Prévia do material em texto
Exercícios e Condições Especiais 02 1. Aspectos Clínicos e Diagnósticos dos Grupos Especiais 5 Cardiopatias 5 Tipos 5 Causas 6 Fatores de Risco 7 Sintomas 7 Diagnóstico e Exame 8 Em Adultos 8 Tratamento e Cuidados de Cardiopatia Congênita 9 Prevenção 9 Obesidade 9 Obesidade Infantil 10 Obesidade no Brasil 10 Tipos 10 Causas 11 Sintomas de Obesidade 13 Diagnóstico e Exames 13 Diagnóstico de Obesidade 13 Exames 14 Tratamento de Obesidade 14 Medicamentos para Obesidade 16 Diabetes 18 Tipos 18 Sintomas de Diabetes 21 Tratamento de Diabetes 23 Hipertensão 27 Pressão Alta na Gravidez 28 3 2. Particularidades e Benefícios do Exercício 35 Atividade Física e Diabetes 35 Avaliação da Macroangiopatia 47 Avaliação da Microangiopatia 47 Atividade Física na Gestação 50 Atividade Física na Terceira Idade 52 Programação da Atividade Física 56 Atividade Física e Obesidade 62 3. Parâmetros para Prescrição de Exercícios em Grupos Especiais 66 Fundamentos para Prescrição e Exercícios para Populações Especiais 66 Princípios Biológicos Para Prescrição e Orientação de Exercícios Físicos (EF) 66 Escalas de Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) 70 Prescrição Voltada Para Exercícios Intervalado 73 Treinamento com Pesos (TP) 73 Prescrição para Exercícios Contínuos (Caminhada e Corrida) 77 Corrida 78 Equivalente de Gasto Energético 79 Prescrição de Atividades em Grupos (Idosos) 79 4. Referências Bibliográficas 83 04 5 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS 1. Aspectos Clínicos e Diagnósticos dos Grupos Especiais Cardiopatias doença cardíaca congênita (cardiopatia congênita) é uma alteração na estrutura do seu cora- ção presente antes mesmo do nasci- mento. É um termo genérico utiliza- do para descrever alterações do co- ração e dos grandes vasos, presentes ao nascimento. Essas alterações ocorrem enquanto o feto está se de- senvolvendo no útero e pode afetar cerca de 1 em cada 100 crianças, segundo dados da American Heart Association. É a alteração congênita mais comum e uma das principais causas de óbito relacionados a malformações congênitas. Segundo dados da sociedade brasileira de cardiologia no Brasil nascem em torno de 23 mil crianças com problemas cardíacos. Dessas em torno de 80% necessitarão de alguma cirurgia cardíaca durante a sua evolução. Tipos As cardiopatias congênitas mais comuns incluem: • Alterações na válvula car- díaca: O problema mais comum no nascimento é a válvula aórtica bicús- pide. Ocorre quando ela ao invés de ser formada por três folhetos, é for- mada por dois. Podemos ter tam- A 6 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS bém o estreitamento (estenose) das válvulas um fechamento completo (atrésia), que impede ou dificulta o fluxo de sangue. Outras modifica- ções nas válvulas incluem válvulas com vazamento ou que não fecham adequadamente, permitindo assim que o sangue retorne, em vez de seguir seu fluxo (insuficiência); • Alterações nas paredes entre os átrios e ventrículos do coração levando aos shunts: furos ou passagens entre as câmaras direitas e esquerda do coração pro- vocando a mistura de sangue oxige- nado com sangue não oxigenado. Estas alterações podem provocar o fluxo de sangue da direita para es- querda ou no sentido inverso. Pode- mos ter a comunicação entre os átrios (CIA), comunicação entre os ventrículos (CIV), persistência do canal arterial (PCA) entre outras. Anormalidades no músculo cardíaco como má formação do ven- trículo direito, esquerdo e ventrículo único. Podemos ter também a com- binação, em um mesmo paciente, de mais de uma alteração. Causas O coração é dividido em qua- tro câmaras – duas do lado direito e duas do lado esquerdo. No desempe- nho de sua tarefa básica - bombear sangue por todo o corpo - o coração usa seus lados esquerdo e direito para diferentes tarefas. O lado direito do coração, re- cebe o sangue venoso rico em gás carbônico, proveniente dos tecidos, e será transportado para os pulmões através das artérias pulmonares. Nos pulmões, ocorrerá a hematose que é o processo em que o gás car- bônico será trocado por oxigênio, e em seguida, este sangue rico em oxi- gênio retornará para o lado esquer- do do coração através das veias pul- monares. O lado esquerdo do cora- ção bombeia o sangue através da aorta para o resto do corpo para que as células possam utilizar o oxigênio como combustível para o seu fun- cionamento. A maioria das alterações cardí- acas ocorre quando o bebê ainda está no útero. Durante o primeiro mês de gestação, o coração do feto começa a bater. Nesta altura, o coração é apenas um tubo com um for- mato que lembra vagamente um coração. Logo as estruturas se for- mam em ambos os lados do órgão, bem como os vasos sanguíneos que transportam o sangue. Geralmente é neste momento no desenvolvimento de um bebê que as alterações cardíacas podem co- meçar a desenvolver. Não se sabe ao certo o que causa a cardiopatia con- gênita, mas há suspeita de algumas condições: 7 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS As alterações genéticas ou cromossômicas na criança, como a síndrome de Down, que leva a uma incidência 8 x maior de desenvolver alguma cardiopatia Uso de certos medicamentos, álcool ou drogas durante a gravidez Infecção viral materna, como rubéola, no primeiro trimestre de gravidez O risco de ter uma criança com doença cardíaca congênita pode dobrar se um pai ou um irmão tem uma alteração cardíaca congênita. Fatores de Risco Alguns fatores de risco ambi- entais e genéticos podem desempe- nhar um papel no desenvolvimento da cardiopatia congênita. Eles in- cluem: Hereditariedade. Doenças cromossômicas, co- mo síndrome de Down, Sín- drome de DiGeorge, Síndrome de Marfan, Síndrome de Noo- nan, Trissomia 13 e Síndrome de Turner Rubéola durante a gravidez. Diabetes tipo 1 ou diabetes ti- po 2 na gravidez, que pode interferir com o desenvolvi- mento do coração. A diabetes gestacional geralmente não aumenta o risco de cardiopatia congênita. Tomar certos medicamentos durante a gravidez é conhe- cido por causar alterações congênitas, incluindo os cardí- acos. Alguns exemplos são o isotretinoína, para o trata- mento da acne, e lítio, utiliza- do para o tratamento de desordem bipolar O consumo de álcool e drogas durante a gravidez também pode contribuir para a cardio- patia congênita. Sintomas Sintomas de Cardiopatia con- gênita: Os sintomas de cardiopatia congênita podem não aparecer até mais tarde na vida. Eles também po- dem reaparecer anos depois de fazer algum tratamento para um proble- ma cardíaco. Os sintomas depende- rão também do tipo de má-for- mação apresentado pelo paciente. A cianose (pele com coloração azulada) aparecerá nas alterações que provocam shunt, ou seja, uma passagem anormal do sangue do lado direito do coração (rico em CO2), para lado esquerdo (rico em O2). Com isso teremos a entrada de sangue pouco oxigenado na circulação que vai para o corpo todo. Falta de ar; Pneumonias de repetição; Tosse; 8 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Sudorese ou cansaço para as mamadas (neonatal); Cansar rapidamente após exercício; Tonturas ou desmaios; Inchaço de tecido do corpo ou órgãos (edema), por disfunção do músculo cardíaco. Diagnóstico e Exame Em alguns casos, a cardiopatia congênita pode ser diagnosticada antes do nascimento, em exames pré-natais. Como: Ecocardiograma fetal Ecocardiograma Ultrassonografia. Se esse não for o caso, o médi- co ou médica pode suspeitar de um problema por ouvir um sopro cardí- aco durante um exame de rotina. Um sopro cardíaco é um som que ocorre quando o sangue fluide forma anormal através do coração ou dos vasos sanguíneos. Ecocardiograma; avalia o músculo cardíaco, as válvulas e a função do coração; Eletrocardiograma; identifica a presença de arritmias, bloqueios e sobre- cargas do coração; Radiografia de tórax; Além de conseguir avaliar o coração fornece informações também do pulmão; Oximetria de pulso; Identifica a presença de oxi- gênio no sangue; Tomografia cardíaca. Avalia a anatomia do coração, presença de outras anormalidades em outros órgãos associadas. Ressonância cardíaca; Avalia a função do coração, as válvulas, o músculo, a presen- ça de tumores e comunicações; Cateterismo cardíaco. Pode ser usado como diagnós- tico ou para correções de alterações. Na grande maioria das vezes o eco- cardiograma bem feito por um médico especialista na área, pode fornecer o diagnóstico. Nos casos em que ele não consegue fornecer as informações necessárias pode ser necessário o uso da tomografia ou da ressonância cardíaca. O cateterismo às vezes é necessário, pois pode dar uma visão muito mais detalhada do coração do que um ecocardiograma. Além disso, alguns procedimentos de tratamento da alteração congê- nita podem ser feitos durante o cateterismo cardíaco. Em Adultos Se o médico ou médica suspei- ta de cardiopatia congênita ou que sua alteração cardíaca congênita po- de ser a culpada para os problemas de saúde mais recentes, ele ou ela irá 9 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS realizar um exame físico, incluindo ouvir o seu coração com um estetos- cópio. Após os exames clínicos os métodos diagnósticos a serem utili- zados são os mesmos indicados para as crianças. Tratamento e Cuidados de Cardiopatia Congênita O tratamento da cardiopatia congênita depende do tipo e da gra- vidade. Alguns bebês têm cardiopa- tias leves, que curam por conta pró- pria com o tempo. Em outros casos, podem ser necessário tratamento medicamentoso ou exigir cirurgia cardíaca. Estas podem incluir: pro- cedimentos por cateter, cirurgias de peito aberto ou, nos casos mais graves, um transplante de coração. Prevenção Como a causa exata da maioria das cardiopatias congênitas é desco- nhecida, pode não ser possível evitar essas condições. No entanto, exis- tem algumas coisas que podem ser feitas para reduzir o risco de cardio- patia congênita: Tomar a vacina de rubéola; Controlar doenças crônicas, como diabetes; Evitar substâncias nocivas durante a gravidez. Obesidade A obesidade é o acúmulo de gordura no corpo causado quase sempre por um consumo excessivo de calorias na alimentação, superior ao valor usada pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades do dia a dia. Ou seja: a obesidade acontece quando a inges- tão alimentar é maior que o gasto energético correspondente. O excesso de gordura pode levar ao desenvolvimento de diabe- tes tipo 2, doenças do coração, pres- são alta, artrite, apneia e derrame. Por causa do risco envolvido, é im- portante perder peso mesmo se não estiver se sentindo mal. É difícil mu- dar seus hábitos alimentares e fazer exercícios. Mas, com o planejamen- to pode ser alcançado. Alguém que ingere mais calo- rias do que gasta, ganha peso. O que se come e as atividades que se faz ao 10 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS longo do dia influenciam nisso. Quem tem familiares obesos tem mais chances de também ser. Além disso, a família também ajuda na formação dos hábitos alimentares. A vida corrida também torna mais difícil planejar refeições e fazer alimentações saudáveis. Para mui- tos, é mais fácil comprar comidas prontas e comer fora. Não há solu- ções de curto prazo para a obesi- dade. O segredo para perder peso é ingerir menos calorias do que se gasta. Obesidade Infantil A obesidade infantil acontece quando uma criança está com peso maior que o recomendado para sua idade e altura. De acordo com o IBGE, atualmente uma em cada três crianças no Brasil está pesando mais do que o recomendado. As faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) de- terminadas para crianças são dife- rentes dos adultos e variam de acordo com gênero e idade. O excesso de peso pode ter consequências para as crianças até a sua vida adulta, mesmo que a obesi- dade seja revertida nesse período. Doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto são algumas conse- quências da obesidade infantil não tratada. A condição também pode levar a baixa autoestima e depressão nas crianças. Obesidade no Brasil Em 2015, o Brasil já tinha cer- ca de 18 milhões de pessoas conside- radas obesas. Somando o total de indivíduos acima do peso, o mon- tante chega a 70 milhões, o dobro de há três décadas. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa que revela que quase metade da popula- ção brasileira está acima do peso. Segundo o estudo, 42,7% da popula- ção estava acima do peso no ano de 2006. Em 2011, esse número passou para 48,5%. O levantamento é da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), e os dados fo- ram coletados em 26 capitais brasi- leiras e no Distrito Federal. Tipos A obesidade pode ser classifi- cada de diversas formas, por exem- plo, quanto ao tipo, sendo: Homogênea: É aquela em que a gordura está depositada de forma homogênea, tanto em membros superiores e inferio- res quanto na região abdo- minal 11 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Androide: É a obesidade em formato de maçã, mais carac- terística do sexo masculino ou é mulheres após a menopausa e nesse caso há um acúmulo de gordura na região abdominal e torácica, aumentando os ris- cos cardiovasculares Ginecoide: É a obesidade em formato de pera, mais caracte- rística do sexo feminino e nesse caso há um acúmulo de gordura na região inferior do corpo, se concentrando nas nádegas, quadril e coxas. Está associada a maior prevalência de artrose e varizes. Além disso, a obesidade pode ser classificada quanto o grau do IMC: Entre 25 e 29,9 kg/m² = Sobrepeso; Entre 30 e 34,9 kg/m² = Obesidade grau I; Entre 35 e 39,9 kg/m² = Obesidade Grau II; = 40 kg/m² = Obesidade Grau III. Pode ainda ser classificada como: Primária: quando o consumo de calorias é maior que o gasto energético Secundária quando é resul- tante de alguma doença. Causas Os motivos que podem causar a obesidade em geral são multi- fatoriais e envolvem fatores genéti- cos, ambientais, estilo de vida e fatores emocionais. A obesidade po- de às vezes ser atribuída a uma causa médica, como a síndrome de Prader- Willi, a síndrome de Cushing e ou- tras doenças. No entanto, esses dis- túrbios são raros e, em geral, as principais causas da obesidade são: Inatividade: quem não é muito ativo, não queima tantas calo- rias. Quem possui um estilo de vida sedentário, pode facil- mente ingerir mais calorias todos os dias do que com exercícios e atividades diárias normais Dieta não saudável e hábitos alimentares: O ganho de peso é inevitável pra quem come regularmente mais calorias do que queima. E a maioria das dietas dos americanos é muito rica em calorias e está cheia de fast food e bebidas de alto teor calórico Fatores de risco: Obesidade geralmente resulta de uma combinação de causas e fato- res contribuintes, incluindo 12 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Genética: Os genes podem afetar a quantidade de gordura corporal que se armazena e onde essa gordura é distri- buída. A genética também po- de desempenhar um papel na eficiência com que seu corpo converte alimentos em energia e como seu corpo queima calorias durante o exercício Estilo de vida familiar: A obesidade tende a correr emfamílias. Se um ou ambos os seus pais são obesos, o risco de ser obeso é aumentado. Isso não é só por causa da genética. Os membros da família ten- dem a compartilhar hábitos alimentares e de atividade semelhantes Inatividade: quem não é muito ativo, não queima tantas calo- rias. Com um estilo de vida sedentário, pode facilmente ingerir mais calorias todos os dias do que com exercícios e atividades diárias de rotina. Ter problemas médicos, como artrite, pode levar à diminui- ção da atividade, o que contri- bui para o ganho de peso Dieta não saudável: Uma dieta rica em calorias, carente de frutas e vegetais, cheia de fast food e carregada de bebidas hipercalóricas e porções gran- des contribui para o ganho de peso Problemas médicos: Em algu- mas pessoas, a obesidade pode ser atribuída a uma causa médica, como a síndrome de Prader-Willi, a síndrome de Cushing e outras condições. Problemas médicos, como ar- trite, também podem levar à diminuição da atividade, o que pode resultar em ganho de peso Medicamentos: Alguns medi- camentos podem levar ao ganho de peso se não com- pensar por meio de dieta ou atividade. Estes medicamen- tos incluem alguns antidepres- sivos, medicamentos anticon- vulsivos, medicamentos para diabetes, medicamentos anti- psicóticos, esteroides e beta- bloqueadores Idade: A obesidade pode ocor- rer em qualquer idade, mesmo em crianças pequenas. Mas à medida que se envelhece, mu- danças hormonais e um estilo de vida menos ativo aumen- tam o risco de obesidade. Além disso, a quantidade de mús- culo em seu corpo tende a diminuir com a idade. Esta menor massa muscular leva a uma diminuição do metabolis- mo. Essas mudanças também reduzem as necessidades de calorias e podem dificultar a manutenção do excesso de peso. Se não controlar consci- entemente o que come e se tornar mais ativo fisicamente com a idade, provavelmente ganhará peso. Gravidez: Durante a gravidez, o peso de uma mulher aumen- ta necessariamente. Algumas 13 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS mulheres acham difícil perder esse peso depois que o bebê nasce. Esse ganho de peso pode contribuir para o de- senvolvimento da obesidade em mulheres Parar de fumar: Parar de fumar é frequentemente asso- ciado ao ganho de peso. E para alguns, pode levar a ganho de peso suficiente para que a pessoa se torne obesa. No longo prazo, no entanto, parar de fumar ainda é um benefício maior para sua saúde do que continuar a fumar Problemas para dormir: Não dormir o suficiente ou dormir demais pode causar alterações nos hormônios que aumentam o apetite. Isso pode trazer tam- bém o desejo por alimentos ricos em calorias e carboi- dratos, o que pode contribuir para o ganho de peso. Substâncias químicas: Os des- reguladores endócrinos (DE) ou disruptores endócrinos são substâncias químicas são ca- pazes de exercer efeito seme- lhante ao de hormônios pre- sentes em nosso organismo. De acordo com pesquisa existe uma relação destas substân- cias com o ganho de peso e a obesidade Mesmo tendo um ou mais desses fatores de risco, isso não significa que está des- tinado a se tornar obeso. É possível neutralizar a maioria dos fatores de risco por meio de dieta, atividade física e exercícios e mudanças de com- portamento. Sintomas de Obesidade A obesidade não causa sinais e sintomas e sim manifestações decor- rentes da doença instalada que são cansaço, limitação de movimentos, suor excessivo, dores nas colunas e pernas. A obesidade é uma doença que se caracteriza pelo acúmulo exces- sivo de gordura no organismo e se diferencia principalmente pela gra- vidade e pela localização desse acú- mulo. O acompanhamento médico também é importante para, por exemplo, identificar alterações que possam contribuir para o ganho de peso. Lembrando que o tratamento da obesidade deve ser multipro- fissional. Diagnóstico e Exames Na consulta médica, especia- listas que podem diagnosticar a obesidade são: Clínico geral; Endocrinologista; Nutricionista. Diagnóstico de Obesidade 14 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS A obesidade é determinada pelo Índice de Massa Corporal (IMC) que é calculado dividindo-se o peso (em kg) pelo quadrado da al- tura (em metros). O resultado revela se o peso está dentro da faixa ideal, abaixo ou acima do desejado - revelando sobrepeso ou obesidade. Classificação do IMC: Menor que 18,5 - Abaixo do peso Entre 18,5 e 24,9 - Peso normal Entre 25 e 29,9 - Sobrepeso (acima do peso desejado) Igual ou acima de 30 - Obesidade. Cálculo do IMC: IMC=peso (kg) / altura (m) x altura (m) Exemplo: João tem 83 kg e sua altura é 1,75 m Altura x altura = 1,75 x 1,75 = 3.0625 IMC = 83 divididos por 3,0625 = 27,10 O resultado de 27,10 de IMC indica que João está acima do peso desejado (sobre- peso). Exames Os exames para o diagnóstico da obesidade geralmente incluem: Colesterol total e frações; Glicemia de jejum. Exames de sangue para ver- ificar se desequilíbrios hormo- nais. Tratamento de Obesidade O tratamento da obesidade é complexo e envolve várias especiali- dades da saúde. Não existe nenhum tratamento farmacológico em longo prazo que não envolva mudança de estilo de vida. Como a obesidade é provocada por uma ingestão de energia que supera o gasto do organismo, a for- ma mais simples de tratamento é a adoção de um estilo de vida mais saudável, com menor ingestão de calorias e aumento das atividades físicas. Essa mudança não só provo- ca redução de peso e reversão da obesidade, como facilita a manu- tenção do quadro saudável. a. Alimentação saudável 15 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Embora a correria do dia a dia dificulte a realização