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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA
ESCOLA ESTADUAL JARDIM DANIEL DAVID HADDAD
Jogo da onça: trabalhando a interdisciplinaridade entre matemática e biologia
a partir de jogo lúdico de cultura indígena
Supervisores: James Alves de Souza;
Mariana Muchon Otton Canalle;
Pesquisadores: Emanuele Vitoria da Silva e Maira Cristina Piovesana Borgato.
Sorocaba, 2024.
RESUMO
Diante da necessidade de se pensar estratégias para envolver ativamente os
alunos no processo de ensino-aprendizagem, o presente trabalho tem como objetivo
promover o uso de jogos lúdicos em aulas para trabalhar conceitos matemáticos. O
Jogo da Onça foi o escolhido para o desenvolvimento do plano de aula devido à
possibilidade de trabalhar o ensino de matemática juntamente com a temática
ambiental, promovendo uma educação antirracista apoiada pela lei 11.645/08, uma
vez que o jogo é componente da cultura indígena. A sequência didática foi
desenvolvida considerando turmas do nono ano de uma escola pública do estado de
São Paulo e motivada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
da Universidade Federal de São Carlos - campus Sorocaba.
Palavras chave: Jogo da Onça; Indígenas; Conhecimento; Educação Ambiental;
Matemática.
1. INTRODUÇÃO
Ao considerarmos a rotina diária em sala de aula, encontramos inúmeros
alunos que enfrentam diversos desafios de aprendizagem e demonstram falta de
motivação para os estudos.
Para promover uma experiência de aprendizagem agradável e significativa, é
essencial implementar uma abordagem pedagógica dinâmica e motivadora que
modifique a visão e incentive os alunos a se envolverem ativamente no processo de
aprendizagem.
Nesse processo, o educador assume um papel significativo como facilitador
da aprendizagem, orientando e mediando as atividades em sala de aula que
incentivam os alunos a se engajarem ativamente no processo de aprendizagem. Ao
criar um ambiente estimulante, o educador estimula a curiosidade e o entusiasmo,
permitindo que os alunos demonstrem com confiança os seus conhecimentos
existentes e explorem novas áreas de interesse (SANTOS, 2010).
Muitos educadores e profissionais da área da educação reconhecem a
importância dos jogos no ensino. Essas atividades lúdicas desempenham um papel
crucial no processo de ensino-aprendizagem, pois facilitam o desenvolvimento da
criança. Através da brincadeira, as crianças têm a oportunidade de inventar,
descobrir, aprender, experimentar e aprimorar suas habilidades. Segundo Santos
(2010), o envolvimento em atividades lúdicas promove o desenvolvimento de
habilidades cognitivas, como pensamento, atenção, concentração e linguagem.
Além disso, promove o crescimento da autoconfiança, curiosidade e autonomia nas
crianças.
Para Vygotsky (1987), a aprendizagem e o desenvolvimento estão
estritamente relacionados, sendo que as crianças se inter-relacionam com o meio
objeto e social, internalizando o conhecimento advindo de um processo de
construção.
Diante desse pensamento, foi-se pensado um plano de aula que faça uso de
jogo lúdico para promover e facilitar a aprendizagem no ensino de matemática. Vale
destacar que a proposta da atividade descrita neste documento pode ser utilizada
por professores e educadores do ensino básico, em instituições públicas e privadas
ou, ainda, em ambientes informais de educação, de forma íntegra, como inspiração
ou com adaptações que o educador julgar necessárias.
O Jogo da Onça foi selecionado devido às possibilidades de se trabalhar o
ensino de matemática (PEREIRA, 2020) e pela oportunidade de se trabalhar uma
educação antirracista e em acordo com a Lei 11.645/08, que dispõe sobre a
obrigatoriedade de estudo da cultura indígena e afro-brasileira. Sendo assim, o bom
uso da metodologia proposta pode promover uma atividade interdisciplinar entre as
disciplinas de matemática e biologia.
2. JUSTIFICATIVA
O presente trabalho foi desenvolvido para o Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência (PIBID), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
campus Sorocaba, com o objetivo de promover experimentos/atividades lúdicas a
serem desenvolvidas na Escola Estadual Jardim Daniel David Haddad. A escolha do
Jogo da Onça justifica-se pelo interesse em promover a construção de
conhecimento sobre conteúdos matemáticos, como conceitos geométricos de
polígonos, lados, vértices, ângulos externos e internos, diagonais, área e volume. O
Jogo da Onça é um jogo de estratégia, o que significa que os jogadores precisam
usar o raciocínio lógico para planejar suas ações e prever as ações de seus
oponentes. Ainda mais, o jogo em questão pode ajudar os alunos a desenvolverem
habilidades de resolução de problemas, adição algébrica de números inteiros e
probabilidade, além de promover uma educação ambiental antirracista que dê
visibilidade e traga para o debate da temática ambiental, as questões raciais e
sociais, valorizando a diversidade das culturas indígenas, saberes, pensamentos e
formas de se relacionar com a natureza e suas contribuições dentro das ciências e
da conservação ambiental.
