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Universidade Federal do Maranhão Centro de Ciências Exatas e Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Matemática Mestrado em Matemática Análise Funcional - Avaliação I Prof Dr. Anselmo Baganha Raposo Júnior Aluno: Matrícula: Instruções • Não é permitido o uso de calculadoras, celulares, tablets, aparelhos de mp3 ou similares; • As questões só serão consideradas mediante a resolução; • Faça letra legível; • As resoluções poderão ser deixadas de lápis, caneta azul ou preta; • A pontuação de cada questão/item está indicada em seu início; • Escolha 5 questões e as resolva. 1. (2 pontos) Dado α ∈ (0, 1), seja C0,α [a, b] o conjunto das funções f ∈ C [a, b] para as quais existe uma constante positiva C (que depende de f) tal que |f (x)− f (y)| ≤ C |x− y|α , para quaisquer x, y ∈ [a, b]. Seja ∥·∥C0,α : C0,α [a, b] → R a aplicação definida por ∥f∥C0,α = ∥f∥∞ + sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } . Mostre que ∥·∥C0,α define uma norma sobre C0,α [a, b] e que ( C0,b [a, b] , ∥·∥C0,α ) é um espaço de Banach. SOLUÇÃO: Sejam f, g ∈ C0,α [a, b] e λ ∈ R. (i) É evidente que ∥f∥C0,α ≥ 0. Ademais, se ∥f∥C0,α = 0, então ∥f∥∞ = sup {|f (x)| : a ≤ x ≤ b} = 0, o que ocorre se, e somente se, f = 0. 1 2 Análise Funcional - Avaliação I (ii) Notemos que ∥λf∥C0,α = ∥λf∥∞ + sup { |λf (x)− λf (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = |λ| ∥f∥∞ + sup { |λ| |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = |λ| ∥f∥∞ + |λ| sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = |λ| ( ∥f∥∞ + sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y }) = |λ| ∥f∥C0,α , ou seja, a aplicação ∥·∥C0,α goza de homogeneidade positiva. (iii) Lembrando que ∥·∥∞ define uma norma em C [a, b], temos ∥f + g∥C0,α = ∥f + g∥∞ + sup { |(f + g) (x)− (f + g) (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = ∥f + g∥∞ + sup { |(f (x)− f (y)) + (g (x)− g (y))| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } ≤ ∥f∥∞ + ∥g∥∞ + sup { |f (x)− f (y)|+ |g (x)− g (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = ∥f∥∞ + ∥g∥∞ + sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α + |g (x)− g (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } ≤ ∥f∥∞ + ∥g∥∞ + sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } + sup { |g (x)− g (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } = ( ∥f∥∞ + sup { |f (x)− f (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y }) + ( ∥g∥∞ + sup { |g (x)− g (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y }) = ∥f∥C0,α + ∥g∥C0,α , ou seja, ∥·∥C0,α goza da desigualdade triangular. Fica assim estabelecido que ∥·∥C0,α define uma norma sobre C0,α. Agora, seja (fn) ∞ n=1 uma sequência de Cauchy em C0,α [a, b]. Dados m,n ∈ N, observamos que ∥fm − fn∥∞ ≤ ∥fm − fn∥C0,α e, consequentemente, (fn) ∞ n=1 é uma sequência de Cauchy em (C [a, b] , ∥·∥∞). Sendo (C [a, b] , ∥·∥∞), existe f ∈ C [a, b] tal que fn → f relativamente à norma ∥·∥∞ da convergência uniforme. Desejamos mostrar que f ∈ C0,α [a, b] e que fn → f relativamente à norma ∥·∥C0,α . Dado ε > 0, existe nε ∈ N tal que, se m,n ≥ nε, então ∥fm − fn∥C0,α < ε 3 . Análise Funcional - Avaliação I 3 Isto assegura que, em particular, se m,n ≥ nε, então ∥fm − fn∥∞ < ε 3 (1) e sup { |(fm − fn) (x)− (fm − fn) (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } ≤ ε 3 . (2) Fazendo n→ ∞ em (1), concluímos que ∥fm − f∥ ≤ ε 3 . (3) sempre que m ≥ nε. Por outro lado, dados x, y ∈ [a, b] com x ̸= y, segue de (2) que |(fm − fn) (x)− (fm − fn) (y)| |x− y|α ≤ ε 3 (4) sempre que m,n ≥ nε. Lembrando que convergência uniforme implica em convergência pontual, fazendo n→ ∞ em (3), obtemos |(fm − f) (x)− (fm − f) (y)| |x− y|α ≤ ε 3 , para quaisquer x, y ∈ [a, b] com x ̸= y e m ≥ nε. Isto mostra que, se m ≥ nε, então sup { |(fm − f) (x)− (fm − f) (y)| |x− y|α : x, y ∈ [a, b] e x ̸= y } ≤ ε 3 . (5) Segue de (3) e (5) que fnε − f ∈ C0,α. Como fnε ∈ C0,α [a, b] e C0,α [a, b] é um espaço vetorial, concluímos que f = fnε − (fnε − f) ∈ C0,α [a, b] . Segue também de (3) e (5) que, se m ≥ nε, então ∥fm − f∥C0,α ≤ 2ε 3 < ε, isto é, fn → f em (C0,α [a, b] , ∥·∥C0,α). □ 2. (2 pontos) Sejam E um espaço vetorial normado e M um subespaço de E. Dados x, y ∈ E, escrevemos x ∼ y para denotar o fato de que x−y ∈M . Para cada x ∈ E, definimos [x] := {y ∈ E : x ∼ y}. Definimos também E/M := {[x] : x ∈ E}. a) Mostre “∼” é uma relação de equivalência. b) Mostre que as operações [x] + [y] = [x+ y] e λ [x] = [λx] estão bem definidas e fazem de E/M um espaço vetorial. 4 Análise Funcional - Avaliação I c) Se M é fechado em E então a correspondência [x] ∈ E/M 7→ ∥[x]∥ = inf {∥x− y∥ : y ∈M} ∈ R define uma norma sobre E/M . d) Se E é um espaço de Banach e M é fechado, então E/M também é espaço de Banach quando munido da norma do item (c). SOLUÇÃO: (a) Notemos que, para todo x ∈ E, x− x = 0 ∈M e, consequentemente, x ∼ x para todo x ∈ E, ou seja, a relação “∼” é reflexiva. Agora, sejam x, y ∈ E tais que x ∼ y. Então x − y ∈ M e, como M é subespaço vetorial y − x = − (x− y) ∈ M , ou seja, y ∼ x e a relação “∼” é reflexiva. Finalmente, se