Internacional de Justiça, de funcionamento permanente, se compõe de 15 juízes, com
mandatos de 9 anos (podendo ser Reeleitos, escolhidos conjuntamente pela Assembleia Geral e
pelo Conselho de Segurança, em lista de nomes apresentada pelos Estados e eleito o magistrado
que obtenha a maioria de votos nos dois órgãos da ONU, não podendo figurar dois juízes do
mesmo Estado. Seus julgamentos são tomados em sessão plenária, com a presença de no m ínimo
9 juízes, porém, Além disso, a pedido das partes, a Corte Internacional de Justiça poderá formar
câmara especial com 5 juízes para resolver sumariamente a questão proposta.
Apenas o Estado pode postular qualquer ação ou consulta perante a Corte Internacional de
Justiça, estes deverão ser membros da ONU ou Estados não membros da ONU autorizados pela
Assembleia Geral e Conselho de Segurança a tornar-se parte do ECIJ. As Organizações
Internacionais, os indivíduos e a empresas privadas não tem acesso direto à CIJ, devendo requerer
o endosso ao seu Estado.
A competência da Corte Internacional de Justiça é convencional. Na jurisdição da Corte
Internacional de Justiça, a solução está subordinada à postulação das partes, de modo que se elas
quiserem resolver suas rusgas por arbitragem, não haverá qualquer interferência da Corte
Internacional de Justiça. Os Estados podem comprometer-se antecipadamente a aceitar a
jurisdição geral da Corte Internacional de Justiça ou a jurisdição em determinadas matérias, seja
por meio de tratados ou convenções que estipulem o recurso à Corte Internacional de Justiça, ou
por meio de uma declaração especial nesse sentido.
A competência da Corte Internacional de Justiça se estende a todas as questões jurídicas
internacionais (nunca políticas) a ela submetidas pelos Estados (artigo 36§ 2º do ECIJ), ou seja:
interpretação de tratado; qualquer questão de direito internacional; qualquer fato estabelecido que
constitui violação de obrigação internacional; natureza e extensão da reparação devida pela ruptura
de compromisso internacional. Se as partes requerem que a CIJ decida a controvérsia ex aequo et
bono, esta poderá se afastar do Direito Positivo normalmente aplicável e buscar uma solução mais
justa e adequada para o caso concreto.
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Evidentemente, desde que demanda contenciosa seja submetida à Corte, a decisão da matéria
tem força obrigatória e definitiva. O artigo 94 da Carta da ONU estabelece a obrigatoriedade de
conformar-se com a decisão da CIJ e, se não for cumprido o decidido, a parte contrária pode exigir
do CS sua execução forçada.
Os Estados poderão apresentar consultas sobre os temas previstos no artigo 36 § 2º do ECIJ,
mediante autorização da Assembleia Geral, poderão fazê-lo também as agências especializadas da
ONU. Como diz o artigo 96, os pareceres são consultivos e, portanto, não obrigam ninguém a
adotá-los.
Os procedimentos descritos no ECIJ:
· O requerimento será endereçado ao Secretário da Corte ou Escrivão, que vai notificar todos os
interessados, o Secretário Geral da ONU e outros Estados que tenham direitos envolvidos.
· Há duas fases no procedimento: escrita e oral. Na escrita, devem ser apresentados todos os
requerimentos e documentos necessários ao andamento da lide. O procedimento oral será
conduzido pelo Presidente. As audiências serão públicas (salvo decisão contrária da Corte) e será
lavrada ata dos debates, depoimentos das partes e das testemunhas.
Encerrada a instrução, a Corte deliberará, em segredo, por maioria simples dos votos dos juízes,
e só em caso de empate votará o Presidente. A decisão será obrigatória e inapelável, cabendo,
entretanto, pedido de esclarecimentos de pontos obscuros, algo semelhante a embargos
declaratórios. Poderá, entretanto, haver revisão, se novos fatos anteriormente ignorados forem
descobertos após a sentença, desde que não originados de negligência da parte interessada. O
prazo para a postulação da revisão é de seis meses a partir do conhecimento do fato novo e
nenhuma revisão poderá ser requerida, depois de dez anos da sentença.
Tribunal Penal Internacional
O Tribunal Penal Internacional não julga crimes cometidos antes de sua instalação ou da adesão
de um Estado e respeita a tipificação prevista no Tratado de Roma. Assim sendo, o julgamento só
poderá se dar com fatos descritos no Tratado. Em seu estatuto afirma que o Tribunal Penal
Internacional foi criado para reprimir os principais tipos de crimes cometidos ao longo das guerras
do século XX, para evitar impunidade e a repetição dos mesmos.
Sua competência se dará diante dos seguintes crimes: crimes de genocídio, crimes contra a
humanidade, crimes de guerra, e crimes de agressão (ameaça ou ruptura da paz internacional).
São órgãos do Tribunal Penal Internacional: a Presidência, a Seção de Recursos, a Seção de
julgamento em primeiro grau, a Seção de instrução, o Gabinete do Procurador e a
Secretaria. Forma o Tribunal Penal Internacional um colégio de 18 juízes indicados pelos Estados
integrantes do mesmo e cuja eleição é realizada pela Assembleia dos Estados-membros.
Os princípios orientadores são:
· Complementariedade: somente atua se o Estado signatário que tem jurisdição sobre determinado
caso não iniciou o devido processo ou, se o fez, agiu com o intuito de subtrair o acusado à justiça
ou de mitigar-lhe a sanção. Cabe ao próprio Tribunal Penal Internacional determinar quando essas
hipóteses ocorrem. O Tribunal Penal Internacional só será chamado a intervir quando os Estados
não puderem ou - por motivações políticas - não quiserem processar os responsáveis por crimes
cometidos. Cabe primariamente aos Estados a responsabilidade da investigação e julgamento dos
crimes cometidos em seu território. Princípio da autodeterminação dos Estados.
· Universalidade: os Estados-partes colocam-se integralmente sob a jurisdição da Corte, não
podendo subtrair de sua apreciação determinados casos ou situações.
· Responsabilidade penal individual: o indivíduo responde pessoalmente por seus atos, sem
prejuízo da responsabilidade do Estado.
· Irrelevância da função oficial: podem ser responsabilizados chefes de Estado ou de governo,
ministros, parlamentares e outras autoridades, sem qualquer privilégio ou imunidade.
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· Responsabilidade de comandantes e outros superiores: todos os chefes militares, mesmo que não
estejam fisicamente presentes no local dos crimes, envidem todos os esforços ao seu alcance para
evitá-los, sob pena de neles ficarem implicados.
· Imprescritibilidade: a ação criminosa jamais terá extinta a punibilidade pelo decurso do tempo,
embora ninguém possa ser julgado por delitos praticados antes da entrada em vigordo Tratado que
criou o Tribunal Penal Internacional.
Enquanto aos procedimentos, O inquérito é instaurado pelo Procurador com os dados fáticos que
chegarem a seu conhecimento e tramitará pela Seção de instrução, podendo ela determinar a
detenção ou o comparecimento em juízo. Faz apreciação prévia da admissibilidade da acusação e
designa-se audiência de instrução, quando as provas serão realizadas. A Seção de julgamento, em
sessão pública, decidirá por maioria. Das decisões do Tribunal Penal Internacional, caberá recurso
para a Seção de recurso e revisão.
A execução das penas será feita pelo Estado indicado pelo TPI, ressalvada a não indicação e não
aceitação, quando, então, a execução se fará no Estado anfitrião (Holanda). Podendo ser elas de
prisão perpétua, prisão detentiva até o máximo de 30 anos, multa e perda dos produtos do crime.
Organização dos Estados Americanos
1ª Conferência Internacional dos Estados Americanos de Washington, de outubro de 1889 a abril
de 1890. Duração longa devido a problemas internos e à guerra de fronteiras entre Chile, Bolívia e
Peru. Quando a guerra acabou decidiu-se instalar a União Panamericana, cuja sede ficaria em
Washington. Aí está o embrião da OEA.
Segunda Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e Segurança Continental de
Petrópolis, em 1947. Assinatura do TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca),
conhecido como Tratado do Rio, em que se estabeleceu que o ataque contra qualquer Estado
signatário implicaria em socorro imediato de todas as outras Nações americanas.
A 9ª Conferência Internacional dos Estados Americanos de Bogotá, em 1948, transformou a União
Panamericana em Organização dos Estados Americanos, amoldando o tratado original (1889) para
as realidades atuais do pós-guerra. Foi condenado também o comunismo internacional,
declarando-o incompatível com a tradicional liberdade americana.
O Sistema Internacional de Direitos Humanos
Proíbe a violações aos direitos humanos pelos Estados-Membros. Somente os Estados têm
capacidade de participar de julgamentos junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Demais sujeitos de DIPu podem recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que
poderá entrar com a ação em seu nome.
O Sistema Internacional de Direitos Humanos é composto por dois órgãos:
· Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CmIDH), órgão da OEA.
· Corte Interamericana de Direitos Humanos (CrIDH), OI autônoma.
A CmIDH é o órgão da OEA responsável por investigar e monitor as violações aos direitos
humanos nos continentes americanos. São suas funções:
· Promotoria junto à CrIDH
· Recomendações
· Medidas Cautelares
A CrIDH É um órgão judicial autônomo que tem sede em São José (Costa Rica), cujo propósito é
aplicar e interpretar a Convenção Americana de Direitos Humanos e outros tratados de Direitos
Humanos. Os Estados devem reconhecer, em cada caso, a competência da Corte.
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A Corte exerce competência contenciosa e consultiva. Enquanto, sua competência contenciosa, há
relação com suas medidas provisórias e suas sentenças.
Já no caráter consultivo os Estados-membros da OEA pedir um parecer acerca da interpretação da
Convenção Americana de Direitos Humanos ou de outros tratados concernentes à proteção dos
Direitos Humanos no âmbito dos Estados americanos, em relação a determinado conflito. Pode a
Corte, ainda, a pedido de um Estado-membro, emitir parecer sobre a compatibilidade entre suas
leis internas e os mencionados tratados internacionais.
Forum non conveniens
O forum non conveniens (latino para "fórum que não concorda") (FNC ) é uma doutrina
legal (principalmente) de direito comum,segundo a qual os tribunais podem se recusar a se
pronunciar sobre questões em que haja um fórum mais apropriado para as partes.Como doutrina
do conflito de leis, o forum non conveniens aplica-se entre tribunais de diferentes países e entre
tribunais em diferentes jurisdições no mesmo país. O Forum non conveniens não é aplicável entre
municípios ou distritos federais dentro de um estado.
Uma preocupação muitas vezes levantada em aplicações da doutrina é o shopping do fórum, ou
escolher um tribunal apenas para obter uma vantagem no processo. Esta preocupação é equilibrada
em relação à política pública de adiar à escolha do local do requerente em reivindicações onde pode
haver mais de uma jurisdição apropriada. Os princípios subjacentes, como basear o respeito dado
aos tribunais estrangeiros sobre o respeito ou a cortesia recíproca, também se aplicam nos sistemas
de direito civil sob a forma da doutrina legal de lis alibi pendens.
O Forum non conveniens não é exclusivo dos países de direito comum: os tribunais marítimos
da República do Panamá, embora não sejam jurisdicionistas de direito comum, também tenham esse
poder em condições mais restritas.
Explicação
Um país, estado ou outra jurisdição decreta leis que são interpretadas e aplicadas através de um
sistema de tribunais. As leis aplicadas por um sistema particular de tribunais ou sistema jurídico são
denominadas lex fori, ou lei do fórum. Por uma questão de procedimento civil, os tribunais devem
decidir se e em que circunstâncias aceitarão a jurisdição sobre as partes e o assunto quando
uma ação judicial começar. Esta decisão será rotineira, ou não será levantada, se os elementos
relevantes do caso estiverem dentro da jurisdição territorial do tribunal. Se uma ou mais das partes
reside fora da jurisdição territorial ou existem outros fatores que podem tornar outro fórum mais
apropriado, a questão da jurisdição deve ser resolvida.
Origem histórica
Estudiosos e juristas parecem encontrar uma origem escocesa antes do primeiro uso americano do
conceito. Alguns escritores vêem a doutrina do FNC como tendo desenvolvido a partir de uma
doutrina anterior do forum non competens ("fórum não competente"). Muitos casos iniciais nos EUA e
na Escócia envolvendo FNC foram casos sob lei de amirismo. Por conseguinte, o FNC pode, em
última instância, ter uma origem de direito civil, como tem sido afirmado por vários escritores, uma vez
que o direito do amirismo é baseado em conceitos de direito civil.
A doutrina de FNC originou-se nos Estados Unidos em Willendson v. Forsoket [29 Fed Cas 1283 (DC
Pa 1801)] (nº 17.682), onde um tribunal de distrito federal na Pensilvâniadeclinou exercer jurisdição
sobre um capitão de mar dinamarquês que estava sendo processado por salários atrasados por um
marinheiro dinamarquês, afirmando que "[i] f qualquer diferença a seguir, ele deve ser resolvido por
um tribunal dinamarquês". Na Escócia, o conceito é gravado pela primeira vez no MacMaster v.
MacMaster (Julgamento de 7 de junho de 1833, Sess, Scot 11 Sess Cas, Primeira Série 685.)
Reino Unido
A doutrina tem aplicação limitada na maioria das jurisdições de direito civil que preferem lis alibi
pendens, embora o princípio por trás do FNC seja reconhecido. Como membro da União Europeia,
o Reino Unido assinou a Convenção de Bruxelas. A Lei de Jurisdição e Julgamentos Civis (1982),
conforme alterada pela Lei de Jurisdição e Julgamento Civil (1991), afirma:
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Nada nesta Lei deve impedir que qualquer tribunal do Reino Unido permaneça, resistir ou suspender
um processo, ou convocar uma parte ], revogando ou negando qualquer processo perante ele com
base no forum non conveniens ou de outra forma, onde não é incompatível com a Convenção de
[Bruxelas] de 1968 ou, se for o caso, com a Convenção de Lugano.
O caso de Owusu contra Jackson e o. perante o Tribunal de Justiça Europeu dizia respeito à relação
entre o artigo 2º da Convenção de Bruxelas e o âmbito da FNC na Comunidade
Europeia. Em Owusu, o Tribunal de Recurso de Inglaterrasolicitou ao TJCE se poderia permanecer
uma questão que lhe era apresentada nos termos do artigo 2.º da Convenção de Bruxelas nos termos
das regras inglesas do FNC. O Tribunal de Justiça declarou que a Convenção de Bruxelas era um
conjunto obrigatório de regras destinadas a harmonizar e, assim, criar um sistema previsível em toda
a UE. Se os Estados pudessem derrogá-lo da Convenção usando suas regras internas de processo
civil, isso negaria um resultado uniforme aos procedimentos baseados na seleção do fórum. Assim,
em 46. o TJCE detinha:
a Convenção de Bruxelas impede um tribunal de um Estado Contratante de recusar a competência
que lhe é conferida pelo artigo 2. ° da referida convenção com o fundamento de que um tribunal de
um Estado não contratante seria um fórum mais adequado para o julgamento da acção, mesmo que a
A jurisdição de nenhum outro Estado Contratante está em questão ou o processo não tem fatores de
conexão para nenhum outro Estado Contratante.
No entanto, alguns comentaristas do Reino Unido argumentam que as regras do FNC ainda podem
ser aplicadas aos casos em que os outros processos não estão em um Estado-Membro, mas isso
permanece incerto. O que é certo é que um Tribunal escocês pode julgar os procedimentos a favor
dos tribunais da Inglaterra ou da Irlanda do Norte com base na FNC, uma vez que esta estabelece
uma jurisdição intra-britânica.
Austrália
Nas jurisdições onde a regra do FNC sobrevive, um tribunal normalmente demitirá um caso quando o
juiz determinar que a disputa seria melhor adjudicada em um fórum diferente.Os tribunais foram
divididos em suas aplicações da regra. Na Califórnia, o Tribunal Superior da Austrália se recusou a
adotar a abordagem do "fórum mais adequado" e, em vez disso, criou o seu próprio "claramente
inapropriado", em Oceanic Sun Line Special Shipping Co v Fay (1988) 165 CLR 197 e Voth v
Manildra Flour Mills (1990) 171 CLR 538. fórum "teste. No entanto, os tribunais australianos
equilibraram os fatores estrangeiros e locais, e uma demissão só seria concedida se o réu pudesse
demonstrar que ele estava "oprimido" ou "assediado" pela escolha do autor da Austrália por ação
legal. Isso manteve o raciocínio da doutrina tradicional, tornando impossível para os réus australianos
obter uma demissão de seus próprios tribunais por motivos da FNC. Na Suprema Corte, em Regie
National des Usines Renault SA e Zhang (2002) 210 CLR 491, afirmou o teste do "fórum claramente
inadequado" como lei australiana, afirmando que, mesmo quando a lei de um país estrangeiro deveria
ser aplicada para decidir um caso, A Austrália não seria um fórum "claramente inadequado" para
ouvir o assunto. No entanto, com o advento da Lei do Processo Civil (2005), esta posição de direito
comum na Austrália mudou.
Canadá
A doutrina do FNC no Canadá foi considerada na Amchem Products Inc. c. British Columbia Worker's
Compensation Board, [1993] 1 SCR 897. O Tribunal considerou que o teste para obter um pedido de
FNC é onde "existe outro fórum que é claramente mais apropriado do que o fórum doméstico ". Se os
fóruns forem considerados igualmente convenientes, o fórum doméstico sempre vencerá.
A conveniência é pesada, usando um teste multi-factorial que inclui elementos como: a conexão entre
a reivindicação do autor e o fórum, a conexão entre o réu e o fórum, a injustiça para o réu ao escolher
o fórum, a injustiça para o requerente não escolhendo o fórum, envolvimento de outras partes no
processo (ou seja, localização das testemunhas) e questões de cortesia, como reciprocidade e
padrão de adjudicação.
O Supremo Tribunal sublinhou que as consultas da FNC são semelhantes, mas distintas do teste
de conexão real e substancial utilizado nos desafios à jurisdição. A diferença mais importante é que a
aplicação do FNC é uma escolha discricionária entre dois fóruns, cada um dos quais poderia ouvir
legalmente a questão.
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A lei da província de Quebec, Canadá, é um pouco diferente. O Código Civil de Quebeque de 1994,
no art. 3135 ccq, fornece:
Mesmo que uma autoridade do Quebeque tenha jurisdição para ouvir uma disputa, pode
excepcionalmente e em um pedido de uma parte, recusar a jurisdição se considerar que as
autoridades de outro país estão em melhor posição para decidir.
Os efeitos práticos são idênticos a qualquer outra jurisdição, mas a redação usada pelo código é
diferente. Para as decisões que aplicam o art. 3135 ccq, ver HL Boulton & Co. SCCA contra Banque
Royale du Canada (1995) RJQ 213 (Quebec. Supr. Ct.); Lamborghini (Canada) Inc. contra Automobili
Lamborghini SPA (1997) RJQ 58 (Quebec. CA); Spar Aerospace v. American Mobile Satellite (2002) 4
SCR 205 e Grecon Dimter Inc. v. JR Normand Inc. (2004) RJQ 88 (Quebec. CA)
Estados Unidos
O arguido pode mover-se para demitir uma ação com base no FNC. Invocar essa doutrina geralmente
significa que o requerente invocou adequadamente a jurisdição do tribunal, mas é inconveniente para
o tribunal e o arguido ter um julgamento na jurisdição original. O tribunal deve equilibrar a
conveniência com a escolha do fórum do candidato. Em outras palavras, se a escolha do fórum do
autor fosse razoável, o arguido deve mostrar uma razão convincente para mudar de jurisdição. Se
uma transferência simplesmente deslocasse o inconveniente de uma parte para a outra, a escolha do
fórum do candidato não deveria ser perturbada.
Geralmente, uma empresa processada na jurisdição de sua sede não tem o direito de solicitar uma
demissão da FNC. Assim, se uma corporação americana for processada em uma área onde apenas
transa negócios, mas não onde tem sua sede, e o tribunal rejeita com base no FNC, o autor pode
recarregar a ação na jurisdição da sede da corporação.
Ao decidir se concede a moção, o tribunal considera:
• A localização de potenciais testemunhas. O arguido deve fazer uma exibição completa e sincera,
nomeando as testemunhas potenciais para a defesa, especificando sua localização, especificando
quais são seus testemunhos e quão crucial é para a defesa, e estabelecendo como exatamente eles
podem ser incomodados por ter que testemunhar no tribunal escolhido pelo autor.
• A localização das provas e registros relevantes. O réu deve identificar os registros; explique quem
é responsável pelos registros; problemas de necessidade, idioma e tradução de endereços; endereço
do volume de tais registros; abordar a lei que rege esses registros; e descartar a existência de
registros duplicados na jurisdição escolhida pelo autor. O simples fato de que os registros precisam
ser traduzidos não é motivo suficiente para invocar o FNC.
• Possíveis dificuldades indevidas para o réu. O arguido deve explicar o que é a dificuldade e como
os custos são materiais. Se houver custos envolvidos, eles precisam ser explicados. Se houver uma
dificuldade em tirar testemunhas de um tribunal estrangeiro e no tribunal original, isso precisa ser
revelado ao tribunal. O arguido deve explicar por que o uso de cartas rogativas ou outros
instrumentos de reciprocidade judicial não são suficientes e não podem substituir a transferência
efetiva do caso. O padrão que o réu deve cumprir é "dificuldade esmagadora", se eles são obrigados
a litigar no Estado do fórum.
• Disponibilidade de fóruns alternativos adequados para o autor. Apenas apontar que o demandante
poderia ter processado em outro lugar não é suficiente para ter sucesso em uma moção do FNC.
• O uso expedito de recursos judiciais. Na prática, esta é apenas uma linguagem clara que vem
junto com a aplicação. No entanto, às vezes, o tribunal escolhido pelo requerente pode ser logistico
ou administrativamente inapropriado ou mal equipado para o caso; por exemplo, um caso pode
envolver um grande número de tortes.
• A escolha da lei aplicável à disputa. Se todos os outros fatores pesarem em favor de manter o
caso najurisdição onde foi arquivado, então o tribunal pode escolher entre a aplicação da lei local (lex
fori ) ou a lei estrangeira relevante. Assim, o simples fato de que a lei estrangeira pode aplicar ao
evento, circunstâncias, acidentes ou ocorrências não é uma razão forte para descartar o caso por
motivos da FNC.
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
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• Perguntas de política pública. Ao analisar os fatores, o assunto da queixa pode afetar uma
questão sensível que é importante para as leis da jurisdição original ou do fórum alternativo. Essas
questões de política pública devem ser identificadas, analisadas e informadas de forma a deixar claro
por que essa questão supera os outros fatores. Por exemplo, um funcionário que processa uma
empresa estrangeira em um estado de emprego pode gozar da política pública para proteger
funcionários locais de abusadores estrangeiros. Veja o Federal Employers Liability Act (FELA) para
referência adicional.
Outros fatores incluem:
• O local onde a causa da ação surgiu. Na maioria dos estados, o arguido geralmente deve mostrar
que a causa da ação surgiu fora da jurisdição.
• As identidades das partes. Quem está processando quem? O requerente está processando um
arguido ou uma pequena empresa sem meios financeiros como um método para oprimir o réu com os
custos financeiros e legais mediante litígio em um tribunal remoto? O réu é um conglomerado que faz
o pedido do FNC simplesmente para forçar o demandante a suportar custos caros de viagem e
retribuição de advogados estrangeiros? O requerente que é residente no estado onde a ação foi
arquivada normalmente tem direito a ter seu caso em seu estado natal.
• Motivo vexatório. Onde não há provas de que o autor tenha intenção imprópria de trazer o caso
especificamente em um fórum específico, os tribunais normalmente negam a moção do FNC.
• Desenvolvimento jurídico e condições políticas no fórum estrangeiro. O tribunal enviará o autor a
uma terra onde a lei está subdesenvolvida, não civilizada ou onde não há igual proteção ou devido
processo legal ? O tribunal enviará o demandante a outro tribunal em um país onde a violência é
desenfreada ou no meio de uma guerra? Um processo não será demitido se o tribunal estrangeiro
não permitir o litígio do assunto da queixa, nenhum testemunho vivo do requerente é exigido por
comparência, ou se a lei estrangeira de fato é deficiente em seus protocolos ou procedimentos.
A determinação do tribunal não pode ser arbitrária ou abusiva, pois é um remédio drástico a ser
aplicado com cautela e restrição.
Quanto à transferência de um julgamento para uma jurisdição fora dos EUA, os tribunais só
concederão a transferência se um tribunal estrangeiro for "mais apropriado", e pode haver uma
oportunidade real para obter justiça lá.
Em Nova York, por exemplo, existe uma forte presunção em favor da escolha do fórum do
candidato. Ver Gulf Oil v. Gilbert, 330 US 501, 508 (1947); R. Maganlal & Co., 942 F.2d 164, 167 (2ª
Cir. 1991); Wiwa v. Royal Dutch Petroleum Co., 226 F.3d 88, 101 (2d Cir. 2000); e Maran Coal Corp.
V. Societe Generale de Surveillance SA, No. 92 CIV 8728, 1993 US.Dist. LEXIS 12160 em * 6 (SDNY
2 de setembro de 1993). Um arguido deve mostrar evidências convincentes para perturbar a escolha
do fórum. O ónus da prova está no arguido: Strategic Value Master Fund, Ltd. v. Cargill
Fin. Serv. Corp., 421 F.2d 741, 754 (SDNY 2006). O tribunal também deve considerar os vastos
recursos do réu em comparação com os recursos limitados do demandante como um indivíduo
prejudicado: veja Wiwa em 107: "os arguidos não demonstraram que esses custos [de documentos e
testemunhas de embarque] são excessivamente onerosos, especialmente em vista do vasto
Recursos". Além disso, Igreja Presbiteriana do Sudão v. Talisman Energy, Inc., 244 F.Supp.2d 289
(SDNY 2003) em 341: "Um fator compensatório é o meio relativo das partes".
Em 2006, o Tribunal Federal do 2º Circuito de Nova York emitiu uma decisão no famoso caso Coca-
Cola. Coca-Cola assumiu os bens de judeus expulsos do Egito na década de 1950 e foi processado
em Nova York. Bigio v. Coca-Cola Company, 448 F.3d 176 (2d Cir. 2006), certiorari para
Sup. Ct. negado. Nesse caso, os demandantes eram canadenses e não residentes de Nova York. O
tribunal negou a moção da FNC da Coca-Cola e o Supremo Tribunal dos Estados Unidos
negou certiorari. O 2º Circuito declarou que o fato de que o tribunal de Nova York precisaria aplicar
"aplicação modesta" da lei egípcia não era um problema porque "os tribunais deste Circuito são
regularmente chamados a interpretar leis estrangeiras sem ofender os princípios da cortesia
internacional". Além disso, o fato de que havia testemunhas no exterior também não era um
problema. Eles poderiam ser transportados para os Estados Unidos ou as cartas Rogatory poderiam
ser emitidas aos tribunais egípcios para colecionar seu testemunho. Além disso, considerou-se que,
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
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em um cenário de FNC, um tribunal aplica o equilíbrio das conveniências, mas preferência (e peso)
deve ser dada ao fato de os demandantes escolherem este fórum específico por "razões legítimas". O
facto de os demandantes poderem processar no Canadá não era relevante porque a Coca-Cola era
uma empresa dos EUA e era "perfeitamente razoável processar os Estados Unidos".
Europa
A doutrina do FNC ganhou pouca importância no mundo do direito civil, que prefere a abordagem
de lis alibi pendens (ver artigos 21-23 Convenção de Bruxelas). As jurisdições de direito civil
geralmente compõem a residência do réu e as regras de escolha de lei favorecendo a residência
habitual das partes, a lex situs e a lex loci solutionis (aplicando o ator sequitur forum rei ). Isso reflete
a expectativa de que um réu deve ser processado em seus "próprios" tribunais, modificados para
refletir diferentes prioridades em certos tipos de casos. Como exemplo desta expectativa, o artigo 2º
do Regulamento Bruxelas I (bem como as correspondentes convenções de Lugano) prevê:
Sob reserva das disposições da presente Convenção, as pessoas domiciliadas em um Estado
Contratante devem, independentemente da sua nacionalidade, serem processadas nos tribunais
desse Estado.
As pessoas que não são nacionais do Estado em que estão domiciliadas são regidas pelas regras de
jurisdição aplicáveis aos nacionais desse Estado.
Mas isso está sujeito às excepções substanciais contidas nos artigos 3-6, as limitações das ações de
seguros nos artigos 7-12 e os contratos de consumo nos artigos 13-15. O artigo 16º também
concede competência exclusiva a jurisdições específicas como a lex situs de bens imóveis e res e
para o estatuto das empresas, a validade dos registros públicos, com referência específica ao registro
e validade das patentes, e à execução de julgamentos. Os artigos subsequentes permitem que
as cláusulas de seleção do fórum e outras formas de acordo entre as partes conferam jurisdição a um
determinado fórum. Por conseguinte, o Regime de Bruxelas representa um conjunto harmonizado de
regras para a determinação de todas as questões de jurisdição em toda a UE e EFTA (mas não no
Liechtenstein), com exclusão da FNC.
Envio
A questão da FNC surge nos casos de transporte, uma vez que diferentes partes podem ser
envolvidas como fretadores ou destinatários e devido à natureza internacional do direito do
mar e do comércio marítimo. Apesar de várias convenções diferentes que tratam de aspectos do
comércio internacional, as disputas jurisdicionais são comuns. Além disso, em alguns casos, um caso
nos Estados Unidos pode ser iniciado sob a lei do estado dos EUA quando a lei do Almirantado (que
é uma jurisdição federal) seria o fórum mais apropriado.Se isso ocorrer, o caso pode ser removido
para os tribunais federaisou para os tribunais de outro estado por motivos da FNC.
Por exemplo, suponha que um navio porta-contêiner entre em porto em Miami, Flórida, Estados
Unidos. O navio, que é registado na Libéria, é procurado como garantia para várias dívidas incorridas
pelo seu Mestrado na Dinamarca. Conhecida a presença do navio, um advogado local se move para
impor uma garantia que envolve uma forma de prisão por meio de um novo processo em rem. O
distrito federal local, sentado no Almirantado, determina que o Mestre do navio tinha autoridade
aparente como agente para prometer o crédito dos proprietários do navio (que
são ingleses ). Também determina que nem o navio nem os seus proprietários violaram a lei
americana de qualquer forma, e o tribunal local não está em boa posição para ouvir testemunhas que
residem em outros estados.
Além disso, a responsabilidade principal em demora para os fretadores inocentes, encaminhadores,
etc. será incorrida se o navio for detido sem justa causa, por isso não seria razoável que o Tribunal
Federal declinasse a jurisdição. Se existe um litígio subseqüente em outro estado, dependerá das
táticas dos credores. Sem uma garantia sobre o navio ou a capacidade de obter alguma forma de
controle sobre os ativos do devedor, fazer um pedido de dinheiro devido pode não ser rentável. Mas
se já houve procedimentos sobre a questão da responsabilidade perante um tribunal de jurisdição
competente em outro estado para que a ação em Miami seja puramente de execução, a jurisdição de
Miami, seja ela estatal ou federal, seria o fórum conveniens porque O navio está fisicamente na
jurisdição.
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
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Cortesia
Na lei, a cortesia é "uma prática entre diferentes entidades políticas (como países, estados
ou tribunais de diferentes jurisdições )" envolvendo o " reconhecimento mútuo de
atoslegislativos, executivos e judiciais ".
Direito internacional
A doutrina da cortesia internacional foi descrita de forma variada "como um princípio de escolha de
lei, um sinônimo de direito internacional privado, uma regra do direito internacional público,
uma obrigação moral, conveniência, cortesia, reciprocidade, utilidade ou diplomacia. As autoridades
discordam sobre se a cortesia é uma regra do direito natural, do costume, do tratado ou do direito
interno. Na verdade, nem sequer concorda que a cortesia é uma regra da lei ". Como a doutrina toca
muitos princípios diferentes, é considerada como "uma das doutrinas mais confusas evocadas em
casos que tocam os interesses dos estados estrangeiros".
A doutrina da cortesia internacional foi criada por um grupo de juristas holandeses no final do século
XVII, mais proeminentemente Ulrich Huber. Huber e outros procuraram uma maneira de lidar
com conflitos de leis de uma forma que reforçaria a idéia de soberania westfaliana. Huber escreveu
que comitas gentium ("civilidade das nações") exigia a aplicação do direito estrangeiro em certos
casos, porque os soberanos "agem assim, por meio da cortesia, que os direitos adquiridos dentro dos
limites de um governo mantêm sua força em todos os lugares em que eles não prejudicar os poderes
ou direitos de tal governo ou de seus assuntos ". Huber "acreditava que a cortesia era um princípio
do direito internacional", mas também que "a decisão de aplicar a lei estrangeira em si mesma foi
deixada ao estado como um ato de livre arbítrio ".
A idéia de cortesia foi introduzida na lei inglesa por Lord Mansfield, um advogado escocês e
jurista. Mansfield considerou a aplicação da cortesia como discricionária, com os tribunais aplicando
leis estrangeiras "exceto na medida em que ele estava em conflito com princípios de justiça natural
ou política pública ". Mansfield realizada em Somerset v Stewart (Banco do Rei 1772), por exemplo,
que a escravidão era tão odiantemente moral que um tribunal britânico não reconheceria os direitos
de propriedade de um escravo americano em seu escravo.
Nos Estados Unidos, o advogado de Louisiana, Samuel Livermore (que escreveu o primeiro tratado
americano de conflito de leis em 1828) rejeitou expressamente a doutrina da cortesia conforme
formulado por Mansfield e escritores anteriores, argumentando que "os tribunais estavam vinculados
pelo direito internacional para aplicar o mesmo lei que um tribunal estrangeiro seria aplicável ". Esta
idéia foi rejeitada pelo juiz Joseph Story do Supremo Tribunal, que concordou com Mansfield e Huber
em seus Comentários sobre o Conflito de Leis. A visão da história, que finalmente prevaleceu, foi que
a aplicação consensual ou voluntária da doutrina da cortesia promova a confiança entre os estados,
"localize o efeito da escravidão" e reduza o risco de guerra civil.
