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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUMPRIMENTO DE 
SENTENÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Renata Polichuk Marques 
 
 
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TEMA 1 – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E LIQUIDAÇÃO 
O Direito Processual Civil vem passando por constante evolução, tanto com 
relação à forma de se enxergar o processo como também pelas técnicas 
processuais adequadas. A execução latu senso talvez seja o expediente que mais 
transformações sofreu desde o início do pensamento crítico do Direito Processual, 
aliado à visão constitucional deste e à ideia de que o processo serve, em verdade, 
à tutela de direitos. 
É neste aspecto que se torna pertinente pensar que o processo serve ao 
direito material, no sentido de servidão mesmo. Em outras palavras, a única razão 
para o Direito Processual existir é “fazer valer” o direito material. 
Neste aspecto, torna-se evidente que as regras de direito material são 
regras de conduta, ou seja, disciplinam como as pessoas, sejam elas físicas ou 
jurídicas, devem agir frente à sociedade. Trata-se da velha máxima de que “meu 
direito termina onde começa o direito do outro”. 
Porém, a verdade é que no mundo real – no mundo dos fatos – as coisas 
nem sempre são tão simples quanto disciplina o texto da lei material. Neste mundo 
real, no qual surgem conflitos, seja pela dificuldade de interpretação da norma, 
seja pelo próprio descumprimento desta, faz-se necessário que o Estado interfira, 
por meio de uma estrutura que possa efetivar aquele direito previsto na lei 
material. É assim que se faz surgir o direito processual. 
O objetivo, aqui, não é conceituar os institutos (Direito Material x Direito 
Processual), mas entender que o objetivo, a única razão de existir do Direito 
Processual, é para efetivação do direito material prometido pelo ordenamento. 
Tendo isso em mente, torna-se muito fácil a percepção da atual fase de execução 
do direito brasileiro. 
Atualmente, estamos diante de um processo civil sincrético, ou seja, aquele 
capaz de reunir várias fases, com estruturas diversas, dentro de um mesmo 
processo. Assim, temos que o processo se inicia por meio da dedução da 
pretensão do autor (aquele sujeito que se entende detentor de um direito subjetivo 
ameaçado e/ou lesado), em face de um réu (suposto detentor de um dever jurídico 
violado). Porém, essa relação somente se aperfeiçoa quando a pretensão é 
deduzida em juízo, por meio de uma petição inicial levada à apreciação de um juiz 
que aperfeiçoa essa relação jurídica processual com a citação do réu para que 
tome conhecimento do processo e possa exercer, querendo, seu direito de defesa. 
 
 
3 
Contudo, a verdade é que por meio dessa petição inicial, o autor levará ao 
juiz, por meio dos pedidos mediatos e imediatos, tanto o bem da vida pretendido 
(aquele objeto de direito que entende ameaçado e/ou lesado) quanto a técnica 
processual que pretende ver empregada na sentença (condenatória, constitutiva, 
declaratória, mandamental ou executiva), ficando o juiz subordinado aos pedidos 
realizados por força do art. 492 do Código de Processo Civil1. 
Porém, a solução do litígio, com a certificação do direito pelo juiz na 
sentença, nem sempre prestará tutela de direito material. Isso porque, em muitas 
vezes, para que seja a tutela efetivada, é necessário que haja concurso de 
vontade do demandado ou atos materiais que possam levar a efetivação às 
chamadas tutelas inibitórias, de remoção de ilícito, reparatórias e ressarcitórias. 
Assim, surge a chamada tutela executiva, qual seja, quando se faz 
necessário que o Poder Judiciário permaneça a gerir o processo, mesmo após a 
certificação do direito material, para garantir que este se efetive no mundo dos 
fatos. 
Para elucidar, pensemos em algumas espécies de sentença. 
A primeira análise que propomos é a análise da sentença no processo de 
divórcio. Sendo apenas o divórcio o objeto da petição inicial – sem cumulação de 
pedido de partilha ou regulação de interesses da prole –, teríamos uma sentença 
de procedência meramente constitutiva, ou nesse exemplo, constitutiva negativa. 
É claro que podemos pensar que para que tal ato tenha validade perante terceiro, 
é necessário que se leve essa sentença a registro público, porém, esse é um ato 
meramente acessório, pois a pretensão do autor, o direito material por ele 
perseguido, foi plenamente realizado quando a sentença reconheceu o divórcio. 
O mesmo se dá, se diante de um pedido inicial de reconhecimento de união 
estável, por meio de uma sentença declaratória, o juiz reconhece a existência 
daquele fato jurídico, realizando por completo a pretensão do autor. 
Porém, como dito, existem sentenças que não se encerram em si mesmas, 
que demandam uma continuidade da prestação jurisdicional, mesmo após o 
reconhecimento e certificação do direito. São elas as sentenças condenatórias e 
mandamentais. Nessas decisões, a sentença apenas reconhece, condenando ou 
determinando, que o demandado realize algo, seja um pagamento de quantia, 
uma entrega de coisa ou mesmo uma obrigação de fazer ou de não fazer. 
 
