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Lara Mendonça P6 FITS Na década de 80, um pesquisador chamado Reaven, observou que doenças frequentes como hipertensão, alterações na glicose e no colesterol estavam, muitas vezes, associadas à obesidade. E mais que isso, essas condições estavam unidas por um elo de ligação comum, chamado resistência insulínica. A valorização da presença da Síndrome se deu pela constatação de sua relação com doenças cardiovasculares. Quando presente, a Síndrome Metabólica está relacionada a uma mortalidade geral duas vezes maior que na população normal e mortalidade cardiovascular três vezes maior. O termo Síndrome Metabólica descreve um conjunto de fatores de risco metabólico que se manifestam no indivíduo e aumentam as chances de desenvolver doenças cardíacas, derrames e diabetes. A Síndrome Metabólica tem como base a resistência à ação da insulina, daí também ser conhecida como síndrome de resistência à insulina. Isto é: a insulina age menos nos tecidos, obrigando o pâncreas a produzir mais insulina e elevando o seu nível no sangue. Alguns fatores contribuem para o aparecimento: os genéticos, excesso de peso (principalmente na região abdominal) e a ausência de atividade física. A insulina é o hormônio responsável por retirar a glicose do sangue e levá-la às células do nosso organismo. A ação da insulina é fundamental para a vida. Mas, a insulina também é responsável por inúmeras outras ações no organismo, participando, por exemplo, do metabolismo das gorduras. Resistência insulínica corresponde então a uma dificuldade desse hormônio em exercer suas ações. Geralmente ocorre associada à obesidade, sendo esta a forma mais comum de resistência. Síndrome Metabólica corresponde a um conjunto de doenças cuja base é a resistência insulínica. Pela dificuldade de ação da insulina, decorrem as manifestações que podem fazer parte da síndrome. Não existe um único critério aceito universalmente para definir a Síndrome. Os dois mais aceitos são os da Organização Mundial de Saúde (OMS) e os do National Cholesterol Education Program (NCEP) – americano. Porém o Brasil também dispõe do seu Consenso Brasileiro sobre Síndrome Metabólica, documento referendado por diversas entidades médicas. Lara Mendonça P6 FITS Segundo os critérios brasileiros, a Síndrome Metabólica ocorre quando estão presentes três dos cinco critérios abaixo: ● Obesidade central – circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem; ● Hipertensão Arterial – pressão arterial sistólica 130 e/ou pressão arterial diastólica 85 mmHg; ● Glicemia alterada (glicemia 110 mg/dl) ou diagnóstico de Diabetes; ● Triglicerídeos 150 mg/dl; ● HDL colesterol £ 40 mg/dl em homens e £50 mg/dl em mulheres → Ter três ou mais dos fatores acima é um sinal da presença da resistência insulínica, que é um hormônio produzido pelo pâncreas. Esta resistência significa que mais insulina do que a quantidade normal está sendo necessária para manter o organismo funcionando e a glicose em níveis normais. Quem tem risco de desenvolver a Síndrome? Segundo as pesquisas, uma em cada cinco adultos nos Estados Unidos têm Síndrome Metabólica. A Síndrome ocorre com mais frequência entre os africanos, hispânicos, asiáticos e americanos nativos. Para a maioria das pessoas o desenvolvimento da síndrome aumenta com o envelhecimento. O risco aumenta se a pessoa tem uma vida sedentária, sem atividade física e se tem: ● aumento do peso, principalmente na região abdominal (circunferência da cintura); ● histórico de diabetes na família; ● níveis elevados de gordura no sangue; ● pressão alta. SAIA DA MINHA TUTORIA A maioria das pessoas que têm a Síndrome Metabólica sente-se bem e não tem sintomas. Entretanto, elas estão na faixa de risco para o desenvolvimento de doenças graves, como as cardiovasculares e o diabetes. → São considerados como fatores de risco metabólicos: dislipidemia aterogênica (hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteína B, partículas de LDL-colesterol pequenas e densas e níveis baixos de HDL-colesterol), hipertensão arterial, hiperglicemia e um estado pró-inflamatório e pró-trombótico. O aumento da atividade física e a perda de peso são as melhores formas de