A participação da Suprema Corte dos Estados Unidos em Hilton v. Guyot (1895) segundo a qual a
execução de um julgamento estrangeiro era uma questão de cortesia é vista como a declaração
"clássica" de cortesia no direito internacional. O Tribunal de Justiça declarou nesse caso:
"Comidade", no sentido jurídico, não é uma questão de obrigação absoluta, por um lado, nem de
mera cortesia e boa vontade, por outro. Mas é o reconhecimento que uma nação permite, no seu
território, aos atos legislativos, executivos ou judiciais de outra nação, tendo devidamente em conta o
dever e a conveniência internacionais, e aos direitos de seus próprios cidadãos ou de outras pessoas
que estão sob o proteção de suas leis.
Nos Estados Unidos, certos julgamentos de difamação estrangeiros não são reconhecidos nos
termos da lei SPEECH (estatuto federal promulgado em 2010), que substitui a doutrina da cortesia. O
Ato visa parar o " turismo de difamação ".
Constituição dos Estados Unidos
Na lei dos Estados Unidos, a Cláusula Comity é outro termo para a Cláusula de Privilégios e
Imunidades do Artigo Quatro da Constituição dos Estados Unidos, que prevê que "Os Cidadãos de
cada Estado terão direito a todos os Privilégios e Imunidades de Cidadãos em os vários Estados ". [19]
O artigo quatro como um todo - que inclui a Cláusula de Privilégios e Imunidades, a Cláusula de
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Extradição e a Cláusula de Fé e Crédito Completos - foi descrito como o artigo da "cortesia
interestadual" da Constituição.
Licenciamento profissional
Nos Estados Unidos, alguns estados e territórios reconhecem licenças de engenheiro
profissional concedidas em uma jurisdição diferente, dependendo da educação e experiência do
titular (uma prática chamada "licenciamento pela comidade"). As regras diferem significativamente da
jurisdição para a jurisdição.
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ATOS INTERNACIONAIS
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Atos Internacionais
Ato internacional é um acordo firmado entre países, regido pelo direito internacional. São como
“contratos” firmados entre pessoas jurídicas de direito internacional (Estados, organismos
internacionais, etc.) com a finalidade de regulamentar determinadas situações e convergir interesses
comuns ou antagônicos.
Dependendo do tipo de conteúdo, adotam-se diferentes nomes, detalhados a seguir:
Tratado: termo usado para designar os acordos internacionais entre dois ou entre vários países – ou
seja, bilaterais ou multilaterais. Recebem o nome de tratado os acordos aos quais se pretende atribuir
importância política. Um exemplo são os tratados de extradição que o Brasil mantém com vários
países (França, Ucrânia, República Dominicana entre outros), possibilitando a transferência de
criminosos.
Convenção: refere-se a atos multilaterais assinados em conferências internacionais e que versam
sobre assuntos de interesse geral. É uma espécie de convênio entre dois ou mais países sobre os
mais variados temas – questões comerciais, industriais, relativas a direitos humanos. Dentre as
convenções vigentes no Brasil, destaca-se a Convenção de Haia de 1980, que versa sobre o
sequestro internacional de crianças e adolescentes. Seu objetivo é evitar os efeitos prejudiciais
provocados pelo deslocamento ilegal de menores de seu país de residência habitual.
Acordo: expressão de uso livre e de alta incidência na prática internacional. Eles estabelecem a base
institucional que orienta a cooperação entre dois ou mais países. Os acordos costumam ter número
reduzido de participantes. Um exemplo é o acordo entre o governo do Brasil e da Dinamarca, em
vigor desde março de 2011, para o enfrentamento da pobreza na área de transporte marítimo e
intercâmbio cultural bilateral.
Ajuste ou acordo complementar: estabelece os termos de execução de outro ato internacional.
Também pode detalhar áreas específicas de um ato. Em 2011, o Brasil e Alemanha assinaram, por
exemplo, um ajuste complementar a um acordo de cooperação técnica nas áreas de florestas
tropicais e eficiência energética, em vigor desde 1996.
Protocolo: designa acordos bilaterais ou multilaterais menos formais do que os tratados ou acordos
complementares. Podem ainda ser documentos que interpretam tratados ou convenções anteriores
ou ser utilizado para designar a ata final de uma conferência internacional. Na prática diplomática
brasileira, o termo também é usado sob a forma “protocolo de intenções”. O Protocolo de Quioto, do
qual o Brasil é signatário, estabelece compromissos por parte dos países para a redução da emissão
de gases de efeito estufa.
Memorando de entendimento: atos redigidos de forma simplificada. Têm a finalidade de registrar
princípios gerais que orientam as relações entre as partes em planos político, econômico, cultural ou
em outros. Um exemplo: Brasil e Cingapura mantém um memorando de entendimento para
cooperação em ciência e tecnologia que prevê, dentre outras coisas, implementar projetos e
programas conjuntos em áreas como microbiologia e imunologia.
Convênio: é usado em matérias sobre cooperação multilateral ou bilateral de natureza econômica,
comercial, cultural, jurídica, científica e técnica. Um exemplo é o convênio entre os governos do Brasil
e do Paraguai sobre saúde animal nas áreas de fronteira. Os dois países se comprometem em
sincronizar suas ações (por exemplo, datas de vacinação) e atuar conjuntamente na definição de
normas sanitárias, a fim de proteger a saúde dos animais da região.
Acordo por troca de notas: adotado para assuntos de natureza administrativa, bem como para alterar
ou interpretar cláusulas de atos já concluídos. Seu conteúdo está sujeito à aprovação do Congresso.
O Brasil mantém um acordo dessa natureza com a Bolívia para a criação de Comitês de Integração
Fronteiriça para promover a integração política, econômica, social, física e cultural.
Relações com o Brasil
A Constituição brasileira permite que a União, como representante da República Federativa do Brasil,
mantenha relações com Estados estrangeiros e participe de organismos internacionais. As Unidades
da Federação (Estados e municípios) não podem celebrar atos internacionais.
ATOS INTERNACIONAIS
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Para ter valor dentro do território brasileiro, o Congresso Nacional precisa aprovar todo ato
internacional – após aprovação da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado – por meio de
decreto legislativo enviado pelo Executivo. Se for aprovado, pode ser ratificado pelo presidente da
República por meio de decreto presidencial.
Confira abaixo alguns exemplos de atos dos quais o Brasil é signatário:
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: adotada pelo Brasil em 22 de maio de 1969.
Convenção de Segurança Nuclear: adotada em 1º de julho de 1998.
Convenção Internacional de Proteção ao Patrimônio Cultural Imaterial: em vigor desde 4 de
dezembro de 2006.
Convenção sobre Diversidade Biologia: em vigor desde 16 de março de 1998.
Protocolo de Quioto para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática: em
vigor desde 5 de dezembro de 2005.
Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica(conteúdo
em espanhol): em vigor desde 16 de fevereiro de 2006.
Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (conteúdo em espanhol): adotada desde
6 de junho de 1990.
Acordo de cooperação econômica entre Brasil e Dinamarca
Acordo de notas Brasil-Bolívia (conteúdo em espanhol)
Ajuste complementar Brasil-Alemanha
Memorando de entendimento Brasil-Cingapura
Convênio Brasil-Paraguai
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL
1. Origens Históricas
O Direito Internacional Público surgiu a partir do século XVII, quando se formaram os Estados-Nação
com as características que conhecemos hoje. O ponto limite foi o fim da Guerra dos 30 anos (em
1648), por meio do tratado de Vestfália, quando nasce a soberania nacional.
Paz de Vestifália: celebrou o fim da guerra dos trinta anos, demarcando:
(a) Soberania entre os Estados
(b) Obrigação de não intervenção nos assuntos internos
(c) Igualdade jurídica.
Francisco de Vitória (1486-1546): teoria da Guerra, abominando asatrocidades do império de
Carlos V.
ATOS INTERNACIONAIS
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Hugo Grócio: salienta a necessidade de regulamentar a guerra, de modo a que ela Fundamenta no
direito natural, enaltecendo os direitos fundamentais inerentes ao homem. Afirma que o mar é bem
comum, não sendo passível de apropriação privada.
2. Contexto
A vida em sociedade é permeada de conflitos interpessoais, e na sociedade internacional igualmente
há tensões entre os atores, tendo em vista as inúmeras disputas entre os sujeitos, uma vez que há
diferenças e interesses variados entre os mesmos.
Paulo Henrique Portela enfatiza que “os conflitos que ocorremna seara internacional não podem, via
de regra, ser solucionados da mesma maneira, o que se deve, fundamentalmente, à forma pela qual
a sociedade internacional está organizada do ponto de vista jurídico”. Referido autor aponta que as
relações internacionais são caracterizadas por:
(a) Inexistência de um poder central mundial, ou seja, não há um ente de direito internacional que
imponha aos Estados Soberanos as suas deliberações
(b) Igualdade jurídica entre os Estados;
(c) Soberania dos Estados.
(d) Princípio da não-intervenção.
3. O que é o direito internacional?
É o conjunto de princípios e normas, sejam positivados ou costumeiros, que representam direito e
deveres aplicáveis no âmbito internacional (perante a sociedade internacional). Em outras palavras,
Direito internacional público consiste no sistema normativo que rege as relações exteriores entre os
atores internacionais. O arcabouço jurídico que norteia as relações exteriores entre os sujeitos que
integram a sociedade é o que se pode denominar de direito internacional público. É o Ramo da
ciência jurídica que visa regular as relações internacionais com o fim precípuo de viabilizar a
convivência entre os integrantes da sociedade internacional.
O direito internacional não é dotado da mesma coerção existente no prisma interno dos Estados, mas
estes princípios e normas são aceitos quase que universalmente, incidindo sobre:
a. Entre Estados diferentes;
b. Entre Estados e nacionais de outros Estados;
c. Entre Nacionais de Estados diferentes.
d. Entre Estados e organismos internacionais.
4. Direito internacional público e direito internacional privado
O direito internacional trata destas relações e deste âmbito normativo, que pode ser positivado ou
costumeiro (costumes). Denomina-se Direito internacional público quando tratar das relações jurídicas
(direitos e deveres) entre Estados, ao passo que o Direito internacional privado trata da aplicação de
leis civis, comerciais ou penais de um Estado sobre particulares (pessoas físicas ou jurídicas) de
outro Estado.
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5. Objeto do Direito Internacional
Num primeiro momento, o objeto do Direito Internacional são os Estados, regendo a atividade inter-
Estatal. Com o fim da 2ª Guerra Mundial começam a surgir as Organizações Internacionais (ONU,
OMC, FMI, etc.), e estas passaram a deter também personalidade Jurídica Internacional, atribuindo
aos indivíduos capacidades postulatórias.
Seitenfus e Ventura elucidam que há uma tríplice função do direito internacional público:
(a) Repartição de competência entre os estados soberanos, cada qual com sua delimitação
territorial, ao qual exerce sua jurisdição.
(b) Fixa obrigações aos Estados soberanos, de modo que as suas liberdades de atuação são são
(de) limitadas;
(c) Rege as relações entre as organizações internacionais.
O Direito Internacional Público (DIP) é composto pelos sujeitos ou atores de direito internacional
público, que estão sujeitos às regras, princípios e costumes internacionais. Entretanto, não apenas de
relações entre Estados cuida o DIP. Como ressalta Gustavo Bregalda, o Estados tem sua
personalidade jurídica internacional reconhecida pelos outros Estados ou pelos organismos
internacionais.
Organismos internacionais são pessoas ou coletividades criadas pelos próprios sujeitos de direito
internacional, reconhecendo-os como pessoas internacionais, com capacidade de ter direitos e
assumir obrigações na ordem internacional. São exemplos a ONU, OEA. Podem ainda ser criados
por particulares, como a Cruz Vermelha Internacional, a Ordem de Malta, por exemplo.
Portanto, atualmente, o objeto moderno do Direito Internacional são os Estados, as Organizações
Internacionais e os Indivíduos. Alguns doutrinadores salientam que as empresas são atores atuantes
ATOS INTERNACIONAIS
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nas relações internacionais, de modo que devem figurar como integrantes do Relacionamento
internacional. Quanto ao indivíduo, este tem responsabilidade ativa e passiva, podendo tanto postular
quanto ser demandado internacionalmente.
6. Sociedade Internacional versus Comunidade Internacional
A sociedade internacional é formada pelos Estados, pelos organismos internacionais e pelo homem,
apresentando as características em relação às sociedades internas:
(a) Isonomia: deve haver igualdade entre os sujeitos;
(b) Descentralização: pois vários são os criadores e destinatários das normas de direito
internacional. Ainda permanece, mas não como uma verdade absoluta, ja que existem hoje órgãos
completamente centralizados, como por exemplo, a União Européia;
(a) Universalidade: deve abranger o máximo possível de integrantes;
(b) É Aberta: como corolário lógico da característica anterior, é aberta à novos integrantes.
(c) Com direito originário: visam criar um âmbito normativo novo.
Apresentando as seguintes características
(a) Multiplicidade de Estados, dotados de soberania;
(b) Relações comerciais internacionais
(c) Princípios jurídicos em comum.
São expressões que não se confundem, apesar de serem utilizados como sinônimos.
A sociedade internacional é formada pelos sujeitos de direito internacional: Estados, Organizações
Internacionais, Empresas e Indivíduos. A comunidade internacional, por seu turno, é marcada pela
união natural (laço espontâneo), marcados por afinidades de cunho social, cultural, familiar,
religioso.8 Ao se falar em comunidade internacional, não há que se pensar em dominação de uns
perante os outros.
7. Direito Internacional Público e Direito Interno
Uma questão tormentosa é a relação entre conflitos entre as normas de Direito Internacional e de
Direito interno, “A questão em apreço é polêmica, e seu tratamento reveste-se de grande importância,
em função do relevo que o Direito Internacional vem adquirindo como marco que visa a disciplinar o
atual dinamismo das relações internacionais, dentro de parâmetros que permitam que estas se
desenvolvam num quadro de estabilidade e de obediência a valores aos quais a sociedade
internacional atribui maior destaque”.
Para tanto, há duas teorias explicativas do impasse entre conflito entre direito internacional público e
direito interno, quais sejam, as teorias monista e dualista.
7.1. Teoria dualista ou Dualismo (Triepel e Anzillotti):
Salienta que direito internacional e direito interno são realidades distintas, ou seja, tem âmbito de
incidência completamente diferentes. O Direito internacional rege as relações exteriores entre os
Estado ao passo que o Direito interno disciplina as relações internas do Estado. Tendo em vista esta
perspectiva, não há que se falar, para esta teoria, em conflito de normas de direito interno e
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internacional, uma vez que a ordem internacional não pode regular questões internas. “Os tratados
internacionais representam apenas compromissos exteriores, assumidos por Governos na sua
representação, sem que isso possa influir no ordenamento interno desse Estado, gerando conflitos
insolúveis dentro dele”.
(a) Teoria da incorporação, transformação ou mediatização (Laband)
Para esta teoria, como as normas tem incidência distinta, apenas no caso de o Estado incorporar
internamente o preceito de direito internacional, por meio de alteração de suas leis internas, ou seja,
“a norma internacional só vale quando recebida pelo direito interno”.
(b) Dualismo moderado
Para o dualismo moderado “não é necessário que o conteúdo das normas internacionais seja inserido
em um projeto de lei interna, bastando apenas a ratificação dos tratados por meio de procedimento
específico, que inclua a aprovação prévia do parlamento e a ratificação do chefe de Estado”.14
7.2. Teoria monista
Doutrina completamente oposta à anterior, uma vez que trata da questão da unidade do ordenamento
internacional e interno.
8. Ordem Jurídica da SociedadeInternacional
A ordem jurídica interna é centralizada e organizada verticalmente. No âmbito do Direito
Internacional, a ordem jurídica é descentralizada, não existindo norma jurídica superior com
capacidade para impor aos Estados o cumprimento de suas decisões. A Carta da ONU não é uma
Constituição.
O Direito Internacional ainda depende muito do voluntarismo, ou seja, da vontade de cada Estado.
Salienta Rezek que “no plano internacional não existe autoridade superior nem milícia permanente.
Os Estados se organizam horizontalmente, e prontificam-se a proceder de acordo com normas
jurídicas na exata medida em que estas tenham constituído objeto de seu consentimento. A criação
de normas é, assim, obra direta de seus destinatários”.
9. Fundamento do Direito Internacional
Fundamento liga-se à obrigatoriedade da disciplina. Existem duas correntes:
9.1. Doutrina Voluntarista: Entende que o fundamento do Direito Internacional se baseia na
vontade dos Estados. A maior crítica feita a essa doutrina é a de que não se pode depender apenas
da vontade do Estado, pois o mesmo pode manifestar sua vontade negativa a posteriori, deixando de
existir o Direito Internacional. Devem ser criadas normas mais objetivas.
9.2. Doutrina Objetivista: Visa encontrar nas normas internacionais regras mais objetivas que
subjetivas para fundamentar o Direito Internacional Público. Essa regra objetiva, por excelência, é o
pacta sunt servanda. (art. 26 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, 1969).
10. Fontes do Direito Internacional Público
10.1. Fontes Materiais: são os fatos sociais, históricos, políticos e econômicos, que deflagram a
produção das normas.
10.2. Fontes Formais: são os atos estatais que regulamentam os fatos sociais. Indicam a forma
como o Direito Positivo se desenvolve. As fontes formais do Direito Internacional são:
10.2.1. Primárias (Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça):
10.2.1.1. Tratados (art. 38, “a”, ECIJ): formalmente, não é hierarquicamente superior ao Costume, mas,
na prática, são as principais fontes do DIP e as mais aplicadas. Já que trazem maior segurança
jurídica para as Relações Internacionais. Sua regulamentação se dá por um novo ramo do DIP: o
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Direito dos Tratados, que regulam a sua celebração, entrada em vigor e extinção.
10.2.1.2. Costumes (art. 38, “b”, ECIJ): São atos reiterados dos Estados durante certo período de
tempo, versando um assunto da mesma forma. Quem alega o Costume, deve prová-lo. São dois os
elementos (cumulativos) do costume internacional:
10.2.1.2.1. Elemento material: prática reiterada de atos no mesmo sentido. É o chamado “uso”.
10.2.1.2.2. Elemento subjetivo (psicológico ou espiritual): é a crença de que a prática é obrigatória nos
termos do Direito, no plano jurídico.
O Costume e os novos Estados: atualmente os Estados por união ou cisão. A doutrina majoritária
defende que os novos Estados que nascem no seio da Sociedade Internacional, ao integrá-la, deve
submeter-se a todos os direitos e obrigações pré-existentes. Já a doutrina minoritária entende que o
Estado pode rechaçar algumas regras costumeiras que violem seus Princípios de Direitos Humanos.
10.2.1.3. Princípios Gerais do Direito (art. 38, “c”, ECIJ): estão, em sua maioria, positivados nos
tratados. Mas podemos citar dentre eles o pacta sunt servanda, a boa-fé, o respeito à coisa julgada.
10.2.2. Secundárias (art. 38, “d”, ECIJ):
10.2.2.1. Jurisprudência: interna e internacional.
10.2.2.2. Doutrina: se referia ao jurista como pessoa física, mas hoje em dia deve ser interpretado
emsentido amplo, sendo todas as manifestações de cunho doutrinário, ainda que não de Pessoa
Física, como os ANAIS das Conferências, os grupos de estudos da ONU, as decisões de Tribunais
Internacionais, dentre outros, considerados doutrina.
O art. 38 é meramente exemplificativo, podendo existir outras fontes que não elencadas ali em seu
texto. Não existe hierarquia entre as fontes, tanto os Tratados podem revogar os Costumes quanto os
Costumes podem revogar os Tratados (fazendo com que o mesmo caia em desuso).
10.2.3. Novas fontes do Direito Internacional Público:
10.2.3.1. Atos unilaterais do Estado: criam direitos a outros Estados e obrigações a ele próprio.
10.2.3.2. Decisões de Organizações Internacionais: as Organizações Internacionais podem criar atos
internacionais, tais como decisões, resoluções, diretrizes, diretivas, recomendações, gerando
obrigações aos países a elas vinculadas.
10.2.3.3. Direito Flexível (Soft-law): Nasceu no bojo do Direito Internacional do Meio Ambiente, não
prevê sanções, não tem juridicidade, mas gera obrigação moral. Não se pode dizer, ainda, que faz
parte das fontes de direito internacional.
CAPÍTULO 2 - TRATADOS INTERNACIONAIS
Dentre as fontes do DIP, temos os tratados internacionais. O tratado é a fonte mais importante para a
identificação de regras do DIP.
1. Características
2. Processualística
3. Vigência
4. Incorporação ao direito interno – ver § 3º do art.
5º (EC 45/04).
2.1. Características
2.1.1. Conceito
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A convenção de Viena de 1969 fala da conceituação dos tratados. O Brasil não é parte neste tratado
sobre direito dos tratados, mas não tem muita relevância, uma vez que trata apenas de formalidades
nas tratativas.
2.2. Elementos que configuram um tratado
Referência acerca dos Tratados: Convenção de Viena de 1969 – “Tratado dos Tratados” Conceito:
art. 2º, §1º, “a”
a. É acordo formal internacional: é acordo escrito devendo que ter animus contraendi e sanção em
caso de descumprimento.
b. Celebrado por escrito: para ser válido, deve ser feito por escrito, sendo vedada a forma oral.
c. É celebrado entre Estados ou Organizações Internacionais: que são pessoas de direito
internacional. A Convenção de Viena de 86 acresceu as Organizacoes internacionais como sujeitos
de Direito Internacional.
Excepcionalmente, por razões políticas, um ente que não estatal pode celebrar tratado: ex. OMC,
Taiwan e Hong Kong (são tigres asiáticos que, por meio do Acordo de Mahakesch, permitiu que os
territórios aduaneiros autônomos, para dizer que podem participar os Não-estados, mas que tenham
autonomia comercial, como no caso de Taiwan e Hong Kong).
d. Deve ser regido pelo Direito Internacional: se um compromisso for regido pelo direito interno de
uma das partes, não será um Tratado Internacional, mas sim um Contrato Internacional.
e. Quer conste de um instrumento único, quer de mais ou dois instrumentos conexos: permite os
acordos por troca de notas diplomáticas (acordos em forma simplificada/acordos executivos).
f. Deve produzir efeitos jurídicos: não se considera documentos meramente políticos. Tratados
devem produzir direitos e obrigações, de modo que a inadimplência gere responsabilidade
internacional.
g. Qualquer que seja a sua nomenclatura particular: os Tratados Internacionais não tem
denominação específica, podem ser denominados de Tratado, Convenção, Protocolo, Acordo.
Exceção: Tratados celebrados pelo Vaticano com outros Estados denominam-se Concordata, desde
que versem sobre privilégios direcionados aos católicos.
2.3. Nomenclatura
Desde que preencha os requisitos básicos, será tratado internacional. A nomenclatura não tem o
condão de distinguir (convenção, tratado, acordo [DI Econômico], concordata [Vaticano], carta
[utilizado para organizações], protocolo [há um tratado original e para evitar emendas, faz-se um
tratado adicional e para se fazer este protocolo, tem que fazer parte do tratado original).
Outrossim, se os susbscritores adotaram a denominação de compromisso, que para alguns autores é
o ato internacional utilizado para a solução de controvérsias perante um tribunal arbitral, deve-se
verificar o caso concreto para saber qual o teor do compromisso. José Francisco Resek ensina que “a
adjetivação serve justamentepara especificar a natureza do texto convencional, quebrando a
neutralidade do substantivo- base.
Assim, as expressões acordo e compromisso são alternativas – ou, para quem prefira dizê-lo, são
juridicamente sinônimas – da expressão tratado, e se prestam, como esta última, à livre designação
de qualquer avença formal, concluída entre sujeitos de direito das gentes e destinada a produzir
efeitos jurídicos”.
O art. 84, VIII da CF/88 estabelece que o PR tem a competência constitucional para celebrar tratados
e convenções, sujeitas a referendo do Congresso Nacional. No entanto, poderá delegar aos
“plenipotenciários”, através da chamada “Carta de Plenos Poderes”, a competência para as
negociações contratuais (exemplo de plenipotenciário do Brasil: Ministro das Relações Exteriores).
Independentemente da nomenclatura, é da competência do Congresso referendar os tratados
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celebrados pelo PR.
2.4. Classificações dos tratados
2.4.1. Quanto ao número de Partes
a. Tratados bilaterais:
Matérias típicas: fronteira, bitributação, extradição,operação judiciária.
b. Tratados multilaterais: podem ter aplicação universal, para todos. Ex. direitos humanos.
Nestes tratados aparecem questões referentes à adesão de outros Estado são tratado (regras para
adesão): as vezes exige-se aprovação dos demais membros integrantes, inclusive com cláusula de
unanimidade (Mercosul). Fixa-se regras para denúncia do tratado, em regra, é fixada a comunicação
prévia para sair. Quantos são necessários para permanecer vigente é outra cláusula.
Uma cláusula muito importante é a de reserva, que é a possibilidade do Estado se vincular ao
tratado, mas com reservas. Há tratados que não permitem reservas (TPI – Estatuto de Roma). Nos
tratatos multilaterais, as matérias atinentes às reservas aparecem ao fim do tratado.
Se um Estado soberano não concorda com os termos do novo tratado, é perfeitamente possível que
haja o engajamento parcial ou condicional a determinados tratados.
A limitação ao consentimento acerca de parte do tratado recebe o nome de reserva ou declaração
interpretativa. A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1.969, no seu art. 2º, “d”, explica
que: d) "reserva" significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou
denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir,
com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua
aplicação a esse Estado;
O que os distingue é a possibilidade de alargamento do número de partes. Havendo a hipótese de
ingresso ou saída de Estados, será multilateral. Nos bilaterais, se uma das partes denunciar,
extingue-se o tratado.
2.4.2. Quanto à abertura ou não
a. Abertos → são aqueles acessíveis a outros Estados; possuem cláusula de adesão.
b. Fechados → são aqueles realizados somente entre as partes, não são acessíveis a outros
Estados;
c. Semi-abertos → abertos somente a alguns países específicos;
2.4.3. Quanto à solenidade
a. De forma solene → são aqueles que precisam de assinatura e ratificação;
b. De forma simplificada → são aqueles que a mera assinatura já lhe da validade;
2.4.4. Tratados lei, contrato e Constituição
a. Tratados-lei → são aqueles normativos, ou seja, disciplinam com força de lei; Todos os integrantes
acordam com propósitos idênticos.
b. Tratados-contrato → são aqueles que se formam a partir da vontade das partes, em geral
disciplinando tratos comerciais. Todos os integrantes acordam com propósitos diferentes. Ex. acordo
nuclear Brasil-Alemanha: o Brasil se comprometeu a fornecer urânio enriquecido ao passo que a
Alemanha se comprometeu a fornecer tecnologia nuclear ao Brasil.
Tratados-Constituição: “são celebrados pelos sujeitos da SI que visam a institucionalizar um processo
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internacional de criação de uma entidade que possua orgaos e poderes próprios e vontade
intependente dos Estados que a originaram”.
2.5. Demais elementos
a. Multilateralidade e bilateralidade dos tratados: Temos diversas classificações no que tange ao
tema Tratados Internacionais. Um tratado pode ser constituído por duas partes, ou seja, começar
bilateral, uma vez que concluído apenas entre A e B, mas que se possibilitar o ingresso de outros
Estados Soberanos, ou seja, de início, ser um tratado bilateral-aberto. Nada impede que um tratado
bilateral se converta em multilateral.
b. Mazzuoli salienta que em casos como o retratado acima (tratado bilateral, mas aberto à quem
quiser aderir) não se está de fato diante de um tratado bilateral, enaltecendo que “trata-se de acordo
verdadeiramente coletivo, uma vez presente a autorização de ingresso de outras partes pela via da
adesão”. Em sendo aberto o tratado, já que permite que terceiros que não fizeram parte da tratativa
original ingresse no mesmo, poderá aderir na sua totalidade ou em parte.
Emenda ao tratado: No que tange à emenda ao tratado, esta é considerada “o meio pelo qual os atos
internacionais são revistos, implicando em acréscimo, alteração ou supressão de seus conteúdos
normativos”. Por meio do art. 40, § 4º da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1.969
(CVDT 69), Como os tratados são passíveis de emendas, é perfeitamente possível a coexistência de
versões diferentes de tratados.
No art. 40 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1.969 enfatiza a possibilidade de
dualidade ou duplicidade de regimes jurídicos entre os tratados original e emendado. Isto significa
que há “a possibilidade de um tratado original estar vigendo ao mesmo tempoentre as partes que não
concordaram com a emenda, e entre estas e o grupo que com elas concordou, sem prejuízo de o
tratado emendado estar vigendo na sua integralidade para este último grupo”.24
Como em 1997 houve a adesão do texto pelo Brasil, quando em vigor a segunda versão do Tratado
(“Compromisso AB97”), presume-se que o aderente se vinculará aos termos do tratado emendado.
Assim dispõe o art. 40 da CVDT 69:
Artigo 40
Emenda de Tratados Multilaterais
1. A não ser que o tratado disponha diversamente, a emenda de tratados multilaterais reger-se-á
pelos parágrafos seguintes.
2. Qualquer proposta para emendar um tratado multilateral entre todas as partes deverá ser
notificada a todos os Estados contratantes, cada um dos quais terá o direito de participar:
a) na decisão quanto à ação a ser tomada sobre essa proposta;
b) na negociação e conclusão de qualquer acordo para a emenda do tratado.
3. Todo Estado que possa ser parte no tratado poderá igualmente ser parte no tratado emendado.
4. 0 acordo de emenda não vincula os Estados que já são partes no tratado e que não se tornaram
partes no acordo de emenda; em relação a esses Estados, aplicar-se-á o artigo 30, parágrafo 4 (b).
5. Qualquer Estado que se torne parte no tratado após a entrada em vigor do acordo de emenda
será considerado, a menos que manifeste intenção diferente:
a) parte no tratado emendado; e
b) parte no tratado não emendado em relação às partes no tratado não vinculadas pelo acordo de
emenda.
Em conclusão acerca da temática, extrai-se o seguinte:
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(a) O tratado emendado vigora entre as parte que concordaram com a alteração (emenda);
(b) Quanto ao tratado original, é válido entre as partes que não aprovaram a alteração do mesmo
(duplicidade de regimes). Assim, se aprovou a emenda, está lhe abrangerá, se não aprovou, vigora o
tratado original.
(c) Ainda, quanto ao tratado original, este é válido para as partes que aprovaram e para as partes
que não aprovaram a emenda.
(d) A adesão de Estado a um tratado em sua versão emendada (não original), esta versão é a
que valerá para o Estado aderente, exceto se dispor em contrário. Quanto as partes que aceitaram a
emenda, o Estado aderente obedeceráeste regime jurídico internacional frente às partes que
aceitaram. Quanto às partes que não aceitaram a emenda, o Estado aderente respeitará as normas
originais.
c. Denúncia ao tratado: é o ato unilateral com repercussão internacional em que uma parte
demonstra a intenção de não mais estar obrigada aos termos e obrigações acordados pelo ato
internacional. Para tanto, deve-se verificar os termos do próprio tratado, que em regra disciplinam
esta modalidade formal de desvinculação, sob pena de responsabilidade internacional do Estado.
Importante salientar que o fato de não haver previsão no tratado acerca da denúncia não impede que
a mesma seja praticada pelo sujeito, uma vez que a vontade é o elemento fundante dos tratados
internacionais.
d. Idioma: a escolha é livre, cabendo aos subscritores a escolha, conforme consenso entre os
mesmos.
e. Entrada em Vigor: Com relação aos Tratados de forma simplificada, entram em vigor com a mera
assinatura. Entretanto, os Tratados de forma solene dependem da assinatura e da ratificação para
entrar em vigor. Essa ratificação serve de instrumento de controle sobre os atos do plenipotenciário.
Quanto aos tratados bilaterais, estes entram em vigor quando os Estados pactuantes ratificarem o
mesmo. No que tange aos tratados multilaterais, temos os seguintes aspectos a serem considerados:
(i) Quantificado: o tratado só entra em vigor quando a maioria dos Estados o tenham ratificado;
(ii) Qualitativo: entra em vigor quando determinados Estados tenham que, obrigatoriamente,
ratificar os tratados. Ex. protocolo de Quioto, em que a ratificação dos EUA e da Rússia são
imprescindíveis para a entrada em vigor, uma vez que estes dois Estados são grandes poluidores.
f. Registro dos tratados: Os Tratados, para que tenham validade, não necessitam estar registrados
na ONU. Esse registro só será necessário para que a ONU dirima conflitos deles advindos. Explica
Marcelo Varella que “o registro é ato indispensável para considerar o Estado como parte. Se não
houve o registro, o Estado não está vinculado ao texto nem pode exigi-lo dos demais, ainda que o
tenha ratificado, de acordo com seus procedimentos internos”.
2.6. Processualístic
Aparece na doutrina como processo de conclusão dos tratados: uma série de eventos para concluir
os tratados, com eventos na esfera internacional e interna dos Estados. Por tratar de 2 planos – o
contratual e o normativo interno – gera uma certa perplexidade.
Fases:
a. Assinatura: plano internacional
b. Aprovação interna ou referendo: plano interno
c. Ratificação ou adesão: plano internacional
d. Promulgação interna: plano interno
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As fases de assinatura e de ratificação ou adesão ocorrem no plano internacional. As fases de
aprovação interna e promulgação ocorrem no plano interno. Na doutrina, alguns falam da fase da
negociação.
A forma mais comum de nascimento de um tratado é por meio de uma conferência específica para
gerar um tratado. Hodiernamente fala-se de produção de tratados pelas organizações internacionais,
sendo consideradas como incubadoras de tratados, submetendo aos Estados para aprovação, como
nos tratados de Direitos Humanos. No DIP quem assina tratado é organização internacional ou
Estado.
Cada país, em sua ordem constitucional, estabelece quem tem a prerrogativa para assinar tratatos.
No Brasil, é o Presidente da República. Na prática não é o PR, por ser celebrado a toda hora, em
geral quem assina tratado é o ministro das relações internacionais, o diplomata, como prepostos do
PR. No § U do art. 84 permite a delegação de algumas funções presidenciais, mas não prevê a
delegação acerca da conveniência ou não para celebrar tratado, por isso o ministro é preposto do PR.
Assinatura não obriga/vincula ao tratado. A vinculação ocorre com a ratificação da assinatura (fase
“c”). A aprovação interna ocorre com os parlamentos internos. O PR encaminha mensagem ao
Congresso apresentando a exposição de motivos que o motivou a assinar o tratado, requerendo ao
Congresso a ratificação do Tratado, que tramitará no Congresso até a aprovação.