1 Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a 
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. 
 
 
4 
É exatamente nesse último contexto que a tutela executiva entra em jogo, 
para que o próprio estado-juiz faça implementar sua decisão, por meio dos atos 
executivos. 
Porém, não se confunda tutela executiva com sentenças executivas. As 
sentenças executivas são, por si só, autossuficientes e não demandam tutela 
executiva. Explicamos: as sentenças executivas são justamente aquelas que 
gradam em si mesmas a força executiva, independentemente da vontade ou não 
do demandado em adimplir as obrigações ali constantes, sendo exemplos dessas 
sentenças aquelas proferidas nas ações de despejo e reintegração de posse. 
Dito isso, podemos passar a analisar o processo sob o viés do cumprimento 
de sentença, ou melhor dizendo: os passos que seguem a fase de conhecimento 
e certificação do direito material. 
TEMA 2 – LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 
Antes de adentrar ao tema do cumprimento de sentença propriamente dito, 
faz-se necessária a análise de uma etapa intermediária, chamada de fase de 
liquidação. 
Pensemos no processo como um grande trem que guarda o direito material 
em seus vagões. Assim, ele tem a responsabilidade de conduzir esse direito 
material desde a estação inicial até o seu ponto final, que seria a efetivação deste, 
quando o direito material é entregue ao “mundo”, ou seja, quando passa a interagir 
no mundo dos fatos. 
Sendo uma locomotiva ferroviária, ele precisa sempre percorrer trilhos 
previamente descritos, que são as “regras do jogo”. Por isso que no Direito 
Processual existe o chamado princípio da “não surpresa”, relacionado ao princípio 
do contraditório, que é aquele pelo qual tanto demandante como demandado 
sempre podem antever os próximos passos do processo. 
Porém, quando tratamos de fase de liquidação, pensemos em uma ferrovia 
na qual se está diante de um pequeno abismo ou um trecho cujos trilhos não estão 
postos. De um lado temos o fim da fase de conhecimento, já com a certificação 
do direito material, e à frente, antevemos uma fase de cumprimento dessa 
sentença, porém há um trecho faltante na ferrovia que precisa ser preenchido: a 
liquidação do direito assegurado para que seja efetivado. 
 
 
 
5 
Essa ponte, essa construção, essa ligação que permite fazer a conexão 
entre a fase de conhecimento com a fase de cumprimento de sentença, quando 
necessária, é a que chamamos de fase de liquidação. Alguns autores modernos 
preferem chamá-la de etapa de liquidação, por não se tratar de uma fase 
obrigatória, porém, não vamos nos deter a essa nomenclatura. 
Em outras palavras, tratando-se de sentença ilíquida, é a fase ou etapa de 
liquidação que torna a sentença apta a ingressar na fase de cumprimento.É verdade que a regra no processo civil brasileiro, assim como na maioria 
dos demais países, é que a sentença seja líquida. Tanto é verdade que temos 
uma regra específica no Código de Processo Civil que determina que o pedido 
(seja principal ou reconvencional) seja realizado de modo certo e determinado: 
• Art. 322. O pedido deve ser certo [...]; 
• Art. 324. O pedido deve ser determinado. 
Porém, existem situação fáticas que impedem o autor de formular pedido 
determinado, essas hipóteses, excepcionais, estão previstas no parágrafo 
primeiro do art. 324 do Código de Processo Civil: 
Art. 324. [...] 
§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: 
I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens 
demandados; 
II – quando não for possível determinar, desde logo, as consequências 
do ato ou do fato; 
III– quando a determinação do objeto ou do valor da condenação 
depender de ato que deva ser praticado pelo réu. 
Em contrapartida, o art. 491 do Código de Processo Civil, impõe também 
ao juiz a obrigação de que, ao julgar o pedido condenatório, sua sentença seja, 
em regra, líquida, criando exceções específicas: 
Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que 
formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da 
obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial 
de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, 
salvo quando: 
I – não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; 
II – a apuração do valor devido depender da produção de prova de 
realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim 
reconhecida na sentença. 
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor 
devido por liquidação. 
§ 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a 
sentença. 
Contudo, é necessário advertir que existem procedimentos que não 
admitem tal fase em razão da sua simplicidade. 
 