x, y, z ∈ E são tais que x ∼ y e y ∼ z, então x− y, y − z ∈M e, sendo assim, x− z = (x− y) + (y − z) ∈M , isto é, x ∼ z e a relação “∼” é transitiva. (b) Sejam x1, x2 ∈ [x] e y1, y2 ∈ [y]. Então x1 − x2, y1 − y2 ∈M e, sendo assim, (x1 + y1)− (x2 + y2) = (x1 − x2) + (y1 − y2) ∈M e λx1 − λx2 = λ (x1 − x2) ∈M de onde segue que (x1 + y1) ∼ (x2 + y2) e λx1 ∼ λx2. Isto estabelece que as correspondências ([x] , [y]) 7→ [x+ y] e (λ, [x]) 7→ λx estão bem definidas, isto é, não dependem da escolha dos representantes das classes. (c) Seja [x] ∈ E/M . Se x1, x2 ∈ [x], então {x1 − y : y ∈M} = {x2 − (x2 − x1 + y) : y ∈M} = {x2 − z : z ∈M} , de onde segue que {∥x1 − y∥ : y ∈M} = {∥x2 − z∥ : z ∈M} . Daí, inf {∥x1 − y∥ : y ∈M} = inf {∥x2 − y∥ : y ∈M} e, consequentemente, é bem definida a aplicação ∥·∥ : E/M → R [x] 7→ ∥[x]∥ = inf {∥x− y∥ : y ∈M} . É evidente que ∥[x]∥ ≥ 0 para todo [x] ∈ E/M . Ademais, se ∥[x]∥ = 0, então, para cada n ∈ N, existe yn ∈M tal que ∥x− yn∥ < 1 n . Análise Funcional - Avaliação I 5 A sequência (yn) ∞ n=1 assim definida é uma sequência em M que converge para x e, sendo M fechado, concluímos que x ∈ M , donde [x] = [0]. Agora, dados λ ∈ K e [x] ∈ E/M , temos ∥λ [x]∥ = ∥[λx]∥ = inf {∥λx− y∥ : y ∈M} = inf { |λ| ∥∥∥∥x− 1 |λ| y ∥∥∥∥ : y ∈M } = |λ| inf {∥∥∥∥x− 1 |λ| y ∥∥∥∥ : y ∈M } = |λ| inf {∥x− z∥ : z ∈M} = |λ| ∥[x]∥ e, portanto, ∥·∥ goza de homogeneidade positiva. Finalmente, dados [x] , [y] ∈ E/M , temos ∥[x]− [y]∥ = ∥[x− y]∥ = inf {∥(x− y)− z∥ : z ∈M} = inf {∥(x− y)− (u− v)∥ : u, v ∈M} ≤ inf {∥x− u∥+ ∥y − v∥ : u, v ∈M} = inf {∥x− u∥ : u ∈M}+ inf {∥y − v∥ : v ∈M} = ∥[x]∥+ ∥[y]∥ , isto é, ∥·∥ também goza da desigualdade triangular. Fica assim estabelicido que a aplicação ∥·∥ é uma norma. (d) Sejam E um espaço de Banach e M um subespaço fechado de E. Seja ([xn]) ∞ n=1 uma sequência de Cauchy em (E/M, ∥·∥) onde ∥·∥ é a norma do item (c). Mostraremos que ([xn]) ∞ n=1 possui uma subsequência convergente. Seja n1 ∈ N tal que ∥[xm]− [xn]∥ < 1 2 sempre que m,n ≥ n1. Seja n2 > n1 tal que ∥[xm]− [xn]∥ < 1 22 sempre que m,n ≥ n2. Seja n3 > n2 tal que ∥[xm]− [xn]∥ < 1 23 sempre que m,n ≥ n3. Prosseguindo desta forma, obtemos uma sequência crescente (nk) ∞ k=1 de inteiros positivos tal que ∥[xm]− [xn]∥ < 1 2k sempre que m,n ≥ nk. Em particular, a subsequência ([xnk ])∞k=1 é tal que∥∥[xnk+1 ] − [xnk ] ∥∥ < 1 2k 6 Análise Funcional - Avaliação I para todo k. Segue da definição da norma sobre E/M que existe y1 ∈M tal que ∥[xn2 ]− [xn1 ]∥ ≤ ∥(xn2 − xn1)− y1∥ = ∥(xn1 − y1)− xn1∥ < 1 2 . Fazendo v1 = xn1 e v2 = xn2 − y1, notamos