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UNIVILLE 
DOSCENTE: Anna Luisa Walter de Santana 
DISCENTE: Leonardo Dias de Santana Neto 
 
 
 
 
 PARECER 
 
 
Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos 
arts. 5º, incs. II, IV, IX, XIV e XXXVI, e 220, caput, §§ 
1º e 2º, da Constituição da República, 
a constitucionalidade do art. 19 da Lei n. 
12.965/2014 (Marco Civil da Internet) 
que impõe condição para a responsabilização civil 
de provedor de internet, websites e gestores de 
aplicativos de redes sociais por 
danos decorrentes de atos ilícitos de terceiros. 
 
 
 
CONSULTA 
 
Consulta-se no Facebook Serviços Online Brasil Ltda. (“Facebook Brasil”), através do seu 
advogado, Doutor Diego Spinola, a respeito da constitucionalidade do art.19 da Lei nº 
12.965, de 2014 (Marco Civil da Internet, que se questiona no Recurso Extraordinário de 
nº 103739 com repercussão geral reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal do tema 
987. 
 
“De acordo com os princípios constitucionais e da lei 
12.965/2014, a empresa provedora de aplicações de 
internet possui os deveres de fiscalizar o conteúdo 
publicado nos seus domínios eletrônicos, e retirar do 
ar informações reputadas como ofensivas mediante 
simples notificação extrajudicial e de responsabilizar 
legalmente pela veiculação de aludido conteúdo antes 
de análise pelo poder judiciário.” 
 
 
A situação trata-se de uma discussão a respeito da necessidade de uma prévia ordem 
judicial de exclusão de conteúdo ilícito, e que somente depois da ciência dessa ordem, e 
do seu descumprimento, os provedores de aplicações de internet (rede sociais e afins) 
irão se responsabilizar civilmente pelos danos decorrentes de conteúdos postados por 
usuários de sua plataforma. 
 
A atuação do STF consiste na avaliação da compatibilidade de escolhas com dispositivos 
constitucionais e não na reelaboração das escolhas legislativas a partir dos resultados 
consideráveis de políticas públicas. No entanto, partindo desse pressuposto, a 
constitucionalidade no Marco Civil pode ser evidenciada por uma avaliação de 
cumprimentos dos objetivos práticos expostos pelo legislador ao estabelecer o regime 
de responsabilidade civil dos provedores, levando em consideração os princípios 
constitucionais. 
 
Apresentação dos seguintes questionamentos: 
 
a. A interpretação do art. 19 do Marco da Internet com base nos artigos art. 5º, incs. 
II, IV, IX, XIV e XXXVI, e 220, caput, §§ 1º e 2º, da Constituição da República, 
direciona o dever por parte dos provedores de aplicações de Internet de 
fiscalizarem o conteúdo expostos pelos seus clientes em suas plataformas? 
 
b. Antes da análise do Poder Judiciário o provedor deve ser responsabilizado 
legalmente pela vinculação do conteúdo de terceiros em suas plataformas? 
 
c. Existe conflito entre o regime jurídico estabelecido Marco Civil da Internet com a 
proteção do consumidor, conforme previsto na Lei nº 8.078/1990 (Código de 
Defesa do Consumidor)? 
 
Com a finalidade de responder os questionamentos e fazer uma análise do tema, o 
presente parecer encontra-se estruturado da seguinte forma: 
 
1. Apresenta o conflito jurídico a respeito desse parecer 
 
2. Apresenta a definição do provedor de aplicação e o papel que exerce na garantia 
da liberdade de expressão, de acordo com o art. 5º, IV e XIV da Constituição 
Federal de 88. 
 
3. Apresenta o modelo de responsabilização dos provedores 
 
4. Apresenta os argumentos que sustentam a constitucionalidade do art. 19 e quais 
seriam os impactos de uma possível declaração de inconstitucionalidade 
 
5. Apresenta-se a conclusão que responde os questionamentos acima formulados. 
 
 
 
FUNDAMENTAÇÃO 
 
1. Contextualização da Discussão 
 
O Art. 19 do Marco Civil da Internet: 
 
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de 
expressão e impedir a censura, o provedor de 
aplicações de internet somente poderá ser 
responsabilizado civilmente por danos decorrentes 
de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem 
judicial específica, não tomar as providências para, 
no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e 
dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o 
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as 
disposições legais em contrário. 
 
