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INTRODUÇÃO AOS 
DEBATES DE GÊNERO 
E SEXUALIDADE 
SST
RASCKE, Karla Leandro
Introdução aos debates de gênero e sexualidade / Karla 
Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p. 14
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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INTRODUÇÃO AOS DEBATES 
DE GÊNERO E SEXUALIDADE 
Apresentação
Neste momento, trataremos de oportunizar conhecimento através da disciplina 
Introdução aos debates de gênero e sexualidade. Estudaremos conceitos 
relacionados a gênero e relações de gênero no âmbito da sociedade e as lutas 
por equidade. Iremos também problematizar a respeito das normas sociais 
e padrões vigorantes, e, iremos estudar ainda os conceitos de sexualidade e 
diversidade sexual. 
Será proporcionado também um debate e conhecimento a respeito do movimento 
feminista e movimento LGBTQIA+ a importância desses movimentos sociais 
para a sociedade e suas bandeiras de luta como por modelo as relacionadas a 
gênero, identidade de gênero, sexualidade, diversidade sexual. E, por fim teremos a 
oportunidade de conhecer e estudar os conceitos de sexualidade, orientação sexual, 
homoafetividade, heteronormatividade e homofobia. 
Bons estudos. 
GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DOS 
SUJEITOS E DA SOCIEDADE
Numa perspectiva social dentro dos parâmetros da sociologia e da psicologia, a 
noção de gênero tem sido empregada para diferenciar socialmente as pessoas. 
Essa categoria não é apenas analítica, mas também histórica, no sentido de um 
contexto predominantemente masculino, em que a mulher sempre ocupou lugar 
de retaguarda, sendo visibilizada como um gênero fragilizado, e o homem gênero 
de força e poder. Como enfatiza Carla Bassanezi Pinsky na apresentação da obra 
de Peter Stearns (2007, p. 11) “[...] gênero é uma forma de enfatizar o caráter 
social e, portanto, histórico, das concepções baseadas nas percepções das 
diferenças sexuais.
4
Compete entender gênero para além do termo feminino e masculino, 
mas dimensionando a identidade do que é ser masculino ou feminino. 
Na contemporaneidade, a identificação envolve dificuldades e 
entraves sociais, políticos e mesmo morais, implicando que pessoas 
que não se veem no sexo em que nasceram, sofram com os ditames 
da sociedade em relação à identidade.
Atenção
Desde antes do nascimento de uma criança, com o resultado do ultrassom em 
mãos, a família começa a moldar seu lugar no mundo, e a partir de suas genitálias 
é que tudo se definirá. Se for menina, sua cor será rosa - decoração, roupas e 
acessórios terão a predominância dessa tonalidade. Caso seja menino, o padrão 
será a cor azul. Com o crescimento das crianças, essa dicotomia continua a 
ser sentida no modo de se vestir. No entanto, é por meio dos brinquedos e das 
brincadeiras adquiridos/permitidos para um e para outro - no caso, para outra – 
que isso será percebido de maneira mais enfática.
Sexo é um dado biológico, isto é, tudo aquilo relacionado ao nosso 
corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo); Gênero é 
um fato, uma construção sociocultural.
Atenção
Essa dicotomia criada pela sociedade do ser masculino e feminino, determinando 
objetos, cores, modo de ser de meninos e meninas, comportamentos diferenciados 
para cada tipo de gênero, são coisas advindas e criadas pelo homem, impostas pela 
sociedade e todos as seguem como uma regra, reforçada de geração em geração. 
Beauvoir tem uma celebre frase que “ninguém nasce mulher: torna-se” (1980, p. 9). 
Isso se estende também para os homens. Nesse sentido, a dicotomia entre o ser 
feminino e/ou masculino não é definida apenas pelo determinismo biológico. 
Queremos com isso afirmar que, tanto o homem quanto a mulher são produtos de 
uma dada realidade sociocultural. Foi tentando problematizar essas relações de 
poder estabelecidas entre homens e mulheres que nasceu o conceito de gênero. 
5
O termo surgiu no mundo acadêmico, aproximadamente em meados da década de 
1970, em um diálogo constante entre o movimento feminista e pesquisadoras das 
mais diversas áreas: história, sociologia, antropologia, ciência política, entre outras. 
Foi por meio dos estudos sobre mulheres que o processo de desnaturalização do 
papel de submissão/inferioridade, da qual a mulher estava destinada socialmente, 
passou a ser desconstruído. 
Como afirmou Louro (2007, p. 55): Para que se compreenda o lugar e as relações de 
homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, 
mas sim tudo que socialmente se construiu sobre eles. 
No entanto, cabe ressaltar que os papeis de gênero se estabelece no cotidiano, 
em um jogo constante de poder e resistência. Essas relações estão em todos os 
campos: educação, saúde, trabalho, política, religião e nos momentos de lazer. 
A respeito de abordagens sobre diversidade sexual e de gênero, 
sugerimos consultar o site “Grupo de Pesquisa Sexualidade e 
Escola”, em que você irá encontrar teses, dissertações, livros em 
pdf, indicações diversas de material relacionado ao tema: <http://
sexualidadeescola.furg.br/index.php>. Acesso em: 23 de set. de 2020.
Saiba mais
IDENTIDADE DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO 
SEXUAL E DIVERSIDADE SEXUAL
A identidade de gênero está associada, de maneira direta, à subjetividade, à 
percepção que determinada pessoa tem sobre si, sobre ser masculino ou feminino, 
ou ainda sobre ser ora um, ora outro. A maneira como a pessoa se vê, se sente e se 
apresenta para a sociedade na condição de homem ou mulher (ou de ambos como 
é o caso de algumas travestis), no entanto, não está vinculada ao sexo biológico 
nem à orientação sexual. 
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Nesse sentido, a partir do conceito de identidade de gênero é possível percebermos 
que possuir determinada genitália (pênis ou vagina) não obriga ninguém a se sentir 
pertencente a este ou aquele grupo (masculino ou feminino). Assim, quando uma 
pessoa nasce com um pênis, órgão referente ao sexo biológico do homem, mas 
entende que sua ação e sua visão enquanto sujeito humano é de uma mulher, ela 
tem a identidade de gênero feminina e, neste caso, seu corpo biológico não condiz 
com sua identidade de gênero. 
Sobre identidade de gênero
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Identidade de gênero é um termo ainda recente e sua origem remete ao campo 
médico-psiquiátrico, no intuito de diagnosticar os efeitos da divergência entre 
o sexo biológico e a identificação subjetiva com o sexo oposto ao que a pessoa 
detém, o chamado “transtorno de identidade de gênero”. Atualmente, além da área 
médica, outras áreas do conhecimento têm discutido e se apropriado dessa noção 
para discutir as divisões e os papéis incutidos em homens e mulheres na sociedade 
a partir de um dado que é o seu sexo biológico.
Se gênero é um fenômeno social e não biológico, a identidade de gênero também 
não se prende a esse determinismo, ou seja, uma pessoa se identifica independente 
do seu sexo biológico. Assim: 
Temos os humanos ‘cis’ (do latim, do mesmo lado), as pessoas cuja 
identidade de gênero está ao lado do que socialmente se estabeleceu 
como o padrão para o seu sexo biológico; e os humanos ‘trans’ (do latim, 
7
para além de), pessoas cuja identidade de gênero é diferente do que foi 
estabelecido socialmente como padrão para seu sexo biológico (WOLFF; 
SALDANHA, 2015, p. 32). 
Aqui entram em cena outros dois personagens: transexuais e travestis. Pessoas 
transexuais são aquelas que não se identificam com a genitália que possuem, 
sentem-se o oposto, assumindo uma identidade de gênero diferente da que 
lhe foi determinada geneticamente. É importante frisar que um grande número 
delas, não todas, deseja – e algumas efetuam – a mudança de sexo, um jeito de 
resolver esse conflito de não pertencer ao corpo no qual nasceu. O homem trans 
é quem nasceu com genitália feminina, mas assumiu uma identidade de gênero 
masculina. Já a mulher trans é a identidade de gênero feminina em um corpo com 
genitália masculina.
Conheça a “Série Educação e Diversidade Sexual”, vídeo educativo 
sobre diversidadesexual e educação: <https://www.youtube.com/
watch?v=gB-GMQzo7kg>. Acesso em: 23 de set de 2020.
Saiba mais
Desse modo, a partir do conceito de gênero podemos compreender que a 
organização binária da sociedade, dividida entre mulher e homem, gerou – e ainda 
gera – preconceito, discriminação, opressão e violência, ainda mais quando há um 
jeito “certo” de ser homem e de ser mulher.
Orientação sexual
A Orientação sexual se refere à direção e às pessoas para as quais emanamos 
nossos desejos, nossos afetos. É a maneira que uma pessoa sente atração por 
outra. Uma pessoa pode se sentir atraída por um homem, por uma mulher ou por 
ambos. Há também quem não sente atração sexual por nenhuma outra, ou que 
sente atração por pessoas, independentemente de seu sexo biológico ou sua 
identidade de gênero. Vamos às especificidades: 
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Esquema sobre orientação Sexual
PANSEXUAL 
ASSEXUAL 
BISSEXUAL 
HETEROSSEXUAL
HOMOSSEXUAL 
Pessoa que sente atração por outras pessoas, 
indiferente de seu sexo biológico e sua identidade 
de gênero - mulher, pessoa trans, homem.
Pessoa que não tem atração sexual por nenhuma 
outra pessoa, nem homem, nem mulher, nem ninguém.
Pessoa que sente atração por pessoas de 
ambos os sexos. (homem/mulher-homem, mulher/
mulher-homem).
Pessoa que sente atração por pessoas do 
sexo oposto (homem/mulher, mulher/homem). 
considerado como cis-gênero.
Pessoa que sente atração por pessoas do mesmo 
sexo (homem/homem, mulher/mulher).
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Mas, e quando se é transgênero? Eles são homossexuais ou heterossexuais? Uma 
travesti que se relaciona com um homem é hétero, da mesma forma, quando um 
homem trans (sexo biológico feminino e identidade de gênero masculina) namorar 
uma mulher, isso também é um relacionamento heterossexual. No entanto, se 
esse mesmo homem trans namorasse um homem seria um relacionamento 
homossexual. Nesses casos seria preciso não se atentar para o sexo biológico, 
mas, para a identidade de gênero. 
Ainda, como abordagem importante, para finalizar este tópico, duas questões 
demandam evidência: muitas pessoas utilizam a expressão opção sexual, e isso 
9
é um equívoco, pois remete a uma escolha, como se fosse possível escolher 
mecanicamente, de forma metódica e linear quem seria seu objeto de desejo. 
Outro aspecto demanda pensar a norma, ou seja, as pessoas indicam o que elas 
acham certo e errado e, em nossa sociedade, ainda nos dias de hoje, por mais que 
tenhamos debates em torno de identidade de gênero, orientação e diversidade 
sexual, muitas pessoas consideram “normal” apenas a heteronormatividade. 
Heteronormatividade: conjunto de ações e práticas que normatizam 
a sexualidade, que cria um padrão de orientação sexual como 
norma, como se fosse algo dado, natural, ignorando as outras 
formas de desejo, atração e afeto. Como consequência, quem não 
se encaixa nesse padrão são erradas, divergentes, aberrações. 
Em suma, heteronormatividade é tudo aquilo que desconsidera, 
inferioriza e exclui todas as outras orientações sexuais que não a 
heterossexual.
Homofobia: no sentido literal da palavra, significa medo, repulsa 
da homossexualidade e dos homossexuais, no entanto, há muita 
discussão em torno desse conceito. Podemos entender a homofobia 
como ódio às pessoas que não se encaixam no comportamento 
heteronormativo. Na prática, é o preconceito, a inferiorização e a 
violência contra os homossexuais. 
Curiosidade
Diversidade sexual
Um movimento reacionário tende a conservar uma sociedade embasada no 
patriarcado, moralista, cuja manifestação mais expressiva e evidente é o machismo. 
Um machismo que na maioria das vezes é verbal, mas que alimenta diariamente 
todo tipo de violência contra as mulheres ou contra grupos LGBTQIA+ (Lésbicas, 
Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais, Qeens e assexuais e mais outras 
identidades). O fundamento desses discursos, que acabam propagando o ódio a 
estes grupos sociais, reduz a questão sexual à moralidade social. 
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Diferença entre sexo, orientação sexual e identidade de gênero.
MULHER
HÉTERO
FÊMEA
}
IDENTIDADE DE GÊNERO
É a maneira como você se enxerga; o gênero que se 
identifica como fazendo parte.
ORIENTAÇÃO SEXUAL
Indica pelo que você sente atração. Mostra pra que lado 
sua sexualidade está orientada.
SEXO BIOLÓGICO
É sua genitália e cromossomos quando veio ao mundo.
HOMEM
HOMO
MACHO
BI
INTERSEXUAL
Pessoa que se indentificam com mais 
de um dos gêneros como travestis ou 
com nenhum deles.
}
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Embora sejamos, por nascimento, homem ou mulher e em casos raros intersexual, não 
podemos entender a diversidade sexual somente por isso, pelo nosso sexo biológico. 
