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AULA 2 SEGURANÇA DO PACIENTE Prof. Luiz Fernando da Silva 2 INTRODUÇÃO Nesta etapa, iremos abordar a importância do Programa Nacional de Segurança do Paciente para sistemas e estabelecimentos de saúde. É preciso entender o papel da Segurança do Paciente na Rede de Atenção à saúde, na Atenção Primária à Saúde e no ambiente Ambulatorial e Hospitalar. O conteúdo abordado aqui irá te apoiar a entender a inserção da Segurança do Paciente na prática e fomentar discussões sobre o caminhar da segurança do paciente nos ambientes abordados e estimular o pensamento crítico e reflexivo sobre esse assunto. TEMA 1 – O PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA DO PACIENTE, SEUS OBJETIVOS E PRINCIPIOS O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) é um conjunto de iniciativas do Ministério da Saúde estabelecidas em 2013 por meio da Portaria MS/GM n. 529 para melhorar a qualidade e segurança dos serviços de saúde. O objetivo do programa é prevenir e reduzir erros não intencionais, danos e complicações evitáveis que possam ocorrer durante a assistência à saúde (Anvisa, 2014). Para atingir seus objetivos, o programa colocou em prática medidas para reduzir a incidência de erros médicos e aumentar a segurança de pacientes e profissionais de saúde, como a prevenção de infecções hospitalares, o controle de medicamentos, o treinamento de profissionais de saúde e a implementação de sistemas de informação. Incentiva-se também práticas de segurança baseadas em evidências, incluindo a implementação de protocolos de segurança e a realização de auditorias, e recomenda-se a criação de equipes de segurança do paciente que serão responsáveis pela supervisão e avaliação dos processos de segurança do paciente, bem como pela implementação de medidas para prevenir erros evitáveis (Do Amaral Braz, 2020). Além de promover a educação e o treinamento dos profissionais de saúde para melhorar o conhecimento sobre segurança do paciente e a conscientização sobre as práticas de segurança, o PNSP também ajuda a identificar práticas de segurança eficazes e promove a disseminação destas práticas entre as instituições e profissionais de saúde (Anvisa, 2014). São princípios do Programa Nacional de Segurança do Paciente: 3 1. Priorizar a segurança do paciente: o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) enfatiza o direito dos pacientes de receber tratamento seguro, eficaz e de qualidade. 2. Fomentar a responsabilidade compartilhada: o PNSP reconhece que a segurança do paciente é um esforço de toda a equipe de saúde, desde o diretor executivo até o profissional de saúde, ou seja, a responsabilidade por garantir a segurança do paciente é compartilhada. 3. Promover a colaboração: o PNSP incentiva a colaboração para melhorar a segurança do paciente. Isso significa promover a comunicação aberta e direta entre os membros da equipe de saúde, assim como com os pacientes e os familiares. 4. Incentivar a pesquisa: o PNSP incentiva a pesquisa para desenvolver e implementar protocolos de segurança do paciente eficazes, bem como para melhor compreender e controlar as principais fontes de risco para a segurança do paciente. 5. Desenvolver protocolos de segurança: o PNSP entende que protocolos de segurança do paciente eficazes podem reduzir o risco de dano aos pacientes. As diretrizes sobre segurança do paciente devem ser desenvolvidas e implementadas de forma consistente. 6. Promover cultura de segurança do paciente: o PNSP incentiva a criação de uma cultura de segurança do paciente que aborde questões como comunicação, educação, treinamento e liderança. Essa cultura deve incentivar a busca contínua de melhorias na segurança do paciente. TEMA 2 – A PROGRAMA NACIONAL E SEUS EIXOS DE ATUAÇÃO Considerando a sua complexidade e abrangência, a política de segurança do paciente se dividiu em quatro eixos de atuação, apresentados a seguir. 2.1 O estímulo a uma prática assistencial segura Deu-se espaço para a discussão e desenvolvimento de protocolos para promover a segurança do paciente nos serviços de saúde. Considerados importantes instrumentos para construção de uma prática assistencial segura, esses protocolos se tornaram componentes obrigatórios dos planos (locais) de segurança do paciente dos estabelecimentos de Saúde. Além disso, neste eixo 4 foram discutidos e delimitados os planos locais de segurança do paciente dos estabelecimentos de Saúde, os Núcleos de Segurança do Paciente a gestão de risco assistencial e a notificação de incidentes em saúde (Anvisa, 2014). 