3. OBJETIVOS GERAIS DA ATIVIDADE E PÚBLICO ALVO
A proposta de atividade a ser descrita a seguir tem como público-alvo o
ensino fundamental II, tendo sido pensada para ser aplicada em turmas da 8ª
série/9º ano, em aulas de Orientação de Estudos e apresenta os seguintes objetivos
gerais:
- Biologia: Valorização das culturas, conhecimentos e trajetórias
históricas dos povos indígenas.
- Matemática: Ampliar a compreensão de conceitos geométricos, área e
volume, bem como aprofundar-se na adição algébrica de números
inteiros e probabilidades.
4. METODOLOGIA
O planejamento da atividade foi feito considerando duas aulas com duração
de 45 minutos cada.
A primeira aula seria iniciada a partir de um debate com os alunos, partindo
de questionamentos que possibilitem que o educador compreenda o conhecimento
prévio de seus alunos sobre a temática indígena. Para essa conversa inicial,
pode-se levantar em sala as seguintes questões:
- O que é cultura indígena? O que vocês conhecem dessa cultura?
- Quais são os povos indígenas atuais?
- Quais são os diferentes desafios enfrentados pelas comunidades indígenas
nos dias atuais?
- Por que a cultura indígena deve ser valorizada?
A partir dessas perguntas iniciais, o docente pode ir incentivando a reflexão
sobre a relação humano-natureza estabelecida pelos povos indígenas e como ela
contribui para que as Terras Indígenas (TIs) sejam as áreas mais bem conservadas
do Brasil, além de permitir debater as questões sobre as demarcações de terras. Em
seguida, o docente pode apresentar o documentário “A luta do povo Karipuna para
não desaparecer na Amazônia”, disponível no youtube (link - 15min), o qual relata o
conflito entre as áreas indígenas e a grilagem de terras.
Em seguida, o docente deve incentivar os alunos a pesquisarem um pouco
mais sobre a cultura indígena, para buscarem conhecimentos sobre o estilo de vida
estabelecido por essas comunidades e como sua cultura e tradições são passadas
através de gerações.
Logo após, o educador deve partir da cultura indígena para apresentar o
conteúdo matemático, que seria figuras geométricas. Nesse momento o professor
deverá fazer com os alunos uma revisão sobre os conceitos de polígonos, lados,
vértices, ângulos externos e internos, diagonais, área e volume das figuras
geométricas.
Em seguida, o docente deve apresentar aos alunos um pouco da cultura
indígena relacionada às formas geométricas, que é o caso da linguagem utilizada
pelo povo Palikur, onde utilizam os diferentes termos para se referir à algumas
formas (PEREIRA, 2020 apud FERREIRA, 1998):
- Huwipatip: utilizado para se referir a objetos proporcionais redondos ou
quadrados como caixas, frutas, panelas e baldes;
- Huwipti-min: utilizado para objetos redondos, cilíndricos ou longos como
fechas, pregos, milho;
- Sababoye: para sereferir a objetos planos;
- Sababo-min: para se referir a objetos côncavos.
Nesse momento o professor deve estar apto para responder quaisquer
perguntas relacionadas ao conteúdo matemático e deve ser capaz de responder
sobre questionamentos relacionados a diferentes denominações utilizadas pelas
comunidades indígenas.
Na segunda aula, o educador deve apresentar o Jogo da Onça aos
estudantes, contando um pouco sobre sua história, origem e regras e dar as
instruções para os estudantes confeccionarem os próprios tabuleiros para jogarem
durante a aula (seção 4.1). Para a confecção do jogo, é necessário os seguintes
materiais:
- Folha A4 ou cartolina;
- Tesoura;
- Régua;
https://youtu.be/UBwkmQhoIIQ?si=ZyLgob0xzGNrh8i_
- Lápis;
- Borracha.
Nessa aula o professor deve relembrar com os alunos o cálculo de
probabilidade; no contexto de possibilidades da matilha de cachorros para encurralar
a onça a partir de uma posição inicial e/ou terminar em uma posição específica após
um certo número de movimentos. Isso envolveria conceitos de adição algébrica
(para calcular novas posições), probabilidade (para calcular a probabilidade de cada
sequência de movimentos) e geometria (para visualizar o tabuleiro e os
movimentos).
O professor deve ter conhecimento sobre o jogo, para que tire dúvidas e
auxilie os alunos no momento em que estiverem jogando.
4.1. O JOGO DA ONÇA:
O Jogo da Onça é um jogo de estratégia para dois jogadores, em que um
deve ficar responsável por uma matilha de cachorros e o outro pela onça.