Diversidade sexual vai além das nomenclaturas, é um conjunto de vivências, são 
nossas práticas, nossos desejos, nossos comportamentos, nossas expressões, a 
forma como agimos, como vemos e como mostramos a nossa sexualidade. 
TRAJETÓRIAS DE MOVIMENTOS 
FEMINISTAS E LGBTQIA+
O movimento feminista pode ser definido como um movimento social que defende 
a equidade entre homens e mulheres, conquistado por meio do empoderamento 
feminino, ou seja, a libertação da mulher da submissão aos padrões patriarcais. 
Inicialmente as lutas estavam pautadas em direitos políticos, ou melhor, no direito 
de votar e ser votada. 
Menos de 100 anos atrás, as mulheres não tinham o direito de votar e muito menos 
de serem votadas, não tinham o direito de estudar ou de trabalhar fora do lar. Eram 
tuteladas por homens, primeiro por seus pais, depois pelos maridos. Nem ao menos 
eram donas de seus corpos. 
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No Brasil, o movimento feminista da primeira onda buscou inspiração nos 
Estados Unidos e países europeus. Assim, o direito ao voto foi a principal pauta 
de reinvindicação nas primeiras décadas do século XX. O sufrágio feminino foi o 
motivo que fez com que as mulheres brasileiras se reunissem em torno de uma 
pauta. No entanto, não podemos pensar em um grupo amplo de mulheres. Em sua 
maioria, eram universitárias que tiveram contato com o movimento sufragista em 
outros países.
Em 1932, por meio de um decreto provisório, as mulheres garantiram o direito de 
votar, que só aconteceu efetivamente no ano seguinte. E assim, no ano de 1933, as 
mulheres brasileiras foram até às urnas para concretizarem o direito conquistado. 
No entanto, somente um ano depois o direito de voto para as mulheres foi garantido 
pela Carta Magna de 1934.
As reivindicações principais da segunda onda feminista (décadas de 1960-1970) 
foram pautadas em duas frases de ordem: o privado é político e nosso corpo 
nos pertence. As questões referentes ao espaço privado – como, por exemplo, 
a violência doméstica, o controle sobre o corpo, o direito ao prazer, os direitos 
reprodutivos – passaram a ser apontadas como questões sociais, ou seja, como 
objeto de políticas públicas. 
Nesse contexto, surge a pílula anticoncepcional, em meados dos anos de 1960 e 
as mulheres passam a ter um controle maior sobre seu corpo, entram em número 
significativo no mercado de trabalho, mas continuam na luta pela desconstrução 
da sociedade sexista pautada no determinismo biológico. Em 1975, foi decretado 
o Ano Internacional da Mulher, pela Organização das Nações Unidas (ONU), que
instituiu a década seguinte como a década da mulher.
As feministas da terceira onda focaram no que chamaram de micropolítica. O direito 
de igualdade na diferença foi a pauta dessa onda. Inicialmente, o próprio movimento 
passou por indagações que resultaram em novas ideias e estratégias. 
Movimento LGBTQIA+
No Brasil, a movimentação em torno das questões da comunidade homossexual 
começou na década de 1980, quando foi realizado o 1º Encontro Brasileiro de 
Homossexuais, na cidade de São Paulo. Foi também nesse período que surgiram os 
primeiros grupos organizados. 
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É importante ressaltar que anterior a esse momento, alguns eventos já marcavam 
as discussões sobre a temática. Um exemplo foi o Jornal Lampião, fundadoem 
1978, que tinha por objetivo discutir as temáticas referentes à homossexualidade. 
Com forte influência desse periódico, surgiu o primeiro grupo homossexual do 
Brasil, o Somos de São Paulo. 
No final da década de 1980, muitos desses grupos sofreram desarticulações em 
virtude do advento da AIDS e da associação dessa como uma “epidemia gay”. 
Isso implicou que muitas pessoas ficaram receosas de assumir sua orientação 
sexual e serem associadas ao HIV. Nesse período começaram a surgir grupos 
de apoio à AIDS, articulando uma discussão mais ampla sobre a doença e 
a homossexualidade, no intuito de informar, proteger e romper preconceitos 
existentes sobre esses grupos. 
Bandeiras em apoio às causas LGBTQIA+
Fonte: Plataforma Deduca (2020).
Nesse período, os grupos ativistas começaram a agir de maneira mais pragmática. 
Em 1994, articularam uma organização nacional, a Associação Brasileira de 
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). A organização, 
que iniciou com pouco mais de 10 grupos, atualmente é uma rede nacional com 
aproximadamente 300 organizações da comunidade LGBTQI+A. 
Além da organização desses grupos e encontros, não podemos deixar de mencionar 
um fator que merece destaque sempre que se fala em público homossexual: as 
paradas da diversidade. A primeira aconteceu no Rio de Janeiro, em 1995, e dois 
anos depois, aconteceu a segunda edição, em São Paulo. 
Importante direito alcançado é a legalidade da união estável entre pessoas do 
mesmo sexo. O reconhecimento aconteceu em maio de 2011, pelo Supremo Tribunal 
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Federal. Esse fator é importante não apenas pelo reconhecimento social da união, 
mas também porque o casamento civil entre homossexuais garante os mesmos 
direitos que o casamento entre heterossexuais: inclusão em plano de saúde e seguro 
de vida, pensão alimentícia, direito sucessório e divisão dos bens adquiridos. 
Para finalizar, uma das pautas mais recorrentes da luta LGBTQIA+ é a 
criminalização da homofobia. Em um primeiro momento, a criminalização da 
homofobia não consiste em criar um estatuto intitulado homofobia, mas o de incluir 
o crime de homofobia em tipos penais já existentes. Atualmente existem alguns
projetos de Lei da Câmara que visam essa iniciativa.
Fechamento 
Estudamos conceitos relacionados a gênero e relações de gênero no âmbito da 
sociedade e as lutas por equidade, problematizando normas e padrões vigentes, 
estudamos também os conceitos de sexualidade e diversidade sexual. Foi debatido 
também informações acerca do movimento feminista e movimento LGBTQIA+ 
a respeito da relevância desses movimentos sociais para a sociedade e suas 
bandeiras de luta como por exemplo as relacionadas a gênero, identidade de 
gênero, sexualidade, diversidade sexual.
E, por fim tivemos a oportunidade de descobrir e conhecer os conceitos de 
sexualidade, orientação sexual, homoafetividade, heteronormatividade e homofobia. 
Contudo aprendemos também que há muitas questões envolvendo sexualidade, 
gênero e diversidade geram polêmicas e/ou envolvem tabus da sociedade, 
necessitando atenção e cuidados no desenvolvimento de abordagens e análises, de 
modo a compreender a multiplicidade de sujeitos sociais e suas lutas por dignidade 
e direito à vida. 
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Referências
BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo, Tradução Sérgio Milliet, v. I, II. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 1980.
LOURO. G. L. O corpo educado: pedagogia da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 
STEARNS, Peter. História das relações de gênero. Tradução de Mirna Pinsky. São 
Paulo: Contexto, 2007.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. 
Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99. jul./dez. 1995. 
WOLFF, C.S; SALDANHA, R.A. Gênero, sexo, sexualidades. Categorias do debate 
contemporâneo. In: Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 9, n. 16, p. 29-46, jan./jun. 2015. 
ANTROPOLOGIA 
GÊNERO E SEXUALIDADE
 
SST
BONETTI, Luisa; RANGEL, Natalia
Antropologia gênero e sexualidade / Luisa Bonetti; 
Natalia Rangel
Ano: 2020
nº de p. 11.
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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ANTROPOLOGIA GÊNERO 
 E SEXUALIDADE
Apresentação
Neste momento, trataremos de apresentar informações e conhecimento a 
respeito da Antropologia Gênero e Sexualidade. Estudaremos sobre a vertente na 
Antropologia na educação e outras formas de estudos em Antropologia como: 
Antropologia rural, urbana, Antropologia de Gênero e Sexualidade. Também 
estudaremos a respeito do conceito e concepção sobre a Etnologia. 
E, por fim, iremos conhecer a importância de estudar sobre a Antropologia da 
religião e suas religiosidades, ressaltaremos o quanto é fundamental na formação 
de qualquer profissional estudar e ter conhecimento a respeito desses temas 
estudados para que possa se auxiliar nos processos de respeito e inclusão social. 
Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de 
conhecimento e aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos. 
Bons estudos. 
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A discussão sobre educação no campo da Antropologia sociocultural possibilitou 
o olhar sobre diferentes formas de conceber a formação do ser humano. Além de 
ativar um olhar mais crítico à percepção dos teóricos e planejadores da Educação 
sobre a diversidade cultural do país, a disciplina possibilitou contato com 
metodologias e práticas diferentes em relação à educação.
Quando falamos em educação, é normal que pensemos no espaço do ensino 
regular, ou seja, da escola. No entanto, a educação faz parte da formação do 
indivíduo desde o momento em que nasce, estando o seu conteúdo constituído de 
normas e valores culturais.
Mãe ensinando filha
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
4
A Antropologia trouxe para a Educação nas escolas a necessidade de levar em 
consideração as especificidades de cada grupo identitário brasileiro, seja étnico, 
religioso, de gênero ou sexualidade.
As perspectivas históricas que geralmente vemos nos livros escolares são 
eurocêntricas, ou seja, têm uma explicação da história do mundo baseada a partir 
da Europa, deixando uma vastidão cultural de lado.
A escola não é, portanto, um espaço isolado da sociedade, devendo tratar dos 
temas presentes no cotidiano dos indivíduos para que eles possam desenvolver 
uma visão crítica sobre os problemas sociais e aprenderem a viver com as 
diferenças socioculturais.
É importante, assim, que se faça a aliança entre o estudo da educação e da 
sociedade, e da cultura e do meio ambiente que está em seu entorno como veremos 
melhor no ponto a seguir.
Antropologia rural e urbana
O meio ambiente que nos envolve é parte essencial de nossa cultura, isto é, de 
como nos comunicamos, como dividimos nosso tempo, da nossa alimentação, da 
forma como nos vestimos, do que celebramos, da forma como garantimos nossa 
sobrevivência, de nossas crenças, entre tantos outros fatores. 
Antropologia rural
A Antropologia rural diz respeito ao estudo das formas de viver das pessoas que 
vivem no meio rural, ou seja, que vivem do campesinato. Com a urbanização das 
sociedades modernas, muitas vezes a vida no campo é vista como dissociada 
da vida urbana, mas esses dois meios ambientes são interdependentes, ou seja, 
necessitam um do outro para que as pessoas garantam sua sobrevivência.
O campesinato faz parte de nossa cultura
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
5
O estudo dos hábitos e dos costumes é um dos pontos centrais dessa área de 
estudo. Por exemplo: muitos gaúchos tomam chimarrão. No entanto, qual o 
significado desse costume? Podemos pensar no hábito de tomar chimarrão de 
diferentes formas. Dependendo do contexto, o ato de tomar chimarrão pode mudar 
de significado, sendo interpretado como: 
• um momento de coletividade, uma vez que, muitas vezes, senta-se em roda 
durante esta prática, tratando-se de um momento de dividir, conversar e 
compartilhar percepções em grupo;
• um momento de afirmação da identidade, visto que há o compartilhamentode códigos próprios daquele grupo.Entre muitas outras possibilidades, criar 
rituais, hábitos e construções familiares mais estreitas é uma das caracterís-
ticas da população rural. 
Antropologia urbana
Com a crescente industrialização, as sociedades foram urbanizando-se cada vez 
mais. Um dos temas centrais da Antropologia urbana é a segregação espacial 
nas cidades. O que isso significa? Enquanto pessoas em melhor condição 
socioeconômica costumam viver em regiões mais centrais das cidades e 
têm acesso ao abastecimento de energia elétrica, rede de esgoto, além de 
localização mais próxima ao local de trabalho, as pessoas em piores condições 
socioeconômicas, com frequência, não possuem acesso ao saneamento básico, 
além de, em geral, trabalharem em locais distantes de suas moradias.
Favela diante de prédios modernos em uma cidade
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
A Antropologia urbana possibilitou um olhar na história da inauguração da 
Antropologia sociocultural reservado apenas aos povos indígenas:
Até o presente, a antropologia, a ciência do homem, tem-se preocupado 
principalmente com o estudo dos povos primitivos. Mas o homem 
6
civilizado é um objeto de investigação igualmente interessante, e ao 
mesmo tempo sua vida é mais aberta à observação e ao estudo. A vida e a 
cultura urbanas são mais variadas, sutis e complicadas, mas os motivos 
fundamentais são os mesmos nos dois casos. Os mesmos pacientes 
métodos de observação despendidos por antropólogos tais como 
Boas e Lowie no estudo da vida e maneiras do índio norte-americano 
deveriam ser empregados ainda com maior sucesso na investigação 
dos costumes, crenças, práticas sociais e concepções gerais de vida 
que prevalecem em Little Italy, ou no baixo North Side de Chicago, ou no 
registro dos folkways mais sofisticados dos habitantes de Greenwich 
Village e da vizinhança de Washington Square em Nova York. (VELHO, 
1987, p. 28, grifo do autor).
