Prévia do material em texto
MÓDULO 5 EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA FUNDAMENTAL E MÉDIO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DANYELLE NILIN GONÇALVES MARIA CLARA RIBEIRO MARTINS SUMÁRIO 1. Introdução ........................................................................ 67 2. Cidadania e direitos humanos ............................................. 68 3. Educação e cidadania: alguns enfoques ................................ 70 4. O que dizem os documentos oficiais? ................................... 72 5. Cidadania e escola básica: aproximando crianças, adolescentes e jovens ......................................................... 74 6. Práticas pedagógicas e cidadania ........................................ 76 Referências ....................................................................... 78 66 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste 1 INTRODUÇÃO Em algum momento, você deve ter ouvido alguém falar que política não se discute. Essa frase está no imaginário popular há muito tem- po e reflete como os indivíduos veem o cam- po político como algo distante da própria realidade. Ainda que a participação política tenha se mostrado mais evidente nos últi- mos anos, principalmente após a ascensão das plataformas digitais, como o Facebook, o Brasil ainda é um país em que apenas uma parte restrita da sociedade entende como funciona o sistema democrático. Para além do voto, das eleições e da atuação dos(as) governantes, muita gente não co- nhece os próprios direitos e deveres, sendo impedidos(as), assim, de desfrutar plena- mente da própria cidadania. Esse cenário se apresenta como um grande desafio, afinal, a consolidação da democracia no nosso país passa também pela formação de uma sociedade consciente, capaz de contribuir para a construção de um país cada vez melhor. Afinal isso também depende de nós. Diante disso, a educação política surge como uma ferramenta fundamental para modificar essa realidade. Neste Fascículo, você compreenderá o papel das práticas pedagógicas no ambien- te escolar para a formação de cidadãos(as) engajados(as). Por muito tempo, a escola foi vista como um lugar que reproduz uma educação bancária , prezando apenas pela irrestrita transferência de conhecimentos e desenvolvimento de algu- mas habilidades, como a leitura e a escrita. Essa percepção da educação tende a colocar o(a) educando(a) numa posição de passividade, como um mero acumulador de informações e técnicas, capaz de corresponder expectativas mercadológicas e ter aptidão para o mercado de trabalho. Nesse modelo, não há preocupa- ção com uma formação humanizada e, dessa maneira, o ambiente escolar passa a ser, princi- palmente, um local de reprodução sistemática das desigualdades sociais (Freire, 2019). Contudo, existem propostas que reivindi- cam o exercício de uma educação crítica. No Brasil, essa vertente tem sido endossada prin- cipalmente após o processo de redemocrati- zação, uma vez que a escola, amparada pela LDB/1996 e outros dispositivos legais, passou a ter entre seus principais objetivos, a formação de cidadãos(ãs) dotados de valores democrá- ticos e aptos a viverem em sociedade. Assim, essa outra perspectiva alimenta uma postura cidadã ativa, uma vez que incentiva os(as) estu- dantes a participarem ativamente do processo de aprendizado, criando as possibilidades ne- cessárias para a produção e construção do pró- prio conhecimento, como sugere o pedagogo Paulo Freire, patrono da educação brasileira. Nessa perspectiva, o ambiente escolar dei- xa de ser um mero local de habilitação para o mercado de trabalho e passa a ter, dentre ou- tras atribuições, o papel de acolher e respei- tar os conhecimentos e as vivências dos(as) educandos(as), assim como de incentivar as potencialidades que possam contribuir para a formação de uma sociedade menos desigual, mais justa e inclusiva. Percebe-se, assim, que a função social da escola passa a ser, dentre ou- tras coisas, a de contribuir para o exercício de uma cidadania ativa, a partir de uma educação crítica e comprometida com valores democráti- cos, como a tolerância e o respeito à diversida- de. Assim, o compromisso do ambiente escolar não é apenas formar bons profissionais, mas também auxiliar na construção de um país mais harmônico e fraterno. Você sabia?Você sabia? A escola também atua enquanto um ambiente de integração e so- cialização dos indivíduos. Por meio dos esportes, por exemplo, é possí- vel desenvolver senso de liderança, respeito e cooperação, além de ou- tros benefícios relacionados à saú- de física e mental dos estudantes . 