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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA (DCET), CAMPUS II COLEGIADO DE BIOLOGIA JAMILE DOS SANTOS ANASTÁCIO VÍVIAN CERQUEIRA DE OLIVEIRA RELATÓRIO SOBRE A AULA DE CAMPO EM SALVADOR ALAGOINHAS 2024 2 JAMILE DOS SANTOS ANASTÁCIO VÍVIAN CERQUEIRA DE OLIVEIRA RELATÓRIO SOBRE A AULA DE CAMPO EM SALVADOR Relatório sobre a aula de campo na cidade de Salvador- BA apresentada como forma de avaliação para o componente História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena contido na grade curricular do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia Campus II (Alagoinhas). Professor orientador: Josevandro Chagas Soares ALAGOINHAS 2024 3 RELATÓRIO SOBRE A AULA DE CAMPO EM SALVADOR Jamile dos Santos Anastácio Vívian Cerqueira de Oliveira Universidade do Estado da Bahia RESUMO: Relatório aula de campo na cidade de Salvador-BA com visita ao Museu Afro- Brasileiro da UFBA (MAFRO), Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco que teve como objetivo ampliar os conhecimentos adquiridos em sala de aula conhecendo a arte de alguns povos africanos e indígenas, visitando e observando a arquitetura e os elementos contidos na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Foram utilizados a câmera e o bloco de notas do celular para registrar as informações obtidas durante as visitas e conseguir identificar a diferença nos traços das artes de diferentes povos e etnias. Com isso, pôde-se compreender mais sobre a cultura dos indígenas, africanos e afro- brasileiros o que contribui na formação dos futuros professores, hoje discentes, que conhecerão a real história da construção do seu país. PALAVRAS-CHAVE: Aula de Campo. História. Salvador. Arte Africana. Arte Indígena. 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................5 2. OBJETIVO ..................................................................................................................5 3. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................5 4. METODOLOGIA .......................................................................................................6 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..............................................................................6 5.1 Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) .......................................................................6 5.2 Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) .........................................................9 5.3 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ...............................................14 5.4 Igreja da Ordem Terceira de São Francisco ....................................................20 6. CONCLUSÃO ...........................................................................................................29 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................30 8. ANEXOS E/OU APÊNDICES .................................................................................31 5 5. INTRODUÇÃO No dia 17 de junho de 2024, uma visita técnica orientada pelo professor Josevandro Chagas Soares foi feita com o objetivo de explorar e conhecer 4 (quatro) lugares de importância histórica e cultural em Salvador-BA: o Museu Afro-Brasileiro, o Museu de Arqueologia e Etnologia, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. O Museu Afro-Brasileiro destaca-se por possuir um acervo de mais de 1100 (mil e cem) peças de cultura material africana e afro-brasileira o que contribui diretamente para a divulgação e preservação destas matrizes culturais.1 O Museu de Arqueologia e Etnologia guarda valioso patrimônio em busca de preservar e reconstituir a memória e identidade do povo brasileiro através de suas exposições de acervos arqueológicos e etnográficos que representam o período pré-colonial, colonial e contemporaneidade de povos indígenas.2 A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos se diferencia por ter em suas missas e cultos católicos costumes da cultura afro como a dança e o uso de atabaques. A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco é uma das igrejas de Salvador-BA que é conhecida por sua história e arquitetura. Ela foi erguida no período colonial e guarda um acervo de vestimentas utilizadas pelos padres e papas, além de objetos do cotidiano como telefones antigos, baús, arcas e vitrolas.3 6. OBJETIVO Analisar e compreender além da sala de aula os aspectos culturais, religiosos, históricos e artísticos dos povos indígenas e africanos/afro-brasileiros. 