 
6 
É o caso da Lei 9.099/95, que institui os Juizados Especiais, que em seu 
art. 38, parágrafo único, determinada que “não se admitirá sentença condenatória 
por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido”. 
Um dos exemplos mais recentes, amplamente divulgado, que colocou em 
pauta o tema da liquidação, são as ações coletivas decorrentes de direitos dos 
consumidores: Ações de Expurgos Inflacionários de Caderneta de Poupança. 
Nessas ações coletivas, obteve-se sentença condenatória pela qual estabelecia 
que as instituições bancárias deveriam ressarcir os poupadores, criando critérios 
de cálculo para o pagamento das respectivas quantias. Surgiram diversas 
discussões a respeito do tema e a necessidade de se realizar ou não a liquidação 
dos valores por meio da fase de liquidação (EREsp 1.705.018 e EREsp 
1.590.294). 
Para a Ministra Nancy Andrighi (relatora), a obtenção dos valores a serem 
executados poderia ser obtida por cálculos aritméticos, dispensando a instauração 
da fase de liquidação, contudo, instaurados os Embargos de Divergência sobre a 
matéria, a relatora restou vencida em julgamento ocorrido em 10 de dezembro de 
2020 (EDv nos EREsp 1705018 DF 2017/0274340-3), prevalecendo o 
entendimento de que: 
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IDEC. CADERNETA DE 
POUPANÇA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. SENTENÇA. PRÉVIA 
LIQUIDAÇÃO. NECESSIDADE. 1. Os poupadores ou seus sucessores 
detêm legitimidade ativa – também por força da coisa julgada -, 
independentemente de fazerem parte ou não dos quadros associativos 
do Idec, de ajuizarem o cumprimento individual da sentença coletiva 
proferida na Ação Civil Pública n. 1998.01.1.016798-9, pelo Juízo da 12ª 
Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília/DF (REsp 
1391198/RS, de minha relatoria, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 
13/08/2014, DJe 02/09/2014). 
2. De acordo com o entendimento desta Corte, é necessária a liquidação 
da sentença genérica proferida em ação civil pública para a definição da 
titularidade do crédito e do valor devido. Precedentes. 
3. Recurso especial parcialmente provido. Portanto, o que vemos com a 
mais absoluta certeza é que a existência de sentença ilíquidas, e 
portanto, a necessidade de fase de liquidação devem ser vistas como 
exceções no processo civil brasileiro. É, portanto, desta forma que a fase 
liquidação, é, em verdade, uma etapa intermediária, que vem a atender 
às necessidades do direito material, tornando líquida, e, portanto, apta a 
execução – por meio do cumprimento de sentença – àquelas decisões 
que originalmente não o eram. (Decisão Monocrática- Ministro LUIS 
FELIPE SALOMÃO – EREsp 1705018(2017/0274340-3 – 10/11/2017) 
Assim, o que se vê é que por mais que a legislação tenha tentado afastar 
a fase de liquidação, existem situações concretas que demandam a sua existência 
e realização. 
 