de uma alimentação saudável, peque- nas mudanças já podem fazer uma grande diferença na sua saúde: Invista nas frutas, legumes e vegetais; Prefiro alimentos integrais aos refinados; Evite alimentos como biscoi- tos, bolachas e refeições pron- tas. Elas são ricas em açúcar, sódio e gorduras – tudo o que sua filha ou filho não pode comer em exagero; Limite o consumo de bebidas adoçadas, incluindo os sucos industrializados. Essas bebi- das são muito calóricas e ofe- recem poucos ou nenhum nutriente; Reduza o número de vezes em que a família vai comer fora, especialmente em restauran- tes de fastfood; Muitas das opções do menu são ricas em gordura e calo- rias; Sirva porções adequadas; Prática de atividade física; Aumentar a prática de ati- vidade física ou é uma parte essencial do tratamento da obesidade. A maioria das pes- soas que conseguem manter a perda de peso por mais de um ano faz exercício físico regu- lar, mesmo que seja apenas caminhando. Para aumentar o nível de atividade; Fazer exercícios: pessoas com sobrepeso ou obesas precisam ter pelo menos 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada para evitar mais ganho de peso ou para manter a perda de uma quantidade modesta de peso. Para conseguir uma perda de peso mais significativa, é necessário se exercitar 300 minutos ou mais por semana. Provavelmente será preciso aumentar gradualmente a quantidade de exercícios à medida que sua resistência e aptidão melhoram; Caminhar mais: mesmo que o exercício aeróbico regular seja a maneira mais eficiente de queimar calorias e perder pe- so, qualquer movimento extra ajuda a queimar calorias. Fazer alterações simples ao longo do dia pode resultar em grandes benefícios. Estacionar mais longe das entradas das lojas, aprimorar suas tarefas domésticas, fazer jardinagem, levantar-se e mover-se perio- dicamente, e usar um pe- dômetro para acompanhar quantos passos se realmente toma ao longo de um dia; Infelizmente, é comum recu- perar o peso, independente- mentedos métodos de trata- mento da obesidade utiliza- dos. Quem toma medicamen- tos para perda de peso, prova- velmente irá recuperar o peso quando parar de tomá-los. É possível até mesmo recuperar 16 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS o peso após a cirurgia de perda de peso se continuar a comer demais ou abusar de alimentos altamente calóricos. Mas isso não significa que seus esforços de perda de peso sejam fúteis; Uma das melhores maneiras de evitar recuperar o peso que perdido é fazer atividade física regularmente, aproximada- mente 60 minutos por dia; Manter o controle de sua atividade física ajuda a ficar motivado e em curso. À medi- da que perde peso e melhorar a saúde, é importante consul- tar o médico sobre quais ati- vidades adicionais se pode fazer e, se apropriado, como estimular a atividade e exer- citar-se; É preciso estar atento ao peso. Manter uma dieta saudável e atividades físicas são as me- lhores maneiras de manter o peso que perdido a longo prazo. b. Medicamentos A utilização de medicamentos con- tribui de forma modesta e tempo- rária no caso da obesidade, e nunca devem ser usados como única forma de tratamento. Boa parte das subs- tâncias usadas atuam no cérebro e podem provocar reações adversas graves, como: nervosismo, insônia, aumento da pressão sanguínea, bati- mentos cardíacos acelerados, boca seca e intestino preso. Um dos riscos mais preocupantes dos remédios para obesidade é o de se tornar dependente. Por isso, o tratamento medicamentoso da obesidade deve ser acompanhado com rigor e restri- to a alguns tipos de pacientes. c. Cirurgias para Obesidade: Pessoas com obesidade mórbida e comorbidades, como diabetes e hi- pertensão, podem optar por fazer a cirurgia de redução de estômago pa- ra controlar o peso e sair da obesi- dade. Existem quatro técnicas dife- rentes de cirurgia bariátrica para obesidade reconhecidas pelo Conse- lho Federal de Medicina (CFM): Banda Gástrica Ajustável, Gastrec- tomia Vertical, Bypass Gástrico e Derivação Bileopancreática. A esco- lha da cirurgia dependerá do quadro do paciente, do grau de obesidade e das doenças relacionadas. Medicamentos para Obesi- dade Alguns dos medicamentos mais usados para o tratamento de problemas e sintomas relacionados à obesidade são: a. Cloridrato de sibutramina monoidratado: Somente um médi- co pode dizer qual o medicamento mais indicado para cada caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca 17 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não inter- rompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula. b. Prognóstico: A obesidade é uma doença crônica que pode ser tratada e controlada com a alimen- tação e prática de exercícios físicos, mas não tem cura. c. Complicações possíveis: A obesidade infantil aumenta o risco de uma série de condições, in- cluindo: Colesterol alto Hipertensão Doença cardíaca Diabetes tipo 2 Problemas ósseos Síndrome metabólica Distúrbios do sono Esteatose hepática não alcoólica Depressão Asma e outras doenças res- piratórias Condições de pele como bro- toeja, infecções fúngicas e acne Baixa autoestima Problemas de comporta- mento. Não se pode depositar as esperanças do tratamento da obesi- dade apenas no medicamento ou cirurgia, pois o resultado depende principalmente das mudanças nos hábitos de vida (dieta e atividade física) Com o tempo o medicamento para obesidade pode passar a perder o efeito. Se isso ocorrer, o médico deverá ser consultado e nunca se deve alterar a dose por conta própria Existem muitas propagandas irregulares de medicamentos para emagrecer nos meios de comunica- ção, por isso não se deve acreditar em promessas de emagrecimento rápido e fácil. Não se deve comprar medica- mentos para obesidade pela internet ou em academias de ginástica, pois muitos não são autorizados pelo Ministério da Saúde e podem fazer mal a quem utiliza. Clínicas e consultórios não podem vender medicamentos para obesidade. O paciente tem a liber- dade de escolher a farmácia de sua confiança para comprar ou manipu- lar o medicamento prescrito. Fórmulas de emagrecimento com várias substâncias misturadas são proibidas pelo Ministério da Saúde e já provocaram mortes. Para manter o peso dentro dos valores desejáveis e controlar a obesidade, a melhor opção é ter uma alimentação balanceada e praticar atividades físicas regularmente. 18 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS d. Prevenção: A estratégia pre- ventiva deve ter início no nascimen- to, reforçando que o leite materno é um fator de prevenção contra a obe- sidade e combatendo mitos de que a criança deve comer muito, mesmo quando está satisfeita e que crian- ça saudável é aquela com “dobrinhas”. As medidas de prevenção da obesi- dade são muito importantes especi- almente pela gravidade das conse- quências e incluem 2 fatores principais: 1. Adequação do consumo ener- gético, ou seja, é necessário consu- mir calorias que estejam de acordo com o gasto calórico e pra quem precisa perder peso é necessário um planejamento alimentar que prio- rize alimentos que deem mais sacie- dade e que tenham o valor calórico menor possível. 2. Incluir atividades físicas na ro- tina. Atualmente cerca de 80% da população é sedentária e muitos as- sociam as atividades de lazer a atividades de baixo gasto calórico, como ver televisão, jogar videogame, ficar no computador e isso é um fator relevante para desencadear a obesidade, em contrapartida, o exer- cício físico intenso ou de longa dura- ção tem efeito inibitório no apetite. Diabetes O diabetes é uma síndrome metabólica de origem múltipla, de- corrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos, cau- sando um aumento da glicose (açú- car) no sangue. O diabetes acontece porque o pâncreas não é capaz de produzir o hormônio insulina em quantidade suficiente para suprir as necessidades do organismo, ou por- que este hormônio não é capaz de agir de maneira adequada (resis- tência à insulina). A insulina promo- ve a redução da glicemia ao permitir que o açúcar que está presente no sangue possa penetrar dentro das células, para ser utilizado como fonte de energia. Portanto, se houver falta desse hormônio, ou mesmo se ele não agir corretamente, haverá aumento de glicose no sangue e, consequentemente, o diabetes. Tipos Diabetes tipo 1 No diabetes tipo 1, o pâncreas perde a capacidade de produzir insulina em decorrência de um de- 19 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS feito do sistema imunológico, fazen- do com que nossos anticorpos ata- quem as células que produzem a esse hormônio. O diabetes tipo 1 ocorre em cerca de 5 a 10% dos pacientes com diabetes. Pré-diabetes A pré-diabetes é um termo usado para indicar que o paciente tem potencial para desenvolver a doença, como se fosse um estado intermediário entre o saudável e o diabetes tipo 2 - pois no caso do tipo 1 não existe pré-diabetes, a pessoa nasce com uma predisposição ge- nética ao problema e a impossibili- dade de produzir insulina, podendo desenvolver o diabetes em qualquer idade. Diabetes tipo 2 No diabetes tipo 2 existe uma combinação de dois fatores - a dimi- nuição da secreção de insulina e um defeito na sua ação, conhecido como resistência à insulina. Geralmente, o diabetes tipo 2 pode ser tratado com medicamentos orais ou injetáveis, contudo, com o passar do tempo, po- de ocorrer o agravamento da doen- ça. O diabetes tipo 2 ocorre em cercade 90% dos pacientes com diabetes. Diabetes Gestacional É o aumento da resistência à ação da insulina na gestação, levan- do ao aumento nos níveis de glicose no sangue diagnosticado pela pri- meira vez na gestação, podendo - ou não - persistir após o parto. A causa exata do diabetes gestacional ainda não é conhecida, mas envolve meca- nismos relacionados à resistência à insulina. Outros tipos de diabetes Esses tipos de diabetes são de- correntes de defeitos genéticos asso- ciados a outras doenças ou ao uso de medicamentos. Podem ser: Diabetes por defeitos genéti- cos da função da célula beta Por defeitos genéticos na ação da insulina Diabetes por doenças do pân- creas exócrino (pancreatite, neoplasia, hemocromatose, fi- brose cística etc.) Diabetes por defeitos induzi- dos por drogas ou produtos químicos (diuréticos, corticoi- des, betabloqueadores, con- traceptivos etc.). 20 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS O exame de glicemia do jejum é o primeiro passo para investigar o diabetes e acompanhar a doença. Os valores normais da glicemia do je- jum ficam entre 70 e 99 mg/dL (mi- ligramas de glicose por decilitro de sangue). Estar um pouco acima des- ses valores indica apenas que o indivíduo está com uma glicemia no jejum alterada. Isso funciona como um alerta de que a secreção de insu- lina pode não estar normal, e o mé- dico deve seguir com a investigação solicitando um exame chamado cur- va glicêmica, que define se o paci- ente possui intolerância à glicose, diabetes ou então apenas um resul- tado alterado. O diabetes não passa de pessoa para pessoa. O que acontece é que, em especial no tipo 1, há uma propensão genética para se ter a doença e não uma transmissão co- mum. Pode acontecer, por exemplo de a mãe ter diabetes e os filhos nascerem totalmente saudáveis. Já o diabetes tipo 2 tem uma função multifatorial: é consequência de ma- us hábitos, como sedentarismo e obesidade, que também podem ser adotados pela família inteira – ex- plicando porque pessoas próximas tendem a ter a doença conjunta- mente, mas também tem propensão genética. Sabe-se que o Diabetes tipo 2 do adulto, que corresponde a 90% dos casos de Diabetes no mundo, tem causa multifatorial, ou seja, são muitos fatores que juntos desenca- deiam a doença. A vida sedentária, a tendência genética e principalmente o ganho de peso são as principais causas. O ganho de peso é decorrente do excesso de calorias ingeridas. Dessa forma, se a pessoa come açú- car a mais e acaba por isso ganhando peso, neste caso sim o açúcar é a causa do ganho de peso, que final- mente, pode levar ao Diabetes. Mas se a pessoa come pão em excesso, ou ba- tata, ou arroz, e devido a estas calorias fica acima do peso, também igualmente tem risco de desenvolver Diabetes. Não é o fato de comer espe- cificamente açúcar que causa Dia- betes, mas sim o fato de comer em excesso qualquer alimento que aca- be fazendo com que o peso da pessoa aumente. E, além do excesso de peso, é preciso juntar outros fatores, como sedentarismo e história fami- liar para daí sim, ter maior risco de desenvolver Diabetes. A aplicação de insulina não promove qualquer tipo de depen- dência química ou psíquica. O hor- mônio é importante para permitir a entrada de glicose na célula, tornan- do-se fonte de energia. Não se trata de dependência química e sim de ne- cessidade vital. O paciente com dia- 21 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS betes precisa da insulina para sobre- viver, mas não é um viciado na substância. Sintomas de Diabetes Os principais sintomas do diabetes são vontade frequente de urinar, fome e sede excessiva e ema- grecimento. Esses sintomas aconte- cem em decorrência da produção insuficiente de insulina ou da inca- pacidade de a insulina exercer ade- quadamente sua ação, causando as- sim um aumento da glicose no san- gue. Confira a seguir os sintomas característicos de cada tipo de diabetes. Principais sintomas do diabe- tes tipo 2 Pessoas com diabetes tipos 2 não apresentam sintomas iniciais e podem manter a doença assinto- mática por muitos anos. No entanto, devido a uma resistência à insulina causada pela condição de saúde é possível manifestar os seguintes sintomas: Fome excessiva; sede excessiva; infecções frequentes. Alguns exemplos são bexiga, rins e pele; Feridas que demoram para cicatriza; Alteração visual (visão emba- çada); Formigamento nos pés e furúnculos. Qualquer indivíduo pode ma- nifestar diabetes tipo 2. No entanto ter idade acima de 45 anos, apre- sentar obesidade ou sobrepeso e ter histórico familiar de diabetes tipo dois podem aumentar o risco de ter a doença. Sintomas do diabetes tipo 1 Pessoas com diabetes tipo 1 podem apresentar os seguintes sin- tomas: Vontade frequente de urinar Fome excessiva Sede excessiva Emagrecimento Fraqueza Fadiga Nervosismo Mudanças de humor Náusea e vômito. O diabetes tipo 1 pode ocorrer por uma herança genética em con- junto com infecções virais. A doença pode se manifestar em qualquer ida- de, mas é mais comum ser diagnos- ticada em crianças, adolescentes ou adultos jovens Sintomas do diabetes gesta- cional O diabetes gestacional, na ma- ioria das vezes, não causa sintomas e o quadro é descoberto durante os exames periódicos. No entanto, 22 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS devido ao aumento da glicemia durante a gravidez é possível ma- nifestar os seguintes sintomas: Sede excessiva Fome excessiva Vontade constante de urinar Visão turva. Qualquer mulher pode mani- festar o diabetes gestacional. No en- tanto, ter histórico familiar de dia- betes, excesso de peso antes da gravidez e ganho de peso durante a gestação podem favorecer o quadro. Sintomas do Pré diabetes O pré-diabetes é a situação clínica que precede o diagnóstico do diabetes tipo 2. Geralmente o pré- diabetes não é acompanhado de sintomas. Por isso é uma condição de saúde que muitas vezes não é diagnosticada. No entanto, se o indivíduo apresentar ganho de peso, ter casos de diabetes na família, ingerir uma dieta rica em alimentos hipercalóri- cos e for sedentário, é importante procurar orientação médica para in- vestigar como estão os níveis de gli- cose no sangue. Diagnóstico e Exames; Diagnóstico de Diabetes. O diagnóstico de diabetes normalmente é feito usando três exames: Glicemia de jejum A glicemia de jejum é um exa- me que mede o nível de açúcar no seu sangue naquele momento, ser- vindo para monitorização do trata- mento de diabetes. Os valores de referência ficam entre 70 a 99 mili- gramas de glicose por decilitro de sangue (mg/dL). O que significam resultados anormais: Resultados entre 100 mg/dL e 125 mg/ dL são considerados anormais próximos ao limite e devem ser repetidos em uma outra ocasião Valores acima de 140 mg/dL já são bastante suspeitos de dia- betes, mas também devendo ser repetido em uma outra ocasião, mas sempre é neces- sária uma avaliação médica. Hemoglobina glicada Hemoglobina glicada (HBA1C) a fração da hemoglobina (proteína dentro do glóbulo verme- lho) que se liga a glico- se. Durante o 23 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS período de vida da hemácia - 90 dias em média - a hemoglobina vai incor- porando glicose, em função da con- centração deste açúcar no sangue. Se as taxas de glicose estiverem altas duran- te todo esse período ou sofrer aumentos ocasionais, haverá neces- sariamente um aumento nos níveis de hemoglobina glicada. Dessa for- ma, o exame de hemoglobina glicada consegue mostrar uma média das concentrações de hemoglobina em nosso sangue nos últimos 3 meses. Os valores da hemoglobina glicadairão indicar se você está ou não com hiperglicemia, iniciando uma inves- tigação para o diabetes. Valores nor- mais da hemoglobina glicada: Para as pessoas sadias: entre 4,5% e 5,7% Para pacientes já diagnosti- cados com diabetes: abaixo de 7% Anormal próximo do limite: 5,7% e 6,4% e o paciente deve- rá investigar para pré-diabetes Consistente para diabetes: maior ou igual a 6,5%. Curva glicêmica O exame de curva glicêmica simplificada mede a velocidade com que seu corpo absorve a glicose após a ingestão. O paciente ingere 75g de glico- se e é feita a medida das quantidades da substância em seu sangue após duas horas da inges- tão. No Brasil é usado para o diagnóstico o exame da curva glicêmica simplificada, que mede no tempo zero e após 120 mi- nutos. Tratamento de Diabetes O tratamento de diabetes tem como objetivo controlar a glicose presente no sangue do paciente evi- tando que apresenta picos ou quedas ao longo do dia. Veja a seguir o tipo de tratamento para cada tipo de diabetes: Tratamento para diabetes tipo 1 O tratamento para o diabetes tipo 1 requer as seguintes medidas Aplicação de insulina: Os pacientes com diabetes tipo 1 necessitam de injeções diá- rias de insulina para mante- rem a glicose no sangue em valores normais. Para fazer essa medida é necessário ter em casa um glicosímetro, dispositivo capaz de medir a concentração exata de glicose no sangue. Além de prescrever injeções de insulina para baixar o açúcar no sangue, alguns médicos solicitam que o paciente inclua também medicamentos via oral em seu tratamento. Os medicamentos mais usados para tratar o diabetes tipo 1 são: Glifage Glifage Xr 24 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Metformina. Tratamento para Diabetes Gestacional O tratamento para mulheres que apresentam diabetes gestacio- nal visa diminuir os níveis de açúcar na corrente sanguínea da mãe, a fim de evitar que também prejudique o desenvolvimento do bebê. Veja a seguir como é o tratamen- to para o diabetes gestacional. Monitorização de bebês Mulheres que apresentem uma condição de diabetes gestacio- nal precisam observar como está o crescimento do bebê e desenvolvi- mento do bebê, com ultrassons e outros exames. Uso de medicamentos específicos Caso uma dieta acompanhada exercícios não seja suficiente, a gestante pode precisar de injeções de insulina para baixar o açúcar no sangue. Alguns médicos prescrevem também medicamentos via oral para controlar o açúcar no sangue. Tratamento para o diabetes tipo 2 Pessoas que apresentam dia- betes tipo 2 contam com práticas específicas no tratamento da condi- ção de saúde. Confira a seguir: Tratamento das comorbidades do Diabetes tipo 2: No geral, o diabetes tipo 2 vem acompa- nhados de outros problemas, como obesidade e sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados e hipertensão. Dessa forma, é importante consultar seu médico e cuidar tam- bém dessas outras doenças e proble- mas que podem aparecer junto com o diabetes tipo 2. Dessa forma, a pessoa com diabetes garante a sua saúde e consegue controlar todas as doenças com mais segurança. Medicamentos para tratar diabetes tipo 2. Entre os medicamentos que podem ser usados para controlar o diabetes tipo 2 estão: Tratamento para o Pré- diabetes Na maior parte dos casos o tratamento do pré-diabetes vai se iniciar com as orientações para mo- dificação de hábitos de vida: dieta com redução de calorias, gorduras saturadas e carboidratos, princi- palmente os simples, além do estí- mulo à atividade física. Em alguns casos, o médico responsável poderá optar, junto com o paciente, por iniciar tratamento com medicação para prevenir a evolução para o diabetes. 