2.2 Envolvimento do cidadão na sua segurança Por envolver uma grande mudança cultural nos estabelecimentos de saúde, este é um dos eixos mais difíceis a ser desenvolvido. Para envolver os usuários, é importante a combinação de diversas ações dos Núcleos de Segurança do Paciente, conselhos, órgãos de classe profissionais e gestores com aquelas que permitam e ampliem o acesso da sociedade civil às informações relativas à segurança do paciente (Anvisa, 2014). 2.3 Inclusão do tema segurança do paciente no ensino Este eixo descreve a necessidade de incluir o tema segurança do paciente na formação de profissionais da saúde, no ensino técnico, na graduação e na pós- graduação. Outro local de atenção para o tema são os próprios estabelecimentos de saúde, com a educação permanente dos profissionais que neles atuam (Anvisa, 2014). 2.4 O incremento de pesquisa em segurança do paciente Este eixo estimula a reflexão sobre o aumento e a distribuição das pesquisas sobre o tema Segurança do Paciente. Dá-se ênfase na concentração do foco das investigações em segurança do paciente sobre os componentes: medir o dano, compreender as causas, identificar as soluções, avaliar o impacto e transpor a evidência em cuidados mais seguros (Anvisa, 2014). TEMA 3 – REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE E À SEGURANÇA DO PACIENTE Ao assumir em sua constituição que a saúde é direito de todos e dever do Estado, o Brasil demonstra seu compromisso com uma saúde universal e integral para todos os seus cidadãos. Ao entender a complexidade do atendimento e compreender os desafios deste sistema de saúde de forma integral, é possível reconhecer a grandeza desse compromisso com a população (Mendes, 2010). As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são composições organizativas de ações e serviços de saúde, com diversa densidade tecnológica que, integradas 5 por outros sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, garantem a integralidade do cuidado. Essas composições são sistematizadas e estão sempre preparadas para responder de forma eficiente a condições específicas de saúde por meio de um ciclo de atendimentos contínuos e integralizados em diferentes níveis (Mendes, 2010). Resumindo, a RAS é uma estrutura de serviços de saúde estabelecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para atender às demandas de saúde da população brasileira. Essa rede possui vários níveis de atenção. • Atenção Primária à Saúde (APS): é responsável pela prevenção e promoção da saúde, diagnóstico e tratamento de doenças e agravos de baixa complexidade. Estes serviços são oferecidos na Unidade Básica de Saúde (UBS). • Atenção Especializada: é responsável por tratar doenças e agravos de maior complexidade e gravidade, oferecendo serviços de diagnóstico, tratamento e reabilitação. Esses serviços são oferecidos nos Hospitais e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). • Atenção Hospitalar: é responsável por tratar doenças e agravos de maior complexidade, oferecendo serviços de diagnóstico, tratamento e reabilitação. Esses serviços são oferecidos nos Hospitais. Esses níveis também podem ser descritos como Nível Básico, Médio e Alta Complexidade. Vale ressaltar que, apesar dos níveis hierárquicos, isso não reflete na importância de cadanível para a Rede de Atenção. Figura 1 – Apresentação do Modelo da Pirâmide: hierarquização e regionalização do SUS Fonte: Mendes (2011, p. 56) NÍVEL TERCIÁRIO: atenção hospitalar (resolve cerca de 5% dos problemas de saúde) NÍVEL SECUNDÁRIO: centros de especialidades e serviços de apoio diagnósticos terapêutico (SADT) (resolve cerca de 15% dos problemas de saúde) ATENÇÃO BÁSICA: Unidades básicas de saúde e estratégia de saúde da família (resolve mais de 80% dos problemas de saúde) 6 3.1 Segurança do Paciente na Rede de Atenção à Saúde A preocupação com a segurança do paciente em estabelecimentos de saúde tem alcançado adeptos, estudiosos e profissionais engajados. Embora a maior parte das interações entre profissionais de saúde e pacientes ocorra fora do ambiente hospitalar e os cuidados nos estabelecimentos de saúde de densidade tecnológica menor terem ficado mais complexos, o que ainda se observa é uma preocupação seletiva e ainda focada no ambiente hospitalar (Marchon; Mendes, 2014; Mendes, 2010). Pesquisas recentes têm revelado a natureza dos danos aos pacientes fora do ambiente hospitalar e tem demonstrado a importância da preocupação com a Segurança do Paciente em toda a Rede de Atenção à Saúde (Marchon; Mendes, 2014). 