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FISIOPATOLOGIA SEPSE Prof. Roberta Helena Fernandes Feitosa Fisiopatologia - Eixo Morfofuncional SEPSE DEFINIDA PELA PRESENÇA DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA AMEAÇADORA À VIDA EM DECORRÊNCIA DE RESPOSTA INFLAMATÓRIA DESREGULADA SECUNDÁRIA A AGRESSÃO POR UM AGENTE INFECCIOSO. INTRODUÇÃO • A resposta normal do hospedeiro à infecção é um complexo que localiza e controla a invasão do patógeno, enquanto inicia o reparo do tecido danificado. • Envolve a ativação de células fagocíticas circulantes e fixas, bem como a geração de mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Sepse resulta quando a resposta à infecção se torna generalizada e envolve tecidos normais distantes do local de lesão ou infecção. RESPOSTA NORMAL À INFECÇÃO • A resposta do hospedeiro a uma infecção é iniciada quando as células imunes inatas, particularmente os macrófagos, reconhecem e se ligam aos componentes microbianos. • A ligação dos receptores da superfície celular imune aos componentes microbianos tem múltiplos efeitos: ❖ Cascata de sinalização – ativação de um grande conjunto de genes envolvidos na resposta inflamatória do hospedeiro. ❖ Expressão de moléculas de adesão: causando agregação e marginação dos polimorfonucleares ao endotélio vascular. ❖ Liberação dos mediadores pró-inflamatórios: TNF – alfa e IL-1 RESPOSTA NORMAL À INFECÇÃO Local Infecção MEDIADORES POLIMORFONUCLEARES INFLAMAÇÃO VASODILATAÇÃO LOCAL PERMEABILIDADE VASCULAR AUMENTADA CALOR ERITEMA EDEMA RESPOSTA NORMAL À INFECÇÃO • As citocinas pró inflamatórias importantes incluem TNF alfa e Interleucina-1 (IL-1), que compartilham uma série notável de efeitos biológicos. • O meio pró inflamatório leva ao recrutamento de mais polimorfonucleares (PMNs) e macrófagos. • Citocinas que inibem a produção de TNF-alfa e IL-1 são consideradas citocinas anti-inflamatórias. • Atuam suprimindo o sistema imunológico com inibição da produção de citocinas pelos PMNs e células T dependentes de monócitos. Mediadores Inflamatórios Mediadores Anti-inflamatórios Aderência Quimiotaxia Fagocitose Patógeno Morte Bacteriana Fagocitose Tecido Danificado HOMEOSTASE REPARO E CICATRIZAÇÃO TECIDOS SEPSE ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção excede os limites do ambiente local, levando a uma resposta mais generalizada. SEPSE Inflamação Intravascular Maligna Maligna: incontrolável, não regulada e autossustentável. Intravascular: porque o sangue difunde mediadores que normalmente são confinados a interações célula a célula dentro do espaço intersticial. Inflamatório: as características da resposta séptica são exageros da resposta inflamatória normal. • A causa é multifatorial e pode incluir os efeitos diretos dos microorganismos invasores ou seus produtos tóxicos, liberação de grandes quantidades de mediadores pró-inflamatórios e ativação do complemento. • Componentes da parede celular bacteriana e produtos bacterianos podem contribuir para a progressão de uma infecção local para SEPSE. • ENDOTOXINA: lipossacarídeo encontrado na parede celular de bactérias GRAM. - detectável no sangue de pacientes sépticos. - níveis plasmáticos elevados estão correlacionados com choque e disfunção de múltiplos órgãos. - ativação do Complemento, Coagulação e Sistemas Fibrinolíticos. Grandes quantidades de citocinas pró-inflamatórias liberadas em pacientes com sepse podem se derramar na corrente sanguínea, contribuindo para a progressão de uma infecção local para sepse. TNF-alfa IL-1 FEBRE HIPOTENSÃO LEUCOCITOSE INDUÇÃO DE CITOCINAS ATIVAÇÃO DA COAGULAÇÃO FIBRINÓLISE SISTEMA COMPLEMENTO É uma cascata de proteína que ajuda a limpar os agentes patogênicos de um organismo. Há evidências de que a ativação do sistema do complemento desempenha um papel importante na sepse; mais notavelmente, a inibição da cascata do complemento diminui a inflamação, melhorando a mortalidade. EFEITOS SISTÊMICOS DA SEPSE