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Volume 3Volume 3 Organização Elizete Oliveira Língua PortuguesaLíngua Portuguesa em Impresso no Brasil Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 10/02/98. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da Editora Eureka, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação digital ou quaisquer outros. TEXTO CONFORME NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Copyright © 2023 da edição: Eureka Soluções Pedagógicas Catalogação na Publicação (CIP) (BENITEZ Catalogação Ass. Editorial, MS, Brasil) Índice para catálogo sistemático: 1. Língua portuguesa : Ensino médio 469.07 Bibliotecária : Aline Graziele Benitez CRB-1/3129 E26 Ensino Médio em Foco : ensino médio : Volume 3 : 1.ed. língua portugue sa/ organizadora El izete Oliveira. – 1.ed. – São Paulo : Eureka Editora, 2023. 168 p.; 20,5 x 27,5 cm. Bibliografia: ISBN: 978-85-5567-676-5 (Livro do estudante) ISBN : 978-85-5567-681-9 (Livro do educador) 1. Língua portu guesa (Ensino médio). I. Oliveira, Elizete. 05-2022/151 CDD 469.07 Marco Saliba Júlio Torres Carlos Garrido Malu Carvalho Marcelo Almeida Elizete Oliveira Viviane Borba Barbosa Mayara Ferreira Luana Reis Luan Costa de Luna Cintia Bianchi Denis Prates Marcela Rodrigues Desenho Editorial Bruna Marchi Caio Cézar Felipe Ferri Bruno Galhardo Cláudia Nascimento Depositphotos Diretor executivo: Diretores: Editora executiva: Gerente de produção: Coordenadora editorial: Editora: Assistente editorial: Auxiliar editorial: Revisão técnica: Equipe pedagógica: Gestão de arte: Diagramação: Educação digital: Imagens: APRESENTAÇAO Olá estudante, A coleção Ensino Médio em Foco foi elaborada em um momento no qual se revela a necessidade de apoiar você nos processos de ensino-aprendizagem desafiados pela pandemia da COVID-19. Nesse contexto, torna-se muito bem-vindo um conjunto de materiais que tem, como objetivo, recompor o aprendizado. Consideramos que a leitura e a escrita são habilidades indispensáveis à formação da cidadania, portanto, consolidar e ampliar essas práticas revelam-se contribuições fundamentais para a construção do nosso presente e futuro. Se ler possibilita benefícios como entreter e desenvolver o pensamento crítico, exercitar uma boa escrita nos permite expor com clareza argumentos e defender coerentemente um ponto de vista. Esse par é parte constitutiva de práticas socioculturais democráticas. Os três volumes dessa coleção contemplam o estudo da linguagem e da literatura e propõem produção de textos. Cada capítulo, além do texto base, apresenta propostas de interatividade acessíveis por meio de Qr Codes. A construção desse material impresso, complementado por objetos digitais, advém do reconhecimento de que as novas tecnologias podem ser aliadas de educadores e estudantes em sala de aula. Com isso, Ensino Médio em Foco mostra-se alinhada aos pressupostos que compõem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). As competências e habilidades encontram-se manejadas ao longo de cada capítulo, mobilizando diferentes linguagens em favor de um exercício de compreensão e respeito ao patrimônio cultural e aos Direitos Humanos. Essa atenção se torna especialmente clara nas propostas de produção textual e nos estudos de literatura, bem como no aprendizado da análise da linguagem. Como se pode perceber a construção de um futuro melhor, com indivíduos mais autônomos e mais conscientes de sua cidadania, é uma vocação da BNCC herdada pelos três volumes que perfazem Ensino Médio em Foco. Bons estudos! 4 ENSINO MÉDIO EM FOCO LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL ELEMENTOS DE SINTAXE ..........................................................................................................08 SINTAXE: PREDICADO ...............................................................................................................21 PROPOSTA 1: ANSIEDADE, ANGUSTIA E SOLIDÃO SERÃO “SINTOMAS” PÓS-PANDEMIA ........35 PROPOSTA 2: A LUTA CONTRA O PRECONCEITO .................................................................41 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO ......................................................................................48 SINTAXE: ELEMENTOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO .................................................................59 PROPOSTA 3: PADRÕES DE BELEZA ........................................................................................72 PROPOSTA 4: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA ..............................................................................77 ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS ......................................................................82 REGÊNCIA E CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL .............................................................98 PROPOSTA 5: LIBERDADE DE EXPRESSÃO .......................................................................... 110 LITERATURA PARNASIANISMO .................................................................................................................... 116 SIMBOLISMO EM PORTUGAL ................................................................................................ 125 SIMBOLISMO NO BRASIL ....................................................................................................... 134 GERAÇÃO DE 1922 ................................................................................................................. 143 A PROSA DA GERAÇÃO DE 1945 ........................................................................................... 152 TROPICALISMO ....................................................................................................................... 159 SUMÁRIO 6 ENSINO MÉDIO EM FOCO 7 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Linguagem e Produção textual Linguagem e Produção textual 8 ENSINO MÉDIO EM FOCO Elementos de sintaxe A capacidade de comunicação é algo tão natural que, muitas vezes, você pode não se dar conta de que um simples ato de fala faz parte de uma estrutura bastante complexa! Como assim? Suponha que alguém se aproxime de você e diga: Chocolate fez tarde bolo de ele na ontem um. Mesmo que na cena em que você se encontre haja elementos dessa fala, como um choco- late ou um bolo, ela não faz sentido. Isso leva à óbvia conclusão de que uma língua não é apenas um amontoado de palavras que se unem de maneira aleatória. Para que a comu- nicação seja possível, seja ela oral ou escrita, há um conjunto de regras que determina os diferentes modos como os termos, ou sintagmas, vão se relacionar em um enunciado. A esse conjunto de regras nós chamamos de sintaxe. 9 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Porém, não há apenas uma forma de organização das sentenças linguísticas. Veja como as mesmas palavras do exemplo anterior poderiam se reorganizar de diferentes maneiras, fazendo com que o sentido do enunciado se tornasse compreensível: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO Na tarde de ontem, ele fez um bolo de chocolate. Ele fez, na tarde de ontem, um bolo de chocolate. Ele fez um bolo de chocolate na tarde de ontem. Um bolo de chocolate ele fez na tarde de ontem. Desse modo, quando você se comunica, organiza as sentenças linguísticas de modo que seus interlocutores consigam compreender plenamente a mensagem que você pretende transmitir, ainda que não haja a necessidade de refletir conscientemente sobre essa orga- nização a cada vez que você se comunica oralmente ou escreve uma mensagem de texto. Porém, quando você estuda a sintaxe de uma língua, as múltiplas formas de organização das sentenças capazes de produzir sentido tornam-se visíveis e, através desse estudo, é possível perceber que cada palavra ou conjunto de palavras tem uma função específica e um modo de estabelecer relação com as outras de forma muito própria. Antes de relembrar a função sintática e as relações sintáticas entre os termos em um enunciado, cabe lembrar que os próprios enunciadospossuem características distintas e, por isso, são classificados em três grupos: frases, orações e períodos. Para começar, leia as duas sentenças abaixo: Que sonho! Eu sonho em construir uma escola mais justa. Você consegue notar a diferenças entre elas? Como é possível notar, a primeira sentença é mais curta do que a segunda. Porém, há mais que isso: apenas a segunda sentença tem verbo! Isso significa que ambas são consideradas frases, mas apenas a frase: “Eu sonho em construir uma escola mais justa.” pode ser classificada como uma oração. O motivo: não existe oração sem verbo. Mas vamos analisar com mais calma essas distinções. 10 ENSINO MÉDIO EM FOCO Frase Entendemos frase como todo enunciado linguístico que tem um sentido completo e termi- na com uma pontuação. Assim, o enunciado: “Que sonho!” é uma frase, mesmo que não haja verbo, pois ela faz sentido e, além disso, é finalizada por um ponto de exclamação. No campo da oralidade, as frases são marcadas pela entonação, que, na escrita, é tra- duzida por meio dos sinais de pontuação. Por isso, as frases podem ser classificadas de acordo com a intenção de quem as fala ou escreve. Assim, há cinco tipos de frase: 1) Frases exclamativas 2) Frases interrogativas 3) Frases imperativas 5) Frases optativas 4) Frases declarativas A frase “Que sonho!” é um exemplo de frase exclamativa. Com esse tipo de frase, o emis- sor tem a intenção de exprimir uma emoção ou surpresa. As frases exclamativas sempre terminam com um ponto de exclamação. Nas frases interrogativas, o emissor interroga sobre alguma coisa. Essa pergunta pode ser direta ou indireta. Assim, nem sempre as frases interrogativas terminam com um ponto de interrogação: — Você quer passear comigo mais tarde? — Eu gostaria de saber se você quer passear comigo mais tarde... Nas frases imperativas o emissor declara uma ordem, um pedido ou um conselho. As fra- ses imperativas podem ser afirmativas ou negativas. — Não vá ao teatro! — Recolha as roupas do chão! As frases optativas são usadas para emitir um desejo. Assim como as frases exclamativas, em geral elas terminam com um ponto de exclamação: — Muita sorte nessa nova etapa! — Felicidades ao casal! Nas frases declarativas, o emissor constata ou afirma algo. — Vou cancelar minha matrícula. — Não vou mais embora para casa. 11 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Oração Você já viu que a oração se diferencia da frase porque uma oração sempre se organiza em torno de um verbo. Porém, há mais uma diferença. Enquanto a frase sempre exige um sen- tido completo, a oração pode não ter um sentido completo. Veja os exemplos: 1) Oração coordenada 2) Oração subordinada As orações coordenadas são orações independentes entre si. Por exemplo: Mais cedo fui ao parque e joguei voleibol. Nesse exemplo há duas orações: Mais cedo fui ao parque (oração 1) e Joguei voleibol (oração 2). As orações subordinadas são aquelas que, ao contrário, não têm sentido completo por si. Assim, estão subordinadas a uma oração principal. Por exemplo: É possível que eu vá ao parque mais tarde. Nesse exemplo há duas orações: É possível (oração 1) e que eu vá ao parque mais tarde (oração 2). Sem a oração 2, a oração 1 não pode ser compreendida! Eu vou com você ao parque. É possível. Já fui. Apenas a primeira oração tem sentido completo, enquanto os dois outros exemplos, ape- sar de serem gramaticais, exigem outra oração ou um contexto específico para serem entendidos por completo. As orações são estruturadas em torno de um sujeito, ainda que esse possa estar oculto, e de um predicado. Por isso, sujeito e predicado são chamados de termos essenciais de uma oração. No primeiro exemplo: Eu vou com você ao parque. O sujeito é Eu e o pre- dicado é vou com você ao parque. Além disso, as orações podem ser classificadas de duas maneiras, que variam de acordo com a relação sintática estabelecida. São elas: 12 ENSINO MÉDIO EM FOCO Período Material extra O período é uma unidade sintática formada por uma ou mais orações. Ou seja, uma oração sempre será um período, mas um período não é sinônimo de oração, já que pode corresponder a mais de uma oração. Os períodos podem ser classificados em simples ou compostos. O período simples equivale a uma oração; já o período composto tem esse nome porque equivale à composição de duas ou mais orações. Mas como saber se há uma ou mais de uma oração ao ler uma frase? É simples, basta contar o número de ver- bos ou locuções verbais! Observe os exemplos: Estou feliz hoje. Estou feliz porque finalmente consegui um novo emprego. Hoje dancei em uma festa. Hoje dancei naquela festa a que meu amigo me convidou. Se ainda ficou alguma dúvida, vale conferir a aula sobre “Frase, Oração e Período” dispo- nível no QR Code a seguir. Canal: Canal Futura Frase, oração e período Vamos agora colocar o que aprendemos em prática? 13 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL a) Fui à feira com a minha mãe ontem à tarde. b) Esse cachorro é uma figura, corre de um lado para o outro e não se cansa de brincar. c) É bem provável que elas cheguem atrasadas, você sabe como são suas irmãs. d) Esta manhã, Maria não prestou atenção na aula. 2. Leia os enunciados a seguir identificando o número de orações em cada um e, em seguida, classifique os períodos em simples ou compostos: 1. Leia as frases a seguir e assinale a alternativa correta: a) I e III. b) I, II, III e IV. c) I, III e IV. d) II e IV. e) III. Atividade I. Estou tão cansado... II. Cuidado com o cão! III. Ontem entreguei minha última prova. IV. Parabéns pelos seus dezoito anos, primo! Podem ser classificadas como orações as sentenças: 14 ENSINO MÉDIO EM FOCO Núcleo do sujeito O SUJEITO E SUAS CLASSIFICAÇÕES Ao estudar as características de uma oração, você reviu brevemente a importância do sujeito e do predicado. Além disso, viu que eles são classificados como termos essenciais, ou seja, termos que mantêm a estrutura básica da oração. Porém, há ainda outros termos para os quais você deve se atentar em uma análise sintática. Desse modo, é importante lembrar que eles são divididos nas seguintes categorias: 1) Termos essenciais: sujeito e predicado. 2) Termos integrantes: complementos verbais, complemento nominal e agente da passiva. 3) Termos acessórios: adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto. Neste capítulo, você vai estudar apenas o termo essencial que, geralmente, aparece pri- meiro em uma oração: o sujeito. O sujeito se define em uma oração como o ser sobre o qual se diz alguma coisa. Antes de retomarmos os tipos de sujeito, observe a seguinte oração: A cozinheira do restaurante saiu mais cedo hoje. Ao ler essa frase, como descobrir qual é o sujeito da oração? Para isso basta procurar o termo sobre o qual é feita uma declaração – nesse caso, o sujeito é quem realiza a ação de sair – e verificar qual é o termo que concorda em número e pessoa com esse verbo. Ao fazer isso, você pode atestar que o sujeito é a cozinheira do restaurante. Porém, nem sempre os sujeitos aparecem nas frases de modo tão explícito e há também algumas orações que não contam com sujeitos. Por isso, é importante lembrar que exis- tem características específicas de determinados sujeitos que fazem com que eles recebam diferentes classificações. Assim, há quatro formas de o sujeito aparecer em uma oração: sujeito simples; sujeito composto; sujeito oculto ou elíptico; sujeito indeterminado. E há, ainda, as orações que não possuem sujeito, classificadas como sujeito inexistente. Para compreender os diferentes tipos de sujeito, é necessário recordar o que é o núcleo do sujeito. O núcleo corresponde ao termo mais importante do sujeito. Ou seja, se em uma oração um sujeito é formado por um substantivo acompanhado por artigo definido ou indefini- do, o núcleo será o substantivo. Veja o exemplo a seguir: 15 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL A cozinheira do restaurante saiu mais cedo hoje. As crianças brincaram no parque. Nessa oração, “as crianças” é o sujeito e “brincaramno parque”, o predicado. Nesse caso, o núcleo do sujeito é o substantivo “crianças”. Voltemos agora ao exemplo anterior: Como você viu, o sujeito é “a cozinheira do restaurante”. Mas qual seria o núcleo desse sujeito? Se você pensou “cozinheira”, acertou! Entender o conceito de núcleo do sujeito é importante para que você possa identificar se o sujeito é simples ou composto, pois um sujeito simples tem um único núcleo e um sujeito composto, por sua vez, tem dois ou mais núcleos. Assim, por exemplo, na oração: “O garçom e minha mãe estavam conversando” o sujeito é “o garçom e minha mãe”. Esse sujeito é composto, pois há dois núcleos, dois termos mais importantes, “garçom” e “mãe”. Sujeito simples O sujeito simples é formado por um único núcleo, que pode ser um substantivo, um pronome ou mesmo uma palavra substantivada (ou seja, que se torna um substantivo apenas em contextos específicos): Joana foi à praia. (Núcleo do sujeito: Joana). Ele me enviou o pacote. (Núcleo do sujeito: Ele). O azul do céu estava muito brilhante. (Núcleo do sujeito: azul). 16 ENSINO MÉDIO EM FOCO Sujeito oculto (ou elíptico) Sujeito composto Quando o sujeito não aparece explicitamente nas suas orações, mas você pode iden- tificá-lo analisando o contexto (por sua presença anteriormente na oração ou em uma oração antecedente) ou a conjugação verbal, você está diante do sujeito oculto ou sujeito elíptico. Mãe e filha passeiam juntas todos os dias. Compramos ela e eu um carro novo. Vieram duas ou três cartas para mim! Ainda estou de férias. (Sujeito oculto: eu) Meus pais voltaram hoje de viagem. Estão muito felizes em te ver. (Sujeito oculto da segun- da oração: Meus pais) Meu irmão me encontrou na porta da escola, depois fomos ao cinema. (Sujeito oculto da se- gunda oração: eu e meu irmão) O sujeito composto é formado por dois ou mais núcleos. 17 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Sujeito indeterminado Diferente do que ocorre com o sujeito oculto, há orações em que não é possível determi- nar ou identificar o sujeito da ação nem pelo contexto, nem pela terminação verbal. Nesse caso, estamos diante de casos em que o sujeito é indeterminado. Geralmente, identificamos o sujeito indeterminado em três tipos de oração: 1) Quando o verbo aparece na 3ª pessoa do plural e não faz referência a nenhum substantivo específico. Disseram que aqueles dois se casaram. Anunciaram a morte daquele homem no jornal. Nesses casos, poderíamos dizer que se trata do sujeito oculto eles/elas; contudo, como esse sujeito não é especificado pelo emissor, ele é chamado de sujeito indeterminado. 2) Quando um verbo intransitivo, transitivo direto ou de ligação está na terceira pes- soa do singular e é acompanhado pelo pronome “se”. Come-se muito bem nessa casa. Vende-se apartamento à beira mar. Conforme se fica mais velho, vão se transformando as necessidades. Nesses casos, não se determina quem come, quem vende e quem fica mais velho, por isso o sujeito é indeterminado. 3) Quando o verbo aparece conjugado no infinitivo pessoal. Era proibido permanecer ali. Ouvi dizer que ele é um bom amigo. Nessas orações, não conseguimos saber quem proibiu ou quem disse; assim, o sujeito é indeterminado. Sujeito inexistente O sujeito inexistente aparece nas orações sem sujeito, isto é, orações que são formadas por verbos impessoais. Como no caso do sujeito indeterminado, há alguns casos em que você pode identificar facilmente se o verbo é impessoal. São eles: 1) Quando o verbo se refere a um fenômeno da natureza, como por exemplo, “chove”, “ventou”, “nevará”, etc. Esta noite choveu muito. ENSINO MÉDIO EM FOCO 18 Material extra É muito comum a confusão entre sujeito oculto, sujeito indeterminado e a oração sem sujeito; por isso, se ainda restou alguma dúvida, vale conferir o conteúdo a seguir. 2) Quando os verbos ser, fazer, estar, ir e haver indicam distância ou tempo. Está muito tarde. 3) Quando o verbo haver é empregado com o sentido de existir. Há mais de cinquenta pessoas na sala. Vamos testar um pouco mais nossos conhecimentos! Canal: Canal Futura Sujeito indeterminado e oração sem sujeito 19 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL a) Sabemos eu e meu pai que essa história está longe de acabar. b) Ontem à noite trovejou muito! c) É fácil falar, difícil é fazer. d) Estou triste com essa notícia... 1. Identifique o sujeito nas orações a seguir e, em seguida, classifique-os: 2. Leia a oração e assinale a alternativa correta: 3. Assinale a alternativa em que o sujeito não foi destacado corretamente: 4. Classifique o sujeito nas orações: “O mar era belíssimo”, “Fazia muito tempo que não me apaixonava”, “Passaram-se anos desde aquele dia”. a) O sujeito da oração é indeterminado. b) O sujeito da oração é trabalhadores. c) A oração não possui sujeito. d) O sujeito da oração é oculto, pois, pelo contexto, sabe-se que a palavra “patrões” é o sujeito. e) O sujeito da oração é “Na tarde do dia 23 de janeiro”. a) A intuição de que algo daria errado invadiu meu coração. b) Às vezes, meus colegas me telefonam. c) Os livros de Maria estavam comigo. d) Madalena pediu para sua irmã que viesse mais cedo. e) Perto dali, duas crianças choravam. a) Simples – inexistente - indeterminado. b) Indeterminado – inexistente - oculto. c) Inexistente – oculto - indeterminado. d) Simples – oculto – indeterminado. e) Simples – indeterminado – inexistente. Atividade Na tarde do dia 23 de janeiro, demitiram mais de trinta e cinco trabalhadores. 20 ENSINO MÉDIO EM FOCO Referência CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. 21 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Sintaxe: Predicado Você já reviu a importância do sujeito nas orações, bem como suas classificações. Neste capítulo, você estudará o outro termo que, ao lado do sujeito, é considerado termo essencial do ponto de vista da análise sintática: o predicado. PREDICADO Enquanto o sujeito compõe o sintagma nominal, o predicado compõe o sintagma verbal. Mas o que isso significa? Observe a seguinte oração: Mariana gosta muito de tocar violão. 