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Capitulo 4 Sexualidade, intimidade e afeição ra canitulos anteriores abordamos a noção de impulso amoroso primitivo - amor instintivo, indissociável da agressividade e da destrutividade. Trata-se de um amor em que não se distingue o apetite é da excitação, e cujo paradigma é a voracidade. O amor primitivo rimpiedoso e cruel pelo qual o bebê ataca brutalmente a é um amor impiedoso e mãe, amando-a e d devorando-a. Na inter-relação com a mãe, vai se desenvolver a sexualidade infantil, partindo da tensão instintual. A instintualidade, conjuntamente com todas as funções corpóreas, será elaborada imaginativamente pelo bebê, desenvolvendo-se as mais variadas fantasias sexuais infantis. Winnicott considera que a fantasia sexual total apresenta riqueza e variedade quase infinitas, combinando aspectos que dizem respeito a excitação e satisfação sexuais, com outros relacionados a destrutividadee agressividade inerentes ao impulso erótico. Entretanto, Winnicott teoriza também sobre as necessidades emocionais do bebê e seus estados tranquilos, que se alternam Com os estados excitados. Além do mais, nos primórdios da vida psíquica os instintos não são necessariamente sentidos como internos ou próprios, podendo ser vivenciados como estímulos ambientais, já que o bebê não possui uma mínima integração egoica nem um sentimento de si-mesmo. Nas suas palavras: Deve-se ressaltar que ao me referir a satisfazer as necessidades do lactente não estou me referindo à satisfação de instintos. 99 Na área que estou examinando os instintos não est¯o ainda claramente definidos como internos ao lactente. Os instintos podem ser tão externos como o tro¡r de um trOvão ou uma pancada (Winnicott, 1965m, p. 129). As necessidades do bebê não podem ser reduzidas às urgências instintivas sexuais, jå que se trata de imperiosas necessidades de cuidados incondicionais e contato afetivo com outro humano que, quando no s«o satisfeitas, provocam severos danos ao Se essas necessidades não forem atendidas, ou seja, se a máe fracassasse na sua funcão de bolk. desenvolvimento emocional. Se produzir-se-iam. as agonias impensáveis de não ser e não se relacionar com o mundo. Nesse sentido, na carta dirigida à psicanalista Lili E. Peller, enm 1966, Winnicott diz: Em várias ocasiões, chamei a atenção para o fato de que os oradores estavarm se referindo à primeira infância como se o início fosse uma questão de satisfação do instinto. [.] Em meus textos mais recentes, noto que venho tentando enumerar as angústias de tipo psicótico que agrupo ao redor da palavra necessidade. Estas nada têm a ver com instintos. Têm a ver com coisas tais comno desintegração, despersonalizaç�o, o oposto do progresso no desenvolvimento emocional, isto �, 0 aniquilamento, o desmoronar para sempre, a falta de contato com objetos "não eu", etc. (Winnicott, 1987b, carta de 15/04/1960, p. 188-189). Surgem várias interrogações: Qual é o papel l do impulso amoroso primitivo na primeira inf�ncia, e por que Winnicott insiste em dizer que, no início, não se trata apenas da satisfação instintiva? Qual éa relação, além da alternância, entre os estados excitados e os e estados tranquilos do bebÇ? Em outros termos, qual é a relação entre a instintualidade e outras experiências fundamentais nos primórdios da vida, como a experiência da mutualidade e o início dos sentiment0s afetuosos? Para responder estas questões, vamos desenvoler, 100 primeiramente, a concepção winnicottiana sobre a vida instintiva e a sexualidade infantil, abordando as noções de elementos masculinos intimidade, desenvolvendo o conceito de afeição � ou sentimentos e femininos puros. Posteriormente vamos articular sexualidade e fotuosos -e suas relaçoes com a sexualidade 1, Instintos sexuais. elaboração imaginativa e fantasia Para o leitor pouco familiarizado com a obra winnicottiana, o do tero "instinto", em Vez de pulsão", pode soar estranho rkora ås vezes nas traduçoes de Sua obra para o português encontremos o termo "pulsáo, Winnicott só utiliza 0s termos instinct (instinto) e drive (imnpulso). Na realidade, Winnicott nnnanha, como toda a escola inglesa, a versão de Strachey do alemão para o inglês, que traduz Trieb e Instinkt, por um inico termo: instinct, já que não existe, na língua inglesa, uma palavra equivalente a pulsão. Isto não significa que Winnicott esteia entendendo o instinto como um comportamento herdado, com objetos e objetivos pré-fixados, próprio dos animais, ou que tenha optado por utilizar o termo instinto" em vez de pulsão". Contudo, existem diferenças entre a vis�ão freudiana da pulsão e a visão winnicottiana do instinto, especialmnente no que diz respeito a0 trabalho psíquico que se origina a partir do impulso corporal. Abordaremos, assim, a concepção de Winnicott sobre os instintos sexuais, respeitando sua terminologia. Segundo o autor, Instinto é o termo pelo qual se denominam poderosas forças biológicas que vêm e voltam na vida do bebê ou da criança, e que exigem ação. A excitação do instinto leva a criança, assim como qualquer animal, a preparar-se para a satisfação, quandoo mesmo alcança seu a seu estágio de máxima exigência. Se a satisfação encontrada no momento culminante da exigência, surge a reCompensa do prazer e também o alívio temporário do instinto (Winnicot, 1988, p. 57). 101 Winnicott não considera relevante classificar os instintos em diferentes tipos, afirmando que �com o termo instintivo quer-se significaro que Freud chamou sexual, isto é, o conjunto de excitações locais e gerais que são um aspecto da vida animal; na experiência destas há um período de preparação, um ato com um clímax, e um pós-clímax" (Id., 1965h, p. 119). O autor considera que não h£ munite diferença entre seres humanos e animais em relação à demando instintiva, mas enfatiza que o "animal humano (ld., 1988, p,. 25) diferentemente de outros animais, elabora imaginativamente excitações instintivas e as funções corpóreas em geral, integranda essas excitações e funções na pessoa total. Entretanto, Winnicott nos adverte que nuncaé seguro transportar um argumento da psicologia animal para o âmbito humano", visto que a "psicologia animal é enganosa" (ld., ibid., p. 58. Itálico do autor). As excitações instintivas sexuais podem ser locais ou gerais. atingindo-se alguma espécie de clímax em qualquer região corporal. embora geralmente ocorra em zonas corporais específicas - as zonas erógenas -como boca, ânus, uretra ou órgãos genitais. O clímax pode ser alcançado pela masturbação, mas também pela comida, urinação ou evacuação excitadas, explosões de temperamento, etc. A excitação instintiva, de acordo com os diferentes estágios do amadurecimento, torna-se dominante em diferentes regiões corporais, e as fantasias acompanham esses instintos dominantes. Assim, quando a excitação se torna generalizada, abrangendo a totalidade do corpo intantil, contribui para queo bebê se sinta um ser total. A excitação instintiva, conjuntamente com todas as funções corporeas - como mover-se, respirar, digerir, evacuar, he repouso, etc - será elaborada imaginativamente. O que se elabora imaginativamente não é o corpo como máquina fisiológica, mas o corpo vivo e singular, com suas excitações e diversas Seigdk que abrange não somente os impulsos instintivos como a loe das funções corpóreas. Que significa a expressão elaboração imaginativa "? Sabendo que tudo0 que o bebê vivencia nos primórdios é, necessa uma vivência corporal, a elaboração imaginativa será o trabalho pelo qual o corpo os impulsos instintivos, as sensações, os movimentos, etc � será personalizado e integrado, adquirindo sentido. A elaboração imaginativa das funções corpóreas é a tarefa inicial da psique. Assim, falar de elaboração imaginativa é falar de psique, coincidindo praticamente ambos os termos, ainda que Winnicott se refira também à psique como resultado dessa elaboração (cf.Loparic, 2000, p. 362). Winnicott entende que a realidade psíquica é, no início, uma elaboração da função corpórea, que permite estabelecer a unidade psicossomática, integrando psiquicamente o corpo. O autor afirma: a psique começa como uma elaboração imaginativa das funções somáticas, tendo como sua tarefa mais importante a interligação das experiências passadas com as potencialidades, a consciência do momento presente e as expectativas para o futuro" (Winnicot, 1988, p. 37), existindo como condição, logicamente, um cérebro em funcionamento. Desse modo, a realidade psíquica não pode ser separada da realidade corpórea, constituindo uma unidade psicossomática?9 - embora, como adverte Loparic, exista uma "diferença operacional entre as funções corpóreas e as funções psíquicas" (Loparic, 2000, p. 360. Itálico no original). Cabe ressaltar que a elaboração imaginativa das funções corpóreas, como todas as tarefas do bebê no curso do amadurecimento, dcpende, para sua realização, de cuidados maternos suficientemente bons. Alfredo Naffah Neto esclarece que o processo de elaboração lImaginativa é realizado pela criatividade primária do bebê, embora necessite ser sustentado pelos cuidados maternos", acrescentando que "não cabe à mãe, nesse tal qual a concebe Bion, na atividade de reverie'" (Naffah Neto, 2011, p. 11. Itálico do autor). Assim, embora o bebê só elabore nesse processo, o papel de intérprete principal, 29Loparic questiona at tradução brasileira de "psyche-soma" por "psicossoma", já que "esse lemo, sem o hífen, perde o poder de expressar o caráter propriamente relacional da 'existência Psicossomática', podendo inclusive induzir à conclusão errônea de que Winnicott esteja postulando aexistência de uma entidade sui generis, o 'psicossoma"" (Loparic, 2000, p. 360). 103 imaginativamente sustentado pelo holding materno, trata-se de uma tarefa própria do bebê, que consiste numa forma rudimentar Entretanto, a elaboração imaginativa não se reduz a uma de imaginar, integrar e dar sentido às funções corpóreas. elaboração das funções corpóreas, desenvolvendo tarefas mais complexas ao longo do amadurecimento. Desse modo, a elaboração imaginativa vai desenvolver a temporalização, e potencialidades futuras, correlacionando experiências passadas construindo uma história pessoal, e vai desenvolver a organização egoica e o sentimento do si-mesmo, criando um mundo interno e um externo, etc. Em suma, a elaboraçao imaginativa correspon4 vida, podendo também incluir, s psiquicas às tarefas psíquicas desenvolvidas em diferentes momentos da entre elas, as sofisticadas operações intelectuais30 um trabalho de dação de sentido (Loparic, 2000, p. 370), embora Loparic entende que a elaboração imaginativa �!fundamentalmente esse sentido não remeta às operações mentais de representação ou verbalização. Nas suas palavras: �Mesmo sem se inscrever na dimensão representacional ou simbólica da natureza humana, a elaboração imaginativa originária é essencialmente relacionada an sentido (loc. cit.). Winnicott expressa isto numa nota de esclarecimento sobre a palavra "fantasia", utilizada no texto como sinônimo de elaboracão imaginativa: Ocorre-me que possa estar usando a palavra fantasia" de uma maneira que não é familiar a alguns de vocês. Não estou falando sobre o fantasiar, ou sobre a fantasia imaginada, mas sim pensando na totalidade da realidade psíquica ou pessoal da criança, certa parte dela consciente, mas a maior parte, inconsciente e, ainda, incluindo aquilo que não é verbalizado, funcionamento da existência psicossomática: seu "ponto culminante" (Winnicott, 1988, 30 As operações do intelecto, que Winnicott chama de "mente", constituem um modo de p. 44)� devendo o funcionamento da psique ser diferenciado do funcionamento da mente. 104 de maneira estrutural, por ser primitivo e imaginado ou ouvido de nrkximo das raízes quase fisiológicas das quais brota (Winnicott. 1989vl, p. 56). no O autor se nem imaginada, ou seja, que não remete a imagens ou representações mentais, já que é muito próxima de suas raízes quase fisiológicas, possuindo, contudo, algum: sentido. Como exemplo, podemos pensar refere, assim, à fantasia que não é verbalizada surgimento da gestualidade no bebê, quando os movimentos se tornam gestos porque são dotados de sentido, sem que esse sentido derive de imagens ou representações mentais (cf. Loparic, 2000, p. 371). Elaboração imaginativa e fantasia, contudo, não são sinônimos. Embora muitas vezes utilize esses termos indistintamente, Winnicott reserva a noção de fantasia para um momento posterior no processo de amadurecimento. A fantasia �propriamente dita" surge quando a criança é capaz de distinguir fato e fantasia, pressupondo, portanto, a construção do mundo interno ea capacidade de usar objetos. Quando o objeto subjetivo (a mãæ) é destruído e sobrevive, podendo ser Usado, surge uma coisa nova, a fantasia, já que a criançaé capaz de discriminar entre fato (sobrevivência do objeto) e fantasia (destruir o Objeto). Conquista-se, assim, a capacidade para a fantasia" que, Oo diz Winnicott, permite ao bebê encontrar um novo significado Para a palavra amor" (Winnicott, 1969b, p. 20). Desse modo, "a elaboração imaginativa do funcionamento corporal organiza-se em fantasias'" (Id., 1988, p. 69), que tornam 0 mundo interno da criança "infinitamente rico" (Id., ibid., p. 103). Winnicott se refere tanto às fantasias como a uma forma ter destruído o Corpo materno pelo ataque instintivo, no estágio de "imaginação" rudimentar, como, por exemplo, a fantasia de do c concernimento, ou 31 Essa capacidade para a fantasia deve ser distinguida do que Winnicott denom inafantasying, ou "devaneio", termo quando alude a fantasias sexuais mais Winnicott., 1971h). fenômeno patológico em que o indivíduo dissocia a fantasia do sonhar e do viver real (cf. que às vezes é traduzido por "fantasiar", e que corresponde a um 105 complexas, como as que ocorrem no complexo de Édino longo da vida. instintivo, e existe tanto como uma "fantasia quase fisica" (Id.. ibid., p. 69) - equivalente à elaboração imaginativa próxima do funcionamento fisiológico - quanto na forma das mais sofisticadas fantasias sexuais adultas. A e vida instintiva não pode ser separada da realidade psíqujca e ds fantasias que lhe são inerentes, já que, desde o início da vida, ocorre a atividade da elaboração imaginativa de todas as funções corpóreas A fantasia é inseparável do impulso Em suma, temos que os instintos - sexuais - são forcas biológicas que vão e vêm na vida infantil, exigindo ação para atingir a satisfação. A psique elabora imaginativamente todas as funções corpóreas; instintivas, motoras e sensórias, o que pode ser entendido como "dar sentido" ao corpo, integrando-o na totalidade da pessoa. A noção winnicottiana de instinto difere da noção freudiana de a como se concebe a relação entre pulsão, devido, principalmente, o corpo eo psiquismo. Para Freud, a pulsão, �conceito limite entre o psíquico e o somático" (Freud, 1915/1988, p. 117), "está ligada à noção de 'representante, pela qual ele entende uma espécie de delegação enviada pelo somático ao psiquismo" (Laplanche, 1979,p. 508). Winnicott concebe essa inter-relação em termos da elaboração imaginativa das funções corpóreas e da integração do psiquessoma, e ao o que coloca várias diferenças com a teoria freudiana. Por um lado, elaborar imaginativamente não é representar, mas, como vimos, dar Sentido; por outro, o que se elabora não são somente as excitaçóesS sexuais, mas a totalidade das funções corpóreas; e, finalmente, a elaboração imaginativa é um processo que não pode ser concebido só do ponto de vista intrapsíquico, devendo ser entendido a partir da inter-relação do bebê com o ambiente. 