tratamento, mas pode ser necessário o uso de medicamentos para tratar os fatores de risco. Entre eles estão os chamados "sensibilizadores da insulina", que ajudam a baixar a açúcar no sangue, os medicamentos para pressão alta e os para baixar a gordura no sangue. Lara Mendonça P6 FITS Recomenda-se que a obesidade seja o alvo principal do tratamento da SM. A perda de peso melhora o perfil lipídico, abaixa a pressão arterial e a glicemia, além de melhorar a sensibilidade à insulina, reduzindo o risco de doença aterosclerótica. Este tratamento deve ser baseado em modificações do estilo de vida: aumento da atividade física e modificação da alimentação, evitando uma dieta aterogênica. Em relação aos exercícios físicos, o recomendado é praticar pelo menos 30 minutos de atividade aeróbica de moderada intensidade, diariamente. Mesmo que o exercício físico não promova uma perda de peso significativa, existem evidências de que haja redução do tecido adiposo visceral. A atividade aeróbica melhora a homeostase da glicose, promovendo o transporte de glicose e a ação da insulina na musculatura em exercício. Além disso, melhora o perfil lipídico, aumentando os níveis de HDL-colesterol e diminuindo os triglicérides. Além do tratamento da obesidade, o tratamento medicamentoso dos componentes da SM deve ser considerado, quando não há melhora destes apesar das mudanças de estilo de vida, para que haja diminuição do risco de doença aterosclerótica. Até o momento não existe nenhuma droga específica recomendada para tratamento da SM. As recomendações para o tratamento medicamentoso devem seguir os guidelines estabelecidos para cada fator de risco. O uso das estatinas no tratamento da dislipidemia aterogênica reduz o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com SM. Os fibratos também melhoram o perfil lipídico desses pacientes, com capacidade de reduzir a aterogênese. O mesmo é válido para o tratamento da hipertensão arterial e da hiperglicemia. A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que produz efeitos deletérios à saúde. Há um consenso na literatura de que sua etiologia é multifatorial, envolvendo aspectos biológicos, históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais e culturais. Atualmente, a obesidade tem sido considerada a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, devido ao aumento da sua incidência. A abordagem dos aspectos genéticos, metabólicos, psicossociais, simbólicos, culturais e de estilo Lara Mendonça P6 FITS de vida permitiu fundamentar a obesidade enquanto uma enfermidade plural e a necessidade de criar políticas públicas com ações multidisciplinares e intersetoriais, que valorizem a parceria entre governo e sociedade civil, na prevenção e combate à obesidade e promoção da saúde, possibilitando a participação da comunidade nesse processo, através da responsabilização e do autocuidado. O diagnóstico da obesidade é realizado a partir do parâmetro estipulado pela Organização Mundial de Saúde- índice de massa corporal (IMC), obtido a partir da relação entre peso corpóreo (kg) e estatura (m)2 dos indivíduos. Através deste parâmetro, são considerados obesos os indivíduos cujo IMC encontra-se num valor igual ou superior a 30 kg/m2. Na literatura, existe um consenso de que a etiologia da obesidade é bastante complexa, apresentando um caráter multifatorial. Envolve, portanto, uma gama de fatores, incluindo os históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais, biológicos e culturais. Ainda assim, nota-se que, em geral, os fatores mais estudados da obesidade são os biológicos relacionados ao estilo de vida, especialmente no que diz respeito ao binômio dieta e atividade física. Tais investigações se concentram nas questões relacionadas ao maior aporte energético da dietae na redução da prática da atividade física com a incorporação do sedentarismo, configurando o denominado estilo de vida ocidental contemporâneo → Recentemente a SBEM e a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) lançaram um documento que tem como proposta uma nova forma para classificar a obesidade, além da análise do IMC (Índice de Massa Corporal). Até hoje, a maior parte das pessoas ainda acredita que o objetivo do