Se o Congresso aprovar o tratado, expedirá um DECRETO LEGISLATIVO. Aprovado o Decreto
Legislativo, o PR é quem tem competência para ratificar o tratado. A ratificação está prevista no
tratado internacional, mas não é atribuição do Congresso, mas sim do presidente. A ratificação é
manifestação formal do Estado, comunicando a ratificação pelo Brasil daquele tratado.
Observação de forma: a ratificação é feita junto ao depositário do tratado, que e como se fosse um
cartório que registra os atos do tratado. Em geral é o Estado em que foi celebrado o tratado.
Uma vez ratificado o tratado, por ser irrenunciável, o Estado que quiser sair que denunciar o
tratado.
Com a ratificação o Estado torna-se parte do tratado.
Adesão: é a vinculação do Estado sem a ratificação, uma vez que o tratado em vigor com outros
Estados. Nos tratados que constituem Organização Internacional, em regra, tem que haver
concordância de um órgão ou comitê.
A promulgação no Brasil dá-se por meio do DECRETO PRESIDENCIAL, que promulga, como
decorrência da ratificação ou adesão. Este decreto marca o início da vigência no território nacional.
Tem no máximo 2 ou 3 artigos e visa apenas promulgar e dar ciência para que produza efeitos. O
decreto trás em apenso/anexo o texto do tratado, em língua portuguesa.
Vigência do tratado: há 3 planos de vigência
a. Vigência internacional: quando são satisfeitos os requisitos previstos no próprio tratado. Regra:
número mínimo de ratificações.
b. Vigência para o Estado: quando o Estado se responsabiliza internacionalmente, estando obrigado
a cumprir as obrigações, sob pena de responsabilidade internacional: deve estar internacionalmente
vigente o tratado e deve haver a ratificação pelo Estado.
c. Vigência no Estado: vigência no plano interno. Tem que estar em vigor para o Estado + ter
ocorrido a publicação do decreto (presidencial) de promulgação (publicidade).
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CAPÍTULO 3 - INDIVÍDUO NO CENÁRIO INTERNACIONAL
1. Da Nacionalidade (art. 12, CF):
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1.1. Conceito: Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une uma determinada pessoa a um
Estado.
1.2. São dois os critérios para se atribuir a nacionalidade:
a) Nacionalidade Originária (1º Grau): é aquele que o indivíduo se vê atribuir ao nascer. Pode ser
atribuído de duas formas: Jus Soli, critério territorial, e Jus Sangüinis, critério da filiação. O conflito
das duas regras pode gerar duas situações complexas no direito:
i. Apatria (conflito negativo de nacionalidade): pessoa que não tem nacionalidade. Ocorre quando o
país onde o indivíduo nasce aplica o Jus Sangüinis e o país de origem, o Jus Soli.
ii. Polipatria (conflito positivo de nacionalidade): Pessoa nascida em um país que adota o Jus Soli e
filha de pais de Estado que adota o Jus Sangüinis.
b) Nacionalidade Adquirida (2º Grau): Aquela que exige ato de vontade de indivíduo. No Brasil ocorre
por meio da naturalização.
1.3. Notas sobre o art. 12, CF
1.3.1. Brasileiros Natos:
“a”. Critério Jus Soli. Aquele nascido na República Federativa do Brasil (todos os espaços, físicos ou
não, onde o país exerce sua soberania), mesmo que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país. Navios ou aeronaves de Guerra consideram-se República Federativa
do Brasil, uma vez que compreende todos os espaços onde o país exerce soberania (território
brasileiro, mar territorial, embaixadas, embarcações de guerra).
“b”. Critério Jus Sangüinis. Nascidos no estrangeiro, filhos de pai ou mãe brasileiros a serviço da
republica federativa do Brasil.
“c”. Critério Jus Sangüinis: Nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiro, desde que venham a
residir na RepúblicaFederativa do Brasil e optem em qualquer tempo pela nacionalidade. Em
qualquer tempo: a partir dos 18 anos, pois é quando se atinge a capacidade civil e quando se pode
candidatar a cargo eletivo (de vereador). A doutrina critica “a qualquer tempo”, um prazo deveria ter
sido estipulado. Não pode ser feito por meio de representação, pois é direito personalíssimo. Antes
dos 18 anos, não é necessária a residência no Brasil, podendo ser o registro provisório efetuado no
Consulado brasileiro, vindo a pessoa optar a partir dos 18 anos pela nacionalidade brasileira. De
acordo com o STF, o “em qualquer tempo” se dá a partir dos 18 anos, pois, por ser direito
personalíssimo, não pode ser requerida por meio de representação.
1.3.2. Perda da Nacionalidade Brasileira: Hipóteses:
a) Naturalizado (art. 12, § 4º, I): tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude
de atividade nociva ao interesse nacional.
b) Nato (art. 12, § 4º, II e III): ao adquirir outra nacionalidade. Salvo nos casos de reconhecimento da
nacionalidade originária pela lei estrangeira ou nos casos de imposição de naturalização pelo Estado
Estrangeiro.
1.3.3. Brasileiros Naturalizados:
(a) Art. 12, inciso II – estrangeiro de país de língua portuguesa: residência por 01 ano ininterrupto
no Brasil, com idoneidade moral.
(b) Art. 12, inciso III – demais estrangeiros: residência por 15 anos ininterruptos e sem
condenação penal, sob requerimento. Ininterrupto: sem intervalo. Simples férias familiares não são
interrupções.
(c) Art. 12, § 1º - Portugueses: tem os mesmos direitos que o brasileiro, desde que haja
reciprocidade.
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(d) Art. 12, § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,
salvo nos casos previstos na Constituição.
1.4. Cargos privativos de brasileiros natos (art. 12, §3º)
(a) De Presidente e Vice-Presidente da República
(b) De Presidente da Câmara dos Deputados
(c) De Presidente do Senado Federal
(d) De Ministro do Supremo Tribunal Federal
(e) Da carreira diplomática
(f) De oficial das Forças Armadas
(g) De Ministro de Estado da Defesa
Demais ministros que não sejam de Estado da defesa, podem ser natos.
1.5. Reaquisição da Nacionalidade Brasileira
Quem perdeu a nacionalidade brasileira pode readiquirir a nacionalidade brasileira, uma vez que a Lei
818/49 (revogado em grande parte pelo Estatuto do Estrangeiro, mas com o art. 36 em vigor) diz que
é possível a reaquisição da nacionalidade brasileira fazendo-se um requerimento ao Ministério da
Justiça por Decreto do Presidente da República.
Com qual status?
1ª Posição (Minoritária – José Afonso da silva): volta com o mesmo status que perdera. Se era nato,
volta como nato, se era naturalizado, como naturalizado. 2ª Posição (Majoritária – Pontes de Miranda,
Mirtô Fraga, José Francisco Rezek, dentre outros): entende que a pessoa não volta com o mesmo
status. Se era brasileiro nato, volta como naturalizado, não podendo concorrer aos cargos privativos a
brasileiros natos. Se era naturalizado, volta como renaturalizado, e assim sendo, ele pode ser
extraditado, deportado ou expulso. É um processo mais facilitado, não precisando passar por um
procedimento judicial.
2. Condição Jurídica do Estrangeiro
➢ Estrangeiro é todo aquele oposto ao conceito de nacional.
2.1. Títulos de Ingresso do Estrangeiro em Território Nacional:
a) Imigrante: o estrangeiro que aqui ingressa com animus definitivo; o Imigrante terá visto
permanente;
b) Forasteiro: o estrangeiro que entra a título provisório, tendo visto temporário (podendo até não tê-
lo). São considerados forasteiro: estudantes, missionários, negócios ou carreira diplomática. No
Brasil, não se exige visto de trânsito.
2.2. Direitos dos Estrangeiros no Brasil:
Todos os direitos civis (art. 5º, CF). Esses direitos não se restringem apenas os estrangeiros
residentes no Brasil. Todos os estrangeiros, residentes ou não em território brasileiro, tem os direitos
constitucionais garantidos.
a) Estrangeiros não têm direitos políticos, mesmo quando aqui estão com animus definitivo.
b) A constituição permite que estrangeiros, dependendo do que a lei disciplinar, possam participar da
administração direta do país. Art. 37, I, CF.
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2.3. Deveres do Estrangeiro:
a) Dever de polícia;
b) Dever de bombeiro;
c) Dever de milícia para a proteção do local dos respectivos domicílios contra catástrofes naturais ou
perigos que não sejam provenientes de guerra.
3. Saída compulsória do Estrangeiro (por iniciativa estatal): retirada compulsória do estrangeiro.
3.1. Deportação: retirada compulsória do estrangeiro do território nacional que ingressou ou
permanece no país de forma irregular. Não é crime, é procedimento administrativo. Nada lhe impede
de retornar, desde que o faça de forma regular. É sempre individual e realizada pelo departamento da
Polícia Federal, com efeitos imediatos.
3.2. Expulsão: retirada compulsória do estrangeiro do território nacional fundamentada em atos
atentatórios à soberania nacional, à moral e aos bons costumes. É discricionário do Poder Executivo.
Não é pena no sentido criminal, é medida político-administrativa, de caráter repressivo. É realizado
por decreto presidencial. Não tem efeito imediato, pois depende de Decreto do presidente da
república. O judiciário não pode entrar no mérito.
➢ Não existe deportação nem expulsão de nacionais.
➢ A Constituição de 1988 acabou com o banimento (expulsão de um nacional). Também não existe
mais o desterro (deslocar uma pessoa dentro do próprio território nacional, sem que esta possa sair
desse local).
3.3. Extradição: é a entrega de uma pessoa de um Estado a outro, a pedido deste, para que esta
pessoa lá seja processada, julgada ou para que lá cumpra pena. É medida jurídico-penal
internacional para repressão de crimes, e funciona no Brasil com 03 fases:
(a) 1ª. Administrativa: A extradição é requerida via Ministério das Relações Exteriores e
Ministério da Justiça. O MJ se verificar a admissibilidade do pedido, o encaminhará por meio de aviso
ministerial ao STF.
(b) 2ª. Judiciária: O STF verifica se estão presentes os requisitos de admissibilidade da
extradição, havendo a presença dos mesmos, ele autoriza a extradição.
(c) 3ª. Administrativa: O STF notifica o MJ, que notificará o Presidente da República. Se não
houver Tratado prevendo a extradição, ele pode não extraditar se assim achar conveniente. A
decisão do STF, em tese, não obriga o Presidente da República. Se houver Tratado, ele está
obrigado a fazê-lo. Se o STF negar a extradição, o executivo comunica ao País requerente.
Brasileiro nato não pode ser extraditado. Já o Naturalizado pode ser quando praticar crime comum
antes da naturalização; ou por prática comprovada de tráfico internacional de entorpecente. Para
extradição, deve haver processo penal em andamento e similitude de crimes. Em caso de pena de
morte ou perpétua em similitudes de crime, o STF autoriza a extradição, desde que o Estado faça um
acordo com o Brasil, se comprometendo a comutar no máximo 30 anos de prisão. Quando há
descumprimento desse acordo por parte do país requerente, o máximo que se pode fazer é romper
as relações diplomáticas. O STF não autoriza extradição quando não houver similitude crimes,
quando o fato no Brasil for atípico ou quando a pena imposta no país de origem violar a moral, os
bons costumes e os Direitos Humanos reconhecidos no Brasil.
CAPÍTULO 4 - PERSONALIDADE INTERNACIONAL
Personalidade Jurídica Internacional: É a Capacidade para agir internacionalmente, participando das
relações internacionais. Os Sujeitos de Direito Internacional, em regra, são 03:
a) Estados soberanos (dotados de povo, território, poder soberano e finalidade); Estados sui generis:
A Igreja tem dupla personalidade; Santa Sé (capacidade espiritual da organização), e o Estadodo
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Vaticano (sede política), que tem todos os elementos de um Estado. Se os Tratados prevêem
privilégios aos Católicos, são chamados de Concordata. O Brasil não pode celebrar concordatas com
o Vaticano.
b) Organizações Internacionais, que são interestatais ou intergovernamentais. Devem ser criadas por
Estados e por meio de Tratados. Obs.: Greenpeace, FIFA, FIA UNICEF e Cruz Vermelha são ONG’s,
fundadas por particulares e por meio de atos constitutivos ou contrato.
c) Indivíduos: questões da nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro.
NOTAS SOBRE O ESTADO COMO SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL
Elementos do Estado
Elementos
A doutrina aponta os seguintes elementos que integram e constituem os Estados
(a) População permanente
(b) Território determinado;
(c) Governo
(d) Soberania
1. Classificação
1.1. Estados Simples: é o que o poder é único e centralizado;
1.2. Estados Compostos: há divisão do poder no âmbito interno, podendo ser dividido em:
1.2.1. Estados Compostos por Coordenação: consiste no funcionamento articulado dentro de uma
totalidade ordenada. São os:
(a) Estados Federais: os Estados se unem para formar uma União Federal. Para tanto, perdem sua
soberania e a transferem para a União Federal formada. Exemplifica com o EUA em 1787, a
Alemanha em 1867 e Brasil em 1891.
(b) Confederações de Estados: trata-se da união ou associação de diversos Estados independentes,
de modo a não abdicarem da sua soberania interna e autonomia externa. Esta união, feita por tratado
internacional, tem um fim precípuo, como o fomento da paz ou para assegurar a defesa comum dos
integrantes. Há a criação de uma Assembléia geral, também denominada de dieta, que é o órgão
encarregado de definir o âmbito de atribuição e ações de cada Ente confederado. Neste modelo
composto, há o direito de secessão ou separação dos demais integrantes. Ex. Países Baixos (1579-
1795), Confederacao dos Estados Norte-Americanos (1781-1787).
(c) Uniões de Estados:
(d) Commonwelth ou Comunidade Britânica não é considerada um Estado, mas sim a união de ex-
colônias, protetorados ou domínios do Reino Unido, que tornaram-se independentes, mas
mantiveram o vínculo com os Britânicos. Não possui personalidade de direito internacional e a Coroa
Britânica consiste no símbolo da união dos povos antigamente colonizados pelo Reino Unido.
Salienta Del’Olmo que “trata-se de uma sociedade de Estados, coordenada pelo Reino Unido, sob a
chefia simbólica do monarca inglês e integrada por quase todas as antigas colonias desse país. Seus
membros gozam de plena soberania interna e externa, havendo cooperação entre eles e ajuda
técnica e científica em temas como agricultura, indústria, infra- estrutura e energia, especialmente aos
Estados mais pobres”.
1.2.2. Estados Compostos por subordinação: são os em que há hierarquia de poder. São
considerados:
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(a) Vassalos: que eram os dominados pelo império otomano, mas que mantinham autonomia, mas
com o dever de pagar tributos e prestar auxílio militar (SILVA, 2008, 189-190).
(b) Protetorados: há uma relação de proteção entre os Estados. Por meio de um tratado, fixa-se a
obrigação de um Estado proteger o outro como obrigação, sendo que como recompensa, tem a
faculdade de gerir as relações internacionais do protegido na sua integralidade ou parcialmente,
podendo até mesmo reger relações internas (SILVA, 2008, 190). Ex. sultanato de Brunei e Reino
Unido e protetorado da França e Espanha sobre o Marrocos.
(c) Estados Clientes: fenômeno ocorrido na America Latina, em que consistiu na outorga da
administração alfandegária, exército e parcela da Administração Pública aos EUA, por Haiti, Cuba,
Panamá, Honduras, República Dominicana e Nicarágua (Silva, 2008, p. 190).
(d) Estados satélites: muito parecido com o anterior, mas com a diferença que a vinculação ocorreu
perante a União Soviética – URSS.
(e) Estados Exíguos: são os que tem um território diminuto, também chamados de Microestados. Por
serem muito pequenos, não podem exercer sua soberania com plenitude, o que faz com que se
subordinem ao Estado limítrofe. Ex. San Marino (Itália), Andorra (França/Espanha) e Mônaco
(França).
(f) Estados associados: são Estados independentes, mas que não tem condições de mantê-lo, o que
faz com que se subordinem a outros Estados, como Porto Rico frente aos EUA e as Ilhas Cook, com
relação à Austrália.
2. Notas sobre o Território
➢ É o espaço ao qual o Estado exerce sua soberania;
➢ O Território tem a função de determinar os limites físicos do Estado;
➢ A delimitação é feita por tratados e costumes internacionais;
Limite e fronteira
➢ Fronteira: é região em volta do território, ao qual o Estado protege para salvaguarda da segurança
nacional;
➢ Limite: é até onde vai o espaço físico do território;
Aquisição de território:
➢ Ocupação efetiva
➢ Conquista
➢ Secessão
➢ Cessão convencional
➢ Fusão convencional
➢ Decisão unilateral
➢ Descolonização
➢ Dissolução de um Estado
3. Governo
o Deve ser autônomo sem dependência jurídica;
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o É a capacidade de tomar decisões sobre: Gestão interna dos seus interesses; Relações
internacionais;
o Para o DIP a autonomia governamental está intimamente ligada à soberania
4. Reconhecimento de Estado
MARCELO VARELLA: É a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou
Organizações internacionais no sentido de aceitar a criação do novo sujeito de direito internacional,
portanto, com direitos e obrigações.
ROBERTO LUIZ SILVA: é o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a existência de um
novo membro na Sociedade Internacional.
PAULO HENRIQUE PORTELA: é importante na medida em que ambos – reconhecimento de Estado
e Governo – se referem à capacidade de o ente estatal manter vínculos com outros Estados e
organismos internacionais, inserindo-se na dinâmica das relações internacionais. Para ele,
reconhecimento de Estado é ato unilateral, discricionário, meramente declaratório, que visa apenas
atestar o surgimento do Estado.
➢ O reconhecimento não é imprescindível, bastando reunir os elementos: povo, território e
soberania. (Silva).
Requisitos
(a) Possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios estrangeiros;
(b) Governo com autoridade efetiva sobre o território, congregando forças.
(c) Possuir território delimitado.
o É feito a pedido do Estado que surgiu (regra)
o Há notificação dos Estados, solicitando o reconhecimento;
o Hoje: basta a presença dos elementos essenciais (povo, território e soberania).
o O reconhecimento do Estado é importante porque demonstrar a vontade política de interagir com o
Estado reconhecido, permitindo a este a participação efetiva na sociedade internacional.
o Demonstra que se considera que a nova entidade detém as condições fáticas para se tornar um
sujeito de direito internacional.
o Cria juridicamente um stoppel, no caso, tornando impossível ao Estado que reconheceu o novo
Estado mudar a sua manifestação de vontade.
o Reconhecimento pode ser
(i) Diplomático: envio de diplomatas ou com a acreditação dos representantes diplomáticos no
Estado
(ii) De jure: com a formalização de tratados com o novo Estado;
(iii) De facto ou formal: com a criação de projetos de cooperação conjunta, envolvendo o Estado
que se pretende reconhecer.
o Não há transferência de soberania, mas atribuição de capacidades e competências soberanas;
5. Reconhecimento de Governo
É ato em que se admite o novo governo de outro Estado como representante deste nas relações
internacionais.37
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o Este ato aplica-se apenas em rupturas não democráticas (na ordem constitucional do Estado),
como nos golpes de Estado.
o Não se aplica em trocas de governo conforme o Direito eleitoralvigente no Estado.
o Não altera o reconhecimento do Estado.
o Mas gera impactos nas relações internacionais.
o Se o governo não for reconhecido, não poderá praticar atos em nome do Estado.
o Não terá prerrogativas das autoridades.
o É ato:
(a) Unilateral
(b) Discricionário
(c) Não-obrigatório
(d) Irrevogável
(e) incondicionado
Vinculações
Compromisso com as normas de direito internacional Restabelecimento da normalidade institucional
Regime democrático.
Doutrinas:
➢ TOBAR: se houver apoio popular, é possível o reconhecimento do governo estrangeiro.
➢ ESTRADA: o reconhecimento ou não configura intervenção indevida em assuntos internos de
outros entes, em desrespeito à soberania.
BREGALDA NEVES: Reconhecimento de governo
I. Finalidade:
(a) É um meio pelo qual o terceiros possuem para declarar qual é o governante, em caso de caos e
de confusão.
(b) Meio de coação, em que terceiros pressionam o governo a cumprir obrigações internacionais
assumidas pelo governo anterior, em nome do Estado.
(c) Informar aos tribunais quem é o governo estrangeiro.
II. Formalidades para o reconhecimento:
(a) Efetividade do governo: quanto ao controle da máquina administrativa e aquiescencia da
população
(b) Cumprimento das obrigações internacionais do Estado: tendo em vista a continuidade do Estado.
(c) Ter a constituição do governo conforme o Direito Internacional (sem terrorismo ou genocídio.
(d) Ser democrático.
III. Efeitos do reconhecimento
(a) Estabelecimento de relações diplomáticas.
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(b) Imunidade de jurisdição.
(c) Capacidade para demandar em tribunal estrangeiro.
(d) Admissão de validade das leis e dos atos governamentais.
6. Soberania dos Estados
6.1. Capacidades soberanas: vida internacional
(a) Produzir normas jurídicas internacionais
(b) Ser imputado de eventuais ilícitos internacionais;
(c) Pedir indenizações por danos ilícitos cometidos por outros Estados;
(d) Ter acesso ao sistema internacional de solução das controvérsias;
(e) Tornar-se membro, participando formalmente das Organizações internacionais;
(f) Estabelecer relações diplomáticas e consulares com outros Estados;
6.2. Competência soberana: vida interna dos Estados
7. Exercer domínio sobre o território
8. Criar normas internas
9. Julgar atos cometidos em seu território
10. Atribuir nacionalidade de seu Estado
11. Determinar o direito sobre as pessoas físicas e jurídicas.
CAPÍTULO 5 - RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS
7.2.1.1.1. Conceito: O instituto da responsabilidade visa demandar o Estado relativamente a atos ou
fatos por ele praticados e que geraram prejuízos para outros Estados ou para terceiros.
7.2.1.1.2. Elementos Constitutivos da responsabilidade internacional:
a) Ato Ilícito: pode ser omissivo ou comissivo. É todo ato do Estado que viola norma expressamente
consagrada no Direito Internacional. O que modernamente se vem entendendo é que a
responsabilidade do Estado internacionalmente é objetiva;
b) Imputabilidade: é o nexo causal, vínculo jurídico, que liga o evento danoso ao Estado causador do
dano;
c) Dano ou prejuízo efetivo: não existe responsabilidade internacional se o dano ou risco não for
efetivo. O prejuízo pode ser tanto material quanto moral.
7.2.1.1.3. Formas da Responsabilidade:
3.1. Responsabilidade Principal ou Subsidiária (Direta ou Indireta):
(i) Direta: quando o ato for praticado pelo próprio Estado.
(ii) Indireta: quando o ato for praticado por particular que o Estado representa.
3.2. Responsabilidade Comissiva e Omissiva
(i) Comissiva: quando o ato for positivo;
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(ii) Omissivo: quando o estado se omite numa conduta em que era obrigado a praticar.
3.3. Responsabilidade Convencional ou Delituosa
(i) Convencional: quando um Tratado ratificado é violado.
(ii) Delituosa: quando o Estado não viola um Tratado, mas um Costume previamente
estabelecido.
CAPÍTULO 6 - CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS
1. Conceito: Consiste no litígio (desacordo sobre ponto de fato ou direito)41 envolvendo Estados
soberanos entre si, ou entre Estados e organizações internacionais, uns contra os outros, no que
tange às mais diversas searas, como a econômica, política, jurídica, seja em que grau for.42 Em
geral são 2 os Estados que estão em desacordo, mas nada impede que um grupo de Estados ou que
haja tensão entre Estado e Organização Internacional.
2. O porquê dos modos de solução das controvérsia: Mazzuoli salienta que há uma dupla finalidade:
2.1. Finalidade impeditiva: ou seja visa impedir a controvérsia entre os atores, solucionando-a.
2.2. Finalidade preventiva: de modo que os contentores não se valham do uso da força, devendo
pautar-se, sempre, pela via amigável; Salienta Guido Fernando Silva Soares que são “instrumentos
elaborados pelos Estados e regulados pelo Direito Internacional Público, para colocar fim a uma
situação de conflito de interesses e até mesmo com a finalidade de prevenir a eclosão de uma
situação que possa degenerar numa oposição definida e formalizada em pólos opostos”.43
3. Meios previstos pela ONU
Capítulo VI
SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS
Os meios de Solução de Controvérsias podem ser pacíficos e não pacíficos.
4.1. Meios Pacíficos de solução de controvérsias
4.1.1. Diplomáticos ou não judiciais. Segundo Mazzuoli (2006: 135) “os processos diplomáticos (não
judiciais) de solução de controvérsias caracterizam-se pela existencia de um foro de diálogo entre as
partes divergentes, exercitado por meio de conversacoes amistosas, buscando encontrar um
denominador comum para a satisfacao dos interesses de ambas as partes envolvidas num conflito
internacional”.
(a) Negociação diplomática direta: é o instrumento de solução de controvérsia por excelência, as
partes resolverão a querela entre si, podendo ser pela via oral ou escrita, por meio de troca de notas
diplomáticas. Por este meio, as partes fazem concessões mútuas, com a finalidade de extinguir a
controvérsia.
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(b) Bons Ofícios: ocorre quando um terceiro oferece os auxílios materiais para que as partes resolvam
a controvérsia;
(c) Mediação: é a negociação em que intervirá um terceiro, mas a decisão final será das próprias
partes, não do mediador;
(d) Comissão de Inquérito: método de investigação de um determinado fato ou direito, em que se
permite a produção de provas. Também conhecido como investigação, não é um meio de solução de
conflitos, mas sim um meio para esclarecer fatos conflituosos, de modo que a solução pacífica será
pautada nos esclarecimentos apurados, que podem propor soluções para o caso.44
(e) Conciliação: método que mais se assemelha a um meio jurisdicional de controvérsias, em que se
verifica a presença de vários conciliadores. É uma espécie de mediação coletiva, uma vez que há um
órgão de mediação.
Obs.: não há uma ordem gradativa destes métodos a ser seguida.
4.1.2. Políticos: são aqueles meios feitos dentro de uma Organização Internacional. São exemplos
as mais variadas Organizações Internacionais: OEA, ONU, UE etc.
4.1.3. Jurisdicionais: que podem ser Provisórios ou Permanentes. A solução encontrada será
obrigatória
(a) Arbitragem: Surgiu em 1872, no Caso Alabama.
Características:
(i) Liberdade dos Estados (liberdade de escolha dos árbitros do procedimento, bem como do direito
aplicável);
(ii) A constituição do órgão arbitral exterioriza-se através do “Compromisso Arbitral”;
(iii) Será obrigatória nos seguintes casos: a) tratado sobre arbitragem e b) cláusula
compromissória (cláusula arbitral).
Sentença Arbitral: Possui força de coisa julgada somente entre as partes. Alem do mais, são
definitivas, ou seja, não desafiam recurso.
(b) Corte Internacional de Justiça (CIJ)
É composta por 15 juízes, que não representam seus países, ou seja, são completamente imunes.Deve haver, no entanto, uma equânime distribuição geográfica de juízes – representantes de cada
um dos continentes. Aqui, é possível a existência de um juiz ‘ad hoc’; que não precisa
necessariamente ser indicado
pelo país de sua nacionalidade. A CIJ admite, ainda, a intervenção de 3º.
Possui duas maneiras de atuar, quais sejam “contenciosa” e “consultiva”.
(i) Contenciosa
- Competência ratione personae:
Art. 34 (somente os Estados):
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Capítulo II Competência da Corte
Proteção diplomática: Ocorre quando o Estado assume a proteção de um indivíduo de sua
nacionalidade em outro Estado. Porém, que para que haja essa proteção, necessários dois requisitos:
a. Que hajam sido esgotados todos os recursos internos do país que ocorre a problemática;
b. que o indivíduo seja de fato da nacionalidade do país que pretende protegê-lo.
- Competência ratione materie: A Corte poderá julgar qualquer tipo de questão, desde que seja
internacional, e entre Estados.
Princípio da Competência da Competência: Acaso surja alguma dúvida acerca da competência da
CIJ para dirimir uma dada controvérsia, ela mesma (CIJ), é que decidirá pela sua competência, ou
não, naquele caso.
Formas de acesso jurisdicional à Corte
1) Consentimento;
2) Fórum Prorrogatum: é um princípio segundo o qual, os juízes, podem a partir do comportamento
de uma das partes, determinarem que esta dê o seu consentimento em ser julgado, mesmo que ele
(Estado) não reconheça tê-lo feito;
3) Obrigatório: essa forma de acesso se dá, via de regra, com base em contratos anteriormente
firmados;
4) Cláusula facultativa de jurisdição obrigatória: é uma clausula que impõe ao Estado que a aceite, a
legitimidade passiva para ser julgado pela CIJ em todos os casos em que vier a ser demandado,
desde que tal demanda, seja levada a efeito por outro Estado, que também tenha aceitado essa
mesma cláusula.
Processo na CIJ
1. Duas fases: 1ª) Escrita; 2ª) Oral.
2. Decisória
3. Exceções preliminares
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4. Medidas cautelares
Sentença (características)
1. Definitiva e Inapelável
2. Faz coisa julgada somente entre as partes
3. Não admite precedente
(ii) Consultiva
Externaliza-se através de “pareceres consultivos”, que não são, no entanto, vinculantes (obrigatórios),
salvo dois casos:
a) Tribunal Administrativo das Nações Unidas (TANU);
b) Tribunal Administrativo da Organização Internacional do Trabalho (TAOIT).
Obs.: Estes pareceres da CIJ servem de verdadeira doutrina
CAPÍTULO 7 - SANÇÕES EM DIREITO INTERNACIONAL
1. Suporte fático: violação das normas de direito internacional, gerando perturbação na sociedade
internacional;
2. Função das sanções:
(a) Repressão à antijuridicidade da violação;
(b) Garantia de que o Direito Internacional será respeitado (eficácia das normas);
(c) Reparação e submissão do transgressor a uma penalidade.
3. Dificuldade da aplicação das sanções aos Estados soberanos
Roberto Luiz Silva salienta que há uma maior dificuldade de aplicação das sanções aos Estados do
que aos particulares, tendo em vista os seguintes fatores:
(a) Unidade estatal maior;
(b) Sentimento nacional que possibilita a constituição de força policial única;
(c) Aplicação de punições como multas, indenizações ou perda de parcela do território tem
efeitos destrutivos à economia interna, o que culmina em acarretar prejuízo para as demais nações;
(d) A responsabilidade moral não pode ser atribuída apenas a uma nação e muito menos para
toda a população que a integra.
4. Sistema Sancionador previsto pela ONU47
4.1. Rompimento das relações diplomáticas: os agentes diplomáticos saem do Estado em litígio com o
seu Estado de origem, havendo interrupção das relações diplomáticas entre ambos.
4.2. Retorção: é a aplicação da lei de Talião ou, em Direito Internacional, da aplicação do princípio da
reciprocidade. Se o Estado ofensor aplicou uma medida ofensiva, o ofendido pode, igualmente,
aplicar a mesma medida.
4.3. Represália ou retaliação: Roberto Luiz Silva salienta que é a “medida empregada por um Estado
contra aquele que haja violado seus direitos internacionais”, tendo por requisitos para a aplicação
desta sanção:
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(i) Que o ato anterior seja contrário ao Direito Internacional;
(ii) Que não haja outro meio para a obtenção da reparação, com a tentativa prévia de reparação
do dano;
(iii) Deve haver proporcionalidade quanto à infração e a sanção a ser aplicada.
1.5.1. Formas de represália
Estas formas, no geral, são considerados ilícitos internacionais, mas que se justificam tendo em vista
o ilícito anterior praticado pelo Estado ofensor, e são eles (Silva, 2008: 451).
4.3.1.1. Bloqueio pacífico: visa impedir, pelo uso da força armada, qualquer tipo de comunicação
entre os portos ou costas de um Estado que não esteja envolvido no litígio.
4.3.1.2. Embargo: imobilização de navios de comércio estrangeiros.
4.3.1.3. Boicote: sanção econômica, financeira, com a interrupção das relações entre os Estados
quanto a estes aspectos;
CAPÍTULO 8 - OMC (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO)
Possuem duas principais funções, quais sejam:
7.2.1.2. Regulamentação do comércio internacional
7.2.1.3. Solução de conflitos.
Rege-se pelos seguintes princípios
Liberdade de Comércio Internacional
1. Redução das barreiras tarifárias e não tarifárias
2. Princípio da Igualdade (produtos devem ser tratados maneira igualitária em todos os países
partidários)
3. Princípio da Clausula da Nação mais favorecida
Métodos de solução de controvérsias
1) Negociação
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2) Órgão de solução de controvérsias
3) Órgão Permanente de Apelação: sua decisão será obrigatória e definitiva
4) Mecanismos de execução:
c) Compensação
d) Sanção
Direito internacional público - Direito dos tratados
O Direito dos tratados é conceituado dentro da Convenção de Viena (decreto nº 7030/2009) de 1969
no seu artigo 2º, inciso l, alínea a, que diz que:
“Tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
qualquer que seja a sua denominação específica”.
Na definição exposta por Rezek (1989), "Tratado é o acordo formal, concluído entre sujeitos de direito
internacional público, e destinado a produzir efeitos jurídicos". Este, tem como característica a
consensualidade, isto é, só obriga aqueles que manifestam o seu consentimento; a ausência de
hierarquia entre entre os tratados (não existe um tratado fundamental) e a ausência de formalismo
(não existe um roteiro rígido para se fazer um tratado) também são atributos deste dispositivo.
Quanto à nomenclatura, os tratados podem ser chamados de acordos, cartas, núncios, protocolos,
entre outros. A única ressalva é quanto chamá-lo de tratado internacional, pois é redundante. Dessa
forma, para um tratado ser válido perante o Direito Internacional, a forma dele não é algo definido
como obrigatoriedade pela Convenção de Viena ou qualquer outra forma. Nesse caso, o relevante é
que os países envolvidos, conforme entendimento da Comissão de Direito Internacional da ONU que
as normas internacionais relativas à validade, eficácia, execução, interpretação e, mesmo, a extinção
dos tratados sejam consideradas acordos.
E na definição de Varella (2015, p. 37) “Tratado é um acordo internacional concluído por escrito entre
Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais, regido pelo Direito Internacional, quer
conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos co-nexos, qualquer que seja sua
denominação específica. Trata-se da principal fonte de direito internacional porque representa a
vontade dos Estados ou das Organizações Internacionais, em um determinadomomento, que
aceitam regular uma relação jurídica por meio de uma norma comum entre si. É a fonte mais
democrática, pois a priori sua vigência incide apenas sobre os sujeitos de direito que desejam
submeter-se ao mesmo.”