que v2 ∼ xn2 e, deste modo, existe y2 ∈M tal que ∥[xn3 ]− [xn2 ]∥ = ∥[xn3 ]− [v2]∥ ≤ ∥xn3 − v2 − y2∥ = ∥(xn3 − y2)− v2∥ < 1 22 . Fazendo v3 = xn3 − y2, notamos que v3 ∼ xn3 e, sendo assim, existe y3 ∈M tal que ∥[xn4 ]− [xn3 ]∥ = ∥[xn4 ]− [v3]∥ ≤ ∥xn4 − v3 − y3∥ = ∥(xn4 − y3)− v3∥ < 1 23 . Prosseguindo com este argumento obtemos uma sequência (vk) ∞ k=1 em E tal que, para todo k ∈ N, xnk ∼ vk e ∥vk+1− vk∥ < 1 2k . para todo k ∈ N. O critério de Cauchy para séries garante que (vk) ∞ k=1 é de Cauchy e, sendo E completo, existe x0 ∈ E tal que x0 = lim vk. Como 0 ∈ M , para todo x ∈ E, temos ∥[x]∥ ≤ ∥x− 0∥ = ∥x∥ e, consequentemente, ∥[xnk ]− [x0]∥ = ∥[vk]− [x0]∥ = ∥[vk − x0]∥ ≤ ∥vk − x0∥ k→∞−→ 0. Logo, ([xnk ])∞k=1 converge para [x0] e o resultado segue. □ 3. (2 pontos) Lembre que um subconjunto K de um espaço métrico M é dito relativamente compacto seK é compacto emM . Mostre que, seK é um subconjunto relativamente compacto de ℓ1 então K é limitado e, para todo ε > 0 existe nε ∈ N tal que sup (an) ∞ n=1∈K ( ∞∑ n=nε |an| ) ≤ ε. SOLUÇÃO: Como todo subconjunto compacto de um espaço métrico é limitado e como todo subconjunto de um conjunto limitado também o é, uma vez que K ⊂ K e K é compacto, inferimos que K é limitado. Agora, para fins de contradição, suponhamos que exista ε0 > 0 tal que, para todo k ∈ N, exista xk = (ak,n) ∞ n=1 ∈ ℓ1 tal que ∞∑ n=k |ak,n| > ε0. A compacidade de K garante então que existem uma subsequência ( xkj )∞ j=1 de (xk) ∞ k=1 e x = (an) ∞ n=1 ∈ K tais que lim j→∞ xkj = x. Análise Funcional - Avaliação I 7 Seja, então, n1 ∈ N tal que ∥∥xkj − x ∥∥ 1 < ε0 4 sempre que kj ≥ n1. Seja n2 ∈ N tal que ∥(an)∞n=k∥ = ∞∑ n=k |an| < ε0 4 sempre que k ≥ n2. Deste modo, fazendo n0 = max {n1, n2}, se kj ≥ n0, temos ε0 < ∞∑ n=kj ∣∣akj ,n∣∣ = ∥∥∥(akj ,n)∞n=kj ∥∥∥ 1 ≤ ∥∥∥(akj ,n)∞n=kj − (an) ∞ n=kj ∥∥∥ 1 + ∥(an)∞n=k∥1 ≤ ∥∥xkj − x ∥∥ 1 + ∥(an)∞n=k∥1 < ε0 4 + ε0 4 = ε0 2 < ε0 o que, claramente, é um absurdo. □ 4. (2 pontos) (Aplicação quociente ou projeção canônica) Sejam M um subes- paço fechado do espaço vetorial normado E e π : E → E/M o operador linear definido por π (x) = [x]. Mostre que a) ∥π (x)∥ ≤ ∥x∥. b) Dados x ∈ E e ε > 0, existe y ∈ E tal que π (x) = π (y) e ∥y∥ ≤ ∥π (x)∥+ ε. c) π (BE (0; 1)) = BE/M (0; 1). d) π ∈ L (E;E/M), ker (π) =M e π é uma aplicação aberta. e) Se M ̸= E, então ∥π∥ = 1. f) Para todo espaço vetorial normado F e todo operador linear contínuo T : E → F , existe um único operador linear contínuo T̃ : E/ ker (T ) → F tal que T = T̃ ◦ π. Além disso, ∥T∥ = ∥∥∥T̃∥∥∥. SOLUÇÃO: (a) Como 0 ∈M , temos ∥π (x)∥ = ∥[x]∥ = inf {∥x− y∥ : y ∈M} ≤ ∥x− 0∥ = ∥x∥ . (b) Sejam x ∈ E e ε > 0. Como ∥π (x)∥ = inf {∥x− z∥ : z ∈M} , o número real ∥π (x)∥+ ε não é cota inferior de {∥x− z∥ : z ∈M}. Logo, existe zε ∈ M tal que ∥x− zε∥ < ∥π (x)∥+ ε. Seja y = x− zε. Então ∥y∥ < ∥π (x)∥+ ε 8 Análise Funcional - Avaliação I e, como x− y = zε ∈M , temos π (x) = [x] = [y] = π (y). (c) Seja x ∈ BE (0; 1). Segue então do item (a) que ∥π (x)∥ ≤ ∥x∥ < 1, isto é, π (x) ∈ BE/M (0; 1) e π (BE (0; 1)) ⊂ BE/M (0; 1). Por outro lado, se [x] ∈ BE/M (0; 1), fazendo ε = (1− ∥[x]∥) /2, observamos que ε > 0 e, sendo assim, segue do item (b) que existe y ∈ E tal que [x] = π (x) = π (y) e ∥y∥ < ∥π (x)∥+ ε = 1 + ∥π (x)∥ 2 < 1, ou seja, [x] = π (y) ∈ π (BE (0; 1)) e BE/M (0; 1) ⊂ π (BE (0; 1)). (d) A continuidade de π é uma consequência imediata do item (a). Notemos agora que π (x) = [0] ⇔ x ∼ 0 ⇔ x− 0 ∈M ⇔ x ∈M , isto é, ker (π) =M . Sejam a ∈ E e r > 0. Então BE (a; r) = a+ rBE (0; 1) e, da linearidade de π bem como do item (c), temos π (BE (a; r)) = π (a) + rπ (BE (0; 1)) = π (a) + rBE/M (0; 1) = BE (π (a) ; r) , o que estabelece que π é uma aplicação aberta. (e) Segue imediatamente do item (a) que ∥π∥ ≤ 1. Se M ⊊ E, fixando x0 ∈ E \M , para cada n ∈ N, seja un = (n− 1)x0 n ∥π (x0)∥ . Então, para todo n ∈ N, un /∈M e, consequentemente, à luz do item (d), temos 0 < ∥π (un)∥ = n− 1 n = 1− 1 n < 1 e, à luz do item (c), para todo n ∈ N, existe xn ∈ BE (0; 1) tal que π (xn) = π (un). Assim, para todo n ∈ N, ∥π∥ ≥ ∥π (xn)∥ = ∥π (un)∥ = 1− 1 n . (6) Fazendo n→ ∞ em (6) concluímos que ∥π∥ ≥ 1 e o resultado segue. (f) Sejam F um espaço vetorial normado e T ∈ L (E,F ). Notemos que, se u − v ∈ ker (T ), então T (u)− T (v) = T (u− v) = 0, Análise Funcional - Avaliação I 9 isto é T (u) = T (v) e, consequentemente, é bem definida a aplicação T̃ : E/ ker (T ) → F [x] 7→ T (x) . A linearidade de T̃ é evidente, bem como é evidente o fato de que T = T̃ ◦ π. Se S : E/ ker (T ) → F é um operador linear tal que T = S ◦ π, então, para todo [x] ∈ E/ ker (T ), temos S ([x]) = S (π (x)) = T (x) = T̃ (π (x)) = T̃ ([x]) , o que assegura que S = T̃ . Fixado [x] ∈ E/ ker (T ), segue do item (c) que, para todo n ∈ N, existe yn ∈ E tal que [x] = [yn] e ∥yn∥ ≤ ∥[x]∥+ 1 n . Assim, para todo n ∈ N,∥∥∥T̃ ([x]) ∥∥∥ = ∥∥∥T̃ ([yn]) ∥∥∥ = ∥T (yn)∥ ≤ ∥T∥ ∥yn∥ = ∥T∥ ( ∥[x]∥+ 1 n ) . Segue então que ∥∥∥T̃ ([x]) ∥∥∥ ≤ ∥T∥ ( ∥[x]∥+ 1 n ) para todo [x] ∈ E/ ker (T ). Isto prova que o operador T̃ é contínuo e que ∥∥∥T̃∥∥∥ ≤ ∥T∥ . (7) Agora, seja (xn) ∞ n=1 uma sequência em BE (0, 1) tal que