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, 
identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a 
localização inequívoca do material. 
 
De acordo com o que está descrito na lei, o provedor de aplicação só será 
responsabilizado caso não tomar as providências para remover o conteúdo ilegal após 
ser notificado por uma ordem judicial específica e no prazo estipulado pelo juiz, 
preservando assim, o seu direito de liberdade de expressão. 
 
Frequentemente as vítimas de ofensas praticadas na internet ingressam com ações 
Judiciais para deixar indisponível o conteúdo ilícito, com objetivo de obter indenização 
referente aos danos causados, e em muitas das vezes os provedores de aplicações são 
responsabilizados, pois são inseridos como polo passivo na ação dessas demandas. 
 
Alguns magistrados, responsabilizam diretamente os provedores de aplicações, mesmo 
sem eles terem recebido previamente a ordem judicial de retirada do conteúdo ilícito da 
sua plataforma, afastando assim, a aplicabilidade do art. 19 do Marco Civil da Internet. 
 
Esse é o caso posto no RE nº 1.037.396/SP que foi submetido à avaliação do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
1.1 Síntese do caso que estruturou o RE nº 1.037.396/SP. 
 
A recorrida, Lourdes Pavioto Correia, propôs ação de obrigação de fazer, com pedido de 
indenização por danos morais perante o Juizado Especial Civil da Comarca de Capivari, 
SP. Por motivo da criação de um perfil fake com o seu nome na rede social conhecida do 
Facebook. 
Em resumo desse fato, a princípio foi solicitado pelo juiz a retirada do conteúdo, que foi 
cumprido pela empresa, porém, no primeiro momento, em sentença, foi rejeitado o 
pedido de indenização, sob argumento que os provedores não teriam o dever legal de 
fiscalizar previamente o conteúdo postado em sua plataforma. 
Dessa forma, a segunda turma Recursal Civil de Piracicaba acolheu o recurso da autora, 
reformando a sentença e condenando ao pagamento de indenização por danos morais, 
por parte da empresa, alegando a sua inércia e por não disponibilizar meios necessários 
para que o próprio usuário possa promover a retirada do conteúdo ofensivo da rede. 
Reconheceu as garantias constitucionais como à honra, intimidade e imagem e as 
privacidades sobre as normas de MCI e as garantias da liberdade de expressão. 
 
Diante disso, o Recurso extraordinário interposto pela empresa contra a referida decisão 
da segunda turma, teve uma repercussão geral reconhecida, e que após o 
reconhecimento dessa repercussão, 16 entidades manifestaram-se para ingressar na 
ação, e a maioria se posicionou pela constitucionalidade do art.19 do MCI. 
 
2. Provedores de Internet 
 
 O Marco Civil da Internet estabelece direitos e obrigações para o uso da internet no 
Brasil, e define duas modalidades de provedores, o provedor de conexão e o provedor 
de aplicação, para que os clientes fiquem conectados e troquem informações. 
Os provedores de conexão são aqueles que viabilizam o envio e o recebimento de dados 
pela internet, como por exemplo, os operadores de telefonia, 
Tim, Claro, Net, dentre outras. Já os provedores de aplicações, são aqueles que dispõem 
de um conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal 
conectado a internet, e que tem como características a disponibilização e 
compartilhamento de conteúdo, como por exemplo, Email, redes sociais e plataformas 
de vídeos, servindo como um canal de comunicação direta entre os usuários. 
 
 2.1 O papel que exerce na garantia da liberdade de expressão,de acordo com o 
art. 5º, IV e XIV da Constituição Federal de 88. 
 
De acordo com a Declaração dos Direitos Humanos, quando se trata em democracia 
pressupõe que todo cidadão ativo tem o direito de exercer direitos, possibilitado pelo 
acesso à informação, a liberdade de expressão, dentre outros. 
 