O jogador responsável pela matilha de cachorros deve encurralar a onça, de
maneira com que ela fique sem movimentos possíveis no tabuleiro, enquanto o
jogador responsável pela onça deve capturar cinco cachorros da matilha. O primeiro
a cumprir o objetivo torna-se o vencedor, mas para isso tem-se duas regras: o
jogador com a onça deve ter o primeiro movimento do jogo e a captura dos
cachorros só acontece quando é possível saltar por uma peça e parar em uma casa
vazia (PEREIRA, 2020).
O jogo conta com 14 peças representando os cachorros e apenas 1
representando a onça e o tabuleiro é de 5 X 5 quadrados e um triângulo em uma de
suas extremidades, ilustrado pela imagem 1 (PEREIRA, 2020). O jogo pode ser
confeccionado em diversos materiais diferentes. Para montar o tabuleiro, os
estudantes podem, com o auxílio de uma régua, utilizar lápis e canetas coloridas
para desenhar as linhas do jogo em um pedaço de papelão e com a tesoura podem
cortar pedaços redondos para fazer as peças dos cachorros e da onça, pintando as
tudo com tintas coloridas, lápis de cor e outros materiais que tiverem à disposição.
Imagem 1: Representação do tabuleiro do Jogo da Onça. Fonte: MAE UFPR, s.d.
As peças podem ser movidas em qualquer direção do tabuleiro, as quais são
representadas pelas linhas, e a extremidade do tabuleiro, onde tem-se um triângulo,
representa uma toca. A toca deve ser evitada pela onça para não ficar com os
movimentos limitados.
É importante ressaltar que o Jogo da Onça pode ser considerado o precursor
de outros modelos parecidos em outros países, mas com animais diferentes
(PEREIRA, 2020). A mudança observada em diferentes nacionalidades deixa
explícito a viabilidade do jogo ser adaptado à fauna local, de maneira com que possa
promover o interesse baseado na realidade local, além de ser adaptado a diferentes
culturas. No Brasil, o jogo recebe diferentes nomes, a depender da região e do
povo: Jogo do Tigre ou Búzio (Rio Grande do Sul), Jogo do Puma (São Paulo e
Acre), Yaguaraté Kora (Toca da Onça em Guarani) e Adugo, que em Boe Wadáru,
língua original dos Bororos, significa onça (ALVES, 2023).
Este é um jogo em que é possível desenvolver a criatividade e a imaginação.
Não basta saber apenas as suas regras, é necessário refletir sobre cada movimento
a ser realizado e suas possíveis consequências, ao mesmo tempo em que ensina
sobre a diversidade cultural de um povo, convidando todos a olhar de maneira
diferente para os povos indígenas (ALVES, 2023).
Por ser um jogo de estratégia e demandar o raciocínio lógico, ele pode ser
utilizado em diferentes níveis de ensino formal e é uma ótima escolha para se
construir um diálogo interdisciplinar e desenvolver atividades que envolvam
habilidades, competências e conceitos de diversas matérias.
5. RESULTADOS ESPERADOS
Espera-se que os alunos tenham relembrado e compreendido os conteúdos
matemáticos que lhes foram apresentados, de maneira a cumprir com os objetivos
da disciplina Orientação de Estudos, voltada à matemática. É desejável também que
os alunos adquiram maior conhecimento sobre as comunidades indígenas
brasileiras e suas culturas, de maneira a possibilitar a compreensão do modo de
vida dos povos indígenas, suas tradições e desafios enfrentados atualmente, de
maneira a construir um conhecimento crítico sobre o assunto e um senso de justiça
ambiental.
Além disso, é esperado que os alunos desenvolvam o raciocínio lógico e
habilidades cognitivas e socioemocionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, E. C. et al. A teoria das situações didáticas e o jogo da onça como
opção estratégica de ensino. 2023. Disponível em:
<https://repositorio.ufsm.br/handle/1/30419?show=full>. Acesso em: 31 jan. 2024.
MAE UFPR. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná,
s.d. Atividade jogo da onça. Disponível em:
<https://mae.ufpr.br/downloads/atividade_jogo_da_onca.pdf>. Acesso em: 31 jan.
2024.
PEREIRA, E. de S. Jogo e Cultura Indígenas no Ensino de Matemática: Uma
Abordagem Etnomatemática no Contexto de Sala de Aula em Saúde/BA/Indigenous
Game and Culture in Teaching Mathematics: An Ethnomathematic Approach in the
Classroom Context In Saúde/Brazil. ID on line. Revista de psicologia, v. 14, n. 49,
p. 671-680, 2020. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.14295/idonline.v14i49.2384>.
Acesso em: 31 jan. 2024.
SANTOS, S. C. dos. A importância do lúdico no processo de ensino aprendizagem.
2010. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/handle/1/393>. Acesso em: 21 jan.
2024.
VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,
1988. Disponível em:
<https://egov.ufsc.br/portal/conteudo/formação-social-da-mente-vigotsky-i-s> .
Acesso em 21 jan. 2024.

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