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Processo Civil e a Relação com Terceiros Direito Processual Civil Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELLEN THAYNNÁ MARA DELGADO BRANDÃO MILENA BARBOSA DE MELO AUTORIA Ellen Thaynná Mara Delgado Brandão Eu, Ellen, tenho graduação em Direito pela Unifacisa – Universidade de Ciências Sociais Aplicadas e pós-graduanda em Docência do Ensino Superior. Atualmente sou professora conteudista e elaboradora de cadernos de questões. Como jurista, atuo nas áreas de Direito Penal, Direito do Trabalho e Direito do Consumidor. Milena Barbosa de Melo Eu, Milena, tenho graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra. Mestre e Especialista em Direito Comunitário pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora universitária e conteudista. Como jurista, atuo, principalmente, nas seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional público e privado, Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento, Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital. Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Litisconsórcio ............................................................................................... 12 Conceito ................................................................................................................................................. 12 Hipóteses de Cabimento .......................................................................................................... 13 Classificação do Litisconsórcio ............................................................................................ 14 Litisconsórcio Ativo, Passivo e Misto ............................................................. 15 Litisconsórcio Inicial ou Ulterior ........................................................................ 15 Litisconsórcio Necessário e Facultativo ..................................................... 16 Litisconsórcio Unitário e Simples .................................................................... 19 Litisconsórcio Necessário Simples ou Unitário .................................... 20 Prazo para os Litisconsortes .................................................................................................. 21 Intervenção de Terceiros .........................................................................22 Conceito ................................................................................................................................................22 Intervenção de Terceiros Voluntária e Provocada .................................................23 Assistência ..........................................................................................................................................24 Assistência Simples ....................................................................................................25 Poderes do Assistente Simples no Processo .......................27 Assistência Litisconsorcial ....................................................................................28 Poderes do Assistente Litisconsorcial ......................................29 Procedimento da Assistência ............................................................................. 30 A Justiça da Decisão .................................................................................................. 31 Denunciação da Lide ................................................................................. 33 Conceito ................................................................................................................................................33 Hipóteses de Cabimento ...........................................................................................................35 Risco de Evicção .......................................................................................................... 36 Direito de Regresso Decorrente de Lei ou Contrato ..........................37 Facultatividade ............................................................................................................ 38 Qualidade Processual do Denunciado ........................................................................... 39 Procedimento da Denunciação da Lide ........................................................................ 40 Quando Requerida pelo Réu .............................................................................. 40 Quando Requerida pelo Autor............................................................................ 41 Chamamento, Amicus Curiae e Desconsideração da Pessoa Jurídica ............................................................................................................43 Chamamento ao Processo .......................................................................................................43 Hipóteses de Cabimento ......................................................................................44 Procedimento ............................................................................................................... 46 Amicus Curiae ....................................................................................................................................47 Requisitos para a Intervenção do Amicus Curiae................................ 48 Procedimento ............................................................................................................... 49 Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica ............................. 50 Procedimento ................................................................................................................ 51 9 UNIDADE 03 Direito Processual Civil 10 INTRODUÇÃO O Direito é um ramo que possui uma extensão de disciplinas, todas possuindo fundamental importância. Estudaremos nessa unidade uma dessas disciplinas que é o Processo Civil. Entre os variados conteúdos que essa disciplina possui, nessa unidade iremos tratar do litisconsórcio e da intervenção de terceiro. Sendo esses dois institutos importantes porque envolvem mais pessoas que irão integrar o processo, deste modo, iremos entender o que vem a ser a figura do litisconsórcio, sendo ele a possibilidade de haver vários autores ou vários réus no processo. Em seguida estudaremos sobre a intervenção de terceiro, estudando todas as suas hipóteses que são: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidentede desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Desmembrando e vendo em que consiste cada uma delas. Vamos juntos embarcar nesse conhecimento! Direito Processual Civil 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Processo civil e a relação com terceiros. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término dessa etapa de estudos: 1. Entender o conceito e a classificação do litisconsórcio. 2. Aplicar o princípio da intervenção de terceiros. 3. Discernir sobre casos de denunciação da lide. 4. Identificar o chamamento ao processo, o amicus curiae e o incidente de desconsideração da pessoa jurídica. Então? Preparado para adquirir conhecimento sobre um assunto fascinante e inovador como esse? Vamos lá! Direito Processual Civil 12 Litisconsórcio OBJETIVO: Neste capítulo, estudaremos o litisconsórcio. Você já ouviu falar nesse termo? Ele é muito usado no processo civil como forma de economia processual. Assim, vamos entender o seu conceito e como se dá a sua classificação, assunto muito utilizado no dia a dia do profissional que utiliza o processo civil. Vamos lá? . Conceito O litisconsórcio se refere às partes do processo. De acordo com Neves (2016, p. 241), “a doutrina é pacífica em conceituar o litisconsórcio como a pluralidade de sujeitos em um ou nos dois polos da relação jurídica processual que se reúnem para litigar em conjunto”. Assim, no litisconsórcio haverá mais de um autor ou mais de um réu. Gonçalves (2018) indica que são dois os fundamentos apontados para que a lei autorize e estimule a formação de litisconsórcio: o primeiro fundamento é a economia processual, pois com um único processo haverá uma única instrução e uma só sentença, sendo, assim, mais econômico. O segundo fundamento é a harmonização dos julgados, sendo esse fundamento a razão principal para a formação do litisconsórcio. Para que o litisconsórcio seja formado, é necessário que os autores ou os réus tenham alguma afinidade em comum, estando em situação semelhante. Se as suas ações fossem protocoladas separadamente, correria o risco de serem distribuídas em juízos diferentes, havendo, assim, o risco de serem obtidos resultados diferentes, risco esse que é evitado com o litisconsórcio. Direito Processual Civil 13 Hipóteses de Cabimento Sabendo que o litisconsórcio é a possibilidade de haver a reunião de autores ou de réus no processo, é importante questionarmos: sempre poderá haver essa reunião de autores e de réus? A resposta para essa pergunta é não, isso porque existem situações nas quais a lei não permite essa reunião, pois poderão gerar situações atípicas e que podem ser consideradas prejudiciais ao processo. Dessa forma, o art. 113 do Código de Processo Civil traz em seu texto que podem litigar no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, as seguintes hipóteses: 1. Se entre os sujeitos houver comunhão de direitos ou de obrigações – quando existe pluralidade de autores ou de réus, dessa relação jurídica surgirá direitos e obrigações em que a sua titularidade será de mais de um sujeito, sendo esses sujeitos habilitados a litigar em litisconsórcio. De acordo com Neves (2016, p. 242), “ainda que o condômino possa litigar sozinho em defesa do bem em condomínio, a relação de direito material que o envolve com os demais condôminos é suficiente para permitir o litígio em conjunto”. Outro exemplo que podemos trazer é no caso de uma dívida solidária, em que o credor poderá propor a ação contra todos os devedores. 