tratamento da obesidade seja normalizar, por assim dizer, o índice de massa corporal (IMC), como se só assim, tornando-se magro, fosse possível obter benefícios clínicos e ter um organismo mais saudável. No entanto, uma perda de peso que pode parecer muitas vezes até modesta — geralmente acima de 5% — já está relacionada a vantagens para a saúde, independentemente do valor do IMC ao final do tratamento que levou a esse emagrecimento. Lara Mendonça P6 FITS De uma maneira extremamente simples, a nova proposta parte do peso máximo que uma pessoa alcançou na vida — mas, atenção, não vale aquele peso da gravidez, nem o do período de lactação ou o de outras situações especiais descritas no artigo. Depois, anota-se o quanto de peso ela já perdeu no passado e calcula-se a porcentagem que essa perda representaria daquele valor mais alto. Para quem tem um IMC entre 30 e 39, 9 kg/m2, perdas que representam de 5% a 10% do valor mais alto alcançado na vida indicam uma obesidade reduzida. Já perdas acima de 10% apontam para uma obesidade controlada, com uma redução de risco importante para a saúde. Se, no entanto, o indivíduo tem um IMC igual ou maior do que 40kg/m2, os valores mudam um pouco. Então, para a obesidade ser considerada reduzida, a perda deve representar mais 10% do peso mais alto e deve ultrapassar 15% para a gente falar em obesidade controlada. A prevalência da obesidade tem aumentado progressivamente e seu tratamento é imprescindível, pois ela está associada ao aparecimento de diversas doenças crônicas. → Dentre as opções terapêuticas para a obesidade, o tratamento clínico é fundamental, sendo parte integrante inclusive do tratamento cirúrgico e tem como objetivo mudar o estilo de vida do indivíduo obeso, melhorando seu padrão alimentar e também estimulando a prática de atividade física. Para isso é preciso identificar as falhas tanto no comportamento alimentar do paciente, quanto outros erros nos seus hábitos de vida. → Não existem evidências que indique qual a composição mais adequada da dieta para se promover uma maior perda de peso, porém uma alimentação equilibrada parece promover mais saúde e bem estar do que dietas altamente restritivas em algum tipo de nutriente e ser igualmente eficaz em promover perda de peso. → Apesar de ser uma das enfermidades metabólicas mais antigas da humanidade, as oSAIApções farmacológicas para tratamento da obesidade são limitadas e apresentam diversos efeitos colaterais. Além disso, as mudanças de estilo de vida e do hábito alimentar promovem resultado mais duradouro quando comparados ao tratamento farmacológico isolado. O tratamento farmacológico deve auxiliar o paciente a mudar seu hábito alimentar e não simplesmente reduzir a sensação de fome e a ingestão alimentar. → O tratamento clínico não medicamentoso inclui prática de atividade física formal, aumento da atividade física informal e mudanças de hábito alimentar como realizar refeições sem pressa e em ambientes tranqüilos, evitar associar emoções com ingestão alimentar, mastigar bem os alimentos, além da correção dos erros alimentares (tratamento dietético). → Tratamento dietético: mudanças no comportamento alimentar constituem processos ativos nos quais as pessoas têm que se esforçar, consciente e consideravelmente, a fim de mudar antigos hábitos. Ao prescrever uma dieta é preciso determinar um modelo que possa ser seguido para alcançar e manter o peso adequado. O planejamento dietético baseia-se no estabelecimento de hábitos e práticas relacionados à escolha dos alimentos, comportamentos Lara Mendonça P6 FITS alimentares, adequação do gasto energético e redução da ingestão energética que terão que ser incorporados a longo prazo. → Embora os distúrbios psicológicos não estejam presentes em todos os obesos, as mudanças comportamentais baseadas nas quais as pessoas tendem a ingerir mais alimentos e em particular o entendimento da maneira de comer dessa pessoa são fundamentais no planejamento do tratamento dietético para a perda de peso Tratamento medicamentoso: O uso de medicamentos no tratamento da obesidade deve sempre visar auxiliar o processo de mudança de estilo de vida e facilitar a adaptação às mudanças dietéticas. Assim, a farmacoterapia deve