1FONTE: Ministério da educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/33410-esporte-na-escola> Acesso em 20 de julho de 2023. EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 67 2 CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS A educação é uma das atividades sociais mais elementares, pois além de desenvolver os indivídu- os, ajuda a formar a sociedade. Podemos dizer que ela está presente em diferentes sociedades, em todos os tempos. Nas sociedades contemporâneas, além da educação informal, aquela que se dá a partir da experiência do cotidiano, da experimen- tação, repetição de hábitos e aprendizagem de novas práticas, há também a educação formal, aquela que se aprende na escola, a partir de currículos, de métodos específicos e de avaliações. Ao mesmo tempo que ela é uma atividade eminentemente humana, é também um direito humano fundamental . Podemos dizer que a educação é um di- reito social e está diretamente relacionada com a construção da cidadania. Por isso, é necessário cobrar do Estado a garantia de que os indivíduos tenham acesso à edu- cação formal, legitimada pela sociedade contemporânea, já que ela possibilita ao in- divíduo o mínimo de acesso ao padrão civi- lizacional. À medida que as crianças, jovens e adultos têm acesso à escola, eles(as) têm a possibilidade de refletir sobre o que é cida- dania e de participar ativamente do seu pro- cesso de construção, mudando assim suas vidas e de suas comunidades. Todavia, como aprendemos em fascícu- los anteriores, os sentidos atribuídos à cida- dania não são universais e imutáveis, já que dependem das transformações históricas, culturais e sociais vividas. Os termos “cida- dania” e “direitos humanos” no Brasil, muitas vezes, se confundem, sendo esvaziados de sentido e usados de maneira contraditória. Cidadania, às vezes, é confundida somente com a ideia de ter direitos e deveres, atri- buindo a essa proposição de que cidadão(ã) é aquele(a) que cumpre fielmente as regras da coletividade. Nessa perspectiva, indivídu- os que cometem crimes e delitos estariam excluídos automaticamente da condição de cidadãos(ãs). Assim, não seriam dignos(as) do acesso aos direitos humanos. Podemos nos perguntar: alguém pode ser excluído do acesso aos direitos huma- nos? Afinal, o que são os tão proclamados direitos humanos? Como surgiram e a quem são destinados? Eles foram definidos numa Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, motivados pelos hor- rores produzidos na Segunda Guerra Mun- dial. São, portanto, um conjunto de normas e proposições que reconhecem a necessida- de de proteger a dignidade de todos os se- res humanos, como um ideal a ser atingido por todos os povos. 68 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste A Declaração dos Direitos Humanos abarca o conjunto da vida social e enumera uma série de direitos: à vida, à liberdade e à segurança pessoal, à liberdade de loco- moção e residência dentro das fronteiras de cada estado, à propriedade, à seguran- ça social, ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho, à proteção contra o desemprego, a uma remuneração justa, ao repouso e lazer, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, à instrução, à vida cultural da comunidade e outros. Ela também reafirma o direito a tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representanteslivremente escolhidos, à liberdade de reunião e associação pacífica, à liberdade de opinião e expressão. Também deixa claro que tudo isso implica deveres e compromissos em relação ao bem da comunidade. Embora garantidos pela declaração dos direitos humanos e pelas Constituições dos pa- íses, muitas vezes esses direitos não são efetiva- dos. Em muitos casos, as pessoas nem se dão conta de que têm direitos sociais, civis e políti- cos ou que eles estão sendo violados. Para sua real efetivação, além do papel do Estado, a so- ciedade civil deve organizar-se em sua defesa e promoção, sendo uma tarefa, portanto, de toda a coletividade. Pela função social a ela atribuí- da na contemporaneidade, a escola tem papel crucial na educação para o exercício da cidada- nia e dos direitos humanos. EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 69 3 EDUCAÇÃO E CIDADANIA: ALGUNS ENFOQUES O jurista Dalmo Dallari, especia- lista em direitos humanos, afir- ma que os(as) docentes têm grande responsabilidade e po- der