25 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Nos pacientes com pré-diabe- tes, se estão em sobrepeso ou obesi- dade, a perda de cerca de 5% a 7% do peso corporal já leva a uma melhora metabólica importante. Cigarro Diabetes e cigarro multiplicam em até cinco vezes o risco de infarto. As substâncias presentes no cigarro ajudam a criar acúmulos de gordura nas artérias, bloqueando a circula- ção. Consequentemente, o fluxo san- guíneo fica mais e mais lento, até o momento em que a artéria entope. Além disso, fumar também contri- bui para a hipertensão no paciente com diabetes. Saúde bucal A higiene bucal após cada refeição para o paciente com diabe- tes é fundamental. Isso porque o sangue dos portadores de diabetes, com alta concentração de glicose, é mais propício ao desenvolvimento de bactérias. Por ser uma via de entrada de alimentos, a boca acaba também recebe diversos corpos estranhos que, somados ao acúmulo de restos de comida, favorecem a proliferação de bactérias. Realizar uma boa escovação e ir ao dentista uma vez a cada seis meses é essencial. Medicamentos para Diabetes Somente um médico pode di- zer qual o medicamento mais indica- do para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e nunca se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a pres- crita, siga as instruções na bula. Em pacientes com diabetes, ocorreu hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue) durante a terapia com cloridrato de fluoxetina e hiper- glicemia (alta taxa de açúcar no sangue) após a suspensão do medi- camento. Portanto, a dose de in- sulina e/ou hipoglicemiante oral de- ve ser ajustada quando o tratamento com este medicamento for estabe- lecido e após a sua suspensão. Prognóstico Complicações possíveis Retinopatia diabética Lesões que aparecem na retina do olho, podendo causar pe- quenos sangramentos e, como consequência, a perda da acuidade visual. Arteriosclerose Endurecimento e espessa- mento da parede das artérias Nefropatia diabética Alterações nos vasos san- guíneos dos rins que fazem 26 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS com que ocorra uma perda de proteína pela urina. O órgão pode reduzir a sua função lentamente, mas de forma pro- gressiva até a sua paralisação total. Neuropatia diabética Os nervos ficam incapazes de emitir e receber as mensagens do cérebro, provocando sintomas, co- mo formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés e mãos, dores locais e desequilíbrio, enfra- quecimento muscular, traumatismo dos pelos, pressão baixa, distúrbios digestivos, excesso de transpiração e impotência. Pé diabético Ocorre quando uma área ma- chucada ou infeccionada nos pés de quem tem diabetes desenvolve uma úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e os níveis de glicemia são mal controlados. Qual- quer ferimento nos pés deve ser tra- tado rapidamente para evitar com- plicações que podem levar à ampu- tação do membro afetado. Infarto do miocárdio e AVC Ocorrem quando os grandes vasos sanguíneos são afetados, le- vando à obstrução (arteriosclerose) de órgãos vi- tais como o coração e o cérebro. O bom controle da glicose, a atividade física e os medicamentos que possam combater a pressão alta, o aumento do colesterol e a sus- pensão do tabagismo são medidas imprescindíveis de segurança. A incidência desse problema é de duas a quatro vezes maior em pessoas com diabetes. Infecções O excesso de glicose pode cau- sar danos ao sistema imunológico, aumentando o risco de a pessoa com diabetes contrair algum tipo de infecção. Isso ocorre porque os gló- bulos brancos (responsáveis pelo combate a vírus, bactérias etc.) fi- cam menos eficazes com a hipergli- cemia. O alto índice de açúcar no sangue é propício para que fungose bactérias se proliferem em áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local de incisão cirúrgica. Hipertensão Ela é uma consequência da obesidade - no caso do diabetes tipo 2 - e da alta concentração de glicose no sangue, que prejudica a circu- lação, além da arteriosclerose que também contribui para o aumento da pressão. Prognóstico Pacientes com diabetes devem ser orientados a: 27 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Realizar exame diário dos pés para evitar o aparecimento de lesões - vale à pena usar um espelho para visualizar as plantas dos pés todos os dias Manter uma alimentação saudável Utilizar os medicamentos prescritos Praticar atividades físicas Manter um bom controle da glicemia, seguindo correta- mente as orientações médicas. Prevenção Pacientes com história fami- liar de diabetes devem ser orien- tados a: Manter o peso normal Não fumar Controlar a pressão arterial Evitar medicamentos que po- tencialmente possam agredir o pâncreas Praticar atividade física re- gular. Hipertensão A hipertensão arterial sistê- mica (HAS) ou pressão alta é uma condição clínica multifatorial carac- terizada por níveis elevados e sus- tentados da pressão arterial (PA). Considerando-se valores de pressão arterial maiores ou iguais a 140/ 90mmHg. (1, 2 e 3) Dados da hipertensão no Brasil A última pesquisa que men- surou os dados da hipertensão em todo Brasil foi a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Nela foi detec- tada que 21,4% da população acima de 18 anos. Entre as mulheres, há um número maior com hipertensão (24,2%), enquanto entre os homens apenas 18,3% têm esse diagnóstico. Hipertensão you Além disso, esse diagnóstico au- menta com a idade: Entre 30 e 59 anos - 17,8% Entre 60 e 64 anos - 44,4% Entre 65 e 74 anos - 52,7% De 75 em diante - 55% Quando o seu coração bate, ele contrai e bombeia sangue pelas artérias para o resto do seu corpo. Esta força cria uma pressão sobre as artérias. Isso é chamado de pressão arterial sistólica. Há também a pressão arterial diastólica, que indica a pressão nas artérias quando o coração está em repouso, entre uma batida e outra. (1, 2 e 3). 28 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Classificação Os valores de pressão arterial em indivíduos acima de 18 anos classificam-se em (1, 2 e 3): Ótima: Pressão sistólica <120 _ TMPLITEM=»20» e Pressão diastólica <80 Normal: Pressão sistólica <130 e Pres- são diastólica: <85 Limítrofe:130-139 e Pressão diastólica: 85-89 Hipertensão estágio 1: Pressão sistólica: 140-159 e Pressão diastólica: 90-99 Hipertensão estágio 2: Pressão sistólica: 160-179 e Pressão diastólica: 100-109 Hipertensão estágio 3: Pressão sistólica: = 180 e Pressão diastólica = 110 Hipertensão sistólica isolada: Pressão sistólica: = 140 e Pressão diastólica: < 90. Pressão Alta na Gravidez A hipertensão pode aparecer durante a gravidez ou já ser uma característica da mãe desde antes. Em ambos os casos, pode trazer diversos riscos à gestante, pois a pressão alta altera o fluxo sanguíneo da placenta para o feto causando inúmeros transtornos que podem culminar com sérias complicações como a diminuição do aporte de oxigênio para o feto. Já no caso da mãe, o quadro pode desenvolver-se para a eclam- psia, quando ocorrem convulsões na hora do parto. Por isso é muito importante que a grávida acompa- nhe sempre essa taxa com seu médico. Ela também pode e deve tomar cuidados, como restringir o sal e controlar o peso. Para as mulheres que já tomavam medicamentos para controlar a pressão, podem ter que fazer troca de medicamento para não prejudicar a criança, mas tudo isso será avaliado pelo médico. Tipos A hipertensão pode ser dividi- da em três estágios, definidos pelos níveis de pressão arterial. Esses nú- meros, somados a condições relacio- nadas que o paciente venha a ter, como diabetes ou histórico de AVC, determinam se o risco de morte cardiovascular do paciente é leve, moderado, alto ou muito alto. Além disso, quanto mais alta a pressão arterial, maior a chance de o 29 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS paciente precisar usar medica- mentos (1, 2 e 3) Estágio I: hipertensão acima de 130 por 90 e abaixo de 160 por 100 Estágio II: hipertensão acima de 160 por 100 e abaixo de 180 por 110 Estágio III: hipertensão acima de 180 por 110. Causas A hipertensão normalmente é causada quando há uma resistência e endurecimento maior dos vasos sanguíneos para a passagem do sangue, o que necessita uma força maior do coração para o bom- beamento do sangue. Isso pode ser um processo natural do corpo, mas é aumentado com alguns dos fatores de risco listados abaixo: Fatores de risco A hipertensão é herdada dos pais em 90% dos casos. Em uma minoria, a hipertensão pode ser causada por uma doença relacio- nada, como distúrbios da tireoide ou em glândulas endocrinológicas, co- mo a suprarrenal. Entretanto, há vários outros fatores que influen- ciam os níveis de pressão arterial, entre eles (1, 2 e 3): Consumo de bebidas alco- ólicas Obesidade Idade Consumo excessivo de sal Gênero e etnia (maior em homens, e em indivíduos de cor não branca) Idade Sedentarismo Fatores de risco cardio- vasculares adicionais aos pacientes com Hipertensão: Tabagismo; Alteração dos níveis de colesterol toral e frações e triglicérides; Diabetes melito; História familiar prematura de doença cardiovascular: ho- mens<55 anos e mulheres <65 anos. Sintomas de Hipertensão Na sua maioria os pacientes hipertensos são assintomáticos, po- dendo ocorrer (1, 2 e 3): Dores no peito Dor de cabeça Tonturas Zumbido no ouvido Visão turva. Infelizmente, como a hiper- tensão só apresenta sintomas quan- do está mais avançada, as pessoas só suspeitam do quadro quando já apresentam alterações no organis- mo. Para fazer diagnóstico precoce precisamos que em todo o atendi- 30 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS mento de saúde, seja público ou privado, as pessoas tenham sua pressão arterial verificada. Você também pode medir a sua pressão arterial em casa com uso de aparelhos apropriados. Diagnóstico e Exames Especialistas que podem diag- nosticar hipertensão são: Clínico geral Cardiologista Cirurgião vascular. Diagnóstico de Hipertensão O diagnóstico de hipertensão é feito pela medida da pressão. A forma mais comum é a medida casual, feita no consultório com apa- relhos manuais ou automáticos. A hipertensão também pode ser diag- nosticada por aparelhos que fazem aproximadamente 100 medidas de pressão durante 24 horas. Hipertensão do jaleco branco Este é um evento que ocorre quando a medida da pressão é feita por um profissional de saúde que cause algum grau de ansiedade no paciente (geralmente um médico), então a pressão se eleva de forma desproporcional ao valor diário. O problema disso é que o médico, ven- do a pressão alta, aumenta a medi- cação. E esse paciente em casa sofre com efeito de overdose dos remédios que não são necessários no dia a dia. A forma de diferenciar a hiper- tensão do avental branco da hiper- tensão arterial verdadeira é utilizar um método de medida da pressão arterial fora do consultório, que pode ser a MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) ou a MRPA (Monitorização Residen- cial da Pressão Arterial). Exames O principal exame para iden- tificar a hipertensão é a medida da pressão arterial feita em consultório. Fora isso, outros exames po- dem ser feitos, como já explicadoacima, tais quais: MAPA (Monitorização Ambu- latorial da Pressão Arterial), nele você fica com um apa- relho que mede sua pressão por 24 horas, uma técnica usada para diferenciar hiper- tensão do jaleco branco da pressão alta comum MRPA (Monitorização Resi- dencial da Pressão Arterial), ou seja, a medida com o apa- relho que você tem em casa. Além disso, outros exames podem ser pedidos, principalmente se o paciente chegar ao médico com sintomas, para entender se a hiper- tensão já prejudicou algum órgão, como o coração. 31 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Como medir a pressão em casa corretamente: Para que a MRPA seja efici- ente, requer o seguinte passo a passo: Esteja em repouso por pelo menos dois minutos (ideal- mente cinco minutos) Fique na posição sentada Esteja de bexiga vazia (para evitar que a distensão de bexiga cause desconforto e eleve a pressão) Prefira momentos em que você ou a pessoa que está medindo a pressão esteja sem dor ou ansiedade extrema Posicione o braço na altura do coração, apoiado em alguma superfície Coloque o aparelho medidor nem muito apertado e nem muito solto, permitindo a entrada de um dedo Evite falar durante a medição Meça duas vezes, com 5 minutos de intervalo, para ter certeza da medida. Medidores de pressão alta em aplicativos funcionam? Hoje cada vez mais aplicativos prometem medir sua pressão com a colocação do dedo na câmera do celular ou identificador de digital. No entanto, a maioria dos médicos ainda é um pouco reticente com esse tipo de tecnologia, aguardando mais estudos que confirmem sua eficácia. Tratamento de Hipertensão A hipertensão não tem cura, mas tem tratamento para ser contro- lada. Somente o médico poderá determinar o melhor método para cada paciente, que depende das comorbidades e medidas da pressão. É importante ressaltar que o trata- mento para hipertensão se inicia a mudança do estilo de vida (MEV) associado ou não a medicamentos: Manutenção do peso adequa- do, se necessário, mudando hábitos alimentares Não abusar do sal, utilizando outros temperos que ressal- tam o sabor dos alimentos Praticar atividade física regular Aproveitar momentos de lazer Abandonar o fumo Moderar o consumo de álcool Evitar alimentos gordurosos Controlar o diabetes e outras comorbidades. Tipos de medicamento contra pressão alta Existem diferentes classes de drogas para reduzir a PA, que agem em mecanismos distintos. O trata- mento da hipertensão deve ser individualizado. A depender do per- fil do paciente hipertenso, algumas classes podem ser mais adequadas que outras. Também é importante ressaltar que muitas vezes se faz 32 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS necessário associar classes de medicações com mecanismos distin- tos, pois essa estratégia possibilita uma maior efetividade no controle da pressão arterial e na proteção cardiovascular. Fonte: Tua Saúde Entre os medicamentos usa- dos para controlar a PA estão: Inibidor da enzima conversora da angiotensina: eles impe- dem a angiotensina I de se converter em angiotensina II, essa última responsável pelo aumento da pressão arterial Antagonistas dos receptores da angiotensina (ARA): blo- queia a ação da angiotensina II em um dos receptores que ale atua Betabloqueadores: agem no sistema nervoso simpático, que tem como uma das fun- ções reagir ao estresse. Diuré- ticos: aumentam a excreção de água e sódio do organismo e também tem ação vasodila- tadora, reduzindo a pressão sanguínea Antagonistas de cálcio: eles bloqueiam a ação do canal de cálcio com consequente dila- tação das artérias. Esse é um dos grandes pro- blemas no tratamento da hiperten- são. A falta de adesão ao tratamento e o conceito de que uma vez que a pressão arterial esteja controlada, a medicação pode ser suspensa. Um paciente hipertenso que suspende a sua medicação está sujeito aos riscos de uma elevação súbita da pressão em algumas situa- ções, como no estresse, além dos riscos crônicos que os níveis pressó- ricos elevados provocam (AVC, In- farto Agudo do Miocárdio, Doença Renal Crônica e Insuficiência Cardíaca). Somente um médico pode di- zer qual o medicamento mais indi- cado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula. Prognóstico A hipertensão arterial primá- ria não tem cura, mas tem um exce- lente controle através de tratamento 33 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS medicamentoso e mudanças no esti- lo de vida. Alguns casos de hiper- tensão arterial são secundários a uma outra doença ou a algum fár- maco ou droga, e esses casos podem ser curados. As principais complicações da hipertensão são AVC, por infarto agudo do miocárdio ou doença renal crônica. Além disso, a hipertensão pode levar a uma atrofia do músculo do coração, causando arritmia cardíaca. É importante ressaltar que qualquer combinação de fatores de risco é sempre muito mais grave, pois o risco das comorbidades é multiplicado. Em média, uma pes- soa com hipertensão que não con- trola o problema terá uma doença mais grave daqui 15 anos. Dieta para controlar a pressão alta Visando o tratamento da hi- pertensão, foi criada nos Estados Unidos a Dieta Dash, sigla em inglês para Abordagem Dietética para Pa- rar a Hipertensão. A dieta DASH tradicional cos- tuma indicar algumas mudanças na quantidade de alimentos: Redução do sódio para 1.500 a 2.300 mg ao dia para quem tem hipertensão, e entre 2.000 e 3.000 mg para quem não tem Diminuição da quantidade de gorduras saturadas para entre 6% e 10% das calorias consumidas ao dia (ou seja, se sua die- ta é 1.500 calorias, só consumir 90 a 150 calorias provenientes deste tipo de gordura) Limitação do consumo de colesterol para 300 mg no caso de quem é saudável e 150 mg para quem já tem hipertensão. 3 4 35 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS 2. Particularidades e Benefícios do Exercício Atividade Física e Diabetes tividade física (qualquer movi- mento corporal produzido por ação muscular que aumenta o gasto energético) é necessária para sobre- vivência e saúde. Porém, dados epi- demiológicos revelam que a maioria dos indivíduos não realiza nível de atividade física desejável para pro- mover saúde. Comportamento sedentário favorece o acúmulo de gordura cor- poral, associando-se, portanto, a várias doenças crônicas como o DM2 e outros componentes da sín- drome metabólica (SM) (figura 1), que elevam a mortalidade espe- cialmente cardiovascular. Apesar das doenças associadas à inatividade física e à obesidade serem importantes problemas de saúde pública mundiais, também há amplas evidências de que mudanças no estilo de vida são eficazes na prevenção especialmente do DM2. A dificuldade encontra-se em trans- formar esta evidência científica em sustentadas alterações comporta- mentais nos indivíduos. Estes atri- buem seu comportamento sedenta- rio à falta de tempo para participar regularmente de programas de exer- cício; sob a perspectiva ambiental, facilidades físicas e tecnológicas do mundo moderno contribuem consi- deravelmente para redução do gasto energia de populações. A 36 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS As consequências desta reali- dade na maioria dos continentes têm sido constatadas não apenas nos adultos de risco ou portadores de DM2, mas também em crianças e jovens. Em fases mais precoces da vida,o ganho excessivo de peso tem contribuído para o surgimento mais pre- coce do DM2, ao mesmo tempo que se torna um agravante do con- trole metabólico naqueles jovens já portadores de DM1. Aspectos fisiológicos do exer- cício e particularidades no DM Entende-se por exercício qualquer atividade física planejada e estrutu- rada que gera respostas agudas e crônicas no organismo, requerendo adaptações funcionais e morfológi- cas. O exercício aeróbio consiste de movimentos contínuos, repetidos e rítmicos de grandes grupos muscu- lares por no mínimo 10 minutos. São exemplos caminhada, corrida, nata- ção e ciclismo; quando praticados na intensidade, frequência e período de treinamento adequados ocorre me- lhora do condicionamento físico. O treinamento de força – também co- nhecido como anaeróbio – usa a for- ça muscular para mover um peso contra resistência. São exemplos os exercícios com halteres ou aparelhos de musculação. Se bem planejado e realizado regularmente aumenta o condicionamento muscular genera- lizado. Para otimizar os efeitos do exercício em longo prazo o ideal é que se submeta a um programa combinado de exercícios aeróbios e de força, que trazem benefícios complementares. Durante as atividades físicas há aumento no consumo de oxigênio e glicose, especialmente na mus- culatura esquelética. Para atender à demanda aumentada de energia, o músculo lança mão de seus estoques de glicogênio e triglicérides, além da glicose liberada do fígado e de ácidos graxos oriundos do tecido adiposo. O cérebro e outros órgãos vitais ne- cessitam que a glicemia seja man- tida estável para preservar suas funções durante esta prática. Fisio- logicamente, há queda na insuli- nemia e o glucagon é necessário para produção hepática de glicose. No exercício prolongado as elevações do glucagon e catecolaminas são essen- ciais para estabilidade glicêmica. Em indivíduos com deficiência de insulina pode haver liberação exces- siva destes hormônios contrarregu- ladores da insulina, determinando hiperglicemia e até mesmo elevação da cetonemia. Por outro lado, a administração exógena de insulina pode atenuar ou mesmo impedir a necessária mobilização de glicose e outros substratos energéticos na atividade física, causando hipo- glicemia. 