2. Sexualidade infantil e complexo de Edipo A sexualidade genital adulta se desenvolve num longo percurso que temsuas raízes na sexualidade infantil, partindo das fases pré- genitais e atingindo seu momento de máxima intensidade, em ternmos 106 tanto da excitação instintiva quanto das edipica. Winnicott nos lembra a que "os estágios inicias jamais serão verdadeiramente das fantasias, na triangulação abandonados, de modo que ao estudarmos um indivíduo de qualquer idade, poderemos encontrar todos os tipos de necessidades ambientais. das mais primitivas às mais tardias" (Winnicott, 1988, p. 179. que essa ideia se aplica também ao desenvolvimento da sexualidade, e que as excitações e fantasias sexuais oriundas da primeira infäncia também não serão jamais verdadeiramente abandonadas, perpassando de Itálico no original). Entendemos que algum modo a sexualidade adulta. Winnicott concorda, de uma forma geral, com as ideias freudianas sobre sexualidade infantil, mas concebe esse desenvolvimento no marco mais amplo do processo do amadurecimento. Assim, a sexualidade é parte do desenvolvimento emocional e se entrelaça com outros processos não menos essenciais, como a integração egoica, a constituição do si-mesmo, o brincar infantil, o desenvolvimento da capacidade de concernimento, entre outros. Abordaremos, brevemente, o amplo tema da sexualidade infantil, focando as contribuições pessoais winnicottianas. O desenvolvimento instintivo se apoia, numa primeira fase, no funcionamento alimentar. Baseado no aparelho responsável pela ingestão, desenvolve-se o potencial erótico oral, tanto em termos da excitação quanto no sentido das fantasias próprias da oralidade. Winnicott não concorda em dividir a fase oral em oral erótica e oral Sadica, como propõe Abraham já que, na sua visão, a destrutividade e a agressividade são inerentes ao impulso amoroso primitivo, apresentando-se desde o início. Isto não significa, como vimos, que exista ambivalência no momento inicial, já que, por um lado, a agressividade e a destruição não se opõem ao impulso erótico, sendo inerentes ao mesmo e, por outro. o bebê ainda não integrou, nesses primórdios da vida psíquica, um eu que possa sentir ambivalencia. bivalência não decore especialmente dos instintos envolvidos, mas do amadurecimento egoico do bebê. O autor entende que seria mais correto dizer que é o bebê-enão o instinto -que se transtorma, 107 passando de ser um bebê impiedoso para se tornar um bebê cana de concernimento. O erotismo oral se desenvolve em torno da orgia d. amamentação" (Winnicott, 1957e, p. 56), estabelecendo-se vínculo poderosamente intenso entre o bebëe sua mãe, que inclut tanto "a excitação da expectativa, a experiência da atividade, durante a amamentação, bem como a sensação de gratificaçao, com o repouSA ou acalmia da tensão instintiva resultante da satistação" (Loc. cit) Vimos, no capítulo dois, como o bebê ataca e devora a mãe com voracidade, impulsionado pelo amor instintivo primitivo. Toda a experiência da amamentação será elaborada imaginativamente em termos de ataques implacáveis ao seio matermo e, posteriormente, quando o bebê se apercebe de que o seio é parte integrante da mãe, as fantasias serão fantasias agressivas de ter atacado, devorado, esvaziado e destruído a própria mãe. No contexto da sexualidade pré-genital, a analidade, segundo Winnicott, não teria um �status equivalente àquele das fases oral e genital" (Winnicott, 1988. p. 60), já que há tremendas variações nos bebês, tanto nas diferentes formas de excitação erótica anal quanto na diversidade de fantasias. A experiência anal, da mesma forma que a uretral, consiste na ideia da excreção de alguma "coisa" (loc. cit.), coisa que já esteve dentro do bebê, sendo precedida, e relacionando-se, portanto, com a experiência de incorporação da oralidade. Embora a oralidade anteceda o erotismo anal eo uretral, estes últimos não decorrem naturalmente do desenvolvimento instintivo, dependendo principalmente das experiências pessoais de cada bebê na sua inter-relação com o ambiente. Nas fases pré-genitais (erotismo oral, anal e uretral) não existem diferenças significativas entre meninos e meninas. Na fase fálica, em que se distinguem bebês de sexo masculino e feminino, Winnicott observa as diferenças, no menino, enre a fantasias fálicas e genitais. Na fase fálica, a sensibilização do pênis e a ereção são os elementos fundamentais, e o desempenho infantil, que Consiste na exibiç�o, é coerente com a fantasia fálica, Entretanto, Iha 108 fase genital, o desempenho é frustrante e deficiente, já que o menino tem que esperar até a puberdade para poder realizar a fantasia da penetração e da união sexual com o objeto de amor. Assim, �o medo da castração pelo genitor rival torna-se uma alternativa bem-vinda para a angústia da impotência" (Winnicot, 1988, p. 62). Nas meninas, a fase fålica consiste num �fenômeno negativo" (ld., ibid., p. 59), desenvolvendo-se a inveja do pênis, que Winnicott nomeia como o menino-dentro-da-menina" ou o macho dentro da fêmea" (d., ibid., p. 62). A inveja do pênis, fase de curta duração, leva as meninas a buscar um pênis por procuração, encontrando uma saída para essa inferioridade" na complementaridade dos sexos. As meninas também poderiam usar todo seu corpo - ou suas bonecas -como falo. Segundo Winnicott, nos meninos aconteceria também, na fase fálica, a correspondente inveja da fêmea. O funcionamento genital feminino, embora a menina possa ter excitações genitais localizadas desde muito cedo, tende a permanecer oculto e desconhecido. Nesse sentido, normalmente as fantasias infantis femininas consistem em recolher, esconder ou guardar em segredo. Segundo o autor, o jogo 'sabe guardar um segredo? pertence tipicamente ao lado feminino da natureza humana, assim como o lutar e o enfiar coisas em buracos pertencem ao lado masculino (Id., ibid., p. 64). Desse modo, para entender a sexualidade feminina é fundamental conhecer as fantasias das meninas sobre o interior do próprio corpo e do corpo materno. No estágio genital, as fantasias giram em torno dos atos masculinos e femininos que só se tornarão possíveis na puberdade, como penetrar e ser penetrado(a) e fecundar e ser fecundado(a). Winnicott afrma O papel da bissexualidade, particularnmente no que se refere às fantasias e às identificações, existindo sempre elementos masculinos e femininos em ambos os sexos. O autor enfatiza o peso, nas fantasias e no funcionamento da Sexualidade feminina - bem mais do que na masculina - das raízes