lim n→∞ ∥T (xn)∥ = ∥T∥. Segue do item (c) que [xn] ∈ BE/ ker(T ) (0; 1) para todo n ∈ N. Além disso,∥∥∥T̃∥∥∥ ≥ ∥∥∥T̃ ([xn]) ∥∥∥ = ∥T (xn)∥ n→∞−→ ∥T∥ de onde segue que ∥∥∥T̃∥∥∥ ≥ ∥T∥ . (8) De (7) e (8) inferimos que ∥∥∥T̃∥∥∥ = ∥T∥. □ 5. (2 pontos) Sejam E e F espaços vetoriais normados sobre o mesmo corpo K. Mostre que um operador linear T : E → F é contínuo se, e somente, se T (A) é limitado em F sempre que A é limitado em E. SOLUÇÃO: Se T (A) é limitado em F sempre que A é limitado, então, em particular, T (BE) é limitado em F , o que assegura a continuidade de T . Reciprocamente, supondo T ∈ L (E;F ), seja A ⊂ E um subconjunto limitado. Seja também L > 0 tal que ∥x∥ ≤ L para todo x ∈ A. Dado y ∈ T (A), seja x ∈ A tal que y = T (x). Então ∥y∥ = ∥T (x)∥ ≤ ∥T∥ ∥x∥ ≤ ∥T∥ · L e T (A) é limitado. □ 6. (2 pontos) Considere o conjunto bs = { (an) ∞ n=1 ∈ KN : sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ <∞ } . 10 Análise Funcional - Avaliação I a) Mostre bs é um espaço vetorial com as operações usuais de sequências e que a aplicação ∥·∥ : bs→ R (an) ∞ n=1 7→ sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ define uma norma sobre bs. b) Prove que bs é isometricamente isomorfo a ℓ∞. SOLUÇÃO: (a) Sejam a = (an) ∞ n=1 e b = (bn) ∞ n=1 elementos de bs e λ um escalar. Então sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 (aj + bj) ∣∣∣∣∣ = sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj + n∑ j=1 bj ∣∣∣∣∣ ≤ sup n∈N (∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣+ ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 bj ∣∣∣∣∣ ) ≤ sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣+ sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 bj ∣∣∣∣∣ <∞ (9) e sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 λaj ∣∣∣∣∣ = sup n∈N ∣∣∣∣∣λ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ = sup n∈N |λ| ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ = |λ| sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ <∞. (10) Logo, a+ b, λa ∈ bs e, por conseguinte, bs é um espaço vetorial. Consideremos a aplicação ∥·∥ : bs→ R (an) ∞ n=1 7→ sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ . Obviamente, ∥(an)∞n=1∥ ≥ 0 para toda sequência (an) ∞ n=1 ∈ bs. Ademais, se ∥(an)∞n=1∥ = 0, então 0 ≤ |a1| ≤ sup {|a1| , |a1 + a2| , |a1 + a2 + a3| , . . .} = sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ = ∥(an)∞n=1∥ = 0 e, portanto, a1 = 0. Daí 0 ≤ |a2| = |a1 + a2| ≤ sup {|a1| , |a1 + a2| , |a1 + a2 + a3| , . . .} = sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ = ∥(an)∞n=1∥ = 0 Análise Funcional - Avaliação I 11 e, portanto, a2 = 0. Daí 0 ≤ |a3| = |a1 + a2 + a3| ≤ sup {|a1| , |a1 + a2| , |a1 + a2 + a3| , . . .} = sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 aj ∣∣∣∣∣ = ∥(an)∞n=1∥ = 0 e, portanto, a3 = 0. Prosseguindo com este argumento concluímos que an = 0 para todo n ∈ N e, portanto, (an) ∞ n=1 é a sequência nula. Isto mostra que ∥·∥ goza de positividade. A homogeneidade positiva de ∥·∥ segue de (10) e desigualdade triangular segue de (9). Fica assim estabelecido que ∥·∥ é uma norma. (b) Notemos que, segue da definição de bs que, se (an) ∞ n=1 ∈ bs, então ( n∑ j=1 an )∞ n=1 ∈ ℓ∞. Sendo assim, é bem definido o operador T : bs→ ℓ∞ (an) ∞ n=1 7→ T ((an) ∞ n=1) = ( n∑ j=1 an )∞ n=1 . A linearidade de T é evidente. Percebamos agora que ∥T ((an) ∞ n=1)∥∞ = ∥∥∥∥∥ ( n∑ j=1 an )∞ n=1 ∥∥∥∥∥ ∞ = sup n∈N ∣∣∣∣∣ n∑ j=1 an ∣∣∣∣∣ = ∥(an)∞n=1∥ , ou seja, T é um isomorfismo isométrico. □ 7. (2 pontos) Diz-se que um operador linear contínuo T : E → F é de posto finito se a imagem de Té um subespaço de dimensão finita de F . a) Prove que T é de posto finito se, e somente, se existem n ∈ N, φ1, . . . , φn ∈ E ′ e y1, . . . , yn ∈ F tais que, para todo x ∈ E, T = φ1 (x) y1 + · · ·+ φn (x) yn. b) Prove que o conjunto dos operadores lineares contínuos de posto finito de E em F é um subespaço vetorial de L (E;F ). Este subespaço é fechado? SOLUÇÃO: (a) Se existem n ∈ N, φ1, . . . , φn ∈ E ′ e y1, . . . , yn ∈ F tais que, para todo x ∈ E, T = φ1 (x) y1 + · · ·+ φn (x) yn, então T (E) ⊂ span {y1, . . . , yn} e, portanto, a imagem de T tem dimensão finita o que significa que T é um operador de posto finito. Reciprocamente, suponhamos que T ∈ L (E;F ) seja de posto finito. Então T (E) possui dimensão finita, o que nos permite fixar uma base {y1, . . . , yn} de T (E). Logo, para cada x ∈ E, existem escalares φ1 (x) , . . . , φn (x) univocamente determinados tais que T (x) = φ1 (x) y1 + · · ·+ φn (x) yn. 12 Análise Funcional - Avaliação I Vejamos que os funcionais φ1, . . . , φn : E → K assim determinados são lineares. Dados u, v ∈ E e α, β ∈ K, temos n∑ k=1 φk (αu+ βv) yk = T (αu+ βv) = αT (u) + βT (v) = α n∑ k=1 φk (u) yk + β n∑ k=1 φk (v) yk = n∑ k=1 (αφk (u) + βφk (v)) yk e, portanto, da unicidade das coordenadas de um vetor com respeito a uma base, concluímos que φk (αu+ βv) = αφk (u) + βφk (v) , para todo k = 1, . . . , n, ou seja, φ1, . . . , φn são lineares. Finalmente, como T (E) tem dimensão finita, a restrição da norma de F a T (E) e a correspondência T (x) 7→ max {|φ1 (x)| , . . . , |φn (x)|} definem