22 ENSINO MÉDIO EM FOCO Nessa oração, Mariana é o sujeito da oração, pois é ela quem executa a ação de “tocar”. Tudo o que vem depois do nome “Mariana” é considerado predicado. Por quê? Porque o predicado é a parte da oração que contém o verbo, por isso dizemos que ele compõe o sintagma verbal. Isso nos leva a duas conclusões. Primeiro, que não existe predicado que não tenha verbo ou locução verbal. E, segundo, que o predicado é essencial para a ora- ção, pois, com exceção do sujeito, ele é tudo o que há na frase. Perceba que, além disso, o predicado é tudo aquilo que se afirma em relação ao sujeito. Por isso, anote: Mesmo que uma oração não tenha sujeito, ela terá, necessariamente, predicado! Nas orações em que o sujeito aparece, é bem simples identificar o predicado, afinal, ele é tudo o que não é sujeito. Veja outros exemplos em que o predicado se destaca logo após os sujeitos simples e composto: O entregador de pizzas não conseguiu achar o endereço. João e Júlio arrumaram o quarto hoje. No caso das orações sem sujeito, elas serão constituídas apenas por predicados, como nos exemplos abaixo: Nevou ontem no Rio Grande do Sul. Havia muitas pessoas no ônibus esta manhã. 23 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Predicado verbal O predicado verbal tem como núcleo um verbo que indica uma ação; esse verbo, por sua vez, é chamado de verbo significativo ou nocional. Esse verbo pode ser transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto ou intransitivo. Apesar de lidar com muitos nomes, na prática é simples perceber quando o predicado é verbal, veja só: Lúcia jogou bola esta manhã. Júlio finalmente concordou com sua irmã. Ela devolveu o cachecol ao pai. Eu corri ontem. Assim como classificamos o sujeito, também classificamos o predicado em categorias dis- tintas. Há, assim, o predicado verbal, o predicado nominal e o predicado verbo-no-minal. Como você deve se lembrar, a classificação do predicado está diretamente rela- cionada ao tipo de verbo que o compõe. Portanto, se o verbo indicar uma ação, ou seja, se o verbo for transitivo ou intransitivo, ele será a parte mais importante da oração e o predicado se chamará predicado verbal. Se, do contrário, o predicado contém um verbo de ligação, isto é, um verbo que não corresponde ao núcleo da frase, o predicado será chamado de predicado nominal. A seguir, observe os exemplos que correspondem às classificações de predicado. 24 ENSINO MÉDIO EM FOCO Em todos esses casos, o verbo é o núcleo do predicado, ou seja, é o termo mais importan- te da oração. Sem ele, a oração perderia completamente o sentido. No primeiro exemplo: “Lúcia jogou bola esta manhã”, temos um verbo transitivo direto. Por quê? Imagine se a frase fosse apenas “Lúcia jogou.” Se alguém lhe dissesse isso com certeza sua primeira resposta seria: “O quê?”. Pois bem, sabemos que o verbo é transitivo direto quando o que vem depois do verbo pede essa pergunta. Outra dica: o verbo tran- sitivo direto nunca pede preposição. Já no segundo exemplo: “Júlio finalmente concordou com sua irmã”, temos um verbo transi- tivo indireto. Nesse caso, se fosse colocado um ponto final logo após o verbo “concordar”, isso não pediria a pergunta “O quê?”, mas “Com quem”. Os verbos transitivos indiretos geralmente pedem as seguintes perguntas: “Com quem?” “De quê/ De quem?” “Para quê/ Para quem?”, “Em quem?” e “A quem?”. Você não precisa decorar essas perguntas, a pró- pria oração vai te responder que se trata de um verbo transitivo indireto, pois sempre o verbo será seguido por uma preposição. No caso dessa oração, pela preposição com. No terceiro exemplo: “Ela devolveu o cachecol ao pai”, você pode ver um verbo transitivo direto e indireto. O verbo pede ao mesmo tempo um objeto direto (sem preposição) e um objeto indireto (com preposição). Assim, se a frase fosse: “Ela devolveu”, só a pergunta “O quê?” não basta, se não soubermos o contexto da oração; é preciso saber também “a quem?” o cachecol foi devolvido. Já no último exemplo, temos um verbo intransitivo, pois o verbo correr não pede neces- sariamente nenhum complemento. Predicado nominal No caso do predicado nominal, o verbo não será o núcleo da frase, na verdade, o mais importante será o que completa a frase. Veja: Ele é legal. Meus tios estão muito cansados da caminhada. Ele permanece chateado com seu avô. Nesses três exemplos, você pôde ver orações que têm verbos de ligação. Os verbos de ligação, como o próprio nome já diz, não evocam uma ação. Na realidade, sua função é de fazer uma ponte entre o sujeito e o restante da oração. Se, por exemplo, dissés- semos: “Meus tios muito cansados da caminhada”, ainda que falte alguma coisa para a frase soar bem, o seu sentido permanece, não é? Por isso, dizemos que o núcleo da oração é o nome, também chamado de predicativo.No capítulo “Termos integrantes da oração” comentaremos sobre ele. 25 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Predicado verbo-nominal Se no predicado verbal o núcleo é o verbo e no predicado nominal o núcleo é o nome, como fica o predicado verbo-nominal? Se você pensou: “Só pode ter dois núcleos”, acer- tou a resposta! Sônia viu sua mãe satisfeita. Nesse caso, tanto o fato de Sônia ver quanto o estado de espírito da sua mãe são igual- mente relevantes para a oração fazer sentido. Se disséssemos: “Sônia viu”, a pergunta seria: “O quê?”. Isso já indica que um dos núcleos é o verbo; porém, a intenção do emissor não é apenas dizer que Sônia viu a mãe, mas de que modo a mãe se encontrava. Por isso, dizemos que o predicado é verbo-nominal. Veja mais alguns exemplos: Rafael terminou a tarefa bem disposto. Eles consideraram a leitura indispensável. Material extra O predicado verbo-nominal pode ainda parecer para você um pouco complicado. Por isso, se ainda restou alguma dúvida, vale conferir o vídeo do a seguir. Canal: Canal Futura Sintaxe: verbo de ligação e predicativo do sujeito Vamos agora testar o que aprendemos? 26 ENSINO MÉDIO EM FOCO 1. Leia as orações a seguir e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a cor- reta sequência quanto à classificação dos predicados: 4. Assinale a alternativa correta a respeito da oração a seguir: 2. Classifique as orações de acordo com os tipos de predicado: a) Predicado nominal – Predicado verbal – Predicado verbo-nominal. b) Predicado verbal – Predicado nominal – Predicado verbo-nominal. c) Predicado verbo nominal – Predicado verbal – Predicado verbo-nominal. d) Predicado verbo-nominal – Predicado nominal – Predicado verbal. e) Predicado nominal – Predicado verbo-nominal – Predicado verbal. a) Sujeito simples: O tio de Caio – Predicado nominal: continua entristecido desde ontem. b) Sujeito simples: O tio de Caio – Predicado verbo-nominal: continua entristecido des- de ontem. c) Sujeito composto: O tio de Caio – Predicado nominal: continua entristecido desde ontem. d) Sujeito oculto: O tio de Caio – Predicado verbo-nominal: continua entristecido des- de ontem. e) Sujeito composto: O tio de Caio – Predicado verbal: continua entristecido desde ontem. Atividade Minha mãe permanece convicta de seus ideais. O professor buscou alternativas para uma aula mais dinâmica. Seu tio saiu confiante da entrevista de emprego. a) Letícia partiu. b) A funcionária do banco pediu demissão ontem. c) Os primos de Daiane estão cansados de trabalhar naquela empresa.. d) A menina falou tranquilamente sobre sua perda. O tio de Caio continua entristecido desde ontem. 27 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 5. Todas as orações a seguir apresentam predicado verbal, exceto: 6. Leia o texto a seguir e assinale a única alternativa incorreta em relação à análise sintática das orações nele contidas: a) Diogo caminhava só. b) O filho mais velho brincava de boneca com a irmã. c) Aos trinta anos, aprendeu a cozinhar. d) Sábado, eles viajarão para o Chile. e) A criança voltou machucada da praia. a) A primeira oração do texto “A performance é ato de presença no mundo e em si mesma” possui predicado nominal. b) Ao ler a oração “ela se prendia, pelos fins da Idade Média, ao conjunto de práticas místicas (...)” é possível afirmar que o predicado é verbal e que o verbo “prendia” é transitivo direto. c) Na oração “não se pode falar de performance de maneira perfeitamente unívoca”, o sujeito é indeterminado e o predicado é verbal. d) Na oração “Nela o mundo está presente”, a palavra “Nela” faz referência ao subs- tantivo performance e a oração possui predicado nominal. e) Na última frase do texto, o pronome “Eles” refere-se aos cristãos e o verbo “re- comendar” é bitransitivo (direto e indireto). A performance é ato de presença no mundo e em si mesma. Nela o mundo está presente. Assim, não se pode falar de performance de maneira perfeitamente unívoca e há lugar aí para definir em diferentes graus, ou modalidades: a performance propriamente dita, grava- da pelo etnólogo num contexto de pura oralidade; depois uma série de realizações mais ou menos claras, que se afastam gradualmente desse primeiro modelo. Mas jamais, salvo exce- ção mal concebível, o modelo é completamente recuperado. É verdade que houve historica- mente uma tentativa para aboli-lo: ela se prendia, pelos fins da Idade Média, ao conjunto de práticas místicas que recebeu o nome de devotio moderna. Os cristãos dessa seita tentavam instaurar um diálogo direto, sem mediação corporal, entre o leitor (o crente) e o texto (a pa- lavra de Deus). Eles recomendavam para esse fim a leitura puramente visual. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção e leitura. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p. 67. Complemento verbal Agora que você já reviu quais são os termos essenciais em uma oração, é hora de relembrar os termos integrantes. Em relação à comunicação, o termo integrante é tão importante quanto um termo essencial, pois sem ele a oração não pode ter seu sentido completo. Sabemos que existem trêstipos de termos integrantes: o complemento verbal, o comple- mento nominal e o agente da passiva. Neste capítulo, vamos focar apenas nas caracterís- ticas e classificações do complemento verbal. O complemento verbal, como o próprio nome já diz, é um dos termos integrantes cuja função é completar o sentido de um verbo. Veja, por exemplo, as orações a seguir: Eu tomei vitamina de banana no café da manhã. Gostamos de correr logo ao acordar. Escondi o segredo de todos a sete chaves. Nessa oração, "vitamina de banana" é o complemento verbal do verbo “tomar”. Veja que, sem esse complemento, a frase perde completamente seu sentido. Nesse caso, como o verbo é transitivo direto, o complemento verbal é chamado de objeto direto. Nessa oração, “de correr” é o complemento verbal do verbo “gostar”. Como o verbo é transitivo indireto, ou seja, pede uma preposição, o complemento verbal é chamado de objeto indireto. Nessa oração, "o segredo" e "de todos" são os complementos verbais do verbo esconder. Essa oração é composta de um objeto direto (o segredo) e de um objeto indireto (de todos), pois o verbo esconder é transitivo direto e indireto. Veja que, em todos esses exemplos, os verbos são transitivos. Isso nos leva a duas conclusões. Primeiro: os complementos verbais só aparecem no predicado verbal e no predicado verbo-nominal, pois, como vimos anteriormente, o predicado nominal é constituído de verbos de ligação. Segundo: os verbos intransitivos não são acompa- nhados de complemento verbal, pois seu sentido se completa sozinho. Basicamente, existem dois tipos de complemento verbal. Se o verbo da oração for transi- tivo direto, o complemento verbal será chamado de objeto direto e, se o verbo for transi- tivo indireto, o complemento verbal será chamado de objeto indireto. Entretanto, como tanto o objeto direto quanto o objeto indireto desdobram-se em outras classificações, é importante examinar cada um mais detalhadamente. 28 ENSINO MÉDIO EM FOCO 29 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL OBJETO DIRETO OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO Lúcia odeia fazer compras no shopping. Seu Maurício vendia guarda-chuvas na praça. Júlio e Júlia queriam um carro novo. Minha mãe não odiava a ninguém. Eu vou ao jogo. Em todas essas orações, o objeto direto é a resposta da pergunta “O quê?”, veja: Observe que, nessa oração, há o emprego da preposição “a”, entretanto, se ela fosse retirada da frase: “Minha mãe não odiava ninguém”, a oração continuaria com o mesmo sentido. Seria diferente, por exemplo, desse caso: Sempre que há a presença de um verbo transitivo direto em uma oração, a presença de um complemento verbal será indispensável. A esse complemento verbal que não neces- sita de preposição é dado o nome de objeto direto. O objeto direto pode tanto ser um substantivo quanto uma palavra substantivada ou um pronome. Veja exemplos de ora- ções que contêm objetos diretos: Em algumas orações, o objeto direto pode vir acompanhado de preposição, cujo intuito é dar ênfase ao objeto. No entanto, essa preposição não é essencial, ou seja, se ela for retirada, o sentido da frase não mudará e a oração continuará perfeitamente compreensível. Veja: O que Lúcia odeia? Fazer compras. O que Seu Maurício vendia? Guarda-chuvas. O que Júlio e Júlia queriam? Um carro novo. Sem a preposição “a” aqui: “Eu vou o jogo”, a frase não faz sentido, certo? Por isso, nesse caso temos um verbo transitivo indireto (ir) seguido de um objeto indireto. Agora que você compreende essa diferença, como saber quando é adequado gramatical- mente utilizar um objeto direto preposicionado? Veja os exemplos abaixo: Se não fizeres isso corretamente, ofenderás a ti mesmo. Paulo saúda aos deuses todos, sem distinção. Ana ama a Deus acima de todas as coisas. Nessa oração, você pode ver que o objeto direto ti é antecedido da preposição a. Isso por- que o objeto direto costuma ser preposicionado quando os verbos transitivos diretos são um dos pronomes pessoais tônicos (mim, ti, ele, ela, eles, elas). 30 ENSINO MÉDIO EM FOCO Foi uma noite triste de um dia tristonho. Não quero magoar a ninguém. Amarei a todos igualmente. Usualmente, como você pode ver nos exemplos anteriores, os objetos diretos são prepo- sicionados quando representam o nome de Deus ou deuses. É comum também que os objetos diretos sejam preposicionados com verbos transitivos diretos relacionados a emoções ou sentimentos. Objeto direto pleonástico Como você deve se lembrar dos estudos sobre figuras de linguagem, o pleonasmo é a figura de linguagem que consiste na repetição de uma mesma ideia ou palavra de modo a destacar um sentimento ou conceito. Um exemplo de pleonasmo está contido na repe- tição da ideia de “tristeza” na frase abaixo: Isabela saiu da casa dos pais quando completou 18 anos. Os candidatos à presidência viajaram para Brasília. Joana não precisa mais de sua ajuda. Objeto direto pleonástico Ao contrário do objeto direto, que não necessita de preposição, o objeto indireto, por se relacionar com um verbo transitivo indireto, sempre virá acompanhado de uma preposi- ção para que a oração faça sentido. Veja os seguintes exemplos: O objeto direto pleonástico ocorre, portanto, quando há a repetição do objeto direto que é destacado na sentença antes do verbo. Veja os exemplos abaixo: O prato especial, minha mãe cozinhou-o naquele dia. A aliança, não a joguei fora, guardo-a comigo. Perceba que, nesses exemplos, você não faria mais a pergunta “O quê?", mas “De onde?”, “Para onde?” e “De que?”. Caso você esteja em dúvida se o objeto é realmente indireto e não um objeto direto preposicionado, retire a preposição e veja como a frase soa de maneira incorreta. 31 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL À minha mãe, dou-lhe tudo o que necessitar. Aos meus amigos, dedico-lhes essa canção. Alguns amigos ofereceram ajuda ao meu marido. Neste Natal, darei ao meu pai um presente. Objeto indireto pleonástico Objeto direto e indireto Assim como há o objeto direto pleonástico, também existem orações em que o comple- mento verbal é um objeto indireto pleonástico, ou seja, em que o objeto indireto ocorre duas vezes, uma antes e outra depois do verbo. Veja os exemplos abaixo: Por fim, encontramos algumas orações em que os verbos são bitransitivos, isto é, são verbos transitivos diretos e indiretos. Nesses casos, você encontrará, na mesma oração, um objeto direto e um objeto indireto: Perceba que, quando o verbo é transitivo indireto (dou, dedicar) o objeto indireto pleo- nástico sempre corresponderá ao pronome oblíquo átono lhe. Esse pronome correspon- de à contração do pronome oblíquo (o, a, os, as) com a preposição a ou para. Material extra Em relação ao complemento verbal, é muito comum que os estudantes confundam o ob- jeto indireto com o objeto direto preposicionado. Por isso, se ainda restou alguma dúvida, vale conferir a aula da professora Letícia Goés a respeito dessa diferença. Bons estudos! Nos exemplos anteriores, os verbos oferecer e dar, que são bitransitivos, pedem tan- to a pergunta “O quê?” quanto “A quem?”, por isso as frases têm um objeto direto e um objeto indireto. Site: folha.uol.com.br Objeto direto preposicionado OBJETO INDIRETO OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO 32 ENSINO MÉDIO EM FOCO 33 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 1. Classifique nas orações a seguir os tipos de predicado e identifique os respectivos complementos verbais, se houver. 2. Leia a primeira estrofe do poema “Passei a noite junto dela”, de Álvares de Azeve- do e assinale a alternativa correta: a) Na última oração da estrofe “E eu vivia no doce alento dessa virgem bela”, o verbo “vi- ver” é intransitivo e, por isso, é acompanhado de um objeto indireto. b) Na última oração da estrofe “E eu vivia no doce alento dessa virgem bela”, o verbo “viver” é transitivo direto e indireto e, por isso, é acompanhado de um objeto direto e de um objeto indireto. c) No primeiro verso “Passei a noite junto dela” o sujeito é indeterminado. d) No primeiro verso, “Passei a noite juntodela”, o objeto da oração é indireto. e) No verso “Do camarote a divisão se erguia” é possível afirmar que “Do camarote” é o sujeito da oração. Atividade a) Minha tia comprou um apartamento novo. b) Os pais de Tamires estavam muito felizes com o novo netinho! c) O padre proferiu calmamente o sermão. d) Juliana pensou sobre o caso. Passei ontem a noite junto dela. Do camarote a divisão se erguia Apenas entre nós — e eu vivia No doce alento dessa virgem bela... AZEVEDO, Álvares. Passei a noite junto dela. In: Poemas Irônicos, Venenosos e Sarcásticos. Disponível em: http://objdigital. bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/poemas%20irônicos.pdf. Acesso em: 1 set. 2022. 34 ENSINO MÉDIO EM FOCO 3. Analise sintaticamente os termos destacados nas orações a seguir: 4. Leia a seguir as sentenças. 5. Formule uma frase que seja formada por um verbo transitivo direto e por um complemento nominal. a) Os homens entregaram os insumos ao supermercado. b) Pedi dinheiro ao meu pai. c) As borboletas, julgo-as criaturas maravilhosas. d) Não diga isso, você sabe que respeito a Deus. 1. Açúcar faz mal aos dentes. 2. Seus olhos são bonitos. 3. Minha cor favorita era verde-água. Quantos complementos verbais você encontra nesses versos? Copie as orações e, em seguida, classifique-os. Referências Cunha, Celso; Lindley, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. 35 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Proposta 1: Ansiedade, angústia e solidão serão “sintomas” pós-pandemia TEXTO 1 Um estudo que mostra que ansiedade, depressão e outros sintomas psicológicos e neu- rológicos aparecem em pessoas infectadas pela Covid-19. A pesquisa ouviu 100 mil pes- soas de 30 países que tiveram forma grave da doença. 36 ENSINO MÉDIO EM FOCO Até o momento, a percepção de dor, ansiedade e depressão foram as mais prevalen- tes entre os participantes durante a avaliação subjetiva. A professora e coordenadora do estudo, Carolina Marinho, acredita que a saúde mental pode sofrer impactos devido ao isolamento do paciente durante a internação, em que paciente fica privado de visitas familiares e, em alguns casos, sem contato por celular com os entes e amigos. Além disso, antes mesmo da definição do diagnóstico, esses pacientes relatam sentir medo de se con- taminar no ambiente do hospital e, quando a Covid é confirmada, o medo passa a ser da incerteza da evolução da doença. Isso, é claro, para os pacientes que permanecem cons- cientes nesse processo. Já aqueles que precisam ir para o CTI e usam ventilação mecânica não ficam conscientes durante todo o período de internação, o que pode deixar lacunas na memória. “Essa falta do entendimento do que aconteceu naquele período é outro fator relacionado à internação que pode alterar a saúde mental”, complementa a professora. No entanto, não só sintomas clínicos, mas também o luto pelas perdas e informações so- bre a agravante da crise pandêmica, muitos jovens com o medo do que espera o futuro entram em um limbo emocional onde tudo está perdido e a não afirmação de que garan- ta algo no futuro agrava ainda mais essa inquietação, sofrimento e dores. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/dor-depressao-e-ansiedade-podem-estar-entre-as-sequelas-da-covid-19/. Acesso em: 30 maio 2022. 37 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Ilustração: Eureka digital. Acesso em: 01 jun. 2022. Ilustração de uma campanha para o Setembro Amarelo. TEXTO 2 Pergunta viraliza na internet e coloca em cheque a suposta felicidade de usuários nas redes sociais. PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL 1. Introdução (momento em que você expõe o debate). 2. Argumentação (momento em que você apresenta uma ideia). 3. Contra-argumento (momento em que você mostra as recusas a essa ideia). 4. Conclusão (momento em que você oferece uma solução para o impasse e reforça sua posição no debate). 