servir apenas como auxílio ao tratamento dietético e não como estrutura fundamental do tratamento da obesidade. → Os medicamentos que podem ser utilizados no processo de perda de peso são distribuídos em três grupos: os que diminuem a fome ou modificam a saciedade, os que reduzem a digestão e a absorção de nutrientes e os que aumentam o gasto energético , sendo que estes últimos não são aprovados no Brasil. → Os medicamentos que modificam a ingestão de alimentos aumentam a disponibilidade de neurotransmissores (principalmente noradrenalina, adrenalina, serotonina e dopamina) no sistema nervoso central. Os agentes catecolaminérgicos incluem anfepramona, fenproporex e mazindol. Apesar de serem aceitos com tratamento da obesidade, seu uso não é recomendado especialmente pelo risco de abuso e de efeitos colaterais, além da recuperação do peso após a interrupção do seu uso. Mesmo com um aumento na perda de peso quando comparados com placebo, os efeitos colaterais como insônia, boca seca, constipação intestinal, euforia, taquicardia e hipertensão são muito comuns e importantes. → Os agentes serotoninérgicos aumentam a liberação de serotonina, inibem sua recaptação ou ambos e são também conhecidos como sacietógenos. A fenfluramina e a dexfenfluramina foram os primeiros medicamentos com esse perfil, porém não estão mais disponíveis no mercado, pois a combinação da fenfluramina com o fentermine está associada ao desenvolvimento de doença valvar cardíaca. Inibidores específicos da recaptação de serotonina podem ser utilizados no tratamento da obesidade e estão indicados quando a obesidade está associada à depressão, ansiedade ou compulsão alimentar. A fluoxetina demonstrou eficácia na perda de peso em doses a partir de 60 mg ao dia. A sertralina e a Bupropiona também podem ser utilizadas no tratamento de compulsão alimentar. → A sibutramina é um inibidor da recaptação de serotonina, noradrenalina e dopamina utilizada no tratamento da obesidade. Não está associada à doença valvar cardíaca por não induzir a liberação de serotonina. Em doses entre 5 a 20 mg associada à dieta hipocalórica, a sibutramina induz a perda de 5 a 8% de peso corporal inicial em um período de 6 meses. Estudos têm mostrado segurança do uso de sibutramina por períodos de até 18 meses consecutivos. Apesar de auxiliar no tratamento da obesidade, a sibutramina também tem efeitos colaterais como taquicardia, elevação da pressão arterial, boca seca, cefaléia, insônia e constipação intestinal, porém mais brandos e de duração menor que os associados aos medicamentos noradrenérgicos. → Os medicamentos que reduzem a digestão ou absorção de nutrientes se resumem ao orlistat, cujo mecanismo de ação é ligar-se à lípase lipoprotéica pancreática no lúmen intestinal, Lara Mendonça P6 FITS reduzindo sua ação e, assim, a digestão de triglicerídeos. O uso de 120 mg ao dia de orlistat reduz a absorção de gordura em até 30%, reduzindo a oferta de gordura e calorias aos tecidos corporais. O uso de orlistat por um ano aumenta a perda de peso em cerca de 4% quando comparado ao placebo. Seus efeitos colaterais incluem flatulência, urgência fecal, esteatorréia, incontinência fecal e redução na absorção de vitaminas lipossolúveis. Este último efeito adverso pode ser contornado com a ingestão de suplementos destas vitaminas duas horas antes ou depois do usodo medicamento Lara Mendonça P6 FITS Aspectos clínicos e cirúrgicos da obesidade mórbida: São candidatos para o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica) os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m2 associado a comorbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2, apnéia do sono, entre outras). A seleção de pacientes requer um tempo mínimo de 5 anos de evolução da obesidade e história de falência do tratamento convencional realizado por profissionais qualificados. A cirurgia estaria contra-indicada em pacientes com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão acentuada do miocárdio e cirrose hepática. Alguns autores citam contra-indicações psiquiátricas que ainda são fonte de controvérsias e motivo de discussão posterior. As cirurgias são classificadas como disabsortivas e/ou restritivas. São reconhecidas 3 