3.2 Deslocamento do paciente na Rede de Atenção à Saúde Mesmo fora do ambiente hospitalar, o paciente pode estar sujeito a danos e com a sua segurança ameaçada. Durante o deslocamento do paciente pela rede de atenção, os pontos de maior importância são: a transição do cuidado e os erros administrativos (Mendes, 2010). Parte integrante da jornada do paciente em todo o sistema de saúde, a transição de cuidado é o processo no qual o cuidado é transferido de um profissional ou estabelecimento de saúde a outro. Isso inclui as transições entre a residência, o hospital, atenção primária e consultas com diferentes prestadores de cuidados de saúde. A gestão eficaz das transições é essencial, principalmente quando os atores envolvidos são a alta e a baixa complexidade, a transição entre esses estabelecimentos são reconhecidos historicamente como cenários de alto risco para a segurança do paciente. Uma transição segura é muito importante para garantir que o paciente receba os cuidados necessários e adequados em todas as etapas de sua jornada de saúde (Mendes, 2010). A transição do cuidado é um processo complexo que envolve a coordenação de cuidados entre múltiplos estabelecimentos e profissionais de saúde. Para retardar riscos, é importante que os pacientes sejam sempre informados sobre o processo de transição, e que eles tenham acesso a informações sobre sua documentação e cuidados. Além disso, é importante que 7 os estabelecimentos de saúde trabalhem em conjunto para garantir que os pacientes recebam cuidados consistentes e de qualidade (Marchon; Mendes, 2014). Para uma transição de cuidado segura, é importante que os estabelecimentos de saúde, além de reconhecê-la como um componente integral da coordenação do cuidado, estejam focados nas necessidades dos pacientes, suas famílias e cuidadores e na comunicação com os pacientes e com os demais prestadores de cuidados de saúde (Marchon; Mendes, 2014). Os erros administrativos assumem uma posição entre os mais frequentes no deslocamento do paciente pela Rede de Atenção à Saúde. Apesar de ser percebidos com menor potencial de dano quando comparado com erros relacionados à medicação ou erros de diagnóstico, observa-se que muitos erros de diagnóstico ou de medicação têm um erro administrativo como causa raiz. Diagnósticos atrasados e perdidos devido à falha do sistema para comunicar resultados de exames são exemplos bem comuns destas situações (Marchon; Mendes, 2014). Alguns dos principais erros administrativos no deslocamento do paciente podem ser classificados em quatro situações específicas. • Erros de registro do paciente, relacionados ao erro no cadastro de informações, perdas de informações sobre o paciente e registros incorretos ou incompletos. • Solicitações e resultados de exames complementares, quando relacionado ao gerenciamento incorreto de solicitações e resultados de exames. • Erros no sistema de acompanhamento, relacionados ao seguimento inadequado do paciente na rede de atenção. • Comunicação durante transições de cuidados, refere-se a erros na transferência de informações. TEMA 4 – SEGURANÇA DO PACIENTE NA ALTA COMPLEXIDADE (HOSPITALAR) Desde a ascensão do tema Segurança do Paciente no Brasil e no mundo, o ambiente hospitalar esteve no centro das atenções. O principal objetivo de um hospital é a prestação de serviços na área da saúde, com qualidade, eficiência e eficácia. A segurança do paciente neste ambiente hospitalar se concentra na 8 identificação, avaliação e prevenção de problemas que possam afetar a segurança dos pacientes hospitalizados (Gandhi; Lee, 2010). O objetivo é assegurar que os serviços de saúde sejam prestados com a maior segurança possível. A identificação, a avaliação e a prevenção de problemas que possam ferir a segurança do paciente dependem muito da gestão e das estruturas voltadas para a segurança do paciente utilizadas nestes estabelecimentos (Gandhi; Lee, 2010). Os hospitais que apresentam melhores resultados em segurança do paciente são aqueles que já entenderam a importância da cultura de segurança, implantando-a e fazendo com que outras iniciativas como o Núcleo de Segurança do Paciente funcionem. Vale ressaltar que, de acordo com a RDC da Anvisa n. 36 de 2013, o NSP é responsável pelo conjunto de atividades do gerenciamento de riscos, que compreende a aplicação sistêmica e contínua de políticas, procedimentos, condutas e recursos na identificação, análise, avaliação, comunicação e controle de riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a saúde humana, a integridade profissional, o meio ambiente e a imagem institucional (Anvisa, 2014). No ambiente hospitalar, a segurança do paciente envolve uma variedade de medidas como a segurança do ambiente, a boa comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes e a implementação de práticas seguras de tratamento que englobam várias outras como: preparação e administração de