7. REVISÃO DE LITERATURA 1Museu Afro-Brasileiro. MAFRO, [s.d.]. Disponível em: https://mafro.ceao.ufba.br/pt-br/apresentação. Acesso em: 28 jun. 2024. 2 Museu de Arqueologia e Etnologia - MAE. Mapeamento Cultural UFBA, [s.d.]. Disponível em: https://mapeamentocultural.ufba.br/sistemas-museus-memoriais/museu-de-arqueologia-e-etnologia- mae#:~:text=O%20museu%20guarda%20valioso%20patrim%C3%B4nio,a%20forma%C3%A7%C3%A3o%20d a%20diversidade%20de. Acesso em: 30 jun. 2024. 3 SALVADOR – IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO. VIAJENTO, 2020. Disponível em: https://viajento.com/2020/01/31/salvador-ordem-terceira/. Acesso em: 30 jun. 2024. 6 Criado em 1974 e inaugurado em 1982 o MAFRO, Museu Afro-Brasileiro, é um espaço de coleta, preservação e divulgação de acervos referentes às culturas africanas e afro-brasileiras que tem como objetivo estreitar relações com a África e compreender a importância deste continente na formação da cultura brasileira, incentivando, por outro lado, contatos com a comunidade local. O Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE está localizado no sítio arqueológico constituído pelos vestígios arquitetônicos do antigo Real Colégio dos Jesuítas, fundado em 1983, salvaguarda coleções de importância basilar para a história da Arqueologia baiana e brasileira. A preservação deste acervo, estimado atualmente em mais de quinhentos mil objetos. O museu possui quatro coleções etnológicas: Pedro Agostinho, Aristóteles Barcelos e Maria Ignês Mello, Pankararé e Tuxá. Todos os artefatos em seu acervo materializam formas de viver, conviver e estabelecer trocas com o mundo dos humanos e não humanos, especialmente com os “Encantados”, seres míticos e místicos que estabelecem relações de proteção, aprendizagem e ligação com a ancestralidade. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos está localizada no sopé da histórica Ladeira do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Inaugurada no século XVIII, no ano de 1709, a igreja foi construída pelos homens negros escravizados e negros livres por não poderem entrar nem participar das missas nas outras igrejas. Situada no Largo do Pelourinho, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco é um ótimo exemplo da arquitetura barroca no Brasil. A igreja abriga importantes obras de arte sacra como a escultura do Senhor morto que chora lágrimas de rubis, além de uma sala que estão expostas imagens destes em tamanho natural. 8. METODOLOGIA Materiais utilizados -Câmera do celular -Bloco de notas do celular Método utilizados A coleta de dados deste relatório foi dividida em quatro visitas: MAFRO-UFBA4, MAE- UFBA5, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Igreja da Ordem Terceira de São 4 MUSEU AFRO-BRASILEIRO DA UFBA 5 MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UFBA 7 Francisco.Em todas, foram fotografados e observados os artefatos presentes nos ambientes e anotadas as informações que nos foram dadas. 9. RESULTADOS E DISCUSSÕES A visita técnica aos quatro locais em Salvador-BA proporcionou uma compreensão aprofundada da riqueza histórica e cultural presente na cidade, com foco especial nas contribuições africanas e indígenas à formação da identidade brasileira. Cada local visitad o apresentou elementos únicos e significativos, que serão discutidos a seguir. 5.1. Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) A visita ao Museu Afro-Brasileiro foi particularmente reveladora, destacando a importância da cultura africana na construção da identidade brasileira. O museu abriga mais de 1.100 peças que exemplificam a riqueza das culturas africanas e afro-brasileiras, desde esculturas e máscaras até instrumentos musicais e objetos de uso cotidiano. As exposições ilustram a profunda influência africana na cultura brasileira, incluindo a religião, a música e as tradições. No entanto, a visita foi marcada por um imprevisto: o professor responsável pela organização da visita confundiu os horários de acesso aos diferentes museus, acreditando que ao marcar a visita ao Museu de Arqueologia e Etnologia, teríamos acesso também ao MAFRO. Ao chegarmos ao local, fomos informados de que não havia ninguém disponível no Museu Etnológico para nos receber, pois a equipe estava em horário de almoço. Apesar do contratempo, tivemos a sorte de encontrar duas pesquisadoras, Wal Souza e Juliana Bevilacqua, no MAFRO que nos proporcionaram uma visita enriquecedora. O Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) destacou-se pela vasta coleção de artefatos que ilustram a cultura e a história dos povos africanos e afro-brasileiros. A representação Yorubá (Figura 1), permite a capacidade de reconhecer peças Yorubá, como a Máscara Geledé, que pode ser identificada pelos traços, cores e olhos, os recades (Figura 2), representam a pessoa do rei, conferindo autoridade aos seus portadores, e as bonecas Akuaba (Figura 3), pequenas esculturas da etnia Ashanti, que também são conhecidas como boneca da fertilidade, destinam- se a jovens mulheres que desejam engravidar, ou as mulheres gravidas, que esperam procriar filhos bonitos, saudáveis e inteligentes. As peças exibidas evidenciam a profundidade e a diversidade das tradições africanas. A sala dos painéis de Carybé (Figura 4) também chamou a atenção, contendo 27 painéis que representam os orixás do Candomblé da Bahia, com seus 8 atributos e animais litúrgicos, oferecendo uma representação visual poderosa das influências religiosas africanas no Brasil e como essa cultura foi sendo esquecida ao passar do tempo. Figura 1 – Representação Yorubá Fonte: imagem das autoras. Figura 2 – Recades Fonte: imagem das autoras. Figura 3 – Bonecas Akuaba 9 Fonte: imagem das autoras. Figura 4 – Sala dos painéis de Carybé Fonte: imagem das autoras. 5.2. Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Após a visita ao MAFRO, retornamos ao Museu de Arqueologia e Etnologia. No entanto, enfrentamos mais uma vez dificuldades de coordenação, pois a equipe ainda não estava disponível para nos receber. Enquanto aguardávamos, aproveitamos para almoçar. Quando finalmente conseguimos entrar em contato com a equipe do Museu Etnológico, fomos informados de que a visita guiada não poderia mais ser realizada devido à falta de disponibilidade da equipe. Consequentemente, a nossa experiência no Museu Etnológico foi limitada a uma observação superficial das exposições disponíveis. O museu possui um acervo impressionante que abrange desde artefatos pré-coloniais até peças representativas da contemporaneidade dos povos indígenas. 10 As coleções etnológicas observadas demonstraram a riqueza das culturas indígenas brasileiras. As exposições das coleções Yawalapiti, Kayapó, Karajá e Wauja, ilustram as habilidades artísticas e a vida cotidiana dessas comunidades, incluindo itens como cestos (Figura 5) feitos de fio de buriti e taliscas, utilizados para armazenamento, transporte e servir alimentos, pentes singelos (Figuras 6 e 7) produzidos com duas hastes de madeira, lascas de piaçava e fios de palha para decoração e fixação da piaçava, usados tanto para pentear quanto para enfeitar o cabelo, tsak tsak (Figura 8), panela feita com argila, utilizada para armazenamento, máscaras xinguanas (Figura 9), usufruída como indumentária de ritual, feita com cabaça, buriti, kuapi e yuri, flauta (Figura 10), instrumento musical feito com yamato, watanato, kuapi, saixu, iyapi e ualu, panelas e tampa (Figuras 10 e 12) feitas com argila e panela zoomorfa (Figura 11), no formato de animal réptil feita de cerâmica, que serve para servir