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DIDÁTICA Unidade 1 Fundamentos da Didática CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA MARLY SAVIOLI 4 DIDÁTICA U ni da de 1 A U TO RI A Marly Savioli Olá! Sou mestranda em Educação e pós-graduada em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Além disso, sou formada em Pedagogia, com especialização em Administração e Supervisão Escolar. Tenho 35 anos de experiência técnico-profissional na área educacional, durante os quais trabalhei para escolas particulares, Prefeituras Municipais e Assessorias Educacionais em geral. Como educadora, exerci nas escolas diversos papéis, como professora, orientadora educacional, coordenadora pedagógica, vice-diretora e diretora. Por acreditar nas pessoas e na capacidade de mudar o mundo por meio da educação, trabalho atualmente para a Fundação Lemann como formadora de educadores e gestores educacionais, orientando-os e subsidiando seus trabalhos com caminhos mais eficazes. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 5DIDÁTICA U ni da de 1 ÍC O N ES 6 DIDÁTICA U ni da de 1 SU M Á RI O A Didática: conceitualização e características ....................... 9 O que o ensino e a aprendizagem têm a ver com a Didática? .................. 11 Conceitualizando a Didática ............................................................................15 Grandes educadores e a Didática .......................................... 22 Dados históricos e tendências pedagógicas ................................................ 29 Educação, definições e processos .......................................... 38 Evolução Histórica da Educação e Didática .................................................. 38 A educação ..........................................................................................................40 A Educação e a legislação ................................................................................42 Desafios contemporâneos e novas perspectivas em didática .................. 45 Educação como forma de dominação ................................... 49 A educação .........................................................................................................50 Os processos educacionais .............................................................................55 Mecanismos pedagógicos de controle e conformidade ............................ 56 7DIDÁTICA U ni da de 1 A PR ES EN TA ÇÃ O A disciplina Didática faz parte da cadeia de estudos da Educação que busca compreender o processo de ensino e aprendizagem em sua multidimensionalidade. O objetivo da disciplina é promover diferentes formas e práticas de interação entre professores e alunos no contexto educacional de aprendizagem e nas circunstâncias históricas, sociais e culturais em que são construídos os conhecimentos. Existe, também, a ação intencional de organizar de forma sistematizada os conteúdos, buscando responder “por que’, ”para que” e “como” fazer, além de “qual a importância da aprendizagem. Ademais, pretende-se proporcionar a reflexão do processo da avaliação e as formas como ele acontece. Nesta unidade de ensino, vamos buscar clarear mais cada aspecto que envolve a Didática, iniciando por suas acepções e históricos e conhecendo diversos educadores que se destacaram por suas ideias sobre a aprendizagem. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você mergulhará nesse universo! 8 DIDÁTICA U ni da de 1 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender a conceitualização e as características dos fundamentos didáticos. 2. Identificar os grandes educadores e suas teorias sobre Didática. 3. Refletir sobre a história do processo de ensino e as tendências pedagógicas. 4. Reconhecer as acepções e os processos da educação. 9DIDÁTICA U ni da de 1 A Didática: conceitualização e características OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que é a Didática, bem como suas características. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! A escola se transformou em sua essência. O que antes era um espaço de ensino, no qual professores eram os supremos conhecedores da cognição científica, os alunos, meros expectadores, e a reprodução do conhecimento, a base do trabalho pedagógico, hoje se transformou em uma área de desafios constantes. O professor já não consegue garantir o aprendizado com apenas a transmissão do conhecimento em aulas expositivas, como fazia antes. Até meados do século XX, a tendência pedagógica tradicional dominou o cenário brasileiro. Dentro dessa perspectiva, a função do professor centra-se na transmissão dos conhecimentos científicos visando à adaptação do aluno à sociedade. Na abordagem tradicional, é o professor quem ocupa o centro do processo educativo, sendo o único detentor do conhecimento. O seu papel é garantir que, por meio da memorização e da repetição de exercícios, o aluno memorize os conteúdos estudados. Os procedimentos didáticos não levam em conta o contexto escolar nem os problemas reais vivenciados na realidade social. A diversidade cultural encontrada atualmente nas escolas teve sua origem na democratização do ensino. Antes, os professores lidavam com alunos oriundos das classes sociais mais abastadas. Com a Constituição de 1988, a educação 10 DIDÁTICA U ni da de 1 tornou-se um direito de todos e um dever do Estado. Com isso, encontramos nas escolas pessoas com diversas características e situações socioeconômicas múltiplas. A tecnologia, a violência e as transformações da sociedade trazem um desafio crescente para o educador. Como trabalhar conteúdos e competências com alunos que não desejam estar no espaço escolar? Como motivá-los? Como usar essa tecnologia como apoio didático? Para responder a essa pergunta, precisamos mergulhar no universo da didática, que abreviadamente pode ser entendida como a prática de ensino que o professor escolhe para que ocorra a aprendizagem. A palavra “Didática” vem do grego Téchne Didaktike, que significa o dom de ensinar. Com o surgimento da Pedagogia Moderna, rompeu-se a ideia de que para ensinar basta ter um dom ou gostar de crianças. A Pedagogia como “a ciência que investiga a teoria e a prática da educação tem como um ramo de estudo a Didática. A Didática, nesse sentido, é entendida como a Prática do Ensino” (Libâneo, 2013, p. 24). A Didática é um ramo de estudo exclusivo da Pedagogia. Sendo assim, seu objeto de estudo é o ensino- aprendizagem. A Didática vem do campo das ciências humanas, da relação interpessoal “eu e o outro”, isto é, da empatia do ato de ensinar. Define-se a Didática a partir do tempo e do espaço dos fatos históricos, sociais e econômicos que determinaram o processo de ensino e aprendizagem. 11DIDÁTICA U ni da de 1 O que o ensino e a aprendizagem têm a ver com a Didática? Apesar de serem palavras com sentidos diferentes, a ideia de ensino e aprendizagem são congruentes e se complementam. E é na didática que encontramos essa ponte entre teoria e prática. A didática abrange o ato de ensinar e os métodos empregados no ensino. O ensino está pautado no trabalho do professor. A aprendizagem, por sua vez, refere-se ao resultado do esforço cognitivo do aluno. Um depende do outro. Em tempos atuais, há uma variedade de concepções de aprendizagem no contexto da educação, cada um deles decorrente de variadas correntes epistemológicase psicológicas. A aprendizagem pode acontecer diante de uma vivência ou um diálogo informal. Já o ensino é intencional e precisa ser planejado didaticamente. Segundo Pimenta e Carvalho: Quando narramos um acontecimento numa roda de amigos ou quando a mãe relata aos filhos o seu dia de trabalho na hora do jantar, não há intenção do falante de produzir uma aprendizagem nos seus ouvintes. Já no ensino, todas as atividades são concebidas e planejadas em função desse objetivo. Portanto, a compreensão do conceito de ensino só pode ser feita em referência ao conceito de aprendizagem. (PIMENTA; CARVALHO, 2008, [n.p.] apud CORDEIRO, 2007, p. 21) 12 DIDÁTICA U ni da de 1 Considerando essa realidade que abordamos, a Didática atualmente transborda a prática de ensino e se afeta pela aprendizagem. Dessa forma, sua conceitualização continua evoluindo. Figura 1.1 - Ensino é diferente de aprendizagem Fonte: Elaborado pela autoria (2019). Para Zabalza, Didática é, hoje em dia, esse campo de conhecimentos, pesquisas, propostas teóricas e práticas que se centram, principalmente, nos processos de ensino e aprendizagem. REFLITA O desafio central da escola é garantir o aprendizado. Será que a educação brasileira está atingindo esse objetivo? Quais são seus resultados no ranking mundial? Diante da realidade atual em que o Brasil se encontra, em situação de rebaixamento em seus resultados no Programa Internacional de Avaliação (PISA), devemos nos preocupar com a forma como garantir o aprendizado dos alunos. Na última edição do programa de avaliação, realizada em 2015, em que 70 países foram analisados, o Brasil ficou entre os dez últimos no ranking. 