37 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS No DM tipo 1 e 2 a indicação da atividade física como integrante do esquema terapêutico exige, por parte da equipe de saúde, conhe- cimento sobre os riscos e benefícios desta prática, situação na qual pro- cessos fisiológicos e adaptações hor- monais não estão completamente preservados. As orientações para atividade física devem ser individua- lizadas, considerando o tipo de DM, idade do indivíduo, objetivos do programa de atividade física, pre- sença de descompensação glicêmica, complicações crônicas e comorbi- dades. Pode haver necessidade de incluir na equipe um profissional co- nhecedor de fisiologia do exercício. Atividade física não é isenta de riscos os quais devem ser ponde- rados no momento da sua reco- mendação. Exercícios, em particular os de resistência, podem elevar abruptamente a pressão arterial e desencadear eventos macro ou mi- crovasculares, enquanto que ativi- dades de impacto podem provocar lesões em membros inferiores espe- cialmente nos neuropatas. Avaliação clínica cuidadosa combinada a exa- mes subsidiários minimizam as consequências adversas. No DM2 e SM que tem a resis- tência à insulina (RI) como elo fisio- patológico comum, o papel da ativi- dade física e exercício para proteção cardiovascular está amplamente documentado. A gradual redução da sensibilidade à insulina que ocorre com o avançar da idade se deve em parte à falta de atividade física, que, por sua vez, contribui para deposi- ção intraabdominal de gordura. A resistência tecidual à ação deste hormônio compromete a transloca- ção dos transportadores de glicose (GLUT) para a superfície celular e, consequentemente, a captação da glicose. A RI do indivíduo com DM2 ou SM tem origem multifatorial e hoje se sabe que atividade física e exercício melhoram diversos meca- nismos capazes de favorecer a cap- tação da glicose. Dessa forma, esta prática representa estratégia valiosa para redução do risco cardiovascular global destes indivíduos. Importância e orientação da atividade física no DM Qualquer atividade física asso- cia-se a gasto energético, uma vez que a musculatura esquelética utili- za combustível para sua contração. No repouso, a principal fonte de energia resulta da oxidação dos ácidos graxos livres. No início do exercício, os carboidratos assumem maior importância como fontes efi- cazes de produção energética. A con- tribuição percentual dos carboidra- tos como fonte primária de energia para contração muscular se eleva à medida que aumenta a intensidade 38 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS do exercício. No entanto, em exer- cícios de longa duração os ácidos graxos livres passam a ser o subs- trato energético preferencial. O principal mecanismo res- ponsável pela captação de glicose pelas células depende da ligação da insulina ao seu receptor, desencade- ando uma cascata de reações intra- celulares que culminam com a trans- locação de GLUT para a superfície celular. Os GLUT-4 são os principais responsáveis pela captação da gli- cose circulante na maioria dos teci- dos em humanos. É sabido que atividade física induz aumento da captação de glicose, mas que os me- canismos responsáveis por este be- nefício não dependem principal- mente da via da PI3-kinase da sinalização insulínica. Além disso, a prática regular de atividade física traz efeitos benéficos não apenas ao metabolismo glicídico, mas também lipí- dico, favorecendo a redução da glicemia e aumento das concen- trações de HDL-c. O conhecimento sobre os mecanismos pelos quais atividades físicas melhoram a sensibilidade à insulina, especialmente na muscu- latura esquelética, sofreu considera- veis avanços. Tanto a in- sulina como atividades físicas mobilizam os GLUT-4 para membrana plasmá- tica para promover captação de gli- cose com consequente queda na sua concentração sanguínea. Porém, é importante salientar que o efeito da atividade física ocorre por via independente da ligação da insulina ao seu receptor. O sinal do exercício se inicia com a liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático, ativando a seguir outros sinaliza- dores. Tal conhecimento é relevante especialmente para o DM2, de- vido à resistência na transmissão do sinal insulínico. Em indivíduos normais o au- mento na captação de glicose decor- rente do exercício determina redu- ção dos níveis circulantes de insu- lina e elevação dos níveis de gluca- gon, efeitos estes que servem para garantir o fornecimento de glicose pela quebra do glicogênio hepático durante esta prática, impedindo a queda exagerada da glicemia. Para indivíduos com DM1, dependentes de insulina exógena, manterem es- tabilidade glicêmica é fundamental que o aporte energético esteja ade- quado ao grau de insulinização. Para tanto se faz necessária frequente monitorização glicêmica em vários momentos do dia e ajustes de doses. Conhecendo os diferentes padrões de variação glicêmica frente a varia- das atividades físicas poder-se-á adequar a quantidade de insulina ao plano alimentar. Vale lembrar que outras variáveis estão presentes nesta equação que dificultam que o 39 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS indivíduo em insulinoterapia prati- quem exercícios isentos do risco de hipoglicemia e hiperglicemia. Quando o exercício é realizado por indivíduo bem controlado, isto é, adequadamente insulinizado, ob- têm-se os benefícios de redução da glicemia pela captação de glicose pelas célulasmusculares. Já o indi- víduo diabético mal controlado, sem insulina suficiente para manter a gli- cemia próxima do normal, quando submetido a esforço físico, pode ter seu estado hiperglicêmico agravado ou mesmo desenvolver cetose. Dessa forma, não é recomendado exercício mesmo que moderado ou inten- so a indivíduos com DM1 em situações de insulinopenia, pois o organismo não ape- nas deixará de se beneficiar desta prática, como poderá acentuar a descompensação metabólica. Para que seja realizado de forma segura, a glicemia capilar pré-exercício deve ser inferior a 250 mg/dL e sem ceto- núria. Valores elevados de glicemia ou cetonemia denotam hipoinsulini- zação, condição inadequada à práti- ca de exercício. Importante lembrar que o jejum prolongado fisiologica- mente pode desencadear cetonúria, a qual, nesta circunstância, não re- presenta contraindicação ao exercí- cio desde que o indivíduo receba aporte calórico adequado. Cetonúria de jejum deve ser lembrada para que não haja erro de interpretação e prejuízo da eventual atividade física. São inúmeros os benefícios atribuídos à atividade física regular- mente praticada (quadro 1), valendo ressaltar que o condicionamento físico contribui para redução da pressão arterial, melhora da função endotelial e do perfil lipídico. Em crianças e adolescentes, é funda- mental para o crescimento e desen- volvimento normais, o que torna imperioso o conhecimento das im- plicações do exercício no controle do DM1 nesta faixa etária. Apesar destes benefícios, estu- dos que avaliam o papel do exercício para es- tabilidade glicêmica não são animadores. Em diversos estudos, a atividade física não tem sido relacio- nada à melhora sustentada do con- trole glicêmico no DM1. Porém, o uso de bombas de infusão ou os esquemas de múltiplas doses com análogos de insulinas têm possibi- litado melhora desta realidade. De qualquer forma, inúmeras vanta- gens associadas à atividade física, tornando estes indivíduos mais dis- ciplinados em razão desta prática, e o perfil de risco cardiovascular mais favorável, asseguram sua indicação no DM1. Dentre as consequências inde- sejadas decorrentes da atividade fí- sica, a mais frequente é a hipo- glicemia, sendo os indivíduos bem 40 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS controlados os mais susceptíveis. Os episódios hiperglicêmicos podem surgir durante, logo após ou mesmo horas depois do término do exer- cício. Estes decorrem de uma com- binação de fatores incluindo ativi- dade exagerada e excesso relativo de insulina circulante em relação ao aporte alimentar. Os efeitos molecu- lares, promotores da captação de glicose, se mantêm por tempo mais prolongado. Havendo depleção acentuada das reservas de glico- gênio muscular durante a atividade física, a presença de insulina circu- lante determina direcionamento da glicose para a recomposição dos es- toques musculares, bem como blo- queio da glicogenólise hepática. Recomendações para a prática de exercício no DM1 Apesar dos programas de exer- cício isoladamente não se associa- rem à estabilização do controle glicêmico de indivíduos com DM1, evidências de melhora do perfil de risco cardiovascular, esqueléticas e psicológicas. Porém, é fundamental que estes indivíduos sejam previa- mente avaliados e orientados ao iniciar um programa de exercício. A presença de complicações crônicas (macroangiopatia, retinopatia, ne- fropatia e neuropatia) pode se cons- tituir em contraindicação a esta prática. A principal recomendação pa- ra o sucesso de um programa de atividade física é que seja coerente com seu estilo de vida individual. O médico deverá recorrer ao educador físico e de outros membros de uma equipe multiprofissional para envol- ver o paciente na conscientização e escolha realista das modalidades de atividade física a serem praticadas. Uma vez definidos os tipos de atividade física que trarão maior satisfação e adaptação ao cotidiano, há orientações que são comuns a todos os indivíduos com DM1. Considerando-se as limitações da insulinoterapia no que diz res- peito à variabilidade diária dos seus efeitos hipoglicemiantes, é funda- mental que o indivíduo conheça as variáveis que interferem no seu caso em particular. Embora as recomen- dações para o exercício tenham que ser individualizadas, orientações re- 41 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS lativas à frequência de monitori- zação da glicemia, adequação da ingestão de nutrientes, modificações nas doses de insulina e escolha do local de aplicação diante do tipo de atividade física devem ser lembra- das. A resposta glicêmica ao exercí- cio varia de modo considerável de indivíduo para indivíduo e de uma atividade para outra. É essencial que indivíduos com DM1 monitorem sua glicemia antes, durante e após essa prática e que realizem ajustes na die- ta e no esquema de insulina com base nestas informações, minimi- zando, dessa forma, o risco de hipoglicemia. O uso de bombas de infusão, acopladas a sensores de glicose tem permitido que pratican- tes de exercícios, mesmo os vigoro- sos, mantenham estabilidade glicê- mica bastante satisfatória. Sempre que possível, o exercí- cio deve ser realizado após refeições (uma a duas horas), que, entre ou- tras vantagens, atenua a hipergli- cemia pós-prandial 100. O consu- mo rotineiro de carboidratos extras previamente à prática deve ser desa- conselhado, pois contribui para au- mento de peso. O ajuste da dose de insulina, precedendo a prática, tem nítida vantagem sobre a ingestão de calorias extras. Porém, se houver hi- poglicemia ou mesmo níveis nor- mais-baixos de no início do exercí- cio, a suplementação de carboi- dratos é recomendada. A magnitude da redução da dose de insulina deverá variar com a duração e a intensidade do exercício, tipo de insulina, momento do dia em que será realizado e ainda com a sensi- bilidade individual aos efeitos hiper- glicêmicos do exercício. Nesse senti- do, os resultados da monitorização são fundamentais para orientar os ajustes necessários nas doses de in- sulina. Deve ser lembrado que exer- cício extenuante de curta duração não raramente causa hiperglicemia. O uso de alimentos extras (por exemplo, lanche ao deitar) nos dias de grande atividade física pode ter indicação para se evitar hipogli- cemia tardia. Em geral, para exercício reali- zado próximo à hora do almoço por indivíduos em uso de insulina de ação intermediária (NPH ou lenta), a dose matinal deve ser reduzida ao redor de 30% (10). Reduções da or- dem de 50% podem ser necessárias em insulinas rápidas ou ultrarrá- pidas, na dependência do tipo, in- tensidade e duração do exercício. Quanto às insulinas ultralentas, evi- dências indicam que a atividade física não causa impacto relevante na sua absorção no subcutâneo. Não existem dúvidas de que o controle intensivo do DM com o uso de bomba de infusão ou múltiplas doses diárias de insulina pos- sibilita 42 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS maior flexibilidade nos ajustes de doses e menor risco de hipoglicemia. Nes- tes casos, o basal e os bolus pré- prandiais devem ser ajustados de acordo com a ex- periência pessoal indivíduo diabético, sob supervisão do médico. Frequentemente serão necessários ajustes na velocidade basal de infusão de insulina para indivíduos em uso de bomba ou em regime de múltiplas doses (basal- bolus), evitando-se, assim, hipogli- cemia tardia noturna nos dias de prática de atividade física mais intensa. A absorção de insulina pode ser acelerada se aplicada no membro que está sendo exercitado precipi- tando hipoglicemia. Além da escolha do local de aplicação, outro cuidado na prevenção de episódios hiper- glicêmicos é o uso de técnica ade- quada naadministração de insulina. O uso de agulhas mais longas em indivíduos com tecido celular subcu- tâneo delgado pode resultar em inje- ções intramusculares, acelerando a absorção da insulina. Esta intercor- rência pode ocorrer mais frequente- mente em crianças ou indivíduos magros. No DM1, pode ocorrer com- prometimento da resposta fisiológi- ca à demanda energética aumentada no músculo em exercício. Nessa situação, frente a níveis insulina bem baixos ou bem altos de in- sulina, pode ocorrer hiperglicemia intensa ou hipoglicemia, respectiva- mente. Portadores de DM2 em terapia insulínica poderão ter de apresentar respostas semelhan- tes. O desafio é aprender a adequar a alimentação e terapia insulínica para permitir uma participação se- gura em atividades físicas, progra- madas e não programadas, obtendo os maiores benefícios com mínimos efeitos adversos. Não é possível fazer recomendações amplamente aplica- veis no DM, mas algumas estratégias podem auxiliar na prevenção de complicações, servindo de ponto de partida na busca do esquema ideal. Os registros dos valores da glicemia e dos alimentos ingeridos ajudam a determinar um padrão de resposta ao exercício que será útil para adap- tar as refeições ou a insulina à hora e à quantidade de exercício plane- jada. Para indivíduos que se exer- citam habitualmente, o planejamen- to da refeição e a dose de insulina correspondente podem ser baseados nos padrões de atividade habitual. Contudo, para aqueles que se exer- citam esporadicamente, 2 estraté- gias são viáveis: antever a atividade física e ajustar a dose de insulina ou aumentar a ingestão alimentar. O tipo e a quantidade de alimentos necessários para evitar a hipoglicemia dependerão, particu- larmente, da intensidade e duração 43 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS do exercício. Se o exercício é de curta duração, muitas vezes é melhor evitar consumir alimentos extras até o término do exercício e, somente após a verificação da glicemia, pode- se determinar se e quanto de carbo- idrato extra é necessário. A escolha do momento para a prática de ati- vidade física deve levar em consi- deração os supostos níveis de insu- linemia para prevenir variações in- desejáveis da glicemia durante o exercício. A atividade física realiza- da à tarde ou no início da noite aumenta o risco de hipoglicemia no- turna. Quando isso ocorre, a inges- tão de carboidratos adicionais faz-se necessária antes de deitar e, caso a glicemia se mantenha baixa, deve-se repetir o procedimento durante a noite. A monitorização dos valores glicêmicos uma hora antes da ativi- dade física pode auxiliar na decisão dos ajustes na alimentação ou na insulina. Se a glicemia estiver até 100 mg/dL antes do exercício, um lanche prévio é recomendável. Se entre 100 e 150 mg/dL, o exercício pode ser feito e, se necessário, com um lanche após. Se a glicemia esti- ver em 250 mg/dL, deve-se avaliar a cetonemia. Níveis elevados antes do exercício requerem que insulina seja administrada para corrigir a subin- sulinização. Nem sempre é possível anteci- par a necessidade de alteração de dose frente a atividades não planejadas, especialmente crianças. Nesse caso, a ingestão de carboidra- tos pode ter grande importância pa- ra evitar a hipoglicemia. A absorção e a disponibilidade de substrato energético podem ser aceleradas se for carboidrato simples (suco de frutas ou outros). Por outro lado, os carboidratos complexos, de absor- ção lenta, são mais úteis para re- duzir o risco de hipoglicemia mais tardia, sendo de particular impor- tância, quando o exercício é reali- zado ao entardecer ou anoitecer de- vido ao risco de hipoglicemia no- turna. Não há um tipo de exercício mais indicado para o DM1. Prati- camente todas as formas de ativi- dade física podem ser realizadas pe- lo indivíduo diabético, adequadas às suas preferências e possibilidades. Ênfase deve ser dada ao ajuste do esquema terapêutico, permitindo a participação segura, principalmente de crianças e jovens. A experiência dos diferentes profissionais envolvi- dos na promoção da atividade física revela que, levando-se em conta as características individuais, a es- colha da modalidade que mais bem- estar traz ao indivíduo é aquela que tem a maior chance de ser susten- tada em longo prazo. 44 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Importância da atividade física e exercício no DM2 É de longa data a constatação de que a inatividade física se associa a risco cardiovascular, em parte por contribuir para aumentar a adipo- sidade corporal. Mais recentemente, dados da União Europeia sugerem que a redução do gasto energético especialmente no lazer pode ser o maior determinante da atual epide- mia de obesidade. O impacto deletério do seden- tarismo no risco cardiovascular foi sedimentado por estudos epidemio- lógicos conduzidos em Framingham no século passado. Outras coortes mostraram que indivíduos mais ativos, independente do índice de massa corporal (IMC) no início do período de seguimento, tiveram me- nores incidências de DM, enquanto os inativos apresentaram maior morbimortalidade cardiovascular. Mais recentemente, verificou-se que baixos níveis de atividade física e de condicionamento cardiorrespirató- rio são preditivos do conjunto de manifestações da SM. Apesar do reconhecido papel protetor da atividade física para diversas doenças, em especial as metabólicas e cardiovasculares, não raramente indivíduos deixam de ter tais benefícios por entender que só seriam obtidos por meio de exer- cícios programados, como aqueles ofere- cidos em clubes ou academias de ginás- tica. Atividades físicas não programadas rotineiras – como andar e subir escadas – podem trazer grandes benefícios à saúde, particularmente daqueles portado- res de SM. O Surgeon General’s Report on Physical Activity and Health recomenda que indivíduos acumulem 30 minutos de atividade física moderada na maior parte dos dias da semana. Recentemente, fo- ram comparados os efeitos de trei- namento intervalado de alta inten- sidade em indivíduos com excesso de peso com exercícios aeróbios con- tínuos. Verificou-se que apenas o treinamento aeróbio contínuo con- feriu redução da gordura troncular. Os benefícios, em grande parte, são atribuídos às modifica- ções hemodinâmicas e na composi- ção corporal, que resultam em me- lhora na ação da insulina. Apesar da 45 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS intensificação da atividade física poder provocar perda ponderal a qual per se potencializa benefícios metabólicos e cardiovasculares, tais efeitos independem da redução da adiposidade corporal. Intervenção comportamental, incluindo exercí- cio isolado ou combinado a um pla- no dietético para perda de peso, mostrou que o aumento do consumo máximo de oxigênio e a redução de peso independentemente contribuí- ram para melhorar a sensibilidade à insulina. Os mecanismos responsá- veis por esta melhora devem ser distintos e sinérgicos. O exercício aumenta a sensibilidade à insulina por alterar enzimas oxidativas, de- terminando a translocação de GLUT-4 para membranas celulares no músculo. O importante, do ponto de vista prático, é que existem hoje amplas evidências do papel protetor da combinação atividade física e perda de peso, particularmente na progressão ao DM2 em indivíduos de alto risco. Além disso, no DM2 os reconhecidos benefícios sobre o perfil cardiometabólico decorrente da atividade física fizeram com que esta integrasse definitivamente os es- quemas terapêuticos. Inatividade física tem sido as- sociada à deposição preferencial de gordura no território visceral e há evidências de que o exercício crônico reduz em especial a gordura nesta localização.A alta atividade lipolí- tica da gordura visceral e a produção de fatores pró-inflamatórios com- prometem