38 ENSINO MÉDIO EM FOCO ORIENTAÇÕES ADICIONAIS • O texto deve ser escrito obedecendo à ordem das etapas descritas. • Deve-se respeitar a norma-padrão da Língua Portuguesa. • O texto deverá conter entre 27 a 30 linhas. • Não se esqueça de criar o título. AJUDA A argumentação O contra-argumento consiste na refutação contra um argumento oposto. Veja como exemplo o tema: privatização do ensino superior. Argumento a favor: “A privatização do ensino superior irá aumentar a qualidade do ensino, pois as empresas privadas irão investir para competir no mercado.” Contra-argumento: “Embora a qualidade do ensino melhore com a privatização, as pessoas mais pobres não terão acesso, pois não conseguirão pagar a mensalidade.” A contra-argumentação nada mais é do que contestar o argumento oposto! PODCAST Site: editoraeureka.com.br Como as redes sociais influenciam a comunicação escrita 39 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 40 ENSINO MÉDIO EM FOCO 41 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Proposta 2: A luta contra o preconceito TEXTO 1 Bar Stonewall Inn, palco de manifestações pela diversidade em 1969. STF aprova a criminalização da homofobia Outra crítica corrente à criminalização da homotransfobia é de que isso pode levar à vio- lação da liberdade de expressão. "É claro que qualquer excesso de agressão física ou verbal e de discriminação tem de ser punido, mas todos são iguais perante à lei, e dar o privilégio de criminalizar um discurso contrário à homossexualidade é uma agressão à democracia e a um direito fundamen- tal", defende Walter Silva, representante da Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida, que reúne mais de 200 membros do Senado e da Câmara e que pediu ao STF para ser ouvida no julgamento. 42 ENSINO MÉDIO EM FOCO "Qualquer pessoa pode se expressar de forma respeitosa. Quem defende sua fé e a com- posição de uma família hétero não pode expressar sua opção e razões? Não podemos admitir qualquer patrulhamento de consciência." O advogado Paulo Iotti diz que o objetivo das ações não é "punir padre ou pastor por falar contra a homossexualidade". "Se um padre me disser respeitosamente que, na sua visão, ser homossexual é pecado, posso não gostar, mas não é crime e jamais seria, mas, se vou a uma igreja e ouço alguém dizer 'afaste-se de mim seu sodomita sujo, saia daqui', isso é um abuso do direito de liber- dade religiosa e um discurso de ódio", afirma Iotti. Quem se opõe à criminalização alega ainda que a legislação existente já pune crimes contra LGBTs. "Todos os casos de vio- lência contra homossexuais po- dem ser enquadrados em tipos penais como homicídio, lesão corporal, difamação", afirma Uziel Santana, presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), amicus curiae das ações no STF. Santana afirma ainda que fal- tam dados oficiais e pesquisas sobre crimes dessa natureza no Brasil e que a Anajure buscou fazer um levantamento pró- prio ao consultar secretarias estaduais de segurança públi- ca. "Quase nenhuma tinha uma base consolidada. A maioria são crimes passionais envolvendo homossexuais. Sem fazer essa verificação, não podemos afir- mar que existe homofobia na sociedade brasileira." Pereira, do IBDFAM, considera estes argumentos uma 'desculpa esfarrapada para susten- tar o preconceito' e aponta que a legislação atual já pune crimes cometidos contra mulhe- res, mas que foram criadas leis específicas para coibi-los. 'O que abunda não prejudica. Os crimes de feminicídio não acabaram, mas foram reduzidos. Se a homofobia e a transfobia forem criminalizadas, uma pessoa preconceituosa vai pensar duas vezes.' BARIFOUSE, Rafael. STF aprova a criminalização da homofobia. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/bra- sil-47206924. Acesso em: 12 jul. 2022. 43 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL TEXTO 2 Bandeira do orgulho LGBT. 50 anos de Stonewall A revolta ou rebelião de Stonewall foi um momento decisivo para o movimento de liberação gay. Seis meses após ela ocorrer, surgiriam as primeiras organizações do movimento de liberação LGBT nos EUA, como a Frente de Liberação Gay. "Essa revoltaacabou assumindo a imagem de um mito fundador para o movimento LGBT", diz Renan Quinalha, professor de direito da USP, ativista LGBT e um dos autores do livro A História do Movimento LGBT no Brasil. "Não foi a primeira vez que houve assédio e violência policial contra a população LGBT. Esse é um problema crônico. É constitutivo da identidade LGBT essa relação com a violência de Estado, a violência LGBTfóbica diluída na sociedade." Segundo Quinalha, o contexto histórico daquele momento nos Estados Unidos contribuiu para o levante da comunidade LGBT em Stonewall. "Stonewall reúne singularidades importantes. Acontece em 1969 após o movimento de libertação sexual, com uma série de condições específicas de Nova York, uma sociedade extremamente desenvolvida com uma série de contradições naquele momento. E acon- tece numa região do East Village que de fato era um bolsão, onde havia uma diversidade grande de pessoas, de migrantes, de latinos. Havia também (à época) um caldeirão em relação à desigualdade. Teve também a questão da mobilização contra a Guerra do Viet- nã", lembra Quinalha. 'Uma série de condições faz com que Stonewall vire um episódio significativo e bastante singular em relação ao que havia antes (no movimento LGBT). Ha- via lutas e resistência anteriores, havia o Mattachine Society, em São Francisco.'" BBC. 50 anos de Stonewall: saiba o que foi a revolta que deu origem ao dia do orgulho LGBT. G1. Disponível em: https://g1.globo. com/mundo/noticia/2019/06/01/50-anos-de-stonewall-saiba-o-que-foi-a-revolta-que-deu-origem-ao-dia-do-orgulho-lgbt.ghtml. Acesso em: 12 jul. 2022. 44 ENSINO MÉDIO EM FOCO TEXTO 3 Os números da LGBTFOBIA A cada 19 horas um LGBT é assassinado ou se suicida vítima da homotransfobia. Em 2017, foram registradas 445 mortes. Em 2000, o número era 130 mortes. Fonte: Grupo Gay da Bahia. 45 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL PROPOSTA: DISCUTINDO PRECONCEITO NO BRASIL Escreva uma dissertação sobre o tema: “O combate ao preconceito no Brasil”, baseando-se nos textos de apoio. Lembre-se que a dissertação conta com a seguinte estrutura: 1. Introdução. 2. Argumento. 3. Contra-argumento. 4. Conclusão. Lembre-se de propor uma intervenção para o problema apresentado, assim como de ma- nifestar seu ponto de vista. ORIENTAÇÕES ADICIONAIS • O texto deve se ater à proposta. • Deve-se respeitar a norma-padrão da Língua Portuguesa. • O texto deverá conter 27 a 30 linhas. • Não se esqueça de criar o título. 46 ENSINO MÉDIO EM FOCO 47 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 48 ENSINO MÉDIO EM FOCO Termos integrantes da oração Nos capítulos anteriores, você começou a revisar os conteúdos relativos à sintaxe da Língua Portuguesa. Você estudou o que são os termos essenciais (sujeito e predicado) e reviu um dos termos integrantes (complementos verbais). Neste capítulo, você vai conti- nuar os estudos sobre os termos integrantes da oração. COMPLEMENTO NOMINAL Assim como você viu em relação aos complementos verbais, e como o próprio nome re- vela, a função de um complemento nominal é completar o sentido de um nome. Na gra- mática, esse nome é representado pelos substantivos, adjetivos e advérbios. Observe os elementos destacados nas orações a seguir: 49 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Substantivos Meus amigos mostraram interesse pelo apartamento. No verão, tenho vontade de tomar sorvete. Não chegue perto da minha mesa! O menino fez uma escolha independentemente da posição dos pais. Perceba que, nessas orações, todos os termos destacados completam o sentido dos no- mes. Nas duas primeiras frases, os complementos “pelo apartamento” e “de tomar sorvete” completam o sentido dos substantivos interesse e vontade. Já na terceira oração, o comple- mento nominal “da minha mesa” completa o sentido do adjetivo perto. Por fim, na última oração, o complemento “da posição dos pais” completa o sentido do advérbio independen- temente. O que você consegue perceber de comum em todos esses complementos nominais? Se você pensou “todos eles são antecedidos de preposição”, acertou! Assim como os objetos indiretos, que completam o sentido dos verbos transitivos indiretos, os complementos nominais sempre serão acompanhados por preposição. Os complementos nominais podem ser representados por: Cansa-me a demora do ônibus. Nesse caso, o substantivo ônibus completa o sentido do substantivo demora. ENSINO MÉDIO EM FOCO 50 Pronomes Numerais Joana não teve mais notícias dele. Não escutou mais as desculpas de ambos. Nesse caso, o pronome ele, que aparece em sua forma contraída com a preposição de (de + ele = dele), completa o sentido do substantivo notícias. Nesse caso, o numeral ambos completa o sentido do substantivo desculpas. 51 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Palavras substantivadas Oração completiva nominal Olhou para ela, ansioso por um sim. Ele está convicto de que está certo nessa questão. Nesse caso, o advérbio sim, que, nesse contexto, assume a função de palavra substan- tivada, é o complemento nominal do adjetivo ansioso. Perceba que, nesse último caso, o complemento não é apenas uma palavra ou expressão, mas uma nova oração subordinada à oração principal “Ele está convicto”. Desse modo, a ora- ção completiva de que está certo nessa questão completa o sentido do adjetivo convicto. Material extra É comum que os estudantes confundam o complemento nominal com o objeto indi- reto na hora de fazer os exercícios. Assista ao vídeo a seguir para compreender mais sobre esse assunto. Site: educabras.com Objeto direto e indireto x Complemento nominal ENSINO MÉDIO EM FOCO 52 AGENTE DA PASSIVA Maria vendeu o carro. O carro foi vendido por Maria. Vendeu-se o carro. Esse doce foi feito por minha avó. A mesma melodia foi por mim entoada. Esse mural foi exposto por ambos. O vinho era apreciado por todos os hóspedes que iam ao hotel. A primeira oração está em voz ativa, enquanto a segunda encontra-se em voz passiva analí- tica e a terceira, por sua vez, em voz passiva sintética. Na segunda oração, como você pode ver, o objeto direto “o carro” encontra-se na posição em que o sujeito usualmente ocupa nas orações. Já o sujeito, “Maria”, vai para o final da frase. Porém, se você pergunta: quem praticou a ação? Quem vendeu o carro? A resposta será: Maria. Nesse caso, portanto, Maria é o agente da passiva. Assim, concluímos que o agente da passiva aparece apenas nas sentenças que estão em voz passiva analítica. O agente da passiva, normalmente introduzido pela preposição por, costuma ser um subs- tantivo, uma palavra substantivada ou um pronome. Porém, pode também aparecer como numeral ou oração substantiva. Na primeira oração, o agente da passiva é um substantivo (minha avó); na segunda, um pronome (mim); na terceira, aparece como um numeral (ambos) e, por fim, na última ora- ção, assume a forma de oração substantiva (todos os hóspedes que iam ao hotel). Material extra Ficou alguma dúvida em relação ao agente da passiva? Se sim, vale conferir a aula no canal Futura a seguir. Bons estudos! Canal: Canal Futura Vozes verbais 53 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Predicativo do sujeito PREDICATIVO DO SUJEITO E PREDICATIVO DO OBJETO Observe a oração: Quando você estudou o predicado nominal, viu que o núcleo da oração é o nome. Na análise sintática, esse nome é chamado de predicativo. O predicativo nada mais é do que o termo que confere uma qualidade ou uma característica ao sujeito ou ao objeto. Por isso, existem dois tipos de predicativo: o predicativo do sujeito e o predicativo do objeto. Mas como encontrar o predicativo em uma oração? E como distinguir um do outro? Vamos por partes! O céu está cinzento. Nessa oração, você consegue identificar o sujeito (céu) e o verbo de ligação (está) e pode ver também que o núcleo da oração é o adjetivo ”cinzento”, o que confere ao predicado a classificação de predicado nominal. Nessa posição na oração, esse adjetivo tem o nome de predicativo do sujeito. Como você pode ver, sua função écaracterizar o sujeito céu. 54 ENSINO MÉDIO EM FOCO Predicativo do objeto O predicativo do objeto, semelhante ao predicativo do sujeito, define a qualidade ou característica de um objeto. Tanto o objeto direto quanto o objeto indireto podem ser qualificados pelo predicativo do objeto. Observe as orações abaixo: Ela achou o avô cansado. Considero-o meu melhor amigo. Chamam-lhe Carminha, mas seu nome é Carmen. Maria viu sua mãe feliz. Júlia é um bebê. Eu não sou mais eu! Esse jogo é de criança. Nós somos três irmãos. Meu desejo é que todos passem na prova. Além de aparecer como adjetivo, o predicativo do sujeito pode ser também um pronome, um numeral, uma locução adjetiva e uma oração substantiva predicativa, sempre nos predicados nominais. Observe as orações: Na primeira oração, o predicativo do sujeito é um substantivo (um bebê). Na segunda, é um pronome (eu). Na terceira oração, o predicativo do sujeito aparece como uma locução adjeti- va (de criança). Na quarta, como um numeral (três) e, por fim, na última oração, o predicativo do sujeito aparece como uma oração substantiva predicativa (que todos passem na prova). Em todas essas frases o predicativo do objeto caracteriza o objeto direto ou o objeto indi- reto. Na primeira oração, o avô (objeto direto) é caracterizado como cansado (predicativo do objeto). Na segunda oração, o objeto direto, que, no caso, é o pronome o, é caracte- rizado pelo predicativo do objeto meu melhor amigo. Na terceira oração, Carminha é o predicativo do objeto indireto lhe. E, por fim, na última oração, feliz é o predicativo do objeto direto mãe. 55 PREDICATIVO DO SUJEITO PREDICATIVO DO OBJETO Você percebeu algo em comum em relação a essas orações? Se respondeu que to- dos os predicados são verbo-nominais, acertou em cheio! Atenção: os predicativos do objeto só aparecem em predicados verbo-nominais, ou seja, nos predicados que possuem dois núcleos, verbal e nominal. Material extra O predicativo do objeto tem uma função semelhante à do predicativo do sujeito, por isso muitas vezes podemos confundir um com o outro. Se ainda restou alguma dúvida, vale assistir à aula do portal Norma Culta, que apresenta as diferenças entre o predi- cativo do sujeito e o predicativo do objeto. Site: normaculta.com.br Predicativo do sujeito e do objeto LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL ENSINO MÉDIO EM FOCO 56 1. Assinale a única alternativa em que a oração apresenta complemento nominal. 3. Assinale a alternativa em que há agente da passiva. 4. Leia as orações a seguir e determine a função sintática dos termos destacados. 2. Leia a estrofe a seguir: a) Tenho certeza de que o tempo vai abrir hoje. b) Estudar é uma necessidade. c) João e Mário permaneceram abalados com a notícia. d) A cozinha foi limpa por Maria. e) A menina pediu mais um lanche. a) Agradeço-lhe por cuidar de minha mãe. b) Sabe-se que há muito você não me visita. c) As folhas foram levadas pelo vento. d) O carro quebrou no meio da avenida. e) A menina usou o pente da mãe. a) Adjunto adnominal – objeto indireto. b) Objeto direto – complemento nominal. c) Predicativo do sujeito – objeto indireto. d) Complemento nominal – predicativo do objeto. e) Objeto indireto – objeto indireto. Atividade a) Ontem à tarde, tomei um sorvete delicioso. b) Marina estava envolvida pelo ritmo da música. O pastor amoroso perdeu o cajado, E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta, E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar. Os dois termos destacados no poema exercem, respectivamente, a função de: Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/3242. Acesso em: 17 jun. 2022. 57 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 5. Assinale a alternativa correta em relação ao termo destacado na seguinte oração: a) Predicativo do objeto. b) Complemento nominal. c) Objeto direto. d) Predicativo do sujeito. e) Objeto indireto. c) Pedro continua animado com a viagem. d) Beber muito álcool faz mal à saúde. e) A cadeira foi pintada por meu pai. “Julgaram-na a melhor professora do colégio”. 6. Identifique, nas orações a seguir, se os termos sublinhados são predicativo do sujeito ou predicativo do objeto e justifique sua resposta. a) Carlos é muito insistente. b) O resultado do vestibular deixou Maria contente. c) Todos permaneceram silenciosos depois do acidente. d) Chamaram-me infiel injustamente. 58 ENSINO MÉDIO EM FOCO Referências CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. 7. Assinale a alternativa em que não há presença de complemento nominal. 8. Leia as orações a seguir e assinale a alternativa que corresponde à função dos termos destacados. a) Fique longe de más influências. b) Tenho esperança de que meus filhos cresçam saudáveis e fortes. c) Estou feliz independentemente do que possam pensar. d) Lúcio continua contente e alegre. e) Sua amiga fez bem em te contar a verdade. a) Complemento nominal – agente da passiva – predicativo do objeto. b) Predicativo do objeto – predicativo do sujeito – complemento nominal. c) Complemento nominal – objeto direto – predicativo do sujeito. d) Objeto indireto – complemento nominal – objeto direto. e) Complemento nominal – predicativo do sujeito – predicativo do objeto. I. Julia tem vontade de aprender a surfar. II. Minha esposa e eu ficamos muito felizes com seu depoimento. III. O juiz julgou o réu culpado. 9. Leia a passagem do livro Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, identifique no texto uma oração que apresente complemento nominal e justifique sua resposta. “O senhor é tão jovem, tem diante de si todo começo, e eu gostaria de lhe pedir da melhor maneira que posso, meu caro, para ter paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu coração. Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata, de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas." (RILKE, Cartas a um jovem poeta, 2016, p. 43, grifos do autor) 10. Ainda sobre a passagem do livro Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, lida no exercício anterior, identifique uma oração cujo predicado seja nominal e que apresente predicativo do sujeito. 59 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Sintaxe: Elementos acessórios da oração Agora que você já dominou os termos essenciais e os termos integrantes das ora- ções, é hora de rever o último grupo: os termos acessórios. A palavra acessório faz referência a algo suplementar, secundário ou, como entendemos mais comumente, decorativo. Porém, ainda que os termos acessórios sejam considerados secundários para a análise sintática, eles muitas vezes são indispensáveis em um diálogo. Como você sabe, os termos acessórios, assim como os termos integrantes, podem ou não estar presentes em uma oração. Entre eles estão: o adjunto adnominal, o adjunto adverbial, o vocativo e o aposto. O escritor Evgeny Chirikov, de Ivan Kulikov, 1904. ENSINO MÉDIO EM FOCO 60 ADJUNTO ADNOMINAL O adjunto adnominal é um termo acessório cuja função é qualificar ou caracterizar um substantivo. Mas, você pode estar se perguntando: essa não é a função do complemento nominal e dos predicativos? Sim, também! Contudo, vale lembrar, primeiro, que o adjun- to adnominal é um termo acessório, ou seja, se o retirássemos das orações o sentido principal se manteria (diferente do que acontece com o complemento nominal, por exem- plo). Em segundo lugar, o adjunto adnominal qualifica especificamente os substantivos, enquanto o complemento nominal pode ser substantivo abstrato, adjetivo ou advérbio. E, em terceiro lugar, o modo como ele aparece nas orações é distinto, se comparado a frases que possuem complemento nominal e/ou predicativos. Observe: Pode, também, aparecer como artigo: E, por fim, como oração adjetiva:Vale ressaltar, como você pôde ver no exemplo do sujeito “Meu chapéu de palha”, que um mesmo substantivo pode ter mais de um adjunto adnominal. Além de adjetivo, locução adjetiva e pronome, o adjunto adnominal pode aparecer como numeral: Podemos construir paisagens belíssimas, basta pincel, tinta e um bocado de imaginação! Os cabelos de Ana crescem muito rápido. Venho conversar com a menina que tanto amo. Ontem comprei dois tomates na feira. Meu chapéu de palha está fora de moda. Nesta oração, o adjetivo belíssimas é adjunto adnominal, pois qualifica paisagens que, sintaticamente, é o objeto direto da oração. Nesse caso, o adjunto adnominal aparece no predicado, mas ele também pode aparecer no sujeito. Veja: Aqui, você pode ver dois adjuntos adnominais: meu e de palha. Portanto, nesse caso, as palavras que assumem a função sintática de adjunto adnominal são um pronome e uma locução adjetiva, usados para qualificar o substantivo chapéu que, nessa oração, assume o a função de sujeito. 61 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL ADJUNTO ADNOMINAL Material extra Releia a oração que foi usada como exemplo para explicar o termo anterior: Veja se consegue identificar os adjuntos adverbiais nessas outras orações: Ontem comprei dois tomates na feira. Minha mãe levou-me ao médico semana passada. Ontem ficamos em casa. É muito comum confundir o adjunto adnominal com o complemento nominal nas questões de múltipla escolha. Se esse é seu caso, leia o texto do Portal Norma Culta, que explica esses dois termos gramaticais e dá dicas de como não confundi-los mais. Site: normaculta.com.br Adjunto adnominal e complemento nominal Você pode ver que, nessa oração, o sujeito é formado pelo sujeito oculto (eu), e o predi- cado, por sua vez, pelo verbo transitivo direto (comprei), seguido do adjunto adnominal (dois) e do objeto direto (tomates). Mas, você pode estar se perguntando, e os dois termos que ainda não foram classificados, ontem e na feira? Se você perceber, ambos cumprem a mesma função na frase: indicar as circunstâncias (tempo e espaço) sob as quais acontece a ação do verbo comprar. Nesse sentido, ambos os termos têm valor de advérbio, por isso eles levam o nome de adjunto adverbial. Na primeira oração, temos um adjunto adverbial que indica tempo (semana passada), já na segunda, temos dois adjuntos adverbiais. Um indica tempo (ontem) e o outro, lugar (em casa). 