técnicas de tratamento cirúrgico. A gastroplastia vertical com bandagem foi desenvolvida em 1982 por Mason. É uma cirurgia restritiva que consiste no fechamento de uma porção do estômago através de uma sutura, gerando um compartimento fechado. A utilização de um anel de contenção resulta em um esvaziamento mais lento deste "pequeno estômago". Com este procedimento, os pacientes experimentam uma redução em média de 30% do peso total nos primeiros anos. Porém, observa-se uma queda na velocidade de perda de peso para menos de 20% após 10 anos de seguimento. Uma das razões propostas para este fato é o aprendizado realizado pelos pacientes. Eles passam a selecionar e ingerir alimentos líquidos hipercalóricos com uma passagem rápida pelo "estômago estreitado" (p. ex.: "milk shake", leite condensado, etc.). A ''Lap Band'' é uma outra técnica cirúrgica restritiva, relativamente recente. Consiste na implantação videolaparoscópica de uma banda regulável na porção alta do estômago. Este artefato fica conectado a um dispositivo colocado sob a pele, o que permite o ajuste volumétrico do reservatório gástrico criado. Esta técnica ainda carece de uma melhor avaliação em estudos de seguimento. Nos últimos anos, entretanto, vem predominando uma terceira técnica que reúne a restrição à disabsorção, chamada de cirurgia de Capella. Aqui, a gastroplastia está associada a uma derivação gastrojejunal em formato da letra Y (chamada de Y de Roux). Este procedimento consiste na restrição do estômago para se adaptar a um volume menor que 30 ml. A redução de volume da cavidade é obtida através da colocação de um anel de contenção na saída do compartimento formado (orifício menor que 1.5 cm) e conexão com uma alça intestinal. A ingestão de carboidratos simples pode, assim, ocasionar a chamada síndrome de "dumping" (náuseas, vômitos, rubor, dor epigástrica, sintomas de hipoglicemia). Esta síndrome pode desempenhar um importante papel na manutenção da perda de peso. Com este procedimento, os pacientes obtêm perdas médias na ordem de 35% a longo prazo. É uma técnica segura e com baixa morbidade. Valeria a pena, também, ressaltar um outro procedimento cirúrgico utilizado menos Lara Mendonça P6 FITS frequentemente por alguns centros médicos em pacientes extremamente obesos. Esta seria a técnica de Scopinaro: um "bypass" biliopancreático parcial com gastrectomia distal. Os resultados esperados com a cirurgia bariátrica incluem: perda de peso, melhora das comorbidades relacionadas e da qualidade de vida. Utilizando estes parâmetros, o estudo de seguimento ("Bariatric Analysis and Reportig Outcome System - BAROS") padronizou um conjunto de instrumentos para avaliação dos resultados obtidos com pacientes submetidos à cirurgia. No estudo SOS (Swedish Obese Subjects), foi encontrada uma melhora da qualidade de vida, dos parâmetros cárdio-respiratórios (dor torácica, dispnéia, apnéia do sono e hipertensão) e metabólicos (diabetes e distúrbios lipídicos) associados a uma perda substancial de peso induzida pela cirurgia. A mortalidade perioperatória está em torno de 0.3 a 1.6 %. As complicações do período pós-operatório podem ser classificadas em precoces e tardias AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA NO PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO Apesar da avaliação psiquiátrica dos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica fazer parte de uma rotina no pré-operatório, ela não deve, entretanto, restringir-se a um rastreamento de transtornos mentais atuais e pré-existentes. O paciente no período pós-operatório também deve ser avaliado, a intervalos regulares, para o acompanhamento do seu funcionamento psicológico posterior. Indivíduos obesos da população geral, ou até mesmo pacientes obesos que procuram tratamento para emagrecer, não parecem evidenciar um aumento da morbidade psiquiátrica. Observamos, entretanto, um aumento da psicopatologia em pacientes gravemente obesos (obesidade grau III) que procuram tratamento para emagrecer. Dentre os diagnósticos psiquiátricos mais frequentemente observados nestes pacientes, estão os transtornos do humor e os transtornos do comportamento alimentar. Quando tentamos avaliar o impacto da presença de