A urbanização possibilitou a concentração de muitas pessoas em menores espaços 
e, por isso, o contato entre pessoas muito diferentes entre si. Isso tornou possível, 
ao mesmo tempo, um maior contato entre grupos diferentes e a divisão desses 
grupos em tribos como os punks, os hipsters, os hippies, os góticos, os playboys 
etc. O estudo e o mapeamento dessas tribos também fazem parte do trabalho do 
antropólogo que estuda urbanidades.
A vida nas sociedades urbanas contemporâneas ao mesmo tempo que une muitas 
pessoas em um pequeno espaço físico traz a sensação de solidão com a crescente 
individualização típica da organização de trabalho da sociedade neoliberal 
(BAUMAN, 2007). 
A Antropologia urbana brasileira possui uma tradição de autores 
renomados como Gilberto Velho, Arantes, José Guilherme Cantor 
Magnani e Proença Leite.
Saiba mais
Etnologia
A etnologia é uma das principais áreas de estudo da Antropologia, inaugurando-a 
na Europa. Essa área de estudos compreende a análise sobre povos e culturas 
partindo de uma perspectiva comparativa.
7
A etnologia indígena é uma das principais áreas de estudo da Antropologia 
sociocultural no Brasil. As descrições sobre grupos indígenas no Brasil vêm 
sendo feitas desde a época da chegada dos portugueses ao país, de forma rica e 
detalhada. No entanto, essas descrições iniciais do período da colonização eram 
feitas com forte caráter moralista. Uma das famosas referências a esse período é a 
carta enviada a Portugal por Pero Vaz de Caminha.
Os jesuítas procuraram entender aspectos como as regras matrimoniais e o idioma 
tupi. O padre Anchieta foi um desses estudiosos da cultura indígena. (MARCONI; 
PRESOTTO, 2013). O interesse não vinha, todavia, sem intenções por parte dos 
jesuítas. Estes estavam preocupados em converter os indígenas ao catolicismo 
como parte do projeto de controle colonizador.
Agora, vamos entender o desenvolvimento da pesquisa científica 
etnológica no Brasil a partir de Marconi e Presotto (2013). 
A  investigação científica começou a partir da metade do século 
XIX, com a sistematização de estrangeiros sobre os costumes dos 
indígenas brasileiros.
Atenção
Na segunda metade do século XIX, ocorreram expedições de pesquisadores 
estrangeiros, em especial europeus, ao interior do país, com o objetivo de contatar 
grupos indígenas para compreender melhor a natureza humana e as especificidades 
dos indígenas em solo brasileiro. 
No século XX, finalmente ocorrem as contribuições à etnologia brasileira por parte 
de antropólogos brasileiros, sendo de importância a participação do general Rondon 
nas expedições que buscavam amenizar os conflitos em áreas de habitação 
indígena. Rondon é o fundador do Serviço de Proteção aos Índios. 
A etnologia no Brasil vem se desenvolvendo cada vez mais e tem envolvimento 
direto com questões políticas. São requeridos laudos antropológicos pelo Governo 
em questões relacionadas aos direitos humanos indígenas. Algumas das principais 
áreas de estudo dos etnólogos são: direito de posse de terra indígena, etnia e 
cidadania, religião, magia, farmacologia, rituais, política e economia.
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Além dos indígenas brasileiros, a etnologia reserva seus estudos a diferentes etnias 
pelo mundo, tratando de povos nórdicos, africanos, asiáticos, etc. É importante 
a análise antropológica das formas de integração ou exclusão desses grupos na 
sociedade a partir de fronteiras materiais ou simbólicas.
ANTROPOLOGIA, GÊNERO E 
SEXUALIDADE
A temática de gênero e sexualidade se ampliou e vem sendo assunto da 
Antropologia desde os seus primórdios. Uma das célebres obras da Antropologia 
sobre o assunto é o livro “Sexo e temperamento”, da antropóloga cultural Margaret 
Mead, publicado em 1935.
Nessa obra, a autora analisa os aspectos relacionados à divisão sexual das 
tarefas em três tribos diferentes: os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli. Nas 
referidas tribos, a divisão sexual das tarefas e as características do temperamento 
dos sexos masculino e feminino diferem completamente entre si e da própria 
cultura da autora. Sobre isso, a autora afirma: 
Se aquelas atitudes temperamentais que tradicionalmente reputamos 
femininas – tais como passividade, suscetibilidade e disposição de 
acalentar crianças – podem tão facilmente ser erigidas como padrão 
masculino numa tribo, e na outra ser prescritas para a maioria das 
mulheres, assim como para a maioria dos homens, não nos resta mais 
a menor base para considerar tais aspectos de comportamento como 
ligados ao sexo. E esta conclusão torna-se ainda mais forte quando
Fica clara a importância dos aspectos culturais na divisão do papel social nas 
sociedades, variando por completo de uma para a outra. Mead acabou por 
questionar o argumento sobre a ideia de que há papéis “naturais” que homens e 
mulheres devem cumprir de acordo com seus aspectos meramente biológicos.
O que é ser mulher? O que é ser homem? A Antropologia é influenciada por diferentes 
perspectivas sociais, bem como pelos próprios movimentos sociais. A influência do 
movimento feminista na Antropologia inaugurou uma nova fase nos estudos sobre 
gênero. Pensadoras feministas como Simone de Beauvoir, Judith Butler, Bell Hooks, 
Gloria Anzaldúa, Angela Davis, entre outras, foram de suma importância para o 
desenvolvimento da teoria antropológica sobre gênero e sexualidade.
9
Uma das maiores contribuições do desenvolvimento teórico 
sobre o tema foi a distinção entre gênero e sexualidade, antes 
muitas vezes confundidos. A historiadora Joan Scott (1990) foi 
uma das primeiras a esclarecer a diferenciação entre gênero e o 
antigo esquema binário e biologicista que se dividia entre sexos 
feminino e masculino. A autora coloca que a diferenciação mais 
complexa de gênero existente na sociedade também se relaciona 
com fatores sociais como classe social, papel na família, poder 
político, entre outros fatores. 
Saiba mais
A identidade de gênero foi objeto de estudo de muitas pesquisadoras, em 
especial feministas, e pesquisadores. Uma das autoras que contribuiupara o 
debate na contemporaneidade foi Judith Butler (2003). A partir de sua teoria 
queer, a autora foi capaz de desconstruir ainda mais as ideias binárias sobre 
gênero, entendendo a performance dos seres humanos, ou seja, a forma como 
se vestem, como se comportam, etc., e, principalmente, se compreende, como 
fatores determinantes na construção da identidade de gênero que possui 
grande diversidade.
Seguindo o pensamento desenvolvido pela teoria queer, as diferentes classificações 
de gênero podem ser definidas em:
• cisgênero: pessoas que têm o gênero que combina com o gênero designado 
à pessoa no nascimento.
• transgênero: pessoas que têm um gênero diferente ao designado no nasci-
mento.
• intersexual: pessoas que possuem desde o nascimento genitália feminina e 
masculina ou ambivalência cromossômica, impossibilitando a definição pré-
via por um gênero ou outro;
• gender-fluid (gênero fluido): pessoas que não se identificam com apenas um 
gênero, transitando entre eles.
Butler (2003) reforça a importância de diferenciarmos gênero e sexualidade. A 
identidade de gênero tem a ver com ser homem cisgênero, mulher cisgênero, 
homem transgênero, mulher transgênero e pessoas com gênero fluido.
10
A orientação sexual é a afinidade afetiva que norteia as relações amorosas e 
sexuais. Tipos de sexualidade:
• homossexual: pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Co-
nhecidos como gays, no caso dos homens, e lésbicas, no caso das mulheres;
• bissexual: pessoas que sentem atração por pessoas de ambos os sexos;
• heterossexual: pessoas que sentem atração por pessoas do sexo oposto;
• pansexual: pessoas que sentem atração por outras pessoas independente-
mente do sexo ou gênero delas;
• assexual: pessoas que não sentem atração sexual (o que não impede, neces-
sariamente, que desenvolvam relações amorosas).
A sigla LGBTQIA significa lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, 
queers, intersexuais e assexuais, misturando, portanto, identidades 
de gênero e sexualidade. 
Saiba mais
Com o crescimento da democratização nas sociedades de Estado, os movimentos 
sociais que lutam pelos direitos LGBTQIA puderam ocupar um maior espaço na 
política mundial, consolidando, por exemplo, a homofobia como crime, apesar de 
ainda ser difícil realizar denúncias e de obter provas de tais crimes. Entretanto, 
o que isso tem a ver com a Antropologia? Uma vez que uma das bases da 
Antropologia é compreender o mundo a partir de outro olhar, ela também possibilita 
o exercício da empatia.
Antropologia da religião
A religião é um dos temas clássicos da Antropologia, porque todas as sociedades 
apresentam pessoas com algum tipo de crença ou fé. 
Para Marconi e Presotto (2013), é importante realizar a distinção entre religião 
e magia para os estudos antropológicos: “A primeira e mais curta definição de 
religião foi dada por Edward Tylor: ‘a crença em seres espirituais’” (MAIR, 1972 apud 
MARCONI; PRESOTTO, 2013, p. 150). Já a magia recorre a um conjunto de técnicas 
para controlar o sobrenatural. 
11
Antropólogos dedicaram seus estudos a entender o porquê da existência 
das religiões e suas principais características em comum a partir do método 
comparativo de pesquisa:
As sociedades, frequentemente, desenvolvem normas de comportamento 
com a finalidade de se precaver contra o inesperado, o imprevisível, o 
desconhecido, e de estabelecer certo controle sobre as relações entre o 
homem e o mundo que o cerca. [...] Por meio de cultos e rituais, públicos 
ou privados, os homens tentam conquistar ou dominar, pela oração, 
oferendas, sacrifícios, cantos, danças etc., a área de seu universo não 
submetida à tecnologia. (MARCONI; PRESOTTO, 2013, p. 150).
As normas religiosas vão estabelecer um elemento de união, controle e identificação 
entre os membros de uma religião. Elas também auxiliam os indivíduos a se portar e 
a como encarar crises, problemas e instabilidades.
O poder (conhecido como mana em Antropologia) sobrenatural pode habitar 
pessoas, objetos ou deuses.
De acordo com Marconi e Presotto (2013), o tabu é uma proibição ou alerta da 
religião para que não se cometa determinado ato, sendo considerado pela religião 
uma infração passível de punição do sobrenatural ao indivíduo que o ultrapassou. 
Assim, por meio de um conjunto de normas, é possível estabelecer a conduta 
proferida pela religião, funcionando como forma de controle sobre os fiéis. Um 
exemplo de tabu para algumas religiões é o aborto.
É importante entender como a religião opera em diferentes culturas e sociedades, 
porque ela influencia muitas vezes no comportamento, na Educação, na política e 
na economia.
Que tipo de influência religiosa você consegue perceber na política 
brasileira? Que tabus influenciam nas decisões e projetos de lei de 
nosso Congresso?
Curiosidade
Destarte, ainda existem muitos preconceitos religiosos que fazem com que criemos 
estereótipos xenofóbicos de alguns grupos por causa de sua religião. Alguns 
exemplos da atualidade são os muçulmanos, que vêm sofrendo ataques por causa 
12
das ações de grupos extremistas dessa religião (que têm implicações político-
econômicas), além da Umbanda e do Candomblé no Brasil, que, frequentemente, 
são vistas por religiões cristãs como “do mal”, fomentando ações violentas contra 
terreiros. Por fim, é importante entendermos o que há em comum entre as religiões 
e o que as diferencia, respeitando as diferentes formas de relacionar-se com o 
sobrenatural que os seres humanos desenvolveram. 
Fechamento 
Aprendemos que a Antropologia trata de diversos temas que perpassam nossa 
realidade cotidiana. A Antropologia da educação contribuiu para o conhecimento de 
formas educativas completamente diferentes bem como para a implementação de 
políticas educacionais voltadas à diversidade cultural e à pluralidade no ambiente 
escolar. Estudamos também que as Antropologias rural e urbana colocam em pauta 
a questão territorial na forma de organização da vida, criação de hábitos e formas 
de manifestação cultural dos seres humanos e estudamos também o conceito de 
etnologia. Por fim, apreendemos que Antropologia, gênero e sexualidade tendo 
entendimento de que as diferenças entre homens e mulheres não são inatas, mas 
uma de suas principais premissas é também sofrer influência cultural e social. 
13
Referências
BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução 
de Renato Aguiar. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
MARCONI, M. de A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: 
Atlas, 2013.
MEAD, M. Sexo e temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1979.
SCOTT, J. Gênero: Uma Categoria Útil de Análise Histórica. Educação & Realidade, 
Porto Alegre-RS, v. 15, n.2, p. 71-99, Jul/Dez, 1990.
VELHO, O. (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
PADRÕES CORPORAIS: 
DIFERENÇA E PRECONCEITO 
SST
MATOS, Nathalia Cristina
Padrões corporais: diferença e preconceito / Nathalia 
Cristina Matos
Ano: 2020
nº de p. 13
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
PADRÕES CORPORAIS: 
DIFERENÇA E PRECONCEITO 
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto extremamente importante na área 
de humanas que é estudar a respeito de conceitos relacionados a diversidade 
da família, crenças, raça, gênero e o quanto que a educação é considerada um 
caminho para realizar esse debate na perspectiva de orientar para o respeito e, por 
conseguinte para o fim de atitudes de preconceitos. 