62 ENSINO MÉDIO EM FOCO Além de descrever a situação da ação verbal, o adjunto adverbial pode também, em alguns casos, intensificar o sentido de um verbo, de um adjetivo ou mesmo de outro advérbio. Veja só: Amei-a intensamente. Os olhos de Maria são extremamente belos. Ele está muito bem essa noite. Júlia sofreu muito. Meu marido trabalha demais! Nesses exemplos, temos adjuntos adverbiais que expressam intensidade. Na primeira oração, o adjunto adverbial intensamente amplia o sentido do verbo amar; na segunda oração, o adjunto adverbial extremamente reforça o sentido do adjetivo belos que, sin- taticamente, é o predicativo do sujeito; e, por fim, na terceira oração o adjunto adverbial muito reforça o sentido do advérbio bem. O adjunto adverbial pode aparecer de três formas diferentes em uma oração. Ele pode aparecer na forma de um advérbio, de uma locução adverbial ou de uma oração subordinada adverbial. ADJUNTO ADVERBIAL NA FORMA DE ADVÉRBIO Como o nome já sugere, geralmente, quando encontramos um advérbio sozinho em uma oração, ele está cumprindo a função sintática de adjunto adverbial. Observe: Nesses dois exemplos, temos orações em que os verbos são intransitivos (sofrer, traba- lhar), por isso, não precisam de complemento para que a frase faça sentido. Entretanto, os advérbios “muito” e “demais” foram usados como termos acessórios para qualificar esses verbos. Portanto, classificamo-nos como adjuntos adverbiais. Júlia sofreu por muitos e muitos anos. ADJUNTO ADVERBIAL NA FORMA DE LOCUÇÃO ADVERBIAL Como você deve se lembrar, chamamos de locuções adverbiais a junção de duas ou mais palavras que, em um enunciado, cumprem a função de advérbio. Em muitas orações, elas cumprem também a função sintática de adjunto adverbial. Veja: Nesta oração, o conjunto de palavras “por muitos e muitos anos” tem a função de advérbio de tempo e, portanto, essas palavras cumprem a função sintática de adjunto adverbial. 63 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Estaremos aqui até que o dia amanheça. Minha aluna decidiu fazer um intercâmbio quando o momento certo chegar. ADJUNTO ADVERBIAL NA FORMA DE ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL Por vezes, quando duas orações criam uma relação de dependência, isto é, quando temos uma oração principal e outra subordinada a ela, a oração subordinada exerce a função de advérbio. Nesses casos, nós as classificamos também como adjunto adverbial. Observe os exemplos: Em ambas as frases, você encontra duas orações: uma oração principal (Estaremos aqui; Mi- nha aluna decidiu fazer um intercâmbio) e uma oração subordinada (até que o dia amanheça; quando o momento certo chegar). Em ambos os casos elas servem para indicar a circunstância temporal do verbo da oração principal, por isso são classificadas como adjuntos adverbiais. ADJUNTO ADVERBIAL E SUAS CLASSIFICAÇÕES Por meio dos exemplos, você deve ter percebido que os adjuntos adverbiais podem ser classifica- dos de diversos modos: adjunto adverbial de tempo, adjunto adverbial de intensidade, etc. Não é possível delimitar exatamente quantos tipos de adjuntos adverbiais existem, pois estes dependem do contexto em que o termo aparece, mas é importante ter em mente os tipos mais comuns. Adjunto adverbial de Exemplo tempo As folhas das árvores começam a cair em julho. modo Devagar, ele foi recolhendo as roupas do varal. intensidade Você parece tão cansado. causa O menino perdeu a paciência porque gritavam com ele. companhia Vivi com a minha mãe por vinte e cinco anos. negação Não concordo nem aceito o que está me dizendo. meio Maria viajou de ônibus esse fim de semana. matéria Fiz com linho o vestido de minha irmã. lugar Foi viajar a Paris. finalidade Eu estudei para a prova. dúvida Talvez minha mãe tenha mesmo razão. instrumento Cortei o papel com uma tesoura. assunto Essa palestra é sobre análise sintática. Material extra Caso tenha restado alguma dúvida acerca dos adjuntos adverbiais, vale conferir o conteúdo a seguir. Canal: Brasil Escola Adjunto adverbial 64 ENSINO MÉDIO EM FOCO 65 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 1. Em todas as orações a seguir há adjuntos adnominais e/ou adjuntos adverbiais; identifique-os e, em seguida, justifique sua resposta. a) Semestre passado, Miguel viajou a Paris. b) Esse xale não foi costurado corretamente. c) Meu namorado levou-me a uma festa animada ontem. Atividade a) Adjunto adverbial de tempo, adjunto adnominal, objeto direto. b) Adjunto adnominal, predicativo do sujeito, adjunto adnominal. c) Adjunto adverbial de tempo, adjunto adnominal, objeto indireto. d) Adjunto adnominal, complemento nominal, objeto indireto. e) Adjunto adverbial de causa, adjunto adnominal, objeto direto. a) Na oração, “de barco” é complemento nominal. b) Na oração, “com meu amor” é adjunto adverbial de companhia. c) O núcleo do sujeito é “felicidade” d) A oração tem 4 adjuntos adnominais: a, minha, maior, o. e) O verbo “foi” exige objeto indireto. 2. Os termos destacados na oração “Outro dia, o discurso do chefe entregou a verdade.” são respectivamente: 3. Assinale a única alternativa incorreta em relação à oração a seguir: A minha maior felicidade foi o passeio de barco com meu amor. 66 ENSINO MÉDIO EM FOCO a) Tempo, modo, afirmação. b) Lugar, modo, tempo. c) Tempo, intensidade, finalidade. d) Afirmação, modo, instrumento. e) Afirmação, modo, finalidade. a) Não é sempre que podemos viajar de férias. b) César prefere parar de discutir com os colegas. c) Por causa das fortes chuvas, a plantação foi prejudicada. d) Pedro refletiu com os sócios acerca dos novos empreendimentos. e) Joana colocouos novos livros sobre a escrivaninha. 4. No parágrafo a seguir, foram destacados alguns adjuntos adverbiais: 5. Assinale a sentença que contenha adjuntos adverbiais de tempo. No texto, eles indicam, respectivamente, a ideia de: “Em solo nordestino, as meninas foram rebatizadas com nomes brasileiros. A caçula, Haia, virou Clarice. E, 20 anos depois, se tornaria progressivamente na famosa escritora Clarice Lispector — naturalizada brasileira nos anos 1940”. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61489568 (adaptado). Acesso em: 17 jun. 2022. 67 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL APOSTO Suponha que você vê seu vizinho na rua e ele está acompanhado de uma criança que você desconhece. Para apresentá-la, ele lhe diz o seguinte: — Essa é Giovana, filha de meu irmão. Esses homens, os mais afortunados, não estão preocupados com os pobres. Dia 2 de fevereiro é considerado o dia de Iemanjá, a rainha do mar. O poeta Drummond escreveu muitos livros. A cidade de São Paulo é muito populosa. Os livros de Drummond são belíssimos. O trânsito de São Paulo é intenso. Ao analisarmos sintaticamente essa oração, percebemos que o segmento filha de meu irmão faz referência ao substantivo da oração, Giovana. Esse termo, que explica ou acrescenta alguma informação a outro termo de valor substantivo ou pronominal que o precede, é chamado de aposto. Assim, podemos afirmar que filha de meu irmão tem o valor sintático de aposto nessa enunciação. Veja outros exemplos: Perceba que entre os termos substantivos “Esses homens”; “Iemanjá” e o aposto “os mais afortunados”; “a rainha do mar”, há uma pausa, marcada no texto por uma vírgu- la. Porém, não é sempre que o aposto virá antecedido por vírgula; há casos em que a palavra é um termo genérico especificado pelo aposto. Nesse caso, o aposto é chama- do de aposto especificativo. Observe: Perceba que isso seria diferente de dizer, por exemplo: Nesse caso, os termos de Drummond e de São Paulo qualificam o núcleo do sujeito (os livros e o trânsito) e, por isso, são adjuntos adnominais. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carlos_Drummond_de_Andrade,_1970.tif. Acesso em: 12 maio 2022. Carlos Drummond de Andrade. 68 ENSINO MÉDIO EM FOCO APOSTO E SUAS CLASSIFICAÇÕES O aposto é classificado de diferentes maneiras, a depender da relação que ele estabelece com o termo a que ele se refere. A sintaxe, estudo das regras que regem a construção das frases, possui muitos termos. Educação, saúde e diminuição da taxa de desemprego, tudo isso é o que espero do novo governo. É o lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. O rio São Francisco possui muitos afluentes, uns vêm de sua margem esquerda e outros de sua margem direita. O que vou lhe dizer só exige uma condição: que você leve esse segredo para o túmulo. Aposto explicativo Aposto recapitulativo Aposto enumerativo Aposto distributivo Aposto oracional (ou aposto de oração) O aposto explicativo sempre é precedido de vírgula e sua função é ampliar o significado de algum termo substantivo que o precede. O aposto recapitulativo retoma o que foi dito por meio de um pronome. O aposto enumerativo aparece depois dos dois pontos e tem a intenção de enumerar as partes que constituem o termo de referência. O aposto distributivo distribui as informações relativas a um termo principal. O aposto oracional é constituído por uma oração explicativa que faz referência a um ter- mo substantivo que já apareceu anteriormente. 69 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Canal: Emicida Emicida - Mãe (Videoclipe) Material extra Se você compreendeu o papel do aposto nas orações, topa um desafio? Encontre na letra da canção “Mãe”, composta e interpretada por Emicida, uma passagem em que o aposto aparece para descrever a mãe do eu-lírico. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Emicida. Acesso em: 12 maio 2022. Emicida no Festival Sensacional, em 2020. 70 ENSINO MÉDIO EM FOCO Material extra Agora que você já recordou qual é a função sintática dos vocativos, escute a música do grupo Comadre Florzinha e verifique o vocativo que se repete. VOCATIVO Observe as seguintes frases: — Preste atenção na aula, Clara! Oh amada, quanta saudade eu sinto de ti! Nessa vida, meu amor, é preciso estar atento e forte. Oh Nossa Senhora! Continuo rogando por vosso auxílio. Meu povo, vamos embora? Ó natureza divina, que tanta abundância nos traz! Em todas elas, os termos destacados “Clara”, “Oh amada” e “meu amor” têm a função de in- vocar ou interpelar alguém. Na análise sintática, esses termos são chamados de vocativos. O vocativo usualmente é formado por um substantivo ou pronome e não é subordinado a nenhum outro termo da oração. Além disso, considera-se que ele não faz parte nem do sujeito nem do predicado, ou seja, ele é um termo isolado. Esse é um ponto relevante para diferenciá-lo do aposto. Enquanto o aposto mantém uma relação sintática com ou- tros termos da oração, o vocativo não o faz, ainda que possa fazer alusão a algum outro termo que apareça na oração posteriormente, como no exemplo a seguir: Como você pôde perceber através dos exemplos, o vocativo pode aparecer no início, no final ou no meio das orações, mas sempre acompanhado de pontuação. E atenção: quando o vocativo se encontra no meio da frase, ele aparecerá sempre entre vírgulas, pois é um termo isolado da oração! É importante perceber também que nem sempre o vocativo se refere a um ser individual ou concreto. Observe os exemplos: Canal: Comadre Florzinha - Tema Ô Papai 71 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 1. Leia a estrofe do poema “Retrato”, de Cecília Meireles, e assinale a alternativa cor- reta a respeito do termo contido no verso destacado: Atividade a) Aposto. b) Adjunto adnominal. c) Objeto direto. d) Vocativo. e) Adjunto adverbial. a) Os Sertões, obra de Euclides da Cunha, é um livro rebuscado. b) Juliana, sincera e destemida, resolveu enfrentar aquela situação. c) Alegria, novas amizades, expectativas, essas emoções palpitavam no primeiro dia de aula. d) O estudo dos animais pode ser feito com base em sua dieta, uns são carnívoros, outros onívoros, outros, ainda, herbívoros. e) É preciso estar consciente: viver é uma corda bamba. a) Oracional, enumerativo, recapitulativo. b) Explicativo, distributivo, oracional. c) Oracional, recapitulativo, distributivo. d) Explicativo, enumerativo, recapitulativo. e) Explicativo, enumerativo, oracional. 4. Assinale a única alternativa incorreta em relação à oração a seguir: 3. Leia as orações a seguir: Tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face? I. Esse livro, biografia da grande escritora Clarice Lispector, enriqueceu-me profundamente. II. Santana, Tatuapé, Casa Verde, todos esses são bairros da cidade de São Paulo. III. A menina não dançava mais, fato que a entristecia profundamente. O tipo de aposto contido nas orações é respectivamente: Referência CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâ- neo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2020/03/25/retrato-cecilia-meireles/. Acesso em: 14 jun. 2022. 72 ENSINO MÉDIO EM FOCO Proposta 3: Padrões de beleza O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, 1485-1486. TEXTO 1 Padrões de beleza: as consequências graves da busca por um corpo idealizado Ao longo da história, o conceito de beleza se tornou um dos principais instrumentos de controle usados pela sociedade capitalista patriarcal. A escritora Naomi Wolf argumenta que o mito por trás daquilo que é considerado belo se refere a uma máxima cultural que limita a liberdade humana, principalmente a feminina. De acordo com essa narrativa, acreditamos que uma pessoa só alcança sucesso e felicidade, se corresponder a um pa- drão específico de beleza, nem que, para isso, ela precise se submeter a estilos de vida específicos e destrutivos. Os padrões de beleza são conjuntos de normas estéticas que desejam formatarcomo deve ou não deve ser o corpo e a aparência das pessoas. Apesar de haver hoje em dia um grande debate sobre a importância de um conceito de beleza que seja mais diverso e inclusivo, certas imposições parece que se intensificam com o passar do tempo e as con- sequências da busca por padrões de beleza se tornam cada vez mais graves. FERREIRA, Yuri. Padrões de beleza: as consequências graves da busca por um corpo idealizado. Disponível em: https://www.hype- ness.com.br/2021/03/padroes-de-beleza-as-consequencias-graves-da-busca-por-um-corpo-idealizado/. Acesso em: 12 jul. 2022. 73 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Dancers by the bar, de Fernando Botero, 2001. Marilyn Monroe. Modelos. 74 ENSINO MÉDIO EM FOCO TEXTO 2 Diz um ditado popular que a beleza está nos olhos de quem vê. Será mesmo? Para a professora da Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, Yaba Blay, a beleza é algo construído socialmente, e confere privilégios para quem a detém. Embora varie de local para local, ela diz que há um padrão mundial de beleza. Basta colocar a palavra beleza no Google que aparecem páginas e páginas, predominantemente de mulheres brancas. “No contexto da supremacia branca, vemos que o poder funciona como hierarquia, em que o branco está no topo, associado ao belo, e a negritude, na base, associada ao que é bárbaro, negativo e feio”, diz Yaba. “A beleza negra é uma questão política”, completa. Entre as mulheres, a questão racial associada à beleza é mais evidente, segundo Yaba. O padrão feminino de beleza é branco, mas o masculino, de força e virilidade, é negro. Alisar os cabelos ou branquear a pele são efeitos desse contexto, segundo a pesqui- sadora. “O que isso faz com a nossa autopercepção?”, indaga. Para dar visibilidade à beleza negra, ela criou a página PrettyPeriod (BonitaPonto) na internet, na qual divulga imagens de mulheres negras. Fonte: Geledés. Disponível em: https://www.geledes.org.br/latinidades-padrao-de-beleza-e-predominantemente-branco-diz-profes- sora-dos-eua/. Acesso em: 30 maio 2022. ORIENTAÇÕES ADICIONAIS • O texto deve se ater à proposta. • Deve-se respeitar a norma-padrão da Língua Portuguesa. • O texto deverá conter 27 a 30 linhas. • Não se esqueça de criar o título. PROPOSTA: DISCUTINDO PADRÕES DE BELEZA Escreva uma dissertação sobre o tema: "O impacto dos padrões de beleza em pessoas fora de padrão", baseando-se nos textos de apoio. Lembre-se de propor uma intervenção para o problema apresentado, assim como de manifestar seu ponto de vista. 75 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 76 ENSINO MÉDIO EM FOCO 77 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Proposta 4: Intolerância religiosa TEXTO 1 Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial) Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cul- tos religiosos de matriz africana compreende: I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e a fun- dação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins; II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das res- pectivas religiões; III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas; IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais reli- giosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica; V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões; VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respecti- vas religiões; VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quais- quer outros locais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 12 jul. 2022. 78 ENSINO MÉDIO EM FOCO TEXTO 3 TEXTO 2 Intolerância religiosa é incentivada por governos e favorece cri- mes de ódio, alerta relator da ONU Durante apresentação de seu relatório anual, o relator especial da Organização sobre a liberdade de religião ou crença, Heiner Bielefeldt, lembrou que a intolerância religiosa não se origina diretamente das próprias religiões: “Os seres humanos são os únicos, em última análise, responsáveis pelas interpretações de mente aberta ou intolerantes”. Ele lembrou que, em diversos países, grupos não estatais também promovem a intolerância religiosa, alertando que em alguns casos uma combinação das duas situações pode ser observada. Muitas pessoas estão sofrendo violações da liberdade de religião ou crença de maneiras que são despercebidas pela comunidade internacional, disse nessa sexta-feira (28), du- rante reunião na Assembleia Geral das Nações Unidas, o especialista da ONU em direitos humanos Heiner Bielefeldt. "Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de in- tolerância no Brasil? Dados compilados pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) mostram que mais de 70% de 1.014 casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados no Estado entre 2012 e 2015 são contra praticantes de religiões de matrizes africanas. Divulgado nesta quinta-feira, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o docu- mento reacende o debate: por que os adeptos da umbanda e do candomblé, e suas varia- ções, ainda são os mais atacados por conta de sua religião? O tema ganhou as páginas dos jornais recentemente, em casos como o da menina Kayla- ne Campos, atingida por uma pedrada na cabeça em junho do ano passado, aos 11 anos, no bairro da Penha, na Zona Norte do Rio, quando voltava para casa de um culto e trajava vestimentas religiosas candomblecistas. Também em 2015, no mês de novembro, um terreiro de candomblé foi incendiado em Brasília, sem deixar feridos. Na época, a imprensa local já registrara 12 incêndios seme- lhantes desde o início daquele ano somente no Distrito Federal. Para os especialistas, há duas explicações. Por um lado o racismo e a discriminação que remontam à escravidão e que desde o Brasil colônia rotulam tais religiões pelo simples fato de serem de origem africana, e, pelo outro, a ação de movimentos neopentecostais que nos últimos anos teriam se valido de mitos e preconceitos para "demonizar" e insuflar a perseguição a umbandistas e candomblecistas". PUFF, Jefferson. Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de intolerância no Brasil?. BBC. Disponível em: https:// www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_intolerancia_religioes_africanas_jp_rm. Acesso em: 12 jul. 2022. REDAÇÃO. Intolerância religiosa é incentivada por governos e favorece crimes de ódio, alerta relator da ONU. EcoDebate. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2016/10/31/intolerancia-religiosa-e-incentivada-por-governos-e-favorece-crimes-de-odio-alerta- -relator-da-onu/. Acesso em: 12 jul. 2022. 79 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Orientações adicionais • O texto deve se ater à proposta. • Deve-se respeitar a norma-padrão da Língua Portuguesa. • O texto deverá conter 27 a 30 linhas. • Não se esqueça de criar o título. Proposta: Discutindo intolerância religiosa Escreva uma dissertação sobre o tema: "A importância de um Estado laico", baseando-se nos textos de apoio. Lembre-se de propor uma intervenção para o problema apresentado, assim como de manifestar seu ponto de vista. 80 ENSINO MÉDIO EM FOCO 81 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 82 ENSINO MÉDIO EM FOCO Neste capítulo, você vai rever outro tópico de extrema relevância para a análise sintática: a classificação das orações. Você deve se lembrar de que existem dois grandes grupos nos quais classificamos asorações, certo? Porém, será que consegue se recordar de que modo classificar as orações coordenadas e subordinadas em subgrupos, quais suas funções e como identificá-las em um texto? Antes de abordar as orações e suas classificações, vale recordar que existem dois tipos de períodos: o período simples e o período composto. O período simples é formado por uma única oração, chamada de oração absoluta. Já o período com- posto é formado por duas ou mais orações. Por isso, atenção: quando falamos em orações coordenadas e subordinadas estamos sempre nos referindo à relação entre orações e, portanto, a períodos compostos! Orações coordenadas e subordinadas 83 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Oração coordenada assindética Observe estas duas frases: Tranquei a porta, subi as escadas, troquei de roupa, dormi. Chegamos ao museu, vimos muitas obras de arte, lanchamos, fomos embora. ORAÇÕES COORDENADAS As orações coordenadas são aquelas que se encontram em um mesmo período, mas são independentes sintaticamente entre si. Ou seja, se você separar uma oração da outra, ambas continuam fazendo sentido. Veja só: Eu gostava muito de sorvete, mas hoje prefiro chocolate. Nessa frase, há um período composto por duas orações, certo? “Eu gostava muito de sorvete” e “Mas hoje prefiro chocolate”. Esse é um exemplo do que chamamos de oração coordenada sindética adversativa, pois a segunda oração se liga à primeira por meio de uma conjunção coordenativa “mas”, que exprime a ideia de contrariedade. Mas vamos olhar para isso com calma. As orações coordenadas se dividem em dois subgrupos: oração coordenada sindética e oração coordenada assindética. Enquanto as orações coordenadas sindéticas sempre apresentam conjunções em sua estrutura, como no exemplo que você acabou de ler, as orações coordenadas assindéticas não apresentam conjunção. 