alimentos. Essas peças não apenas preservam a memória cultural, mas também fornecem entendimento sobre as interações sociais e espirituais dos povos indígenas. Figura 5 – Coleção Yawalapiti: Cestos Fonte: imagem das autoras. Figura 6 – Coleção Kayapó: Pente singelo 11 Fonte: imagem das autoras. Figura 7 – Coleção Karajá: Pentes singelos Fonte: imagem das autoras. Figura 8 – Coleção Wauja: Tsak Tsak 12 Fonte: imagem das autoras. Figura 9 – Coleção Wauja: Máscara Xinguana Fonte: imagem das autoras. Figura 10 – Coleção Wauja: Flauta 13 Fonte: imagem das autoras. Figura 11 – Coleção Wauja: Panela Fonte: imagem das autoras. Figura 12 – Coleção Wauja: Panela Zoomorfa 14 Fonte: imagem das autoras. Figura 13 – Coleção Wauja: Panela e tampa Fonte: imagem das autoras. 5.3. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Os detalhes da arquitetura da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos não estão presentes somente para a estética, mas também para representar uma história repleta de elementos significativos da sincretização religiosa, com integração de recursos afro-brasileiros nos rituais católicos. No interior da igreja, é impossível não notar a linda pintura no teto (Figura 14) ricamente decorada com cenas religiosas, frequentemente destacando santos negros, refletindo a devoção e a resiliência da comunidade negra da época, o altar-mor (Figura 15), que é uma das peças centrais da igreja, destacando-se pela sua ornamentação rica em detalhes dourados, também é 15 possível observar os azulejos sobre a devoção do Rosário. O altar é dedicado à Nossa Senhora do Rosário, padroeira da igreja, e é adornado com imagens de santos, incluindo santos negros de grande importância para a comunidade. A decoração do altar-mor não só embeleza a igreja, encantando quem o vê, mas também serve como uma homenagem à fé e à resistência dos membros da irmandade que a construíram. Os altares laterais também chamam a atenção, sendo esplendidamente decorados e dedicados a vários santos. Cada altar lateral é uma obra de arte, com esculturas e pinturas que representam diferentes figuras religiosas veneradas pela comunidade. Esses altares laterais continuam a tradição do sincretismo religioso, com santos católicos frequentemente associados a orixás das religiões africanas. Nesses altares estão representados Nossa Senhora da Piedade (Figura 16), Virgem Maria (Figura 24), santos negros como Santo Antônio e Santa Bárbara (Figura 17) e Santa Efigênia (Figura 18). Na sacristia, tem imagens de São Benedito (Figura 19), um altar dedicado à Nossa Senhora do Rosário (Figura 20) e um lavabo (Figura 21) repleto de detalhes esculpidos. Nos fundos da igreja possui um antigo cemitério de escravos, pois durante o período colonial, era comum que negros e escravizados fossem enterrados em locais separados dos brancos, muitas vezes em condições precárias. A existência do cemitério no fundo da igreja reflete a segregação racial da época, mas também simbolizaum espaço sagrado e de resistência. O cemitério é simples, mas carrega uma profundidade simbólica. Nele contém um memorial dedicado à escrava Anastácia (Figura 22), uma figura de grande importância na cultura e na devoção afro-brasileira, ela lutou contra o sistema escravagista, suportou a dor, os maus tratos e os estupros que foi submetida por anos. Ela é frequentemente representada com uma máscara de ferro, um símbolo da opressão que ela enfrentou. Também ficou conhecida pelos milagres que realizou. Anastácia, literalmente, tirava os males dos adoentados “com a mão”. Ironicamente, a negra também salvou a vida do filho do fazendeiro que a violentou. Entretanto, é considerada um símbolo de resiliência e fé inabalável. No memorial, os visitantes podem encontrar uma prece dedicada à escrava Anastácia, que é uma invocação de força e proteção, refletindo o impacto duradouro de sua história de coragem. Neste cemitério também está presente ossuários, como mostrado da Figura 23. Figura 14 – Teto 16 Fonte: imagem das autoras. Figura 15 – Altar-mor Fonte: imagem das