LESÃO CELULAR DISFUNÇÃO ORGÂNICA Mecanismos propostos para explicar a lesão celular incluem: Isquemia Tecidual Lesão Citopática Apoptose ISQUEMIA TECIDUAL Distúrbio significativo na Autorregulação metabólica. Durante a sepse, as lesões microcirculatórias e endoteliais frequentemente se desenvolvem, reduzindo a área disponível para as trocas metabólicas no tecido. Lesões Microcirculatórias: resultado de desequilíbrios na coagulação e nos sistemas fibrinolíticos. Lesões Endoteliais: consequência das interações entre as células endoteliais e PMNs. • O aumento da aderência celular de células endoteliais mediada por receptores induz a secreção de espécies reativas de oxigênio, enzimas líticas e substâncias vasoativas no meio extracelular, o que pode prejudicar as células endoteliais. • Outro fator que contribui para a isquemia tecidual na sepse é que os eritrócitos perdem a capacidade normal de deformar dentro da microcirculação sistêmica. • Isto causa heterogeneidade no fluxo sanguíneo microcirculatório e fluxo de oxigênio do tecido deprimido. MEDIADORES INFLAMATÓRIOS INIBIÇÃO ENZIMAS RESPIRATÓRIAS ESTRESSE OXIDATIVO DECOMPOSIÇÃO DNA MITOCONDRIAL DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL LESÃO CITOPÁTICA LESÃO CITOPÁTICA LESÃO MITOCONDRIAL CITOTOXICIDADE COMPROMETIMENTO FUNCIONAL METABOLISMO ENERGÉTICO DO TRANSPORTE DE ELÉTRONS DESORDENADO MITOCONDRIAIS • Houve associação entre a superprodução de óxido nítrico (NO), a depleção de antioxidantes e a gravidade do desfecho clínico. • A lesão celular e a morte na sepse podem ser explicadas por anóxia citopática, que é incapacidade de utilização do oxigênio mesmo quando presente. Biogênese: processo de reparação e restauração das mitocôndrias, colocado como um importante alvo terapêutico. APOPTOSE CELULAR MORTE CELULAR PROGRAMADA • Conjunto de alterações físicas fisiológicas e morfológicas reguladas que levam à morte celular. • Principal mecanismo pelo qual as células senescentes ou disfuncionais são normalmente eliminadas e o processo dominante pelo qual a inflamação é encerrada quando uma infecção diminui. • Durante a sepse, as citocinas pró-inflamatórias podem atrasar a apoptose em macrófagos e neutrófilos ativados, prolongando ou aumentando a resposta inflamatória; contribuindo para o desenvolvimento de insuficiência de múltiplos órgãos. • A sepse também induz a extensa apoptose de células linfocíticas e dendríticas, o que altera a eficácia da resposta imune e resulta em diminuição da depuração de microorganismos invasores. A gravidade da APOPTOSE dos linfócitos correlaciona-se com a gravidade da síndrome séptica e o nível de imunossupressão. Highlight Highlight Highlight Highlight EFEITOS ESPECÍFICOS DA SEPSE NOS MÚLTIPLOS ÓRGÃOS DEPRESSÃO MIOCÁRDICA SARA ALTERAÇÕES HEPÁTICAS HDA/HDB DIARREIA ALTERAÇÕES METABÓLICASCIVD IRA COMA DISFUNÇÃO COMPLICAÇÕES CLÍNICAS DA SEPSE • A lesão celular acompanhada pela liberação de mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios, muitas vezes progride para disfunção orgânica. • Nenhum sistema orgânico é protegido das consequências da sepse, sendo a disfunção múltipla comum. CIRCULAÇÃO PULMÃO RIM TRATO GASTROINTESTINAL SISTEMA NERVOSO CENTRAL CIRCULAÇÃO A hipotensão por vasodilatação difusa é a expressão mais grave da disfunção circulatória na sepse. • É uma consequência não intencional da liberação de mediadores vasoativos, cujo objetivo é melhorar a autorregulação metabólica induzindo a vasodilatação apropriada. • Outro fator que pode contribuir para a persistência da vasodilatação durante a sepse é a secreção compensatória do hormônioantidiurético (vasopressina) prejudicada. A vasodilatação não é a única causa de hipotensão durante a sepse. • Pode acontecer por redistribuição do líquido intravascular, consequência do aumento da permeabilidade endotelial e do tônus vascular arterial reduzido. CIRCULAÇÃO CENTRAL: diminuição do desempenho ventricular sistólico e diastólico devido