2. Havendo conexão pelo pedido ou pela causa de pedir. Primeiramente, devemos conceituar o que vem a ser conexão, você lembra desse conceito? De acordo com o art. 55 do Código de Processo Penal, são consideradas conexas duas ou mais ações quando for comum entre elas o pedido ou a causa de pedir. Sabendo o conceito, a consequência da conexão é que haja entre as demandas sua reunião perante um mesmo juízo para que possa haver o julgamento em conjunto. Como já mencionamos, isso acontece para que haja uma economia processual e a harmonização dos julgados. Dessa forma, é permitido que haja a formação de litisconsórcio quando há mesmo pedido ou mesma causa de pedir. Direito Processual Civil 14 EXEMPLO: Dois sócios poderão, em conjunto, propor uma ação contra a sociedade, tendo como objetivo que uma assembleia seja anulada. Nesse caso, haverá a identidade de pedidos. 3. Existir afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. De acordo com Neves (2016), nesse ponto não se exige a identidade de fatos, pois se exigisse, seria caso de conexão, assim, basta para se admitir o litisconsórcio a afinidade, ou seja, a semelhança de questões por um ponto que se tenha em comum de fato ou de direito. EXEMPLO: Vários servidores públicos se reúnem para litigar contra o Poder Público, devido a atos administrativos que sejam fundados na mesma norma que se considera ilegal. Assim, o fato não será o mesmo, pois cada um sofreu o prejuízo individualmente, em decorrência de um ato administrativo determinado, porém a afinidade entre as situações permitirá que haja litisconsórcio. Essas são as hipóteses de litisconsórcio existentes no art. 113 do Código de Processo Civil. Classificação do Litisconsórcio Para que haja a classificação de qualquer matéria jurídica, devem ser considerados critérios. De acordo com Neves (2016), na classificação do litisconsórcio são utilizados quatro critérios, sendo eles: • Posição processual na qual foi formado. • Momento de sua formação. • Sua obrigatoriedade ou não. • O destino dos litisconsortes no plano material. Visto os critérios utilizados para a classificação do litisconsórcio, agora nos cabe estudar como é essa classificação. Prontos? Direito Processual Civil 15 Litisconsórcio Ativo, Passivo e Misto Essa classificação tem como critério a posição processual na qual foi formado o litisconsórcio. Assim, de acordo com Gonçalves (2018), ele poderá ser ativo, passivo ou misto, mas em que consiste cada uma dessas classificações? O litisconsórcio será ativo, se houver pluralidade apenas de autores na demanda. Será considerado passivo, se a pluralidade for exclusivamente no polo passivo. Já o litisconsórcio misto acontece no caso de haver pluralidade tanto de autores quanto de réus. Litisconsórcio Inicial ou Ulterior No que se refere ao momento de formação, o litisconsórcio pode ser inicial ou ulterior. De acordo com Neves (2016), o litisconsórcio inicial é formado desde a propositura da ação, existindo, assim, desde o momento em que a petição inicial é apresentada em juízo, tendo em vista que esse é o primeiro ato do procedimento. NOTA: Como o litisconsórcio inicial é formado desde a propositura da ação, fica evidente que a responsabilidade de formação desse litisconsórcio é exclusiva do autor da ação, pois é ele o responsável pelo início do processo por meio da petição inicial. Já no que se refere ao litisconsórcio ulterior, ele só é formado após a propositura da ação. Mas você deve se perguntar, por que ele não se forma desde o início da ação? Isso se dá porque só é verificado que pode haver vários autores na ação ou vários réus, durante o trâmite processual. Um exemplo bastante claro de litisconsórcio ulterior é citado por Neves (2016), sendo ele no caso de chamamento ao processo. O que seria o chamamento ao processo? Direito Processual Civil 16 O chamamento ao processo será estudado mais adiante, mas inicialmente é possível dizer que ele é uma possibilidade que consta no Código de Processo Civil, em que o réu pode chamar ao processo outros devedores para junto com ele compor o polo passivo da demanda. Litisconsórcio Necessário e Facultativo No que diz respeito ao critério de sua obrigatoriedade ou não, poderá existir litisconsórcio necessário e facultativo. Mas o que vem a ser essaclassificação? Litisconsórcio necessário, de acordo com Gonçalves (2018), é aquele em que a sua formação é obrigatória, assim, o processo não pode prosseguir e o juiz não pode julgar a demanda de forma válida, se não estiverem presentes todos os litisconsortes necessários. De acordo com o art. 114 do Código de Processo Civil, o litisconsórcio será necessário devido à disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. Assim, são duas as hipóteses que obrigam a formação de litisconsórcio necessário, a primeira é em virtude de lei que imponha sua formação. EXEMPLO: A ação de usucapião, de acordo com o art. 246, § 3° do Código de Processo Civil, diz que devem ser citados todos os confrontantes e terceiros interessados. E a segunda hipótese é de quando no processo, se discute uma relação jurídica de direito material que é única, incindível e tenha mais de um titular. De acordo com Neves (2016, p. 245): No plano do direito material, fala-se em relações jurídicas incindíveis, cuja principal característica é a impossibilidade de um sujeito que dela faça parte suportar um efeito sem atingir todos os sujeitos que dela participam. Significa dizer que existem determinadas relações jurídicas de direito material que, gerando-se um efeito jurídico sobre ela, seja modificativo ou extintivo, todos os sujeitos que dela participam sofrerão, obrigatoriamente, tal efeito jurídico. (NEVES, 2016, p. 245) Direito Processual Civil 17 IMPORTANTE: Falamos do plano do direito material, então, é importante citar que no plano-processo não é admitido que a pessoa que não participe do processo sofra os efeitos jurídicos da decisão, com exceção dos substitutos processuais e dos sucessores. Dessa forma, Gonçalves (2018) aponta que o direito material prevê as relações jurídicas de litisconsórcio necessário, exemplifica-se com o casamento, em que o matrimônio é uma relação única e incindível. Mas isso não quer dizer que o casamento não pode ser desfeito. Assim, quando o casamento é desconstituído, ele é desconstituído para ambas as pessoas, não podendo o juiz decretar a separação de apenas um dos cônjuges. Podemos, então, ressaltar que na hipótese de o litisconsórcio ser necessário, o autor não tem a opção de formá-lo ou não, o autor é obrigado a formá-lo. Caso o autor não inclua todos que devem ser incluídos no polo ativo ou passivo, o juiz irá lhe conceder um prazo para que emende a inicial, incluindo as pessoas que estão faltando, sob pena de indeferimento. Caso o juiz não perceba a falta do litisconsórcio de imediato, ele deve, assim que perceber, determinar que haja a inclusão, podendo ocorrer a qualquer momento do processo. Mas o que você acha que acontece com os atos que já foram praticados até o momento? De acordo com Gonçalves (2018), é dever do juiz decretar a nulidade de todos os atos processuais dos quais o litisconsorte necessário não teve a oportunidade de participar. No que tange o litisconsórcio facultativo, sua formação se dá por escolha das partes, assim, o autor, no momento da propositura de demanda, tinha a opção entre formá-lo ou não. São as hipóteses que elencamos no art. 113 do Código de Processo Penal que mencionamos anteriormente. Direito Processual Civil 18 O litisconsórcio facultativo poderá ser limitado, de acordo com o art. 113, §§ 1° e 2° do Código de Processo Civil. Esse artigo diz o seguinte: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: § 1° O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2° O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. (BRASIL, 2015) Assim, poderá o juiz limitar os litisconsórcios facultativos desde que o número excessivo de pessoas comprometa a rápida solução do processo, dificulte o exercício do direito de defesa ou o cumprimento de sentença. Uma importante observação que deve ser feita é que, se depois da citação do réu, o autor quiser incluir outro litisconsorte facultativo que até então não havia sido mencionado no processo, será necessário que o réu concorde com essa nova pessoa que será chamada ao processo, desde que o processo ainda não tenha sido saneado, pois após o saneamento do processo não é mais possível essa inclusão. Você sabe o que