um transtorno do humor, a história pregressa de um episódio depressivo parece não influenciar a perda de peso no período pós-operatório. Devemos estar atentos, entretanto, para a ocorrência de novos episódios depressivos que podem aparecer após a cirurgia e necessitar suporte e tratamento especializados. Halmi e cols.9 encontraram uma prevalência aumentada de transtorno depressivo nesta população, variando entre 29% a 51%. Quatro estudos de seguimento a longo prazo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica reportaram várias condições psiquiátricas como causas de morte no período pós-operatório, sendo o suicídio a principal ocorrência. Lara Mendonça P6 FITS A compulsão alimentar periódica (CAP) é uma outra síndrome psiquiátrica frequentemente encontrada nesta população, devido a sua associação com a obesidade. Essa síndrome é caracterizada por episódios nos quais ocorre uma ingestão, em um período limitado de tempo (até duas horas), de quantidade de comida definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar e em circunstâncias similares, acompanhado de sensação de perda de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio. Quando esses episódios ocorrem, pelo menos dois dias na semana, nos últimos seis meses, associados a alguma característica de perda de controle e não são seguidos de comportamento compensatório dirigidos à perda de peso, compõe-se uma síndrome denominada atualmente de transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP). Adami e cols. demonstraram, através de uma avaliação transversal no período pré-operatório, que 63% dos pacientes com obesidade grau III apresentaram CAP, enquanto que 43% preenchiam os critérios para TCAP. Estas taxas foram muito maiores do que aquelas observadas em pacientes sem obesidade grau III. Apesar de menos frequentes, outros tipos de transtornos alimentares, como a bulimia nervosa (BN) e anorexia nervosa (AN), também podem estar presentes. Hsu L. e cols, ao realizarem um estudo de acompanhamento longitudinal, demonstraram que, dos 120 pacientes obesos mórbidos avaliados, 58,3% apresentavam algum tipo de Transtorno Alimentar (37,5% TCAP e 20,8% BN) no período pré-operatório. Na avaliação pós-operatória, observou-se que estes pacientes tinham uma maior dificuldade para perder peso e, em alguns casos, teriam até apresentado ganho ponderal. Bonne e cols demonstraram, através do relato de dois casos, que a AN é um transtorno alimentar que pode ocorrer neste período. As regras para indicação da cirurgia bariátrica e metabólica deverão mudar no Brasil, a partir de 2023. As novas diretrizes – já em discussão no Conselho Federal de Medicina (CFM) – irão ampliar os critérios de indicação do procedimento para pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal ) a partir de 35 kg/m², sem a presença de qualquer doença. Hoje, as cirurgias bariátricas podem ser feitas em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 35, com diabetes tipo 2 sem controle há mais de dois anos, pacientes com IMCacima de 35 – desde que tenham outras doenças associadas ao excesso de peso como hipertensão, apneia do sono, esteatose hepática (gordura no fígado) e outras. Já para pacientes sem outras doenças, é preciso ter IMC acima de 40. “O Consenso sobre Cirurgia Bariátrica de 1991 foi fundamental, mas após 30 anos e centenas de estudos publicados de alta qualidade, incluindo ensaios clínicos randomizados, não reflete mais as melhores práticas, especialmente com a evolução das tecnologias e avanço da obesidade”, afirma Fábio Viegas, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Congresso Brasileiro vai debater o tema A ampliação da indicação para a cirurgia bariátrica e temas como a cirurgia em extremos de idade (idosos e adolescente), cirurgia no SUS, cirurgia robótica, saúde física, saúde mental, saúde alimentar, entre outros temas serão debatidos nos dias 27, 28 e 29 de outubro, em Salvador. Lara Mendonça P6 FITS Paralelamente ao aumento da obesidade, durante a pandemia, houve uma queda no número de cirurgias bariátricas no Brasil, devido a suspensão dos procedimentos. Com isso, muitos estados tiveram suas filas de espera ampliadas. Nos últimos cinco anos foram realizadas 