sobre T (E) normas equivalentes e, portanto, existem constantes positivas a e b tais que a ∥T (x)∥ ≤ max {|φ1 (x)| , . . . , |φn (x)|} ≤ b ∥T (x)∥ , para todo x ∈ E. Daí, para todo k = 1, . . . , n, |φk (x)| ≤ max {|φ1 (x)| , . . . , |φn (x)|} ≤ b ∥T (x)∥ ≤ b ∥T∥ ∥x∥ e φk ∈ E ′ para todo k = 1, . . . , n. (b) Sejam S, T : E → F operadores lineares contínuos de posto finito. Segue então do item (a) que existem y1, . . . , yn, z1, . . . , zm ∈ F e φ1, . . . , φn, ψ1, . . . , ψm ∈ E ′ tais que, para todo x ∈ E, T (x) = φ1 (x) y1 + · · ·+ φn (x) yn e S (x) = ψ1 (x) z1 + · · ·+ ψm (x) zm. Assim, dados α, β ∈ K, para todo x ∈ E, temos (αT + βS) (x) = αT (x) + βS (x) = α n∑ j=1 φj (x) yj + β m∑ k=1 ψk (x) zk = n∑ j=1 (αφj) (x) yj + m∑ k=1 (βψk) (x) zk. À luz mais uma vez do item (a) concluímos que αT + βS possui posto finito e, por conseguinte, a coleção dos operadores lineares contínuos de posto de finito definidos de E em F constitui um subespaço de L (E;F ). Análise Funcional - Avaliação I 13 Para todo n ∈ N, seja Tn ∈ L (c0; c0) definido por Tn ((xk) ∞ k=1) = ( x1, x2 2 , . . . , xn n , 0, 0, 0, . . . ) . Então, claramente, Tn é de posto finito pra todo n. Ademais, se T : c0 → c0 é o operador definido por T ((xk) ∞ k=1) = (xk k )∞ k=1 , então T é linear e como ∥T ((xk) ∞ k=1)∥∞ = ∥∥∥(xk k )∞ k=1 ∥∥∥ ∞ = sup k∈N |xk| k ≤ sup k∈N |xk| = ∥(xk)∞k=1∥∞ , concluímos que T é também contínuo. Percebamos que ∥Tn − T∥ = sup { ∥(Tn − T ) ((xk) ∞ k=1)∥∞ : ∥(xk)∞k=1∥∞ ≤ 1 } = sup {∥∥∥∥((xkk )∞k=n+1 )∥∥∥∥ ∞ : ∥(xk)∞k=1∥∞ ≤ 1 } ≤ 1 n+ 1 n→∞−→ 0 e, portanto, T = lim n→∞ Tn. No entanto, para todo n ∈ N, T (nen) = en e, consequentemente, span {en : n ∈ N} ⊂ T (E) e isto assegura que T não é de posto finito. □ 8. (2 pontos) Seja (xj) ∞ j=1 uma sequência no espaço de Banach E tal que ∞∑ j=1 |φ (xj)| < ∞ para todo φ ∈ E ′. Mostre que sup ∥φ∥≤1 ∞∑ j=1 |φ (xj)| <∞. SOLUÇÃO: Seja T : E ′ → ℓ1 φ 7→ (φ (xj)) ∞ j=1 . É claro que T está bem definida e é linear. Sejam (φk) ∞ k=1 uma sequência em E ′ que converge para φ e z = (zj) ∞ j=1 ∈ ℓ1 tal que T (φk) → z. Como convergência em ℓ1 implica em convergência coordenada a coordenada, da convergência de (T (φk)) ∞ k=1 para z, concluímos que lim k→∞ φk (xj) = zj para todo j ∈ N. Por outro lado, como φk → φ, lim k→∞ φk (xj) = φ (xj) para todo j ∈ N. Da unicidade do limite, inferimos que φ (xj) = zj para todo j ∈ N, ou seja, inferimos que T (φ) = (φ (xj)) ∞ j=1 = (zj) ∞ j=1 = z. O Teorema do Gráfico Fechado garante então que T é contínuo. Assim, sup φ∈BE′ ∥∥∥(φ (xj)) ∞ j=1 ∥∥∥ 1 = ∥T∥ <∞, como desejado. □