medicamentos, controle de infecções relacionadas à assistência à saúde, identificação dos pacientes, checklist para cirurgia segura etc. (Gandhi; Lee, 2010). Outros elementos importantes da segurança do paciente incluem a vigilância quanto ao estado de saúde dos pacientes, o envolvimento dos pacientes e familiares nos cuidados, a educação dos profissionais de saúde sobre segurança do paciente e a melhoria contínua dos processos de cuidados de saúde. Todas essas medidas visam garantir que os pacientes hospitalizados recebam os cuidados de qualidade que necessitam, sejam tratados com dignidade e respeito e sejam mantidos seguros durante seu período de internação. Isso não pode ser alcançado sem a administração efetiva de um programa de prevenção de acidentes que proporcione condições ambientais seguras para o paciente e para os profissionais que aí desenvolvem suas atividades de trabalho (Mc Donald et al., 2002). 9 O Hospital deve desenvolver continuamente essa política, assegurando que gerentes e funcionários estejam cientes de suas responsabilidades na redução de riscos e acidentes. Devem promover e reforçar práticas seguras de trabalho, gerenciar e monitorar os resultados via indicadores e proporcionar ambientes livres de riscos e em acordo com as melhores práticas. No que diz respeito à segurança do paciente, há vários fatores que podem diferenciar o ambiente hospitalar dos demais estabelecimentos de saúde. No ambiente hospitalar, predominam os erros no tratamento do paciente. Segundo boletim de notificações da Anvisa, entre 2019 e 2021 houve a prevalência de eventos adversos relacionados afalhas durante a assistência à saúde, seguidos da lesão por pressão, falhas relacionadas a cateter venoso, queda do paciente, falhas relacionadas a sondas e outros dispositivos, falha na identificação do paciente e etc. (Marchon; Mendes, 2014). Outro fato que demanda atenção é a relação profissional de saúde- paciente, sendo que em hospitais a adesão ao tratamento é mais satisfatória do que nas outras instituições de saúde. A estrutura organizacional desses estabelecimentos é mais completa em infraestrutura e experiências para abordar a melhoria da qualidade e da segurança. E em situação de evento adverso moderado ou grave, toda a equipe multiprofissional está mais próxima e fica sabendo disso muito rapidamente (Marchon; Mendes, 2014). TEMA 5 – SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E NA ATENÇÃO AMBULATORIAL As ações de Segurança do Paciente no Brasil iniciaram na atenção hospitalar. Ainda que, desde o princípio, o PNSP se propõe a trabalhar a Segurança do Paciente em todos os estabelecimentos de saúde no território nacional, o tema só teve visibilidade na Atenção Primária à Saúde em 2008 com o Relatório Mundial da Saúde publicado pela OMS com a temática “Cuidados de Saúde Primários – Agora Mais Que Nunca”. O relatório destaca a importância da APS e a falta de Segurança do Paciente como uma limitação neste nível de atenção à saúde. Em 2012, foi formado por especialistas da OMS um grupo de trabalho voltado para o tema e, a partir de muitas discussões, foram publicadas em 2016 várias séries temáticas com os seguintes temas: envolvimento do paciente, educação e treinamento, fatores humanos, erros administrativos, erros 10 de medicação, multimorbidade, transição do cuidado e ferramentas eletrônicas (Marchon; Mendes, 2014). 5.1 Por que trabalhar a Segurança do Paciente na APS? Fica muito fácil responder essa questão se considerarmos a abrangência da oferta de serviços deste nível de atenção. As demandas de cuidado na APS podem ser agrupadas em: demanda por condições agudas, demanda por condições crônicas agudizadas, demanda por condições gerais e inespecíficas, demandas por condições crônicas não agudizadas, demanda por enfermidades, demanda por pessoas hiperutilizadoras, demandas administrativas, demanda por atenção preventiva, demanda por atenção domiciliar, demanda por autocuidado apoiado e demanda por cuidados paliativos. A estrutura de demandas na APS é ampla e diversificada (Marchon; Mendes, 2014). A atenção primária acessível e segura é essencial para alcançar a cobertura universal de saúde. Prestar cuidados primários seguros é uma prioridade, visto que cuidados básicos inseguros podem causar danos e lesões evitáveis, levando a internações desnecessárias e até a casos de incapacidade e morte. 