autoras. Figura 16 – Altar lateral: Nossa Senhora da Piedade 17 Fonte: imagem das autoras. Figura 17 – Altar lateral: Santo Antônio e Santa Bárbara Fonte: imagem das autoras. Figura 18 – Altar lateral: Santa Efigênia 18 Fonte: imagem das autoras. Figura 19 – Sacristia: Imagem de São Benedito Fonte: imagem das autoras. Figura 20 – Sacristia: Altar de Nossa Senhora do Rosário 19 Fonte: imagem das autoras. Figura 21 – Sacristia: Lavabo Fonte: imagem das autoras. Figura 22 – Cemitério dos escravos (XVIII): Anastácia 20 Fonte: imagem das autoras. Figura 23 – Cemitério dos escravos (XVIII): Ossuário Fonte: imagem das autoras. Figura 24 – Altar da Virgem Maria 21 Fonte: imagem das autoras. 5.4. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco é um exemplar impressionante da arquitetura barroca brasileira, impressionando quem observa sua estrutura altamente detalhada. A Igreja foi fundada pela Ordem Terceira de São Francisco, que começou suas atividades na Bahia em 1635. Em 1644, a Ordem construiu sua primeira igreja, que foi posteriormente substituída pela atual edificação. As obras progrediram rapidamente, com a estrutura concluída em 22 de junho de 1703. No entanto, a fachada, inteiramente esculpida em arenito e ricamente ornamentada com relevos, no estilo ‘plateresco’, só foi finalizada em 1705. O nível térreo (Figura 25) é apresentado por três portas em arco redondo, com almofadões em relevo, sendo a central mais larga e alta. A fachada do primeiro andar é separada por uma larga cornija (Figura 26), decorada com relevos, e ao centro, numa abertura está localizada uma estátua de São Francisco. A decoração do interior (Figura 27), com predominância do estilo neoclássico, foi quase totalmente modificada no século XIX, a cargo do entalhador José de Cerqueira Torres e a douração foi contratada em 1830 com Franco Velasco. Os altares laterais possuem imagens de santos que pertenceram à ordem franciscana, e à ordem terceira, como o de São Francisco de Assis (Figura 30). Ricamente decorado, o teto (Figura 28) é uma obra-prima da arte barroca. A beleza e a complexidade das pinturas no teto são destacadas pelo uso de cores vibrantes e detalhamento minucioso, representando uma série de pinturas que retratam cenas religiosas e temas sacros. O altar-mor (Figura 29) destaca-se pela sua opulência e detalhamento minucioso, refletindo a riqueza e o poder da igreja durante o período colonial. Possui uma forma de baldaquino, com um trono escalonado no interior, onde encontra-se uma imagem de Jesus 22 crucificado. Não é apenas um elemento decorativo, mas também é central para a liturgia católica. A sacristia “é um lugar geralmente usado para conservar todos os vasos sagrados, como cálices, objetos litúrgicos, castiçais ou incensários. Serve também para guardar tudo o que é essencial na liturgia” (Roubertie, 2023). Na decoração local está presente altares laterais, como o de São Francisco de Assis (Figura 31) e pinturas no teto (Figuras 32 a 34) detalhadamente elaboradas, de cunho sacro e simbolístico. No átrio (Figura 35), ao centro mostra-se um relógio solar de 1736, nas paredes há belos azulejos portugueses e quadros religiosos com uma cruz acima de cada um. No local também está presente uma imagem de São Roque (Figura 36). Sob a direção de Joaquim Francisco de Mattos, em 1844, foi construída uma capela chamada “Casa dos Santos” (Figura 37), onde passaram a ser guardadas diversas imagens utilizadas em procissões. No ambiente preserva-se um importante conjunto de imagens de Santos de roca e de vestir, instalados em uma série de capelas neoclássicas que circundam o aposento. Dentre as imagens estão presentes a Nossa Senhora das Dores, corpo de Jesus Cristo, O Senhor dos Passos e A Conceição Maria Santíssima, S. Elzeario, Sta. Coleta, S. Vivaldo e Sta. Izabel R. Hungria (Figuras 38 a 41). Figura 25 – Fachada: nível térreo Fonte: imagem das autoras. Figura 26 – Fachada: larga cornija 23 Fonte: imagem das autoras. Figura 27: Interior Fonte: imagem das autoras. Figura 28 – Teto 24 Fonte: imagem das