Para se celebrar um tratado é necessário que haja um acordo de modo formal, o que significa que os
tratados precisam de um documento escrito e isso é o que o diferencia de um costume. Há a
necessidade indispensável de que haja uma conclusão, se não a houver não se considera tratado,
mas sim um projeto. Os aspectos formais não fazem com que o tratado seja válido ou não, ele pode
ser considerado válido mesmo não seguindo os aspectos formais. Seriam estes: geralmente feitos
nas capitais (não é regra, podem ser feitos em qualquer lugar); ter idioma comum por
conveniência/educação entre os dois Estados que estão acordando algo e, com o objetivo de dar
publicidade a esse acordo, é sempre feito também em uma outra língua (normalmente inglês ou
francês). A ONU (Organização das Nações Unidas) trabalha com seis idiomas oficiais: inglês, francês,
espanhol, mandarim, russo e árabe.
Depois, quanto aos sujeitos, os tratados só podem ser celebrados entre sujeitos do DIP: entre
Estados ou entre Estados e OI’s (Organizações Internacionais). E como último elemento básico dos
tratados, temos que eles têm que produzir resultados jurídicos, isso significa que precisam ter sido
assinados e ratificados. A assinatura e ratificação de um tratado implicam, portanto, na aceitação de
direitos e obrigações pelas partes envolvidas. A existência de legítima vontade dos sujeitos
envolvidos também é característica necessária para que tal tratado seja considerado como válido.
Outras condições de validade do tratado são quanto ao objeto ser lícito e possível e também quanto
ao consentimento livre. Quando diz-se que para criar um tratado o objeto precisa ser lícito e possível
significa que o tratado não pode contrariar o direito cogente (Jus Cogens - são as regras
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internacionais amplamente reconhecidas e consolidadas pelo Direito Internacional). A Convenção de
Viena sobre o direito dos tratados diz que o tratado que contrariar o Jus Cogens é nulo. E quanto ao
consentimento livre, significa que o tratado para ser feito tem que ser livre, sincero e sem vício. O
consentimento livre se enquadram dentro dos vícios do direito:
• Erro: percepção falsa da realidade; é uma causa de anulabilidade/anulação do tratado; a
convalidação pode ser tácita;
• Dolo: dissimulação da realidade; também é causa de anulabilidade do tratado, portanto também
pode ser convalidada;
• Coação: pode ser configurado por uma grave ameaça ou pelo uso de violência física; pode ser
sobre o sujeito do Direito Internacional ou sobre o seu representante; é uma causa de nulidade do
tratado, portanto não pode ser convalidado. Uma observação aqui é que nos tratados de paz, mesmo
que sob coação, possui validade;
• Corrupção: é o interesse particular que sobressai sobre o Estado; então o tratado é com o
interesse do particular e não do sujeito; é uma causa de nulidade do tratado.
A anulação ou nulidade de um tratado se dá para tratados bilaterais. Os tratados multilaterais são
inexistentes, como se não tivessem acontecido. Bem como para reclamar de um vício de
consentimento se faz uma petição e encaminha para as demais partes. Se ninguém se manifestar e
todos ficarem em silêncio, é porque todos concordaram com o que foi reclamado. Os tratados que
versam sobre Jus Cogens só podem ter sua validade questionada por meio de apreciação de uma
corte internacional.
Há casos em que ao mesmo tempo o tratado vincula as mesmas partes, mas com conteúdo diverso e
que decorrem de fontes normativas distintas. Quando isso acontece, existem três possibilidades de
solução na qual é comumente estabelecida já nos tratados:
• Critério de especificidade: usa-se o tratado mais específico;
• Prevalência do jus cogens: o que está mais consolidado, prevalece sobre o que está em
consolidação;
• Prevalência da última manifestação de vontade - disposto no artigo 30 da Convenção de Viena:
“Aplicação de Tratados Sucessivos sobre o Mesmo Assunto
1. Sem prejuízo das disposições do artigo 103 da Carta das Nações Unidas, os direitos e obrigações
dos Estados partes em tratados sucessivos sobre o mesmo assunto serão determinados de
conformidade com os parágrafos seguintes.
2. Quando um tratado estipular que está subordinado a um tratado anterior ou posterior ou que não
deve ser considerado incompatível com esse outro tratado, as disposições deste último prevalecerão.
3. Quando todas as partes no tratado anterior são igualmente partes no tratado posterior, sem que o
tratado anterior tenha cessado de vigorar ou sem que a sua aplicação tenha sido suspensa nos
termos do artigo 59, o tratado anterior só se aplica na medida em que as suas disposições sejam
compatíveis com as do tratado posterior.
4. Quando as partes no tratado posterior não incluem todas a partes no tratado anterior:
a) nas relações entre os Estados partes nos dois tratados, aplica-se o disposto no parágrafo 3;
b) nas relações entre um Estado parte nos dois tratados e um Estado parte apenas em um desses
tratados, o tratado em que os dois Estados são partes rege os seus direitos e obrigações recíprocos.
5. O parágrafo 4 aplica-se sem prejuízo do artigo 41, ou de qualquer questão relativa à extinção ou
suspensão da execução de um tratado nos termos do artigo 60 ou de qualquer questão de
responsabilidade que possa surgir para um Estado da conclusão ou da aplicação de um tratado cujas
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disposições sejam incompatíveis com suas obrigações em relação a outro Estado nos termos de
outro tratado”.
Há de se falar em legitimidade para se fazer um tratado e só quem tem legitimidade para isso são os
representantes: as embaixadas - diplomatas, o presidente da república e o ministro das relações
exteriores. Caso o tratado seja negociado e a pessoa que o negociou não tenha poderes para tratar
de determinado assunto, ou seja, extrapolou os limites dos seus poderes, o presidente da república
pode revisar, ver se se tratava de um tratado coerente e estender os poderes à esta pessoa que
extrapolou através de uma carta de plenos poderes. Na hipótese de reconhecimento da legitimidade
de um representante, é reconhecido também a condição de sujeito do representado. Isto é, você
reconhece a personalidade jurídica desse alguém. Um exemplo prático disso seria o reconhecimento
como grupo beligerante e não como Estado/personalidade jurídica. Para isso, o artigo 7º da
Convenção de Viena diz que:
“l - Uma pessoa é considerada representante de um Estado para a adoção ou autenticação do texto
de um tratado ou para expressar o consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado se:
a) apresentar plenos poderes apropriados; ou
b) a prática dos Estados interessados ou outras circunstâncias indicarem que a intenção do Estado
era considerar essa pessoa seu representante para esses fins e dispensar os plenos poderes.
ll - Em virtude de suas funções e independentemente da apresentação de plenos poderes, são
considerados representantes do seu Estado:
a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros das Relações Exteriores, para a
realização de todos os atos relativos à conclusão de um tratado;
b) os Chefes de missão diplomática, para a adoção do texto de um tratado entre o Estado acreditante
e o Estado junto ao qual estão acreditados;
c) os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência ou organização
internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do texto de um tratado em tal conferência,
organização ou órgão”.
Em geral, os tratados são divididos em três partes para ajudar na compreensão do mesmo. Essa
divisão é feita da seguinte maneira:
• Preâmbulo: enuncia o rol das partes pactuantes e dos motivose circunstanciais do ato
convencional; o preâmbulo fala da importância do tratado; não é vinculante, só tem força de
interpretação;
• Dispositivo: é a parte essencial do tratado, lavrado em linguagem jurídica, tem o feitio de normas,
ordenadas e numeradas como artigos ou mesmo, como cláusulas; tem força vinculante;
• Anexos: fazem parte do tratado e constituem teor compromissivo do tratado; tem força vinculante;
nem todo tratado tem anexo.
Dentro da negociação do texto de um tratado há as fontes de inspiração. Elas não são exclusividade
dos Estados, a sociedade civil organizada também pode inspirar para um tratado ser feito. Há
também a adoção do texto que é o reflexo do que foi negociado, mas dentro da adoção não a
obrigatoriedade de cumprir. Todas as versões/idiomas são adotadas como oficial e não gera
engajamento (não pode obrigar o outro Estado a aceitar), mas gera duas consequências: torna o
texto imutável e gera um compromisso de boa fé.
A parte final da realização de um tratado é o engajamento, parte na qual o Estado finaliza seu
consentimento. E para chegar nesse ponto, passasse pela formação do texto que pode ocorrer de
duas formas:
• Assinatura;
• Assinatura + ratificação.
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Não existe uma regra para que ocorra a primeira ou a segunda forma, quem vai definir isso são os
Estados, ressaltando que os mais importantes vão seguir a segunda forma. Referente a assinatura,
ela é uma manifestação do consentimento do Estado feito pelo seu representante; é a consolidação
da vontade do Estado dada por vários meios. A assinatura não significa a firma no final da página, ela
pode ser feita de outras formas escolhidas particularmente dentro do tratado. Dependendo do
ordenamento jurídico, se o mesmo permitir, a assinatura torna o tratado obrigatório, o texto imutável
e, também, confirma a concordância do Estado diante deste tratado. E concernente a segunda forma,
significa que diante de um tratado de assinatura mais ratificação, a assinatura abre o prazo para a
ratificação. Nesse caso, a assinatura reforça o compromisso de boa fé e tem um valor
político/simbólico, isto é, quando um Estado assina um tratado ele mostra que está comprometido
com a causa gerando, assim, um efeito de reconhecimento das normas costumeiras previstas no
tratado. A ratificação é o ato final da confirmação do consentimento; a legitimidade e o procedimento
dela são definidos pelo direito interno.
Ainda falando sobre o processo de ratificação, tem-se uma divisão quanto ao número de partes,
podendo ser um tratado bilateral ou multilateral. Tratados bilaterais são aqueles celebrados entre
duas partes contratantes ou entre vencedores e vencidos. Podem ser celebrados por dois Estados ou
entre um Estado e uma Organização Internacional ou, ainda, entre duas organizações internacionais.
E os tratados multilaterais são aqueles tratados celebrados por mais de duas partes, ou seja, entre
três ou mais partes.
Nos tratados bilaterais a ratificação é feita através de trocas de notas diplomáticas e nos multilaterais
é feita através de depósito (ratificação dos tratados multilaterais). O processo de ratificação serve
para garantir a separação e o equilíbrio entre os poderes. Quanto ao tempo, o Direito Internacional
não diz em quanto tempo tem que ser assinado, isto é estipulado dentro do próprio tratado. E por fim,
tem-se o registro que é o ato de publicidade dado ao tratado e, por regra, é feito junto ao secretariado
geral da ONU, mas não é uma condição de validade do tratado.
O registro serve para evitar que aconteça um pacto de conquista e para dar publicidade. Contudo, a
consequência jurídica de não se ter registro é que não pode depois recorrer ao sistema ONU caso o
tratado não seja cumprido.
Os tratados no Brasil seguem três fases para a formação e validade. Inicialmente, dentro da primeira
fase, vem a assinatura que é um visto não definitivo, conforme é previsto no artigo 84, inciso Vlll
da Constituição Federal:
“Art. 84 – Compete privativamente ao Presidente da República:
VII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais sujeitos a referendo do Congresso
Nacional.”
Depois, na segunda fase, é a aprovação pelo Congresso Nacional, conforme estabelece o artigo 49,
inciso I da Constituição Federal:
“Art. 49 – É da competência do Congresso Nacional:
I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou ato internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.
A terceira fase é a da ratificação do tratado pelo Poder Executivo, por meio do Presidente da
República. A ratificação cria obrigações jurídicas no âmbito internacional. E a quarta fase é a
publicação do texto por Decreto Presidencial no Diário Oficial, onde o Tratado é incorporado ao
ordenamento jurídico brasileiro como lei ordinária, ou seja, a partir desse momento torna-se lei interna
brasileira e seu cumprimento é obrigatório para todos. Se for feita uma lei que revogue o decreto, o
tratado perde a eficácia no âmbito interno, mas no âmbito internacional para que ele deixe de existir
tem que ser apresentada uma denúncia.
Outro aspecto importante, é a reserva. Esta é a limitação jurídica de parte de um tratado para uma
das partes; é no sentido de conciliar os interesses jurídicos e políticos na negociação. Na reserva as
partes têm que necessariamente aceitar e é feita previamente. Ela é irretratável e quando se deseja
retirar/mudar a ratificação, se faz um novo tratado para alterar o anterior. Existem tratados que não
admitem reserva.
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Para se modificar os tratados é por meio de uma nova manifestação de vontade/consentimento,
celebrando um novo tratado ou por meio de costumes. Há duas formas de se modificar o texto de um
tratado, através de: emenda ou revisão. A emenda é a modificação do texto já existente (incluindo ou
retirando algo) e a revisão é a complementação do tratado. Um tratado não é obrigado a durar para
sempre e, à visto disso, a extinção de um tratado por vir preestabelecida já no tratado dizendo
exatamente quando ele acaba ou ainda pode não mencionar nada e assim não há um prazo final
determinado. Há algumas formas de extinção de tratados. Primeiramente, o tratado pode ser extinto
quando houver a execução integral dele. Outras formas é pelo consentimento mútuo, isto é, quando
todas as partes concordam em encerrar o tratado.
Por fim, pode-se também extinguir um tratado através de termo final (estabelece um prazo, quando
acabar o prazo acabar finaliza a obrigação), superveniência de execução resolutória (estabelece uma
condição), renúncia do beneficiário, caducidade ou desuso, conflitos armados (os tratados bilaterais
se encerram com um conflito armado; para os multilaterais gera a suspensão do tratado entre as
partes em conflito), fato de terceiro (um terceiro impossibilitando a execução do tratado; não admite
como fato de terceiro fatos naturais, quando isso acontece, é chamado de impossibilidade de
extinção), ruptura das relações diplomáticas (quando a obrigação presente no tratado depender das
relações diplomáticas e ela for extinta, o tratado também vai ser extinto; a exceção é sobre os
tratados que versam sobre a proteção diplomática), inexecução de uma das partes (quando uma das
partes descumpre o contrato, a outra parte não é obrigada a cumprir) e por último a denúncia
unilateral (é a retirada unilateral de umas das partes; tem que ser prevista no tratado, caso contrário,
na dúvida ele é indenunciável). O artigo que fala sobre isso é o artigo 54 da Convenção de Viena:
“Extinção ou Retirada de um Tratado em Virtude de suas
Disposições ou por consentimento das Partes
A extinção de um tratado ou a retirada de uma das partes pode ter lugar:
a) de conformidade com as disposições do tratado; ou
b) a qualquer momento, pelo consentimento de todas as partes, após consulta com os outros Estados
contratantes”.Convenção de Viena de 1969
Entrou em vigor apenas em 1980, quando atingiu o número mínimo de 35 ratificações, exigida em
seu art. 84. Por meio da mensagem nº 116, o Poder Executivo brasileiro encaminhou, em 22 de abril
de 1992, o texto da Convenção de 1969 para aprovação do Congresso Nacional; sendo transformado
em projeto do decreto legislativo nº 214/92. Assim, pendente de aprovação pela Câmara dos
Deputados do Congresso Nacional brasileiro desde 1992.
Apesar de não ratificada pelo Estado brasileiro era, em grande parte, cumprida por este em suas
relações com outros Estados. Após 40 anos sem ser assinada, o Presidente da República promulgou
a Convenção sobre o Direito dos Tratados, celebrada em Viena na data de 23 de maio de 1969. A
Convenção sobre tratados adotada pelo Brasil entrou em vigor por meio do Decreto 7.030, em 14 de
dezembro de 2009.
A Convenção de Viena determina que as leis internas de um país não podem permitir o
descumprimento de um tratado internacional do qual ele seja signatário. Desse decreto decorrem três
importantes efeitos, como veremos a seguir:
I) o tratado internacional é efetivamente promulgado;
II) seu texto é publicado oficialmente;
III) sua executoriedade passa a vincular e a obrigar no plano do Direito interno. (CONVENÇÃO DE
VIENA, 1969).
A Convenção de Viena é muito importante no processo de elaboração dos tratados, pois além de
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positivar normas costumeiras aceitas e eficazes, busca harmonizar os procedimentos de elaboração,
ratificação, denúncia e extinção desses atos jurídicos internacionais.
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POLITICA EXTERNA
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Em Defesa de uma Política Externa não Intervencionista
Os acontecimentos na Síria, após aqueles na Líbia no ano passado, têm suscitado pedidos por uma
intervenção militar a fim de “proteger civis”, sob a alegação de que é nosso direito ou dever fazer isso.
Como no ano passado, algumas das vozes mais inflamadas em favor da intervenção são ouvidas em
meio à esquerda ou entre o Partido Verde, que usam e abusam do conceito de “intervenção
humanitária”. Na realidade, as raras vozes radicalmente contrastais intervenções geralmente são
associadas à direita, a exemplo de Ron Paul nos EUA e do partido Frente Nacional na França. A
ação que a esquerda deveria apoiar é a não intervenção.
O alvo principal dos intervencionistas humanitários é o conceito de soberania nacional, no qual a lei
internacional atual se baseia e a qual eles estigmatizam porque permite que ditadores matem o
próprio povo à vontade. Às vezes se tem a impressão de que a soberania nacional nada mais é do
que uma proteção para ditadores cujo único desejo é matar seu povo.
A verdade é que a justificativa básica da soberania nacional é exatamente proporcionar pelo menos
uma proteção parcial a Estados fracos contra os fortes. Um Estado suficientemente forte pode fazer o
que quiser sem se preocupar com uma intervenção externa. Ninguém espera que Bangladesh
interfira nos assuntos internos dos EUA. Ninguém vai bombardear os EUA para obrigá-los a modificar
suas políticas monetárias ou de imigração por causa das consequências humanas de tais políticas
para outros países. A intervenção humanitária parte sempre dos poderosos e atinge os fracos.
O próprio princípio básico da ONU era salvar a humanidade do “flagelo da guerra”, tendo as duas
guerras mundiais como referência. Isso deveria ser feito justamente pelo respeito total à soberania
nacional, a fim de impedir a intervenção militar de grandes potências em nações mais fracas,
qualquer que fosse o pretexto. A proteção da soberania nacional na lei internacional se baseava no
reconhecimento do fato de que conflitos internos em países fracos podem ser explorados por países
fortes, a exemplo das intervenções da Alemanha na Tchecoslováquia e na Polônia sob a alegação de
“defesa das minorias oprimidas”. Isso levou à Segunda Guerra Mundial.
Houve então o fim da colonização. Na esteira guerra, dezenas de países recém-independentes se
libertaram do jugo colonial. A última coisa que queriam era ex-potências colonialistas interferindo
abertamente em seus assuntos internos (embora isso muitas vezes tenha persistido de maneiras
mais ou menos veladas, sobretudo em países africanos). Essa aversão à interferência externa explica
por que o “direito” de intervenção humanitária tem sido universalmente rejeitado pelos países do Sul,
como na Cúpula do Sul em Havana, em abril de 2000.
No encontro em Kuala Lumpur em fevereiro de 2003, um pouco antes do ataque dos EUA ao Iraque,
“os chefes de Estado ou de governo reiteraram a rejeição pelo Movimento Não Alinhado do chamado
‘direito’ de intervenção humanitária, que não tem base na Carta das Nações Unidas nem na lei
internacional” e “também observaram semelhanças entre a nova expressão ‘responsabilidade de
proteger’ e ‘intervenção humanitária’, e pediram ao órgão coordenador para estudar minuciosamente
a expressão ‘responsabilidade de proteger’ e suas implicações com base nos princípios de não
interferência e não intervenção, assim como em relação à integridade territorial e à soberania
nacional dos Estados”.
A principal falha das Nações Unidas não foi deixar de impedir ditadores de matar o próprio povo, e
sim deixar que países poderosos violassem os princípios da lei internacional: os EUAna Indochina e
no Iraque, a África do Sul em Angola e Moçambique, Israel nos países vizinhos, a Indonésia no Timor
Leste, sem falar em todos os golpes, ameaças, embargos, sanções unilaterais, eleições compradas
etc. Muitos milhões de pessoas perderam a vida devido a violações constantes da lei internacional e
do princípio de soberania nacional.
Diante da história após a Segunda Guerra Mundial, que inclui as guerras da Indochina, as invasões
do Iraque e do Afeganistão, do Panamá e até da minúscula Granada, assim como os bombardeios na
Iugoslávia, na Líbia e em vários outros países, é difícil acreditar que foram a lei internacional e o
respeito pela soberania nacional que impediram os EUA de deter o genocídio. Se tivessem os meios
e o desejo de intervir em Ruanda, os EUA teriam feito isso e nenhuma lei internacional os deteria.
Dentro do contexto atual da relação de forças políticas e militares, a introdução de uma “nova norma”,
como o direito de intervenção humanitária ou a responsabilidade de proteger, não salvará pessoa
POLITICA EXTERNA
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alguma em lugar algum, a menos que os EUA achem adequado intervir, segundo a própria
perspectiva.
A interferência dos EUA em assuntos internos de outros Estados é multifacetada, porém constante, e
viola repetidamente o espírito e a Carta da ONU. Apesar de alegações de que é feita em nome de
princípios como liberdade e democracia, várias vezes teve consequências desastrosas: não só os
milhões de mortes causadas por guerras diretas e indiretas, mas também as oportunidades perdidas,
o “fim da esperança” para centenas de milhões de pessoas que poderiam se beneficiar com as
políticas sociais progressistas iniciadas por líderes como Arbenz na Guatemala, Goulart no Brasil,
Allende no Chile, Lumumba no Congo, Mossadegh no Irã, os sandinistas na Nicarágua ou o
presidente Chávez na Venezuela, os quais foram sistematicamente corrompidos, derrubados ou
mortos com total apoio ocidental.
Isso, porém, não é tudo. Toda ação agressiva liderada pelos EUA cria uma reação. O emprego de um
escudo antimísseis produz mais mísseis, não o contrário. Bombardear civis – seja deliberadamente,
seja pelo chamado “dano colateral” – produz maior resistência armada, não a diminui. Tentar derrubar
ou subverter governos produz maior repressão interna, não menor. Estimular minorias separatistas
dando-lhes a falsa impressão de que a única superpotência virá ajudá-las se forem reprimidas leva a
mais violência, ódio e morte, não a menos. Cercar um país por meio de bases militares o faz gastar
mais com sua defesa, não menos, e a posse de armas nucleares por Israel estimula outros nações do
Oriente Médio a adquiri-las. Se o Ocidente hesita em atacar a Síria e o Irã é porque esses países são
mais fortes e têm aliados mais confiáveis que a Iugoslávia ou a Líbia. Se o Ocidente reclama dos
recentes vetos da Rússia e da China no caso da Síria, a culpa é do próprio Ocidente: isso nada mais
é do que o resultado do abuso flagrante da Otan quanto à Resolução de 1973, a fim de efetuar uma
mudança de regime na Líbia, a qual a resolução não autorizou. Assim, a mensagem passada por
nossa política intervencionista a “ditadores” é: arme-se mais, faça menos concessões e crie alianças
melhores.
Além disso, os desastres humanitários no leste do Congo, provavelmente os maiores nas últimas
décadas, se devem, sobretudo, a intervenções externas (principalmente de Ruanda, aliada dos EUA),
não por sua culpa. Para citar um caso extremo, que é um exemplo de horrores muito citado por
defensores de intervenções humanitárias, é improvável que o Khmer Vermelho tomasse o poder no
Camboja sem o potente bombardeio “secreto” dos EUA, seguido pela mudança de regime arquitetada
pelos EUA que deixou esse pobre país totalmente desmantelado e desestabilizado.
Outro problema do “direito de intervenção humanitária” é não sugerir princípio algum que substitua a
soberania nacional. Quando a Otan exerceu seu autoproclamado direito de intervir no Kosovo, onde
os esforços diplomáticos estavam longe de se esgotar, a mídia ocidental não poupou elogios. Quando
a Rússia exerceu sua suposta responsabilidade de proteger na Ossétia do Sul, a mesma mídia
ocidental a condenou em uníssono. Quando o Vietnã interveio no Camboja para acabar com o Khmer
Vermelho ou quando a Índia interveio para libertar Bangladesh do Paquistão, suas ações também
foram duramente condenadas pelos EUA. Assim, desde que tenha meios, qualquer país adquire o
direito de intervir sempre que uma razão humanitária possa ser invocada como justificativa, e aqui
voltamos à guerra de todos contra todos. Ou apenas um Estado todo-poderoso – ou seja, os EUA e
seus aliados – pode fazer isso, e aqui se trata de uma forma de ditadura em questões internacionais.
Diz-se com frequência que as intervenções não devem ser feitas por um Estado, e sim pela
“comunidade internacional”. Mas o conceito de “comunidade internacional” é usado basicamente
pelos EUA e seus aliados para se autodesignarem e a quem concorde com eles no momento.
Atualmente esse conceito rivaliza com a ONU (a “comunidade internacional” se diz mais
“democrática” que muitos Estados membros da ONU) e tende a sobrepujá-la de muitas maneiras.
Na realidade, não existe uma comunidade internacional genuína. A intervenção da Otan no Kosovo
não foi aprovada pela Rússia e a intervenção russa na Ossétia do Sul foi condenada pelo Ocidente. O
Conselho de Segurança não aprovou tal intervenção. A União Africana rejeitou o indiciamento do
presidente do Sudão pelo Tribunal Penal Internacional. Qualquer sistema de justiça ou polícia
internacional, seja a responsabilidade de proteger, seja o Tribunal Penal Internacional, deveria se
basear em uma relação de igualdade e em um clima de confiança. Hoje, não há igualdade nem
confiança entre Ocidente e Oriente, entre Norte e Sul, em grande parte devido ao histórico de
políticas americanas. Para que alguma versão da responsabilidade de proteger funcione
consensualmente no futuro, primeiro é preciso criar uma relação de igualdade e confiança.
POLITICA EXTERNA
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O caso da Líbia ilustra outra realidade à qual os defensores da intervenção humanitária
convenientemente fazem vista grossa: sem a imensa máquina militar dos EUA, o tipo de intervenção
segura e sem baixas que poderia ganhar apoio público (do nosso lado) não é possível. Os países
ocidentais não estão querendo correr o risco de ter um excesso de baixas em suas tropas, e lançar
uma guerra puramente aérea requer enorme quantidade de equipamentos de alta tecnologia. Queira
ou não, quem apoia tais intervenções está apoiando a continuação da existência da máquina militar
dos EUA, com seus orçamentos inchados e seu peso na dívida nacional. Os verdes e os social-
democratas da Europa que apoiam a guerra na Líbia deveriam ter a honestidade de recomendar a
seus eleitores que aceitem cortes drásticos nos gastos públicos com pensões, desemprego,
assistência de saúde e educação, a fim de baixar essas despesas sociais a um nível americano e
usar as centenas de bilhões de euros assim poupados para montar uma máquina militar que pronta
para intervir sempre que houver uma crise humanitária em qualquer lugar.
É verdade que o século 21 precisa de uma nova ONU, mas esta não deve legitimar tais intervenções
com argumentos insólitos, como a responsabilidade de proteger, e sim dar pelo menos apoio moral
àqueles que tentam construir um mundo menos dominado por uma única superpotência militar. A
ONU precisa se esforçar para retomar sua proposta original antes de estabelecer uma nova
prioridade supostamente humanitária, que na realidade pode ser usada pelas grandes potências para
justificar suas guerras futuras, minando o princípio da soberania nacional.
A esquerda deve apoiar uma política ativa de paz por meio da cooperação e do desarmamento
internacionais, e da não intervenção de Estados nos assuntos internosalheios. Nós poderíamos usar
nossos fabulosos orçamentos militares para implementar uma forma de keynesianismo global: em vez
de exigir “orçamentos equilibrados” no mundo em desenvolvimento, deveríamos usar os recursos
gastos com nosso poderio militar para financiar investimentos maciços em educação, saúde e
desenvolvimento. Se isso parece utópico, assim também é a crença de que um mundo estável
emergirá da nossa atual “guerra ao terrorismo”.
Além disso, a esquerda deveria lutar pelo respeito absoluto pela lei internacional por parte das
potências ocidentais, implementando as resoluções da ONU em relação a Israel, desmantelando o
império mundial de bases dos EUA e da Otan, cessando todas as ameaças relativas ao uso unilateral
de força e detendo qualquer tipo de interferência nos assuntos internos de outros Estados,
particularmente todas as operações de “promoção da democracia”, revoluções de “raça” e a
exploração das políticas de minorias. Esse respeito necessário pela soberania nacional significa que
o cerne da soberania de cada nação é o povo desse Estado, cujo direito de substituir governos
injustos não pode ser tirado por estrangeiros supostamente benevolentes.
Tais ações serão refutadas sob a alegação de que permitiriam que ditadores “matem o próprio povo”,
a atual justificativa para intervenções. Mas, se a não intervenção pode permitir que coisas terríveis
como essa aconteçam, a história mostra que a intervenção militar frequentemente tem o mesmo
resultado, quando líderes acuados e seus seguidores despejam sua ira nos “traidores” que apoiam a
intervenção estrangeira. Por outro lado, a não intervenção poupa os opositores domésticos de serem
vistos como quinta-colunas das potências ocidentais – um resultado inevitável de nossas políticas
intervencionistas. Buscar ativamente soluções pacíficas diminuiria os gastos militares e as vendas de
armas (incluindo a ditadores que podem usá-las para “matar o próprio povo”), e proporcionaria mais
recursos para melhorar os padrões sociais.
Voltando à situação atual, é preciso reconhecer que o Ocidente tem apoiado ditadores árabes por
diferentes motivos, que variam de petróleo a Israel, a fim de controlar aquela região, e que essa
estratégia está lentamente deixando de funcionar. As lições que devemos aprender, porém, é não se
precipitar em outra guerra na Síria, como se fez na Líbia, alegando que dessa vez se está do lado
certo, na defesa do povo contra ditadores, e admitir que é mais do que hora de abandonar a
obsessão de que precisamos controlar o mundo árabe. No começo do século 20, a maior parte do
mundo estava sob controle europeu. Em algum momento o Ocidente acabará perdendo o controle
sobre aquela parte do mundo, assim como o perdeu no Leste Asiático e o está perdendo na América
Latina. De que maneira o Ocidente se adaptará a seu declínio é a questão política crucial de nossa
época; a resposta provavelmente não será fácil nem agradável.
Política externa e de segurança
A política externa e de segurança da UE, que se foi gradualmente desenvolvendo ao longo dos anos,
permite à UE falar e agir a uma só voz na cena internacional. Ao tomarem medidas conjuntas, os 28
POLITICA EXTERNA
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países da UE têm uma influência muito maior do que a que teriam se cada um aplicasse as suas
próprias políticas.
O Tratado de Lisboa (2009) reforçou a política externa da UE ao criar:
• o lugar de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança
• o Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) – o serviço diplomático europeu
Paz e segurança
A política externa e de segurança da UE tem por objetivo:
• preservar a paz e reforçar a segurança internacional
• promover a cooperação internacional
• desenvolver e consolidar
o a democracia
o o Estado de Direito
o o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais
Diplomacia e Parceria
A UE desempenha um papel fundamental em áreas que vão do programa nuclear iraniano à
estabilização da Somália e da região do Corno de África, passando pela luta contra o aquecimento do
planeta. A sua política externa e de segurança, vocacionada para a resolução de conflitos e a
promoção do entendimento internacional, assenta na diplomacia; o comércio, a ajuda humanitária e a
segurança e defesa desempenham com frequência um papel complementar.
A UE é o maior doador de financiamento do desenvolvimento a nível mundial, ocupando uma
posição privilegiada na cooperação com os países em desenvolvimento.
O enorme peso demográfico e económico dos 28 países da UE confere-lhe um papel de destaque na
cena internacional. A UE é a primeira potência comercial do mundo e a sua moeda, o euro, é a
segunda divisa mundial. A importância da UE aumenta à medida que os países europeus vão
adotando cada vez mais decisões comuns em matéria de política externa.
A UE tem parcerias com os principais intervenientes a nível mundial, nomeadamente com as
potências emergentes, procurando assegurar que essas relações assentam em interesses comuns e
têm benefícios mútuos. A UE participa regularmente em cimeiras com o Canadá, a China, a Índia, o
Japão, a Rússia e os Estados Unidos. As relações internacionais abarcam os seguintes temas:
• a educação
• o ambiente
• a segurança e a defesa
• a criminalidade
• os direitos humanos
Missões de manutenção da paz
A UE enviou missões de manutenção da paz para vários pontos conturbados do globo. Em agosto de
2008, mediou o acordo de cessar-fogo entre a Geórgia e a Rússia, tendo destacado observadores
para acompanhar a situação (missão de observação da UE na Geórgia e prestado ajuda humanitária
às populações deslocadas devido aos combates no terreno.
POLITICA EXTERNA
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No Kosovo, uma importante força policial e judicial ajuda a cumprir a lei e a manter a ordem.
Meios de intervenção
A UE não tem forças armadas permanentes. Em contrapartida, ao abrigo da sua Política Europeia de
Segurança e Defesa (PESD), conta com efetivos militares colocados à disposição pelos países da
UE, que lhe permitem:
• levar a cabo ações conjuntas em matéria de desarmamento
• levar a cabo missões humanitárias e de evacuação
• prestar aconselhamento e assistência em matéria militar
• prevenir conflitos e assegurar a manutenção da paz
• gerir crises, por exemplo através de missões de restabelecimento da paz e de operações de
estabilização pós-conflito
Desde 2003, a UE realizou cerca de 30 missões civis e militares em três continentes diferentes. Em
todos os casos, tratou-se de dar resposta a situações de crise:
• a consolidação da paz após o tsunami na Indonésia
• a proteção dos refugiados no Mali e na República Centro-Africana
• a luta contra a pirataria na Somália e no Corno de África
A UE desempenha atualmente um importante papel como garante da segurança.
Desde janeiro de 2007, a UE pode realizar operações de resposta rápida recorrendo a duas unidades
de intervenção, constituídas cada uma por 1500 efetivos. Estas unidades podem, se necessário, ser
mobilizadas quase em simultâneo. As decisões de intervenção são tomadas pelos ministros dos
países da UE reunidos no Conselho da UE.
Laços mais estreitos com os países vizinhos: política europeia de vizinhança
A política europeia de vizinhança (PEV) regula as relações da UE com os 16 países vizinhos do Sul
e de Leste.
A sul: Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Líbano, Líbia, Marrocos, Palestina (esta designação não implica
qualquer reconhecimento da Palestina como Estado nem prejudica as posições relativas ao
reconhecimento da Palestina como Estado), Síria e Tunísia.