 
7 
Não obstante, é imperioso que se diga que o autor/exequente, ou o credor, 
como determina o código brasileiro, tem o poder de iniciar a fase de liquidação, 
bem como o réu/executado/devedor. Afinal, mesmo que o devedor queira adimplir 
voluntariamente a decisão, é necessário determinar-se o valor dessa condenação, 
sem o qual ele resta impedido de fazê-lo. 
2.1 Espécies de liquidação 
O Código de Processo Civil prevê expressamente dois tipos de liquidação: 
liquidação por arbitramento e liquidação por procedimento comum. Essas 
modalidades implicam reconhecer a existência de procedimentos próprios para 
cada modalidade a fim de que, por meio de atividade cognitiva com ampla 
participação das partes e atuação do magistrado, possa-se alcançar o valor da 
obrigação contida na decisão, tornando-a liquida. 
Porém, antes de adentrar cada uma das espécies de liquidação mediante 
fase própria, precisamos destacar que existe um ato de liquidar a sentença que 
não demanda fase de liquidação: “quando a apuração do valor depender apenas 
de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da 
sentença” (art. 509, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil). 
É obvio que para que se possa exigir o cumprimento de uma obrigação é 
preciso estabelecer exatamente ao que corresponde a obrigação, e quando se 
trata de obrigação de pagar quantia, estamos falando efetivamente do valor, 
numericamente expressado, que deve ser pago. Não é possível realizar um 
pagamento voluntário, ou mesmo exigir o pagamento de algo se eu não puder 
expressá-lo em valores. 
Porém, se para alcançar tal valor basta a realização de cálculos aritméticos, 
é possível que a memória de cálculo seja apresentada diretamente com o pedido 
de instauração da fase de cumprimento de sentença, dispensada a fase prévia de 
liquidação. Para tanto, o próprio art. 509, em seu parágrafo 3º, determina que “o 
Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos 
interessados programa de atualização financeira”. Embora, até o início de 2024, 
o mencionado programa ainda não tenha sido disponibilizado integralmente, 
alguns tribunais estaduais, bem como alguns tribunais federais, há algum tempo, 
já dispõem em suas plataformas digitais de programas de atualização de valores. 
 
 
8 
No Paraná, existe a Calculadora Agnesi2, que desempenha essa função. 
Esse tema, porém, será mais bem estudado quando tratarmos do cumprimento 
de sentença propriamente dito. Por ora, passamos à análise das espécies de 
liquidação por procedimento próprio. 
TEMA 3 – LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO 
A liquidação por arbitramento, como a própria expressão nos induz, 
significa que o valor precisa ser arbitrado. Assim, em verdade o valor não será 
meramente “encontrado”, mas por meio de elementos concretos, o juiz definirá 
esse valor. 
Assim, a liquidação por arbitramento, como regra, pressupõe 
conhecimentos técnicos, pelo que muito se assemelha à prova pericial e sua 
posterior valoração pelo juízo, que, nesse caso, será uma valoração monetária. 
3.1 Hipóteses 
A liquidação por arbitramento poderá ocorrer em três hipótesesexpressamente previstas: a) quando a própria decisão/sentença assim o exigir; b) 
quando as partes assim o convencionarem; c) quando assim for exigido pelo 
objeto da liquidação. 
Na primeira hipótese (determinação da sentença), vemos que o próprio 
julgador reconhece que naquele momento decisório não é possível aquilatar o 
valor da obrigação, pois lhe faltam elementos e/ou conhecimentos técnicos para 
fazê-lo. Portanto, no próprio corpo da decisão, precisamente em seu dispositivo, 
a decisão remeterá a declaração do valor para a fase de liquidação. 
Outrossim, é plenamente possível que as próprias partes estabeleçam que 
a definição do quantum debeatur seja realizado por procedimento próprio de 
arbitramento. Essa modalidade não é novidade da norma processual de 2015, 
mas vem reforçado em seu art. 190 que permite às partes previamente 
estabelecerem negócios processuais, incluindo, por óbvio, a escolha pelo 
procedimento de arbitramento na fase de liquidação. 
 
 
2 Disponível em: 
<https://portal.tjpr.jus.br/agnesi/publico/calculadora/entrada/calculadora.jsf;jsessionid=36F8fHdP2
_3CP4QdDX9sSDb80wFkxFLT3FAoJ9Wi.agnesi-c7bb78ff5-g4x6d?dswid=3200>. Acesso em: 12 
fev. 2024. 
 