a ação insulínica, provo- cam distúrbios metabólicos e pre- dispõem à aterogênese. O tecido adiposo produz adipocinas (inter- leucinas, TNF-α, angiotensinogênio, PAI-1, leptina, adiponectina, resisti- na, visfatina) que influenciam o me- tabolismo glicolipídio e a integri- dade do sistema cardiovascular. Um dos mecanismos pelo qual o exercí- cio melhora o perfil cardiovascular relaciona-se à redução da secreção de TNF-α e aumento da adiponec- tina. Exercício acompanhado de hi- pertrofia do tecido muscular, impor- tante sítio de ação insulínica, con- corre para maior captação tecidual de glicose, requerendo menor insuli- nemia para manter a homeostase da glicose. A prática de atividades físi- cas, especialmente aeróbias, mos- trou-se capaz de alterar a distribui- ção da adiposidade corporal, redu- zindo a produção de citocinas infla- matórias e melhorando a sensibi- lidade à insulina. É inquestionável o papel de um estilo de vida saudável que inclui a atividade física para prevenção de doenças crônicas. Porém, a prática clínica mostra que este pode se ser um dos maiores desafios aos profis- 46 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS sionais da saúde. Dados consistentes comprovam a eficácia das mudanças no estilo de vida na prevenção do DM2 e também o HERITAGE Fami- ly Study revelou benefícios do exer- cício na prevenção e controle da SM. Dados mais recentes do Finnish Dia- betes Prevention Study revelaram que a intervenção no estilo de vida reduziu as concentrações de marca- dores inflamatórios sugerindo efeito anti-inflamatório crônico, possivel- mente dependente de ambos, um- danças na atividade física e dieta. Prescrevendo atividade física para indivíduos com DM2 Uma vez portador de DM2 ou de SM, exercitar-se assume papel ainda mais relevante no dia-a-dia, uma vez que passa a ser modalidade terapêutica dirigida a um de seus principais defeitos fisiopatogênicos, a RI. Porém, a prescrição do exer- cício requer análise do quadro indi- vidual, particularizando as limita- ções e riscos e identificando aquelas potencialmente capazes de trazer as- tisfação pessoal e os maiores bene- fícios. A Associação Americana de Diabetes – ADA periodicamente pu- blica suas recomendações de ativi- dade física para portadores de DM. O quadro 2 mostra a classificação segundo a intensidade, adotada pela ADA com base no relatório do Sur- geon General. Fonte: ebook.diabetes.org.br Em se tratando do DM2 que atinge indivíduos em idade mais 47 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS avançada, com diagnóstico clínico estabelecido anos após do início da doença e cujo risco cardiovascular é elevado, a avaliação prévia para ras- treamento de complicações crônicas é fundamental. Está indicada a in- vestigação de macroangiopatia e de- mais complicações que podem con- traindicar certos tipos de ativi-dade física. A ADA propõe os meios para investigá-las e, considerando seus resultados, atividades físicas serão individualmente indicadas. Avaliação da Macroangio-patia Deve ser realizada quando o indi- víduo tiver DM2 há >10 anos ou DM1 >r 15 anos, ou na presença de complicações crônicas. Altera- ções eletrocardiográficas inespecífi- cas requerem testes adicionais como a cintilografia do miocárdio com ra- dioisótopo. Indivíduos com corona- riopatia estabelecida a avaliação da resposta ao exercício é obrigatória, a fim de conhecer a predisposição a arritmias e determinar seus limites. Além do território coronária- no, os membros inferiores devem ser examinados no planejamento do programa de exercício. A avaliação clínica da doença arterial periférica pode ser complementada por medi- das de pressão com doppler (tor- nozelo e hálux). Sua presença pode não ser contraindicação absoluta à atividade física; porém, deve ser supervisionada. Avaliação da Microangiopatia Indivíduos com retinopatia proliferativa submetidos à atividade física extenuante podem desenvol- ver hemorragia vítrea ou descola- mento de retina. Devem ser evitados particularmente exercícios de força que exijam manobra de Valsalva. Há propostas de estratificação do risco da atividade física em indivíduos se- gundo graus de retinopatia o que au- xilia na adequação da prescrição. Portadores de nefropatia clí- nica (macroproteinúricos) geral- mente apresentam baixa capacidade para atividade física. Não existe ra- zão para impedir atividades físicas leves ou moderadas a indivíduos com micro ou macroproteinúria, mas a ADA considera que estes de- vem ser desencorajados para as de alta intensidade, a menos que a 48 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS pressão arterial seja cuidadosa- mente monitorada. Avaliação de Neuropatias Redução da sensibilidade em membros inferiores, exercícios de impacto e repetitivos podem ocasio- nar ulceração ou mesmo fraturas. Dessa forma, são mandatórios testes de sensibilidade tátil, vibratória e de reflexos tendinosos. A insensibilida- de ao monofilamento de 10G nos pés é indicativa de perda da sensação protetora contra traumas. Ativida- des físicas como longas caminhadas e corrida estão contraindicadas, po- dendo ser substituídas por natação ou bicicleta. A neuropatia autonô- mica pode limitar a capacidade física do indivíduo com DM, além de au- mentar o risco de evento cardio- vascular durante esta prática. As principais manifestações são taqui- cardia de repouso e hipotensão pos- tural. Morte súbita e infarto do miocárdio silencioso têm sido atri- buídos à neuropatia cardíaca. Hipo- tensão e hipertensão após exercício vigoroso ocorrem mais frequente- mente em neuropatas. Para indiví- duos com distúrbio da termorregu- lação, recomenda-se que evitem se exercitar em locais muito frios ou quentes e atentarem-se para hidra- tação adequada. Indivíduos com DM apresen- tam condições clínicas diversas e, portanto, requerem distintos pro- gramas de atividade física que de- vem ser o mais benéfico e prazeroso possível. Para tanto, é essencial que estejam compensados, hidratados e adequadamente trajados. Tipos de Atividade Física e seus Benefícios No DM2 A importância da combinação de atividades físicas aeróbias e exer- cícios de resistência a indivíduos com DM2 tem sido cada vez mais ressaltada. Ambos os tipos de ativi- dade física são capazes de melhorar a sensibilidade à insulina e a hiper- trofia da musculatura esquelética in- duzida pelos exercícios de resistên- cia podem trazer benefícios adicio- nais inclusive a idosos, contribuindo para o equilíbrio e prevenindo que- das e fraturas comuns nesta faixa etária. Importante assinalar que foi demonstrado que o destreinamento de 3 meses reverte os benefícios do exercício sobre a RI. Benefícios desta prática no metabolismo da glicose em geral envolvem atividade física com inten- sidade entre 50-80% da VO2 máx, 3 a 4 vezes por semana, com sessões de 30 a 60 minutos. São relatados decréscimos da ordem de 10 a 20% nos valores de HBA1C de indivíduos 49 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS com DM2 (46). Efeitos favoráveis de exercícios de resistência sobre a sen- sibilidade à insulina são relata-dos mais comumente em indivíduos com DM1, mas também no DM2 nos quais a RI, avaliada pelo HOMA-IR, caiu em resposta tanto ao treina- mento aeróbico como de resistência. Atividades físicas com predo- mínio do metabolismo aeróbio, pra- ticadas regularmente e combina-das com menor ingestão calórica, resul- tam em aumento no condicio-na- mento cardiovascular e redução da adiposidade corporal, contribu-indo para atenuação dos fatores de risco cardiovascular. Alguns estudos in- cluíramespecificamente indivídu-os com DM2, submetidos à conco-mi- tância de mudanças dietéticas e comportamentais, dificultando iso- lar os benefícios exclusivos da ativi- dade física. De particular interesse são os resultados de redução prefe- rencial da adiposidade intra-abdo- minal, mais intimamente associada às anormalidades metabólicas e à aterosclerose. Comprovação de proteção da atividade física contra eventos cere- brovasculares foi obtida em indiví- duos não-diabéticos, no Northern Manhattan Study e no Reykjavic Study. No consenso da American Heart Association sobre atividade física para indivíduos com DM en- contra-se detalhamento para pres- crição de tipos, frequência e inten- sidade de exercícios para os quais existe evidência 1A de bene-fícios cardioprotetores na literatura. O Quadro 3 resume os parâmetros da AHA Scientific Statement sobre exercício para indivíduos com DM: prescrição e nível de evidência. O indivíduo com DM2 agrega outros fatores de risco, especial- mente hipertensão e dislipidemia, sendo que as 3 condições podem ser minimizadas pela prática regular de atividade física. Redução dos níveis pressóricos em resposta a progra- mas prolongados de atividade físi- ca tem sido documentada indivíduos hipertensos sem e com DM. Atividade física regular tem se mostrado eficaz em elevar os níveis de HDL-c e reduzir os de triglicéri- des. A melhora do estado pró-infla- matório também concorre para ate- nuar o risco cardiovascular. Porém, possíveis benefícios da atividade fí- sica na fibrinólise em indivíduos com DM2 ainda não estão suficien- temente comprovados. Apesar da disponibilidade de estudos que comprovam melhora global do perfil de risco cardio-vas- cular em indivíduos com DM, até recentemente não havia dados sobre possível redução na mortali- dade decorrente de hábitos de vida saudá- vel. 50 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS O LOOK AHEAD examinou se intervenção intensiva no estilo de vida para perda de peso, comparada à educação habitual, reduziria mor- bidade e mortalidade cardiovas-cu- lar em indivíduos obesos com DM2. O estudo foi interrompido após 9,6 anos de seguimento, con- cluindo que tal intervenção não foi eficaz em reduzir eventos cardio-vasculares fatais ou não fatais). Atividade Física na Ges-tação A prática regular de atividade física é recomendada para gestantes devido aos diversos benefícios que proporciona, tanto para mãe quanto para o feto. O sedentarismo durante a gestação está relacionado a desfechos prejudiciais, como o ganho excessivo de peso, obesidade, hipertensão, pré- eclâmpsia/eclampsia, diabetes gestacional, prematuridade e o baixo peso ao nascer. Embora existam condutas, publicada há mais de 10 anos, indicando os benefícios da prática regular te atividade física e exercício, este é um hábito pouco frequente durante a gestação. Conforme constatado por Domingues e Barros (2007), apenas 4,7% das mulheres mantiveram-se ativas durante todo o período gestacional. Esta redução do nível de atividade física acontece tanto em mulheres ativas no período pré- gestacional que paralisam a prática durante a gestação, assim como nas mulheres que já eram sedentárias, as quais são pouco estimuladas a adotarem um estilo de vida ativo. Poucos são os profissionais que recomendam a prática de atividade física, durante a gestação, nas consultas de pré-natal. Ainda que Entin e Munhall (2006) tenham mencionado que metade dos obstetras orientava a realização de exercícios físicos durante o primeiro e o segundo trimestre da gestação, os mesmos aconselhavam a redução no terceiro trimestre, sem instruir sobre a intensidade, duração e frequência que deveria ser mantida. Em um recente estudo realizado na cidade de São Paulo, com 81 obstetras, Romero et al. (2012) constataram que a prática de atividades físicas era mais recomendada no segundo trimestre, dando preferência para a prática da caminhada. Um aspecto positivo que foi apontado pelos médicos, foi a diferença de acordo com o nível prévio de atividade física da mulher. Foi observado, também, que a recomendação era mais comum no sistema privado de saúde, entretanto, a atividade física no lazer 51 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS é um problema em todos os níveis socioeconômicos. Ainda que estes estudos tenham identificado a recomendação dos profissionais para a prática de exercício físico, não foi avaliado o efeito sobre o nível de atividade física no lazer durante a gestação. Mesmo que estes estudos tenham reconhecido a orientação dos profissionais para a prática da atividade física, não considerado o efeito sobre o nível da atividade física, durante a gestação. Em torno do ano 300 a.C. surge a ideia de atividade física para gestantes, quanto Aristóteles declarou que, devido ao estilo de vida sedentário, as mulheres tinham muitas dificuldade durante o parto. Nas décadas passadas, o exercício físico foi tido como inapropriado tanto para a mãe quanto para o desenvolvimento do feto, onde as grávidas eram orientadas a suspender as atividades físicas e profissional, principalmente no final do gestação, pois acreditava-se que a prática de AF poderia ocasionar um parto prematuro. Segundo Valim (2005), citado por Giacopini e cols (2015): “Essa ideia ainda é defendida em vários contextos, tradições e colocações médicas em relação ao exercício físico durante a gravidez”. Embora a prática de atividades físicas traga inúmeros benefícios para as mulheres gestantes, a ACSM, também citado por Lima e Oliveira (2005), Fonseca e Rocha (2012), Gomes e Costa (2013) e Sebastião (2013) listam alguma contraindicações relativas e absolutas que devem ser analisadas. Relativas: anemia severa, disritmia cardíaca materna não avaliada, bronquite crônica, obesidade mórbida extrema, peso corporal extremamente baixo (IMC<12), estilo de vida extremamente sedentário, restrição do crescimento intrauterino, hipertensão, distúrbio convulsivo, diabetes tipo I e hipertireoidismo precariamente controlados, limitações ortopédicas, fumante crônica. Absolutas: doença cardíaca hemodinamicamente significativa, doença pulmonar restritiva, colo uterino/cerclagem incompetente, gestação múltipla com risco de trabalho de parto prematuro, sangramento persistente no segundo ou terceiro trimestre, placenta previa após a 26ª semana, trabalho de parto prematuro, ruptura das membranas, hipertensão induzida por pré- eclâmpsia/gravidez. Espirito santo e cols (2014), acrescentam como contraindicações absolutas à prática de exercício físico: antecedentes de miocardiopatia, insuficiência cardíaca congestiva, cardiopatia reumática, tromboflebite, embolia pulmonar recente, doença infecciosa aguda, incompetência cervical, gestações múltiplas, macrossomia e suspeita de sofrimento fetal. Existem ainda alguns sintomas que funcionam como um alerta para a prática segura de AF. Se 52 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS no decorrer ou após a prática, alguns desses sintomas aparecerem, e crucial a pausa imediata para avalição médica. De acordo com a ACSM, e também citado por Batista e cols (2003), Fonseca e Rocha (2012), as condições para o encerramento do exercício são sangramento vaginal, dispneia pré- esforço, vertigem, cefaleia, dor torácica, miastenia (doença que impede a comunicação natural entre nervos e músculos, causando fraqueza muscular e fadiga incomum), dor ou edema de panturrilhas (possibilidade de tromboflebite), diminuição do movimento fetal, perda de líquido amniótico, trabalho de parto pré- termo. Recomendações de Atividades Físicas na Gestação Na prescrição de exercícios durante a gestação, existem diversas orientações de práticas corporais. São vários os benefícios, que compreendem diferentes áreas do organismo materno. Para Trindade(2007) as gestantes devem práticas pelo menos 30 minutos de atividades físicas diárias, e no máximo 60. Podemos considerar como a atividade todo movimento não programado, como por exemplo a ir ao banco a pé, limpar a casa, subir escadas ou dançar, excetuando-se o esporte. A intensidade deve ser mantida entre 4 e 7 METs. Exercícios Aeróbios Os exercícios aeróbios são os maiores aliados no controle de peso e na manutenção do condicionamento físico pré- gestação, além, de reduzir os riscos de Diabetes Gestacional, hipertensão gestacional, pré- eclâmpsia, e diminuição de fadigas, câimbras e edemas. A estimulação de grandes grupos musculares melhora a circulação sanguínea, melhora a utilização da glicose e o aumento da sensibilidade à insulina. Exercícios Aquáticos Segundo Trindade (2007), Nascimento e cols (2014), Botelho e Miranda (2012), Giacopini e cols (2015), a natação é a atividade física mais aconselhada para as gestantes, devido à propriedade de flutuabilidade do corpo na água. Existem grandes benefícios para os joelhos e ligamentos, pois os mesmos não sofrem impactos e o meio líquido ameniza os esforços. O inchaço também é muito comum, mas o mesmo pode ser amenizado através hidroginástica, por trazer melhorias na circulação sanguínea e no fortalecimento muscular. Para Botelho e Miranda (2012), a hidroginástica está entre as atividades mais praticadas pelas gestantes, pois ela inclui exercícios de aeróbios e de alongamento, trabalhando todos os grupos musculares. Trabalha também a respiração, com o intuito de reduzir 53 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS a ansiedade. Além deste benefícios, tanto a natação quanto a hidroginástica diminuem o estresse articular e os desconfortos musculares. Orienta-se que seja praticada de duas a três vezes por semana, com duração de 40 minutos a 1 hora, cada sessão. Exercícios de Alongamento e Flexibilidade As alterações de postura resultantes da gestação, relacionadas com as alterações hormonais e relaxamento dos ligamentos, costumam ocasionar dores na região lombar, dorsal e de membros inferiores, onde as queixas tornam-se mais comuns e estão associadas com prejuízos domésticos e profissionais, estados depressivos e insônia. Acrescido a isso, os músculos da região perineal passam a carregar mais peso e muitos deles são requisitados em movimentos dos quais não participavam. Diversos autores, Santos (2009), Giacopini e cols (2015), Nascimento e cols (2014), Chistófalo e cols (2003), Mann e cols (2008), declaram que exercícios físicos que auxiliam para o alongamento da região lombar, favorecem a prevenção do exacerbamento da condição lordótica, visto que musculatura da região abdominal tende a se estirar, com o crescimento do feto, e a da região lombar tende a se encurtar. Deve-se ressaltar, ainda, os exercícios de fortalecimento e alongamento da musculatura dorsal, pois o crescimento natural dos seios, e consequente aumento de peso pode ocasionar a rotação interna dos ombros com projeção para frente, encurtando o peitoral e superextendendo romboides e trapézio, acentuando a cifose. Outras alterações gravídicas como aumento na tensão na musculatura paravertebral, hiperextensão de joelhos, anteversão pélvica e aplainamento do arco longitudinal medial dos pés também devem ser tratados com exercícios de alongamento. Uma estratégia comumente utilizada, que trabalha o alongamento aliado à força muscular e consciência corporal é a prática de Pilates. Segundo Kroetz e Santos (2015), o pilates colabora com o alongamento e relaxamento dos músculos, preparando a musculatura perineal para o parto e o pós-parto, estimula a circulação, melhora a respiração e correção postural, através da reorganização do centro de força, aumenta a força, o equilíbrio, a coordenação, além da sensação de bem-estar e autoestima. 