na transmissão e promoção dos valo- res democráticos, uma vez que dispõem da possibilidade de influir para a correção de problemas históricos e distorções profun- damente injustas. É aqui onde se mostra a força dos(as) professores(as): na valiosa contribuição para a formação de uma nova sociedade em que a dignidade humana seja, de fato, o primeiro dos valores e, a partir daí as pessoas se respeitem recipro- camente e sejam solidárias umas com as outras (Dallari, 2004, p.42). Para que isso ocorra, é necessário pri- meiramente que os(as) próprios(as) docen- tes tenham consciência dos seus direitos e do seu papel social. Como questiona Padi- lha: como alguém que não se respeita, que não respeita os seus próprios direitos, que às vezes nem os conhece e que não sabe defendê-los, poderia ensinar outro alguém sobre o exercício de algum direito ou sobre qualquer outro conteúdo de forma crítica e emancipadora? Ou como alguém que está desacostumado a ser ético pode agir socialmente com justiça? Ou, ainda, como um(a) professor(a) que se deixa vencer pela 70 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste rotina, por mais dura que possa ser, pode contribuir para a formação de sujeitos que exerçam plenamente a sua cidadania e sai- bam defender seus direitos civis, sociais e políticos? (Padilha, 2008, p. 27-28). Porém, nem sempre a atuação do(a) professor(a) e da educação promovem efetivamente a cidadania. Isso porque há diferentes enfoques a respeito da cidada- nia e a partir deles, diferentes propostas e, consequentemente, resultados distintos. Primeiramente devemos nos perguntar: toda ideia de cidadania é crítica? Toda pro- posição de cidadania conduz a formação de estudantes críticos(as), engajados(as) coletivamente, conscientes do seu papel e de seus direitos? A resposta é não! Madeira et al (2012) apresentam duas perspectivas de cidadania e suas implica- ções para as práticas pedagógicas. A primei- ra defende o exercício da cidadania numa dimensão mais tradicional, vinculada sim- plesmente à realização de direitos e deve- res. Educar para cidadania, nessa lógica, se encerra muitas vezes na difusão dos direitos e deveres presentes na lei. Em outra dimensão mais crítica, a cidada- nia é entendida como atividade de produção de direitos para além daqueles concedidos pela lei, sendo, portanto, uma conquista construída e (re)construída continuamente na vivência em sociedade. Nesse aspecto, além de os sujeitos se verem como seres li- vres e autônomos, também se percebem como partes de uma comunidade. O resulta- do disso implica um sentido de pertencimen- to, mas também de protagonismo e de res- ponsabilidade pelo espaço social e coletivo . O que vai fazer a diferença na adoção de uma ou outra perspectiva será a prática pe- dagógica do(a) educador(a), que pode traba- lhar a partir de uma visão estreita e passiva de cidadania ou, ao contrário, estimular uma postura mais complexa, crítica e ativa dos(as) alunos(as), não se limitando simplesmente a apresentar a cidadania como assunto em algumas aulas, mas torná-la fundamento de sua prática e uma vivência real. Denominamos educação política para a cidadania o processo de socialização de conhecimentos que ajude as pessoas a compreenderem os desafios da vida cole- tiva, os debates políticos e, em certa me- dida, a participar mais ativamente desses processos. Percebemos que isso é algo mais do que necessário para a sociedade brasileira, não é? E é também um desejo das pessoas. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2019, 71% dos entrevistados acreditavam na importância de debater assuntos políticos e cívicos na escola e 54% apoiavam a inserção dessas temáticas no currículo. EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 71 4 O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS? A esse ponto, você já deve ter aprendido um pouco mais sobre a importância da educação polí- tica nas escolas. Mas, amparada em quê essa possibilidade se torna viável? Neste tópico, será possível aprender como os principais dispositivos legais possibilitam a existência de uma educação crítica e cida- dã no ambiente escolar. O processo de redemocratização do Bra- sil incidiu diretamente no campo educacio- nal do país. A reformulação da Constituição Federal (CF), em 1988, enfatizou preceitos fundamentais ligados ao acesso à cidada- nia e à dignidade humana. A educação pas- sou a ser um direito de todos(as) e dever do Estado e da família, tendo entre os princi- pais objetivos