vem a ser o saneamento do processo? De acordo com Aquaviva (1999), o saneamento do processo são as diligências tomadas pelo juiz, com a finalidade de eliminar os vícios, as irregularidades ou as nulidades processuais, além de preparar o processo para receber a sentença. O momento para ser tomada essa providência é entre a fase postulatória e a instrução do processo, ocorrendo mediante um despacho saneador. Direito Processual Civil 19 Litisconsórcio Unitário e Simples No que se refere ao destino do litisconsórcio no plano do direito material, ele pode ser unitário e simples. Mas o que essa classificação quer dizer? Nessa classificação é analisada a possibilidade de o juiz, no caso concreto, decidir de forma diferente para cada um dos litisconsortes, o que determinará diferente sorte para cada um deles diante do resultado do processo. Dessa forma, Neves (2016) aponta que será unitário o litisconsórcio sempre que o juiz se encontrar obrigado a decidir de maneira uniforme para todos os litisconsortes; e simples, sempre que for possível uma decisão com o conteúdo diferente para cada um dos litisconsortes. NOTA: Assim, sobre o litisconsorte unitário, o art. 116 do Código de Processo Civil, determina que o litisconsorte será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. Para diferenciar essas duas espécies, Neves (2016) traz o seguinte: Para se aferir se o litisconsórcio é simples ou unitário basta imaginar a sentença que decida diversamente para os litisconsortes e verificar se ela seria capaz de gerar seus efeitos em suas esferas jurídicas. Havendo a viabilidade de praticamente se efetivar a decisão, em seus aspectos divergentes para os litisconsortes, o litisconsórcio será simples. No caso contrário, sendo inviável a efetivação da decisão, o litisconsórcio será unitário. (NEVES, 2016, p. 246) EXEMPLO: Dois credores solidários cobrando uma obrigação solidária. Litisconsórcio formado em razão da solidariedade obrigacional é simples ou unitário? A resposta para esse exemplo é “depende”. Mas por que depende? Se a obrigação solidária for indivisível o litisconsórcio será unitário, no entanto, se a obrigação solidária for divisível, o litisconsórcio será simples. Direito Processual Civil 20 Dessa forma, é necessário que se saiba o que os litisconsortes estão discutindo, para que depois possa saber se é unitário ou simples. Litisconsórcio Necessário Simples ou Unitário O litisconsórcio necessário pode ser simples ou unitário. De acordo com Theodoro Júnior (2019), o litisconsórcio será necessário simples quando for necessário exclusivamente por força de lei, nos casos em que, no processo, não se discutam relações unas e indivisíveis. Como exemplo de litisconsórcio necessário simples, podemos elencar as ações de usucapião, em que há necessidade de citação de todos os confrontantes, como já mencionamos, mas a sentença pode acolher integralmente o pedido em relação a alguns, e não em relação a outros. Mas você deve se perguntar, quando é que ele será um litisconsórcio necessário unitário? Nas palavras de Gonçalves (2018), ele será unitário, se, além de haver lei que imponha asua formação, no processo em questão se discutirem relações unas e incindíveis. Como podemos exemplificar isso? Como exemplo podemos trazer as ações de dissolução e liquidação de sociedade comercial, cujo art. 601 do Código de Processo Civil determina a citação da pessoa jurídica e de todos os sócios. Dessa forma, é certo a natureza da relação jurídica impõe a citação de todos, pois a dissolução dessa sociedade afetará a todos, tendo em vista que a empresa não pode ser dissolvida para uns, sem que seja para os outros. Direito Processual Civil 21 Prazo para os Litisconsortes O art. 229 do Código de Processo Civil traz em seu texto que se os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, o seu prazo será contado em dobro para todas as suas manifestações no processo. A exceção a essa regra está contida no § 2° do artigo supramencionado, em que não será computado o prazo em dobro aos processos em autos eletrônicos. RESUMINDO: Estudamos neste Capítulo que o litisconsórcio consiste na pluralidade de sujeitos em um ou nos dois polos da relação jurídica processual, que se reúnem para litigar em conjunto. Sendo dois os fundamentos para a formação desse instituto, sendo eles: economia processual e harmonização dos julgados. Vimos que o art. 113 do Código de Processo Civil traz as hipóteses em que poderá haver litisconsórcio. Em seguida, estudamos a sua classificação, podendo ser ele ativo (pluralidade de autores), passivo (pluralidade de réus), misto (pluralidade de autores e réus), inicial (formado desde a propositura da ação), ulterior (formado após a propositura da ação), necessário (formação obrigatória), facultativo (formação se dá por escolha das partes), unitário (quando o juiz se encontrar obrigado a decidir de maneira uniforme para todos os litisconsortes), simples (sempre que for possível uma decisão com o conteúdo diferente para cada um dos litisconsortes). Por fim, vimos que o prazo para os litisconsortes que têm diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, é contado em dobro. Direito Processual Civil 22 Intervenção de Terceiros OBJETIVO: Estudaremos neste Capítulo sobre um dos assuntos importantes para saber quando uma pessoa que não faz parte do processo possa ingressar nele, a intervenção de terceiros. Sabendo que ele tem várias formas, aqui estudaremos sobre a assistência. Curiosos para saber o que vem a ser esse instrumento? Vamos lá!. Conceito O que você entende ser intervenção de terceiros? De acordo com Almeida e Faria (2019), a intervenção de terceiro ocorre quando alguém ingressa na relação processual já existente, evitando, assim, que a sentença possa surtir efeitos, ainda que reflexos, com relação a quem não participou da relação processual. Dessa forma, o terceiro é aquele que não é parte originária do processo. Além disso, existem casos em que o terceiro adquire a condição de parte no processo e, também, casos em que o terceiro figura como auxiliar da parte ou do juízo. Mas quando é que o terceiro irá se transformar em parte no processo? O terceiro se transforma em parte no caso de denunciação da lide e do chamamento ao processo e se torna auxiliar de uma das partes no caso da assistência. IMPORTANTE: O importante é saber que a intervenção implicará no ingresso de uma pessoa que até então não fazia parte do processo. Direito Processual Civil 23 Gonçalves (2018) diz que só se justificará a intervenção de um terceiro que possa, devido ao processo em andamento, ter sua esfera jurídica atingida pela decisão judicial. Dessa forma, não é admitido que um terceiro ingresse na demanda sendo absolutamente alheio ao processo, em que os interesses não possam, de qualquer maneira, ser afetados. IMPORTANTE: A intervenção de terceiro é o ingresso do terceiro em um processo que já se encontra em andamento. Dessa forma, a intervenção de terceiro não cria novo processo. As formas de intervenção de terceiro estão contidas no Código de Processo Civil, sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Intervenção de Terceiros Voluntária e Provocada A intervenção de terceiros pode ser classificada em duas categorias, sendo elas: intervenção de terceiros voluntário e provocada. Adequar-se a uma dessas categorias depende da iniciativa do ingresso do terceiro no processo. Os casos de intervenção voluntária são aquelas situações em que a intervenção cabe ao próprio terceiro, sendo ele quem a manifesta, podendo citar como exemplo desse tipo de intervenção a assistência. Já no que diz respeito à intervenção provocada, a iniciativa para intervenção não vem do terceiro, mas sim de uma das partes, que solicita que o juiz convoque o terceiro, nesse tipo podemos citar como exemplo a denunciação da lide (GONÇALVES, 2018). Direito Processual Civil 24 Assistência Uma das possibilidades de intervenção de terceiro é a assistência. Essa pressupõe o ingresso de terceiro em um processo que ele até então não figurava em nenhum dos polos (ativo ou passivo). Ela é sempre voluntária, de acordo com Gonçalves (2018). Assim, a iniciativa de ingresso deve sempre partir do próprio terceiro. Não é permitido que o juiz mande intimar, a pedido da parte, o terceiro para que assuma a condição de assistente. Mas com que motivo um terceiro irá ingressar no processo por vontade própria? A intervenção por meio da assistência é um meio de ingresso no processo de forma voluntária, para que esse terceiro possa auxiliar alguma das partes na busca da vitória judicial. Nas palavras de Neves (2016), o pressuposto da assistência é a existência de um interesse jurídico do terceiro na solução do litígio, porém não é admissível que o interesse seja econômico, moral ou de qualquer outra natureza legitime a intervenção por assistência. Dessa maneira, só é admitido como assistente a pessoa que demonstrar que será afetada juridicamente pela decisão que poderá ser proferida no processo em que não participe, sendo considerada irrelevante a justificativa no sentido de que ela irá sofrer um possível prejuízo de ordem econômica ou qualquer outra natureza. NOTA: Não é possível que o juiz mande