13DIDÁTICA U ni da de 1 Um caminho é certo e deve ser percorrido nas escolas: a formação dos professores, prepará-los para a realidade da sala de aula, instrumentalizando-os com caminhos didáticos, é fundamental. As universidades formam, nos dias de hoje, professores conhecedores de algumas teorias, mas poucas encaminham uma prática voltada para o trabalho que o professor deve realizar em sala de aula. Sabe-se que a articulação entre teoria e prática constitui um ponto crucial na formação de qualquer educador (lembrando que a teoria se ocupa da pesquisa a partir de problemas reais que aparecem no dia a dia do professor). Dentro dessa perspectiva, a didática deve ocupar posição central nos currículos de formação de professores. Considerando essa realidade, as escolas e os coordenadores pedagógicos devem assumir a responsabilidade formativa do corpo docente. É fundamental que essa formação continuada dos professores seja organizada nas escolas, com base em uma reflexão conjunta sobre a teoria e a prática pedagógica. Claro que, para isso, o coordenador pedagógico também deverá receber formação, pois normalmente fica imerso na logística da escola, em detrimento da aprendizagem. Por isso, precisa também ter encaminhamentos de como se organizar e o que priorizar em sua atuação. Nesse contexto, vamos, na sequência, buscar a concei- tualização da palavra “didática” e como interfere na educação escolar. 14 DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.2 – Professores e alunos Fonte: Freepik. Alguma vez você ouviu alguém dizendo: “aquele professor não tem Didática”? Ou então: “a Didática daquele professor é perfeita”? O que essas pessoas estão querendo dizer? Sem dúvida, a primeira está questionando a capacidade do professor de ensinar e a segunda está reconhecendo sua habilidade de ensinar. Libâneo (1994, p. 25) define Didática como “teoria do ensino por investigar os fundamentos, as condições e as formas de realização do ensino”. 15DIDÁTICA U ni da de 1 Conceitualizando a Didática A Didática representa a prática que o professor escolhe para ensinar e, consequentemente, garantir a aprendizagem dos alunos. A Didática escolhida pelo professor deve estar em consonância com a realidade do aluno e facilitar o aprendizado. Figura 1.3 - Didática a serviço da aprendizagem DIDÁTICA A SERVIÇO DA APRENDIZAGEM Fonte: Elaborada pela autoria (2019). IMPORTANTE Para Libâneo (1994), a Didática trata dos objetivos, das condições e das formas de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico- didáticos a objetivos sociopolíticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, isto é, sem uma competência técnica para realizá-la educacionalmente; portanto, o ensino deve ser planejado e ter propósitos claros, preparando os alunos para viverem em sociedade. Segundo o autor, não existe neutralidade no fazer pedagógico, pois quando o professor planeja sua aula, deixa explícita sua concepção de mundo e sociedade. Para Libâneo (1994), a prática pedagógica está vinculada a condicionantes de natureza social e política. A Didática é fundamental porque propõe formas para que o ensino seja eficaz. Isso implica não apenas transmitir informações, mas assegurar que o estudante construa conhecimento de forma significativa. 16 DIDÁTICA U ni da de 1 As Pesquisas didáticas buscam encontrar alternativas que transformem as aulas em um espaço de aprendizagem. É preciso conhecer o aluno, o conteúdo, o objetivo e as formas de abordar esse conteúdo para, dessa forma, garantir a aprendizagem. Será que existe uma receita que ajude os professores a ensinarem com garantias de aprendizagem? Algum teórico já garantiu que determinada forma de ensinar assegura a aprendizagem? Com certeza, a resposta para essas perguntas é “não”. Como sabemos, cada escola tem suas próprias caracte- rísticas. Cada sala de aula é um espaço diferente. Portanto, é im- possível garantir sucesso com uma única forma de ensino. É fundamental compreender que as ações dos professores não podem ser improvisadas, uma vez que é necessário que haja um plano de aula que atenda a didática escolhida, com um objetivo específico e uma estratégia que leve os alunos a esse objetivo, pois sua ausência pode incorrer em aulas monótonas, desmotivadoras e ineficientes. Como um ator que nos emociona ou faz rir com sua atuação, o professor deve garantir o aprendizado. O ator tem um script muito bem orientado, o qual estuda para demonstrar a emoção do autor. O professor, da mesma forma, precisa ter um plano de aula e pensar nos detalhes para que seus alunos se sintam contemplados por sua atuação. Por não ser uma questão tão simples, propomos o entendimento da variação que a palavra Didática apresenta. Em uma perspectiva de investigação, a Didática, como um campo teórico da Pedagogia, estuda os procedimentos de ensino, entre eles os materiais didáticos, como os livros didáticos utilizados por professores e alunos. 17DIDÁTICA U ni da de 1 O que são livros didáticos? Normalmente, as pessoas os remetem à ideia do livro que o professor usa para ensinar. Sim, o livro didático é um apoio para ensinar e também tem sofrido muitas transformações. Houve uma época em que os livros didáticos eram apenas textos que fundamentavam a aula expositiva do professor. Com o tempo, as editoras foram aperfeiçoando esse instrumento e, atualmente, os livros, em sua maioria, trazem imagens, dicas, perguntas e sugestões de leitura. Existem, inclusive, os chamados livros consumíveis, ou seja, os quais já apresentam atividades a serem realizadas como fixação de aprendizagem. O livro produzido nesse formato deve ser usado apenas por um aluno. Como escolher o livro didático? Tudo vai depender da escola, sua concepção de educação e currículo. Por exemplo: uma escola pode simplesmente abrir mão do uso de livros e adotar apostilas didáticas, as quais trarão a proposta de ensino defendida pela escola. Em relação a isso, Apple afirma que: são os livros didáticos que estabelecem grande parte das condições materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula de muitos países através do mundo e considerando que são os textos destes livros que frequentemente definem qual é a cultura legítima a sertransmitida. (Apple, 1995, p. 82) IMPORTANTE O livro didático deve trazer a concepção de educação na qual a escola acredita. Além disso, deve contribuir para a aprendizagem dos alunos, não sendo mais um “peso” na mochila das crianças. Portanto, o livro didático é um recurso didático extra. 18 DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.4 – Livro didático Fonte: Freepik. A escolha do livro didático é uma decisão crucial no processo educativo, pois esse recurso influencia diretamente na qualidade e eficiência do ensino-aprendizagem. Aqui está um guia sobre como escolher o livro didático adequado: • Análise do Conteúdo: Atualização e Precisão: verifique se o conteúdo está atualizado e alinhado com os conhecimentos mais recentes da área. Relevância Curricular: o livro deve estar em consonância com os currículos e diretrizes educacionais vigentes. Profundidade: o conteúdo deve ser aprofundado o suficiente para o nível de ensino pretendido. 