54 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Exercícios Resistidos Os exercícios de força, executados em intensidade ajustada para o período gestacional, proporcionam uma melhora na força, resistência e flexibilidades, sem elevar o risco de lesões e sem intervir no crescimento fetal e na gestação, podendo ser realizados de maneira eficaz e segura, tanto para a mãe quanto para o bebê. Alguns exemplos são musculação, treinamento funcional, treinamento com circuito e yoga. Os exercícios resistidos podem apresentar diversas funções durante o período gestacional, com caráter terapêutico, profilático, recreativo, estético e de manutenção da aptidão física. A musculação possibilita ao organismo materno ajustar-se às alterações posturais e prevenir traumas, quedas e desconfortos musculoesqueléticos. O fortalecimento deve dar ênfase aos músculos do “core” (Reto abdominal, oblíquo interno e externo, transverso abdominal, eretores da espinha e multífido, psoas Ilíaco, reto femoral, pectíneo e sartório, glúteos (médio, máximo e mínimo), piriforme, isquiotibiais e adutores), os paravertebrais e os da cintura escapular, priorizando os grandes músculos. Ademais, é aconselhável a utilização de faixas elásticas e o próprio peso corporal, no lugar de aparelhos ou pesos livres, em relação aos riscos de acidentes, assim como posturas que perturbem o equilíbrio ou que acasionem algum risco para a mãe ou feto. Influência da Atividade Física e Exercício no Tipo de Parto Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mais da metade (53,5%) dos partos ocorridos no Brasil são cesarianas, sendo que a recomendação da Organização mundial da Saúde é de 15%. No SUS o agendamento da cesariana é de 35,8% e no setor privado de 74,1%. É importante salientar que a cesariana sem indicação traz muitos prejuízos a mãe e ao bebê, como maiores risco de mortalidade materna, alto índice de prematuridade (cerca de 120 vezes mais), aumento do risco de mortalidade neonatal em 24%. (RADIS, 2015). De acordo com Silveira e Segre (2012), o exercício físico pode colaborar muito para o parto vaginal e evitar a prematuridade. Através de um estudo realizado no Centro de Aleitamento Materno, em São Paulo, verificaram que houve maior número de partos vaginais em gestantes ativas. Os exercícios realizados eram de baixa e média intensidade, que favoreceram à diminuição das complicações obstétricas. Diante do apresentado, é possível concluir que a atividade física na gestação traz inúmeros benefícios, tanto de maneira preventiva, quanto como uma forma de amenizar as dores e desconfortos específicos deste período. As 55 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS mudanças fisiológicas da gravidez são percebidas em todos os sistemas do corpo da gestante, e são essenciais para crescimento normal do feto. O exercício físico é um hábito que soma benefícios para a saúde da mulher ao longo de toda sua vida, sobretudo no que envolve o planejamento de uma gestação, no ciclo gravídico-puerperal e pós- parto, proporcionando uma gravidez saudável, um período puerperal e de amamentação mais prazeroso e confortável e um retorno mais rápido à rotina do dia a dia. Atividade Física na Terceira Idade São considerados idosos os in- divíduos acima de 65 anos de idade. Porém, segundo publicação da OMS de 1984, essa idade foi diminuída em alguns anos em certos países do Leste Europeu e determinados paí- ses em desenvolvimento. Isso é jus- tificado pela quantidade de pessoas que conseguem atingir faixas etárias mais elevadas nessas regiões e pelas próprias características anatômicas e fisiológicas desses grupos, ligadas intimamente aos fatores sociais, econômicos e culturais. Várias são as classificações utilizadas para esse grupo etário, algumas utilizando apenas o fator idade cronológica e outras a idade fisiológica. Também aparecem clas- sificaçõesque levam em conta a presença ou não de patologias. Os idosos não formam um gru- po homogêneo. A maior parte das pessoas apresenta deterioração em sua condição física entre as idades de 65 e 85 anos. Com isso, uma ma- neira simples de classificação é aquela que divide os idosos com base na idade cronológica: “ido-so jovem” (65 a 75 anos de idade), “ido- so médio” (75 a 85 anos) e “muito velho” (maior que 85 anos). Essa classificação ignora as diferenças potenciais de indivíduos da mês-ma faixa etária, que apresentem carac- terísticas fisiológicas bem diferen- tes. Pelo fato de existirem diferen- ças interindividuais de treinamento físico, saúde e genética, essa análise nos dá muitas vezes uma falsa im- pressão da verdadeira capacidade funcional do idoso. A classificação funcional con- seguiu reunir os grupos de modo mais uniforme, principalmente quando o objetivo é a prescrição de 56 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS um programa de treinamento. O “idoso jovem” é considerado o grupo de pessoas que estão livres das res- ponsabilidades com cuidados de filhos, geralmente aposentados e que podem viver de forma indepen- dente, com pouca ou nenhuma res- trição a atividades físicas. O “idoso médio”, em face do aumento da in- capacidade física, como resultado de doença crônica, ou pelos efeitos da idade, ou ambos, necessita de uma maior assistência em suas atividades diárias. Já os “muito velhos” são aqueles totalmente dependentes, necessitando de suporte de família- res devotados, ou enfermagem trei- nada, ou muitas vezes internados em instituições para maiores cui- dados. Por último, é importante a di- visão dos idosos em grupos com e sem patologia, como também a identificação desta. A programação de uma atividade física será bem diferente para um idoso saudável, quando comparado com coronário- patas ou indivíduos com restrição de movimentos por problemas articu- lares. Com isso, a compreensão das classificações que respeitam as ca- racterísticas individuais dos diver- sos grupos se mostra fundamental para a programação adequada de exercícios físicos nessa população. Programação da Atividade Física A programação da atividade física no idoso não é muito diferente da preconizada para indivíduos mais jovens. Apenas alguns cuidados es- peciais devem ser tomados caso haja alguma restrição, que pode estar re- lacionada às modificações progres- sivas da idade ou a patologias das mais diversas (cardiovasculares, os- teoarticulares, outras). Com isso, in- divíduos nessa faixa etária inicial- mente devem ser submetidos a um questionário, cujo objetivo é saber: se apresentam algum tipo de sinto- ma clínico ou patologia que possa interferir ou colocálos em risco du- rante o exercício, quais são os fato- res de risco para doença coronária, qual o tipo e intensidade de exercício que desejam realizar. Essas pergun- tas devem ser complementadas com uma revisão dos sistemas e, princi- palmente, nos indivíduos com do- ença cardiovascular, do perfil psico- lógico. Em seguida, devem ser sub- metidos a um exame clínico e a uma série de exames complementares, que varia de acordo com o paciente e a rotina do serviço. É importante ressaltar que a promoção da saúde não ocorre de forma isolada somen- te com exercícios físicos. Cada vez mais se valoriza uma mudança de 57 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS hábitos, como emagrecimento, con- trole das dislipidemias e do diabetes melito, diminuição do estresse, en- tre outros. Daí a importância de muitos dos exames complementa- res, que nos permitem programar os exercícios com maior segurança em determinados pacientes com doen- ça, bem como, em idosos saudáveis, realizar um investimento na pre- venção de forma mais global. Teste ergométrico (TE) – O TE é um exame barato, de baixo risco e muito útil na avaliação inicial e progressiva do grupo de idosos que já praticam ou desejam iniciar suas atividades físicas. Esse exame tem por objetivo: estratificação de risco para doença coronária; prescrição de exercícios; determinação da ca- pacidade física inicial; comparação com reavaliações após período de atividade física; modificação dessa prescrição no caso de alteração do quadro clínico ou por mudança na medicação que possa interferir de maneira importante na frequência cardíaca ou por parâmetros HEMO- DINÂMICOS. Segundo o American College of Sports Medicine, todos os idosos, sejam saudáveis ou não, que forem submetidos a exercícios vigorosos devem realizar um teste ergométrico prévio. São considerados exercícios vigorosos aqueles cuja intensidade é maior que 60% do VO2 máximo. Se a intensidade é incerta, podem ser definidos como exercícios que con- seguem modificar de forma impor- tante o sistema cardiorrespiratório ou que resultam em fadiga em intervalo máximo de 20 minutos. Se os exercícios forem moderados, in- tensidade entre 40% e 60% do VO2 máximo ou exercícios que podem ser sustentados de forma prolon- gada e confortável, com início e pro- gressão graduais e geralmente não competitivos. Não é necessária a realização de TE prévio, no caso de idosos saudáveis. Alguns autores preconizam um teste submáximo antes do início do programa de exercícios, pelo me- do do risco de complicações com um TE máximo. Porém, dessa forma, o exame se mostra cada vez mais ine- ficiente no idoso, já que a FC máxi- ma (elemento essencial na prescri- ção do exercício) apresenta variação menor nesse grupo, pois ocorre di- minuição à medida que a idade pro- gride. Com isso, a FC alcançada pode estar bem abaixo da ideal para trei- namento, podendo levar a erro quando da programação da ativi- dade física e, consequentemente, não trazer os benefícios esperados por esta. Quanto ao equipamento, nor- malmente não existem problemas maiores com a realização do TE em esteira rolante. Em nossa experiên- 58 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS cia a vantagem da esteira rolante é o fato de ser mais fisiológica e permitir alcançar maiores frequências cardí- acas e cargas no pico do esforço. Em um grupo específico de pacientes, composto por idosos com dificulda- de importante de equilíbrio, pro- blemas de deambulação relaciona- dos a enfermidades osteoarticulares, ou insegurança pode haver maior adaptação à bicicleta ergométrica. Essa insegurança é mais observada em pacientes do sexo feminino que, por medo de queda na esteira, se agarram de forma intensa às braça- deiras, prejudicando a qualidade do exame, ou simplesmente se negam a andar na esteira. Nesses casos a bicicleta dá-nos maior tranquilidade na realização do TE. O protocolo escolhido para o idoso dependerá muito da experi- ência individual do médico ergo- metrista, que deverá selecionar na hora, dependendo das condições gerais do paciente, aquele que dê o maior número de informações, com o menor risco. Utiliza-se o protocolo de Bruce com um período de aque- cimento na própria esteira para maior adaptação do paciente, obten- do dessa forma bons resultados; em casos de indivíduos com pouca coor- denação motora, obesidade, dificul- dade de deambulação, temos reali- zado o TE sob o protocolo de Nau- ghton, também sem maiores proble- mas. Muitas vezes as restrições são tão intensas que o idoso não conse- gue incluir-se em nenhum dos pro- tocolos; nesse caso, a estratificação de risco deve ser feita com outros métodos, e a programação de exer- cícios, de forma branda e empírica. No caso de indivíduos com doençancardiovascular, primeiro é realizado um TE sem drogas, para saber o verdadeiro estágio da doença e, após um exame com drogas, para fins dos cálculos dos exercícios, já que a atividade física é realizada na vigência da medicação. Dessa forma, a impressão ini-cial das condições do idoso, avalia- das por médico experiente, tanto no que diz respeito às doenças e suas repercussões, bem como a sua fragi- lidade, é fundamental na escolha do protocolo e na maneira de dar pros- seguimento ao exame. Prescrição do exercício – É fei- ta baseada na resposta da FC ao exercício máximo e VO2 máximo (VO2MÁX) obtidos em um TE. Uti- liza-se a FC e o MET (equivalente metabólico que corresponde ao VO2 dividido por 3,5) obtidos no pico do esforço, para os cálculos da ativida- de física. No caso de pacientes com doença coronária, para fins dos cál- culos, é considerado o momento de aparecimento da isquemia. 59 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS A FC de treinamento situa-se entre a FC média (fórmula de Hel- lerstein) e a máxima de treinamen- to, em que: 102 + MET máximo FC média = 1,41 FC máxima de treinamento = 85% da FC má- xima atingida no TE. Os cálculos do MET de trei- namento, que deve ficar entre o MET médio (American Heart Associa- tion) e o MET máximo de treina- mento, são realizados através das fórmulas: MET médio = 60% + MET máxi- mo = % do MET máximo MET máximo de treinamento = 85% do MET máximo no TE Para obter o efeito do treina- mento, a intensidade do trabalho durante a sessão de exercício deve estar entre 65% e 75% da capacidade máxima de trabalho, porém existe uma íntima relação entre a FC e o VO2 quando expressas em percen- tagem de valores máximos7. A FC varia de 70% a 85% de valores máximos, cor- respondendo a 65% a 75% do VO2 máx. O uso de drogas que afetam a resposta da frequência cardíaca durante o exercício (ex.: betabloqueadores, alguns bloquea- dores dos canais de cálcio, etc.) não altera a relação entre as percen- tagens de FC e VO 7,8. Nesses casos foram mantidas as medicações du- rante o teste de esforço e utilizada para fins de cálculo do exercício a FC obtida no esforço máximo. Atenção ainda maior deve ser dada ao grupo que não está pra- ticando atividade física de forma regular. A programação dos exercí- cios deve ser feita de forma mais lenta e gradual, sempre respeitando as limitações individuais. A moda- lidade de exercícios deve ser aquela que não imponha grande estresse ortopédico; de fácil acesso, conve- niente e agradável ao grupo (funda- mental para aderência ao programa de atividades físicas); os tipos de exercício podem ser os mais varia- dos: caminhada, bicicleta, exercícios na água, natação ou outras ativida- des aeróbicas. Quanto à intensidade, devem ser suficientes para manter uma car- ga no sistema cardiovascular, pul- monar e musculoesquelético sem sobrecarregá-los. O mínimo deseja- vel para obter os benefícios cardio- vasculares e periféricos do treina- mento é de 60% da FC obtida no pico do esforço no TE. Porém, é me- lhor que se faça alguma coisa, mes- mo abaixo do treinamento ideal, como caminhar recreativamente, do que não fazer nada, pois os benefí- cios muitas vezes estão relacionados 60 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS à maior integração à sociedade e na esfera psicológica. Segundo o consenso do Ame- rican College of Sports Medicine, os pacientes idosos com doença cardio- vascular devem começar o programa de atividade física com menor inten- sidade de exercícios, principalmente no grupo de sedentários, pelo risco de complicações relacionadas à doença de base ou ao acometimento osteomuscular. Em nossa experiên- cia, independente da capacidade fí- sica inicial, utiliza-se as frequências cardíacas média e máxima de treina- mento, sem maiores complicações. Nos sedentários isso ocorreu pelo fa- to de rapidamente atingirem a FC de treinamento, mesmo com os exercí- cios mais simples, pela grande difi- culdade em sua realização; caso con- trário, estaria muito limitado na prescrição dos exercícios. Os exercícios devem ser reali- zados de três a cinco vezes por sema- na, com duração de 30 a 60 minutos. No grupo de sedentários, o trabalho deve iniciar-se com tempo reduzido e progredir gradativamente. Atenção especial deve ser dada aos indivíduos com doença cardio- vascular, através de centros de rea- bilitação cardíaca (RC), que podem dar aporte mais adequado e com maior segurança. Normalmente, es- ses programas contam com equipes multidisciplinares, cujo objetivo é associar aos exercícios medidas ge- rais, como perda de peso, aporte psi- cológico, controle de doenças corre- latas, entre outras. A grande discussão nos dias de hoje está relacionada a exercícios com peso nos idosos, principalmen- te no grupo com doença coro-nária e hipertensão arterial sistêmica. Os trabalhos atuais demonstram que esse tipo de exercício é um comple- mento muito importante dos pro- gramas de atividade física, pois for- talecem a massa muscular, permi- tindo melhor desempenho desses indivíduos no seu dia-a-dia. É es- sencial que a prescrição seja indivi- dualizada, realizada em seu início com supervisão e orientação de pro- fissional treinado, na frequência de duas vezes por semana, com inter- valo mínimo de 48 horas entre as sessões. Essa atividade não deve de- senvolver dor. Benefícios da atividade física – Não se discutem mais os benefícios da atividade física nesse grupo etá- rio, sejam saudáveis ou com patolo- gia. O que devemos ter em mente é a maneira mais adequada para orien- tarmos esses exercícios, para que não ocorram efeitos deletérios em detrimento de esforço acima da ca- pacidade de cada idoso. As atividades físicas aeróbicas regulares possibilitaram melhora significativa na aptidão física, avali- 61 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS ada pelo incremento do MET, VO2 máx e tempo alcançado no TE. Indi- víduos sedentários apresentam alte- rações muito mais evidentes no con- sumo de oxigênio, em consequência do condicionamento, do que as ob- servadas nas populações com vida ativa, independentemente da idade; isso pode ser explicado pelo fato de os sedentários partirem de níveis bem inferiores de VO2 máximo. No grupo de coronário-patas, após pro- grama de atividade física coorde- nado, observou-se in-cremento do VO2 máximo, mais intenso no grupo que não praticava atividade física antes e mais acentuado mais tardia- mente, demonstrando que nessa faixa etária é necessário um tempo mais prolongado para que ocorram as modificações no organismo, que resultam em incremento da capaci- dade FÍSICA. Os benefícios nesse grupo são mais predominantemente periféricos do que relacionados com o coração, vistos pela relação MV O2/VO2, em que só houve modi- ficação positiva no VO2. Com relação à pressão arterial, Hagburg et al. descreveram, após nove meses de treinamento com exercícios de baixa intensidade, em indivíduos com média de idade de 64 anos, diminuição significativa dos níveis TENSIONAIS. Já Seals e Reiling observaram após um ano de atividades físicas, em indivíduos entre 50 e 74 anos, apenas modesta diminuição dos níveis TENSIO- NAIS. Esses achados tornam-se mais intensos quando associados à redução do peso corporal e da in- gesta de sódio. Ainda são muito con- troversos os benefícios da ativi-dade física na PA nessa faixa etária, sendo necessárias maiores obser- vações. Os exercícios ajudam a melho- rar os reflexos osteoarticulares dos idosos, bem como retardar a pro- gressão da osteoporose, principal- mente em mulheres (associados a orientações alimentares e os raios solares da manhã). As vantagens não se restrin- gem apenas à parte orgânica, ocor- rem também efeitos positivos psico- lógicos, como aumento da auto-esti- ma, confiança, o que permite maior integração desse grupo na socie- dade. Muitas vezes nos vemos diante de um idoso com importante restri-ção física, associada a doença coro-nária importante, o que pratica-mente nãopermite a realização nem de pequenos esforços; porém, só o fato de dar caminhadas lentamente, mesmo sem melhora da aptidão física, fazer exercícios para aumen- tar o tônus de membros e conviver com um grupo que transmite men- sagens positivas, permite maior in- tegração desse indivíduo com o meio, como também a realização de 62 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS tarefas mínimas, porém com inde- pendência (ex.: pequenas compras de supermercado, autonomia dentro de casa, etc). Atividade Física e Obesi-dade A atividade física bem orien- tada por profissionais de educação física representa uma importante arma para melhoria da qualidade de vida de obesos a ajudar na perda de gordura corporal (ROBERTSON 2007). Resultados de pesquisas (ANDREOTTI & OKUMA 1999; COLBERG, 2003; RAMOS, 2000), citados por Katzer (2007) indicam que a atividade física tanto melhora a capacidade muscular como pode melhorar a resistência, o equilíbrio, a mobilidade articular, a agilidade, a velocidade da caminhada e a coorde- nação geral. Segundo Powerse Howley (2000), a atividade física constitui a parte mais variável do lado do gasto energético, representando de 5% a 40% do gasto calórico total diário. A combinação de exercício físico com restrição calórica representa um meio flexível e efetivo de conseguir uma redução ponderal. O exercício melhora a mobilização e o catabo- lismo de gorduras, acelerando a per- da de gordura corporal. A prática re- gular de exercícios físicos pode con- tribuir também para a redução do peso corporal mediante ao aumen- to da taxa metabólica de re-pouso, posterior a sua utilização. Oliveira (2005) comenta que as alterações na taxa metabólica de repouso podem persistir por até 12 horas após o término da atividade. Além disso, indivíduos fisica- mente ativos apresentam menor peso corporal, a gordura corporal está mais bem distribuída pelo cor- po. Com a atividade física, a perda de peso se classifica de melhor quali- dade, pois é favorável na manu- tenção de massa corporal magra e na perda de tecido adiposo, em relação às dietas com restrições severas ali- mentares, sem associação com atividades físicas. Dentro das rotinas de exer- cícios físicos, o procedimento mais indicado, de acordo com Grubbs (1993), citado por Oliveira (2005), para provocar um impac- to positivo no controle da massa corporal con- siste na participação de esforços que 63 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS envolvam grandes grupos muscula- res, e que possam ativar todo o sis- tema orgânico de oxidação para cap- tar-se energia (atividade aeróbica). A atividade física é de vital impor- tância, tanto para a perda de peso, como para a manutenção de peso. Pronk e Wing (1994), e Pavlou et al (1989), citados por Bouchard (20 03), concluíram que o exercício físi- co é um determinante para a ma-nu- tenção do peso em longo prazo. Para indivíduos obesos, com restrição articular e dificuldades pa- ra fazer atividade física, exercícios aeróbicos de baixa intensidade e longa duração são os mais indi-ca- dos. Além disso, a mobilização de gordura em baixas intensidades de exercício acontece para fornecimen- to de substrato de energia. Powers e Howley (2000) e Dipietro et al (1998), citado por Bouchard (2003), num estudo longitudinal sobre ativi- dade aeróbica concluíram que as melhoras no condicionamento car- diorrespiratório atenuam o ganho de peso relacionado com o avanço da idade, em homens e mulheres. Porém, Van Etten et al. (1997), citado por Bouchard (2003) obser- varam, em um estudo de 18 sema- nas, que o treinamento resistido feitos em homens jovens sedentários de 23 à 41 anos (2 vezes por semana, 3 séries de 15 repetições para os principais grupos musculares) signi- ficou perda em média 2, 1 kg de gor- dura corporal e aumento 2,1 kg de massa corporal livre de gordura dos indivíduos. Este programa aumen- tou em 260 kcal por dia o gasto caló- rico diário médio dos indivídu- os devido ao treinamento. O treina- mento resistido pode representar uma alternativa para o aumento da massa magra e da oxidação de gor- duras. Bouchard (2003) também considera que o exercício resistido pode ajudar idosos obesos a aumen- tar o índice de massa magra ou de- sacelera a perda, já que com a idade verifica-se o aumento de gor-dura corporal e perda de massa magra. A atividade física é respon- sável em ajudar a controlar o peso da gestante, além de auxiliar na pre- venção de lombalgias, doenças car- diovasculares, diabetes, e elevar a autoestima e a tolerância à dor (BA- TISTA et al. 2003). Crianças com gordura corpo- ral excessiva, submetidas a um pe- ríodo de treinamento de 4 meses, com sessões diárias de 40 minutos de exercícios aeróbicos, 5 dias por semana, sem qualquer restrição ali- mentar, acumularam menos tecido adiposo visceral do que aquelas que não se exercitavam (McARDLE 2003). A atividade física diminui o risco de doenças cardiovasculares em obesos (efeito hipotensor), além 64 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS de aumentar a concentração do HDL-colesterol e diminuir a concen- tração do LDL-colesterol. Verifica- se também aumento da ação da in- sulina, importante fator para a pre- venção da Diabetes Tipo II (KAT- ZER 2007, BOUCHARD 2003, McARDLE 2003, POWERS e HOW- LEY 2000). McArdle (2003) considera que o número de sessões semanais de exercício varia de três a quatro ve- zes. Exercitar apenas duas vezes por semana não modifica significativa- mente o peso e gordura corporal. O exercício está intimamente ligado também ao aumento do bem- estar e da melhora do humor. Essas alterações alteram positivamente quadros de depressão e ansiedade. Sinais afetivos negativos são com frequência os que disparam à ali- mentação excessiva ou o comer compulsivamente. A imagem corpo- ral positiva é outra variável psico- lógica capaz de ser intensificada pela atividade física, influenciando as atitudes de controle de peso e os comportamentos. Uma melhor ima- gem corporal atribuída ao exer- cício, pode se estimulante e levar a aderência a sua prática em longo prazo, além de alterar no indivíduo sua confiança de realizar altera- ções positivas em relação ao seu corpo e ao peso corporal (BOUCHARD 2003, KATZER 2007). 