 
9 
Neste aspecto, destacamos que, embora não seja o nosso objeto principal 
de estudo, as partes, mediante negócio processual prévio ou no curso do 
processo, podem inclusive estabelecer técnicas que facilitem a produção da prova 
técnica. Importante destacar que em se tratando de matéria técnica que demande 
prova pericial, as partes podem, inclusive, de comum acordo, escolher o perito 
que conduzirá os trabalhos (art. 471 do Código de Processo Civil). 
Por fim, a exigência do objeto a ser liquidado pode exigir que a liquidação 
se dê por arbitramento, ou seja, envolver questões técnicas que precisam ser 
elucidadas para que o magistrado possa alcançar o valor correspondente à 
obrigação definida na sentença. 
3.2 Procedimento 
O início da fase de liquidação deve ser provocado, mediante requerimento 
justificado, por uma das partes. Lembre-se de que para início da liquidação, o 
requerente pode ser tanto o credor quanto o devedor, pois ambos têm interesse 
em encontrar o valor devido para que seja possível adimplemento – seja voluntário 
ou forçado. 
Na liquidação por arbitramento, esse requerimento deve justificar a 
necessidade da instauração da fase, com base nas hipóteses do art. 509, I, do 
Código de Processo Civil. Uma vez aceito o requerimento, o juiz determinará que 
ambas as partes apresentem pareceres ou mesmo documentos que possam 
elucidar as questões necessárias à definição do valor a ser arbitrado. 
Veja-se que aqui impera, como em todo o processo civil brasileiro, o 
contraditório prévio. Assim, as partes terão ampla participação na formação da 
convicção do juiz, acostando, além de argumentos, documentos que demonstrem 
ou reforcem suas teses, inclusive pareceres técnicos. 
O juiz, por sua vez, realizará nova atividade cognitiva, porém, amplamente 
vinculada aos termos e limites da decisão já proferida. Aqui ,o juiz, embora realize 
atividade cognitiva, não julgará o direito material, pois esse já está definido na 
decisão, e o juiz poderá e deverá se limitar apenas à definição do valor 
correspondente a esse direito. 
Portanto, se da manifestação das partes e dos elementos técnicos por ela 
trazidos, o magistrado puder por si próprio julgar, esse decidirá de pronto a 
liquidação. 
 
 
10 
Porém, se da análise demandar questões técnicas complexas, será 
necessária a produção da prova técnica, pela técnica da prova pericial (art. 464 
ao art. 480 do Código de Processo Civil). 
Assim, haverá intimação das partes para apresentação de quesito e 
assistentes técnicos, bem como haverá nomeação de perito do juízo, que após 
apresentação de laudo, oportunizando-se sua impugnação e formulação de 
quesitos complementares a formar laudo complementar, será novamente 
apreciado pelo magistrado, que então proferirá sua decisão. 
A decisão final da liquidação será, necessariamente, uma decisão 
interlocutória, posto que a fase ou etapa de liquidação será sempre intermediária, 
não sendo capaz de pôr fim seja à fase cognitiva do procedimento comum, seja à 
fase executiva, senão para unir uma à outra (art. 203, parágrafos 1º e 2º, do 
Código de Processo Civil). Assim, o recurso que desafia a decisão da liquidação 
será o agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, parágrafo único, do 
Código de Processo Civil. 
Não obstante, embora não se trate de uma sentença de mérito 
propriamente dita, capaz de gerar coisa julgada material, a decisão que julga a 
liquidação se tornará definitiva, após encerrada a fase recursal que está sujeita, 
não sendo possível a rediscussão de ordem processual ou material. 
TEMA 4 – LIQUIDAÇÃO POR PROCEDIMENTO COMUM 
A liquidação por procedimento comum é aquela por meio da qual se faz 
necessária a produção de prova distinta daquela produzida na fase de 
conhecimento. Em outras palavras, é necessário agregar-se elementos fáticos 
para que seja possível ao magistrado determinar o valor correspondente ao direito 
material contido na sentença. Cabe menção ao termo utilizado pelo Código de 
Processo Civil de 1973, revogado, que classificava essa espécie de liquidação 
como sendo “liquidação por artigos”. 
O art. 509, II do Código de Processo Civil, expressamente declara esta 
necessidade: 
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, 
proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: 
[...] 
II – pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e 
provar fato novo. 
 