84 ENSINO MÉDIO EM FOCO Ambos os períodos são compostos por quatro orações, porque, como você já sabe, con- tamos as orações pelo número de verbos que compõem uma frase. Nesses casos, as ora- ções são separadas apenas por vírgulas, que indicam as ações feitas pelos emissores de maneira linear. Essas orações são chamadas de assindéticas. Oração coordenada sindética Como já vimos, as orações coordenadas sindéticas são aquelas que se articulam a outras por meio de conjunções coordenativas. Veja: Vou descansar um pouco, pois estou cansado. Ouvi o que a veterinária disse e comprei o remédio para meu cão. Está muito calor, logo, vou tomar um banho. Perceba que, diferentemente de como operam as orações coordenadas assindéticas, as ora- ções coordenadas sindéticas, por mais que sejam independentes entre si, complementam-se. Essa complementaridade pode expressar a ideia de adição, de explicação, de conclusão, etc. Por isso, de acordo com sua função semântica, as orações coordenadas sindéticas dividem-se em cinco tipos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. 85 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Oração coordenada sindética adversativa Oração coordenada sindética aditiva As orações coordenadas sindéticas adversativas expressam a relação de oposição, de contrariedade, de quebra de expectativa. Elas são ligadas por conjunções coordenadas adversativas, tais como: mas, porém, todavia, entretanto, no entanto. Meu pai vivia sorrindo, porém chorava escondido. Karina e suas amigas iam viajar, todavia esqueceram o passaporte. Cátia preferia cantar. Entretanto, virou advogada. As orações coordenadas sindéticas aditivas se caracterizam por expressar a ideia de soma, de acréscimo de fatos e informações. Essas orações conectam-se por meio de conjunções coordenadas aditivas, tais como: e; mas também; nem; bem como; tanto... como; não só... como também; entre outras. Eu não gosto nem de rosa, nem de azul. A menina corria e pulava, alegremente! Minha mãe dirige muito mal, bem como meu avô. Observe que o uso da pontuação é obrigatório antes da conjunção coordenada ad- versativa. Repare também que, na última frase, as orações são separadas por ponto final e, ainda assim, continuam estabelecendo uma relação de coordenação entre elas. 86 ENSINO MÉDIO EM FOCO Oração coordenada sindética conclusiva Oração coordenada sindética alternativa A oração coordenada sindética conclusiva refere-se à conclusão ou consequência da se- gunda oração em relação à primeira. Assim, essas orações são marcadas pelas conjun- ções coordenadas conclusivas: então, portanto, por isso, logo, assim, consequente- mente, desse modo, etc. Não terminei de lavar a roupa, por isso ainda estou em casa. Ele saiu na chuva, consequentemente está doente. Vou cortar o cabelo, assim não passarei calor. A oração coordenada sindética alternativa expressa a ideia de alternância, ou enfatiza uma escolha entre duas opções. Veja: Estou em dúvida: compro uma blusa ou compro um vestido? Ora quer ter filhos, ora não quer ter filhos. Vou falar a verdade, quer ela queira, quer não. Note que, no caso das conjunções conclusivas, também é obrigatório o uso de vírgulas. 87 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Oração coordenada sindética explicativa No caso da oração coordenada sindética explicativa, a segunda oração tem a função de explicar ou justificar algo relacionado à oração anterior. Observe: Espere um pouco, que o filme já está terminando. Não queria continuar ali, pois estava com medo. Sábado é meu dia favorito, porque posso descansar. As conjunções coordenadas explicativas mais comuns são: pois, porque, que, porquanto, na verdade, isto é, ou seja, etc. Note que, no caso das conjunções explicativas, também é obrigatório o uso de vírgulas. ATENÇÃO: Sempre é o sentido expresso pela frase que indicará qual é o tipo de oração coordenada sindética. Isso significa que não é im- portante “decorar” a classificação das conjunções, porque nem sempre elas estabelecerão a relação esperada. Observe: Julia tem só três e já sabe contar até cem. Nesse caso, a conjunção e, que, geralmente, estabelece uma re- lação de adição entre as orações coordenadas, aqui revela uma relação de contrariedade, pois, apesar de Julia ter só três anos, ela já sabe contar até cem. Assim, essa oração seria classificada como oração coordenada sindética adversativa. ENSINO MÉDIO EM FOCO Para ajudar a consolidar o conteúdo aprendido nesta parte do capítulo, vale a pena con- ferir o texto no site do Museu da Língua Portuguesa que faz um resumo sobre as orações coordenadas e suas classificações. Agora, vamos verificar se nossa revisão foi eficiente. Material extra 88 Site: museulinguaportuguesa.org.br Orações coordenadas 89 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 1. A função semântica das orações coordenadas sindéticas: a) As orações que compõem essa passagem são sindéticas ou assindéticas? Justifi- que sua resposta. b) Reescreva as orações acima, inserindo conjunções entre uma oração e outra e fa- zendo pequenas modificações, se necessário. Em seguida, reflita: Que efeito estilístico é provocado pela ausência de conjunções? Atividade a) explicativa; conclusiva; alternativa; explicativa. b) alternativa; explicativa; adversativa; conclusiva. c) explicativa; adversativa; alternativa; explicativa. d) aditiva; explicativa; adversativa; conclusiva. e) alternativa; conclusiva; alternativa; explicativa. a) As crianças ora brincavam na areia, ora corriam para o mar. b) José gostava de escalar, todavia ele nunca tinha ouvido falar do monte Everest. c) Meu pai gosta de filmes de ação, bem como meu irmão. d) Juliana faz bolos de canela e dança maravilhosamente. e) Patrícia não queria ir embora, pois estava se divertindo. 3. No parágrafo a seguir, foram destacados alguns adjuntos adverbiais: 2. Assinale a alternativa que contém uma oração coordenada adversativa. “(...) Hércules sabia o segredo da fechadura, Hércules quem destravava a tramela, Hércules quem passava óleo nas dobradiças, limpava o vidro do olho mágico (...)” I. Quer você queira, quer não, vou aparecer aí. II. Coloque um casaco, assim não passarámais frio. III. Hoje, no petshop, vou comprar um peixe ou comprar um coelho. IV. Não fique atordoado que ela já vai voltar. As quatro orações são coordenadas sindéticas. Assinale a alternativa que correspon- de à função semântica dessas orações: CARRASCOZA, J. A. Utensílios-para-a-dor: Histórias-com-hífens. São Paulo: Faria e Silva Editora, 2020. p. 41. 90 ENSINO MÉDIO EM FOCO a) O tempo está passando. Então, meu caro, já decidiu o que vai fazer? b) Se julga que está suficiente, é melhor se apressar para escrever a conclusão. c) Meu avô, que é o mais velho entre seus irmãos, vive bem e com saúde. d) É inviável que tenhamos que reorganizar todo o cronograma para amanhã. e) Cada um sabe o que faz, mas o importante é não abusar do poder. 4. Nos períodos a seguir, apenas um é simultaneamente composto por coorde- nação e contém uma oração coordenada sindética conclusiva. Assinale a alter- nativa que corresponde a esse período. 91 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL ORAÇÕES SUBORDINADAS Você deve se lembrar de que, ao contrário das orações coordenadas, as orações subordi- nadas são orações que se subordinam a uma oração principal, isto é, são dependentes de uma oração principal para que possam fazer sentido. Observe: A menina estava temerosa de que a pandemia pudesse durar mais tempo. Quando Maria nasceu, papai deu pulos de alegria. A minha avó, que é muito guerreira, criou os filhos sozinha. Você pode perceber que nesse período composto há duas orações: "A menina estava temerosa" e "De que a pandemia pudesse durar mais tempo". A primeira contém o ver- bo “estar” e a segunda a locução verbal “pudesse durar”. Qual dessas duas manteria seu sentido sem a necessidade da outra? Ora, ainda que você não saiba o porquê de a meni- na estar temerosa, a oração "A menina estava temerosa" se sustenta sozinha, certo? Ao contrário, a oração "de que a pandemia pudesse durar mais tempo" não faz sentido sem a oração que a precede. Por isso, dizemos que a primeira frase é a oração principal e a segunda é a oração subordinada. A junção da oração principal com a oração subordinada recebe o nome de período composto por subordinação. Contudo, nem sempre a oração subordinada virá depois da oração principal em um pe- ríodo composto por subordinação. Veja só: Perceba que, mais uma vez, temos duas orações "Quando Maria nasceu" e "Papai deu pu- los de alegria". Nesse caso, a única oração que completa seu sentido sozinha é "Papai deu pulos de alegria", por isso dizemos que "Quando Maria nasceu" é a oração subordinada. Nesse caso, como você pode ver, ela vem antes da oração principal. Por fim, a oração subordinada pode vir no meio da oração. Observe: Perceba que temos duas orações aqui, uma “dentro” da outra. Nesse caso, a oração "que é muito guerreira" é subordinada à oração "Minha avó criou os filhos sozinha". As orações subordinadas se dividem em três tipos: oração subordinadas substanti- vas, orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas adverbiais. 92 ENSINO MÉDIO EM FOCO Orações subordinadas substantivas As orações subordinadas substantivas são aquelas que possuem valor de substantivo e sempre se iniciam com uma conjunção integrante: “que” ou “se”. Em relação à oração principal, elas podem exercer a função de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicati- vo, complemento nominal e aposto. Por isso, subdividem-se nesses seis tipos: É necessário que façamos alguma coisa em prol da melhora de nosso desempenho. Não me lembro de que ela estava falando. Nós temos medo de que ela não volte. Desejo que as coisas se acalmem. A verdade é que ainda sou muito nova para isso. É preciso que meu filho escute a verdade: que não existe fada do dente. A oração subordinada substantiva subjetiva é aquela que possui a função sintática de su- jeito de uma oração principal: A oração subordinada substantiva objetiva indireta é aquela que possui a função sintática de objeto indireto de uma oração principal, por isso, são iniciadas por preposição: A oração subordinada substantiva completiva nominal é aquela que possui a função sin- tática de complemento nominal de uma oração principal: A oração subordinada substantiva objetiva direta é aquela que possui a função sintática de objeto direto de uma oração principal: A oração subordinada substantiva predicativa é aquela que exerce a função sintática de predicado de uma oração principal: A oração subordinada substantiva apositiva é aquela que possui a função sintática de aposto de algum termo contido na oração principal: Oração subordinada substantiva subjetiva Oração subordinada substantiva objetiva indireta Oração subordinada substantiva completiva nominal Oração subordinada substantiva objetiva direta Oração subordinada substantiva predicativa Oração subordinada substantiva apositiva 93 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Orações subordinadas adjetivas Orações subordinadas adverbiais As orações subordinadas adjetivas, geralmente precedidas de um pronome relativo (que, o qual, onde, cujo, quem, etc.), possuem a função de adjunto adnominal nas orações. Elas subdividem-se em duas categorias: explicativas e restritivas. As orações subordinadas adverbiais são introduzidas por conjunções subordinativas e cumprem a função sintática de adjunto adverbial. Elas podem ser classificadas em nove categorias, a depender da função que exercem na frase: causais, consecutivas, compara- tivas, condicionais, conformativas, concessivas, finais, proporcionais e temporais. Mateus, que era tenista, hoje joga futebol. Júlia, que é minha melhor amiga, tem 35 anos. Não fui à escola hoje, pois estava com dor de cabeça. As meninas que eram menores de idade foram expulsas da festa. Ele abraçou forte a filha, de modo que ela pôde finalmente sentir-se segura. Márcia era sabida tal qual sua amiga Luana. A oração subordinada adjetiva explicativa tem a função de acrescentar algo a um nome. Ela sempre aparecerá entre vírgulas e tem a função de aposto. Observe: A oração subordinada adverbial causal exprime a causa ou o motivo do efeito indicado na oração principal. Esse tipo de oração é usualmente antecedido por conjunções subordi- nativas como: porque, pois, como, porquanto, visto que, etc. A oração subordinada adjetiva restritiva delimita e/ou restringe o sentido de um nome. Ao contrário da oração subordinada adjetiva explicativa, ela não se separa da oração principal por vírgula. A oração subordinada adverbial consecutiva indica a consequência do que foi mencio- nado na oração principal. Por isso, costuma ser antecedida das conjunções: de modo que, de forma que, de sorte que, etc. A oração subordinada adverbial comparativa estabelece a comparação entre a oração subordinada e o que foi dito na oração principal. Usualmente aparecem conjunções como: assim como, tal como, tal qual, que nem, etc. Oração subordinada adjetiva explicativa Oração subordinada adverbial causal Oração subordinada adjetiva restritiva Oração subordinada adverbial consecutiva Oração subordinada adverbial comparativa 94 ENSINO MÉDIO EM FOCO O menino viria desde que a mãe o chamasse. Vou partir, a menos que alguma adversidade me impeça. À medida que o tempo passava, a criança crescia. Arrumei a mala conforme minha mãe me ensinou. Ela vai à academia para que ganhe mais massa muscular. Logo que chegou, já foi correndo me abraçar. A oração subordinada adverbial condicional apresenta uma condição para que ocorra a oração principal. Dessa maneira, são frequentes as conjunções: se, caso, contanto que, desde que, ao menos que, sem que, etc. A oração subordinada adverbial concessiva expressa um fato contrário em relação ao que foi dito na oração principal. São consideradas conjunções concessivas: embora, a menos que, conquanto que, ainda que. A oração subordinada adverbial proporcional expressa uma ideia de proporção. Assim, frequentemente aparecerão nas orações as conjunções: à medida que, ao passo que, quanto, etc. A oração subordinada adverbial conformativaexpressa conformidade ou concordância entre a oração subordinada e algo que foi mencionado na oração principal. Por isso, são encontradas nesse tipo de oração as conjunções: conforme, consoante, segundo, como, etc. A oração subordinada adverbial final expressa o que motivou a oração principal, ou seja, qual foi sua intenção. Assim, são comuns as conjunções: porque, a fim de que, para que, que, etc. A oração subordinada adverbial temporal expressa o tempo em que decorreu a oração principal. São frequentes as conjunções: quando, enquanto, assim que, sempre que, logo que, etc. Oração subordinada adverbial condicional Oração subordinada adverbial concessiva Oração subordinada adverbial proporcional Oração subordinada adverbial conformativa Oração subordinada substantiva predicativa Oração subordinada adverbial temporal 95 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Orações subordinadas reduzidas No conteúdo que estudou até agora, você viu exemplos de orações subordinadas de- senvolvidas, isto é, orações que se iniciam por conjunções subordinativas ou pronomes relativos. Porém, as orações subordinadas também podem ser reduzidas. Mas o que isso significa? Veja: Maria me presenteou com um sapato comprado naquela loja. Maria me presenteou com um sapato comprado naquela loja. Oração reduzida com gerúndio: Mesmo sabendo as respostas, ainda tinha dúvidas. Oração desenvolvida: Mesmo que soubesse as respostas, ainda tinha dúvidas. Oração reduzida com infinitivo: É preciso beber bastante água. Oração desenvolvida: É preciso que bebamos bastante água. Perceba que, nesse período composto, a oração destacada é subordinada à oração prin- cipal “Maria me presenteou com um sapato”. Porém, nesse caso, a oração subordinada “comprado naquela loja” é chamada de oração reduzida, pois não possui o pronome re- lativo e o verbo está no particípio. Se a oração fosse desenvolvida, ficaria desse modo: Além do particípio, os verbos ainda podem aparecer no infinitivo ou no gerúndio nas ora- ções reduzidas. Observe: Material extra Como você pôde ver no último exemplo, “É preciso beber bastante água”, é um período composto por duas orações, uma oração principal e uma oração reduzida subordinada subjetiva. Mas como saber diferenciar se dois verbos que caminham juntos compõem um período composto ou um período simples? Isto é, como saber se você está diante de uma oração reduzida ou de uma locução verbal? Realmente esse conteúdo pode ser complica- do; por isso, não deixe de ler sobre “Oração reduzida” no Portal Norma Culta. Vamos testar o que aprendemos e recordamos neste capítulo? Site: normaculta.com.br Orações reduzidas 96 ENSINO MÉDIO EM FOCO Atividade 1) Assinale a única alternativa que possui uma oração subordinada adjetiva restritiva. 2) Leia as orações subordinadas adverbiais a seguir: 3) Assinale a alternativa que contém uma oração subordinada substantiva subjetiva. 4) Todas as orações subordinadas a seguir são adverbiais, exceto: a) À medida que o tempo passava, ele ficava mais triste. b) Esse romance, que ganhou o prêmio Jabuti, me emocionou muito! c) Os cães que não ganharam petisco ficaram muito agitados. d) Juliano, que é filho de meu irmão, costumava brigar muito na escola. e) Giulia, que adorava costurar, agora ganhou sua própria máquina de costura. a) Consecutiva; causal; condicional; conformativa. b) Causal; condicional; conformativa; consecutiva. c) Consecutiva; condicional; consecutiva; conformativa. d) Final; causal; condicional; conformativa. e) Final; concessiva; conformativa; consecutiva. a) A decisão é que iremos embora logo cedo. b) Eu quero muito que tudo dê certo para você. c) Meu desejo era que minha mãe me visitasse. d) Parece que vai fazer frio esta noite. e) Sabemos que eles irão nos ajudar. a) Caso você não me encontre, me ligue. b) Quanto mais você fala, mais tenho vontade de ir embora. c) Ele sabe cantar como ninguém. d) Desliguei o celular, assim que a peça de teatro começou. e) Tenho receio de que essa seja a sua última noite. I. O sofá era tão barato que ela decidiu comprá-lo de imediato. II. O parque estava cheio porque haveria show do Gilberto Gil. III. Pode falar comigo, contanto que não me interrompa. IV. Como eu imaginava, tudo deu certo no final. Assinale a alternativa que corresponda, respectivamente, à classificação correta destas orações. 97 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 5) Leia abaixo a passagem do conto “Ana Davenga”, de Conceição Evaristo. Observe o seguinte período: “Elas recebiam as encomendas e mandavam perguntar quando e se seus homens voltariam”. Quantas orações você encontra nesse período? Indique quais orações são coordenadas e quais são subordinadas e classifique-as. “Desde aquele dia, Ana ficou para sempre no barraco e na vida de Davenga. Não perguntou de que o homem vivia. Ele trazia sempre dinheiro e coisas. Nos tempos em que ficava fora de casa, eram os companheiros dele que, através das mulheres, lhe traziam o sustento. Ela não estranhava nada. Muitas vezes, Davenga mandava que ela fosse entregar dinheiro ou coisas para as mulheres dos amigos dele. Elas recebiam as encomendas e mandavam perguntar quando e se seus homens voltariam. Davenga às vezes falava do regresso, às vezes, não. Ana sabia bem qual era a atividade de seu homem. Sabia dos riscos que corria ao lado dele. Mas achava também que qualquer vida era um risco e o risco maior era o de não tentar viver.” EVARISTO, Conceição. Ana Davenga. In: Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, 2016. p. 26. 6) Ainda sobre a passagem do conto “Ana Davenga”, de Conceição Evaristo, encontre uma oração subordinada substantiva no excerto lido e classifique-a. Referências EVARISTO, Conceição. Ana Davenga. In: Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, 2016. p. 26. CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017 98 ENSINO MÉDIO EM FOCO Regência e concordância verbal e nominal Agora que você já está dominando a classificação sintática dos termos em uma ora- ção, já deve ter percebido que as palavras estabelecem relações entre si e são, muitas vezes, interdependentes, ou seja, necessitam umas das outras para que haja a cons- trução de sentido em um enunciado oral ou escrito. Essa relação de complementação entre os termos de uma oração é chamada de regência, que, por sua vez, pode ser verbal ou nominal. Quando falamos de regência, chamamos a palavra que depende da outra para ter seu sentido completo de termo regido e a palavra a que se subordina o termo regido de termo regente. REGÊNCIA VERBAL E REGÊNCIA NOMINAL 99 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Regência verbal Você já viu anteriormente que, em relação à predicação, os verbos nocionais se dividem em transitivos e intransitivos. Nas orações em que os verbos são intransitivos não há ne- cessidade de complemento, pois eles expressam uma ideia completa: João dormiu. Meu avô comprou uma camisa nova. Julia levou seus filhos ao supermercado. A menina finalmente aspirou ar puro. O rapaz aspirava ao cargo de gerência. Ele meditou no assunto por horas. Ele meditou sobre o assunto por horas. Já nas orações em que os verbos são transitivos, sempre há a necessidade de um comple- mento (objeto direto ou objeto indireto) para completar o sentido dos verbos: A ligação do verbo com seu complemento é o que chamamos de regência verbal. Isso significa que a regência tem tudo a ver com a transitividade dos verbos, pois é a transi- tividade que estabelece a relação entre o verbo e seu complemento (objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal). Se o verbo for transitivo direto, como na primeira oração, o complemento não virá antecedido por preposição; se, do contrário, for transiti- vo indireto, como no caso da segunda oração (levou ao supermercado), pedirá preposição. Em nossa língua, alguns verbos admitem mais de uma regência, mudando também seu significado. Observe o exemplo abaixo: Algunsverbos, por outro lado, mantendo o mesmo significado, podem apresentar mais de uma regência. Veja: Note que, na primeira oração o verbo aspirar tem o sentido de “inalar” / “respirar”. Nesse caso, ele é transitivo direto. Já na segunda oração, o mesmo verbo aparece com o sentido de “desejar” / “pretender”. Assim, ele aparece como transitivo indireto, ou seja, pede a preposição a antes de seu objeto. Nessas duas orações, o mesmo verbo (meditar) é regido pelas preposições “em” e “sobre”, sem haver alteração do seu significado. 