19DIDÁTICA U ni da de 1 • Abordagem Pedagógica: Metodologia: avalie a abordagem pedagógica do livro. Ele é centrado no professor ou no aluno? Promove a construção do conhecimento ou a memorização? Atividades: o livro deve oferecer uma variedade de atividades que incentivem a reflexão, a prática e a avaliação. Interdisciplinaridade: é importante que o livro promova conexões entre diferentes áreas do conhecimento. • Aspectos Linguísticos: Clareza: o texto deve ser claro, objetivo e adequado à faixa etária dos alunos. Vocabulário: o livro deve introduzir e explicar novos termos de forma contextualizada. • Recursos Gráficos: Ilustrações e Diagramas: estes devem ser claros, relevantes e auxiliar na compreensão do conteúdo. Qualidade de Impressão: o livro deve ser legível, com um layout agradável, e impresso em papel de boa qualidade. • Recursos Complementares: Materiais On-line: muitos livros didáticos oferecem recursos on-line, como vídeos, testes e animações. Avalie a qualidade e relevância desses recursos. Guias do Professor: esses guias podem ser muito úteis para planejar aulas, com sugestões de atividades e abordagens. 20 DIDÁTICA U ni da de 1 Diversidade e Representatividade: O livro didático deve apresentar uma abordagem inclusiva, respeitando a diversidade cultural, étnica, de gênero, entre outras. • Recomendações e Avaliações: Opiniões de Colegas: converse com outros professores que já utilizaram o livro e obtenha feedbacks. Avaliações Oficiais: em alguns países, há programas governamentais que avaliam e recomendam livros didáticos. Consulte essas avaliações. • Custo-Benefício: Embora o preço seja um fator a considerar, o mais importante é avaliar se o livro oferece um bom retorno em termos de qualidade educacional. • Possibilidade de Reutilização: Avalie se o livro pode ser reutilizado em anos subsequentes ou se é específico para um ano letivo particular. Ao escolher um livro didático, lembre-se de que é uma ferramenta para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. Ele deve ser visto como um complemento ao trabalho do professor, e não como uma solução única ou definitiva. Pensando em recursos didáticos, seria importante esclarecer até onde podemos explorar essa expressão. Recursos didáticos são todos os apoios que o professor usa para realizar sua aula. Estamos falando de todo tipo de recursos. Pode ser um apagador, a lousa, um livro, o computador, os sites de pesquisa, as apostilas. 21DIDÁTICA U ni da de 1 Exemplo Se um professor ministrar uma aula de educação física, precisará de alguns recursos, como bola, quadra e demais equipamentos específicos. Se um professor ministrar aula de química, precisará de instrumentos como tubos, materiais químicos, microscópio etc. A teoria da educação está diretamente ligada à Didática. Por ser um ramo de estudo da Pedagogia, sua fundamentação teórica deve ser conhecida pelo professor, assim como sua história e os grandes educadores que obtiveram bons resultados para orientar seu trabalho como mediadores do ensino. Libâneo diz que: A ela (Didática) cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos [...] trata da teoria geral do ensino. (Libâneo, 1990, p. 26) RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter compreendido sobre o assunto didático, bem como o seu conceito e suas características. Entendeu, também, que a diversidade cultural encontrada atualmente nas escolas teve sua origem na democratização do ensino. 22 DIDÁTICA U ni da de 1 Grandes educadores e a Didática OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam as ideias e teorias propostas pelos grandes educadores no campo da Didática. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram aplicar métodos de ensino sem a devida instrução sobre as contribuições desses teóricos tiveram problemas ao estruturar práticas educacionais coesas e significativas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Ser educador é uma profissão para poucos, cujos indiví- duos que dedicam suas vidas à educação devem ter em mente que o desafio é grande. Muitos acham que é preciso ser alguém apaixonado pelos alunos e pela profissão. Não desprestigiando a importância do amor à educação, precisamos de profissionais competentes para realizar um trabalho de grande influência na sociedade. Atualmente, não podemos aceitar a ideia de que basta gostar de crianças para ser professor porque os desafios contemporâneos exigem uma profissionalização cada vez maior dos profissionais da educação. IMPORTANTE Mais que aprender conteúdos, hoje, os professores são mentores, exemplos, inspiradores que podem construir excelentes cidadãos no futuro, ou então destruí-los em algumas aulas. Iniciaremos com um pequeno resumo histórico sobre a Didática, pois olhar para o passado nos permite encontrar as explicações das variações e transformações vividas no presente. 23DIDÁTICA U ni da de 1 É muito importante conhecer como se deram as mudanças que justificam a pluralidade de propostas pedagógicas presentes em nossa realidade. Esses personagens foram além da mesmice e estudaram, pesquisaram e ousaram em suas práticas pedagógicas. Escreveram sobre elas, foram criticados, admirados, rejeitados, contestados, mas tentaram criar caminhos diferenciados para que o trabalho educativo fosse mais significativo. Segundo Freire (1996, p. 39): “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Cabe-nos conhecer alguns nomes importantes desses estudiosos, nos inspirar com seus trabalhos e talvez aperfeiçoar o que as suas teorias trouxeram, com a nossa determinação e vontade de acertar. Vamos conhecê-los? Esses teóricos contribuíram significativamente para a educação. No Brasil, inspiraram o movimento conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, que ocorreu na Europa e aqui no Brasil na metade do século XX. No Brasil, o objetivo do manifesto era renovar o sistema educacional nacional, cujo documento foi escrito por 26 educadores brasileiros, assinado e liderado por Fernando de Azevedo, e apoiado por Aluízio de Azevedo, Anísio Teixeira, Cecília Meireles e várias outras personalidades. Esses educadores acreditavam em uma educação pública e de qualidade. Uma educação que questionasse a escola tradicional, elitizada e com matérias distantes da realidade do estudante. Comecemos por John Dewey (1859-1952), um filósofo estadunidense que foi o grande precursor das ideias progressistas. Dewey iniciou uma verdadeira reflexão sobre a importânciade uma escola útil, que ouvisse os alunos e os ensinasse aquilo que é importante, trabalhando a partir de problemas reais. Defendia os trabalhos 24 DIDÁTICA U ni da de 1 manuais e o desenvolvimento com base na vivência dos alunos com o conteúdo, explorando e expondo suas visões. Ele acreditava que a democracia seria possível com um trabalho na escola que estimulasse os alunos na percepção, reflexão, crítica e definição do seu próprio “eu”. Figura 1.5 – Educadores Fonte: Freepik. Ovide Decroly (1871-1932) foi um médico belga que defendeu o que entendemos agora como metodologia ativa. Ele defendeu que: O conhecimento deveria partir do todo, e não das partes, como é feito normalmente até os dias de hoje; O aluno é capaz de conduzir sua aprendizagem, reforçando a importância do “aprender a aprender”. Além disso, foi um dos inspiradores do método global de alfabetização. 