a promoção e o incentivo do pleno desenvolvimento da pessoa e uma formação cidadã e laboral. (Brasil: 1988). A seguir, veja o que cada documento fala so- bre o ambiente escolar como um lugar privi- legiado para o exercício da cidadania e para a formação de indivíduos críticos: 72 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste A partir dos destaques anteriores, você deve ter percebido que as proposições pre- sentes na CF, LDB, DCNEB e BNCC contri- buem para o fomento de uma educação política efetiva no ambiente escolar, pois en- dossam a necessidade de uma formação li- gada a valores republicanos e democráticos, que tornam os indivíduos mais conscientes da própria dignidade e os encoraja a desen- volver uma participação cidadã ativa . Assim, pode-se inferir que a educação política no ambiente escolar é encorajada através dos dispositivos legais menciona- dos, que, em conjunto, reiteram a necessi- dade de os(as) estudantes desenvolverem uma postura cidadã ativa a partir da autono- mia, do conhecimento crítico, da tolerância e do respeito às diferenças. LEI DE DIRETRIZES E BASES (LDB) A LDB é responsável por regulamentar as disposições sobre o sistema educacional brasileiro, garantidas pela Constituição. No artigo 22 do documento, consta que uma das finalidades da educação básica é desenvolver o educando, assegurando uma formação para o exercício da cidadania. Além disso, também reitera valores essenciais para a estru- turação de um ambiente escolar democrático, como o apreço à tolerância, o pluralismo de ideias e a liberdade de pensamento e expressão. (Brasil:1996) DIRETRIZES CURRICULARES NACIO- NAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA (DCNEB) Na DCNEB, o acesso à educação é visto como um direito humano universal e inalienável, capaz de capacitar os indivíduos para o exercício de outros direitos. Uma das proposi- ções é a de que a educação escolar assuma o dever de formar sujeitos conscientes dos próprios direitos e deveres, tornando-os comprometidos com a transformação social e a difusão ética de valores como liberdade, justiça, pluralidade, solidariedade e sustentabili- dade. (Brasil:2013) BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) A Base Nacional Curricular Comum busca assegurar aos/às estudantes o desenvolvimen- to de habilidades que auxiliem no processo de aprendizagem, preparando-os(as) para lidar com questões próprias da vida pessoal e laboral. As competências propostas pela BNCC visam, dentre outras coisas, contribuirpara a formação de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva, que valoriza a diversidade de saberes, incentiva e promove os direitos humanos e socioambientais. No documento, também é citado que a educação deve incentivar o exercício da cidadania e o pensamento crítico. (Brasil: 2018) EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 73 5 CIDADANIA E ESCOLA BÁSICA: APROXIMANDO CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS Você deve estar se perguntando: mas esses temas não são difíceis de serem debatidos em sala de aula? Ou ainda deve estar pen- sando: política e cidadania não são assunto para crianças e adolescentes. Respondemos que sim, esse é um assunto de todos(as), afi- nal, fazemos parte da sociedade desde que nascemos e entender os desafios da coleti- vidade é uma tarefa social que leva tempo e, portanto, precisa ser construída cotidiana- mente. Além disso, é bom lembrarmos que as crianças são sujeitos constituídos de di- reitos e, portanto, também são impactadas pelas decisões tomadas pelos outros. Adotando metodologias específicas e ade- quadas à cada etapa do ensino, tornamos essas discussões bem mais próximas da vida do(a) discente e fáceis de serem entendidas, o que faz o processo interessante para todos(as). Esses temas e práticas não somente podem, como devem ser discutidos e, sobretudo, vi- venciados no cotidiano escolar e não apenas em momentos específicos. Afinal, estar na es- cola traz a possibilidade de vermos como re- gras são pensadas e executadas (desde os ca- lendários letivos, horários de entrada e saída, 74 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Quer saber mais?Quer saber mais? Neste artigo, você encontrará reflexões sobre como abordar os temas da Política e Democracia com crianças e adolescentes. Acesse o site ou veja no QRCode: https://claudia.abril.com.br/politica- -poder/criando-cidadaos-como-tratar-de-politica-com-criancas-e-adolescentes . avaliações); como há interesses diferentes