Pre-genitais, existindo sempre uma menininha na categoria chamada de "mulher", Assim, enguanto a sexualidade masculina centra-se 109 principalmente na excitação integra mais intensamente excitações e fantasias pré-genitais, tendendo aretornar fälico-genital, a feminina a momentos iniciais do amadurecimento. Quando o desenvolvimento da sexualidade atinge o estágio "primeiro relacionamento triangular onde a criança é impulsionada genital, no período entre os dois e os cinco anos, estabelece-se o pelos instintos de natureza genital recém-surgidos" (Id., ibid., p. 67). No complexo de Edipo, cada um dos integrantes do triânguloé uma pessoa total, "consciente de si mesma e consciente da existência de outros" (Id., ibid., p. 56). Desse modo, Winnicott não concorda em conceber um complexo de Edip0 em etapas anteriores co na perspectiva kleiniana, já que os pais não seriam percebidos pela criança como pessoas totais, não passando de objetos parcjais Na fantasia edípica do menino, o alvo é a união sexual l entre filho e mãe, o que implica a morte do rival. Ocorre doloroso conflito pela ambivalência, já que o menino se percebe temendo e desejando a morte do pai que é, ao mesmo tempo, uma pessoa amada e confável Diz Winnicott: Na relação triangular entre pessoas, a criança é apanhada de surpresa pelo instinto e pelo amnor. Este amor envolve mudanças no corpo e na fantasia eé violeento" (Winnicott, 1988, p. 72). O amor instintivo edípico é violento porque é um amor que leva ao ódio,já que a criança atingiu a capacidade de odiar e de sentir ambivalência. Ela teme que a pessoa amada seja destruída: porém, essa pessoa amada e odiada é alguém capaz de se defender, de sobreviver a seu ódio infantil2 e de perdoar. Quando existe estabilidade ambiental, e os pais toleram os violentos amores e ódios infantis, a criança pode suportar sua própria 32 Segundo Rodulfo, "se um menino chega verdadeiramente a odiar seu pai, temos que pensar numa perturbação severa" (2009, p. 139), comentando que a dualidade que consiste em amar a mae e, portanto, odiar o pai, não se sustenta. Na sua perspectiva, a psicanálise - especialmenie Melanie Klein- tendeu a simplificar a oposição amor-ódio como forças simétricas, derivando o od10 e a agressão da pulsão de mote, que se opõe ao Eros. Rodulfo propõe outra Tota de conceber a ambivalência, opondo o amor não só ao ódio, mas também ao desanot indiferença (cf. Rodulfo, 2009, p. 140). Entendemos que o ódio infantil no conflito edipico deve ser pensado como um ódio passageiro. momentâneo gue. como nos advertia Balmt, au teria o mesmo status que o amor (cf. Balint, 1951). 110 ambivalência sem construir defesas excessivamente rígidas frente ds angústias edípicas", Assim, O menino pode perder, em parte, sua cenacidade instintiva potencial e, ate certo ponto, deslocar seu obieto de amor, substituindo a mãe por outras figuras do entorno, mais distantes do pai. Estabelecendo um "pacto homossexual com o pai" 1d. ibid., p. 73), o menino abre mào parcialmente de sua prÑpria notência, que passa a ser expressao da potëncia do pai. Assim, $por identificação com o pai ou com a ngura paterna, o menino obtém uma potência por procuraçao e uma potència adiada, mas própria. que poderá ser recuperada na puberdade" (loc. cit.). A experiência instintiva edípica, com toda a intensidade dos deseios ambivalentes, angústias, amores e ódios, encontra expressão nos sonhos e fantasias infantis. A solução desses violentos confl itos decore da distinção entre realidade e fantasia. Por exemplo, ver os pais juntos, na realidade, torna suportáveis as fantasias de separação ou morte de um deles. Nesse sentido, a cena primária � pais sexualmente juntos - possibilita a fantasia de ocupar o lugar de um dos pais, mas só na fantasia, que se distingue dos fatos reais. Winnicott teoriza sobre o valor e o possível perigo da cena primária, já que ela constitui �a base da estabilidade do indivíduo (Winnicott, 1988, p. 77), mas se acontecer a visão real do intercurso dos pais, a cena pode se tornar traumática, pois entraria em choque com as necessidades emocionais da criança (de fantasiar essa cena, mas não de testemunhá-la). Winnicott enfatiza a importância de os pais serem suficientemente amadurecidos para acompanhar o conflito edípico infantil sobrevivendo e perdoando - até que a criança, aos poucos, se torne capaz de distinguir fatos e fantasia, tolerando a violência de suas próprias fantasias. Afirma Winnicott: A solução para os problemas da ambivalência inerente surge através da elaboração imaginativa de todas as funções; sem a negligenciar o rrecalque como principal defesa na resolução do Edipo. 33 Winnicott aborda outras defesas que se desenvolvem ao longo do conflito edípico, sem 111 fantasia, as expressões de apetite, sexualidade e ódio em sua forna bruta seriam a regra. A fantasia prova, desse modo e a característica do humano, a matéria-prima da socializaç�o, e da própria civilização (Id., ibid., p. 78). Assim. Winnicott ressalta o valor da fantasia, inseparável d impulso instintivo e aspecto essencial da civilização. Le Lembrando que as fantasias dos primórdios jamais são completamente abandonadas que A fantasia sexual total, consciente e inconsciente, tem varjedade quase infinita e importância vital. E conveniente compreender. entre outras coisas, o sentido de concernimento ou culpa aue advém dos elementos destrutivos (muitos deles inconscientes) que acompanham a expressão fisica do impulso amoroso (1d. 1961b, p. 62). Vemos, em suma, que a vida instintiva sexual se desenvolve no contexto da inter-relação da criança com seu ambiente., inseparável das fantasias que cada criança constrói, segundo a experiência pessoal, e das identificações que acontecem desde o início da vida. A sexualidade infantil constitui um aspecto essencial no desenvolvimento emocional, mas, como diz Winnicott "os momentos instintivos não s�ão tudo" (Id., 1957e, p. 57), já que a criança deve conjugar a tremenda tarefa de integrar e elaborar seus impulsos instintivos, mas também se relacionar com a m·e nos momentos calmos, desenvolvendo e integrando outras capacidades. Assim, a sexualidade deve ser concebida como parte da teoria do amadurecimento, em relação a outros processOs de fundamental importância. Nesse sentido, pensamos que as tormulaçvo winnicottianas sobre elementos masculinos e femininos, no le da teoria da sexualidade, contribuem para situar melhor o papel d instintualidade nos primórdios da vida. 112 Winnicott se refere à riqueza e multiplicidade das fantasias integram o impulso erótico adulto: 3. Elementos masculino e feminino puros noção psicanalítica da �bissexualidade", Winnicott Partindo da considera que existem, tanto em homens como em mulheres, elementos masculinos Winnicott utiliza as denominações "elemento feminino puro e elemento masculino puro", já que embora esses elementos se apresentem misturados, poderiam se dissociar, sendo necessário, para efeitos da descrição teórica, apresentá-los de forma "pura" ou �destilada" (Winnicott, 1971g. teórica sobre a masculinidade e a feminilidade, no seio da teoria da p. 113). O que se apresenta, inicialmente, como uma reflexão sexualidade, acaba se tornando uma formulação sobre a criatividade e femininos. mum a ambos oS seXOS e sobre o confiito básico da existéncia humana entre O ser e o fazer34 Winnicott aborda os elementos masculino e feminino puros