25DIDÁTICA U ni da de 1 Na sequência, vamos falar de um dos pensadores que foram muito influenciados por Dewey: Anísio Teixeira (1900-1971). Anísio Teixeira foi um grande defensor da democratização do ensino gratuito no Brasil. Seguindo as ideias de Dewey, ele foi um constante questionador da arte de ensinar, reforçando a relevância de pesquisa e inovação. SAIBA MAIS Anísio defendia a importância de que os alunos conseguissem transferir os conhecimentos da escola para a vida e da educação integral, ou seja, todos os aspectos do cidadão deveriam ser abordados, refletidos e discutidos na escola. Maria Montessori (1870-1952) nasceu na Itália, era médica e pesquisadora. Acreditava que nascíamos com a capacidade de ensinar e aprender. Defendia o potencial da criança, desde a primeira infância, e a importância de estimular o aspecto criativo. Para ela, o conhecimento deveria servir como instrumento de desenvolvimento pessoal, por meio do qual os indivíduos fazem suas escolhas conscientes. Seus métodos são usados atualmente nas escolas infantis, permitindo à criança explorar diversas propriedades que a cercam, como o cheiro, as cores, as brincadeiras etc. Celestin Freinet (1896- 1966) foi um pedagogo francês que defendeu o trabalho como guia da escola. A escola deve formar o aluno de maneira a torná-lo um trabalhador criativo e reflexivo. Ele acreditava na importância do desenvolvimento afetivo e preocupava-se com o desestímulo dos alunos, após o erro. Incentivou aulas em locais abertos, como em passeios, visitas etc., e ainda valorizava o diálogo entre professor e aluno. 26 DIDÁTICA U ni da de 1 Carl Roger (1902-1987) foi psicólogo estadunidense que argumentava que o professor tem a tarefa de facilitar o aprendizado, o qual o aluno conduz a seu modo. Ele sustentava que o ser humano aprende de acordo com a sua necessidade e na escola aprenderá o que julgar ser importante para sua vida. Dessa forma, o ensino deve ser significativo para o aluno. Rudolf Steiner (1861-1925), austríaco, criou a linha de pensamento que enxergava além do que é material e com base na Antroposofia, criou a Pedagogia Waldorf (muito conhecida por suas escolas espalhadas pelo Brasil). Ele considerava a espiritualidade, a individualidade, a criatividade e o exemplo dos professores como influenciadores da aprendizagem. IMPORTANTE As formas de organizar a educação são diferentes. Os alunos têm apenas um professor do 1º ao 8º ano, ensinando todas as disciplinas. A partir do 9º ano surge a figura do tutor, que deverá acompanhar o aluno com autorização legitimada pela amizade. Anton Semionovich Makanko (1888-1939), educador ucraniano, ajudou com suas pesquisas e seu trabalho centenas de crianças e adolescentes marginalizados, transformando-os em cidadãos. A escola de Anton baseou-se em exercícios físicos, trabalhos manuais, recreação, excursões, aulas de música e idas ao teatro. Dessa forma, desenvolvia-se o contato com a sociedade. As conhecidas assembleias de escola, usadas atualmente para discutir sobre situações comuns no cotidiano escolar, eram realizadas desenvolvendo a cidadania e o poder de decisão coletivo dos alunos. Anton criou personalidades sem rigidez, e sua obra serve de inspiração para as escolas atuais. Muitas escolas se esforçam para mudar seus padrões em função de sua 27DIDÁTICA U ni da de 1 teoria, na qual as habilidades e competências individuais devem ser desenvolvidas por meio de uma metodologia que contemple cada indivíduo. Jean Piaget (1896-1980), biólogo sueco, investiu na observação científica rigorosa com relação à aquisição do conhecimento. Ele defendia que o pensamento infantil passa por quatro estágios, até a adolescência, quando o raciocínio se torna pleno. Figura 1.6 – Jean Piaget Fonte: Wikimedia Commons. Henri Wallon (1879-1962), foi médico, psicólogo e filósofo francês, o qual considerava o corpo, a mente e as emoções das crianças na educação. A reprovação era altamente condenável em sua obra, pois segundo o seu ponto de vista, o emocional é preponderante no desenvolvimento da pessoa. Wallon afirmava que a aprendizagem não é linear, mas marcada por instabilidades, com origem nas vivências, podendo sofrer avanços ou recuos. Crítico da escola tradicional, Henri Wallon 28 DIDÁTICA U ni da de 1 incentivava uma sociedade democrática, justa, cooperativa e solidária. Figura 1.7 –Henri Wallon Fonte: Wikimedia Commons. Até aqui conhecemos diversos nomes que fizeram diferença na educação, contribuindo com reflexões muitas vezes similares e outras paralelas. No entanto, ainda existem muitos outros nomes para estudar, como Johann Pestalozzi, Philippe Perrenoud, Burrhus Frederic Skinner e outros educadores cujas obras contribuíram para a evolução do pensar a Didática. Cabe- nos sempre pesquisar e aprofundar nossos conhecimentos sobre esses estudiosos, pois, com isso, poderemos ampliar nossas visões de educação. 29DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.8 - Inteligências múltiplas de Philippe Perrenoud Intrapessoal Interpessoal Visual MusicalLinguística Lógico- Matemática Corpórea Cinestésica Inteligências múltiplas Fonte: Elaborada pela autoria (2019). Dados históricos e tendências pedagógicas A história, sua evolução e forte persuasão política sempre influenciaram a escola e sua forma de ensinar. Conhecer sinteticamente dados históricos e tendências pedagógicas nos fará entender melhor as características contemporâneas e os processos que ainda poderão surgir para renovar a Didática escolar. Para iniciarmos essa navegação histórica, partiremos do início do século XVII, quando a burguesia apoiava a monarquia. 30 DIDÁTICA U ni da de 1 Jan Amos Comenius (séc. XVII) era um bispo protestante que acreditava que a Didática poderia mudar a Escola e que a educação poderia criar uma sociedade mais justa e pacífica. Ele foi um dos primeiros a expressar, em pleno século XVII, que a educação deveria ser pública e que todos, homens e mulheres, tinham o direito de aprender a ler. Para Comenius, todas as pessoas deveriam poder ler a Bíblia e fazer sua própria interpretação. Foi ele quem sistematizou um tratado de educação em que a Didática era posta como a arte de ensinar tudo a todos, em seu livro conhecido como “Didática Magna, a arte universal de ensinar tudo a todos”. Ele foi considerado o primeiro pedagogo ocidental e seu trabalho contemplava a ideia de que todos os seres humanos deveriam ter a possibilidade de aprender. A concepção da Didática Moderna nasceu com Comenius e teve o respaldo de Jean Jacques Rousseau. Em 1762, Rousseau publicou um livro conhecido como “Emilio ou da Educação”. Esse romance pedagógico revolucionou a Pedagogia e serviu de inspiração para as teorias de todos os grandes educadores dos séculos XIX e XX. De acordo com Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Toda a sua proposta fundamentava- se na ideia de que, se a criança tiver a educação fortalecida na infância e na adolescência, tornar-se-á um ser incorruptível.No século XIX, com a consolidação do modo de produção capitalista, as empresas começaram a precisar de uma educação que fornecesse profissionais para ocupar os cargos desse tipo de produção, pois ter somente a elite capacitada não produziria mão de obra necessária. Johann Friedrich Herbart adotou a ideia de que o indivíduo é formado pelas percepções que vêm do exterior. Assim, o aluno deve ser preparado intelectual e fisicamente. Para Herbart, 31DIDÁTICA U ni da de 1 o ensino deve percorrer as seguintes etapas: preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação. Herbart pode ser considerado um dos responsáveis por organizar a Pedagogia como ciência, pois nesse sentido, resgatou a ideia do ensino por meio da instrução e da disciplina. As escolas herbartianas transmitiam um ensino totalmente receptivo, sem diálogo entre professor e aluno e com aulas que obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos. Dessa forma, ele é uma das referências na tendência pedagógica tradicional. Essas teorias se instalaram no século XIX pelas escolas públicas mundiais. Com a abertura de espaço na educação para mais pessoas, a burguesia se sentiu fragilizada, pois as classes mais baixas passaram a ter acesso ao conhecimento. John Dewey surgiu com a Escola Nova, que contestava a escola tradicional e apontava a necessidade de um novo homem social. Sua proposta adotou métodos de pesquisa como método didático. Contudo, mesmo defendendo a democracia na sala de aula, a Escola Nova ainda era elitista e não se preocupava com o que acontecia socialmente fora da escola. No Brasil Colônia, as escolas jesuítas cumpriram o papel de atender às necessidades políticas da coroa portuguesa, explorando indígenas e os menos abastados financeiramente. Ou seja, o ensinamento cristão fundamentou os trabalhos. Manoel da Nóbrega inseriu as “escolas de ler e escrever”, as quais foram contestadas inclusive pelos jesuítas. Os professores eram formados pelos jesuítas e a ciência deveria ser interpretada como imutável. E a aprendizagem, por sua vez, era avaliada pela memorização. Em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e causou retrocesso na organização escolar. 