100 ENSINO MÉDIO EM FOCO Há muitos verbos que são famosos por causar dúvidas quanto a sua regência, pois, a depender do verbo, podem algumas vezes aparecer em orações como verbos transiti- vos diretos (VTD), outras como verbos transitivos indiretos (VTI) e ainda como verbos intransitivos (VInt). Por isso, vamos agora rever alguns deles. É importante notar, porém, que eles não são os únicos. Assim, sempre que você tiver dúvida se deve ou não usar pre- posição após algum verbo e qual preposição é a mais correta, vale consultar um dicionário. DICA: Existem dicionários específicos de regência, como o Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Luft. AGRADAR Verbo transitivo direto, indireto ou intransitivo Paula gosta de agradar a mãe. O menino gosta de agradá-la. Essa música agrada muito. ASSISTIR Verbo transitivo direto, indireto ou intransitivo. Sentido de auxiliar (VDT): A enfermeira assistiu o paciente. Sentido de ver e pertencer (VTI): Assisti ao filme ontem na tv. Sentido de residir (Vint): O amor assiste em meu coração. CHAMAR Verbo transitivo direto ou indireto ou verbo intransitivo. Sentido de solicitar a presença (VDT): A mãe chamou os meninos. Sentido de chamar pelo nome ou pelo apelidar (VTI): Chamou o amigo de carlão. Sentido de soar (telefone, interfone) (Vint): O interfone está chamando. IMPLICAR Verbo transitivo direto ou indireto Sentido de acarretar (VTI): Sua ausência implicará em falta. Sentido de pressupor (VTD): Sua segurança implica autoconfiança. Sentido de antipatizar (VTI) O menino implicava com a irmã. REPARAR Verbo transitivo direto ou indireto Sentido de consertar (VTD): Preciso reparar a máquina de lavar. Sentido de prestar atenção (VTI): A garota reparou em mim. VISAR Verbo transitivo direto ou indireto Sentido de apontar (VTD): Júlio visou me atingir. Sentido de ter em mente (VTI): A companhia visa às melhorias nesse setor. 101 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL VERBOS NOCIONAIS E NÃO NOCIONAIS: Há dois tipos de verbos. Os que indicam processos, ações, dese- jos, atividades de modo geral são chamados de verbos nocionais. Alguns desses verbos são: dançar, fazer, pensar, chover. O outro tipo de verbo expressa um estado de ser do sujeito e são chamados de verbos não nocionais ou de ligação. Alguns desses verbos são: ser, estar, tornar-se, persistir. Regência nominal Material extra Enquanto a regência verbal se refere à relação entre os verbos e seus complementos, a regência nominal, como você já deve imaginar, refere-se à relação entre um nome (subs- tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Caso tenha restado alguma dúvida, vale conferir a explicação sobre regência verbal no vídeo a seguir. Bons estudos! Sinto muita admiração por minha avó. Meu filho já está acostumado com isso. Joana disse que está perto da estação. Como você pode ver, na regência nominal sempre haverá a intermediação de uma prepo- sição entre o termo regente e o termo regido. Canal: Tele Aulas Brasil Regência verbal e nominal 102 ENSINO MÉDIO EM FOCO Atividade 1) Analise as orações a seguir e identifique a frase que apresenta desvio em relação à regência (verbal ou nominal): 2) Assinale a única alternativa em que a regência verbal está de acordo com a norma-padrão: 3) Assinale a única alternativa em que a regência do verbo assistir está incorreta: 5) Assinale a alternativa que preencha corretamente as lacunas: 4) Leia o texto a seguir, identifique a oração que está em desacordo com a norma-pa- drão em relação à regência nominal, reescreva-a e justifique a sua correção. a) O grupo de crianças não assistiu o filme do Batman. b) A China não é apenas uma grande potência, mas aspira a crescer ainda mais. c) Ele é natural de São Francisco de Assis, ao contrário de minha irmã, Julieta. d) As tropas estadunidenses foram desfavoráveis aos ataques aéreos. e) As crianças não mais obedecem aos professores como antigamente. a) Minha mãe decidiu morar fora visando uma melhor qualidade de vida. b) Ele informou os passageiros que o voo se atrasaria. c) Acordar cedo implica dormir cedo e muita disposição. d) Ontem Júnior assistiu seu programa favorito na TV, Castelo Rá-Tim-Bum. e) Eu prefiro sair cedo do que chegar atrasado. a) Eu prefiro assistir a filmes de comédia. b) Júlia assiste em Roma desde a década de 1990. c) Meu pai assistia meu irmão com a lição de casa. d) A médica assistiu minha mãe durante todo esse período. e) Ontem assistimos o jogo de futebol. a) aos – para – a. b) os – para – do que. c) os – ao – a. d) aos – ao – a. e) aos – para – do que. Há muitas formas através das quais os ambientes influenciam em nossos sentimentos e pensamentos. Do mesmo modo, os sentimentos e pensamentos também são capazes de afetar o ambiente ao nosso redor. A professora informou _____ pais que as crianças preferem ir ____ zoológico ___ passear no parque. 103 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL Concordância nominal Compare as duas frases a seguir: A concordância nominal é a adequação entre o gênero e o número de um substantivo com as palavras que o acompanham (adjetivo, numeral, pronome e artigo). Ele estudou muito para todas as provas do final de semestre. A gente estudamos muito para as provas do final de semestre. Comprei as duas blusinhas mais lindas ontem! Minha avó demonstrava destreza e sabedoria inigualáveis. Minha avó demonstrava destreza e sabedoria inigualável. Como você pode perceber, a primeira frase soa mais adequada, enquanto a segunda está evidentemente em desacordo com a norma-padrão. Você consegue identificar por que isso ocorre? Na segunda frase, o verbo estudar está conjugado em primeira pessoa do plural, quando deveria estar conjugado na terceira pessoa do singular (estudou), acompanhando “a gente”. Portanto, a forma adequada seria: “A gente estudou (...)”. Esse caso diz respeito à concordância. Esta nada mais é do que a relação harmônica entre os termos de uma oração. Perceba que o artigo (as), o numeral (duas) e o adjetivo (lindas) concordam com o subs- tantivo blusinhas em gênero (feminino) e número (plural). Porém, existem casos especiais de concordância nominal, aqueles casos particulares que muitas vezes podem nos confundir. Observe: 1) Havendo mais de um substantivo no singular e do mesmo gênero na oração, o adjetivo poderá ficar tanto no singular quanto no plural. 104 ENSINO MÉDIO EM FOCO Comprei um tênis e duas blusas vermelhas. Comprei um tênis e duas blusas vermelhos. Comprei duas blusas e um tênis vermelho. Lasanha é bom. É proibido entrada. É permitido passagem de veículos leves. Aquela lasanha é muito boa. É proibida a entrada no local. É permitida a passagem de veículos leves. Minha irmã usava colar e tiara amarela. Minha irmã usava colar e tiara amarelos. Eram curiosos os bem-te-vis e as cotovias Eram curiosas as cotovias e os bem-te-vis Você precisa pagar a primeira e a segunda parcela. Você precisa pagar a primeira e a segunda parcelas. Manuel não viu nem um nem outro eleitor satisfeitos. 2) Se, do contrário, os substantivos tiverem gênero e número diferentes, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo ou ser conjugado no masculino plural. 6) Se o sujeito não for determinado por artigo ou pronome demonstrativo, o adjetivo deve ser invariável (ou seja, permanece no masculino singular): 3) Se os substantivos estiverem no singular, mas tiverem gêneros diferentes, o adjetivo deverá concordarcom o substantivo mais próximo ou ser conjugado no masculino plural. 4) Caso o adjetivo preceda os substantivos em uma frase com dois ou mais substantivos, ele sempre concordará com o mais próximo: 7) Se houver numerais ordinais na oração e eles estiverem antecedidos de artigo, o subs- tantivo pode ficar no singular ou no plural: 5) Quando antecedidos das orações um e outro e nem um nem outro, o substantivo ficará no singular, mas o adjetivo deverá ir para o plural: Porém, se o sujeito for determinado por artigo ou pronome, a concordância deve ser feita normalmente: 105 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Ela mesma quis ficar Eles mesmos preferiram ir embora. João foi obrigado a sentar. Maria foi obrigada a se calar. Pedro tem bastantes livros na estante. Há bastante gente nessa festa. A menina não queria comprar roupas caras. Eles permaneceram sós. 8) As palavras “próprio”, “mesmo”, “incluso”, “anexo”, “obrigado” devem concordar com a palavra a que se referem: 9) As palavras “bastante”, “meio”, “caro” e “só” também concordam com o substantivo: Aquelas meninas são pseudoartistas. Joana ganhou menos roupas do que suas primas. Aqueles garotos eram mal-educados. As esculturas greco-romanas são minhas favoritas. 10) Já as palavras “pseudo”, “alerta” e “menos” nunca variam: 11) No caso de adjetivos compostos, apenas o último elemento será flexionado: Acho que esses abacates ainda estão verdes. Gaivotas pretas e brancas voavam pelos ares. Tenho dois lápis de cor violeta. O mesmo vale para palavras compostas: Ele tem duas camisas amarelo-ouro. 12) As palavras que indicam cor também merecem uma atenção especial. Veja: Como você pode ver, os adjetivos concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem. Contudo, quando as palavras que indicam a cor forem derivadas de um substantivo, elas permanecerão invariáveis: 106 ENSINO MÉDIO EM FOCO Concordância verbal A concordância verbal é a adequação entre o verbo e o núcleo do sujeito em relação ao número e à pessoa do discurso. Isto é, se o sujeito está no singular, o verbo deve acom- panhá-lo; se está no plural, idem. Observe: Minhas filhas estavam felizes. A maior parte dos jogadores de futebol confirmou que toma suplementos. A maior parte dos jogadores de futebol confirmaram que tomam suplementos. A multidão dançava muito. A multidão de foliões dançava/dançavam muito. Foi ele que me emprestou o caderno. Foram elas que chegaram antes. Cerca de quinhentas pessoas participaram da manifestação ontem. José foi um dos professores que tiraram férias esse mês. Nesse caso, o verbo estar concorda em número e pessoa (3ª pessoa do plural) com o sujeito. Parece simples, não é? Porém, assim como você viu em relação à concordância nominal, a concordância verbal também comporta alguns casos especiais que podem nos confundir na hora da escrita. 1) Quando há expressões partitivas, isto é, que expressam “parte de algo”, como “a maior parte de”, “grande parte de”, “metade de”, etc. o verbo pode ser grafado tanto no plural quanto no singular. 3) Se o sujeito for coletivo, o verbo ficará no singular. Porém, se for acompanhado de um substantivo que o especifique, pode ir para o plural: 4) Se o sujeito for formado pelo pronome relativo “que”, o verbo concorda com o sujeito da oração antecedente: 2) Quando há expressões que indicam quantidade aproximada no sujeito, tais como “cer- ca de”, “mais de”, “perto de”, perto de e elas são seguidas de numeral e substantivo, o verbo concordará com o substantivo. Veja: 5) Se houver a expressão “um dos que”, o verbo deve ser conjugado no plural: 107 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL Vende-se esta casa. Vendem-se estes apartamentos. Há muitos caminhões nessa estrada. Havia muitos gatinhos brincando no parque. Todos os dias chove muito. Faz dez anos que ela chegou no Brasil. 6) Quando o verbo é acompanhado pela partícula apassivadora “se”, o verbo deve concor- dar com o sujeito paciente: 7) Se as orações foram compostas por verbos impessoais (“haver” com o sentido de exis- tir, “fazer” indicando tempo decorrido e verbos que indicam fenômenos atmosféricos), a concordância deve ser feita sempre na terceira pessoa do singular: 108 ENSINO MÉDIO EM FOCO Atividade 1) Escute a música “Despedida”, composta por MC Tha. Em seguida, identifique os três versos do poema que não estão de acordo com a norma-padrão em relação à concordância e reescreva-os. 2) Assinale a alternativa que preencha corretamente as lacunas: 3) Leia as frases a seguir prestando atenção às concordâncias . Assinale a alternativa com as concordâncias corretas. a) faz – havia - existem. b) fazem – havia - existem. c) fazem – haviam - existe. d) faz – houveram - existe. e) fazem – houveram – existem. a) Apenas I. b) I e II. c) I, II e IV. d) Apenas II. e) Todas as alternativas. Já _____ algumas décadas que ________ orelhões por toda a cidade. Hoje, com os aparelhos de celular, eles quase não _________ mais. Você pode ler a letra da música aqui: Site: letras.com Despedida - MC Tha I. São proibidos os trajes de banho. II. É proibido trajes de banho. III. É proibidos trajes de banho. IV. É proibido os trajes de banho. 109 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 4) Assinale a alternativa correta em relação à concordância verbal: 5) Leia a manchete, identifique o erro de concordância presente na frase, reescreva-a e justifique a correção feita. a) Haviam duas mesas aqui, não? b) Nessa temporada na Escócia, todos os dias nevam muito. c) Aluga-se chalés para temporada. d) É proibido as entradas de animais. e) Eles se interessam muito por política. 110 ENSINO MÉDIO EM FOCO Proposta 5: Liberdade de expressão TEXTO 1 Orientações adicionais • O texto deve se ater à proposta. • Deve-se respeitar a norma-padrão da língua portuguesa. • O texto deverá conter 27 a 30 linhas. • Não se esqueça de criar o título. "Desde 2019, conforme levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigati- vo (Abraji), os ataques contra jornalistas, no exercício da profissão, cresceram 248%. Há três anos, as estatísticas marcavam 130 casos de agressões a jornalistas no Brasil. Ao final de 2021, o Brasil contabilizou 453 ocorrências, aponta o relatório da Abraji. A média é de 1,2 casos por dia no país. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fe- naj), 2021 foi, inclusive, o ano mais violento da história para jornalistas que atuam no país. Estudos feitos por ambos os órgãos apontam que os profissionais da imprensa foram vítimas de 140 casos de censura, o que é vedado pela Constituição Federal. Também foram observados registros de descredibilização da imprensa, ataques verbais e virtuais, ameaças, intimidações, agressões físicas, cerceamentos à liberdade de imprensa por ações judiciais, atentados, assasinato e impedimentos de exercício da atividade. ". NASCIMENTO, Simon. Caso Dom Phillips é retrato da violência crescente contra jornalistas no Brasil. Disponível em: https://www.otempo. com.br/brasil/caso-dom-phillips-e-retrato-da-violencia-crescente-contra-jornalistas-no-brasil-1.2683067. Acesso em: 12 jul. 2022. Proposta: Discutindo liberdade de expressão Escreva uma dissertação sobre o tema: "A liberdade de expressão está em crise?", ba- seando-se nos textos de apoio. Lembre-se de propor uma intervenção para o problema apresentado, assim como de manifestar seu ponto de vista. 111 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL 112 ENSINO MÉDIO EM FOCO 113 LINGUAGEM E PRODUÇAO TEXTUAL ENSINO MÉDIO EM FOCO 114 LITERATURA 115 LITERATURALITERATURA ENSINO MÉDIO EM FOCO 116 Parnasianismo CONTEXTO HISTÓRICO Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Burne-Jones,_Edward_-_The_Mirror_of_Venus_-_1875.jpg. Acesso em: 6 maio 2022. The Mirror of Venus, de Edward Burne-Jones, 1877. No finalzinho do século XIX, em oposição aos movimentos Realista e Naturalista, nasceu um movimento chamado Parnasianismo. Para eles, a arte e a política não podiam se misturar. Seu nome é inspirado em Parnaso, lugar em queo deus grego Apolo, um dos responsá- veis pelas diferentes artes, reunia-se com as musas para compor suas poesias e canções. O Parnasianismo tinha o objetivo de voltar à cultura clássica, isto é, greco-latina. LITERATURA 117 Canal: Canal Futura Parnasianismo POESIA PARNASIANA Você sabe que as palavras têm dois lados, não é? Igual a uma moeda: cara e coroa, cujos lados não podem ser separados. Um deles corresponde à forma da palavra (o som ou a escrita) e o outro corresponde aos seus sentidos (sobre que objetos ou ideias aquela palavra “fala”). Os poetas do Parnasianismo estavam preocupados com esses dois lados, que podemos chamar de “forma” e “conteúdo”. Geralmente, os poemas tinham a forma de sonetos, eram escritos em uma linguagem mais rebuscada e falavam de temas clássicos. Veja uma explicação interessante sobre esse movimento literário: Agora vamos ler um poema de Olavo Bilac: Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha, Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo. BILAC, Olavo. Nel Mezzo Del Carmin. Disponível em: ht- tps://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/textos- -escolhidos. Acesso em: 1 set. 2022. ENSINO MÉDIO EM FOCO 118 Che guei Che gas te Vin has Fa ti ga da Esse soneto se chama Nel Mezzo Del Camin. Agora você pode estar se perguntando: “o que significa isso?”. Eu explico. Houve um poema na Idade Média que ficou muito famoso, chamado A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e ele começava assim: “Nel Mezzo Del Camin de questa vita” (que, em português, quer dizer “no meio do caminho desta vida”, ou seja, o poeta que tinha 35 anos já estava no meio da vida). Dante encontrava-se perdido em uma selva, que representa a perda da virtude. Saindo da selva, encontra o poeta latino Virgílio, representante a Razão humana, que será seu guia no percurso pelo Inferno e pelo Purgatório, chegando perto do Paraíso, onde Dante terá como guia sua amada Beatriz. Voltando ao soneto do Olavo Bilac, o começo fala de um encontro entre duas pessoas, cansadas e tristes. Elas tinham, no passado, vários sonhos, desejam realizar várias coisas eram românticas... Imagine que uma pessoa chamada João esteja falando para a Maria: João diz sobre si mesmo: Cheguei. João diz sobre Maria: Chegaste. Vinhas fatigada e triste João diz sobre si mesmo: e triste e fatigado eu vinha, João diz sobre Maria: Tinhas a alma de sonhos povoada, João diz sobre si mesmo: E a alma de sonhos povoada eu tinha... Depois dá pra ver que essas duas pessoas passaram um tempo juntas, eles pararam na “estrada da vida”, por “longos anos”, de mãos dadas, um se deslumbrando com a luz do olhar do outro. Percebeu as referências à Divina Comédia? “Estrada da vida”, “luz”, etc... No final, percebemos que a mulher desapareceu... sumiu. O conteúdo do poema é contrá- rio ao Romantismo. Além disso, ele evoca a cultura clássica (o poema de Dante Alighieri). Você conseguiu ver qual é a forma do soneto? São versos decassílabos. LITERATURA 119 Olavo Bilac é o poeta brasileiro mais famoso do período. Canal: Mundo Dos Poemas Via láctea - Olavo Bilac Disponível em:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/ icon960831/icon960831_026.jpg.Acesso em: 6 maio 2022. ENSINO MÉDIO EM FOCO 120 Um outro poema bem típico desse movimento se chama ”Vaso Chinês”, escrito pelo poeta Alberto de Oliveira. Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura. Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa. Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara, Que lhe serve de trono, a formosa escultura, Vênus, túmido o colo, em severa postura, Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara. Um sopro, um quê de vida o gênio lhe insuflara; E impassível, de pé, mostra em toda a brancura, Desde as linhas da face ao talhe da cintura, A majestade real de uma beleza rara. Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono De Minerva marcial que pelo gládio arranca, Julgo vê-la descer lentamente do trono, E, na mesma atitude a que a insolência a obriga, Postar-se à minha frente, impassível e branca, Na régia perfeição da formosura antiga. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_ico- nografia/icon960829/icon960829_042.jpg. Acesso em: 6 maio 2022. Você percebeu quantas vírgulas ele colocou nos primeiros versos? Quatro, pois em vez de usar a sequência normal da fala, sujeito/ verbo/predicado, ele faz a chamada "inver- são sintática", uma forma de escrever mui- to comum na poesia do Parnasianismo. Agora vamos ler um soneto da poeta Francisca Júlia. OLIVEIRA, Alberto de. Vaso Chinês. Disponível em: https://www. academia.org.br/academicos/alberto-de-oliveira/textos-escolhidos. Acesso em: 1 set. 2022. SILVA, Francisca Júlia da. Vênus. In: Mármores. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/568778/Mar- mores.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 1 set. 2022. LITERATURA 121 Esse poema descreve a Vênus de Milo, estátua esculpida por Alexandre de Antióquia, um artista grego do século II a.C. Como características do Parnasianismo podemos observar, além das inversões sintáticas, a poesia em forma de soneto e o tema que retoma a Grécia Antiga. Veja a seguir uma explicação sobre a vida e obra de Francisca Júlia. Site: www.bbm.usp.br/ Francisca Júlia (1871-1920) Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Front_views_of_the_Venus_de_Milo.jpg. Acesso em: 6 maio 2022. A Vênus de Milo. ENSINO MÉDIO EM FOCO 122 Francisca Júlia foi a primeira grande poeta brasileira. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/ icon960834/icon960834_023.jpg. Acesso em: 6 maio 2022. Essa forma se chama soneto alexandrino, de um tipo raro. Ele tem 12 sílabas por verso, e as sílabas tônicas são a 6 e a 12. Esse tipo de verso era usado na Grécia e Roma antigas. Vê nus tu mi do’o co lo’em se va ra pos tu ra LITERATURA 123 3. Qual dos poetas parnasianos você mais gostou? Justifique a sua resposta. 4. Quantas sílabas tem um verso dodecassílabo? Atividade 1) Em que período emergiu o movimento parnasiano? 5) Qual é a estrutura de versificação do soneto “Nel mezzo del camin”, de Olavo Bilac? 2) O Parnasianismo reagia a algo, o que era? 6) Qual é a estrutura de versificação do soneto “Vênus”, de Francisca Júlia? a) Final do século XIX. b) Início do século XIX. c) Início do século XX. d) Final do século XVIII. e) Ao longo do século XIX. a) Decassílabo. b) Dodecassílabo. c) Redondilha maior. d) Redondilha menor e) Verso livre. a) Às críticas sociais do Realismo e do Naturalismo. b) À falta de posicionamento político do Realismo e do Naturalismo. c) Ao exagero sentimento do Naturalismo. d) À forma complicada de escrever. e) Ao resgate da cultura greco-latina. a) Dodecassílabo. b) Redondilha maior. c) Redondilha menor. d) Decassílabo. e) Verso livre. ENSINO MÉDIO EM FOCO 124 7. Cite uma característica da poesia parnasiana. 