Também você estudará sobre o corpo, enquanto uma arena para as múltiplas 
diversidades, para o respeito a diversas formas, debatendo com base na categoria 
gênero. E, por fim, terá informações de que a educação é a possível alternativa para 
desenvolver ações que auxiliam no arrefecimento de práticas de preconceitos. 
Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de 
conhecimento e aprendizagema respeito desses importantes assuntos. 
Bons estudos. 
Padrões corporais e a ideia de normal, 
estranho e excêntrico
Vivemos em uma sociedade em que padrões sempre foram estabelecidos, e aquilo 
que fosse diferente, seria marginalizado e discriminado. Segundo Louro (2006), 
desde o nascimento somos familiarizados com padrões definidos pela cultura na 
qual estamos inseridos. Hegemonicamente, os referenciais culturais preconizam 
que o ideal é ser homem, branco, esbelto, bem-sucedido, heterossexual e cristão.
De fato, os sujeitos são, ao mesmo tempo, homens ou mulheres, de determinada 
etnia, classe, sexualidade, nacionalidade; são participantes ou não de uma 
determinada confissão religiosa ou de um partido político. De acordo com Louro 
(2006), não se pode entender essa multiplicidade identitária como se elas fossem 
somadas ao longo da vida, pois elas estão todas presentes simultaneamente e têm, 
antes disso, uma relação relacional de uma para com a outra.
Cada pessoa tem o direito de ir e vir, e, além disso, tem direito de escolha, sendo 
que cada uma delas deve ser respeitada por todos, mesmo que haja divergência de 
ideias. Nesse mesmo sentido, todos têm sua história, sua formação, sua cultura e 
suas opiniões. Portanto, devemos respeitar e temos direito de ser respeitado.
4
Opiniões e questionamentos diversos
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
O ideal de normalidade sempre foi determinado pelos indivíduos ditos hegemônicos, 
que escreveram a história da sociedade a partir dos seus próprios pontos de vista, 
normalmente embasados em preceitos religiosos. Dessa forma, os padrões ditos 
normais passaram a ser considerados como algo natural, e as características 
que não fossem enquadradas nesses modelos seriam consideradas estranhas, 
excêntricas, exóticas e até anormais.
As diferenças entre gênero, cor, etnia, nacionalidade, regionalidade, condição 
social, sexualidade e religiosidade são todas utilizadas como pretexto para que se 
questionem os padrões vigentes. Se o normal é ser branco, se for negro é estranho, 
se for indígena é exótico, pois foge do “normal”, mas esse é o ponto de vista de 
quem? Será que só quem é de cor branca pensa assim? A seguir, temos o exemplo 
de documentário no qual os papéis masculinos e femininos são invertidos em um 
projeto que se assemelha a um documentário cômico, mas que nos leva a uma 
reflexão muito interessante.
O curta-metragem “Acorda, Raimundo, acorda!” (Brasil, 1990) 
reflete sobre a tradicional construção de masculinidade. Os papéis 
de gênero e a validação homossocial do ser homem são invertidos, 
hipoteticamente, no sonho do personagem. As mulheres eram 
humilhavam os homens e saíam para trabalhar, enquanto os 
homens ficavam em casa cuidando dos filhos e das atividades 
domésticas, comportando-se de forma submissa. O curta aborda 
questões sociais e de gênero e está disponível no link <https://
www.youtube.com/watch?v=HvQaqcYQyxU&feature=youtu.be>. 
Acesso em: 14 de set. de 2020. 
Saiba mais
5
Segundo Louro (2006, p. 43): “Dizer que as mulheres são diferentes dos homens 
se constitui, a princípio, numa afirmação irrefutável”. A mulher é biologicamente 
diferente do homem, possuindo características fisionômicas e sistêmicas 
singulares. Se considerarmos as fisionomias, veremos que os aspectos 
masculinos e femininos são muito marcantes e destacam essas diferenças. No 
entanto, não deveríamos ampliar as diferenças para além de questões e aspectos 
biológicos e físicos, uma vez que, quanto aos direitos e deveres, todos deveríamos 
ser tratados igualmente. Sabemos que nem sempre é isso o que acontece.
Sempre ouvimos dizer que tal tarefa é melhor quando é feita por mulher, pois são 
mais delicadas e atenciosas, por exemplo. Entretanto, as características pessoais e 
o estilo de vida são moldados de maneiras diferentes entre os homens e mulheres.
É muito comum, por exemplo, encontrar homens que são excelentes cozinheiros,
tarefa que tradicionalmente costumava ser atribuída às mulheres. Da mesma forma,
homens podem ser atenciosos e delicados, e as mulheres também podem ser fortes.
Para alguns, ver um homem atuando como cozinheiro e uma mulher trabalhando, 
por exemplo, como engenheira, em uma construção pode parecer estranho. Mas o 
estranhamento é gerado por visões que foram construídas antes da nossa geração 
e foram reproduzidas. Qualquer situação que aparente a inversão de papéis deve 
ser respeitada, pois cada um tem direito de livre escolha. 
O filme “Vista minha pele” (Brasil, 2003) aborda a questão do 
preconceito de uma maneira muito criativa, invertendo os papéis entre 
as etnias branca e negra no ambiente escolar. Maria, a personagem 
principal, branca e pobre, estuda em um colégio particular, onde 
ganhou uma bolsa de estudos e queria ganhar o concurso de “miss 
festa junina”. A história se desenrola de forma muito reflexiva, 
mostrando que somos diferentes, mas não somos melhores ou 
piores que os outros. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=LWBodKwuHCM>. Acesso em: 14 de set. de 2020.
Saiba mais
Dessa forma, percebe-se que, para minimizar os efeitos do preconceito em vários 
campos, deve-se iniciar um trabalho de prevenção ainda no ambiente escolar, 
com as crianças e com as famílias. Somente reconhecendo e compreendendo os 
elementos histórico-sociais da diversidade humana é que poderemos possibilitar 
práticas menos excludentes e favorecer a inclusão.
6
Padrões de normalidade também podem ser observados em relação à formação 
familiar. Segundo Louro (2006), é comum considerarmos como família estruturada 
aquela formada por um pai, uma mãe, heterossexuais, casados, e seus filhos. 
Toda família que foge a esse arranjo é considerada excêntrica, anormal. Contudo, 
atualmente não se pode considerar mais um padrão familiar único, pois os tipos de 
formação são cada vez mais diversos.
Diversidade racial, etnica, familiar e de gênero
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
As distinções também podem ser observadas em relação à classe social em que 
cada indivíduo é enquadrado. Nessa classificação, considera-se não só o poder 
aquisitivo, mas também o tipo de trabalho, as vestimentas e as condições de 
moradia, de cultura e lazer. Gonçalves (2001) menciona que o homem utiliza seu 
corpo como ferramenta de trabalho para buscar atingir objetivos materiais que são 
valorizados pelo modelo de sociedade vigente. 
Gonçalves (2001, p. 166) ainda ressalta que as formas de lazer estão condicionadas 
à classe social a qual pertence o indivíduo. Quem possui um grande poder 
aquisitivo dispõe de oportunidades que lhes são oferecidas por possuir um status 
social e financeiro. Enquanto isso, o indivíduo de menor poder aquisitivo, além de 
ter menos oportunidades, geralmente trabalha nas horas vagas para tentar ter as 
mesmas oportunidades que pessoas da classe alta têm muitas vezes renunciando 
ao descanso, do lazer e do tempo com a família para ampliar sua renda. 
Contudo, diante de tantas possibilidades de observar e classificar o indivíduo em 
um universo tão amplo como a diversidade humana, deparamo-nos com um tema 
recorrente: o preconceito. Uma distinção precipitada, baseada em conceitos que 
nos foram impostos pela sociedade que visa ao consumo, e para isso, determina os 
padrões de como se deve ser, pensar e agir. 
7
O corpo enquanto lugar de 
marcação da diversidade
O corpo é o elemento que se destaca quando se pensa em diversidade, pois pelas 
características corporais, enquanto aspectos biológicos, sociais e psicológicos, 
observamos as mensagens da comunicação corporal, tanto no que diz respeito às 
suas particularidades como à sua coletividade.
Cada indivíduo se distingue do outro pelo tipo ou cor de cabelo, da pele, dos 
olhos, maneira de andar, se vestir, se comportar etc., e todas essas informações 
externalizam as especificidades desse corpo. “Moldado pelo contexto social e 
cultural em que o ator se insere, o corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência 
da relação com o mundo é construída [...]”(LE BRETON, 2007, p. 7).
A cor e a textura da pele nos transmitem informações relacionadas à etnia, 
nacionalidade e regionalidade, caso seja muito exposta ao sol, mais clara, 
mais espessa ou mais macia, poderá revelar o tipo de trabalho que o indivíduo 
realiza. As cicatrizes contam histórias e as tatuagens evidenciam mensagens 
e valores nos quais a pessoa acredita. A cor do cabelo, os gestos feitos com as 
mãos e as expressões do rosto podem revelar muitas características da história 
de vida de cada um.
Le Breton (2007) enfatiza que “[...] o rosto é, de todas as partes do corpo humano, 
aquele onde se condensam os valores mais elevados. Nele cristalizam-se os 
sentimentos de identidade, estabelece-se o reconhecimento do outro, fixam-se 
qualidades da sedução, identifica-se o sexo etc.” (LE BRETON, 2007, p. 70-71. 
Le Breton (2007 menciona também sobre a definição de estereótipos em relação 
às aparências físicas, a noção de perfeição/imperfeição que são estabelecidas 
baseadas em padrões corporais, e que discriminam o que é diferente. Essa situação 
beneficiou uma área do mercado que vem crescendo fortemente, legitimando a 
valorização da aparência, transformando o corpo em um “cartão de visitas vivo”.
Para Louro (2006), o tema da diversidade vem trazendo muitas divergências e 
polêmicas ao longo dos anos quando se leva em consideração os conceitos de 
diferença e igualdade. Muitos grupos sociais exaltam-se em suas diferenças, 
buscando posicionarem-se no mundo e serem reconhecidos, e ao mesmo tempo, 
outros grupos exigem a igualdade em todos os aspectos da sociedade. Essa 
ambiguidade pode ser percebida como uma “falsa dicotomia”, já que igualdade 
8
e diferença são conceitos indissociáveis. De acordo com Louro (2006, p. 46), “[...] 
não há sentido em se reivindicar a igualdade para sujeitos que são idênticos, ou que 
são os mesmos” (LOURO, 2006, p. 46). 
Acesse o site do G1 disponível em: <https://g1.globo.com/sp/bauru-
marilia/noticia/2018/12/12/projetos-investem-em-educacao-para-
desviar-jovens-do-caminho-da-criminalidade.ghtml>. Acesso em: 
14 de set. de 2020.
Lá você encontra uma reportagem muito interessante a respeito 
de ações desenvolvidas por um projeto social que atendem 
adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social e 
que proporcionam atividades de cultura, arte entre outros, o que 
possibilita uma alternativa de vida para esses jovens. 
Saiba mais
A disseminação e a popularização do conhecimento em relação à temática da 
diversidade humana contribuem para a conscientização das pessoas sobre o 
assunto. Cada vez que uma ideia é colocada a seu respeito, seja um argumento 
contextualizado ou uma opinião infundada, rapidamente a crença é reproduzida e se 
propaga, ainda mais com as facilidades da internet e das redes sociais.
As desigualdades somente poderão ser percebidas – e desestabilizadas e 
subvertidas – na medida em que estivermos atentos para suas formas de produção 
e reprodução. Isso implica operar com base nas próprias experiências pessoais 
e coletivas, mas também, necessariamente, operar com apoio nas análises e 
construções teóricas que estão sendo realizadas. (LOURO, 2006).
Para saber mais sobre esse tema, leia o artigo “Identidade cultural, 
diversidade e diferença: um olhar para gênero e sexualidade na 
educação” de Marcos Felipe Gonçalves Maia et al., que enfatiza a 
necessidade de debates nas políticas públicas da educação para 
promover o respeito às diferenças. Disponível em: <http://www.
brajets.com/index.php/brajets/article/view/375>. Acesso em: 14 de 
set. de 2020. 
Saiba mais
9
Contudo, podemos perceber que esse assunto tão delicado não pode ser colocado 
à margem das discussões e dos processos de aprendizagem nos ambientes de 
ensino, sejam intra ou extraescolar. A diversidade, como um dos temas transversais, 
precisa ser encarada como imprescindível para a compreensão do mundo como 
mundo. A sociedade é plural e comporta lugares para todas as culturas, em todos 
os âmbitos. Muito além de ensinar, discutir e refletir sobre etnia, gênero e sexo, a 
diversidade deve trabalhar o conceito de respeito.