A leste: Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, República da Moldávia e Ucrânia.
Concebida para reforçar as relações da UE com os seus vizinhos, esta política permite:
• uma associação política
• a integração económica
• uma maior mobilidade das pessoas
Com o alargamento da UE, os paísesda Europa de Leste e do Cáucaso meridional passaram a ser
os nossos vizinhos mais próximos. A sua segurança, estabilidade e prosperidade têm cada vez mais
influência sobre as nossas. Em 2009, foi lançada uma iniciativa política comum – a Parceria
Oriental– para reforçar as relações entre a UE e os seis países vizinhos da Europa de Leste. O
estreitamento da cooperação entre a UE e os seus parceiros da Europa de Leste (Arménia,
Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia) é fundamental para as relações externas da
UE.
POLITICA EXTERNA
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No seguimento dos movimentos de revolta da Primavera Árabe, a UE relançou a sua política
europeia de vizinhança para prestar um melhor apoio aos parceiros envolvidos em reformas em prol
da democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos. O objetivo é fomentar um
desenvolvimento económico inclusivo e promover as parcerias com um conjunto de grupos e de
organizações, paralelamente às relações da UE com os governos desses países.
A UE apoia também os países vizinhos que enfrentam situações de conflito e de crise. Desde, 2011,
a UE contribuiu com mais de 3200 milhões de euros para apoio às vítimas da crise na Síria, sendo o
principal doador de ajuda neste conflito. A UE procura igualmente ajudar a Líbia a sair da sua atual
situação difícil em termos políticos e de segurança.
A UE continua a apoiar os esforços internacionais no sentido de instaurar a paz no Médio Oriente,
defendendo uma solução que assenta na coexistência de dois Estados (Palestina e Israel). A UE,
Nações Unidas, Estados Unidos e Rússia (Quarteto para o Médio Oriente) trabalham em conjunto
para incentivar ambas as partes a chegarem a um acordo. O quarteto mantém também uma
colaboração estreita com parceiros regionais para encontrar uma solução pacífica para o conflito.
O programa nuclear iraniano foi uma das principais fontes de tensão a nível internacional. O acordo
histórico alcançado em novembro de 2013 com a comunidade internacional foi um primeiro passo na
resolução da questão, tendo a UE desempenhado um papel determinante na condução das
negociações de paz em nome da comunidade internacional.
Ásia e América Latina
A UE tem intensificado as relações com os agrupamentos regionais, sobretudo na Ásia e na América
Latina. Com os parceiros asiáticos em rápido desenvolvimento, criou as chamadas «parcerias
reforçadas», acordos que combinam aspetos económicos, políticos, sociais e culturais. É também
uma firme defensora da integração regional em ambas as regiões.
Balcãs Ocidentais
Os países dos Balcãs ocidentais estão interessados em aderir à UE.
País Estatuto
Croácia Aderiu à UE em julho de 2013, tornando-se o seu 28.º membro
Montenegro, Sérvia Negociações de adesão em curso
Antiga República jugoslava da
Macedónia
A Comissão recomendou o início das negociações
Albânia
Com a aprovação da candidatura pelo Conselho, a Albânia passou a
ser um «país candidato»
Bósnia e Herzegovina Candidatos potenciais
Embora o Kosovo tenha declarado a sua independência em relação à Sérvia em 2008, ainda não
existe qualquer acordo internacional sobre o seu estatuto. Graças ao empenhamento da UE na
mediação das negociações, as partes chegaram a um acordo histórico em abril de 2013, testemunho
da dedicação dos seus antigos primeiros-ministros e da então Alta Representante, Catherine Ashton,
à causa da normalização das relações. Este acordo demonstra igualmente a firme determinação da
UE em conseguir a reconciliação nos Balcãs Ocidentais.
POLITICA EXTERNA
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Tomada de decisões em matéria de política externa da UE
O Conselho Europeu é o principal órgão decisório da União Europeia, agrupando os Chefes de
Estado e de Governo dos 28 países da UE. Este órgão reúne-se quatro vezes por ano para definir os
princípios e as orientações gerais da política europeia.
Compete ao Alto Representante assegurar a coerência da política externa da UE. O Alto
Representante preside à reunião mensal do Conselho dos Negócios Estrangeiros dos 28 Ministros
dos Negócios Estrangeiros da UE. Participa também no Conselho Europeu, ao qual transmite
informações sobre questões de política externa.
A maioria das decisões em matéria de política externa e de segurança são tomadas por unanimidade.
O Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) apoia o Alto Representante no exercício das suas
funções. O SEAE funciona como o serviço diplomático da UE, dispondo de uma rede de mais de 139
delegações e representações em todo o mundo, responsáveis por promover e proteger os valores e
interesses da UE.
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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 5.015, DE 12 DE MARÇO DE 2004.
Promulga a Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 231, de
29 de maio de 2003, o texto da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional, adotada em Nova York, em 15 de novembro de 2000;
Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação junto à
Secretaria-Geral da ONU, em 29 de janeiro de 2004;
Considerando que a Convenção entrou em vigor internacional, em 29 de setembro de 2003, e
entrou em vigor para o Brasil, em 28 de fevereiro de 2004;
DECRETA:
Art. 1o A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotada
em Nova York, em 15 de novembro de 2000, apensa por cópia ao presente Decreto, será
executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.
Art 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar
em revisão da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,12 de março de 2004; 183o da Independência e 116o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Samuel Pinheiro Guimarães Neto
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.3.2004
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
CONTRA O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
Artigo 1
Objetivo
O objetivo da presente Convenção consiste em promover a cooperação para prevenir e
combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.
Artigo 2
Terminologia
Para efeitos da presente Convenção, entende-se por:
a) "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há
algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações
graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou
indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material;
b) "Infração grave" - ato que constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade,
cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior;
c) "Grupo estruturado" - grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma
infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja
continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada;
d) "Bens" - os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis
ou intangíveis, e os documentos ou instrumentos jurídicos que atestem a propriedade ou outros
direitos sobre os referidos ativos;
e) "Produto do crime" - os bens de qualquer tipo, provenientes, direta ou indiretamente, da
prática de um crime;
f) "Bloqueio" ou "apreensão" - a proibição temporária de transferir, converter, dispor ou
movimentar bens, ou a custódia ou controle temporário de bens, por decisão de um tribunal ou
de outra autoridade competente;
g) "Confisco" - a privação com caráter definitivo de bens, por decisão de um tribunal ou outra
autoridade competente;
h) "Infração principal" - qualquer infração de que derive um produto que possa passar a
constituir objeto de uma infração definida no Artigo 6 da presente Convenção;
i) "Entrega vigiada" - a técnica que consiste em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas
saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles entrem, com o
conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de
investigar infrações e identificar as pessoas envolvidas na sua prática;
j) "Organização regional de integração econômica" - uma organização constituída por Estados
soberanos de uma região determinada, para a qual estes Estados tenham transferido
competências nas questões reguladas pela presente Convenção e que tenha sido devidamente
mandatada, em conformidade com os seus procedimentos internos, para assinar, ratificar,
aceitar ou aprovar a Convenção ou a ela aderir; as referências aos "Estados Partes" constantes
da presente Convenção são aplicáveis a estas organizações, nos limites das suas
competências.
Artigo 3
Âmbito de aplicação
1. Salvo disposição em contrário, a presente Convenção é aplicável à prevenção, investigação,
instrução e julgamento de:
a) Infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção; e
b) Infrações graves, na acepção do Artigo 2 da presente Convenção;
sempre que tais infrações sejam de caráter transnacional e envolvam um grupo criminoso
organizado;
2. Para efeitos do parágrafo 1 do presente Artigo, a infração será de caráter transnacional se:
a) For cometida em mais de um Estado;
b) For cometida num só Estado, mas uma parte substancial da sua preparação, planeamento,
direção e controle tenha lugar em outro Estado;
c) For cometida num só Estado, mas envolva a participação de um grupo criminoso organizado
que pratique atividades criminosas em mais de um Estado; ou
d) For cometida num só Estado, mas produza efeitos substanciais noutro Estado.
Artigo 4
Proteção da soberania
1. Os Estados Partes cumprirão as suas obrigações decorrentes da presente Convenção no
respeito pelos princípios da igualdade soberana e da integridade territorial dos Estados, bem
como da não-ingerência nos assuntos internos de outros Estados.
2. O disposto na presente Convenção não autoriza qualquer Estado Parte a exercer, em
território de outro Estado, jurisdição ou funções que o direito interno desse Estado reserve
exclusivamente às suas autoridades.
Artigo 5
Criminalização da participação em um grupo criminoso organizado
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias para
caracterizar como infração penal, quando praticado intencionalmente:
a) Um dos atos seguintes, ou ambos, enquanto infrações penais distintas das que impliquem a
tentativa ou a consumação da atividade criminosa:
i) O entendimento com uma ou mais pessoas para a prática de uma infração grave, com uma
intenção direta ou indiretamente relacionada com a obtenção de um benefício econômico ou
outro benefício material e, quando assim prescrever o direito interno, envolvendo um ato
praticado por um dos participantes para concretizar o que foi acordado ou envolvendo a
participação de um grupo criminoso organizado;
ii) A conduta de qualquer pessoa que, conhecendo a finalidade e a atividade criminosa geral de
um grupo criminoso organizado, ou a sua intenção de cometer as infrações em questão,
participe ativamente em:
a. Atividades ilícitas do grupo criminoso organizado;
b. Outras atividades do grupo criminoso organizado, sabendo que a sua participação
contribuirá para a finalidade criminosa acima referida;
b) O ato de organizar, dirigir, ajudar, incitar, facilitar ou aconselhar a prática de uma infração
grave que envolva a participação de um grupo criminoso organizado.
2. O conhecimento, a intenção, a finalidade, a motivação ou o acordo a que se refere o
parágrafo 1 do presente Artigo poderão inferir-se de circunstâncias factuais objetivas.
3. Os Estados Partes cujo direito interno condicione a incriminação pelas infrações referidas no
inciso i) da alínea a) do parágrafo 1 do presente Artigo ao envolvimento de um grupo criminoso
organizado diligenciarão no sentido de que o seu direito interno abranja todas as infrações
graves que envolvam a participação de grupos criminosos organizados. Estes Estados Partes,
assim como os Estados Partes cujo direito interno condicione a incriminação pelas infrações
definidas no inciso i) da alínea a) do parágrafo 1 do presente Artigo à prática de um ato
concertado, informarão deste fato o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, no
momento da assinatura ou do depósito do seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação
ou adesão à presente Convenção.
Artigo 6
Criminalização da lavagem do produto do crime
1. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais do seu direito
interno, as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias para caracterizar como
infração penal, quando praticada intencionalmente:
a) i) A conversão ou transferência de bens, quando quem o faz tem conhecimento de que
esses bens são produto do crime, com o propósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos
bens ou ajudar qualquer pessoa envolvida na prática da infração principal a furtar-se às
conseqüências jurídicas dos seus atos;
ii) A ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens ou direitos a eles relativos, sabendo o seu autor que os
ditos bens são produto do crime;
b) e, sob reserva dos conceitos fundamentais do seu ordenamento jurídico:
i) A aquisição, posse ou utilização de bens, sabendo aquele que os adquire, possui ou utiliza,
no momento da recepção, que são produto do crime;
ii) A participação na prática de uma das infrações enunciadas no presente Artigo, assim como
qualquer forma de associação, acordo, tentativa ou cumplicidade, pela prestação de
assistência, ajuda ou aconselhamento no sentido da suaprática.
2. Para efeitos da aplicação do parágrafo 1 do presente Artigo:
a) Cada Estado Parte procurará aplicar o parágrafo 1 do presente Artigo à mais ampla gama
possível de infrações principais;
b) Cada Estado Parte considerará como infrações principais todas as infrações graves, na
acepção do Artigo 2 da presente Convenção, e as infrações enunciadas nos seus Artigos 5, 8 e
23. Os Estados Partes cuja legislação estabeleça uma lista de infrações principais específicas
incluirá entre estas, pelo menos, uma gama completa de infrações relacionadas com grupos
criminosos organizados;
c) Para efeitos da alínea b), as infrações principais incluirão as infrações cometidas tanto
dentro como fora da jurisdição do Estado Parte interessado. No entanto, as infrações
cometidas fora da jurisdição de um Estado Parte só constituirão infração principal quando o ato
correspondente constitua infração penal à luz do direito interno do Estado em que tenha sido
praticado e constitua infração penal à luz do direito interno do Estado Parte que aplique o
presente Artigo se o crime aí tivesse sido cometido;
d) Cada Estado Parte fornecerá ao Secretário Geral das Nações Unidas uma cópia ou
descrição das suas leis destinadas a dar aplicação ao presente Artigo e de qualquer alteração
posterior;
e) Se assim o exigirem os princípios fundamentais do direito interno de um Estado Parte,
poderá estabelecer-se que as infrações enunciadas no parágrafo 1 do presente Artigo não
sejam aplicáveis às pessoas que tenham cometido a infração principal;
f) O conhecimento, a intenção ou a motivação, enquanto elementos constitutivos de uma
infração enunciada no parágrafo 1 do presente Artigo, poderão inferir-se de circunstâncias
fatuais objetivas.
Artigo 7
Medidas para combater a lavagem de dinheiro
1. Cada Estado Parte:
a) Instituirá um regime interno completo de regulamentação e controle dos bancos e
instituições financeiras não bancárias e, quando se justifique, de outros organismos
especialmente susceptíveis de ser utilizados para a lavagem de dinheiro, dentro dos limites da
sua competência, a fim de prevenir e detectar qualquer forma de lavagem de dinheiro, sendo
nesse regime enfatizados os requisitos relativos à identificação do cliente, ao registro das
operações e à denúncia de operações suspeitas;
b) Garantirá, sem prejuízo da aplicação dos Artigos 18 e 27 da presente Convenção, que as
autoridades responsáveis pela administração, regulamentação, detecção e repressão e outras
autoridades responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro (incluindo, quando tal esteja
previsto no seu direito interno, as autoridades judiciais), tenham a capacidade de cooperar e
trocar informações em âmbito nacional e internacional, em conformidade com as condições
prescritas no direito interno, e, para esse fim, considerará a possibilidade de criar um serviço
de informação financeira que funcione como centro nacional de coleta, análise e difusão de
informação relativa a eventuais atividades de lavagem de dinheiro.
2. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de aplicar medidas viáveis para detectar e
vigiar o movimento transfronteiriço de numerário e de títulos negociáveis, no respeito pelas
garantias relativas à legítima utilização da informação e sem, por qualquer forma, restringir a
circulação de capitais lícitos. Estas medidas poderão incluir a exigência de que os particulares
e as entidades comerciais notifiquem as transferências transfronteiriças de quantias elevadas
em numerário e títulos negociáveis.
3. Ao instituírem, nos termos do presente Artigo, um regime interno de regulamentação e
controle, e sem prejuízo do disposto em qualquer outro artigo da presente Convenção, todos os
Estados Partes são instados a utilizar como orientação as iniciativas pertinentes tomadas pelas
organizações regionais, inter-regionais e multilaterais para combater a lavagem de dinheiro.
4. Os Estados Partes diligenciarão no sentido de desenvolver e promover a cooperação à
escala mundial, regional, sub-regional e bilateral entre as autoridades judiciais, os organismos
de detecção e repressão e as autoridades de regulamentação financeira, a fim de combater a
lavagem de dinheiro.
Artigo 8
Criminalização da corrupção
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que sejam necessárias para
caracterizar como infrações penais os seguintes atos, quando intencionalmente cometidos:
a) Prometer, oferecer ou conceder a um agente público, direta ou indiretamente, um benefício
indevido, em seu proveito próprio ou de outra pessoa ou entidade, a fim de praticar ou se
abster de praticar um ato no desempenho das suas funções oficiais;
b) Por um agente público, pedir ou aceitar, direta ou indiretamente, um benefício indevido, para
si ou para outra pessoa ou entidade, a fim de praticar ou se abster de praticar um ato no
desempenho das suas funções oficiais.
2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas ou outras
que sejam necessárias para conferir o caracter de infração penal aos atos enunciados no
parágrafo 1 do presente Artigo que envolvam um agente público estrangeiro ou um funcionário
internacional. Do mesmo modo, cada Estado Parte considerará a possibilidade de conferir o
caracter de infração penal a outras formas de corrupção.
3. Cada Estado Parte adotará igualmente as medidas necessárias para conferir o caráter de
infração penal à cumplicidade na prática de uma infração enunciada no presente Artigo.
4. Para efeitos do parágrafo 1 do presente Artigo e do Artigo 9, a expressão "agente público"
designa, além do funcionário público, qualquer pessoa que preste um serviço público, tal como
a expressão é definida no direito interno e aplicada no direito penal do Estado Parte onde a
pessoa em questão exerce as suas funções.
Artigo 9
Medidas contra a corrupção
1. Para além das medidas enunciadas no Artigo 8 da presente Convenção, cada Estado Parte,
na medida em que seja procedente e conforme ao seu ordenamento jurídico, adotará medidas
eficazes de ordem legislativa, administrativa ou outra para promover a integridade e prevenir,
detectar e punir a corrupção dos agentes públicos.
2. Cada Estado Parte tomará medidas no sentido de se assegurar de que as suas autoridades
atuam eficazmente em matéria de prevenção, detecção e repressão da corrupção de agentes
públicos, inclusivamente conferindo a essas autoridades independência suficiente para impedir
qualquer influência indevida sobre a sua atuação.
Artigo 10
Responsabilidade das pessoas jurídicas
1. Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias, em conformidade com o seu
ordenamento jurídico, para responsabilizar pessoas jurídicas que participem em infrações
graves envolvendo um grupo criminoso organizado e que cometam as infrações enunciadas
nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção.
2. No respeito pelo ordenamento jurídico do Estado Parte, a responsabilidade das pessoas
jurídicas poderá ser penal, civil ou administrativa.
3. A responsabilidade das pessoas jurídicas não obstará à responsabilidade penal das pessoas
físicas que tenham cometido as infrações.
4. Cada Estado Parte diligenciará, em especial, no sentido de que as pessoas jurídicas
consideradas responsáveis em conformidade com o presente Artigo sejam objeto de sanções
eficazes, proporcionais e acautelatórias, de natureza penal e não penal, incluindo sanções
pecuniárias.
Artigo 11
Processos judiciais, julgamento e sanções
1. Cada Estado Parte tornará a prática de qualquer infração enunciada nos Artigos 5, 6, 8 e 23
da presente Convenção passível de sanções que tenham em conta a gravidade dessa infração.
2. Cada Estado Parte diligenciará para que qualquer poder judicial discricionário conferido pelo
seu direito interno e relativo a processos judiciais contra indivíduos por infrações previstas na
presente Convenção seja exercido de forma a otimizar a eficácia das medidas de detecçãoe
de repressão destas infrações, tendo na devida conta a necessidade de exercer um efeito
cautelar da sua prática.
3. No caso de infrações como as enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção,
cada Estado Parte tomará as medidas apropriadas, em conformidade com o seu direito interno,
e tendo na devida conta os direitos da defesa, para que as condições a que estão sujeitas as
decisões de aguardar julgamento em liberdade ou relativas ao processo de recurso tenham em
consideração a necessidade de assegurar a presença do argüido em todo o processo penal
ulterior.
4. Cada Estado Parte providenciará para que os seus tribunais ou outras autoridades
competentes tenham presente a gravidade das infração previstas na presente Convenção
quando considerarem a possibilidade de uma libertação antecipada ou condicional de pessoas
reconhecidas como culpadas dessas infrações.
5. Sempre que as circunstâncias o justifiquem, cada Estado Parte determinará, no âmbito do
seu direito interno, um prazo de prescrição prolongado, durante o qual poderá ter início o
processo relativo a uma das infrações previstas na presente Convenção, devendo esse período
ser mais longo quando o presumível autor da infração se tenha subtraído à justiça.
6. Nenhuma das disposições da presente Convenção prejudica o princípio segundo o qual a
definição das infrações nela enunciadas e dos meios jurídicos de defesa aplicáveis, bem como
outros princípios jurídicos que rejam a legalidade das incriminações, são do foro exclusivo do
direito interno desse Estado Parte, e segundo o qual as referidas infrações são objeto de
procedimento judicial e punidas de acordo com o direito desse Estado Parte.
Artigo 12
Confisco e apreensão
1. Os Estados Partes adotarão, na medida em que o seu ordenamento jurídico interno o
permita, as medidas necessárias para permitir o confisco:
a) Do produto das infrações previstas na presente Convenção ou de bens cujo valor
corresponda ao desse produto;
b) Dos bens, equipamentos e outros instrumentos utilizados ou destinados a ser utilizados na
prática das infrações previstas na presente Convenção.
2. Os Estados Partes tomarão as medidas necessárias para permitir a identificação, a
localização, o embargo ou a apreensão dos bens referidos no parágrafo 1 do presente Artigo,
para efeitos de eventual confisco.
3. Se o produto do crime tiver sido convertido, total ou parcialmente, noutros bens, estes
últimos podem ser objeto das medidas previstas no presente Artigo, em substituição do referido
produto.
4. Se o produto do crime tiver sido misturado com bens adquiridos legalmente, estes bens
poderão, sem prejuízo das competências de embargo ou apreensão, ser confiscados até ao
valor calculado do produto com que foram misturados.
5. As receitas ou outros benefícios obtidos com o produto do crime, os bens nos quais o
produto tenha sido transformado ou convertido ou os bens com que tenha sido misturado
podem também ser objeto das medidas previstas no presente Artigo, da mesma forma e na
mesma medida que o produto do crime.
6. Para efeitos do presente Artigo e do Artigo 13, cada Estado Parte habilitará os seus tribunais
ou outras autoridades competentes para ordenarem a apresentação ou a apreensão de
documentos bancários, financeiros ou comerciais. Os Estados Partes não poderão invocar o
sigilo bancário para se recusarem a aplicar as disposições do presente número.
7. Os Estados Partes poderão considerar a possibilidade de exigir que o autor de uma infração
demonstre a proveniência lícita do presumido produto do crime ou de outros bens que possam
ser objeto de confisco, na medida em que esta exigência esteja em conformidade com os
princípios do seu direito interno e com a natureza do processo ou outros procedimentos
judiciais.
8. As disposições do presente Artigo não deverão, em circunstância alguma, ser interpretadas
de modo a afetar os direitos de terceiros de boa fé.
9. Nenhuma das disposições do presente Artigo prejudica o princípio segundo o qual as
medidas nele previstas são definidas e aplicadas em conformidade com o direito interno de
cada Estado Parte e segundo as disposições deste direito.
Artigo 13
Cooperação internacional para efeitos de confisco
1. Na medida em que o seu ordenamento jurídico interno o permita, um Estado Parte que tenha
recebido de outro Estado Parte, competente para conhecer de uma infração prevista na
presente Convenção, um pedido de confisco do produto do crime, bens, equipamentos ou
outros instrumentos referidos no parágrafo 1 do Artigo 12 da presente Convenção que se
encontrem no seu território, deverá:
a) Submeter o pedido às suas autoridades competentes, a fim de obter uma ordem de confisco
e, se essa ordem for emitida, executá-la; ou
b) Submeter às suas autoridades competentes, para que seja executada conforme o solicitado,
a decisão de confisco emitida por um tribunal situado no território do Estado Parte requerente,
em conformidade com o parágrafo 1 do Artigo 12 da presente Convenção, em relação ao
produto do crime, bens, equipamentos ou outros instrumentos referidos no parágrafo 1 do
Artigo 12 que se encontrem no território do Estado Parte requerido.
2. Quando um pedido for feito por outro Estado Parte competente para conhecer de uma
infração prevista na presente Convenção, o Estado Parte requerido tomará medidas para
identificar, localizar, embargar ou apreender o produto do crime, os bens, os equipamentos ou
os outros instrumentos referidos no parágrafo 1 do Artigo 12 da presente Convenção, com vista
a um eventual confisco que venha a ser ordenado, seja pelo Estado Parte requerente, seja, na
seqüência de um pedido formulado ao abrigo do parágrafo 1 do presente Artigo, pelo Estado
Parte requerido.
3. As disposições do Artigo 18 da presente Convenção aplicam-se mutatis mutandis ao
presente Artigo. Para além das informações referidas no parágrafo 15 do Artigo 18, os pedidos
feitos em conformidade com o presente Artigo deverão conter:
a) Quando o pedido for feito ao abrigo da alínea a) do parágrafo 1 do presente Artigo, uma
descrição dos bens a confiscar e uma exposição dos fatos em que o Estado Parte requerente
se baseia, que permita ao Estado Parte requerido obter uma decisão de confisco em
conformidade com o seu direito interno;
b) Quando o pedido for feito ao abrigo da alínea b) do parágrafo 1 do presente Artigo, uma
cópia legalmente admissível da decisão de confisco emitida pelo Estado Parte requerente em
que se baseia o pedido, uma exposição dos fatos e informações sobre os limites em que é
pedida a execução da decisão;
c) Quando o pedido for feito ao abrigo do parágrafo 2 do presente Artigo, uma exposição dos
fatos em que se baseia o Estado Parte requerente e uma descrição das medidas pedidas.
4. As decisões ou medidas previstas nos parágrafo 1 e parágrafo 2 do presente Artigo são
tomadas pelo Estado Parte requerido em conformidade com o seu direito interno e segundo as
disposições do mesmo direito, e em conformidade com as suas regras processuais ou com
qualquer tratado, acordo ou protocolo bilateral ou multilateral que o ligue ao Estado Parte
requerente.
5. Cada Estado Parte enviará ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas uma
cópia das suas leis e regulamentos destinados a dar aplicação ao presente Artigo, bem como
uma cópia de qualquer alteração ulteriormente introduzida a estas leis e regulamentos ou uma
descrição destas leis, regulamentos e alterações ulteriores.
6. Se um Estado Parte decidir condicionar a adoção das medidas previstas nos parágrafos 1 e
2 do presente Artigo à existência de um tratado na matéria, deverá considerar a presente
Convenção como uma base jurídica necessária e suficiente para o efeito.
7. Um Estado Parte poderá recusar a cooperação que lhe é solicitada ao abrigo do presente
Artigo, caso a infração a que se refere o pedido não seja abrangida pela presente Convenção.
8. As disposições do presente Artigonão deverão, em circunstância alguma, ser interpretadas
de modo a afetar os direitos de terceiros de boa fé.
9. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar tratados, acordos ou protocolos
bilaterais ou multilaterais com o objetivo de reforçar a eficácia da cooperação internacional
desenvolvida para efeitos do presente Artigo.
Artigo 14
Disposição do produto do crime ou dos bens confiscados
1. Um Estado Parte que confisque o produto do crime ou bens, em aplicação do Artigo 12 ou
do parágrafo 1 do Artigo 13 da presente Convenção, disporá deles de acordo com o seu direito
interno e os seus procedimentos administrativos.
2. Quando os Estados Partes agirem a pedido de outro Estado Parte em aplicação do Artigo 13
da presente Convenção, deverão, na medida em que o permita o seu direito interno e se tal
lhes for solicitado, considerar prioritariamente a restituição do produto do crime ou dos bens
confiscados ao Estado Parte requerente, para que este último possa indenizar as vítimas da
infração ou restituir este produto do crime ou estes bens aos seus legítimos proprietários.
3. Quando um Estado Parte atuar a pedido de um outro Estado Parte em aplicação dos Artigos
12 e 13 da presente Convenção, poderá considerar especialmente a celebração de acordos ou
protocolos que prevejam:
a) Destinar o valor deste produto ou destes bens, ou os fundos provenientes da sua venda, ou
uma parte destes fundos, à conta criada em aplicação da alínea c) do parágrafo 2 do Artigo 30
da presente Convenção e a organismos intergovernamentais especializados na luta contra a
criminalidade organizada;
b) Repartir com outros Estados Partes, sistemática ou casuisticamente, este produto ou estes
bens, ou os fundos provenientes da respectiva venda, em conformidade com o seu direito
interno ou os seus procedimentos administrativos.
Artigo 15
Jurisdição
1. Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias para estabelecer a sua competência
jurisdicional em relação às infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente
Convenção, nos seguintes casos:
a) Quando a infração for cometida no seu território; ou
b) Quando a infração for cometida a bordo de um navio que arvore a sua bandeira ou a bordo
de uma aeronave matriculada em conformidade com o seu direito interno no momento em que
a referida infração for cometida.
2. Sem prejuízo do disposto no Artigo 4 da presente Convenção, um Estado Parte poderá
igualmente estabelecer a sua competência jurisdicional em relação a qualquer destas
infrações, nos seguintes casos:
a) Quando a infração for cometida contra um dos seus cidadãos;
b) Quando a infração for cometida por um dos seus cidadãos ou por uma pessoa apátrida
residente habitualmente no seu território; ou
c) Quando a infração for:
i) Uma das previstas no parágrafo 1 do Artigo 5 da presente Convenção e praticada fora do seu
território, com a intenção de cometer uma infração grave no seu território;
ii) Uma das previstas no inciso ii) da alínea b) do parágrafo 1 do Artigo 6 da presente
Convenção e praticada fora do seu território com a intenção de cometer, no seu território, uma
das infrações enunciadas nos incisos i) ou ii) da alínea a) ou i) da alínea b) do parágrafo 1 do
Artigo 6 da presente Convenção.
3. Para efeitos do parágrafo 10 do Artigo 16 da presente Convenção, cada Estado Parte
adotará as medidas necessárias para estabelecer a sua competência jurisdicional em relação
às infrações abrangidas pela presente Convenção quando o presumível autor se encontre no
seu território e o Estado Parte não o extraditar pela única razão de se tratar de um seu cidadão.
4. Cada Estado Parte poderá igualmente adotar as medidas necessárias para estabelecer a
sua competência jurisdicional em relação às infrações abrangidas pela presente Convenção
quando o presumível autor se encontre no seu território e o Estado Parte não o extraditar.
5. Se um Estado Parte que exerça a sua competência jurisdicional por força dos parágrafos 1 e
2 do presente Artigo tiver sido notificado, ou por qualquer outra forma tiver tomado
conhecimento, de que um ou vários Estados Partes estão a efetuar uma investigação ou
iniciaram diligências ou um processo judicial tendo por objeto o mesmo ato, as autoridades
competentes destes Estados Partes deverão consultar-se, da forma que for mais conveniente,
para coordenar as suas ações.
6. Sem prejuízo das normas do direito internacional geral, a presente Convenção não excluirá o
exercício de qualquer competência jurisdicional penal estabelecida por um Estado Parte em
conformidade com o seu direito interno.
Artigo 16
Extradição
1. O presente Artigo aplica-se às infrações abrangidas pela presente Convenção ou nos casos
em que um grupo criminoso organizado esteja implicado numa infração prevista nas alíneas a)
ou b) do parágrafo 1 do Artigo 3 e em que a pessoa que é objeto do pedido de extradição se
encontre no Estado Parte requerido, desde que a infração pela qual é pedida a extradição seja
punível pelo direito interno do Estado Parte requerente e do Estado Parte requerido.
2. Se o pedido de extradição for motivado por várias infrações graves distintas, algumas das
quais não se encontrem previstas no presente Artigo, o Estado Parte requerido pode
igualmente aplicar o presente Artigo às referidas infrações.
3. Cada uma das infrações às quais se aplica o presente Artigo será considerada incluída, de
pleno direito, entre as infrações que dão lugar a extradição em qualquer tratado de extradição
em vigor entre os Estados Partes. Os Estados Partes comprometem-se a incluir estas infrações
entre aquelas cujo autor pode ser extraditado em qualquer tratado de extradição que celebrem
entre si.
4. Se um Estado Parte que condicione a extradição à existência de um tratado receber um
pedido de extradição de um Estado Parte com o qual não celebrou tal tratado, poderá
considerar a presente Convenção como fundamento jurídico da extradição quanto às infrações
a que se aplique o presente Artigo.
5. Os Estados Partes que condicionem a extradição à existência de um tratado:
a) No momento do depósito do seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
à presente Convenção, indicarão ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas se
consideram a presente Convenção como fundamento jurídico para a cooperação com outros
Estados Partes em matéria de extradição; e
b) Se não considerarem a presente Convenção como fundamento jurídico para cooperar em
matéria de extradição, diligenciarão, se necessário, pela celebração de tratados de extradição
com outros Estados Partes, a fim de darem aplicação ao presente Artigo.
6. Os Estados Partes que não condicionem a extradição à existência de um tratado
reconhecerão entre si, às infrações às quais se aplica o presente Artigo, o caráter de infração
cujo autor pode ser extraditado.
7. A extradição estará sujeita às condições previstas no direito interno do Estado Parte
requerido ou em tratados de extradição aplicáveis, incluindo, nomeadamente, condições
relativas à pena mínima requerida para uma extradição e aos motivos pelos quais o Estado
Parte requerido pode recusar a extradição.
8. Os Estados Partes procurarão, sem prejuízo do seu direito interno, acelerar os processos de
extradição e simplificar os requisitos em matéria de prova com eles relacionados, no que se
refere às infrações a que se aplica o presente Artigo.
9. Sem prejuízo do disposto no seu direito interno e nos tratados de extradição que tenha
celebrado, o Estado Parte requerido poderá, a pedido do Estado Parte requerente, se
considerar que as circunstâncias o justificam e que existe urgência, colocar em detenção uma
pessoa, presente no seu território, cuja extradição é pedida, ou adotar a seu respeito quaisquer
outras medidas apropriadas para assegurar a sua presença no processo de extradição.
10. Um Estado Parte em cujo território se encontre o presumível autor da infração, senão
extraditar esta pessoa a título de uma infração à qual se aplica o presente Artigo pelo único
motivo de se tratar de um seu cidadão, deverá, a pedido do Estado Parte requerente da
extradição, submeter o caso, sem demora excessiva, às suas autoridades competentes para
efeitos de procedimento judicial. Estas autoridades tomarão a sua decisão e seguirão os
trâmites do processo da mesma forma que em relação a qualquer outra infração grave, à luz do
direito interno deste Estado Parte. Os Estados Partes interessados cooperarão entre si,
nomeadamente em matéria processual e probatória, para assegurar a eficácia dos referidos
atos judiciais.