intimar o terceiro a pedido da parte para que ele possa assumir a condição de assistente. Importante ser destacado que o assistente não pode formular novos pedidos ao juiz, pois ela não amplia os limites objetivos da lide, assim, assistente só pode auxiliar uma das partes na busca pelo resultado mais favorável. Direito Processual Civil 25 Em nosso ordenamento existem duas espécies de assistência, de acordo com Neves (2016), sendo elas a assistência simples e a assistência litisconsorcial, que iremos estudar nesse momento. Assistência Simples A assistência simples é o tipo tradicional de assistência. Quando você se deparar com a expressão “assistência”, sem nenhum complemento, é a assistência simples. “É o mecanismo pelo qual se admite que um terceiro, que tenha interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, possa requerer o seu ingresso, para auxiliar aquele a quem deseja que vença” (GONÇALVES, 2018, p. 236). Assim, o requisito indispensável é que haja interesse jurídico por parte do terceiro na vitória de uma das partes. Mas como identificar o interesse jurídico? A pessoa terá interesse jurídico quando tiver uma relação jurídica com uma das partes do processo, diferente daquela sobre a qual versa o processo, mas que poderá ser afetada pelo resultado deste. De acordo com Neves (2016), o exemplo desse caso é a intervenção assistencial do sublocatário na ação de despejo que foi provida pelo locador contra o locatário. Nesse exemplo, o sublocatário mantém com o locatário uma relação jurídica não controvertida, diferente daquela discutida no processo, que será afetadana hipótese de sentença que decrete o despejo, sendo admissível a intervenção do sublocatário como assistente, para que possa ajudar o locatário a conseguir a vitória no processo, sendo essa a única forma de evitar o seu prejuízo jurídico. Direito Processual Civil 26 Figura 1 – Intervenção de terceiro Fonte: Freepik Como forma de simplificar o interesse jurídico de terceiro, Gonçalves (2018) afirma que isso dependerá de três circunstâncias, sendo elas: 1. Que o terceiro tenha uma relação jurídica com uma das partes. 2. Que essa relação seja diferente da que está sendo discutida no processo, pois se for a mesma ele deveria figurar como litisconsorte, e não como assistente. 3. Que essa relação jurídica possa ser afetada reflexamente pelo resultado do processo. Assim, no exemplo que demos do sublocatário, podemos observar que este tem relação jurídica com o locatário, que é o réu da ação de despejo. Essa relação é diferente da que é objeto do processo, pois a sublocação é diferente da locação e, a sublocação poderá ser afetada pelo que ficar decidido no processo principal, pois, caso o processo seja procedente, a locação se extinguirá, sob reflexo, também desaparecerá a sublocação. Direito Processual Civil 27 Outro ponto que devemos destacar é que o interesse jurídico não deve se confundir com o interesse meramente econômico. Gonçalves (2018) diz que existem casos em que o interesse do terceiro é meramente econômico, não tendo interesse jurídico. Nesse caso, há impedimento de ingressar como assistente simples. Como exemplo para diferenciar essas situações, temos o seguinte: EXEMPLO: Imagine que o terceiro seja credor de alguém que figura como parte em ação indenizatória. Se ele for credor do autor, terá interesse que a sentença seja procedente, pois isso tornará o seu devedor mais rico, com mais condições de pagar a dívida; no entanto, se o terceiro for credor do réu, ele torcerá pela sentença de improcedência, pois do contrário haverá o empobrecimento do réu, correndo, assim, o risco de tornar-se insolvente. Assim, essas hipóteses são de interesse meramente econômico, pois o crédito do terceiro com qualquer uma das partes não correrá nenhum risco, continuando a existir tanto com a sentença de procedência quando com a de improcedência. Poderes do Assistente Simples no Processo Como já sabemos, o assistente simples não compõe uma das partes do processo, não sendo o titular da relação jurídica que está sendo discutida em juízo, mas sim de uma relação jurídica com uma das partes. Sendo assim, quais são os atos que o assistente simples pode praticar, já que ele não é uma das partes do processo? A atuação do assistente é subordinada a da parte que ele tenha interesse em ajudar, podendo praticar todos os atos processuais que não contrariem a vontade da parte. Isso fica claro após a leitura dos artigos 121 e 122 do Código de Processo Civil, que consta: Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Direito Processual Civil 28 Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. (BRASIL, 2015) Assim, o art. 121 diz que o assistente simples é o auxiliar da parte. No entanto, devido à sua condição de auxiliar, só pode praticar os atos que não sejam vedados expressamente pela parte. Já o art. 122 diz que a parte pode reconhecer a procedência do pedido, desistir ou renunciar da ação ou transgredir sobre os direitos controvertidos, mesmo sem a concordância do assistente. Ainda, é garantido pelo parágrafo único do art. 121 que, no caso de a parte ser revel ou omisso, o assistente será considerado substituto processual. IMPORTANTE: De acordo com Gonçalves (2018), para que o assistente possa praticar os atos que deseja no processo, ele não precisa de uma autorização expressa da parte, bastando apenas seu silêncio, desde que seja compatível com a sua condição de assistente. A parte principal pode vedar que o assistente pratique algum ato, caso isso ocorra, o assistente não o poderá fazer. Assistência Litisconsorcial O segundo tipo de assistência é a litisconsorcial. Nas palavras de Gonçalves (2018), esse tipo de assistência trata-se de uma forma de intervenção de terceiros atribuída ao titular ou cotitular da relação jurídica que está sendo discutida em juízo. Só pode existir na legitimidade extraordinária, pois só assim é possível que o terceiro seja titular ou cotitular da relação jurídica discutida em juízo. Você lembra o que vem a ser a legitimidade extraordinária? De acordo com Gonçalves (2016), a legitimidade extraordinária ocorre em casos excepcionais, que decorrem de lei expressa ou do Direito Processual Civil 29 sistema jurídico, onde é admitido que alguém vá a juízo, em nome próprio, para defender interesses alheios. EXEMPLO: No condomínio e na alienação de coisa litigiosa. Se o bem pertence a vários proprietários, qualquer um deles tem legitimidade para propor ação reivindicatória ou possessória, isoladamente, contra aqueles que tenham a coisa consigo de forma indevida. Dessa forma, quem propuser a ação, fará em defesa não apenas da sua fração, mas sim do bem todo. No exemplo anteriormente citado, quem propuser a ação será considerado o legitimado extraordinário no que se refere às frações dos outros condôminos. Poderes do Assistente Litisconsorcial Como vimos, o assistente litisconsorcial atua quando há legitimidade extraordinária, pois somente quem poderá assumir a condição de assistente é o substituto processual. Dessa forma, de acordo com Gonçalves (2018), o assistente litisconsorcial tem a condição de litisconsorte facultativo unitário ulterior, mas o que seria isso? Isso quer dizer que “ele tem os mesmos poderes que o litisconsorte unitário, com a ressalva de que, tendo ingressado com o processo já em curso, passará a atuar no estado em que o processo se encontra” (GONÇALVES, 2018, p. 240). A sua participação no processo não é subordinada à parte, onde essa também não terá poder de veto. Além disso, o assistente litisconsorcial pode praticar isoladamente os atos que sejam benéficos, e o benefício será estendido à parte. No entanto, os atos que forem desfavoráveis serão ineficazes até mesmo em relação ao assistente, com exceção de terem sido praticados em conjunto pelas partes e pelo assistente. Direito Processual Civil 30 Procedimento da Assistência Explicamos quais são os tipos de assistência e como elas devem atuar, no entanto, como é que o terceiro entra no processo para se tornar assistente? Neves (2016) diz que o terceiro que se considera assistente (simples ou litisconsorcial), deve requerer seu ingresso no processo por meio de uma petição, que deve ser devidamente fundamentada, devendo, de forma especial, expor o interesse jurídico que legitima a sua intervenção como assistente. IMPORTANTE: Não existe a necessidade de o agente preencher os requisitos formais que são previstos para a petição inicial, pois o único pedido que o terceiro deve formular é o de ingressar no processo, não levando ao processo qualquer outra pretensão. É admitido que o terceiro faça esse pedido em qualquer processo, até mesmo no de execução. Além disso, é cabível em qualquer procedimento, seja ele no procedimento comum ou no especial, podendo ser na jurisdição contenciosa ou voluntária. A exceção existente é a do procedimento sumaríssimo. Posteriormente, formulado o pedido, o juiz pode negar esse pedido do terceiro que deseja ser assistente? O juiz poderá sim indeferir o pedidode assistência em duas hipóteses, a primeira é na manifestação de inadmissibilidade da pretensão e a segunda é na improcedência da pretensão. Como exemplo podemos trazer o caso de o