EXPRESSÕES CULTURAIS QUE SE 
MOSTRAM NO CORPO
As manifestações e expressões culturais com o corpo humano são percebidas e 
estabelecidas em uma relação, que é dinâmica, pois é resultado de um processo 
histórico. em uma menciona em sua obra que o corpo “[...] é objeto de uma 
construção social e cultural”, e sob essa ótica, podemos observar que não há 
perenidade, ou seja um período de duração predeterminado.
Todas as relações que o indivíduo estabelece com o mundo, independentemente da 
cultura à qual ele pertença, ocorrem pelo corpo. Cerimônias, ritos religiosos, técnicas 
de cultivo da terra, utilização de determinados meios de transporte, vestimentas 
e caracterização do corpo, os tratamentos médicos, as tradições familiares de 
nascimento, crescimento, casamento ou morte, são momentos que perpassam pelo 
significado atribuído ao corpo, e acontecem de diferentes formas, pois existem distintos 
comportamentos para cada concepção de cultura. Para Le Breton (2007, p. 7): 
[...] o corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência da relação com 
o mundo é construída: atividades perceptivas, mas também expressão
dos sentimentos, cerimoniais dos ritos de interação, conjunto de gestos
e mímicas, produção da aparência, jogos sutis da sedução, técnicas do
corpo, exercícios físicos, relação com a dor, com o sofrimento etc. Antes
de qualquer coisa, a existência é corporal.
Ao longo dos anos o homem vem sofrendo “um processo de ‘descorporalização’” 
que, segundo Gonçalves (2001, p. 17), vem sendo mais intensamente percebido ao 
passo que a civilização e a racionalização das pessoas evoluem e crescem. 
A esse respeito, essa mesma evolução também contribuiu para que os sujeitos 
se tornassem mais autônomos, inteligentes e inovadores. O afeto foi perdendo 
espaço junto com a expressão sensorial e a experiência corporal, que se tornaram 
mecanizadas e submissas ao trabalho.
10
Evolução do homem
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Nos primórdios da existência do homem, sua relação com o seu próprio corpo 
era imprescindível para a sobrevivência, suas atividades estavam ligadas ao uso 
do corpo, que exigia características de força e habilidades para manter-se vivo 
e cuidar de sua família. A modernidade, industrial e capitalista não desprezou 
completamente essa finalidade; porém, cada vez mais negligência a relação do 
homem com seu corpo, “[...] visualizando-o como objeto que deve ser disciplinado e 
controlado” (GONÇALVES, 2001, p. 20). 
Como sugestão indicamos o documentário “Humano – uma 
viagem pela vida”, produzido em 2015. Esse documentário é 
composto por entrevistas, com cerca de 2 mil pessoas, das mais 
diversas culturas, distribuídas em 60 países, cujo objetivo é relatar 
suas experiências de vida e suas expectativas para o futuro. O 
filme traz belas imagens e busca resgatar a essência humana, 
enquanto indivíduo e enquanto sociedade. 
Saiba mais
Nos dias atuais, a sociedade, que continua capitalista, objetivando o consumo e o 
lucro, continua vendendo cada vez mais a ideia de um padrão que deve ser almejado 
e alcançado, sem respeitar as individualidades biológicas, históricas e culturais. 
Percebemos que algumas expressões culturais estão sendo fortemente direcionadas 
a se enquadrarem em padrões que geram um status, principalmente as que se 
manifestam por meio do corpo. Nesse contexto, podemos observar uma crescente 
ação midiática que incentiva o culto à beleza, a busca de uma perfeição que não 
existe e o aumento expressivo das intervenções corporais para atingir esse fim. 
11
Por outro lado, também testemunhamos o quanto as expressões culturais se 
manifestam no corpo, no sentido de querer afirmar identidades individuais ou 
de um grupo. Esse tipo de comportamento era mais comumente observado em 
tribos indígenas e africanas de várias regiões do mundo que se utilizavam desses 
elementos para demarcar algum feitoimportante, uma conquista, um ato de 
passagem ou rituais religiosos. 
Agora que você conhece sobre a temática da diferença e do 
preconceito, e suas repercussões nas diferentes concepções de 
expressão cultural, explore esses conceitos e responda com suas 
palavras qual a importância do respeito a diversidade para o fim 
do preconceito na sociedade? 
Curiosidade
Dessa forma, não existe um modelo de corpo, certo, padronizado, mas se observa 
a existência de muitos corpos, e sua pluralidade embasada na infinidade e 
diversidade de culturais, as que já existiram, as que existem e as que ainda vão ser 
criadas ou miscigenadas pelas que estão postas.
Por fim, enxergamos na educação, um lugar para ultrapassar a dinâmica 
meramente racionalista e cognitivista, que prioriza padrões, sejam eles de qualquer 
origem e característica. Por isso, defendemos que a escola busque ampliar o 
conhecimento dos alunos utilizando-se do saber e da experiência, valorizando 
as múltiplas linguagens e a interdisciplinaridade. A educação é o caminho para o 
reconhecimento da diversidade, de pluralidade de ideias, de compartilhamento de 
experiências, de reflexão sobre o conhecimento, inclusão e respeito.
Fechamento 
Você teve a oportunidade de aprender sobre vários conceitos relacionados 
aos aspectos das manifestações culturais, da noção de individualidade e de 
coletividade, bem como a importância de reconhecer a diversidade, o respeito e a 
inclusão, em qualquer âmbito da sociedade. Estudamos sobre a diversidade em 
vários campos como: raça, religiosidade, etnia, gênero entre outras e o quanto que 
12
independentemente da fé que o outro professa, da orientação sexual, da identidade 
de genero, da raça entre outros, deve-se ter o respeito, a tolerância e entender que 
somos diversos e isso não é condicionante para termos atitudes de preconceito. 
Com isso, conseguimos compreender que a educação é senão um dos caminhos 
mais apropriados para que se possa disseminar informação, conhecimento e 
sobretudo orientar sobre respeito a diversidade e compreender que cada pessoa tem 
sua personalidade, suas identificações, crença, raça e que isso deve ser levado em 
consideração para que haja respeito e reciprocidade na convivência em sociedade. 
13
Referências
GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação. 5. ed. Campinas: 
Papirus, 2001.
LE BRETON, D. A sociologia do corpo. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. 6. 
ed. Petrópolis: Vozes, 2006.
O ENFRENTAMENTO ÀS 
DESIGUALDADES SOCIAIS 
 
SST
FREITAS, Veronica Tavares de
O enfrentamento às desigualdades sociais / Veronica 
Tavares de Freitas
Ano: 2020
nº de p. 10
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
O ENFRENTAMENTO ÀS 
DESIGUALDADES SOCIAIS 
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado ao enfrentamento 
às desigualdades sociais. Estudaremos sobre o breve contexto histórico da 
desigualdade no Brasil, apresentando alguns destaques para os agravos dessa 
situação de desigualdade, e conhecendo alguns conceitos fundamentais. 
Também estudaremos a respeito do breve histórico de ações afirmativas em várias 
partes do mundo, como uma forma de enfrentar as disparidades sociais e promover 
a inclusão social. E, por fim, iremos conhecer algumas ações afirmativas que o 
Estado brasileiro tem promovido para os cidadãos brasileiros que fazem parte dos 
grupos socialmente discriminados e excluidos. 
Bons estudos. 
BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA 
DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL
Apesar de contarmos com um ordenamento jurídico que prevê a garantia de uma 
série de direitos para a população, a realidade nacional é ainda de sistemáticas 
violações de direitos e perpetuação de elevados índices de desigualdade social. 
A persistência desse quadro advém do fato de que a história nacional foi 
baseada em relações profundamente desiguais, o que ainda não foi superado 
pela nossa sociedade. 
O passado escravocrata, com quatro séculos de dominação dessa forma de 
exploração, bem como a existência de dois períodos ditatoriais no século XX 
enraizaram em nossa estrutura social relações baseadas na desigualdade. 
Ressalta-se que, imediatamente antes do estabelecimento da ditadura civil-militar 
de 1964, houve uma grande mobilização nacional em torno do programa das 
“reformas de base”, com adesão da presidência de João Goulart. No entanto, com 
a ocorrência do golpe cívico-militar, houve uma interrupção desse processo, que 
nunca foi resgatado. 
4
A desigualdade social no Brasil é um problema grave e 
profundamente enraizado em nossa sociedade. Existem muitas 
produções a respeito da temática. 
Como recomendação, aconselhamos o documentário “Brasileiros 
Guerreiros, a desigualdade social no Brasil”. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=buw69MKzTQc>. Acesso 
em 23 de set. de 2020. 
Também deixamos como uma segunda opção a matéria jornalística 
da TV Cultura que tem por tema: A desigualdade social no Brasil 
veiculado em 28/11/2018. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=Acw66g3bMW0>. Acesso em 23 de set. de 2020.
Saiba mais
As reformas de base apresentavam como objetivo justamente proporcionar 
mudanças estruturais na sociedade, buscando a ruptura de estruturas de 
reprodução de desigualdade. 
O acesso à terra, por meio da reforma agrária, era uma das agendas presentes 
nesse processo. Ao contrário do que ocorreu em grande parte dos países 
desenvolvidos do mundo, a reforma agrária no Brasil nunca ocorreu, perpetuando a 
grande concentração de terras no país (CARVALHO et al., 2013). 
Desigualdade social:
É a diferença existente na sociedade a partir das distinções que há entre as 
classes sociais, considera-se como fatores que geram desigualdades, os 
fatores culturais, educacionais e econômicos; e não há distribuição justa e 
igualitária do que se arrecada e ganha em termos de lucros. 
Igualdade social: 
Princípio fundamental para as sociedades democráticas, pois possibilita a 
todos a equiparação no que diz respeito ao desfrute e proveito de seus direitos.
Com o fim do Regime Militar no ano de 1985 e a consolidação da Constituição 
Federal de 1988, a promoção da igualdade e garantia de direitos retomou com 
fôlego o debate público. Tanto que em seu texto constitucional se coloca a questão 
5
dos direitos sociais, igualdade entre os seres humanos, entre outros aspectos, 
prevalecendo a liberdade, igualdade e a democracia. 
A constituição Federal assegura que deve ser dever do Estado a responsabilidade 
de ofertar atendimento a individuos e grupos no que tange a proteção social de 
acordo com os direitos sociais avalizados em seu artigo 6º, sendo todos eles 
direitos, então deve ser ofertado de maneira igualitária, respeitando a equidade para 
que todos tenho acesso ao que lhe cabe enquanto direito e de modo universal.
Entretanto, precisamos ressaltar que mesmo tendo sido promulgada a Carta 
Magna que assegura os direitos sociais e se compromete com a integralidade e 
universalidade do acesso a esses direitos, no Brasil, torna-se um desafio materializar 
esse direito e viabiliza-lo, tendo em vista esse rastro de desigualdades em que a 
sociedade brasileira se formou. Contudo, cabe aos trabalhadores e trabalhadoras que 
atuam na promoção e viabilização desses direitos, que busquem se comprometer 
ética e politicamente para que as barreiras de acesso que se levantam cotidianamente 
para a não efetivação dos direitos, possam ser derrubadas e assim, concretizando a 
viabilidade e garantia desse direito inerente a população do território brasileiro. 
BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DE 
AÇÕES AFIRMATIVAS 
Nos últimos anos, a proposição de “ações afirmativas” ganhou bastante ênfase nas 
políticas nacionais, com objetivo de combater a profunda desigualdade social no país. 
Ações afirmativas consistem no conjunto de medidas voltadas a grupos atingidos e 
discriminados pela exclusão social,ocorridos no passado ou contemporaneamente. 
O objetivo dessas políticas é combater desigualdades e segregações, buscando o 
fim de grupos elitizados em contraposição aos marginalizados. 
Todos são iguais perante a lei e diferente em suas subjetividades
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
6
Ações afirmativas são políticas enfocais que proporciona oportunidades a 
indivíduos pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão social 
racial, de gênero e econômica. 
Refere-se a medidas que têm como desígnio o combate as discriminações sociais, 
raciais, de gênero étnicas, religiosas, promovendo assim, a inclusão dessas pessoas 
que historicamente foram excluídas de diversos processos na sociedade, como o 
acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social e/ou 
no reconhecimento cultural.
As políticas de ação afirmativa afloraram em conjunto com as lutas pela 
descolonização após a Segunda Guerra Mundial, aplicadas com a denominação de 
indigenização ou nativização (CARVALHO et al., 2013). 
Ações afirmativas geram equiparações no acesso a direitos sociais 
AÇÕES AFIRMATIVAS GERA OPORTUNIDADES 
DE ACESSO PARA AS 
PESSOAS SOCIALMENTE 
DISCRIMINADAS
Fonte: Elaborada pela autora (2020)
Assim, com a independência da Índia e do Paquistão, em 1947, da Indonésia, em 
1949, seguidas pelos processos de emancipação de muitos países africanos e 
asiáticos, houve uma demanda de substituir os brancos, de origem europeia, que 
durante os respectivos regimes coloniais se apropriaram dos postos de comando 
dessas sociedades inclusive as estruturas de ensino. 
Cotas para ocupação de cargos públicos ou do acesso à educação e diversas 
outras medidas foram adotadas para que essas populações protagonizassem os 
governos de suas nações. 