e como a vida social requer negociações (como os pactos estabelecidos entre docentes e dis- centes); como se pode participar de decisões seja na condição de eleitores(as) (como na eleição de diretores(as)) ou de integrantes de instâncias colegiadas de tomada de decisão (como o Conselho Escolar e Grêmios Estudan- tis). A escola gera a reflexão sobre como a edu- cação é um direito social que impacta a vida das pessoas, como os direitos são violados e o que pode ser feito para que isso não ocorra. Todas essas situações são extremamente pe- dagógicas e podem ser trabalhadas em sala de aula à medida que vão surgindo. A política na vida cotidiana então se torna o material para a análise. Consideramos, portanto, que não há lu- gar mais fértil para essas discussões, afinal a escola é também espaço do contraditório, das diferenças e da diversidade. Um lugar, portanto, para se exercitar empatia, respei- to, tolerância e capacidade de negociação, tudo o que compõe a ideia de democracia. EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 75 6 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E CIDADANIA Vimos que a educação política pode ser bem instigante para os(as) dis- centes e docentes. No ambiente escolar, pode-se utilizar ferramen- tas e recursos educacionais que auxiliem no desenvolvimento de conhecimentos e habilidades que dialogam com conceitos e práticas ligadas à cidadania. O cinema, por exemplo, pode ser um aliado. A partir de filmes e documentários é possível mobilizar as turmas para a rea- lização de debates sobre acontecimentos históricos, políticos, culturais e sociais. As eleições de grêmios escolares também são uma oportunidade educativa e participativa ímpar para se discutir sobre o formato da democracia brasileira. Demonstram, na prá- tica, como se dá a representação política, que bandeiras e proposições são defendidas e como ocorrem as escolhas feitas através do voto (Martins; Dayewll: 2013). Esses são apenas alguns exemplos práticos que po- dem auxiliar nas discussões sobre conceitos clássicos como democracia, representação e participação popular. As disciplinas eletivas que surgem na esteira do Novo Ensino Médio aparecem como oportunidades para reforçar uma educação política mais eficaz nas escolas. É possível, por exemplo, ministrar uma disciplina sobre Fake News, onde os(as) estudantes, além de entenderem sobre os malefícios das notícias falsas na sociedade, também podem aprender a realizar a che- cagem de notícias e estimular que produ- zam experiências inovadoras. Além dos recursos já consagrados em sala de aula, o uso de metodologias ativas são fer- ramentas importantes nesse processo: assim se inverte a lógica da produção de conheci- mento e se estimulam posturas mais ativas que promovam o verdadeiro protagonismo estudantil, algo tão presente na BNCC. Os ex- perimentos sociais, produção de pesquisas realizadas por estudantes, oficinas, rodas de conversa e uso de games temáticos são algu- mas dessas possibilidades. Para as crianças e pré-adolescentes, a própria experiência cotidiana em sala de aula pode ser aproveitada para trazer à tona essas temáticas, além da oferta de livros infanto-juvenis que tratam do assunto. Já há um bom número de obras sobre política, cidadania e temas afins para esse público. VOCÊ SABIA? VOCÊ SABIA? A Coordenadoria de Protagonismo Estudantil da Secretaria de Educação do Es- tado do Ceará tem uma Célula de Projetos Educacionais, Articulação e Mobilização Estudantil (CEPEA). Ela é responsável pelos seguintes programas: Grêmio Estudan- til, Grupos Cooperativos de Apoio à Escola (Gcape), Círculo de Leitura, Jovens Em- baixadores, Jovem Senador, Parlamento Jovem Brasileiro e Eleitor do Futuro. Para conhecer mais, acesse https://www.seduc.ce.gov.br/protagonismo-estudantil/ 76 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste SUGESTÃO: SUGESTÃO: Como diversos estudos de- monstram, a educação política nas escolas pode acontecer, também, através da criação de um podcast escolar. Os próprios alunos, com a ajuda dos professores, podem ficar encarregados de falar sobre temá- ticas que envolvam política e cida- dania a partir de uma linguagem e de exemplos práticos que sejam in- teressantes ao público-alvo. É uma atividade que pode interessar aos estudantes e tem um baixo custo para sua efetivação. Acesse o QRco- de e veja a sugestão de um artigo para inspirar você! (Moura; Carva- lho: 2006) EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 77 