32 DIDÁTICA U ni da de 1 Na Primeira República, o ensino continuava reforçando a supremacia da classe dominante, e o trabalho escravo era explorado intensamente no país. O Estado de São Paulo foi o primeiro a preocupar-se com a educação pública, e em 1983 regulamentou a escola preocupada na formação para o magistério, influenciando outros estados a buscarem um aperfeiçoamento educacional. Na década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, a escola brasileira iniciou seu encontro com a Escola Nova. O êxodo rural e as necessidades de mão de obra especializada foram motivos para a abertura de mais escolas. A Didática era compreendida como regras que asseguravam boas aulas que orientassem o trabalho. Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, e a oferta de escolas gratuitas foi ampliada. Nessa época, acontecia uma renovação Didática em detrimento da tradicional. Com a Constituição de 1934, foi elaborado o Plano Nacional da Educação, que determinou a obrigatoriedade da escola do ensino primário. Em 1932, surgiu a primeira universidade brasileira. A origem da Didática como disciplina na formação de professores aconteceu em 1934, com a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. A Constituição de 1937 abordou a educação por meio da introdução do ensino profissional para atender às necessidades industriais. Além disso, a Carta tornou obrigatórias as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira. 33DIDÁTICA U ni da de 1 Ainda na década de 1930, foi criado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, do qual Anísio Teixeira foi diretor por duas décadas aproximadamente. Nesse período, realizou grandes reformas no ensino. Em 1941, a Didática passou a ser um curso à parte, como uma especialização. Na Era Vargas, a educação estagnou-se e condicionou-se às posições políticas do presidente Getúlio, sobretudo durante a vigência do Estado Novo. SAIBA MAIS Com a redemocratização, a Constituição de 1946 instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ao final da década de 1950, com a expansão econômica e industrial, a escola defendeu a liberdade, a iniciativa e a autonomia, e enfatizou a atenção às diferenças individuais. Segundo Saviani, entre 1930 e 1960, ideias da Escola Nova predominaram na educação brasileira. Já a partir daí se iniciou um período tecnicista. Candau (1983) escreveu: O ensino da Didática assume certamente uma perspectiva idealista e centrada na dimensão tecnicista do processo de ensino- aprendizagem. É idealista porque a análise da prática pedagógica concreta na maioria das escolas não é objeto de reflexão. Considerada tradicional ela justificada pela ignorância dos professores que, uma vez conhecedores dos princípios e técnicas escalavonistas, a transformariam. Para reforças esta tese, 34 DIDÁTICA U ni da de 1 experiências pedagógicas que representa, exceções dentro do sistema e que, mesmo quando realizadas no sistema oficial de ensino, se dão em circunstâncias excepcionais, são observadas e analisadas. Os condicionamentos socioeconômicos e estruturais da educação não são levados em consideração. A prática pedagógica depende exclusivamente da vontade e do conhecimento dos professores que, uma vez dominando os métodos e técnicas que desenvolvidos pelas experiências escalavonovistas, poderão aplicá-los às diferentes realidades em que se encontram. A base científica desta perspectiva se apoia fundamentalmente na psicologia (Candau, 1983, p. 49). Na década de 1960, Paulo Freire iniciou seu trabalho de alfabetização de jovens e adultos com a metodologia em que acreditava e que repercutiu em todo o mundo da educação. Penso em um dos capítulos tão fecundos na história da educação latino-americana: a educação popular e o pensamento de Paulo Freire. Eles nasceram colados à terra e foram cultivados em contato estreito com os camponeses, com suas redes de socialização, de reinvenção da vida e da cultura. Nasceram percebendo que o povo do campo tem também seu saber, seus mestres e sua sabedoria (Arroyo, 2000, p. 14). 35DIDÁTICA U ni da de 1 Depois do Golpe Militar de 1964, a educação foi vinculada à Segurança Nacional, e passou a sofrer controle e repressão, causando um retrocesso no desenvolvimento educacional do país. Consequentemente, o professor retornou à Didática tradicional. A partir de 1974, mesmo com a abertura do regime político, instaurou-se um pessimismo em função da influência política que se estabelecia a cada governo. A partir da década de 1980, a escola começou a se reinventar, questionando velhos métodos e redefinindo a política educacional. A Didática passou a centrar seus esforços na formação integral do aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394/1996) foi reorganizada com grandes inovações. ACESSE Para ler a Lei nº. 9.394/1996 na íntegra, acesse. 36 DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.9 – LDBEN LDBEN Lei nº. 9.394/1996 Fonte: Elaborada pela autoria. Atualmente, a educação já é vista com o vínculo sociopolítico e preocupa-se com a formação social do cidadão. A busca é pela união entre teoria e prática, conteúdo e forma, técnico e político, ensino e pesquisa, professor e aluno. A Didática precisa evoluir e acompanhar as mudanças paradigmáticas que estão se instalando na sociedade. Para que essa evolução continue, é preciso que os professores se conscientizem da necessidade de serem pesquisadores de outras práticas que não as historicamente conhecidas e também de sua própria prática. É necessário fundamentar-se teoricamente, ousar no ato de planejar, errar ou acertar, refletir e novamente ousar em planejar. A Didática só evoluirá eserá funcional se nossos educadores se perceberem como eternos aprendizes. 37DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.10 – Pesquisa-ação Planejar Avaliar Implantar Pesquisa Ação Fonte: Elaborada pela autoria (2019). RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter compreendido sobre os grandes pensadores da educação que se destacaram por seus conhecimentos, além da história da educação e suas percepções referentes à Didática. Você viu, também, que ser educador é uma profissão para poucos. Esses poucos indivíduos que dedicam suas vidas à educação devem ter em mente que o desafio é grande. 38 DIDÁTICA U ni da de 1 Educação, definições e processos OBJETIVO Vamos estudar no decorrer deste capítulo sobre a importância da educação, as definições com ela relacionada e todos os processos. Espero que estejam prontos para compreender um pouco mais sobre esse conteúdo. Vamos lá. Evolução Histórica da Educação e Didática Desde os albores da civilização, a educação foi entendida como uma ferramenta essencial para a transmissão de conhecimento e valores de uma geração para outra. As sociedades antigas, com seus respectivos contextos históricos e culturais, desenvolveram abordagens distintas ao processo educativo, moldando a didática ao longo dos séculos. Na Grécia Antiga, o ensino era centrado na formação integral do indivíduo, visando ao desenvolvimento intelectual, moral e físico. Como nos lembra Brandão (1993, p. 45), “os gregos buscavam uma ‘paideia’, um processo educativo que objetivava a formação de cidadãos ativos e éticos, capazes de contribuir para a polis”. Platão, em sua obra “A República”, discorria sobre a necessidade de uma educação que promovesse a justiça e a virtude, enquanto Aristóteles defendia uma educação prática voltada para as necessidades da comunidade (Aranha, 2006). A Educação Medieval, em contraste, foi fortemente influenciada pela Igreja Católica. As escolas catedrais e os mosteiros tornaram-se os principais centros de aprendizado. Conforme destaca Saviani (2008, p. 68), “a educação na Idade 