No caso ocidental, diante da luta dos negros nos Estados Unidos, com a marca 
da busca dos direitos civis, desencadeada em 1950, o país incorporou, na década 
seguinte, à sua legislação e costumes mecanismos de busca pela igualdade 
inspirados nos avanços de descolonização do mundo afro-asiático. 
Por fim, a partir da tônica inicial mais forte acerca da questão racial, outros avanços 
foram agregados no sentido da busca da dissolução de estruturas de reprodução 
da desigualdade social, buscando direitos aos nativos estadunidenses, às mulheres, 
idosos, deficientes físicos, à comunidade LGBTQIA+, aos imigrantes, entre outros. 
7
AÇÕES AFIRMATIVAS COMO 
POSSIBILIDADE AO ENFRENTAMENTO 
DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO 
BRASIL
Existe um conjunto de ações afirmativas em âmbito federal voltadas para os 
grupos socialmente discriminados no Brasil. Iniciamos mencionando sobre a 
população negra e parda, é o caso da Lei n. 10.639/03, que torna obrigatório 
o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas de nível 
fundamental e médio.
A Lei n. 11.645/08, que modificou as diretrizes e bases da educação nacional, 
incluindo no currículo oficial de ensino a obrigatoriedade da temática “História e 
cultura afro-brasileira e indígena. 
Os direitos dos indígenas no Brasil
Os direitos dos indígenas estão regidos pela Constituição Federal. 
Além disso, muito se avançou nas últimas décadas a respeito 
dessa temática. O ordenamento nacional renegou a perspectiva 
“assimilacionista”, que compreendia os indígenas como categoria 
transitória, com perspectiva de desaparecimento. 
Ademais, houve avanços relevantes sobre a perspectiva dos seus 
direitos, estabelecendo-se que as terras são direitos originários dessas 
populações, isto é, anterior à própria formação do Estado Nacional.
Atenção
A Lei de Cotas no Ensino Superior, que vem sendo adotada por universidades 
públicas de todo o país. A Portaria Normativa n. 18, de 11 de outubro de 2012, que 
dispõe sobre a reserva de vagas em instituições federais de ensino; o Decreto n. 
7.824, de 11 de outubro de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades 
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio  e o Estatuto da 
Igualdade Racial.
8
Para enfrentar a desigualdade no topo da formação educacional, 
o MEC publicou a Portaria n. 13, em 2016, com adoção de ações 
afirmativas na pós-graduação. A lei prevê que as instituições 
federais de ensino superior adotem medidas para inclusão de 
negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência em 
seus programas de pós-graduação. 
Atenção
A adoção de medidas nesse sentido na esfera dos concursos públicos igualmente 
apresenta como objetivo a desconstrução de estruturais de reprodução de 
desigualdade no país. Dessa forma, as cotas nos concursos para negros e 
deficientes físicos se apresenta como um avanço relevante nessa seara. 
A desigualdade de gênero igualmente vem sendo combatida a partir da adoção de 
ações afirmativas. Um caso relevante nacional é a baixa ocupação de mulheres nos 
cargos de poder político.
 Essa situação diz respeito a uma cultura patriarcal na qual foi reservado 
historicamente o espaço doméstico como o mais adequado para as mulheres, 
sendo o próprio direito ao voto uma conquista das últimas décadas no país. 
Destarte, há um baixo investimento das lideranças partidárias em mulheres 
como figuras públicas, bem como negros e indígenas, sendo esse papel ocupado 
geralmente por homens brancos, condizentes com a lógica do patriarca sobre a 
qual se fundou o Brasil. 
A baixa ocorrência de mulheres nos espaços de poder público ajuda a perpetuar 
desiguais no sentido cultural, de negar às mulheres espaço e acesso ao poder, bem 
como nas medidas aprovadas. 
Afinal, é fato que as prioridades políticas dos sujeitos passam pela própria 
formação pessoal deles, havendo uma nítida diferença na ênfase para a igualdade 
de gênero dada por mulheres nos espaços de poder, em contraposição aos homens. 
Para enfrentar esse problema social, a Lei n. 9.504, de 1997, determinou que as 
mulheres deveriam ocupar o percentual mínimo de 30% da lista de candidaturas. 
Apesar dessa conquista, persistem muitos problemas na representação política das 
mulheres. Para tentar burlar essa lei, muitos partidos colocam mulheres na chapa 
que não buscam votos efetivamente, constando apenas para o enquadramento 
legal, sendo conhecidas como “candidaturas laranjas”. 
9
Fechamento 
Estudamos sobre o enfrentamento às desigualdades sociais. E aprendemos que 
os desafios para relações sociais mais justas são enormes, sendo abordado aqui 
apenas os principais tópicos da problemática nacional. A questão da violência, o 
déficit habitacional, o acesso à informação, a inclusão digital são temas bastante 
relevantes e que necessitam do engajamento da sociedade e, principalmente, 
dos gestores públicos para o seu devido enfrentamento. Estudamos sobre a 
importância de o Estado investir em desenvolvimento dos direitos sociais mais 
básicos da população, como acesso à saúde, educação e saneamento, existindo 
uma complexidade social que precisa ser encarada para o desenvolvimento das 
relações sociais. 
Ademais, trabalhamos a temática da desigualdade a partir das estruturas racistas 
e patriarcais de nossa sociedade. Esse problema não é apenas brasileiro, sendo um 
desafio global do século XXI. Porém, o nosso passado escravocrata e autoritário 
consolidou no cotidiano nacional relações muito profundas de desigualdade e 
reprodução de privilégios. A percepção dessa dimensão dos problemas sociais é 
fundamental para a compreensão da sua complexidade. 
10
Referências
BRASIL. Agência IBGE. Mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que 
o homem. 28 mar. 2019. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-
trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-homem>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. Agência IBGE. Munic: mais da metade dos municípios brasileiros não 
tinha plano de saneamento básico em 2017. 20 set. 2018. Disponível em: <https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/22611-munic-mais-da-metade-dos-municipios-brasileiros-nao-tinha-plano-de-saneamento-basico-em-2017>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. IBGE Educa. Conheça o Brasil. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/
jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html>. Acesso em: 23 set. 2020. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura, 
princípios e como funciona. Disponível em: <http://www.saude.
gov.br/sistema-unico-de-saude#:~:text=Princ%C3%ADpios%20
Organizativos&text=Descentraliza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Comando%20
%C3%9Anico%3A%20descentralizar,fiscaliza%C3%A7%C3%A3o%20por%20parte%20
dos%20cidad%C3%A3os>. Acesso em: 23 set. 2020.
CARVALHO, A. P. C. de et al. Desigualdades de gênero, raça e etnia. Curitiba: 
InterSaberes, 2013.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Imprensa destaca pesquisa encomendada pelo 
CFM ao Datafolha sobre a percepção do brasileiro sobre a saúde. 2018. Disponível 
em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&
id=27701:2018-06-28-15-18-26&catid=3>. Acesso em: 23 set. 2020. 
HISTORICIDADE DOS 
MOVIMENTOS FEMINISTAS 
E LGBTIS
 
SST
RASCKE, Karla Leandro
Historicidade dos movimentos feministas e LGBTIS / 
Karla Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p. 12
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
HISTORICIDADE DOS 
MOVIMENTOS FEMINISTAS 
E LGBTIS
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado a Historicidade dos Movimentos 
Feministas e LGBTIs. Estudaremos brevemente e conceitualmente a respeito da história 
dos movimentos sociais e, por conseguinte dos movimentos feministas, como ele se 
organizou no mundo, e como e quando ele se organizou no Brasil quais foram suas 
principais conquistas e suas principais bandeiras de resistência. 
 Também estudaremos a respeito do movimento LGBTQI+A e sua trajetória política 
e histórica de resistência e luta pelos direitos da população que tem orientação 
sexual que não condiz com o determinismo heteronormativo. Fique atento a todas 
as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e 
aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos. 
Bons estudos. 
CONCEITO DE MOVIMENTOS SOCIAIS
A gênese do conceito relacionada a movimento social segundo Craveiro &Handam 
(2015) tem a sua fundamentação na contraditória analogia que existe entre os 
sistema capitalista e as condições de trabalho. As abordagens preponderantes a 
respeito dos movimentos sociais empregadas no século XIX até aproximadamente 
a primeira metade do século XX, faziam-se uma correlação direta do conceito de 
movimentos sociais com a luta de classes, que havia surgido com os movimentos 
de trabalhadores operários das fabricas. 
Sendo assim, o conceito de movimento social pode ser pensado, em linhas gerais, como 
um conjunto de ações, que tem como base valores comuns que compõem e identificam 
determinado grupo, visando alcançar mudanças sociais. Nesse sentido, movimento 
social é um agrupamento de pessoas e/ou instituições com interesses comum, pautados 
em bandeiras de luta, que podem ter mais de uma frente, ou seja, mais de um interesse. 
O Brasil tem sua história marcada por diferentes movimentos sociais, dentre eles, 
movimento negro, movimento de mulheres, movimento dos atingidos por barragens, 
movimento de mulheres camponesas, movimento operário, movimento sindical, 
movimento estudantil, etc. Inúmeros foram os grupos que surgiram e se reuniram, 
4
em diferentes contextos históricos e por diferentes bandeiras, para lutar por 
mudanças, seja no campo econômico ou social. 
Principais movimentos sociais a partir do século XX na realidade 
brasileira e que possuem atuação até os dias atuais
MOVIMENTO 
FEMINISTA 
MOVIMENTO 
LGBTQI+A
MOVIMENTO 
NEGRO
MOVIMENTO 
ESTUDANTIL
MOVIMENTO 
AMBIENTALISTA
MOVIMENTO SEM 
TERRA - MST 
Fonte: Elaborado pela autora, (2020)
Scherer Warnner, (2008) avulta alguns movimentos sociais que foram 
indispensáveis e assinalaram a história do país quando o Brasil em 1964 teve a 
democracia substituída por um regime militar ditatorial. 
A autora destaca que os movimentos que foram surgindo nesse período da história 
brasileira foram de suma relevância para a luta pelo fim da ditadura e o retorno da 
democracia e do livres-arbítrios; entre os movimentos sociais ela destaca dois que 
tiveram expressiva participação nessa conjuntura são eles: o movimento estudantil 
e os movimentos de base política da igreja católica, ligados a teologia da libertação. 
Como sugestão de leitura complementar deixamos aqui duas ofertas: 
Uma delas se refere a um artigo acadêmico escrito por maria da 
Gloria Gohn, segue a descrição dele bem como o link de acesso: 
Desafios dos movimentos sociais hoje no Brasil. Disponível em: 
<http://cressrn.org.br/files/arquivos/eILxHih2XPlto00h4990.pdf>. 
Acesso em: 17/09/2020. 
O segundo artigo se refere a explicar o conceito de movimentos 
sociais a partir da década de 1960 até a contemporaneidade. Segue 
o link de acesso: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0873-65292014000200006>. Acesso em: 17/09/2020. 
Boa leitura!!!
Saiba mais
5
Esses movimentos apresentaram participação categórica na luta em prol de seus 
ideais pronunciados com a precisão do povo, que era o retorno das disposições 
em torno da sociedade serem de forma extensa, plural e democrática. Faziam 
manifestações nas ruas, mesmo ainda sob forte repressão pelo braço armado 
do Estado, reuniam-se clandestinamente para deliberarem suas formas de tentar 
sobrepor a ordem ditatorial vigente. 
MOVIMENTO FEMINISTA
Menos de 100 anos atrás, as mulheres não tinham o direito de votar e muito menos de 
serem votadas, não tinham o direito de estudar ou de trabalhar fora do lar. Eram tuteladas 
por homens, primeiro por seus pais, depois pelos maridos. Nem ao menos eram donas de 
seus corpos. Você acha essa afirmação exagerada? Pois bem, elas não escolhiam com 
que iriam casar, já que os casamentos eram arranjados. Tinham a obrigação de servir 
seus maridos de todas as maneiras, inclusive sexualmente. Vestiam somente o que era 
considerado apropriado pela sociedade. Como você pode perceber, muita coisa mudou 
nesses quase 100 anos, e essas conquistas devem-se ao feminismo. 
O movimento feminista pode ser definido como um movimento social que defende 
a equidade entre homens e mulheres, conquistado por meio do empoderamento 
feminino, ou seja, a libertação da mulher da submissão aos padrões patriarcais. 
Inicialmente as lutas estavam pautadas em direitos políticos, ou melhor, no direito 
de votar e ser votada. Depois dessa conquista, a luta mudou um pouco o foco. 
Continuava a ser por direitos, mas, outros, como pelo próprio corpo, por autonomia, 
pelos direitos reprodutivos, por igualdade no mercado de trabalho, no campo 
científico, na organização da vida política.
O movimento feminista se reuniu em prol dos direitos das mulheres, 
tais como o direito de estudar, trabalhar, ser dona do próprio corpo 
e, principalmente, ter acesso aos mesmos direitos que os homens 
tinham, ou seja, buscavam a equidade de gênero. 