 
11 
Assim, o que se tem é que na fase de conhecimento, a decisão não 
apreciou os fatos que conduzirão o magistrado à apuração do valor 
correspondente ao direito reconhecido na decisão. É o caso das sentenças 
condenatórias quanto aos expurgos inflacionários das cadernetas de poupança 
visto acima. Embora o novo código traga a definição dessa espécie como de 
“procedimento comum”, alguns atos a distinguem do procedimento comum típico 
da fase de conhecimento. 
A fase de liquidação sempre será iniciada por iniciativa das partes, seja 
credor ou devedor, porém, aqui, ao requerer a liquidação, a parte deverá desde 
logo expor no que consiste o fato novo (não apreciado anteriormente) do qual 
depende a apreciação para definição do valor em questão. Assim, o valor não será 
arbitrado pelo juiz, mas será obtido por meio de uma fase instrutória própria. 
Após o recebimento do requerimento, o demandado (seja credor ou 
devedor) será intimado para apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias. 
Observe-se que, por óbvio, não haverá nova citação, mas mera intimação para 
apresentação de contestação. Igualmente, não haverá audiência de conciliação 
prévia, embora a conciliação possa ser obtiva e deva ser incentivada em todas as 
fases do processo (art. 3º do Código de Processo Civil), mas se passará para 
diretamente a resposta da parte oposta. É a partir daqui que a fase de liquidação 
passará propriamente a se reger pelo procedimento comum, inclusive no que diz 
respeito a todos os meios de prova admitidos. 
Contudo, a decisão que julgar a fase de liquidação por procedimento 
comum, diversa da fase de conhecimento, é uma decisão interlocutória, pois não 
decidiu o direito, apenas o valorou. Dessa forma, ficará igualmente sujeita ao 
recurso de agravo de instrumento, pela conjugação dos arts. 203, parágrafo 2º e 
1.015, parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil. Esgotada a etapa 
recursal, a decisão da liquidação se tornará definitiva. 
Importante mencionar que embora o novo diploma processual nada verse 
sobre a “liquidação igual a zero”, é plenamente possível que essa ocorra. Assim, 
após apurados os fatos, pode-se entender, por exemplo, que do ato ilícito 
reconhecido na sentença não advieram danos ou prejuízos concretos ao autor. 
Assim,mesmo que disso implique que não haverá fase de cumprimento de 
sentença subsequente, a decisão da liquidação permanece sendo interlocutória, 
posto que não é capaz por si só de encerrar o processo, apenas de reconhecer 
que o valor do direito reconhecido é igual a zero. 
 
 
12 
TEMA 5 – LIQUIDAÇÃO PARCIAL E LIQUIDAÇÃO PROVISÓRIA 
Neste último tópico, veremos como aplicar os conhecimentos anteriormente 
adquiridos quando apenas parte da decisão é ilíquida ou, ainda, quando a decisão 
a ser liquidada ainda não é definitiva, ou seja, está pendente de análise recursal. 
5.1 Liquidação parcial 
Justamente por se tratar de matéria de exceção, é plenamente possível que 
uma mesma decisão detenha uma parte liquida e uma parte ilíquida. O próprio 
diploma processual vigente prevê essa possibilidade no parágrafo primeiro do art. 
509. 
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, 
proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: 
[...] 
§ 1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao 
credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em 
autos apartados, a liquidação desta. 
A solução mais adequada encontrada pelo Código de Processo Civil foi a 
de permitir que busque a efetivação de seu direito de forma efetiva, ou seja, que 
com relação à parte líquida, alcance de imediato a fase executiva, isto é, promova 
o cumprimento de sentença; e com relação à parte ilíquida, promova, 
primeiramente sua liquidação para só depois ingressar na fase de cumprimento 
de sentença. 
Na metáfora do trem realizada, seria como dizer que os vagões seguiriam 
por caminhos diferentes até a estação final (efetivação do direito material), sendo 
que parte dele chegaria antes ao destino, e parte dele teria que passar pela 
“ponte” da liquidação antes de alcançar a etapa final do cumprimento de sentença 
para chegar ao seu ponto final. 
É pouco mais que evidente que nesse caso estamos falando de sentença 
que julgou mais de um pedido, dando caminhos diferentes às soluções 
alcançadas. Na prática, podemos pensar em um exemplo em que a parte formula 
pedido de condenação do réu ao pagamento de danos morais e materiais 
decorrentes do uso indevido de sua imagem. 
 