contrastados no marco do relacionamento objetal. Segundo ele. *o estudo do elemento feminino, puro, destilado e não contaminado. nos conduz ao SER, e constitui a única base para a autodescoberta e para o sentimento de existir" (d., ibid., p. 117. Maiúsculas do autor). O elemento feminino puro corresponde à identificação primária, em que o bebê "e o seio da m«æ, o que precede o "estar em-união-com" (1d., ibid., p. 114), já que o bebê e o objeto são um. O elemento feminino puro, "ser o seio", estabelece o que talvez seja a mais simples de todas as experiências: a experiência de ser. Winnicott insiste em afirmar "que a relação de objeto em termos desse elemento feminino påro nada tem a ver com o impulso (ou instinto)" (Id., ibid., p. 117. Itálico do autor). O elemento masculino puro desenvolve um relacionamento de ogeto, ativo ou passivo, respaldado no impulso instintivo. Afima 34 Embora inicijalmente essas categorias estejam mais prÓx imas da identidade sexual, posteriormente Winnicott desenvolve novos sentidos para esses termos, heterogencos a sexualidade. Nesse sentido, as denominações "elementos fenminino e masculino pur0s` dcabam resultando, a noSsO ver, um tanto arbitrários. Sobre isso o próprio Winnicott comenta "Nào posso evitá-lo, mas Cxatamente neste estágio pareço ter abandonado a escada (elenentos masculinos e femininos) pela qual subi até o lugar onde experienciei esta visåo(WinnicoU. 1972c, p. 150). 113 Winnicott: "O elemento masculino faz, ao passo que o elemento feminino (em homens e mulheres) é" (ld., ibid., p. 115. Itálico do autor). A psicanálise, comenta, teorizou sobre o aspecto impulsivo a experiência inicial de ser do bebê. A relação de objeto baseada da relação de objeto, sobre o elemento masculino, negligenciando no elemento masculino pressupõe certa separação do objeto, tendo como condição unma o bebê minima oganização egoica, podendo o behè experienciar satisfações instintivas ou frustrações. A relação de objeto baseada no elemento feminino, que nãoé 1ma identidade,permite ao beb�a Á propriamente uma relação, mas uma experiência de ser, base do futuro sentimento do si-mesmo. Essa identificação primária será fonte de posteriores identificações projetivas e introjetivas, que permitirão à criança relacionar-se cn o mundo. O fracasso na busca de satisfações instintivas provoca frustrações, mas não cabe falar de frustração em relação ao elemento feminino puro. O fracasso da mãe na sua função de oferecer um seio que e, para que o bebê possa também ser re constituir uma identidade incipiente, provoca um dano mais severo: a mutilação do ser (cf Winnicott, 197lg). Para queo fazer tenha sentido para o indivídu0, é necessário que, antes do fazer, se experiencie o ser. Winnicott diz: �ApÓs ser fazer e deixar-se fazer. Mas ser, antes de tudo (Winnicott, 197lg, p. 120). Embora Winnicott enfatize a ordem cronológica do ser e do fazer, entendemos que se trata fundamentalmente de uma ordem lógica: o fazer, para que seja significativo e enriquecedor, deve estar ancorado na experiência do ser. A criatividade requer uma adequada integração dos elementos femininos e masculinos, já que para que o fazer seja criativo e pessoal, deve partir do ser, e estar misturado ao ser. Isto remete is categorias de verdadeiro e falso si-mesmo, porque o fazer, sSelt s Constitui um fazer adaptativo, impessoal e estranho ao si-mesiu Dando noVo sentido ao confronto entre Os elementos femininos e masculinos puros, Winnicott entende que a questão do ser e do fazer remete para um �dilema básico no relacionamento" (ld., 1972c, p. 114 150), que consiste no conflito o objeto. Diz Winnicott: "No arcabouço deste conceito, que lida com um problema humano universal, pode-se ver que bebê=seio é uma encontro do bebÇe do seio envolve o fazer" (Loc. cit.). Entendemos questão de ser, n�o de fazer, enquanto, em termos de confrontação, o que esse dilema leva a pensar num salto na continuidade existencial, entre ser o objetoe confrontar-se com já que O bebe terá que passar de ser o seio para se confrontar a eies de estar relacionado a um obieto 100%% subietivo, a reconhecer sua objetividade e diferença. Assim, esse dilema sugere que a passagem entre ser igual, no estado fusional, e confrontar a diferença, no fazer, constituiria uma quebra traumáica na continuidade de ser. Retornando a nossa questão, vemos gue o fazer - apoiado nos instintos sexuais deve estar firmemente respaldado numa experiência de ser do bebê, para que o fazer possa ser criativo e permita o enriquecimento da experiência do si-mesmo. Desse modo, a experiência instintiva sexual deve ter como condição a identidade incipiente do bebê, para ser vivida de forma saudável. Com base nas categorias de elementos feminino e masculino puros, entendemos que a sexualidade não é o fundamento do início da vida psíquica, já que os impulsos sexuais não se tornam experiências pessoais do bebê se não tiverem como base uma experiência de ser do lactente. Nesse sentido, Winnicott afirma que nossos pacientes psicóticos nos forçam a conceder atençào a essa espécie de problema básico [sobre o que versa a vida). Percebemos agora que não é a satisfação instintual que faz um bebë começar a ser, sentir que a vida é real, achar a vida digna de ser vivida (Winnicot, 1967b, p. 137). O trabalho desenvolvido durante anos com pacientes psicóticos e borderline, que vivem à beira do colapso psiquico, oscilando entre à Ser e não ser, levou Winnicott a 1 se perguntar sobre os fundamentos da existência humana, sobre o que" versa a vida. Formulando cruamente a questão "0 que é a vida?", ele responde: "Não preciso saber a resposta, é mas podemos chegar a umn acordo: ela está mais 115 próxima do SER do que do sexo" (Id., 1971f, p. 18. Maiúsculas no original). 4. Sexualidade e intimidade Perguntamos, no início deste capítulo, qual era a relação entre a vida instintiva sexual e outras experiências de fundamental importância, como a intimidade que se desenvolve entre o bebê e sua mãe. Quando Winnicott formula que o ser deve preceder e Conter o fazer, que se apoia no impulso instintivo, o termo "ser elemento feminino puro - remete à identificação primária do bebê com a mãæ. Essa identificação primária, que possibilita a experiência de ser do bebê, só pode acontecer no seio do contato inicial entre o bebêea mãe. No capítulo 1 abordamos esse contato íntimo do bebê e da mãe nos primórdios, nomeada por Winnicott de experiência da mutualidade. Como vimos, a mutualidade abrange tanto a comunicação direta inicial entre mãe e bebê, que pode ser descrita como sintonia dos corpos vivos, quanto uma forma de intimidade mais sofisticada, quando se inicia a experiência compartilhada do brincar. A psicanálise freudiana só teoriza a relação do bebê com a mãe objeto nos seus estados excitados, negligenciando a mãe-ambiente e os estados tranquilos do bebê. Contudo, como diz Winnicott, "Estas experiências excitadas são realizadas contra um fundo de tranquilidade, no qual existe um outro tipo de relacionamento entre o bebê e a mãe" (Winnicott, 1988, p. 122). Na vida do bebë os estados excitados se alternam com os tranquilos, o que corresponde às funções de mãe-objeto e mãe-ambiente. Entretanto, as funções de mãe-objeto e mãe-ambiente, mais que se alternar, recobrem-se, já que quando está em ação o impulso instintivo infantil, a mãe não deixa de ser uma ambiência para o