Reflita
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No Brasil, o movimento feminista da primeira onda buscou inspiração nos 
Estados Unidos e países europeus. Assim, o direito ao voto foi a principal pauta 
de reinvindicação nas primeiras décadas do século XX. O sufrágio feminino foi o 
motivo que fez com que as mulheres brasileiras se reunissem em torno de uma 
pauta. No entanto, não podemos pensar em um grupo amplo de mulheres. Em sua 
maioria, eram universitárias que tiveram contato com o movimento sufragista em 
outros países.
Em 1932, por meio de um decreto provisório, as mulheres garantiram o direito de 
votar, que só aconteceu efetivamente no ano seguinte. E assim, no ano de 1933, as 
mulheres brasileirasforam até às urnas para concretizarem o direito conquistado. 
No entanto, somente um ano depois o direito de voto para as mulheres foi garantido 
pela Carta Magna de 1934.
As reinvindicações principais da segunda onda feminista (décadas de 1960-1970) 
foram pautadas em duas frases de ordem: o privado é político e nosso corpo 
nos pertence. As questões referentes ao espaço privado – como, por exemplo, 
a violência doméstica, o controle sobre o corpo, o direito ao prazer, os direitos 
reprodutivos – passaram a ser apontadas como questões sociais, ou seja, como 
objeto de políticas públicas. Nesse contexto, surge a pílula anticoncepcional, e as 
mulheres passam a ter um controle maior sobre seu corpo, entram em número 
significativo no mercado de trabalho, mas continuam na luta pela desconstrução da 
sociedade sexista pautada no determinismo biológico. 
Em 1975, foi decretado o Ano Internacional da Mulher, pela 
Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu a década 
seguinte como a década da mulher.
Atenção
As feministas da terceira onda focaram no que chamaram de micropolítica. O direito 
de igualdade na diferença foi a pauta dessa onda. Inicialmente, o próprio movimento 
passou por indagações que resultaram em novas ideias e estratégias. A condição 
de ser mulher deveria levar em conta a intersecção com outros fatores como classe, 
raça/etnia, geração e orientação sexual.
7
MOVIMENTO LGBTQI+A
Os objetivos do Movimento LGBTI no Brasil podem ser articulados em torno de três 
pautas principais: 
1. criminalizar a homofobia e enquanto isso não acontece lutar contra qualquer 
forma de preconceito em relação à homossexualidade; 
2. divulgar informações corretas e positivas em relação à homossexualidade, 
desmistificando tabus; 
3. conscientizar a comunidade homossexual da importância de organização 
em grupos em prol da defesa e luta pelos direitos. 
Bandeiras em apoio às causas LGBTIs
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
No Brasil, a movimentação em torno das questões da comunidade homossexual 
começou na década de 1980, quando foi realizado o 1º Encontro Brasileiro de 
Homossexuais, na cidade de São Paulo. Foi também nesse período que surgiram os 
primeiros grupos organizados. No entanto, foi na década de 1990 que o movimento 
teve maior visibilidade. Isso está associado a vários fatores, mas um que 
merece destaque foi o fato do mercado de bens e serviços atentar-se ao público 
homossexual, identificando-os como Gays, Lésbicas e Simpatizantes (GLS). 
Porém, em meio ao movimento, o grupo identificava-se como Movimento 
Homossexual Brasileiro (MHB). Somente em meados da década de 1990 é que 
passou a identificar-se como LGBT, isto é, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e 
Travestis. E foi em 2008 que a sigla ganhou o formato atual, LGBTI, que foi aprovado 
em um congresso nacional da categoria, dando maior visibilidade às lésbicas, que 
são oprimidas duplamente, por ser mulher e pela orientação sexual.
8
É importante ressaltar que anterior a esse momento, alguns eventos 
já marcavam as discussões sobre a temática. Um exemplo foi o 
Jornal Lampião, fundado em 1978, que tinha por objetivo discutir 
as temáticas referentes à homossexualidade.
Atenção
Com forte influência desse periódico, surgiu o primeiro grupo homossexual do 
Brasil, o Somos de São Paulo. Na sequência, muitos outros grupos surgiram com 
a finalidade de fortalecer a identidade e lutar por direitos, inclusive o Grupo Gay da 
Bahia (GGB), o mais antigo grupo homossexual atuante da América Latina. 
No final da década de 1980, muitos desses grupos sofreram desarticulações em 
virtude do advento da AIDS e da associação dessa como uma “epidemia gay”. 
Isso implicou que muitas pessoas ficaram receosas de assumir sua orientação 
sexual e serem associadas ao HIV. Nesse período começaram a surgir grupos 
de apoio à AIDS, articulando uma discussão mais ampla sobre a doença e 
a homossexualidade, no intuito de informar, proteger e romper preconceitos 
existentes sobre esses grupos. 
Nesse período, os grupos ativistas começaram a agir de maneira mais pragmática. 
Em 1994, articularam uma organização nacional, a Associação Brasileira de 
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). A organização, 
que iniciou com pouco mais de 10 grupos, atualmente é uma rede nacional com 
aproximadamente 300 organizações da comunidade LGBTI. 
Apesar de ter aumentado consideravelmente a rede, a ABGLT 
continua com a mesma responsabilidade de atuação de outrora, 
que visa à garantia e à promoção dos direitos da comunidade 
homossexual, além de ser um espaço para intercâmbio entre os 
grupos e um meio para a construção de uma agenda comum.
Atenção
Além da organização desses grupos e encontros, não podemos deixar de mencionar 
um fator que merece destaque sempre que se fala em público homossexual: as 
paradas da diversidade. A primeira aconteceu no Rio de Janeiro, em 1995, e dois 
anos depois, aconteceu a segunda edição, em São Paulo. 
9
Parada LGBT ou Parada do Orgulho Gay: é uma manifestação 
em prol da luta pelos direitos civis da comunidade homossexual 
e transgênero, acontece em forma de desfile, com muita música, 
dança e performances. Embora seu caráter seja festivo, é importante 
ressaltar o cunho social do evento e sua luta pelos direitos humanos. 
Curiosidade
Nesse percurso de 20 anos, a Parada da Diversidade tomou proporções gigantescas 
em diversas cidades do nosso país. A Parada de São Paulo chegou a atingir quatro 
milhões de pessoas e é considerada uma das maiores do mundo. Mas não foi 
somente a parada da diversidade que teve importantes mudanças. O cenário cotidiano 
da comunidade homossexual também mudou. Eles deixaram de viver em “guetos” e 
conquistaram alguns dos direitos que almejavam. No entanto, cabe ressaltar que ainda 
continuam a caminhada pela conquista plena de seus direitos civis.
Sugerimos a animação “Medo de quê?”, que faz parte do Kit Escola 
sem Homofobia. O desenho animado aborda diversas temáticas 
das questões de gênero: heteronormatividade, homoafetividade, 
orientação sexual, homofobia. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=cIoeUqBxhi0>.
Saiba mais
Importante direito alcançado é a legalidade da união estável entre pessoas do 
mesmo sexo. O reconhecimento aconteceu em maio de 2011, pelo Supremo 
Tribunal Federal. Pouco depois do reconhecimento da união estável para 
pessoas do mesmo sexo, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu 
uma resolução que obrigava todos os cartórios a realizarem casamento civil 
homoafetivo. Em dois anos após a resolução do CNJ, foram realizados 8.500 
casamentos homoafetivos, segundo o IBGE, 2015.
Esse fator é importante não apenas pelo reconhecimento social da união, mas 
também porque o casamento civil entre homossexuais garante os mesmos direitos 
que o casamento entre heterossexuais: inclusão em plano de saúde e seguro de 
vida, pensão alimentícia, direito sucessório e divisão dos bens adquiridos. 
10
Como sugestão de leitura complementar, deixamos aqui dois textos:
O primeiro deles é uma matéria da revista Galileu publicada em 
março de 2020 a respeito da sigla do movimento LGBTQI+A e de 
forma conceitual explica o que significa cada uma das letras e quais 
são os grupos representados por elas. Disponível em: <https://
revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/03/o-que-
significam-letras-da-sigla-lgbtqi.html>. Acesso em: 17 set. 2020. 
O segundo material se refere a uma outra matéria publicada 
no Blog social 1 do site UOL em junho de 2020, que atualiza 
um pouco mais o debate a respeito das concepções de cada 
grupo que compõe a sigla do movimento. Disponível em: 
<https://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2020/06/30/o-que-
significa-cada-letra-da-sigla-lgbtqia/#:~:text=Como%20
se%20sabe%2C%20o%20L,sexual%20por%20homens%20e%20
mulheres>. Acesso em: 17 set. 2020. 
Saiba mais
Por fim, importa destacar que cada vez mais na contemporaneidade a sigla do 
movimento tem ganhado mais letra como forma de expandire dar mais visibilidade 
as diferentes formas de identificação de gênero e orientação sexual atualmente 
a sigla tem sido: LGBTQI+A – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, travestis 
e transgêneros; Queer, os mais recentes incluídos na sigla são: o Intersexo e o 
Assexual e o sinal de + abarca outras diversidades de orientação sexual e de 
identidade gênero para além dessas citadas. 
Temos os Pansexual que se atraem por pessoas, isto é, independente da orientação 
sexual e/ou identificação de genero. Em algumas reportagens e manuscritos 
acadêmicos pode-se encontrar a com o P de Pansexual. 
Para finalizar, uma das pautas mais recorrentes da luta LGBTI é a criminalização da 
homofobia. Em um primeiro momento, a criminalização da homofobia não consiste 
em criar um estatuto intitulado homofobia, mas o de incluir o crime de homofobia 
em tipos penais já existentes. Atualmente existem alguns projetos de Lei da Câmara 
que visam essa iniciativa. 
O mais conhecido dele é o PLC nº 122/06 que altera a Lei do Racismo e o Código 
Penal. No primeiro caso, amplia a abrangência para punir crimes resultantes de 
11
discriminação, incluindo gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. 
Se aprovada a alteração da lei, a homofobia será considerada crime, assim como o 
racismo. O PLC também visa a alteração do Código Penal, incluindo elementos de 
gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero como injúria qualificada.
Fechamento 
Estudamos sobre a historicidade dos movimentos feministas e LGBTQI+A. Nesse 
contexto, é indispensável que se considere a importância dos movimentos sociais 
sobretudo os movimentos que lutam para dar visibilidade as suas causas e que 
lutam pelo fim da diferença, do preconceito e das desigualdades existentes. 
Estudamos também sobre a formação do movimento feminista, como ele surgiu, 
quais foram suas principais reivindicações e suas conquistas e o quanto que ele é 
necessário para que se possa com equidade equiparar os direitos entre as pessoas 
do gênero feminino e do gênero masculino. 
Por fim, também estudamos a respeito da formação do movimento LGBTQI+A, como 
ele surgiu, suas principais reivindicações, o que foi possível alcançar em termos 
de justiça e direitos sociais e civis e o que ainda permanece enquanto luta. Assim, 
afirmamos que, por meio do conhecimento disponibilizado na educação escolar, 
é possível ter conhecimento e sobretudo romper com padrões que originam a 
exclusão, violência e preconceitos contra a diversidade. 
12
Referências
CRAVEIRO, A.V. HAMDAN, K.O. Os novos movimentos sociais: uma análise crítica em 
torno desta temática. In: I congresso internacional de política social e serviço social: 
desafios contemporâneos. Londrina – PR. 2015. 
SCERER-WARREN, I. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: In: Revista 
História: debate e tendências V.7 nº 1, Passo Fundo – RS. 2008. 
DEBATENDO GÊNERO 
E SEXUALIDADE NA 
SOCIEDADE 
 
SST
RASCKE, Karla Leandro
Debatendo gênero e sexualidade na sociedade / Karla 
Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p. 11
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3
DEBATENDO GÊNERO E 
SEXUALIDADE NA SOCIEDADE 
Apresentação
Neste momento, trataremos de apresentar o estudo: Debatendo Gênero e Sexualidade 
na Sociedade. Estudaremos sobre o conceito de gênero enquanto uma importante 
categoria da área de humanidades que possibilita compreender as pessoas, suas 
identidades, orientações e papeis de modo amplo e plural. Também estudaremos a 
respeito das relações de gênero, dialogando com a diversidade sexual. 
E, por fim, iremos conhecer a importância de estudar sobre os conceitos de sexo e 
sexualidade, com suas diferenças conceituais e sua relação com o debate de gênero. 
Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de 
conhecimento e aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos. 
Bons estudos. 
GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DOS 
SUJEITOS E DA SOCIEDADE
Gênero, como definição gramatical, é utilizado para definir homem e mulher - isto 
é, gênero masculino e feminino. Conforme Ferreira (1986, p. 844), gênero é uma 
“categoria que indica, por meio de desinências, uma divisão dos nomes baseada 
em critérios tais como sexo e associações psicológicas”. Porém, numa perspectiva 
social dentro dos parâmetros da sociologia e da psicologia, a noção de gênero tem 
sido empregada para diferenciar socialmente as pessoas. 
Essa categoria não é apenas analítica, mas também histórica, no 
sentido de um contexto predominantemente masculino, em que 
a mulher sempre ocupou lugar de retaguarda, sendo visibilizada 
como um gênero fragilizado, e o homem gênero de força e poder. 