juiz negar o pedido porque ele é fundamentado em interesse meramente econômico. O juiz, deferindo o pedido, intimará as partes para se manifestar no prazo de quinze dias (NEVES, 2016). Direito Processual Civil 31 É importante deixar claro que o pedido de ingresso pelo terceiro não suspende o andamento do processo, devendo ele continuar tramitando normalmente. A Justiça da Decisão Quando o juiz profere a decisão, o que acontece com o assistente simples? Nas palavras de Gonçalves (2018), a coisa julgada material não pode se estender ao assistente simples, isso porque ele não é titular da relação de direito que é discutida em juízo, mas sim de outra, que com ela tem relação de interdependência. Dessa forma, o assistente não pode ser atingido de forma direta pelos efeitos da sentença, somente de forma reflexa, indireta e mediata. Assim, de acordo com o art. 123 do Código de Processo Civil, após o trânsito em julgado da sentença, no processo em que intervir o terceiro, este não poderá, em uma ação posterior, discutir a justiça da decisão. Entretanto, existem duas exceções, a primeira é provar que pelo estado em que recebeu o processo, ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença. A segunda exceção é provar que desconhecia a existência de alegações ou de provas, das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Esse dispositivo faz referência à justiça da decisão. Mas o que vem a ser essa justiça da decisão? “Tal como a coisa julgada, na imutabilidade, mas não dos efeitos da sentença, sim da sua fundamentação, que não poderá ser rediscutido pelo assistente simples, em nenhum outro processo” (GONÇALVES, 2018, p. 241). Poderá, então, o assistente rediscutir somente nos casos de exceção já elencados anteriormente. Direito Processual Civil 32 RESUMINDO: Estudamos que a intervenção de terceiros ocorre quando alguém ingressa na relação processual já existente, evitando, assim, que a sentença possa surtir efeitos, ainda que reflexos, com relação a quem não participou da relação processual. Assim, vimos que as formas de intervenção de terceiro estão contidas no Código de Processo Civil, sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Estudamos que a intervenção de terceiro pode ser voluntária (são as situações em que a intervenção cabe ao próprio terceiro, sendo ele quem a manifesta) e provocada (a iniciativa para intervenção não vem do terceiro, mas sim de uma das partes, que solicita que o juiz convoque o terceiro). Em seguida, estudamos uma das formas de intervenção, a assistência, vendo que ela pressupõe o ingresso de terceiro em um processo que ele até então não figurava em nenhum dos polos, sendo sempre voluntária. A assistência é dividida em simples, sendo o mecanismo pelo qual se admite que um terceiro, que tenha interesse jurídico de que a sentença seja favorável a uma das partes, possa requerer o seu ingresso, para auxiliar aquele a quem desejam que vença; e em assistência litisconsorcial, esse tipo de assistência trata-se de uma forma de intervenção de terceiros atribuída ao titular ou cotitular da relação jurídica que está sendo discutida em juízo. Só pode existir na legitimidade extraordinária, pois só assim é possível que o terceiro seja titular ou cotitular da relação jurídica discutida em juízo. Direito Processual Civil 33 Denunciação da Lide OBJETIVO: Continuaremos estudando as espécies de intervenção de terceiro, dessa vez veremos o que vem a ser a denunciação da lide. Você já ouvir falar nesse instituto? Ele é muito utilizado no Processo Civil para trazer ao processo uma pessoa que também deveria ser responsabilizada. Empolgados? Vamos lá!. Como mencionamos, as formas de intervenção de terceiro estão contidas no Código de Processo Civil, sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Neste Capítulo iremos estudar o que vem a ser a denunciação da lide. Conceito Você sabe em que consiste a denunciação da lide? De acordo com Neves (2016), a denunciação da lide serve para que uma das partes que compõe a demanda traga um terceiro ao processo que tem responsabilidade de ressarci-la pelos eventuais danos que poderão vir com o resultado da demanda. Assim, o direito regressivo é o fator principal que traz legitimidade à denunciação da lide. Para que haja a denunciação da lide, o autor ou o réu deverá pedir a citação do terceiro para compor a lide. IMPORTANTE: O terceiro que for chamado ao processo por meio da denunciação da lide não poderá negar sua qualidade de parte, podendo, no entanto, ficar omisso durante todo o trâmite processual. Direito Processual Civil 34 Ainda de acordo com Neves (2016), a denunciação da lide é uma demanda incidental, regressiva, eventual e antecipada. Mas o que isso quer dizer? 1. A denunciação da lide é considerada incidental, pois será instaurada em processo já existente. 2. É considerada regressiva, pois é fundada no direito de regresso da parte contra o terceiro. 3. No que se refere a ser eventual, ela é assim considerada porque guarda uma evidente relação de prejudicialidade com a demanda originária, se considerando que, se o denunciante não suportar dano algum em razão de seu resultado, a denunciação da lide perderá o seu objetivo. 4. Por fim, ela é considerada antecipada, pois no confronto entre o interesse de agir e a economia processual, o legislador prestigiou a economia processual; já que não há ainda dano a ser ressarcido no momento em que ocorre a denunciação da lide, em tese não há interesse de agir do denunciado em pedir o ressarcimento. No que diz respeito às características da denunciação da lide, quem as aponta é Gonçalves (2018), retratando que são três as características fundamentais, sendo elas: • É uma forma de intervenção de terceiros, que pode ser provocada tanto pelo autor quanto pelo réu, de forma diversa do chamamento ao processo que só pode ser requerido pelo réu. • Sua natureza jurídica é de ação, mas isso não implica a formação de um processo autônomo. Haverá, assim, um processo único para a ação e a denunciação. Essa amplia o objeto do processo. Além disso, o juiz, na sentença, terá que decidir não apenas a lide principal, mas a secundária. • Todas as hipóteses de denunciação são associadas ao direito de regresso. Ele permite que o titular desse direito já o exerça nos mesmos autos em que tem a possibilidade de ser condenado, o que favorece a economia processual. Direito Processual Civil 35 EXEMPLO: Maria foi vítima de acidente de trânsito provocado por Rafael, que conduzia veículo automotor de propriedade de Thamires. Por conta disso, Maria ajuizou ação de indenização por danos morais contra Thamires, que, na contestação, requereu a denunciação da lide a Rafael. A partir do exemplo podemos ver que a denunciação da lide é um modo de ação regressiva proposta nos autos de um processo já existente, em que o denunciante tem em vista o ressarcimento pelo denunciado de eventuais prejuízos que venha a sofrer em razão do processo. Hipóteses de Cabimento Agora, vamos estudar as hipóteses de cabimento da denunciação da lide. O art. 125 do Código de Processo Civil é o artigo que trata quando é admissível a denunciação da lide. O texto desse artigo dispõe: Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exerceros direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. (BRASIL, 2015) Dessa forma, são as hipóteses de cabimento da denunciação da lide: risco de evicção e direito de regresso decorrente de lei ou contrato. Vamos ver em que consiste cada uma delas. Direito Processual Civil 36 Risco de Evicção Como vimos, o inciso I, do art. 125 diz que é cabível a denunciação da lide do alienante sempre que terceiro reivindicar a coisa, sendo possibilitado ao adquirente exercer o direito que da evicção resulta. Mas o que isso quer dizer? Primeiramente, precisamos pontuar que evicção é a perda total ou parcial, de um bem em razão da decisão judicial ou ato administrativo que se relacione à causa preexistente ao contrato, assim diz o art. 447 do Código Civil. De acordo com Neves (2016), esse inciso isso significa que, quando demandado o adquirente de coisa, sua perda em decorrência de decisão judicial lhe gerará um dano que deverá ser ressarcido pelo sujeito que alienou a coisa. Assim, não importa as razões da evicção, pois em qualquer uma das razões o alienante tem a responsabilidade regressiva de ressarcir o adquirente pelos danos gerados pela perda da coisa. EXEMPLO: João adquire um imóvel de Carlos mas, ao tentar ingressar nele, descobre que se encontra ocupado por Maria. O adquirente, assim, deverá ajuizar ação reivindicatória em face de Maria. No entanto, há sempre um risco de que a sentença venha a ser de improcedência. Caso ocorra a improcedência, João terá sofrido evicção, pois ficará sem o bem e sem o dinheiro. Para que possa exercer o direito de regresso, pode, já na petição inicial, fazer a denunciação da lide a Carlos. No exemplo citado, caso o juiz julgue improcedente o pedido de João em relação a Maria, se tiver ocorrido a denunciação da lide, o mesmo juiz deverá julgar o direito de reaver o que ele pagou a Carlos. No entanto, se o juiz julgar procedente o pedido de João em relação a Maria, ele não terá sofrido evicção. Assim, a