autoras. Figura 29 – Altar-mor Fonte: imagem das autoras. Figura 30 – Altar lateral: São Francisco de Assis Fonte: imagem das autoras. Figura 31 – Sacristia: Altar lateral de São Francisco de Assis 25 Fonte: imagem das autoras. Figura 32 – Sacristia: Pintura no teto Fonte: imagem das autoras. Figura 33 – Sacristia: Pintura no teto 26 Fonte: imagem das autoras. Figura 34 – Sacristia: Pintura no teto Fonte: imagem das autoras. Figura 35 - Átrio 27 Fonte: imagem das autoras. Figura 36 – Átrio: Imagem de São Roque Fonte: imagem das autoras. Figura 37 – Casa dos Santos Fonte: imagem das autoras. Figura 38 – Casa dos Santos: Imagem de Nossa Senhora das Dores 28 Fonte: imagem das autoras. Figura 39 – Casa dos Santos: Imagem do corpo de Jesus Cristo Fonte: imagem das autoras. Figura 40 – Casa dos Santos: Imagens de O Senhor dos Passos e A Conceição Maria Santíssima 29 Fonte: imagem das autoras. Figura 41 – Casa dos Santos: Imagens de S. Elzeario, Sta. Coleta, S. Vivaldo e Sta. Izabel R. Hungria Fonte: imagem das autoras. A visita técnica aos quatro locais em Salvador-BA proporcionou uma compreensão aprofundada da riqueza histórica e cultural presente na cidade, com foco especial nas contribuições africanas e indígenas à formação da identidade brasileira. Cada local visitad o apresentou elementos únicos e significativos, que serão discutidos a seguir. O Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) destacou-se pela vasta coleção de artefatos que ilustram a cultura e a história dos povos africanos e afro-brasileiros. A exposição do museu inclui esculturas, máscaras, instrumentos musicais e objetos de uso cotidiano, evidenciando a diversidade e profundidade das tradições africanas. O destaque para os painéis de Carybé, que representam os orixás do Candomblé, reforça a influência religiosa africana no Brasil. 30 O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), apesar dos contratempos enfrentados durante a visita, apresentou um acervo impressionante que abrange desde artefatos pré- coloniais até peças representativas da contemporaneidade dos povos indígenas. As coleções etnológicas observadas, como as dos Yawalapiti, Kayapó, Karajá e Wauja, demonstram a riqueza das culturas indígenas brasileiras e oferecem um entendimentosobre as interações sociais e espirituais desses povos. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos revelou uma história repleta de elementos significativos da sincretização religiosa, com integração de recursos afro-brasileiros nos rituais católicos. O teto ricamente decorado, o altar-mor detalhado e os altares laterais dedicados a santos negros são destaques que refletem a devoção e a resiliência da comunidade negra da época. O memorial dedicado à escrava Anastácia no cemitério da igreja simboliza a resistência e a fé inabalável da comunidade afro-brasileira. Por fim, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco impressiona pela arquitetura barroca e decoração interior rica em detalhes. A fachada esculpida em arenito, o altar-mor opulento e o teto com pinturas detalhadas são exemplos da arte sacra do período colonial. A sacristia e a “Casa dos Santos” preservam um conjunto significativo de imagens religiosas utilizadas em procissões, refletindo a tradição e o valor histórico da igreja. Essas visitas permitiram uma valorização mais profunda das contribuições culturais e históricas dos povos africanos e indígenas na formação da identidade brasileira, evidenciando a importância de preservar e divulgar esse patrimônio. 