bebê. Winnicott diz que a m«e ambiente é humana, e a mãe-objeto é uma coisa, embora também seja a mãe ou parte dela (1965j, p. 166), o que aponta para a idea d que a mãe-objeto - coisa para o bebê- é parte da m«e queé humana 116 e mãe-ambiente são duas mães do o holding. Mãe-objeto e reata do bebê, mas da perspectiva da mãe, essa distinção náo é tão esquemática. A mãe pode se oferecer como objeto para da ou comida pelo bebe, mas sua identificação com ele Jhe permite continuar sustentando a situação global. Da mesma forma, tampouco se alternamo ser e o fazer do bebê. diz Winnicott, a experiência de ser e, especialmente, que, como diz continuidade de ser, deve preceder e conter o fazer do bebê. Assim, vemos que a psicanálise clássica, privilegiando o estudo das infantil, desconsiderou os fenômenos que neuroses e da sexualidade escapavam à lógica da sexualidade: a função da mãæ-ambiente, a comunicação íntima mãe-bebê, os estados tranquilos do bebé, sua experiência de ser: diferentes aspectos, estreitamente interligados, de um mesmo fenômeno. Para fins deste trabalho, interessa-nos especialmente o outro tipo de relacionamento" que existe entre o bebê e a mãe: a experiência da mutualidade ou intimidade$, A comunicação íntima é a trama mais importante que devem entretecer mãe e bebê, fonte do sentimento do si-mesmo e condição para que vida se torne reale significativa. A intimidade mãe bebê deve banhar e impregnar o desenvolvimento da sexualidade infantil, já que "a relação com a mãe reduzida ao sexuável das partes de seu corpo (os objetos parciais') seria como um filme pornográfico" (Rodulfo, 2008, p. 55), em que o prazer de órgão ocorreria sem qualquer dimensão de alteridade e de subjetivação%, A sexualidade infantil se desenvolve, desde o primeiro impulso amoroso instintivo, "ambientada" na experiência da mutualidade mãe-bebê, na reciprocidade dos corpos e na comunicação intima 35 Embora saibamos que Winnicott não se refere explicitamente à "experiência da intimidade tomamos aliberdade de utilizar indistintamente essa expressåo e "experiência da nmutualidade" Acompanhamos, por um lado, o texto de Rodulfo (2008), muito inspirador para nosso estudo, e que utiliza a expressão "experiência da intimidade" em vez de mutualidade. Por outro lado, entendemos que o termo "intimidade" or ser uma palavra da linguagenm comum, pode tornar mais compreensivel a descrição de certos fenômenos. 36 Na pornografia nào há subjetivacão nem outro. não há intinidade, simplesmente ha excitaçáo sexual das partes corporais,de forma crua e sem metáfora (ct. Rodulfo, 2003). 117 entre eles. Nesse sentido, Rodulfo entende que o abraço m·e.hekA mais que paradigma de todo gozo sexual ulterior"» (ld., ibid., p. 64), seria paradigma da intimidade, em cujo seio "pode despontar o erotismo* (Loc. cit.). Sem intimidade com a mãe, a sexxualidade infantil se torma patológica, podendo se manifestar, como exemplo, numa masturbação compulsiva que, mais que prazer erógeno, revela angústias intoleráveis; ou na total supressão de qualquer satisfação que possa provir do manuseio do corpo (cf. Winnicott, 1947a, p. 178). Segundo Ricardo Rodulfo, no célebre trabalho freudiano sobre a sexualidade infantil, os *Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade" o grande termo ausente é a intimidade (cf. Rodulfo, 2008, p. 57). condição do espaço do brincar e de outros desenvolvimentos essenciais na infåncia. A experiência da mutualidade é construída, como vimos, a partir dos cuidados maternos confiáveis e das intermináveis trocas e brincadeiras entre mãe e bebé, Na mutualidade se constitui a transicionalidade entre mãe e bebê, estabelecendo um �entre" a partir do qual se desenvolve e enriquece o sentimento do si-mesmo e todo o brincar criativo posterior. Winnicott insiste em afirmar, reiteradas vezes, que tanto a experiência da mutualidade quanto o brincar infantil, de uma tormd geral, não provêm de uma raiz instintiva sexual. Vimos, no capitulo anterior, como a excitação do brincar não significa excitação erótica. O brincaré uma experiência 'não culminante" (Winnicot, 1967b. p. 137) que se satisfaz por saturação, encontrando seu limite no cansaço ou pelo surgimento de uma nova brincadeira. De modo diverso, 0 37 Cabe esclarecer que as brincadeiras e a transicionalidade se desenvolvem no seio da "relação" mâe-bebê, mas nåo existem desde o início, no estado fusional originário. Como reciprocidade dos corpos vivos, quanto em termos das brincadeiras que se desenvolvem Vimos, Winnicott tanto se refere à mutualidade em temos simplesmente da intimidade e desde as doze semanas de vida do bebê, ou antes. Contudo, como mutualdade taz alusão å cOmunicação íntimae significativa que se estabelece entre o bebê e a m«e, entendennos que essa comunicação é um processo contínuo que se inicia como nascimento, sendo irelevante para fins deste estudo, delimitar com mais precisão essa passagem. 118 despertar instintivo é "culminante, já que tende a um climax, que pode ser atingido, frustrado ou substituído por um �clímax espúrio" (Winnicott, 1947a, p. 177), como são as crises de fúria, os vômitos Ou outras manifestaçoes psICOSSOm áticas. Podulfo nos faz notar que nao existe uma relação simétrica entre o brincare a sexualidade, já que enquanto o brincar se interrompe ou se estraga pela excitação sexual, a sexualidade, pelo contrário, é enriauecida com o brincar (cf. Rodulfo, 2008, p. 61), A sexualidade infantil -e também a adulta quando não tem o ingrediente da intimidade, ou do lúdico, empobrece-se ou se degrada. Além do mais, o prazer erógeno se torna muito limitado quando não é banhado pela magia e riqueza do brincar.O brincar deve envolver a sexualidade na infância para que as práticas sexuais infantis sejam realmente "brincadeiras sexuais". Desse modo, a sexualidade pode ser integrada como uma experiência pessoal da criança. Nesse sentido, Winnicott diz que Na verdade, as gratificações instintuais começam como funções parciais e tormam-se seduções, a menos que estejam baseadas numa capacidade bem estabelecida, na pessoa ou individualmente, para a experiência total, e para a experiência na área dos fenômenos transicionais. Eo eu (self) que tem de preceder o uso do instinto pelo eu (sel); o cavaleiro deve dirigir O cavalo, e não se deixar levar (Winnicott, 1967b, p. 137). Vuando as gratificações sexuais não se integram como uma experiência na área dos fenômenos transicionais, Ou seja, quando não têmo caráter lúdico do transicional, tornam-se seduçoes, no O de não provir dos impulsos pessoais, de serem alhelas ao SI-mesmo. O si-mesmo (self) deve preceder os instintos, para que eles possam ser pessoal da criança. äpropriados, enriquecendo a realidade psíquica desenvolve a se: Em síntese, vemos que a intimidade é o contexto em que se do bebê e sua mãe não se estabelece como resultado da satisfação sexualidade infantil. Para Winnicott, o contato íntimo 119 instintiva, mas, pelo contrário, é essa intimidade mãe-bebê o continente que possibilita uma gratificação instintiva enriquecedora o bebê. Assim, a intimidade não deriva da satisfação sexual. mas, inversamente, ,éo desenvolvimento da sexualidade que depende da intimidade. A intimidade éo ponto de partida e, se concordamos para -0 estado tranquilo certamente é o primário, merecendo um estudo por direito próprio"` (Winnicott, 1988, p. 134). ) fundamental para o bebê, no momento