39DIDÁTICA U ni da de 1 Média estava intrinsecamente ligada à salvação da alma e à preparação para a vida eterna”. Com o Renascimento, houve uma retomada dos ideais clássicos e um renovado interesse pela cultura greco-romana. Esse movimento, como explica Ferro (1992, p. 102), “revalorizou o ser humano, dando origem a um novo tipo de educação, menos dogmática e mais voltada para as artes e as ciências”. Já a Revolução Industrial trouxe consigo uma demanda por mão de obra qualificada e alfabetizada, culminando em sistemas educacionais massificados. Como Durkheim (2010, p. 130) aponta, “o ensino passou a ser visto como meio de preparar o indivíduo para as novas realidades sociais e econômicas, transformando a didática em uma ferramenta para formar cidadãos produtivos”. Chegando ao século XX, testemunhamos inúmeras revoluções pedagógicas que refletiram as mudanças políticas, sociais e tecnológicas. Freire (1987, p. 52) ressalta que “a educação deve ser vista como um ato político, uma ferramenta de libertação e não de opressão”, aludindo às diversas abordagens críticas que surgiram nesse período. Assim, a história da educação e da didática é marcada por contínuas transformações, reflexo das mudanças sociais, econômicas e culturais de cada época. Reconhecer essa trajetória é essencial para compreender os desafios e possibilidades da educação contemporânea. 40 DIDÁTICA U ni da de 1 A educação O direito à educação é assegurado por lei, independen- temente da procedência do cidadão, pois é um caminho que ga- rante outros direitos. Não é possível lutar por um direito que não se conhece, e a escola nos traz informações essenciais sobre o que nos resguarda constitucionalmente. Se a escola não cumpre esse papel, deverá repensar seus caminhos. Além disso, vale lembrar que escola deve ser um dos principais acessos à informação verdadeira, consistente e útil para a formação cidadã. REFLITA Mas o que é educação? Como conceitualizar uma palavra que traz percepções diversas? Figura 1.11 – Fatores que envolvem a palavra “educação” SER EDUCADO? EDUCAÇÃO SER MAL EDUCADO? CULTURAL? RESPONSABILIDADE DE QUEM? Fonte: Elaborada pela autoria (2019). 41DIDÁTICA U ni da de 1 Normalmente, quando as pessoas falam em educação, estão se referindo à forma como se estabelece a convivência interpessoal. É comum chamar alguém de “mal-educado”, o que obviamente significa que a pessoa não foi “bem educada” e não sabe tratar as pessoas de acordo com as formas especificadas pela sociedade como “educadas”. No entanto, a palavra “educação” pode ser empregada de diversas maneiras, como educação cultural, educação filosófica, educação científica, educação moral, educação profissional, entre outras. Entendendo a educação como o objeto de estudo da Pedagogia, Libâneo (1990) define-a como um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento, envolvendo a formação de qualidades humanas, físicas, morais, intelectuais e estéticas dentro de um contexto de relações sociais. DEFINIÇÃO Etimologicamente falando, a palavra “educação” provém de educare, que, em Latim, significa alimentar, cuidar, criar. Por outro lado, para alguns professores, a palavra se refere ao processo educacional oferecido formalmente na escola. Como tivemos a oportunidade de conhecer a história da Didática, vimos que cada teórico enxergou a educação de uma forma. Para alguns, é o saber acumulado, para outros, o desenvolvimento da cidadania. No Brasil, temos a Constituição Federal, que, no capítulo III, artigo 205, apresenta o seguinte texto: Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1988, on-line). 42 DIDÁTICA U ni da de 1 Nesse artigo, podemos verificar que a educação escolar é algo que abrange o desenvolvimento integral do aluno, mas muitos professores resistem a essa concepção alegando que na escola se deve aprender disciplinas como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências. Complementam ainda que educação social é responsabilidade da família. Mas será que é só da família? A Educação e a legislação Segundo a Lei de Diretrizes e Bases para Educação Nacional (LDBEN n. 9.394/1996), em seu artigo 1º: Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. §1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social (Brasil, 1996, on-line). IMPORTANTE Como se pode notar, a LDBEN confirma a Constituição Federal e entende a educação também como desenvolvimento social. 43DIDÁTICA U ni da de 1 Somos educados a partir do momento em que nascemos. Aprendemos a chorar para pedir alimento, pedir para trocar a fralda e mostrar nossa insatisfação com alguma coisa. A vivência e a convivência nos trazem educação. Também as formas culturais em que cada cidadão estiver inserido serão fontes educativas. A religião que frequentamos, os esportes que praticamos, a convivência e os exemplos que desfrutamos sempre nos trarão formas de educação. Figura 1.12 – BNCC Fonte: SAS Educação (2019). Para a escola e, atualmente com a Base Nacional Comum Curricular, o desenvolvimento social, isto é, a educação integral, já não é mais uma sugestão, mas uma determinação. Sendo assim, os professorespodem achar que devem se eximir dessa obrigação, mas a lei deixa clara a importância do desenvolvimento de 10 competências gerais. São elas: 1. Conhecimento – reforço da importância da metacognição e da transformação do aluno, que reconhece a importância do que foi aprendido. 2. Pensamento científico, crítico e criativo – desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e da 44 DIDÁTICA U ni da de 1 transferência do conhecimento para o mundo real. Capacidade de correlacionar, questionar ideias, criar novas soluções a partir de diferentes caminhos. 3. Repertório cultural – reconhecimento de diversas formas de expressões culturais. Trata-se de ter consciência multicultural. 4. Comunicação – uso de diferentes linguagens, desenvol- vendo a escuta, a expressão, a discussão, o multiletra- mento e a contextualização sociocultural. 5. Cultura digital – uso de tecnologias de forma crítica e consciente. 6. Trabalho e projeto de vida – compreensão das relações próprias do mundo trabalho e das escolhas a serem feitas para o seu projeto de vida. 7. Argumentação – desenvolvimento de opiniões e argumentos com base em dados e evidências. 8. Autoconhecimento e autocuidado – conhecimento de si, identificação de características próprias e aprendiza- gem emocional. 9. Empatia e cooperação – exercício para a convivência respeitosa. 10 ....Responsabilidade e cidadania – desenvolvimento da flexibilidade, resiliência, tomada de decisões, princípios éticos etc. Talvez a maior dificuldade das escolas, hoje, seja capacitar os professores para trabalharem essas questões, principalmente por meio do exemplo, que deve ser dado em cada ação e movimento institucional. Contudo, isso não é tão fácil. Devemos considerar que muitos professores têm suas próprias “visões de 45DIDÁTICA U ni da de 1 mundo”, e muitas vezes sua conduta não é exemplo para que se alcancem os objetivos esperados. As Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional é de competência da União. As escolas, subordinadas aos estados e cidades, podem realizar adequações, porém jamais mudar uma lei como essa. Desafios contemporâneos e novas perspectivas em didática O cenário educacional contemporâneo, moldado por rá- pidas transformações sociais, tecnológicas e culturais, apresenta desafios sem precedentes, exigindo dos profissionais da educa- ção adaptabilidade e inovação contínuas. A didática, como ciên- cia da prática educativa, não se mantém alheia a esse contexto, buscando se reinventar a cada novo obstáculo e oportunidade. Um dos principais desafios atuais é a integração da tecno- logia na sala de aula. As tecnologias digitais têm revolucionado a maneira como adquirimos e compartilhamos informações. Para Moran (2013, p. 89), “as novas mídias potencializam a aprendiza- gem autônoma, colaborativa e conectada, exigindo uma redefini- ção do papel do professor e dos métodos didáticos”. A migração repentina para o ensino remoto, decorrente de situações como a