O art. 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê: 
 
“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e 
de expressão, o que implica o direito de não ser 
inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, 
receber e difundir, sem consideração de fronteiras, 
informações e ideias por qualquer meio de expressão.” 
 
Por sua vez, a Constituição Federal assegura esse direito no seu art. 5º IV e XIV: 
 
 “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado 
o anonimato” 
 “É assegurado a todos o acesso à informação e 
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao 
exercício profissional” 
 
Com a circulação cada vez mais rápida de informações e conexões, torna-se importante 
a elaboração de postulados que assegurem a liberdade de expressão. 
 
3. Apresenta o modelo de responsabilização dos provedores 
 
A responsabilidade é apresentada em três modelos: 
 
a) Responsabilização em sentido estrito: Intermediários responsáveis pelo conteúdo de 
terceiros, que monitoram frequentemente os conteúdos postados, e caso falhem, estão 
sujeitos a sanções. 
b) Liberdade condicionada: Intermediários parcialmente responsáveis por conteúdo de 
terceiros, se prontificam a atender determinados requisitos para garantir a imunidade. 
c) Imunidade: Intermediários não são responsáveis por conteúdo de terceiros, ou seja, 
não possuem obrigação de monitorar os usuários. 
 
A responsabilização em sentido estrito impõe aos provedores um elevado grau de 
responsabilidade sobre conteúdo disponibilizado pelos seus usuários, mesmo que a 
empresa não possua nenhuma gerência na sua criação e divulgação, diferentemente da 
imunidade, uma vez que os intermediários não seriam responsabilizados pela 
disponibilização de conteúdo, e não teriam obrigações de fazer monitoramento ou 
fiscalização prévia. Por sua vez, a liberdade condicionada pode carregar níveis mais 
permissivos ou restritivos quanto à liberdade dos provedores e também em relação à 
matéria em questão. 
 
4. Apresenta os argumentos que sustentam a constitucionalidade do art. 19 e 
quais seriam os impactos de uma possível declaração de inconstitucionalidade 
 
O art.19 do MCI determina que o provedor de aplicações de internet não pode ser 
responsabilizado por conteúdo de terceiros, exceto se descumprir ordem judicial. 
De acordo com as vigentes regras do MCI, nenhuma pessoa que possa oferecer 
unicamente serviços técnicos de internet como buscas ou conservação de informações 
em memória cachê, deverá ser responsável por conteúdos gerados por terceiros, e nem 
se negar cumprir a ordem de eliminação de conteúdo exigido pelo poder judicial. 
 
A grande subjetividade de conceito ofensivo e o fato de a jurisprudência nacional ser 
amplamente protetiva de direitos de personalidade, fariam com que os provedores de 
aplicações de internet suspendessem constantemente os conteúdos, devido uma grande 
quantidade de notificação, tornando um ambiente altamente propício para à violação 
do direito garantido pelo art. 5º IV e IX da constituição Federal. 
Caso não existisse a limitação prevista pelo Caput do art. 19 do MCI, estaria gerando um 
risco da restrição da liberdade de expressão, como também, transferindo a 
responsabilidade de ilícitos provocados por terceiros para o provedor de aplicação 
conforme a violar o princípio constitucional de violação da pena, de acordo com o art. 
5º, XLV: 
 
“Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação 
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, 
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, 
até o limite do valor do patrimônio transferido” 
 
A jurisprudência majoritária considera complexo o tema da responsabilidade civil dos 
provedores, reconhecendo a inviabilidade de monitoramento prévio de conteúdos e ausência 
do nexo de causalidade entre a conduta de tais provedores e os eventuais danos causados a 
terceiros, e reconhece o relevante impacto econômico, além de que alguns não possuírem um 
grande suporte, não tendo a capacidade de contratar serviços advocatícios. Além disso, a 
necessidade de atuação preventiva criaria novos custos, principalmente para pequenas 
empresas, uma vez que é necessário criar um departamento interno para supervisionar os 
conteúdos postados nas plataformas. 
 