6. CONCLUSÃO A visita técnica aos quatro locais em Salvador-BA proporcionou uma compreensão aprofundada da riqueza histórica e cultural presente na cidade, com foco especial nas contribuições africanas e indígenas à formação da identidade brasileira. Através do contato direto com os acervos e monumentos, foi possível vivenciar a diversidade cultural e a complexidade histórica que moldaram a sociedade brasileira. O Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) ofereceu uma imersão na herança africana, destacando a importância das tradições, crenças e práticas culturais que os africanos trouxeram para o Brasil e que ainda influenciam a cultura nacional. Os artefatos e as obras de arte, como os painéis de Carybé, evidenciaram a profundidade e a diversidade das influências africanas. O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) proporcionou um olhar detalhado sobre as culturas indígenas brasileiras, destacando a importância de preservar e estudar os modos de 31 vida, as práticas espirituais e as relações sociais desses povos. Mesmo com os desafios enfrentados durante a visita, o acervo impressionante do MAE demonstrou a riqueza e a complexidade das culturas indígenas pré e pós-coloniais. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ilustrou a sincretização religiosa e a resistência cultural dos afro-brasileiros. A arquitetura e a decoração da igreja, juntamente com o memorial à escrava Anastácia, ressaltaram a devoção e a força da comunidade negra em Salvador. A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, com sua exuberante arquitetura barroca, ofereceu um exemplo significativo da arte sacra colonial, destacando a influência europeia na formação do patrimônio religioso brasileiro. A conservação das imagens religiosas e a riqueza dos detalhes decorativos evidenciam o valor histórico e cultural deste monumento. Em suma, as visitas permitiram uma valorização mais profunda das contribuições culturais e históricas dos povos africanos e indígenas na formação da identidade brasileira, sublinhando a importância de preservar e divulgar esse patrimônio. A integração desses elementos na educação e na cultura contemporânea é essencial para a construção de uma sociedade que reconheça e celebre sua diversidade. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apresentação. MAFRO, [s.d.]. Disponível em: https://mafro.ceao.ufba.br/pt-br/apresentação. Acesso em: 28 jun. 2024. BRITO, Adson. A história da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. VEM PRA BAHIA, 2024. Disponível em: https://vemprabahia.com.br/a-historia-da-igreja-de-nossa- senhora-do-rosario-dos-pretos/. Acesso em: 28 jun. 2024. História e Arquitetura da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. Bahia WS, [s.d.]. Disponível em: https://www.bahia.ws/igreja-da-ordem-terceira-de-sao-francisco/. Acesso em: 30 jun. 2024. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador, Bahia – seus detalhes, imagens, sacras, azulejos portugueses, decoração e museu. Cronicas Macaenses, 2020. Disponível em: https://cronicasmacaenses.com/2020/11/17/igreja-da-ordem-terceira-de-sao-francisco-em- salvador-bahia-seus-detalhes-imagens-sacras-azulejos-portugueses-decoracao-e-museu/ Museu de Arqueologia e Etnologia - MAE. Mapeamento Cultural UFBA, [s.d.]. Disponível em: https://mapeamentocultural.ufba.br/sistemas-museus-memoriais/museu-de-arqueologia -e- 32 etnologia- mae#:~:text=O%20museu%20guarda%20valioso%20patrim%C3%B4nio,a%20forma%C3% A7%C3%A3o%20da%20diversidade%20de. Acesso em: 30 jun. 2024. MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA. MAE/UFBA, [s.d.]. Disponível em: https://www.mae.ufba.br. Acesso em: 28 jun. 2024. PAINÉIS DE CARIBÉ. MAFRO, [s.d.]. Disponível em: https://mafro.ceao.ufba.br/pt- br/colecao-afro-brasileira/paineis-de-caribe. Acesso em: 02 jul. 2024. SALVADOR – IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO. VIAJENTO, 2020. Disponível em: https://viajento.com/2020/01/31/salvador-ordem-terceira/. Acesso em: 30 jun. 2024 8. ANEXOS E/OU APÊNDICES Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Figura 42 – Coleção Karajá, coleção Kaiapó e coleção Yawalapiti Fonte: imagem das autoras. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Figura 43 – Jazigo da família de Manoel do Nascimento de Jesus (1892) 33 Fonte: imagem das autoras. Figura 44 – Jazigo de D. Constança de Onizia Cruz e sua família Fonte: imagem das autoras. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco Figura 45 – Interior 34 Fonte: imagem das autoras. Figura 46 – Corredor Fonte: imagem das autoras.