inicial, reside na qualidade da comunicação com a mãe, o que depende dos cuidados sensíveis da própria mãe. Quando essa comunicação é significativa e se desenvolve uma experiência de intimidade, o bebê funda as bases de sua existência, sentindo-se vivo e real. O essencial na infancia, na perspectiva de Winnicott, não é o desenvolvimento da sexualidade infantil, mas a questão do ser, do sentido da vida. Trata se do sentido em sua dimensão mais radical, núcleo da existência humana, que é ameaçado ou inexistente na loucura. Entendemos que a noção de sentido se refere ao existir criativo, já que tem sentido o que permite usufruir a existência, quando se desenvolve a capacidade de dar valor e significado ao mundo, e de sentir que a Vida vale a pena. Quando uma experiência é significativa, ou seya. quando tem sentido, produz um tipo de prazer que, acompanhando a sugestão de Rodulfo, denominamos "alegria", essa sensação gozosa do prazer sexual. A intimidade, desse modo, deriva da satisfação comunicaçào constitui uma experiência prazerosa em si mesma, cujo prazer nào para diterenciar instintual, mas do destrute da com significativa e da consciência deliciosa de estar vivo" (Winnicot. 1970a, p. 76). Assim, em referência à comunicação íntima entre o bebê e sua mãe, Winnicott se refere às "grandes sensações de prazer (2008, cap. 3). à 38 Abordamos o tema da alegria no capitulo anterior como sensação prazerosà oriunda Jao experiências do espaço potencial. A proposta de denominar "alegria' a cssa torna de prazet. para diferenciá-lo do prazer erógeno derivado da satistaçào Instintual. é de R Roduilo 120 com que ela é correlativa dos monmentos de tranquilidade do bebë encontramos, nas palavras de Winnicott, a corroboração dessa ideia: que participam do íntimo vínculo fisico e espiritual, que pode existir entre a mãe e seu bebe (ld., 1945c, p. 33). 5. Solidão, afeição e sexualidade No comeco do capitulo levantamos várias questões, propondo Sns a relacionar, para respondë-las, sexualidade e afeição. Perseguindo este objetivo, vamos abordar a noção de afeição, que equivale a "sentimentos afetuosos" também pode ser entendida Como "afetividade", estudando suas raízes para, posteriormente, articular esses sentimentos com a sexualidade. e No ensaio A capacidade para estar só, de 1958 (1958g), Winnicott desenvolve a ideia da solidão como uma capacidade a ser alcançada -ou não �no desenvolvimento emocional, estabelecendo várias articulações com a questão da afetividade que nos interessa. Em vez de abordar a solidão como medo ou angústia, Winnicott pensa sobre a capacidade de estar ou ser só (to be alone), enfatizando a ideia de capacidade a ser conquistada, índice de saúde psíquica. Essa conquista pressupõe um grau considerável de integração egoica e da constituição do si-mesmo, já que o bebê precisa ter atingido o estágio do "eu sou"39 para desenvolver a capacidade de estar só. Essa capacidade é um paradoxo, já que se origina pela experiência dobebê de estar só na presença da mãe, de confiar na sua presença continua. Assim, a experiência da solidão resulta de uma sólida Tusão com a mãæ. Desenvolve-se a capacidade de estar só, estando acompanhado, porque a criança introjeta a presença confiável e protetora da mãe (cf. Winnicott, 1958g). Posteriormente a criança vai se confrontar com a cena primária, quando: a capacidade para estar só se torna amadurecimento erótico; 390 estágio do eu sou corresponde ao momento em que o bebè alcança o estatuto de ser um eu unitário, capaz. de distinguir um dentro e um fora, quando já é capaz de usar objetos e ja iniciou as experièncias transicionais. . Se o bebê soubesse falar, diria eu sou", porque já tem "eu sou" � condiç�o para que se inicie o estágio do concerninmento e | para que se desenvolva a uma consciência incipiente do si-mesmo, ,e da m«e como alguém separado dele. O estatuto do 121 Capac1dade de estar só. O"eu sou", como todas as conquistas do amadurecimento, é precário, muitos avanços e recuos v·o acontecer até que se integre o eu unitário de forma consistente. desenvolvimento da potência genital e tolerância da ambivalência. A criança terá que lidar com os sentimentos de excitação e raiva de ser a terceira pessoa numa relação triangular - na cena primária imaginada ou percebida � consolidando-se a capacidade para estar só. Contudo, embora essa capacidade só se estabeleça consistentemente após a cena primária, suas bases encontram-se na experiência paradoxal de o bebê ter ficado só na presença da mãe. A presença materna que permite ao bebê desenvolver essa capacidade é muito peculiar, já que se trata de estar �não estando A m«e deve ter a sensibilidade de permitir ao bebê brincar, sem ser convocada e sem interferir, estando, ao mesmo tempo, disponível. Assim, ela deve ser capaz de brincar que está ausente, estando presente (cf. Rodulfo, 2009, p. 197). Acriança pode, com o tempo, prescindir da presença da figura materna e, estando só, por períodos limitados, desfrutar de momentos de tranquilidade e não integração, similares ao estado relaxado da vida adulta. A capacidade para estar só permite ao indivíduo descobrir uma vida pessoal própria, podendo relaxar e usufruir o sentimento do si-mesmo, na intimidade consigo mesmo. A pessoa que não conquistou essa capacidade, porque não experienciou a solidão acompanhada, a "solidão com", vive o estar Só como *solidão sem", caindo no vazio afetivo ou procurando a interação permanente com outros. Winnicott aborda a solidão compartilhada do casal após o coito. em que "cada parceiro está só e contente de estar só" (Winnicot, 1958g. p. 33). Trata-se de um tipo especial de solidão em que os �OIs parceiros, de alguma forma, vinculam-se, sem se isolar. Sem eSSa capacidade, os integrantes do casal n�o poderiam, após m coto satisfatório, compartilhar suas solidões, num momento relaxamento e intimidade. A capacidade para desfrutar da solidão, na vida adulta, guarda estreita relação com a capacidade para estabelecer contato afetivo. A pess0a que tem capacidade de estar só carrega dentro de si a experiência de uma sólida relação íntima, relação com alguém que foi presente, mas soube se ausentar estando presente. Assim, a pessoa 122 que é capaz de estar só, não precisa, para sustentar um laço afetivo duradouro, da interação ininterrupta com o outro, podendo realizar o vai e vem do contatoe do retorno à solid�ão compartilhada. Winnicott entende que a base da capacidade de estar só radica é no estado fusional mãe-bebê dos primórdios, que é descrita., ensaio, pela expressão "relacionamento com o ego" [ego loto dnessl, traduzida também como "afinidade egoica" (cf. Abram. 2000, p. 249). Essa expressão, pouco feliz", será posteriormente substituída pelo termo relação de objeto", precursora do "uso do objeto", e descrita novamente, vários anos depois, considerando a comunicação que se estabelece entre mãæ e bebê desde os primórdios, pela noção de experiência de mutualidade. nesse A expressão "relacionamento com o ego" destaca um tipo de contato ou relacionamento" entre mãe e bebê que não é excitado, que não diz respeito ao id. Winnicott coloca a ênfase no campo do ego, e não do id, porque está se referindo a desenvolvimentos e conquistas que independem dos instintos. Cabe destacar que o terno "id' não corresponde exatamente à categoria freudiana, sendo utilizado para se referir, de forma genérica, aos instintos sexuais. O termo "relacionamento com o ego` faz alusão ao processo de integração egoica do bebê, que está em andamento, e que é Sustentado pelo apoio egoico materno. A mãe, com seu holding. funciona como ego auxiliar do bebë, compensando sua extrema imaturidade egoica. Como vimos anteriormente, Winnicott entende que os impulsos instintivos do id só são significativos quando integrados e contidos Pela organização egoica e pelo sentimento do si-mesmo. Dessa forma, quando há um "relacionamento com o ego", os instintos POaem fotalecer, em vez de perturbar, o imaturo e precario ego do veDe (cf. VWinnicott. 