311.850 mil cirurgias bariátricas pelos planos de saúde e pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Destas 252.929 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), foram realizadas através dos planos e 14.850 foram feitas de forma particular. Deste total, 44.093 procedimentos foram realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), sendo apenas 115 procedimentos realizados na Bahia neste mesmo período, conforme dados do DATASUS. As cirurgias diferenciam-se pelo mecanismo de funcionamento. Existem três procedimentos básicos em cirurgia bariátrica e metabólica, que podem ser feitos por abordagem aberta, por videolaparoscopia, robótica e mais atualmente (ainda em protocolo de estudo) por procedimento endoscópico, teoricamente menos invasiva, mais confortável ao paciente, mas que ainda não se sabe de fato o alcance de seus resultados em perda de peso e em perfil de paciente. Os procedimentos são didaticamente divididos e classificados em: Restritivos: são procedimentos que diminuem a quantidade de alimentos que o estômago é capaz de receber, restringem a quantidade e induzem a sensação de saciedade precoce. Existem cirurgias que são procedimentos puramente restritivos, que não alteram a fome do Lara Mendonça P6 FITS paciente e os procedimentos que são restritivos e metabólicos, pois além de induzir à saciedade precoce reduzem também o grau de fome. Disabsortivas: são cirurgias que teoricamente alteram pouco o tamanho e a capacidade do estômago em receber alimentos. Alteram drasticamente a absorção dos alimentos a nível de intestino delgado, conhecidas como cirurgias de by-pass intestinal ou cirurgias de desvio intestinal. Na verdade, são cirurgias que por causarem um grande desvio intestinal, por reduzirem o tempo do alimento no trânsito pelo intestino delgado reduzem a capacidade de absorção do mesmo, com isso, por diminuição de absorção acabam induzindo ao emagrecimento. As cirurgias disabsortivas podem ser também puramente intestinais, ou seja, não alteram o tamanho do estômago (hoje em dia em desuso) ou também pode acrescentar uma parte metabólica, ao se realizar também uma parte gástrica ao procedimento intestinal, deixando de ser puramente disabsortiva. São cirurgias em que o paciente deve estar ciente da necessidade e da importância do controle dos micronutrientes (vitaminas). Técnicas mistas: são consideradas as cirurgias de ouro, são cirurgias que apresentam elevados índices de satisfação, excelente controle das doenças associadas, excelente manutenção do peso perdido a longo prazo. São as cirurgias mais realizadas no Brasil e no mundo. Essa técnica causa uma restrição na capacidade de receber o alimento pelo estômago que se encontra pequeno e possui um desvio curto do intestino com discreta má absorção de alimentos. É conhecida como cirurgia de by-pass gástrico ou cirurgia de fobi-capella. → Estudos consolidados apontam que 80% dos pacientes submetidos a uma cirurgia bariátrica são mulheres e, destas, cerca de 65% estão em idade fértil. A realização da cirurgia é capaz de reduzir em até 32% o risco de câncer de mama na menopausa, assim como os tumores de esôfago, pâncreas, fígado, vesícula, rim, ovário, colorretal e tireoide, de acordo com a meta análise “Association of Bariatric Surgery With Cancer Risk and Mortality in Adults With Obesity” → Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) apresentou aos cirurgiões associados a proposta para atualização das portarias do Ministério da Saúde que estabelecem as diretrizes da cirurgia bariátrica e metabólica no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as revisões sugeridas pela entidade estão atualizações nos critérios e contraindicações do tratamento cirúrgico e códigos específicos para cada técnica cirúrgica; rotinas de pré e pós-operatório; regulação dos hospitais credenciados; disponibilização de polivitamínicos; recursos para habilitação de estrutura física e equipamentos adequados; reajuste da tabela SUS que está congelada desde 2013, incentivos para hospitais que atendem a indicadores de qualidade e produção, incentivo a viabilização de cirurgias videolaparoscópicas e aumento da remuneração de profissionais e serviços hospitalares envolvidos