denunciação da lide ficará prejudicada, restando ao juiz julgá-la sem resolução de mérito. Deu para entender, né? Mas para melhor visualizar vamos montar um esquema do exemplo: Direito Processual Civil 37 Figura 2 ‒ Esquema explicativo do exemplo AÇÃO REIVINDICATÓRIA CARLOS JOÃO MARIA Denunciação da lid e Fonte: Elaborada pela autora (2020). Assim, de forma resumida, João interpõe uma ação regressiva contra Maria, e, por haver risco de evicção, denuncia Carlos a lide. Direito de Regresso Decorrente de Lei ou Contrato No que diz respeito ao inciso II do art. 125, ele autoriza a denunciação da lide a pessoa que estiver obrigada, por lei ou por contrato, a indenizar em ação regressiva o prejuízo de quem for vencido no processo. Desse modo, essa hipótese é mais ampla, sendo a forma mais frequente utilizada de denunciação da lide. Existe um debate com relação a esse tipo de denunciação por ser ele mais amplo, ampliando, inclusive, o objeto do processo. De acordo com Gonçalves (2018), parte da doutrina e da jurisprudência não considera razoável que, devido à denunciação da lide, que será para apurar se existe ou não direito de regresso entre denunciante e denunciado, a parte que sofreu o dano tenha o seu direito retardado, devido a maior complexidade de discussão após a denunciação da lide. Assim, o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo de forma que a denunciação da lide não possa prejudicar a parte prejudicada no processo, introduzindo fatos. Como exemplo podemos trazer o seguinte Direito Processual Civil 38 julgado do Superior Tribunal de Justiça, em que Vasco Della Giustina foi o relator em 16 de novembro de 2010: Com efeito, como consignado na decisão agravada, com relação à denunciação da lide, fundada no art. 70, III (atual inciso II), do CPC, a jurisprudência dessa Corte Superior a tem afastado nos casos em que se introduzir fundamento novo, apto a provocar uma lide paralela, a exigir ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária, indo de encontro aos princípios da celeridade e economia processuais, os quais essa modalidade de intervenção de terceiros busca atender. Vale asseverar, ainda, que, em tais situações, eventual direito de regresso não estará comprometido, pois poderá ser exercido em ação autônoma. (BRASIL, 2010) Foi muito importante essa decisão vindo de um tribunal superior, pois isso garante que parte do processo não fique prejudicada. Facultatividade Um ponto importante que devemos questionar é: a denunciação da lide é obrigatória? O entendimento é de que a denunciação da lide não é obrigatória, nem mesmo nos casos de evicção. Dessa forma, se a parte deixar de fazer a denunciação, não perde, por sua omissão, o direito de regresso, podendo exercê-la por meio de ação autônoma. Inclusive, como mencionamos no ponto anterior, no caso de direito de regresso, o tribunal vem julgando que se for trazer fatos novos não deve ocorrer a denunciação da lide no processo, para que não o retarde, causando, assim, prejuízo a uma das partes, que deverá esperar mais tempo pela solução do conflito. Além disso, o § 1° do art. 125 do Código de Processo Civil garante esse direito ao trazer que o direito de regresso pode ser exercido por ação Direito Processual Civil 39 autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. Qualidade Processual do Denunciado A denunciação da lide, de acordo com as previsões dos artigos 127 e 128 do Código de Processo Civil, tornará o denunciante e o denunciado litisconsortes. Assim, Neves (2016) diz que a denunciação da lide criaria, então, um litisconsórcio: a. Ulterior, tendo em vista que foi formado após a propositura da demanda. b. Passivo ou ativo, dependendo de ser o denunciante autor ou réu na demanda originária. c. Facultativo, pois a denunciação é facultativa e o processo não será extinto sem resolução de mérito, caso a parte não realize a denunciação da lide. d. Unitário, pois a decisão da ação principal será obrigatoriamente no mesmo sentido para denunciante e denunciado. IMPORTANTE: Essa relação de litisconsórcio só pode ser considerada na demanda originária, pois na demanda que verse sobre a denunciação da lide o denunciante é adversário do denunciado. É importante também mencionarmos que, se o titular do direito que está sendo discutido na demanda principal, sendo a parte contrária da parte que fez a denunciação da lide, lograr vitoriosa na demanda, Direito Processual Civil 40 não poderá esta, executar diretamente o denunciado, pois ele não tem legitimidade para isso. Procedimento da Denunciação da Lide Como já sabemos, a denunciação da lide pode ser requerida pelo autor ou pelo réu. Dessa forma, o procedimento varia de acordo com quem faz o requerimento. Vamos agora estudar cada um desses casos. Quando Requerida pelo Réu De acordo com o art. 126 do Código de Processo Civil, o réu, após ser citado, deverá apresentar a sua contestação, devendo nesse instrumento requerer a denunciação da lide. É indispensável que ele indique quais são os fundamentos de fato e de direito que se baseia o direito de regresso e qual o pedido. No entanto, não há a necessidade de atribuição do valor da causa. Gonçalves (2018) retrata que o deferimento não depende do consentimento da parte contrária, nem do denunciado, somente do juiz ao verificar que, em tese, estão presentes as situações autorizadoras de direito de regresso. Após ser deferida pelo juiz a denunciação, o denunciado deverá ser citado. É dever do denunciado providenciar o que for necessário para que essa citação ocorra no prazo de trinta dias, de acordo com o art. 131 do Código de Processo Penal. Caso a citação ultrapasse o prazo de trinta dias por culpa do denunciante,a denunciação ficará sem efeito, devendo o processo prosseguir sem o denunciado. Contudo, se o atraso tiver sido por causa de fato alheio à sua vontade, ele não poderá ser prejudicado (GONÇALVES, 2018). Sendo citado, o denunciado poderá apresentar contestação, podendo impugnar os fatos alegados pelo autor na petição inicial, completando o que já foi alegado pelo réu. Também pode, de acordo com Gonçalves (2018), impugnar o objeto da denunciação propriamente dita, negando a existência do direito de regresso. Direito Processual Civil 41 É de responsabilidade do juiz proferir a sentença conjunta, devendo julgar as duas ações. No caso de a ação principal ter sido julgada procedente, sendo o réu condenado, o juiz decidirá se ele tem ou não direito de regresso contra o denunciado. Se o juiz julgar improcedente o pedido da ação principal, a denunciação ficará prejudicada e o juiz deverá julgar a denunciação como extinta e sem resolução de mérito. Quando Requerida pelo Autor Assim como o réu, o autor também pode denunciar a lide. Mas quando isso acontece? O autor denuncia a lide quando ele estiver temendo os prejuízos de uma possível improcedência do seu pedido, assim, ao denunciar, ele quer exercer o direito de regresso contra o terceiro que tem obrigação de responder a esses prejuízos. Dessa forma, Gonçalves (2018) diz que essa denunciação deverá ser requerida na petição inicial, onde o autor deverá expor os fatos e fundamentos jurídicos e, ainda, formular o seu pedido contra o réu, pedindo que seja acolhido o seu pedido; no entanto, caso haja uma eventual improcedência do seu pedido, ele já fará a denunciação da lide, pedindo para que o juiz condene o denunciado ao ressarcimento dos prejuízos que dela advirem. Um fato importante quando o autor faz a denunciação da lide é que, se o juiz deferir o pedido de denunciação, ele deverá mandar citar o denunciado antes de citar o réu; já que o denunciado se torna litisconsorte, ele poderá acrescentar fatos novos na inicial. É importante citar que o denunciado, além de poder acrescentar fato novo à lide, poderá contestar a denunciação da lide. Ao fim do processo, o juiz irá proferir uma sentença única, na qual se for procedente o pedido do autor contra o réu, ocasionará na extinção da denunciação sem resolução de mérito. Direito Processual Civil 42 RESUMINDO: Estudamos neste Capítulo que a denunciação da lide serve para que uma das partes que compõe a demanda traga um terceiro ao processo, que tem responsabilidade de ressarci-la pelos eventuais danos que poderão vir com o resultado da demanda. Assim, o direito regressivo é o fator principal que traz legitimidade à denunciação da lide. Vimos que ela é uma demanda incidental, regressiva, eventual e antecipada. Estudamos as três características principais desse instituto, vendo, em seguida, as suas hipóteses de cabimento, sendo elas: risco de evicção e direito de regresso decorrente de lei ou contrato. Vimos também que a denunciação da lide é facultativa, assim, se a parte deixar de fazer a denunciação, não perde, por sua omissão, o direito de regresso, podendo exercê-la por meio de ação autônoma. Com a denunciação da lide é criado um litisconsórcio ulterior, passivo ou ativo, facultativo e unitário. Por fim, vimos como se dá a denunciação da lide, caso ela seja feita pelo réu, que deverá denunciar em sua contestação ou pelo autor, que deverá denunciar na inicial. Direito Processual Civil 43 Chamamento, Amicus Curiae e Desconsideração da Pessoa Jurídica OBJETIVO: Estamos estudando sobre a intervenção de terceiro, não é mesmo? Desse modo, nesse Capítulo concluiremos esse estudo vendo as últimas hipóteses desse instituto. Assim, iremos identificar o chamamento ao processo, o amicus curiae e a desconsideração da pessoa jurídica. Empolgados? Vamos lá!. Como já mencionamos, as formas de intervenção de terceiro estão contidas no Código de Processo Civil, sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Neste Capítulo encerraremos esse assunto, estudando sobre o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae. Vamos começar! Chamamento ao Processo Você já ouviu falar em chamamento ao processo? Sabe o que vem a ser isso? Gonçalves (2018) vem conceituar o que vem a ser essa forma de intervenção, ele diz que o chamamento ao processo é uma forma de intervenção de terceiros por meio do qual o réu, que é fiador ou devedor solidário, que está fazendo parte originalmente da demanda, trará para compor o polo passivo, em litisconsórcio com ele, o afiançado ou os demais devedores solidários. Direito Processual Civil 44 Assim como na denunciação da lide, no chamamento ao processo, a relação jurídica será integrada devido ao pedido do réu, sem a necessidade de haver concordância por parte do terceiro chamado. Dessa forma, a mera citação válida já é suficiente para que haja o chamamento ao processo. IMPORTANTE: No chamamento ao processo a intervenção é provocada pelo réu. Visto isso, podemos concluir que no chamamento ao processo o réu traz outros réus, cujo autor não demandou originalmente. Haverá a formação de um litisconsórcio passivo, em que sua formação é ulterior, determinado pela manifestação do réu, que chama o devedor principal ou os codevedores solidários (GONÇALVES, 2018). O art. 132 do Código de Processo Civil afirma que, em caso de procedência da demanda, todos os réus serão condenados a pagar o autor. Hipóteses de Cabimento As hipóteses de cabimento do chamamento ao processo estão contidas no art. 130 do Código de Processo Civil: a. Do afiançado, na ação em que o fiador for réu - esse requisito trata da hipótese do autor da demanda ter demandado contra o fiador. Dessa forma, poderá o fiador chamar ao processo o devedor principal. Mas por que isso acontece? Para explicar o motivo pelo qual o autor demanda contra o fiador e não contra o devedor principal, devemos dizer que o fiador é uma pessoa que assume a responsabilidade pelo pagamento de uma dívida que não é sua. Dessa forma, se a dívida não for paga pelo devedor principal, o fiador Direito Processual Civil 45 que irá responder com seus bens perante o credor. No entanto, como é possível que a dívida não é dele, ele terá o direito de, após realizar o pagamento, ter o valor ressarcido pelo devedor (GONÇALVES, 2018). IMPORTANTE: No caso de o autor demandar contra o devedor principal, não é permitido que este chame ao processo o fiador. b. Dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles – Neves (2016) diz que ao demandar um ou alguns fiadores, é permitido que haja o chamamento ao processo dos demais, que responde com ele solidariamente perante o credor que foi o autor da demanda. Assim, esse inciso pode ser aplicado em conjunto com o anterior, em que o fiador pode, além de chamar os demais fiadores existentes, chamar também o devedor principal. c. Dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum – essa é a hipótese da dívida solidária entre os devedores principais, em que o credor não demandou contra todos. É importante mencionarmos que, de acordo com Gonçalves (2018), no que se refere à solidariedade da dívida, o credor pode cobrar de qualquer um dos devedores solidários; cobrando apenas de um deles, ele pode chamar ao processo os demais. No entanto, caso o pedido do credor seja julgado procedente, todos serão condenados, porém o credor poderá escolher de qual ele deseja penhorar os bens, assim, ele escolhe sobre quem deverá recair a execução. Todavia, aquele que pagar de forma integral a dívida, poderá cobrar dos demais devedores, posteriormente, a parte de cada um. Direito Processual Civil 46 IMPORTANTE: Comono chamamento ao processo há a formação de litisconsórcio, o juiz poderá limitar a quantidade de pessoas chamadas ao processo, quando este comprometer a rápida solução da demanda ou possa dificultar a defesa ou o cumprimento de sentença. Essas são as hipóteses de cabimento do chamamento ao processo. Agora, vamos estudar como se dá seu procedimento. Procedimento O procedimento do chamamento ao processo é determinado pelo art. 131 do Código de Processo Civil, em que o chamamento ao processo deve ser requerido pelo réu na sua contestação, devendo a citação ser promovida no prazo de trinta dias. Caso não seja efetuada a citação nesse prazo, ficará sem efeito o chamamento. NOTA: Após o terceiro ser chamado ao processo, formará o litisconsorte no polo passivo. Caso tenham advogados diferentes, seus prazos serão dobrados. Para completar, o art. 132 do Código de Processo Civil traz que a sentença de procedência da demanda valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, com a finalidade de que ele possa exigir por inteiro, do devedor principal, ou de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes couber. Como seria isso? Podemos trazer um exemplo para que você possa visualizar melhor. EXEMPLO: Maria demanda João, fiador em um contrato de empréstimo, que chama ao processo Carlos, que é o devedor principal. João realiza o pagamento a Maria, devido à sentença do juiz, no entanto, essa mesma sentença servirá como título executivo judicial para cobrar esse valor a Carlos. Direito Processual Civil 47 É assim que acontece o chamamento ao processo. Amicus Curiae Amicus Curiae é uma expressão em latim que pode ser desconhecida para você. Você já ouviu falar em amicus curiae? De acordo com Gonçalves (2018), o amicus curiae corresponde a um terceiro que ingressa na demanda com a intenção de fornecer subsídios à justiça para o julgamento da causa. Ele não tem interesse jurídico próprio que possa ser atingido pelo desfecho da demanda que está em andamento, mas tem um interesse institucional, que convém que ele manifeste no processo, para que possa ser considerado na hora do julgamento. Nesse sentido, o amicus curiae funciona como um auxiliar do juízo porque, nas causas de maior relevância ou de maior impacto, ou que possam ter repercussão social, permitirá que o Judiciário tenha melhores condições de decidir, levando em consideração a manifestação dele, que figura como porta-voz de interesses institucionais, e não apenas de interesses individuais das partes. (GONÇALVES, 2018, p. 258) Visto o que vem a ser amicus curiae, e vendo que ele poderá ingressar no processo como terceiro, devemos perguntar: quem poderá ser esse terceiro? Gonçalves (2018) também responde essa pergunta ao dizer que o amicus curiae poderá ser qualquer pessoa, órgão ou entidade, que não tenha interesse próprio na causa, no entanto, tem interesses institucionais que poderão ser afetados. Assim, o seu papel é de ser o porta-voz de um interesse institucional. Direito Processual Civil 48 Requisitos para a Intervenção do Amicus Curiae Neves (2015) aponta que são três os requisitos para a intervenção do amicus curiae no processo, sendo elas: 1. Relevância da matéria – entende-se por relevância da matéria aquela que tenha relevância do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico. O que devemos entender é que a questão que é discutida na demanda deve transcender o mero interesse individual das partes, para que, assim, possa ser justificada a manifestação de um terceiro, que é o portador de um interesse institucional. 2. As especificidades do tema objeto da demanda – em uma demanda é possível que sejam exigidos conhecimentos particulares, que sejam específicos e que, assim, justificam a intervenção do amicus curiae. Como já sabemos, ele intervirá como portador de um interesse institucional, quando a questão discutida, ainda que específica, transcenda o interesse das partes. 