pandemia da COVID-19, só acentuou a necessidade de se pensar a didática em um ambiente digital. Simultaneamente, a questão da educação inclusiva tem se mostrado premente. A escola contemporânea é desafiada a acolher e valorizar a diversidade em todas as suas formas. Incluir é reconhecer e valorizar as diferenças, repensando práticas pedagógicas que garantam a todos uma aprendizagem significativa. Esse movimento vai além da simples presença de 46 DIDÁTICA U ni da de 1 alunos com necessidades especiais em sala de aula; implica uma profunda revisão da didática e dos materiais pedagógicos. Outro elemento transformador é a globalização, que, com suas ambivalências, tanto possibilita a troca intercultural enriquecedora quanto amplifica desigualdades. O avanço da globalização na educação gera tanto possibilidades de trocas pedagógicas transnacionais quanto riscos de homogeneização cultural. Esse processo demanda uma didática que prepare os alunos para serem cidadãos globais críticos e conscientes. Em resposta a esses desafios, a didática contemporânea tem buscado inovar, incorporando novas metodologias e práticas pedagógicas. Tendências como a aprendizagem baseada em projetos, gamificação e ensino híbrido têm ganhado espaço e mostram o dinamismo e a resiliência desse campo do saber. Ao olharmos para o futuro, percebemos que a educação, e consequentemente a didática, seguirá em constante evolução. O desafio será equilibrar tradição e inovação, garantindo uma educação de qualidade, inclusiva e alinhada às demandas do século XXI. O panorama atual da educação reflete a complexidade e as rápidas mudanças do nosso tempo. Ao nos aprofundarmos nos desafios contemporâneos, percebemos que cada tópico é repleto de nuances e detalhes. 1. Integração da Tecnologia: A tecnologia não é apenas uma ferramenta: molda a maneira como pensamos, comunicamos e aprendemos. O advento de recursos como Inteligência Artificial, Realidade Virtual e Aumentada propõe novos métodos de ensino e aprendizado. Entretanto, como destaca Pretto (2014, p. 102), “a tecnologia em si não garante a aprendizagem; é a mediação pedagógica que 47DIDÁTICA U ni da de 1 faz a diferença”. Assim, é imperativo que os educadores sejam capacitados para integrar a tecnologia de forma significativa, evitando o uso superficial ou meramente decorativo. 2. Educação Inclusiva: A educação inclusiva não diz respeito apenas à inclusão de alunos com deficiência. Abrange também questões de gênero, raça, classe social e religião. Como Carvalho (2017, p. 54) pontua, “a verdadeira inclusão é aquela que percebe a diversidade como riqueza, não como obstáculo”. Esse desafio demanda uma didática flexível e adaptativa, capaz de atender às necessidades individuais enquanto promove um ambiente harmonioso e respeitoso. 3. Globalização: A globalização vai além da mera troca de informações e cultura. Ela também exige uma reflexão crítica sobre questões como o neocolonialismo pedagógico e o risco de homogeneização. Nesse sentido, Candau (2012, p. 89) ressalta a necessidade de “uma didática intercultural que valorize as especificidades locais enquanto integra conhecimentos universais”. 4. Novas Metodologias Pedagógicas: Métodos como o Flipped Classroom (sala de aula invertida), cujo conteúdo é estudado em casa e a sala de aula é utilizada para discussões e projetos, têm ganhado destaque. Também cresce a ênfase na aprendizagem baseada em problemas, onde os alunos são incentivados a investigar questões reais. Tais abordagens colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem, promovendo autonomia e pensamento crítico. 48 DIDÁTICA U ni da de 1 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter compreendido a respeito da educação, dos processos e de suas definições. Além disso, você viu que o direito a educação é assegurado por lei, independentemente da procedência do cidadão. Esse direito é um caminho que garante outros direitos. Você conheceu sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que é competência da União. 49DIDÁTICA U ni da de 1 Educação como forma de dominação OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam as diversas acepções e os intrincados processos que permeiam a educação. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram navegar pelo complexo universo educacional sem a devida instrução tiveram problemas ao implementar práticas pedagógicas eficazes e ao compreender os múltiplos significados e nuances que a educação carrega consigo. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Ao longo dos séculos, a educação tem desempenhado um papel central nas dinâmicas de poder. Desde civilizações antigas até os dias atuais, sistemas educacionais têm sido estrategicamenteempregados para solidificar autoridades, promover ideologias e assegurar a perpetuação de ordens sociais específicas. No antigo Egito, por exemplo, a educação era um privilégio das classes altas, garantindo a manutenção do poder nas mãos da elite. Os escribas, detentores do conhecimento da escrita, eram fundamentais para a administração do estado e tinham papel central na burocracia faraônica. A retenção do conhecimento era uma forma de consolidar o poder, e a escrita, uma ferramenta de domínio. Na Europa medieval, a Igreja Católica exerceu significativa influência sobre a educação. Mosteiros e catedrais tornaram- se centros de aprendizado, porém, conforme sublinha A educação promovida estava impregnada de valores e dogmas 50 DIDÁTICA U ni da de 1 religiosos, moldando o pensamento e limitando o escopo do questionamento crítico. Ao chegarmos no período colonial, observamos como potências europeias empregaram a educação como ferramenta de colonização. No Brasil, por exemplo, os jesuítas usaram a instrução para converter e ‘civilizar’ os povos indígenas, estabelecendo uma hierarquia cultural onde a cultura europeia estava acima das culturas nativas. Neste contexto, a educação torna-se um ato de depositar, em que os estudantes são os depositários e o educador o depositante. No século XX, com o advento de regimes totalitários, a educação foi novamente cooptada para fins ideológicos. Através de currículos estrategicamente elaborados, jovens eram moldados conforme as ideias e valores do Estado. A padronização do ensino, neste contexto, visava menos a educação e mais a formação de cidadãos conformados. A educação Todos os sentidos da palavra educação nos remetem ao caminho de formação do indivíduo. Consideremos agora que a escola pode ser manipuladora e reforçar cada vez mais o desnivelamento social. André Borges (2004, apud Clune; Witte, 1990; Cookson, 1994; Hess, 1991), em seu artigo, coloca que: nos Estados Unidos, tanto grupos conservadores e tradicionalistas, quanto a esquerda liberal argumentaram, que o reforço da “autonomia da escola” daria mais “voz” a minorias étnicas e outros grupos marginalizados, que contribui para a reversão de padrões prévios de segregação racial e de classes no interior do sistema 51DIDÁTICA U ni da de 1 educacional. Aborda ainda, conforme (Jacobs, 2000; Thomas, 1993; Whitty et al., 1998), que na Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália, os governos da Nova Direita defenderam que formas de gestão participativas e descentralizadas aumentariam a capacidade de pais e alunos intervirem nas políticas internas da escola, reduzindo a influência de professores e burocratas e suas práticas corporativistas. Enquanto alguns alunos agradecem os professores pela forma como abordaram temas políticos na sala de aula, fazendo-os enxergar criticamente os diversos aspectos sociais, outros reclamam daqueles que aproveitam a oportunidade para convencer os alunos de suas convicções pessoais. Sim, a educação pode ser usada como forma de manipulação política e, por isso, reforça-se a importância de que os professores passem por formações constantes, sendo orientados acerca de como realizar um trabalho pós-crítico, ou seja, podem abordar a sua opinião e posição política, mas também abordar todas as outras vertentes, com respeito e aceitação às diferenças. 