à liberação de substâncias depressoras miocárdicas. CIRCULAÇÃO REGIONAL: hiporresponsividade vascular leva a uma incapacidade de distribuir adequadamente o fluxo sanguíneo sistêmico entre os sistemas orgânicos. MICROCIRCULAÇÃO: Alvo mais importante na sepse. • A sepse está associada a uma diminuição do número de capilares funcionais, o que causa incapacidade de extrair o oxigênio de forma máxima. • Alterações presentes: compressão extrínseca dos capilares por edema de tecidos, inchaço endotelial e obstrução do lúmen capilar por leucócitos e glóbulos vermelhos. • As alterações endoteliais produzidas pela sepse ocorrem por interações diretas e indiretas entre as células endoteliais e os componentes da parede bacteriana. DISFUNÇÃO ENDOTELIAL ALTERAÇÕES COAGULAÇÃO REDUÇÃO LEUCÓCITOS REDUÇÃO DEFORMAÇÃO ERITRÓCITOS AUMENTO REGULAÇÃO DAS MÓLECULAS DE ADESÃO ADESÃO DE PLAQUETAS E LEUCÓCITOS DEGRADAÇÃO DA ESTRUTURA GLICOGÊNICA ATIVAÇÃO DIFUSA ENDOTÉLIO: EDEMA GENERALIZADO RICO PROTEÍNAS PULMÃO • A lesão endotelial na vasculatura pulmonar perturba o fluxo sanguíneo capilar e aumenta a permeabilidade microvascular, resultando em Edema Pulmonar intersticial e alveolar. • EDEMA PULMONAR: Incompatibilidade ventilação-perfusão, levando à hipoxemia. • Principal Manifestação Clínica: Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA). Highlight TRATO GASTROINTESTINAL • As anormalidades circulatórias típicas da sepse podem deprimir a função de barreira normal do intestino, permitindo a translocação de bactérias e endotoxinas para a circulação sistêmica, estendendo a resposta séptica. • A disfunção hepática pode impedir a eliminação de endotoxinas e produtos derivados de bactérias, o que impede a resposta local apropriada das citocinas – permitindo derrame direto destes produtos potencialmente prejudiciais na circulação sistêmica. RIM A sepse frequentemente é acompanhada de Injúria Renal Aguda. • Principal mecanismo: Necrose Tubular Aguda (NTA) por hipoperfusão tecidual e hipoxemia. • Outros Mecanismos: Hipotensão Arterial Sistêmica, Vasoconstrição renal direta, Liberação de Citocinas e Ativação de neutrófilos. RIM • A lesão renal pela sepse é uma adaptação bioenergética de células epiteliais tubulares induzida por inflamação desregulada em resposta à disfunção microvascular peritubular. • Estudos sugerem que o início precoce da Terapia de Reposição Renal (TRR) e o uso de métodos contínuos estão associados a uma melhor tolerância hemodinâmica e resultados. A probabilidade de morte é aumentada em pacientes com sepse que desenvolvem Insuficiência Renal. SISTEMA NERVOSO CENTRAL • As alterações ocorrem frequentemente em pacientes sépticos, muitas vezes antes do fracasso de outros órgãos. • A disfunção do SNC tem sido atribuída a mudanças no metabolismo e alterações na sinalização celular devido a mediadores inflamatórios. • A disfunção da barreira hematoencefálica provavelmente contribui, permitindo o aumento da infiltração de leucócitos, exposição a mediadores tóxicos e o transporte ativo de citocinas através da barreira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Medicina de emergência: abordagem prática / professor titular e coordenador Irineu Tadeu Velasco; editor chefe Rodrigo Antônio Brandão Neto; editores Heraldo Possolo de Souza ... [et.al]. – 13 ed., rev., atual. e ampl. – Barueri [SP] : Manole, 2019. 2. Medicina Intensiva: abordagem prática / editores Luciano César Pontes de Azevedo, Leandro Utino Taniguchi, José Paulo Ladeira, Bruno Alder Maccagnan Pinheiro Besen. – 4. ed. rev. e atual. – Barueri, SP: Manole, 2020. 3. Pathophysiology of sepsis - Author: Remi Neviere, MDSection Editors: Scott Manaker, MD, PhDDaniel J Sexton, MDDeputy Editor: Geraldine Finlay, MD. 4. Microcirculação na Sepse: Aspectos Fisiopatológicos e Diagnósticos – Marcos L. Miranda, Daniella M. L. Caixeta, Eliete Bouskela. Terapia Intensiva Vol. 12, N.3. // rhupe. 2013.7527. 5. Manual Sepse – AMIB/ILAS – 2018.