9. O que é uma inversão sintática? Explique com suas palavras. 8. Você gostou mais do Naturalismo ou do Parnasianismo? Justifique a sua resposta. 10. Escreva um poema com as características de um poema parnasiano. Referências BRASIL. Ministério da Educação.Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 6 maio 2022. RAMOS, Péricles Eugenio da Silva (org.). Poesia Parnasiana: Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1967. LITERATURA 125 Simbolismo em Portugal Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Elihu_Vedder_-_The_Pleiades,_1885.jpg. Acesso em: 1 set. 2022. As Plêiades, de Elihu Vedder, 1885. CONTEXTO HISTÓRICO Lembra da Revolução Industrial, das máquinas de fogo e da vida dura das pessoas no final do século XIX? Os artistas e poetas do Simbolismo procuravam, em vez de falar da realidade, falar de coisas sobrenaturais, seres mitológicos, imaginários, espirituais... Isso pode parecer uma fuga da realidade. No entanto, se a realidade estava tão dolorosamen- te presente, poderia ser o papel dos poetas levar o pensamento para outras paragens... ENSINO MÉDIO EM FOCO 126 PRIMEIRA GERAÇÃO Em Portugal, havia um escritor chamado Eugênio de Castro, que escrevia poemas simbolis- tas. Ele transformou tanto a forma quanto os temas da poesia portuguesa. Vamos ler um trecho de um poema chamado “Um sonho”. Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... O Sol, o celestial girassol, esmorece... E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crótalos, Cítolas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves, Suaves... Flor! enquanto na messe estremece a quermesse E o Sol, o celestial girassol esmorece, Deixamos estes sons tam serenos e amenos, Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos... Soam vesperais as Vésperas... Uns com brilhos de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros... Como aqui se está bem! Além freme a quermesse... - Não sentes um gemer dolente que esmorece? São os amantes delirantes que em amenos Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crótalos, Cítolas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves, Suaves... [...] [...] Esmaiece na messe o rumor da quermesse... - Não ouves este ai que esmaiece e esmorece? É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos, E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos... Soam vesperais as Vésperas... Uns com brilhos de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros... Penumbra de veludo. Esmorece a quermesse... Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece... Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos, Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crótalos, Cítolas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves, Suaves... Teus lábios de cinábrio, entreabre-os! Da quermesse O rumor amolece, esmaiece, esmorece... Dá-me que eu beije os teus morenos e amenos Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos... Soam vesperais as Vésperas... Uns com brilhos de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros... (...) CASTRO, Eugênio de. Antologia. Portugal: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1987. LITERATURA 127 Você já deve ter se acostumado com os sonetos, as redondilhas, etc, contudo esse poema não tem forma fixa. Isso porque os simbolistas vieram para renovar a poesia, fazer algo, totalmente diferente. Mesmo não tendo uma divisão métrica fixa, o poema tem muita musicalidade. Sabe como o poeta faz isso? Ele repete alguns sons, como, por exemplo, o som representado pelas letras S e C: Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... O Sol, o celestial girassol, esmorece... Vamos contar... quantas vezes esse som se repete no trecho a seguir? Cornamusas e crótalos, Cítolas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Eugénio de Castro. ENSINO MÉDIO EM FOCO 128 Saiba mais sobre Eugênio de Castro no vídeo a seguir. Canal: RedeUCoimbra Canal: Augusto dos Anjos Eugénio de Castro Documentário: Camilo Pessanha Houve ainda outros grandes poetas simbolistas em Portugal. Um deles era português, mas vivia em Macau, uma província na China. Sabe quando a gente fica cansado do lugar em que a gente mora e quer ir embora? Pois é, ele fez isso! Esse poeta se chamava Camilo Pessanha; de todos os simbolistas portugueses ele é o mais famoso e o mais lido até hoje. O som aparece em praticamente todas as palavras, até mais de uma vez em cada uma! O uso desse som cria um efeito de algo que escorre, que vaza, que foge. Pense no som de /s/. parece que tem alguma coisa fluindo, não é? Isso tem tudo a ver com a fuga simbolista. Um sonho também é uma forma de fugir da realidade e o mundo dos sonhos é também um mundo fluido. Você já deve ter reparado que uma das características do movimento simbolista é unir a forma e o conteúdo, fazer eles funcionarem juntos. Lembra que estudamos, em ou- tro capítulo, que a palavra é como uma moeda, tem dois lados? Então, os simbolistas gostam de fazer esses dois lados dialogarem. Por exemplo, se eu falo de água, posso usar consoantes com sons que pareçam o som de água escorrendo em uma cachoeira. Alguns linguistas chamam esse recurso de semissimbolismo, e não é por coincidência. É importante perceber também que o tema do movimento está presente não só na forma, mas também no conteúdo do poema. O que é a decomposição do dia se não a passagem para a noite? O dia vai se desmanchando, se esmorecendo, até se transfor- mar em noite, se evaporar. Saiba mais sobre ele neste documentário: LITERATURA 129 Foi um dia de inúteis agonias. Dia de sol, inundado de sol!... Fulgiam nuas as espadas frias... Dia de sol, inundado de sol!... Foi um dia de falsas alegrias. Dália a esfolhar-se – o seu mole sorriso... Voltavam os ranchos das romarias. Dália a esfolhar-se, – o seu mole sorriso... Dia impressível mais que outros dias. Tão lúcido... Tão pálido... Tão lindo!... Difuso de teoremas, de teorias... O dia fútil mais que os outros dias! Minuete de discretas ironias Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!... A poesia do Camilo Pessanha tem uma linguagem mais simples, e o soneto tem uma forma fixa, de versos decassílabos. tão lu ci do tão pa li do tão lú ci do 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. ENSINO MÉDIO EM FOCO 130 O soneto fala de um dia cheio de sol e de falsas alegrias. É um dia impreciso (impressível), a dália se esfolha (uma flor que se desmancha), o sorriso amolece, tudo o que é real se decompõe, a realidade foge, como em um sonho. Outro poeta simbolista muito importante foi Antônio Nobre. Vamos ler um trechinho? Às vezes, passo horas inteiras Olhos fitos nestas braseiras, Sonhando o tempo que lá vai; E jornadeio em fantasia Essas jornadas que eu fazia Ao velho Douro, mais meu Pai. Que pitoresca era a jornada! Logo, ao subir da madrugada, Prontos os dois para partir : —-Adeus! adeus! é curta a ausência, Adeus! — rodava a diligência Com campainhas a tinir! E, dia e noite, aurora a aurora, Por essa doida terra fora, Cheia de Cor, de Luz, de Som, Habituado à minha alcova Em tudo eu via coisa nova, Que bom era, meu Deus! que bom! Antônio Nobre. O eu lírico (a voz que fala no poema) foge da realidade, se perde no tempo, nas fantasias, na jornada... bem simbolista, não? Além disso, ele não tem forma fixa, é livre! Veja aqui a declamação de um poema de Antônio Nobre. Canal: RTP Na praia lá da Boa Nova, um dia, António Nobre - Rita Reis Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Antonio_Nobre.jpg. Acesso em: 1 set. 2022. NOBRE, Antônio. Só. Sintra: Europa-América, s.d. LITERATURA 131 Atividade 1) Em que época começou o Simbolismo em Portugal? Associe o surgimento do simbolismoàs principais transformações do período. 2) Qual é a principal característica que observamos nos poemas simbolistas portu- gueses? Assinale a alternativa correta. 3) Leia o poema ”Um sonho” em voz alta e repare na repetição dos sons e na musicali- dade. Em qual estrofe você percebe mais a fluidez do som, produzida pelas letras S e C? 5) Tente escrever um pequeno poema com características simbolistas, usando pelo menos cinco das palavras pesquisadas no exercício anterior. 4) O poema “Um sonho” tem alguns termos difíceis de entender. Pesquise as se- guintes palavras em um dicionário digital: Cantilenas; Cornamusas; Cítaras; Sistros; Vésperas; Nêsperas. a) A fuga da realidade. b) A fuga dos sonhos. c) A afirmação da realidade. d) A ausência de fluidez na forma. e) São sempre versos decassílabos. ENSINO MÉDIO EM FOCO 132 6) Leia o seguinte poema de Camilo Pessanha e explique com as suas palavras como o uso da consoante /s/ contribui para a reforçar a característica simbolista do poema. Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila, -- Perdida voz que de entre as mais se exila, -- Festões de som dissimulando a hora Na orgia, ao longe, que em clarões cintila E os lábios, branca, do carmim desflora... Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila. E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora, Cauta, detém. Só modulada trila A flauta flébil... Quem há-de remi-la? Quem sabe a dor que sem razão deplora? Só, incessante, um som de flauta chora.. 7) Qual das características dos poemas simbolistas portugueses mais chamou a sua atenção? Justifique a sua resposta. 8) Qual dos poetas simbolistas portugueses você mais gostou? Justifique a sua resposta. 9) Você gostou mais dos simbolistas portugueses ou dos parnasianos? Justifique a sua resposta. 10) Leia novamente o poema “Foi um dia de inúteis agonias”, de Camilo Pessanha, e diga com suas palavras sobre o que ele fala. PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. LITERATURA 133 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 6 maio 2022. CASTRO, Eugênio de. Antologia. Portugal: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1987. NOBRE, Antônio. Só. Sintra: Europa-América, s.d. PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Atelierê Editorial, 2009. ENSINO MÉDIO EM FOCO 134 Simbolismo no Brasil Disponível em: https://musee-moreau.fr/collection/objet/lapparition. Acesso em: 6 maio 2022. A aparição, de Gustave Moreau, s/d. LITERATURA 135 CONTEXTO HISTÓRICO No fim do século XIX, o processo de industrialização configurou uma corrida entre entre Inglaterra, Alemanha e Rússia. O dinheiro no mundo era acumulado por uns e acabava faltando para os outros, deixando mais evidente a desigualdade social. Por aqui, na América do Sul, a situação também se agravava. No Brasil, estávamos com problemas políticos. Viramos uma República e isso ins- pirou uma tentativa de revolução: os estados da região Sul queriam se separar do restante do país. Além disso, a Marinha do Rio de Janeiro não gostava muito do fato de os dois primeiros presidentes da República serem militares. Também houve a abolição da escravatura e os escravizados libertos enfrentavam grandes problemas sociais e étnicos. Em meio a este contexto, os simbolistas decidem se voltar para o místico, o etéreo. Fantasmas, religiões, névoa e toda sorte de coisa que flui, escorre ou vaza... Poesia simbolista no Brasil Vamos ler um soneto chamado “Carnal e místico”, publicado em 1893: Pelas regiões tenuíssimas da bruma vagam as Virgens e as Estrelas raras... Como que o leve aroma das searas todo o horizonte em derredor perfuma. Numa evaporação de branca espuma vão diluindo as perspectivas claras... Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras as Estrelas apagam-se uma a uma. E então, na treva, em místicas dormências, desfila, com sidéreas latescências, das Virgens o sonâmbulo cortejo... Ó Formas vagas, nebulosidades! Essência das eternas virgindades! Ó intensas quimeras do Desejo... CRUZ E SOUZA. Carnal e Místico. In: Broquéis. Disponível em: http:// objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/broqueis.pdf. Aces- so em: 1 set. 2022. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_icono- grafia/icon960830/icon960830_030.jpg.Acesso em: 9 maio 2022. ENSINO MÉDIO EM FOCO 136 Ouça uma leitura do poema “Carnal e místico” no link a seguir: Conheça mais sobre Cruz e Sousa no vídeo a seguir: Canal: Rede Saber Canal: TV Brasil Cruz e Sousa - Carnal e místico João da Cruz e Sousa - De lá pra cá O tema desse soneto ilustra bem o que significava ser simbolista. Isso porque fala de brumas, evaporações, virgens que vagam, espuma branca, cortejo sonâmbulo, estrelas que se apagam. Tudo tem a ver com coisas místicas e coisas em movimento, mudando de forma. Falando em forma, o soneto é decassílabo. Nu ma’e va po ra cão de bran ca’es pu ma 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 LITERATURA 137 Vamos conhecer agora um outro poeta, Alphonsus de Guimaraens, e seu poema chamado “Ismália”: Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava longe do céu... Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar. . . Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma, subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7695. Acesso em: 1 set. 2022. Canal: Brooks Canal: CJE Ismália - Alphonsus de Guimaraens Música Ismália Você pode assistir a um vídeo com uma interpretação do poema “Ismália” a seguir: Ouça a compositora, cantora e musicista Inezita Barroso cantando e tocando o poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens a seguir: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alphonsus_ Guimar%C3%A3es.jpg. Acesso em: 9 maio 2022. ENSINO MÉDIO EM FOCO 138 É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa. Olha-me a estante em cada livro que olha. E a luz nalgum volume sobre a mesa... Mas o sangue da luz em cada folha. Não sei se é mesmo a minha mão que molha A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa. Penso um presente, num passado. E enfolha A natureza tua natureza. Mas é um bulir das cousas... Comovido Pego da pena, iludo-me que traço A ilusão de um sentido e outro sentido. Tão longe vai! Tão longe se aveluda esse teu passo, Asa que o ouvido anima... E a câmara muda. E a sala muda, muda... Afonamente rufa. A asa da rima Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda Novo, um fantasma ao som que se aproxima. Cresce-me a estante como quem sacuda Um pesadelo de papéis acima... ........................................................ E abro a janela. Ainda a lua esfia Últimas notas trêmulas... O dia Tarde florescerá pela montanha. E oh! minha amada, o sentimento é cego... Vês? Colaboram na saudade a aranha, Patas de um gato e as asas de um morcego. Quan do’ls má lia’en lou que ceu 1 2 3 4 5 6 7 Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index. php?search=Pedro+Kilkerry&title=Special:MediaSearch&go=- Go&type=image. Acesso em: 9 maio 2022. Pedro Kilkerry. Misterioso esse poema, não achou? As coisas mudam e se movimentam (“bulir das cou- sas”). É interessante observar que não é o eu-lírico (o sujeito que fala no poema) que olha para a estante, mas é a estante que o olha “em cada livro”. Esse próprio eu lírico vai se transformando, porque tudo muda, a sala, a câmara, etc. Sabe aqueles desenhos em que tem uma bruxa em um caldeirão preparando uma poção mágica? É mais ou menos isso que a gente lê nas últimas estrofes. Afinal, precisava de um toque místico. Senão deixa de ser simbolista. Ismália andava infeliz, então buscou coisasque estão além da realidade, quando enlouque- ceu. A musicalidade do poema vem da estrutura de redondilha maior (sete sílabas por verso): Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/12243/e-o-silencio. Acesso em: 20 jun. 2022. LITERATURA 139 O poema se estrutura por versos decassílabos. Acesse o Qr Code para ouvir o cantor e compositor Cid Campos cantando e tocando um poema de Pedro Kilkerry chamado “O verme e a estrela”. Canal: Augusto de Campos Cid Campos - O verme e a estrela de Pedro Kilkerry Agora que já sabemos um pouco mais sobre o movimento simbolista, tanto em Portu- gal quanto por aqui no Brasil, dá para chegar a algumas conclusões. A principal delas é que sempre que surge um novo movimento, que reage ao anterior, faz tudo ao con- trário do que foi feito antes. Foi assim com o Barroco, que foi bem diferente do Renas- cimento; com o Arcadismo, que fez o exato oposto do Barroco; os românticos eram arcadistas ao contrário; realistas não podiam nem ouvir falar sobre os românticos e assim por diante. Enfim, a diferença entre os simbolistas e os realistas e naturalistas é enorme; enquanto uns se preocupavam com as injustiças sociais e raciais, outros se preocupavam com os fantasmas, as névoas e as sombras. Alguns querem enfrentar a vida, outros querem fugir dela. ENSINO MÉDIO EM FOCO 140 1. Em que época começou o Simbolismo no Brasil? Quais outros movimentos histó- ricos acompanham o surgimento do movimento? 4. Os poemas que lemos neste estudo têm alguns termos difíceis de entender. Pes- quise as seguintes palavras em um dicionário digital: 5. Tente escrever um pequeno poema com características da poesia simbolista, usando pelo menos cinco das palavras pesquisadas no exercício anterior. 3. Leia o poema “Carnal e místico”, de Cruz e Souza, em voz alta e repare na repeti- ção dos sons e na musicalidade. Qual a consoante que se percebe em destaque na primeira estrofe do soneto? 2. Qual é a principal característica que observamos nos poemas simbolistas brasileiros? a) A fuga da realidade. b) A fuga dos sonhos. c) A afirmação da realidade. d) A ausência de fluidez na forma. e) São sempre versos decassílabos. Atividade Tenuíssimas; Fúlgidos; Latescências; Ruflaram; Enfolha; Afonamente. LITERATURA 141 a) Explique com as suas palavras, a forma como a repetição de sons confere um efeito de musicalidade ao poema. b) Conte as sílabas e descubra qual é a estrutura dos versos no poema. c) Quais são as características simbolistas no tema do poema? d) Quais palavras no poema remetem ao sobrenatural? 6) Leia o trecho a seguir do poema “Violões que choram”, de Cruz e Sousa: Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Tudo nas cordas dos violões ecoa E vibra e se contorce no ar, convulso... Tudo na noite, tudo clama e voa Sob a febril agitação de um pulso. Que esses violões nevoentos e tristonhos São ilhas de degredo atroz, funéreo, Para onde vão, fatigadas do sonho, Almas que se abismaram no mistério. Sons perdidos, nostálgicos, secretos, Finas, diluídas, vaporosas brumas, Longo desolamento dos inquietos Navios a vagar à flor de espumas. Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/ nilc/literatura/viol.esquechoram....htm. Aces- so em: 1 set. 2022. ENSINO MÉDIO EM FOCO 142 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 9 maio 2022. CAMPOS, Augusto de. ReVisão de Kilkerry. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. CRUZ E SOUZA, João da. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. GUIMARÃES, Alphonsus de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. Vamos saber um pouco mais sobre a época em que esses poetas atuaram? Podemos di- zer que não era uma época calma... Canal: The History Channel Brasil Canal: The History Channel Brasil A revolta da armada A Revolução Federalista LITERATURA 143 Geração de 1922 CONTEXTO HISTÓRICO Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mural_no_Hotel_Jaragu%C3%A1,_Emiliano_Di_Cavalcanti_(5878713130).jpg. Acesso em: 5 maio 2022. Mural no Hotel Jaraguá, de Emiliano Di Cavalcanti. Você se considera uma pessoa provocadora? Às vezes a gente tende a provocar as pes- soas que são um pouco mais conservadoras, fazer tudo ao contrário, de trás pra frente. Às vezes a gente tem vontade de sair por aí destruindo tudo que considera “velho” e fazer tudo de novo de um jeito bem diferente. Havia um grupo de artistas aqui no Brasil, no começo do século passado, que também era assim. Eles se reuniram em São Paulo, em 1922, promoveram um evento que durou uma semana! Foi a Semana de Arte Moderna. Eles renovaram não só a nossa literatura, mas também a pintura, a música, a escultura, a arquitetura, o teatro, a dança, tudo! Mas vamos focar na literatura. Em 1922, o público das artes era muito conservador. O desafio não era só literário ou artístico. Era um desafio social, que exigia muita coragem. Os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna ficaram conhecidos como Ge- ração de 22 e foram eles que começaram o modernismo no Brasil. Vamos ver como foi isso, começando pela poesia. ENSINO MÉDIO EM FOCO 144 POESIA Havia um poeta que se chamava Oswald de Andrade. Ele fazia poesia irreverente e usava uma linguagem que não era bem aceita na época. Acesse o Qr Code para ver como era isso: Site: escritas.org Site: culturafm.cmais.com.br Pronominais de Oswald de Andrade Mário de Andrade: Moça linda bem tratada Para o poeta, existe a língua do professor de gramática e a língua que usamos no dia a dia. Algumas pessoas privilegiam a língua do pro- fessor de gramática e têm preconceito com outras formas de falar. Você já percebeu pre- conceito com a fala das pessoas do campo ou das pessoas menos escolarizadas? Sim, isso é uma coisa muito complicada, porque a gente atrapalha bastante a vida das pessoas quan- do as julgamos pela forma de falar. O que Oswald de Andrade faz nesse poema é uma provocação, é claro! Ele traz uma linguagem informal, coloquial, para a poesia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Os- wald_de_Andrade,_sem_data.tif. Acesso em: 9 maio 2022. Oswald de Andrade. Oswald de Andrade era muito amigo de um poeta chamado Mário de Andrade (eles não eram parentes). O Mário também era muito provocador. Leia o início do poema “Moça linda bem tratada”: Moça linda bem tratada, Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor. Leia o restante clicando no link: LITERATURA 145 Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_di- gital/div_iconografia/icon1485756/icon1485756.jpg.Acesso em: 9 maio 2022. Mario de Andrade. Ele critica e ridiculariza as camadas sociais dominantes da época. É um poema provocador, muito crítico às ca- racterísticas da sociedade da época. A estrutura dos versos é a redondilha maior, mas com três sílabas no último verso de cada estrofe: Mo ça lin da bem tra ta da 1 2 3 4 5 6 7 Canal: voaviola Viola Quebrada - Paulo Freire e Roberto Corrêa ENSINO MÉDIO EM FOCO 146 PROSA Se você gostou da poesia, provavelmente também vai gostar da prosa. Oswald de Andrade escreveu vários romances, um deles foi Os condenados, sobre a vida de uma jovem prostituta que se apaixonou por um homem bem desagradável. Esse ro- mance também é uma crítica social. Vamos ler um trecho? Havia um outro grande poeta, Menotti del Picchia. Dá para ver que era de origem italiana, mas era bem brasileiro! Ele escreveu um poema chamado “Juca Mulato”, que conta a his- tória de um homem do campo que se apaixonou pela filha da patroa e se decepcionou... Vamos ler um trecho? Canta, Juca Mulato... Ele pega na viola: seu dedo nervoso os machetes esfrola. Solta um gemido o aço vibrado como um grito de dor de um peito esfaqueado. É tão suave a canção, tão dolente e tão langue que cada nota lembra uma gota de sangue afluir e a pingar dos lábios de uma chaga. É noite. A brisa sopra uma carícia vaga. O Juca Mulato estava sofrendo um bocado pela moça! O poema critica as desigualdades sociais e raciais, mostrando o pouco caso que a filha da patroa faz do empregado. Nesse trecho que lemos, o Juca está tocando sua viola e chorando suas mágoas. Nesse poema, também há muitas inovações na forma: a fala do caipira é diferente da norma culta e urba- na. Isso também é revolucionário! Você pode ler o poema todo no Qr Code a seguir: Site: Recantodopoeta.com Menotti del Picchia - Juca Mulato Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Menotti_del_Picchia.jpg. Acesso em: 9 maio 2022. Menotti del Picchia. PICCHIA, Menotti del. Juca Mulato. São Paulo: Garnier, 2001. LITERATURA 147 O Dr. Carlos Pinheiro declarou-lhe inútil qualquer tentativa mais de viagem ou de cura. Era possível então! O Senhor não o provara bastante ainda! O seu amor que encontrara de nôvo, na dolorosa convalescença do tiro, o seu amor ia morrer! Uma súbita revolta amarga levantava-se no seio do redivivo. Mas Jesus, de carne e suor, igualado aos outros pela Suprema Vontade, tinha ido ajoelhar-se numa hora assim, a um canto de velho parque, só, abandonado aos indiscutíveis momentos do seu destino. Coepit pacere... Jorge d’Alvelos foi para o seu quarto tomado do medo humano de Jesus. O padre não pôde mais confessá-la. Ela voltara duas vêzes a si, em silêncios cansados de sofrimento, sorrindo os seus últimos sorrisos. Estava agora calada e inerte, de olhos semicerrados. O sacerdote dissera o “Ego te absolvo a peccatis tuis” definitivo. E começara o Extremo Sacramento. Disponível em: Wikimedia Commons. Acesso em: 9 maio 2022. Patrícia Galvão. Havia também uma mulher nesse grupo de autores. O nome dela era Patrícia Galvão, mas seu apelido era Pagu, e seu principal romance é Parque Industrial. Esse romance fala da vida dura de um grupo de operários, das greves, das revoltas e dos dramas de cada um. Vamos ler um trecho? Um rapazinho se espanta. Ninguém nunca lhe dissera que era explorado. – Rosinha, você pode me dizer o que a gente deve fazer? Rosinha Lituana explica o mecanismo de exploração capitalista. – O dono da fábrica rouba de cada operário o maior pedaço do dia de trabalho. É assim que enri- quece às nossas custas! – Quem foi que te disse isso? É um romance que fala da exploração capitalista sobre os trabalhadores nas fábricas, preocupações que aparecem muito também na literatura realista. ANDRADE, Oswald de. Os condenados. Rio de Janeiro: Globo, 2012. GALVÃO, Patrícia. Parque Industrial. São Carlos: UFSCar, 1994. ENSINO MÉDIO EM FOCO Voltando um pouco ao Mário de Andrade, ele também escreveu prosa: um livro diverti- díssimo intitulado Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. O personagem, que dá nome ao livro, não tinha nenhum caráter mesmo, e isso é o mais legal. Macunaíma era um indí- gena, aí ele virou branco, depois ele foi para a cidade grande para recuperar a pedra mui- raquitã, um tipo de amuleto que haviam roubado dele. Conheça um trecho do romance: Muitos casos sucederam nessa viagem por caatingas rios corredeiras, gerais, corgos, corredores de tabatinga matos-virgens e milagres do sertão. Macunaíma vinha com os dois manos pra São Paulo. Foi o Araguaia que facilitou-lhes a viagem. Por tantas conquistas e tantos feitos passados o herói não ajuntara um vintém só mas os tesouros herdados da icamiaba estrela estavam escondi- dos nas grunhas do Roraima lá. Desses tesouros Macunaíma apartou pra viagem nada menos de quarenta vezes quarenta milhões de bagos de cacau, a moeda tradicional. Calculou com eles um dilúvio de embarcações. E ficou lindo trepando pelo Araguaia aquele poder de igaras, duma em uma duzentas em ajojo que nem flecha na pele do rio. Gostou da forma como ele escreve? O livro é uma provocação. Lembra que antes os heróis eram todos mocinhos, moralistas e arrumadinhos? Aqui ele é cheio de falhas e de trambiques. É a figura do anti-herói. O cineasta Joaquim Pedro de Andrade adaptou Macunaíma em um filme com Paulo José e Grande Otelo, acesse o Qr Code para assistir: Canal: FILMES DUBLADOS FaBe Macunaíma - Filme raro com grande Otelo Gostou da prosa modernista? Então espere só para ver o teatro! Paisagem da Caatinga no Brasil 148 ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São Paulo: Ubu, 2017. LITERATURA 149 Máscaras de teatro coloridas. TEATRO Oswald de Andrade era bom em escrever peças também. Ele escreveu umas bem legais: A Morta, O homem e o cavalo, mas a mais famosa delas é O rei da vela. Essa peça conta a história de um agiota, uma pessoa muito rica que empresta dinheiro para os outros e depois cobra juros exorbitantes. Vamos ver um trechinho? ABELARDO I (Examina.) — Veja! Isto não é comercial Seu Pitanga! O senhor fez o primeiro em- préstimo em fins de 29. Liquidou em maio de 1931. Fez outro em junho de 31, estamos em 1933. Reformou sempre. Há dois meses suspendeu o serviço de juros... Não é comercial... O CLIENTE — Exatamente. Procurei o senhor a segunda vez por causa da demora de pagamento na Estrada, com a Revolução de 30. A primeira foi para o parto. A criança já tinha dois anos. E a Revolução em 30... Foi um mau sucesso que complicou tudo... ABELARDO I — O senhor sabe, o sistema da casa é reformar. Mas não podemos trabalhar com quem não paga juros... Vivemos disso. O senhor cometeu a maior falta contra a segurança do nosso negócio e o sistema da casa... Trata-se de uma crítica sobre a exploração que os pobres sofrem nas mãos dos ricos. Você pode assistir a uma apresentação da peça na íntegra QR Code a seguir: Canal: CIA DOS ATORES O rei da vela ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. ENSINO MÉDIO EM FOCO 150 1. Em que ano ocorreu a Semana de Arte Moderna? Explique suas origens. 3. Cite 3 poetas da Geração de 22 e suas respectivas obras mais conhecidas. 6. Qual dos poeta da Geração de 22 você mais gostou? Justifique a sua resposta. 2. Quem escreveu o poema “Pronominais”? Explique o contexto em que o poema foi lançado. 5. Qual é o tema de Juca Mulato? 4. Quem é o autor de “Juca Mulato”? Explique o que representava o personagem. 7. Entre os autores da Geração de 22 havia uma mulher. Qual era o seu nome e sua obra principal? Atividade LITERATURA 151 8. Quem escreveu O rei da vela? Comente algumas características da peça. 9. Você gostou mais do Modernismo português ou da Geração de 22? Justifique sua resposta. 10. Escreva um poema com as características da Geração de 22. Referências ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. ANDRADE, Oswald de. Os condenados. Rio de Janeiro: Globo, 2012. ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São Paulo: Ubu, 2017. ANDRADE, Mario de. Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana. São Paulo: Martin Claret, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 9 maio 2022. GALVÃO, Patrícia. Parque Industrial. São Carlos: UFSCar, 1994. PICCHIA, Menotti del. Juca Mulato. São Paulo: Garnier, 2001. SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloísa M. Brasil: uma biografia - com novo pós-escrito. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. ENSINO MÉDIO EM FOCO 152 A prosa da Geração de 1945 Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra21084/grande-sertao-veredas?. Acesso em: 6 maio 2022. Capa do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Existem diversas variações da língua portuguesa. Na verdade, há milhões, porque a língua que você fala é única e diferente da que as outras pessoas falam, e o nome disso é idio- leto. Também existem os dialetos, que é o jeito de falar que cada grupo social ou região compartilha. Na Bahia, se fala “oxi”, em Minas “uai”, em São Paulo se fala “meu”, etc... Esses são osregionalismos, que fazem parte dos dialetos. A língua é feita desses vários dialetos, que são feitos de outros vários idioletos... Nenhum é “certo” ou “errado”, “bom” ou “ruim”; a língua só existe porque nós a falamos, de jeitos diferentes. LITERATURA 153 A paisagem da caatinga, no Brasil. Havia um escritor da Geração de 45 que foi para o norte de Minas Gerais e ficou lá por mui- to tempo com um grupo de jagunços e vaqueiros, para aprender o dialeto deles e escrever um romance. Esse escritor se chamava João Guimarães Rosa e não é exagero dizer que o romance que ele escreveu está entre os mais fantásticos já feitos em língua portuguesa. O nome desse romance é Grande Sertão: Veredas (1956). Para começar, ele é escrito no dialeto dos jagunços do norte de Minas daquela época... Jagunços são um tipo de guarda-costas do dono da fazenda, que andam muito armados e têm fama de se envolver em confusões. O herói da história se chama Riobaldo e ele sente um amor platônico e impossível por um jagunço chamado Diadorim; o final é surpreendente! Vamos ler um trecho: Antes foi uma coisa acontecida repentina: aquele alvoroço, na cavalhada geral. Aí o mundo de homens anunciando de si e sobre o vasto chegando, da banda do Norte. Joca Ramiro! – “Doca Ramiro!” – se gritava. Só Candelário pulou em sela, assim como ele sempre era: mola de aço. Deu um galope, em encontro. Nós todos, de começo, ficamos atarantados. Vi um sol de alegria tanta, nos olhos de Diadorim, até me apoquentou. Eu tinha ciúme? – “Riobaldo, tu vai ver como ele é!” – Diadorim exclamou, se abraçou comigo. Parecia uma criança pequena, naquela bela resumida satisfação. Como era que eu ia poder raivar com aquilo? E, no abre- vento, a toda cavaleirama chegando, empiquetados, com ferragem de cascos no pedregulho. Eram de ser uns duzentos, quase tudo manosvelhos baianos, gente nova trazida. Gritavam vivas para a gente, saudavam. E Joca Ramiro. A figura dele. Era ele, num cavalo branco – cavalo que me olha de todos os altos. Numa sela bordada, de Jequié, em lavores de preto-e- branco. As rédeas bonitas, grossas, não sei de que trançado. E ele era um homem de largos ombros, a cara grande, corada muito, aqueles olhos. Como é que vou dizer ao senhor? Os cabelos pretos, anelados? O chapéu bonito? Ele era um homem. Liso bonito. Nem tinha mais outra coisa em que se reparar. A gente olhava, sem pousar os olhos. A gente tinha até medo de que, com tanta aspereza da vida, do serão, machucasse aquele homem maior, ferisse, cortasse. E, quando ele saía, o que ficava mais, na gente, como agrado em lembrança, era a voz. Uma voz sem pingo de dúvida, nem tristeza. Uma voz que continuava. Neste vídeo você pode ver o próprio Guimarães Rosa falando sobre Grande Sertão: Veredas, acesse o Qr Code a seguir: Canal: Estadão Novas Veredas: Guimarães explica ‘Grande sertão’ ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. ENSINO MÉDIO EM FOCO 154 Guimarães Rosa escreveu muitos livros. Vamos falar agora de outro, que se chama Sagarana (1946). São vários contos, cada um em um cenário diferente: campo, cida- de, etc. e vários dialetos também. Vamos ler um trecho do primeiro conto do livro, “O burrinho pedrês”: — A onça, o povo dizia que ela tinha vindo de longe. Onça tigre macha, das do matogrosso... Onça bicho doido para caminhar, e que anda só de noite, cam- peando o que sangrar... Pois, naquela ocasião, eu estava crente que ela estava a muitas léguas de lá onde que eu esta- va... Pensei que andasse pelo Maquiné — Mas, e o zebu? — Bom, quando eu ouvi o miado, fui para perto de um angico novo, por cau- sa que eu estava sem arma de fogo, e onça não trepa em pau fino — se diz — que ela não tem poder de abarcar com as munhecas... Aquilo, eu pedia a Deus para mandar ela não vir do meu lado... Fiquei alegre, quando escutei melhor o miado da bicha-fera, lá por trás do ta- bocal... E o Calundú cavacava o chão e bufava, com uma raiva tão medonha, que ai fiquei mais animado, por ele es- tar me protegendo, e até tive pena da pobre da oncinha! — E depois? A tigre chegou no marruás? — Perde essa moda. Zebu zebu mesmo, e marruás garrote, dos outros... Mas, ai, eu vi a canguçu, vi o vulto dela, por que era lua cheia, noite clara, já falei. — Urrando, assanhada, Raymundão? Eu já vi uma suçuarana rompente, uma vez... — Não é capaz. Onde foi que já se viu onça tocaiar criação desse jeito? Aquilo ela vem feito gato quando quer pegar passarinho: deitada, escorregando devagarinho, com a barriga no chão, numa maciota, só com o rabo bulindo... Os olhos que alumiam verde, que nem vagalu- me bagudo... — Mas, pulou no cangote do zebu? — Que óte! Que ú!... Você acredita que ela não teve coragem?! Naquela hora, nem o capeta não era gente de chegar no guzerá velho-de-guerra. Nem toureiro afamado, nem vaqueiro bom, Mulatinho Campista, Viriato mais Salathiel, coisa nenhuma... E, quem chegasse, era só mesmo por ter vontade de morrer suicidado sem querer... O boi era mais bravo que a onça! Esse boi a onça não comia, tinha medo dele. No final da história esse boi vai aprontar uma coisa horrível... só você lendo mesmo para saber. Tem um conto em Sagarana que virou filme! Ele se chama “A Hora e a vez de Augusto Ma- traga”. Assista ao trailer. Acesse o Qr Code: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Guimar%- C3%A3es_Rosa,_anos_1960.tif. Acesso em: 9 maio 2022. Guimarães Rosa. ROSA, Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. LITERATURA 155 Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécu- la disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas an- tes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se an- tes da pré-pré-história já havia os monstros apoca- lípticos? Se essa história não existe, passará a exis- tir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irre- conhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esva- ziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sin- copada e estridente – é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicida- de? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Ah... o compositor Geraldo Vandré fez uma música, há muito tempo atrás em homena- gem a esse personagem, acesse o Qr Code para ouvir: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cla- rice_Lispector_(cropped).jpg. Acesso em: 9 maio 2022. Clarice Lispector. Agora vamos estudar uma escritora da Geração de 45, seu nome é Clarice Lispector. Ela gostava de falar de sentimentos íntimos, profundos. O livro mais importante que ela es- creveu é A Hora da Estrela (1977), um romance sobre ela mesma, seus sentimentos e emo- ções. Mas ela criou personagens para isso. Canal: JP Spagnollo Canal: pflkwy A hora e a vez de Augusto Matraga Réquiem para Matraga de Geraldo Vandré LESPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. ENSINO MÉDIO EM FOCO 156 No link a seguir podemos assistir ao trailer: Canal: Raiz Disttribuidora A hora da estrela - trailer A Clarice Lispector escreveu muita coisa, como, por exemplo, os livros de contos Laços de família (1960), Água Viva (1973) e A Via Crucis do Corpo (1974). O que você achou da prosa da Geração de 45, com seus diferentes jeitos de escrever e explorando a diversidade linguística? Atéo próximo estudo! LITERATURA 157 Atividade 1) Identifique quais são as palavras que você ainda não conhece no trecho de Grande Sertão: Veredas e faça as devidas anotações. 2) Pesquise, em um dicionário online ou em um dicionário impresso, o signifi- cado das palavras que você anotou. Escreva sobre os respectivos significados. 3) Escreva um pequeno texto usando essas palavras. 4) Explique com suas palavras o que são os dialetos e os idioletos. 5) Quem são os personagens principais de Grande Sertão: Veredas? Qual é a trama do romance? 6) De que outro animal a onça tinha medo no conto “O burrinho pedrês”? 7) No conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, o que fez a vida do personagem principal mudar totalmente? ENSINO MÉDIO EM FOCO 158 8) Sobre o que fala o romance A hora da estrela? 9) Como se chama a personagem principal de A Hora da Estrela? 10) Escreva um pequeno texto usando o dialeto da sua região ou gírias e expres- sões que você usa em conversas com os amigos. a) Macabéa. b) Clarice. c) Rodrigo. d) Carlota. e) Olímpio de Jesus. Álbum de estúdio de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé. LITERATURA 159 Tropicalismo CONTEXTO HISTÓRICO Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tropicalia_ou_Panis_et_Circencis. Acesso em: 9 maio 2022. Álbum de estúdio de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé. Houve um pessoal no final da década de 1960, que resolveu colocar todos os valores cul- turais de cabeça para baixo, contrariando os padrões culturais e valores das gerações an- teriores. Esse foi um movimento de contestação chamado contracultura. No Brasil, esse movimento deu início ao Tropicalismo. O país estava vivendo sob a ditadura militar e os mais jovem estavam lutando contra a repressão, a maioria dos artistas tentava trazer de volta a democracia. Os artistas da Tro- picália faziam suas canções misturando várias estilos: música clássica, baião, bossa nova, samba e rock n’roll... Eles escreviam as letras das canções, que eram poesias para desafiar não só a ditadura, mas os preconceitos e as superstições também! Esse movimento durou um ano, pois a ditadura perseguiu todos, uns foram presos e outros foram obrigados a deixar o país. ENSINO MÉDIO EM FOCO 160 Gilberto Gil é outro artista que participou do movimento. Ele fez uma canção contando uma história em que o ciúme cau- sou uma tragédia. Essa canção se chama “Domingo no Par- que”. Vamos escutar: Tropicália O fundador do movimento tropicalista foi Caetano Veloso. Uma de suas canções é “Ale- gria, alegria”. Vamos ler e ouvir essa canção! Canal: BeAreYou Canal: Gilberto Gil Alegria, alegria - Caetano Veloso Gilberto Gil - Domingo no parque O eu-lírico sai por aí, sem documento, ele não precisa disso, pois documento é um jeito que o Estado tem de controlar as pessoas, e sem lenço, ele não está nem aí... Ele vai com alegria, porque a alegria é mais forte que a tristeza, e fala de tudo o que vai encontrar no caminho: guerrilhas, atores de cinema etc. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Caetano_Veloso_(cropped).jpg. Acesso em: 9 maio 2022. Disponível em: https://commons.wikimedia. org/wiki/File:Gilberto_Gil,_em_2014.jpg. Acesso em: 9 maio 2022. Caetano Veloso em 2019. Caetano Veloso. A canção fala do ciúme e de quem pensa que as pessoas lhes pertencem, que são suas propriedades. LITERATURA 161 Tom Zé é outro artista que pertenceu ao Tropicalismo. Ele protestava rindo, denunciava com alegria, fazendo graça. Vamos ouvir uma canção dele chamada “2001”, mas que foi feita em 1968... Quem está tocando e cantando é o Gilberto Gil, no acordeom, e o grupo Os Mutantes: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tom_Z%C3%A9_in_S%C3%A3o_Paulo.jpg. Acesso em: 9 maio 2022. Tom Zé. Canal: Rodrigo Santos Canal: Rodrigo Santos 2001 (Dois mil e um) Senhor F Naquela época, os Estados Unidos e a União Soviética estavam disputando uma corrida para ver quem chegava primeiro na Lua. Por isso, falava-se muito desse assunto, estava todo mundo meio assustado, ninguém sabia o que iriam encontrar lá. Nessa época, saiu um filme, que ficou muito famoso, chamado “2001: Uma Odisseia no Espaço”, que inspi- rou o nome da música. Os Mutantes era um grupo cujos integrantes eram Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Vamos ouvir com eles uma canção chamada “Senhor F”: ENSINO MÉDIO EM FOCO 162 Os tropicalistas faziam muitas canções juntos, eles se juntavam para escrever. Por exem- plo, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram e são grandes parceiros, a canção “Baby” é um bom exemplo. Vamos ouvi-la na voz da Gal Costa: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Os_Mutantes.tif. Acesso em: 9 maio 2022. Os Mutantes, em 1969. Canal: Rhythm andlife Gal Costa - Baby LITERATURA 163 Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gal_Costa.tif. Acesso em: 9 maio 2022. Gal Costa, em 1969. No próximo Qr Code você ouve a interpretação de Os Mutantes: Canal: pelodelperro Os Mutantes - Baby ENSINO MÉDIO EM FOCO 164 Os Qr Codes a seguir mostram alguns álbuns importantes do movimento tropicalista. Canal: SixtyYear OldBeefarts Canal: Gilberto Gil - 1968 (full album) Canal: Tom Zé Canal: Caetano Veloso Canal: Vanessa Falcão Canal: musicasproblip Os Mutantes Gilberto Gil - 1968 Parque Industrial (feat. Os Versáteis) Tropicália (Remastered 2006) Divino Maravilhoso_Gal Costa Gilberto Gil / Tropicália (1968) - Miserere Nobis LITERATURA 165 Atividade 1) Em que período da história do Brasil começou o movimento tropicalista? 2) A que gênero podemos associar a poesia do movimento tropicalista? 3) Qual é o tema de Alegria, alegria, de Caetano Veloso? 4) Qual é o tema principal de Domingo no parque, de Gilberto Gil? 6) Qual é a crítica que Os Mutantes fazem ao Senhor F em sua canção? 7) Como se chamam os três integrantes do grupo Os Mutantes? 5) Em 2001, Tom Zé escreve sobre um importante acontecimento da época, que acontecimento é esse? ENSINO MÉDIO EM FOCO 166 8) Quais são as críticas sociais feitas na canção “Baby”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil? 10) Escreva um poema com características tropicalistas. 9) Qual contexto motivou a crítica social feita na canção “Baby”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil? LITERATURA 167