Atenção
4
Se gênero pode ser utilizado para analisar as relações sociais estabelecidas entre 
homens e mulheres, devemos compreender que as relações de gênero perpassam 
por várias facetas, desde as construções de papéis masculinos e femininos, a 
constituição de identidades, da sexualidade, da pluralidade de masculinidades e 
feminilidades, da hierarquia de gênero e, consequentemente, da violência de gênero. 
Para corrobora com esse debate Mello, nos informa que: 
As diferenças entre homens e mulheres fecundam-se na sociedade a partir 
de concepções sobre o que é feminilidade e masculinidade. São disputas 
simbólicas, que dizem respeito ao processo de reprodução social, seja na 
família, nas organizações religiosas, escolares, nos ambientes de trabalho 
e na vida política. (2020, p. 11)
Compete entender gênero para além do termo feminino e masculino, mas 
dimensionando a identidade do que é ser masculino ou feminino. Na 
contemporaneidade, a identificação envolve dificuldades e entraves sociais, 
políticos e mesmo morais, implicando que pessoas que não se veem no sexo em 
que nasceram, sofram com os ditames da sociedade em relação à identidade. 
Desde antes do nascimento de uma criança, com o resultado do ultrassom em 
mãos, a família começa a moldar seu lugar no mundo, e a partir de suas genitálias 
é que tudo se definirá. Se for menina, sua cor será rosa - decoração, roupas e 
acessórios terão a predominância dessa tonalidade. Caso seja menino, o padrão 
será a cor azul. Com o crescimento das crianças, essa dicotomia continua a 
ser sentida no modo de se vestir. No entanto, é por meio dos brinquedos e das 
brincadeiras adquiridos/permitidos para um e para outro - no caso, para outra – 
que isso será percebido de maneira mais enfática.
Cores como uma das formas de imposições de gênero
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
5
Essa dicotomia criada pela sociedade do ser masculino e feminino, determinando 
objetos, cores, modo de ser de meninos e meninas, comportamentos diferenciados 
para cada tipo de gênero, são coisas advindas e criadas pelo homem, impostas pela 
sociedade e todos as seguem como uma regra, reforçada de geração em geração. 
É a naturalização do gênero, como se para ser homem ou mulher bastasse nascer 
com uma ou outra genitália. Mas, será que é assim tão simples? 
Na década de 1950, Simone de Beauvoir já dizia que “ninguém nasce mulher: 
torna-se” (BEAUVOIR, 1980, p. 9). Isso se estende também para os homens. Nesse 
sentido, a dicotomia entre o ser feminino e/ou masculino não é definida apenas 
pelo determinismo biológico. Queremos com isso afirmar que, tanto o homem 
quanto a mulher são produtos de uma dada realidade sociocultural. Foi tentando 
problematizar essas relações de poder estabelecidas entre homens e mulheres que 
nasceu o conceito de gênero. 
O termo surgiu no mundo acadêmico, na década de 1980, em um diálogo constante 
entre o movimento feminista e pesquisadoras das mais diversas áreas: história, 
sociologia, antropologia, ciência política, entre outras. Foi por meio dos estudos 
sobre mulheres que o processo de desnaturalização do papel de submissão/
inferioridade, da qual a mulher estava destinada socialmente, passou a ser 
desconstruído. 
Foi com esse intuito que o conceito de gênero surgiu: refletir e desconstruir aideia de que as desigualdades e as convenções sociais estivessem associadas 
apenas ao determinismo biológico. Afinal, é a sociedade que, pautada na genitália, 
estabelece padrões e papéis distintos para homens e mulheres. Como afirmou 
Louro (2007, p. 55): 
Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres 
numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, mas sim 
tudo que socialmente se construiu sobre eles. 
Percebemos, desse modo, que os diferentes povos, ao longo dos períodos históricos 
de suas formações sociais, estabeleceram, e ainda estabelecem, comportamentos, 
papéis e atribuições para mulheres e homens. É importante perceber que, se 
todas as sociedades definissem comportamentos e parâmetros sociais apenas 
a partir do sexo biológico de cada pessoa, não teríamos as múltiplas formas de 
vivenciar a identidade de gênero, tal qual é possível atualmente, apesar dos muitos 
preconceitos e homofobias existentes.
6
O sexo é um dado biológico, relacionado ao nosso corpo físico – 
nosso órgão genital, seios, sistema reprodutor etc. –, o gênero é 
uma construção sociocultural.
Atenção
No entanto, cabe ressaltar que categoria gênero não é uma norma mecanicamente 
imposta, tampouco a encontraremos escrita em um código de leis. Ela se 
estabelece no cotidiano, em um jogo constante de poder e resistência. Essas 
relações estão em todos os campos: educação, saúde, trabalho, política, religião e 
nos momentos de lazer. 
É importante frisar que o próprio conceito de gênero está inserido em um contexto 
sociocultural, ou seja, ele também é uma construção e é sujeito a transformações. 
Existe, por exemplo, uma grande diferença entre ser uma mulher em nosso país 
ou no Oriente. Essa diferença também pode ser articulada em relação ao tempo, 
ou seja, há diferença entre ser mulher atualmente e ter sido mulher no começo do 
século XX. 
Inicialmente, gênero estava associado às discussões de/e para mulheres, focando 
na condição feminina e na percepção de como a categoria mulher era construída. O 
resultado disso foi uma homogeneização das mulheres, como sendo uma categoria 
única, sem atentar-se para outras diferenças como classe, etnia/raça, geração e 
orientação sexual. 
CONCEITOS DE SEXUALIDADE E SUA 
DIFERENÇA COM O CONCEITO DE 
SEXO
Em nossa sociedade contemporânea, ocidental, educamos meninas e meninos 
de formas distintas, atribuindo a cada um/a comportamentos que consideramos 
adequados a partir da genitália “descoberta” antes mesmo do nascimento. Assim, 
diferenças biológicas são utilizadas para construir diferenças sociais, muitas vezes, 
tidas como naturais, “normais”. 
7
Mas por que existem padrões comportamentais considerados corretos para 
meninas e meninos? 
Podemos perceber que esses padrões foram atribuídos a partir do sexo biológico, 
trazendo comportamentos, profissões, cores de roupas, brincadeiras, tudo atribuído 
a partir do sexo biológico. 
Sexo é um dado biológico, isto é, tudo aquilo relacionado ao nosso 
corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo).
Atenção
E, na verdade, ao pensarmos a esse respeito, verificamos o quanto esse tipo de 
educação tolheu homens e mulheres de brincar com que se sentiam atraídos para 
brincar em sua infância e não podiam pois era considerado brincadeira de menino 
ou menina. 
Tantas pessoas se frustraram em não poder escolher a profissão que se sentia mais 
contemplado/a porque talvez seja considerada profissão de homem ou profissão de 
mulher. 
Sendo assim, é importante salientarmos que essa construção cultural e educacional 
de atribuir papeis a serem exercidos através do sexo biológico, não tem relação 
alguma com o que pode ou não ser feito por homens e mulheres, podemos perceber 
que existem excelentes homens que são cozinheiros, e excelentes mulheres que 
exercem trabalhos na construção civil. Além disso, temos homens bailarinos que 
são condecorados no mundo com um dos melhores bailarinos do mundo. 
Outra questão importante é considerar que quando se fala em sexo, não 
estamos querendo incitar e ensinar as crianças a fazerem sexo, mas explicá-las 
biologicamente como são seus corpos e suas diferenças. Da mesma forma quando 
se fala em sexualidade precisamos ter o conhecimento de que a sexualidade não 
é sinônimo do ato sexual entre pessoas, mas para além disso; sexualidade é toda 
sensação de prazer que as pessoas sentem quando fazem alguma atividade que 
lhes proporcionam, boas sensações, leveza e prazer em estar fazendo. Como por 
exemplo: uma pessoa que ama ler livros, e sentem bem em fazer leituras, está nesse 
ato desenvolvendo sua sexualidade. 
8
E, por fim, quando aludimos sobre gênero, é reconhecer que foram papeis 
estabelecidos socialmente e culturalmente através dos sexos, mas, podemos romper 
com essa forma rígida e entender que homens e mulheres podem desde de sua 
infância brincar com qualquer brincadeira saudável, podem escolher a profissão que 
se sentem mais contemplados, e ainda escolherem usar a cor de roupa que quiserem, 
pois nada disso irá interferir em sua sexualidade e tampouco no seu órgão biológico. 
Conceitos
Sexo: Orgão reprodutor 
feminino e masculino 
Gênero: São papéis 
atribuídos aos sexos 
masculino e feminino, 
determinados por um 
processo de educação e 
cultura moralista
Sexualidade: faz parte da 
personalidade de cada um, 
é uma necessidade básica e 
um aspecto do ser humano 
que não pode ser separado 
de outros aspectos da vida. 
Sexualidade não é sinônimo 
de relação sexual e não se 
limita à ocorrência ou não 
de orgasmo.
Fonte: Elaborada pela autora (2020)
Portanto, consideramos que existem ainda muitas questões envolvendo 
sexualidade, gênero e diversidade geram polêmicas e/ou envolvem tabus da 
sociedade, necessitando atenção e cuidados no desenvolvimento de abordagens e 
análises, de modo a compreender a multiplicidade de sujeitos sociais e suas lutas 
por dignidade e direito à vida.
RELAÇÕES DE GÊNERO 
Se pensarmos em gênero como uma categoria relacional, ao utilizarmos o termo 
relações de gênero estamos tornando explícito o que se mantinha nas entrelinhas. 
Nesse sentido, toda a ação humana, seja em qual for o espaço, é permeada por 
9
relações de gênero. É aí que se constroem as identidades de gênero, é no contraste 
com o outro que acontece a (re)significação, é nesse momento que a pessoa se 
identifica como isso ou aquilo. 
Desse modo, como afirmou Scott (1995), percebe-se que gênero é o primeiro 
modo de dar significados às diferenças. E essas diferenças, como já afirmado, são 
construídas socialmente. Nesse sentido, o gênero feminino e o gênero masculino 
estão em um processo social contínuo. Essa categoria relacional é o que define ser 
homem e ser mulher e o que se espera socialmente de um é diferente do que se 
espera do outro. 
Relações de gênero e desigualdade de oportunidades
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Essa divisão binária entre o masculino e o feminino foram as primeiras concepções 
das relações de gênero, ainda com o enfoque pautado na relação do sexo feminino 
e masculino, não conseguindo se desvincular das características biológicas. Uma 
estrutura essencialista e fixa, esquema que começou a apresentar-se limitado para 
explicar a complexidade social a que as pessoas e suas relações estavam imersas. 
O que podemos entender é que as transformações cotidianas, como a globalização, 
os multiculturalismos e a socialização dos conhecimentos advindos da internet 
proporcionam mudanças na sociedade e isso faz com que as relações de gênero 
mudem também. Porém a pergunta é: estariam a sociedade pronta para tantas 
mudanças e informações? Na atualidade, por exemplo, é impossível afirmar que 
exista uma divisão estática entre o que é masculino e o que é feminino. Inclusive 
existem identidades de gênero que não se encaixam totalmente nessa divisão binária.
10
A respeito de abordagens sobre diversidade sexual e de gênero, 
sugerimos consultar o site “Grupo de Pesquisa Sexualidade e 
Escola”, em que vocêirá encontrar teses, dissertações, livros em 
pdf, indicações diversas de material relacionado ao tema: <http://
sexualidadeescola.furg.br/index.php>. Acesso em: 16 set. 2020. 
Saiba mais
Fechamento 
Os estudos em questão nos possibilitaram aprendermos sobre o que é genero, 
sua construção na sociedade. Também aprendemos sobre o que é sexo, e sua 
diferença entre sexualidade e genero e estudamos sobre as relações de gênero. 
Estudamos também que sexualidade não é sinônimo de relação sexual e orgasmo 
ou a ausencia dele. Entendemos que que homens e mulheres podem brincar em 
sua infância, escolher o esporte, profissão cor de roupa independente do que 
foi atribuido a ele/a usar e/ou ser, pois isso não interferirá em sua sexualidade 
tampouco em seu sexo biológico. 
Por fim, apreendemos que gênero e sexualidade estão em diálogo e que devemos 
estar em constante estudo e aprendizagem para que possamos romper com as 
barreiras do achismo e do preconceito que ainda persistem e ao invés de informar e 
orientar corretamente, criam estigmas, tabus e reforçam os processos de exclusão 
social e preconceitos. 
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Referências
BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo, Tradução Sérgio Milliet, v. I, II. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª 
ed. 18. Impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
LOURO. G. L. O corpo educado: pedagogia da sexualidade. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2007. 
MELLO, F.A. de. A violência doméstica contra mulheres no Programa 
Casa Abrigo Regional ABC: questões para o serviço social. Dissertação de 
Mestrado apresentada ao programa de estudos pós graduados em Serviço Social 
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP – para a obtenção do grau de 
Mestra em Serviço Social. – São Paulo – SP. 2020. Disponível em: <https://tede2.
pucsp.br/bitstream/handle/23163/2/Flaviana%20Aparecida%20de%20Mello.pdf>. 
Acesso em 16 de set. de 2020.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. 
Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99. jul./dez. 1995.

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