11. Quando um Estado Parte, por força do seu direito interno, só estiver autorizado a extraditar
ou, por qualquer outra forma, entregar um dos seus cidadãos na condição de que essa pessoa
retorne seguidamente ao mesmo Estado Parte para cumprir a pena a que tenha sido
condenada na seqüência do processo ou do procedimento que originou o pedido de extradição
ou de entrega, e quando este Estado Parte e o Estado Parte requerente concordarem em
relação a essa opção e a outras condições que considerem apropriadas, a extradição ou
entrega condicional será suficiente para dar cumprimento à obrigação enunciada no parágrafo
10 do presente Artigo.
12. Se a extradição, pedida para efeitos de execução de uma pena, for recusada porque a
pessoa que é objeto deste pedido é um cidadão do Estado Parte requerido, este, se o seu
direito interno o permitir, em conformidade com as prescrições deste direito e a pedido do
Estado Parte requerente, considerará a possibilidade de dar execução à pena que foi aplicada
em conformidade com o direito do Estado Parte requerente ou ao que dessa pena faltar
cumprir.
13. Qualquer pessoa que seja objeto de um processo devido a qualquer das infrações às quais
se aplica o presente Artigo terá garantido um tratamento eqüitativo em todas as fases do
processo, incluindo o gozo de todos os direitos e garantias previstos no direito interno do
Estado Parte em cujo território se encontra.
14. Nenhuma disposição da presente Convenção deverá ser interpretada no sentido de que
impõe uma obrigação de extraditar a um Estado Parte requerido, se existirem sérias razões
para supor que o pedido foi apresentado com a finalidade de perseguir ou punir uma pessoa
em razão do seu sexo, raça, religião, nacionalidade, origem étnica ou opiniões políticas, ou que
a satisfação daquele pedido provocaria um prejuízo a essa pessoa por alguma destas razões.
15. Os Estados Partes não poderão recusar um pedido de extradição unicamente por
considerarem que a infração envolve também questões fiscais.
16. Antes de recusar a extradição, o Estado Parte requerido consultará, se for caso disso, o
Estado Parte requerente, a fim de lhe dar a mais ampla possibilidade de apresentar as suas
razões e de fornecer informações em apoio das suas alegações.
17. Os Estados Partes procurarão celebrar acordos ou protocolos bilaterais e multilaterais com
o objetivo de permitir a extradição ou de aumentar a sua eficácia.
Artigo 17
Transferência de pessoas condenadas
Os Estados Partes poderão considerar a celebração de acordos ou protocolos bilaterais ou
multilaterais relativos à transferência para o seu território de pessoas condenadas a penas de
prisão ou outras penas de privação de liberdade devido a infrações previstas na presente
Convenção, para que aí possam cumprir o resto da pena.
Artigo 18
Assistência judiciária recíproca
1. Os Estados Partes prestarão reciprocamente toda a assistência judiciária possível nas
investigações, nos processos e em outros atos judiciais relativos às infrações previstas pela
presente Convenção, nos termos do Artigo 3, e prestarão reciprocamente uma assistência
similar quando o Estado Parte requerente tiver motivos razoáveis para suspeitar de que a
infração a que se referem as alíneas a) ou b) do parágrafo 1 do Artigo 3 é de caráter
transnacional, inclusive quando as vítimas, as testemunhas, o produto, os instrumentos ou os
elementos de prova destas infrações se encontrem no Estado Parte requerido e nelas esteja
implicado um grupo criminoso organizado.
2. Será prestada toda a cooperação judiciária possível, tanto quanto o permitam as leis,
tratados, acordos e protocolos pertinentes do Estado Parte requerido, no âmbito de
investigações, processos e outros atos judiciais relativos a infrações pelas quais possa ser
considerada responsável uma pessoa coletiva no Estado Parte requerente, em conformidade
com o Artigo 10 da presente Convenção.
3. A cooperação judiciária prestada em aplicação do presente Artigo pode ser solicitada para
os seguintes efeitos:
a) Recolher testemunhos ou depoimentos;
b) Notificar atos judiciais;
c) Efetuar buscas, apreensões e embargos;
d) Examinar objetos e locais;
e) Fornecer informações, elementos de prova e pareceres de peritos;
f) Fornecer originais ou cópias certificadas de documentos e processos pertinentes, incluindo
documentos administrativos, bancários, financeiros ou comerciais e documentos de empresas;
g) Identificar ou localizar os produtos do crime, bens, instrumentos ou outros elementos para
fins probatórios;
h) Facilitar o comparecimento voluntário de pessoas no Estado Parte requerente;
i) Prestar qualquer outro tipo de assistência compatível com o direito interno do Estado Parte
requerido.
4. Sem prejuízo do seu direito interno, as autoridades competentes de um Estado Parte
poderão, sem pedido prévio, comunicar informações relativas a questões penais a uma
autoridade competente de outro Estado Parte, se considerarem que estas informações poderão
ajudar a empreender ou concluir com êxito investigações e processos penais ou conduzir este
último Estado Parte a formular um pedido ao abrigo da presente Convenção.
5. A comunicação de informações em conformidade com o parágrafo 4 do presente Artigo será
efetuada sem prejuízo das investigações e dos processos penais no Estado cujas autoridade
competentes fornecem as informações. As autoridades competentes que recebam estas
informações deverão satisfazer qualquer pedido no sentido de manter confidenciais as
referidas informações, mesmo se apenas temporariamente, ou de restringir a sua utilização.
Todavia, tal não impedirá o Estado Parte que receba as informações de revelar, no decurso do
processo judicial, informações que inocentem um argüido. Neste último caso, o Estado Parte
que recebeu as informações avisará o Estado Parte que as comunicou antes de as revelar e,
se lhe for pedido, consultará este último. Se, num caso excepcional, não for possível uma
comunicação prévia, o Estado Parte que recebeu as informações dará conhecimento da
revelação, prontamente, ao Estado Parte que as tenha comunicado.
6. As disposições do presente Artigo em nada prejudicam as obrigações decorrentes de
qualquer outro tratado bilateral ou multilateral que regule, ou deva regular, inteiramente ou em
parte, a cooperação judiciária.
7. Os parágrafos 9 a 29 do presente Artigo serão aplicáveis aos pedidos feitos em
conformidade com o presente Artigo, no caso de os Estados Partes em questão não estarem
ligados por um tratado de cooperação judiciária. Se os referidos Estados Partes estiverem
ligados por tal tratado, serão aplicáveis as disposições correspondentes desse tratado, a
menos que os Estados Partes concordem em aplicar, em seu lugar, as disposições dos
parágrafos 9 a 29 do presente Artigo. Os Estados Partes são fortemente instados a aplicar
estes números, se tal facilitar a cooperação.
8. Os Estados Partes não poderão invocar o sigilo bancário para recusar a cooperação
judiciária prevista no presente Artigo.
9. Os Estados Partes poderão invocar a ausência de dupla criminalização para recusar prestar
a assistência judiciária prevista no presente Artigo. O Estado Parte requerido poderá, não
obstante, quando o considerar apropriado, prestar esta assistência, na medida em que odecida por si próprio, independentemente de o ato estar ou não tipificado como uma infração
no direito interno do Estado Parte requerido.
10. Qualquer pessoa detida ou a cumprir pena no território de um Estado Parte, cuja presença
seja requerida num outro Estado Parte para efeitos de identificação, para testemunhar ou para
contribuir por qualquer outra forma para a obtenção de provas no âmbito de investigações,
processos ou outros atos judiciais relativos às infrações visadas na presente Convenção, pode
ser objeto de uma transferência, se estiverem reunidas as seguintes condições:
a) Se referida pessoa, devidamente informada, der o seu livre consentimento;
b) Se as autoridades competentes dos dois Estados Partes em questão derem o seu
consentimento, sob reserva das condições que estes Estados Partes possam considerar
convenientes.
11. Para efeitos do parágrafo 10 do presente Artigo:
a) O Estado Parte para o qual a transferência da pessoa em questão for efetuada terá o poder
e a obrigação de a manter detida, salvo pedido ou autorização em contrário do Estado Parte do
qual a pessoa foi transferida;
b) O Estado Parte para o qual a transferência for efetuada cumprirá prontamente a obrigação
de entregar a pessoa à guarda do Estado Parte do qual foi transferida, em conformidade com o
que tenha sido previamente acordado ou com o que as autoridades competentes dos dois
Estados Partes tenham decidido;
c) O Estado Parte para o qual for efetuada a transferência não poderá exigir do Estado Parte
do qual a transferência foi efetuada que abra um processo de extradição para que a pessoa lhe
seja entregue;
d) O período que a pessoa em questão passe detida no Estado Parte para o qual for
transferida é contado para o cumprimento da pena que lhe tenha sido aplicada no Estado Parte
do qual for transferida;
12. A menos que o Estado Parte do qual a pessoa for transferida, ao abrigo dos parágrafos 10
e 11 do presente Artigo, esteja de acordo, a pessoa em questão, seja qual for a sua
nacionalidade, não será objecto de processo judicial, detida, punida ou sujeita a outras
restrições à sua liberdade de movimentos no território do Estado Parte para o qual seja
transferida, devido a atos, omissões ou condenações anteriores à sua partida do território do
Estado Parte do qual foi transferida.
13. Cada Estado Parte designará uma autoridade central que terá a responsabilidade e o poder
de receber pedidos de cooperação judiciária e, quer de os executar, quer de os transmitir às
autoridades competentes para execução. Se um Estado Parte possuir uma região ou um
território especial dotado de um sistema de cooperação judiciária diferente, poderá designar
uma autoridade central distinta, que terá a mesma função para a referida região ou território. As
autoridades centrais deverão assegurar a execução ou a transmissão rápida e em boa e devida
forma dos pedidos recebidos. Quando a autoridade central transmitir o pedido a uma
autoridade competente para execução, instará pela execução rápida e em boa e devida forma
do pedido por parte da autoridade competente. O Secretário Geral da Organização das Nações
Unidas será notificado da autoridade central designada para este efeito no momento em que
cada Estado Parte depositar os seus instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão à presente Convenção. Os pedidos de cooperação judiciária e qualquer comunicação
com eles relacionada serão transmitidos às autoridades centrais designadas pelos Estados
Partes. A presente disposição não afetará o direito de qualquer Estado Parte a exigir que estes
pedidos e comunicações lhe sejam remetidos por via diplomática e, em caso de urgência, e se
os Estados Partes nisso acordarem, por intermédio da Organização Internacional de Polícia
Criminal, se tal for possível.
14. Os pedidos serão formulados por escrito ou, se possível, por qualquer outro meio capaz de
produzir registro escrito, numa língua que seja aceita pelo Estado Parte requerido, em
condições que permitam a este Estado Parte verificar a sua autenticidade. O Secretário Geral
das Nações Unidas será notificado a respeito da língua ou línguas aceitas por cada Estado
Parte no momento em que o Estado Parte em questão depositar os seus instrumentos de
ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à presente Convenção. Em caso de urgência, e se
os Estados Partes nisso acordarem, os pedidos poderão ser feitos oralmente, mais deverão ser
imediatamente confirmados por escrito.
15. Um pedido de assistência judiciária deverá conter as seguintes informações:
a) A designação da autoridade que emite o pedido;
b) O objeto e a natureza da investigação, dos processos ou dos outros atos judiciais a que se
refere o pedido, bem como o nome e as funções da autoridade que os tenha a cargo;
c) Um resumo dos fatos relevantes, salvo no caso dos pedidos efetuados para efeitos de
notificação de atos judiciais;
d) Uma descrição da assistência pretendida e pormenores de qualquer procedimento
específico que o Estado Parte requerente deseje ver aplicado;
e) Caso seja possível, a identidade, endereço e nacionalidade de qualquer pessoa visada; e
f) O fim para o qual são pedidos os elementos, informações ou medidas.
16. O Estado Parte requerido poderá solicitar informações adicionais, quando tal se afigure
necessário à execução do pedido em conformidade com o seu direito interno, ou quando tal
possa facilitar a execução do pedido.
17. Qualquer pedido será executado em conformidade com o direito interno do Estado Parte
requerido e, na medida em que tal não contrarie este direito e seja possível, em conformidade
com os procedimentos especificados no pedido.
18. Se for possível e em conformidade com os princípios fundamentais do direito interno,
quando uma pessoa que se encontre no território de um Estado Parte deva ser ouvida como
testemunha ou como perito pelas autoridades judiciais de outro Estado Parte, o primeiro
Estado Parte poderá, a pedido do outro, autorizar a sua audição por videoconferência, se não
for possível ou desejável que a pessoa compareça no território do Estado Parte requerente. Os
Estados Partes poderão acordar em que a audição seja conduzida por uma autoridade judicial
do Estado Parte requerente e que a ela assista uma autoridade judicial do Estado Parte
requerido.
19. O Estado Parte requerente não comunicará nem utilizará as informações ou os elementos
de prova fornecidos pelo Estado Parte requerido para efeitos de investigações, processos ou
outros atos judiciais diferentes dos mencionados no pedido sem o consentimento prévio do
Estado Parte requerido. O disposto neste número não impedirá o Estado Parte requerente de
revelar, durante o processo, informações ou elementos de prova ilibatórios de um argüido.
Neste último caso, o Estado Parte requerente avisará, antes da revelação, o Estado Parte
requerido e, se tal lhe for pedido, consultará neste último. Se, num caso excepcional, não for
possível uma comunicação prévia, o Estado Parte requerente informará da revelação,
prontamente, o Estado Parte requerido.
20. O Estado Parte requerente poderá exigir que o Estado Parte requerido guarde sigilo sobre
o pedido e o seu conteúdo, salvo na medida do que seja necessário para o executar. Se o
Estado Parte requerido não puder satisfazer esta exigência, informará prontamente o Estado
Parte requerente.
21. A cooperação judiciária poderá ser recusada:
a) Se o pedido não for feito em conformidade com o disposto no presente Artigo;
b) Se o Estado Parte requerido considerar que a execução do pedido pode afetar sua
soberania, sua segurança, sua ordem pública ou outros interesses essenciais;
c) Se o direito interno do Estado Parte requerido proibir suas autoridades de executar as
providências solicitadas com relação a uma infração análoga que tenha sido objeto de
investigação ou de procedimento judicial no âmbito da sua própria competência;
d) Se a aceitação do pedido contrariar o sistema jurídicodo Estado Parte requerido no que se
refere à cooperação judiciária.
22. Os Estados Partes não poderão recusar um pedido de cooperação judiciária unicamente
por considerarem que a infração envolve também questões fiscais.
23. Qualquer recusa de cooperação judiciária deverá ser fundamentada.
24. O Estado Parte requerido executará o pedido de cooperação judiciária tão prontamente
quanto possível e terá em conta, na medida do possível, todos os prazos sugeridos pelo
Estado Parte requerente para os quais sejam dadas justificações, de preferência no pedido. O
Estado Parte requerido responderá aos pedidos razoáveis do Estado Parte requerente quanto
ao andamento das diligências solicitadas. Quando a assistência pedida deixar de ser
necessária, o Estado Parte requerente informará prontamente desse fato o Estado Parte
requerido.
25. A cooperação judiciária poderá ser diferida pelo Estado Parte requerido por interferir com
uma investigação, processos ou outros atos judiciais em curso.
26. Antes de recusar um pedido feito ao abrigo do parágrafo 21 do presente Artigo ou de diferir
a sua execução ao abrigo do parágrafo 25, o Estado Parte requerido estudará com o Estado
Parte requerente a possibilidade de prestar a assistência sob reserva das condições que
considere necessárias. Se o Estado Parte requerente aceitar a assistência sob reserva destas
condições, deverá respeitá-las.
27. Sem prejuízo da aplicação do parágrafo 12 do presente Artigo, uma testemunha, um perito
ou outra pessoa que, a pedido do Estado Parte requerente, aceite depor num processo ou
colaborar numa investigação, em processos ou outros atos judiciais no território do Estado
Parte requerente, não será objeto de processo, detida, punida ou sujeita a outras restrições à
sua liberdade pessoal neste território, devido a atos, omissões ou condenações anteriores à
sua partida do território do Estado Parte requerido. Esta imunidade cessa quando a
testemunha, o perito ou a referida pessoa, tendo tido, durante um período de quinze dias
consecutivos ou qualquer outro período acordado pelos Estados Partes, a contar da data em
que recebeu a comunicação oficial de que a sua presença já não era exigida pelas autoridades
judiciais, a possibilidade de deixar o território do Estado Parte requerente, nele tenha
voluntariamente permanecido ou, tendo-o deixado, a ele tenha regressado de livre vontade.
28. As despesas correntes com a execução de um pedido serão suportadas pelo Estado Parte
requerido, salvo acordo noutro sentido dos Estados Partes interessados. Quando venham a
revelar-se necessárias despesas significativas ou extraordinárias para executar o pedido, os
Estados Partes consultar-se-ão para fixar as condições segundo as quais o pedido deverá ser
executado, bem como o modo como as despesas serão assumidas.
29. O Estado Parte requerido:
a) Fornecerá ao Estado Parte requerente cópias dos processos, documentos ou informações
administrativas que estejam em seu poder e que, por força do seu direito interno, estejam
acessíveis ao público;
b) Poderá, se assim o entender, fornecer ao Estado Parte requerente, na íntegra ou nas
condições que considere apropriadas, cópias de todos os processos, documentos ou
informações que estejam na sua posse e que, por força do seu direito interno, não sejam
acessíveis ao público.
30. Os Estados Partes considerarão, se necessário, a possibilidade de celebrarem acordos ou
protocolos bilaterais ou multilaterais que sirvam os objetivos e as disposições do presente
Artigo, reforçando-as ou dando-lhes maior eficácia.
Artigo 19
Investigações conjuntas
Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou
multilaterais em virtude dos quais, com respeito a matérias que sejam objeto de investigação,
processos ou ações judiciais em um ou mais Estados, as autoridades competentes possam
estabelecer órgãos mistos de investigação. Na ausência de tais acordos ou protocolos, poderá
ser decidida casuisticamente a realização de investigações conjuntas. Os Estados Partes
envolvidos agirão de modo a que a soberania do Estado Parte em cujo território decorra a
investigação seja plenamente respeitada.
Artigo 20
Técnicas especiais de investigação
1. Se os princípios fundamentais do seu ordenamento jurídico nacional o permitirem, cada
Estado Parte, tendo em conta as suas possibilidades e em conformidade com as condições
prescritas no seu direito interno, adotará as medidas necessárias para permitir o recurso
apropriado a entregas vigiadas e, quando o considere adequado, o recurso a outras técnicas
especiais de investigação, como a vigilância eletrônica ou outras formas de vigilância e as
operações de infiltração, por parte das autoridades competentes no seu território, a fim de
combater eficazmente a criminalidade organizada.
2. Para efeitos de investigações sobre as infrações previstas na presente Convenção, os
Estados Partes são instados a celebrar, se necessário, acordos ou protocolos bilaterais ou
multilaterais apropriados para recorrer às técnicas especiais de investigação, no âmbito da
cooperação internacional. Estes acordos ou protocolos serão celebrados e aplicados sem
prejuízo do princípio da igualdade soberana dos Estados e serão executados em estrita
conformidade com as disposições neles contidas.
3. Na ausência dos acordos ou protocolos referidos no parágrafo 2 do presente Artigo, as
decisões de recorrer a técnicas especiais de investigação a nível internacional serão tomadas
casuisticamente e poderão, se necessário, ter em conta acordos ou protocolos financeiros
relativos ao exercício de jurisdição pelos Estados Partes interessados.
4. As entregas vigiadas a que se tenha decidido recorrer a nível internacional poderão incluir,
com o consentimento dos Estados Partes envolvidos, métodos como a intercepção de
mercadorias e a autorização de prosseguir o seu encaminhamento, sem alteração ou após
subtração ou substituição da totalidade ou de parte dessas mercadorias.
Artigo 21
Transferência de processos penais
Os Estados Partes considerarão a possibilidade de transferirem mutuamente os processos
relativos a uma infração prevista na presente Convenção, nos casos em que esta transferência
seja considerada necessária no interesse da boa administração da justiça e, em especial,
quando estejam envolvidas várias jurisdições, a fim de centralizar a instrução dos processos.
Artigo 22
Estabelecimento de antecedentes penais
Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias
para ter em consideração, nas condições e para os efeitos que entender apropriados, qualquer
condenação de que o presumível autor de uma infração tenha sido objeto noutro Estado, a fim
de utilizar esta informação no âmbito de um processo penal relativo a uma infração prevista na
presente Convenção.
Artigo 23
Criminalização da obstrução à justiça
Cada Estado Parte adotará medidas legislativas e outras consideradas necessárias para
conferir o caráter de infração penal aos seguintes atos, quando cometidos intencionalmente:
a) O recurso à força física, a ameaças ou a intimidação, ou a promessa, oferta ou concessão
de um benefício indevido para obtenção de um falso testemunho ou para impedir um
testemunho ou a apresentação de elementos de prova num processo relacionado com a
prática de infrações previstas na presente Convenção;
b) O recurso à força física, a ameaças ou a intimidação para impedir um agente judicial ou
policial de exercer os deveres inerentes à sua função relativamente à prática de infrações
previstas na presente Convenção. O disposto na presente alínea não prejudica o direito dos
Estados Partes de disporem de legislação destinada a proteger outras categorias de agentes
públicos.
Artigo 24
Proteção das testemunhas
1. Cada Estado Parte, dentro das suas possibilidades, adotará medidas apropriadas para
assegurar uma proteção eficaz contra eventuais atos derepresália ou de intimidação das
testemunhas que, no âmbito de processos penais, deponham sobre infrações previstas na
presente Convenção e, quando necessário, aos seus familiares ou outras pessoas que lhes
sejam próximas.
2. Sem prejuízo dos direitos do argüido, incluindo o direito a um julgamento regular, as medidas
referidas no parágrafo 1 do presente Artigo poderão incluir, entre outras:
a) Desenvolver, para a proteção física destas pessoas, procedimentos que visem, consoante
as necessidades e na medida do possível, nomeadamente, fornecer-lhes um novo domicílio e
impedir ou restringir a divulgação de informações relativas à sua identidade e paradeiro;
b) Estabelecer normas em matéria de prova que permitam às testemunhas depor de forma a
garantir a sua segurança, nomeadamente autorizando-as a depor com recurso a meios
técnicos de comunicação, como ligações de vídeo ou outros meios adequados.
3. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos com outros Estados
para facultar um novo domicílio às pessoas referidas no parágrafo 1 do presente Artigo.
4. As disposições do presente Artigo aplicam-se igualmente às vítimas, quando forem
testemunhas.
Artigo 25
Assistência e proteção às vítimas
1. Cada Estado Parte adotará, segundo as suas possibilidades, medidas apropriadas para
prestar assistência e assegurar a proteção às vítimas de infrações previstas na presente
Convenção, especialmente em caso de ameaça de represálias ou de intimidação.
2. Cada Estado Parte estabelecerá procedimentos adequados para que as vítimas de infrações
previstas na presente Convenção possam obter reparação.
3. Cada Estado Parte, sem prejuízo do seu direito interno, assegurará que as opiniões e
preocupações das vítimas sejam apresentadas e tomadas em consideração nas fases
adequadas do processo penal aberto contra os autores de infrações, por forma que não
prejudique os direitos da defesa.
Artigo 26
Medidas para intensificar a cooperação com as autoridades competentes para a aplicação da
lei
1. Cada Estado Parte tomará as medidas adequadas para encorajar as pessoas que participem
ou tenham participado em grupos criminosos organizados:
a) A fornecerem informações úteis às autoridades competentes para efeitos de investigação e
produção de provas, nomeadamente
i) A identidade, natureza, composição, estrutura, localização ou atividades dos grupos
criminosos organizados;
ii) As conexões, inclusive conexões internacionais, com outros grupos criminosos organizados;
iii) As infrações que os grupos criminosos organizados praticaram ou poderão vir a praticar;
b) A prestarem ajuda efetiva e concreta às autoridades competentes, susceptível de contribuir
para privar os grupos criminosos organizados dos seus recursos ou do produto do crime.
2. Cada Estado Parte poderá considerar a possibilidade, nos casos pertinentes, de reduzir a
pena de que é passível um argüido que coopere de forma substancial na investigação ou no
julgamento dos autores de uma infração prevista na presente Convenção.
3. Cada Estado Parte poderá considerar a possibilidade, em conformidade com os princípios
fundamentais do seu ordenamento jurídico interno, de conceder imunidade a uma pessoa que
coopere de forma substancial na investigação ou no julgamento dos autores de uma infração
prevista na presente Convenção.
4. A proteção destas pessoas será assegurada nos termos do Artigo 24 da presente
Convenção.
5. Quando uma das pessoas referidas no parágrafo 1 do presente Artigo se encontre num
Estado Parte e possa prestar uma cooperação substancial às autoridades competentes de
outro Estado Parte, os Estados Partes em questão poderão considerar a celebração de
acordos, em conformidade com o seu direito interno, relativos à eventual concessão, pelo outro
Estado Parte, do tratamento descrito nos parágrafos 2 e 3 do presente Artigo.
Artigo 27
Cooperação entre as autoridades competentes para a aplicação da lei
1. Os Estados Partes cooperarão estreitamente, em conformidade com os seus respectivos
ordenamentos jurídicos e administrativos, a fim de reforçar a eficácia das medidas de controle
do cumprimento da lei destinadas a combater as infrações previstas na presente Convenção.
Especificamente, cada Estado Parte adotará medidas eficazes para:
a) Reforçar ou, se necessário, criar canais de comunicação entre as suas autoridades,
organismos e serviços competentes, para facilitar a rápida e segura troca de informações
relativas a todos os aspectos das infrações previstas na presente Convenção, incluindo, se os
Estados Partes envolvidos o considerarem apropriado, ligações com outras atividades
criminosas;
b) Cooperar com outros Estados Partes, quando se trate de infrações previstas na presente
Convenção, na condução de investigações relativas aos seguintes aspectos:
i) Identidade, localização e atividades de pessoas suspeitas de implicação nas referidas
infrações, bem como localização de outras pessoas envolvidas;
ii) Movimentação do produto do crime ou dos bens provenientes da prática destas infrações;
iii) Movimentação de bens, equipamentos ou outros instrumentos utilizados ou destinados a ser
utilizados na prática destas infrações;
c) Fornecer, quando for caso disso, os elementos ou as quantidades de substâncias
necessárias para fins de análise ou de investigação;
d) Facilitar uma coordenação eficaz entre as autoridades, organismos e serviços competentes
e promover o intercâmbio de pessoal e de peritos, incluindo, sob reserva da existência de
acordos ou protocolos bilaterais entre os Estados Partes envolvidos, a designação de agentes
de ligação;
e) Trocar informações com outros Estados Partes sobre os meios e métodos específicos
utilizados pelos grupos criminosos organizados, incluindo, se for caso disso, sobre os
itinerários e os meios de transporte, bem como o uso de identidades falsas, de documentos
alterados ou falsificados ou outros meios de dissimulação das suas atividades;
f) Trocar informações e coordenar as medidas administrativas e outras tendo em vista detectar
o mais rapidamente possível as infrações previstas na presente Convenção.
2. Para dar aplicação à presente Convenção, os Estados Partes considerarão a possibilidade
de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais que prevejam uma cooperação
direta entre as suas autoridades competentes para a aplicação da lei e, quando tais acordos ou
protocolos já existam, considerarão a possibilidade de os alterar. Na ausência de tais acordos
entre os Estados Partes envolvidos, estes últimos poderão basear-se na presente Convenção
para instituir uma cooperação em matéria de detecção e repressão das infrações previstas na
presente Convenção. Sempre que tal se justifique, os Estados Partes utilizarão plenamente os
acordos ou protocolos, incluindo as organizações internacionais ou regionais, para intensificar
a cooperação entre as suas autoridades competentes para a aplicação da lei.
3. Os Estados Partes procurarão cooperar, na medida das suas possibilidades, para enfrentar
o crime organizado transnacional praticado com recurso a meios tecnológicos modernos.
Artigo 28
Coleta, intercâmbio e análise de informações sobre a natureza do crime organizado
1. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de analisar, em consulta com os meios
científicos e universitários, as tendências da criminalidade organizada no seu território, as
circunstâncias em que opera e os grupos profissionais e tecnologias envolvidos.
2. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de desenvolver as suas capacidades de
análise das atividades criminosas organizadas e de as partilhar diretamente entre si e por
intermédio de organizações internacionais e regionais. Para este efeito, deverão ser
elaboradas e aplicadas, quando for caso disso, definições, normas e metodologias comuns.
3. Cada Estado Parte considerará o estabelecimento de meios de acompanhamento das suas
políticas e dasmedidas tomadas para combater o crime organizado, avaliando a sua aplicação
e eficácia.
Artigo 29
Formação e assistência técnica
1. Cada Estado Parte estabelecerá, desenvolverá ou melhorará, na medida das necessidades,
programas de formação específicos destinados ao pessoal das autoridades competentes para
a aplicação da lei, incluindo promotores públicos, juizes de instrução e funcionários aduaneiros,
bem como outro pessoal que tenha por função prevenir, detectar e reprimir as infrações
previstas na presente Convenção. Estes programas, que poderão prever cessões e
intercâmbio de pessoal, incidirão especificamente, na medida em que o direito interno o
permita, nos seguintes aspectos:
a) Métodos utilizados para prevenir, detectar e combater as infrações previstas na presente
Convenção;
b) Rotas e técnicas utilizadas pelas pessoas suspeitas de implicação em infrações previstas na
presente Convenção, incluindo nos Estados de trânsito, e medidas adequadas de combate;
c) Vigilância das movimentações dos produtos de contrabando;
d) Detecção e vigilância das movimentações do produto do crime, de bens, equipamentos ou
outros instrumentos, de métodos de transferência, dissimulação ou disfarce destes produtos,
bens, equipamentos ou outros instrumentos, bem como métodos de luta contra a lavagem de
dinheiro e outras infrações financeiras;
e) Coleta de provas;
f) Técnicas de controle nas zonas francas e nos portos francos;
g) Equipamentos e técnicas modernas de detecção e de repressão, incluindo a vigilância
eletrônica, as entregas vigiadas e as operações de infiltração;
h) Métodos utilizados para combater o crime organizado transnacional cometido por meio de
computadores, de redes de telecomunicações ou outras tecnologias modernas; e
i) Métodos utilizados para a proteção das vítimas e das testemunhas.
2. Os Estados Partes deverão cooperar entre si no planejamento e execução de programas de
investigação e de formação concebidos para o intercâmbio de conhecimentos especializados
nos domínios referidos no parágrafo 1 do presente Artigo e, para este efeito, recorrerão
também, quando for caso disso, a conferências e seminários regionais e internacionais para
promover a cooperação e estimular as trocas de pontos de vista sobre problemas comuns,
incluindo os problemas e necessidades específicos dos Estados de trânsito.
3. Os Estados Partes incentivarão as atividades de formação e de assistência técnica
suscetíveis de facilitar a extradição e a cooperação judiciária. Estas atividades de cooperação e
de assistência técnica poderão incluir ensino de idiomas, cessões e intercâmbio do pessoal das
autoridades centrais ou de organismos que tenham responsabilidades nos domínios em
questão.
4. Sempre que se encontrem em vigor acordos bilaterais ou multilaterais, os Estados Partes
reforçarão, tanto quanto for necessário, as medidas tomadas no sentido de otimizar as
atividades operacionais e de formação no âmbito de organizações internacionais e regionais e
no âmbito de outros acordos ou protocolos bilaterais e multilaterais na matéria.
Artigo 30
Outras medidas: aplicação da Convenção através do desenvolvimento econômico e da
assistência técnica
1. Os Estados Partes tomarão as medidas adequadas para assegurar a melhor aplicação
possível da presente Convenção através da cooperação internacional, tendo em conta os
efeitos negativos da criminalidade organizada na sociedade em geral e no desenvolvimento
sustentável em particular.
2. Os Estados Partes farão esforços concretos, na medida do possível, em coordenação entre
si e com as organizações regionais e internacionais:
a) Para desenvolver a sua cooperação a vários níveis com os países em desenvolvimento, a
fim de reforçar a capacidade destes para prevenir e combater a criminalidade organizada
transnacional;
b) Para aumentar a assistência financeira e material aos países em desenvolvimento, a fim de
apoiar os seus esforços para combater eficazmente a criminalidade organizada transnacional e
ajudá-los a aplicar com êxito a presente Convenção;
c) Para fornecer uma assistência técnica aos países em desenvolvimento e aos países com
uma economia de transição, a fim de ajudá-los a obter meios para a aplicação da presente
Convenção. Para este efeito, os Estados Partes procurarão destinar voluntariamente
contribuições adequadas e regulares a uma conta constituída especificamente para este fim no
âmbito de um mecanismo de financiamento das Nações Unidas. Os Estados Partes poderão
também considerar, especificamente, em conformidade com o seu direito interno e as
disposições da presente Convenção, a possibilidade de destinarem à conta acima referida uma
percentagem dos fundos ou do valor correspondente do produto do crime ou dos bens
confiscados em aplicação das disposições da presente Convenção;
d) Para incentivar e persuadir outros Estados e instituições financeiras, quando tal se justifique,
a associarem-se aos esforços desenvolvidos em conformidade com o presente Artigo,
nomeadamente fornecendo aos países em desenvolvimento mais programas de formação e
material moderno, a fim de os ajudar a alcançar os objetivos da presente Convenção.
e) Tanto quanto possível, estas medidas serão tomadas sem prejuízo dos compromissos
existentes em matéria de assistência externa ou de outros acordos de cooperação financeira a
nível bilateral, regional ou internacional.
4. Os Estados Partes poderão celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais
relativos a assistência técnica e logística, tendo em conta os acordos financeiros necessários
para assegurar a eficácia dos meios de cooperação internacional previstos na presente
Convenção, e para prevenir, detectar e combater a criminalidade organizada transnacional.
Artigo 31
Prevenção
1. Os Estados Partes procurarão elaborar e avaliar projetos nacionais, bem como estabelecer e
promover as melhores práticas e políticas para prevenir a criminalidade organizada
transnacional.