 
 
13 
A sentença reconhece que houve o uso indevido da imagem do autor capaz 
de gerar dano, para tanto, arbitra já na sentença o valor dos danos morais, porém, 
para realizar a apuração dos danos materiais, entende ser necessário apurar qual 
seria o real valor da remuneração da imagem em questão. Para tanto, será 
necessário se apurar, à época dos fatos, quais seriam os valores pagos a modelos 
que realizassem trabalho assemelhado. Sendo assim, remete a apuração do valor 
dos danos materiais à fase de liquidação – nesse caso, por arbitramento. 
Isso significa dizer que por meio do trânsito em julgado dessa decisão, 
surge a obrigação do réu ao pagamento, de imediato, do valor estipulado na 
condenação relativa aos danos morais. Portanto, não havendo adimplemento 
voluntário, o exequente poderia iniciar a fase de cumprimento de sentença. 
Porém, com relação ao valor dos danos materiais, o devedor não tem como 
realizar o pagamento de pronto, pois não sabe efetivamente o valor a ser pago. É 
nessa medida que tanto o credor quanto o devedor poderiam, com relação aos 
danos materiais, iniciar a fase de liquidação, que após encerrada, podia levar ao 
adimplemento voluntário ou à fase de cumprimento de sentença, exclusivamente 
com relação a essa parte ou ainda a ambas as partes, caso tenha o credor optado 
por aguardar a solução dessa para execução integral. 
5.2 Liquidação provisória 
A liquidação provisória poderá ocorrer quando houve uma decisão ilíquida 
que ainda esteja pendente de análise recursal. Aqui, optamos pelo termo “poderá” 
no exato sentido de que a liquidação provisória, assim como a definitiva, depende 
de iniciativa das partes. 
O art. 512 do Código de Processo Civil expressamente prevê a 
possibilidade da liquidação provisória. 
Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, 
processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao 
liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais 
pertinentes. 
Perceba-se que, ao contrário do que ocorre com o cumprimento provisório, 
a lei processual não cria nenhuma condição especial à liquidação provisória. 
Assim, basta que haja uma decisão e que essa esteja sendo discutida em fase 
recursal, não sendo, portanto, definitiva. 
 
 
14 
Contudo, o Código de Processo Civil nada discutiu a respeito do efeito do 
recurso ao qual se submete a decisão a ser liquidada, assim, havendo efeito 
suspensivo ou não ao recurso, é cabível a liquidação provisória. 
O entendimento que prevalece é aquele pelo qual a fase de liquidação não 
é capaz, por si só, de gerar qualquer prejuízo às partes. Mas tão somente implica 
apuração de valores definidos na decisão. Assim, o adiantamento dessa etapa 
enquanto o processo ainda atravessa a fase recursal não visa atingir direito das 
partes, mas tão somente encontrar o valor correspondente a uma decisão. 
Havendo alteração da decisão em sede recursal, a liquidação provisória torna-se 
imprestável, mas não prejudicial às partes. 
Considerando que os autos principais (sejam eles físicos ou eletrônicos) 
seguiram a etapa recursal, necessário se faz que a parte interessada promova a 
liquidação provisória por meio de autos complementares, acostando cópia de 
documentos ou arquivos necessários à condução da liquidação. 
Contudo, é de se observar que, embora o Código de Processo Civil (art. 
85) não determine expressamente a fixação de honorários de sucumbência na 
fase de liquidação, a jurisprudência pátria já tem pacificado o entendimento de 
que havendo alta litigiosidade nessa etapa processual, é possível a sua fixação, 
e esse entendimento pode ser estendido à fase de liquidação. O mesmo se aplica 
com relação às custas processuais, embora não haja custas específicas para a 
fase de liquidação, os atos realizados nessa fase que tenham gerado despesas 
processuais devem ser arcados por aquele que a deu causa, assim, tornando-se 
imprestável a liquidação provisória, e aquele que a iniciou deve ser 
responsabilizado pelo pagamento destas. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. 
Brasília, DF: 16 mar. 2015. 
BUENO, C. S. Manual de direito Processual Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva 
Edição, 2023. 
CUNHA, J. S. F. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2016. 
CRUZ E TUCCI, J. R. et al. (coord.). Código de Processo Civil Anotado. 
Curitiba: OAB/PR, 2017. 
MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Código de Processo Civil 
Comentado. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2023. 
MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. O Novo Processo Civil. 2. 
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 
MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Curso de processo civil: 
tutela dos direitos mediante procedimento comum. 8. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2023. 
THEODORO JUNIOR, H. Processo de execução e cumprimento de sentença. 
31. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.

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