5.2 O que deve ser priorizado para uma APS mais segura? Ao longo dos anos, vários aspectos foram levantados e como resultado observou-se que para uma APS mais segura é importante que os gestores reconheçam que a atenção primária também é insegura, que se tenha disposição para trabalhar como uma rede em torno de uma agenda comum, que se aceite partilhar instrumentos, ferramentas, dados e conhecimentos sobre o tema, que se apoiem iniciativas de melhorias da qualidade nestes ambientes, que se identifiquem as áreas prioritárias e as principais lacunas de conhecimento, que se reconheça a necessidade de adquirir novos conhecimentos, associado ao desenvolvimento de propostas práticas para fechar essas grandes lacunas (Marchon; Mendes, 2014). Pontos relevantes sobre a segurança do paciente na atenção primária à saúde: • como no ambiente hospitalar, a atenção primária também está tendo que lidar com doenças cada vez mais complexas; 11 • os profissionais da atenção primária muitas vezes estão acostumados com o processo de trabalho e continuam desenvolvendo suas atividades sem ter consciência dos riscos aos quais os pacientes estão expostos no sistema de saúde; • os profissionais de saúde têm dificuldade de compreender os riscos e as estratégias de gestão dos riscos; • o conceito de segurança do paciente, muitas vezes, não está claro e disseminado entre os profissionais da atenção primária; • a falta de comunicação efetiva e os atrasos na obtenção de resultados de exames complementares são comuns nestes ambientes e são caracterizados como riscos importantes à segurança do paciente; • os erros de diagnóstico são comuns e ainda não recebem a devida atenção; • é possível utilizar abordagens de melhoria da qualidade para aumentar a adesão a diretrizes, a fim de melhorar os resultados do cuidado; • o crescimento exponencial do conhecimento científico é um desafio importante na atenção primária; • novas tecnologias podem auxiliar na tomada de decisões clínicas e na prescrição, solicitação e verificação de resultados de exames; • as estratégias para melhorar a segurança na atenção primária devem enfatizar o envolvimento do paciente, a coordenação, a cooperação, a previsibilidade, o monitoramento e o cuidado com o paciente para além da sua internação ou consulta na atenção primária. Ao contrário do que muitos pensam, um ponto indispensável na APS é a criação do Núcleos de Segurança do Paciente. Nesses estabelecimentos, os NSP devem atuar na promoção de ações preventivas e corretivas, bem como na elaboração do Plano de Segurança do Paciente do serviço de saúde (Marchon; Mendes, 2014). O Plano de Segurança deve contemplar as estratégias e ações definidas pelo serviço de saúde para a promoção, proteção e mitigação de incidentes associados à assistência à saúde. Os NSP devem adotar como princípio e diretrizes: • melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde; • disseminação da cultura de segurança; 12 • gestão dos processos de gerenciamento de risco; e • garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde. As atribuições dos NSP na APS são: • promover mecanismos para auditoria interna para avaliar a conformidade nos processos e procedimentos realizados, na utilização de equipamentos, medicamentos e insumos, propondo ações preventivas e corretivas; • elaborar, implantar, divulgar e manter atualizado o Plano Local de Segurança do Paciente na APS; • acompanhar as ações vinculadas ao Plano Local de Segurança do Paciente na APS; • estabelecer métodos de prevenção de incidentes na APS; • desenvolver, implantar e acompanhar programas de capacitação em qualidade do cuidado e Segurança do Paciente; • analisar e avaliar indicadores de eventos adversos; • compartilhar e divulgar aos profissionais de saúde os resultados da análise e avaliação dos indicadores; • notificar os eventos adversos ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; e • manter sob sua guarda e disponibilizar à autoridade sanitária, quando requisitado, as notificações de eventos adversos. O Plano de Segurança do Paciente na APS deve estabelecer estratégias e ações para: • identificar, analisar, avaliar, monitorar e comunicar os riscos; • integrar os diferentes processos de gestão de risco; • promover o uso seguro de tecnologias; • prevenir eventos adversos; • promover a comunicação efetiva entre profissionais de saúde e entre os serviços; • estimular a participação do paciente e dos familiares na assistência prestada; • promover o ambiente seguro; • promover a transição segura do cuidado; 13 • implantar os protocolos de segurança do paciente: identificação do paciente, higienização das mãos, prevenção de quedas, prevenção de lesão por pressão, uso seguro de medicamentos; • implantar sistema de captação, análise e notificação de eventos adversos; • implantar ações de capacitação de profissionais de saúde; e • garantir o registro adequado e seguro da assistência prestada. 