66 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS 3. Parâmetros para Prescrição de Exercícios em Grupos Especiais Fundamentos para Prescri-ção e Exercícios para Popu-lações Especiais esta unidade serão apresenta- dos os princípios básicos para prescrição de exercícios voltados para saúde. O objetivo fundamental da prescrição de exercício é promo- ver uma alteração no comportamen- to da saúde da pessoa para incluir atividade física habitual. A técnica da prescrição é a integração bem- sucedida da ciência do exercício com técnicas comportamentais que re- sultam em adesão aos programas em longo prazo e concre- tização dos objetivos individuais (ACSM, 2000). Para que essa integração fun- cione bem, o profissional deve co- nhecer os princípios biológicos do exercício físico. As rotinas de exer- cícios deverão ser organizadas com base em três princípios biológicos: 1) princípio da sobrecarga, progressão e individualidade; 2) princípio da especificidade; 3) princípio da rever- sibilidade. Princípios Biológicos Para N 67 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Prescrição e Orientação de Exercícios Físicos (EF) Princípio da Sobrecarga, Progres- são e Individualidade (Guedes e Guedes, 2005) Sobrecarga: para que possam ocorrer melhorias na condição metabólica e funcional do indivíduo, o organismo deverá ser submetido a uma rotina de EF que venham a oferecer esforços físicos mais intensos do que aquelesa que ele está normalmente acostumado. Progressão: o indivíduo, ao ser exposto a determinado esforço físico, deverá apresentar uma série de adaptações orgânicas que na sequência lhe permitirá ser submetido a estímulos gradativamente mais intensos. os esforços físicos podem ocorrer de duas formas isola- das ou por meio da combina- ção de ambas: aumento da quantidade e intensidade das atividades. Individualidade: cada organis- mo poderá reagir aos estímu- los provocados pelos EF de maneira bastante particular, ou seja, nem todos os indiví- duos deverão apresentar pro- gressão na adaptação aos es- forços físicos da mesma forma e ritmo (ex. sexo, hábitos de vida, estado de saúde). Princípio da especificidade: A realização de determinado EF produzirá adaptações no orga- nismo que serão específicas para esse tipo de esforço (ex: treinamento de musculação para desenvolver força). Princípio da reversibilidade: As adaptações metabólicas e funcionais induzidas pelo EF tendem a retornar aos estados iniciais após a paralisação dos programas prescritos. De ma- neira geral, os exercícios físi- cos de média a longa duração e de baixa intensidade têm efei- to mais prolongado sobre o organismo, enquanto os exer- cícios físicos de intensidade mais elevada e de menor dura- ção têm efeito mais imediato. Componentes dos exercícios físicos: Para que as rotinas de EF possam produzir as adapta- ções na direção desejada, tor- na-se necessário estabelecer combinação entre três compo- nentes básicos: frequência, duração e intensidade dos esforços físicos. Frequência: a frequência de realização dos EF refere-se ao número de vezes em que o indivíduo se exercita por se- mana ou em casos esporádi- cos, por dia. ao iniciar as roti- nas de EF, o indivíduo deverá se exercitar no mínimo 3 vezes por semana, em dias não consecutivos Duração: É caracterizada pelo tempo despendido na execu- 68 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS ção de um EF específico ou de uma sessão de EF. A duração da execução de um EF espe- cífico atua sobre o organismo sem interrupções. Já a dura- ção de uma sessão de EF equivale ao tempo total em que o indivíduo se envolve com uma série de esforços fí- sicos programados, incluindo as pausas entre os exercícios. Uma sessão de EF, indepen- dentemente de sua duração, deverá apresentar três mo- mentos: parte inicial, a prin- cipal e a final. Parte inicial: preparatória ou aquecimento, tem o objetivo de preparar o organismo física e psicologicamente para os esforços mais intensos, de mo- do a evitar súbitas alterações fisiológicas e evitar possíveis lesões. São exercícios modera- dos como caminhada, trote ou ciclismo, visando oferecer ma- ior ativação metabólica. Os exercícios de flexibilidade também podem ser trabalha- dos na parte inicial de uma sessão de exercícios, procu- rando preparar os músculos e tendões para os movimentos. Parte principal: tem como objetivo elevar a solicitação metabólica e funcional que, por sua vez, deverão incre- mentar significativamente a demanda energética. Na parte principal, o objetivo da aula (sessão) deverá ser priorizado, ou seja, se objetivo da aula for desenvolver força, os exercí- cios de força deverão ser espe- cíficos para o desenvolvimento da força. Parte final: conhecido como resfriamento, visa dar oportu- nidade para um retorno gra- dativo do organismo a níveis próximos ao repouso. As atividades deverão ser le- ves, de relaxamento, que tenham co- mo objetivo diminuir a intensidade dos esforços físicos realizados na parte principal. As atividades de flexibilidade envolvendo alonga- mento dos principais grupos mus- culares trabalhados podem ser adi- cionadas na parte final da sessão exercícios físicos. Intensidade: É a relação entre o esforço físico requerido para sua realização e o esforço físico máximo que o indivíduo tem condições de suportar. Se a duração e a frequência dos EF são caracterizadas como fatores absolutos, e, portanto, po- dem ser semelhantes entre indiví- duos, a intensidade dos esforços físicos, por sua vez, está relacionada às condições individuais de cada um. O colégio americano de Medi- cina do esporte (ACSM, 2000) reco- menda que a intensidade do exer- cício seja prescrita como 60 a 90% da Fcmáx ou 50 a 85 % do VO2MÁX ou reserva da FC. Contudo indiví- duos com um nível de aptidão inicial 69 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS muito baixo respondem à intensi- dade de exercício baixa, por exem- plo, 40 a 50 % do VO2MÁX. A melhor maneira de se medir a Fcmáx é durante um teste de es- forço graduado, sempre que possí- vel. Dados dos testes de esforços mostram que existem várias aborda- gens para determinar a va- riação da FC em exercício com propósitos de prescrição. Usando uma porcentagem da FCmáx; Usando o método de reserva da FC; Utilizando a escala de sense- ção subjetiva de esforço. Nesse sentido, pela praticida- de a prescrição da intensidade do exercício físico muitas vezes é reali- zada com base em proporções de frequência cardíaca máxima (Fc máx) de esforço. Como regra geral, após os 20- 25 anos admite-se que ocorre a di- minuição de um batimento cardía- co por minuto a cada ano. Uma estimativa da Fcmáx de esforço pode ser feita mediante subtração da idade atual do valor 220. Então um indivíduo com 40 anos e com FC de repouso de 70 batimentos/minuto, os limites da FC preconizada para esforços físicos a intensidades entre 40% e 65% deverá se apresentar dentro de um limite de 114 e 142 batimentos/minuto. Ou seja, os exercícios físicos não deverão apre- sentar intensidade que possa elevar a FC acima de 114 batimentos/ minuto, e não exceder a 142 bati- mentos/minuto. O limite superior e inferior de FC preconizado para os esforços físicos é conhecido como zona alvo. É importante também a avali- ação da percepção subjetiva do es- forço (PSE) pois os dados delineados descrevem melhor a relação entre FC, VO2 e RSE e os resultados em uma intensidade de exercício mais apropriada para pessoas com apti- dão limitada. Tabela 1. Exemplo do cálculo dos limites da frequência cardíaca de esforço Fcmáx prevista idade 220 -50 Fcmáx de esforço previsto 170 FC repouso -70 FC reserva intensidade dos esforços físicos 100 x0,40 40 100 100 x 0,65 65 FC repouso +70 +70 FC preconizada para os esforços físicos 110 limite inferior 135 limite superior 70 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS 06 07 Muito, muito leve 08 09 Muito leve 10 11 Razoavelmente leve 12 13 Algo difícil 14 15 Difícil 16 17 Muito difícil 18 19 Muito, muito difícil 20 Escalas de Percepção Sub- jetiva de Esforço (PSE) As escalas de percepção subje- tiva de esforço (PSE) devem ser consideradas como complemento à monitorização da FC, à medida que a PSE determinada durante um teste de esforço graduado pode não tra- duzir diretamente a mesma inten- sidade durante uma sessão de exer- cício. As escalas de PSE têm se re- velado uma ajuda valiosa na pres- crição de exercício para indivíduos que têm dificuldade com a palpação da FC e em casos em que a resposta da FC a exercícios possa ter sido al- terada por uma mudança da medi- cação. A variação da PSE associada à adaptação fisiológica ao exercício é de 12 a 16 (ver tabela abaixo). A avalição da intensidade do esforço poderá ser realizada por me- io da sensação subjetiva de esforço utilizando a escala de Borg, com pontuações de 6 a 20 Selecione um 71 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS número que represente sua sensa- ção ao esforço realizado. A avalição da intensidade do esforço poderá ser realizada tam- bém através da Escala OMNI para classificação de resistência de força. (intensidade moderada por meio da classificação de 3 A 6)A intensidade do EF pode ser medida também por meio do V02 e limiar de lactato como forma de prescrição, mas para este momento não vamos utilizar, pois optamos por métodos mais acessíveis. A medida de VO2 máx e limiar de lactato normalmente é realizada em laboratório ou clínicas e seu custo é relativamente alto, tornando inviá- vel para prescrição em academias, clubes entre outros. O ACSM (2000) destaca alguns estágios do programa de EF recomendados para popu- lações especiais, que podem ajudar na tomada de decisões em cada etapa. Taxa de Progressão A taxa de progressão recomen- dada em um programa de condicio- namento depende da capacidade funcional, estado de saúde, idade, preferências e objetivos das ativida- des individuais. Para adultos apa- rentemente saudáveis, o componen- te resistência da prescrição de exer- cício tem três estágios de progres- são: inicial, melhora e manutenção. Estágio de condicionamento inicial O estágio inicial deve incluir exercícios de resistência muscular e atividades aeróbias de nível baixo (40 a 60% da FC de reserva ou VO2MÁX), exercícios compatíveis com sensibilidade muscular mínima para evitar desconfortos e lesões, contri- buindo para uma melhor adesão ao programa. Esse estágio geralmente se estende por 4 a 6 semanas, mas a duração depen- de da adaptação do indivíduo ao pro- grama de exercício. A duração da sessão de exercício no estágio inicial deve começar com aproximadamen- te 12 a 15 minutos e progredir para 20 minutos. Recomenda-se que indivíduos que estão começando um programa de condicionamento físico se exercitem pelo menos três vezes na se- mana em dias alternados. Estágio de melhora O estágio de melhora difere do estágio inicial pelo fato de o partici- pante progredir a uma frequência mais rápida. Esse estágio dura tipi- camente 4 a 5 meses, durante os quais a intensidade é progressiva- mente aumentada na metade supe- rior da variação limite de 50 a 85% do vo- 2MÁX. A duração é aumen- tada a cada 2 a 3 semanas até que o participante seja capaz de se exer- citar por 20 a 30 minutos con- 72 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS tinuamente. Aos indivíduos sem condicionamento físico e idosos de- ve-se dar mais tempo para a adap- tação a cada estágio. Estágio de manutenção O estágio de manutenção do programa de exercício geralmente começa depois dos seis primeiros meses de treinamento. Nesse está- gio, o participante não estará mais interessado em aumento adi- cional do estímulo de condicionamento. O aumento adicional será mínimo, mas a continuação do mesmo exer- cício rotineiro permite que o indi- víduo mantenha seus níveis de aptidão. Nesse ponto os objetivos do progra- ma devem ser revisados e novos objetivos estabelecidos. Para manter a aptidão, um programa específico de exercício deve ser pla- nejado e ter o mesmo dispêndio de energia do programa de condicio- namento e satisfazer às necessida- des e interesses do participante por um período prolongado. É impor- tante incluir exercícios que o indi- víduo considere agradável. Fatores a considerar antes de determinar a intensidade do exercí- cio Vários fatores importantes de- vem ser considerados antes de de- terminar o nível de intensidade do exercício: Nível individual de aptidão; Presença de medicamentos que podem influenciar a FC (ex: β-bloqueadores que irão reduzir a FC em repouso e sua resposta ao exercício); Risco de lesão ortopédica ou cardiovascular; Preferências individuais para o exercício; Objetivos do programa indi- vidual. É necessário realizar uma anamnese clínica e perfil de fatores de risco para doenças crônico-dege- nerativas com s pessoas com idade acima de 40 anos. A seguir, algumas dicas para uma avaliação antes de iniciar um programa de exercícios físicos para populações especiais. Podem ser utilizados os testes que vocês aprenderam no módulo na- terior na disciplina “Medidas e avaliação em ativi- dade física”. Parâmetros funcionais como frequência cardíaca e pressão arterial em repouso e no esforço se forem o caso. Medidas antropométricas (massa corporal; altura; cir- cunferências; espessuras das dobras cutâneas) Avaliação postural (simetria cabeça, tronco, pernas e pés) Resistência/força muscular 73 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Teste de carga submáxima Teste de abdominal Flexão e extensão dos braços no solo Teste de abdominais – tradi- cional Flexibilidade Resistência cardiorrespirató- ria através do: consumo maxi- mo de oxigênio (vo- 2MÁX) por meio dos métodos labo- ratoriais ou de campo. Prescrição Voltada Para Exercícios Intervalado Nesta unidade serão apresen- tados os princípios básicos para prescrição de exercícios com pesos voltados para saúde do idoso, devido à grande prevalência de inúmeras comorbidades associadas ou não ao processo de envelhecimento, como hipertensão, artrite, alterações pos- turais e outras condições debilitan- tes que podem limitar a função física dessa população ao realizar os exer- cícios. Serão apresentados também os benefícios e um modelo de pres- crição para hidroginástica. Primeiramente vamos descre- ver o que são os exercícios interva- lados. Esses exercícios apresentam características de duração (geral- mente com intervalos entre uma ação e outra) e intensidade (média a alta) possuem maior participação do metabolismo anaeróbio do que o aeróbio. Treinamento com Pesos (TP) O TP oferece benefícios consi- deráveis em todas as faixas etárias. Para idosos, o TP pode capacitá-los a realizar as atividades da vida diária com maior facilidade e contrapor-se à sarcopenia e osteopenia (diminui- ção da massa muscular e massa óssea) e também à fragilidade (Gobbi, 2005). Vale destacar que a capacidade cardiorrespiratória e a individualização da prescrição do TP são essenciais e devem basear-se no estado de saúde, aptidão e objetivos do participante. A implementação de um pro- grama de TP em adultos idosos deve seguir uma abordagem gradual e progressiva. Essa abordagem pode minimizar o risco de lesões por esforço, tornar a atividade mais agradável e aumentar a aderência do ido- so. Em adição, permite o reforço positivo a cada passo bem-sucedido 74 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS em direção às metas determinadas. Além disso, a implementação gra- dual do programa de treinamento possibilita identificar e solucionar possíveis falhas na elaboração, como a não adequação do idoso a algum equipamento/exercício específico. Devido à grande prevalência de inúmeras comorbidades associa- das ou não ao processo de envelhe- cimento, como hipertensão, artrite, alterações posturais e outras condi- ções debilitantes que podem limitar a função física, tem sido recomen- dada cautela na taxa de progressão do programa TP. O controle da taxa de progressão pode minimizar pos- síveis eventos adversos relacionados a sua prática. Embora existam evi- dências que apontem para a não diferença entre adultos jovens e idosos quanto à progressão da intensidade/volume do treinamen- to, é de vital importância observar e avaliar as respostas adaptativas apresentadas por cada indivíduo, bem como o estado de saúde do ido- so. Nesse sentido, atenção cuidado- sa deve ser ofertada para relação estímulo de treinamento/recupe- ração. Um dos principais problemas verificados na fase inicial da imple- mentação de um programa de TP em idosos é o aprendizado do padrão e velocidade de movimento dos exer- cícios. Uma adequada familiarização em cada um dos exercícios permite o aumento da autoconfiança do idoso e, consequentemente, da taxa de progressão do TP e seus benefícios (Coelho et al.,2013). Criar um vínculo de amizadee confiança com o idoso também auxi- lia na implementação do programa de TP. A realização de confrater- nizações dentro e fora da sala de musculação é um poderoso incen- tivo para o aumento do prazer em realizar a prática do TP e para ade- rência. Prescrição treinamento com pesos por meio de Zona de repe- tições máximas (Coelho et al., 2013). O teste zona de repetições máximas é definido como a maior carga que um indivíduo consegue movimentar dentro de um número de repetições pré-estabelecido (10- 12 repetições máximas) (Kramer e Ratamess (2004). Dentre as diferen- tes formas para determinação da intensidade relativa do TP, o método de zona de repetições máximas apre- senta importantes vantagens: a) não depende das avaliações iniciais da força muscular máxima (1-RM) e b) permite o reajuste da carga sem que haja interrupção do treinamento para realização de novas avaliações. O aluno deverá realizar o teste de força submáxima para cada grupa- mento