Dessa forma, a solução exposta no MCI, foi criar mecanismos que guardem registros dos usuários 
para facilitar a identificação de violações de direitos. Assim, atribui a função de avaliar a 
procedência de um pedido de retirada por meio de uma ordem judicial. 
Nesse modelo o usuário de internet teria que se valer do Poder Judiciário para que o provedor 
fosse compelido a retirar o conteúdo da rede. 
 
O Marco Civil facilitou o acesso à justiça, que propiciou em seu parágrafo terceiro o direito de 
acessar os juizados especiais para causas envolvendo conteúdo da internet, da seguinte forma: 
§ 3º As causas que versem sobre ressarcimento por 
danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na 
internet relacionados à honra, à reputação ou a 
direitos de personalidade, bem como sobre a 
indisponibilização desses conteúdos por provedores 
de aplicações de internet, poderão ser apresentadas 
perante os juizados especiais. 
E o paragrafo quarto estabeleceu a possibilidade de antecipação de tutela, evitando-se os danos 
irreparáveis, da seguinte forma: 
§ 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto 
no § 3º, poderá antecipar, total ou parcialmente, os 
efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, 
existindo prova inequívoca do fato e considerado o 
interesse da coletividade na disponibilização do 
conteúdo na internet, desde que presentes os 
requisitos de verossimilhança da alegação do autor e 
de fundado receio de dano irreparável ou de difícil 
reparação. 
Assim dizendo, ao mesmo tempo em que isentou de responsabilidade os provedores de 
aplicação, determinou que esses mesmos provedores guardem todos os registros de acesso aos 
seus sistemas, permitindo a identificação dos violadores, e abriu a cesso aos juizados especiais 
para causas dessa natureza, permitindo também, segundo o parágrafo quarto, antecipação da 
tutela. 
 
Declarada a inconstitucionalidade do art. 19. Do MCI, eliminando a necessidade de prévia ordem 
judicial para remoção de conteúdo ilegal, poderia haver supressão da competência do Judiciário 
de analisar os casos que inviabilizariam o direito a imagem ou da honra de terceiros, assim, 
seriam os próprios provedores que iriam interpretar e decidir quais conteúdos iriam remover. 
Dessa forma, afastar o Poder Judiciário dessas decisões suprimiria também a formação de 
jurisprudência sobre o tema que é de grande importância para a segurança jurídica. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
5. Apresenta-se a conclusão que responde os questionamentos acima 
formulados. 
 
a. A interpretação do art. 19 do Marco Civil da Internet com base na Constituição Federal 
não aponta para o dever dos provedores de aplicação de fiscalizar previamente o 
conteúdo publicado em suas plataformas, dessa forma, são os usuários responsáveis 
pela própria publicação. 
O sistema normativo de proteção às liberdades aponta para um não dever do provedor 
de aplicação, em hipóteses de ofensa ao direito de personalidade. Dessa forma, a 
empresa só será responsabilizada por danos recorrentes gerados pelos seus usuários 
após a ordem judicial específica para tornar indisponível o conteúdo. 
 
b. Dizer que o provedor deve ser responsabilizado legalmente pela vinculação do 
conteúdo de terceiros em suas plataformas antes do poder Judiciário é um 
julgamento muito complexo, poisé necessário ser feita uma análise crítica para 
saber se a publicação é ilegal ou não em frente ao ordenamento jurídico, 
podendo exigir uma ponderação entre a liberdade de expressão e direitos de 
personalidade. Dessa forma, a inafastabilidade do poder judicial seria 
inadequada. 
 
c. Não existiria conflito entre o regime jurídico estabelecido Marco Civil da 
Internet com a proteção do consumidor, pois o regime jurídico definido pelo 
art.19 do MCI não colide com o dever do Estado de promover a tutela dos 
consumidores, principalmente, quando se trata de recuperação de dano. Nesse 
sentido, uma decisão de inconstitucionalidade do art. 19 entraria em colisão 
com o mandamento constitucional de atuação do Estado para a promoção dos 
interesses dos consumidores no inciso XXXII do artigo 5º.

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