5.3 Segurança do Paciente no Ambulatório A segurança do pacienteé extremamente importante em qualquer ambiente de saúde, e nos ambulatórios não é diferente. Ainda que grande parte dos cuidados de saúde seja prestada em ambientes ambulatoriais, pouco se preocupa e entende os riscos de segurança que existem nestes estabelecimentos (Roter et al., 2017). Garantir a segurança do paciente fora do ambiente hospitalar apresenta desafios para os gestores e profissionais de saúde. A literatura descreve três conceitos que abrangem os fatores que influenciam a segurança no atendimento ambulatorial: • o papel dos comportamentos do paciente e do cuidador; • o papel das interações profissional de saúde-paciente; e • o papel da comunidade e do sistema de saúde. Os erros mais comuns do ambiente ambulatorial sempre estão vinculados a cada um desses três conceitos. O atendimento ambulatorial tem suas especificidades. Os principais eventos adversos estão relacionados a essas especificidades e estão descritas a seguir. O fato de as interações dos profissionais de saúde e pacientes serem limitadas, ocorrendo com semanas ou meses de intervalo, coloca os pacientes como principal responsável no gerenciamento de sua própria saúde. Isso eleva a importância de incluir o paciente como parceiro e garantir que eles entendam suas doenças e tratamentos e, por outro lado, pode ser uma fonte de eventos adversos, já que a incapacidade ou falha de um paciente em realizar tais atividades pode comprometer a segurança a curto prazo e os resultados clínicos a longo prazo (Sharma et al., 2021). 14 Além desta, outras situações aumentam o risco de eventos adversos. Entre elas, a interações entre pacientes, profissionais de saúde e rede de atenção onde, muitas vezes, a comunicação é falha e as transições de cuidado malconduzidas. Os eventos adversos dos serviços ambulatoriais também divergem dos hospitalares. Observa-se o predomínio de erros relacionados à medicação e erros de diagnóstico. No que se refere aos erros de diagnóstico, a fragmentação do atendimento ambulatorial em diferentes ambientes aumenta o desafio de fazer um diagnóstico oportuno e preciso. Por outro lado, embora o uso de registros eletrônicos de saúde no ambiente ambulatorial esteja crescendo, muitos consultórios ainda carecem de sistemas confiáveis para acompanhar os resultados dos testes – um problema que tem sido implicado em diagnósticos perdidos e atrasados (Sharma et al., 2021). Existem algumas maneiras pelas quais os profissionais de saúde e outros envolvidos podem melhorar a segurança do paciente em ambulatórios. Uma das principais formas de se garantir a segurança do paciente em ambulatórios é a adoção de boas práticas de segurança. Estas incluem: a realização de práticas de lavagem de mãos, o uso de equipamentos desinfetados, ainda que sejam usados em vários pacientes, o uso de materiais descartáveis, como luvas e aventais, a realização de treinamento para os profissionais de saúde sobre procedimentos de segurança e a adoção de protocolos de identificação de pacientes, entre outros (Bell et al., 2022). Outra maneira de aumentar a segurança dos pacientes em ambulatórios é fornecer informações detalhadas sobre os procedimentos médicos. Os profissionais de saúde devem explicar ao paciente os riscos e benefícios associados a cada procedimento, além de responder a todas as perguntas e preocupações do paciente. Isso ajuda a garantir que o paciente esteja ciente e confortável com a decisão que tomou em relação ao seu tratamento (Bell et al., 2022). Além disso, o uso de tecnologia, como sistemas de informação de saúde, também pode aumentar a segurança do paciente. Tais sistemas podem ajudar os profissionais de saúde a monitorar e documentar os tratamentos, além de fornecer informações precisas e atualizadas sobre os pacientes. Isso pode ajudar a garantir que as decisões de tratamento sejam feitas com base em informações corretas e ajuda a minimizar o risco de erros médicos (Sharma et al., 2021). A comunicação entre profissionais de saúde é outra maneira de aumentar a segurança do paciente em ambulatórios. Os profissionais de saúde devem 15 trabalhar juntos para garantir que todas as informações necessárias sobre o paciente sejam compartilhadas e os planos de tratamento sejam seguidos. Isso pode ajudar a evitar erros médicos e a garantir que o tratamento seja o mais seguro possível (Singh, 2020). 16 REFERÊNCIAS ANVISA. Programa Nacional De Segurança Do Paciente. Brasília: Ministério Da Saúde, P. 40, 2014. Disponível Em: <https://Bvsms.Saude.Gov.Br/Bvs/Publicacoes/Documento_Referencia_Program a_Nacional_Seguranca.Pdf>. Acesso em: 2 fev. 2023. 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