1958o), Como nesse ensaio de 1958 ainda nào 40 A express�o é pouco feliz porque nåo existe verdadeiramente"relacionamento" entre beb� e måe nos primórdios, já que o bebê não existe como ente separado da màe, e tanipouco possui um ego que possa interagir com o ego materno. Assinm, não se trata de um relacionamento entre egos, mas do apoio egoico da mãe à extrena imaturidade egoica do beb�. tinha sido conceitualizado o si-mesmo, Winnicott só faz referência ao fortalecimento egoico, sen incluir. a dimensão do enriquecimento do si-mesmo que Ihe seria concomitante. Enfatizando o contraste entre as duas modalidades de relacionamentos entre bebe e mãe, o que é "ligado ao eooy (ld.. ibid., p. 33) eo que está em conexão como id" (loc. cit.), Winnicott compara a expressão *gostar" ((o be fond of), como "sentimento caracteristico d0 ego" (lc. cit.), com o termo amar ((o love), que corresponderia a um "sentimento característico do id (loc. cit.). Apesar da imprecisão dos termos, entendemos que Winnicott está apontando para dois sentimentos" que devem ser diferenciados: o sentimento de "gostar", que na expressão em inglês não tem conotação sexual, e pode ser pensada como "gostar de estar junto ou próximo, num contato humano não erótico" ou *sentir afeição", e o sentimento de amar, instintivo, que se refere ao desejo erótico. Sugerindo outro desdobramento do �relacionamento com o ego", e ressaltando ainda mais sua importância, Winnicott "considera que ele éo substrato de que a amizade é feita" (Winnicott, 1958g, p. 35), acrescentando que talvez seja também a matriz da transferência" (loc. cit.). Assim, a raiz da amizade. da mesma forma que a raiz da capacidade para estar só, encontra-se no contato íntimo inicial da mae e do bebê, na experiência da mutualidade, afastando-se da instintualidade. Desse modo, Winnicott entende que a amizade, e pensamos que a vida afetiva de uma forma geral, deriva da experiência fusional do bebé, que permite sua identificação primárla, de ser e, com o tempo, as primeiras brincadeiras ou experiencias transicionais. Nesse sentido, descrevendo a comunicaçáo inntima mãæ-bebê, Winnicott nos lembra que "não se pode esquecer das onde nascem a afeição e o prazer pela espericnca" (ld., 1968d, p. 89. Itálico nosso). Pensamos que podemos tazer corresponder a afeição ao "sentimento caracteristico do ego, 0 brincadeiras, gostar", sentimento afetuoso inerente à amizade. Sua experiência 124 Winnicott utiliza o termo "afeição", , em várias oportunidades. para se referir a um tipo de sentimento que se desenvolve no bebê relação ao uso de objeto transicionais. Assim, o autor diz que "o objeto é afetuosamente. acariciado, bem como excitadamente amado emutilado (Winnicott, 1953c, p. 18.Itálico nosso), acrescentando, em outro texto, que os fenômenos transicionais representam "o início da capacidadede afetuosos" (ld., 1989, p. 46). sentimentos Como entender melhor a noção de sentimentos afetuosos ou afeicão? Antes de tudo, devemos esclarecer que Winnicott considera semelhantes Os termos mos "afeição" e "ternura", preferindo o primeiro norgue a ternura, ao menos na lingua inglesa (tenderness) excluiria a aoressão e a ambivalência, tendo a afeição um sentido mais neutro. Em resposta ao tradutor, para o francês, do texto Objetos transicionais e fenómenos transicionais, ele afirma: A palavra affectionate (afetuoso) em inglês significa algo bem próximo da palavra tender (terno), mas não é usada exatamente nas mesmas situações. (...) A palavra tender (terno) até que é boa, mas enfatiza uma ausência de agressão e destruição, ao passo que a palavra afectionate (afetuoso) não os enfatiza nem os nega. Pode-se, por exemplo, imaginar um abraço que seja afetuoso e esteja longe de ser terno (Id., 1987b, p. 147). Como se origina, no bebê, o sentimento da afeição? Em nenhum momento Winnicott faz referência a algum tipo de repressao ou Inibição do impulso instintivo originário, como vemos na teorização Ireudiana sobre a ternura, que é definida como uma puls£o sexual miolda quanto ao alvo (cf. Freud, 192l, p. 130). A afeição, em "inlcott, independe dos impulsos instintivos sexuais, constituindo P dentihcação com os sentimentos maternos. Afirma Winnicot: dando existem estas condições lexperiência de ser do bebe C Capacidade de sentir-se reall. como em geral acontece, o bebê pode desenvolver a capacidade de ter sentimerntos que, e alguma forma, correspondem aos sentimentOs da màe que se identifica com o seu bebê: ou, talvez eu devesse dizer, da mãe que está profundamente envolvida com seu bebê e com OS cuidados que Ihe dedica (Winnicott, 1987e, p. 5). Dacse modo, a capacidade de ter sentimentos do bebê resule da identificação com a mãe: identificação com os sentimentos de afeicão e envolvimento que a mãe Ihe dedica. Em um texto anterior, Winnicott descrevia uma m·e d tranquilo* (1955c, p. 365)e uma mãe do amor excitadn correspondentes às funções de mãe-ambiente e m«e-objeto. O termo tamor tranquilo", como analisamos no capítulo l, não se refere a um2 característica do amor da mãe, mas ao amor tranquilo do bebê pela mãe, assim comoo amor excitado corresponde ao amor instintivo do lactente. Winnicott dizia que "a mãe vem sendo amada pelo bebê como aquela que incorpora todos esses aspectos [holding da mãe-ambiente]. O termo 'afeição' passa a ter lugar nesse contexto" (ld., ibid., p. 360). Assim, os sentimentos de afeição do bebê por sua mãe correspondem aos estados tranquilos do bebê, à experiência da intimidade, tornando-se equivalentes as expressões "amor tranquilo" ou "sentimentos de afeição". amor Recapitulando, iniciamos este item com a proposta de relacionar sexualidade e afetividade. Para começar a responder, abordamos a capacidade de estar só, que está intimamente ligadaà capacidade de estabelecer relações afetivas. Winnicott entende que a experienela de intimidade - o relacionamento com O ego -éo solo em que se desenvolve a capacidade de estar só, e, também, a amizade. Os sentimentos de afeição, inerentes à amizade, desenvolvem- se no contato íntimo com a m«e, quando se iniciam as primeiras os fenômenos transicionais. Esses sentimentos brincadeiras ginam-se por identificacão com 0s sentimentos mat correspondendo a um tipo de relacionamento" com a máe que n·o é determinado pelos impulsos instintivos. Entendemos, assim, que do ponto de vista de Winnicott, própria e não deriva dos instintos sexuais. a afeição tem uma raiz pr 126 { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Book", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Book", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Book", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Book", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false } { "type": "Document", "isBackSide": false }