2. Em conformidade com os princípios fundamentais do seu direito interno, os Estados Partes
procurarão reduzir, através de medidas legislativas, administrativas ou outras que sejam
adequadas, as possibilidades atuais ou futuras de participação de grupos criminosos
organizados em negócios lícitos utilizando o produto do crime. Estas medidas deverão incidir:
a) No fortalecimento da cooperação entre autoridades competentes para a aplicação da lei ou
promotores e entidades privadas envolvidas, incluindo empresas;
b) Na promoção da elaboração de normas e procedimentos destinados a preservar a
integridade das entidades públicas e privadas envolvidas, bem como de códigos de conduta
para determinados profissionais, em particular advogados, tabeliães, consultores tributários e
contadores;
c) Na prevenção da utilização indevida, por grupos criminosos organizados, de concursos
públicos, bem como de subvenções e licenças concedidas por autoridades públicas para a
realização de atividades comerciais;
d) Na prevenção da utilização indevida de pessoas jurídicas por grupos criminosos
organizados; estas medidas poderão incluir:
i) O estabelecimento de registros públicos de pessoas jurídicas e físicas envolvidas na criação,
gestão e financiamento de pessoas jurídicas;
ii) A possibilidade de privar, por decisão judicial ou por qualquer outro meio adequado, as
pessoas condenadas por infrações previstas na presente Convenção, por um período
adequado, do direito de exercerem funções de direção de pessoas jurídicas estabelecidas no
seu território;
iii) O estabelecimento de registos nacionais de pessoas que tenham sido privadas do direito de
exercerem funções de direção de pessoas jurídicas; e
iv) O intercâmbio de informações contidas nos registros referidos nas incisos i) e iii) da
presente alínea com as autoridades competentes dos outros Estados Partes.
3. Os Estados Partes procurarão promover a reinserção na sociedade das pessoas
condenadas por infraçõesprevistas na presente Convenção.
4. Os Estados Partes procurarão avaliar periodicamente os instrumentos jurídicos e as práticas
administrativas aplicáveis, a fim de determinar se contêm lacunas que permitam aos grupos
criminosos organizados fazerem deles utilização indevida.
5. Os Estados Partes procurarão sensibilizar melhor o público para a existência, as causas e a
gravidade da criminalidade organizada transnacional e para a ameaça que representa.
Poderão fazê-lo, quando for o caso, por intermédio dos meios de comunicação social e
adotando medidas destinadas a promover a participação do público nas ações de prevenção e
combate à criminalidade.
6. Cada Estado Parte comunicará ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas o
nome e o endereço da(s) autoridade(s) que poderão assistir os outros Estados Partes na
aplicação das medidas de prevenção do crime organizado transnacional.
7. Quando tal se justifique, os Estados Partes colaborarão, entre si e com as organizações
regionais e internacionais competentes, a fim de promover e aplicar as medidas referidas no
presente Artigo. A este título, participarão em projetos internacionais que visem prevenir a
criminalidade organizada transnacional, atuando, por exemplo, sobre os fatores que tornam os
grupos socialmente marginalizados vulneráveis à sua ação.
Artigo 32
Conferência das Partes na Convenção
1. Será instituída uma Conferência das Partes na Convenção, para melhorar a capacidade dos
Estados Partes no combate à criminalidade organizada transnacional e para promover e
analisar a aplicação da presente Convenção.
2. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas convocará a Conferência das Partes,
o mais tardar, um ano após a entrada em vigor da presente Convenção. A Conferência das
Partes adotará um regulamento interno e regras relativas às atividades enunciadas nos
parágrafos 3 e 4 do presente Artigo (incluindo regras relativas ao financiamento das despesas
decorrentes dessas atividades).
3. A Conferência das Partes acordará em mecanismos destinados a atingir os objetivos
referidos no parágrafo 1 do presente Artigo, nomeadamente:
a) Facilitando as ações desenvolvidas pelos Estados Partes em aplicação dos Artigos 29, 30 e
31 da presente Convenção, inclusive incentivando a mobilização de contribuições voluntárias;
b) Facilitando o intercâmbio de informações entre Estados Partes sobre as características e
tendências da criminalidade organizada transnacional e as práticas eficazes para a combater;
c) Cooperando com as organizações regionais e internacionais e as organizações não-
governamentais competentes;
d) Avaliando, a intervalos regulares, a aplicação da presente Convenção;
e) Formulando recomendações a fim de melhorar a presente Convenção e a sua aplicação;
4. Para efeitos das alíneas d) e e) do parágrafo 3 do presente Artigo, a Conferência das Partes
inteirar-se-á das medidas adotadas e das dificuldades encontradas pelos Estados Partes na
aplicação da presente Convenção, utilizando as informações que estes lhe comuniquem e os
mecanismos complementares de análise que venha a criar.
5. Cada Estado Parte comunicará à Conferência das Partes, a solicitação desta, informações
sobre os seus programas, planos e práticas, bem como sobre as suas medidas legislativas e
administrativas destinadas a aplicar a presente Convenção.
Artigo 33
Secretariado
1. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas fornecerá os serviços de
secretariado necessários à Conferência das Partes na Convenção.
2. O secretariado:
a) Apoiará a Conferência das Partes na realização das atividades enunciadas no Artigo 32 da
presente Convenção, tomará as disposições e prestará os serviços necessários para as
sessões da Conferência das Partes;
b) Assistirá os Estados Partes, a pedido destes, no fornecimento à Conferência das Partes das
informações previstas no parágrafo 5 do Artigo 32 da presente Convenção; e
c) Assegurará a coordenação necessária com os secretariados das organizações regionais e
internacionais.
Artigo 34
Aplicação da Convenção
1. Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias, incluindo legislativas e administrativas,
em conformidade com os princípios fundamentais do seu direito interno, para assegurar o
cumprimento das suas obrigações decorrentes da presente Convenção.
2. As infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção serão incorporadas
no direito interno de cada Estado Parte, independentemente da sua natureza transnacional ou
da implicação de um grupo criminoso organizado nos termos do parágrafo 1 do Artigo 3 da
presente Convenção, salvo na medida em que o Artigo 5 da presente Convenção exija o
envolvimento de um grupo criminoso organizado.
3. Cada Estado Parte poderá adotar medidas mais estritas ou mais severas do que as
previstas na presente Convenção a fim de prevenir e combater a criminalidade organizada
transnacional.
Artigo 35
Solução de Controvérsias
1. Os Estados Partes procurarão solucionar controvérsias relativas à interpretação ou aplicação
da presente Convenção por negociação direta.
2. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados Partes relativa à interpretação ou
aplicação da presente Convenção que não possa ser resolvida por via negocial num prazo
razoável será, a pedido de um destes Estados Partes, submetida a arbitragem. Se, no prazo de
seis meses a contar da data do pedido de arbitragem, os Estados Partes não chegarem a
acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer deles poderá submeter a controvérsia ao
Tribunal Internacional de Justiça, mediante requerimento em conformidade com o Estatuto do
Tribunal.
3. Qualquer Estado Parte poderá, no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação ou
da aprovação da presente Convenção, ou da adesão a esta, declarar que não se considera
vinculado pelo parágrafo 2 do presente Artigo. Os outros Estados Partes não estarão
vinculados pelo parágrafo 2 do presente Artigo em relação a qualquer Estado Parte que tenha
formulado esta reserva.
4. Um Estado Parte que tenha formulado uma reserva ao abrigo do parágrafo 3 do presente
Artigo poderá retirá-la a qualquer momento, mediante notificação do Secretário Geral da
Organização das Nações Unidas.
Artigo 36
Assinatura, ratificação, aceitação, aprovação e adesão
1. A presente Convenção será aberta à assinatura de todos os Estados entre 12 e 15 de
Dezembro de 2000, em Palermo (Itália) e, seguidamente, na sede da Organização das Nações
Unidas, em Nova Iorque, até 12 de Dezembro de 2002.
2. A presente Convenção estará igualmente aberta à assinatura de organizações regionais de
integração econômica, desde que pelos menos um Estado-Membro dessa organização tenha
assinado a presente Convenção, em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo.
3. A presente Convenção será submetida a ratificação, aceitação ou aprovação. Os
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados junto do Secretário
Geral da Organização das Nações Unidas. Uma organização regional de integração econômica
poderá depositar os seus instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação se pelo menos
um dos seus Estados-Membros o tiver feito. Neste instrumento de ratificação, aceitação ou
aprovação, a organização declarará o âmbito da sua competência em relação às questões que
são objeto da presente Convenção. Informará igualmente o depositário de qualquer alteração
relevante do âmbito da sua competência.
4. A presente Convenção estará aberta à adesão de qualquer Estado ou de qualquer
organização regional de integração econômica de que, pelo menos, um Estado membro seja
parte na presente Convenção. Os instrumentos de adesão serão depositados junto do
Secretário Geral da Organização das Nações Unidas. No momento da sua adesão, uma
organização regional de integração econômica declarará o âmbito da sua competência em
relação às questões que são objeto da presente Convenção. Informará igualmenteo
depositário de qualquer alteração relevante do âmbito dessa competência.
Artigo 37
Relação com os protocolos
1. A presente Convenção poderá ser completada por um ou mais protocolos.
2. Para se tornar Parte num protocolo, um Estado ou uma organização regional de integração
econômica deverá igualmente ser Parte na presente Convenção.
3. Um Estado Parte na presente Convenção não estará vinculado por um protocolo, a menos
que se torne Parte do mesmo protocolo, em conformidade com as disposições deste.
4. Qualquer protocolo à presente Convenção será interpretado conjuntamente com a presente
Convenção, tendo em conta a finalidade do mesmo protocolo.
Artigo 38
Entrada em vigor
1. A presente Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data de depósito do
quadragésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão. Para efeitos do
presente número, nenhum dos instrumentos depositados por uma organização regional de
integração econômica será somado aos instrumentos já depositados pelos Estados membros
dessa organização.
2. Para cada Estado ou organização regional de integração econômica que ratifique, aceite ou
aprove a presente Convenção ou a ela adira após o depósito do quadragésimo instrumento
pertinente, a presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia seguinte à data de
depósito do instrumento pertinente do referido Estado ou organização.
Artigo 39
Emendas
1. Quando tiverem decorrido cinco anos a contar da entrada em vigor da presente Convenção,
um Estado Parte poderá propor uma emenda e depositar o respectivo texto junto do Secretário
Geral da Organização das Nações Unidas, que em seguida comunicará a proposta de emenda
aos Estados Partes e à Conferência das Partes na Convenção, para exame da proposta e
adoção de uma decisão. A Conferência das Partes esforçar-se-á por chegar a um consenso
sobre qualquer emenda. Se todos os esforços nesse sentido se tiverem esgotado sem que se
tenha chegado a acordo, será necessário, como último recurso para que a emenda seja
aprovada, uma votação por maioria de dois terços dos votos expressos dos Estados Partes
presentes na Conferência das Partes.
2. Para exercerem, ao abrigo do presente Artigo, o seu direito de voto nos domínios em que
sejam competentes, as organizações regionais de integração econômica disporão de um
número de votos igual ao número dos seus Estados-Membros que sejam Partes na presente
Convenção. Não exercerão o seu direito de voto quando os seus Estados-Membros exercerem
os seus, e inversamente.
3. Uma emenda aprovada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo estará
sujeita à ratificação, aceitação ou aprovação dos Estados Partes.
4. Uma emenda aprovada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo entrará em
vigor para um Estado Parte noventa dias após a data de depósito pelo mesmo Estado Parte
junto do Secretário Geral da Organização das Nações Unidas de um instrumento de ratificação,
aceitação ou aprovação da referida emenda.
5. Uma emenda que tenha entrado em vigor será vinculativa para os Estados Partes que
tenham declarado o seu consentimento em serem por ela vinculados. Os outros Estados
Partes permanecerão vinculados pelas disposições da presente Convenção e por todas as
emendas anteriores que tenham ratificado, aceite ou aprovado.
Artigo 40
Denúncia
1. Um Estado Parte poderá denunciar a presente Convenção mediante notificação escrita
dirigida ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva
um ano após a data da recepção da notificação pelo Secretário Geral.
2. Uma organização regional de integração econômica cessará de ser Parte na presente
Convenção quando todos os seus Estados-Membros a tenham denunciado.
3. A denúncia da presente Convenção, em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo,
implica a denúncia de qualquer protocolo a ela associado.
Artigo 41
Depositário e línguas
1. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas será o depositário da presente
Convenção.
2. O original da presente Convenção, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês
e russo fazem igualmente fé, será depositado junto do Secretário Geral da Organização das
Nações Unidas.
EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente mandatados para o efeito
pelos respectivos Governos, assinaram a presente Convenção.
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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 5.017, DE 12 DE MARÇO DE 2004
Promulga o Protocolo Adicional à Convenção
das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção,
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas,
em Especial Mulheres e Crianças.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 231, de
29 de maio de 2003, o texto do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, adotado em Nova York em 15 de novembro de
2000;
Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação junto à
Secretaria-Geral da ONU em 29 de janeiro de 2004;
Considerando que o Protocolo entrou em vigor internacional em 29 de setembro de 2003, e
entrou em vigor para o Brasil em 28 de fevereiro de 2004;
DECRETA:
Art. 1o O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressãoe Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial
Mulheres e Crianças, adotado em Nova York em 15 de novembro de 2000, apenso por cópia
ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.
Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar
em revisão do referido Protocolo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 12 de março de 2004; 183o da Independência e 116o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Samuel Pinheiro Guimarães Neto
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.3.2004
PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME
ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO À PREVENÇÃO, REPRESSÃO E PUNIÇÃO
DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS
PREÂMBULO
Os Estados Partes deste Protocolo,
Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial
mulheres e crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de destino uma
abordagem global e internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir esse tráfico, punir
os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico, designadamente protegendo os seus direitos
fundamentais, internacionalmente reconhecidos,
Tendo em conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais
que contêm normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas,
especialmente mulheres e crianças, não existe nenhum instrumento universal que trate de
todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas,
Preocupados com o fato de na ausência desse instrumento, as pessoas vulneráveis ao tráfico
não estarem suficientemente protegidas,
Recordando a Resolução 53/111 da Assembléia Geral, de 9 de Dezembro de 1998, na qual a
Assembléia decidiu criar um comitê intergovernamental especial, de composição aberta, para
elaborar uma convenção internacional global contra o crime organizado transnacional e
examinar a possibilidade de elaborar, designadamente, um instrumento internacional de luta
contra o tráfico de mulheres e de crianças.
Convencidos de que para prevenir e combater esse tipo de criminalidade será útil completar a
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional com um instrumento
internacional destinado a prevenir, reprimir e punir o tráfico de pessoas, em especial mulheres
e crianças,
Acordaram o seguinte:
I. Disposições Gerais
Artigo 1
Relação com a Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional
1. O presente Protocolo completa a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional e será interpretado em conjunto com a Convenção.
2. As disposições da Convenção aplicar-se-ão mutatis mutandis ao presente Protocolo, salvo
se no mesmo se dispuser o contrário.
3. As infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5 do presente Protocolo serão
consideradas como infrações estabelecidas em conformidade com a Convenção.
Artigo 2
Objetivo
Os objetivos do presente Protocolo são os seguintes:
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às mulheres e às
crianças;
b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos
humanos; e
c) Promover a cooperação entre os Estados Partes de forma a atingir esses objetivos.
Artigo 3
Definições
Para efeitos do presente Protocolo:
a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o
alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras
formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A
exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de
exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de
exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido
utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança
para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não envolvam
nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo;
d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.
Artigo 4
Âmbito de aplicação
O presente Protocolo aplicar-se-á, salvo disposição em contrário, à prevenção, investigação e
repressão das infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5 do presente Protocolo,
quando essas infrações forem de natureza transnacional e envolverem grupo criminoso
organizado, bem como à proteção das vítimas dessas infrações.
Artigo5
Criminalização
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que considere necessárias de
forma a estabelecer como infrações penais os atos descritos no Artigo 3 do presente Protocolo,
quando tenham sido praticados intencionalmente.
2. Cada Estado Parte adotará igualmente as medidas legislativas e outras que considere
necessárias para estabelecer como infrações penais:
a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais do seu sistema jurídico, a tentativa de cometer
uma infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo;
b) A participação como cúmplice numa infração estabelecida em conformidade com o
parágrafo 1 do presente Artigo; e
c) Organizar a prática de uma infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1 do
presente Artigo ou dar instruções a outras pessoas para que a pratiquem.
II. Proteção de vítimas de tráfico de pessoas
Artigo 6
Assistência e proteção às vítimas de tráfico de pessoas
1. Nos casos em que se considere apropriado e na medida em que seja permitido pelo seu
direito interno, cada Estado Parte protegerá a privacidade e a identidade das vítimas de tráfico
de pessoas, incluindo, entre outras (ou inter alia), a confidencialidade dos procedimentos
judiciais relativos a esse tráfico.
2. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistema jurídico ou administrativo contenha
medidas que forneçam às vítimas de tráfico de pessoas, quando necessário:
a) Informação sobre procedimentos judiciais e administrativos aplicáveis;
b) Assistência para permitir que as suas opiniões e preocupações sejam apresentadas e
tomadas em conta em fases adequadas do processo penal instaurado contra os autores das
infrações, sem prejuízo dos direitos da defesa.
3. Cada Estado Parte terá em consideração a aplicação de medidas que permitam a
recuperação física, psicológica e social das vítimas de tráfico de pessoas, incluindo, se for caso
disso, em cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações
competentes e outros elementos de sociedade civil e, em especial, o fornecimento de:
a) Alojamento adequado;
b) Aconselhamento e informação, especialmente quanto aos direitos que a lei lhes reconhece,
numa língua que compreendam;
c) Assistência médica, psicológica e material; e
d) Oportunidades de emprego, educação e formação.
4. Cada Estado Parte terá em conta, ao aplicar as disposições do presente Artigo, a idade, o
sexo e as necessidades específicas das vítimas de tráfico de pessoas, designadamente as
necessidades específicas das crianças, incluindo o alojamento, a educação e cuidados
adequados.
5. Cada Estado Parte envidará esforços para garantir a segurança física das vítimas de tráfico
de pessoas enquanto estas se encontrarem no seu território.
6. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistemajurídico contenha medidas que ofereçam
às vítimas de tráfico de pessoas a possibilidade de obterem indenização pelos danos sofridos.
Artigo 7
Estatuto das vítimas de tráfico de pessoas nos Estados de acolhimento
1. Além de adotar as medidas em conformidade com o Artigo 6 do presente Protocolo, cada
Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas ou outras medidas
adequadas que permitam às vítimas de tráfico de pessoas permanecerem no seu território a
título temporário ou permanente, se for caso disso.
2. Ao executar o disposto no parágrafo 1 do presente Artigo, cada Estado Parte terá
devidamente em conta fatores humanitários e pessoais.
Artigo 8
Repatriamento das vítimas de tráfico de pessoas
1. O Estado Parte do qual a vítima de tráfico de pessoas é nacional ou no qual a pessoa tinha
direito de residência permanente, no momento de entrada no território do Estado Parte de
acolhimento, facilitará e aceitará, sem demora indevida ou injustificada, o regresso dessa
pessoa, tendo devidamente em conta a segurança da mesma.
2. Quando um Estado Parte retornar uma vítima de tráfico de pessoas a um Estado Parte do
qual essa pessoa seja nacional ou no qual tinha direito de residência permanente no momento
de entrada no território do Estado Parte de acolhimento, esse regresso levará devidamente em
conta a segurança da pessoa bem como a situação de qualquer processo judicial relacionado
ao fato de tal pessoa ser uma vítima de tráfico, preferencialmente de forma voluntária.
3. A pedido do Estado Parte de acolhimento, um Estado Parte requerido verificará, sem
demora indevida ou injustificada, se uma vítima de tráfico de pessoas é sua nacional ou se
tinha direito de residência permanente no seu território no momento de entrada no território do
Estado Parte de acolhimento.
4. De forma a facilitar o regresso de uma vítima de tráfico de pessoas que não possua os
documentos devidos, o Estado Parte do qual essa pessoa é nacional ou no qual tinha direito de
residência permanente no momento de entrada no território do Estado Parte de acolhimento
aceitará emitir, a pedido do Estado Parte de acolhimento, os documentos de viagem ou outro
tipo de autorização necessária que permita à pessoa viajar e ser readmitida no seu território.
5. O presente Artigo não prejudica os direitos reconhecidos às vítimas de tráfico de pessoas
por força de qualquer disposição do direito interno do Estado Parte de acolhimento.
6.O presente Artigo não prejudica qualquer acordo ou compromisso bilateral ou multilateral
aplicável que regule, no todo ou em parte, o regresso de vítimas de tráfico de pessoas.
III. Prevenção, cooperação e outras medidas
Artigo 9
Prevenção do tráfico de pessoas
1. Os Estados Partes estabelecerão políticas abrangentes, programas e outras medidas para:
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e
b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, de
nova vitimação.
2. Os Estados Partes envidarão esforços para tomarem medidas tais como pesquisas,
campanhas de informação e de difusão através dos órgãos de comunicação, bem como
iniciativas sociais e econômicas de forma a prevenir e combater o tráfico de pessoas.
3. As políticas, programas e outras medidas estabelecidas em conformidade com o presente
Artigo incluirão, se necessário, a cooperação com organizações não-governamentais, outras
organizações relevantes e outros elementos da sociedade civil.
4. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão as medidas, inclusive mediante a cooperação
bilateral ou multilateral, para reduzir os fatores como a pobreza, o subdesenvolvimento e a
desigualdade de oportunidades que tornam as pessoas, especialmente as mulheres e as
crianças, vulneráveis ao tráfico.
5. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão as medidas legislativas ou outras, tais como
medidas educacionais, sociais ou culturais, inclusive mediante a cooperação bilateral ou
multilateral, a fim de desencorajar a procura que fomenta todo o tipo de exploração de
pessoas, especialmente de mulheres e crianças, conducentes ao tráfico.
Artigo 10
Intercâmbio de informações e formação
1. As autoridades competentes para a aplicação da lei, os serviços de imigração ou outros
serviços competentes dos Estados Partes, cooperarão entre si, na medida do possível,
mediante troca de informações em conformidade com o respectivo direito interno, com vistas a
determinar:
a) Se as pessoas que atravessam ou tentam atravessar uma fronteira internacional com
documentos de viagem pertencentes a terceiros ou sem documentos de viagem são autores ou
vítimas de tráfico de pessoas;
b) Os tipos de documentos de viagem que as pessoas têm utilizado ou tentado utilizar para
atravessar uma fronteira internacional com o objetivo de tráfico de pessoas; e
c) Os meios e métodos utilizados por grupos criminosos organizados com o objetivo de tráfico
de pessoas, incluindo o recrutamento e o transporte de vítimas, os itinerários e as ligações
entre as pessoas e os grupos envolvidos no referido tráfico, bem como as medidas adequadas
à sua detecção.
2. Os Estados Partes assegurarão ou reforçarão a formação dos agentes dos serviços
competentes para a aplicação da lei, dos serviços de imigração ou de outros serviços
competentes na prevenção do tráfico de pessoas. A formação deve incidir sobre os métodos
utilizados na prevenção do referido tráfico, na ação penal contra os traficantes e na proteção
das vítimas, inclusive protegendo-as dos traficantes. A formação deverá também ter em conta
a necessidade de considerar os direitos humanos e os problemas específicos das mulheres e
das crianças bem como encorajar a cooperação com organizações não-governamentais, outras
organizações relevantes e outros elementos da sociedade civil.
3. Um Estado Parte que receba informações respeitará qualquer pedido do Estado Parte que
transmitiu essas informações, no sentido de restringir sua utilização.
Artigo 11
Medidas nas fronteiras
1. Sem prejuízo dos compromissos internacionais relativos à livre circulação de pessoas, os
Estados Partes reforçarão, na medida do possível, os controles fronteiriços necessários para
prevenir e detectar o tráfico de pessoas.
2. Cada Estado Parte adotará medidas legislativas ou outras medidas apropriadas para
prevenir, na medida do possível, a utilização de meios de transporte explorados por
transportadores comerciais na prática de infrações estabelecidas em conformidade com o
Artigo 5 do presente Protocolo.
3. Quando se considere apropriado, e sem prejuízo das convenções internacionais aplicáveis,
tais medidas incluirão o estabelecimento da obrigação para os transportadores comerciais,
incluindo qualquer empresa de transporte, proprietário ou operador de qualquer meio de
transporte, de certificar-se de que todos os passageiros sejam portadores dos documentos de
viagem exigidos para a entrada no Estado de acolhimento.
4. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias, em conformidade com o seu direito
interno, para aplicar sanções em caso de descumprimento da obrigação constante do
parágrafo 3 do presente Artigo.
5. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de tomar medidas que permitam, em
conformidade com o direito interno, recusar a entrada ou anular os vistos de pessoas
envolvidas na prática de infrações estabelecidas em conformidade com o presente Protocolo.
6. Sem prejuízo do disposto no Artigo 27 da Convenção, os Estados Partes procurarão
intensificar a cooperação entre os serviços de controle de fronteiras, mediante, entre outros, o
estabelecimento e a manutenção de canais de comunicação diretos.
Artigo 12
Segurança e controle dos documentos
Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias, de acordo com os meios disponíveis para:
a) Assegurar a qualidade dos documentos de viagem ou de identidade que emitir, para que não
sejam indevidamente utilizados nem facilmente falsificados ou modificados,reproduzidos ou
emitidos de forma ilícita; e
b) Assegurar a integridade e a segurança dos documentos de viagem ou de identidade por si
ou em seu nome emitidos e impedir a sua criação, emissão e utilização ilícitas.
Artigo 13
Legitimidade e validade dos documentos
A pedido de outro Estado Parte, um Estado Parte verificará, em conformidade com o seu direito
interno e dentro de um prazo razoável, a legitimidade e validade dos documentos de viagem ou
de identidade emitidos ou supostamente emitidos em seu nome e de que se suspeita terem
sido utilizados para o tráfico de pessoas.
IV. Disposições finais
Artigo 14
Cláusula de salvaguarda
1. Nenhuma disposição do presente Protocolo prejudicará os direitos, obrigações e
responsabilidades dos Estados e das pessoas por força do direito internacional, incluindo o
direito internacional humanitário e o direito internacional relativo aos direitos humanos e,
especificamente, na medida em que sejam aplicáveis, a Convenção de 1951 e o Protocolo de
1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados e ao princípio do non-refoulement neles enunciado.
2. As medidas constantes do presente Protocolo serão interpretadas e aplicadas de forma a
que as pessoas que foram vítimas de tráfico não sejam discriminadas. A interpretação e
aplicação das referidas medidas estarão em conformidade com os princípios de não-
discriminação internacionalmente reconhecidos.
Artigo 15
Solução de controvérsias
1. Os Estados Partes envidarão esforços para resolver as controvérsias relativas à
interpretação ou aplicação do presente Protocolo por negociação direta.
2. As controvérsias entre dois ou mais Estados Partes com respeito à aplicação ou à
interpretação do presente Protocolo que não possam ser resolvidas por negociação, dentro de
um prazo razoável, serão submetidas, a pedido de um desses Estados Partes, a arbitragem.
Se, no prazo de seis meses após a data do pedido de arbitragem, esses Estados Partes não
chegarem a um acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer desses Estados Partes
poderá submeter o diferendo ao Tribunal Internacional de Justiça mediante requerimento, em
conformidade com o Estatuto do Tribunal.
3. Cada Estado Parte pode, no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação ou da
aprovação do presente Protocolo ou da adesão ao mesmo, declarar que não se considera
vinculado ao parágrafo 2 do presente Artigo. Os demais Estados Partes não ficarão vinculados
ao parágrafo 2 do presente Artigo em relação a qualquer outro Estado Parte que tenha feito
essa reserva.
4. Qualquer Estado Parte que tenha feito uma reserva em conformidade com o parágrafo 3 do
presente Artigo pode, a qualquer momento, retirar essa reserva através de notificação ao
Secretário-Geral das Nações Unidas.
Artigo 16
Assinatura, ratificação, aceitação, aprovação e adesão
1. O presente Protocolo será aberto à assinatura de todos os Estados de 12 a 15 de Dezembro
de 2000 em Palermo, Itália, e, em seguida, na sede da Organização das Nações Unidas em
Nova Iorque até 12 de Dezembro de 2002.
2. O presente Protocolo será igualmente aberto à assinatura de organizações regionais de
integração econômica na condição de que pelo menos um Estado membro dessa organização
tenha assinado o presente Protocolo em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo.
3. O presente Protocolo está sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação. Os instrumentos de
ratificação, de aceitação ou de aprovação serão depositados junto ao Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas. Uma organização regional de integração econômica pode
depositar o seu instrumento de ratificação, de aceitação ou de aprovação se pelo menos um
dos seus Estados membros o tiver feito. Nesse instrumento de ratificação, de aceitação e de
aprovação essa organização declarará o âmbito da sua competência relativamente às matérias
reguladas pelo presente Protocolo. Informará igualmente o depositário de qualquer modificação
relevante do âmbito da sua competência.
4. O presente Protocolo está aberto à adesão de qualquer Estado ou de qualquer organização
regional de integração econômica da qual pelo menos um Estado membro seja Parte do
presente Protocolo. Os instrumentos de adesão serão depositados junto do Secretário-Geral
das Nações Unidas. No momento da sua adesão, uma organização regional de integração
econômica declarará o âmbito da sua competência relativamente às matérias reguladas pelo
presente Protocolo. Informará igualmente o depositário de qualquer modificação relevante do
âmbito da sua competência.
Artigo 17
Entrada em vigor
1. O presente Protocolo entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do depósito do
quadragésimo instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão mas não
antes da entrada em vigor da Convenção. Para efeitos do presente número, nenhum
instrumento depositado por uma organização regional de integração econômica será somado
aos instrumentos depositados por Estados membros dessa organização.
2. Para cada Estado ou organização regional de integração econômica que ratifique, aceite,
aprove ou adira ao presente Protocolo após o depósito do quadragésimo instrumento
pertinente, o presente Protocolo entrará em vigor no trigésimo dia seguinte à data de depósito
desse instrumento por parte do Estado ou organização ou na data de entrada em vigor do
presente Protocolo, em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo, se esta for
posterior.
Artigo 18
Emendas
1. Cinco anos após a entrada em vigor do presente Protocolo, um Estado Parte no Protocolo
pode propor emenda e depositar o texto junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, que em
seguida comunicará a proposta de emenda aos Estados Partes e à Conferência das Partes na
Convenção para analisar a proposta e tomar uma decisão. Os Estados Partes no presente
Protocolo reunidos na Conferência das Partes farão todos os esforços para chegar a um
consenso sobre qualquer emenda. Se todos os esforços para chegar a um consenso forem
esgotados e não se chegar a um acordo, será necessário, em último caso, para que a
alteração seja aprovada, uma maioria de dois terços dos Estados Partes no presente
Protocolo, que estejam presentes e expressem o seu voto na Conferência das Partes.
2. As organizações regionais de integração econômica, em matérias da sua competência,
exercerão o seu direito de voto nos termos do presente Artigo com um número de votos igual
ao número dos seus Estados membros que sejam Partes no presente Protocolo. Essas
organizações não exercerão seu direito de voto se seus Estados membros exercerem o seu e
vice-versa.
3. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo estará sujeita
a ratificação, aceitação ou aprovação dos Estados Partes.
4. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Protocolo entrará
em vigor para um Estado Parte noventa dias após a data do depósito do instrumento de
ratificação, de aceitação ou de aprovação da referida emenda junto ao Secretário-Geral das
Nações Unidas.
5. A entrada em vigor de uma emenda vincula as Partes que manifestaram o seu
consentimento em obrigar-se por essa alteração. Os outros Estados Partes permanecerão
vinculados pelas disposições do presente Protocolo, bem como por qualquer alteração anterior
que tenham ratificado, aceito ou aprovado.
Artigo 19
Denúncia
1. Um Estado Parte pode denunciar o presente Protocolo mediante notificação por escrito
dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano após a
data de recepção da notificação pelo Secretário-Geral.
2. Uma organização regional de integração econômica deixará de ser Parte no presente
Protocolo quando todos os seus Estados membros o tiverem denunciado.
Artigo 20
Depositário e idiomas
1. O Secretário-Geral das Nações Unidas é o depositário do presente Protocolo.
2. O original do presente Protocolo, cujos textos em árabe, chinês, espanhol,francês, inglês e
russo são igualmente autênticos, será depositado junto ao Secretário-Geral das Nações
Unidas.
EM FÉ DO QUE, os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente autorizados pelos seus
respectivos Governos, assinaram o presente Protocolo.
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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 5.687, DE 31 DE JANEIRO DE 2006.
Promulga a Convenção das Nações Unidas
contra a Corrupção, adotada pela Assembléia-
Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de
2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro
de 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção das Nações Unidas
contra a Corrupção, por meio do Decreto Legislativo nº 348, de 18 de maio de 2005;
Considerando que o Governo brasileiro ratificou a citada Convenção em 15 de junho de 2005;
Considerando que a Convenção entrou em vigor internacional, bem como para o Brasil, em 14
de dezembro de 2005;
DECRETA:
Art. 1o A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembléia-Geral
das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de
2003, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente
como nela se contém.
Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar
em revisão da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 31 de janeiro de 2006; 185o da Independência e 118o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Celso Luiz Nunes Amorim
Este texto não substitui o publicado no DOU de 1º.2.2006
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO
Preâmbulo
Os Estados Partes da presente convenção,
Preocupados com a gravidade dos problemas e com as ameaças decorrentes da corrupção,
para a estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer as instituições e os valores
da democracia, da ética e da justiça e ao comprometer o desenvolvimento sustentável e o
Estado de Direito;
Preocupados, também, pelos vínculos entre a corrupção e outras formas de delinqüência, em
particular o crime organizado e a corrupção econômica, incluindo a lavagem de dinheiro;
Preocupados, ainda, pelos casos de corrupção que penetram diversos setores da sociedade,
os quais podem comprometer uma proporção importante dos recursos dos Estados e que
ameaçam a estabilidade política e o desenvolvimento sustentável dos mesmos;
Convencidos de que a corrupção deixou de ser um problema local para converter-se em um
fenômeno transnacional que afeta todas as sociedades e economias, faz-se necessária a
cooperação internacional para preveni-la e lutar contra ela;
Convencidos, também, de que se requer um enfoque amplo e multidisciplinar para prevenir e
combater eficazmente a corrupção;
Convencidos, ainda, de que a disponibilidade de assistência técnica pode desempenhar um
papel importante para que os Estados estejam em melhores condições de poder prevenir e
combater eficazmente a corrupção, entre outras coisas, fortalecendo suas capacidades e
criando instituições;
Convencidos de que o enriquecimento pessoal ilícito pode ser particularmente nocivo para as
instituições democráticas, as economias nacionais e o Estado de Direito;
Decididos a prevenir, detectar e dissuadir com maior eficácia as transferências internacionais
de ativos adquiridos ilicitamente e a fortalecer a cooperação internacional para a recuperação
destes ativos;
Reconhecendo os princípios fundamentais do devido processo nos processos penais e nos
procedimentos civis ou administrativos sobre direitos de propriedade;
Tendo presente que a prevenção e a erradicação da corrupção são responsabilidades de
todos os Estados e que estes devem cooperar entre si, com o apoio e a participação de
pessoas e grupos que não pertencem ao setor público, como a sociedade civil, as
organizações não-governamentais e as organizações de base comunitárias, para que seus
esforços neste âmbito sejam eficazes;
Tendo presentes também os princípios de devida gestão dos assuntos e dos bens públicos,
eqüidade, responsabilidade e igualdade perante a lei, assim como a necessidade de
salvaguardar a integridade e fomentar uma cultura de rechaço à corrupção;
Elogiando o trabalho da Comissão de Prevenção de Delitos e Justiça Penal e o Escritório das
Nações Unidas contra as Drogas e o Delito na prevenção e na luta contra a corrupção;
Recordando o trabalho realizado por outras organizações internacionais e regionais nesta
esfera, incluídas as atividades do Conselho de Cooperação Aduaneira (também denominado
Organização Mundial de Aduanas), o Conselho Europeu, a Liga dos Estados Árabes, a
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos, a Organização dos Estados
Americanos, a União Africana e a União Européia;
Tomando nota com reconhecimento dos instrumentos multilaterais encaminhados para
prevenir e combater a corrupção, incluídos, entre outros, a Convenção Interamericana contra a
Corrupção, aprovada pela Organização dos Estados Americanos em 29 de março de 1996, o
Convênio relativo à luta contra os atos de corrupção no qual estão envolvidos funcionários das
Comunidades Européias e dos Estados Partes da União Européia, aprovado pelo Conselho da
União Européia em 26 de maio de 1997, o Convênio sobre a luta contra o suborno dos
funcionários públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais, aprovado pelo
Comitê de Ministros do Conselho Europeu em 27 de janeiro de 1999, o Convênio de direito civil
sobre a corrupção, aprovado pelo Comitê de Ministros do Conselho Europeu em 4 de
novembro de 1999 e a Convenção da União Africana para prevenir e combater a corrupção,
aprovada pelos Chefes de Estado e Governo da União Africana em 12 de julho de 2003;
Acolhendo com satisfação a entrada em vigor, em 29 de setembro de 2003, da Convenção
das Nações Unidas contra o Crime Organizado Internacional;
Chegaram em acordo ao seguinte:
Capítulo I
Disposições geraisArtigo 1
Finalidade
A finalidade da presente Convenção é:
a) Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz e eficientemente a
corrupção;
b) Promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência técnica na prevenção
e na luta contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos;
c) Promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos assuntos e dos
bens públicos.
Artigo 2
Definições
Aos efeitos da presente Convenção:
a) Por "funcionário público" se entenderá: i) toda pessoa que ocupe um cargo legislativo,
executivo, administrativo ou judicial de um Estado Parte, já designado ou empossado,
permanente ou temporário, remunerado ou honorário, seja qual for o tempo dessa pessoa no
cargo; ii) toda pessoa que desempenhe uma função pública, inclusive em um organismo
público ou numa empresa pública, ou que preste um serviço público, segundo definido na
legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente do ordenamento jurídico
desse Estado Parte; iii) toda pessoa definida como "funcionário público" na legislação interna
de um Estado Parte. Não obstante, aos efeitos de algumas medidas específicas incluídas no
Capítulo II da presente Convenção, poderá entender-se por "funcionário público" toda pessoa
que desempenhe uma função pública ou preste um serviço público segundo definido na
legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente do ordenamento jurídico
desse Estado Parte;
b) Por "funcionário público estrangeiro" se entenderá toda pessoa que ocupe um cargo
legislativo, executivo, administrativo ou judicial de um país estrangeiro, já designado ou
empossado; e toda pessoa que exerça uma função pública para um país estrangeiro, inclusive
em um organismo público ou uma empresa pública;
c) Por "funcionário de uma organização internacional pública" se entenderá um funcionário
público internacional ou toda pessoa que tal organização tenha autorizado a atuar em seu
nome;
d) Por "bens" se entenderá os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou
imóveis, tangíveis ou intangíveis e os documentos ou instrumentos legais que creditem a
propriedade ou outros direitos sobre tais ativos;
e) Por "produto de delito" se entenderá os bens de qualquer índole derivados ou obtidos direta
ou indiretamente da ocorrência de um delito;
f) Por "embargo preventivo" ou "apreensão" se entenderá a proibição temporária de transferir,
converter ou trasladar bens, ou de assumir a custódia ou o controle temporário de bens sobre a
base de uma ordem de um tribunal ou outra autoridade competente;
g) Por "confisco" se entenderá a privação em caráter definitivo de bens por ordem de um
tribunal ou outra autoridade competente;
h) Por "delito determinante" se entenderá todo delito do qual se derive um produto que possa
passar a constituir matéria de um delito definido no Artigo 23 da presente Convenção;
i) Por "entrega vigiada" se entenderá a técnica consistente em permitir que remessas ilícitas ou
suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem ou entrem nele, com o
conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes, com o fim de investigar
um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência.
Artigo 3
Âmbito de aplicação
1. A presente Convenção se aplicará, de conformidade com suas disposições, à prevenção, à
investigação e à instrução judicial da corrupção e do embargo preventivo, da apreensão, do
confisco e da restituição do produto de delitos identificados de acordo com a presente
Convenção.
2. Para a aplicação da presente Convenção, a menos que contenha uma disposição em
contrário, não será necessário que os delitos enunciados nela produzam dano ou prejuízo
patrimonial ao Estado.
Artigo 4
Proteção da soberania
1. Os Estados Partes cumprirão suas obrigações de acordo com a presente Convenção em
consonância com os princípios de igualdade soberana e integridade territorial dos Estados,
assim como de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados.
2. Nada do disposto na presente Convenção delegará poderes a um Estado Parte para
exercer, no território de outro Estado, jurisdição ou funções que a legislação interna desse
Estado reserve exclusivamente a suas autoridades.
Capítulo II
Medidas preventivas
Artigo 5
Políticas e práticas de prevenção da corrupção
1. Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, formulará e aplicará ou manterá em vigor políticas coordenadas e eficazes contra a
corrupção que promovam a participação da sociedade e reflitam os princípios do Estado de
Direito, a devida gestão dos assuntos e bens públicos, a integridade, a transparência e a
obrigação de render contas.
2. Cada Estado Parte procurará estabelecer e fomentar práticas eficazes encaminhadas a
prevenir a corrupção.
3. Cada Estado Parte procurará avaliar periodicamente os instrumentos jurídicos e as medidas
administrativas pertinentes a fim de determinar se são adequadas para combater a corrupção.
4. Os Estados Partes, segundo procede e de conformidade com os princípios fundamentais de
seu ordenamento jurídico, colaborarão entre si e com as organizações internacionais e
regionais pertinentes na promoção e formulação das medidas mencionadas no presente
Artigo. Essa colaboração poderá compreender a participação em programas e projetos
internacionais destinados a prevenir a corrupção.
Artigo 6
Órgão ou órgãos de prevenção à corrupção
1. Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, garantirá a existência de um ou mais órgãos, segundo procede, encarregados de
prevenir a corrupção com medidas tais como:
a) A aplicação das políticas as quais se faz alusão no Artigo 5 da presente Convenção e,
quando proceder, a supervisão e coordenação da prática dessas políticas;
b) O aumento e a difusão dos conhecimentos em matéria de prevenção da corrupção.
2. Cada Estado Parte outorgará ao órgão ou aos órgãos mencionados no parágrafo 1 do
presente Artigo a independência necessária, de conformidade com os princípios fundamentais
de seu ordenamento jurídico, para que possam desempenhar suas funções de maneira eficaz
e sem nenhuma influência indevida. Devem proporcionar-lhes os recursos materiais e o
pessoal especializado que sejam necessários, assim como a capacitação que tal pessoal
possa requerer para o desempenho de suas funções.
3. Cada Estado Parte comunicará ao Secretário Geral das Nações Unidas o nome e a direção
da(s) autoridade(s) que possa(m) ajudar a outros Estados Partes a formular e aplicar medidas
concretas de prevenção da corrupção.
Artigo 7
Setor Público
1. Cada Estado Parte, quando for apropriado e de conformidade com os princípios
fundamentais de seu ordenamento jurídico, procurará adotar sistemas de convocação,
contratação, retenção, promoção e aposentadoria de funcionários públicos e, quando proceder,
de outros funcionários públicos não empossados, ou manter e fortalecer tais sistemas. Estes:
a) Estarão baseados em princípios de eficiência e transparência e em critérios objetivos como
o mérito, a eqüidade e a aptidão;
b) Incluirão procedimentos adequados de seleção e formação dos titulares de cargos públicos
que se considerem especialmente vulneráveis à corrupção, assim como, quando proceder, a
rotação dessas pessoas em outros cargos;
c) Fomentarão uma remuneração adequada e escalas de soldo eqüitativas, tendo em conta o
nível de desenvolvimento econômico do Estado Parte;
d) Promoverão programas de formação e capacitação que lhes permitam cumprir os requisitos
de desempenho correto, honroso e devido de suas funções e lhes proporcionem capacitação
especializada e apropriada para que sejam mais conscientes dos riscos da corrupção inerentes
ao desempenho de suas funções. Tais programas poderão fazer referência a códigosou
normas de conduta nas esferas pertinentes.
2. Cada Estado Parte considerará também a possibilidade de adotar medidas legislativas e
administrativas apropriadas, em consonância com os objetivos da presente Convenção e de
conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, a fim de estabelecer
critérios para a candidatura e eleição a cargos públicos.
3. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e
administrativas apropriadas, em consonância com os objetivos da presente Convenção e de
conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, para aumentar a
transparência relativa ao financiamento de candidaturas a cargos públicos eletivos e, quando
proceder, relativa ao financiamento de partidos políticos.
4. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios de sua legislação interna, procurará
adotar sistemas destinados a promover a transparência e a prevenir conflitos de interesses, ou
a manter e fortalecer tais sistemas.
Artigo 8
Códigos de conduta para funcionários públicos
1. Com o objetivo de combater a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os
princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, promoverá, entre outras coisas, a
integridade, a honestidade e a responsabilidade entre seus funcionários públicos.
2. Em particular, cada Estado Parte procurará aplicar, em seus próprios ordenamentos
institucionais e jurídicos, códigos ou normas de conduta para o correto, honroso e devido
cumprimento das funções públicas.
3. Com vistas a aplicar as disposições do presente Artigo, cada Estado Parte, quando
proceder e em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
tomará nota das iniciativas pertinentes das organizações regionais, interregionais e
multilaterais, tais como o Código Internacional de Conduta para os titulares de cargos públicos,
que figura no anexo da resolução 51/59 da Assembléia Geral de 12 de dezembro de 1996.
4. Cada Estado Parte também considerará, em conformidade com os princípios fundamentais
de sua legislação interna, a possibilidade de estabelecer medidas e sistemas para facilitar que
os funcionários públicos denunciem todo ato de corrupção às autoridade competentes quando
tenham conhecimento deles no exercício de suas funções.
5. Cada Estado Parte procurará, quando proceder e em conformidade com os princípios
fundamentais de sua legislação interna, estabelecer medidas e sistemas para exigir aos
funcionários públicos que tenham declarações às autoridades competentes em relação, entre
outras coisas, com suas atividades externas e com empregos, inversões, ativos e presentes ou
benefícios importantes que possam das lugar a um conflito de interesses relativo a suas
atribuições como funcionários públicos.
6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar, em conformidade com os
princípios fundamentais de sua legislação interna, medidas disciplinares ou de outra índole
contra todo funcionário público que transgrida os códigos ou normas estabelecidos em
conformidade com o presente Artigo.
Artigo 9
Contratação pública e gestão da fazenda pública
1. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, adotará as medidas necessárias para estabelecer sistemas apropriados de
contratação pública, baseados na transparência, na competência e em critérios objetivos de
adoção de decisões, que sejam eficazes, entre outras coisas, para prevenir a corrupção. Esses
sistemas, em cuja aplicação se poderá ter em conta valores mínimos apropriados, deverão
abordar, entre outras coisas:
a) A difusão pública de informação relativa a procedimentos de contratação pública e
contratos, incluída informação sobre licitações e informação pertinente ou oportuna sobre a
adjudicação de contratos, a fim de que os licitadores potenciais disponham de tempo suficiente
para preparar e apresentar suas ofertas;
b) A formulação prévia das condições de participação, incluídos critérios de seleção e
adjudicação e regras de licitação, assim como sua publicação;
c) A aplicação de critérios objetivos e predeterminados para a adoção de decisões sobre a
contratação pública a fim de facilitar a posterior verificação da aplicação correta das regras ou
procedimentos;
d) Um mecanismo eficaz de exame interno, incluindo um sistema eficaz de apelação, para
garantir recursos e soluções legais no caso de não se respeitarem as regras ou os
procedimentos estabelecidos conforme o presente parágrafo;
e) Quando proceda, a adoção de medidas para regulamentar as questões relativas ao pessoal
encarregado da contratação pública, em particular declarações de interesse relativo de
determinadas contratações públicas, procedimentos de pré-seleção e requisitos de
capacitação.
2. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, adotará medidas apropriadas para promover a transparência e a obrigação de render
contas na gestão da fazenda pública. Essas medidas abarcarão, entre outras coisas:
a) Procedimentos para a aprovação do pressuposto nacional;
b) A apresentação oportuna de informação sobre gastos e ingressos;
c) Um sistema de normas de contabilidade e auditoria, assim como a supervisão
correspondente;
d) Sistemas eficazes e eficientes de gestão de riscos e controle interno; e
e) Quando proceda, a adoção de medidas corretivas em caso de não cumprimento dos
requisitos estabelecidos no presente parágrafo.
3. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação
interna, adotará as medidas que sejam necessárias nos âmbitos civil e administrativo para
preservar a integridade dos livros e registros contábeis, financeiros ou outros documentos
relacionados com os gastos e ingressos públicos e para prevenir a falsificação desses
documentos.
Artigo 10
Informação pública
Tendo em conta a necessidade de combater a corrupção, cada Estado Parte, em
conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas que
sejam necessárias para aumentar a transparência em sua administração pública, inclusive no
relativo a sua organização, funcionamento e processos de adoção de decisões, quando
proceder. Essas medidas poderão incluir, entre outras coisas:
a) A instauração de procedimentos ou regulamentações que permitam ao público em geral
obter, quando proceder, informação sobre a organização, o funcionamento e os processos de
adoção de decisões de sua administração pública, com o devido respeito à proteção da
intimidade e dos documentos pessoais, sobre as decisões e atos jurídicos que incumbam ao
público;
b) A simplificação dos procedimentos administrativos, quando proceder, a fim de facilitar o
acesso do público às autoridades encarregadas da adoção de decisões; e
c) A publicação de informação, o que poderá incluir informes periódicos sobre os riscos de
corrupção na administração pública.
Artigo 11
Medidas relativas ao poder judiciário e ao ministério público
1. Tendo presentes a independência do poder judiciário e seu papel decisivo na luta contra a
corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu
ordenamento jurídico e sem menosprezar a independência do poder judiciário, adotará
medidas para reforçar a integridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre os membros
do poder judiciário. Tais medidas poderão incluir normas que regulem a conduta dos membros
do poder judiciário.
2. Poderão formular-se e aplicar-se no ministério público medidas com idêntico fim às
adotadas no parágrafo 1 do presente Artigo nos Estados Partes em que essa instituição não
forme parte do poder judiciário mas goze de independência análoga.
Artigo 12
Setor Privado
1. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação
interna, adotará medidas para prevenir a corrupção e melhorar as normascontábeis e de
auditoria no setor privado, assim como, quando proceder, prever sanções civis, administrativas
ou penais eficazes, proporcionadas e dissuasivas em caso de não cumprimento dessas
medidas.
2. As medidas que se adotem para alcançar esses fins poderão consistir, entre outras coisas,
em:
a) Promover a cooperação entre os organismos encarregados de fazer cumprir a lei e as
entidades privadas pertinentes;
b) Promover a formulação de normas e procedimentos com o objetivo de salvaguardar a
integridade das entidades privadas pertinentes, incluídos códigos de conduta para o correto,
honroso e devido exercício das atividades comerciais e de todas as profissões pertinentes e
para a prevenção de conflitos de interesses, assim como para a promoção do uso de boas
práticas comerciais entre as empresas e as relações contratuais das empresas com o Estado;
c) Promover a transparência entre entidades privadas, incluídas, quando proceder, medidas
relativas à identificação das pessoas jurídicas e físicas envolvidas no estabelecimento e na
gestão de empresas;
d) Prevenir a utilização indevida dos procedimentos que regulam as entidades privadas,
incluindo os procedimentos relativos à concessão de subsídios e licenças pelas autoridades
públicas para atividades comerciais;
e) Prevenir os conflitos de interesse impondo restrições apropriadas, durante um período
razoável, às atividades profissionais de ex-funcionários públicos ou à contratação de
funcionários públicos pelo setor privado depois de sua renúncia ou aposentadoria quando
essas atividades ou essa contratação estejam diretamente relacionadas com as funções
desempenhadas ou supervisionadas por esses funcionários públicos durante sua permanência
no cargo;
f) Velar para que as empresas privadas, tendo em conta sua estrutura e tamanho, disponham
de suficientes controles contábeis internos para ajudar a prevenir e detectar os atos de
corrupção e para que as contas e os estados financeiros requeridos dessas empresas privadas
estejam sujeitos a procedimentos apropriados de auditoria e certificação;
3. A fim de prevenir a corrupção, cada estado parte adotará as medidas que sejam
necessárias, em conformidade com suas leis e regulamentos internos relativos à manutenção
de livros e registros, à divulgação de estados financeiros e às normas de contabilidade e
auditoria, para proibir os seguintes atos realizados com o fim de cometer quaisquer dos delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção:
a) O estabelecimento de contas não registradas em livros;
b) A realização de operações não registradas em livros ou mal especificadas;
c) O registro de gastos inexistentes;
d) O juízo de gastos nos livros de contabilidade com indicação incorreta de seu objetivo;
e) A utilização de documentos falsos; e
f) A destruição deliberada de documentos de contabilidade antes do prazo previsto em lei.
4. Cada Estado Parte ditará a dedução tributária relativa aos gastos que venham a constituir
suborno, que é um dos elementos constitutivos dos delitos qualificados de acordo com os
Artigos 15 e 16 da presente Convenção e, quando proceder, relativa a outros gastos que
tenham tido por objetivo promover um comportamento corrupto.
Artigo 13
Participação da sociedade
1. Cada Estado Parte adotará medidas adequadas, no limite de suas possibilidades e de
conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, para fomentar a
participação ativa de pessoas e grupos que não pertençam ao setor público, como a sociedade
civil, as organizações não-governamentais e as organizações com base na comunidade, na
prevenção e na luta contra a corrupção, e para sensibilizar a opinião pública a respeito à
existência, às causas e à gravidade da corrupção, assim como a ameaça que esta
representa. Essa participação deveria esforçar-se com medidas como as seguintes:
a) Aumentar a transparência e promover a contribuição da cidadania aos processos de adoção
de decisões;
b) Garantir o acesso eficaz do público à informação;
c) Realizar atividade de informação pública para fomentar a intransigência à corrupção, assim
como programas de educação pública, incluídos programas escolares e universitários;
d) Respeitar, promover e proteger a liberdade de buscar, receber, publicar e difundir
informação relativa à corrupção. Essa liberdade poderá estar sujeita a certas restrições, que
deverão estar expressamente qualificadas pela lei e ser necessárias para: i) Garantir o respeito
dos direitos ou da reputação de terceiros; ii) Salvaguardar a segurança nacional, a ordem
pública, ou a saúde ou a moral públicas.
2. Cada Estado Parte adotará medidas apropriadas para garantir que o público tenha
conhecimento dos órgão pertinentes de luta contra a corrupção mencionados na presente
Convenção, e facilitará o acesso a tais órgãos, quando proceder, para a denúncia, inclusive
anônima, de quaisquer incidentes que possam ser considerados constitutivos de um delito
qualificado de acordo com a presente Convenção.
Artigo 14
Medidas para prevenir a lavagem de dinheiro
1. Cada Estado Parte:
a) Estabelecerá um amplo regimento interno de regulamentação e supervisão dos bancos e
das instituições financeiras não-bancárias, incluídas as pessoas físicas ou jurídicas que
prestem serviços oficiais ou oficiosos de transferência de dinheiro ou valores e, quando
proceder, outros órgãos situados dentro de sua jurisdição que sejam particularmente suspeitos
de utilização para a lavagem de dinheiro, a fim de prevenir e detectar todas as formas de
lavagem de dinheiro, e em tal regimento há de se apoiar fortemente nos requisitos relativos à
identificação do cliente e, quando proceder, do beneficiário final, ao estabelecimento de
registros e à denúncia das transações suspeitas;
b) Garantirá, sem prejuízo à aplicação do Artigo 46 da presente Convenção, que as
autoridades de administração, regulamentação e cumprimento da lei e demais autoridades
encarregadas de combater a lavagem de dinheiro (incluídas, quando seja pertinente de acordo
com a legislação interna, as autoridades judiciais) sejam capazes de cooperar e intercambiar
informações nos âmbitos nacional e internacional, de conformidade com as condições
prescritas na legislação interna e, a tal fim, considerará a possibilidade de estabelecer um
departamento de inteligência financeira que sirva de centro nacional de recompilação, análise e
difusão de informação sobre possíveis atividades de lavagem de dinheiro.
2. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de aplicar medidas viáveis para detectar e
vigiar o movimento transfronteiriço de efetivo e de títulos negociáveis pertinentes, sujeitos a
salvaguardas que garantam a devida utilização da informação e sem restringir de modo algum
a circulação de capitais lícitos. Essas medidas poderão incluir a exigência de que os
particulares e as entidades comerciais notifiquem as transferências transfronteiriças de
quantidades elevadas de efetivos e de títulos negociáveis pertinentes.
3. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de aplicar medidas apropriadas e viáveis
para exigir às instituições financeiras, incluídas as que remetem dinheiro, que:
a) Incluam nos formulários de transferência eletrônica de fundos e mensagens conexas
informação exata e válida sobre o remetente;
b) Mantenham essa informação durante todo o ciclo de operação; e
c) Examinem de maneira mais minuciosa as transferências de fundos que não contenham
informação completa sobre o remetente.
4. Ao estabelecer um regimento interno de regulamentação e supervisão de acordo com o
presente Artigo, e sem prejuízo do disposto em qualquer outro Artigo da presente Convenção,
recomenda-se aos Estados Partes que utilizem como guia as iniciativas pertinentes das
organizações regionais, interregionais e multilaterais de luta contra a lavagem de dinheiro.
5. Os Estados Partes se esforçarão por estabelecer e promovera cooperação em escala
mundial, regional, sub-regional e bilateral entre as autoridades judiciais, de cumprimento da lei
e de regulamentação financeira a fim de combater a lavagem de dinheiro.
Capítulo III
Penalização e aplicação da lei
Artigo 15
Suborno de funcionários públicos nacionais
Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias
para qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente:
a) A promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário público, de forma direta ou
indireta, de um benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa
ou entidade com o fim de que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de
suas funções oficiais;
b) A solicitação ou aceitação por um funcionário público, de forma direta ou indireta, de um
benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade
com o fim de que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções
oficiais.
Artigo 16
Suborno de funcionários públicos estrangeiros e de funcionários de organizações
internacionais públicas
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam
necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, a promessa,
oferecimento ou a concessão, de forma direta ou indireta, a um funcionário público estrangeiro
ou a um funcionário de organização internacional pública, de um benefício indevido que
redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com o fim de que tal
funcionário atue ou se abstenha de atuar no exercício de suas funções oficiais para obter ou
manter alguma transação comercial ou outro benefício indevido em relação com a realização
de atividades comerciais internacionais.
2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente,
a solicitação ou aceitação por um funcionário público estrangeiro ou funcionário de organização
internacional pública, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido que redunde em
proveito próprio ou no de outra pessoa ou entidade, com o fim de que tal funcionário atue ou se
abstenha de atuar no exercício de suas funções oficiais.
Artigo 17
Malversação ou peculato, apropriação indébita ou outras formas de
desvio de bens por um funcionário público
Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias
para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, a malversação ou o peculato, a
apropriação indébita ou outras formas de desvio de bens, fundos ou títulos públicos ou
privados ou qualquer outra coisa de valor que se tenham confiado ao funcionário em virtude de
seu cargo.
Artigo 18
Tráfico de influências
Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente:
a) A promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário público ou a qualquer outra
pessoa, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido com o fim de que o funcionário
público ou a pessoa abuse de sua influência real ou suposta para obter de uma administração
ou autoridade do Estado Parte um benefício indevido que redunde em proveito do instigador
original do ato ou de qualquer outra pessoa;
b) A solicitação ou aceitação por um funcionário público ou qualquer outra pessoa, de forma
direta ou indireta, de um benefício indevido que redunde em seu proveito próprio ou no de
outra pessoa com o fim de que o funcionário público ou a pessoa abuse de sua influência real
ou suposta para obter de uma administração ou autoridade do Estado Parte um benefício
indevido.
Artigo 19
Abuso de funções
Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente,
o abuso de funções ou do cargo, ou seja, a realização ou omissão de um ato, em violação à lei,
por parte de um funcionário público no exercício de suas funções, com o fim de obter um
benefício indevido para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade.
Artigo 20
Enriquecimento ilícito
Com sujeição a sua constituição e aos princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente,
o enriquecimento ilícito, ou seja, o incremento significativo do patrimônio de um funcionário
público relativos aos seus ingressos legítimos que não podem ser razoavelmente justificados
por ele.
Artigo 21
Suborno no setor privado
Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente
no curso de atividades econômicas, financeiras ou comerciais:
a) A promessa, o oferecimento ou a concessão, de forma direta ou indireta, a uma pessoa que
dirija uma entidade do setor privado ou cumpra qualquer função nela, de um benefício indevido
que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa, com o fim de que, faltando ao
dever inerente às suas funções, atue ou se abstenha de atuar;
b) A solicitação ou aceitação, de forma direta ou indireta, por uma pessoa que dirija uma
entidade do setor privado ou cumpra qualquer função nela, de um benefício indevido que
redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa, com o fim de que, faltando ao dever
inerente às suas funções, atue ou se abstenha de atuar.
Artigo 22
Malversação ou peculato de bens no setor privado
Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras
índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente
no curso de atividades econômicas, financeiras ou comerciais, a malversação ou peculato, por
uma pessoa que dirija uma entidade do setor privado ou cumpra qualquer função nela, de
quaisquer bens, fundos ou títulos privados ou de qualquer outra coisa de valor que se tenha
confiado a essa pessoa por razão de seu cargo.
Artigo 23
Lavagem de produto de delito
1. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais de sua
legislação interna, as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, quando cometido intencionalmente:
a) i) A conversão ou a transferência de bens, sabendo-se que esses bens são produtos de
delito, com o propósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens e ajudar a qualquer
pessoa envolvida na prática do delito com o objetivo de afastar as conseqüências jurídicas de
seus atos;
ii) A ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, situação, disposição,
movimentação ou da propriedade de bens o do legítimo direito a estes, sabendo-se que tais
bens são produtos de delito;
b) Com sujeição aos conceitos básicos de seu ordenamento jurídico: i) A aquisição, possessão
ou utilização de bens, sabendo-se, no momento de sua receptação, de que se tratam de
produto de delito; ii) A participação na prática de quaisquer dos delitos qualificados de acordo
com o presente Artigo, assim como a associação e a confabulação para cometê-los, a tentativa
de cometê-los e a ajuda, incitação, facilitação e o assessoramento com vistas à sua prática.
2. Para os fins de aplicação ou colocação em prática do parágrafo 1 do presente Artigo:
a) Cada Estado Parte velará por aplicar o parágrafo 1 do presente Artigo à gama mais ampla
possível de delitos determinantes;
b) Cada Estado Parte incluirá como delitos determinantes, como mínimo, uma ampla gama de
delitos qualificados de acordo com a presenteConvenção;
c) Aos efeitos do item "b)" supra, entre os delitos determinantes se incluirão os delitos
cometidos tanto dentro como fora da jurisdição do Estado Parte interessado. Não obstante, os
delitos cometidos fora da jurisdição de um Estado Parte constituirão delito determinante
sempre e quando o ato correspondente seja delito de acordo com a legislação interna do
Estado em que se tenha cometido e constitui-se assim mesmo delito de acordo com a
legislação interna do Estado Parte que aplique ou ponha em prática o presente Artigo se o
delito houvesse sido cometido ali;
d) Cada Estado Parte proporcionará ao Secretário Geral das Nações Unidas uma cópia de
suas leis destinadas a dar aplicação ao presente Artigo e de qualquer emenda posterior que se
atenha a tais leis;
e) Se assim requererem os princípios fundamentais da legislação interna de um Estado Parte,
poderá dispor-se que os delitos enunciados no parágrafo 1 do presente Artigo não se apliquem
às pessoas que tenham cometido o delito determinante.
Artigo 24
Encobrimento
Sem prejuízo do disposto no Artigo 23 da presente Convenção, cada Estado Parte considerará
a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outra índole que sejam necessárias para
qualificar o delito, quando cometido intencionalmente após a prática de quaisquer dos delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção mas sem haver participados deles, o
encobrimento ou a retenção contínua de bens sabendo-se que tais bens são produtos de
quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.
Artigo 25
Obstrução da justiça
Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias
para qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente:
a) O uso da força física, ameaças ou intimidação, ou a promessa, o oferecimento ou a
concessão de um benefício indevido para induzir uma pessoa a prestar falso testemunho ou a
atrapalhar a prestação de testemunho ou a apartação de provas em processos relacionados
com a prática dos delitos qualificados de acordo com essa Convenção;
b) O uso da força física, ameaças ou intimidação para atrapalhar o cumprimento das funções
oficiais de um funcionário da justiça ou dos serviços encarregados de fazer cumprir-se a lei em
relação com a prática dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção. Nada do
previsto no presente Artigo menosprezará a legislação interna dos Estados Partes que
disponham de legislação que proteja a outras categorias de funcionários públicos.
Artigo 26
Responsabilidade das pessoas jurídicas
1. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias, em consonância com seus
princípios jurídicos, a fim de estabelecer a responsabilidade de pessoas jurídicas por sua
participação nos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.
2. Sujeito aos princípios jurídicos do Estado Parte, a responsabilidade das pessoas jurídicas
poderá ser de índole penal, civil ou administrativa.
3. Tal responsabilidade existirá sem prejuízo à responsabilidade penal que incumba às
pessoas físicas que tenham cometido os delitos.
4. Cada Estado Parte velará em particular para que se imponham sanções penais ou não-
penais eficazes, proporcionadas e dissuasivas, incluídas sanções monetárias, às pessoas
jurídicas consideradas responsáveis de acordo com o presente Artigo.
Artigo 27
Participação ou tentativa
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam
necessárias para qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, qualquer
forma de participação, seja ela como cúmplice, colaborador ou instigador, em um delito
qualificado de acordo com a presente Convenção.
2. Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam
necessárias para qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, toda
tentativa de cometer um delito qualificado de acordo com a presente Convenção.
3. Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam
necessárias para qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, a
preparação com vistas a cometer um delito qualificado de acordo com a presente Convenção.
Artigo 28
Conhecimento, intenção e propósito como elementos de um delito
O conhecimento, a intenção ou o propósito que se requerem como elementos de um delito
qualificado de acordo com a presente Convenção poderão inferir-se de circunstâncias fáticas
objetivas.
Artigo 29
Prescrição
Cada Estado Parte estabelecerá, quando proceder, de acordo com sua legislação interna, um
prazo de prescrição amplo para iniciar processos por quaisquer dos delitos qualificados de
acordo com a presente Convenção e estabelecerá um prazo maior ou interromperá a
prescrição quando o presumido delinqüente tenha evadido da administração da justiça.
Artigo 30
Processo, sentença e sanções
1. Cada Estado Parte punirá a prática dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção com sanções que tenham em conta a gravidade desses delitos.
2. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias para estabelecer ou manter,
em conformidade com seu ordenamento jurídico e seus princípios constitucionais, um equilíbrio
apropriado entre quaisquer imunidades ou prerrogativas jurisdicionais outorgadas a seus
funcionários públicos para o cumprimento de suas funções e a possibilidade, se necessário, de
proceder efetivamente à investigação, ao indiciamento e à sentença dos delitos qualificados de
acordo com a presente Convenção.
3. Cada Estado Parte velará para que se exerçam quaisquer faculdades legais discricionárias
de que disponham conforme sua legislação interna em relação ao indiciamento de pessoas
pelos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção a fim de dar máxima eficácia
às medidas adotadas para fazer cumprir a lei a respeito desses delitos, tendo devidamente em
conta a necessidade de preveni-los.
4. Quando se trate dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção, cada
Estado Parte adotará as medidas apropriadas, em conformidade com sua legislação interna e
levando devidamente em consideração os direitos de defesa, com vistas a procurar que, ao
impor condições em relação com a decisão de conceder liberdade em espera de juízo ou
apelação, se tenha presente a necessidade de garantir o comparecimento do acusado em todo
procedimento penal posterior.
5. Cada Estado Parte terá em conta a gravidade dos delitos pertinentes ao considerar a
eventualidade de conceder a liberdade antecipada ou a liberdade condicional a pessoas que
tenham sido declaradas culpadas desses delitos.
6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de estabelecer, na medida em que ele seja
concordante com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, procedimentos em
virtude dos quais um funcionário público que seja acusado de um delito qualificado de acordo
com a presente Convenção possa, quando proceder, ser destituído, suspenso ou transferido
pela autoridade correspondente, tendo presente o respeito ao princípio de presunção de
inocência.
7. Quando a gravidade da falta não justifique e na medida em que ele seja concordante com
os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, cada Estado Parte considerará a
possibilidade de estabelecer procedimentos para inabilitar, por mandado judicial ou outro meio
apropriado e por um período determinado em sua legislação interna, as pessoas condenadas
por delitos qualificados de acordo com a presente Convenção para:
a) Exercer cargos públicos; e
b) Exercer cargos em uma empresa de propriedade total ou parcial do Estado.
8. O parágrafo 1 do presente Artigo não prejudicará a aplicação de medidas disciplinares pelas
autoridades competentes contra funcionários públicos.
9. Nada do disposto na presente Convenção afetará o princípio de que a descrição dos delitos