nos processos. → Avaliação de qualidade em serviços de cirurgia bariátrica – QualiSUS Bari Para atingir os objetivos, foi proposta a criação do QualiSUS Bari, um sistema de indicação de qualificação dos serviços de cirurgia bariátrica habilitados pelo SUS. O sistema irá avaliar os serviços a partir de alguns critérios. São eles: ● Percentual de cumprimento do parâmetro mínimo de produção de cirurgias bariátricas Lara Mendonça P6 FITS ● Taxa de reinternação por qualquer complicação em até 30 dias do ato operatório abaixo de 10% do total de cirurgias mensais realizadas naquele mês ● Percentual do acompanhamento pós-operatório acima de 60% do número total de cirurgias realizadas pelo serviço naquele ano ● Percentual de cumprimento do parâmetro mínimo de produção de cirurgia bariátrica por videolaparoscopia acima de 50% do total de cirurgias bariátricas realizadas no ano analisado ● Ser Hospital Escola com no mínimo 1 Publicação Científica do Serviço de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em Revista indexada nacional ou internacional ● Ter serviço de referência em Cirurgia Bariátrica credenciado pela CRNM ● Qualificação Nacional – Índice de Qualificação (Certificação / Acreditação) da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Após a avaliação destes critérios, os serviços serão classificados em quatro níveis conforme o seu desempenho, sendo o nível “A” aqueles que cumprem todos os parâmetros estabelecidos e o nível “D” aqueles estabelecimentos que não cumprem o mínimo de produção e estão abaixo de 50% dos parâmetros de qualificação. → Um estudo divulgado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), aponta que 60% dos pacientes com obesidade sofrem de algum distúrbio psiquiátrico, sendo os mais comuns depressão e compulsão alimentar. A nutricionista e psicóloga Thais Costa Ribeiro de Andrade, que participa de uma pesquisa realizada no Hospital de Clínicas de São Paulo sobre a relação entre essas doenças, afirma que os índices são altos. “Nós percebemos através das entrevistas clínicas que existe um um número muito grande de pessoas que sofreram qualquer tipo de adversidades na infância e hoje tratam a obesidade. Observamos fatores como maus-tratos, abuso, estupro, estado de negligência, fome e assim por diante”, esclarece. O chamado “comer transtornado” ou “compulsão alimentar” é a falta de controle ao comer, que pode levar a um quadro de excesso de peso. Antes de ser submetido a uma cirurgia bariátrica e metabólica o paciente é avaliado por uma psicóloga que identifica e trata possíveis transtornos que podem levar ao hábito de alimentaçãocompulsiva e – para ser liberado para o procedimento – é indispensável que esteja realizando o acompanhamento psicológico e psiquiátrico, com o uso adequado de medicamentos, quando necessário. Ainda segundo Thaís Andrade a pessoa não consegue ter limite alimentar. “Isso acontece para criar uma capa de proteção, inconscientemente, para evitar situações de trauma, um olhar constrangedor ou para que possa ficar dentro de casa, deprimida”, explica. “O tratamento no pré-cirúrgico evita casos de reganho de peso após o procedimento”. → Com o crescimento dos índices de obesidade na infância e adolescência aumentam também as indicações para tratamento cirúrgico da doença em pacientes jovens. Nesta sexta-feira (28), o XXII Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica promoveu uma conferência para debater a nutrição nesses casos. Lara Mendonça P6 FITS No Brasil, segundo dados do IBGE, 15% das crianças entre 5 e 9 anos e 25% dos adolescentes, têm sobrepeso ou obesidade. Sendo que em 95% dos casos a obesidade está ligada ao sedentarismo, alimentação inadequada e problemas familiares. Não é só o corpo que sofre com os quilos a mais. A obesidade é um fator de risco para a saúde mental, podendo levar à depressão, ansiedade, estresse e problemas de autoestima, principalmente quando ela surge na infância e na adolescência. A cirurgia bariátrica em adolescentes é uma ferramenta eficaz para o controle da doença e das comorbidades relacionadas ao excesso de peso, já documentada em uma série de estudos nacionais e internacionais.
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