3. Repercussão social da controvérsia – essa última hipótese tem vínculo com as anteriores, principalmente com a primeira, tendo em vista que não pode ser considerada irrelevante uma controvérsia que tenha repercussão social. Assim como as demais, é preciso que essa repercussão seja de interesse institucional. NOTA: Gonçalves (2018) traz que os requisitos para o terceiro que venha a intervir como amicus curiae são: que seja um terceiro, dessa forma não é admitido a quem faça parte da lide; pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada; representatividade adequada. Encerramos assim os requisitos para a intervenção do amicus curiae. Agora, vamos estudar como se dá o seu procedimento. Direito Processual Civil 49 Procedimento Começamos ressaltando que essa é a única forma de intervenção de terceiros que pode ser determinada pelo juiz ou pelo tribunal de ofício. Dessa maneira, o amicus curiae pode ser determinado de ofício, requerido por alguma das partes ou a requerimento do próprio terceiro (GONÇALVES, 2018). Assim, em que consiste a participação do amicus curiae? Essa participação consiste, basicamente, em emitir uma opinião sobre a matéria que é objeto do processo em que ele foi admitido. A sua opinião será referente à questão jurídica, à repercussão que ela terá e à sua relação com o interesse institucional do qual ele é portador. De acordo com o § 1° do art. 138, a intervenção desse terceiro não implicará em qualquer modificação de competência, mesmo se o interventor for um órgão ou uma entidade federal. Além disso, de acordo com o § 2° do respectivo artigo, é de competência do juiz ou do relator, na decisão que solicitar ou de admitir a intervenção, definir os poderes que esse terceiro terá. No que se refere à sua legitimidade recursal com relação à demanda, o § 3° do art. 138 traz que ele só poderá recorrer em duas possibilidades. A primeira diz respeito à legitimidade para opor embargos de declaração, ou seja, para solicitar integração, correção ou aclaramento da decisão. A segunda hipótese diz respeito à legitimidade para opor-se contra a decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. Direito Processual Civil 50 Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Para que ocorra o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, já devemos presumir que esteja em curso uma ação que foi ajuizada pelo credor em face da pessoa jurídica que, nesse caso, é o devedor. É nessa hipótese que poderá haver a intervenção de terceiros, mas por que é nessa hipótese? Isso ocorre porque no processo que está em curso um dos sócios não participava. Assim, se a desconsideração for deferida, ele começará a participar. IMPORTANTE: Esse é um tipo de intervenção de terceiro provocada e não voluntária, pois este ingressará na demanda devido ao pedido do Ministério Público ou do credor. O art. 134 do Código de Processo Civil dispõe que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode acontecer em qualquer fase do processo de conhecimento, assim como no cumprimento de sentença e na execução que seja fundada em título executivo extrajudicial. O § 2° do art. 134 do Código de Processo Civil também estabelece a possibilidade de ser suscitado esse incidente na petição inicial. Nesse caso, não haverá a intervenção de terceiro, tendo em vista que o sócio já estará incluído como réu na petição inicial e, assim, irá figurar como parte e não como um terceiro interveniente. Direito Processual Civil 51 Procedimento Começamos a falar do procedimento trazendo uma informação muito importante: o juiz não pode decretar a desconsideração de ofício. De acordo com o art. 133 do Código de Processo Civil, os legitimados para propor a desconsideração são o Ministério Público ou a parte. Gonçalves (2018) ressalta que por não haver restrição por parte do art. 133, o Ministério Público poderárequerer a desconsideração tanto nos processos em que figurar com parte quanto nos casos em que ele intervenha como fiscal da lei, no entanto, é indispensável que se trate de processo em que haja a sua intervenção. Em sua suscitação de desconsideração da personalidade jurídica, a parte ou o Ministério Público devem indicar os fundamentos, de direito e de fato em que está sendo fundado esse pedido. Os fundamentos alegados por eles devem ser os estabelecidos pelo art. 50 do Código Civil e o art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, sendo eles: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (BRASIL, 2002) Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. (BRASIL, 1990) Se o requerimento não indicar qualquer um desses fundamentos, o juiz deverá mandar o vício ser sanado, sob pena de indeferir a desconsideração. Caso o juiz receba o requerimento, ele deverá mandar suspender o processo até que ele decida sobre o incidente. Direito Processual Civil 52 Após instaurado o incidente, o juiz deverá determinar a citação do sócio ou da pessoa jurídica, para que possa se manifestar no prazo de 15 dias, de acordo com o art. 135 do Código de Processo Civil. De acordo com Gonçalves (2018), o juiz poderá determinar as provas necessárias para que o suscitante e o suscitado comprovem as suas alegações. Após concluída a instrução, o juiz decidirá o incidente, que será resolvido por decisão interlocutória; contra essa decisão caberá agravo de instrumento. Todavia, se quem decidir for o relator, caberá agravo interno. É importante destacarmos que caso o juiz acolha o pedido de desconsideração de personalidade jurídica, o sócio não será considerado codevedor, não se tornará também litisconsorte passivo da pessoa jurídica. No entanto, quando chegar à fase executiva, caso seja constatado que a empresa não tem recursos para cumprir a obrigação, será dado ao credor o direito de solicitar a penhora de bens do sócio, a quem foi anteriormente estendida a responsabilidade patrimonial (GONÇALVES, 2018). E assim concluímos nosso estudo sobre a intervenção de terceiro. Direito Processual Civil 53 RESUMINDO: Neste Capítulo terminamos o estudo sobre as hipóteses de intervenção de terceiro, tratando do chamamento ao processo, do amicus curiae e da desconsideração da pessoa jurídica. Começamos estudando que o chamamento ao processo é uma forma de intervenção de terceiros por meio do qual o réu, que é fiador ou devedor solidário, que está fazendo parte originalmente da demanda, trará para compor o polo passivo, em litisconsórcio com ele, o afiançado ou os demais devedores solidários. Estudando quais são as hipóteses de cabimento do chamamento ao processo, quais sejam: o afiançado, na ação em que o fiador for réu; os demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; e os demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. Vendo, for fim, como se dá seu procedimento, sabendo que a sentença de procedência da demanda valerá como título executivo. Em seguida, estudamos sobre o amicus curiae, que corresponde a um terceiro que ingressa na demanda com a intenção de fornecer subsídios à justiça para o julgamento da causa. Ele não tem interesse jurídico próprio que possa ser atingido pelo desfecho da demanda que está em andamento, ele tem um interesse institucional, que convém que ele manifeste no processo, para que possa ser considerado na hora do julgamento. Vimos que existem três requisitos para que ocorra essa intervenção: relevância da matéria, especificidades do tema objeto da demanda e repercussão social da controvérsia. Por fim, estudamos sobre o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, onde é presumido que esteja em curso uma ação que foi ajuizada pelo credor em face da pessoa jurídica que, nesse caso, é o devedor, em que os legitimados para suscitar são a parte ou o Ministério Público. Direito Processual Civil 54 REFERÊNCIAS AQUAVIVA, M. C. Dicionário acadêmico de direito. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1999. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Lei n° 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2001. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10259.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2015. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l8078.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp: 821458 RJ821458 RJ 2006/0037342-6. Agravo Regimental. Recurso Especial. Direito Processual Civil 55 Civil e Processual Civil. Alienação Fiduciária em Garantia. Ação de Busca e Apreensão Convertida em Ação de Depósito. Denunciação da Lide. Fundamento Novo. Lide Paralela. Inadmissibilidade. Agravante: Josias Pereira da Silva. Agravado: Banco Itaú S/S. Relator: Ministro Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado DO TJ/RS). Brasília, DF, 16 de novembro de 2010. Jurisprudência, Brasília, DF, 24 nov. 2010. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/17579032/ agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-821458- rj-2006-0037342-6/inteiro-teor-17579033. Acesso em: 22 out. 2021. GONÇALVES, M. V. R. Direito processual civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2018. GONÇALVES, M. V. R. Novo curso de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. NEVES, D. A. A. Manual de direito processual civil. Salvador: Juspodivm, 2016. THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Direito Processual Civil Litisconsórcio Conceito Hipóteses de Cabimento Classificação do Litisconsórcio Litisconsórcio Ativo, Passivo e Misto Litisconsórcio Inicial ou Ulterior Litisconsórcio Necessário e Facultativo Litisconsórcio Unitário e Simples Litisconsórcio Necessário Simples ou Unitário Prazo para os Litisconsortes Intervenção de Terceiros Conceito Intervenção de Terceiros Voluntária e ProvocadaAssistência Assistência Simples Poderes do Assistente Simples no Processo Assistência Litisconsorcial Poderes do Assistente Litisconsorcial Procedimento da Assistência A Justiça da Decisão Denunciação da Lide Conceito Hipóteses de Cabimento Risco de Evicção Direito de Regresso Decorrente de Lei ou Contrato Facultatividade Qualidade Processual do Denunciado Procedimento da Denunciação da Lide Quando Requerida pelo Réu Quando Requerida pelo Autor Chamamento, Amicus Curiae e Desconsideração da Pessoa Jurídica Chamamento ao Processo Hipóteses de Cabimento Procedimento Amicus Curiae Requisitos para a Intervenção do Amicus Curiae Procedimento Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Procedimento