52 DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.13 – Educação Fonte: Freepik. Dessa forma, leva-se o aluno a se posicionar segundo suas próprias convicções, sem desrespeitar as pessoas cujas convicções são diferentes das suas. Temos vários exemplos na história que demonstram como a educação foi utilizada como instrumento de manipulação e dominação. Podemos citar alguns, como: • Nos EUA, tivemos o tão conhecido Macarthismo; • No Brasil, tivemos o duro período da Ditadura Militar; • Na Arábia Saudita, o islamismo é a religião oficial do país, ditando os conteúdos estudados nas escolas. Recentemente, no Brasil, houve um projeto de lei chamado “Escola sem partido”. 53DIDÁTICA U ni da de 1 Figura 1.14 – Escola sem Partido Fonte: Elaborada pela autoria (2019). O projeto de lei é claro, porém muitas pessoas ainda não acreditam que seja possível trabalhar o senso crítico do aluno sem, com isso, influenciá-lo em alguns aspectos. Essa é uma questão a ser estudada e refletida incessantemente. Como exemplo, citamos agora parte do artigo 3º desse projeto: Art. 3º. No exercício de suas funções, o professor: I- não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias; II- não favorecerá, não prejudicará e não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas; III-não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas; IV- ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos 54 DIDÁTICA U ni da de 1 alunos, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito (ALERJ, 2019, on-line). Considerando esse exemplo, é possível entender a neutralidade da escola em relação às escolhas pessoais, porém muitos acreditam que isso tirará do professor a possibilidade de trabalhar temas transversais, como sexualidade e saúde. IMPORTANTE O que precisa ficar claro em todas as questões abordadas é que a escola poderá ajudar a educação integral, mas sozinha não dará conta de tantas responsabilidades. É preciso que haja apoio da sociedade, da família e da política. É claro que a escola influenciará todas esses seguimentos também. Ainda é possível verificar que a escola influenciará a sociedade, a qual julgará ser benéfica ou não. De acordo com Saldanha (1980): Se nos regimes democráticos a educação forme homens livres, deixando livre a escolha da profissão e até preparando o cidadão para a crítica social e para a vida partidária, nos regimes ditatoriais a educação padroniza opressivamente o educando. Na Alemanha nazista, por exemplo, a juventude era formada no fanatismo belicoso e exaltada quase magicamente para o culto do ‘Fuhrer’. (Saldanha, 1980, p. 147) Considerando essas informações, é possível entender que a escola não resolverá tudo na sociedade, porém poderá influenciar e contribuir para promover mudanças a partir da educação. Libâneo (1990) coloca que: 55DIDÁTICA U ni da de 1 Em síntese, a escola é um meio insubstítuível de contribuição para as lutas democráticas, na medida em que possibilita às classes populares, ao terem acesso ao saber sistematizaado e às condições de aperfeiçoamento das potencialidades intelectuais, participarem ativamente do processo político, sindical e cultural. (Libâneo, 1990, p. 39) Ainda pensando nos processos que se desenvolvem na escola, haverá sempre uma dependência da legislação, que poderá mudar conforme a influência política, as concepções de educação, a didática, a forma de encaminhar as situações cotidianas, o Projeto Político Pedagógico construído periodicamente e a comunidade escolar, que precisará ser ouvida, entendida, considerada em suas características gerais e necessidades. Nesse contexto, o Plano de Educação tem ‘um caráter reflexivo, organizador e articulador e não acontece em um percurso linear’, sua implementação “depende da criação de mecanismos para sua gestão, processo que se inicia no interior da Secretaria de Educação, na análise de sua estrutura, organização e funcionamento. (Cenpec, 2009, p. 25) Os processos educacionais Os processos educacionais são norteados por: Didática – em que se escolhem as formas de ensino em função das necessidades locais e as formas de aprendizagem. 56 DIDÁTICA U ni da de 1 Avaliação da aprendizagem - que poderá ser entendida como forma de repressãoou mesmo forma de acompanhamento e fonte, para repensar a Didática escolhida pelo professor. Legislação - que fornecerá todo o apoio legal para os demais processos educacionais. Mecanismos pedagógicos de controle e conformidade O sistema educacional, em diversos momentos históricos e geográficos, tem servido como um meio para consolidar certas normas e valores sociais. Ao refletirmos sobre os mecanismos pedagógicos que facilitam esse controle e induzem à conformidade, nos deparamos com uma série de estratégias e métodos que limitam a autonomia do pensamento crítico. Uma prática comum empregada para este fim é a padronização do currículo. Ao determinar de forma estrita o que deve ser ensinado e como deve ser ensinado, o sistema garante que os alunos recebam uma visão uniforme do mundo. O currículo escolar é um instrumento de reprodução cultural, perpetuando as desigualdades sociais ao transmitir o capital cultural da classe dominante. Outro mecanismo é a avaliação baseada em conformidade. Quando os sistemas de avaliação recompensam a repetição exata das informações e desencorajam a reflexão crítica ou as interpretações alternativas, os estudantes são, indiretamente, incentivados a aderir ao status quo. A avaliação tradicional, muitas vezes, não mede o conhecimento real, mas sim a capacidade do aluno de se adaptar às expectativas do sistema. 57DIDÁTICA U ni da de 1 Além disso, a estrutura hierárquica em muitas instituições educacionais, onde o professor detém autoridade absoluta, pode limitar a expressão individual e a autonomia dos estudantes. Em um contexto mais contemporâneo, o uso restritivo de tecnologia em ambientes educacionais pode ser visto como um mecanismo de controle. Restringindo o acesso a determinadas fontes ou filtrando conteúdos on-line, as instituições podem direcionar e limitar o fluxo de informação que os alunos recebem. Na era da informação, quem controla o fluxo de informação detém um poder significativo. Por fim, é imperativo reconhecer que, embora tais mecanismos de controle e conformidade existam, muitos educadores e instituições resistem ativamente a essas práticas e buscam criar ambientes de aprendizagem mais abertos e inclusivos. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter compreendido que a Didática pode ser entendida como o caminho escolhido pelo professor para ensinar e concretizar a aprendizagem dos alunos. As formas de trabalho atuais continuam muito tradicionais, mas os pensadores da história nos mostraram vários caminhos e concepções diversas de como ensinar. Todos eles foram fortemente influenciados pela evolução histórica e sociopolítica da humanidade. Os processos educacionais dependerão das concepções adotadas nas escolas e definirão as metodologias e objetivos do ensino. 58 DIDÁTICA U ni da de 1 ALERJ. Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Projeto de Lei n.º 4492/2019. Institui no âmbito de ensino estadual o programa escola sem partido e dá outras providências. Disponível em: http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/ Acesso em: 20 abr. 2020. APPLE, M.W. Trabalho docente e textos: economia política das relações de classe e de gênero em Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ARANHA, M. L. de A. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2006. ARROYO, M.G. Apresentação. In: CALDART, R.S. Pedagogia do Movimento Sem-Terra: escola é mais do que escola. Petrópolis: Vozes, 2000. BRASIL. 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Conceitualizando a Didática Grandes educadores e a Didática Dados históricos e tendências pedagógicas Educação, definições e processos Evolução Histórica da Educação e Didática A educação A Educação e a legislação Desafios contemporâneos e novas perspectivas em didática Educação como forma de dominação A educação Os processos educacionais Mecanismos pedagógicos de controle e conformidade