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Fe- derativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Se- cretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DI- CEI, 2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BENEVIDES, M. V. Educação para a demo- cracia. Lua Nova, São Paulo, n. 38, p. 223- 237, 1996. DALLARI. D. A. Um breve histórico dos direitos humanos. In: CARVALHO, J. S. (Org.). Educação, cidadania e direitos hu- Neste fascículo, fizemos uma discussão sobre o papel da escola como promotora da educação para a cidadania. Vimos que, além dos conteúdos que constituem pro- priamente a atuação pedagógica em sala de aula, o ambiente escolar proporciona uma diversidade de experiências e práticas a partir das quais podemos refletir sobre política, democracia e cidadania. Feito esse percurso, te convidamos a experimentar e construir novos repertórios no campo da educação política para a cidadania! 78 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste SOBRE AS AUTORAS: Danyelle Nilin Gonçalvesé cientista social, Mestra e Doutora em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universi- dade Federal do Ceará. Professora do Depar- tamento de Ciências Sociais da UFC. Coorde- nadora de Sociologia do Programa Residência Pedagógica/Capes. Coordenadora Nacional do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (Profsocio). Maria Clara Ribeiro Martins é cientista so- cial, Mestra e Doutoranda em sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. manos. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 19-42. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educati- va. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MADEIRA, Michelande Cardoso et al.. Prá- tica pedagógica e cidadania: contradi- ções nas práticas que formam o cida- dão. Anais IV FIPED... Campina Grande: Realize Editora, 2012. Disponível em: <ht- tps://editorarealize.com.br/artigo/visuali- zar/466>. Acesso em: 22/07/2023 13:40 MARTINS, André S.; DAYRELL, Juarez T. Juventude e Participação: o grêmio estudantil como espaço educativo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 38, n. 4, p. 1267-1282, out./dez. 2013. MOURA, Adelina.; CARVALHO, Ana Amélia A. Podcast: potencialidades na educação. Prisma.com, Portugal, n. 3, p. 88-110, 2006. PADILHA, Paulo R. Educação em direitos humanos sob a ótica dos ensinamentos de Paulo Freire. Revista Múltiplas Leitu- ras, v.1, n. 2, p. 23-35, jul. / dez, 2008. EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 79 AUTORES: Maria Clara Ribeiro Cientista social, mestra e doutoranda em sociologia pelo Programa de Pós-Gra- duação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. Danyelle Nilin Gonçalves Cientista social, mestra e Doutora em sociologia pelo Programa de Pós-Gradua- ção em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. Professora do Departa- mento de Ciências Sociais da UFC. Coordenadora de Sociologia do programa residência pedagógica/Capes. Coordenadora nacional do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional ( Profsocio). Apoio: Parceria: Realização: Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6006 - 3255.6276 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA Luciana Dummar Presidente | André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro | Marcos Tardin Gerente-Geral | Lia Leite Gerente Editorial | Andréa Araújo Gerente de Marketing e Design | Chico Marinho Gerente de Audiovisual | Raymundo Netto Gerente de Projetos | Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analistas de Projetos | Narcez Bessa Analista de Contas UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Deglaucy Jorge Gerente Educacional | Jôsy Cavalcante Coordenadora Pedagógica | Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos | Márcia Doudement Secretária Escolar | Isabela Marques Desenvolvedora Front-End | Ágata Ribeiro e Alisson Aragão Estagiários(as) em Mídias e Tecnologias para Educação | Bianka Silva, Lucas Gomes Gonçalves e Wesley Militão Fernandes Mendes Estagiários(as) em Letras POLÍTICO, EU!?! – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO POLÍTICO-CIDADÃ Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral | Monalisa Soares Coordenadora de Conteúdo | Lia Leite Coordenadora Editorial | Daniel Oiticica Revisor | Andrea Araujo Projeto Gráfico e Editora de Design | Mariana Araujo e Welton Travassos Designer Gráfico | Carlus Campos Ilustrador | Daniele de Andrade Analista de Projetos ISBN: 978-65-5383-073-8