muscular, mas, se ele não tiver experiência em TP, é interes- 75 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS sante a familiarização nos equipa- mentos antes de realizar o teste. Avaliações da força muscular são mais frequentes nas fases iniciais do programa, pela rápida adaptação do sistema neuromuscular nos primei- ros seis meses de treinamento, po- dendo tornarem-se mais espaçadas no decorrer do programa. Seleção dos exercícios e prescrição A escolha de cada exercício de- ve levar em consideração as infor- mações levantadas nas avaliações e o nível de habilidade/experiência do participante. O emprego de exercí- cios monoarticulares, especialmente os realizados em máqui- nas, pode ser uma estratégia interessante para idosos sem experiência prévia em TP. Esses exercícios apresentam me- nor demanda de habilidade motora e risco de lesão, facilitando o apren- dizado e promovendo aumentos na força muscular (ACSM, 2009; Krae- Mer e Ratamess, 2004). Os exercíci- os multiarticulares envolvem maior quantidade de massa muscular e exigem maior complexidade do con- trole neural da ativação muscular, possibilitando a realização do exer- cício com maior quantidade de peso. Exercícios multiarticulares podem promover maiores aumentos na força muscular em comparação aos monoarticulares, sendo uma opção de progressão de treinamen- to (ACSM, 2009; KraeMer & Rata- mess, 2004). Ao selecionar um exercício multiarticular realizado com peso de livre, atenção especial deve ser dada à técnica do movi- mento durante todas as séries. Nesse sentido a prescrição po- derá ser da seguinte forma: 8-10 exercícios alternados por segmentos corporais. uma série de 10 repetições com 50% da carga pré- determinada é realizada como aquecimento prévio. três séries são realizadas em cada exer- cício, com a carga ajustada para que a fadi- ga ocorra na última série. intervalo de recuperação (ir) entre 90-180 segundos. Vale destacar que a utilização de maiores ir entre séries pode aumentar a sustentabilidade do número de repetições reali- zadas nas séries sub-sequen- tes e, por consequência, pro- mover um maior volume total da sessão de treinamento (JAMBASSI-FILHO et al., 2010). Maiores ir podem ser empregados para atenuar as respostas da pressão arterial sistólica em comparação aos menores ir (Castinheiras-Neto et al., 2010) para manter o número de re- petições dentro da zona pré- estabelecida, a carga é ajusta- da semanalmente, ou seja, se o aluno estiver conseguindo rea- 76 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS lizar mais que 12 repetições com facilidade, a carga deve- rá ser ajustada. os participantes são instruídos a executarem cada repetição em aproximadamente 1 segun- do na fase concêntrica e em aproximadamente 2 segundos na fase excêntrica. Em pessoas sem experiência prévia em TP, o emprego de velocidades len- tas a moderadas são suficien- tes para melhorar significati- vamente a força e potência muscular máxima (ACSM, 2009). Segundo o ACSM (2009), programas de TP realizados com alta velocidade de movimento promovem ga- nhos de potência muscular. A realização de exercícios com altas velocidades de movimen- tos pode ser adotada após o aluno apresentar boa qualida- de na execução dos movimen- tos para cada um dos exer- cícios selecionados. Adicionalmente, se esses exer- cícios forem realizados em valsalva, podem dificultar o retorno venoso e reduzir o fluxo sanguíneo ao coração e cérebro. Portanto, é necessário evitar esforço máximo e orientar sempre a respiração durante a rea- lização dos exercícios. Hidroginástica (Guedes e Guedes, 2005) A hidroginástica é um exce- lente exercício para as pessoas com problemas articulares, e também com obesidade, pois os exercícios na água não sobrecarregam as articu- lações. Exercícios físicos que nor- malmente não alcançam limites de intensidade aeróbia na terra como a caminhada, podem resultar em estí- mulos de esforços adequado na água, por causa do aumento da resistência que esta oferece aos mo- vimentos corporais. Em termos fisiológicos, o sis- tema circulatório é afetado quando o corpo está em água porque a pressão hidrostática excede a pressão venosa e tende aumentar um retorno veno- so ao coração. O volume final dias- tólico aumenta e o volume ejetado médio mostra um aumento de até 35% com a imersão ao nível do pes- coço. Esse efeito tem sido benéfico para pacientes com infarto e miopa- tia (McMurray, et al., 1988). A água também aumenta o trabalho da res- piração e, em relação ao sistema musculoesquelético, reduz a neces- sidade de vasoconstrição periférica e pode melhorar o fluxo sanguíneo muscular e a remoção de detritos metabólicos. A água ainda pode ser- vir como um método útil de trans- ferência de calor ao corpo imerso. Existem algumas contraindi- cações para determinados casos es- pecíficos, por exemplo colocar paci- entes com insuficiência cárdica na água poderia aumentar o estresse no sistema circulatório central e colocar 77 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS em risco o aluno. Quanto à intensi- dade de esforço, existem alguns as- pectos negativos a ser considerados, por exemplo, as rotinas de exercícios físicos direcionados ao controle do peso corporal relacionam-se à limi- tada disponibilidade de movimentos compatíveis com o meio líquido e a dificuldade de manter intensi- dade adequada de esforços físicos em ati- vidades de grupo (Moschetti et al., 1994). No entanto existem atual- mente alguns métodos de hidro- ginástica que permitem trabalhar com diferentes intensidades de exer- cícios. A seguir será apresentado um exemplo de prescrição na hidro- ginástica com a estimativa do gasto energético. Prescrição para Exercícios Contínuos (Caminhada e Corrida) Os exercícios contínuos são também conhecidos como ativida- des aeróbias. Essas atividades inclu- em esforços físicos que envolvem a utilização de grandes grupos muscu- lares e que possam ativar todo o sis- tema orgânico de oxigenação, com esforços de média a longa duração e de caráter dinâmico, em ritmo cons- tante e de intensidade moderada. De maneira geral, a eficiência dos exer- cícios aeróbios está diretamente re- lacionada à demanda energética to- tal induzida pelo trabalho muscular, associada à adequada combinação de frequência, intensidade e duração dos esforços físicos. Nesta unidade vamos exem- plificar prescrições voltadas para ca- minhada, corrida e natação voltadas para populações especiais por meio de modelos matemáticos. Caminhada A caminhada é a atividade mais comum utilizada nas rotinas de exercícios físicos. Andar é muito recomendado porque é a base da locomoção e está envolvido em mui- tas atividades da vida diária. A estimativa da energia consu- mida durante a caminhada deveráser desenvolvida em razão da velo- cidade empregada, da distância per- corrida e do peso corporal do indi- víduo. A uma velocidade entre 50 e 100 metros/minuto, ou, 3 a 6 Km/ 78 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS hora, deverá ocorrer demanda ener- gética por volta de 0,6 quilos/ calo- rias (Kcal) a cada Km percorrido por Kg de peso corporal (Cooper, 1968). Corrida (Guedes e Guedes, 2005) A corrida é outra modalidade de exercício físico comumente utili- zada em programas de treinamento. A princípio, em velocidades mais baixas, a demanda energética envol- vida na caminhada é menor que com a corrida, entretanto, próximo a 8km/hora, a demanda energética da corrida e da caminhada deverá ser mui- to semelhante. Nesse caso, é indiferente prescrever uma ou outra modalidade de exercício físico. A partir desse raciocínio, não se poderá utilizar o mesmo modelo matemático para estimativa do gasto energético da corrida e da caminhada, mesmo a uma veloci- dade similar, sendo modificado o modelo matemático para a veloci- dade da corrida empregada. Nesse sentido, admitindo que o equivalente energético para correr um metro/minuto, em plano hori- zontal, é de 3,5 ml de oxigênio, ao multiplicar a velocidade de corrida, em metros/minuto, por 0, 2, e adi- cionando o valor de repouso, obter- se-á o custo de oxigênio da corrida expresso em relação ao peso cor- poral do indivíduo. Oxigênio consumido, expresso em litros, corresponde a 5kcal de energia. Assim, ao corrigir o custo de oxigênio pelo peso corporal e pelo tempo de duração da corrida, ajus- tando-se as unidades de me- dida, ter-se-á a demanda energética total da atividade. Então, se o indivíduo em ques- tão apresentar peso corporal de 90 kg, seu custo de oxigênio, ao percor- rer 6km em 42 min, seria de quanto, aproximadamente? E a demanda energética total seria quanto? 79 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS O custo de oxigênio do indiví- duo com 90 kg, ao percorrer 6km em 42 min, seria de aproximadamente 121 litros, e a demanda energética total seria de 607 kcal. Muitas vezes, com a intenção de alcançar o gasto energético mais elevado a fim de melhorar a con- dição física do aluno, é muito co- mum aumentar a velocidade da cor- rida mantendo o tempo constante. No entanto, se observarmos o mode- lo matemático, ao atribuirmos um incremento de 10%, a distância total de 6,6 km deverá ser percorrida na primeira situação, nos mesmos 42 min, contudo a uma velocidade de 157 m/min; e na segunda situação, em 46,15 min, tendo em vista a velo- cidade continuar a mesma em rela- ção ao tempo de corrida. Verifica-se que a diferença na demanda energética não é maior que 6kcal a favor do esforço físico reali- zado com velocidade de corrida mais elevada. Diante disso, seria interes- sante elevar o tempo de corrida mantendo a velocidade constante. Equivalente de Gasto Ener- gético De acordo com Nahas (2001), é considerada sedentária a pessoa com estilo de vida com um mínimo de atividade física, equivalente a um gasto energético inferior a 500 kcal por semana. Para ser considerada moderadamente ativa, é ne- cessário realizar atividade física que acu- mule um gasto semanal de pelo menos 1000 kcal, o que corresponde a caminhar em passos rápidos por 30 minutos, cinco vezes por semana. Para deixar de fazer parte do grupo dos sedentários, o indivíduo precisa gastar no mínimo 2.200 calorias por semana em atividades físicas. Me- nos que isso, pode acarretar conse- quências negativas à nossa saúde. Prescrição de Atividades em Grupos (Idosos) (Coe-lho et al., 2013). 80 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS Quando falamos em atividades para terceira idade, podemos nos basear nas capacidades funcionais (flexibilidade, força muscular, resis- tência aeróbia, coordenação, equilí- brio e agilidade). Nesse sentido, a capacidade funcional pode ser defi- nida como a capacidade de um indi- víduo de realizar as atividades diá- rias ou mesmo atividades inespe- radas, de forma segura e eficiente (ONEESS et al., 1990). Ou seja, a qualidade de vida dos idosos está associada à manutenção da capaci- dade funcional e da sua autonomia. A modalidade de atividade fí- sica generalizada deve ser realizada três vezes por semana, em sessões com duração aproximada de 50 minutos. As sessões devem ser com- postas por uma parte inicial (aqueci- mento), parte principal e parte final (volta à calma). Com relação à esco- lha dos exercícios que serão inse- ridos na sessão, é necessário cuida- do para que contemplem variados componentes de capacidade funcio- nal (CF). Tais componentes podem ser desenvolvidos em uma mesma sessão de treinamento ou em ses- sões alternadas. A partir do planejamento dos componentes de CF que serão trabalhados em cada sessão, é necessária a escolha das atividades, que devem ser específicas para o seu desenvolvimento. No quadro abai- xo, temos alguns exemplos de ativi- dades para desenvolvimento dos componentes de CF escolhidos para serem trabalhados em cada sessão. Exemplo de sessões de ativida- de física generalizada nas quais são desenvolvidos componentes de ca- pacidade funcional em dias alter- nados: Sendo assim, as atividades planejadas para desenvolvimento dos componentes de CF, em cada sessão, serão elaboradas como parte 81 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS principal da aula. A partir desse ponto, são definidos o volume e intensidade com que cada atividade deve ser desenvolvida, ao longo da sessão. A elaboração dos exercícios para atividade física generalizada é baseada na avalição funcional reali- zada por meio da bateria de testes motores para idosos American Alli- ance for Health, Physical Education, recreation and Dance (AAPHERD) (Oneess et al., 1990). De acordo com os resultados obtidos em tal avaliação, as sessões são elaboradas visando desenvolver com maior ênfase um ou outro com- ponente da CF, não excluindo os demais. Por exemplo, se a maioria dos idosos teve um comportamento ruim no teste de força, cerca de duas vezes por semana serão realizados exercí- cios para fortalecimento de membro superior, seguindo o princípio da sobrecarga para aumentar o estí- mulo nos participantes. Além disso, serão realizados exercícios que en- volvam outros componentes de CF. 82 83 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS 4. Referências Bibliográficas ACSM (American college of sports medici- ne). Position stand: progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports exerc, hagerstown, v.41, n.3, p.687-708, 2009. ANJOS, G. C. M.; PASSOS, V.; DANTAS, A. R. Fisioterapia aplicada a fase gesta- cional: uma revisão da literatura. Traba- lho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) - Universida- de Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2003. BARTON, John R.; SIBAI, Baha M. Predic- tion and prevention of recurrent pree- clampsia. Obstetrics & Gynecology, v. 112, n. 2, Part 1, p. 359-372, 2008. BATISTA, Daniele C. et al. Atividade física e ges- tação: saúde da gestante não atleta e crescimento fetal. Rev Bras Saúde Matern Infant, v. 3, n. 2, p. 151-8, 2003. BOUCHARD, C. Atividade Física e obesidade. São Paulo: Manole, 2003. CARVALHAES, Maria et al. Atividade física em gestantes assistidas na atenção primária à saúde. Rev Saúde Pública, v. 47, n. 5, p. 958-67, 2013. Castinheiras-Neto, a. G.; costa-Filho, i. r.; Farinatti, p.t. v. respostas cardiovasculares ao exercício resistido são afetadas pela carga e intervalos en- tre séries. arq Bras cardiol, São Paulo, v. 95, n. 4, p.493-501, 2010. Cintya Bassi, nutricionista do Hospital e Maternidade SãoCristóvão Coelho, F. G. M.; et al., exercício Físico no envelheci- mento saudável e patológico; Da teoria à prática. Curitiba: crv, 2013. COMPLEMENTAR AMERICAN COLLE- GE OF SPORTS MEDICINE. Pesquisas do ACSM para a fisiologia do exercício clínico: afecções musculoesqueléticas, neuromusculares, neoplásicas, imunoló- gicas e hematológicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Cooper, K. H. A means of assessing maximal oxygen uptake. Journal of the American Medical association, v.203, p. 201-2014, 1968. DREHMER, Michele et al. Socioeconomic, demographic and nutritional factors associated with maternal weight gain in general practices in Southern Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 26, n. 5, p. 1024-1034, 2010. FARIA, José Lopes, Patologia Especial, com Apli- cações Clinicas, Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1999. FISBERG, M. Atualização em obesidade na in- fância e adolescência. São Paulo: Atheneu, 2004. Gobbi, s.; Villar, R.; Zago, a.s. Bases teórico-práticas do condicio- namento físico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 261p. Guedes, D. P., Guedes, J. E. R. P. Controle do Peso Corporal: Composição Corporal atividade Física e Nutrição. Londrina: Midiograf, 1998. HAAS, Jennifer S. et al. Changes in the health status of women during and after pregnancy. Harris, C.; Debelisso, M. A.; Spitzer- Gibson, T. A.; Adams, K. J. The effect of resistance- training intensity on strength- gain response in the older adult. J. Strength Cond. Res., v. 18, n. 4, p. 833- 838, 2004. Jambassi Filho, J. C. et al. O efeito de diferen- tes intervalos de recuperação entre as séries de treinamento com pesos, 84 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS na força muscular em mulheres idosas treinadas. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro, V.16, n.2, p 113-116, 2010. Journal of General Internal Medicine, v. 20, n. 1, p. 45-51, 2005. KHAN, Khalid S. et al. WHO analysis of causes of maternal death: a systematic review. The lancet, v. 367, n. 9516, p. 1066- 1074, 2006. Kraemer W J, Ratamess N A. Fundamen- tals of resistance training: progression and exercise prescription. Med sci sport exerc. 2004; 36:674–8. LEMURA, L. M.; VON DUVILLARD, S. P. Fisiologia do Exercício Clínico. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2006. MATIJASEVICH, ALICIA; DOMINGUES, MARLOS RODRIGUES. Exercício físico e nascimentos pré-termo. Rev Bras Ginecol Obstet, v. 32, n. 9, p. 415-9, 2010. Mayo Clinic. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseasescon ditions/obesity/diagnosis- TREATMENT/DRC-20375749. MAZO, Giovana Zarpellon; LOPES; Mari- ze Amorim; BENEDETTI, Tânia Beroldo; Atividade Física e o Idoso. Porto Alegre: Ed. Sulina, 2001. MCARDLE, W. D.; KATCH, F.; KATCH, L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2003. McMurray, R. G., Fieselman, C. C. Avery, K E., Sheps, D. S.: Exercise hemodyna- mics in water and on land in pactients with coronary artery disease. Cardiopulm rehabil 8:69-75, 1988. MILÃO, Luzia Fernandes; LOPES, Paulo Tadeu Campos; MARTINS, Isabel Amaral; ROCHA, Anneliese Schonhorst. Prevalên- cia de Hipertensão Arterial em um Grupo de Idosos Praticantes de Atividade Física. IN; Estudos Multidisciplinares do Enve- lhecimento Humano, TEIXEIRA, Adriane Ribeiro, BECKER, Júnior Benno, FREI- TAS, Cíntia de L Rocha. Porto Alegre: Nova Prova, 2008. Ministério da Saúde. Disponível em: saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?c onteu- DO=PUBLICACOES/CAB12 Mochetti M., Colle, A.J. Aquatcs: Risk manage- ment strategies for therapy pool. Musculoskel rehabil 4:265-272, 1994. Nahas, M. v. atividade física, saúde e qualidade de vida. Conceitos de sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001. NEGRÃO, C. E.; BARRETTO, A. C. P. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. São Paulo: Manole, 2005. NIEMAN, D. C. Exercício e saúde: como se pre- venir de doenças usando o exercício como seu medicamento. São Paulo: Mano- le, 1999. NIEMAN, David C. Dr. PH, Exercício e Saúde. Como se prevenir de doenças usando o exercício como seu medica- mento. São Paulo: Ed. Manole Ltda, 1999. NUCCI, Luciana Bertoldi et al. Assess- ment of weight gain during pregnancy in general prenatal care services in Brazil. Cadernos de Saúde Públi- ca, v. 17, n. 6, p. 1367-1374, 2001. Oneess, W. H. et al., Functional Fitness assessment for adults over 60 Years (a Field Based Assessment). (AAPHERD). Publication Sales Office, 1990 Association Drive reston, va, p. 1-36, 1990. 85 EXERCÍCIO E CONDIÇÕES ESPECIAIS POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisio- logia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole. 2005. ROBBINS & COTRAN, Patologia, Bases Pato- lógicas das Doenças. São Paulo: Ed. Saunders, 2006. ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício: para ap- tidão, desempenho. Robertson, R. J., Goss, F. L., Rutkowski, J., Lenz, B., Dixon, C., Timmer, J., Frazee, K., Dube, J., Andreacci, J. Concurrent validation of the OMNI perceived exertion scale for resistance exercise. Med sci sports exerc. 35(2): 333-41, 2003. SHARKEY, B. J. Condicionamento físico e saúde. Porto Alegre: Artmed, 2006. SHARKEY, B. J.; DORNELLES, M. S. Condicionamento físico e saúde. Porto Alegre: Artmed, 2006. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/o-que-e- obesidade/ STERPHESON, R. G.; O’CONNOR, L. J. Fisioterapia aplicada à ginecologia. STULBACH, Tamara E. et al. Determi- nantes do ganho ponderal excessivo du- rante a gestação em serviço público de pré- natal de baixo risco. Rev. bras. Epidemiol, v. 10, n. 1, p. 99-108, 2007. TAKITO, Monica Yuri; BENÍCIO, Maria Helena D.’Aquino; NERI, Lenycia de Cas- sya Lopes. Physical activity by pregnant women and outcomes for newborns: a systematic review. Revista de saúde pública, v. 43, n. 6, p. 1059-1069, 2009. TARANTINO, A. B. Doenças pulmonares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. VAISBERG M.; MELLO, MT. Exercícios na Saúde e na Doença. São Paulo: Editora Manole, 2010. VAISBERG, M. R.; MELLO, M. T. O exercício como terapia na prática médica. São Paulo: Artes Médicas, 2005. WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2005. YE, R. W. et al. [Prospective cohort study of pregnancy-induced hypertension and risk of preterm delivery and low birth weight]. Zhonghua yu fang yi xue za zhi [Chinese journal of preventive medicine], v. 44, n. 1, p. 70-74, 2010. 08 6